Você está na página 1de 9

Sintaxe Gerativa

Eduardo Kenedy

O que é Sintaxe Gerativa?


A Sintaxe Gerativa é uma das mais influentes abordagens a respeito da
gramática das línguas humanas. Formulada por Noam Chomsky em meados
do século xx, a maneira gerativista de observar, descrever e explicar fenômenos
sintáticos transformou-se ao longo dos anos numa teoria linguística complexa e
diversificada que, até Ós dias atuais, permanece produtiva e bem-sucedida (cf.
Chomsky, 2013). Com efeito, grande parte da história dos estudos em sintaxe
no curso das últimas quatro décadas define-se a partir da Sintaxe Gerativa,
seja, por um lado, para desenvolvê-la em modelos gerativistas mais espeêífi-
cos e pontuais (como o minimalismo, a otimidade, a sintaxe experimental ou
a HSPG), 1 seja, por outro lado, para criticá-la e, fazendo-lhe oposição, fundar
novos paradigmas (como o funcionalismo ou o construcionismo).2 Em pleno
século XXI, parte considerável dos sintaticistas do mundo é fonnada por gera-
tivistas, e mesmo aqueles que não se veem como tal reconhecem a relevância
da abordagem chomskiana e seu legado para a Linguística contemporânea.
Em suas origens (Chomsky, 1957, 1965), a Sintaxe Gerativa estabele-
ceu-se como parte de um novo paradigma na Linguística que se opunha ao
então dominante estruturalismo. Os mais influentes estruturalistas, como o
europeu Ferdinand de Saussure e o norte-americano Leonard Bloomfield,
assumiam a premissa de que as ciências da linguagem tinham a função
precípua de descrever as refações entre os elementos básicos de um siste-
ma linguístico - os seus signos (morfemas, palavras) e as sµas unidades
distintivas (fonemas). Chomsky reconhecia a importância do descritivismo
estruturalista, mas, para ele, a Linguística deveria assumir uma t_arefa mais
Sinroxe Gerativo

12 Sinta xe , sintaxes

putacionais. É no léxico q tK ' são depositadas as un idade~ mínimas da língua


hásica e rundamental: explicar o caráter gerat ivo da, lí nguas nmura1s. (fonemas, morfemas, pa\a, ras, 1dio matismos, expressões fixas) , que , po, ::-,e
l' ua
?a ra Chomsky, o caráter gerativo da li n~u ag,em caracteri za-se pelo fato lratar de itens firnlos, dev em ~er memorizadas pelos falantes ue uma mg,
de que, em todas as línguas humanas, é possível criai um número infinito , · · ~ b ' fi t mas quando
específica . Ja as regras computac1ona1s sao tam em 1111 as '. _'
de expressões linguísticas utilizando-se, para tanto, uma quantidade finita aplicadas sobre os itens presemcc: 11(1 léxico, criam unid.. ues infmitas corno
de_ elem_entos const·t ·
I utivos. Dº1zendo de ou tra forma, Ch0:Y1'> ky noto u que
sintagmas4 e frases. Essas un idades são geradas compos1ciona\men~e, is~o
nao .existem limites para O núm ero de frases que um fa lante de uma hngua .
é vêm à luz no momento em que são engendradas pela sintax.e , e ass im nao
particular
• ' seja ela qual fo d d -
r, po e pro uzir e compreende r. Em qualquer ' . f D do com os sintaticistas de
1 podem ser memon zadas pelos a1antes . e aco_r _
s~;~ª humdana, é possível gerar uma quantidade infmita de frases que
10 nna as com base em u · r • ' orientação gerativista, as regras computacio~a1s da hng:iagem per~e~cem
mas de pala d rn conJunto imitado de fon emas, de morfe- ao domínio da sintaxe e cabe à Sintaxe Gerativa descreve-las e exphca-las.
, vras e e regras com t · -
chomskiana a capa .d d . pu acionais . Segundo a nova linguística Como podemos entender, a proposta original chomski ana estabelece
' ci a e gerativa das l' · •• -
fazer uso infinito d . mguas cons1stma Justamente em que a infmitude discreta5 é a propriedade basilar das línguas humanas, e
os recursos fmitos · t
gramática. Essa capacid d . ex.is entes em seu léxico e em sua tal propriedade emerge do componente sintático da gramática. E sse caráter
da linguagem humana a , e sbena, para Chomsky, o traço mais fundamental
e e so re ele que ª 1mgmst1ca
· , . deveria debruçar-se central atrÍbuído à sintaxe faz com que, algumas vezes, estudiosos não ge-
Tabela l · E ,
. m numeros aproximados , um.dades lingu· f
· rativistas interpretem linguística gerativa e Sintaxe Gerativa como termos
- Q . . is icas e o caráter gerativo da linguagem
,___Unidade sinônimos. Entretanto, devemos ter em conta que a Linguística Gerativa
uantidade de itens numa língua
L..... fonem a
de 20 a 40
Significado dedica-se também ao estudo dos demais componentes de uma língua - a
~ morfem a nenhum
mais de 10 mil fonologia, a morfologia, o léxico, a semântica, a pragmática e o discurso -,
,___ palavra fração d_o significado de uma palavra
mais de 50 mil tomados isoladamente ou em interação, inclusive com a Sintaxe. A Sin-
'-- frase conceitos e combinações simples
infinito
expressão de pensamentos taxe Gerativa é, portanto, apenas uma fração do gerativismo. Além disso,
I De fat o, como se ve' na tabela 1 o , não podemos nos esquecer de que a Linguística Gerativa é também uma
avras que existem numa língua d' numer~ de fonemas , morfemas e pa- teoria geral, abrangente e multifacetada a respeito da faculdade da lin!rna-
extenso q ue seJa,
. esse número é po seme ser .muito
. gra~d e. eontudo, por mais
gem hum~na, de sua natureza, evolução, aquisição e uso - e não ap:nas
que podemos produzir e compree d pre hm1tado. Ja a quantidade de frases
mome t sobre a smta~e das línguas (cf., entre outros, Chomsky, l 995 ; Hauser,
tas 3
°,
n os falantes das língu h
n er em qualq
as uma.nas cnam
l' ,.. .
. uer mgua e ilurutada. A todo Chomsky~ F1tch, 2002; Pinker e Jackendoff, 2005) . De fato, o gerativis-
' nunca produzidas antes na hist , . d . e ouvem frases novas, inédi- mo c~~so~1dou-se na _história do conhecimento como uma das disciplinas
abordag h . · ona e sua lmgua o •. .
em c omsk1ana caracteriza · ra, a ongmahdade da das cienc1as da cogmção responsáveis pela revolução coonitiva dos anos
capazes de gerar infinitas frases e v:~se por indagar: como os humanos são
50 e 60 do século xx. Sua inserção entre as ciências co;nitivas faz com
que há por trás dessa capac1·dad om ~se nos recursos fmitos das línguas? O
· e gerativa? B · ~ue ª Linguísti~a Gerativa possua uma grande rede de c;nceitos relativos
essas mdagações foi a agenda de trabalho ~ ~sc~r r~spo~t~s científicas para a natureza ~a lm~u~gem na cognição da espécie humana, os quais nem
No empreendimento proposto ela ~ida~ ~mgu1st1c~ por Chomsky. sempre _estao explicitamente em análise quando fazemos Sintaxe Gerativa
sempre ocupou um lugar centr l I p Lmgu1stica Gerativa, a Sintaxe a re5__pe1to de ui:n fe~ômeno morfossintático particular. Isso quer dizer que
,
d as 1mguas revela-se exatam t
ª · sso acontece po ,
rque o carater gerativo
en e no compone t . , . no~oes como inatismo, modularidade, pobreza de estímulos , gramática
Entenderemos isso seco ns1.d erarmos que par n e smtatico . .
da gramática. u~iversal,faculdade da linguagem em sentido amplo e restrito etc . podem
human a possui do1·s co , a o gerativ1smo, a linguagem nao ter uma relação imediata e explícita com o fazer mais pontual da Sin-
mponentes fundam en t ais , . e as regras com-
· .. o 1ex1co
taxe Gerativa.6 A respeito desse aspecto cognitivista e epistem~lógico do

