Você está na página 1de 7

Paula Ramos Ghiraldelli

Linguística Aplicada ao Ensino de Português


Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS DE


PORTO NACIONAL COORDENAÇÃO DO CURSO
DE LETRAS

CURSO: Letras
Período: 2020.1
SEMESTRE: 1º Semestre
PROFESSORA: Dra. Dalve Oliveira Batista-Santos
DISCIPLINA: Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa
DATA DE ENTREGA: 25/11/2020 até às 23:59 no e-mail: dalve@uft.edu.br
DISCENTE: Paula Ramos Ghiraldelli
NOTA: 9.0

ATIVIDADE AVALIATIVA

QUESTÃO 1: Refletir sobre Linguística Aplicada requer, preliminarmente, considerar que a linguagem
ocupa lugar central na vida humana; afinal, é ela que nos permite a simbolização do real, uma vez que
viabiliza a formação de conceitos, a abstração e a organização cognitiva das representações do mundo
extramental. Diante do exposto, redija um texto expondo o percurso de desenvolvimento da
Linguística Aplicada.

QUESTÃO 2: Sobre o surgimento e os primeiros passos da Linguística Aplicada, elabore um texto


explicando as principais características e avanços (Primeira virada e segunda virada) desta área nos estudos
da Linguagem.

QUESTÃO 3: A Linguística Aplicada surgiu e se consolidou na mesma época em que o pensamento de


Chomsky se tornava mundialmente conhecido e após décadas de herança saussuriana. Partindo do
pressuposto que não foi um processo simplório de consolidação, escreva um texto apontando as
principais dificuldades inerentes ao processo de consolidação da Linguística Aplicada.

QUESTÃO 4: Escreva um texto explicando a ruptura de fronteiras em Linguística Aplicada no que diz
respeito a uma visão disciplinar (SIGNORINI, 1998).

QUESTÃO 5: Considerando o que estudamos até aqui (UNIDADE A e UNIDADE B), elabore um
texto discutindo sobre um ensino de Língua Portuguesa (leitura e escrita) respaldado na Linguística
Paula Ramos Ghiraldelli
Linguística Aplicada ao Ensino de Português
Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

Aplicada.
RESPOSTAS

– QUESTÃO 01 –

A Linguística Aplicada é uma área do conhecimento que surgiu iniciamente como uma área de
aplicação da Linguística, ou seja, ela nasceu como uma área subjacente aos estudos linguísticos, a
medida que os avanços desses estudos (como o estruturalismo, inicialmente, e depois o gerativismo)
influenciaram diversas áreas e, portanto, vêm, naturalmente influenciar também a Linguística Aplicada.
Nesse aspectos,os estudos da LA eram guiados pela compreensão momentanea da natureza da
linguagem (os conceitos Saussurianos e, Chomskianos posteriormente). Dessa forma, os estudos iniciais
em Linguística Aplicada eram exclusivamente voltados para o Ensino de Língua – principalmente o
inglês, devido à necessidade desse ensino para os soldados durante a Segunda Guerra. Em seguida, o
foco de interesse da L.A. (Linguística Aplicada) passou a incluir também questões relativas a tradução.
No final da décadade 70, a LA passa a tomar um formato mais independente da Linguística,
iniciando seu processo de consolidação como um área autônoma. Nesse momento, o objeto de estudo da
L.A. passa a ser visto como parte da linguagem ( e não mais como língua, um sistema), um objeto
também construído a partir da relevância de outros campos do conhecimento, já que uma só área não
conseguiria abordar todos os processos envolvidos no ensino e aprendizagem de línguas.
Num momento posterior, a L.A. iria se distanciar da exclusividade de atuação no ensino e
aprendizagem de língua estrangeira e tradução, e passaria a atuar também no ensino e aprendizagem de
língua materna, letramento e outros contextos (como midiáticos,empresariais, e etc). Nesse aspecto, a
linguagem seria compreendida como parte constitutiva da vida institucional, dentro das teorias do
discurso e interação,de modo que os estudos em L.A. se voltariam para a resolução de problemas de uso
da linguagem não apenas na sala de aula, como também fora dela. O interesse da LA nesse momento
passaria a ser a situação cultura, e histórica da ação humana,e a redescrição de quem é o sujeito social
seria um fator de suma importância: o sujeito heterogêneo em seu contexto histórico cultural, suas
práticas discursivas e relações de poder que envolvem essas práticas deveriam ser considerados de
maneira relevante para os problemas levantados, pensando a pesquisa de modo ético e político,
propiciando voz aos sujeitos previamente apagados em prol do daqueles colocados em posições sociais e
discursivas hegemônicas.
Todo o processo de construção do campo da L.A. descrito acima, culminou na concepção
moderna desse estudo: uma concepção inter/trans/indisciplinar, a medida que suas bases teóricas não
estão mais ligadas a uma única área do conhecimento, mas sim provêm do diálogo entre as diversas
Paula Ramos Ghiraldelli
Linguística Aplicada ao Ensino de Português
Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

