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Claudio Cezar Henriques

Língua Portuguesa:
Morfossintaxe

2009
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por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

H449L

Henriques, Claudio Cezar, 1951-


Língua portuguesa: morfossintaxe / Claudio Cezar Henriques. – Curitiba, PR:
IESDE Brasil, 2009.
276 p.

Inclui bibliograia
ISBN 978-85-387-0668-7

1. Língua portuguesa – Morfologia. 2. Língua portuguesa – Sintaxe. 3. Lín-


gua portuguesa – Gramática. 4. Linguagem e línguas. 5. Análise do discurso. I.
Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título.

09-1949. CDD: 469.5


CDU: 811.134.3’36

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images

Todos os direitos reservados.

IESDE Brasil S.A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

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Claudio Cezar Henriques

Pós-doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP); doutor em Letras


pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); mestre em Letras pela Uni-
versidade Federal Fluminense (UFF); licenciado e bacharel em Letras pela Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Sumário
Introdução à morfossintaxe ................................................. 11
Nomenclatura gramatical e ensino de português ........................................................ 11
Morfologia: morfemas, palavras e classiicação ............................................................. 14
Sintaxe: termos e períodos .................................................................................................... 17
Morfossintaxe: palavras e sintagmas a serviço do texto ............................................ 19

Mecanismos sintáticos ........................................................... 27


Sintaxe de concordância: verbos e nomes em sintonia .............................................. 27
Sintaxe de regência: verbos e nomes em hierarquia.................................................... 30
Sintaxe de colocação: palavras em sintonia e hierarquia ........................................... 33
Adequação sintática e adequação semântica ................................................................ 36

Termos essenciais da oração ................................................ 47


O sujeito e o predicado ........................................................................................................... 47
Predicação verbal ...................................................................................................................... 49
Tipologia do sujeito .................................................................................................................. 54
Tipologia do predicado ........................................................................................................... 64

Termos subordinados ao verbo .......................................... 69


Tipologia dos complementos verbais................................................................................ 69
Regência verbal: casos selecionados ................................................................................. 75
Tipologia dos adjuntos adverbiais ...................................................................................... 82
Palavras denotativas: uma questão à parte ..................................................................... 84

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Termos subordinados ao nome .......................................... 93
Tipologia dos predicativos ..................................................................................................... 93
Tipologia dos complementos nominais ........................................................................... 96
Tipologia dos adjuntos adnominais ................................................................................... 99

Agente da passiva, aposto e vocativo ............................111


Tipologia do agente da passiva .........................................................................................111
Tipologia do aposto ...............................................................................................................115
Vocativo: uma questão à parte ...........................................................................................117
Particularidades morfossintáticas .....................................................................................119

Estrutura do período: a coordenação .............................129


Período simples........................................................................................................................129
Parataxe e hipotaxe (coordenação e subordinação) ..................................................131
Tipologia das orações coordenadas .................................................................................133

Estrutura do período: a subordinação I ..........................151


Tipologia das orações subordinadas ................................................................................151
Orações substantivas: particularidades ..........................................................................154
Orações desenvolvidas X orações reduzidas.................................................................162

Estrutura do período: a subordinação II.........................171


Orações adjetivas: particularidades..................................................................................171
Função sintática dos pronomes relativos .......................................................................180
Orações desenvolvidas X orações reduzidas.................................................................182

Estrutura do período: a subordinação III .......................191


Orações adverbiais: particularidades ...............................................................................191
Orações desenvolvidas X orações reduzidas.................................................................202

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Combinação de estruturas oracionais ............................215
Coocorrência de parataxe e hipotaxe no âmbito do período .................................215
Relações entre morfossintaxe e estilo .............................................................................226

Da frase ao texto .....................................................................233


Situações contrastivas e progressivas..............................................................................233
Relações de causa, efeito e inalidade .............................................................................235
Referências temporais ...........................................................................................................241
Morfossintaxe, léxico e semântica ....................................................................................245

Gabarito .....................................................................................257

Referências................................................................................269

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Apresentação

Este é um livro destinado a estudantes e estudiosos da Língua Portuguesa.


A sensibilidade de quem investiga as relações entre a morfologia e a sintaxe ul-
trapassa os conteúdos desses dois componentes do campo gramatical e alcança
repercussões nas esferas da semântica, da estilística, da pragmática, da análise do
discurso – enim, do texto.

O tratamento que damos aqui à morfossintaxe tem a preocupação prioritária


com a descrição do português, inserindo as ocorrências selecionadas em situa-
ções concretas de uso não apenas na língua literária, mas também na linguagem
jornalística, publicitária, nas letras de música, buscando apresentar o assunto
como uma parte integrante de nosso cotidiano. Consideramos muito importante
investir no saber expressivo, ou seja, na competência discursiva ou textual que
permite ao usuário da língua a concretização da capacidade de construir textos
em situações determinadas.

