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Eduardo Kenedy
12 Sinta xe , sintaxes
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O que a Sintaxe Gerativa estuda?
l 11111 1L'fl'rnitl' prL''L' llk " fll 1 111tcr111r (k n 11111.1 rm;-.111 1 1,; >r.,. 10 r- · , , k. r•.
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_ . e, cm qua 1quer 1mgna. sumente algumas com-
hn-1çoes
_ smtalicas são pc nn1t1·das, 1~to e, • apena-; ce rtos tipos de estrutura
: L' hem fonna dcrs. /\ s
'30 !!ramat1ca1s
- . mtaxc (• . que, ao
,nati va nos cns111a Fm (la) 11 pron11 111 L· anali1rn:c1 [til ,1cu pc1 .111r'u;,in '-t1hordm<'.d1 ,;:-.,. .11h
usannos uma hngua, podemos construir um nú mero infinito de frases, mas co111 lque l, t: nqu,mlo srn rdárnlL' . o1 cxrrL·-;sán nmrnnal lo pmh.:..;-..'J(' ,. .:nn,n
~o fazennos :sso obedecemo~ a regra~ sm1át1 cas: a criati vidade linguística tra-sc 11011trn uraç,1n, a ()f~u,;:111 pn11c1pal da ti a.sr I m fünç,io tk:,"1 dhtrtbui~>.
e sempre regida por regras Por exemplo, cm português, na ~ompos1ção de a ct1rreft:rêncm cntn.; 1.:sscs drn s c lt:rm;nto-;, que ... e 1mhca pdn , ..;\1n<;1,;r•tn.
um smtagma nominal (e;;~). uma regra computac1onal determina que artigos é gramatical l'untu resultado, te rno~ 11111<1 fr.1.sc hc1n tonna<.kt .;m í1'>rtu~~..
l ,RT) de, em sempre anteceder o nucko N desse sintagma ; do con trário, a .l:'1 cm(l b), 11pm1111rm: lol to1na l:\Hll \l rdi.:n;ntt.: a 1.: xprl·-;~o :,> .t llll\\li \. c,w
cstruru_ra será agramaticaF, malformada . F h SO o que w mos nos exemplos caso, pronom1.: e rdi.:n.:ntc crn.:ontra111 ,e na rnt:sma p,.içJo, 1r11~1.t~kl ~,>m (1
a seguir: ( 1) (o livro )8 é posim d 11:1 l1ngua, ma~ (2) f li vro o] não. conectivo [que! , \ogP, 11 rcs ultadu é u1 11a construção ,1gr.11n.1t11.::tl n.1 hng.u
Essa lógica se mvcrte quando ana lisamos O!:> pr<im11nt::- r1,;l1c-<tH)'... f m
(1 ) {S\:' !ART o LNli vro J (4a), a corrckrênc1a liii cstahclcc1da t:ntn; a cxpn.:s.sl'fo nomm-111,> proft."-'>\>f !
(2) * [s!1. [._ livro [.4-RT o]] e o reflexivo fse 1, que ocupam orações di krentt:s t:, dc~:,.s turm~ pro\ lltam
agramaticalidade Já cm (4h), [o aluno\ c [scJ1.:ompamlhum a mc.~ma úr,1çào t:
A Sintaxe Gerativa interessa-se por estudar como as regras do componente isso faz com que a correferêm:ia seja gramati~al. O Úh> imt:rc:--_,~mk: - ..: mai:,
sintático são aplicadas nas diterentes línguas humanas. O objetivo de um importante para a caracterização da Sinta:<t: Gerau..- ;i e 4ut, ;;e tndu1_1rmu--.