\1
,, ,1I " ,~m(1 \l mm ,, i 4111., ptl'-1. ,,n' '-
.,.,•. , I' li \ n l''Ot"" 11h 1
pt ,r~,n r t•• e
,, 11 111uh 1 l 4u1.·. ,r1'1111d11 1,, l!l'r Ht , 1• 1 • ,,, lo ·''l',entt' 1 \ ,t' 1pl1\ ,1 '\ l' l'"''lll til .. t 1 ~11.1-, 1! 1 , ._ l
' ' 1\ \ll , 1 <;; ·,
,11 •1nt1i,1~ 1t.· pa,t.,'lll p ut.1,1011a1 d.,i. • 'lll l( ,l,doléx,l, l )t• t Ih > .\1~~1 11111, 1, '11 1', ,\ r 1 telll
- u ,) 11\l<l\l 'l l
l '
,11111pí.!<'m ,, conh"'l imentn hnl'l11,t1c t ., n,, mente , Mn.1 ll \111\L''\ ('l'!1 ll I l p L.I ,OI dto 1 1 •li 11 ' 1 r, 1• 1
•t1 ' 1 , l lHIÍ1tlll v 'Ili
r- • O ,\e llO f , 1 1 11 /
1. ,1da 111d1, , ,11, PO'-'->Ul quand\, , , ' ' ta tnn,1,11 1) q11, dt·,tubnnd,i q 11 l 111 111 tp,; 1 11 1111• 111,,; ,mr i1 1< rt 1111 mt 1ml1,rmcm, nrc:
_ l 1om., , ,p ,r,
u111 mm1í:'ni inhn1ln de 11 'a,1., cn1 '-lia 1·mg11 , T t' lTllp~ ·nd ·nrrt 1'- lm1,1.tt.l... 1'111 l \l' llll' • q11 intl• ,... \{ llll rr ., ►ll li •' ti 1

t·, t.1hdt'Cl'r'L'(ll rl' ji,_•n·m I l l 1111 l li 111 1 li rr,· ..;,ic' 1


1 Hlllll 11 1f 'll'TI •~ lc:t('nre
d~\ll'lllllL'Uparrn ii,úL·~dtt~·H.'llll'"-'11 1 111 d 1
d 1 ri ,r, ····,, >fl! l rctn

r \) n., lifljlll,l p n rt tli.'.llCS,I "L' q 111 ..;L'n1111, tt11t·r 1,.nrr ·h-r n ; 1, ·nrrc •,rn prnfK»Jk'
O que a Sintaxe Gerativa estuda?
l 11111 1L'fl'rnitl' prL''L' llk " fll 1 111tcr111r (k n 11111.1 rm;-.111 1 1,; >r.,. 10 r- · , , k. r•.
\1,, la;>c1 ememir n 'ar. 1 11 ,,. 11 u111 pn111oml' 1l'l ln .1vP 1,tl 1. 0 111n ,e.: du,tn ·m' l
. - ~ l, a cr gcrat,, o da lin~uagcm ,, Smta, c ut1lt1a regras
1,1..1mputauona1~ para cnnstru,r s1 ta f '.
, d · n gma.., e rase, \ nwr,1C\l~tência de tais ( \) 1 j \ > prPti.•-.;,; 11 r d1 ..;1,t: [q ur 11-10 o rc1,;onhc1. - , !t>l l 1
" .11 11110
reQ.rn, ena lran,parecer ,1u c e . ·
·l: .
J catonamente item, lc, ica
· ,
-, ·
m ncn1iuma 1111 g11.1, t: po~,1vc l comhin ar
_
h • du1111 n,1n o rccor1hc, ··11 h:~1 1 j
1( > proti:ss111 d1,-;1• 1q11 t· 11

• ·. "'· '->lll tagmm, ou ()I JÇOL'~ e ter como resultado ( ll ,1 • jl) pn1ti.·-;-:11r, d 1s,;t: jqrn· ll dun{1níl< 1..,t' rcwnhc<:~11 ;e1.1,j;
uma frase nonnal Na , crdad • . h IO pnitl:~"or J1,;sc !qm· ll .d 11110 n,io '-t:, rn:1111hl'L · 11 •1:,1.i;
_ . e, cm qua 1quer 1mgna. sumente algumas com-
hn-1çoes
_ smtalicas são pc nn1t1·das, 1~to e, • apena-; ce rtos tipos de estrutura
: L' hem fonna dcrs. /\ s
'30 !!ramat1ca1s
- . mtaxc (• . que, ao
,nati va nos cns111a Fm (la) 11 pron11 111 L· anali1rn:c1 [til ,1cu pc1 .111r'u;,in '-t1hordm<'.d1 ,;:-.,. .11h
usannos uma hngua, podemos construir um nú mero infinito de frases, mas co111 lque l, t: nqu,mlo srn rdárnlL' . o1 cxrrL·-;sán nmrnnal lo pmh.:..;-..'J(' ,. .:nn,n
~o fazennos :sso obedecemo~ a regra~ sm1át1 cas: a criati vidade linguística tra-sc 11011trn uraç,1n, a ()f~u,;:111 pn11c1pal da ti a.sr I m fünç,io tk:,"1 dhtrtbui~>.
e sempre regida por regras Por exemplo, cm português, na ~ompos1ção de a ct1rreft:rêncm cntn.; 1.:sscs drn s c lt:rm;nto-;, que ... e 1mhca pdn , ..;\1n<;1,;r•tn.
um smtagma nominal (e;;~). uma regra computac1onal determina que artigos é gramatical l'untu resultado, te rno~ 11111<1 fr.1.sc hc1n tonna<.kt .;m í1'>rtu~~..
l ,RT) de, em sempre anteceder o nucko N desse sintagma ; do con trário, a .l:'1 cm(l b), 11pm1111rm: lol to1na l:\Hll \l rdi.:n;ntt.: a 1.: xprl·-;~o :,> .t llll\\li \. c,w

