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VOLKER NOLL

O português
brasileiro
Formação
e contrastes

Editora Globo
São Paulo
2

Tradução do alemão:
Mário Eduardo Viaro

Questa terra è molto amena e piena


d’infiniti albori verdi ... tanto che infra
me pensavo esser presso al paradiso
teresto.
Amerigo Vespucci 1502

Falar diferentemente não é falar errado.


João Ribeiro 1921
3

Norte
Boa Vista

AMAPÁ
RORAIMA Macapá

Belém Nordeste
Manaus São Luís
AMAZONAS Fortaleza RIO GRANDE
PARÁ MARANHÃO DO NORTE
Teresina CEARÁ
Natal
João Pessoa PARAÍBA
Palmas PIAUÍ
PERNAMBUCO Recife
ACRE
Porto Velho Maceió ALAGOAS
Rio Branco TOCANTINS
RONDÔNIA BAHIA SERGIPE
Aracaju
MATO GROSSO
Salvador
Brasília
Cuiabá GOIÁS
Goiânia

Centro-Oeste MATO GROSSO


MINAS GERAIS
ESPÍRITO
DO SUL
SANTO
Campo Grande Belo Horizonte Vitória
SÃO PAULO RIO DE JANEIRO

São Paulo
Rio de Janeiro
Brasil PARANÁ

Regiões, Estados,
Curitiba Sudeste
SANTA CATARINA
Capitais Florianópolis
RIO GRANDE
DO SUL
Porto Alegre
Sul
4
Sumário

Prefácios................................................................................................I
Abreviações...........................................................................................I
1. O português brasileiro nos estudos de Língua
Portuguesa..................................................................................... 1
1.1 Português europeu (PE) e português brasileiro (PB)................1
1.1.1 Síntese do desenvolvimento dos estudos de
gramática, léxico e variação lingüística no Brasil............1
1.1.2 A recepção do português brasileiro no exterior ...............1
1.2 Relato de pesquisa ....................................................................1
2. O português brasileiro no mundo lusófono.................................. 1
2.1 Difusão e estatísticas ................................................................1
2.2 Brasileirismo, padrão e norma..................................................1
3. As peculiaridades do português brasileiro em contraste
com o português europeu ............................................................. 1
3.1 Fonética e fonologia .................................................................1
3.1.1 Vocalismo ........................................................................1
3.1.1.1 Vogais orais tônicas...........................................1
3.1.1.2 Vogais orais pretônicas......................................1
3.1.1.3 Vogais orais postônicas .....................................1
3.1.1.4 Vogais orais finais átonas ..................................1
3.1.1.5 Ditongos orais....................................................1
3.1.1.6 Vogais e ditongos nasais....................................1
3.1.1.7 Vogais epentéticas .............................................1
3.1.2 Consonantismo.................................................................1
3.1.2.1 A realização de /s/..............................................1
3.1.2.2 A palatalização de /t/, /d/ ...................................1
3.1.2.3 A realização de /r/, /3/........................................1
3.1.2.4 A realização de /l/ ..............................................1
3.1.2.5 A realização de /7/ .............................................1
3.1.2.6 A realização das plosivas sonoras......................1
3.1.2.7 Panorama das consoantes do PB e do PE ..........1
3.2 Morfossintaxe ...........................................................................1
3.2.1 Determinação e substantivos............................................1
5
3.2.2 Pronome e tratamento ......................................................1
3.2.3 O verbo ............................................................................1
3.2.4 Língua falada e língua escrita ..........................................1
3.3 Léxico .......................................................................................1
3.3.1 Glosário PB — PE — Inglês ...........................................1
3.4 Ortografia .................................................................................1
4. Brasil — brasileiro — língua brasileira ....................................... 1
4.1 Fundamentação geral................................................................1
4.2 Da terra de Vera Cruz a Brasil.................................................1
4.3 Brasil — brasileiro...................................................................1
4.4 Língua brasileira .......................................................................1
5. Testemunhos antigos da diferenciação do português
brasileiro........................................................................................ 1
5.1 Pressupostos gerais ...................................................................1
5.1.1 Fontes...............................................................................1
5.1.2 Difusão das línguas indígenas..........................................1
5.2 Primeiros empréstimos (1500-1570) ........................................1
5.2.1 Testemunhos em Hans Staden .........................................1
5.2.2 Testemunhos em André Thevet .......................................1
5.2.3 Testemunhos em Jean de Léry .........................................1
5.2.4 Empréstimos posteriores a 1560 ......................................1
5.3 Indicações lingüísticas (1536-1767).........................................1
5.4 Testemunhos portugueses (1767-1822)....................................1
5.4.1 O teatro português............................................................1
5.4.2 A gramática portuguesa: Soares Barbosa (1822) .............1
5.5 Testemunhos brasileiros (1770-1826) ......................................1
5.5.1 A carta de uma escrava (1770).........................................1
5.5.2 Azeredo Coutinho (1798) ................................................1
5.5.3 Viola de Lereno (1798-1826) e Contos Populares ..........1
5.5.4 Pedra Branca (1826) ........................................................1
6. A questão da crioulização e o lugar histórico do
português ....................................................................................... 1
6.1 Terminologia ............................................................................1
6.2 Contatos luso-africanos ............................................................1
6.3 Estruturas e paralelos................................................................1
6.4 Português e língua geral ...........................................................1
6
6.5 A questão de certas influências indígenas e africanas no
português brasileiro .............................................................1
7. A formação das peculiaridades brasileiras em
comparação com o português europeu ....................................... 1
7.1 Fonética e fonologia .................................................................1
7.1.1 Vocalismo ........................................................................1
7.1.1.1 Vogais orais tônicas...........................................1
7.1.1.2 Vogais orais pretônicas......................................1
7.1.1.3 Vogais orais postônicas .....................................1
7.1.1.4 Vogais orais finais átonas ..................................1
7.1.1.5 Ditongos orais....................................................1
7.1.1.6 Vogais e ditongos nasais....................................1
7.1.1.7 Vogais epentéticas .............................................1
7.1.2 Consonantismo.................................................................1
7.1.2.1 A realização de /s/..............................................1
7.1.2.2 A palatalização de /t/, /d/ ...................................1
7.1.2.3 A realização de /r/, /3/........................................1
7.1.2.4 A realização de /l/ ..............................................1
7.1.2.5 A realização de /7/ .............................................1
7.1.2.6 A realização das plosivas sonoras......................1
7.2 Morfossintaxe ...........................................................................1
7.2.1 Determinação e substantivos............................................1
7.2.2 Pronome e formas de tratamento......................................1
7.2.3 O verbo ............................................................................1
7.3.4 Língua falada e língua escrita ..........................................1
7.3 Léxico .......................................................................................1
7.4 Ortografia .................................................................................1
8. A periodização do português brasileiro........................................ 1
8.1 Preliminares ..............................................................................1
8.2 Propostas de periodização referidas .........................................1
8.3 Uma nova proposta de periodização.........................................1
8.4 Ciclos e fases ............................................................................1
9. Arcaicidade, inovação e regionalismo europeu no
português brasileiro...................................................................... 1
9.1 Arcaicidade e inovação.............................................................1
7
9.2 A questão da influência do português europeu
meridional na formação do português brasileiro.......................1
9.3 A questão da influência açoriana no
português brasileiro...................................................................1
9.4 Conclusão .................................................................................1
10. Bibliografia ................................................................................... 1
Mapas:
Brasil.........................................................................................1
A divisão dialetal do português brasileiro.................................1
A realização de /s/.....................................................................1
A africativização de /t/ e /d/ ......................................................1
A realização de /r/ .....................................................................1
Fundações brasileiras até 1600 .................................................1
8

Prefácio da edição alemã de 1999


O presente trabalho descreve o português brasileiro contrastivamente
em relação à norma portuguesa e acompanha a formação histórica da
variedade brasileira. Com respeito a esse tema, trata-se da primeira
obra existente fora da literatura especializada brasileira. No espaço
germanófono, inclui-se entre as primeiras obras disponíveis sobre o
português brasileiro no campo da lingüística.
A obra pretende, dessa forma, contribuir para fundamentar a
pesquisa do português brasileiro. Com isso, foi preciso também
imporem-se limitações. Não é possível, no quadro atual, esboçar
detalhadamente um quadro exaustivo do português do Brasil, visto
que muitas questões particulares reivindicariam, dada a situação da
pesquisa, por si só, outras obras especializadas.
Esta obra se ocupa, em primeiro lugar, com a descrição estrutural
do português brasileiro. Questões lexicais e aspectos da história
externa da língua ficam em segundo plano. Também o quadro
geográfico estabelece limites. Um país com a extensão do Brasil,
devido à complexidade de sua variação diatópica e diastrática, é
apreensível lingüisticamente, sem apoio de um grupo de
colaboradores, ou de uma forma apenas local ou – como na nossa per-
spectiva – pela apresentação de tópicos das questões básicas. O
empenho necessário não deve, contudo, ser subestimado. Somente
para delimitar a realização alofônica de dia [‘dZia] vs. [‘dia], foi
preciso percorrer milhares de quilômetros. Para o julgamento das
relações lingüísticas empreenderam-se várias viagens ao Brasil, que
incluem uma área que se estende desde o Paraná, ao sul do território,
até a foz do Amazonas, ao norte, e segue, para o oeste, até Manaus.
A obra se divide numa parte sincrônica e numa diacrônica:
inicialmente, discute-se a posição do português brasileiro nos estudos
de Lusitanística, associado a um relato de pesquisa. O segundo
capítulo situa o português brasileiro no mundo lusófono. No terceiro
capítulo, descrevem-se as particularidades do português brasileiro,
considerando as variantes regionais, em comparação com a norma
européia. Isso forma uma base para o tratamento das questões
históricas.
A parte diacrônica da obra começa com um olhar sobre os
primórdios do Brasil, apresentando-se o desenvolvimento histórico da
palavra Brasil. Subseqüentemente, no quinto capítulo, interpretam-se
9
testemunhos para a diferenciação do português brasileiro do século
XVI a XIX. As questões de uma possível crioulização do português
brasileiro, bem como de influências indígenas e africanas são tratadas
no sexto capítulo. O último capítulo contrasta a descrição sincrônica
de particularidades do português brasileiro com sua formação diacrô-
nica correspondente.
Alguns resultados da obra já foram publicados (Noll 1995a,b;
1996a,b) e são incluídos na atual edição ampliada. Quem tiver pouca
noção do quadro dos estudos luso-brasileiros suporia que a presente
obra apenas reúne materiais básicos. Além do fato de não haver uma
apresentação nesses moldes, deve ficar claro que o estado de
conhecimento sobre outras línguas românicas (p. ex., o espanhol) não
pode ser pressuposto, em muitos pontos, para o estudo do português
brasileiro. Isso diz respeito sobretudo ao conhecimento dos primeiros
empréstimos da língua portuguesa no Brasil ou das primeiras diferen-
ciações fonéticas, discutidos aqui pela primeira vez. O tratamento das
diferenças entre o português europeu e o brasileiro leva em
consideração, necessariamente, circunstâncias conhecidas, mas traz,
ao mesmo tempo, novos resultados fundamentais de pesquisa, por
exemplo, acerca do chiamento brasileiro e da africativização de /t/ e
/d/.
Em relação à temática abordada, elaborou-se uma bibliografia
abrangente, que está documentada no final do trabalho. Essa
compilação se apresenta, por vezes, como dificultosa, no caso do
português brasileiro, em comparação com outras áreas da
Romanística, visto que as publicações, em parte, aparecem de maneira
dispersa e não são registradas pelas bibliografias. Até o Instituto
Ibero-Americano de Berlim, uma das bibliotecas que lideram a
pesquisa nesse assunto, apresenta, em parte, algumas lacunas
significativas, no campo da lingüística brasileira.
Em relação à parte técnica, deve-se apontar para o fato de que a
bibliografia, utilizando a forma usual do mundo lusófono, antecipa os
últimos sobrenomes, ao contrário do uso espanhol. A escrita dos
nomes próprios segue a ortografia vigente. A indicação do título nas
referências bibliográficas corresponde à edição usada. As indicações
do local da publicação, editora e coordenadores foram uniformizadas.
Deve-se atentar para o fato de que podem surgir divergências
condicionadas pela história na ortografia e na acentuação.
Abreviaturas gerais e siglas (de revistas e dicionários) encontram sua
10
solução na lista de abreviaturas. Títulos resumidos como «Congresso
1986» são diretamente introduzidos nas referências bibliográficas.

Prefácio da edição brasileira


A edição alemã em que se pauta a versão brasileira foi preparada
sobretudo nos anos entre 1994 e 1996, e publicada em 1999. Desde
então, a descrição científica do português brasileiro, sobretudo no
Brasil, conheceu um enorme desenvolvimento, o que se reflete no
grande número de publicações disponíveis. Apesar disso, continua
faltando uma obra em língua portuguesa que descreva o português
brasileiro em contraste com a variedade européia e que siga seu
desenvolvimento, a partir de testemunhos lingüísticos e documentais.
Esse foi o estímulo para a publicação da presente tradução
brasileira. Com isso, há razões práticas para a elaboração de uma
versão revista, a partir da edição alemã, atualizada em todos os
capítulos e significativamente ampliada, em alguns pontos. A
ampliação de 2006/2007 diz respeito sobretudo ao capítulo dos
testemunhos antigos para a diferenciação lingüística do português
brasileiro. Além disso, dedicou-se uma apresentação detalhada em
dois novos capítulos ao problema da periodização, bem como às
questões acerca da inovação, arcaicidade e regionalismo europeu no
português brasileiro. Por fim, foram colocadas em dia também as
muitas indicações bibliográficas.
Agradeço de coração a Mário Eduardo Viaro pelo excelente
trabalho que realizou, preparando esta tradução. Também ficam aqui
meus agradecimentos a Marcelo Módolo pelo seu grande apoio ao
incentivar a realização da edição brasileira. À Editora Globo agradeço
pelo seu interesse pela obra e pela generosa aceitação da publicação,
tornando-a agora, dessa forma, por assim dizer, acessível lingüistica-
mente também no seu país natal. Esse país e a língua de seu povo me
abriram um campo de pesquisa fascinante. Para mim, considero isso
como um presente especial do Brasil.

Münster, junho de 2007 Volker Noll


11

Abreviações
# final de palavra
a antes de
ABP Afrika, Asien, Brasilien, Portugal. Zeitschrift zur por-
tugiesischsprachigen Welt
adj. adjetivo, adjetival
adv. advérbio
afr. africano, africanismo
alg. alguém
ALERS Koch, Walter/Klassmann, Mário Silfredo/Altenhofen,
Cléo Vilson: ALERS. Atlas lingüístico-etnográfico da
Região Sul do Brasil
ALiSPA Razky, Abdehak: Atlas lingüístico sonoro do Pará
ALP Aragão, Maria do Socorro Silva de: Atlas lingüístico
da Paraíba
ALPI Atlas lingüístico de la Península Ibérica
ALS Ferreira, Carlota da Silveira et al.: Atlas lingüístico de
Sergipe
AM Amazonas
an. anônimo
ant. antigo, antigamente
AP Amapá
APFB Rossi, Nelson: Atlas prévio dos falares baianos
ár. árabe
ASNS Archiv für das Studium der neueren Sprachen
BA Bahia
BF Boletim de Filologia
bilab. bilabial
bras. brasileirismo; brasileiro
bret. bretão
BRPh Beiträge zur Romanischen Philologie
BSLP Bulletin de la Société de Linguistique de Paris
C consoante
c cerca de
cap. capítulo
cat. catalão
CE Ceará
cit. citado
12
cf. conferir
col. coloquial
comp. computação
DDM Dauzat, Albert/Dubois, Jean/Mitterand, Henri:
Nouveau dictionnaire étymologique et historique
DECH Corominas, Juan/Pascual, José A.: Diccionario crítico
etimológico castellano e hispánico
DEI Battisti, Carlo/Alessio, Giovanni: Dizionario etimolo-
gico italiano
DELI Cortelazzo, Manlio/Zolli, Paolo: Dizionario etimolo-
gico della lingua italiana
DELP Machado José P.: Dicionário etimológico da língua
portuguesa
DENF Cunha, Antônio G. da: Dicionário etimológico Nova
Fronteira
desus. desusado
DHPT Cunha, Antônio G. da: Dicionário histórico das pala-
vras portuguesas de origem tupi
diss. dissertação
DOELP Machado, José P.: Dicionário onomástico etimológico
da língua portuguesa
DPLP Dicionários PRO da língua portuguesa
DNS Die Neueren Sprachen
DRAE Real Academia Española: Diccionario de la lengua
española
EALMG Ribeiro, José et al.: Esboço de um atlas lingüístico de
Minas Gerais
ed. edição
esp. espanhol
f. feminino
FEW Wartburg, Walther v.: Französisches etymologisches
Wörterbuch
fig. sentido figurado
fr. francês
germ. germânico
gír. gíria
gr. grego
HR Hispanic Review
ibid. ibidem
13
ICALP Instituto de Cultura e Língua Portuguesa
ictiol. ictiológico
id. idem
i.e. id est
IJSL International Journal of the Sociology of Language
ind. índio, indígena
inf. informal, infinitivo
ing. inglês
interj. interjeição
interr. interrogativo
it. italiano
JF Jornal de Filologia
lat. latim
lit. literalmente
loc. locução
LRL Holtus, Günter/Metzeltin, Michael/Schmitt, Christian
(org.): Lexikon der Romanistischen Linguistik
lus. lusitanismo
m. masculino
MA Maranhão
MG Minas Gerais
MLN Modern Language Notes
ms. manuscrito
MT Mato Grosso
n. nota
num. numeral
NRFH Nueva Revista de Filología Hispánica
NURC Projeto Norma Urbana Culta
org. organizador(es)
PA Pará
PB português brasileiro
PE português europeio; Pernambuco
p. ex. por exemplo
PALOP Países africanos de língua oficial portuguesa
P(e). padre
pess. pessoa
pl. plural
pop. popular
port. português
14
p., pp. página(s)
pr. pronome, pronominal
pres. presente
pret. perf. pretérito perfeito
prov. provincianismo
quimb. quimbundo
RDR Revue de Dialectologie Romane
reg. regionalismo
repr. reprodução
REW Wilhelm Meyer-Lübke: Romanisches etymologisches
Wörterbuch
repr. reprodução
RF Romanische Forschungen
RFE Revista de Filología Española
RIHGB Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico
do Brasil, Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro
RJ Rio de Janeiro
RJb Romanistisches Jahrbuch
RL Revista Lusitana
RLiR Revue de Linguistique Romane
RLP Revista de Língua Portuguesa
rom. romeno
RN Rio Grande do Norte
RPF Revista Portuguesa de Filologia
RPLP Revista de Portugal. Língua Portuguesa
RS Rio Grande do Sul
s. substantivo; século(s)
s.a. sem ano
SC Santa Catarina
Schmi Schmidel, Ulrich: Wahrhaftige Historien einer
wunderbaren Schiffart
s.d. sem data
s.f. substantivo feminino
sg. singular
s.m. substantivo masculino
s.p. sem página
SP São Paulo
ss. seguintes
15
St Staden, Hans: Wahrhaftige Historia
s.v. sub voce
Th [Thevet, André]: Le Brésil d’André Thevet. Les
singularités de la France Antarctique
TLF Imbs, Paul (org.): Trésor de la langue française
trad. tradução
trat. tratamento
univ. university, université, universidade
V vogal
v. verbo; verbal; ver; vide; versão
var. variante
v.intr. verbo intransitivo
vol. volumes
vs. versus
vulg. vulgar
v.tr. verbo transitivo
ZDL Zeitschrift für Dialektologie und Linguistik
ZRPh Zeitschrift für Romanische Philologie
16

1. O português brasileiro nos estudos de


Língua Portuguesa
1.1 Português europeu (PE) e português brasileiro (PB)
O estudo da língua portuguesa abre interessantes perspectivas para a
lingüística. Sua posição histórica, associada às descobertas dos
séculos XV e XVI, conduziu à formação de uma România Nova de
cunho português, a qual, nos últimos 150 anos, cresceu
significativamente, em certa harmonia com o desenvolvimento do
espanhol no continente americano. O número de falantes, a difusão e a
posição, daí resultante, como língua mundial não dão somente, do
ponto estatístico, uma dimensão considerável ao português, mas
também sua presença em quatro continentes abre um panorama para a
lingüística variacionista. Para a Lingüística Geral, a contribuição do
português na formação das línguas crioulas oferece pontos de partida
para a resposta de questões básicas do desenvolvimento da linguagem
e do contato lingüístico. Para o lusitanista francês Teyssier, a
importância do português era já inquestionável há trinta anos:
“Personne aujourd’hui n’en doute plus: le portugais est une des
grandes langues du monde”.
Durante muito tempo, as perspectivas descritas encontraram
timidamente algum eco na pesquisa românica e no trato com o
português. Ainda hoje a Lusitanística se encontra em uma situação um
tanto marginal, como justamente se lamenta nas publicações especiali-
zadas. Perl/Pfeiffer (1990) apontam para o fato de que havia, no
século XIX, pouquíssima representação do português nas universi-
dades alemãs. Naquela época, era também o caso, com certeza, da
maioria das línguas românicas, com exceção do francês. Lidava-se
com o português, por muito tempo, contudo, somente no âmbito da
Hispanística. O problema da hispanização, que se tornou atual,
novamente, por meio do extraordinário boom do espanhol como
língua estrangeira, já era tematizado por Rafael Bluteau, em 1712, no
prefácio de seu Vocabulario Portuguez, e Latino.1
1
“Tambem houve, quem com rustica simplicidade me disse, que naõ
merecia a lingoa Portugueza tanto trabalho. A razaõ deste disparate he, que na
opiniaõ da maior parte dos Estrangeiros, a lingoa portugueza naõ he lingoa de
por si, como he o Francez, o Italiano, &c. mas lingoa enxacoca, & corrupçam
do Castelhano, como os Dialectos, ou lingoagens particulares das provincias,
que saõ corrupçoens da lingoa, que se falla na Corte, & cabeça do Reino”
17
Desenvolvimentos políticos e científicos que se fizeram sentir no
quadro dos movimentos de independência dos países latino-
americanos lançaram seu olhar para o Brasil já no século XIX e se
tornaram evidentes na história da literatura brasileira de Wolf:
“L’empire du Brésil a vu ces dernières années son influence
s’augmenter à tel point qu’il a attiré sur lui l’attention de l’Europe”
(1863: VII).
A emigração de alemães, que iniciou no Brasil durante o tempo da
Independência, em 1822, e aumentou na segunda metade do século
XIX,2 bem como o alargamento das relações comerciais com os países
da América do Sul, nas três primeiras décadas do século XX,
estabeleceram, na Alemanha, as bases de instituições orientadas
regionalmente orientadas. Desse modo, foram fundados o Instituto
Sul-Americano (“Deutsch-Südamerikanisches Institut”), em Aachen
(1912), e os Institutos Ibero-Americanos de Hamburgo (1917) e de
Berlim (1930). Também a edição de métodos como O Brasileiro
(Eilers 1937) e Brasilianisch-Portugiesisch (Frohberg 1938)
enfatizou, naquela época, a tendência para a América do Sul.
No entanto, a ocupação com o português nas universidades alemãs
se concentrou mais no português europeu (PE), até os anos 90 do
século XX. As ligações filológicas com Portugal tinham vivenciado
um estímulo antigo, por meio de Carolina Michaëlis de Vasconcelos.
Em 1911, ela foi nomeada para a cátedra de Germanística, na
Universidade de Lisboa e lecionou em Coimbra até 1925 como
professora de Filologia Românica e Germânica (cf. Busse 1988: 48).
Desse modo, essa maior ocupação com Portugal, no passado,
preferida face à grande distância com o Brasil, deve ser associada
ainda ao intercâmbio de docentes e leitores entre países europeus, bem
como à instrução ligada a isso.3 Esse fato, por sua vez, teve

(Bluteau 1712-21: I, § 2). — Na primeira gramática do português em língua


alemã, Johann Andreas von Jung transpôs, sem grandes rodeios, regras
espanholas para o português (1778: 4-5).
2
No primeiro século após a Independência, estabeleceram-se no Brasil
131.441 alemães (Vandresen 1986: 310). Messele-Wieser/Wieser indicam
147.000 imigrantes alemães para o período entre 1846 e 1931 (1993: 9; cf.
também Illi 1977: 44-87).
3
As ligações culturais são hoje fomentadas, do lado português, sobretudo
por meio do Instituto Camões (antigo Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, ICALP) e da Fundação Caluste Gulbenkian.
18
conseqüências na pesquisa, pois, entre 1875 e 1990, apareceu, por
exemplo, na Zeitschrift für Romanische Philologie, um único artigo
sobre o português brasileiro (J. A. Castro 1981). No mesmo período
foram, contudo, publicados 774 artigos sobre o francês antigo e 90
contribuições para o português europeu. No campo da lingüística,
delineou-se uma alteração nesse quadro somente nos últimos quinze
anos. Os estudos literários já haviam conseguido, mais cedo, um certo
equilíbrio, com a orientação para o português brasileiro.4 Havia,
ademais, já em 1966, cerca de 85 milhões de falantes nativos de
português, dos quais uns 75 milhões viviam no Brasil (Thomas 1966:
264). A criatividade e produtividade do Brasil em arte, música e
literatura formam um quadro que também oferece um vasto campo às
pesquisas associadas à linguagem. Até 1960, porém, foram os
próporios brasileiros que quase exclusivamente se ocuparam com essa
temática.

1.1.1 Síntese do desenvolvimento dos estudos de gramática, léxico e


variação lingüística no Brasil
A descrição do português brasileiro5 começou em 1826, com uma
caracterização preponderantemente lexical, por meio do diplomata
brasileiro Pedra Branca, que tratou das diferenças com o português
europeu (cf. 5.5.4). Diferenças básicas entre ambas as variedades
foram desenvolvidas por Paranhos da Silva em O idioma do hodierno
Portugal comparado com o do Brazil (1879) com o subtítulo “Por um
brazileiro”. Paranhos da Silva (1880) publicou também um tratado de

4
No plano internacional, o interesse na Lusitanística se reflete na
Associação Internacional de Lusitanistas (AIL), fundada em 1984, que, desde
então, conta com mais de 1000 sócios.
5
Com respeito à bibliografia do português brasileiro, cf. Hoge (1968),
Dietrich (1980), Silva de Aragão (1988, 1997), Baranow (1991). — Para o
desenvolvimento da pesquisa lingüística no Brasil, cf. Nascentes (1939: 21-
45, 145-155), Mattoso Câmara (1949), Silva Neto (1951), Nascentes (1952b),
Castilho (1962b), Elia (1963: 157-232), Almeida Magalhães (1968), Mattoso
Câmara (1968a, 1968b), Guterres da Silveira (1971), Castilho (1972-73),
Mattoso Câmara (1973, 1975: 197-232), Naro (1976), Gomes de Matos
(1982), Mattoso Câmara (1982), Naro (1982), Gomes de Matos (1985),
Almeida Magalhães (1987a, 1987b), Mattos e Silva (1988a), Tarallo (1991),
Cunha Pereira (1995), Altman (1995), Guimarães (1996), Pires de Oliveira
(1996), Altman (1997), Silva de Aragão (1997a), Cavaliere (2001).
19
ortografia do português brasileiro (cf. 7.4). No âmbito das obras a
respeito da poesia popular brasileira, Romero (1888) dissertou sobre
as “Transformações da língua portuguesa na América”.
Com o Compendio da Grammatica da Lingua Nacional, de
Pereira Coruja, surgiu, em 1835, em Porto Alegre uma gramática
escolar que, até hoje, é considerada a primeira obra desse tipo no
Brasil. Martins de Araújo aponta, porém, nesse tópico, para o
Compêndio da Grammatica Portugueza de Antônio da Costa Duarte,
que, desde 1829, tinha sido difundido em São Luís do Maranhão, em
várias tiragens.6 As primeiras contribuições científicas ao problema da
colocação pronominal foram publicadas em 1880 por Barreiros, por
Fernandes Pinheiro e por Paranhos da Silva na Revista Brasileira.
No campo dos vocabulários, o lexicógrafo Morais Silva, nascido
no Rio de Janeiro, tinha apresentado, já em 1813, um número maior
de brasileirismos, referentes à fauna e à flora, no seu Diccionario da
Lingua Portugueza (publicado em Lisboa). Ao lado de coletâneas
especiais do léxico brasileiro, como a Enumeração das Substancias
Brasileiras que Podem Produzir a Catarse, de Silva Manso (1836) e
outras edições do dicionário de Morais Silva, surgiram ainda o
Diccionario da Lingua Brasileira, de Silva Pinto (1832), o
Vocabulario Brasileiro para Servir de Complemento aos Dicionarios
da Lingua Portugueza, de Costa Rubim (1853), o Diccionario Bra-
zileiro da Lingua Portugueza, de Macedo Soares (1888) e o
Dicionário de Vocábulos Brasileiros, de Beaurepaire-Rohan (1889).
Regionalismos foram reunidos na Collecção de Vocabulos e Frases

6
“Embora se destinasse às Escolas de Primeiras Letras, recobria aspectos
da Fonética, da Morfologia (a que chama de Etimologia) e da Sintaxe. Na
Fonética, abordava a Ortoepia, os Metaplasmos, o uso dos Sinais Diacríticos;
e se estendia aos Sinais de Pontuação e aos Metaplasmos. Na Etimologia, as
Classes de Palavras; as Flexões (nominais e verbais), os Graus dos Adjetivos;
o Quadro das Funções Sintáticas (nomes e pronomes pessoais); e, mais, as
Preposições, as Conjunções e as Interjeições. Na Sintaxe, as Funções dos
Nomes, os Tipos das Orações, a Concordância, a Regência e a Construção
(Colocação), tanto regulares, como irregulares (Figuras). A obra (de cem
páginas) conclui-se com três tratados de Ortografia: a Etimológica, a Usual e
a Filosófica (ou da Pronunciarão [sic]). Muitos dos seus postulados ainda hoje
são válidos, como o da diferença entre Gramática Universal e Particular; e o
sentido das preposições (tempo, espaço e noções afins)” (cf. Martins de
Araújo 2004).
20
Usados na Provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul, de Pereira
Coruja (1852).7
Em 1883, o filólogo e escritor José Veríssimo, proveniente de
Belém divulgou, na Revista Amazônica, um curto tratado, que
descrevia, com o título “A linguagem popular amazonica”, uma
variedade popular brasileira de cunho regional. Gomes de Campos,
em 1909, publicou uma apresentação ao Dialeto Sulriograndense,
para o qual já se havia dedicado o vocabulário de Pereira Coruja
(1852). A fase descritiva da dialetologia brasileira começou, no
entanto, somente em 1920, com O Dialeto Caipira (Amaral 41982),
que estudou a variedade do interior de São Paulo. Seguiram-se O
Linguajar Carioca (Nascentes 21953, 11922), a respeito da linguagem
do Rio de Janeiro, e A língua do Nordeste (Marroquim 1934). Nos
vinte anos seguintes, três congressos e seus respectivos anais contri-
buíram para a discussão a respeito do estabelecimento de uma norma
brasileira. Trata-se do Primeiro Congresso da Língua Nacional Can-
tada, em São Paulo, em 1937 (Congresso 1938), do Congresso Brasi-
leiro da Língua Vernácula, no Rio de Janeiro, em 1949 (Congresso
1949-59) e do Primeiro Congresso Brasileiro de Língua Falada no
Teatro, em Salvador, em 1956 (Congresso 1958).
Nos anos 60 do século XX, a Lingüística passou a ser também
uma disciplina acadêmica no Brasil (Silva e Mattos 1988a: 93). Com
o Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFB, Rossi 1963), publicou-se
o primeiro atlas lingüístico regional brasileiro. Seguiram-se o Atlas
Lingüístico da Paraíba (ALP, Silva de Aragão 1984), o Atlas
Lingüístico de Sergipe (ALS I, Silveira Ferreira et al. 1987; ALS II,
Cardoso 2002), o Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais
(EALMG, Ribeiro et al. 1988), o Atlas Lingüístico do Paraná (ALPar,
Andrade Aguilera 1994), o Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região
Sul do Brasil (ALERS, Koch/Klassmann/Altenhofen 2002) e, por fim,
em CD-ROM, o Atlas Lingüístico Sonoro do Pará (ALiSPA, Razky
2004).
Outros atlas regionais se encontram em preparação: Atlas Etno-
lingüístico do Acre (ALAC), Esboço de um Atlas Lingüístico do

7
Para o desenvolvimento da lexicografia brasileira, cf. Neiva, “Dos
vocabulários de brasileirismos” (1940: 3-94), Woll (1990), Cunha Pereira
(1995), Bocorny Finatto (1996), Horta Nunes/Petter (2002), Horta Nunes
(2006).
21
Amazonas (EALAM), Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará (ALIPA),
Atlas Lingüístico do Estado do Ceará (ALECE), Atlas Lingüístico do
Maranhão (ALIMA), Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte
(ALIRN), Atlas Lingüístico do Mato Grosso (ALIMT), Atlas
Lingüístico do Mato Grosso du Sul (ALMS), Atlas Etnolingüístico
dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro (APERJ), Atlas
Lingüístico do Estado de São Paulo (ALESP) (cf. Silva de Aragão
2004) e o abrangente projeto do Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB)
(cf. Cardoso 2004).
Um extenso empreendimento para a descrição da norma urbana
culta (NURC) brasileira foi trazido à luz em 1969 em conexão com o
Proyecto de Estudio Coordinado de la Norma Lingüística de las
Principales Ciudades de Iberoamérica y de la Península Ibérica.8 No
quadro das pesquisas que se referem às cidades de Porto Alegre, São
Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, publicaram-se vários
volumes de coleta e análise: Português Culto Falado no Brasil (Casti-
lho 1989), A Linguagem Falada Culta na Cidade de São Paulo
(4 vol.: Castilho/Preti 1986, Castilho/Preti 1987, Preti/Urbano 1988,
Preti/Urbano 1990), A Linguagem Falada Culta na Cidade do Rio de
Janeiro (2 vol.: Callou 1991, Callou/Lopes 1993), A Linguagem
Falada Culta na Cidade de Salvador (Mota/Rollemberg 1994), A
Linguagem Falada Culta na Cidade de Porto Alegre (Hilgert 1997).
Em conexão direta com o projeto NURC está o projeto da Gra-
mática do Português Falado, que formulava como objetivo final a
construção de uma gramática de referência da linguagem falada culta
(cf. Castilho 2002: 9). Nos oito volumes até agora publicados, o
português brasileiro é apresentado, numa seqüência tematicamente
aberta, com contribuições a aspectos específicos (I: Castilho 42002, II:
Ilari 42002, III: Castilho 32002, IV: Castilho/Basílio 22002, V: Kato
2
2002, VI: Koch 22002, VII: Moura Neves 1999, VIII: Marques
Abaurre/Rodrigues 2002).9 Recentemente, publicou-se o primeiro
volume da Gramática do português culto falado no Brasil
(Jubran/Koch 2006). Outros volumes sobre a fonética e a morfologia
estão previstos.

8
Cf. Castilho (1990), “O português culto falado no Brasil (História do
projeto NURC/BR)”.
9
Mais referências sistemáticas à literatura sobre o português brasileiro se
darão em 1.2 e, respectivamente, no início dos capítulos seguintes.
22
1.1.2 A recepção do português brasileiro no exterior
Antes de nos voltarmos à investigação sobre a formação do português
brasileiro, algumas circunstâncias devem ser esboçadas, as quais nos
anos 90 do século XX, se identificaram com o tratamento do portu-
guês brasileiro na Alemanha como um desideratum imprescindível.
As possibilidades de desenvolvimento de pesquisas lingüísticas sobre
o português brasileiro resultaram das condições desse quadro e da
dependência de dois fatores: sua posição marginal da Lusitanística, de
modo geral, e a fixação existente, até então, nos estudos lingüísticos,
com relação ao português europeu em particular (cf. Dietrich 1992).
Isso surpreende, se levarmos em conta o número de falantes do
português brasileiro, consideravelmente crescente nas décadas
passadas, em comparação com a restante lusofonia, sem falar do peso
econômico e da irradiação cultural do Brasil, bem como se suas
perspectivas futuras.
É certo que, para a lingüística, todas as línguas e dialetos
mereceriam um campo de pesquisa de mesmo valor. Também é
verdade que, nos estudos lingüísticos históricos, o italiano, por
exemplo, apresenta pontualmente, na Romanística, muitas vezes,
aspectos mais interessantes em seu desenvolvimento na Romanística
do que o espanhol, tão vastamente espalhado pelo mundo. A despeito
disso, os filólogos também precisam levar em conta, em certa medida,
dados políticos e sociais, bem como desenvolvimentos geo-
econômicos, além de esforçarem-se para refletir em questões externas.
Os Estudos Japoneses e Chineses já implementaram uma atitude
semelhante. Enquanto na Anglística, face à importância dos Estados
Unidos, formou-se a área de Americanística, não existe nos países de
fala alemã, ainda hoje, nenhuma cátedra de Estudos Brasileiros que
esteja associada à lingüística. No âmbito do português brasileiro
havia, nos anos 90, muitas lacunas de informação que não diziam
respeito simplesmente a questões lingüísticas. Quão longe o português
brasileiro foi subtraído do horizonte da pesquisa e da lingüística
aplicada deve esclarecer-se a seguir, por meio de alguns exemplos.
No âmbito da lexicografia bilíngüe do português e do alemão, o
dicionário mais completo ainda é o de Henriette Michaelis (11887),
publicado na Alemanha, com cerca de 70.000 entradas na parte
portuguesa-alemã (Silva 1994: 70). Até 1934, teve 14 edições. Obras
mais novas surgiram apenas na forma de dicionários de bolso, que,
23
aliás, em sua totalidade, refletem a pronúncia européia.10 Atentou-se
mais para os brasileirismos somente nos últimos anos. Isso não ocorre,
porém, com o atualmente mais completo dicionário bilíngüe da Porto
Editora (1989), com cerca de 92.000 entradas por volume (Silva 1994:
70), que evita, sem fundamentação até mesmo os brasileirismos mais
correntes.11 ‘Café da manhã’, nele, é pequeno-almoço; banheiro é
traduzido como ‘salva-vidas; banheira’, mas não no significado
brasileiro; ‘aeromoça’ é, sem qualquer indicação, remetido a
hospedeira. O leitor nem ao menos é alertado que rapariga no
português brasileiro possui uma conotação preponderantemente
negativa e no Brasil, por isso, em todos os casos, a palavra deve ser
substituída por moça.12
É surpreendente que sejam apagadas, dessa forma, unidades
elementares no léxico da maior comunidade lusófona, conhecidas,
aliás, por qualquer pessoa que tenha interesse pelo tema. Um
procedimento análogo seria inimaginável para a variedade americana
do inglês. Também surpreende, nesse contexto, que Ettinger (1991) e
Silva (1994), em seus inventários acerca da lexicografia do português
e do alemão, não dêem atenção alguma ao português brasileiro, como
critério de avaliação.13

10
Cf. Meister/Pereira Laus (1981, 1982), Klare (1984-86), Hoepner/Cor-
tes Kollert (2001) com até 50.000 verbetes e usos por língua.
11
Designações da fauna e da flora, bem como da cultura popular, como
caçamba ‘balde para tirar água dos poços’ (PE alcatruz) são levados em
consideração, no entanto, pelo dicionário da Porto Editora. O uso corrente no
Brasil dessa palavra como ‘caminhonete de plataforma baixa’, ao contrário,
não ocorre.
12
O exemplo italiano-português (Mea 1994-96) é análogo: è una ragazza
simpatica ‘é uma rapariga simpática’.
13
Para o português brasileiro existe, desde 1943, um dicionário bilíngüe
publicado no Brasil com mais de 40.000 verbetes por língua, feito por
Tochtrop/Caro: “Êste Dicionário Português-Alemão é o primeiro da sua
espécie a ser elaborado no Brasil. Neste ponto distingue-se consideràvelmente
de seus predecessores, de confecção alemã. [...] a obra saiu mais brasileira do
que tôdas as suas predecessoras” (Tochtrop/Caro 1952: II, 5). O dicionário
não faz qualquer marcação dos brasileirismos e se orienta parcialmente ao uso
lingüístico do Sul do Brasil. Desse modo, traduz novamente rapariga como
‘menina’ e ‘tomar o café de manhã’ como merendar. Nesse meio-tempo
surgiu no Brasil um pequeno dicionário de bolso bilíngüe (Keller 1994), que,
em ambas as partes, contém 36.000 entradas e, ao contrário de Tochtrop/Caro,
faz indicações da pronúncia brasileira. Um dicionário bilíngüe brasileiro mais
24
O português brasileiro também desempenha, com freqüência, um
papel marginal em outras publicações ambiciosas sobre o português.
O volume voltado ao português e ao galego do Lexikon der
Romanistischen Linguistik (LRL VI,2), com oito volumes, dedica ao
português brasileiro apenas 17 das 700 páginas. Com isso, o galego
tem uma descrição muito mais fundamentada do que o português
brasileiro. Além do artigo publicado por Elia (1994), “O Português do
Brasil”, que seguramente não consegue compreender, para o
português brasileiro, os aspectos da seção européia, procura-se em
vão por uma apresentação da situação lingüística brasileira. A
delimitação estritamente realizada aqui e ali da temática PE/PB
conduz a fatos curiosos como, por exemplo, o artigo de Verdelho
sobre lexicografia (1994), que não cita o dicionário brasileiro Aurélio,
embora, naquela época, com seus 130.000 lemas, fosse o mais
completo e melhor dicionário do português.14 O comentário do autor
só permite supor que haja uma contribuição substancial brasileira para
a lexicografia do português: “Não foi considerada, nesta resenha
panorâmica, a produção do Brasil, que deve ser também apreciada
como um contributo interessante para ampliar o espólio dicionarístico
da língua portuguesa” (Verdelho 1994: 685b).
Finalmente, deve-se ainda citar um dicionário standard sobre
lingüística, o Metzler Lexikon Sprache, que, em sua primeira edição,
de 1993 (102a-b), oferecia uma apresentação bastante questionável do
português brasileiro. O número de falantes do português brasileiro foi
estimado em apenas 100 milhões, face aos 150 milhões da época, dos
quais uma parcela considerável supostamente devia ser bilíngüe de
uma das numerosas línguas nativas. Visto que o domínio do português
no Brasil corresponde majoritariamente ao número da população, a
suposta diferença de 50 milhões de brasileiros (não-lusófonos?) se
torna incompreensível. Quanto ao bilingüismo com línguas indígenas,
compreendia somente uma parte dos cerca de 350.000 índios que
viviam naquela época (1998) no Brasil.15 A declaração de que, em

completo é disponível somente em ligação com o inglês: Michaelis Moderno


Dicionário Inglês-Português Português-Inglês (Michaelis 2000), com
167.000 entradas no total, em ambos os volumes, e o Dicionário Eletrônico
Webster’s Inglês-Português Português-Inglês (Houaiss/Cardim s.d.).
14
Nesse interim, existem no Brasil, com os dicionários Michaelis e
Houaiss, obras ainda mais extensas, com mais de 200.000 lemas.
15
Cf. Almanaque Abril (1999: 166a) e Vandresen (1986: 305-307).
25
pontos importantes, o português brasileiro se baseia nos dialetos
meridionais de Portugal evoca relações da América espanhola, que
não se adaptam ao português brasileiro (cf. cap. 9).
Como características fonéticas do português brasileiro foram
apontadas a monotongação de [où] > [o], a simplificação das africadas
([tS] > [S]) e o alçamento do [-o] final em [-u]. A história da língua
comprova, contudo, que esses desenvolvimentos ocorrem tanto no
português europeu quanto no brasileiro (cf. cap. 7). Indicar o
alçamento de [-o] em [-u] como característica brasileira é absurdo,
visto que o [-u] final é um traço comum do português. A mono-
tongação de [où] > [o] (ouro) é típico do standard europeu, sendo que
[où] representa um arcaísmo no norte de Portugal e no Brasil (cf. cap.
3). Também o desenvolvimento [tS] > [S] (chave) se encontra no
português europeu. A africativização típica do português brasileiro de
[t] e [d] diante de [i] (noite, cidade [‘noìtSi], [si'dadZi]) não é citada
pelo artigo. Todavia, há a indicação de uma ditongação brasileira
antes do [S] final. A introdução do [ì] ocorre ocasionalmente na vogal
tônica precedente (atrás [aì]). Ademais, o [-S] em final de sílaba é, no
português brasileiro, apenas um alofone de [-s], de difusão limitada
regionalmente, que também atua na introdução da vogal epentética
(cf. cap. 3).