sintaticista gera.tivista é descrever quais são as regras de uma língua que geram os exemplos (]) e (4) para quaktuer lLngua humana, a_.., rc~ra.. :.mut11.:as serãu
estruturas sintáticas gramaticais e, ao mesmo tempo, impedem a geração as mesmas: pronomes anafóricos ot:uparão uma onç:h) dtt'crtntc Lia de scu
de estruturas agramaticais. Ao longo dos anos de amadurecimento da Sintaxe referente, enquanto pronomes reflexivos e referente::. U\.'.Uparão l mesma
Gerativa, os sintaticistas vêm analisando inúmeras línguas e, como era de se oração; do contrário, teremos agramaticahdade.
esperar, têm descoberto que certas regras computacionais aplicam-se a um O que devemos entender a partir desses exemplos é que, ao pa.;;so que cer
dado conjunto de línguas, mas não a todas as línguas naturais. A regra sin- tas regras sintáticas são particulares e depcnJentes de um..1 \ingua ou de uma
tática que determina a anteposição de artigos a nomes é um _exemplo disso. tipologia linguística, como ocorre em (l) e l 2), outr.is regras são universais e
Sintax e G,erativo
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A Sintaxe, sintaxes
1 ."/
Sí nrax~ Gerativo 19
Osjulgamentos
. de ~~ramaticalidad e ct izem
· respe,t. 0 · 111.. · -
fa /antenat1 vo da língu a ~m estudo tem b. él !> tw çoes que um de mane ira rigorosa, pre ferenc :éJ lm~r,t e c r,·n rt:c urso a -:, penmentos· ri
, so I e ce1ia , L'S trutu 1., ,.
dada Jmgua. Por exemplo as seou • t t·
. , b
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m es rases do portuo .
ª' ' ·mat,cas numa con trário, ?odem incnr cr cm r Phk ·• :á me c1U lóg1 cc1 ,j ue enfrdq ue~l'·a
gramatical definido confonne a intu . _ d , . i:,ues tem seu status as generalizações descriti vá~ propu~tas pel o -..m tat1c1sta
içao o propn o autor deste capítulo.
O segundo prin cípio mdod0lóg1 co assu mido pelos sintatic1stas de
(5) a. Os alunos parecem estar cansad . orientação gerativa e ofo r• Jiism" -..e termo, na Sintaxe Gerati va, possu i
b *O os.
. * s alunos parece estar cansados. pelo menos duas acepções. Em pri meiro lugar, form ali smo diz respeito à
c. . Os alunos parece estarem cansados formalização adequada das generalizações descriti vas propostas pelo lin-
d. * Os alunos parecem estarem cansad~s. guista. Assumindo esse tipo de fom1a lism o, um sintaticista, ao descobrir
uma regra computacional, um Princípio, um Parâmetro, um fenômeno
f A. partir dessas intuições ' se na
· possive
, 1elaborar uma generalização descri-
sintático etc., deverá apresentar o seu achado da maneira mais ex plícita e
!;~ mteres~ante e estabelecer que, na língua portuguesa, o infinitivo flexionado inequívoca possível, evitando as ambiguidades, as múltiplas interpretações
so e gramatical e~ l_ocuções verbais quando as marcas de concordância aconte- e as subjetividades que se mostram indefectíveis fora de urna linguagem não
cem no verbo auxiliar e somente nele. Isso seria atestado pela gramaticalidade científica e não formalizada. Vemos um exemplo de formalização a seguir.
de (5a),_por contraste à agramaticalidade das demais possibilidades.
Mmtas vezes, os julgamentos não são uma questão de tudo ou nada e 0 (7) DOMINÂNCIA: a domina Pse e somente se existe uma sequência conexa
falante nativo pode ter dúvidas quanto à gramaticalidade de uma estru~ra. de uma ou mais ramificações sintáticas entre a e p e o percurso de a até p
por essas ramificações é unicamente descendente. (Mioto, Silva e Lopes,
Nesse caso, ele deverá indicar sua incerteza quanto à construção como se
2013 : 54 - adaptado)
vê em (6c). '
Não é preciso explicar os detalhes dessa definição, pois o necessário
(6) a. O livro que. encomendei chegou.
para o momento é entendermos que, com base nela, os sintaticistas po-
b. * O livro quem encomendei chegou.