As explicações sobre palavras, termos, orações e frases têm como intuito al-
cançar o texto, numa expansão que se faz mediante o reconhecimento de cada
componente dessa imensa rede que começa num pequeno morfema e, prefe-
rimos dizer, não termina, pois a língua é um espaço em estado de construção
morfossintática.

A Morfologia e a Sintaxe – o leitor conirmará – são disciplinas da vida acadê-


mica e da vida real, que nos ajudam a alcançar um estágio superior na compreen-
são do mundo em que vivemos, pela leitura e pela escrita, pela expressão oral e
pela necessidade de ouvir.

Optamos, neste livro, por trabalhar progressivamente os conteúdos da morfo-


logia e da sintaxe em sintonia, partindo dos componentes menores das microrre-
lações das classes de palavras até os capítulos inais, que privilegiam as estruturas
mais complexas na esfera do período, do parágrafo e do texto.

O estudo da gramática é um instrumento valioso para todo proissional que


emprega a língua portuguesa com a responsabilidade que isso representa. Para o
futuro professor, em especial, conta-se com sua especial dedicação a esses assun-
tos, que o ajudarão na missão de preparar a juventude para o exercício pleno de
sua cidadania – essa é a principal lição que se pretende transmitir.

Claudio Cezar Henriques

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Mecanismos sintáticos

Toda frase manifesta um pensamento que se constrói por meio de pa-


lavras – organizadas e combinadas segundo princípios que a caracterizam
como uma estrutura.

FRASE (palavras organizadas de modo a comunicar algo) = ESTRUTURA

Essa pequena explicação nos serve para introduzir o objetivo desta


aula: apresentar os conceitos de concordância, regência e colocação – os
mecanismos sintáticos – como conteúdos fundamentais para o estudo da
morfossintaxe, pois são eles que atuam na organização da frase – nosso
foco de atenção neste momento.

Sintaxe de concordância:
verbos e nomes em sintonia
A concordância é um dos mecanismos sintáticos fundamentais do por-
tuguês, pois é o processo que registra um tipo de harmonia gramatical
existente entre dois componentes da frase.

1. Ela compramos aquele vestidos branca.

Esta frase não está construída segundo os princípios normais de con-


cordância de nossa língua e, portanto, parece inusitada. Porém, se izer-
mos os ajustes de pessoa, número e gênero, teremos uma frase estrutura-
da adequadamente:

2. Ela comprou (ou nós compramos) aqueles vestidos brancos.

Nas duas relações sintáticas existentes na frase, faltava sintonia, ou seja:

 o sujeito e o verbo precisavam estar na mesma pessoa e número (3.a


pessoa do singular ou 1.ª pessoa do plural, conforme quem tenha
feito a compra) – esse princípio caracteriza a concordância verbal.

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Língua Portuguesa: Morfossintaxe

 o demonstrativo e o adjetivo precisavam estar no mesmo gênero e núme-


ro do substantivo (masculino plural) – esse princípio caracteriza a concor-
dância nominal.

A relação que há entre verbo e sujeito é única, pois acontece na fronteira


existente entre os dois termos essenciais da oração prototípica do português,
o sujeito e o predicado. Diferentemente, a relação que há entre substantivos e
adjetivos pode ser de duas naturezas: a intrassintagmática e a intersintagmática.

3.
Seu comentário amargo pode ter sido sincero.

Nessa frase há três palavras que concordam com o substantivo comentário: o


possessivo seu e o adjetivo amargo concordam com o núcleo do termo ao qual
pertencem (no caso, o sujeito “seu comentário amargo”) e são seus adjuntos ad-
nominais; já o adjetivo “sincero” concorda com o núcleo de um outro termo e é
seu predicativo. Os adjuntos adnominais são exemplos de concordância intras-
sintagmática; o predicativo é exemplo de concordância intersintagmática.

Sintetizando:

CONCORDÂNCIA VERBAL

O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.

CONCORDÂNCIA NOMINAL

O adjetivo concorda com o subjetivo em gênero e número.

Cabe aqui um lembrete importante quanto à pontuação: numa frase escrita em


ordem direta, nunca separamos sujeito e verbo ou verbo e predicativo por vírgula.

4.
SUJEITO VERBO

Os maiores jogadores do futebol brasileiro são grandes astros do esporte mundial.

PREDICATIVO

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Mecanismos sintáticos

5. SUJEITO VERBO

Exagerado, eu sou sempre exagerado.