1.2 Relato de pesquisa


As circunstâncias esboçadas refletem – sobretudo, com relação à
última contribuição – um certo vácuo na recepção de publicações
acerca do português brasileiro. Podiam igualmente valer como medida
para a necessidade de seguir a formação do português brasileiro, em
comparação com o português europeu, de maneira mais direcionada.
Um inventário sobre a situação da pesquisa enfatizará esse fato de
várias formas.
Acerca dos diversos aspectos da formação do português brasileiro
existiam, em primeiro lugar, exclusivamente, obras brasileiras que
apareceram preponderantemente na primeira metade do século XX.16

16
Cf. A Língua Portuguesa no Brasil (Lemos 1959, 11916), A Língua
Portuguesa no Brasil (Leite 1922), A Gramática e a Evolução da Língua
Portuguesa (Parentes Fortes 1923), O Idioma Nacional (Nascentes 1960,
1
1926), Português da Europa e Português da América (Monteiro 1959,
1
1931), O Português do Brasil (Mendonça 1936), A Língua do Brasil (Viana
26
Um encerramento, por assim dizer, dessas publicações se encontra em
1950, na obra padrão de Silva Neto, Introdução ao Estudo da Língua
Portuguesa no Brasil (1986). Do ponto de vista conceitual, deve-se
enfatizar que esse trabalho não segue qualquer sistemática planejada,
visto que se trata sobretudo de um encadeamento a posteriori de uma
série de artigos, que Silva Neto havia publicado entre 1940 e 1949.17
Devido às inúmeras tergiversações e entrecruzamentos, Kröll
qualificou a obra – merecedora de louvor em todos aspectos – com
respeito à sua composição como “tão pouco sistemática que se torna
extremamente difícil ver claro na esmagadora riqueza documental”
(1951: 396).
Após Silva Neto (falecido em 1960), foram publicados, até o final
do século XX, trabalhos que diziam respeito à temática da formação
do português brasileiro, ao lado de outras obras brasileiras,18 na sua
maioria, artigos curtos, que, por vezes, são menos conhecidos.19 O

Filho 1936), Língua Nacional (Jucá Filho 1937), Língua Brasileira (Sanches
1940), O Português do Brasil (Machado 1940), A Língua Portuguesa no
Brasil (Raimundo 1941), A Evolução da Língua Nacional (Martins 1943), A
Língua do Brasil (Chaves de Melo 1946). Além disso, estão à disposição:
Figueiredo (1923), Marques (1933), Martins (1938), Leda (1940), Pádua
(1942), Duarte (1944), Borges de Albuquerque (1944), Loureiro (1946),
Nogueira (1946), Nunes Pereira (1946), Ypiranga Monteiro (1946), Nogueira
(1948).
17
As bases para a Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa no Brasil
de Silva Neto foram: “O português do Brasil” (1940), “O dialecto brasileiro
(Factores de diferenciação)” (1940), “A língua portuguesa no Brasil” (1941),
“A origem do dialeto brasileiro. I. Os colonizadores” (1941), “O português
quinhentista e o português brasileiro” (1941), “Diferenciação e unificação do
português do Brasil” (1942) → Diferenciação e Unificação do português do
Brasil (1946), Capítulos de História do Português no Brasil (1946 → Intro-
dução, cap. 3, 4, 5), “[A língua literária]” (1948) → Introdução, cap. 9), “A
unidade lingüística brasileira” (1949).
18
Cf. Fundamentos Clássicos do Português do Brasil (Monteiro 1958), A
Língua Portuguesa e a Unidade do Brasil (Barbosa Lima Sobrinho 1977,
1
1958), História da Romanização da América (Joaquim Ribeiro 1959), A
Língua Portuguesa no Brasil (Sousa 1960). — A Unidade Lingüística do
Brasil (Elia 1979), El portugués en Brasil (Elia 1992) e O Português no
Brasil (Houaiss 1988) esclarecem sobretudo aspectos sócio-culturais. A
história externa é tratada por J. A. Castro (1986), “Formação e desenvolvi-
mento da língua nacional brasileira”.
19
Deve-se levar em consideração também que certa quantidade de
trabalhos brasileiros não aparece nas bibliografias.
27
material foi agrupado, no fim dos anos 70, em sua maioria, na Biblio-
grafia da Língua Portuguesa do Brasil (Dietrich 1980), contudo,
quase não foi analisado. O déficit da atualização da literatura especia-
lizada dificultou o acesso ao português brasileiro e contribuiu, com
certeza, para erros de interpretação, como se evidenciam no Metzler
Lexikon Sprache (1993).
A Lusitanística alemã participou da discussão da formação do
português brasileiro de maneira marginal. Houve contribuição nesse
âmbito sobretudo dos artigos de Gärtner (1975, 1997a), Roth (1979) e
Scotti-Rosin (1981-82).20
Uma visão panorâmica do tema foi apresentada em meados dos
anos 90 pelo artigo de Elia, já citado (1994) no Lexikon der
Romanistischen Linguistik (VI.2). A contribuição devia condensar a
problemática, em princípio, a partir de uma visão mais nova e, de
certo modo, formar uma síntese do conhecimento sobre o português
brasileiro e do seu desenvolvimento, a partir dessa concepção.
Contudo, o autor renunciou a uma tal síntese, sobretudo com respeito
a possíveis influências de estrato. Dessa forma, características
distintas, principalmente fonéticas, foram, em parte, associadas a
cruzamentos com a influência indígena e africana (cf. 6.5), sem
estabelecer a problemática num contexto românico. Indicações
adicionais para uma bibliografia mais recente que trate da temática da
formação do português brasileiro serão apresentadas no capítulo 5
(“Testemunhos antigos da diferenciação do português brasileiro”).
Problemas específicos no tratamento com o português brasileiro
resultam da situação de que um certo número de trabalhos partem ou
precisam partir de bases muito estreitas. Neste âmbito, aspectos
sintéticos conclusivos, assim como princípios comparativos se
mantêm freqüentemente em segundo plano, enquanto se priorizam
questões às vezes particulares e isoladas. Em conexão com isso está

20
Vendo retrospectivamente a produção alemã anterior a 1980 há, afora
um artigo de Piel (1964-65) sobre o léxico, somente contribuições sincrônicas
precárias. Cf. Nobiling (1911), “Brasileirismos e crioulismos”; Ey (1928),
“Die luso-brasilianische Sprache und ihre Wandlungen”; Großmann (1936-
37), “Das Ringen um die brasilianische Sprache”; Wagner (1946a), “Il
portoghese è anche la lingua del Brasile”; Wagner (1946b), “Così si parla in
Brasile”; Jacob (1952), “Brasiliens Sprache und Kultur”; Piel (1964-65),
“Sobre alguns aspectos da renovação e inovação lexicais no português do
Brasil”; Bucher (1976), “Portugiesisch — Brasilianisch”.
28
também a questão fortemente discutida nos últimos anos e ainda em
aberto, sobre uma antiga crioulização do português brasileiro (cf. cap.
6). Até hoje não há na literatura especializada brasileira nenhuma
recolha comentada das fontes antigas do português brasileiro (cf. cap.
5), não há descrição comparativa do desenvolvimento
diacronicamente divergente do português europeu e brasileiro (cf.
cap. 7), e nem mesmo sincronicamente há disponível algum confronto
mais elaborado das características do português europeu e do
brasileiro (cf. cap. 3).
Características do português brasileiro estão descritas de modo
insatisfatório na literatura especializada sobretudo com respeito às
variantes fonéticas na sua difusão diatópica. Ao lado de uma
ampliação da documentação existente falta também, nesse aspecto,
uma abordagem sintética. Alguns dos atlas lingüísticos brasileiros até
agora pouco analisados, permitem – por meio de sua concepção
prepondemente onomasiológica – com freqüência, apenas um acesso
indireto à fonética. Além disso, orientam-se às regiões rurais, o que
proporciona, em parte, um quadro incompleto da realidade lingüística
(cf. 3.1.2.2). Os materiais publicados do projeto NURC para a
descrição da norma urbana culta brasileira (cf. 1.1), que, por serem
realizados nos centros urbanos, poderiam oferecer uma complementa-
ção valiosa aos atlas lingüísticos, renunciam, infelizmente, à
apresentação das características fonéticas. Visto que a literatura sobre
as variedades brasileiras dedica menos questões à difusão extrarregio-
nal dos fenômenos, características básicas do português brasileiro,
como, por exemplo, a palatalização (ou africativização) de /t/ e /d/
['tSiù], ['dZia] (tio, dia) ou ainda o chiamento, são, freqüentemente,
destituídas, até hoje, de uma ordenação diatópica mais exata, mesmo
para os especialistas (cf. cap. 3). Isso não se refere necessariamente ao
conhecimento de certas situações lingüísticas, mas à documentação
dessas nas obras.
O chiamento, a realização palatal do /s/ implosivo como [S], típico
do Rio de Janeiro pode servir aqui para ilustração da problemática.
Lipski interpreta o fenômeno como um “direct result of dialect
imitation” (1975: 222) e como conseqüência do estabelecimento da
Corte portuguesa entre 1808 e a Independência do Brasil em 1822,
sem, contudo, aduzir material dialetológico comparativo. A conside-
ração do desenvolvimento lingüístico histórico e da difusão regional
atual do fenômeno no Brasil conduz, porém, a outros resultados (cf.
29
3.1.2.1). C. Cunha lamenta, em muitos trabalhos, a falta de referência
às situações lingüísticas reais, com respeito ao português brasileiro:
“Quando examinamos a literatura existente sobre o Português do
Brasil, chama-nos a atenção o excessivo número de trabalhos
gerais, teorizantes, em contraste com os poucos estudos fundados
em observações diretas” (C. Cunha 1979: 55).
Um artigo de Bossier (1976) vislumbra, além disso, o problema da
disparidade de muitas publicações sobre o português brasileiro. O
título “Les linguistes brésiliens face à leur propre langue” não deixa
presumir que contém informações sobre a difusão regional do
chiamento (cf. 3.1.2.1), que, portanto, correm o risco de não serem
registradas pelos interessados. Do ponto de vista metodológico, o caso
do chiamento sublinha a necessidade de associar, na pesquisa do
português brasileiro, aspectos históricos da formação com critérios
contrastivos de observação sincrônica.21

21
Esse foi o ponto de partida para a elaboração da edição alemã da
presente obra (cf. Noll 1999). Cf. também, a respeito do português brasileiro,
Noll (1995b), (1996a), (1996b), (1997), (2003), (2004a), (2004b), (2004c),
(2005b), (2006).
30

2. O português brasileiro no mundo lusófono


2.1 Difusão e estatísticas
O português é hoje, com cerca de 200 milhões de falantes nativos,
uma das maiores línguas do mundo.22 Entre as línguas românicas, o
português, depois do espanhol, é a mais divulgada e ultrapassa
claramente o francês em números de falantes.23 Portugal, cuja “face
está voltada para o Mar Oceano” (cf. Schürr 1940: 107), iniciou, no
século XV, uma expansão sobre três novos continentes, por meio de
navegações de reconhecimento na costa africana. Diante desse pano
de fundo histórico, Schuchardt definiu a história das descobertas e
conquistas portuguesas como “de um modo geral, também a história
da expansão da língua portuguesa” (cf. 1888-89: 477).
O ponto de partida dos empreendimentos africanos foi a conquista
de Ceuta, em 1415, por Henrique, o Navegador. Na sua rota para o
sul, os portugueses povoaram Madeira desde 1419 e, prosseguindo,
atingiram os Açores em 1427 em direção ao oeste, já conhecidas de
antemão. Em 1456 chegaram, na altura do Senegal, às ainda
despovoadas ilhas de Cabo Verde. Depois de erigir-se a primeira
fortaleza portuguesa em solo africano em 1482, em São Jorge da Mina
(Gana), Diogo Cão avançou, em 1484, até a foz do Congo,
encontrando assim, a costa de Angola.24 Com a travessia do Cabo da
22
Esse número se refere às populações do Brasil, com 188 milhões e de
Portugal, com 10,6 milhões de habitantes (CIA World Factbook 2006), bem
como aos 2-4 milhões de membros da comunidade lingüística portuguesa no
estrangeiro, que se encontram sobretudo na França, África do Sul, Canadá,
Estados Unidos, Venezuela, Alemanha e Austrália (cf. Ferronha 1992: 131).
23
Conforme o Ethnologue (Grimes 2000), havia, no fim do século XX,
358 milhões de falantes nativos de espanhol (176 milhões para o português).
O francês computava 77 milhões de falantes. O mundo francófono, incluindo
os bilíngües, era de 128 milhões. Em estatísticas lingüísticas, é preciso atentar
para o fato de que nem sempre se discriminam precisamente falantes nativos,
bilíngües e falantes de territórios de uma dada língua oficial. Além disso,
dever-se-ia considerar apenas a população com mais de cinco anos de idade.
Na 15a edição do Ethnologue (Gordon 2005), os dados não foram atualizados.
24
O avanço sem concorrentes dos portugueses nas costas africanas e a
exploração econômica do mundo asiático são, entre outras coisas, uma
conseqüência da mediação do papa, por meio da qual Portugal pôde firmar o
monopólio de comércio para as regiões situadas mais ao sul, uma vez
reconhecida a soberania da Espanha sobre as Ilhas Canárias (Tratado de
Alcáçovas de 1479).
31
Boa Esperança, Bartolomeu Dias inaugurou, em 1487, o caminho
marítimo para a África Oriental e Ásia, pelo qual Vasco da Gama
conseguiu, em 1498, chegar à Índia. No ano de 1500, Pedro Álvares
Cabral descobriu a Terra de Vera Cruz, assim por ele denominada, e
que foi, mais tarde, a colônia do Brasil.25
O caminho marítimo para as Índias abriu aos portugueses a
possibilidade de quebrar o monopólio comercial do Mediterrâneo com
o Oriente, que estava, então, nas mãos das repúblicas marítimas
italianas, entre as quais a mais importante era Veneza, e, ao mesmo
tempo, evitar o comércio intermediário via Egito e Síria. Desse modo,
o português se configurava desde o século XV como base lingüística
para idiomas de contato envolvidos no comércio nas costas da África
e Ásia, os quais se manifestaram inicialmente como pidgins e, mais
tarde, em parte, evoluíram para línguas crioulas. Na África, a esfera
de influência portuguesa se difundia da costa ocidental, através da
região do Cabo com uma extensão que, na África Oriental, chegava
até os cristãos abissínios (Silva Neto 1957a: 135-136). Em 1513, Por-
tugal enviou para a Etiópia uma imprensa e cerca de 3000 livros.26
Nas regiões costeiras das possessões do subcontinente indiano,
Indonésia e China, adquiridas desde o século XVI, o português
funcionava como língua veicular local (cf. Lopes 1969).
Em 1540, João de Barros delineou, com orgulho, um quadro da
expansão da língua portuguesa, que, segundo seu modo de ver, para
além dos contatos comerciais, também deveria adquirir importância
no ensino e na educação dos jovens das terras distantes.
“Çérto é que nam á hy glória que se possa comparar a quando os
mininos etíopas, persianos, indos d’aquém e d’além do Gange, em
suas próprias terras, na força de seus templos e pagodes, onde
nunca se ouviu o nome romano, per esta nossa arte aprenderem a
nossa linguagem com que póssam ser doutrinados em os preçeitos
da nossa fé, que nella vam escritos” (Diálogo 1540: 85).
O Brasil não era levado em conta nas considerações de João de

25
Cf. 4.2. Antes de Cabral, Américo Vespúcio havia chegado à costa do
Nordeste em julho de 1499 e, em janeiro de 1500, Vicente Yáñez Pinzón
(Bitterli 1991: 108-109).
26
Cf. Hallewell (1985: 8-9). O carregamento destinado à Etiópia,
contudo, se perdeu. Uma segunda remessa, enviada dessa vez para Goa,
também não atingiu seu destino.
32
Barros, uma vez que a exploração e o povoamento do país naquela
época apenas estava começando (cf. cap. 4). Além do comércio com o
pau-brasil, cultivava-se a cana-de-açúcar. A dispendiosa economia
açucareira exigia mão-de-obra adequada e desenvolvia o tráfego
transatlântico de escravos, que unia o Brasil sobretudo com a Costa da
Guiné27 e com Angola.
A perda da soberania nacional de Portugal na união com a
Espanha (1580-1640) significou a derrocada do reino colonial
português na Ásia. Sob Filipe II de Espanha, fechou-se o porto de
Lisboa para os navios holandeses, no conflito com os Países Baixos
em 1581. Em conseqüência disso, os Holandeses estabeleceram suas
próprias relações comerciais por meio de sua Oost-Indische
Compagnie, uma vez que as bases portuguesas já não podiam ser mais
satisfatoriamente protegidas, pois as formações navais portuguesas
serviam para apoiar as ambições da Espanha na Europa.28
Isso significou o fim da difusão do português na Ásia, embora ali a
importância da língua tivesse permanecido ininterrupta até o século
XVIII. Assim, Otto Friedrich Mentzel, que viveu na África do Sul de
1733 a 1741, denominou o português como língua franca para a
região e a Ásia (1785-87: I, 40). O retrocesso tardio da língua se
reflete nas contribuições ao Congresso Sobre a Situação Actual da
Língua Portuguesa no Mundo (Congresso 1985-87: I, 265-347). Elia
caracterizou as regiões restantes na Ásia como “Lusitânia Perdida”
(1989: 49).29 Em Goa, que, em 1961, foi reintegrada à Índia, o
português se fala ainda ocasionalmente na capital estadual de Panaji,
por exemplo, o que se deve à tradição familiar. No entanto, foi de
modo geral substituído pelo inglês e pelas línguas indianas (concani).
Quem visita Macau, afirma que, na vida cotidiana, ninguém mais fala
português. Antes da devolução do território, em 1999, para a China,
encontravam-se nas vitrines ainda resquícios multilíngües como
Alfaiateria – Tailor’s Shop.

27
A Costa da Guiné se estendia, historicamente, do Senegal até o Congo.
Testemunham isso ainda os nomes vizinhos da Guiné-Bissau e da Guiné no
Senegal, bem como da Guiné Equatorial no assim chamado Golfo da Guiné.
28
Cf. Vianna (1980), Buarque de Holanda (1985), Ferronha (1992).
29
A situação no sudeste asiático foi descrita ultimamente por Baxter
(1996), “Portuguese and Portuguese Creole in the Pacific and Western Pacific
rim.”
33
Também as línguas crioulas perderam terreno desde a apresen-
tação feita por Leite de Vasconcelos (1987, 11901), devido ao
pequeno tamanho de muitas comunidades lingüísticas. O exemplo
mais vivo de todas é o do papiá kristang, falado pelos descendentes
eurasianos dos portugueses em Malaca. A cidade foi conquistada em
1511 e permaneceu até 1641 sob domínio português. No assim
chamado “Portuguese Settlement”, um bairro situado em área não-
central de Malaca, vivem cerca de 1000 pessoas dessa comunidade
lingüística. Recebem um subsídio da parte do seu governo e de
Portugal. Visto que hoje a pesca não pode mais ser exercida como o
fundamento da existência do grupo, deve-se contar com um progresso
do êxodo gradual da população.
O português é hoje a língua oficial de Portugal, Brasil, dos assim
chamados estados PALOP (Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa) Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola
e Moçambique, bem como no Timor Leste, que se tornou indepen-
dente da Indonésia em 2002.30 O português só é língua materna da
maior parte da população, porém, em Portugal e no Brasil.
Não se diferencia, às vezes, a posição do Português na África
como língua oficial, língua secundária ou língua materna, na
apresentação da importância do português no mundo.31 Nos países
lusófonos africanos, deve-se distinguir entre comunidades falantes de
crioulo com o português como língua oficial (Cabo Verde, São Tomé
e Príncipe) e comunidades poliglotas africanas com o português como
língua oficial e secundária (Angola e Moçambique). Na Guiné-Bissau,
coexistem as línguas africanas junto com o crioulo. O conhecimento
da língua oficial portuguesa se diferencia, por sua vez, em um
domínio oral, que varia de um grau aproximativo a um bastante
desenvolvido, assim como no uso da língua escrita. A língua escrita se
baseia no padrão europeu, mas não é geralmente internalizada, devido
ao analfabetismo relativamente alto, também na populações urbanas.
As estatísticas apresentam os seguintes dados para o número da
população, domínio lingüístico e analfabetismo da lusofonia africana,

30
Cf. Morais-Barbosa (1969), Peixoto da Fonseca (1985), Congresso
(1985-87), Elia (1989), I. Castro (1991: 53-89), Baxter (1992a), Ferronha
(1992), LRL VI,2 (1994: 545-618), Léonard (1998), Köster (2003).
31
Cf. Un millard de Latins en l’an 2000 (Rossillon 1983), O Português
entre as Línguas do Mundo (Peixoto da Fonseca 1985).
34
provenientes de diferentes anos:32 Cabo Verde conta com 420.000
habitantes (2006). Em 1992, afora o crioulo, 80% da população
dominavam o português, 23% são hoje analfabetos (2006). Pode-se
comparar a situação de Cabo Verde com a de São Tomé e Príncipe,
que conta com 193.000 habitantes (2006). Em 1992, cerca de 80%
falavam português (1992), 33% são hoje analfabetos (2006).
Hab. (milhões) Analfabetas Português
(2006) (2001/2003) (1992)
Angola 12,1 33,2% 50%
Cabo Verde 0,420 23,4% 80%
Guiné-Bissau 1,4 57,6% 11%
Moçambique 19,6 52,2% 43%33
São Tomé & Príncipe 0,193 20,7% 80%
Timor Leste 1 41,4% x34
Panorama estatístico: Estados PALOP (vários anos)
Na Guiné-Bissau, o português tem uma posição mais fraca. O país,
que se divide em numerosas comunidades lingüísticas africanas, conta
com 1,4 milhões de habitantes (2006). Em 1992, cerca de 60% da
população falavam também crioulo, mas somente 11% dominavam o
português. 57% da população são hoje analfabetos (2006).
Também Angola e Moçambique são países com uma larga difusão
de línguas africanas.35 Angola conta com 12,1 milhões de habitantes

32
Os dados a respeito dos números da população e do analfabetismo
provêm do CIA World Factbook (Números de população: 2006; Analfabe-
tismo: 2001/2003). As indicações a respeito da parcela porcentual de falantes
do português se apóiam em Ferronha (1992).
33
Cf. A. Lopes (2002: 51). Isso significaria um aumento de 18% de
falantes de português em comparação com os 25% de Ferronha em 1992.
34
“A língua oficial tradicional durante séculos foi o português, que é
falado actualmente só por 15% da população escolarizada durante o período
em que o país foi uma província ultramarina portuguesa ou colónia, ainda que
77% da população em idade escolar frequentasse os vários graus de ensino no
ano lectivo de 1973–74)” (Köster 2003: 124-125). Timor-Leste ganhou sua
independência em 1975 e foi anexada pela Indonésia imediatamente.
35
Lá, o português é difundido, ainda hoje, preponderantemente nas
cidades. Uma contribuição de 1978 especificava que apenas 1% da população
rural dominava a língua portuguesa (cf. Perl et al. 1994: 73).
35
(2006).36 Dessa população, em 1992, cerca de 50% falavam português
e 33% são hoje analfabetos (2006). O número de habitantes de
Moçambique é de 19,6 milhões (2006). Somente 25% da população
falavam português em 1992 e 52% são hoje analfabetos (2006).
Em todos os territórios lusófonos da África, a parcela dos falantes
de português se situa, com competência de língua materna, provavel-
mente abaixo de 1%.37 Desse ponto de vista, a posição do português
em Angola e Moçambique é comparável com a do inglês em Uganda,
onde a antiga língua colonial serve, como língua oficial e escolar, no
sentido de unificar a diversidade lingüística autóctone.
Os números aqui citados podem apenas servir como uma certa
orientação. Desse modo, Nunes (1991: 18) avaliou como porcentual-
mente menor o domínio do português na África do que Ferronha
(1992). Para Angola resultariam, segundo seu cômputo, naquela
época, apenas 30-40% (vs. 50%) e em Moçambique, apenas 17-25%
(vs. 25%) de falantes lusófonos no total populacional. Levando em
consideração os valores mais altos de Ferronha (1992) e os de A.
Lopes (2002) para Moçambique – dados mais recentes não nos são
disponíveis – assim como a transposição análoga para números
populacionais atuais, a lusofonia africana abrangeria cerca de 15
milhões de bilíngües com distintas competências. Isso se refere a uma
área, na qual o português é língua oficial de 33,7 milhões de pessoas
(sem falar do Timor Leste). Juntamente com os cerca de 198 milhões

36
Para Angola, existem cômputos contraditórios, que variam entre 10 e
15,5 milhões de habitantes. Isso se deve evidentemente a estimativas que
avaliam diferentemente as conseqüências dos muitos anos de guerra civil.
37
Ferronha (1992: 55) afirma que Angola é o único país africano em que
há também falantes monolíngües de português (sem língua materna africana).
Trata-se de portugueses que, após a independência, em 1974, ficaram no país,
bem como e seus descendentes. Perl et al. informam que, em 1983, em
Luanda pelo menos 300.000 pessoas (preponderantemente crianças entre 5 e
14 anos) usavam, em situação monolíngüe, o português como língua materna
(cf. 1994: 79-80). Os autores especificam que seriam 3% do total da popu-
lação. Trata-se evidentemente, na sua maioria, de crianças de rua, que, por
causa dos longos tumultos da guerra, viveram o dia-a-dia nas cidades, onde o
português é bem mais difundido. Recentemente, A. Lopes (2002: 51) afirma
que 3% da população de Moçambique falam o português como língua
primeira.
36
de falantes de português como língua materna, a lusofonia supera o
número de 212 milhões de falantes.38
Uma iniciativa política para a união dos países lusófonos foi
apresentada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), fundada em 1996, à qual o Timor Leste independente
também aderiu em 2002. Kuder (1997) dedicou uma obra aos objeti-
vos, tarefas e estruturas dessa comunidade. Uma atitude muito crítica
face ao conceito de lusofonia foi assumida por Margarido (2000), que
repreende Portugal, sua imagem desenvolvida e, em parte, presa à Era
das Navegações, a qual sofreu uma relativização, com a perda das
colônias, para poder, novamente, compensar-se na lusofonia. Segundo
esse autor, a língua portuguesa constitui apenas o pano de fundo na
fundação da Comunidade, mas ela não pode ser compensação para as
bases socioculturais de uma comunidade verdadeira. O que de fato
está em jogo, entre outras coisas, conforme Margarido, é o fato de
Portugal querer zelar pelo controle sobre a língua e ganhar alguma
dimensão, por meio da união dos antigos territórios coloniais (2000:
57). Poderíamos comparar essa posição com as afirmações de Kremer
de que o português teria sido imposto em amplas partes da África, no
território asiático e no Brasil como língua nacional ou coloquial ou
como base das línguas crioulas (cf. 1992: 397). Em relação à África,
isso talvez possa ser entendido com referência à superfície territorial,
contudo, para a Ásia, essa formulação é inexata.
A despeito do fato de que os países africanos e as comunidades
crioulas asiáticas apresentem um interessante campo de pesquisa no
âmbito do português, é óbvio que a lusofonia em sua essência, em sua
capacidade política de agir e em possibilidades futuras de desenvol-
vimento se realiza em territórios de língua materna. A Ásia é perdida
para o mundo lusófono, Angola e Moçambique se orientam hoje em
dia cada vez mais para a sua africanidade.
Nesse contexto, evidencia-se a situação especial do Brasil. O
Brasil é o único país que, como antiga colônia sobre a base de sua
herança portuguesa, além de muitas outras influências, se desenvolveu
como centro irradiador do mundo lusófono, e isso é alicerçado hoje
por meio de uma força econômica considerável. O Brasil é

38
Um cômputo mais preciso se obteria verificando a parcela atual dos
falantes de português nos países africanos e, como normalmente se faz nas
estatísticas mais exatas, subtraindo a parcela de crianças abaixo de cinco anos.
37
computado, a despeito de seus problemas sociais, entre as dez mais
fortes nações industrializadas do mundo.
Comparando os falantes de português do Brasil e de Portugal,
hoje, chega-se a uma proporção de 95 por 5. A ultrapassagem dessa
relação a favor do Brasil iniciou-se no século XIX. No transcorrer do
século XX, a população do Brasil subiu de 17 milhões (1900) para 41
milhões (1940), 70 milhões (1960) e 95 milhões (1970) até os 188
milhões da atualidade (2006).39 No século XX, verificou-se no Brasil
também uma significativa urbanização. Em 1823, a parcela da
população urbana era de 14 milhões de habitantes (apenas 6,8%). Esse
porcentual subiu pouco até 1920 (10,7%). De 1950 a 1980 subiu a
parcela da população urbana, contudo, de 36,1% para 67,6% (cf.
Bortoni 1989: 167).
Enfoques distintos e, em parte, complementares se deram, em
Portugal e no Brasil, no tocante aos esforços para a difusão do
português e na publicação da literatura de língua portuguesa. Portugal
subsidiava, em 1999, com o Instituto Camões, 155 leitorados universi-
tários, 108 dos quais estavam na Europa. Desde então, são mais de
170 pelo mundo inteiro, sendo 112 na Europa. Além disso, existem
Centros de Língua Portuguesa, bem como cadeiras de ensino em
universidades estrangeiras. O Brasil é representado sobretudo, com
seus Centros de Estudos Brasileiros (CEBs), no continente americano
e conta com 80 leitorados combinados com empregos localmente
financiados (Silva/Klein Gunnewiek 1992).
Na produção de livros, o Brasil registrava, em 1992, a edição de
27.557 títulos (1998: 21.689), dos quais 10.039 foram editados em
língua portuguesa.40 Portugal, em comparação, tinha, em 1991, 6.430
publicações (1998: 2.186), entre as quais se encontravam 3.906 títulos
portugueses (Unesco 1995, Unesco 1997).
Com relação às traduções, o Brasil, em 1987, dispunha de 2.005
títulos traduzidos para o português, claramente na frente dos 342 de

39
Cf. Caio Prado (1993: 358), Almanaque Abril (1999: 152a), CIA World
Factbook (2006).
40
Os anos distintos para a comparação provêm das fontes disponíveis.
Dessa forma, as traduções não são mais computadas no Statistical Yearbook
da Unesco, após o volume de 1993. Não há mais indicações dos títulos dos
livros na língua oficial do país após o volume de 1995.
38
Portugal (Unesco 1993).41 Entre eles, encontram-se 149 publicações
brasileiras traduzidas do alemão, contra 20 em Portugal. Em 1997, o
número de traduções portuguesas no Brasil chegava aos 4.997 títulos.
Entre eles, encontravam-se 242 livros alemães. 92 títulos portugueses
foram adaptados às normas brasileiras.42
Produção anual Brasil Portugal

Livros (títulos) 21.689 (1998) 2.186 (1998)


21.574 (1994) 6.667 (1994)
27.557 (1992) 6.430 (1991)
(somente títulos port.) 10.039 (1992) 3.906 (1992)

Traduções 2.005 (1987) 342 (1987)


(para o alemão) 149 (1987) 20 (1987)

Jornais 465 (2000) 28 (2000)


320 (1994) 23 (1994)
(tiragem) 7.883.000 (2000) 1.026.000 (2000)
7.200.000 (1994) 480.000 (1994)

Filmes 40 (1999) 15 (1999)


86 (1985) 5 (1985)
Panorama estatístico: Brasil — Portugal (diversos anos)

No campo da produção impessa, o Brasil era representado no ano de


2000 com 465 jornais e um total de tiragens de 7,88 milhões de
exemplares; em Portugal editaram-se 28 jornais com uma tiragem de
um milhão de exemplares (Unesco). A revista brasileira Veja

41
O Index Translationum (1997), que também é feito pela Unesco e que
reúne cumulativamente em CD-ROM traduções feitas desde 1979, indica,
para 1987, em comparação, somente 1594 traduções em português brasileiro
contra 349 em português europeu. Para 1995, relaciona 1247 traduções em
português brasileiro e 1115 em português europeu. Novas edições do Index
Translationum não fazem mais distinção entre as duas variedades (cf.
http://databases.unesco.org/xtrans/xtra-form.shtml; 06/06/07).
42
Informação da Câmara Brasileira do Livro (1998).
39
pertence, com uma tiragem de 1,2 milhões de exemplares (1999), às
maiores revistas políticas semanais do mundo (em contrapartida, a
revista portuguesa Visão atingiu, em 2006, apenas 123.000). Da
mesma forma, com as emissoras de televisão, o Brasil dispõe, com a
Rede Globo, de uma das maiores empresas do mundo nesse setor. Em
1999 produziram-se 40 filmes no Brasil, em Portugal foram 15
(Unesco).
Dados estatísticos como esses quase não foram registrados nas
publicações sobre o português e deveriam ser levados em considera-
ção na discussão sobre a posição do português no mundo.

2.2 Brasilieirismo, padrão e norma


Diferenças lingüísticas na lusofonia são, em regra, entendidas como
desvio do padrão europeu. Como ponto de partida para a descrição da
variedade brasileira manifesta-se, sob esse ponto de vista, o conceito
de brasileirismo.43 Para João Ribeiro (1889: 74), trata-se de uma
“expressão que damos a toda casta de divergencias notadas entre a
linguagem portugueza vernacula e a falada geralmente no Brasil”.
Celso Cunha (1987) esclareceu a temática em uma pequena obra, sob
diversos pontos de vista, sem, contudo, chegar a uma definição
concisa. Para Houaiss (2001, s.v.), um brasileirismo é “em sentido
lato, qualquer fato de linguagem (fonético, morfológico, sintático,
lexical, estilístico) próprio do português do Brasil; sob o ponto de
vista lexical, palavra ou locução (dialetismo vocabular) ou acepção
(dialetismo semântico) privativa do português do Brasil”.
Em nosso entendimento, a definição deveria incluir também a
dimensão diacrônica. Assim, um brasileirismo se definiria como uma
estrutura ou um desenvolvimento lingüístico que está em contraste
com o padrão historicamente referencial do português europeu e deve
ser associado ao português brasileiro ou uma parte do seu território
lingüístico, seja quanto à origem, seja quanto ao uso. Diacronica-
mente, essa atribuição está sujeita a um processo em cujo percurso
ocorrem transposições. O que se define primeiramente como especifi-
camente brasileiro, apresenta, às vezes, mais tarde, no vocabulário,
somente uma dimensão etimológica. Isso aconteceu, por exemplo,
com a palavra ananás, que foi tomada de empréstimo, no século XVI,
43
Cf. Miranda (1943), Paiva Boléo (1946), Albuquerque (1960), C.
Cunha (1987, 1987a).
40
do tupi (DHPT: 1557) e é tida como brasileirismo naquela época,
conforme sua origem e designação.44 Hoje, ananás é a denominação
corrente dessa fruta no português europeu, enquanto no português
brasileiro se usa de preferência, um outro tupinismo, a saber
abacaxi.45
As diferenças com o português europeu (cf. cap. 3) caracterizam o
português brasileiro como uma variedade diatópica da língua portu-
guesa. Isso não se vincula à discussão histórica acerca de uma língua
brasileira, que, sob a influência das concepções políticas da Indepen-
dência do Brasil, tematizava, até a metade do século XX, uma igual
independência lingüística do português brasileiro (cf. 4.4).
A questão da norma brasileira46 que deve apoiar-se no uso
lingüístico comum e na tradição escrita recente, em comparação com
o português europeu, apresenta-se como complexa. Essa norma nem
está definida de forma oficial fora da ortografia, nem é conseqüente-
mente transmitida à escrita pelos falantes do português brasileiro, nem
sequer reconhecida, de fato, da parte do português europeu. Há trinta
anos, Teyssier esboçou a problemática que se encontra quase
inalterada ainda hoje em dia como se mostra a seguir:
“La norme du Portugal est assez facile à définir, car elle fait l’objet
d’un large consensus et a été souvent étudiée. Celle du Brésil, au
contraire, pose un problème spécifique, car il s’en faut qu’elle soit
universellement reconnue par les Brésiliens eux-mêmes. En
attendant qu’un consensus s’établisse au Brésil comme au
Portugal, l’exposé de la norme brésilienne devra rester parfois flou
et imprécis” (Teyssier 1976: 13).
Na fonética, as distinções entre português europeu e português
brasileiro foram feitas, no passado, preponderantemente, contras-

44
“Huma fruita se dá nesta terra do Brasil muito sabrosa, e mais prezada
de quantas ha. [...] chamão-lhes Ananazes [...], excedem no gosto a quantas
fruitas ha neste Reino [...]” (Tratado 1576: 50).
45
O fato de que se trata de dois tipos de planta não é aqui significativo,
para o uso da palavra.
46
Acerca da questão da norma no português brasileiro, cf. Rodrigues
(1968), Guterres da Silveira (1969), Chaves de Melo (1971a), Biderman
(1973), Callou/Duarte (1973), Froehlich (1975), Castilho (1978), Camacho
(1980), Castilho (1981), C. Cunha (1981a), Camacho (1982), Elia (1983),
Hauy (1983), C. Cunha (1985), Mato e Silva (1985), Bortone Reis (1989),
Castilho (1990).
41
tando-se a pronúncia de Lisboa e a do Rio de Janeiro, antiga capital
brasileira. Em contraste com o português europeu, o português
brasileiro não dispõe de nenhuma pronúncia-padrão definida.47 Por
isso, os poucos dicionários brasileiros que indicam a pronúncia, não
levam em conta a africativização de /t/, /d/ diante de [i], mesmo que
seja majoritária no país. Como resultado do Primeiro Congresso da
Língua Nacional Cantada (Congresso 1938) e do Primeiro Congresso
Brasileiro da Língua Falada no Teatro (Congresso 1958), formulou-
se, no Brasil, apenas uma norma para a linguagem teatral,48 que se
orientava, naquela época, também para a pronúncia do Rio de Janeiro
(cf. 3.1.2.1).
A historiografia gramatical brasileira toma por base, tradicional-
mente, na questão da norma, com certas tolerâncias, o modo de
escrever europeu. Um exemplo disso é a gramática de Rocha Lima,
que apresenta desde sua edição de 1957 como Gramática Normativa
da Língua Portuguesa (311992). Visto que se trata de uma gramática
da língua portuguesa e não do português brasileiro, esperar-se-ia uma
posição normativa. Contudo, Rocha Lima preconiza, no tratamento
com os pronomes pessoais átonos (cf. 3.2.2), uma posição menos
restritiva, em comparação com o português europeu, sem dar,
contudo, nenhuma indicação das particularidades brasileiras das
regras apresentadas (1992: 449-455).
Até hoje somente a luso-brasileira Nova Gramática do Português
Contemporâneo declara a intenção de levar em consideração as
“diversas normas vigentes dentro do seu vasto domínio geográfico
(principalmente as admitidas como padrão em Portugal e no Brasil)”
para o âmbito lingüístico de fala portuguesa (Cunha/Lindley Cintra
2001: XIII). Em princípio, os autores partem, segundo essa formu-
lação, da existência de uma norma brasileira que, como já dito, se
pode definir de fato somente pela ortografia (cf. 3.4). Somente a partir
disso, torna-se compreensível a delimitação formulada a seguir. A
Nova Gramática se concebe, portanto, como uma
“tentativa de descrição do português atual na sua forma culta, isto
é, da língua como a têm utilizado os escritores portugueses,

47
Para a pronúncia-padrão do português europeu, cf. Gonçalves Viana
(1892).
48
Cf. a regulamentação da linguagem teatral alemã em Siebs (1969,
1
1898).
42
brasileiros e africanos do Romantismo para cá” (Cunha/Lindley
Cintra 2001: XIV).
No fundo, trata-se de um esforço para se chegar a um equilíbrio
lingüístico que pretende trazer consigo o princípio da unidade do
português. Com isso, a Nova Gramática reflete a realidade lingüística
brasileira somente em apartes, com suas digressões sobre o português
brasileiro. A gramática de Perini (2002), por outro lado, intitulada
Modern Portuguese e destinada aos estudantes anglófonos, limita-se a
descrever o uso brasileiro.
A falta de uma norma reconhecida enfatiza a necessidade de
abranger melhor o português brasileiro em sua complexidade. A Gra-
mática do Português Falado (8 vol., cf. 1.1), publicada no âmbito do
projeto NURC (Norma Urbana Culta), é, para tal, uma importante
contribuição. No entanto, apresenta, em primeiro plano, um
compêndio gramaticográfico de análise descritiva, com a qual não se
realiza o passo para uma conseqüente transposição dos resultados em
uma gramática.
No contexto da língua falada, referir-se-á a seguir à língua
coloquial e à língua popular do Brasil. Corresponde a uma ordenação
corrente dentro da România (cf. français familier, français populaire),
que prescinde de qualquer outra explicação. Contudo, deve-se fazer
alguma referência, complementando, assim, a importância especial
desses registros no português brasileiro. Enquanto na Alemanha, mais
de um terço dos formandos por ano conseguem sua admissão no
ensino superior, no Brasil isso coresponde a somente um pequeno
porcentual (cf. Briesemeister et. al 1994: 384-420). Visto que, no
Brasil, comparativamente, é pequena a parcela da população que está
mais fortemente influenciada pela linguagem escrita e pode atuar
como um fator lingüístico corretivo, a linguagem coloquial adquire
um significado bem maior do que nas comunidades centro-européias.
Por meio de uma relativa uniformidade da área lingüística brasileira, a
linguagem popular não se distingue primariamente em componentes
regionais como, por exemplo, é o caso da Itália, mas, preponderante-
mente, por meio de diferenças condicionadas socialmente. A
influência do rádio e da televisão contribui aí, contudo, para um certo
nivelamento.
A falta de uma norma reconhecida no Brasil conduz a incertezas
no uso da língua escrita que pelos falantes são registradas de maneira
autocrítica. Às vezes, classifica-se também como errônea a própria
43
língua, do ponto de vista da palavra falada. Tal caracterização do uso
lingüístico brasileiro encontra um vivo apoio, em parte, em falantes da
variedade européia do português. Nesse ponto, há um certo contraste
com a posição comparativamente mais liberal que se manifesta na
Espanha diante das particularidades das variedades hispano-
americanas.
Em 1921, o filólogo brasileiro João Ribeiro tomou a ofensiva face
à norma européia, com uma atitude motivada por nacionalismo, mas,
em última análise, pragmaticamente orientada: “Falar diferentemente
não é falar errado” (1933: 8). As conseqüências que resultam disso
hoje, para o português, são descritas por Parkinson:
“Portuguese, like English, has spread too far and wide to be
described solely in terms of its European forms. The polarisation
of European Portuguese (abbreviated EP) and Brazilian Portu-
guese varieties (BP), and the relative decline in the cultural and
economic position of Portugal are such that the Brazilian standard
must be given equal status with the European” (Parkinson 1990:
131).
Essas considerações esclarecem, levando-se em conta a posição do
português brasileiro na lusofonia, bem como a posição do português
no mundo, que a importância de uma língua, como, aliás, também a
distinção entre língua e dialeto, não independem, de modo algum, de
fatores políticos e socioculturais. Mais cedo ou mais tarde, a
sociedade acaba tomando conhecimento desses fatores. As diferenças
entre português europeu e brasileiro são objeto do próximo capítulo.
44