cstruru_ra será agramaticaF, malformada . F h SO o que w mos nos exemplos caso, pronom1.: e rdi.:n.:ntc crn.:ontra111 ,e na rnt:sma p,.içJo, 1r11~1.t~kl ~,>m (1
a seguir: ( 1) (o livro )8 é posim d 11:1 l1ngua, ma~ (2) f li vro o] não. conectivo [que! , \ogP, 11 rcs ultadu é u1 11a construção ,1gr.11n.1t11.::tl n.1 hng.u
Essa lógica se mvcrte quando ana lisamos O!:> pr<im11nt::- r1,;l1c-<tH)'... f m
(1 ) {S\:' !ART o LNli vro J (4a), a corrckrênc1a liii cstahclcc1da t:ntn; a cxpn.:s.sl'fo nomm-111,> proft."-'>\>f !
(2) * [s!1. [._ livro [.4-RT o]] e o reflexivo fse 1, que ocupam orações di krentt:s t:, dc~:,.s turm~ pro\ lltam
agramaticalidade Já cm (4h), [o aluno\ c [scJ1.:ompamlhum a mc.~ma úr,1çào t:
A Sintaxe Gerativa interessa-se por estudar como as regras do componente isso faz com que a correferêm:ia seja gramati~al. O Úh> imt:rc:--_,~mk: - ..: mai:,
sintático são aplicadas nas diterentes línguas humanas. O objetivo de um importante para a caracterização da Sinta:<t: Gerau..- ;i e 4ut, ;;e tndu1_1rmu--.
sintaticista gera.tivista é descrever quais são as regras de uma língua que geram os exemplos (]) e (4) para quaktuer lLngua humana, a_.., rc~ra.. :.mut11.:as serãu
estruturas sintáticas gramaticais e, ao mesmo tempo, impedem a geração as mesmas: pronomes anafóricos ot:uparão uma onç:h) dtt'crtntc Lia de scu
de estruturas agramaticais. Ao longo dos anos de amadurecimento da Sintaxe referente, enquanto pronomes reflexivos e referente::. U\.'.Uparão l mesma
Gerativa, os sintaticistas vêm analisando inúmeras línguas e, como era de se oração; do contrário, teremos agramaticahdade.
esperar, têm descoberto que certas regras computacionais aplicam-se a um O que devemos entender a partir desses exemplos é que, ao pa.;;so que cer
dado conjunto de línguas, mas não a todas as línguas naturais. A regra sin- tas regras sintáticas são particulares e depcnJentes de um..1 \ingua ou de uma
tática que determina a anteposição de artigos a nomes é um _exemplo disso. tipologia linguística, como ocorre em (l) e l 2), outr.is regras são universais e
Sintax e G,erativo

- e ' Ja ponês. de um.1 m an eira


l6
J 1u ·1rnos () p (Jrtu g u e5 -
Sintaxe , sintaxes po lo g ,ca rn e nte . co rno , .::,L ' 1 •-.,--.a~ d l,as línguas co•n p aru lhara•
. . t s ·a·1 te P o r exemp º - e ,
• cr • ~, ·~~cífica, ta\ ' orno acontece cm (3) e ( 4) . Pois si s tern a tica e in ere . :,, ' . . ra lodas a s lm1!:uas human~ \
ão os m e s mo~ p a ~
independentes de um~ \111 º u<1 ' S .., Ge -atwa 1.:ons1ste _iustamen- Pri ncíp ios afi n a 1. esses S e . xe mp ln o esu'l.bdecté' qu.:
.. \ •, dc pes,,u 1sa en1 , •·"e r , . - ara c itar a p e n as um e · ·
ben1: a pnnc1pa ag<.::l'll,\ e' '1 ' • \ as e descobrir o que e Princípio ela Subordinaçao, p d e'. s~ co mo co mp lemc:r. de o ....
. . . das diversas hng,Ll<tS 1uman tn t rada nu m J ct a ,ra e
te em investigar a , smt<1xe . gras que aovemam a ·tnfi1n1·rude discreta. um a ,,~ã o p <)d e , L· -; _1 u irn um a co n str u ção como [J oão é k li/ l poctc..
universal e o que e -r~rncu1ar nas re "'" . · · - D a ão
Na tare e:La d e d <.> --1-·ver
C J -
a _, ·1nta•·e das \hw~ ua::-.. os s mtat1c1S\.dS de . _Orffi< ç.
-~ '
oração, a qua l se s ubordina . ~~_:'o h~erar uicamente s upenor: [ P aulo ach<.1 4 Llc..
oerativista ossuem uma teoria bastante madura e poder~s~: a Teona de Pnn- se r o cons t ituin te ele o utra oraça . q, . S ubordi n acão é um fenôm~ no
""c1p1 ~ t ro s (cf. Chomsky, 1981- ·, \ 9 CJ S) . Essa teona
· ·os e p aran1e . e capaz de fornecer_ (João é fel iz]] . .Tá _qu c !-e tra ta d e um Pnnc~~º -: m japonês e, em q u alquer outra
explicações para a universalidade dos fenô menos smtát1cos, bem como pa~a s intático que sera e n contrado e m _po~gponê s també m apresenta r ão diversas
as possíveis variações da sintaxe de uma língua para a outra. Segundo a T~ona lín ua. Mas é claro que portugu es e J _ _ - , la
de Princípios e Parâmetros, as línguas humanas possuem to~as_uma o~igem dif!renças sintáticas. Mu ita s d essas dife re n ças, poder:_? ser texp!~cm: : :
comum: a Gramática Universal (Gu) . A GU é composta por d01s tipos de mfor- função da maneira pela qual cad a uma dessas lmguas orrna ou_ · _
mação diretamente relacionados à Sintaxe: (i) os Princípios, que são universais da GU ." O Parâmetro do Núcleo, por exemplo, estabelece_q:1e as 1m~ uas p~t-
e invariantes entre as línguas, e (ii) os Parâmetros, que são também universais, c ulares deverão formatar s ua gramática como Núcle~ lmct a l 0 ~1 N ucle o ~mal
mas variam de maneira liinitada de uma língua para a outra. (ou, se quisermos simplificar a descrição, Núcleo + Fmal ~L~ Nuc leo - Fmal) -
Na Sintaxe Gerativa, assume-se que, enquanto os Princípios são in- E m português, tal Parâmetro é formatado como Núcleo Irucial e , d essa fo r ma,
variantes e, assim, fazem parte da cognição humana mesmo antes de sua núcleos sintáticos antecedem s eus respectivos complementos es truturais :
experiência linguística, os Parâmetros da GU , por sua vez, precisam ser
dizemos ( eu comprei do ce] e não*[ eu doce comprei]. Em japon ês, o m esmo
formatados na mente durante o processo de aquisição da linguagem. A
Parâmetro é formatado como Núcleo Final e, assim, complementos estruturais
necessidade de fonnatar os Parâmetros da Gu e , desse modo, criar o co-
nhecimento de uma_língua específica, é , por assim dizer, motor principal devem anteceder os seus respectivos núcleos. Nessa língua, d evemos d izer
da aquisição da Sintaxe do português, do japonês ou de qualquer língua algo como [eu doce comprei) e não *(eu comprei doce].
natural. A aquisição de J;>arâmetros pode ser entendida como uma espécie Em suma, a Sintaxe Gerativa estµda o componente si ntá t ico das di ver-
de
p escolha entre o pçoes - d e confiiguraçoes - . , .
sintat1cas .
preexistentes na GU . sas línguas humanas e , ao fazê-lo , tem o objetivo de caracte ri zar o que é
or ~xemplo, durante a aquisição da língua de seu ambiente, uma criança universal e o que é particular nos inúmeros fenômenos s intáticos que dão
precisa descob
. nr. •( tacitamente)
. se essa hngua , possui. suJeltos
. . nulos ou vida à infmitude discreta. Ao fazer isso , os sintaticistas p·rocura m d escobrir
preenchidos
. , núcl - t, . fi . . . . .
eos su1 aticos inais ou 1n1ciais, movimento de qu-9 ou . quais Princípios e quais Parâmetros da Gu motivam as regras s intá ticas que
Qu- zn s itu , concord~ancia · mon.oss1ntatlca
e · , ·
ou não etc . No curso de alguns geram estruturas gramaticais e proíbem as agramaticais numa d a da língua
anos, esses . Par~ametros sao - formatados com um "sim ou não" um "positivo
ou em todas as línguas naturais .
ou. negativo"
d ' e , fiina1mente, formam uma grande rede de relações , gramati-
cais a qual emerge o conhecimento . da sintaxe de uma língua. Uma criança
exposta a uma . d d
Pa ~ vane a e do português do Brasil, por exemplo formatará os Como estudar um desses fenômenos
nulrametros , de sua
. Gu d e ta1 e.1.orma que a smtaxe .
de sua língua '
terá sujeitos
os,
tr nucleos
e A
inic · · ·
rnis , movimento de Qu-, concordância, e uma gama de
usando a Sintaxe Gerativa?
0 u os .1.enomenos gram 1· . vanaveis
., . entre as línguas.
a 1ca1s Ao estudar a sintaxe das línguas, um sintaticista gerativista lançará mão
e om base na Teoria d e Princ1pios , · e Parametros, um sintaticista poderá
A