PREDICATIVO PREDICATIVO
repetido para conirmar
COM VÍRGULA o exagero?

Como se viu pelos exemplos, a concordância é um mecanismo sintático que


se concretiza a partir de elementos tipicamente morfológicos: as lexões de
pessoa, de gênero e de número. Devemos reparar que, em nenhum momento se
falou em modo e tempo (para os verbos) e em grau (para os nomes).

O motivo é simples: modo e tempo são componentes exclusivos dos verbos


(e não há como estabelecer esse tipo de identidade entre o verbo e seu sujei-
to, que é um termo representado por substantivos ou seus equivalentes – logo,
sem marca de modo e de tempo); grau é um componente comum a substantivos
e a adjetivos, mas com atribuições distintas (nos substantivos, o grau expressa
aumentativo ou diminutivo; nos adjetivos, expressa comparativo ou superlativo
– logo, não é possível fazer a sintonia de grau entre eles).

O gênero e o número estão entre os processos lexionais (e obrigatórios) de


nossa língua, o que inegavelmente não é o caso do grau, que se faz de manei-
ra opcional, por um acréscimo derivacional (livr + inho = livrinho, moderno +
íssimo = moderníssimo) ou lexical (livro pequeno, muito moderno), excludentes
mutuamente, se assim preferir o usuário da língua, como vemos nas possibilida-
des abaixo transcritas:

6. Comprei um livrinho (ou um pequeno livro) moderno  grau só no subs-


tantivo.

7. Comprei um livro moderníssimo (ou muito moderno)  grau só no adjetivo.

A conhecida expressão Concordo com você em gênero, número e grau é, por-


tanto, inaplicável no mundo da gramática, onde só é possível concordar em
gênero e número ou em número e pessoa.

Acrescente-se a lembrança de que o grau é um processo que também ocorre


com os advérbios, também manifestando relação intensiicadora (comparativo
ou superlativo):

8. Ela canta melhor (= mais bem) e mais alto (do) que nosso vizinho.

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9. Ela canta altíssimo (ou muito alto), mas emociona muito pouco (ou pou-
quíssimo).

Por im, resta ainda dizer sobre o grau que os suixos que se juntam a radi-
cais para expressar ideias de aumento, diminuição e intensiicação têm um uso
bastante expandido no português, sendo possível encontrá-los de modo muito
expressivo em formações que subvertem seus valores iniciais, seja na linguagem
jornalística, publicitária e coloquial, com grande produtividade.

10. Quem gosta de música tem todíssimos os motivos para não arredar pé do
Rio este im de semana. (Danuza. Jornal do Brasil: 16 out. 1998)

11. Aplicar corretamente o condicionador: passá-lo somente nas pontas,


massagear levemente, desembaraçar com um pente de dentes largos e
enxaguar bastantão, até sair tudo. (Revista Atrevida: fev. 1996)

O recurso (que serve como exemplo de gramaticalização) também é comum


em nossa literatura, como atestam os casos de “cunhados e cunhadíssimos” (Ma-
chado de Assis em Esaú e Jacó), “eles passarão, eu passarinho” (Mário Quintana,
no “Poeminha do Contra”), “o velho era antigão” (Stanislaw Ponte Preta, em “A
Vontade do Falecido”) ou “ele está dormindinho” (José de Alencar, no Posfácio
de Iracema).

Sintaxe de regência:
verbos e nomes em hierarquia
A regência é outro dos mecanismos sintáticos fundamentais do português,
pois é o processo que marca uma relação de hierarquia existente entre dois com-
ponentes da frase, isto é, se um termo tem ou não algum tipo de complemento
ou circunstância que o acompanha em sua signiicação.

As palavras regentes de termos são os verbos e os nomes. Os termos que são


regidos são chamados de complementos verbais e nominais.

Na nomenclatura gramatical, regência, em sentido amplo, equivale a subor-


dinação em geral. Em sentido restrito, e mais habitual, designa a subordinação
peculiar de certas estruturas a palavras que as requerem ou preveem na sua
signiicação ou em seus traços semânticos. Essas estruturas compõem, com as
palavras que as requerem (isto é, regem), um complexo signiicativo – estruturas
regidas completam com os núcleos regentes um todo semântico, motivo pelo

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Mecanismos sintáticos

qual que se denominam complementos. Regência é, então, exigência ou previ-


são de complementação (LUFT, 1987).

REGÊNCIA VERBAL

O verbo prevê uma complementação mediante o uso ou não de preposição.

REGÊNCIA NOMINAL

O nome (substantivo ou adjetivo) prevê uma completação


mediante o uso de preposição.