3. As peculiaridades do português brasileiro em


contraste com o português europeu
Existem diferenças entre o português europeu e o brasileiro em
fonética/fonologia, morfossintaxe, léxico e ortografia. Não dispomos,
contudo, de uma comparação exaustiva sistemática das características
específicas de ambas as variedades até hoje. Gramáticas publicadas
em Portugal mencionam o tema de uma variedade brasileira somente
no âmbito dos prefácios ou em capítulos introdutórios (cf. Mira
Mateus et al. 2003). As gramáticas brasileiras, por muito tempo,
partiam da norma européia e ofereciam, dessa forma, um certo espaço,
nesse aspecto, ao uso brasileiro (cf. 2.2).
A primeira obra comparativa sobre as duas variedades remonta ao
filólogo brasileiro Paranhos da Silva e surgiu em 1879 com o título O
Idioma do Hodierno Portugal Comparado com o do Brazil.49 Sessenta
anos depois, Jucá Filho publicou numa perspectiva comparável
Língua Nacional (1937). No âmbito das gramáticas, Dunn chamou a
atenção coerentemente em sua Grammar of the Portuguese Language
de 1928 para as variantes brasileiras:
“The standard speech of Portugal has been taken as a norm, but
Brazilian, dialectic, and colloquial usages have been noted when-
ever necessary” (Dunn 1928: VII).
Teyssier apresenta, no Manuel de langue portugaise de 1976, um
confronto sinótico entre português europeu e o brasileiro:50
“Il existe en effet, de toute évidence, une unité de la langue portu-
gaise. Sauf indication contraire, c’est ce portugais commun qui est

49
O artigo de Romero “Transformações da língua portuguesa na
América” (1888) compõe os pontos principais do assunto.
50
Além disso, há inúmeras citações e apontamentos a respeito das
diferenças entre o português europeu e o brasileiro. Citem-se, como contri-
buições mais abrangentes: Leite de Vasconcellos (1883, 1883-84), Romero
(1888), João Ribeiro (1889), Sousa da Silveira (1921, 1960 [11921]),
Nascentes (1960 [11926-29]), Mendonça (1936), Aita (1944-45), Chaves de
Melo (1971 [11946]), Paiva Boléo (1946), Silveira Bueno (1963 [11946],
1955), Gonçalves Ferreira (1966), Thomas (1966), Almeida Torres (1967),
Lima Coutinho (1968), Azevedo Filho (1969), Chaves de Melo (1974), Abreu
(1975), Gärtner (1975), Vázquez Cuesta/Mendes da Luz (1980), Canellas de
Castro Duarte (1986, 1989), Elia (1987, 1994), Camargo Biderman (2001),
Barme (2002), M. Azevedo (2005).
45
exposé ici. Mais chaque fois que la norme du Portugal et celle du
Brésil divergent, nous l’avons indiqué en précisant dans le détail
l’une et l’autre” (Teyssier 1976: 12).
Recentemente, dispomos também de uma introdução lingüística ao
português (M. Azevedo 2005), que menciona bastante as diferenças
sincrônicas entre o português europeu e o brasileiro e também dedica
ao português brasileiro um capítulo próprio. Além disso, fazemos
referência a um artigo de Barme (2002) e ao Colóquio português
europeu / português brasileiro. Esse colóquio, que foi publicado nas
atas do XVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de
Linguística (Encontro 2001: 537-769), contém uma série de artigos
interessantes sobre as diferenças gramaticais entre o português
europeu e o brasileiro. Isso vale também para os volumes 3 e 4 do
Journal of Portuguese Linguistics que apresentam estudos compara-
tivos sobre a semântica e a sintaxe respectivamente.
Lexicalmente, os brasileirismos estão documentados preponde-
rantemente por meio de marcas diatópicas em dicionários
monolíngües como no Aurélio, Michaelis e Houaiss (cf. 3.3).
Dicionários concebidos em Portugal são comedidos no registro de
brasileirismos. Na lexicografia bilíngüe, tende-se preponderantemente
a considerar ou o português europeu ou o brasileiro (cf. 1.1).
A seguir, descreveremos as peculiaridades do português brasileiro
em contraste com a norma européia. Essa apresentação sincrônica se
concentra nas circunstâncias do português brasileiro. Nesse contexto,
discutiremos particularidades diatópicas e diastráticas, quando sua
difusão for relevante. Até agora, não há nenhuma publicação de
conjunto sobre a variação lingüística regional no Brasil. As pesquisas
disponíveis buscam menos a difusão supra-regional dos fenômenos.
Além disso, o conhecimento do território lingüístico brasileiro se
apresenta desigual: menos documentadas são as regiões ocidentais do
país. Para a análise da importância dos dados lingüísticos, deve-se
observar que o Brasil é povoado sobretudo nas regiões litorâneas.
Dessa forma, os Estados de Mato Grosso, Acre, Amazonas, Roraima,
Amapá e Pará contam com menos de seis habitantes por quilômetro
quadrado (cf. Almanaque Abril 1995: 581, mapa).
O confronto sincrônico das duas variedades forma a base para o
tratamento dos capítulos sobre a história do português brasileiro. A
formação lingüística das características aqui tratadas, bem como as
condições diatópicas em português europeu que contribuem para a
46
compreensão dos desenvolvimentos serão apresentadas no capítulo 7
na mesma seqüência sistemática. A caracterização das variantes brasi-
leiras se efetua com base na literatura especializada disponível e no
nosso conhecimento do território brasileiro. O tamanho do país, bem
como a extensão territorial dos trabalhos publicados até agora
estabelecem limites nisso. Diante desse pano de fundo, a apresentação
dos fenômenos lingüísticos nos mapas devem ser entendidos como
esquemáticos.

3.1 Fonética e fonologia51


Indicações da pronúncia portuguesa devem apoiar-se freqüentemente
no uso lingüístico geral, visto que não dispomos de um dicionário de
pronúncias nem para o português europeu, nem para o brasileiro. Os
dicionários monolíngües oferecem, via de regra, somente indicações
acerca da abertura ou fechamento das vogais tônicas. Desvios no
timbre da vogal pretônica no português europeu, bem como
particularidades alofônicas no português brasileiro permanecem
ignoradas. Exceções se encontram na transcrição do Dicionário do
Português Básico (Vilela 1991)52 e do Dicionário da Língua
Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (Nascentes 1961-67).
Indicações fonéticas podem também ser extraídas de dicionários
bilíngües. Para o par de línguas português-alemão, isso se dá
recorrendo-se, ainda que modestamente, aos dicionários de bolso de
Hoepner/Cortes Kollert (2001) para o português europeu e Keller
(1994) para o português brasileiro.53

51
Indicações sobre a fonética e a fonologia do português brasileiro são
fornecidas sobretudo por Mignone (1938), Jucá Filho (1939), Hall (1943),
Autret da Silva (1944), Stavrou (1947), Nascentes (1952), Houaiss (1959),
Dahl (1964), Head (1964), Mascherpe (1970), Major (1979), Strodt López
(1979), M. Azevedo (1981), Álvez/Vinagre Mendes (1983), Pagliuchi da Sil-
veira (1986), Hoyos-Andrade (1986-87), Callou/Leite (1990), Bisol (1996),
Ferreira Netto (2001), Giangola (2001).
52
Vilela fornece 3.060 lemas de um vocabulário ampliado assim como os
paradigmas de conjugação com transcrição. As fricativas intervocálicas
[β ð γ] e o [L] velarizado, porém, não são indicados.
53
Além disso, dispomos das indicações fonéticas de uma lista de 5.000
palavras transcritas em Stravrou (1947: 58-152), do Michaelis Moderno
Dicionário Português-Inglês (Michaelis 2000), com 80.000 entradas, do
47
3.1.1 Vocalismo
3.1.1.1 Vogais orais tônicas
O português dispõe de um sistema vocálico de quatro aberturas,
dentro do qual abertura e fechamento são fonologicamente relevantes.
Entre as vogais orais, /i/, /e/, /(/, /ä/, /a/, /)/, /o/, /u/ possuem, no
português europeu, um status de fonema.
Uma diferença com o português brasileiro ocorre com o /ä/. Em
ambas as variedades, o /a/ em sílaba tônica é pronunciado aberto ([a]).
Seguindo-se-lhe uma nasal ([n ñ m]), conduz ao fechamento da vogal
(pano, banho, cama [ä]). Além disso, existe no português europeu
(Portugal central) uma fraca oposição fonológica entre /a/ e /ä/, que
define a distinção entre presente e pretérito perfeito do indicativo na
primeira pessoa do plural da primeira conjugação (pres. cantamos [ä]
vs. pret. perf. cantámos [a]). No português brasileiro ambos
convergem numa única forma <cantamos> [kÄ'tÄmus]. As vogais [a] e
[ä] possuem, no português brasileiro, o status de alofones. Ao lado
disso, deve-se observar que vogais tônicas em sílaba aberta diante de
nasal tendem, no português brasileiro, a submeter-se a uma
nasalização heterossilábica (PB [kÄ’tÄ.mus]; cf. 3.1.1.6).
PB PE
i u i u
e o e o
( [ä] ) ( ä )
a a
Vogais orais tônicas: PB — PE
As oposições fonológicas típicas do português entre /e/ : /(/ e /o/ : /)/
são neutralizadas, em português brasileiro, diante de nasal, por meio
do fechamento da vogal (PE prémio [(] vs. PB prêmio [e]; fome, PE
[)] vs. PB [o]). Via de regra, contudo, não se indica separadamente54
que /o/ em português brasileiro, nessa posição, não é realizado
totalmente fechado, mas semifechado, de modo que moça, com [o]
fechado, e o [o] de fome não são idênticos, muito embora a

Dicionário Eletrônico Webster’s Inglês-Português Português-Inglês


(Houaiss/Cardim s.d.) e do Dicionário Larousse Português/Espanhol
(Larousse 2006).
54
Cf. Teyssier (1976: 19) e Paulik (1997: 16).
48
transcrição dê essa impressão. Em São Paulo e Minas Gerais, /o/ antes
de nasal se pronuncia aberto ([)]).55 Além disso, a nasalização
heterossilábica deve ser observada (cf. 3.1.1.6).
Em relação a /e/ seguido de palatal ([7 ñ S Z]), o português
europeu (Portugal central) realiza as seguintes variantes abertas: [(]
diante de [7] (espelho s. [(];), [ä] diante de [ñ] (venho [ä]),
[ä(ì)] diante de [Z] (vejo [ä]) e [äì] diante de [S] (fecho [äì]). O
português brasileiro conserva o [e] fechado mantendo, assim, a
oposição entre v‹e›nho [e] e b‹a›nho [ä] (cf. Teyssier 1976: 19). No
entanto, o português brasileiro não o realiza sempre como [e] diante
de [7], como, às vezes, costuma-se afirmar em apresentações
resumidas. Excetuam-se a metafonia verbal (me espelho) e casos
como velho, PE/PB [(].
Além disso, existem diferenciações assistemáticas da qualidade da
tônica no português brasileiro, com relação ao português europeu
(senhora, PE [sö‘ñorä] vs. PB [si‘ñ)ra]. Fora isso, deve-se observar
nas tônicas do português brasileiro às vezes uma semivogal epentética
(cf. 3.1.1.7).

3.1.1.2 Vogais orais pretônicas


Quanto às vogais orais em posição pretônica, o português europeu
dispõe de sete fonemas (/i/, /e/ /(/, /a/, /o/, /)/, /u/), dos quais /e/, /a/,
/o/ se reduzem respectivamente a [ö] (<e-> [i]), [ä], [u].56 No
português brasileiro, a qualidade das vogais tende a ser mantida (/a/
[a], /e/ [e], /o/ [o]). Dessa forma, não ocorre, para o /a/ pretônico, no
português brasileiro, a alternância vocálica motivada pelo acento entre
formas verbais rizotônicas e arrizotônicas (PE fala [‘a] - falamos
[ä‘] vs. PB fala [‘a] - falamos [a’]) assim como a oposição entre a e à.

55
Cf. Chaves de Melo (1971: 125), M. Azevedo (1981: 24).
56
Excetuam-se da redução da pretônica [(], [a], [)], [o] no português
europeu: (1) vogais diante de /l/ implosivo (saltar [saL'tar]), (2) vogais diante
de encontro consonantal, que desapareceram nas formações eruditas por meio
da assimilação (aspecto [äS'p(tu]), (3) vogais que historicamente surgiram por
meio do desaparecimento de um hiato (padeiro [pa'ðäìru] < port. ant.
*paadeiro < port. ant. *panadeiro), (4) vogais que permaneceram por meio da
derivação ou da composição (sozinho [s)'ziñu]; cf. Teyssier 1976: 23-24).
Para a notação do /e/ reduzido utilizam-se, no português europeu, [ö] e [ɨ].
49

PB PE
i u i u
e ° o ° ö o
*( ° *) ( ä )
a a
Vogais orais pretônicas: PB — PE (variantes regionais marcadas com *)
A compreensão da realização dos /e/, /o/ pretônicos, no português
brasileiro, é um problema complexo sob aspectos diatópicos,
posicionais e diastráticos. Se não existem influências metafônicas, o
português brasileiro mantém os [e], [o] pretônicos, sendo as vogais
articuladas ou fechadas ou abertas, sem levar em consideração a
qualidade etimológica da vogal, diferentemente do português europeu.
Com isso, falta, no português brasileiro, a oposição européia entre
pregar [prö'gar] ‘fixar com pregos’ (< lat. plicāre) e [pr(‘gar]
‘pronunciar sermões’ (< lat. praedicāre).
Diatopicamente, deve-se especificar que o fechamento dos /e/, /o/
pretônicos corresponde à realização, no português brasileiro, das
regiões meridionais. Uma característica da pronúncia setentrional, em
contrapartida, é a abertura dessas vogais (meter [me'ter] vs. [m(‘tex]57)
(cf. Perrone/Ledford-Miller 1985). O critério da abertura e do fecha-
mento dos /e/, /o/ pretônicos forma, até hoje, a base para uma grande
divisão dialetal do português brasileiro que, em 1922, Nascentes
propôs em O Linguajar Carioca:
“Dividi o falar brasileiro em seis subfalares que reuni em dois
grupos a que chamei do norte e do sul. O que caracteriza estes dois
grupos é a cadencia e a existencia de pretonicas abertas em
vocabulos que não sejam diminutivos nem adverbios em mente.
[...] Eles estão separados por uma zona que ocupa uma posição
mais ou menos equidistante dos extremos setentrional e meridional
do país” (Nascentes 21953: 25).58

57
Cf. a pronúncia de /r/ (3.1.2.3).
58
A pertinência dos critérios dessa divisão foi confirmada por Cardoso
(2004). Elia (1963: 303-312) relata outras divisões dialetológicas do portu-
guês brasileiro (Mendonça 1936, Joaquim Ribeiro 1948, Diégues 1960)
orientadas também pela história demográfica e econômica do país.
50
Por conseguinte, uma linha demarcatória, que atravessa horizontal-
mente o Brasil, divide-o em um grupo setentrional e um grupo
meridional de dialetos. Ao grupo setentrional pertencem o amazônico
e o nordestino. Dentro do grupo meridional, contam-se, segundo
Nascentes, o baiano, o mineiro, o fluminense e o sulista.

• Belém

• Manaus • Santarém

(' )'
(' )'
amazônico
nordestino
Recife •

(' )'
baiano • Salvador

• •
Mato Cuiabá •
Grosso Goiânia • •
Bocaiuva Teófil o • foz do
Otoni rio Mucuri
mineiro
e' o' flumi-
nense
• São •
A divisão dialetal do português Paulo Rio de Janeiro
brasileiro: realização de /e/, /o/
pretônicos segundo Nascentes sulista
1953: 25-26)

• Porto
Alegre

Daí surge uma contradição evidente na classificação do baiano, que


Nascentes atribui nominalmente ao grupo meridional e na segunda
edição de O Linguajar Carioca caracteriza, de forma mais ampla,
como “intermediário entre os dois grupos” (21953: 25). Segundo o
percurso das isoglossas, contudo, o baiano se encontra, quase
completamente na zona setentrional, pois as fronteiras entre ambos os
grupos de dialetos se estende, segundo a formulação de Nascentes:
“da foz do rio Mucuri, entre Espirito Santo e Baía, até a cidade de
Mato Grosso, no Estado do mesmo nome [...]” (Nascentes 21953:
25).
51
Segundo essa descrição, a zona fronteiriça passa do mais extremo sul
da Bahia em direção ao oeste, através da porção norte de Minas
Gerais, divide Goiás e, passando por Cuiabá, no sul de Mato Grosso,
dirige-se para a fronteira boliviana.
De fato, o baiano pertence ao grupo setentrional. Isso se manifesta
claramente também no Atlas Prévio dos Falaras Baianos no mapa
amojar com a abertura geral da pretônica [)'] (APFB, mapa 130). O
Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais mostra, para os [('] e
[)'] pretônicos, uma isoglossa que passa horizontalmente, a qual atesta
que o norte de Minas Gerais – que se segue ao sul da Bahia em
direção a oeste – concorda com a Bahia, quanto à abertura vocálica
(EALMG, mapa 46).
Segundo o critério da abertura das pretônicas, modificando-se a
divisão de Nascentes, o grupo setentrional dos dialetos brasileiros
abrange:
· o amazônico (Acre, Roraima, Amazonas, Pará, Amapá).
· o nordestino (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas).
· o baiano (Sergipe, Bahia, norte de Minas Gerais, norte de Goiás).
Entre os do grupo meridional se contam:
· o mineiro (centro e oeste Minas Gerais).
· o fluminense (leste de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro).
· o sulista (sudoeste de Minas Gerais, sul de Goiás, Mato Grosso do
Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul).59
Enquanto o fechamento pretônico de /e/, /o/ na zona meridional se
apresenta como amplamente generalizado, existe, na zona
setentrional, a tendência à abertura vocálica. Segundo as pesquisas de
Leite/Callou, os casos de abertura chegam, em Salvador, a 60%; em
Recife somente a 47%. Nas zonas meridionais, porém, São Paulo e

59
Essa classificação modificada, inspirada em Nascentes (1953), leva em
consideração a atual divisão regional do Brasil. Desse modo, o antigo
território do Amazonas consiste hoje nos estados do Amazonas, Roraima
(antigo Rio Branco) e Rondônia (antigo Guaporé). Goiás e Mato Grosso
foram, respectivamente, divididos em Tocantins/Goiás e Mato Grosso/Mato
Grosso do Sul.
52
Porto Alegre não apresentam nenhum [(], [)] pretônico, Rio de
Janeiro tem por volta de 5% (2002: 40).
Ao lado do aspecto diatópico, a realização dos /e/, /o/ pretônicos
desempenha outros critérios no português brasileiro. Dessa forma, há
assimilações harmônicas,60 que conduzem ao alçamento da pretônica,
sobretudo, em conexão com um [i] seguinte. Em menino [mi'ninu] e
bonito [bu'nitu], observa-se a realização predileta das variantes
alçadas, sem que o alçamento em tais casos seja obrigatório. Também
o paradigma verbal é influenciado, em parte, nesse contexto: querer
vs. queria [ki'ria]. Uma atuação secundária da metafonia é a eventual
africativização provocada devido ao alçamento: depois [dZi'pois].
Também um [u] seguinte pode atuar metafonicamente (seguro
[si'guru]). Juntamente com consoantes labiais [p b f v m], um /o/
pretônico tende ao alçamento (boneca [bu']), mesmo quando a vogal
seguinte é aberta (cf. Leite/Callou 2002: 40). Em regra, a tendência ao
alçamento de [o] > [u] é mais forte do que a de [e] > [i]. Palavras de
origem erudita tendem à manutenção do valor sonoro etimológico,
enquanto a língua popular, de modo geral, tende para o alçamento
(comer [ku'me]).
A abertura da vogal pretônica pode também ser, contudo, uma
conseqüência de uma assimilação harmônica, quando resulta em
contato com um [(] ou [)] aberto da tônica uma seqüência vocálica
com o mesmo som. Como exemplo, citam-se mocotó [m)k)'t)] (Sil-
veira Bueno 1921: 21) e perereca [p(r(‘r(ka].
Observa-se, no português brasileiro (como no europeu), uma
abertura da vogal da posição pretônica em derivações (-mente, sufixos
de diminutivo e de aumentativo, superlativos) assim como em
compostos: sozinho [)], cafezinho [(], perfidamente [(], greco-latino
[(]).61 Nesse caso, as derivações como somente, sozinho, modinha se
orientam à vogal da base. Em poucos diminutivos foram registrados,
no português brasileiro, segundo Sousa da Silveira (1921: 21), opo-
sições fonologicamente relevantes entre o significado genuinamente
diminutivo e uma forma completamente lexicalizada, na qual a tônica
/i/ conduziu ao alçamento: folhinha [u] ‘calendário’ vs. ‘folha
pequena’; corpinho [u] ‘corpete’ vs. ‘corpo pequeno’.

60
Cf. Callou/Leite (1986), Bisol (1989).
61
Cf. Nascentes (1953: 25), Teyssier (1976: 27), M. Azevedo (1981: 13).
53
Em palavras polissílabas, o distanciamento do acento tônico
exerce a formação de um acento secundário, que tende à abertura
(perfidamente [;p(xfida'mEtSi]). Isso se mostra também em compostos
de origem erudita (greco-latino [;gr(kula'tSinu] vs. grego [‘gregu]).
Uma particularidade se dá com o /e/ inicial átono. Em português
europeu, a vogal é reduzida a [i] (exacto [i'zatu]), costuma cair diante
de [S] (está [(i)'Sta]) ou é realizada, no prefixo ex- antes de consoantes
surdas, nas variantes [iS- eìS- äìS-]. No português brasileiro, mantém-
se em posição inicial como [e] (elevador [eleva‘dox]) ou é reduzida a
[i] em situação imediata, antes de sibilantes (expor [is‘pox]). Nessa
posição, surgem, contudo, diferenças regionais (cf. Álvez/Vinagre
Mendes 1983: 97-98). Assim, realiza-se no sul do Paraná estrela [es-]
(ALPar, mapa 185), enquanto a palavra na Paraíba é pronunciada com
[iS-] (ALP, mapa 39). Se há uma separação do acento tônico por uma
ou duas sílabas intermediárias, não ocorre, em português brasileiro,
nenhuma redução do /e/ diante de sibilante (existência [e.zis'],
estimação [es.ti.ma']).
Em clíticos que, por causa da próclise, devem ser classificados
sintaticamente como pretônicos em português brasileiro (em
português europeu, postônicos dependendo da posição), o /e/ (me, te,
se, lhe, de, que) é realizado foneticamente, conforme sua posição
final, como [i] (PE [mö] vs. PB me [mi], cf. 3.1.1.4).

3.1.1.3 Vocais orais postônicas


A redução das vogais ocorre também no português europeu em
posição postônica. Encontram-se novamente /e/, /a/, /o/, que são
realizados como [ö], [ä], [u].62 O português brasileiro segue esse
desenvolvimento somente para /o/.
Em posição postônica, o português brasileiro mantém /e/, /a/ ([e],
[a]). Para o /o/ postônico há uma tendência ao fechamento (pérola
[‘p(rula], agrícola [a'grikula]), que se manifesta sobretudo na língua
popular. Contudo, árvore, por exemplo, conserva /o/ [o] postônico
mesmo em presença de um [-i] final, que, em outros casos, atuaria
metafonicamente.

62
Em conexão com uma soante final [-l -r -n], o português europeu não
reduz o /e/, /a/, /o/.
54

PB PE
i u i u
e ° o ° ö °
° ° ° ( ä )
a a
Vogais orais postônicas: PB — PE

3.1.1.4 Vogais orais finais átonas


Na posição final átona, o português europeu realiza os /e/, /a/, /o/
analogamente às condições em posição pretônica e postônica como
[-ö], [-ä], [-u]. O português brasileiro segue o europeu apenas na
redução de /e/, /o/, sendo que o /e/ final se torna [i] (idade, PE [i'ðaðö]
vs. PB [i'dadZi]). A pronúncia [i] permanece inalterada no português
brasileiro também na afixação do morfema de plural (noites [‘noitSis]).
PB PE
i u ° u
° ö
[ä] ä
a °
Vogais orais finais: PB — PE
Regionalmente, existem, para os /e/, /o/ finais em português brasileiro,
as variantes [-e], [-o]. Ocorrem preponderantemente em áreas rurais
de São Paulo e do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul). No Rio Grande do Sul, as variantes [-e], [-o] aparecem na
região de fronteira com Uruguai, no Paraná, surgem no sul do
Estado.63 O Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil
confirma a pronúncia [-e] na palavra sete no sul do Paraná e no
interior de Santa Catarina, mas, no Rio Grande do Sul, aparece quase
unicamente no norte do Estado (ALERS, mapa 31).
O /a/ final permanece no português brasileiro preponderantemente
inalterado ([-a]). A descrição de Teyssier aponta para uma leve
modificação na pronúncia:

63
Brasil meridional: cf. Caruso (1989); São Paulo: cf. Amaral (1982: 48),
Ada N. Rodrigues (1974: 186ss.); Paraná: cf. ALPar (mapas 184, 188); Rio
Grande do Sul: cf. Bisol (1991: 121-123).
55
“Au Brésil la voyelle écrite -a, en position atone finale, est un [a]
ouvert de timbre presque identique au [a] tonique de chá, caso et
paro (cf. 3.3). Il est seulement plus bref et légèrement plus fermé”
(1976: 20).
A transcrição geral [-ö] utilizada por Keller (1994) no Pequeno
Dicionário Português-Alemão é, contudo, errônea, visto que corres-
ponde à realização da vogal central média em português europeu (<e>
final). Deve-se também recusar o símbolo [-ʌ] empregado de modo
geral por Giangola (2001: 19), que utiliza no lugar de [-ä]. Parkinson
(1990) e Mateus/Andrade transcrevem o /a/ final, em português
brasileiro, sistematicamente com [-ä], o que corresponde à vogal
central média baixa reduzida no português europeu (mesa [‘mezä]).
Como representação geral, essa notação para o português brasileiro,
contudo, não é adequada. De fato, pode-se distinguir entre o /a/ final
descrito por Teyssier e uma nova qualidade da vogal, que se aproxima
do português europeu [-ä] e que se ouve hoje em dia cada vez mais
freqüentemente. Trata-se de uma leve centralização e de um fecha-
mento do /a/ final. Pagliuchi da Silveira tenta fazer uma classificação
regional, utilizando, a bem entender, o símbolo “[a]” no lugar de [-ä]:
“O fonema /a/, ainda pode ser realizado, em certas regiões
brasileiras, por [a], isto é, pela redução vocálica quando ocorre, em
posição átona final; [...] apenas os falantes de determinadas re-
giões, como por exemplo, em São Paulo, e no Rio, realizam /a/ por
[a], quando estiver em posição átona final” (1986: 78).
O fenômeno deveria ser mais bem pesquisado no português brasileiro
no nível nacional e individual. O Atlas Lingüístico-Etnográfico da
Região Sul do Brasil (ALERS), por exemplo, não dedica ao /a/ final
nenhum mapa próprio. Contudo, entende-se, pela leitura dos registros
que contém, que a realização do [-ä] é bastante difundida em todos os
três estados do Sul.64 O Atlas Lingüístico da Paraíba (ALP) publicado
em 1984, em contrapartida, não propõe qualquer notação para o [-ä].
Se consultamos o Atlas Lingüístico Sonoro do Pará (ALiSPA) de
2004, encontramos na representação escrita preponderantemente um
[-ä]. Ouvindo os registros, no entanto, evidencia-se que, em muitos
casos, (p. ex., no mapa casa de Belém) não se trata de um [-ä], ao
menos não do som claramente mais fechado do português europeu.

64
Cf. ALERS (pp. 60, 74, 106, 128, 140, 142, 144, 180).
56
Trata-se antes de um /-a/ algo mais curto por causa da sua posição
final átona, assim como foi descrito por Teyssier (1976: 20). É preciso
mais clareza no que se refere à real abertura do /a/ final em português
brasileiro. Em todo caso, seria inadequado utilizar um símbolo
diferente de [-a] para marcar a posição final átona, sem que exista
uma mudança evidente na qualidade da vogal.
Com relação à africativização do /t/ e do /d/ diante de [i] (noite
[‘noitSi]), a presença da pré-palatal (cf. 3.1.2.2) motiva às vezes a
queda do [-i] final (noite > [‘noitS], cidade > [si‘dadZ]).

3.1.1.5 Ditongos orais


Diferenças entre o português europeu e o brasileiro na realização dos
ditongos se encontram preponderantemente nos ditongos
decrescentes. No padrão europeu, o <ei> pronuncia-se [äì], sem
distinguir-se de <éi> (peito ['päìtu]). O português brasileiro realiza-o
como [eì] e conserva, assim, a distinção entre [eì] e [(ì] (PB seis
['seìs] vs. papéis [pa'p(ìs]). Além disso, [eì] apresenta uma forte
tendência à monotongação (primeiro [pri'meìru] > [pri'meru]). Ao
contrário da representação de Teyssier, essa monotongação em
português brasileiro é largamente difundida e torna [eì] e [e]
condicionalmente variantes livres.65 Excetuam-se da monotongação as
tônicas em posição final (lei [leì], amei [a'meì]), em posição diante de
vogal (passeio [pa'seju]) e antes de /t/ (jeito [‘Zeìtu]). Antes de
sibilantes pré-palatais [S Z] e /r/ (-eiro, -eira), o ditongo, no português
brasileiro, é preferentemente monotongado (peixe ['peSi], beijo [beZu],
mangueira [mÄ'gera]). Além disso, há variações diatópicas. Em
posição pretônica, a pronúncia seria mais provavelmente
monotongada no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Nordeste
(queimar [ke'max]), mas muito menos em São Paulo.
Também, para [aì] há, no português brasileiro, uma tendência para
a monotongação antes da sibilante pré-palatal [S] (baixo [baSu], caixa
[kaSa]), que é bastante difundida para baixo. O Atlas Lingüístico do
Paraná, com respeito à realização do <ai> e do <ei>, anota, para
baixeiro, exclusivamente [ba'Seru], [ba'Sero] (ALPar, cf. mapa 117).
Devido à vocalização do [L] pré-consonantal e final (cf. 3.1.2.4),
novos ditongos foram formados no português brasileiro (balde [aù],
65
Teyssier (1976: 30): “Dans un registre populaire et relâché il peut
arriver au Brésil que ei soit réduit à [e]”.
57
delgado [eù], mel [(ù], folga [)ù], bolso [où],66 Brasil [iù], sul [suù]),
que, em português, na sua maioria, já haviam surgido em outras
combinações (pau, meu, céu, viu) e regionalmente. Os ditongos [)ù] e
[uù] não pertencem, contudo, ao inventário do português europeu.
PB PE
iù uì uù iù uì °
eù eì oì où eù *eì oì *où
(ù (ì ° )ì )ù (ù *(ì äì )ì °
aì aù aì aù
Ditongos decrescentes: PB —PB (variantes regionais marcadas com *)
O ditongo [où] existe no português brasileiro, além disso, como um
desenvolvimento do lat. <au> e aparece sem orientação regional
primária como variante livre de [o]. Surge, na posição tônica, na
terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo da
primeira conjugação (amou [a'moù], [a'mo]), bem como em dou,
estou, sou, vou. Essa pronúncia pode ser, também, em parte, associada
à ênfase. Muito mais difundida é, no entanto, a forma monotongada
[o]. Em vez da variação no português europeu entre [o] e [oì] (touro,
toiro), existe, nesse contexto, em português brasileiro, uma única
forma, preponderantemente com [o] (PE caloiro, calouro vs. PB
calouro). Também na conjugação do verbo ouvir, ocorrem no
português brasileiro somente formas com ou-. O ditongo oral [äì]
amplamente difundido no português europeu, surge regionalmente no
português brasileiro antes de nasal (plaina ['pläìna]), não incluindo,
porém, o Norte e o Nordeste do país ('plaìna]) (cf. Giangola 2001:
108; Ferreira Netto 2001: 158).
O ditongo em oito, dezoito é fechado no português brasileiro (PE
[)ìtu] vs. PB [oìtu]). A palavra quatorze (PE catorze [ka']) é realizada
como [kwa'] ou [ka'] no português brasileiro. Com os adjetivos
terminados em -el, deve-se observar que o ditongo final átono, no
português brasileiro, é pronunciado com um [e] fechado (amável, PB
[a’maveù] vs. PE [ä’mav(L]).
Com relação aos ditongos crescentes, há uma diferença entre o
português europeu e o brasileiro, na medida em que o português

66
Álvez/Vinagre Mendes (1983: 131) afirmam que, na língua popular
brasileira, o ditongo [où] (< -olC-) pode ser monotongado, numa outra trans-
formação (bolso, PB [‘boùsu]) > [‘bosu]).
58
brasileiro tende a variar o on-glide consonantal sobretudo na posição
tônica e pretônica (cf. Said Ali 1969: 24, Giangola 2001: 27-41).
Dessa forma, ocorre, em parte, a formação de hiatos no português
brasileiro (viajar [vi.a.‘Zax]). Giangola (2001: 40) mostra, porém, que
esse desenvolvimento não é característico de São Paulo e do Sul do
Brasil.

3.1.1.6 Vogais e ditongos nasais


Contrariamente à norma européia, no português brasileiro, as vogais
tônicas tendem a ser assimiladas regressivamente em sílaba aberta por
meio de uma nasal ([m n ñ]) da sílaba seguinte (cama, PE [‘kä.mä]
vs. PB [‘kÄ.ma], temo, PE [‘te.mu] vs. PB [‘tE.mu]). Essa nasalização
heterossilábica varia idioletalmente (cf. M. Azevedo 1981: 24) e é
difundida sobretudo no Nordeste brasileiro. Em posição pretônica, ela
não ocorre, via de regra (tomado, PB [to‘madu]).67 Outras
nasalizações estão documentadas. No dialeto caipira (cf. 3.1.2.3),
encontram-se una [Ua], luna [lUa]; cf. Amaral 1982, s.v.). Também o
Atlas Lingüístico do Paraná atesta a forma [lUa] (ALPar, mapa 130).
PB PE
I UÌ U I UÌ U
E EÌ OÌ O E ° OÌ O
Ä Ä
ÄÌ ÄÙ ÄÌ ÄÙ
Vogais e ditongos nasais: PB — PE
Em ditongos nasais, existe, como na oposição do PE [äì] e do PB [eì],
um contraste entre [ÄÌ] no padrão europeu e PB [EÌ] (bem, PE [bÄÌ] vs.
PB [bEÌ]). No português brasileiro, contudo, o ditongo [ÄÌ] ocorre em
relativamente poucas palavras como em mãe [mÄÌ] e seus derivados,
no plural do tipo pão/pães e em nomes próprios (p. ex., Guimarães).

67
Sobre as vogais nasais em português brasileiro, cf. Nobiling (1903-04),
Marques Abaurre (1996). — Em vogais nasais ocorre, em português, em
conexão com a articulação dental, labial, palatal ou velar, um off-glide
consonantal nasal (mundo ['mUndu], campo ['kÄmpu], enche ['EñSi], sangue
['sÄNgi]; cf. Callou/ Leite 1990: 86; Parkinson 1990: 134), que é transcrito de
forma variada (pente ['pEtSi], ['pEñtSi], ['pEntSi]; cf. Wetzels 1991: 81).
Renunciamos de maneira geral a sua notação. Com ditongos nasais, a
semivogal recebe uma nasalização enfraquecida (pão ['pÄÙ]).
59
Na posição de início de palavra, observa-se que [E-] (emC-, enC-)
sofre uma transformação para [I-] na linguagem coloquial brasileira
(engenheiro [IZe'ñeru] vs. PE [Äì-]). No Dicionário da Língua
Portuguesa (Nascentes 1961-67) é, aliás, a transcrição usual: embora
[I'b)ra] (s.v.).
Na língua popular brasileira, há, em posição final, uma tendência à
desnasalização (homem ['omEì] > ['omi]), que, no desenvolvimento do
paradigma verbal, pode conduzir a uma equivalência formal entre a
terceira pessoa do plural e a terceira pessoa do singular (eles falam
['falÄÙ] > ['falu], ['fala]) (cf. Votre 1981).
No que diz respeito aos verbos pôr, ter e vir, deve-se observar que
o português brasileiro, na terceira pessoa do plural, somente realiza
um ditongo nasal, ao contrário das formas dissílabas no português
europeu (põem, têm, vêm, PE [põjÄÌ], [tÄjÄÌ], [vÄjÄÌ] vs. PB [põÌ],
[tEÌ], [vEÌ]).
Quanto às vogais nasais, observa-se no português brasileiro, assim
como nas vogais orais, às vezes, a formação de uma semivogal
epentética (cf. 3.1.1.7).