c. ? O livro o qual encomendei chegou. derão falar sobre dominância, identificar um constituinte que domina e o
outro que é dominado, formular regras computacionais a partir da noção
De acordo com quem julgou as frases em (6), (6a) é claramente gra- de dominância etc. sem que haj a confusões ou desentendimentos sobre o
matical e (6b), agramatical. Há, contudo, dúvida sobre (6c): o uso de [o que é dominância. Com efeito, o mesmo tipo de formalização é esperado,
qual] só parece gramatical quando a oração relativa em que se insere é uma na Sintaxe Gerativa, para qualquer definição, generalização descritiva ou
explicativa, mas não uma restritiva como a do exemplo. Todavia, é possível proposição geral aduzidas pelos estudiosos. 14
que outros falantes do português não compartilhem dessa intuição, logo A outra acepção do termo formalismo refere-se à concepção gerativista
qualquer generalização descritiva sobre (6) poderá ser posta em xeque. segundo a qual as formas da sintaxe possuem natureza e funcionamento
Os julgamentos de gramaticalidade são indispensáveis no fazer da independentes do conteúdo e das funções que tais formas eventualmente
Sintaxe Gerativa. É a partir deles que se toma possível investigar, de uma veiculem no uso da linguagem. Isso quer dizer que, para a Sintaxe Gerativa,
maneira relativamente simples, o resultado (gramatical ou agramatical) a sintaxe é um componente autônomo na arquitetura da linguagem humana.
de certas operações sintáticas numa dada língua. É também por meio De acordo com os sintaticistas gerativistas, as regras computacionais da
desses julgamentos que podemos investigar, sem necessitar de recursos sintaxe são um conjunto de operações formais que constroem sintagmas e
frases. Essas regras seriam exclusivamente sintáticas e não seriam afeta-
muito elaborados e caros, as diferenças e as identidades entre a sintaxe
1 das por informações de outra natureza (tais como semântica, pragmática,
das diferentes línguas. Não obstante, tais julgamentos devem ser aferidos
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20 S4ntaxe, sintaxes
discursiva) . Desse mod1' . ,1ma pe:,,.:iuisa em Sinta xe Gera tiva a I cs peito de conjurno das computa., "-" q ue geram uma :rn:--c.' é chamado de derivação. 15
um fe.nô1neno li ngub uco ec;pecífic o descreverá esse fenômeno .:m fun ção enquanto os smtagmas e as fras es qu e.· re::-u ltam das 1perações si ntáticas
tão somente de certas operações fo rmais . É em vi rtude da adoção desse tipo denominam-se representaçào .
de form ali smo que a pesqui sa em Sintaxe Gerativa tipicamente trabalha A fim de exemplificar o fazer da Si ntaxe Gera tiva, analisemos um
c 01-:1 frase , ;ddas. l1ll a de conle'.lO , as quais a princípio deve m apresentar fenômen o 1-J-:'.m específü..,o . o li cenciamc1~. de sin~ag mas de valor no m i-
as infonnações necessárias e suficientes para expl icar o fun cionamento nal com alg um Caso . D iante das represen tações (9a) e (9 b) a seguir, um
autônomo da Sintaxe. sintaticista irá indagar-se sobre as razões fo rmais que to rnam a primeira
A autonomia da Sintaxe em relação aos demai s componentes da lin- frase gra mat ical e a segunda, agramatical.
ó
guagem foi ilustrada por Chomsky no seu clássico exemplo de 1957 , que
traduzimos como se segue. (9) a. Paulo quer que João estude.
b. * Paulo quer João estudar.
(8) ldeias verdes incolores dormem furiosamente .