Cabe aqui outro lembrete importante quanto à pontuação: numa frase es-
crita em ordem direta, nunca separamos o verbo e o seu complemento ou cir-
cunstância (até a 2.ª delas) por vírgula, e também não se separa o nome de seu
complemento por vírgula.

12. Encontraremos as explicações no dicionário.

VERBO COMPLEMENTO CIRCUNSTÂNCIA


(regente) (o quê?) (em que lugar?)

13. Os comerciantes entregaram os documentos aos iscais.

VERBO COMPLEMENTO COMPLEMENTO


(regente) (o quê?) (a quem?)

COMPLEMENTO
(por quem?)

14. O caso foi comunicado à imprensa pelos detetives com discrição.

VERBO COMPLEMENTO CIRCUNSTÂNCIA


(na voz passiva) (a quem?) (de que modo?)
(regente)

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ADJETIVO
(regente)

15. Seu envolvimento com os estudos mostrou-se benéico a todos.

SUBSTANTIVO COMPLEMENTO COMPLEMENTO


ABSTRATO
(com o quê?) (a quem?)
(regente)

CIRCUNSTÂNCIA
(em que lugar?)

16. Os professores almoçam aos sábados neste restaurante desde 1995. ,


CIRCUNSTÂNCIA COM VÍRGULA
(em que dia?) CIRCUNSTÂNCIA
(desde que ano?)

Assim como a concordância, a regência é um mecanismo sintático que se con-


cretiza a partir de elementos tipicamente morfológicos, destacando-se nesse
caso as relações com ou sem preposições.

Também foi possível deduzir pelos exemplos que os complementos e as cir-


cunstâncias são elementos previstos por verbos ou por nomes. Isso signiica que
nem todo verbo e nem todo nome tem, compulsoriamente, de estar acompa-
nhado de termos regidos, os quais devem ser entendidos como potenciais no
âmbito do discurso, pois atuam em função das pretensões do falante.

17. Na semana passada eu almocei.

18. Na semana passada eu almocei com minha prima.

19. Na semana passada eu almocei feijoada.

As frases acima empregaram o mesmo verbo, mas observa-se que suas pre-
tensões comunicativas são distintas, o que justiica a existência de um comple-
mento (feijoada: almocei o quê?), de uma circunstância (com minha prima: na
companhia de quem?) ou de nada (Ø: pratiquei a ação de almoçar).

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Sintaxe de colocação:
palavras em sintonia e hierarquia
A colocação é mais um dos mecanismos sintáticos fundamentais do portu-
guês, pois é o processo que marca as possibilidades permitidas de combinação
ao se construir uma frase. Todas as línguas faladas pelo homem têm uma carac-
terística em comum: são feitas de palavras que se organizam segundo determi-
nadas características e relações.

COLOCAÇÃO

As palavras e as orações são organizadas na frase segundo regras próprias.

Ao falarmos em ordenar (pôr em ordem), precisamos explicar o que se chama


ordem direta (ou lógica): a sequência em que o sujeito vem à esquerda do verbo,
este precede os complementos e os circunstanciadores (o direto tem preferên-
cia sobre o indireto, e os objetos têm preferência sobre os adjuntos adverbiais),
os determinantes vêm depois dos determinados, os termos acessórios se posi-
cionam à direita dos seus pares, os conectores e transpositores encabeçam os
sintagmas ou orações por eles interligados.

Veja o exemplo:

20. “O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite,
quando uma senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa,
já então iluminada” (ALENCAR, 1975, p. 2).

O trecho de Alencar exempliica bem a ordem direta do português:

 a frase se inicia pelo sujeito (o arrulhar destes dois corações virgens) de


durava;

 o núcleo do sujeito (o arrulhar) precede seu determinante (destes dois co-


rações virgens);

 o determinante de durava (até oito horas da noite) está à direita do verbo;

 a conjunção quando encabeça a oração subordinada adverbial, que está


posicionada depois da oração principal;

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 o sujeito da segunda oração (uma senhora de certa idade) precede o verbo


que com ele concorda (chegava);

 o determinante de chegava (a uma das janelas da casa) está à direita do


verbo;

 o determinado casa precede seu determinante (já então iluminada).

Esses são apenas alguns comprovantes de que o trecho de Alencar está cons-
truído rigorosamente em ordem direta, o que não signiica que se trata de uma
ordem obrigatória no português. O mesmo trecho poderia ter sido escrito de
outra maneira, sem nenhum prejuízo para sua estrutura, como vemos nos exem-
plos abaixo, exatamente com as mesmas palavras:

21. Até oito horas da noite durava o arrulhar destes dois corações virgens,
quando a uma das janelas da casa, já então iluminada, chegava uma se-
nhora de certa idade.