d escrever as semelhan de pelo menos dois princípios metodológicos fundamentais : os julgamentos


ças e as dic.1.erenças entre duas línguas distantes ti- de gramaticalidade e o formalismo .

t
A Sintaxe, sintaxes
1 ."/

Sí nrax~ Gerativo 19
Osjulgamentos
. de ~~ramaticalidad e ct izem
· respe,t. 0 · 111.. · -
fa /antenat1 vo da língu a ~m estudo tem b. él !> tw çoes que um de mane ira rigorosa, pre ferenc :éJ lm~r,t e c r,·n rt:c urso a -:, penmentos· ri
, so I e ce1ia , L'S trutu 1., ,.
dada Jmgua. Por exemplo as seou • t t·
. , b
·
m es rases do portuo .
ª' ' ·mat,cas numa con trário, ?odem incnr cr cm r Phk ·• :á me c1U lóg1 cc1 ,j ue enfrdq ue~l'·a
gramatical definido confonne a intu . _ d , . i:,ues tem seu status as generalizações descriti vá~ propu~tas pel o -..m tat1c1sta
içao o propn o autor deste capítulo.
O segundo prin cípio mdod0lóg1 co assu mido pelos sintatic1stas de
(5) a. Os alunos parecem estar cansad . orientação gerativa e ofo r• Jiism" -..e termo, na Sintaxe Gerati va, possu i
b *O os.
. * s alunos parece estar cansados. pelo menos duas acepções. Em pri meiro lugar, form ali smo diz respeito à
c. . Os alunos parece estarem cansados formalização adequada das generalizações descriti vas propostas pelo lin-
d. * Os alunos parecem estarem cansad~s. guista. Assumindo esse tipo de fom1a lism o, um sintaticista, ao descobrir
uma regra computacional, um Princípio, um Parâmetro, um fenômeno
f A. partir dessas intuições ' se na
· possive
, 1elaborar uma generalização descri-
sintático etc., deverá apresentar o seu achado da maneira mais ex plícita e
!;~ mteres~ante e estabelecer que, na língua portuguesa, o infinitivo flexionado inequívoca possível, evitando as ambiguidades, as múltiplas interpretações
so e gramatical e~ l_ocuções verbais quando as marcas de concordância aconte- e as subjetividades que se mostram indefectíveis fora de urna linguagem não
cem no verbo auxiliar e somente nele. Isso seria atestado pela gramaticalidade científica e não formalizada. Vemos um exemplo de formalização a seguir.
de (5a),_por contraste à agramaticalidade das demais possibilidades.
Mmtas vezes, os julgamentos não são uma questão de tudo ou nada e 0 (7) DOMINÂNCIA: a domina Pse e somente se existe uma sequência conexa
falante nativo pode ter dúvidas quanto à gramaticalidade de uma estru~ra. de uma ou mais ramificações sintáticas entre a e p e o percurso de a até p
por essas ramificações é unicamente descendente. (Mioto, Silva e Lopes,
Nesse caso, ele deverá indicar sua incerteza quanto à construção como se
2013 : 54 - adaptado)
vê em (6c). '
Não é preciso explicar os detalhes dessa definição, pois o necessário
(6) a. O livro que. encomendei chegou.
para o momento é entendermos que, com base nela, os sintaticistas po-
b. * O livro quem encomendei chegou.
c. ? O livro o qual encomendei chegou. derão falar sobre dominância, identificar um constituinte que domina e o
outro que é dominado, formular regras computacionais a partir da noção
De acordo com quem julgou as frases em (6), (6a) é claramente gra- de dominância etc. sem que haj a confusões ou desentendimentos sobre o
matical e (6b), agramatical. Há, contudo, dúvida sobre (6c): o uso de [o que é dominância. Com efeito, o mesmo tipo de formalização é esperado,
qual] só parece gramatical quando a oração relativa em que se insere é uma na Sintaxe Gerativa, para qualquer definição, generalização descritiva ou
explicativa, mas não uma restritiva como a do exemplo. Todavia, é possível proposição geral aduzidas pelos estudiosos. 14
que outros falantes do português não compartilhem dessa intuição, logo A outra acepção do termo formalismo refere-se à concepção gerativista
qualquer generalização descritiva sobre (6) poderá ser posta em xeque. segundo a qual as formas da sintaxe possuem natureza e funcionamento
Os julgamentos de gramaticalidade são indispensáveis no fazer da independentes do conteúdo e das funções que tais formas eventualmente
Sintaxe Gerativa. É a partir deles que se toma possível investigar, de uma veiculem no uso da linguagem. Isso quer dizer que, para a Sintaxe Gerativa,
maneira relativamente simples, o resultado (gramatical ou agramatical) a sintaxe é um componente autônomo na arquitetura da linguagem humana.
de certas operações sintáticas numa dada língua. É também por meio De acordo com os sintaticistas gerativistas, as regras computacionais da
desses julgamentos que podemos investigar, sem necessitar de recursos sintaxe são um conjunto de operações formais que constroem sintagmas e
frases. Essas regras seriam exclusivamente sintáticas e não seriam afeta-
muito elaborados e caros, as diferenças e as identidades entre a sintaxe
1 das por informações de outra natureza (tais como semântica, pragmática,
das diferentes línguas. Não obstante, tais julgamentos devem ser aferidos