3.1.1.7 Vogais epentéticas


No português brasileiro, a formação de vogais epentéticas é
largamente difundida.68 Uma característica marcante do português
brasileiro é o fato de um /s/ (-'Vs#) atuar no sentido de acrescentar um
[ì] após vogais oxítonas e em palavras monossílabas (paz, PE [paS] vs.
PB [‘paìs]; vez [‘veìs], dez [‘d(ìs], voz [‘v)ìs], cruz [‘kruìs]) (cf. Rein-
hardt 1970). Dessa forma, no português brasileiro mas e mais, bem
como alemães e alemãs [ale'mÄìs] podem tornar-se homófonas. Este
desenvolvimento ocorre em todas as realizações alofônicas de /s/ e
não é, como afirma Teyssier (1984: 82), limitado ao [-S] do Rio de
Janeiro. Dado que a vogal precedendo o -s do plural não costuma ser
acentuada, a formação do plural, via de regra, não é afetada pela
inserção da uma vogal epentética. Contudo ocorrem, também no
plural, formas com [ì]: (uns [‘Uìs]; os, as [uìs], [aìs]). Da mesma
forma, substantivos paroxítonos ou que no singular não terminem em
-s às vezes recebem, no plural, um [ì] análogo (ruas [‘huaìs],

68
Epêntese: acréscimo etimologicamente não-motivado de uma vogal ou
de uma consoante que eventualmente conduz à formação de ditongos.
60
mucamas [mu’kÄmaìs]). Esse desenvolvimento é especialmente
notável em certas canções da Música Popular Brasileira (MPB).
São Paulo, Mato Grosso e o Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul) tendem à repressão do [ì] epentético. Contudo, na
língua popular, ela aparece.69 O Atlas Lingüístico do Paraná anota,
para indez as variantes [I'deìs], [I'deì], [I'deìzi], [I'des], sendo que a
variante “culta” [I'des] somente é indicada duas vezes (ALPar, mapa
113). O Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil esboça
um quadro diferenciado da distribuição na região. Com relação ao /a/
de paz, a forma ditongada até predomina, no Paraná, com cerca de
60%; em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o valor cai para
respectivamente 40% e 18% (ALERS, mapa 01). Em cruz, entretanto,
as formas ditongadas estão de maneira geral em minoria (PR: 40%,
SC: 43%; RS: 10%; ALERS, mapa 02), apresentando-se o Rio Grande
do Sul como o território mais conservador nesse aspecto.70
Na língua coloquial brasileira, há uma tendência a dissolver, por
meio do acréscimo de um [i] epentético, clusters consonantais
formados de duas plosivas, de uma plosiva e uma fricativa ou de uma
plosiva e uma nasal. Trata-se de encontros situados preferentemente
no limite silábico de palavras de origem erudita ou semi-erudita
(adaptar [adapi'tar], advogado [adZivo’gadu], opcional [opisjo’naù],
admitir [adZimi'tix]), bem como de empréstimos (pneu [pi’neù]). O
Dicionário Larousse Português/Espanhol (Larousse 2006) chega a
indicar essa pronúncia: admitir [adZi'miti(x)]. Na pronúncia pausada,
a epêntese é atenuada, mas na língua popular o fenômeno ocorre
extensamente, aliás também no vocabulário do século XX (táxi →
['takis]). Além disso, a epêntese por meio de [u] é conhecida regional-
mente (flor → [fu'lo]).
Na língua coloquial brasileira, observa-se, nas sílabas tônicas, às
vezes a formação de um [a] epentético. O desenvolvimento de /i/ (vida

69
Cf. Elia: “Nas classes cultas, porém, a partir de São Paulo para o Sul, a
ditongação não se verifica” (1963: 242). Nos grandes centros urbanos como
São Paulo deve ser levado em conta uma heterogeneidade devida à migração.
70
As porcentagens são identificáveis, nos diagramas do ALERS, de forma
aproximativa. Formas ditongadas de três e dez atingem, no Paraná e em Santa
Catarina, entre 80% e 90%, também o Rio Grande do Sul indica para três
60% e dez fica abaixo dos 40% (ALERS, mapas 03, 04). Como se trata de
numerais (e não de substantivos, p. ex.), três e dez certamente desviam um
pouco.
61
→ [‘viada]) é particularmente notável. O glide se encontra também em
outras vogais orais como nas vogais nasais [I] e [E] (mesa [‘measa],
processo [pro's(asu], agora [a'g)ara], alô [a'loa], cinco [‘sIÄku],
somente [s)’mEÄtSi]). O fenômeno pode ser associado com uma atitude
do falante natural, engajada e até afetada. É difícil encontrá-lo na
literatura especializada. A epêntese de [ù] no hiato [oa] (boa [‘boa] >
[‘bowa]) tem um caráter popular.
O português brasileiro não tolera consoantes, em posição final,
sem uma vogal de apoio, exceto se desenvolvidas etimologicamente
(como é o caso de /r/, /s/). A paragoge aparece, via de regra, em
abreviaturas, empréstimos e nomes próprios (VARIG [‘varigi], tíquete
[‘tiketSi], Maluf [ma‘lufi]), mas também na preposição sob [‘sobi]
(antes de consoante). Com oxítonas, o fenômeno do português
brasileiro ocorre, além disso, regionalmente com /r/, /l/ finais e,
parcialmente, com /s/.71

3.1.2 Consonantismo
3.1.2.1 A realização de /s/
Uma diferença notável na pronúncia do português brasileiro em
relação ao europeu se pauta nas variantes do /s/ implosivo.72 No
português europeu, o /s/ antes de consoantes surdas, bem como no
final de palavras, realiza-se como a pré-palatal [S] (visto [‘viStu], dois
[‘doìS]), antes de consoantes sonoras, pronuncia-se como [Z] (mesmo
[‘meZmu], os bois [uZ_boìS]). Refere-se a essa pronúncia como chiado
ou chiamento. Em comparação com o português brasileiro, o
chiamento do português europeu chama a atenção sobretudo em final
de palavra. No sintagma, o /s/ antes de vogal tanto no português
europeu quanto no português brasileiro é pronunciado como [z]
alveolar (os amigos, PE [uz_ä'miγuS], PB [uz_a’migus]).
No português brasileiro, há preponderantemente uma distribuição
alofônica entre [s] e [z], sendo [s] realizado antes de consoantes
surdas e em final absoluto e [z] antes de consoantes sonoras assim

71
Trata-se de um apoio paragógico de [-e] (ou [-i]), sobretudo ante pausa,
no litoral do Paraná. Há testemunhos também para o Rio Grande do Sul,
Goiás e o Nordeste (cf. Furlan 1989: 126-130).
72
Implosivo: posição de fim de sílaba, quer antes de consoante, quer em
final de palavra.
62
como em sintagma, antecedido de vogal.73 Com isso, [z] assume, no
português brasileiro, as posições que [Z] ocupa no português europeu.
Essa distribuição do /s/ não abrange, contudo, a totalidade do
território lingüístico brasileiro. Uma conhecida exceção é a fala
carioca que, como o português europeu, possui um chiamento
generalizado, ou seja, tanto em situação pré-consonantal quanto em
final de palavra.
Entre as variedades do português brasileiro, o carioca assume uma
posição especial que se baseia no status do Rio de Janeiro, como ex-
capital brasileira. A pronúncia do Rio de Janeiro foi declarada, no
Primeiro Congresso da Língua Nacional Cantada (Congresso 1938)
como norma da linguagem teatral brasileira. Excetuou-se, no entanto,
o chiamento. No Primeiro Congresso Brasileiro da Língua Falada no
Teatro (Congresso 1958), as duas variedades de /s/ implosivo foram
aceitas, finalmente, para a linguagem teatral. Embora a capital tenha
sido substituída por Brasília, em 1960, a fala carioca ocupa uma
posição importante, tanto quanto antes, o que, sem dúvida, reflete no
tocante à importância da cidade como centro da produção televisiva e
filmográfica. Na pesquisa, a fala da antiga capital costumava ser
utilizada como variedade de contraste com o português europeu.74
Considerando uma análise equilibrada das variedades do português
brasileiro, isso, nem sempre, se apresenta como vantajoso.
Um quadro corrente da expansão do chiamento em português
brasileiro é expressa na apresentação sumária de Cunha e Lindley
Cintra, que, abstraindo-se do Rio de Janeiro, remete, sem precisar, a
alguns pontos do litoral:
“Como dissemos, na pronúncia normal de Portugal, do Rio de
Janeiro e de alguns pontos da costa do Brasil, a fricativa palatal
surda [S] aparece em formas como três e dez, e a sonora [Z] em
formas como desde e mesmo” (Cunha/Lindley Cintra 2001: 41,
n. 4).
Outras informações diatópicas concernentes a isso se encontram em
Bossier. Suas interessantes observações colocam em suspenso,

73
O encontro consonantal [Ss] que ocorre no português europeu (descer),
soa, no português brasileiro, como [s].
74
Cf. Autret da Silva (1944), J. L. de Castro (1958), Houaiss (1959),
Head (1964, 1967), Strodt López (1979).
63
todavia, a questão decisiva sobre a distribuição alofônica do
chiamento:
“Il y a pourtant d’autres zones qui «chuintent», quoiqu’on en parle
moins: une grande partie du Santa Catarina, dans l’extrême-sud, et
à l’opposé, dans l’extrême-nord, le Maranhão, même le Pará et
même ci et là l’Amazonas” (Bossier 1976: 14).
Com base em nosso conhecimento do português brasileiro, uma
classificação provisória do chiamento será subseqüentemente
efetuada, com referências à literatura especializada.
A região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná), São
Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e o extremo sul da Bahia
distinguem-se pela realização do /s/ preponderantemente como [s] e
[z]. Exceções, com chiamento generalizado, são a cidade portuária de
Santos (SP) (C. Cunha 1974: 335) e uma faixa litorânea de 20 a 30
quilômetros de largura, entre Piçarras e Garopaba (SC) onde, em
média, 78,7% de ocorrências dos /s/ implosivos se realizam como pré-
palatais (Furlan 1989: 103-105; mapa 5, p. 234). Conforme o Atlas
Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil, trata-se da área entre
Itajaí e Imbituba (ALERS, mapa 01-06, cf. cap. 9.3).
O espaço do Rio de Janeiro apresenta um chiamento generalizado.
Callou/Duarte Marques observaram, em média, a realização palatal
em 85,4% dos casos (1975: 134). Deve-se levar em conta que o
fenômeno de migração para centros como o Rio de Janeiro conduziu a
um considerável aumento populacional que introduziu elementos
lingüisticamente heterogêneos. Segundo C. Cunha (1974: 332), na
década de 70 do século XX, 41% da população do Rio de Janeiro
deviam ser considerados como migrantes. A despeito disso, uma
acomodação geral à palatalização é observável, visto que se trata de
uma variante que, no interior da cidade, está associada ao prestígio.
Nas classes mais letradas, a palatalização se verificou em 97,4% dos
casos (Callou/Duarte Marques 1975: 134). O chiamento não se
estendeu, contudo, para o Estado. Dessa forma, em Parati, 250 km ao
sul, só se realizam [s] e [z]. Conforme os resultados do Atlas Etnolin-
güístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, na região do
norte fluminense, prevalecem também as fricativas alveolares em
contraste com 27% das pré-palatais (Brandão 1998: 303).
Do sul da Bahia, passando por Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão até o Norte se
64
documenta uma situação lingüística diferenciada, na qual [s] e [S]
ocorrem preponderantemente como variantes livres na posição pré-
consonantal.75 Dessa forma, há uma tendência para [S] diante de
consoantes surdas (plosivas sordas, sobretudo [t], mais também [d],
[l], [n]). Não se pode predizer com certeza se um falante realizará
gostar como [g)s'tax] ou [g)S'tax]).
Em final de palavra, [-s] predomina, sendo que há uma tendência
para [-S] final em Alagoas e Pernambuco, sobretudo no Recife.76
Além disso, também em Salvador, a palatalização em posição final, às
vezes, chama a atenção (cf. muitos amigos [mUìtuz_a'miguS], os pés
[uS ‘p(ìs]). Antecipando consoantes sonoras, principalmente em
conexão com dois, duas, três, dez, realiza-se um [Z] em vez de [z]
(mesmo [meZmu], três minutos [treZ _mi'nutuS]). Critérios de fonética
sintática e o sentimento de eufonia do falante desempenham um papel
na distribuição dos alofones.
Observa-se um fato surpreendente no Norte do Brasil. Lá se
encontra um chiamento generalizado na cidade de Belém, capital do
Estado do Pará (com 1,25 milhões de habitantes), comparável ao do
Rio de Janeiro, que, até há pouco tempo, era não-documentado na
literatura especializada.77 O chiamento continua em Macapá (AP) e se
encontra também na cidade de Santarém (PA), situada no Amazonas
1000 km rio acima, a qual, em comparação com Belém, apresenta um
chiamento menos freqüente, mas predominante. Também em Parintins
(AM), mais a oeste, o /s/ implosivo se realiza preponderantemente
como [S]. Em Manaus (AM) que fica 750 km a oeste de Santarém,
encontra-se, finalmente uma situação lingüística que conhece
novamente as variantes [s] e [S] para o /s/ em posição pré-consonantal.
No centro-oeste brasileiro, há na Baixada Cuiabana (MT), segundo

75
A expansão do fenômeno pode ser traçada na literatura especializada e
nos atlas lingüísticos disponíveis (cf. 1.1.1). Sul: ALERS; Minas Gerais:
EALMG, Bahia: APFB; Sergipe: ALS I, ALS II; Alagoas, Pernambuco:
Marroquim (1934); Paraíba: ALP; Rio Grande do Norte: Maria Pessoa
(1986); Ceará: Seraine (1938), J. L. de Castro (1958); Pará: ALiSPA.
76
Para Alagoas e Pernambuco, cf. Marroquim (1934: 36), para Recife, cf.
Gueiros (1938: 561), Thomas (1973: 231).
77
Isso se refere à época quando foi publicado o nosso artigo sobre o
chiamento no Brasil (Noll 1996a). Hoje em dia, pode-se consultar o ALiSPA,
embora não existam trabalhos comparativos sobre o fenômeno no Brasil.
65
transcrições de Zilda Fernandes (1986) também um chiamento
generalizado.

• Belém
Parintins S -S
• •
• Manaus
Santarém
S/S -S S/S - S/-S S/S - S
S/S - S

S/S - S Recife •
• Porto Velho
S/S - S -S
S/S - S/-S

• Salvador
S/S - S
S -S -S/-S
• Cuiabá
S -S S -S

S -S

• Campo Grande S -S
S -S S -S Rio de Janeiro
Santos
S -S
• S -S
A realização do /s/ pré-consonantal S -S
e do /s/ final no português brasileiro • Piçarras
(variantes surdas) S -S S -S
• Garopaba
S -S

Portanto, no Brasil, sem levar em conta os territórios não-


documentados, pode-se descrever basicamente três constelações de
diferentes distribuições da realização do /s/ implosivo:78
(1) os alofones [s] e [z] nos estados meridionais (Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná), em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e
Goiás.
(2) uma região intermediária no Nordeste, entre a Bahia e o Maranhão,
que usa, com restrições, [s] e [S] como variantes livres em posição pré-
consonantal.
(3) regiões com chiamento mais ou menos generalizado: o litoral de
Santa Catarina, as cidades de Santos, Rio de Janeiro, Recife

78
Não dispomos de indicações precisas sobre as regiões mais ocidentais
(Acre, Roraima) e sobre o centro do Brasil (norte de Mato Grosso).
66
(tendencialmente), a Baixada Cuiabana e a região de Belém, com
continuação na área do Amazonas.
Visto que tanto São Paulo e o Sul do Brasil, como também a região
intermediária no Nordeste realizam predominantemente [s] em
posição final, é justificada a divisão de [s] : [z], tipicamente válida e
sistematizada para o português brasileiro.
Na língua popular brasileira, há ainda uma tendência para a queda
do /s/ em final de palavra (rapaz [ha'paì]), que nas regiões interioranas
é bastante difundida. Além disso, a língua popular sempre reduz a
indicação do plural apenas à primeira marca por meio da queda dos
demais /s/ (duas canetas [duas ka'neta]; cf. 3.2.1).

3.1.2.2 A palatalização de /t/, /d/


Uma das mais marcantes características do português brasileiro é a
palatalização do /t/ e do /d/ antes de [i], a qual, via de regra, conduz à
africativização (tio [‘tSiu], dia [‘dZia]) e, por conseguinte, sempre
forma, para o /t/ e o /d/, um alofone africado pré-palatal. Deve-se
levar em conta que o [i] no português brasileiro também ocorre em
final de palavra e gera uma africativização onde existe, no português
europeu, um [ö] átono (cidade, PE [si'ðaðö] vs. PB [si'dadZi]). Alem
disso, devem ser tomados em consideração a variação pretônica
(desculpa [dZis'kulpa]) e casos de epêntese (advogado [adZivo'gadu]).
A africativização ocorre, de fato, na maior parte do Brasil. A
literatura especializada oferece, para tanto, em parte, somente indica-
ções aproximativas. Rocha Lima (1992: 42) associa a africativização
ao “português do Rio de Janeiro e de extensas zonas do país”.
Teyssier a vincula de modo geral à região, ao falante e ao registro de
fala, excluindo o Sul do Brasil.79 Mateus/Andrade afirmavam erronea-
mente, até recentemente, que a africativização não ocorre em São
Paulo (2000: 16). Essas informações refletem o quanto a variação
lingüística no Brasil era desconhecida por muito tempo. Num artigo
detalhado sobre as condições da palatalização, baseado nos inquéritos
do projeto NURC, Abaurre/Gozze Pagotto observam uma polarização
entre Recife e Rio de Janeiro (2002: 600), mas eles não informam

79
Teyssier (1976: 34): “Cette palatalisation est plus ou moins accentuée
selon les régions, les locuteurs ou les registres. Seul le sud du pays y
échappe.”
67
sobre a extensão do fenômeno no Brasil. No caso de Recife, no
entanto, seria importante saber que a cidade se encontra dentro de
uma grande área que conserva [t], [d] antes de [i]. Álvez/Vinagre
Mendes situam o território sem africativização ([ti], [di]) mais
detalhadamente:
“C’est la prononciation normale de la région Nordeste (à l’ex-
ception du Ceará, et une partie de Bahia) et parfois l’extrême sud”
Álvez/Vinagre Mendes (1983: 148-149).
A africativização é, no português brasileiro, um fenômeno urbano, o
qual possui hoje o status de um padrão supra-regional. É amplamente
difundida, do Ceará em direção ao Norte e de Minas Gerais para o
Sul, com exclusão de uma parte do Nordeste. Na zona rural de São
Paulo e em áreas dos estados do Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul), pode inexistir. Isso ocorre, em especial, no sul do
Paraná (ALPar, mapa 189), na região litorânea de Santa Catarina (cf.
Furlan 1989a: 230-231) e na região de fronteira com o Uruguai (Bisol
1991: 121-123). A falta da africativização em partes da zona urbana
de São Paulo se deve à migração da população do interior.
Numa grande área da região do Nordeste, a africativização não é
típica. Essa área se estende, segundo nossas observações, partindo da
Bahia rural, passando por Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba até
Rio Grande do Norte (noite [‘noìti], cidade [si'dadi]). Os atlas
lingüísticos que estão disponíveis para esta região, a saber, Bahia
(APFB), Sergipe (ALS I e ALS II) e Paraíba (ALP), registram a
difusão da pronúncia [ti], [di].80 Contudo, o Atlas Prévio dos Falares
Baianos não compreende a complexidade lingüística da Bahia em
toda a sua extensão, visto que exclui as zonas urbanas e, desse modo,
dá margem a erros de interpretação. A manutenção de [ti], [di] se
encontra, em primeiro plano, nas zonas rurais. Em Ilhéus (BA), há
uma situação lingüística diferenciada, com variação idioletal, que
apresenta desde a ausência da africativização ([‘noìti], [si’dadi]) até
leves palatalizações ([‘noìtji], [si’dadji]) ou africativizações bem
marcadas ([‘noìtSi], [si’dadZi]). A africativização generalizada na
capital baiana, Salvador, não é registrada pelo APFB. No Estado mais
ao norte, Sergipe, encontra-se uma situação de variantes africadas e

80
Cf. APFB (mapas 81, 127), ALS (mapas 42, 51), ALP (mapas 32, 33).
68
não palatalizadas, semelhante a de Ilhéus, atestada no Atlas Lin-
güístico de Sergipe (cf. ALS, mapas 42, 51).

• Belém

• Manaus • Santarém tSi dZi


tSi dZi tSi dZi tSi dZi • Fortaleza
tSi dZi
Natal
Juazeiro •
ti di •
do Norte ti di
• Porto Velho ti di Recife •

tSi dZi ti di ti di

ti di • Salvador
tSi dZi tSi dZi
tSi dZi • Ilhéus

tSi dZi tSi dZi


tSi dZi
• Campo Grande
tSi dZi
tSi dZi
-te -de • São •
tSi dZi Paulo
Rio de Janeiro
-te -de
A africativização de
/t/ - /d/ no português brasileiro ti di

tSi dZi
-te • Porto
Alegre
-de

Uma ausência generalizada da africativização se observa no Estado


mais ao norte, Alagoas. Disso participa também a capital Maceió. O
mesmo vale para Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte com os
centros urbanos de Recife,81 João Pessoa e Natal. No Ceará, a situação
se modifica. Se, por um lado, o interior não palataliza, por exemplo,
em Juazeiro do Norte, a 500 km de Fortaleza, na zona fronteiriça de
Pernambuco e Paraíba, por outro, em Fortaleza, cidade litorânea ao

81
Oliveira informa sobre a pronúncia do Recife (PE): “A propósito,
quando chegámos do Recife, em 1940, pediu-nos uma professora carioca lhe
pronunciássemos muitas vêzes a palavra noite (i), porque achava delicioso
ouvir um nortista pronunciar o “t” sem aquêle som característico com que ela
mesma, sem poder corrigir-se, dizia: «Boa notitch» [sic; isto é, noitchi]”
(1957: 239). Thomas (1973: 231) aponta também nas “Notas sobre o falar do
Recife” a ausência de africativização no Recife.
69
norte do Estado, de novo aparece a africativização generalizada.82 A
africativização continua nos estados do Maranhão e do Pará e é
difundido também nas planícies do Amazonas (Santarém, Manaus).
Essas indicações podem somente servir como dados preliminares, que
devem ser completados por meio de pesquisas mais pormenorizadas
de geografia lingüística. Não obstante, a dimensão do território pôde
ser abarcada.
Silva Neto diz, em sua Introdução ao Estudo da Língua Portu-
guesa no Brasil, de uma palatalização (africativização) condicionada
por motivos sociolingüísticos.83 Isso se vê hoje, segundo nossas
observações, nos centros urbanos que integram uma população
imigrante proveniente do êxodo rural, seja das regiões interiores, no
caso de São Paulo, seja da região Nordeste (retirantes). Nesse
contexto, ocorre uma adaptação específica de registro à situação de
palatalização, visto que a pronúncia [ti], [di] no Rio de Janeiro, por
exemplo, é a associada tipicamente com os retirantes paraibanos.
Adant (1989) observou, com relação à migração de alagoanos em
Brasília que a africativização de /t/ e /d/ é a característica lingüística
preferida na adaptação.
Em oposição a isso, observa-se também, em casos especiais, no
Nordeste que os migrantes, por sua vez, se adaptam lingüisticamente,
em contato com a população. Pudemos comprovar isso com um
informante de cinqüenta anos proveniente do Rio Grande do Sul que,
devido aos seus anos de moradia em Natal (RN), aceitou as
características fonéticas da região (p. ex., a falta da africativização),
em sua profissão de taxista, contado certamente, para isso, o fator
integrativo e a facilidade de comunicação com os demais de seu meio.
Basicamente, ocorrem variações no grau de palatalização ([tS],
[dZ] – [tj], [dj]) que sofrem influências da fonética sintática. Dessa
forma, observa-se uma redução da africativização quando ocorre uma
seqüência de africadas sonoras, por exemplo, junto com a preposição
de ([di], [dji], [dZi]) (cf. de direita [dji dZi'reìta]). Abaurre/Gozze

82
McKinney Jeroslow confirma a palatalização em Quixadá (CE), que
fica entre Juazeiro do Norte e a costa, a 170 km de Fortaleza (1974: 25). O
Atlas Lingüístico do Estado do Ceará em preparação dará, além disso,
conclusões mais precisas sobre isso.
83
“A mudança de -e final para -i acarretou uma série de palatalizações
mais ou menos pronunciadas à proporção que se baixa ou se sobe na escala
social [...]” (Silva Neto 1986: 162).
70
Pegotto (2002b: 574) observam uma tendência geralmente maior de
africativização de /t/ diante de [i] do que diante de /d/ numa pesquisa
a respeito desses contextos fônicos em Salvador, Recife, São Paulo e
Porto Alegre. Não se pode depreender do artigo, porém, se isso está
associado à africativização parcialmente reduzida da freqüente
preposição de.
Uma outra forma de palatalização do /t/ na língua popular ocorre
no Nordeste do Brasil, no norte de Minas Gerais (EALMG, mapa 48)
e na região litorânea de Santa Catarina (Furlan 1989a: 231). Trata-se
da transformação de -it- > [tS] (muito [‘mUÌtSu], [‘mutSu]; oito ['oìtSu],
['otSu]).

3.1.2.3 A realização de /r/, /3/


O fonema /r/ é no português europeu, realizado antes de vogal e na
posição implosiva, como apicoalveolar (arame, artigo, mar [r]). Em
posição inicial, como após /l/, /s/, após vogal nasal e após prefixo
terminado em consoante sonora, /r/ aparece originalmente como
vibrante múltipla apicoalveolar (melro, desramar, enriquecer,
subrogar [3]).84 Esse alofone conhece uma variante livre, que,
irradiando a partir de Lisboa, com grande difusão, é realizado
sobretudo como vibrante uvular [R] e, em parte, como fricativa velar
[x] (Teyssier 1984: 65). Além disso, o português dispõe do fonema
/3/, que, na posição intervocálica, faz uma oposição a /r/ (caro vs.
carro) e, em distribuição regional análoga, conhece a variante livre
uvular [R].
No português brasileiro, o surgimento do [r] apicoalveolar se
limita principalmente à posição intervocálica. Isso se deve à velariza-
ção avançada que, em vastas porções do Brasil, não só se restringe ao
/r-/ inicial e ao fonema /3/ (> [x] > [h]), mas também se estende ao /r/
implosivo (forte ['f)xtSi], honrar [O'Vax], [O'xax]). Os territórios em
que isso ocorre abrangem a maior parte do Brasil entre o Rio de

84
Contrariamente ao Alfabeto Fonético Internacional (IPA), que, para a
transcrição do r simples e do múltiplo, se vale respectivamente dos símbolos
[ɾ] e [r], utilizamos, com vistas a uma melhor diferenciação visual, os
símbolos [r] e [3] da Romanística.
71
Janeiro e o sudeste de Minas Gerais até o Norte do país.85 A distinção
dos fonemas /r/ e /3/ se manifesta lá preponderantemente na oposição
de caro [r] : carro [h]. Portanto, admira que Callou/Leite/Moraes
considerem a posterioração do /r/ uma pronúncia regional (2002:
537). Isso é correto, dado que não abrange o Brasil inteiro. Contudo, o
flap alveolar [r] em posição pré-consonantal, típico da cidade de São
Paulo, por exemplo, não é majoritário no Brasil. Callou/Moraes/Leite,
apresentando um panorama geral da realização de /r/ em posição pré-
consonantal, baseado nos inquéritos do projeto NURC, obtiveram por
volta de 60% de realizações velares e aspiradas, enquanto a realização
alveolar atingiu cerca de 35% (2002: 466). Na transcrição do
português brasileiro, a velarização e a aspiração, via de regra, não são
levadas em consideração. Contudo, o novo Dicionário Larousse
Português/Espanhol (Larousse 2006), que parece apoiar-se na
pronúncia do Rio de Janeiro, indica essa pronúncia na forma seguinte:
aspirar [aSpi'ra(x)], divergir [dZivex'Zi(x)]. Em comparação com a
uvular sonora [R] do português europeu, que é realizada com fricção
mais intensa do que o /r/ francês,86 a pressão articulatória na formação
do /r/ velar [xC, -Vx#] do português brasileiro é bem mais fraca e se
reduz no início de palavras, na maior parte das vezes, para [h] (rio
['hiù]).
No interior de São Paulo e na região Sul (Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul), o /r/ velar não é difundido de maneira autóctone,
mas ocorre como variante em início de palavra. A variante aspirada
[h-] é lá quase inexistente. O Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região
Sul do Brasil (ALERS, mapa 44), ao menos, nunca o anota. Em
posição implosiva, domina o /r/ alveolar.

85
Por isso, adotamos o /r/ velar ([x]) para representar o /r/ pré-
consonantal nos exemplos gerais. Como, na posição final, alteram a fricativa,
a aspiração e a queda, convencionamos usar um sobrescrito (amar [a'max]).
86
A pronúncia de um falante europeu do português costuma chamar a
atenção dos brasileiros, entre outras coisas, pela realização intensa do [R]:
referem-se a ela como uma pronúncia que “puxa no r”.
72

• Belém

• Manaus • Santarém h- x
h- x • Fortaleza
h- x h- x
h- x Natal

• Porto Velho
h- x
Recife •

h- 4 h- x

h- x • Salvador

h- x

h- x
h- r/4 r/4 h- x
• Campo Grande
3-/x- r/4 r/4 h- x
• São Rio de Janeiro
Paulo
A realização do /r-/ inicial 3-/x- r/4
e do /r/ implosivo no
português brasileiro 3- r/4 x-

3-/r- r/4
• Porto
Alegre

Além da tendência ao enfraquecimento do /r-/ e do /3/ para [h], que


não costuma ocorrer em São Paulo (interior) e na região Sul, existem
variantes regionais e idioletais. O enfraquecimento desaparece na fala
enfática. Devido ao ensurdecimento do /r/ ([x], [h]), acaba não
ocorrendo, em português brasileiro, a assimilação regressiva sintag-
mática do -s do plural (PE [u(Z)_RiùS] vs. PB [us xiùs], [us hiùs]). Em
São Paulo (interior) e na região Sul há, para /r-/ e /3/, as variantes
[3 V x r] (cf. ALPar, mapas 99, 186).
Na posição final, /r/ sofre um enfraquecimento especial e tende a
cair na língua coloquial. Isso é notável sobretudo no infinitivo (amar
[a'max], [a'ma]). Na língua popular, esse /r/ final também não se
realiza nem quando seguido de vogal (quero saber uma coisa ['k(ru
sa'be uma 'koìza]) e pode, por assim dizer, ser considerado como
medidor da coloquialidade. Callou/Moraes/Leite (2002: 468) encon-
traram, comparando as cinco metrópoles brasileiras do projeto NURC,
a maior queda do /r/ com 62% em Salvador e 50% em Recife,
enquanto São Paulo atingia 49%, Rio de Janeiro, 47% e Porto Alegre,
73
37%. No total, obtiveram, em posição final, 50% de queda, por volta
de 10% de realizações velares e aspiradas respectivamente, 30% de
realizações alveolares e poucos casos de retroflexão
(Callou/Leite/Moraes 2002: 466). Além disso, observa-se uma
diferença nítida entre verbos e substantivos, os últimos mantendo o /r/
final em 83% das ocorrências, enquanto são apenas 35% em verbos
(2002: 479). No entanto, sufixando o morfema de plural, a realização
alveolar do /r/ é obrigatória também no português brasileiro (elevador
- elevadores [eleva‘dox] vs. [eleva‘doris]).
Para São Paulo e a região Sul, onde o /r/ velar e o aspirado
ocorrem relativamente pouco, a queda do /r/ apresenta uma mudança
mais radical do que no Nordeste, onde as formas intermediárias são
usuais. Na área do /r/ velarizado, o desaparecimento da consoante se
observa também em posição implosiva antes de fricativa surda (Már-
cia → [‘masja]). Em substantivos monossílabos, há basicamente a
tendência de evitar a queda do /r/.
No Sul do Brasil (no Paraná, muito menos em Santa Catarina e no
Rio Grande do Sul; cf. ALERS, mapa 49), em São Paulo, no sul de
Minas Gerais, no Mato Grosso do Sul, em Mato Grosso, em
Rondônia87 e em Goiás ocorre, sobretudo nas áreas rurais e em
posição implosiva, uma variante retroflexa do /r/, que é conhecida
como r-caipira.88
Trata-se de uma aproximante, que, como o /r/ em geral, tem uma
gama articulatória, isto é, varia em grau de retroflexão ([4 ɽ ɻ ]). Para
representá-la, adotamos o símbolo [4]. Ela se parece com o /r/ do
inglês americano e é bastante comum no interior de São Paulo (quarto
[‘kwa4tu]). Rector (1975: 20) limitava o aparecimento do r-caipira ao
sul do Estado de São Paulo, contudo, por meio da significativa
migração populacional para os centros urbanos, também é observável
uma ampliação do fenômeno para a cidade de São Paulo. Além da
posição implosiva, o r-caipira pode ocorrer na posição intervocálica e

87
Informação de Wolf Dietrich, Münster.
88
Sob o termo dialeto caipira entende-se, stricto sensu, um grupo de
dialetos rurais em São Paulo e no sul de Minas Gerais (cf. Amaral 1982). O
termo caipira descreve geralmente, no português brasileiro, uma pessoa do
interior, que se apresenta como provinciana (do ponto de vista da educação,
do vestuário, dos comportamentos). A respeito do r-caipira, cf. Head (1978),
(1987a).
74
em clusters.89 Dessa forma, o Atlas Lingüístico do Paraná nota, para
baixeiro, a variante [ba'Se4u] (ALPar, mapa 117). Além disso, o r-
caipira aparece de forma esporádica em outros estados brasileiros. Os
atlas da Bahia (APFB, cf. Head 1978), de Sergipe (ALS) e da Paraíba
(ALP) registram testemunhos análogos. Na zona rural do Ceará e do
Maranhão, o r-caipira também é ouvido esporadicamente.
A caracterização do /r/ se tem mostrado muito complexa, no
português brasileiro. São observáveis inúmeras variantes regionais e
idioletais ([X ʁ ʁ˔ V x h]; cf. Parkinson 1990: 138) que nosso mapa
não contempla em detalhe. Thomas se expressa sobre a difusão da
variação do /r/: “In the single town of Belo Horizonte, nine
pronunciations were heard [...]” (1966: 273). Milton Azevedo
observa, com respeito às variantes: “[...] some are found in free
variation in the same dialect or even in the speech of the same indi-
vidual” (1981: 37).
Também nos atlas lingüísticos brasileiros, existem problemas com
a notação do /r/. O /r/ pré-consonantal velarizado aparece, conforme a
descrição do Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFB) como fricativa
uvular surda → “[ρ]”; no Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS), numa
notação quase igual, como fricativa velar surda → “[p]” e no Esboço
de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais como “vibrante velar
sonora” → “[R]” (EALMG, 35). Como vibrante, um /r/ não pode,
contudo, ser velar. Trata-se ou de uma fricativa velar ou de uma
vibrante uvular.90 No que tange à sonorização registrada no EALMG,
surgem algumas dúvidas, uma vez que se deve partir do fato de que o
/r/ seja surdo diante de [k], por exemplo, em arco-íris, não devendo
ser, portanto, caracterizado como sonoro, como ocorre no EALMG
(mapa 2). A sonorização de um /r/ velar (antigamente múltiplo), em
português brasileiro, ocorre somente antecipado por uma nasal: tenro
['tEVu] ao lado de ['tE(ì)xu], ['tEhu]. Também é digno de nota, como já
dissemos, que a velar /r/ em início de palavra, no português brasileiro,
não sonoriza um -s plural que venha antes, como é o caso do
português europeu. Desse modo, o /r/ velarizado deveria ser
apresentado, em português brasileiro, predominantemente como uma

89
Ferreira Netto (2001: 100) cita praça ['p4asa] em Taubaté (SP).
90
Devido à difusão variacional do /r/, o termo uvular em parte é utilizado
para o /r/ velar e o uvular (Wollock 1982: 188).
75
fricativa velar surda [x], desde que não sofra qualquer
enfraquecimento para [h] (ou esteja após nasal).
A realização complexa do /r/ implosivo no Sul do Brasil se
expressa no mapa 187 do Atlas Lingüístico do Paraná (ALPar). No
norte, no centro-oeste e no leste do Estado predomina, em posição
implosiva, o r-caipira [4]; no extremo-oeste mantém-se como [r]; no
sudoeste, o /r/ implosivo é realizado até mesmo como múltiplo ([3]).
Nas demais regiões, as realizações se entrecruzam. Fora isso, deve-se
levar em conta o fato de que não se deduz do ALPar que, devido a
uma certa estigmatização do r-caipira ([4]), a variante [r] em São
Paulo e na região Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul)
valha como padrão regional, enquanto [x], em posição implosiva, é
típico do português brasileiro a partir do Rio de Janeiro e o sudeste de
Minas Gerais até o Norte do país. Ambas as realizações ocorrem em
certos falantes instruídos da região Sul (normal [nor’maù],
[nox’maù]), talvez como reflexo da interferência com uma norma
supra-regional. Além disso, o /r/ implosivo velar só aparece em
Florianópolis (SC) e na área continental situada em frente (cf.
ALERS, mapa 50).

3.1.2.4 A realização de /l/


No português europeu há, conforme apresentação generalizada da
realização de /l/, uma distribuição alofônica entre um [l] diante de
vogal (livro) e um [L] velarizado em posição plosiva (alto, mal [‘aLtu],
['maL]). Isso é uma idealização do sistema, pois /l/, no plano fonético,
também sofre uma velarização mais ou menos marcada diante de
vogais, sobretudo na vizinhança de um [a]. Portanto, a transcrição
adequada de fala, por exemplo, seria [faLä]. A distinção condicionada
posicionalmente em português europeu entre um [l] pré-vocálico e um
[L] implosivo encontra uma certa justificação, quando se leva em
conta a situação dos sons no português brasileiro, já que nele se
mantiveram [l] e [L] antes de vogal, ao passo que o /l/ implosivo
sofreu uma vocalização: ['aùtu], ['maù]. Dessa forma, no Brasil, mau e
mal são homófonos. A vocalização final persiste também antes de
vogal, nos sintagmas.91

91
Isso é, em parte, diferente da manutenção de /r/ diante de palavras
iniciadas com vogal (mar [-x] vs. mar aberto [-r_V]) (cf. 3.1.2.3).
76
Com respeito à difusão diatópica de [L > ù], a apresentação de
Teyssier, “Au Brésil le [L] vélaire est en voie de vocalisation [...]. On
entend un peu partout [maw] pour mal [...]” (1976: 38), necessita de
uma correção, visto que transmite a impressão de que se encontra em
meio a um processo de mudança lingüística. Na verdade, a vocali-
zação do /l/ implosivo impôs-se quase totalmente no Brasil:
“Ninguém duvida de que essa vocalização seja um fenômeno foné-
tico generalizado no Brasil” (Hoyos-Andrade 1986-87: 70).
Em algumas áreas conservadoras do Rio Grande do Sul, [L] alterna-se,
na posição implosiva, com [ù] e aparece também na forma não-
velarizada.92 Leite/Callou (2002: 47-48) informam que os falantes
masculinos em idade acima de 56 anos em Porto Alegre utilizam [L]
em mais de 90% dos casos, enquanto a maioria das mulheres
vocalizam o /l/ implosivo sem oscilações significativas nas faixas
etárias (60% a 70%). Conforme o Atlas Prévio dos Falares Baianos e
o Atlas Lingüístico de Sergipe, o /l/ velarizado aparece também em
áreas laterais de Sergipe e em vastas porções do interior da Bahia.
Além disso, encontra-se na região de Piracicaba (SP) e no interior do
Paraná (Mota 2006: 343, mapa, 344).
Pode-se dizer que a pronúncia vocalizada do /l/ implosivo no
português brasileiro hoje deve valer como padrão. A realização do [L]
aparece, contudo, em falantes cultos mais velhos às vezes na
pronúncia mais cuidada, visto que a vocalização outrora era tida como
incorreta, por causa de sua representação na língua escrita.
Na língua popular brasileira, surpreende a existência, às vezes, de
uma neutralização dos /r/ e /l/ pré-consonantais que se adaptam à
realização do /r/ (alto [axtu], ['artu], ['a3tu], ['a4tu]) (cf. ALPar, mapa
141, cf. 3.1.2.3). Além disso, a lateral se transforma em /r/ quando
antecedido de uma plosiva (problema [pro'brema], clima ['krima]).
Também na posição final, o /l/ alterna, na língua popular, ou com /r/
(cf. ALPar, mapa 139) ou cai, o que é típico especialmente do
Nordeste (cf. ALP, mapa 72).

3.1.2.5 A realização de /7/


Em português europeu, a lateral palatal /7/ é pronunciada, analoga-
mente à situação do padrão castelhano, de maneira dorsodental, com a
92
Cf. Álvez/Vinagre Mendes (1993: 96, 161), Quednau (1994).
77
língua encostada nos incisivos inferiores. No português brasileiro, /7/
é realizado predominantemente como dorsopalatal, como é o caso do
italiano. Segundo o mapa 144 do Atlas Lingüístico do Paraná
(ALPar), a realização de /7/ no português brasileiro, às vezes, também
deve ser considerada bifonemática (folha ['folja]).
Na língua popular brasileira, ocorre uma desfonologização de /7/
(cf. Hoyos-Andrade 1986-87: 69), sendo que /7/, por um lado, se
confunde com /l/ e, por outro, com /j/. A variante deslateralizada [j],
predominantemente descrita na literatura especializada (mulher
[mu'j(]) tem conotações mais fortemente associadas à língua popular
do que [l] e pode ser vista como paralela ao yeísmo espanhol.93 A
variante despalatalizada [l] ([mu'l(]) coexiste com [j] e é, antes de
tudo, típica do Nordeste brasileiro. O dativo da terceira pessoa do
singular lhe [li] generalizou o desenvolvimento [7] > [l] da língua
popular em amplas extensões do português brasileiro.

3.1.2.6 A realização das plosivas sonoras


No português europeu, as plosivas sonoras /b/, /d/, /g/ possuem uma
distribuição alofônica: a pronúncia plosiva [b], [d], [g] e a realização
fricativa na posição intervocálica [β], [ð], [γ], que é bastante nítida
para o /d/.94 O português brasileiro só conhece a realização plosiva
generalizada (saber, amado, amigo; PE [sä’βer], [ä‘maðu], [ä’miγu]
vs. PB [sa’bex], [a‘madu], [a’migu]).
Na língua popular brasileira, sobretudo no Nordeste, [b], [d]
desaparecem, às vezes, após [m n], devido a uma assimilação
progressiva (também [tA’mEÌ], quando [‘kwÄnu]). Esse fenômeno se
encontra sistematicamente no gerúndio (falando [fa‘lÄnu]). Fora isso,
são observáveis na língua popular numerosas palavras em que ocorre
a transformação [v] > [b] (betacismo) (vassoura [ba'sora]), que não é
vinculada a nenhum fator regional.95
93
O yeísmo (desfonologização de /7/ > /j/) ocorre sobretudo no sul da
Espanha, mas está hoje difundido nos centros urbanos setentrionais. É típico
de amplos territórios do espanhol americano (exceto, p. ex., na Bolívia e no
Paraguai).
94
No português europeu, uma sílaba terminada em /s/ tem as mesmas
pressuposições para a fricativização que uma terminada em vogal (Lisboa
[liZ’βoä]).
95
Cf. as informações regionais em Head (1987: 280); cf. Atlas Lingüístico
do Paraná (ALPar, mapa 134).
78
3.1.2.7 Panorama das consoantes do PB e do PE

bilabiais labio- dentais alveolares pré- palatais velares uvulares glotais


dentais palatais
Plosivas p t k
(sonoras) b d g
Fricativas f s S x h
(sonoras) ° v ° z Z V
Africadas tS
(sonoras) dZ
Nasais m n ñ N
Laterais l 7 *L
Vibrantes r
(múltiplas) *3
Aproximantes *4 j w
Inventário das consoantes do PB – variantes regionais marcadas com *

bilabiais labio- dentais alveolares pré- palatais velares uvulares glotais


dentais palatais

Plosivas p t k
(sonoras) b d g
Fricativas f s *$ S °
(sonoras) β v ð z *% Z γ
Africadas *tS
(sonoras) °
Nasais m n ñ N
Laterais l 7 L
Vibrantes r
(múltiplas) *3 R
Aproximantes ° j w
Inventário das consoantes do PE – variantes regionais marcadas com *
79
3.2 Morfossintaxe96
3.2.1 Determinação e substantivos
No tocante ao uso do artigo definido apenas existem, entre o
português europeu e o brasileiro, diferenças pequenas (cf. Woll 1982).
Em conexão com o pronome possessivo, o artigo no português
europeu é obrigatório (exceto em Vossa Excelência), com
denominações de parentesco é facultativo, se bem que, também nesse
caso, exista uma tendência para a colocação do artigo. O português
brasileiro favorece a omissão e evita o artigo basicamente antes de
designações de parentesco (cf. Thomas 1969, § 147). A. Brito (2001:
553) aponta para o fato de que os pronomes possessivos no português
europeu deveriam ser classificados como adjetivos, conforme o uso
do artigo, enquanto o português brasileiro se aproximaria de línguas,
nas quais valem como determinantes, como no inglês e francês.
Pesquisas atestam, no português brasileiro, uma grande gama de
variações com respeito ao uso do artigo com pronomes possessivos.
Silva/Callou (1996) afirmaram, avaliando o material do projeto
NURC (Norma Urbana Culta), um aumento no uso do artigo
associado com o grau de escolaridade (ensino básico 36% vs. ensino
secundário 49%). Sob uma perspectiva regional, as áreas meridionais
apresentam um maior percentual de formas articuladas do que as
setentrionais (Porto Alegre 81% vs. Recife 57%). Woll (1982: 76)
informa, num trabalho, que Jorge Amado em O País do Carnaval
(1932) associou os pronomes possessivos com o artigo definido em
88% dos casos, enquanto, em Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966),
eram somente ainda 2%. Isso não reflete, contudo, nenhum
desenvolvimento diacrônico, antes testemunha que Jorge Amado
evidentemente se libertara da norma escrita lusitana.
Os prenomes, que no português europeu falado, sempre aparecem
associados com o artigo, apresentam, no português brasileiro,
diferenças regionais. Leite/Callou (2002: 53) informam para Porto
Alegre 70% e para São Paulo até 87% de uso do artigo, enquanto o
uso em direção às áreas setentrionais, vai reduzindo de maneira
constante (Rio de Janeiro: 43%; Salvador: 32%; Recife 17%). O

96
Valiosa obra de referência, embora não na concepção contrastiva com o
português europeu, mostra-se, como sempre o The Syntax of Spoken Brazilian
Portuguese (Thomas 1969).
80
emprego do artigo definido no tratamento (PE o Pedro já comeu?) é,
no português brasileiro, desusado quanto a associação correspondente
com as designações de parentesco (PE o pai já comeu?).
Em poucos nomes de paises (África, Espanha, França, Inglaterra,
Itália), o português europeu registra um uso titubeante do artigo,
baseado no fato de ele ser sujeito/objeto (com o artigo) ou estar ligado
a preposição (sem artigo) (cf. Woll 1993). Nesses casos, o português
brasileiro emprega sempre o artigo definido (PE a França, em França
vs. PB a França, na França). Isso não concerne a casos como Cuba e
Portugal.
Em adjuntos adverbiais com todo, o português europeu emprega o
artigo definido, ao passo que o português brasileiro o omite (PE toda
a semana, todos os sábados vs. PB toda semana, todo sábado). Isso
vale também para outras expressões como PB (a) toda hora, a todo
instante, a todo momento. A expressão uma vez por outra aparece no
português brasileiro sem o artigo definido (PB vez por outra) (cf.
Móia/Alves 2004: 63-65).
No português brasileiro, os substantivos podem construir-se sem
artigo tanto no singular quanto no plural, na função de sujeito, quando
valem por uma classe (elefantes são inteligentes; cliente sempre tem
razão; cachorro não gosta de gato). No português europeu, isso
somente é possível por meio de alguma ampliação do sujeito plural
(PE *professores trabalham muito vs. professores de Coimbra
trabalham muito). No singular, contudo, não é possível (cf.
Müller/Oliveira 2004). O português brasileiro, em contrapartida,
amplia a construção sem artigo no singular, sobretudo na língua
falada, também com objetos indeterminados, os quais precisariam
estar, em português europeu, ou com o artigo indefinido ou no plural
(PB O que você fez ontem? Eu li revista feminina. Eu comprei sapato;
Müller/Oliveira 2004: 21).
Por meio da realização fonética curta da preposição para [pra],
formaram-se as formas coloquiais articuladas com os artigos: pro, pra
(pros, pras; prum, pruma), as quais também são empregadas na língua
escrita e literária brasileira (p. ex., em Jorge Amado) (cf. PE prò, prà,
pròs, pràs).
Se o artigo indefinido se encontra diante da preposição de, o
português brasileiro costuma evitar a crase comum do português
europeu dum, duma (PB de um [dZi U]). A língua escrita brasileira
81
desagrega às vezes também a contração numa (PE numa casa vs. PB
numa/em uma casa).
A formação do plural se restringe, na língua popular brasileira,
sobretudo à marcação da primeira posição no sintagma nominal (as
casa# branca#), que passa a valer como a mais marcada (cf. Souza
Campos/Rodrigues 2002: 127). Trata-se, com isso, de um fenômeno
morfológico que não tem ligação com a também popular queda
esporádica do /s/ final (cf. 3.1.2.1). Essa formação defectiva de plural
não é, no português brasileiro, aliás, restrita à língua popular.
Também na língua coloquial, é possível, numa atmosfera mais
amigável, entre falantes cultos, verificar violações análogas contra a
norma culta (cf. Azevedo 1984).