22. Durava até oito horas da noite o arrulhar destes dois virgens corações,
quando chegava uma senhora de certa idade a uma das janelas da casa,
já então iluminada.

Não há diferença sintática entre as frases, mas elas não são iguais. Qual das três
representa de modo mais adequado a expressividade pretendida pelo autor? Já
se vê por essas três maneiras de se construir a mesma frase que, diferentemente
dos mecanismos de concordância e de regência, há muito mais maleabilidade no
estudo da colocação.

Em (20) a frase começa com o sujeito; em (21) inicia com a circunstância de


tempo; em (22) a primeira palavra é o verbo durar. Os deslocamentos feitos em
(21) e (22) (sua topicalização) são justiicáveis? Em cada opção, teríamos um ele-
mento destacado: o próprio acalanto dos jovens, em (20), a marcação do tempo;
em (21), a noção de prolongamento que o verbo transmite – plenamente justii-
cáveis, conforme o desejasse o escritor.

TOPICALIZAÇÃO

Termo usado para indicar o deslocamento de um sintagma de sua posição


normal na frase para o início dela – o que geralmente se dá por razões de
natureza discursivo-textual.

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Façamos agora uma exempliicação ao contrário, tomando outro trecho do


próprio Alencar, extraído do mesmo romance A Viuvinha.

23. “Pouco depois desapareceram os adornos da cerimônia, e na sala icaram


apenas algumas pessoas que festejavam em uma reunião de amigos e de
família a felicidade dos dois corações” (ALENCAR, 1975, p. 38).

Aqui, não há a rigorosa obediência à ordem lógica do português. Alencar pri-


vilegiou a ordem inversa, como destacamos nas seguintes passagens:

 o sujeito dos verbos desaparecer (os adornos da cerimônia) e de icaram


(algumas pessoas) está posposto;

 os determinantes de desapareceram (pouco depois) e de icaram (na sala)


estão antes dos verbos;

 o complemento do verbo festejar (a felicidade dos dois corações) está dis-


tanciado dele pela antecipação do adjunto adverbial em uma reunião de
amigos e de família.

Porém, como icaria essa opção sintática de Alencar se fosse reescrita na


ordem direta?

24. Os adornos da cerimônia desapareceram pouco depois, e apenas algu-


mas pessoas que festejavam, em uma reunião de amigos e de família, a
felicidade dos dois corações icaram na sala.

Observa-se que o sujeito “apenas algumas pessoas”, ao ser posicionado à es-


querda de seu verbo (icaram) teve de trazer consigo toda a oração subordinada
que o secundava, pois, ainal, essa oração do verbo festejar é adjetiva, isto é, de-
terminante de pessoas e se posiciona depois desse substantivo.

Novamente cabe perguntar qual das maneiras se presta de modo mais ade-
quado à expressividade pretendida pelo autor. De todo modo, uma conclusão se
pode alcançar desde logo: a ordem direta ou lógica nem sempre é a mais reco-
mendável ou a melhor. Cada situação discursiva, textual, é que dirá se a escolha
mais apropriada é uma, outra ou mesmo um misto de ambas.

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Adequação sintática e adequação semântica


Chamamos de adequação sintática a construção coerente de períodos e orações,
observadas as relações existentes entre seus termos e a sua organização. A inadequa-
ção sintática pode gerar desde diiculdades localizadas de compreensão até a com-
pleta ausência de sentido. A esse vício de linguagem dá-se o nome de obscuridade.

A adequação semântica ocorre quando um texto demonstra competência na


argumentação (na descrição, na narração ou na interpretação), evidenciada por
seu autor a partir de uma seleção de opiniões, dados e fatos fundamentados no
seu conhecimento de mundo. Mas é sempre oportuno lembrar que, embora re-
comendáveis para as situações referenciais da vida comum, os paralelismos se-
mântico e sintático podem ser quebrados com arte e criatividade. É o que Thaís
Nicoleti de Camargo (2002) comenta no artigo “Falta de paralelismo semântico
cria efeito de estilo”.

Preservar o paralelismo semântico é tão importante quanto preservar o pa-


ralelismo sintático. Mas, na pena de um bom escritor, a quebra da simetria se-
mântica pode resultar em curiosos efeitos de estilo. Não foi outra coisa o que
fez Machado de Assis no conhecido trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas,
em que, irônica e amargamente, o narrador diz: “Marcela amou-me durante 15
meses e 11 contos de réis”. No mesmo livro: “antes cair das nuvens que de um
terceiro andar”.