i
L
20 S4ntaxe, sintaxes

discursiva) . Desse mod1' . ,1ma pe:,,.:iuisa em Sinta xe Gera tiva a I cs peito de conjurno das computa., "-" q ue geram uma :rn:--c.' é chamado de derivação. 15
um fe.nô1neno li ngub uco ec;pecífic o descreverá esse fenômeno .:m fun ção enquanto os smtagmas e as fras es qu e.· re::-u ltam das 1perações si ntáticas
tão somente de certas operações fo rmais . É em vi rtude da adoção desse tipo denominam-se representaçào .
de form ali smo que a pesqui sa em Sintaxe Gerativa tipicamente trabalha A fim de exemplificar o fazer da Si ntaxe Gera tiva, analisemos um
c 01-:1 frase , ;ddas. l1ll a de conle'.lO , as quais a princípio deve m apresentar fenômen o 1-J-:'.m específü..,o . o li cenciamc1~. de sin~ag mas de valor no m i-
as infonnações necessárias e suficientes para expl icar o fun cionamento nal com alg um Caso . D iante das represen tações (9a) e (9 b) a seguir, um
autônomo da Sintaxe. sintaticista irá indagar-se sobre as razões fo rmais que to rnam a primeira
A autonomia da Sintaxe em relação aos demai s componentes da lin- frase gra mat ical e a segunda, agramatical.
ó
guagem foi ilustrada por Chomsky no seu clássico exemplo de 1957 , que
traduzimos como se segue. (9) a. Paulo quer que João estude.
b. * Paulo quer João estudar.
(8) ldeias verdes incolores dormem furiosamente .
Algum fenômeno sintático acontece na computação de (9a) e falta em
Para Chomsky, essa fras e, apesar de ser sintaticamente gramatical, é (9b) . Se analisarmos os exemplos (10a) e (10b), teremos mais evidências
inaceitável de um ponto de vista semântico; afinal de contas, "ideias" não para tentar descobrir do que se trata.
possuem cor e, se pudessem ser "verdes", esse " verde" não poderia ser
do tipo " incolor" . Além disso, " ideias" são abstratas e não podem exer- (1 O) a. Maria parece gostar de sintaxe.
cer atividade física concreta, como "dormir" , e, por fim, dormir envolve b. * Parece Maria gostar de sintaxe.
repouso e tranquilidade, algo incompatível com a semântica do advérbio
Na análise de frases dos tipos (9) e (1 O) em diversas línguas, os estu-
"furiosamente" . O argumento de Chomsky era claro: a Sintaxe é autônoma diosos da Sintaxe Gerativa formularam a noção de Filtro de Caso . Esse
em relação à semântica porque é capaz de gerar formas ·gramaticais sem Filtro estabelece que, no curso de uma derivação, expressões nominais
conteúdo semântico normal , tal como se vê em (8) . Note-se que, se a sin- visíveis - sintagmas plenos como [João] , [Maria], (o livro] , [aquele gato] ,
taxe por ela mesma fosse violada e uma estrutura agramatical fosse gerada, [todos os meus alunos] etc. - precisam ser licenciadas com algum Caso
sequer conseguiríamos imaginar um conteúdo semântico relacionado a uma (nominativo, acusativo, oblíquo ou outro) para poderem figurar numa re-
sopa de palavras como " * Furiosamente ideias dormem incolores verdes". presentação qualquer. Se sintagmas desse tipo não forem licenciados com
algum Caso, então a estrutura resultante será agramatical. Numa frase, são
poucas as posições sintáticas que licenciam o Caso em expressões nominais.
1
Poderia me dar um exemplo? Uma delas é a posição de sujeito de um verbo finito , em que o nominativo
é licenciado. na frase (9a) , reproduzida a seguir como ( l l ), o verbo finito
A Sintaxe Gerativa, ao descrever as operações formais que geram da oração principal, [quer] , licencia seu sujeito [Paulo] , enquanto o verbo
as estruturas sintáticas das línguas, assume uma noção fundamental : as
frases que produz imos e compreendemos quando usamos a linguagem
\ finito da oração subordinada, [estude], licencia seu respectivo sujeito (João] .

são, na verdade, o resultado de um processo computacional. Segundo os (l l) [[Paulo [quer [que [João [estude1]]]1
L_J L_J
gerativistas, para entendermos como a sintaxe funciona, devemos ir além
do que vemos na superficic de uma dada frase e procurar reconstituir cada Expressões nominais visíveis licenciadas com Caso (nominativo). Filtro
operação sintática do processo que lhe deu origem. Em Sintaxe Gerativa, o de Caso OK .
; ,:,-u 1tt1x-c, s iotu xc-' S