áreas, rompendo a barreira da disciplinaridade, como “uma área ... [que ousa] pensar de forma diferente,
para além de paradigmas consagrados, que se mostram inúteis e que precisam ser desaprendidos para
compreender o mundo atual” (MOITA LOPES, 2009). Assim, a L.A. atual se consolidou, como uma
área de convergência entre os estudos da linguagem e as outras disciplinas, e seu foco de ação atual se
direciona à problematização de questões relecionadas com a linguagem, e não somente na rosolução de
problemas de uso da mesma.

– QUESTÃO 02 –

O processo de consolidação da Linguística Aplicada conta com dois grandes momentos cruciais
para se chegar na concepção atual desses estudos: a primeira e a segunda virada.
A primeira virada é quando ocorre a distinção entra a Linguística Aplicada e a Linguística,
sendo a primeira não mais vista como mera parte da segunda. A LA estaria, nesse momento, voltada,
para a contextos educacionais, não se limitando somente a ensino e aprendizagem de línguas
estrangeiras, como também a outros aspectos escolares como o ensino de língua materna por exemplo.
Diante da compreensão que a Linguística não poderia dar conta de todos os problemas que envolvem a
pratica de linguagem em contextos escolares, a LA passa a ser vista como uma área mediadora, que
reconhece quais os conhecimentos seriam relevantas para a resolução dos problemas de
ensino/aprendizagem.
Na segunda virada tem-se uma dissociação da L.A. a contextos meramente educacionais.
Embasada em teorias de Vigostky e Bakhtin sobre a linguagem como “instrumento de construção do
conhecimento e da vida social” (MOITA LOPES, 2009), a L.A. passa a atuar em todos os campos em
que existam problemas de linguagem – desde ensino e aprendizagem de língua materna, passando pelo
letramento, até a outros contextos institucionais, como mídia, empresas, delegacias de polícia, e etc – ,
se caracterizando como uma área de convergência entre a linguagem e as outras áreas, e buscando apoio
teórico nessas outras áreas. Assim, a Linguística Aplicada se consolida em seu aspecto indisciplinar, ou
seja, uma disciplina que dialoga com todas as outras que possam ser relevantes para a resolução dos
problemas relacionados à linguagem.
Paula Ramos Ghiraldelli
Linguística Aplicada ao Ensino de Português
Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

– QUESTÃO 03 –

A Linguística Aplicada, durante seu processo de consolidação de acordo com sua concepção
atual, sofreu algumas dificuldades para tal.
A primeira delas, era sua dificuldade em se consolidar como uma disciplina autônoma, já que era vista
sempre como uma vertente dos estudos linguística, se utilizando somente dos pressupostos teóricos da
mesma voltados para o ensino de lingua estrangeira. Nesse aspecto, a dificuldade em si era de se
desvincular de seu apecto de aplicação de teoria linguística e ampliar seu contexto de estudo.
Ao perceber que a linguística não era o suficiente para dar conta de todos os problemas que a
envolve a linguagem nos contextos escolares, ela pode buscar respostas para essas questões em outras
disciplinas, mas ainda sim estava ligada questões educacionais.
A medida que a L.A ressignificou seu objeto de estudo como a linguagem (e não como a língua,o
sistema), ela pode buscar ecompreender todos os outro contextos em que a linguagem se faz presente,
chegando a concepção de L.A como mediadora entre as teorias de diversas disciplinas e a linguagem.
Na modernidade dos estudos em Linguistica Aplicada, esta se compreende como uma área do
conhecimento, um ponto de convergência entre linguagem e as outras, se caracterizando como
indisciplinar