O uso desse artifício parece ser uma das marcas estilísticas do autor. Na aber-
tura de Dom Casmurro, o narrador diz: “encontrei um rapaz, que eu conheço de
vista e de chapéu”.

No conto “O enfermeiro”, ao anunciar que vai relatar um episódio, o narrador ad-


verte que poderia contar sua vida inteira, “mas para isso era preciso tempo, ânimo
e papel”. O elemento papel, disposto nessa sequência, surpreende o leitor e instala
o discurso irônico. Ter ou não papel para escrever é algo prosaico. A falta de ânimo,
um problema pessoal, está em outro patamar semântico (CAMARGO, 2002).

Não foi o que aconteceu com a manchete de jornal ou com a placa do salão
de beleza que estão reproduzidas a seguir. Ambas esbarram na falta de parale-
lismo, pois a escolha sintática não representa a intenção comunicativa, que só é
compreendida porque o leitor reinterpreta o que vê para constituir a adequação
inexistente no enunciado.

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Mecanismos sintáticos

Divulgação Folha de São Paulo.


Marcelo Moraes.
Missa pela febre? ou Papa tem febre e cancela
Pintos cortados? ou Corto e pinto missa?
cabelos?
No livro Sintaxe: estudos descritivos da frase para o texto (HENRIQUES, 2008, p.
17-19) exempliico os problemas de inadequação a partir do trecho de um anún-
cio publicado na Folha de S. Paulo em 17 de junho de 1998:

JOSÉ DA PENHA

IESDE Brasil S. A.
SANTOS, depois de ter
ultrapassado o pórtico
de um século de idade,
no próximo dia 18 de
junho, 98, a partir das
18h30, na LIVRARIA
CULTURA, Av. Paulista,
2.073, Conjunto Nacion- a desencantados co-
al, a quem o honrar com rações o encanto de
a sua presença, dará au- viver, conforme airma
tógrafos da 4.ª edição de o eminente economis-
CONHECIMENTO E VEN- ta HENRY MAKSOUD:
TURA, muito ampliada, “O livro Conhecimen-
pois se a 3.ª edição tinha to e Ventura está entre
526 páginas, tem esta aqueles que se deve ter
860 e 4.278 pensamen- à mão como recurso nos
tos dos maiores homens momentos em que falta
de todos os tempos. a esperança e os proble-
Propagar esta obra, mas parecem intrans-
não é por vaidade do poníveis. José da Penha
autor, mas cumpre o Santos nos oferece a
sagrado dever de levar ponte sólida e amiga”.

Inadequação sintática e semântica.


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É claro que o objetivo principal do anúncio é o aviso sobre o lançamento de


um livro. No entanto, suas múltiplas inadequações sintáticas, ainda que não im-
peçam a compreensão dos dados objetivos sobre local, data, horário, poderão
comprometer o comparecimento do público ao evento e até mesmo a venda-
gem do livro anunciado. Ainal, se o anúncio tem tantos problemas textuais, não
será de estranhar que o livro citado (substituíram-se os nomes do livro e do autor)
esteja no mesmo nível.

Vejamos alguns dos problemas sintáticos do texto:

 Há quase 40 palavras entre o sujeito “José da P. Santos” e o predicado “dará


autógrafos”. Esse distanciamento tira a objetividade do trecho e prejudica
a compreensão da mensagem.

 A sequência antecipada de expressões entre vírgulas nesse mesmo trecho


é inadequada, pois mistura elementos de função diferente, a saber:

 “depois de ter ultrapassado o pórtico de um século de idade” refere-se


ao sujeito, mas a data que vem a seguir não é a do seu aniversário;

 a cadeia “no próximo dia 18 de junho, 98”, “a partir das 18h30” e “na
LIVRARIA CULTURA” refere-se circunstancialmente ao sintagma “dará
autógrafos”, e o número 98 entre vírgulas é supérluo pois o texto já
usara “próximo dia 18 de junho”;

 “Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional” identiica uma circunstância de


“Livraria Cultura”, por meio da ideia implícita de localização;

 “a quem o honrar com a sua presença” complementa o verbo “dar”.

 A expressão causal “pois se a edição [...] de todos os tempos”, que encerra


o primeiro parágrafo, é mal construída porque:

 o sujeito (com a palavra edição subentendida) está depois do verbo e


há dois numerais seguidos (o primeiro com a palavra páginas suben-
tendida);

 entre a palavra pois e o restante da expressão causal foi inserida uma ora-
ção condicional com apenas a vírgula da direita (toda inversão de oração
circunstancial deve ser marcada por duas vírgulas).