Algum fenômeno sintático acontece na computação de (9a) e falta em
Para Chomsky, essa fras e, apesar de ser sintaticamente gramatical, é (9b) . Se analisarmos os exemplos (10a) e (10b), teremos mais evidências
inaceitável de um ponto de vista semântico; afinal de contas, "ideias" não para tentar descobrir do que se trata.
possuem cor e, se pudessem ser "verdes", esse " verde" não poderia ser
do tipo " incolor" . Além disso, " ideias" são abstratas e não podem exer- (1 O) a. Maria parece gostar de sintaxe.
cer atividade física concreta, como "dormir" , e, por fim, dormir envolve b. * Parece Maria gostar de sintaxe.
repouso e tranquilidade, algo incompatível com a semântica do advérbio
Na análise de frases dos tipos (9) e (1 O) em diversas línguas, os estu-
"furiosamente" . O argumento de Chomsky era claro: a Sintaxe é autônoma diosos da Sintaxe Gerativa formularam a noção de Filtro de Caso . Esse
em relação à semântica porque é capaz de gerar formas ·gramaticais sem Filtro estabelece que, no curso de uma derivação, expressões nominais
conteúdo semântico normal , tal como se vê em (8) . Note-se que, se a sin- visíveis - sintagmas plenos como [João] , [Maria], (o livro] , [aquele gato] ,
taxe por ela mesma fosse violada e uma estrutura agramatical fosse gerada, [todos os meus alunos] etc. - precisam ser licenciadas com algum Caso
sequer conseguiríamos imaginar um conteúdo semântico relacionado a uma (nominativo, acusativo, oblíquo ou outro) para poderem figurar numa re-
sopa de palavras como " * Furiosamente ideias dormem incolores verdes". presentação qualquer. Se sintagmas desse tipo não forem licenciados com
algum Caso, então a estrutura resultante será agramatical. Numa frase, são
poucas as posições sintáticas que licenciam o Caso em expressões nominais.
1
Poderia me dar um exemplo? Uma delas é a posição de sujeito de um verbo finito , em que o nominativo
é licenciado. na frase (9a) , reproduzida a seguir como ( l l ), o verbo finito
A Sintaxe Gerativa, ao descrever as operações formais que geram da oração principal, [quer] , licencia seu sujeito [Paulo] , enquanto o verbo
as estruturas sintáticas das línguas, assume uma noção fundamental : as
frases que produz imos e compreendemos quando usamos a linguagem
\ finito da oração subordinada, [estude], licencia seu respectivo sujeito (João] .
são, na verdade, o resultado de um processo computacional. Segundo os (l l) [[Paulo [quer [que [João [estude1]]]1
L_J L_J
gerativistas, para entendermos como a sintaxe funciona, devemos ir além
do que vemos na superficic de uma dada frase e procurar reconstituir cada Expressões nominais visíveis licenciadas com Caso (nominativo). Filtro
operação sintática do processo que lhe deu origem. Em Sintaxe Gerativa, o de Caso OK .
; ,:,-u 1tt1x-c, s iotu xc-' S
Sintaxe Gerativo 23
.l :1 na fra:- c \ llb ). o ve rhn 1 , t i· · I
· . l '- LI ( d r ,. presente n . :- , .
L' ncu11 1ra-sc L·111 llirm a llllinit·i , , , . _ , a o raçao subord1 11ada,
. . , L. <1ss 11 11 1iao e c·ip · d . . fon n: tl das línguas. Fi as se apli cam não só em relação ao l1 cenciamcn tti
Sl'U -.. u_1c1to . NPtc-sc C]lll' nf'i ,. , •, • < ,l L e atribuir Caso a
, , o 11.1 llL ssa !rase ne 1 . • .. de si,nag 117 c1s com o l :ltro de Cas o, mas também . L' ntre outros fe nôiT1L·no
onde l l s 111ta " 111·1 f loàli] r)t1 d - , i n ,um<1 outra pos rça o par:1
~ , . , ~ esse se r e es locad fi . . s_o l:rc elementos c_1 u-. ~m lrnguas como o portugues. elementos Qu- SJ\>
p rc, ,·rvar u Fd trn LI · l '· . , ' o , ª lm de ser l1ce nc1ado e
t: , IS(l . l l l i l l O C l , '-l'~•ue r · , t1 ~1ca m~nte d~s locados para a peri fe ria esquerda ela frase' , onde assi nalam
:tl!ra matical A. s 1tt1·11"'1l) ll·1· 1·· i 1cia, k .111os uma construção
' . . ' ' '' ' s l ,l SCS e m ( l ()) é ' .. . ~ :1 ti rça iloc uc1onán .1 das orações inteITogati vas 1- isso O que vemo, rl
a rq)('ese ntac ão t·il , , ~ um pouco dr te rente. Em ( 1Ob) prese nt ado cm ( 13).