– QUESTÃO 04 –

Ao longo de seu processo de construção, a Linguística Aplicada teve seu objeto foi
ressignificado ao longo do tempo, de modo abranger toda problematização relacionada ao uso da
linguagem na sociedade. À medida que percebeu que as teorias de uma única disciplinas não seriam
suficientes para explicar todos os problemas da linguagem nos seus mais variados contextos de uso, o
estudo da linguagem realizado pela L.A. precisou romper as fronteira disciplinares, tomando uma
postura de diálogo com as diferntes disciplinas. A L.A passou a se caracterizar, portanto, como
indisciplinar, ou seja passou a reconhecer necessidade de não se constituir como disciplina com uma
única fonte teórica, de modo que as teorias utilizadas para problematizar as questões que envolvem
linguagem na sociedade podem vir de diversos campos do conhecimento bem como serem construídas
no entrecruzamento desses campos.
Paula Ramos Ghiraldelli
Linguística Aplicada ao Ensino de Português
Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

O fato de a L.A. moderna (indisciplinar) “criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a
linguagem tem um papel central” (MOITA LOPES, 2009), nos leva a alguns pontos marcantes que
caracterizam a formulação dessa L.A. Como o foco de análise passa a ser o sujeito social e seu uso da
linguagem, torna-se crucial a reteorização do sujeito social - este passaria a ser visto como um sujeito
histórico cultural, dentro de sua heterogeinidade e fluidez, ligado às relações de poder e desigualdades
que lhe são inerentes, e que tem na linguagem (ou seja, em suas práticas discursivas) o da construção
social que o envolve, e, portanto de si mesmo. Outro ponto de destaque, é que a nova L.A. estaria
marcada pela problematização da produção do conhecimento, que passa a ser analisada dentro da
perspectiva das relações de poder, buscando de forma ética e política tematizar o que não era antes
tematizado, dando voz aos sujeitos previamente calados pelos grupos socialmente hegemônicos.
Outro fator importante ao ser observado sobre caracterização da L.A. como indisciplinar e sua
ruptura com os limites disciplinares) é o debate que ela promove acerca de como (o modo que) as
diversas disciplinas podem dialogar. Apesar dos linguistas aplicados divergirem (de acordo com sua
perspectiva de preferência), pode-se dizer que, basicamente, o diálogo entre a LA e as demais
disciplinas pode ocorrer de algumas formas: de maneira indisciplinar – perspectiva que supõe uma
interface entre as disciplinas, uma área comum –, interdisciplinar – perspectiva que propõe a negaçã
odas disciplinas, de modo que se parte de um campo do conhecimento para se chegar a outro – ,
transdiciplinar – que seria a ausencia de oposição entre as disciplinas, uma espécie de simbiose entre
elas, de modo que uma problemática nunca partiria de um único ponto, mas de vários –,
multidisciplinar – caracterizada por uma ação simultâncea de várias disciplinas em torno de uma
temática comum – e/ou pluridisciplinar – uma perspectiva que supõe a interação entre os conhecimentos
sem que esses estejam hierarquizados,ou seja, estariam todos no mesmo nível.
Assim, fica notado o “ novo olhar [que] traz consigo o convite para a permeabilidade entre
diferentes áreas do conhecimento na busca de soluções para problemas linguísticos socialmente
relevantes” (RIZATTI; RODRIGUES, 2011) que permeia a Linguística Aplicada moderna, consolidada
como Indisciplinar.

– QUESTÃO 05 –

A concepção moderna de Linguística Aplicada Indisciplinar se baseia em teorias de Vigostky e


Bakhtin sobre a linguagem como “instrumento de construção do conhecimento e da vida social”
(MOITA LOPES, 2009), e busca, num diálogo entre disciplinas, teorias em diversos campos do
Paula Ramos Ghiraldelli
Linguística Aplicada ao Ensino de Português
Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