 O segundo parágrafo começa com três erros graves, a saber:

 a vírgula entre o sujeito “propagar esta obra” e o seu predicado “não é”;

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Mecanismos sintáticos

 o emprego desnecessário da preposição “por” (o correto seria: “propa-


gar esta obra não é vaidade do autor”);

 a oração adversativa “mas cumpre o sagrado dever...” não dá sequência


ao trecho anterior (ou seja: propagar esta obra não é vaidade – verbo
de ligação + substantivo –, mas cumpre – verbo transitivo?) = a coesão
se daria se estivesse assim: “propagar esta obra não é vaidade do autor,
mas é o cumprimento do sagrado dever de”.

Ora, se o redator do anúncio tivesse observado a ordem das palavras nas


frases e considerado a hierarquização das informações, teria produzido um texto
mais objetivo e claro. Um dos resultados, procurando, ao máximo, respeitar as
escolhas lexicais do original, poderia ser:

IESDE Brasil S. A.
Depois de ter ultra-
passado o pórtico de um
século de idade, JOSÉ DA
PENHA SANTOS dará au-
tógrafos da 4.ª edição de
CONHECIMENTO E VEN-
TURA a partir das 18h30
do próximo dia 18 de
junho, na LIVRARIA CUL- sagrado dever de levar a
TURA (Av. Paulista, 2.073, desencantados corações
Conjunto Nacional), a o encanto de viver, con-
quem o honrar com a forme airma o eminen-
sua presença. Muito am- te economista HENRY
pliada, tem esta edição MAKSOUD: “O livro Co-
860 páginas e 4.278 nhecimento e Ventura
pensamentos dos maio- está entre aqueles que
res homens de todos os se deve ter à mão como
tempos, enquanto a 3.ª recurso nos momentos
tinha 526 páginas. em que falta a esperança
e os problemas parecem
Propagar esta obra intransponíveis. José da
não é vaidade do autor, Penha Santos nos oferece
mas o cumprimento do a ponte sólida e amiga”.

Versão adequada sintática e semanticamente.


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Assim, falar em adequação sintática signiica falar em “bom-senso e critério


nas escolhas sintáticas”, tanto no âmbito da frase como no âmbito do parágrafo
e do texto.

Fica evidente que a chamada adequação sintática é um instrumento em favor


da adequação semântica, que outra coisa não é senão a realização coerente do
que se pretende dizer. Por isso, concordamos com Carlos Franchi (2006, p. 102)
quando airma que “a teoria gramatical visa estabelecer a relação entre a forma
das expressões e sua signiicação”, ou seja, que é necessário “mostrar as correla-
ções entre a estrutura sintática e a estrutura semântica”.

Texto complementar

Organização da frase
(CARONE, 1995)

É esse o nome que Tesnière dá àquela energia que imanta as palavras e


as faz organizarem-se em sintagmas, e estes em orações. Usamos as palavras
energia e imantar, pouco usuais num contexto gramatical, para salientar o
caráter abstrato das relações sintáticas, que é algo que se instala indepen-
dentemente de concretizações de qualquer natureza. Em “João sai” não há
apenas dois elementos sintáticos, mas três: “João”, “sai” e a conexão sintática,
que articula os dois e inaugura uma unidade de nível superior: a oração.

A conexão é uma relação de dependência que se estabelece entre dois ele-


mentos; desses, um é o central, o outro é o marginal. O marginal pressupõe o
central, mas o inverso não é verdadeiro. Na sílaba a consoante pressupõe a vogal;
no vocábulo, aixos pressupõem um radical; no sintagma nominal, artigo e adje-
tivo pressupõem um substantivo. Na oração, o pressuposto é o verbo, elemento
central com que se articulam os demais, imediata ou mediatamente.

Muitas de nossas gramáticas, certamente orientadas pela NGB, que é


um roteiro oicial, não aproximam as noções de regência e subordinação, só
mencionando esta última palavra quando vão tratar do período composto.
Ora, quando as palavras se organizam em sintagmas, e estes em orações,
fazem-no graças à conexão entre um termo central (regente, subordinante)

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e um termo marginal (regido, subordinado). O dirrema (frase nominal bi-


membre) e a frase verbal (oração) organizam-se por subordinação. Nenhuma
frase se formaliza unicamente pela coordenação de seus termos; na verdade,
coordenam-se termos em uma frase já estruturada por subordinação. Se-
quências de nomes coordenados não constituem uma estrutura frasal: cada
um deles é, por si, uma frase nominal unimembre.