3.2.2 Pronomes e formas de tratamento


No uso dos pronomes relativos há, tanto no português europeu quanto
no brasileiro, uma tendência proveniente da língua falada, de ampliar
o uso de que por meio da supressão de relações oblíquas e
preposicionais (cujo, dos quais, de que: p. ex., a comida que as
crianças gostam). Com isso, diferenciamos a exclusiva posição de que
como variante cortadora (o menino que o pai viajava muito) e a
retomada da relação por meio do pronome lembrete (o menino que o
pai dele viajava muito) (cf. Reche Corrêa 2001: 615). Conforme as
pesquisas de Reche Corrêa (2001: 625), a relativa cortadora no
português brasileiro também é bastante difundida na fala de pessoas
de formação universitária, ao passo que o desenvolvimento no
português europeu está apenas no início. As variantes com retomada
(com pronome lembrete), também difundidas entre falantes com
menor grau de escolaridade, contudo, aparece no português europeu
até mesmo em artigos de jornais.
Com relação aos pronomes demonstrativos, o português brasileiro
reduziu o sistema de três formas (este – esse – aquele) e tende a uma
limitação de diferenciação binária entre esse (este) – aquele. Por
conseguinte, este e esse são usados de maneira indiferenciada na
língua escrita brasileira (cf. Perini 2002: 116-117, 350-351). Na
linguagem coloquial, contudo, este quase não ocorre. Nesse contexto,
deve-se atentar para o fato de que as relações temporais anafóricas no
português brasileiro respectivamente se deslocam. Desse modo, esse
ano deve ser entendido, em todo caso, como dêitico com relação ao
82
ano atual, enquanto para a forma anafórica com referência ao passado
se diz naquele ano. Isso é confirmado por Alves (2004: 79) em
pesquisas com corpora (NILC).97 Dessa forma, naquele ano no
português brasileiro, em 100 ocorrências, teve função anafórica em 95
casos, mas esse ano era dêitico em 96 dos 97 exemplos. O corpus
testemunha também a grande influência da escrita, pois este ano
ocorreu em 3.504 casos, embora, no uso oral, quase não aparece.
O demonstrativo isso substitui também os pronomes objetos o e a,
em parte, no português brasileiro, os quais são evitados na língua
falada (PB me dá isso/me dá vs. PE dá-mo). Também na língua
falada, algumas formas contratas aparecem em conexão com para,
assim como no artigo definido (p. ex., presse, praquele).
Com relação aos pronomes possessivos, quase não existem
diferenças substanciais entre o português europeu e o brasileiro, afora
as particularidades no uso do artigo (cf. 3.2.1). Houve uma
controvérsia em que se discutia se o português brasileiro estava
substituindo, na terceira pessoa, a forma seu por dele, pois, pelo uso
de você na fala, havia uma sobreposição das formas de segunda e de
terceira pessoa. A substituição de seu não pôde ser confirmada, antes
pelo contrário, existe uma complementaridade de formas (cf. A.
Castro 2001: 606, A. Brito 2001: 572). Contudo, deve-se levar em
conta que o português brasileiro, na língua falada, associa seu com
você em maior medida do que o português europeu e, com isso, busca
evitar confusões com uma terceira pessoa por meio do uso de
dele/dela. O possessivo vosso, que se associa no português europeu a
vocês (PE os senhores – seus), é obsoleto no Brasil e substituído por
seu/de vocês.
Os pronomes sujeitos não contêm no português brasileiro,
primariamente, nenhuma ênfase e são usados, sobretudo na língua
falada, em quantidade bastante maior do que no português europeu.
Isso também ocorre com sujeitos inanimados. Por isso, reduz-se, no
português brasileiro, de um modo geral, o número de sujeitos nulos
(cf. Azambuja Lira 1996). Duarte (1993: 122) observou que essa
redução de sujeitos nulos ocorre sobretudo na primeira e na segunda
pessoa (cf. também Barbosa/Duarte/Kato 2005). Com isso, atenta-se
para o fato de que a posição do pronome sujeito no português
brasileiro também serve à segurança comunicativa, uma vez que evita

97
Cf. www.linguateca.pt/ACDC/; 06/06/07.
83
confusões entre a segunda e a terceira pessoa do singular (já falou
com ela? ® você já falou com ela? ® ele já falou com ela? ® pop.
tu já falou com ela?).
O português brasileiro, contudo, está ainda longe de uma
generalização do pronome sujeito, tal como ocorreu como no francês,
como mostra o seguinte trecho de uma entrevista:
“Eu nunca disse isso. O que declarei certa vez é que na minha
vida, cheia de compromissos e viagens, não tinha lugar para o
trabalho. Penei com termos pejorativos horrorosos, com grã-fina,
dondoca e agora essa tragédia de ser chamada de socialite. Nem
sei o que é isso. Sempre trabalhei como uma negra, grátis, sem ter
férias nem salário. Você acha que ser dona de casa é pouco?”
(Veja, 19/6/1996: 10).
Chama a atenção o fato de que o pronome sujeito eu, nesse trecho
oral, seja utilizado introdutoriamente no sentido de uma afirmação
pessoal, garantindo a continuidade do discurso sem apoio pronominal
até a falante dirigir a palavra a sua interlocutora. Silva/Coe-
lho/Menuzzi (2001: 751) apontam para o fato de o português
brasileiro, na língua culta escrita, tender para o não-preenchimento da
posição pronominal do sujeito.
No tratamento familiar,98 o pronome de segunda pessoa do
singular tu é, popularmente, bastante difundido no Brasil e não se
limita de modo algum às ocorrências “dans l’extrême sud et dans
l’extrême nord”, como quer Teyssier (1984: 189). Tu é corrente no
Norte, Nordeste e Sul do Brasil e sobrepõe-se formalmente com a
terceira pessoa do singular (tu falaste, você falou, tu falou). Como
pronome sujeito tu é menos usado em parte do Sudeste (Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Espírito Santo), embora apareça muito no ambiente
das favelas e na gíria dos malandros no Rio de Janeiro (e em São
Paulo).
A forma mais neutra no tratamento familiar, no português
brasileiro, é você (cf. M. Azevedo 1981). A ligação com a preposição
com gera a locução com você e não consigo, como ocorre no
português europeu. Em contaste com o português europeu, não existe
nenhuma gradação entre tu, você e o senhor/a senhora, mas uma

98
Sobre a forma de tratamento no português, existe um extenso trabalho
de Wilhelm (1979) que, em relação ao português brasileiro, deve limitar-se
contudo ao uso na literatura. Para o português brasileiro, cf. Head (1976).
84
oposição entre tu, você vs. o senhor/a senhora. Nas regiões do Brasil,
onde tu e você convivem, não existe, no tratamento de uma pessoa,
nenhum uso fixo com relação a um dos pronomes sujeito.99 Se, por
um lado, há uma gradação na intimidade (você sabe > tu sabes / tu
sabe), por outro, a troca entre tu e você também pode ocorrer no
interior de um diálogo e, conforme o caso, expressa-se a proximidade
ou a distância momentânea. Finalmente, ambas as formas estão
associadas ao plural comum vocês. O senhor, a senhora limitam-se no
português brasileiro a um tratamento mais respeitoso. Com isso, é
visível uma clara tendência para a ampliação do uso de você no Brasil.
Você é, em convergência com o português europeu, também o
pronome da propaganda, oferecendo, assim, a vantagem de um
tratamento neutro do ponto de vista do sexo do interlocutor. Os pais
são chamados no português brasileiro mamãe (PE mamã) e papai (PE
papá), mas não como formas de tratamento direto. A conexão do
prenome com o artigo definido no discurso colegial indireto (o Pedro
já comeu?) não é usado no português brasileiro. Isso vale também
para a menina como tratamento para mulheres solteiras (PB moça,
senhorita).
Os pronomes objetos diretos átonos de terceira pessoa do singular
(o, a) são evitados na língua coloquial brasileira e, com relação a
pessoas, são preferentemente substituídos pelas formas tônicas (eu
quero ver ele, ela). Isso também vale para o tratamento com você (eu
quero ver você vs. quero vê-lo). Na língua popular, também pode
ocorrer o mesmo com a primeira pessoa do singular (PB deixa eu sair
/ me deixa sair vs. PE deixe-me sair). Para evitar os pronomes objetos
diretos átonos da terceira pessoa, no lugar de você, freqüentemente o
te proclítico assume a função de pronome objeto (PB quero te ver /
quero ver você vs. PE quero ver-te). Desse modo, te é usado de
maneira completamente independente de tu:
“Às vezes o ladrão vai te assaltar, você nem sequer reage, mas há
alguma confusão e ele mete um tiro e te mata” (Veja, 19/10/1994:
7).
Às vezes, o lhe dativo também funciona como pronome objeto da
segunda e da terceira pessoa do singular no acusativo (PB quero lhe

99
Cf. Nascentes (1949-50: 68): “Na língua do Brasil dá-se frequente-
mente a mistura de tratamentos”.
85
ver ‘quero te ver, quero ver você’). Esse uso é bastante popular. A
seguinte citação, contudo, provém da propaganda de uma empresa no
ramo das telecomunicações: “Quando você for a Telebahia, ela já vai
estar lhe esperando”.
A tendência a evitar os pronomes objetos átonos o, a conduz, no
português brasileiro, sobretudo, à elipse dos pronomes objetos diretos
e indiretos da terceira pessoa (objeto nulo). Com relação ao português
brasileiro, Omena (1981: 349-350) afirma, com base em uma investi-
gação da língua popular do Rio de Janeiro, que 76% dos casos elidem
o pronome objeto. Nos outros casos, eles são substituídos pelas
formas tônicas ele, ela.100 Isso não é possível no português europeu.
Quanto se trata de objetos inanimados, a substituição por meio dos
pronomes sujeito ele, ela é sentida, no português brasileiro, como
ênfase inapropriada e, por conseguinte, freqüentemente evitada:
“Os policiais pegam o dinheiro e colocam [colocam-no] no bolso”
(Veja, 19/10/1994: 7-8).
Num contraste da versão brasileira do romance O Alquimista de Paulo
Coelho e a tradução portuguesa, observa-se que todos os objetos nulos
do original brasileiro foram substituídos por clíticos no texto lusitano
(Kato/Raposo 2001: 677). No português europeu, o objeto nulo pode
somente ocorrer na oração principal em conexão com uma
topicalização, por meio de um deslocamento à esquerda (este livro, a
editora pôs a venda no ano passado) ou quando houver a relação
com um substantivo inanimado prévio (consertamos o carro antes de
pôr a venda) (Kato/Raposo 2001: 682). Com relação a pessoas, o
pronome tônico do objeto pode ser acrescentado, no português
europeu, por ênfase (vi-o a ele), ou estar em ligação com só (só a ele
obedeço).
Imperativos são formados, no português brasileiro, também, por
meio da elisão dos pronomes objetos de coisas (PE fá-lo vs. PB faz)
ou construídos com um demonstrativo (PB faz isso).101 Quando há
dois objetos pronominais, o acusativo átono não se manifesta (PE dá-
mo vs. PB me dá, me dá isso).

100
Os valores, contudo, não fazem diferença entre pessoas e coisas.
101
A negação, por conseguinte, se diz não faz isso, ao passo que, no
português europeu, há a opção entre a forma tônica e a átona (não faças isso,
não o faças).
86
A primeira pessoa do plural nós alterna em grande parte na língua
coloquial brasileira com a gente (cf. Albán et al. 1986, Menuzzi
2000). O fato ocorre também no português europeu, contudo, de
maneira mais limitada. Leite/Callou (2002: 54) informam, no uso das
formas no Rio de Janeiro, uma relação de 59% (a gente) para 41%,
enquanto em Recife, Salvador e São Paulo, nós ainda prepondera com
mais de 60% e em Porto Alegre, até com 72%. Evidentemente a gente
é mais freqüentemente usado em conexão com a preposição com do
que conosco. A substituição progressiva da primeira pessoa do plural
por a gente (ou, p. ex., o pessoal), que, na linguagem dos jovens,
novamente atinge uma freqüência mais alta, conduz, na língua popular
brasileira, com relação a nós (analogamente a tu/você), a uma
interferência com a forma verbal da terceira pessoa do singular (a
gente fala, nós fala) (cf. Fernandes/Gorsky 1986). Contudo, é mais
usual em Portugal do que no Brasil, a conexão de a gente com o verbo
da primeira pessoa do plural (a gente fomos para casa). Ambas as
variedades concordam com o fato de que apenas pode ocorrer a forma
se como reflexivo de a gente, quando o verbo aparece na terceira
pessoa do singular. Com relação à concordância com adjetivos e
particípios, a gente tende, no português brasileiro, ao masculino
singular, embora, dependendo do referente, o feminino também seja
possível (a gente estava cansado/cansada). No português europeu, a
referência também pode ocorrer no plural, havendo uma preferência
para o masculino no plural (Costa/Moura/Pereira 2001: 640, 646-647,
650).
Coloquialmente, com construções infinitivas com sujeitos
distintos, o português brasileiro, ao contrário do português europeu,
costuma usar o pronome objeto tônico (PE deu-me dinheiro para eu
comprar roupa vs. PB ele me deu dinheiro pra mim comprar roupa).
O fenômeno do português brasileiro mais chamativo no âmbito da
sintaxe e mais discutível com referência ao distanciamento da norma
européia é a posição proclítica dos pronomes objetos átonos. O
português europeu diferencia basicamente as orações principais
afirmativas, com ênclise, das orações subordinadas e das orações
negativas, com próclise. Além disso, a posição proclítica na oração
principal do português europeu está associada, por um lado, a
indefinidos introdutores da oração (algo, alguém, algum, cada,
mesmo, muito, pouco, qualquer, tanto, todo, tudo, vários), bem como
a advérbios (ainda, bem, já, mal, sempre, só, talvez, também). Por
87
otro lado, ocorre de maneira variável, quando, na oração principal, o
acento se desloca para a parte introdutória da oração.102
No português brasileiro, a próclise na língua falada se generalizou
da forma mais ampla possível. Isso diz respeito também ao imperativo
e ao gerúndio. Exceções de posição enclítica ocorrem apenas em
contextos oficiais (p. ex., em conferências) e, de preferência, quando
o meio escrito interfere (p. ex., por meio de um manuscrito em
questão). Além disso, existem no Brasil, na língua falada, poucas
formas enclíticas cristalizadas (cf. Schei 2003a: 64-66). Ocorrem
preferentemente em conexões com o reflexivo se (acabou-se ou
acabou), mas também no verbo ir-se (vou-me embora vs. vamos
embora). Alguns verbos reflexivos suprimem o pronome, no
português brasileiro (PE/PB formal sente-se vs. PB informal senta). A
esses pertencem também casar, deitar, levantar, sentir, vestir (cf.
Thomas 1969, §§ 319ss.).
A ênclise permanece restrita, no português brasileiro, à língua
escrita e se apóia nesse meio, primariamente, no uso tradicional. Não
corresponde, contudo, de modo algum, a um uso estabelecido ou a um
uso lingüístico sentido como natural, o que é o mesmo caso de outros
fenômenos, na troca da forma oral para a escrita. Desse modo,
identificam-se quase sempre, na língua escrita, transgressões às regras
européias. Contudo, não se trata, de modo algum, de casos optativos,
mas de indicações básicas para uma ênclise, como mostra o seguinte
título do artigo: “A vida se renova na seca no Pantanal” (Veja,
12/10/1994: 100). Na língua escrita, mostra-se freqüentemente uma
maior observância da ênclise como modo de medir quão oficial é uma
notícia. Enquanto se favorece basicamente a posição proclítica na
reprodução do discurso direto, imitando, assim, a língua falada, em
vários casos, é visível uma tendência à ênclise em entrevistas com
personalidades, em princípio, consideradas mais sérias (políticos,
economistas etc.).
Ao contrário das regras da gramática européia, na língua escrita
brasileira, apenas um princípio é vigente para a colocação pronominal:
o de que a ênclise vale para a primeira posição da oração:

102
Cf. Teyssier (1976: 87ss.). Acerca da colocação pronominal, cf.
também Galves/Abaurre (2002), Schei (2003, 2003a), Galves/Ribeiro/Torres
Moraes (2005).
88
“Nunca inicie frase com o pronome oblíquo. Essa forma só poderá
ser admitida na linguagem coloquial (crônicas, principalmente) ou
na transcrição de declarações populares: Me deixem dizer uma
coisa. / Lhe pedi socorro, mas ele não ouviu” (Martins 1992: 254).
Essa fórmula sucinta não é retirada de nenhuma gramática do portu-
guês, mas provém do Manual de Redação e Estilo (Martins 1992),
concebido para redatores do jornal O Estado de São Paulo, que, com
uma tiragem de mais de 400.000 exemplares, por sua vez, se dirige a
um público mais amplo.
Evitar a primeira posição do pronome objeto átono é obrigatório
na língua escrita brasileira, exceto na reprodução do discurso direto.
Isso não diz respeito somente ao início da frase stricto sensu, mas
também à primeira posição após uma pausa na fala (→ colocação de
vírgulas).
“O tricampeão, por sua vez, casou-se com a socialite brasiliense
Viviane Leão, de 25 anos” (Veja, 27/9/1995: 58).
Tentativas com intenção de estruturar a posição pronominal na
linguagem escrita brasileira além do princípio apresentado (cf. Meier
1969, Große 1991) são relevantes apenas com respeito a cada corpus
investigado, mas dificilmente têm uma relevância geral. Wanner
(1982) se dedicou à formalização, que somente transporta para outro
sistema a descrição metalingüística. Não consegue, contudo, com isso,
um progresso no entendimento lingüístico. O primeiro volume da
Gramática do Português Falado acerca da posição das palavras
(Castilho 2002a, 11991) não descreve detalhadamente a posição do
pronome objeto.
Basicamente, a posição do pronome no português brasileiro escrito
interfere com
· o uso oficial das regras, que às vezes pode corresponder à norma
européia.103 Por meio disso, ocorrem também ênclises pronominais na
língua escrita brasileira quando um sujeito nominal antecede um
verbo.
· o uso da língua falada. Posições proclíticas “erradas” na língua
escrita brasileira encontram sempre uma explicação na língua falada e
apontam para a generalização da próclise.

103
As partes narrativas em Cenas da Vida Amazônica de Veríssimo
( 1957, 11886) apresentam-se amplamente conformes com as regras.
3
89
· a percepção sintático-estilística do autor, que pode aplicar nuances
individuais sobre a regra da primeira posição. Às vezes, também,
ocorrem, no português brasileiro, casos enclíticos que não condizem
com a norma européia.
Na posição dos pronomes objetos, resultam-se as seguintes diferenças
específicas entre o português europeu e o brasileiro:104 com impera-
tivo, o português brasileiro evita a ênclise (PE desculpe-me vs. PB me
desculpe). Com construções infinitivas, o português brasileiro falado
privilegia a posição antes do infinitivo (PE querem ver-nos / querem-
nos ver vs. PB eles querem nos ver). Somente os pronomes da terceira
pessoa são pospostos, na linguagem mais formal, nesse caso (PB
quero vê-lo / quero ver ele).
No português brasileiro, o pronome objeto átono aparece antes do
particípio nos tempos compostos (eles tinham me visto; eles não
tinham me visto; …onde tinham me visto). O português europeu
distingue-se, no primeiro exemplo, só no uso do hífen (tinha-me
visto). Com a negação e em orações dependentes, contudo, o pronome
ocorre antes do verbo auxiliar (PE não me tinham visto; …onde me
tinham visto). No português brasileiro, essa posição é aceita no uso
formal dos pronomes de terceira pessoa o, a (PB eles não a tinham
encontrado / eles não tinham encontrado ela). Com perífrases
gerundiais, as quais correspondem no português europeu à construção
a + infinitivo, os pronomes átonos no português brasileiro ficam antes
do gerúndio (PE estava-te (sempre) a esperar vs. PB ela estava
(sempre) te esperando / ela estava esperando você). Observe-se,
também, nesse contexto, a posição divergente do advérbio (cf. Galves
2000: 147-148).
A mesóclise do pronome objeto no futuro do presente e no futuro
do pretérito (PE lembrar-se-á), bem como a fusão dos pronomes
dativos e acusativos (PE devolveu-te o livro? → devolveu-mo) são
freqüentemente evitadas na língua escrita brasileira e excluídas da
língua falada (PB ele vai se lembrar; me devolveu o livro → me
devolveu).

104
Acerca da posição dos pronomes pessoais no português europeu e no
brasileiro, cf. o artigo detalhado de Matthews (1978).
90
3.2.3 O verbo
Na conjugação, ocorrem algumas diferenças entre o português
europeu e o brasileiro, tendendo o último para formas mais regulares
do que o primeiro.105 Diferentemente dos verbos em -iar (odiar, eu
odeio) são conjugados na primeira pessoa do singular, no Brasil,
comerciar, negociar, obsequiar e premiar segundo o modelo eu
comercio (PE comerceio). Isso vale também para todos os verbos em
-enciar (PE agenceio vs. PB eu agencio). Uma exceção no Brasil é
mobiliar (eu mobílio; PE mobilar). Com verbos em -guar, -quar e -
qüir (aguar, alonginquar, aminguar, aproprinquar, desaguar, enxa-
guar, minguar, delinqüir e relinqüir), no Brasil, evita-se o hiato com
[u], [i], retraindo o acento (PE aguo, aguam [ä'VuÄÙ]; delinquo, delin-
qúem vs. PB águo, águam; delínquo, delínqüem).
Com verbos em -oiar, o português brasileiro realiza apoiar (poiar,
desapoiar) com a vogal aberta nas formas rizotônicas, em oposição ao
português europeu (PE apoio [o] vs. PB apóio [)]). O verbo apiedar
conhece, no Brasil, nas formas rizotônicas, variantes com -a- (apiado
etc.). O verbo moscar sofre alternância vocálica no português
brasileiro nas formas rizotônicas (PE mosco vs. PB musco). Ouvir
(entreouvir, reouvir) é realizado no Brasil somente com ou (PE ouço,
oiço vs. PB ouço). Com relação aos particípios, preponderam no
português brasileiro as formas aceito (vs. PE aceite), assentado (vs.
PE assente), empregado (vs. PE empregue), pasmo (vs. PE pasmado)
e pego (vs. PE pegado). Alguns verbos reflexivos omitem, no
português brasileiro, o pronome reflexivo (v. acima).
Na língua coloquial brasileira, observa-se nos paradigmas de
conjugação um nivelamento de formas que, na linguagem rural, às
vezes, generaliza a terceira pessoa do singular. Na língua coloquial,
ocorre o paradigma eu falo – você fala / tu fala(s) – ele, ela fala – nós
falamos / a gente fala – eles falam. A segunda pessoa do singular, que
é bastante difundida no tratamento familiar (cf. 3.2.2), é substituída
formalmente, com freqüência, na língua popular, com a terceira
pessoa do singular (tu falaste, você falou, tu falou). Por conta da
alternância entre a gente e nós, a primeira pessoa do plural se
manifesta formalmente na língua popular brasileira também com a
terceira pessoa do singular (a gente fala, nós fala). Com isso, podem-
105
Cf. Paulik (1997). Fonética combinatória (cf. 3.1) e diferenças orto-
gráficas (cf. 3.4) não serão tratadas a seguir.
91
se verificar gradações. Nós fala pode ocorrer, em contraste com nós
falamos e marca, assim, a diferença entre presente e perfeito (cf. Fer-
nandes/Gorsky 1986). Numa forma mais marcada da língua popular, o
pretérito perfeito é nós falou. A terceira pessoa do plural sofre
desnasalização (eles falam ['falÄù] > ['falu], ['fala]), a qual, formal-
mente, pode coincidir, novamente, com a terceira pessoa do singular
(eles fala). Com isso, há, um nivelamento analógico de formas, que
abarca às vezes na língua popular, por fim, também a primeira pessoa
do singular (eu fala).
Na língua falada, o futuro é expresso, no português brasileiro,
preponderantemente de maneira adverbial (vou amanhã) ou peri-
frástica (vou falar com ele). Com isso, no português brasileiro,
aumenta-se a freqüência mais alta de formas perifrásticas, as quais, no
português europeu, estão predominantemente restritas à expressão do
futuro próximo. A tendência à perífrase no português brasileiro
também atinge o futuro do subjuntivo (quando ela for falar vs.
quando ela falar), quando o início da ação deve ser enfatizado. Em
conexão com quando, essa construção não é possível no português
europeu (cf. Barme 2002a). Na formação do mais-que-perfeito
composto, a língua escrita brasileira prefere o verbo auxiliar haver,
em contraposição à língua falada e ao português europeu (PB o
presidente havia avisado os ministros vs. PE o presidente tinha
avisado/avisara os ministros). No uso do infinitivo pessoal, o
português brasileiro tende, na língua falada, à omissão das
terminações pessoais, que são substituídas por meio dos pronomes
sujeitos (PE é melhor ires-te / irmos embora vs. PB é melhor você / a
gente ir embora).
Na língua falada, o português brasileiro forma, na maior parte das
vezes, o imperativo (também o negativo) por meio do indicativo,
contrariamente ao português europeu (PB não faz isso vs. PE não
faças isso). O subjuntivo ocorre, de um lado, nos contextos formais e
com alguns verbos freqüentes (desculpe, diga, mas fala), por outro,
podemos surpreender-nos ouvindo-o na língua falada entre mãe e
filho. O uso geral do subjuntivo nas formas de polidez e em impera-
tivos negativos é difundido, no português brasileiro, somente no estilo
lingüístico elevado e na língua escrita.
Com respeito ao uso do subjuntivo nas orações subordinadas, há
diferenças pequenas entre o português europeu e o brasileiro. Com
verbos que expressem uma suposição ou uma hipótese (supor,
92
imaginar que), o português brasileiro prefere o subjuntivo, em
contraste ao português europeu (suponho que seja a mesma coisa;
imaginemos que ocorra uma briga). Uma frase como é bom que você
veio (PE é bom que tenhas vindo) é tida, porém, no português
brasileiro, como fato real e exige, portanto, o indicativo: “[...] em PB
se verifica a tendência de selecionar o indicativo para as proposições
tidas como verdadeiras, independentemente do tipo de atitude
expressa” (R. Marques 2001: 696). Isso conduz Marques (2004) à
seguinte diferenciação: nos contextos epistêmicos, o português
europeu emprega o indicativo (saber, imaginar que) e em contextos
não-epistêmicos, o subjuntivo (é bom, pena, natural que). O
português brasileiro, em contrapartida, escolhe o subjuntivo somente
em contextos epistêmicos, quando a frase não corresponde à realidade
(“non-reality”) (p. ex., imaginar que). Além disso, ambas as
variedades colocam o subjuntivo em contextos não-verídicos (querer,
duvidar que).
No sentido impessoal, existencial, o português brasileiro usa
preponderantemente o verbo ter, em contraste com o português
europeu (PB tem muitos animais nessa região). O correspondente
verbo haver (há muitos animais nessa região) do português europeu
ocorre no Brasil sobretudo na língua escrita, em expressões em que
interferem circunstâncias da língua escrita, em contextos oficiais ou
num pretenso nível elevado. Leite/Callou (2002: 55-56) informam,
para o Rio de Janeiro nos anos 90 do século XX, uma tendência da
língua falada para o uso de ter em 78% dos casos; com jovens na
faixa etária entre 25 e 35 anos, até de 97%.
O uso de há pode ser um indício da interferência da língua escrita
ou de um estilo elevado num texto.106 O seguinte trecho de uma
entrevista, feita no âmbito do projeto NURC (Norma Urbana Culta)
em Salvador, ilustra como uma pergunta formulada com haver pelo
documentador universitário (Doc) influencia, de maneira evidente, a
resposta do informante (354), que retorna, a seguir, ao seu uso
habitual de ter:
Doc [...] E o trem... há uma classe especial que vai na frente,
depois vai seguida de outras [...].

106
Isso não vale para o uso de há no sentido de ‘faz (anos)’ ou há de
como perífrase de futuro.
93
354 [...] acho que da primeira classe não devia haver muita
diferença [...]. O pessoal que trabalhava no trem:
tinha o maquinista, [...] tinha o cobrador [...].
(Mota/Rollemberg 1994: 26)
Além disso, o verbo ter penetra no português brasileiro escrito.
Leite/Callou (2002: 55-56) efetuaram, em 1999, uma pesquisa da
linguagem da imprensa, valendo-se de três jornais do Rio de Janeiro.
Assim, O Globo mostrava um uso preponderante de haver, com 60%
(face a 40% de ter), enquanto O Povo, como representante de uma
imprensa mais popular, por sua vez, favorecia ter com 60% dos casos.
Na conjugação perifrástica, podem-se verificar diferenças no uso
do gerúndio entre o português europeu e o brasileiro. O aspecto
progressivo é expresso no português europeu com estar a + infinitivo,
enquanto o português brasileiro utiliza o gerúndio (PE estou a traba-
lhar vs. PB estou trabalhando).107 Em oposição ao português europeu,
a construção progressiva amplia seu uso no português brasileiro para
as orações passivas inclusive na língua escrita (o plano está sendo
desenvolvido). A língua falada envolve, além do mais, os verbos
estáticos (eu estou querendo / sabendo / podendo realizar). Além
disso, a construção estar + gerúndio pode conter no português
brasileiro um sentido futuro (o Pedro está partindo na próxima
semana; cf. Oliveira/Cunha/Matos 2001: 739).
Também em conexão com outros verbos de ligação (acabar,
andar, continuar, ficar, passar a vida), o português brasileiro tende
ao uso do gerúndio, valendo-se também de construções preposicionais
(continuar a, começar por, acabar por + inf.). Numa pesquisa
baseada em corpus (NILC), Oliveira/Cunha/Gonçalves informam que
no português brasileiro, com relação ao verbo continuar, uma
proporção de uso de a + inf. vs. gerúndio é da ordem de 167 : 248; em
relação a ficar, de 22 : 320; em relação a começar, contudo, de 3626 :
15 (2004: 150). As proporções de começar carecem de explicação,
uma vez que esse verbo diferencia duas configurações: o início de
uma ação numa seqüência de acontecimentos (PE começou por ler /
PB começou lendo, depois desistiu e saiu) e o início de uma ação
qualquer (começou a trabalhar), construídas tanto no português
europeu quanto no brasileiro com inf. + a. Também em outros casos,
verificam-se paralelismos entre o português europeu e o brasileiro no

107
Cf. Borges Neto/Foltran (2001), Móia/Viotti (2004).
94
uso do infinitivo ou do gerúndio. Isso ocorre com as construções vir a
(significado futuro), chegar a, voltar/tornar a, passar a, pôr-se a (+
inf.), bem como ir fazendo (cf. Móia/Viotti 2004).
Com relação às orações reduzidas, tanto o português europeu
quanto o brasileiro utilizam o gerúndio, de forma semelhante, nas
relações causais, modais e condicionais, cabendo a ele uma função de
restritor de outra eventualidade. O português brasileiro, emprega o
gerúndio, além disso, para especificar as circunstâncias (p. ex., Pedro
trabalha vendendo alimentos; estou ocupada tomando meu Nescafé;
não vou perder tempo, botando ela no ponto) (cf. Borges
Neto/Foltran 2001: 735, 730, 734).
A língua coloquial brasileira prefere a forma repetitiva da negação
(não quero não), que pode restringir-se também à negação pós-verbal
(quero não). Em ligações hipotáticas, observa-se que o não posposto
assume a negação da oração principal (“Não sei se você está mentindo
não”; cf. Schwegler 1985-87). Assim, a negação repetitiva nas
orações subordinadas só é possível em orações objetivas (eu desconfio
que ela não gosta de você não; cf. Perini 2002: 435). Na língua
popular pode, além disso, ocorrer a dupla negação (ninguém não
veio).
No campo preposicional, o português brasileiro utiliza, com
verbos de deslocamento, na língua falada, em em vez do a do
português europeu (PE vou / cheguei ao centro vs. PB vou / cheguei
no centro; cf. Große 1999). Observa-se, também, no português
brasileiro, uma ampliação da área funcional de para face a a. Com
isso, o português brasileiro falado não faz a diferença entre para e a,
que, em português europeu, está associado respectivamente com uma
estada mais curta ou mais longa (PE vou a casa buscar dinheiro vs.
vou para casa dormir vs. PB vou para casa ...). Na língua falada,
para é também usado em lugar de a na indicação do objeto indireto
(PE já lhe falaste? vs. PB você já falou pra ele?), sendo evitado o
pronome objeto dativo lhe no imperativo (cf. PB me fala, fala pra ele
vs. PE fala-me, fala-lhe). A preposição para proporciona, além disso,
construções infinitivas (cf. PB pediu pra ele ir embora vs. PE pediu
que ele fosse embora). No português brasileiro ocorrem, além disso,
diferenças nas regências verbais. Assim, usa-se falar de (vs. PE em),
participar em (vs. PE de), pegar uma coisa (vs. PE numa coisa).
Com relação à percepção temporal, Móia/Alves (2001; ampliado
em 2004) chegam a interessantes resultados contrastando o português
95
europeu e o brasileiro. Desse modo, no português brasileiro, a
preposição em pode ser empregada prospectivamente, diferentemente
do português europeu. Uma frase como chega em três horas não
significa exclusivamente, no português brasileiro, que se vence uma
determinada distância dentro de três horas, mas, conforme o contexto,
que terá chegado dentro de três horas, partindo do ponto de vista do
momento da enunciação (PE/PB daqui a três horas). Há também uma
diferença sutil com expressões temporais adverbiais com por.
Enquanto o português brasileiro usa a preposição por tanto em
acontecimentos télicos (PB ele saiu do escritório por meia hora)
quanto em atélicos (PB ele esteve doente por um mês),108 o português
europeu evita expressar acontecimentos atélicos, usando comple-
mentos temporais em por (PE esteve doente durante um mês vs. PE
esteve doente durante/por algum tempo).
Eventos que indicam um ponto no passado são expressos no
português europeu e no brasileiro tanto com há quanto com faz
(há/faz três anos). No português brasileiro há pode ser substituído,
contudo, também por meio de tem (deixou a empresa tem três anos)
ou de um atrás posposto (três anos atrás). No português europeu,
tem, nesse sentido não é utilizado e atrás não seria usual, visto que a
construção há … atrás é preferida. O português europeu e o brasileiro
também fazem construções sobre eventos no passado, concebidos em
seu decurso, com há ou faz (estou aqui há dois anos, faz (hoje) dois
anos que estou aqui). O português brasileiro pode, em contraste com
o europeu, nesse caso, também usar desde (desde dois anos), que,
normalmente, está associado a um ponto no tempo, ou de … para cá
(de dois anos para cá).
Eventos que enfatizem o ponto final de uma ação são concebidos
pelo português europeu e pelo brasileiro com ao fim de (ao fim de
duas horas, saiu de casa). O português brasileiro também varia essa
expressão com no/ao final de ou no fim de, as quais não são usuais em
Portugal. Quando se concebe, num evento, o intervalo de tempo entre
dois pontos de referência, o português emprega passado/a + espaço de
tempo (PB passados quatro dias do roubo, o avião ainda não foi
localizado), associando-se o ponto de relação temporalmente mais

108
O termo télico implica uma mudança de condições e o atingir de um
objetivo, ao passo que atélico não envolve nem um objetivo nem uma
delimitação.
96
próximo com de no Brasil, ao passo que em Portugal, na maior parte
das vezes, o mesmo se faz com sobre (PE passado mais de um ano
sobre os primeiros contactos […]) (cf. Móia/Alves 2004: 54).
Eventos que desenvolvem uma ação até determinado ponto são
concebidos em português europeu com até a; no português brasileiro,
somente com até (PE fiquei até ao final da temporada vs. PB fiquei
até o final da temporada).
No português brasileiro, observa-se, na ordem da oração, um
ampliamento da estrutura SV, notável sobretudo nas orações interro-
gativas (onde você mora?). Isso não diz respeito, contudo, a estruturas
tema-rema em construções inacusativas, de modo que se espera que o
rema, como parte da oração indagada, se posponha na resposta. Uma
resposta à pergunta “Quem chegou?”, portanto, seria, também no
português brasileiro, algo como “Chegou um menino” (cf.
Silva/Coelho/Menuzzi 2001: 753). As pesquisas de Ferrari (1990)
mostram que a posição SV depende preponderantemente da
transitividade, do grau existente de familiaridade com o enunciado e
de verbos particulares.

3.2.4 Língua falada e língua escrita


No português brasileiro há, na transposição de expressões orais, para a
forma escrita, mecanismos típicos de adequação às necessidades do
meio escrito. O seguinte trecho de uma entrevista com um informante
da polícia ilustra esse fenômeno:
Moreira [..] Às vezes o ladrão vai te assaltar, você nem sequer
reage, mas há alguma confusão e ele mete um tiro e te
mata. [...]
Veja [...] Digamos então que um banco foi roubado e os
assaltantes capturados depois. Chegam à delegacia com o
dinheiro do assalto. O que acontece?
Moreira É simples. Os policiais pegam o dinheiro e colocam no
bolso. [...]

Veja Qual é a modalidade de roubo em alta hoje em dia?


Moreira Bem, o roubo de caminhões, [...] De repente, surgem dois
ladrões armados, um de cada lado. Não há o que fazer. É
por isso que existe um mercado de roubo de cargo. É
dinheiro mole. [...] A mercadoria fica ali exposta,
aguardando o comprador. Paga-se de 30% a 40% do valor
97
da carga. Tira-se a mercadoria dali e leva-se para o
depósito do comprador que vende tudo a preço de fábrica.
[...]
Veja E quem faz com que esses produtos roubados cheguem aos
compradores comuns, como eu?
Moreira Bem, aí está uma coisa que eu não vou poder te contar. [...]
Veja Em tantos anos de convivência com as delegacias, o
senhor ouviu falar de tortura em presos?
Moreira Depende do crime. [...] Se o caso for grave, o preso é
pendurado e toma choque no pau-de-arara. [...] Tem
policial que sente prazer. Alguns fazem isso dando risada.
[...]
Veja E como é que o senhor fazia para ganhar a confiança de
um ladrão?
Moreira [...] Veja bem, o ladrão gosta muito de falar. [...] Quando o
cara não falava por si mesmo, não era difícil animá-lo,
fingindo curiosidade. [...]
Veja O senhor nunca teve a tentação de passar para o outro
lado?
Moreira Nunca. Já fui preso várias vezes. Mas isso é coisa da
polícia, que te prende para manter você ligado a ela.
Funcionava mais ou menos assim: os policiais estavam
tendo problemas para interrogar o criminoso. Em vez de
torturá-lo, havia um método mais simples — mandar um
informante para a cela. [...]
Veja O senhor participou pessoalmente da prisão de algum
bandido?
Moreira Sim, [...] Quando eu tinha a certeza de que o bandido não
voltaria para a rua, que sua pena seria pesada, eu acom-
panhava a polícia. Às vezes, chegava até antes, para me
assegurar que o sujeito se encontrava ali.
(Veja, 19/10/1994: 7-10; grifos nossos)

As declarações do criminoso Moreira foram, evidentemente,


adaptadas pela redação, no presente trecho. Apresentam um exemplo
típico dos mecanismos que se utilizam no português brasileiro,
quando é necessário adequar a língua falada para o texto escrito. Em
comparação com a norma européia, o texto pode dar a impressão, em
sua heterogeneidade, de algo casual. Como texto brasileiro, segue,
98
contudo, a lógica de uma adaptação matizada por representações da
norma da língua escrita, seguindo, assim, uma seqüência de
preferências.
Em primeiro lugar, há adaptação das ênclises dos pronomes
oblíquos átonos no início da oração (paga-se, leva-se). Como
indicador de uma variante escrita, vale-se, além disso, da substituição
de ter por haver com o sentido impessoal (havia um método). Fora
isso, os pronomes objetos da terceira pessoa são usados
encliticamente em ligação com o infinitivo (animá-lo, torturá-lo). Em
outros casos, a adaptação foi deixada de lado, assim, por exemplo, em
colocam (colocam-no), visto que essa construção, no português
brasileiro, em geral, só ocorre raramente e o texto não deveria perder
sua aparência original.
O resultado desse trabalho de revisão jornalística das declarações
de Moreira conduz, de um ponto de vista sintático, a um construto
diamesicamente híbrido. Face a isso, o entrevistador, de antemão,
segue, conseqüentemente, uma adequação ao meio escrito que se
apresenta, contudo, incomumente formal, do ponto de vista
diafásico.109 Como indícios, servem a forma de tratamento o senhor e
a regência de participar com a preposição de (em vez de em).
Cotidianamente, uma considerável parcela da população brasileira se
vê confrontada, ao escrever, com problemas de adaptação da língua
falada semelhantes aos aqui apresentados neste tópico.