conhecimento para problematizar o uso da linguagem em seus diversos contexto. Nesse aspecto, a
preocupação da L.A com o ensino de aprendizagem de língua materna continua no enfoque do
Linguista Aplicado e se efetiva através de novas reflexões sobre as práticas de investigação nesse campo
– a perspectiva interacionista de uso da língua – promovendo a qualificação na atuação dos Professores
de Língua Portuguesa.
De acordo com os dados indicadores (do Pisa e Enaf, por exemplo), no Brasil ainda não temos
tido o êxito esperado dos alunos no que diz respeito ao desenvolvimento da leitura e da escrita , apesar
de dispormos de vários anos de escolarização. A solução que a Linguística Aplicada propõe para esse
problema é conceber a aula de Língua Portuguesa como gênero do discurso e abordar o uso da língua
como advento do letramento.
Considerar a aula como um gênero através do qual o discurso didático se materializa significa
que nela, há focos discursivos convergentes (como os tópicos da aula) e divergentes (como conversas
paralelas e afins). O ideal é que os focos convirjam,ou seja, que haja interação entre os professores e
alunos em torno de um mesmo eixo, de modo que “a aula aconteça” (RIZZATTI, RODRIGUES, 2011),
ou seja, que a aula alcance seu objetivo pleno. Assim, para a aula acontecer, é preciso que todos os
envolvidos estejam engajados em uma mesma interação (ou interações paralelas) de mesma finalidade
(foco) .A ausência desse engajamento, a não consolidação efetiva dessas interações caracteriza a não
intitulação da aula como gênero do discurso, e portanto, os objetivos dessa aula não foram atingidos e o
processo de ensino a aprendizagem não aconteceu. Vale observar que a divergência das interações em
sala de aula não é tratada pela L.A. como no passado, como um problema de disciplinamento
comportamental dos alunos: o foco para a L.A. diz basicamente sobre a adesão ou não da proposta
interacional do professor, mediada pela linguagem, e a não adesão significa um problema linguístico a
medida que implica num não acontecimento de algo vinculado diretamente com a natureza linguística
das interações, que deveria motivar a reunião desses sujeitos num mesmo espaço.
Para solucionar o problema de divergência dos focos (o não acontecimento da aula), e
proporcionar a adesão dos alunos as propostas interacionais, a L.A. propõe que a língua seja abordada
através do letramento – ou seja, que o ensino da língua ocorra por meio do ensino dos gêneros do
discurso em que a língua se consolida) e que as práticas de letramento dos alunos não sejam ignoradas,
mas ampliadas, de modo que este possa transitar pelos varios espaços sociais com desenvoltura.
Dependendo das características socioculturais, dentro das condições socio econômicas em que se
encontram, os alunos irão atribuir diferentes valores para a leitura e uso da escrita, e, portanto,
participarão mais ou menos dos eventos de letramento atuais. Assim, em muitas situações, as práticas
discursivas ensinadas na escola por se distanciarem muito das práticas de letramento dos alunos, não
encontram respaldo nas práticas de letramento dos mesmos, e acabam por não significar nada para eles.
Paula Ramos Ghiraldelli
Linguística Aplicada ao Ensino de Português
Curso de Letras – português
UFT – semestre 2020.1

O papel da escola, nesse aspecto seria de ressignificação das práticas desses alunos, promovendo a
“hibridização entre práticas de letramento locais [que os alunos já têm] e práticas de letramento globais
[as ensinadas pela escola]” (RIZZATTI, RODRIGUES, 2011), num “movimento dialético entre ambas”
(RIZZATTI, RODRIGUES, 2011).
Além disso, outro fator que proporcionaria uma efetivação mais expressiva do processo de
ensino e aprendizagem da leitura e da escrita é a a excelência do professor no domínio teórico e na
elaboração didática, além de sua ação sobre às possibilidades de desenvolvimento do aluno
Dado que o processo de escolarização tem como objetivo educar e não produzir ciencia, e que na
escola o discurso científico ganha vulgarização (por meio dos gêneros, manuais de ensino e prodimentos
didáticos), visando a apropriação de novos conhecimentos (no caso, sobre o uso da linguagem) e a
melhoria sobre seu uso, o papel do professor de Português seria incindir sobre zona das possibilidades
de realização dos sujeitos., uma condição individual e passível de constante mudança por meio da
interação com outro usuário da língua mais experiente. Para tal, seria imprescindível: o domínio do
docente dos conhecimentos científicos (linguísticos e literarios, no caso) e no estabelecimento de
procedimentos didáticos embasadas nesses conhecimentos. Quando esses dois pontos citados não estão
presentes, o processo ensino a aprendizagem tende a não acontecer.

Você também pode gostar