T • , LU lllO se e ncontn e ·1cr • . 1 . .,
lMaria ] é ple no is t l e: PO '. . . <: '.~tamat1ca : afinal, o smtagma
• • \ · :sSu t m atnz íonet1ca ( ~ · 1
posicionado co m o s uje ito de [nostar] V"' ·b • nao e n_u o, o~ulto! e está ( 1J) [Que ít ivro [o João [leu [q 1: W ]]Jl]J ?
co nsegu e lic · . . , · · ~. :::- ' ' t -l O que , em forma mfimta, não
e nc1
. _ . . . c11 SllJe ttos . Ocorre , no entanto
. . . q ue nessa frase ex iste.
uma pos 1çao s mt a t1ca li vre LlUC t': c·lpaz de 1. . ' Ao formular regras descritivas, o estudioso da Sintaxe Gerativa também
· ~ . . . ' 1cenc1ar uma ex pressão no-
mma l com o Caso nommatr v o : trata-se da posição de . ·t d b deverá investigar sob que c~cunstâncias sintáticas as operações descritas
finito [ . 16 . . . _ SUJet o o ver o
parece] . Dtuante a denvaçao dessa frase, o Filtro de Caso será pelas regras são aplicadas. E muito comum que existam restrições à ap li-
preserva?~ se uri:ia operação sintática deslocar o constituinte [Maria] para caç_ão de regras computacionais. Uma regra de movimento, por exemplo,
~ssa posiçao, evitando que ele seja visível no local de onde é deslocado. aplica-se para deslocar constituintes somente em distâncias locais. Cruzar
E ex~tamente essa operação que se aplicou em ( l Oa), frase reproduzida a por meio de movimento, longas distâncias, como orações inteiras, é alg~
que provoca agramaticalidade, como se vê acontecer em ( 14).
seg~Ir ~omo (12). O movi mento do sintagma para uma posição licencia-
d: (u~d1ca~o pe~a s~ta) e seu respectivo pagamento fonético na posição (14) *(Que [livro [o João [conheceu [uma pessoa [que [leu[; : [I' cl]]]])]]]?
nao licenciada ( mdicado pelo tachado duplo) são operações formais que
tomam a frase gramatical.
Em resumo, ao sintaticista de orientação gerativa compete descobrir e
(12) [Maria [parece [~[gostar [de [sintaxe]]]]]] descrever as regras computacionais que atuam na derivação de represen-
~ 1 tações gramaticais, seja numa língua específica, numa tipologia linguística
ou universalmente. Ao formular suas descrições, o sintaticista deverá ser
o mais abrangente possível e estar atento à produtividade e às restrições
Regra desloca [Maria] para uma posição em que é licenciado com no- relacionadas às regras que descobriu.
minativo. Filtro de Caso OK.