3.3 Léxico
Uma publicação sobre a estrutura do vocabulário brasileiro ou uma
maior apresentação contrastiva das diferenças com relação ao
português europeu continuam algo a ser feito na Lusitanística. A
temática também não pode ser detalhada neste trabalho. Buggenhagen
lançou o esboço de um manual intitulado Worteigentümlichkeiten der
brasilianischen Sprache (1951; ‘Particularidades lexicais da língua
brasileira’), no qual reuniu certas palavras e expressões em pequenos
grupos semânticos, sem referência ao português europeu. A base para
a descrição de brasileirismos se encontra, em primeiro plano, nas
indicações diatópicas em dicionários da língua comum, mas também

109
Diamésico se refere à adaptação da linguagem ao meio respectivo
(fala, escrita), diafásico concerne ao estilo (uso corrente, uso familiar, gíria).
99
em vocabulários regionais brasileiros.110 Além disso, abarca-se o
vocabulário especializado de disciplinas isoladas sem a delimitação
das duas variedades (cf. Muller Leite 1976, Dicionário Jurídico
Brasileiro). Uma fixação oficial da terminologia gramatical se baseia
na Nomenclatura Gramatical Brasileira (1959) e na Nomenclatura
Gramatical Portuguesa (1967).111
Sobre diferenças lexicais gerais entre o português europeu e o
brasileiro existem pequenas listagens de Zamarin (1970), Ermínio
Rodrigues (1981) e Pellegrini Filho (1995). Inventários mais com-
pletos foram reunidos em três publicações brasileiras. O Dicionário
de português (Prata 2000) oferece em seus verbetes uma definição
concebida humoristicamente dos lusismos, com seus equivalentes
brasileiros. Também o Dicionário Lusitano-Brasileiro (Wanke/Simas
Filho 1991), que surgiu inicialmente sob o título Esboço de um
Dicionário Lusitano-Brasileiro, contém um vocabulário que necessita
de esclarecimento para a compreensão dos brasileiros. O conceito de
um dicionário bilíngüe aparece com o Dicionário Contrastivo Luso-
Brasileiro (Villar 1989). Abarca cerca de 6500 lemas em cada uma de
suas duas partes PE-PB e PB-PE e trata também de diferenças entre
significados individuais, regências e na ortografia. Além disso, fazem-
se detalhamentos regionais e diastráticos. Essas obras apresentam um
avanço significativo, para a compreensão das diferenças lexicais entre
o português europeu e o brasileiro. Nos detalhes, contudo, são sujeitas

110
Cf. Dicionário de Porto-Alegrês (Fischer 2000), Dicionário
Catarinense (Borba Corrêa 2000), Dicionário sociolingüístico paranaense
(Filipak 2002), Dicionário regional do Espírito Santo (Filipak 1996),
Dicionário do Nordeste (Navarro 2004), Dicionário de Baianês (Lariú 1992),
Dicionário Papachibé. A língua paraense (Sobral 1996-2005), Dicionário da
Língua Popular da Amazônia (Jacob 1985).
111
Cf. PB adjunto adverbial vs. PE complemento circunstancial, PB
objeto direto vs. PE complemento directo, PB futuro do presente vs. PE futuro
imperfeito, PB futuro do pretérito vs. PE condicional presente, PB futuro do
presente composto vs. PE futuro perfeito, PB futuro do pretérito composto vs.
PE condicional pretérito, PB subjuntivo vs. PE conjuntivo, PB futuro do
subjuntivo vs. PE futuro imperfeito do conjuntivo, PB futuro composto do
subjuntivo vs. PE futuro perfeito do conjuntivo. No português brasileiro,
encontra-se a diferença (não-usual no português europeu) entre verbos
irregulares e verbos anômalos, os quais não se permitem ordenar em
nenhuma classe, devido ao grande número de irregularidades (estar, haver
etc.) (cf. Cunha/Lindley Cintra 2001: 387).
100
a crítica.112 Ao lado das duas publicações brasileiras, dispomos de
uma obra publicada em Portugal: 7 Vozes (1997) apresenta um “léxico
coloquial do português luso-afro-brasileiro” em sete listas sinóticas
(“Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal,
São Tomé e Príncipe”). Também nessa obra, aconselha-se uma
consulta crítica.113
Com respeito a uma sistematização das diferenças lexicais entre
português europeu e brasileiro existem os trabalhos de
Wittmann/Jesus Pereira (1995), Wittmann/Pêgo/Santos (1996) e
Barreiro/Wittmann/Jesus Pereira (1996), os quais estão vinculados ao
desenvolvimento de um programa eletrônico de tradução Inglês-
Português. Esse programa considera ambas as variedades do
português e as processa do ponto de vista lexical. As diferenças
lexicais entre o português europeu e o europeu são concebidas,
diferentemente da literatura aqui citada, por meio de registros
lingüísticos como os a seguir:
· Uso vocabular absolutamente divergente do ponto de vista
lexemático: diferentes lexemas são empregados sem alternativa lexical
(PE hospedeira vs. PB aeromoça).
· Uso vocabular preferentemente divergente do ponto de vista
lexemático: lexemas distintos são usados conforme preferências
específicas. Desse modo, o português europeu utiliza quase exclusiva-
mente chávena, enquanto no português brasileiro se usa xícara,
embora as duas variedades disponham respectivamente de ambos os
termos. Com isso, há gradações na preferência. Em cartão e papelão,
que estão disponíveis também em ambas as variedades, a palavra
cartão tende a ser preferida no português europeu, ao passo que
papelão o é no português brasileiro. Às vezes ocorrem alternativas
sinônimas numa das variedades (PE travar vs. PB frear, brecar).
Essas divergências podem ser condicionadas, por exemplo, também
por meio de empréstimos (tupinismos, africanismos, anglicismos no

112
Dessa forma, ocorre em Villar na parte PE-PB no verbete luz o
seguinte comentário “não é raro ouvir-se em Portugal, à francesa, abrir a luz
por ligá-la [...]” (1989, s.v.). O suposto galicismo não tem nenhum
fundamento na língua francesa (fr. allumer la lumière), e a expressão em
questão, em Portugal, é também acender a luz.
113
Conforme 7 Vozes, por exemplo, a palavra biquíni da lista brasileira
equivale, nas outras áreas lingüísticas, a fato-de-banho e cartório deve
corresponder supostamente a notário. Além disso, cachorro é classificado
como se fizesse parte do registro popular (pop.) do português brasileiro.
101
português brasileiro): PE travar vs. PB brecar (< ing. to brake); PE
hora de ponta (< fr. heure de pointe) vs. PB hora do rush (< ing. rush
hour). Há, ademais, o caso em que o uso vocabular divergente é
acompanhado de um sinônimo que é compartilhado por ambas as
variedades (PE gabardina vs. PB capa de chuva / PB, PE imperme-
ável)
· Uso vocabular divergente do ponto de vista lexemático-semântico:
por meio da formação de sememas distintos, chega-se a um
significado vocabular divergente (camisola, PE ‘camiseta, suéter’ vs.
PB ‘vestimenta feminina para dormir’). Nesse ponto ocorrem as
diferenças mais sutis entre o português europeu e o brasileiro. Nesse
contexto, observam-se, em ambas as variedades, também mudanças de
registro, freqüência e significado, condicionadas diacronicamente. Às
vezes, dois lexemas acabam compartilhando apenas alguns semas. Em
banheiro, PE ‘salva-vidas’ vs. PB ‘aposento com todo o equipamento
de banho; toalete’ seria a referência à água. Além disso, devem-se
levar em conta variantes diatópicas que anulam diferenças lexemáticas
regionalmente, como é o caso de PE passeio ‘caminho pavimentado
para pedestres’ vs. PB calçada vs. PB reg. passeio (Bahia, Minas
Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul).114
· Divergências na formação de palavras (PE doutoramento vs. PB
doutorado).
· Divergências na grafia (cf. 3.3.1).
· Divergências na conexão sintática (regências distintas: PE participar
de vs. PB participar em) e na fraseologia (PE estar sem cheta ‘estar
sem dinheiro’ vs. PB estar na pindaíba).
Com relação à avaliação do vocabulário, a disponibilidade de
dicionários eletrônicos passou a significar um grande avanço, haja
visto que se pode listar material escolhido por meio de rotinas de
busca implementadas segundo diversas categorias, ganhando, assim,
sem contagens dispendiosas, um corpus, e continuidade ao trabalho.
Entre os dicionários monolíngües do português, prestam-se, para tal
avaliação, atualmente, como diferentes capacidades:
· Os Dicionários PRO da Língua Portuguesa com 96.715 lemas
(DPLP, elaborados em Portugal). Rotinas de busca: campos semân-
ticos, etimologias, indicações diacrônicas, diatópicas e diastráticas,

114
Cf. Michaelis (s.v.). No dicionário Michaelis falta a remissão à Bahia,
pois a palavra passeio ocorre com o sentido correspondente também na obra
de Jorge Amado e no Dicionário de Baianês (Lariú 1992).
102
busca contextual (palavras isoladas em textos de artigo), anagramas,
filtros para quaisquer nexos, dicionário inverso, provérbios, abrevia-
turas, siglas, conjugação. Versão impressa: Dicionário da Língua
Portuguesa (2005).
· O DICMAXI Michaelis Português – Moderno Dicionário da Língua
Portuguesa (v. 1.1), com mais de 200.000 lemas (Michaelis). Rotinas
de busca: busca textual, conjugação. Versão impressa: Moderno
Dicionário da Língua Portuguesa (Michaelis 1998).
· O Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (v. 5.11) com mais de
140.000 lemas (Aurélio). Rotinas de busca: dicionário de palavras
estrangeiras (não-diferenciado), gíria (não-diferenciado), classes de
palavras, dicionário inverso, busca textual, conjugação. Versão
impressa: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Aurélio
2004). Tecnicamente mais bem equipado é, contudo, a versão anterior,
o Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI (v. 3.0). Rotinas de busca:
campos semânticos, autores, indicações diacrônicas, diatópicas e
diastráticas, palavras formalmente parecidas, filtros para quaisquer
nexos, dicionário inverso, busca textual, conjugação. Versão impressa:
Aurélio Século XXI. O dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro, Nova Fronteira (Aurélio 1999).
· O Dicionário Eletrônico Houaiss (v. 1.0) com 228.000 lemas
(Houaiss). Rotinas de busca: classes de palavras, busca combinada,
dicionário inverso, busca textual, conjugação. Versão impressa:
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Houaiss 2001).
O Aurélio (v. 5.11) distingue, como sendo brasileiros, 26.465 verbetes
e significados específicos como brasileiros (versão 3.0: 25.273). Os
DPLP contêm, comparativamente, somente 2044 lemas que são
classificados como brasileiros. Com relação aos regionalismos, o
Aurélio (v. 3.0) fornece, dentro do Brasil, indicações diatópicas
segundo as regiões e os estados que se dividem conforme os verbetes
e os significados específicos da seguinte forma:
· Regiões: Amazônia (831), Nordeste (1468), Noroeste (65), Centro
(107), Norte (1010), Sudeste (21), Sudoeste (80), Sul (1343).
· Estados: Acre (6), Alagoas (233), Amazonas (361), Bahia (783),
Ceará (341), Distrito Federal (4), Espírito Santo (66), Goiás (225),
Maranhão (232), Mato Grosso (261), Mato Grosso do Sul (15), Minas
Gerais (675), Pará (238), Paraíba (140), Paraná (132), Pernambuco
(412), Piauí (62), Rio Grande do Norte (37), Rio de Janeiro (496), Rio
103
Grande do Sul (1401), Rondônia (2), Roraima (2), Santa Catarina
(112), Sergipe (72), São Paulo (796), Tocantins (1).
No campo dos empréstimos, o português brasileiro dispõe de
elementos das línguas indígenas e africanas, desconhecidos ou menos
usuais do português europeu. Esse léxico, tido geralmente como típico
do português brasileiro, não tem, no entanto, qualquer papel no
âmbito do vocabulário básico. Entre os empréstimos indígenas, há
preponderantemente tupinismos, o que se explica pela difusão
histórica dessa língua (cf. 5.1.2). O termo africanismo, usado em
conexão com os elementos africanos se refere a elementos de origem
subsaariana. Contudo, em vista da gama de variedades dos idiomas
envolvidos, esse termo se revela às vezes problemático, uma vez que
sugere lingüisticamente uma uniformidade inexistente.115 A remissão
ao quimbundo e ao iorubá, no caso dos empréstimos africanos no
português brasileiro, efetuada nos dicionários, também nivela um
pouco as relações, visto que, por exemplo, o ewe, via de regra, não é
levado em consideração (cf. Figge 1975-76). Face à situação das
fontes, bem como da transmissão oral e da adequação do material, a
etimologização dos elementos indígenas e africanos depende, em
parte, da comparação de formas de diferentes línguas e dialetos. Isso
conduz, às vezes, a resultados muito distintos em virtude de
problemas na segmentação das palavras, sobretudo nos africanismos.
Com relação aos empréstimos do tupi, o Aurélio (v. 5.11)
enumera, para o português brasileiro, 2533 verbetes e o Michaelis
3238, enquanto os DPLP de Portugal apontam apenas 504 palavras. O
total de tupinismos é avaliado, no português brasileiro, incluindo os
topônimos, em 10.000.116 O vocabulário indígena, tratado num
excelente artigo de Dietrich (1998),117 se destaca por serem, em

115
Com relação ao português brasileiro são relevantes as línguas kwa
(ewe: Gana, Togo, Benin; iorubá: Nigéria Ocidental, Benin, Togo) e as
línguas bantu (quicongo no Congo; quimbundo e umbundo em Angola). Cf.
6.2.
116
Chaves de Melo (1971: 43) fornece esse número, invocando uma
informação pessoal de Artur Neiva. No Dicionário Histórico das Palavras
Portuguesas de Origem Tupi, A. G. da Cunha (1989: 10) fala de 60.000
topônimos (incluindo denominações repetidas).
117
Para os tupinismos, cf. Raimundo (1926, 1934), Ayrosa (1937), Neiva
(1940), Silveira Bueno (1953), A. Rodrigues (1958-59), A. Fernandes (1961),
Silveira Bueno (1963a), Gregório (1980), Silveira Bueno (1984).
104
grande parte, substantivos portugueses oxítonos incomuns. Refere-se
quase exclusivamente ao ambiente original dos indígenas:
· Nomes de frutos e plantas (jenipapo ‘fruto do jenipapeiro’, cipó
‘liana’).
· Fauna (jacaré ‘caimão’, tamanduá ‘urso-formigueiro’).
· Formas de paisagem (igapó ‘mata cheia de água’, igarapé ‘rio
pequeno’).
· Topônimos (Itapuã, BA; Parati, RJ) .
· Hidrônimos (Mucuri, Paranaíba).118
· Antropônimos: sobrenomes (Oiticica), prenomes femininos (Jacira,
Jaciara).119
Ao lado dos tupinismos geralmente divulgados no português
brasileiro, ocorrem também diferenças regionais. Açaí e buçu são
espécies de palmeiras da Amazônia, das quais açaí é antes conhecido
como fruto, ao passo que buçu nessa região é usado especialmente
para a construção de casas. Umbu é uma fruta do Norte e Nordeste do
Brasil que se conhece pouco, por exemplo, no Rio de Janeiro.
Na formação de palavras, há o sufixo -mirim, que pode ser
classificado também como adjetivo, com o sentido básico de
‘pequeno’. Está associado, preponderantemente, com nomes de
plantas e animais (tamanduá-mirim, cajá-mirim; também paraná-
mirim ‘o menor dos dois braços em que um rio se divide’). Houaiss
relaciona 94 formações, das quais nem todas têm um caráter
diminutivo (cf. paumirim ‘árvore de enorme porte, da flora ama-
zônica’, Michaelis). Mirim aparece, além disso, como componente de
topônimos (Parati Mirim, RJ). O antônimo de -mirim é -açu (-uaçu,
-guaçu), também proveniente do tupi, que aparece em 273 formações
(tamanduá-açu, cajá-açu; cf. Houaiss). Seu caráter aumentativo
aparece somente em alguns significados respectivos. O sufixo aparece
também em topônimos (Igaraçu, SP) e hidrônimos (Iguaçu).
Além disso, os tupinismos formam, às vezes, composições seriais.
Houaiss relaciona cerca de 170 palavras que se compõem do elemento

118
Cf. Sampaio (1987 [11901]), O Tupi na Geografia Nacional, Bordoni
(1984), A Língua Tupi na Geografia do Brasil, Caldas Tibiriçá (1985), Dicio-
nário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi.
119
Uma listagem de 355 nomes pessoais indígenas é apresentado por
Neiva (1940: 105-108).
105
pirá ‘peixe’ e se referem a peixes ou à pesca (piracema ‘cardume de
peixes’, piracuí ‘farinha de peixe’). Dessa maneira, podem-se ainda
ordenar, do ponto de vista do significado, muitos outros elementos de
composições (igara- ‘canoa’, iguá- ‘musgo’, itá- ‘pedra’, pará- ‘rio’).
O português brasileiro conhece também indigenismos que não
remontam ao tupi, como, possivelmente, maceió ‘lagoeiro, no litoral,
formado pelas águas do mar nas grandes marés, e também pelas águas
da chuva’ (cf. Aurélio, Houaiss, s.v.). Excetuando conhecidos
peregrinismos que, em sua maioria, foram transmitidos pelo espanhol
(cf. cacique ‘chefe temporal das tribos indígenas brasileiras’,
Aurélio), a origem desses indigenismos não pode freqüentemente ser
determinado de maneira exata. Também na toponímia, surgem, ao
lado dos tupinismos, numerosos nomes de outras línguas indígenas
brasileiras (Amapá, Xingu) (cf. Caldas Tibiriçá 1985: 123-152).
Com relação aos africanismos, o Aurélio (v. 5.11) oferece 279
empréstimos do quimbundo (Michaelis: 194) e 222 do iorubá
(Michaelis: 141). Em comparação, os DPLP de Portugal remetem 263
verbetes ao quimbundo, mas apenas duas palavras para o iorubá. A
discrepância ocorre aqui, evidentemente, por um lado, devido aos
contatos coloniais entre Portugal e Angola e, por outro lado, devido à
falta de ligações próprias com a zona de língua iorubá. O Dicionário
etimológico Nova Fronteira (DENF) contém 191 africanismos (cf.
Taddoni Petter 1999a). Bonvini (1995) diz ter contado por volta de
1600 africanismos (inclusive derivações e casos inseguros), na edição
do Aurélio de 1986, quantidade que parece bem maior, se comparada
com as 499 palavras da contagem eletrônica do Aurélio de 2004 (v.
5.11).120 Do ponto de vista da divulgação dos africanismos no Brasil,
observam-se concentrações regionais. Pessoa de Castro/Souza Castro
(1980: 31) atestam 1950 étimos africanos na região da Bahia,
marcadamente africana. Muitos desses africanismos, contudo, são, de

120
Listas alfabéticas de africanismos no português brasileiro são
oferecidas por Angenot/Jacquemin/Vincke (1974), Répertoire des vocables
brésiliens d’origine africaine; Schneider (1991), Dictionary of African
Borrowings in Brazilian Portuguese; Boulouvi (1994), Nouveau dictionnaire
étymologique afro-brésilien. Afro-brasilérismes d’origine ewé-fon et yoruba;
Lopes (2003), Novo dicionário banto do Brasil.
106
modo geral, conhecidas apenas por uma parcela muito pequena da
população autóctone.121
Entre os africanismos mais freqüentes no português brasileiro,
contam-se, ao lado dos freqüentes em Portugal como bunda,
cachimbo, carimbo, moleque, os empréstimos caçamba ‘balde’,
caçula ‘o mais moço dos filhos, ou dos irmãos’, calombo ‘inchaço’,
camundongo ‘rato’, cochilar ‘dormitar’, dendê ‘óleo de palma’, farofa
‘farinha torrada’, maconha ‘haxixe’, molambo ‘pedaço de pano
velho’, moqueca ‘guisado temperado com salsa’, muamba ‘contra-
bando’, muxoxo ‘beijo; estalo que se dá com a língua e os lábios, à
semelhança de um beijo, para mostrar desdém’, quitanda ‘tenda, loja
pequena’, sunga ‘calção de banho’, xingar ‘insultar’ (cf. Aurélio).
Os africanismos do português brasileiro provêm preponderante-
mente das línguas bantu (71%; Pessoa de Castro 1981a: 3) e
concentram-se em poucos campos característicos. A eles pertencem:
· Escravidão (banzo ‘nostalgia mortal que atacava os negros trazidos
escravizados da África’, mocambo ‘couto de escravos fugidos, na
floresta’, mucama ‘escrava negra moça e de estimação’, quilombo
‘esconderijo, aldeia, cidade ou conjunto de povoações em que se
abrigavam escravos fugidos’, senzala ‘conjunto de casas ou aloja-
mentos que se destinavam aos escravos de uma fazenda ou de uma
casa senhorial’, cf. Aurélio).
· Música e dança (banza ‘guitarra africana rústica, de quatro cordas’,
berimbau ‘instrumento de percussão que é uma haste de madeira
arqueada por um fio de arame, com uma cabaça presa ao dorso da
extremidade inferior’, lundu ‘dança de par solto; canção solista’,
marimba ‘instrumento de percussão, que consiste numa série de
lâminas de madeira ou de metal’, samba ‘dança cantada; a música que
acompanha essa dança’, cf. Aurélio).
· Alimentação (abará, acarajé, vatapá).
· Cultos religiosos (candomblé, macumba, umbanda, zumbi).
No âmbito dos cultos afro-brasileiros, a maior parte dos empréstimos
provém das línguas kwa, da África Ocidental. Ocorrem sobretudo na
Bahia e constituem lá 65,7% dos africanismos (Pessoa de Castro

121
Cf. Rossi (1981: 89). Megenney reduziu a 428 casos uma lista de
originalmente 1740 africanismos na Bahia conforme teste etimológico, das
quais 217 se manifestavam como correntes entre seus informantes (1978: 120-
122).
107
1981a: 3). Diferenciam-se dos empréstimos bantu freqüentemente por
meio da acentuação oxítona (axé, orixá). No Brasil há também alguns
topônimos que remontam a uma origem africana (Angola, Banguê,
Cumbe, Quilombo).122
Ao lado dos empréstimos do tupi e das línguas africanas, verifica-
se, no português brasileiro, uma aceitação preferencial por
anglicismos. Comparativamente, o português europeu permanece, em
muitos casos, com o vocabulário autóctone ou apresenta empréstimos
paralelos do francês:
· PB bilhão (PE mil milhões), blecaute (PE apagão), bonde (PE
eléctrico), brecar (PE travar), breque (PE travão), câncer (PE
cancro), esquete (PE rábula), jeans (PE ganga), mouse (PE rato),
piche (PE alcatrão), ranking (PE classificação), suéter (PE camisola),
trem (PE comboio).
· PB aids (PE sida, fr. sida), PB arquivo (PE ficheiro, fr. fichier),
concreto (PE betão, fr. béton), hora do rush (PE hora de ponta, fr.
heure de pointe), prefixo (PE indicativo, fr. indicatif), time (PE
equipa, fr. éqipe), trailer (PE caravana, fr. caravane), xérox (PE
fotocópia, fr. photocopie).
Há alguns anos, o português europeu vem recebendo um certo influxo
de vocabulário do português brasileiro, o qual, em primeiro plano, se
faz observar pelas telenovelas brasileiras transmitidas em Portugal.
Essas séries televisivas proporcionam em Portugal, por um lado,
conhecimentos passivos das características brasileiras, mas, por outro,
transmitem também os brasileirismos de maneira direta.123 Desse
modo, na geração mais jovem, a freqüente expressão coloquial
bacana se tornou freqüente. O freqüente uso de legal no português
brasileiro, contudo, não teve a mesma aceitação. Para essas
influências no campo dos vocabulários não existem pesquisas
especiais. As maiores divergências no vocabulário do português
europeu e brasileiro aparecem no âmbito da variante substandard

122
Cf. Fernandes, “Toponímia brasileira” (1941-43: II, 5-69, 14).
123
No espanhol hispano-americano, é observável um fenômeno de difusão
semelhante por meio da divulgação dos filmes mexicanos. No mundo árabe,
as produções de filmes egípcios contribuiu para o domínio passivo do dialeto
árabe egípcio que, comparativamente, em uma área lingüística fortemente
fragmentada, atinge o distante espaço marroquino.
108
(gíria, calão). Também com respeito a isso não há pesquisas
comparativas.
No campo da formação de palavras (cf. Sandmann 1989)
tampouco existem pesquisas contrastivas com o português europeu.
Na língua falada no Brasil, há uma forte disposição para o uso do
sufixo -(z)inho (cf. PB supermercadinho), que se associa também com
advérbios, gerúndios e particípios (PB cedinho, pertinho;
dormindinho; chegadinho). Isso significa uma limitação nas possi-
bilidades da formação do diminutivo no português brasileiro, em
comparação com o português europeu. As relações, contudo, nem
sempre se apresentam de forma inequívoca, como pode mostrar o
título da tradução portuguesa de Le petit prince: PE O Principezinho
vs. PB O Pequeno Príncipe. O sufixo -inho é também gramatica-
lizado, em parte, no português do Brasil (caixinha ‘caixa onde se
depositam gorjetas’). O sufixo diminutivo -ito (rapazito), produtivo
no português europeu é evitado no Brasil.
O português brasileiro forma novas composições com -dromo
(sambódromo) e -lândia (cinelândia). Essa última formação,
inexistente em Portugal (fora de Disneylândia), surgiu no português
brasileiro por meio de empréstimos do alemão, sobretudo em
topônimos (Uberlândia, MG; cf. hinterlândia). Novas formações
ocorrem também no âmbito da política (brizolândia ‘os adeptos de
Leonel de Moura Brizola’). Na política, nomes de pessoas têm ainda
papel como base de derivações de verbos (brizolar ‘apoiar Brizola’,
‘administrar mal’) e de substantivos/adjetivos (malufista, malufiano,
malufar ‘roubar’ < Paulo Maluf) (cf. Sandmann 1989: 6, 68, 43, 61).
O dia-a-dia conduz a neologismos também em outros campos do
português brasileiro. Num artigo sobre o tráfico de droga na
Colômbia, encontra-se, a partir da palavra narcotráfico, ensejo para a
formação de narcopaís ‘país no qual o narcotráfico tem muita
importância’, narco-sociedade ‘sociedade dominada pelo narco-
tráfico’ e narcocassetes ‘videocassetes relacionadas com o narco-
tráfico’ (cf. Veja 21/2/1996: 26, 28). Em artigos sobre a avicultura
brasileira, para a determinação do sexo dos pintinhos – ato importante
para esse tipo de criação – ao lado de sexar ‘identificar o sexo de’ e
do substantivo abstrato sexagem ‘técnica empregada para
determinação do sexo’, aparece também a formação sexador, para
designar a profissão da pessoa que efetua a supramencionada
determinação (Veja 24/4/1996: 65). Além disso, há neologismos como
109
retirante ‘sertanejo que, sozinho ou em grupo, emigra para outras
regiões nacionais, fugindo à seca, nas regiões áridas do N.E.’
(Aurélio, s.v.), que surgiu dos desenvolvimentos sociais do século XX
no Brasil a partir de retirar ‘ir-se, partir’.
O português brasileiro desenvolveu analogamente ao francês uma
preferência por abreviaturas, as quais, às vezes, são mais usadas,
conseqüentemente, em detrimento às formas não-abreviadas,
chegando ao ponto de serem até mesmo lexicalizadas:124 Universidade
de São Paulo > USP ['uspi]; UTI (unidade de terapia intensiva);
Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), esta
última lexicalizada, por exemplo, em frases como ele tem um alto
ibope ‘ele tem muito prestígio’).
Com relação a prenomes masculinos, o português brasileiro
conhece, a par das formas tradicionais, uma grande riqueza de varia-
ções e combinações, que, em parte, também recorre a sobrenomes
estrangeiros: Ayrton, Ade, Cícero, Cleiton, Onildo, Patrick Rogean,
Robenildo, Wagner, Wellington Carlos (cf. Vieira da Costa 1988). A
particularidade de prenomes (femininos) de origem indígena já foi
mencionada, nesse capítulo, na parte sobre os tupinismos. Os
prenomes marianos (Maria Conceição etc.) freqüentes em Portugal
são menos divulgados no Brasil.

3.3.1 Glossário PB — PE — Inglês


No que diz respeito às diferenças lexicais entre o português europeu e
o brasileiro existem curtas listagens oferecidas por Zamarin (1970),
Ermínio Rodrigues (1981) e Pellegrini Filho (1995). Com relação ao
alemão, por exemplo, existe um contraste vocabular semelhante
somente no âmbito de uma gramática de bolso (Paulik 1998), mas não
no âmbito de métodos de línguas. Segue-se, a título de ilustração, uma
lista que compõe diferenças lexicais entre o português brasileiro e o
europeu no vocabulário, de uso geral, junto com a tradução em inglês
norte-americano. Palavras portuguesas com (*) ocorrem também no
português brasileiro.

abajur s.m. candeeiro de pé s.m. ‘lampshade; bedside lamp’

124
Cf. Novo Manual (1994: 245-261), Born (1996).
110
absorvente s.m. penso higiênico ‘landing’
s.m. ‘feminine napkin’ aterrissar v.intr. aterrar v.intr. ‘to
acostamento s.m. berma s.f. land’
‘(highway) shoulder’ aula de direção s.f. aula de con-
açougue s.m. talho s.m. dução s.f. ‘driving lesson’
‘butchery’; PE açougue autopista s.f. auto-estrada* s.f.
‘matadouro’ ‘slaughterhouse’ ‘highway’
açougueiro s.m. talhante s.m. babá s.f. ama s.f. ‘nanny’
‘butcher’ bacana adj. (col.) porreiro ‘neat’
aeromoça s.f. hospedeira s.f. bagunça s.f. (inf.) desordem* s.f.
‘flight attendant’ ‘mess’
afresco s.m. fresco s.m. ‘fresco’ bala s.f. rebuçado s.m. ‘sweet’
água-viva s.f. alforreca s.f. balconista s.m. empregado de
‘jellyfish’ balcão s.m. ‘shop assistant’
aids s.m. sida s.f. ‘AIDS’ banca (de jornal) s.f. quiosque s.m.
ajustagem s.f. regulação s.f. ‘newspaper stall’
‘regulation (machine)’ banca examinadora s.f. júri* s.f.
alavanca de câmbio (/de mu- ‘board of examination’
danças) s.f. alavanca de velo- bancar v.tr. dar-se ares de loc.v.
cidades s.f. ‘gear lever’ ‘to pretend to be’
alô interj. está lá? ‘hello’ banheiro s.m. casa de banho s.f.
alto-falante s.m. altifalante s.m. ‘bathroom; toilet’; PE banheiro
‘loudspeaker’ ‘salva-vidas’ ‘lifeguard’
aluguel s.m. renda s.f., aluguer barbeador s.m. máquina de
s.m. ‘rent’; PB renda ‘salário’ barbear s.f. ‘shaver’
‘income’ barca s.f. ferry-boat s.m. ‘ferry’
amolar v.tr. *chatear ‘to annoy’ barraca s.f. tenda s.f. ‘tent’
anágua s.f. saiote s.m. ‘petticoat’ bicha s.f. (inf.) maricas s.m.
andar térreo s.m. rés-do-chão s.m. ‘queer’; PE estar na bicha ‘to
‘ground floor’ line up’
apertar (um botão) v.tr. carregar bilhão s.m. mil milhões s.m.pl. ‘a
(num botão) v.tr. ‘to press (a thousand million’
button)’ bilheteria s.f. bilheteira s.f. ‘box-
apontador s.m. apara-lápis s.m. office’; PB bilheteiro aquele que
‘pencil sharpener’ vende ingressos ‘box-office
araponga s.f. delator s.m. ‘(police) clerk’
informer’ bolsa s.f. mala de mão s.f.
arquibancada s.f. bancada s.f. ‘handbag’
‘row of seats in a stadium’ bolso s.m. algibeira s.f. ‘pocket’
arquivo s.m. comp. ficheiro s.m. bonde s.m. eléctrico s.m.
‘file’ ‘streetcar’
atacadista s.m. grossista s.m. borboleta s.f. torniquete s.m.
‘wholesaler’ ‘turnstile’
aterrissagem s.f. aterragem s.f. botar v.tr. pôr*, colocar* v.tr. ‘to
111
put’; PE botar (inf.) ‘night-dress’; PE camisola
brecar v.intr. travar v.intr. ‘to ‘camiseta, suéter’ ‘undershirt,
brake’ pullover’
breque s.m. travão s.m. ‘brake’ camping s.m. 1. campismo s.m. 2.
caçamba s.f. alcatruz s.m. ‘(well) parque de campismo s.m.
bucket’ ‘camping; camping site’
cacheado adj. em cachos s.m. campo de esporte s.m. campo de
‘curly’ desportos s.m. ‘sports grounds’
cachorro s.m. cão* s.m. ‘dog’; PE camundongo s.m. rato* s.m.
cachorro ‘cão novo’ ‘puppy’ ‘mouse’
caçula (filho ~, irmão ~; filha ~, câncer s.m. cancro s.m. ‘cancer’
irmã ~) s.m., s.f., adj. o filho, o caolho adj. zarolho ‘one-eyed’
irmão mais novo; a filha, a irmã capa de chuva s.f. gabardine s.f.
mais nova s.m., s.f.; benjamim ‘raincoat’; PB/PE também im-
s.m. ‘the youngest son, permeável
brother/sister’ cara s.m. (col.) gajo s.m. ‘guy’
cadarços s.m.pl. atacadores s.m.pl. cardápio s.m. ementa s.f. ‘menu’
‘shoestrings’ carona (ir de ~) s.f. boleia (ir à ~)
cadê pr.interr. (col.) onde (está) s.f. ‘to hitch-hike’
‘where is’; Cadê meus óculos? carregador de malas s.m. baga-
cadeira de balanço s.f. cadeira de geiro s.m. ‘baggage-man’
baloiço s.f. ‘rocking-chair’ carro de aluguel s.m. carro de
café da manhã s.m. pequeno aluguer s.m. ‘hire car’
almoço s.m. ‘breakfast’ carro esportivo s.m. carro de des-
caixa de descarga s.f. autoclismo porto s.m. ‘sportscar’
s.m. ‘flush’ carta registrada s.f. carta regis-
caixa eletrônico s.m. caixa tada s.f. ‘registered letter’
automático s.m. ‘cash dispenser, cartão postal s.m. bilhete postal
ATM’ s.m. ‘postcard’
caixa postal s.f. apartado s.m. ‘PO carteira (/cédula) de identidade
box’ s.f. bilhete de identidade s.f. ‘ID
calçada s.f. passeio* s.m. card’
‘sidewalk’ carteira de motorista (/de habi-
calha s.f. caleira s.f. ‘gutter’ litação) s.f. carta de condução s.f.
calibrar (os pneus) v.tr. encher (os ‘driver’s licence’
pneus) v.tr. ‘to check the tires’ carteira s.f. 1. porta-moedas s.f.
camareira s.f. empregada de ‘wallet’ 2. maço s.m. ‘pack (of
quartos s.f. ‘chambermaid’ cigarettes)’
camelô s.m. vendedor ambulante* caxumba s.f. papeira s.f. ‘mumps’
s.m. ‘street vendor’ celular s.m. telemóvel s.m.
caminhão s.m. camião s.m. ‘truck’ ‘cellphone’
camiseta s.f. camisola s.f. ‘T-shirt, centroavante s.m. avançado-
undershirt’ centro s.m. ‘center-forward’
camisola s.f. camisa de dormir s.f. CEP ['s(pi] (código de endereça-
112
mento postal) s.m. código postal* ‘take-off’
s.m. ‘zip code’ decolar v.intr. descolar v.intr. ‘to
certificado de propriedade de take off’
veículo s.m. livrete s.m. ‘vehicle delegacia (de polícia) s.f. esquadra
registration document’ (de polícia) s.f. ‘police station’
chácara s.f quinta s.f. ‘small farm’ delegado s.m. comissário s.m.
chegar na hora loc.v. chegar à ‘superindendent’
tabela loc.v. ‘to be on time’ desenhista s.m. desenhador s.m.
chope s.m. imperial s.f., fino s.m. ‘drawer, designer’
‘draft beer’ diretoria s.f. direcção* s.f.
cobrador s.m. revisor s.m. ‘management’
‘conductor’ discar v.tr. marcar* v.tr. ‘to dial’
cochilar v.intr. dormitar v.intr. ‘to doador de sangue s.m. dador de
doze off’ sangue s.m. ‘blood donor’
comercial s.m. publicidade* s.f. dormitório s.m. quarto de dormir
‘commercial’ s.m. ‘bedroom’
comerciário s.m. empregado de drágea s.f. drageia s.f. ‘coated
comércio s.m. ‘commercial tablet’
employee’ drive-in s.m. autocinema s.m.
comissário de bordo s.m. criado ‘drive-in cinema’
de bordo s.m. ‘flight attendant’ ducha s.f. duche s.m. ‘shower’
concreto s.m. betão s.m. ‘concrete’ elevador s.m. ascensor, elevador
conexão s.f. ligação s.f. s.m. ‘elevator’
‘connection, connecting flight embreagem s.f. embraiagem s.f.
etc.’ ‘clutch’
conscientizar v.tr. conscientalizar encanador s.m. canalizador s.m.
v.tr. ‘to have an idea about’ ‘plumber’
contabilista s.m. contador s.m. encanamento s.m. encanação s.f.
‘accountant’ ‘sewerage’
conversível s.m. descapotável s.m. engraxate s.m. engraxador s.m.
‘convertible’ ‘shoeshiner’
cordão s.m. atacador s.m. ‘lace’ ensolarado adj. soalheiro ‘sunny’
córner s.m. canto s.m. ‘corner entorpecentes s.m.pl. estupefa-
(soccer)’; PB também tiro de cientes s.m.pl. ‘narcotics’
canto entretanto adv. contudo
costume s.m. 1. fato de saia e ‘however’
casaco s.m. ‘suit’; 2. fato s.m. equipe s.f. equipa s.f. ‘team
‘suit’ (players)’
cueca s.f. cueca(s) (de homem) s.f. escanteio s.m. canto s.m. ‘corner’;
‘underpants’; PB, para mulheres, PB também tiro de canto
calcinha escapamento s.m. escape s.m.
cúpula s.f. cimeira s.f. ‘summit ‘exhaust’
conference’ escova de roupa s.f. escova de
decolagem s.f. descolagem s.f. fatos s.f. ‘clothes brush’
113
escovar (os dentes) v.tr. lavar (os ‘vanity case’
dentes) v.tr. ‘to brush one’s frear v.tr., v.intr. travar v.tr.,
teeth’ v.intr. ‘to brake’
esfriar v.tr., v.intr., v.pr. arrefecer freio s.m. travão s.m. ‘brake’
v.tr., v.intr., v.pr. ‘to cool, to frentista s.m. gasolineiro s.m. ‘gas
grow cold’ station attendant’
esmalte de unhas s.m. verniz de fumaça s.f. fumo s.m. ‘smoke’
unhas s.m. ‘nail polish’ fumante s.m. fumador s.m.
esparadrapo s.m. adesivo s.m. ‘smoker’
‘adhesive tape’ fumo s.m. tabaco s.m. ‘tobacco’
esporte s.m. desporto s.m. ‘sport’ furadeira s.f. berbequim s.m.
esquentar v.tr., v.intr., v.pr. ‘drill’
aquecer v.tr., v.intr., v.pr. ‘to galho (quebrar um ~) loc. (inf.)
heat, to grow warm’ resolver um problema ‘to solve a
estação ferroviária s.f. estação problem’
dos caminhos de ferro s.f. garçom s.m. empregado de mesa
‘railroad station’ s.m. ‘waiter’
estepe s.m. roda sobresselente s.m. garçonete s.f. empregada de mesa
‘spare tyre’ s.f. ‘waitress’
estrada de ferro s.f. caminho de gari s.f. varredor s.m. ‘street-
ferro s.m. ‘railroad’ sweeper’
faixa de pedestres s.f. passadeira geladeira s.f. frigorífico s.m.
s.f. ‘crosswalk’ ‘refigerator’; PE geladeira ‘caixa
favela s.f. bairro de lata s.m. de isopor’ ‘ice box’
‘slum’ gol s.m. golo s.m. ‘goal’
faxineira s.f. mulher-a-dias s.f. goleiro s.m. guarda-redes s.m.
‘cleaning woman’ ‘goalkeeper’
fecho ecler s.m. fecho de correr grama s.f. relva* s.f. ‘grass’
s.m. ‘zipper’ gramado s.m. relvado s.m. ‘turf;
fichário s.m. ficheiro s.m. ‘card soccer field’
index’ grampeador s.m. agrafador s.m.
fila (fazer ~) s.f. bicha (estar na ~) ‘stapler’
s.f. ‘to line up’; v. bicha guidão s.m. guiador s.m. ‘handle
fofoca s.f. mexerica s.f. ‘gossip’ bar’
fogo (ter ~, dar ~) s.m. lume (ter, guincho s.m. carro de reboque*
dar ~) s.m. ‘to have, give a light’ s.m. ‘tow truck’
foguete s.m. foguetão s.m. guri s.m. miúdo s.m. ‘little boy’
‘rocket’; PE foguete ‘fogo de hidrante s.m. boca de incêndio s.f.
artifício’ ‘fireworks’ ‘fire hydrant’
fone s.m. auscultador s.m. hora de pique (/do rush) s.f. hora
‘receiver (telephone)’ de ponta s.f. ‘rush hour’
fones de ouvido s.m. ingresso s.m. bilhete de entrada
auscultadores s.m. ‘headphones’ s.m. ‘ticket’
frasqueira s.f. mala de toalete s.f. isopor s.m. esferovite s.f.
114
‘styrofoam’ metrô s.m. metro s.m. ‘subway’
jardineira s.f. educadora infantil mídia s.f. média s.f.pl.
s.f. ‘kindergarten teacher’ Ministério da Fazenda s.m.
jeans s.m.pl. ganga s.f. ‘jeans’ Ministério das Finanças s.m.
jogar fora v.tr. deitar fora ‘to ‘ministry of finance’
throw away’ Ministério das Relações Exte-
jornaleiro s.m. vendedor de jor- riores s.m. Ministério dos Ne-
nais s.m. ‘news vendor’ gócios Estrangeiros s.m.
laguna s.f. albufeira, laguna s.f. ‘Brazilian State Department’
‘lagoon’ Ministério dos Negócios Inte-
lanchonete s.f. snack-bar s.m. riores s.m. Ministério do Interior
‘snack bar’ s.m. ‘ministry of the interior’
lavadora s.f. máquina de lavar mobiliado adj. mobilado
roupa s.f. ‘washing machine’ ‘furnished’
lavanderia s.f. lava(n)daria s.f. moça s.f. rapariga s.f. ‘girl’; PB
‘laundry’ rapariga prostituta ‘prostitute’
legal adj. (col.) muito bom loc.adj. motorista s.m. condutor s.m.
‘all right’ ‘driver’; PE motorista ‘motorista
ligação s.f. telefonema* s.m. professional’ ‘professional
‘phonecall’ driver’
lixa de unha s.f. lima de unhas* mouse s.m. comp. rato s.m.
s.f. ‘nail file’ ‘mouse’
locadora de carros s.f. agência de nadadeira s.f. barbatana s.f. ‘fins’
aluguer de carros s.f. ‘car rental’ nécessaire s.m. saco de toalete
lotado adj. cheio ‘crowded’ s.m. ‘toilet bag’
lugar de nascimento s.m. natu- necrotério s.m. morgue s.f.
ralidade s.f. ‘birthplace’ ‘morgue’
macacão s.m. fato-macaco s.m. nenê s.m. bebé s.m. ‘baby’
‘worker’s overall’ oi interj. olá ‘hello’
maiô s.m. fato de banho s.m. óleo diesel s.m. gasóleo s.m.
‘bathing suit’ ‘diesel oil’
mamadeira s.f. biberão s.m. ônibus s.m. autocarro s.m. ‘bus’
‘feeding bottle’ ônibus espacial s.m. vaivém
marcha a ré s.f. marcha atrás s.f. espacial s.m. ‘space shuttle’
‘reverse gear’ orelhão s.m. cabina de telefone s.f.
marrom adj. castanho ‘brown’; ‘open phone booth’
PB olhos castanhos ‘brown eyes’ paletó s.m. casaco s.m. ‘jacket’;
meia num. seis ‘six’ (por ex., no PE paletó sobretudo ‘coat’
telefone) pão-duro adj. (col.) avarento
meia s.f. peúga s.f. ‘sock’ ‘stingy’
meio-fio s.m. borda do passeio s.f. Papai Noel s.m. Pai Natal s.m.
‘curb’ ‘Santa Claus’
mensageiro s.m. paquete s.m. parada s.m. paragem s.f. ‘(bus)
‘errand-boy’ stop’
115
pára-lama s.m. guarda-lama s.m. portão (de embarque) s.m. porta
‘fender’ (de embarque) s.f. ‘gate’
pedágio s.m. portagem s.f. ‘toll’ poste de iluminação s.m.
pedalinho s.m. barco a pedal s.m. lampião* da rua s.m. ‘lamppost’
‘pedalo’ pouso s.m. aterragem s.f. ‘landing’
pedestre s.m. peão s.m. prefeito s.m. presidente da Câmara
‘pedestrian’ Municipal s.m. ‘mayor’
pegar (o ônibus) v.tr. apanhar (o prefeitura s.f. Câmara Municipal
autocarro) v.tr. ‘to take’ (the bus) s.f. ‘town hall’
peleteria s.f. pelaria s.f. ‘furrier’'s preferencial s.f. rua com
shop’ prioridade s.f. ‘through street’
pernoite s.m. pernoita s.f. prefixo s.m. indicativo s.m. ‘area
‘overnight stay’ code’
persiana s.f. estore s.m. ‘blinds’ pré-primário s.m. pré-primária s.f.
piche s.m. alcatrão s.m. ‘tar’ ‘preschool’
pimentão s.m. pimento, pimentão pressão arterial s.f. tensão arterial
s.m. ‘sweet pepper’ s.f. ‘blood pressure’
pipa s.f. papagaio s.m. ‘kite’ presunto s.m. fiambre s.m.
pistolão s.m. cunha s.f. ‘protection ‘cooked ham’; PE presunto
of an influential person’ ‘presunto cru’ ‘uncooked ham’
piteira s.f. boquilha s.f. ‘cigar- pronto-socorro s.m. serviço de
holder; cigarette-holder’ urgência s.m. ‘emergency room’
pito s.m. cachimbo s.m. ‘pipe’ propina s.f. luvas s.f.pl. ‘bribe
planejar v.tr. planear v.tr. ‘to money’; PE propina ‘custo da
plan’ instrução’ ‘tuition’
plugue s.m. ficha s.f. ‘plug’ quadrinhos (história em ~)
pois não loc.adv. pois é loc.adv. s.m.pl. banda desenhada s.f.
‘of course’ ‘comic strips’
policial s.m. polícia s.m. ramal s.m. extensão s.f. ‘telephone
‘policeman’ extension line’
ponta-direita s.m. extremo-direito recompensa s.f. alvíssaras s.f.pl.
s.m. ‘outside-right’ ‘finder’s reward’
ponta-esquerda s.m. extremo- registrar v.tr. registar v.tr. ‘to
esquerdo s.m. ‘outside-left’ register’
ponto (de ônibus) s.m. paragem reserva s.f. suplente s.m.
s.f. ‘(bus) stop’ ‘substitute’ (soccer)
ponto de gasolina s.m. bomba de reservar v.tr. marcar v.tr. ‘to
gasolina s.f. ‘gas station’ reserve’
ponto de táxi s.m. praça de táxis resfriado s.m. constipação s.f.
s.f. ‘taxi stand’ ‘cold’
ponto final s.m. fim da linha s.m. resfriar-se v.pron. constipar-se
‘terminus’ v.pron. ‘to catch a cold’
porão s.m. cave s.f. ‘cellar’ restaurante universitário s.m.
porção s.f. dose s.f. ‘serving’ cantina universitária s.f.
116
‘commons’ tanque (de gasolina) s.m. depósito
retrasado (a semana ~a) adj. (a (de gasolina) s.m. ‘(gas) tank’
semana) atrasada ‘(the week) tela s.f. comp. ecrã s.m. ‘screen’
before last’ tempo s.m. parte s.f. ‘first, second
rodovia s.f. estrada* s.f. ‘highway’ half’ (soccer)
rodoviária s.f. estação rodoviária ter v.tr. haver v.tr. ‘to be, exist’;
s.f. ‘bus station’ tem há ‘there is’
roupa de baixo s.f. roupa interior terno s.m. fato s.m. ‘suit’
s.f. ‘underwear’ time s.m. equipa s.f. ‘team’
saco de dormir s.m. saco-cama toalete s.m. lavatório s.m.
s.m. ‘sleeping bag’ ‘lavatory, bathroom’
sacola s.f. saco s.m. ‘bag’ toca-discos s.m. gira-discos s.m.
salva-vidas s.m. banheiro, nadador ‘record player’
salvador s.m. ‘pool attendant, toca-fitas s.m. leitor de cassetes
lifeguard’; PE salva-vidas ‘barco, s.m. ‘cassette player’
colete salva-vidas’ ‘lifeboat, life torcedor s.m. fã* s.m. ‘fan’
vest’ tornozelo s.m. artelho, tornozelo
sebo s.m. alfarrabista s.m. ‘second- s.m. ‘ankle’
hand bookshop’ torrada s.f. tosta s.f. ‘toast’
secretária eletrônica s.f. aten- trailer s.m. caravana s.f., roulotte
dedor de chamadas s.m. ‘answer- s.f. ‘trailer’
ing machine’ trem (pegar o ~) s.m. (apanhar o)
senhorita s.f. menina s.f. ‘Miss’ comboio s.m. ‘train’
sinal s.m. semáforo s.m. ‘traffic trilha sonora s.f. banda sonora s.f.
light’ ‘sound track’
sítio s.m. quinta s.f. ‘small farm’ turma s.f. malta s.f. ‘(circle of)
sobrenome s.m. apelido s.m. friends, folks’
‘surname’; PE sobrenome turno s.m. volta s.f. ‘(first) ballot’
‘alcunha’ ‘nickname’ usina s.f. fábrica* s.f. ‘factory’
sorvete s.m. gelado s.m. ‘ice- usina nuclear s.f. central nuclear
cream’ s.f. ‘nuclear plant’
sorveteria s.f. geladaria s.f. ‘ice- usuário s.m. utente s.m. ‘user’
cream shop’ vagão s.m. carruagem s.f.
suco s.m. sumo s.m. ‘juice’ ‘carriage’
suéter s.m. camisola s.f., pulóver vagão-leito s.m. carruagem-cama
s.m. ‘pullover’ s.f. ‘sleeping car’
sujeira s.f. sujidade s.f. ‘dirt’ varal s.m. estandal s.m. ‘clothes-
surfar v.intr. praticar surf loc.v. line’
‘to surf’ varejista s.m. retalhista s.m.
tabacaria s.f. estanco s.m., taba- ‘retailer’
caria s.f. ‘tobacco shop’ varejo s.m. comércio a retalho
tabelião s.m. notário s.m. ‘notary’ s.m. ‘retail trade’
talão de cheques s.m. livro de veranista s.m. veraneante s.m.
cheques s.m. ‘checkbook’ ‘vacationer’
117
vestibular s.m. exame do 12° ano
s.m. ‘entrance examination’
(university)
videocâmara s.f. câmara de vídeo
s.f. ‘video camera’
vistoriar v.tr. revistar v.tr. ‘to
inspect’
vitrina s.f. montra s.f. ‘shop-
window’
xérox s.m. fotocópia* s.f. ‘photo-
copy’
xícara s.f. chávena* s.f. ‘cup’
xingar v.tr. *insultar (com palav-
ras) v.tr. ‘to insult’
zelador s.m. porteiro* s.m.
‘janitor’
118