Quando o falante de uma língua depara com um conjunto de duas pala-


vras, intuitivamente é levado a sentir entre elas uma relação sintática, mesmo
que estejam fora de um contexto mais esclarecedor. Se for o conjunto fala
viva, por exemplo, ele poderá interpretá-la como:

 uma fala (expressão) viva (vivaz, luente);

 alguém fala (diz) a palavra viva;

 fala (imperativo: tu) a palavra viva;

 ela fala estando viva;

 que a fala (substantivo) viva (subjuntivo, optativo).

Assim, além de captar o sentido básico das duas palavras, o receptor


atribui-lhes uma gramática – formas e conexões. Isso acontece porque ele
traz registrada em sua mente toda a sintaxe, todos os padrões conexionais
possíveis em sua língua, o que o torna capaz de reconhecê-los e identiicá-
-los. As duas palavras não estão, para ele, apenas dispostas em ordem linear:
estão organizadas em uma ordem estrutural.

A diferença entre ordem estrutural e ordem linear torna-se clara se elas


não coincidem, como nesta frase que um aluno criou em aula de redação,
quando todos deviam compor um texto para outdoor, sobre uma fotograia
da célebre cabra de Picasso: “Beba leite de cabra em pó!” Como todos rissem,
o autor da frase emendou: “Beba leite em pó de cabra!”

Pior a emenda que o soneto. Mas a frase foi ótima para perceberem o
constrangimento (às vezes insolúvel) que a ordem linear impõe, visto que
nem sempre é possível seguir, palavra por palavra, os caminhos da ordem
estrutural. Todos, porém, com a intuição de falantes nativos, haviam captado
a ordem estrutural, a sintaxe da frase:

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beba

(você) leite

de cabra em pó

Num processo de comunicação verbal, quando o emissor produz uma


frase, faz uma dupla escolha: a dos conceitos que quer transmitir, e a do
arranjo gramatical que dará forma a seu pensamento. Ao formular concre-
tamente sua frase, porém, tem de submeter-se à dimensão do tempo, que
transcorre numa linha única; por esse motivo, a ordem estrutural, que é toda
uma armação abstrata, mas pluridimensional, deverá conformar-se à lineari-
dade da frase realizada.

Inversamente, ao ouvir uma frase – que lhe chega linearmente, palavra


após palavra, som após som –, o receptor capta e reconhece as conexões
sintáticas que a estruturam, e reconstitui em sua mente a rede de relações
que seu interlocutor escolheu para compor a mensagem.

Para que essa miraculosa transferência de mente a mente se opere, é ne-


cessário que ambos os interlocutores possuam os registros das combinações
sintáticas possíveis na língua em questão. Quando se trata da língua materna,
a sintaxe é haurida à medida que a criança ouve o que lhe dizem, ou o que
se diz a sua volta; e, num espaço de tempo espantosamente pequeno para
a grandeza do mistério, estará apta a criar frases diferentes das que ouviu,
realizando combinações novas com os padrões sintáticos que já ixou.

Dicas de estudo
BECHARA, Evanildo. “Sintaxe: noções gerais”, lição I do livro Lições de Português
pela Análise Sintática.

O autor deine oração e focaliza temas como a entoação oracional, a impor-


tância da situação e do contexto, como se constituem as orações e quais os seus
tipos, entre outros assuntos relevantes para o estudo da sintaxe.

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Mecanismos sintáticos

KURY, Adriano da Gama. “Noções básicas preliminares”, primeiro capítulo do livro


Novas Lições de Análise Sintática.

O capítulo explica o que é análise sintática e qual sua inalidade, além de


apresentar as noções de termos como frase, oração e período.

Estudos linguísticos

IESDE Brasil S. A.
Concordo com GRAU?
você em gênero,
número e grau

1. Comente, do ponto de vista gramatical, a possível incoerência existente na


frase usada na charge, que repete o conhecido chavão “Concordo com você
em gênero, número e grau”.

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2. Construa duas frases com o verbo implicar, de modo a explicar seus traços de
regência quando signiica aborrecer e quando signiica incluir, determinar.

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Mecanismos sintáticos

3. Escreva a seguinte frase na ordem direta: “Finalmente, chegaram ontem de


Londres os dois passageiros do ônibus espacial brasileiro.”

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Gabarito

Mecanismos sintáticos
1. A conhecida expressão “Concordo com você em gênero, número e grau”
é inaplicável no mundo da gramática, onde é possível concordar ape-
nas em gênero e número ou em número e pessoa.

2. As frases devem reproduzir os seguintes modelos: “Você sempre impli-


ca com seu irmão” (pede complemento com preposição com quando
signiica aborrecer) e “O pacote econômico implica novas despesas”
(pede complemento sem preposição quando signiica incluir).

3. Os dois passageiros do ônibus espacial brasileiro chegaram ontem de


Londres, inalmente.

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