O que vemos em (11) e (12) é uma breve ilustração da maneira pela
qual, em Sintaxe Gerativa, se postula a existência de operações formais Quais são as grandes linhas de investigação?
que são necessárias e suficientes para gerar estruturas sintáticas gramatic_ais
1 (e eliminar as agramaticais) numa língua. Em seu trabalho, o sintaticista Como a Sintaxe Gerativa possui uma tradição muito longa, é muito
gerativista formulará tais operações e verificará como elas são ou não in- dificil descrever de maneira sistemática e adequada todas as grandes linhas
variantes entre as línguas. Naturalmente, uma operação formal advogada de investigação que foram desenvolvidas nesses quase 60 anos de história
1 pelo pesquisador em Sintaxe Gerativa deverá dar conta de uma vasta gama da área. O que apresentamos a seguir é somente uma indicação de alguns
de fenômenos linguísticos, e não apenas de um fato em isolado. As regras grupos de trabalho importantes que vêm sendo desenvolvido por pesqui-
de movimento são, por exemplo, uma computação pervasiva no sistema sadores brasileiros no curso das últimas décadas.
24 S.ntcue, sintuxes
Sintaxe Histórica e Sintaxe Paramétrica. Essa linha dedica-se ao estudo elemento desse upo ocupa, na fras.e , uma posição linear diferente daquela em que= :nesnn ei=.= i
interpretado. Por exemplo, em "[Que hvro você acha que o João ainda não leu)"". o ,;,i;- iiparece ao 1.nmo
da história antiga ou mais recente de determinada língua, a fim de pesquisar,
entre outros fenômenos, a formação e a modificação de certos Parâmetros,
da frase, mas é interpretado somente em seu final, como complemento do verbo ··trr ~=
ca,os, du-se
ter ocorrído movimento de QU-. Em línguas de Qt:- rn suu, como o chmês, elemm!05 QL · ser:i;,,e OC"--p.ml a
posição em que recebem ínterpreta<;ão, sem sofrer TTtOV1.mento. Ver mal5 sobre o assunto oos caçm,.l<"i -<;rniaxe
e o surgimento. a variação e a mudança de aspectos morfossintáticos.
1ípológican e ~sinraxe em Teona da Otim1dad,:', neste volum~.
guagem e visa Q---tudar especificamente como se dá a aquisição de aspectos ~ote-se que nem todos os fenômenos símá11cos das línguas nalUralS pod."tll sa reduZ?dos a =..a .a,-.:;çao ;ie
Parâmetros da m;. A própria anteposição de arúgos a oomes em porruguês, cilada= / \ J ! (21. ~ :~.&ração
sintáticos da(s) língua(sJ do ambiente da criança. disso. ~tritas particularidades sintáticas das língua, especificas denvam de íál055UllCTl!51a5 ;,r=ntes s.eiJ =
léxico. Entenc:1..-r o léxico como fonte dos traços gramaticais que provocam as ~ ~. ~
Processamento da Sintaxe. Essa linha é parte dos estudos em Psicolinguis- ou não, é algo bem estabelecido na Lmguísuca Gerativa coru.em~..nea (ci. Coomsky ;9931
12 Hoje em dia, o recurso a alguma metodologia experimemal é cada vez mai., acCS3t' ei aos =.e-.= lei
tíca e tem o objetivo de investigar a dimensão psicológica das computações :\iaia, 2012). Para saber malS sobre 1s.so, ver o capítulo ~inlaxe Expcnmem.a.l" do ?S=U •, o,!,.:::r.e.
sintáticas na produção e na compreensão de frases em tempo real. ·, '.'-.hritoS fenômenos exrrassintáucos po<L-m uilluenciar ou d...""ternlinar os JU!g;mlcalas de gramanca!idarl.e e ;xo-
lSSO, precisam eslar sob O cootrole do smtatiC\Sla O mais problcm2llCO de\cs é oci:eeode ~ •Sn:,"ÓG. : OJJ l
Para saber mais sobre esse efeito, ver o capimlo ~sraiaxe Experimeruaf" ncsie Viltlml,e . Olxos fenõmro...--s
Evolução da Sintaxe. Essa linha dedica-se à pesquisa em evolução da
não sintáticos interferentes nos Julgamenms ;ão os seguuucs: frequ..-'n:ia de dctemrirodo != lro:al., s;upor..c
linguagem humana e tem o objetivo de levantar hipóteses a respeito do discursivo e referencial para expressões no1lllll2.IS ou para ~ dem.mda da men.lf'.a '.lte i:rahalho
surgimento da sintaxe como capacidade cognitiva do Homo sapiens . do ouvínte./leitor, imerveniêncía de elementoS semelhantes o,~ dispares numa m=n
cli=ivo das expressões noml.Ilal.S presentes na f=e, diierenças d:iaL'"tais, assuncma.s
== Ir>'~ Ji = !