3.4 Ortografia
Conforme a regulamentação válida em 2007 antes da entrada em vigor
do Acordo Ortográfico de 1990 existem diferenças ortográficas entre
o português europeu e o brasileiro que resultam preponderantemente
de divergências na pronúncia.125 Diferenças no grau de abertura das
vogais são marcadas com acento. A saber:
· Vogais tônicas antes de nasal (PE génio [‘Z(nju] vs. PB gênio
[‘Zenju]; PE António vs. PB Antônio; PE económico vs. PB
econômico).
· A primeira pessoa do plural da primeira conjugação contrastando o
presente e o pretérito perfeito do indicativo (PE cantamos [ä], can-
támos [a] vs. PB cantamos [ä]).
· A primeira pessoa do plural de dar contrastando o presente do
subjuntivo e o pretérito perfeito do indicativo (PE dêmos [e], demos
[(] vs. PB demos [e]).
· Vogais tônicas em final de palavra (PE guiché [(] vs. PB guichê [e]).
· O ditongo ei (PE ideia vs. PB idéia), que no português brasileiro é
realizado aberto ou fechado (idéia [(ì] vs. feio [eì]), enquanto o padrão
europeu generalizou a pronúncia [äì].126
Consoantes etimológicas mudas não são utilizadas de modo geral na
grafia do português brasileiro (PE óptimo [)] vs. PB ótimo [)]). Isso
também diz respeito a clusters consonantais que foram simplificados
na pronúncia do português brasileiro (PE secção [(k] vs. PB seção
[e]).
O português brasileiro grafa, por meio de um u tremado (<ü>), a
pronúncia da aproximante nos encontros [gw] e [kw] antes de vogais
anteriores (PE linguística [gw] vs. PB lingüística [gw]). Palavras em
-oo são escritas com acento circunflexo no português brasileiro (PE
voo vs. PB vôo).

125
Cf. Teyssier (1976: 52-54), Houaiss (1991a). A ortografia se baseia nas
regras de 1971 (Brasil) e de 1973 (Portugal) (cf. 7.4). A respeito do Acordo
Ortográfico de 1990, v. abaixo.
126
Também diz respeito o feminino dos adjetivos em -eu (PE europeia vs.
PB européia) e verbos em -ear (bolear, debrear, embrear, estrear, idear),
que, no português brasileiro, se escrevem com <éi> nas formas rizotônicas
(PE boleio [äì] vs. PB boléio [(ì]).
119

As formas conjugadas de haver de com significado futuro são, no


português europeu, escritas com hífen, diferentemente do português
brasileiro (PE há-de vs. PB há de). Com relação à separação de
compostos, o hífen, no português europeu, repete-se na linha que se
segue, o que não é o caso do português brasileiro (PE vice-|-almirante
vs. PB vice-|almirante).
Nomes de meses são escritos com maiúscula no português
europeu, mas com minúsculas no Brasil (PE Janeiro vs. PB janeiro).
Além disso, há, entre as duas variedades, diferenças assistemáticas
que, no caso de empréstimos, chamam a atenção, devido a uma maior
adaptação gráfica no português brasileiro. Comparem-se:
PB PE
balé ballet
bebê bebé
beisebol basebol
berinjela beringela
boate boîte
caubói cowboy
conosco connosco
capô capot
dezesseis dezasseis
dezessete dezassete
dezenove dezanove
estoque stock
fecho ecler fecho eclair
ímã íman
por quê? porquê?
quatorze catorze
sutiã soutien
úmido húmido
umidade humidade
videoteipe videotape
xampu champô
Bases para uma nova ortografia no mundo lusófono (cf. Houaiss
1991) se esboçam no Acordo Ortográfico, decidido em dezembro de
1990, que até 2007 ainda não teve nenhuma validade. As diferenças
existentes entre o português europeu e o brasileiro, no tocante à
120

ortografia, não são abolidas, contudo, por meio do Acordo, mas


apenas oficializadas em parte como variantes (dupla grafia).127
Conforme o Acordo Ortográfico, são mantidas as grafias
desviantes quando entre o português europeu e o brasileiro houver
diferenças nos graus de abertura das vogais. Isso diz respeito aos
casos descritos das vogais tônicas diante de nasal, a primeira pessoa
do plural da primeira conjugação, que diferencia presente e pretérito
perfeito do indicativo, a primeira pessoa do plural de dar
diferenciando o presente do subjuntivo e pretérito perfeito do
indicativo, assim como as vogais tônicas em final de palavra. Cai,
contudo, a marcação da abertura do ditongo ei, indicada por meio de
acento no português brasileiro (PB idéia [(ì]), que não tem
fundamento, no português europeu, devido à pronúncia standard [äì]
(® PE/PB ideia, europeia).
Com relação às consoantes ditas etimológicas que no português
europeu são mudas, em parte (recepção PE [Rös(‘sÄÙ] vs. PB
[hesep‘sÄÙ], excepcional; PE [iSs(sju'naL] vs. PB [esepisjo'naù]), ou
são realizadas de forma distinta no plano idioletal (PE facto
[‘fa[k]tu]), admite-se uma adaptação da ortografia à pronúncia
individual (® PE fa(c)to vs. PB fato, ® PE receção vs. PB recepção,
® PE excecional vs. PB excepcional). Por meio dessa regra, deixa de
existir no português europeu, desde então, o reconhecimento indireto
da abertura da vogal pretônica, que era indicada, até agora, por meio
da consoante muda (PE acção [a’sÄù] vs. aqui [ä'ki]).
Conforme o Acordo Ortográfico, cai o trema, que até agora,
diferenciava a pronúncia da aproximante nos encontros <qü> [kw] e
<gü> [gw] antes de vogais anteriores no português brasileiro (®
PE/PB linguística [gw]). Palavras em -oo são escritas, de acordo com
as regras do português europeu, sem acento circunflexo (® PE/PB
voo).
A grafia da terceira pessoa do singular do presente do indicativo
de haver de é nivelada, no português europeu, por meio da queda do
hífen (® PE/PB hei de). Com respeito à separação de compostos,
permanece a repetição do hífen na linha seguinte (® vice-|-almiran-
te), que não era o caso do português brasileiro. A diferença no uso de
maiúsculas e minúsculas de meses é anulada, a favor da escrita
minúscula à brasileira (® PE/PB janeiro).

127
Cf. Houaiss (1991: 58-93), “Texto oficial do Acordo”.
121

As diferenças assistemáticas nos casos isolados (v. acima) não são


mencionadas, por enquanto, pelo texto do Acordo. Dessa forma,
permanece também a diferença entre PE connosco e PB conosco.
Com o dígrafo <nn>, connosco se apresenta como uma aberração
ortográfica no português, embora sirva para marcar a nasalização na
primeira sílaba. A grafia com <nn> só ocorre, fora esse caso, em
conexão com empréstimos e com derivações de nomes próprios, como
em bennettitáceas, uma família de plantas fósseis do período
mesozóico.
Do ponto de vista lingüístico-pragmático, as minúsculas alterações
estipuladas pelo Acordo Ortográfico de 1990 não oferecem qualquer
vantagem face à regulamentação anterior, visto que, mesmo assim,
uma unificação na grafia não é atingida. Num artigo satírico com o
título “Wem ay a reforma ortográfika” que ironiza a retomada oficial
das consoantes K, W e Y no alfabeto português, o humorista Jô
Soares (1995) criticou a nova reforma da ortografia portuguesa. Essa
crítica é também justificada do ponto de vista lingüístico. Para o
português brasileiro, efetua-se um retrocesso, ao eliminar-se o trema
<gü>, <qü> e a indicação acentual do <éi> aberto [(ì], uma vez que a
nova regulamentação reflete a realidade lingüística de maneira menos
adequada. Ademais, pela aplicação da nova regulamentação, a
concordância ortográfica entre as duas variedades incrementa em
apenas 0,35% (cf. 7.4.). Segundo as últimas informações, o Acordo
Ortográfico teria validade em 2008 e seria implementado num espaço
de dois anos.
122

4. Brasil — brasileiro — língua brasileira


4.1 Fundamentação geral
A denominação do Brasil e o desenvolvimento das designações
relacionadas estão em estreito contato com as primeiras histórias do
país e com o seu povoamento. Pedro Álvares Cabral, a caminho das
Índias, descobriu o Brasil em 22 de abril de 1500, depois de ter
deslocado sua frota da costa da África Ocidental para oeste, a fim de
circundar as temidas calmarias da zona subtropical.128 Diante das
riquezas do sudoeste asiático, essa terra inexplorada não exerceu,
inicialmente, nenhum poder especial de fascínio nos portugueses.
Reconheceram as regiões litorâneas e interessaram-se pelo pau-brasil,
que continha um cobiçado extrato avermelhado de tintura, tornando-
se, em seguida, o único produto comercial da terra (ciclo do pau-
brasil).129 A avaliação econômica geral está em contradição com a
descrição lírica que Américo Vespúcio relata, em 1502, da natureza
do Brasil e que lembra algo da descrição do Novo Mundo, por
Colombo:
“Questa terra è molto amena e piena d’infiniti albori verdi [...]
tanto che infra me pensavo esser presso al paradiso teresto” (Pozzi
1984: 78-79).
Somente trinta anos após a descoberta, diante das pretensões
francesas, Portugal decidiu garantir-se, reivindicando o Brasil para
si.130 O ponto de partida da colonização foi a expedição de Martim
Afonso de Sousa (cf. Diário 1530-32), com a fundação da cidade de

128
“Junta a frota, depois que passou o temporal, por fugir da terra de
Guiné, onde as calmarias lhe podiam empedir seu caminho, empregou-se
muito no már, por lhe ficar seguro poder dobrar o Cabo de Bôa Esperança”
(João de Barros, Primeira Década 1552: 106).
129
Cf. Prado Jr.: “[...] ninguém se interessava pelo Brasil. A não ser os
traficantes de madeira [...] Todas as atenções de Portugal estavam voltadas
para o Oriente [...]” (1993: 31).
130
A França também estava interessada no comércio do pau-brasil. Em
1555, Nicolas Durand de Villegagnon fundou na baía de Guanabara (Rio de
Janeiro) o forte Coligny. A France Antarctique teve existência até 1565. No
final do século XVI, houve na costa entre Sergipe e Maranhão numerosas
bases francesas. Em 1616, os franceses fundaram São Luís do Maranhão.
123

São Vicente (SP) em janeiro de 1532.131 Para administrarem a colônia,


instituíram-se catorze capitanias. Em 1549, Tomé de Sousa foi
nomeado primeiro governador geral. Fundou na Bahia de Todos os
Santos a cidade de Salvador que, até 1763, permaneceu como a capital
do Brasil. Com Tomé de Sousa vieram os jesuítas para o país, que,
sob a liderança do Padre Manuel da Nóbrega, se encarregaram dos
índios, como missionários.132
A descoberta do Brasil está documentada no relato de Pero Vaz de
Caminha. Numa passagem de sua Carta, que se dirigia ao rei D.
Manuel I, descreve o carregamento dos barcos portugueses com
madeira:
“Andavam [os índios] todos tam despostos e tam bem feitos e
galamtes com suas timturas, que pareciam bem; acaretavam desa
lenha quamta podiam com muy boas vomtades, e levavam na aos
batees, [...]” (Cortesão 1994: 138).
A ligação com a pintura dos índios (“timturas [...] desa lenha”) sugere
que se trata da primeira menção ao pau-de-tinta,133 que também é
conhecido como pau-de-pernambuco.134
Em 1501, Fernando de Noronha (Fernão de Loronha) recebeu, em
Portugal, uma concessão oficial para o comércio do pau-brasil (Prado

131
Para conhecer a história, cf. Vianna (1980), Varnhagen (1981), Bethell
(1984), Buarque de Holanda (1985); do ponto de vista filológico, Elia (1992).
132
Em 1759, os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal e
tiveram de abandonar o país. Para conhecer a história, cf. Serafim Leite
(1938-50), História da Companhia de Jesus no Brasil.
133
Os índios tingiam as penas com pau-brasil. Para a pintura da pele
usavam, para o branco, a tabatinga (argila), para o negro, o suco oxidado do
jenipapo e, para o vermelho, as cápsulas do urucum, que também espantava
mosquitos. Ambrósio Fernandes Brandão conta sobre isso nos Diálogos das
Grandezas do Brasil (Diálogos 1618: 154). Vicente Yáñez Pinzón já deve ter
levado a bordo 35 toneladas de pau-brasil quando ele atingiu a costa do Brasil
antes mesmo de Cabral, em janeiro de 1500. Gaspar Correia relata, nas
Lendas da Índia, que Cabral, após a descoberta do Brasil, teria enviado de
volta, diretamente para Portugal, um barco com carregamento equivalente (cf.
Vianna 1980: 105).
134
A designação pau-pernambuco ou pau-fernambuco refere-se à região
de Pernambuco, no nordeste do Brasil, que era famosa por causa desta
madeira (“o mais perfeito e de maior valia se tira das Capitanias de
Pernambuco, Tamaracá e Paraíba”, Diálogos 1618: 110).
124

Jr. 1993: 26). Américo Vespúcio narra, em 1502, numa carta dirigida
a Lorenzo di Pierfrancesco de’ Medici, sobre a costa brasileira:
“Trovamovi infinito virzino e molto buono da caricarne quanti
navili ogi sono nel mare e sanza costo nesuno [...]” (Pozzi 1984:
85).135
Na Europa de então, a madeira de tintura importada do Oriente,
sobretudo pelas repúblicas marítimas de Gênova e Veneza, era conhe-
cida desde há muito tempo sob as denominações de brasile e verzino.
Os árabes a compravam de Sumatra já no século IX.136 O nome árabe
baqqam encontra uma correspondência no malaio sapang e aponta
para a origem no sudeste asiático (port. sapão).137 A ligação com a
Ásia é evidente na descrição de viagem de Marco Polo em 1298: “Or
sachiés qu’il hi naist le berçi coilomin, que mout est buen”.138
A madeira era embarcada em toras finas, cortada em pequenas
lascas ou moída e fervida em água num processo posterior.139 O
extrato obtido assim era cobiçado, por causa de uma moda, difundida
na Idade Média, de tintura vermelha na fabricação de panos, bem
como no uso da cosmética.140
A etimologia controversa da designação brasil foi discutida no
passado não apenas entre lusitanistas. Uma vez que as formas do tipo
brasile se difundiram cedo (port. brasíll 1377; DELP, brasil),141 foi

135
A palavra italiana verzino e formas dialetais como o franco-italiano
berçi remontam ao ár. warsī < ár. wars ‘planta utilizada em tinturaria para dar
o tom amarelo-avermelhado’ (DELP, s.v. brasil).
136
Acerca disso testemunha Ibn Khurdādhbih no seu Kitāb al-Masālik
wa'l-mamālik (‘O Livro dos Caminhos e dos Reinos’): “Cette île produit le
bambou et le bakkam [...]” (Ed. Goeje 1889: 44; texto árabe, 153).
137
O pau-brasil brasileiro (Caesalpinia echinata) pertence a uma das
espécies do mesmo gênero da asiática (Caesalpinia sappan).
138
“Ora vocês devem saber que ali cresce o pau-brasil de Quilon que é
muito bom” (trad. de Ronchi 1982: 579). Quilon é uma cidade em Kerala, na
costa de Malabar (sudoeste da Índia).
139
Cf. fr. brésiller ‘mettre en menus morceaux’ (FEW XV,1: 258b).
140
Cf. esp. brasil ‘color de afeyte’ (Vocabulario 1516, s.v.).
141
Informações sobre o comércio de pau-brasil já existem em Portugal
desde 1342 (cf. Machado de Faria e Maia 1934: 16). Em conseqüência disso,
brasil já era corrente em português antes do primeiro testemunho de 1377. Cf.
cat. brasill 1221 (DECH, brasil), esp. brasil 1267 (Gual Caramena 1968:
240).
125

eliminada a possibilidade de uma derivação do topônimo Brasil, que


era defendida por Canepario no século XVII (Rebello 1839-40: 303).
Portanto, a tentativa de vincular Brasil ao tupi para-sil ‘grande água’,
segundo, por exemplo, a idéia de Rojas (Lokotsch 1926, Brasilien)
está igualmente excluída.142 Os dicionários etimológicos do português
apresentam diferentes versões:
O Dicionário Etimológico Nova Fronteira aprova um empréstimo
do italiano brasile (DENF, brasil), sem buscar mais longe a filiação
da palavra. O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa favorece
o étimo árabe (DELP, s.v.). Machado remonta a palavra –
visivelmente apoiando-se em Battisti/Alessio (DEI, brasile) – ao ár.
wars ‘planta utilizada em tinturaria para dar o tom amarelo-
avermelhado’, que se teria transformado – sob a forma de adjetivo
relacional warsī, via o latim medieval verzinum – no italiano,
dialetalmente como verzino: esse seria o ponto de partida para a forma
popularizada brasile (DELP, brasil). No Dicionário Onomástico
Etimológico da Língua Portuguesa, Machado sustenta esta filiação da
palavra (DEOLP, Brasil).
Nascentes, em Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa
(Nascentes 1952a, Brasil) e em Dicionário Etimológico Resumido
(Nascentes 1966, s.v.), defende um empréstimo do fr. brésil, que se
derivaria também do it. verzino. Com a versão francesa, Nascentes
concorda com Cortelazzo/Zolli (DELI, brasile), em detrimento do
étimo árabe de Battisti/Alessio (DEI, brasile).143
Houaiss (s.v. brasil-) concorda com Corominas/Pascual (DECH,
brasa, brasil) e com a associação com a palavra brasa, disseminada
nas línguas românicas ocidentais. Houaiss lista, ainda, etimologias
errôneas, entre as quais se encontram origens no sânscrito, no grego e
no celta.
Além disso, existem investigações que esclarecem a problemática
sobretudo sob aspectos geográficos e que iniciam com as contribui-
ções de Rebello (1839-40), bem como de Alexander von Humboldt
(1852: I, 439-446).144
142
Outras etimologias tupis são ibira-ciri ‘pau eriçado’ e paraci ‘mãe do
mar’ (Fernandes 1941-43: II, 33-34).
143
Cf. também Meyer-Lübke (REW, 1276), von Wartburg (FEW I: 504a
ss.; XV,1: 254a ss.).
144
Cf. Scaife (1890), Baião (1923), L’Hoist (1940), Cordeiro (1941),
Machado (1965, 1966), Álvarez Delgado (1968), Vidago (1968) e João
126

Os primeiros testemunhos de brasile provêm do latim medieval. A


primeira menção, não acolhida pelos dicionários etimológicos, surge
em 1140 num estatuto de tributação das balanças municipais em
Gênova.145 O primeiro testemunho italiano vem, segundo
Battisti/Alessio, do século XII e ocorre na Itália setentrional como
‘sorta di legno rosso orientale da tintori’ (DEI, brasile). Essa datação
deve ser entendida como correspondente vernácula das formas em
latim medieval. Também o primeiro testemunho francês ocorre no
século XII (TLF, brésil: [1168]). Provém da Picardia que era, como
Flandres, um centro medieval da tinturaria de tecidos.
Num trabalho anterior (Noll 1996b: “Brasil: Herkunft und Ent-
stehung eines Toponyms”), demonstramos que o germ. *brasa ‘brasa’
deve ser considerado como base para brasil, devido à associação com
a cor vermelha.146 Uma ligação etimológica com o it. verzino (< ár.
wars), como defendem Machado (DELP, brasil) e Battisti/Alessio
(DEI, brasile) não se sustenta, porque nem a evolução fonética nem a
datação tardia dos primeiros testemunhos no século XIII concordam.
O germanismo brasile se difundiu provavelmente através do italiano e
do latim medieval.147

Ribeiro (1979a, repr.). A monografia de Silva d’Azevedo (1967) é de utili-


dade restrita. Dicionários mais recentes de toponomástica (cf. Losique 1971,
Deroy/Mulon 1992) são pouco úteis para finalidades etimológicas e não
sobrepujam a Nomina geographica de Egli (1893). Um excelente artigo sobre
Brasil se encontra no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa II
(Nomes próprios), de Nascentes (1952a).
145
“Hoc modo accipitur pesatura de cantario et de rubo. per
unumquemque sacum bambacii de sicilia denarios brunetos quatuor per
cantarium. bambacii alexandrie et antiochie similiter denarios quatuor per
centenarium. piperis brasili. indici. encensi. cimani. zimzabri lache similiter
denarios quatuor per cantarium” (HPM 1854: 71). Uma nota desapercebida na
Geschichte des Levantehandels im Mittelalter se refere a este testemunho
(Heyd 1971: II, 577, n. 3).
146
Cf. também Du Cange: “Unde autem hujus vocis origo? forte a Brasa,
quia carbonum candentium colorem refert” (1887 [11678], Brasile).
147
A forma francesa brésil corresponde à evolução fonética dessa língua
(*brasa > breze > braise). A sufixação com -ile/-il se deve à interferência
com o lat. -ilis, dado que os registros de comércio se faziam em latim (cf.
lignum brasile).
127

A relação entre brasa e Brasil é estabelecida já em 1576, por Pero


de Magalhães Gândavo na História da Província de S. Cruz, a que
Vulgarmente Chamamos Brasil:
“[...] depois que o pau da tinta começou de vir a estes Reinos; ao
qual chamaram brasil por ser vermelho, e ter semelhança de brasa,
e daqui ficou a terra com este nome de Brasil” (História 1576: 80).

4.2 De terra de Vera Cruz a Brasil


Segundo a carta de Pero Vaz de Caminha, Cabral chamou o Brasil, no
descobrimento, influenciado pela festa de Páscoa, de terra de Vera
Cruz:
“[...] e neeste dia, a oras de bespera, ouvemos vista de tera, saber:
primeiramente d huum gramde monte muy alto e redomdo, [...] ao
qual monte alto o capitam pos o nome Pascoal, e aa tera a tera de
Vera Cruz” (Cortesão 1994: 127).
Não reconhecendo a extensão continental, Caminha chamou a terra
num outro texto também de “jlha de Vera Cruz”.148 Isso corresponde à
primeira representação cartográfica da América por Juan de la Cosa,
do ano de 1500, que registra o Brasil como ilha e a descreve como
“ysla descubierta per portugal” (Kretschmer 1991, lâmina VII).
Já no século XIV aparece em mapas marítimos no Atlântico
central e setentrional, às vezes em diferentes pontos, uma ilha mítica
chamada Brasil. A primeira menção do ano de 1325 (“insula montonis
sive obrazil”) situa essa ilha a sudoeste da Irlanda (Vidago 1968:
432). Kretschmer (1892) já chamava a atenção para a arbitrariedade
desses registros.149 Vidago atribuiu convincentemente essa
designação, contra a tese de L’Hoist (1940)150, ao nome irlandês

148
“D este Porto Seguro da vosa jlha de Vera Cruz oje sesta feira primeiro
dia de Mayo de 1500” (Cortesão 1994: 141).
149
“Tão pouco a existência da ilha foi assegurada, ela permaneceu como
antes nos mapas e ainda nos séculos XVII e XVIII encontra-se neles” (trad. de
Kretschmer 1892: 220). Ainda no século XIX, os mapas do almirantado
representam a oeste do extremo sul irlandês uma Brasil Rock (ibid., 221). Na
Ilha Terceira (Açores), próximo à cidade de Angra, há uma montanha com o
nome de Brasil.
150
L’Hoist era do ponto de vista de que Brasil remontia a uma versão do
nome daquela ilha mítica.
128

O’Brazil, que aparecia em diferentes variantes, até então corrente.


Exclui-se, portanto, uma associação com Brasil ou com o pau-brasil.
No ano de 1501, o rei português D. Manuel I utilizou numa carta
aos reis católicos, como denominação oficial do Brasil, o nome de
Santa Cruz:
“O dito meu capitão com treze náos partiu de Lisboa a nove dias
de março do ano passado e nas oitavas de páscoa seguinte chegou
a uma terra que novamente descubriu a que pôs nome Santa Cruz,
[...]” (História 1921-24: II, 165).151
O primeiro mapa português do Brasil que Alberto Cantino levou para
a Itália em 1502 e que porta o nome dele, registra na legenda, com
relação a Cabral, o nome de Vera Cruz:
“a bera cruz a chamada y nome aquall achou pedraluares cabrall
[...]” (História 1921-24: II, 265, mapa).
Isso vale também para o mapa de Nicolau Canerio, parecido com o de
Cantino (Kretschmer 1991, lâmina VIII,1).152 As variantes terra de
Vera Cruz e terra de Santa Cruz sublinham a tendência aos
hagiônimos na toponímia do Novo Mundo.153

151
Este trecho da carta real, proveniente de uma cópia do Arquivio di
Stato em Veneza, diz na versão citada preponderantemente em espanhol: “El
dicho mi capitan con trece naos partió de Lisboa à nueve de Marzo del año
pasado. En las octavas de la pascua siguiente llegó à una tierra que
nuevamente descubrió, á la cual puso nombre de Santa Cruz, [...]” (Cortesão
1994: 181). Essa versão espanhola (Arquivo de Zaragoza; cf. Ribeiro/Araújo
Moreira Neto 1992: 94-97; Cortesão 1994: 181-186) é uma tradução, uma vez
que o rei de Portugal se correspondia com os reis católicos em português (cf.
História 1921-24: II, 167).
152
O mapa de Canerio (também Caverio, Caveiro, Caveri) surgiu por
volta de 1503 (Kretschmer 1991: 30a). Foi datado por La Roncière/Mollat du
Jourdain como sendo de 1505 (1984: 214b).
153
Nisso se associam fé e dever de catequese dos países recém-des-
cobertos, o que era uma conseqüência da divisão do Novo Mundo, inter-
mediada pelo papa, entre Portugal e Espanha. Os documentos mais
representativos relativos a isso são as bulas Romanus Pontifex (1455) e Inter
Caetera (1493), assim como o Tratado de Tordesilhas, de 1494 (cf.
Ribeiro/Araújo Moreira Neto 1993: 66-74). Esse tratado estipulava os
domínios de poder da Espanha e de Portugal. O domínio português se estendia
370 léguas a oeste, a partir das ilhas de Cabo Verde e inclui, assim,
inicialmente somente o leste do Brasil. O limite ocidental formava uma
129

Em Canerio, por volta de 1503, Brasil aparece pela primeira vez


como nome próprio e denominação de um “rio de brazil”. O rio corre
na proximidade de “porto Seguro”, a região de desembarque dos
portugueses (cf. Kretschmer 1991, lâmina VIII,1). Foi associado com
o atual rio Pitanga, cujo nome análogo ao “rio de brazil” remontaria à
denominação tupi ibirapitanga para o pau-brasil (tupi ibirá ‘madeira’,
tupi pitanga ‘vermelho’; cf. Baião 1923: 319-320).
As cartas mais antigas do Brasil referem-se, em representação
escrita e pictórica, às peculiaridades da terra. Cantino fala de uma
“Terra dagli Papaga” (Kretschmer 1892: 373). Por volta de 1506, o
mapa de um anônimo italiano refere-se ao pau-brasil sob o nome
“Terra Sancte Crucis”:
“[...] in ea est maxima copia ligni bresilli etiam inuenitur cassia
grossa ut brachium hominis aues papagi magni ut falcones [...]”
(Kretschmer 1991, lâmina VIII,2).
Os outrora ricos estoques de pau-brasil das regiões costeiras brasi-
leiras conduziram à divulgação do nome Brasil.154 Essa denominação
baseada num bem comercial encontra paralelos em português na
Costa da Malagueta (atual Libéria), na Costa do Marfim e na Costa do
Ouro (atual Gana).
O abandono do nome cristão terra de Santa Cruz a favor do
profano Brasil é criticado por João de Barros na Primeira Década
(1552, originalmente 1539).155 Com relação a João de Barros,
Machado comenta: “[...] por esta época já se generalizara o nome
Brasil para as terras de Santa Cruz” (1965: 193). Surge a impressão

vertical ao longo do 49º grau de longitude, da foz do Amazonas no norte até


Santa Catarina, no sul do país.
154
A mata atlântica permanece no Brasil hoje em dia somente em poucos
lugares, como no Estado do Rio de Janeiro.
155
“Por o qual nome, Santa Cruz, foi aquela terra nomeáda os primeiros
anos, e a cruz arvorada alguns durou naquele lugar. Porém, como o demónio,
por sinal da cruz, perdeu o domínio que tinha sôbre nós, mediante a paixão de
Cristo Jesus consumada nela, tanto que daquela terra començou de vir o pau
vermelho chamado brasil, trabalhou que êste nome ficasse na boca do povo, e
que se perdesse o de Santa Cruz. [...] E por honra de tão grande terra
chamemos-lhe provincia, e digamos a Provincia de Santa Cruz, que sôa
melhor entre prudentes, que Brasil posto por vulgo sem consideração e não
habilitado para dar nome ás propriedades da real corôa” (Década 1552: 111-
112).
130

de que uma decisão entre Santa Cruz e Brasil tenha ocorrido somente
por volta de 1530/40. O nome Brasil (terra, terras do Brasil) era
usual, todavia, desde o início, entre a população, enquanto terra de
Santa Cruz era usado apenas oficialmente. A relação original de
ambos os nomes aparece claramente expressa em 1576 no título da
citada História da Província de S. Cruz, a que Vulgarmente
Chamamos Brasil, de Magalhães Gândavo (História 1576).
Já em 1504, o fiorentino Giovanni da Empoli utilizava o nome
“Bresil” após uma viagem ao Brasil com Afonso de Albuquerque:
“[...] navigando pure in detta volta, ci trovammo tanto avanti per
mezo la terra della Vera Croce, over del Bresil cosí nominata, altre
volte discoperta per Amerigo Vespucci, nella qual si fa buona
somma di cassia e di verzino” (Ramusio 1978: 744).156
No espaço lingüístico da língua alemã, a designação da terra está
documentada também em 1504, pela primeira vez, na Beschreibung
einer Meerfahrt von Lissabon nach Calacut (‘Descrição de uma
viagem marítima de Lisboa para Calicute’):
“Darnach fahren sy zu einem land, heisst terra de santa Cenis [sic].
Waisst man nit, ob es ain Insel, oder ein Land ist. [...] Und bringt
man aus gemelten landen vill prisilli. Das cost nichtz, dan dass
man das abhaut, und sucht man noch stets in ermelten landen, hofft
ander ding darin zu finden. Heisst nova terra de Prisilli [...]”
(Greiff 1861: 160-161).157
Na forma germanizada, o nome aparece num relato que narra sobre a
viagem ao Brasil de dois navios portugueses nos primeiros anos do

156
Sob a impressão das viagens e relatos de Américo Vespúcio, Martin
Waldseemüller registra pela primeira vez o nome América em seu mapa-
múndi de 1507 para a extensão do Brasil (Kretschmer 1991: lâmina XX). A
generalização do nome para a totalidade do continente americano seguiu o
mapa-múndi de Mercator, de 1538 (ibid., 44a).
157
“Depois viajam para um país, chamado terra de santa Cenis [sic]. Não
se sabe se se trata de uma ilha ou de um país [...] das mencionadas terras se
obtém muito pau-brasil. Não custa nada, apenas é preciso cortá-lo; continuam
procurando na citada região, esperando encontrar ali outra coisa. Chama-se
Nova Terra de Prisilli” (trad. de Greiff 1861: 160-161). Não se trata da
conhecida viagem às Índias de Balthasar Sprenger (Springer) dos anos
1505/06, publicada em 1509 (cf. Schulze 1902).
131

século XVI e que foi destinado a uma casa mercantil de Augsburgo.158


Esse panfleto anônimo foi conhecido entre 1508 e 1514 como Copia
der Newen Zeytung auß Presillg Landt (‘Cópia do novo jornal da terra
do Brasil’).159
Em 1507, o rei espanhol se expressa, conforme a representação de
Antonio de Herrera na Historia General de los hechos de los
castellanos, en las Islas, y Tierra-firme de el Mar Occeano (1601),
“que convenia, que se fuese descubriendo al Sur, por toda la costa
del Brasil adelante; i que pues estaba descubierta tanta parte de la
Costa de Tierra-firme, desde Paria á Poniente, se procurase de
poblar en ella [...]” (Antonio de Herrera 1944-47: II, 93).
As formas Brasil testemunhadas desde 1504 fora de Portugal sugerem
a utilização corrente da denominação em língua portuguesa. Conside-
rando os testemunhos portugueses, Machado refere-se à “terra do
Brasil”, mencionada no Auto da Fama, de Gil Vicente, de 1510
(1965: 194). O tema do contexto são as descobertas portuguesas numa
alusão irônica à estrela cadente de Veneza:
Começai de navegar,
ireis ao porto de Guiné;
perguntai-lhe cujo é,
que o não pode negar.
Com ilhas mil
deixai a terra do Brasil;
[...]
E não fique
perguntar a Moçambique
[...]
Ormuz, Quiloa, Mombaça,

158
Trata-se dos Fugger (cf. Koppel 1986: 10) ou dos Welser (cf. Wieser
1881: 96-97).
159
Weller (1872: 5-8), Wieser (1881: 99-107) e outros oferecem uma
edição. O Newe Zeytung não tem uma data precisamente definida. Ele surgiu,
no máximo, em 1514 (cf. Koppel 1986, 11). Wieser (1881: 92) chama a
atenção para o fato de que um panfleto esteja anexado ao exemplar de
Dresden do Newe Zeytung, o qual remonta ao ano de 1508 e “concorda
completamente no formato e na configuração tipográfica com o Zeytung”.
Weller (1872: 87) data o Newe Zeytung com a hipótese de que se trata de um
relato de Américo Vespúcio, de 1505. Cf. também Ribeiro/Araújo Moreira
Neto (1993: 112-114) e Barroso (1941: 191-196).
132
Sofala, Cochim, Melinde,
[..]
E chegareis
a Goa e perguntareis
se é inda sojugada
[...]
Perguntai à populosa,
próspera e forte Malaca,
[...]
(Fama 1510: 126-127)
Machado não consegue decidir se o autor quis designar com “a terra
do Brasil” realmente o Brasil ou apenas uma região tropical, onde
nasça o pau-brasil (1965: 194). Perante o contexto de uma
enumeração de bases portuguesas no caminho das Índias, no qual
Cabral conhecidamente atingiu o Novo Mundo, a “terra do Brasil” de
Gil Vicente é uma das etapas e se refere ao Brasil. Já em 1505 existem
testemunhos portugueses para Brasil, os quais não eram
evidentemente conhecidos por Machado. Num diário de bordo,
anotou-se:
“aos 6 dias de mayo forõ leste hoeste cõ a terra de Brazil 200
legoas e dhy se forõ ao sul ata 40 grados” (Schmeller 1847: 48).
No mesmo ano, Duarte Pacheco Pereira definia, em Esmeraldo de situ
orbis, os pontos geográficos no Brasil, por meio da indicação dos
graus de latitude:
“Estes sam os graaos da ladeza que se estes luguares da terra do
Brasil d’aleem do mar Oceano hapartam da linha equinocial em
ladeza contra ho pollo antarctico” (Esmeraldo 1505ss.: 38).160
No Livro da Nau Bretoa, diário de bordo de uma viagem ao Brasil, de
1511, ocorreu também uma indicação inequívoca do nome. O incipit
diz:
“Llyuro da nāoo bertoa que vay para a terra do brazyll de que som
armadores bertolameu marchone e benadito morelle e fernâ de
lloronha e francisco mjz que partio deste porto de lix.a a xxij de

160
Para aclarar a cronologia: as indicações provêm do primeiro livro (cap.
VII) de Esmeraldo de situ orbis. O capítulo XIV foi concluído em 1505, uma
vez que o autor expõe: “[...] vay ora em noventa annos que Cepta foy tomada
por força d’armas aos Mouros [...] (Esmeraldo 1505ss.: 51). Ceuta fora
conquistada em 1415 pelos portugueses.
133
o
feureiro de 511. L. do dia que partimos da cydade de de (ita)
llysboa para ho brazyll ate que tornamos a purtugall” (Nau Bretoa
1511: 96).
Em 1512, Brasil é, pela primeira vez, registrado num mapa. Trata-se
de um mapa-múndi veneziano Orbis typus universalis tabula, de
Girolamo Marini (“Hieronimi Marini fecit Venetia MDXII”).161 O
mapa do autor, quase não comentado na literatura especializada da
Geografia, encontra-se hoje no Ministério das Relações Exteriores, no
Brasil (Itamaraty).
Por volta de 1510/12, o Globo Lenox refere-se tanto à Terra de
Brazil, quanto à Terra Sanctae Crvcis (Kretschmer 1991, lâmina
XI,1). Em 1513, o rei português D. Manuel I falava também,
oficialmente, numa carta aos monarcas espanhóis, de “nossa terra do
Brasyl” (Machado 1965: 194). No globo terrestre de Leonardo da
Vinci, por volta de 1515, o termo Brazill, como, previamente em
Marini, é designação exclusiva de uma terra (Kretschmer 1991,
lâmina XI,3). Disseminou-se, desde então, na cartografia. O globo de
Schöner recapitulou, em 1520, America vel Brasilia vel Papagalli
Terra (ibid., lâmina XIII).
O nome Brasil possuía, naquele tempo, também uma conotação
negativa, como testemunha a seguinte referência no Auto da Barca do
Purgatório, de Gil Vicente, de 1518:

Vêdes outro perrexil!