Sintaxe Gerativo 23
.l :1 na fra:- c \ llb ). o ve rhn 1 , t i· · I
· . l '- LI ( d r ,. presente n . :- , .
L' ncu11 1ra-sc L·111 llirm a llllinit·i , , , . _ , a o raçao subord1 11ada,
. . , L. <1ss 11 11 1iao e c·ip · d . . fon n: tl das línguas. Fi as se apli cam não só em relação ao l1 cenciamcn tti
Sl'U -.. u_1c1to . NPtc-sc C]lll' nf'i ,. , •, • < ,l L e atribuir Caso a
, , o 11.1 llL ssa !rase ne 1 . • .. de si,nag 117 c1s com o l :ltro de Cas o, mas também . L' ntre outros fe nôiT1L·no
onde l l s 111ta " 111·1 f loàli] r)t1 d - , i n ,um<1 outra pos rça o par:1
~ , . , ~ esse se r e es locad fi . . s_o l:rc elementos c_1 u-. ~m lrnguas como o portugues. elementos Qu- SJ\>
p rc, ,·rvar u Fd trn LI · l '· . , ' o , ª lm de ser l1ce nc1ado e
t: , IS(l . l l l i l l O C l , '-l'~•ue r · , t1 ~1ca m~nte d~s locados para a peri fe ria esquerda ela frase' , onde assi nalam
:tl!ra matical A. s 1tt1·11"'1l) ll·1· 1·· i 1cia, k .111os uma construção
' . . ' ' '' ' s l ,l SCS e m ( l ()) é ' .. . ~ :1 ti rça iloc uc1onán .1 das orações inteITogati vas 1- isso O que vemo, rl
a rq)('ese ntac ão t·il , , ~ um pouco dr te rente. Em ( 1Ob) prese nt ado cm ( 13).
T • , LU lllO se e ncontn e ·1cr • . 1 . .,
lMaria ] é ple no is t l e: PO '. . . <: '.~tamat1ca : afinal, o smtagma
• • \ · :sSu t m atnz íonet1ca ( ~ · 1
posicionado co m o s uje ito de [nostar] V"' ·b • nao e n_u o, o~ulto! e está ( 1J) [Que ít ivro [o João [leu [q 1: W ]]Jl]J ?
co nsegu e lic · . . , · · ~. :::- ' ' t -l O que , em forma mfimta, não
e nc1
. _ . . . c11 SllJe ttos . Ocorre , no entanto
. . . q ue nessa frase ex iste.
uma pos 1çao s mt a t1ca li vre LlUC t': c·lpaz de 1. . ' Ao formular regras descritivas, o estudioso da Sintaxe Gerativa também
· ~ . . . ' 1cenc1ar uma ex pressão no-
mma l com o Caso nommatr v o : trata-se da posição de . ·t d b deverá investigar sob que c~cunstâncias sintáticas as operações descritas
finito [ . 16 . . . _ SUJet o o ver o
parece] . Dtuante a denvaçao dessa frase, o Filtro de Caso será pelas regras são aplicadas. E muito comum que existam restrições à ap li-
preserva?~ se uri:ia operação sintática deslocar o constituinte [Maria] para caç_ão de regras computacionais. Uma regra de movimento, por exemplo,
~ssa posiçao, evitando que ele seja visível no local de onde é deslocado. aplica-se para deslocar constituintes somente em distâncias locais. Cruzar
E ex~tamente essa operação que se aplicou em ( l Oa), frase reproduzida a por meio de movimento, longas distâncias, como orações inteiras, é alg~
que provoca agramaticalidade, como se vê acontecer em ( 14).
seg~Ir ~omo (12). O movi mento do sintagma para uma posição licencia-
d: (u~d1ca~o pe~a s~ta) e seu respectivo pagamento fonético na posição (14) *(Que [livro [o João [conheceu [uma pessoa [que [leu[; : [I' cl]]]])]]]?
nao licenciada ( mdicado pelo tachado duplo) são operações formais que
tomam a frase gramatical.
Em resumo, ao sintaticista de orientação gerativa compete descobrir e
(12) [Maria [parece [~[gostar [de [sintaxe]]]]]] descrever as regras computacionais que atuam na derivação de represen-
~ 1 tações gramaticais, seja numa língua específica, numa tipologia linguística
ou universalmente. Ao formular suas descrições, o sintaticista deverá ser
o mais abrangente possível e estar atento à produtividade e às restrições
Regra desloca [Maria] para uma posição em que é licenciado com no- relacionadas às regras que descobriu.
minativo. Filtro de Caso OK.
O que vemos em (11) e (12) é uma breve ilustração da maneira pela
qual, em Sintaxe Gerativa, se postula a existência de operações formais Quais são as grandes linhas de investigação?
que são necessárias e suficientes para gerar estruturas sintáticas gramatic_ais
1 (e eliminar as agramaticais) numa língua. Em seu trabalho, o sintaticista Como a Sintaxe Gerativa possui uma tradição muito longa, é muito
gerativista formulará tais operações e verificará como elas são ou não in- dificil descrever de maneira sistemática e adequada todas as grandes linhas
variantes entre as línguas. Naturalmente, uma operação formal advogada de investigação que foram desenvolvidas nesses quase 60 anos de história
1 pelo pesquisador em Sintaxe Gerativa deverá dar conta de uma vasta gama da área. O que apresentamos a seguir é somente uma indicação de alguns
de fenômenos linguísticos, e não apenas de um fato em isolado. As regras grupos de trabalho importantes que vêm sendo desenvolvido por pesqui-
de movimento são, por exemplo, uma computação pervasiva no sistema sadores brasileiros no curso das últimas décadas.
24 S.ntcue, sintuxes

ta smtavna e ,.md _. dd Je m1enned1ána e:itre a unidade rr ~ 1 J la pata rudade ma:rnna ;,