~ a:no-
rnáricas e inruições frutos de reflexão etc. Para uma re·,ísão ~ m.erodologias aouç..a.ias ;:>2---a r~ em....-.s
d.e gramaticalidade, ver Cowan ( 1997 ).
1' A formalização não é exclusmdarle da Sintaxe Gerann., senào buscada tambem por Otr'15 ~ - Des-e•
Notas se notar que a formalização faz com que a linguística se aproXlllle do modo ~ w= =-~
da5 ~
formais e narurais, algo que não é a pránca =
(:Q(llum oos esi!ldos so!n ~ C.:xn efa:n, o pouro
Veja,!)')!" exemplo, os capTJ!os "Síruaxe em Teoria da Otimídade", "Sintaxe Experimental" e ~SintaXe Le- uso de formalizações produz., na Linguh-tica, muuas querelas a cespeit0 de .:oo=toS bási~<JS c-...---..r.o ~
xical", nes:e vomme. gem", " língua" , "discurso" ou mesmo " smta.xe". Em Smta.'(e Gerativa, é comum, por aeop!o., miluz-s.e o
termo "Sistema Computacional da Lm.guagem Humana~ pa!"a i:a:= refermcia à sm!1.'(e das lin:gl.m !laDira15,
Veja, pürexi:mplo, 05C2pÍ!lllos "Sintaxe Ftmeíooal" e "Sintaxe Construcionista", neste volume .
de modo a evitar confusões com ounas acepções da palavra -suuau".
O ínediwmo da! fmõ que podem ser geradas em qualquer língua humana é a situação típica do uso da 11 O tenno clássico para descrever o que chamamos ho;e de dai,-açà:> é rraJtSj,r-,,wçoo. Em s= ong=. a
língoagem. ~ ob&an:.e, fra.= repetidas, como frrues feitas, frasel •àavão e frases-clichê, constituem
diminutas ex.ceções ;,o aspecto cnarivo da smta:Xe.
\ SintaXe Gerativa era também denominada rr=formocio-nal, tmn0 que ;,e usava para~ a.i'..ISão :is '"tra:ns-
\
_,." que uma estru tura so fria até que um a !r·a:-e fosse compl t· .
(h (IJ'llly0i;~ - . . . (, . - •.
r , e amente 1urmada. Nos anos anteriore,
a noçao de t, ans1 ormaçao era exphc1tdd .1 rela ass unção de do · , . d , . _
,H" 1990· , , •/ N is mveis e representaçao· Estrutum
•• • / unda
P11'.I ' e Estrutura Superf1cw
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estrutura pro l u11da, seriam e~ tabelecidas
de urrni frase e, sobre ela, senam aplicadas regras transfonnacwnais ciue gerari· 111 , t
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s re 1açoes semant1cas bas1cas
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ª a es rutura e superfic1e
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J ,I
Fonética e a Fonna Lógica.
16
Um detalhe importante no exemplo é que a posição de sujeito do verbo [parecer] encontra-se vazia em virtude
de esse ver~o selecionar do léxico (~a Numeração) apenas os itens que compõem O seu complemento [Maria
?ostar de smtaxe], mas não al~u~ item que possa compor o seu sujeito. Como não há na Numeração um
item que possa figurar como SUJetf:o de [parecer], então a sintaxe utilizará um item já presente na derivação e
deslocará [Maria], o sujeito sem caso da oração subordinada, diretamente para a posição disponível na oração
principal, fenômeno denominado em Sintaxe Gerativa como alçamento.