F..m S in xe, - . t r.-r ~· ,Je pal 1 -:is •..Je ,urros sintagma
_ .d _ ;.icõe, ' ali ~- Cm sin,a2na e t1p1can1en e .ur ~ •
Teori a da t ,ra rnática. Essa linha pode ser conside rada a abordagem clás- rrase ) ascom,. · . • • ·d Plemento /;miazma:;:n,_,,, '·P'· ,. Eld s>u -na1;<,r..,;.Ões oo
mas pode ser também con,.i,t., o por ur - - . K '
, ; -: .... .:1 Sint.1,c GeraHYa . )/ela. desenvoh·em-se 1~1odelos fo rmais ah:,tra tos . Para noeo"ie básicas sobre ,mta2llla. er nu,. < J.: en.1,: . ·J ,1.
pode ser nul,, ,sintagma ,d?lü -
~ ... \. () .bCam descreYer tanto a competência lingu1stica dos falantes de urn a termo infimtude discreta" é usado em linguísuca para fa7..er referência a J .~, a1Õm10t. /d!SCceta.3)
0
da língua _ por exemplo, pala, ·as, morfemas - que são corn'>i~as pela, · ~ p1.1aCI0113.15 da smtax~
úngua como fenõmenos sintáticos mais específicos . · 1 ..1a5 - li nf"lJde discreta.
J.,0 a luz um núm er'"l in f de fra, c O carater ge· ., .. . _ ela, mg
Como leitura básica sohre a epistemologia da Linguís11"" í,ern:1va. er Bor,;~ · .~:o CfJ(;.:.
Sinta \ e [ \.pe rimental. Essa li nha complementa-se à Teoria da Gramática
;,ia literatura 11era11v1sta. ,, ..s1ensco ames de !lma estru:,ura mdica s.ua agr·,r,J"-' d.atk r i '--"'· j,: um ponto
por ::,cmpre utilizar experimentos linguísticos para investigar questões rela- de interrogação antes de estrururas mdica dúvida a respe ito :!e ,ua grama•1.:al1cdde
tivas à competência sintática dos falantes de um ponto de vista cogn it,vo. 1 ~a Sintaxe Gerativa, utilizam-se colchete, ?3f3 mdicar lim:res al'.! , m:.ignas '-ur;-.a represe-·JÇão desse
upo, 0 colchete a esquerda indica o m.. , de = smtagma e a de de-.: : .-,.,-espondcr '.L".l c:1chete 1 ii.reita, que
sinaliza O fechamento ào mesmo sintagma.: [hvTo] E;ses colchet.:, po<:le:n ~r etq:.ii!"..all05, tr:di.:.ar-do-se em
Sintaxe Comparativa. Essa linha Yisa comparar um conjunto de línguas para fome subscnta o upo do smtagm a (s, ( smtagma nominal/.~, / smtagna · .::')J.i • 51' s1;i1a,;ma prepos1c10na.l).
,·erific-ar o comportamento de Paràmetros e ensejar a descoberta de novos etc.): [~ hvro]. Havendo sintagmas dentro de smtagmas, 05 colchetes d e5<tc.,:da mdicarào a aoert'.rra de
Princípios e Parâmetros ou de noYos fenômenos morfossintáticos específicos. novos sintagmas, que serão fechados à direita por um colchete respccll, o í<, • ' :~s
h•ros]l
u m ~QU-" é um pronome como que, quando, quem, qual e expressões eq'J1•,alet11.C5 CQIJl O ?ride í
como (de que maneira) etc. Em Siniaxe Gerativa, entende-se que o movunemo dt: QI.- 3C>Jntece quando um
=
que lugar 1.

Sintaxe Histórica e Sintaxe Paramétrica. Essa linha dedica-se ao estudo elemento desse upo ocupa, na fras.e , uma posição linear diferente daquela em que= :nesnn ei=.= i
interpretado. Por exemplo, em "[Que hvro você acha que o João ainda não leu)"". o ,;,i;- iiparece ao 1.nmo
da história antiga ou mais recente de determinada língua, a fim de pesquisar,
entre outros fenômenos, a formação e a modificação de certos Parâmetros,
da frase, mas é interpretado somente em seu final, como complemento do verbo ··trr ~=
ca,os, du-se
ter ocorrído movimento de QU-. Em línguas de Qt:- rn suu, como o chmês, elemm!05 QL · ser:i;,,e OC"--p.ml a
posição em que recebem ínterpreta<;ão, sem sofrer TTtOV1.mento. Ver mal5 sobre o assunto oos caçm,.l<"i -<;rniaxe
e o surgimento. a variação e a mudança de aspectos morfossintáticos.
1ípológican e ~sinraxe em Teona da Otim1dad,:', neste volum~.

Aquisição da Sintaxe. Essa linha é pane dos estudos em Aquisição da Lin-


" Outro exemplo de Princípio da GI... são os Princípios d.e Ligação, :p:e e,q,uczm,
W1iver5alidade do comporuunento d.e rei.ações d.e correferêncta como as ilusuadas
== !J'~u ~ fer-.immos., a
(3 J e f ! 1

guagem e visa Q---tudar especificamente como se dá a aquisição de aspectos ~ote-se que nem todos os fenômenos símá11cos das línguas nalUralS pod."tll sa reduZ?dos a =..a .a,-.:;çao ;ie
Parâmetros da m;. A própria anteposição de arúgos a oomes em porruguês, cilada= / \ J ! (21. ~ :~.&ração
sintáticos da(s) língua(sJ do ambiente da criança. disso. ~tritas particularidades sintáticas das língua, especificas denvam de íál055UllCTl!51a5 ;,r=ntes s.eiJ =
léxico. Entenc:1..-r o léxico como fonte dos traços gramaticais que provocam as ~ ~. ~
Processamento da Sintaxe. Essa linha é parte dos estudos em Psicolinguis- ou não, é algo bem estabelecido na Lmguísuca Gerativa coru.em~..nea (ci. Coomsky ;9931
12 Hoje em dia, o recurso a alguma metodologia experimemal é cada vez mai., acCS3t' ei aos =.e-.= lei
tíca e tem o objetivo de investigar a dimensão psicológica das computações :\iaia, 2012). Para saber malS sobre 1s.so, ver o capítulo ~inlaxe Expcnmem.a.l" do ?S=U •, o,!,.:::r.e.
sintáticas na produção e na compreensão de frases em tempo real. ·, '.'-.hritoS fenômenos exrrassintáucos po<L-m uilluenciar ou d...""ternlinar os JU!g;mlcalas de gramanca!idarl.e e ;xo-
lSSO, precisam eslar sob O cootrole do smtatiC\Sla O mais problcm2llCO de\cs é oci:eeode ~ •Sn:,"ÓG. : OJJ l
Para saber mais sobre esse efeito, ver o capimlo ~sraiaxe Experimeruaf" ncsie Viltlml,e . Olxos fenõmro...--s
Evolução da Sintaxe. Essa linha dedica-se à pesquisa em evolução da
não sintáticos interferentes nos Julgamenms ;ão os seguuucs: frequ..-'n:ia de dctemrirodo != lro:al., s;upor..c
linguagem humana e tem o objetivo de levantar hipóteses a respeito do discursivo e referencial para expressões no1lllll2.IS ou para ~ dem.mda da men.lf'.a '.lte i:rahalho
surgimento da sintaxe como capacidade cognitiva do Homo sapiens . do ouvínte./leitor, imerveniêncía de elementoS semelhantes o,~ dispares numa m=n
cli=ivo das expressões noml.Ilal.S presentes na f=e, diierenças d:iaL'"tais, assuncma.s
== Ir>'~ Ji = !
~ a:no-
rnáricas e inruições frutos de reflexão etc. Para uma re·,ísão ~ m.erodologias aouç..a.ias ;:>2---a r~ em....-.s
d.e gramaticalidade, ver Cowan ( 1997 ).
1' A formalização não é exclusmdarle da Sintaxe Gerann., senào buscada tambem por Otr'15 ~ - Des-e•
Notas se notar que a formalização faz com que a linguística se aproXlllle do modo ~ w= =-~
da5 ~
formais e narurais, algo que não é a pránca =
(:Q(llum oos esi!ldos so!n ~ C.:xn efa:n, o pouro
Veja,!)')!" exemplo, os capTJ!os "Síruaxe em Teoria da Otimídade", "Sintaxe Experimental" e ~SintaXe Le- uso de formalizações produz., na Linguh-tica, muuas querelas a cespeit0 de .:oo=toS bási~<JS c-...---..r.o ~
xical", nes:e vomme. gem", " língua" , "discurso" ou mesmo " smta.xe". Em Smta.'(e Gerativa, é comum, por aeop!o., miluz-s.e o
termo "Sistema Computacional da Lm.guagem Humana~ pa!"a i:a:= refermcia à sm!1.'(e das lin:gl.m !laDira15,
Veja, pürexi:mplo, 05C2pÍ!lllos "Sintaxe Ftmeíooal" e "Sintaxe Construcionista", neste volume .
de modo a evitar confusões com ounas acepções da palavra -suuau".
O ínediwmo da! fmõ que podem ser geradas em qualquer língua humana é a situação típica do uso da 11 O tenno clássico para descrever o que chamamos ho;e de dai,-açà:> é rraJtSj,r-,,wçoo. Em s= ong=. a
língoagem. ~ ob&an:.e, fra.= repetidas, como frrues feitas, frasel •àavão e frases-clichê, constituem
diminutas ex.ceções ;,o aspecto cnarivo da smta:Xe.
\ SintaXe Gerativa era também denominada rr=formocio-nal, tmn0 que ;,e usava para~ a.i'..ISão :is '"tra:ns-

\
_,." que uma estru tura so fria até que um a !r·a:-e fosse compl t· .
(h (IJ'llly0i;~ - . . . (, . - •.
r , e amente 1urmada. Nos anos anteriore,
a noçao de t, ans1 ormaçao era exphc1tdd .1 rela ass unção de do · , . d , . _
,H" 1990· , , •/ N is mveis e representaçao· Estrutum

•• • / unda
P11'.I ' e Estrutura Superf1cw
.
. a
.
estrutura pro l u11da, seriam e~ tabelecidas
de urrni frase e, sobre ela, senam aplicadas regras transfonnacwnais ciue gerari· 111 , t
· - ·nh d , .
·
a . . - • .·
s re 1açoes semant1cas bas1cas
d.
ª a es rutura e superfic1e
F
,' .

•1 qual sena entao encam1


, . a a para
_ outros nrve1s representacionais _ a Forma · nne1tca e a 1'orma Log1ca
, . D , . ·
Dos anos 1990 em diante, as noçoes de Estrutura Profunda e Superfici'al •'-ora , b d d ·

I •

_ _
_

.

.

e: uraçoes tormadas a partlf deles, ate que repre:,er1tJções seiai


• •
,L' L a denvaçao aconteça sobre itens reti ra dos de, lt-x1cq (e orcall'L'idc,s numa N
, , .,
11 m a an ona as e assume-se
- ) b
umeraçao e so re smta~a~
u mstrui'das e encamrn

· hadas para a f '::::,orma

I
J ,I
Fonética e a Fonna Lógica.
16
Um detalhe importante no exemplo é que a posição de sujeito do verbo [parecer] encontra-se vazia em virtude
de esse ver~o selecionar do léxico (~a Numeração) apenas os itens que compõem O seu complemento [Maria
?ostar de smtaxe], mas não al~u~ item que possa compor o seu sujeito. Como não há na Numeração um
item que possa figurar como SUJetf:o de [parecer], então a sintaxe utilizará um item já presente na derivação e
deslocará [Maria], o sujeito sem caso da oração subordinada, diretamente para a posição disponível na oração
principal, fenômeno denominado em Sintaxe Gerativa como alçamento.

O que eu poderia ler para saber mais?


As seguintes leituras são essenciais para os primeiros contatos com a
Sintaxe Gerativa no nível acadêmico da graduação.
BERLINK, R.;AUGUSTO, M.; ScHER,A. Sintaxe. ln: MUSSALIM, F.; BENTES,A. C. (orgs.). Introdução à linguística:
domínios e fronteiras. v.l. São Paulo: Cortez, 2001 , pp. 207-44.
BORGES NETO, J. O empreendimento gerativo. ln: MusSALIM, F. ; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à linguística:
:fundamentos epistemológicos. v. 3. São Paulo: Cortez, 2004, pp. 93-129.
CHOMSKY, N. Syntactic Stn,ctures. The Hague: Mouton, 1957.
_ _ . Aspects ofthe theoryofsyntax. Cambridge: MJT Press, 1965.
___. Lectures on government and binding. Dordrecht, Netherlands: Foris, 1981 .

==· . The Minimalist Program. Cambridge: MlT Press, 1995.

, Derivation by phase. MIT Occasional Papers in Linguistics: 1998.


_ _. Problems of projection. Lingua, v. 130, 2013, pp. 33-49.
CowART, W. Experimental syntax: applying objective methods to sentence judgments . London: Sage
Publications, 1997.
HAUSER, M .; CHOMSKY, N.; FITCH, W. T. The language faculty: what is it, who has it, and how did it evolve?
Science, v. 298, 2002, pp. 1569-79.
KENEDY, E. Curso básico de Linguística Gerativa. São Paulo: Contexto, 2013 .
. Gerativismo. ln: MARTELOTTA, M. (org.). Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
MAIA, M. Sintaxe Experimental: entrevista com Marcus Maia. Re VEL, v. 1O, n. 8, 2012.
M1oro, C.; SrLVA, M. C.; LOPES, R. V. Novo Manual de Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2013.
NEGRAO, E.; ScHER, A.; Vrom, E. A competência linguística. In: Fiorin, J. L. (org.). Introdução à linguística:
I. objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002, pp. 95-119.
_ _. Sintaxe: explorando a estrutura da sentença. ln: FroRrN, J. L. (org.). Introdução à linguística: II. princípios
de análise. São Paulo: Contexto, 2003, pp. 81 -109.
PíNKER, S. Como a linguagem funciona. ln: _ _. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem.
• São Paulo: Martins Fontes, 2003, pp. 95-149.
PINKER, S.; lACKENDOFF, R. The faculty oflanguage: what's special about it? Cognition, v. 95, 2005, pp. 201 -36.
SNYDER, W AN Experimental Investigation of Syntactic Satiation Effects. Linguistic lnquiry, v. 31, n. 3, 2000,
pp. 575-82 .

Você também pode gostar