E marinheiro sodes vós?
Ora assim me salve Deos
e me livre do Brasil,
que estais sutil.
(Barca do Purgatório 1518: 99)
Essa avaliação, baseada sobretudo na economia, permanece em
Portugal até o século XVII e é tematizada por Alviano, nos Diálogos
das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão: “Eu a
tenho pela mais ruim do mundo [a terra do Brasil], aonde seus
habitadores passam a vida em contínua moléstia [...]” (Diálogos 1618:
11). No decorrer do tempo, é o contrário dessa idéia que obteve
aceitação. No século XVIII, o lucro provindo das minas de ouro e de
161
Cf. Garcia (1954: 181, com mapa), História (1921-24: II, 324-325,
mapa), Barroso (1941: 18), Grande Enciclopédia (1936ss., Brasil), Fontana
(1995: 32-35, mapa), Carreras (1996: 177, n. 4).
134

diamantes faziam o Brasil proverbialmente como sinônimo de riqueza


material: aquilo é um Brasil (cf. Fernandes 1941-43: I, 330).
É preciso especificar, com respeito à extensão do território
denominado como Brasil, que, de 1621 a 1775, havia uma divisão
entre o Estado do Brasil e, ao norte, o Estado do Maranhão (Estado do
Maranhão e Grão-Pará), que agrupava o Ceará, Piauí, Maranhão e
Pará (Magalhães 1978). Depois que a Corte portuguesa se estabeleceu
no Rio de Janeiro, em 1808, fugindo as tropas napoleônicas, o Brasil
foi, de 1815 até sua independência, em 1822, parte nominal do Reino
Unido a Portugal e Algarves.

4.3 Brasil — brasileiro


O desenvolvimento do nome Brasil entrou numa nova fase, quando
colonização da terra levou à formação de uma nova sociedade, com
imigrantes, escravos, nascidos na terra, missionários jesuítas e
parcelas da população indígena. Como primeiro grupo da população,
foram os jesuítas que se nomeavame brasilienses, sem distinção de
sua origem européia (Serafim Leite 1938-50: VII, 241). Essa
derivação latina correlaciona-se com o termo corrente brasis para os
indígenas desde o início do tempo colonial, ao lado de índios (e
negros).162
A língua dos indígenas (tupi) foi designada como brasil ou língua
brasílica (cf. 5.1). Numa carta da Bahia, Leonardo do Valle narra em
1562 sobre um confrade:
“[...] se lhe dá tão bem que espera em pouco tempo fallar tão bem
brasil como agora italiano [...] fallava tantos vocabulos e gostava
tanto delles que ás vezes lhe fallava homen portuguez e elle
respondia brasil” (Cartas Avulsas 1550-68: 356).163
Em 1583, Fernão Cardim relata uma viagem para o Espírito Santo:

162
Hoje brasis significa, em primeiro lugar, ‘as terras do Brasil’ (cf. em
alguns Brasis).
163
Também Frei Vicente do Salvador usa brasil neste sentido. Na
História do Brasil narra sobre um indígena batizado: “Seu nome brasil foi
Araribóia e no batismo se chamou Martim Afonso de Sousa [...]” (História
1627: 169).
135
“Debaixo da ramada se representou pelos indios um dialogo
pastoril, em lingua brasilica, portugueza e castelhana, [...]” (Trata-
dos 1583ss.: 150).
Além dessas designações relacionadas com os indígenas não havia no
Brasil, naquela época, nenhum etnônimo para os habitantes da terra.
Em relatos escritos, que foram exclusivamente impressos em Portugal
(cf. 5.4), fala-se de “os Portugueses, os Nossos, os nossos
Portugueses, a nossa gente, os nossos Paisanos, os Lusitanos”164 (cf.
Brito Freyre 1675, passim). Isso também pode ter valido como sinal
de definição nacional face aos concorrentes europeus de Portugal na
América do Sul (“Castelhanos, Franceses, Olandeses”). Contudo,
existia, no Brasil, uma consciência de origem comum. Assim os
descendentes de portugueses e de outros imigrantes europeus nascidos
na terra foram chamados de mazombos.165 Como mazombo se inclui
também Padre Antônio Vieira, que tinha vindo ao Brasil em 1614 com
a idade de seis anos. Numa carta, expressa-se com relação aos hábitos
alimentares:
“[...] a mesma informação nos deu tambêm o Padre Manuel de
Sousa, o qual está tão prático, que sendo todos os outros que aqui
viemos mazombos, êle é o que menos estranha esta diferença de
manjar” (Peixoto/Alves 1921: I, 258).
Fora isso, Vieira expressa um sentimento especial de solidariedade ao
país, quando fala, em 1673, sobre o Brasil como uma terra “a quem,
pelo segundo nascimento, devo as obrigações de pátria” (ibid., 42).
Inicialmente a única possibilidade de especificar “brasileiro” face
de “português” exigia apenas o atributo do Brasil: dizia-se “jentios da
dita terra do Brasill”, “povoações do Brasill” e “costa do Brasyll”
(História 1921-24: III, 348b, 348a, 313a). Além disso, a construção
nominal (“costa do Brasyll”) não corresponde ao atual uso lingüístico
(costa brasileira, litoral brasileiro). Fora dos contextos indígenas
(brasil, brasílico, brasilienses) permaneceu, por conseguinte, uma
lacuna lexical e semântica com respeito à afiliação com a terra e com
a origem brasileira.

164
No Estado do Maranhão, utilizou-se ainda a designação luso-
americanos.
165
Cf. Varnhagen (1981 [11856]: I, 215), Friederici (1960, s.v.), Aurélio
(s.v.).
136

Em 1618, Ambrósio Fernandes Brandão utilizou, pela primeira


vez, nos Diálogos das Grandezas do Brasil, um derivado adjetival
relativo ao país, falando de costa brasilense e de terreno brasilense
(Diálogos 1618: 68, 211; 190). Na povoação, distingue entre
indígenas (“moradores naturais do Brasil”, p. 68) e moradores em
geral (“moradores do Brasil”, pp. 37, 92), que, repetidamente, também
chama de brasilenses:166
Alviano: Nem estoutra breve em que nos distraíamos deve de
desagradar aos que a ouvirem, principalmente aos
Brasilenses;||mas, deixando-a de parte, resta que me
digais se no Brasil há mais comércio que para o
Reino?
[...]
Brandônio: Também se pode fazer azeite de coco, como se usa
na Índia, porque se dão aqui grandemente os co-
queiros; mas a manqueira tantas vezes apontada dos
brasilenses lhes impede usarem deste benefício.
(Diálogos 1618: 107-108; 148)
No ano de 1663, finalmente, Padre Belchior Pires designa como
“Brazileiros”, menosprezando numa discussão, alguns confrades que,
contrariamente a ele, haviam nascido no Brasil:
“praedictos Patres despicatus Brazileiros vocat” (Serafim Leite
1938-50: VII, 42).
Esta é a primeira ocorrência da forma brasileiro. Esse testemunho não
se encontra, no entanto, em nenhum dicionário etimológico.167 A
afirmação feita por Sá Nunes (1952: 306), Nascentes (1952a,
Brasileiros) e Machado (DEOLP, Brasileiros) de que Frei Vicente do
Salvador teria utilizado a forma brasileiro já em 1627 na História do
Brasil evidencia-se, pela leitura da obra, como falsa (cf. História
1627).

166
Não se deve confundir esta palavra como os brasilienses ‘jesuítas’.
Machado (DELP) e A. G. da Cunha (DENF) não mencionam brasilense.
167
Nascentes (1966) não registra brasileiro, Machado (DELP, s.v.) aceita
com reservas uma ocorrência do século XVIII e A. G. da Cunha (DENF, s.v.)
data o primeiro testemunho em 1833, embora a Constituição brasileira já
tivesse oficializado, em 1824, o termo brasileiro. Houaiss (s.v.) indica
brazileiro como sendo de 1706.
137

Visto que o sufixo agentivo -eiro não serve em português para a


formação de etnônimos, o significado ‘proveniente do Brasil’ deve ser
explicado semanticamente por meio de um valor intermediário.
Inicialmente, designaram-se como brasileiros evidentemente os que
eram envolvidos com o comércio do pau-brasil (cf. port. madeireiro).
Não se testemunha, porém, a palavra com o significado de
‘cortador/negociador de madeira’. A correspondência oficial entre
Brasil e Portugal fala, no século XVI, com esse sentido, somente de
armadores de brasyll (História 1921-24: III, 314b). Supõe-se, com
isso, que, tanto Brasil quanto brasileiro inicialmente eram uma
designação popular. A irritação documentada dos padres intitulados
por Belchior Pires como “Brazileiros” deixa implícita uma conotação
pejorativa no sentido de ‘cortador de madeira, homem incivilizado’.168
O significado de brasileiro ‘originário do Brasil’ remonta, portanto,
evidentemente ao uso lingüístico do português europeu. A
generalização de brasileiro corresponde a um fenômeno, segundo o
qual nomes com conotação negativa às vezes são aceitos pelos
atingidos.169
O valor gentílico da denonimação comum de brasileiro não é o
único caso em português. Também ocorre uma equivalência desse
desenvolvimento com a palavra mineiro. Ocorreu no século XVIII
com base na fama das minas de ouro e diamante dessa região do
sudeste brasileiro, em relação com o significado ambíguo de
‘trabalhador das minas’ e ‘proprietário de minas’.
Ao lado de brasileiro, o termo brasílico, originalmente atribuído
aos indígenas, adquiriu uma ampliação de significado. Em 1675,
apareceu, em Lisboa, um relato sobre a guerra contra os holandeses no
nordeste do Brasil, sob o título Nova Lusitania, Historia da Guerra
Brasilica.170 Nele, o comandante-em-chefe da frota portuguesa,
Francisco de Brito Freyre, louva o zelo dos “Portugueses Brasilicos”

168
Um significado equivalente traz hoje, no português brasileiro, a
palavra matuto < mato.
169
No âmbito da lingüística, pensa-se, por exemplo, em designações
como a dos “neogramáticos”, inicialmente com intenção negativa, contudo, ao
fim e ao cabo, aceita.
170
Os holandeses dominaram de 1630 a 1654 o Nordeste do Brasil (com o
centro das atividades em Pernambuco), para controlar a produção de açúcar e,
com isso, evitar o embargo espanhol (cf. união de Espanha e Portugal, 1580-
1640, separação dos Países Baixos espanhóis 1581; cf. Boxer 1973).
138

(Brito Freyre 1675: 399). Brasílico aparece, desde então, com uma
referência toponomástica:
“[...] Américo Vespucio (de quem fallamos já) mandou explorar
mais particularmente as qualidades das gEtes, terras, portos, &
monções da Costa Brasilica, [...]” (Brito Freyre 1675: 71).
O termo brasileiro impôs-se, finalmente, de maneira geral. Do século
XVII existem dois outros testemunhos até agora não apontados pela
literatura especializada. O baiano Gregório de Matos, famoso por sua
poesia satírica, formulou assim, por volta de 1680, em autocrítica
irônica à exploração colonial de sua terra natal pelos portugueses:
Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
toda a vida por manter
maganos de Portugal.
(Matos 1992: 1172)
Com satisfação pela afastamento do governador geral Antônio Luís
Gonçalves da Câmara Coutinho em Salvador (1690-1694), Gregório
de Matos escreveu ao sucessor dele, João de Alencastre:

Quem poder ser senão um verdadeiro


Deus, que veio extirpar desta cidade
O Faraó do Povo Brasileiro.
(Matos 1992: 187)
Em 1767, o gramático português Monte Carmelo criticou a pronúncia
dos “Brasilienses” (cf. 5.4), enquanto Tomás António Gonzaga em
Marília de Dirceu (a partir de 1792) se lembrava das vítimas brasi-
leiras (“sangue brasileiro”) na defesa do Nordeste contra os ataques
dos holandeses e dos franceses:

Eu vejo nas histórias


rendido Pernambuco aos Holandeses;
eu vejo saqueada
esta ilustre cidade dos Franceses;
lá se derrama sangue brasileiro;
(Gonzaga 1961: 152)
Sem dúvida, o desenvolvimento econômico positivo da colônia no
século XVIII fomentou a consolidação do termo brasileiro. É também
139

essa forma popular que o espanhol americano tomou emprestado (cf.


brasileiro > esp. americano brasilero vs. esp. brasileño).171
Na segunda metade do século XVIII, aparece, no teatro português,
a figura estereotipada do brasileiro rico (cf. 5.4). O termo “Brazileiro”
tem diversos testemunhos no âmbito dessa temática.172 Os primeiros
jornais brasileiros, do início do século XIX, utilizam nos seus títulos
brasiliense ou brasileiro: O Despertador Brasiliense, A Heroicidade
Brasileira, O Macaco Brasileiro (Rizzini 1988: 366-370). O Novo
Diccionario Portuguez-Alemão, de Wegener, testemunha, em 1811, o
termo brasileiro ‘ein Brasilianer, aus Brasilien gebürtig’ (i.e. ‘um
brasileiro, nascido no Brasil’).
Em 1815, o Reverbero Constitucional Fluminense dirigiu-se aos
“Portuguezes de ambos os Mundos” (Rizzini 1988: 377), enquanto a
Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza (Soares Barbosa
1830), publicada em Lisboa em 1822, comentava a pronúncia dos
“Brazileiros” (cf. 5.6).
Devido à Independência, a designação popular brasileiro final-
mente se consolidou politicamente na escrita.173 A primeira Constitui-
ção Brasileira de 1824 define no artigo 1:
“O Império do Brasil é a associação Política de todos os cidadãos
brasileiros” (Constituição 1824: 17).174

171
Achando que o empréstimo se documenta já em El Orinoco ilustrado
(Gumilla 1745), Boyd-Bowman cita esse contexto: “brasileros siguieron... el
genio de todos los americanos naturales” (Boyd-Bowman 1982, s.v.). Visto
que a edição fac-similar registra, na posição em questão, Brasiles (Gumilla
1745: I, 396) e uma outra edição dá a lição brasileños (Gumilla 1963: 267), a
abonação de Boyd-Bowman, para 1745, não tem valor como autêntica. Aliás,
brasilero, no contexto citado, se refere aos indígenas. No século XIX,
contudo, o termo brasilero está definitivamente testemunhado no espanhol
americano (Boyd-Bowman 1984, s.v.).
172
Dessa forma está no Novo entremez|os malaquecos,|ou|os costumes
brazileiros, entre 1768 e 1787 (Teyssier 1983: 603, n. 17), no Novo Intremez
Intitulado Astucias de Tratante, ou o Brazileiro inganado de 1798 (Teyssier
1983: 605, n. 24) e em O Periquito ao Ar, por volta de 1800 (Rodrigues Maia
c1800: 309v).
173
Na guerra entre Argentina e Brasil pela província do Prata (Uruguai),
os argentinos falavam ainda em 1827 dos “portugueses enemigos nuestros”
(Calmon 1937-39: II, 24-25).
140

4.4 Língua brasileira


A independência nacional associou o português do Brasil com um
território soberano. Conseqüentemente, com o objetivo de aprofundar
a separação de Portugal, reclamou-se, no parlamento brasileiro, a
instauração de uma língua brasileira.
“Era a primeira vez que brasileiros de toda parte falavam sua
própria língua uns aos outros em assembléia pública”
(J. Rodrigues 1974: 277).
Em 1826, o deputado Clemente Pereira apresentava, para as
aprovações médicas, uma proposta, segundo a qual os documentos
deveriam ser redigidos “em linguagem brasileira, que é mais própria”
(J. A. Castro 1986: 328).175 O termo língua brasileira se entende
nesse contexto, em primeiro lugar, como expressão de identidade
nacional. A designação em si adquire, assim, um maior significado do
que a caracterização de uma diferença lingüística. Nesse sentido,
Macedo Soares observou, em 1880:
“Por outro lado, a expressão lingua brazileira nos parece
demasiado pretenciosa, si se quer com ella distinguir o portuguez
falado no Brasil, modificado pelo clima, pela natureza ambiente,
pela influência dos elementos africano e indiano, das relações
comerciais etc. [...]” (Macedo Soares 1880: 270).
Não obstante, desenvolveu-se uma discussão político-filosófica, que
durou até a década de sessenta do século XX. Em Portugal, temia-se,
doravante, após a perda do Brasil, a fragmentação da linguagem
comum e, ainda hoje, alguns portugueses, pode-se dizer, se
consideram os defensores do idioma. Com veemência Portugal se
voltou contra uma independência do português brasileiro na literatura,
como apresentada em Iracema, de José de Alencar, em 1865.176 Sobre
esse assunto, tornaram-se conhecidas as controvérsias entre José de
Alencar e o escritor português Pinheiro Chagas, bem como entre

174
Por conseguinte, o viajante alemão de Rango anotou em seu diário:
“Brasilianische Portugiesen (Brazileiros)” (1821: 110).
175
O Visconde de Pedra Branca (cf. 5.7) usou na França a designação
“idiome brésilien” (Balbi 1826: 173).
176
Cf. Chaves de Melo (1972a), Alencar e a «língua brasileira».
141

Camilo Castelo Branco e o filólogo brasileiro Carlos de Laet.177 A


expressão mais constante das opiniões contrárias se manteve, até hoje,
na questão da ortografia (cf. 7.4).
José de Alencar, no posfácio da segunda edição de Iracema, de
1870, fez a projeção de um desenvolvimento particular fundamental
do português brasileiro que, se por um lado, não acarreta a
transformação em uma nova língua, por outro, de fato, a implica:
“Que a tendência, não para a formação de uma nova língua, mas
para a transformação profunda do idioma de Portugal, existe no
Brasil, é fato incontestável. [...] A revolução é inevitável e fatal
como a que transformou [...] o romano em francês, italiano etc.; há
de ser longa e profunda, como a imensidade dos mares que separa
os dous mundos a que pertencemos” (Alencar 1979: 107).
Trinta anos depois, Cuervo (1901) expôs idéias semelhantes sobre o
futuro do espanhol americano. Também o escritor Afonso Celso
(1860-1938) compartilhava as opiniões de Alencar.178 As previsões
não foram, contudo, justificadas por critérios lingüísticos, para os
quais Guimarães Daupiás aludiu, com ênfase:
“[...] nunca haverá diferença muito sensível entre o português
europeu e o americano, [...] não há possibilidade de se formar um
dialecto brasileiro bastante afastado do português para se lhe poder
chamar língua” (Guimarães Daupiás 1924: 118-120).

177
Textos especializados nesse tema se encontram na edição de dois
volumes de O Português do Brasil. Textos críticos e teóricos, de Pimentel
Pinto (1978-81). — Para a discussão sobre a língua brasileira, cf. João
Ribeiro (1933, 11921), Rocha Peregrino (1921), Guimarães Daupiás (1924),
Nascentes (1924), João Ribeiro (1927), Dantas (1929), X. Marques (1932a,
1933a), Mota Assunção (1933), Castro Lopes (1935), Großmann (1936-37:
264), Jucá Filho (1937), Sérgio (1937a), Leda (1939), Magalhães de Azeredo
(1939), Nascentes (1939: 51-60), Sanches 1940), Almeida Torres (1941),
Chediak (1941), Ricardo (1941), M. Martins (1943), Miranda (1944a, 1944b),
Academia (1946), Moreno (1946), Campos (1948), C. Monteiro (1948),
Dantas (1949), Senna (1953), Parentes Fortes (1957a), Elia (1961), A. Leite
(1962), Soares Amora (1966), Malpique (1970), Haberly (1973), Pimentel
Pinto (1978-81: I, XV-XLIII; II: XIII-LI), João Ribeiro (1979), Pimentel
Pinto (1980), Scotti-Rosin (1981-82), Tarallo (1990: 86-90), Castellanos
Pfeiffer (1998), Payer/Dias (1998).
178
“O idioma brasileiro há-de vir um dia a diferenciar-se do português
como êste do latim»” (Alfonso Celso, apud Paiva Boléo 1932a: 645).
142

Em 1922, cem anos após a independência política, o Modernismo


tornou-se, no Brasil, expressão de independência cultural e significou
a separação do português brasileiro da “sintaxe lusa” (Barbadinho
Neto 1972: 18).179
Em 1935, solicitou-se na Câmara Municipal do Rio de Janeiro que
o português no Brasil fosse denominado exclusivamente de “língua
brasileira” e que este critério, entre outros, se tornasse condição prévia
para a autorização de livros escolares. Nesse contexto de debates
conduzidos abertamente de maneira emocional, Sérgio, em 1937,
caracterizou a discussão geral com palavras duras para o lado portu-
guês, mas também endereçadas aos brasileiros:
“[...] essa questão do idioma que nos é comum debateu-se até hoje
com paixão patriótica, com muita unilateralidade, com orgulho
infantil, bastas vezes mascarados de ciência lingüística, de
imparcialidade científica. Por via de regra, os brasileiros discutem-
na com brasileirismo exaltado (e pouco esclarecido, se não julgo
mal); e os portugueses — com um patrioteirismo idiota” (Sérgio
1937a: 404).
Uma variante de língua brasileira180 é a denominação língua nacio-
nal,181 pela qual Pereira Coruja, já em 1835, optou no Compendio da
Gramatica da Lingua Nacional. Ela passa a ter visibilidade sobretudo
por meio de A Língua Nacional, de João Ribeiro (1933, 11921) e
encontrou acolhida em 1946 na Constituição Brasileira (Marcelino
Cardoso 1986: 275). Também mais recentemente, essa designação foi
usada em publicações.182 Apesar disso, permanece hoje unanimidade
nas opiniões dos lingüistas, de que o português europeu e o português

179
Sobre o Modernismo, cf. Placer (1972), Modernismo Brasileiro.
Bibliografia (1918-1971), Loureiro Chaves et al. (1970), Lessa (1976),
Martins (1977), Barbadinho Neto (1972, 1977).
180
Cf. brasileiro, dialeto brasileiro, língua pátria, luso-americano, luso-
brasileiro, neoportuguês (cf. Pimentel Pinto 1978-81: I, XXXII).
181
Também aqui surge um certo paralelo com o espanhol americano. Na
Argentina, fala-se, no século XIX de “lengua” e “idioma nacional” (Rosenblat
1961: 44-45), que aponta para algo contra a denominação, ainda hoje evitada,
de español.
182
Cf. J. A. Castro (1986), “Formação e desenvolvimento da língua
nacional brasileira”, Marcelino Cardoso (1986), “Língua nacional, diver-
sidade lingüística e constituição”.
143

brasileiro sejam variedades diatópicas da mesma língua.183 O processo


de sua diferenciação iniciou-se já no século XVI, como o próximo
capítulo mostrará.

183
A opinião de Barme (2000), de que a língua popular brasileira se teria
afastado tanto tipologicamente do padrão europeu, que se poderia falar, nesse
sentido, de uma “língua brasileira”, se contradiz na utilização do termo. Não
se pode falar de “língua brasileira” e delimitá-la ao registro diastrático
popular. Pois o português brasileiro não se desassocia da norma urbana culta e
da língua escrita.
144

5. Testemunhos antigos da diferenciação do português


brasileiro
5.1 Pressupostos gerais
5.1.1 Fontes
Enquanto, por um lado, estamos bem informados sobre os desenvol-
vimentos históricos nas línguas românicas de modo geral e, em
consideração à România Nova, temos também um quadro do surgi-
mento das características do espanhol americano, por outro, o
desenvolvimento do português brasileiro se delineia de forma menos
clara. Por muito tempo, quase não se conheciam fontes lingüísticas
relevantes. Leite de Vasconcellos não pôde referir-se no Esquisse
d’une dialectologie portugaise (1987, 11901) a nenhum texto histórico
concernente à língua do Brasil em contraposição ao da África, da
Índia e do Oriente distante.184 A Introdução ao Estudo da Língua Por-
tuguesa no Brasil de Silva Neto (1986), a História da Língua Portu-
guesa de Teyssier (1984) e os “Fundamentos da história externa do
português do Brasil” de José A. Castro (1986) remetem, em primeiro
plano, a fontes conhecidas sem comentários detalhados.185
Só nos últimos anos começou-se, sobretudo no Brasil, a disponi-
bilizar documentos históricos relevantes, que podem ser analizados
também do ponto de vista lingüístico. Nesse âmbito, foi realizado o
Projeto Resgate, uma coleção histórica de documentos manuscritos
avulsos. Os documentos que, até hoje, foram arquivados em mais de
100 CD-ROM, provêm das regiões brasileiras situadas entre a capi-
tania do Ceará e a de Santa Catarina. O material foi digitalizado de
modo a disponibilizar um sumário que dá acesso às imagens dos
manuscritos. Além disso, existem catálogos impressos do sumário,
com índices. Nesses índices, porém, a temática lingüística quase não
aparece.

184
“Dans notre literatura de cordel et dans quelques romans il y a des
textes et des dialogues imitant le langage du Brésil, mais cela n’a pas de
valeur scientifique” (Leite de Vasconcellos 1987: 45, n. 88).
185
Pimentel Pinto (1978-81) não apresenta em O Português do Brasil
textos anteriores à Independência e privilegia considerações acerca da língua
brasileira. A obra é, para o estudo dos documentos lingüísticos, de menor
utilidade. Teyssier (1983) publicou um artigo fundamental para a apresen-
tação do brasileiro no teatro português do século XVIII.
145

Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi fundado, em 1991,


o projeto Para a História da Língua Portuguesa (PROHPOR).
Também em outras universidades, desenvolveram-se, a partir de
então, atividades histórico-lingüísticas comparáveis, que confluíram,
em 1997, no projeto Para a História do Português Brasileiro (cf.
Castilho 1998: 7-17). A partir de congressos especializados, surgiram
vários anais (I: Castilho 1998; II: Mattos e Silva 2001; III: Alkmim
2002; IV: Callou/Lamoglia Duarte 2002; VI:
Lobo/Ribeiro/Carneiro/Almeida 2006). No meio dessas atividades,
aparecem interessantes monografias como a dissertação sobre os
Textos escritos por africanos e afro-descendentes na Bahia do século
XIX (Oliveira 2003), que se apóia em uma análise direta de fontes.
Além disso, há projetos regionalmente orientados como o da Filologia
bandeirante, que integra pesquisadores de diversas universidades. Foi
lançado em 1998 com uma reunião e lida – apoiando-se também em
gravações atuais – com a língua na região de entrada das bandeiras de
São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso nos séculos XVII e
XVIII (cf. Megale 2000).
Os anais do projeto Para a História do Português Brasileiro se
ocupam amiudadamente com questões sobre a constituição de corpora
(I: 169-254; II,2: 421-529; III: 419-488; IV: 15-91), cuja avaliação
lingüística forma a base para a interpretação contínua do desenvolvi-
mento lingüístico no Brasil. A edição das Cartas Baianas Setecen-
tistas (Lobo 2001) e dos Documentos do Ouro do Século XVII
(Megale/Almeida Toledo Neto 2006) servem de exemplo na disponi-
bilização de material textual histórico. Atualmente surgem cada vez
mais bancos de dados digitalizados que podem ser analisados do
ponto de vista lingüístico. Em Minas Gerais, criou-se um banco de
textos informatizado para pesquisas em lingüística histórica (BTLH)
que está disponível em disquete (cf. Cohen et al. 1998). Trata-se de
textos notariais e paroquiais do século XVIII. Além disso, há
disponíveis corpora digitais de cartas dos séculos XVIII e XIX (Brito
Rumeu 2004), entre as quais também conta correspondência de
imprensa do século XIX (Barbosa/Lopes 2004).
Material histórico sobre a língua das pessoas comuns antes do
século XIX ainda forma uma lacuna. Testemunhos lingüísticos ou
documentos anteriores à segunda metade do século XVIII fora do
registro dos empréstimos quase não existem. Nesse ponto, também a
pesquisa dos últimos anos não conseguiu avanços substanciais. A
146

composição sistemática dos materiais disponíveis para os testemunhos


antigos do português brasileiro, a qual não se encontrava até agora na
literatura especializada, esboça, contudo, um certo quadro da
diferenciação lingüística. Para espanto, várias fontes são conhecidas,
mas o material do conteúdo não foi ainda interpretado do ponto de
vista lingüístico. Isso ocorre, por exemplo, com os testemunhos de
Azeredo Coutinho (5.2.2) e Soares Barbosa (5.4.2). Sobre a peça
teatral de Rodrigues Maia (5.4.1), que Teyssier fez conhecer, existe
um artigo sumário (1983); sobre o material de Pedra Branca (5.5.4),
Wanke/Simas Filho (1991) dão escassas explicações. A interessante
carta de uma escrava de 1770 foi obviamente esquecida depois de ser
publicada no Mensário do Arquivo Nacional, sem comentários
lingüísticos (Mott 1979).
Nosso panorama sobre os testemunhos antigos para a diferen-
ciação do português brasileiro chega a 1826 e começa, após um
parágrafo sobre a difusão das línguas indígenas, com os primeiros
empréstimos lexicais de origem tupi. Sobre este tema não há estudos
fora um artigo de Noll (2004b).

5.1.2 Difusão das línguas indígenas


No tempo da descoberta do Brasil, o número das línguas indígenas é
estimado em 1175 (Rodrigues 1993: 91).186 Hoje em dia há 180, que
pertencem ou aos grandes troncos lingüísticos Tupi e Macro-Jê, que
se contam em uma das famílias lingüísticas independentes como
Arawak e Caribe ou são isoladas (tucano, ianomâmi).187 Apesar desse
número de idiomas, somente uma língua indígena no Brasil foi
importante para o contato com a língua portuguesa. Trata-se do tupi,
espalhado entre o Pará e o Paraná.
O tupi, que inicialmente era chamada de língua brasílica (brasil),
forma juntamente com o guarani um grupo de dialetos aparentados
que se reúne, no tronco Tupi, sob a designação de tupi-guarani. A
grande extensão dessa língua foi comentada já em 1503, no ato
notarial de Valentim Fernandes,188 a extensão meridional da área tupi
é especificada por Magalhães Gândavo, em 1576:

186
Villalta (2001: 334) parte de somente 340 línguas.
187
Cf. Rodrigues (1993), Almanaque Abril (1999: 166ss.).
188
“[...] altera Classis eiusdem regis Xrtianissi/mi ad id deputata secuta
litus illius terrae/ septingente LX. leucis quasi in populo unam/ linguam
147
“A lingoa de que usam, toda pela costa, he uma: ainda que em
certos vocabulos differe n’algumas partes; mas nam de maneira
que se deixem huns aos outros de entender: isto até altura de vinte
e sete gràos, [...]” (História 1576: 122).
A transição do tupi para o guarani se efetuava ao longo do litoral de
Cananéia, na área de fronteira entre São Paulo e o atual Estado do
Paraná (Rodrigues 1996: 7). O guarani dos índios carijó se estendia,
em direção ao sul, até a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul e, em
direção ao oeste, para o Paraguai e o Mato Grosso do Sul (Monteiro
1998: 476-477).
Entre os índios falantes de tupi se diferenciavam os tupiniquin (ou
simplesmente tupi) e os tupinambá. No Norte e Nordeste, os
tupinambá espalhavam-se das costas do Pará até o rio Parnaíba, assim
como do rio São Francisco até Camamu (BA).
A zona entre o Piauí e o rio São Francisco era povoada por tribos
tupiniquin, os quais eram chamados de potiguares na região ao norte
do rio Paraíba e de caeté do Paraíba até Alagoas. Entre Camamu (BA)
e o Espírito Santo, encontravam-se outros tupiniquin, cujo território
ao sul passava para o dos tupinambá do Rio de Janeiro. Esses foram lá
denominados tamoios e mantinham, em meados do século XVI,
relações amistosas com os franceses.
De Angra dos Reis pela região de São Vicente e Piratininga até
Cananéia (SP), bem como, a oeste até o rio Tietê, espalhavam-se
novamente os tupiniquin (Rodrigues 1997: 373-374, 2006: 155). A
fronteira lingüística entre as variedades dos tupinambá e dos
tupiniquim em Angra dos Reis se reflete nos topônimos, pois na zona
setentrional aparece a vogal central fechada [ɨ] <y> do tupi como [i]
(Tijuca, RJ < tyjuca ‘brejo, lama’), ao sul como [u] (Taubaté, SP < itá
ybaté ‘pedra alta’) (Rodrigues 1995: 235-237).189

inuenit” “[...] uma outra armada do mesmo Rei Cristianíssimo, destinada a


esse fim, tendo seguido o litoral daquela terra por quase 700 [760!] léguas,
encontrou nos povos uma só língua” (Teixeira/Papavero 2002: 141).
189
Na sua Arte de Grammatica da Lingua mais usada na Costa do Brasil,
Anchieta faz uma distinção dentro da área de língua tupi que delimita a
variedade dos tupinambá dos tupiniquin vizinhos ao sul do Rio de Janeiro,
“Porque desde os Pitiguáres do Paraíba até os Tamóios do Rio de Janeiro
pronuncião inteiros os verbos acabados em consoante, ut apâb, acêm, apên,
ajûr [...] Os tupîs de São Vicente, que são alem dos Tamóios do Rio de
148

Tribos belicosas que não eram computadas entre os tupi e se


encontravam no Pará, Maranhão, Ceará e na Bahia, entre outros
lugares, eram chamados de tapuias. Entre eles estavam, por exemplo,
os aimoré (cariri) no sul da Bahia e os botocudos em Minas Gerais.190
A primeira gramática de tupi apareceu por volta de 1556 (Rosa
1995: 273). Redigida pelo padre José de Anchieta, foi publicada, em
1595, com o título Arte de Grammatica da Lingua mais usada na
Costa do Brasil (Anchieta 1595). Uma outra gramática de tupi,
Gramática da Língua Geral dos Índios do Brasil, foi escrita pelo
padre Luís Figueira e impressa em 1621.
A denominação língua geral, utilizada no século XVII, que se
referia primeiramente à ampla difusão da língua, já não devia
designar, com o tempo, o tupi genuíno, mas uma forma modificada
dessa língua. Em contraposição às lenguas generales da zona
hispânica da América, que se referiam a línguas veiculares indígenas
difundidas supra-regionalmente (p. ex., o náhuatl), trata-se, de um
ponto de vista lingüístico, sob o termo língua geral, de variedades que
surgiram no Brasil como koiné devido à mestiçagem da população e
apresentaram uma forma do tupi mais evoluída e simplificada.191
Quanto a isso, há uma relação especial com os grupos dos bandeiran-
tes, que, no século XVII, à procura de ouro e escravos, bem como em
guerra contra indígenas e acampamentos de escravos fugidos, avança-
vam, partindo de São Paulo para o interior, rumo ao Paraná, Mato
Grosso, Goiás e Minas Gerais.192 Etnicamente, compunham-se sobre-

Janeiro, nunca pronuncião a ultima consonante no verbo affirmativo, ut pro


apâb dizem apa [...]” (Anchieta 1595: 1-2).
190
Como texto histórico recorre-se ao capítulo “Da diversidade de nações
e línguas” de Fernão Cardim (Tratados 1583ss.: 101-106).
191
Na literatura, a língua geral é, por vezes, caracterizada como equiva-
lente ao tupi (p. ex., em Silva Neto 1986: 30, 51) ou como construto dos
jesuítas. Ambas as posições são inexatas. A designação tupi (< tupinambá)
surgiu no século XVIII e se referia inicialmente à língua dos índios tupinambá
(do Pará), para diferenciar a forma genuína de seu tupi da disseminada língua
geral (Rodrigues 1986: 100). Sobre as reestruturações na língua geral, cf.
Rodrigues (1986: 103-109 e 1996: 12-13). As línguas indígenas que não con-
seguiam dominar eram chamadas, no período colonial, de línguas travadas.
192
O termo bandeirante deriva de bandeira, que no sentido militar,
designava um grupo de soldados (Bluteau 1712-21, s.v. bandeira; “Ban-
deira,ou Manga de soldados Vid. Manga.”; s.v. manga: “Tambem em termos
militares, manga se toma por certo numero de soldados”).
149

tudo de mestiços (mamelucos).193 Numerosos topônimos tupi que apa-


recem em regiões como no Planalto, as quais nunca foram habitadas
por índios tupi, apontam para uma presença da língua geral entre os
bandeirantes (Chaves de Melo 1971: 42, Rodrigues 2006: 157-158).
O surgimento das línguas gerais ocorreu, por um lado, da
dissolução paulatina das comunidades de brancos e de mulheres
indígenas fora do ambiente indígena genuíno, por outro, os mestiços,
nesse contexto, recebiam também a função de transmissores dessa
forma lingüística para com índios aloglotas e brancos (Rodrigues
1993: 96). Na região do Amazonas, a língua geral serviu por muito
tempo como língua de comércio entre brancos e índios aloglotas.194
Basicamente, diferencia-se no Brasil entre a língua geral paulista
(LGP) do Sudeste, que não é conhecida em minúcias, e a língua geral
amazônica (LGA, desde o século XIX: nheengatu ‘fala boa’), que
outrora era espalhada nos Estados do Maranhão, Pará e Amazonas
(Rodrigues 1996) e, em parte, ainda, é falado no médio e alto Rio
Negro (Taylor 1985).195 Do oeste do Paraná (Guairá), estendia-se para
193
Os mestiços foram no Brasil, inicialmente, chamados de mamelucos
(ant. mamalucos). Hoje são designados de caboclos. Essa palavra se referia
inicialmente também aos índios que viviam em contato como os brancos e
formava uma oposição com os hostis tapuias.
194
João Daniel (1757-76: 225) comentou a relação entre o tupi genuíno e
a língua geral na região do Amazonas, como se segue: “Porém, como os
primeiros, e verdadeiros topinambares já quase de todo se acabaram, e as
missões se foram restabelecendo com outras mui diversas nações, e línguas,
se foi corrompendo de tal sorte a língua geral topinambá, que já hoje são
raros, os que a falam com a sua nativa pureza [...] de sorte está viciada, e
corrupta que parece outra língua diversa”. Sobre o uso da língua geral entre
índios aloglotas, percebe: “a que aprendem as novas nações, que vão saindo
dos matos” (ibid.). Depreende-se da seguinte afirmação que os missionários
não exerciam influência de forma alguma sobre o indígena, do ponto de vista
da estrutura lingüística: “a que estudam os missionários brancos, que tratam
com índios não com regras, e preceitos da arte, mas pelo uso, e trato dos
mesmos índios” (ibid.).
195
Não vamos abrir a discussão sobre os “Indícios de língua geral no sul
da Bahia na segunda metade do século XVIII” (Lobo/Machado Filho/Mattos e
Silva 2006). A utilização desse termo comum na época por oficiais da Câmara
da Vila de Olivença (município de Ilhéus, BA) não determina se se tratava de
um remanescente da língua brasílica da costa ou de uma língua geral fora dos
territórios conhecidos. Conforme A. D. Rodrigues (1996), por causas socio-
históricas, tal língua geral não se constituiu no litoral entre o Rio de Janeiro e
o Piauí.
150

o Paraguai o território de uma língua geral que se baseava no guarani


e compõe o fundamento do guarani falado hoje no Paraguai. O
território brasileiro de Guairá foi devastado já no século XVII pelos
bandeirantes (Rodrigues 1996: 9).
O tupi, com o qual os jesuítas travaram contato e que eles usavam
na missão, servia como base à tardia língua geral. Uma comparação
dos testemunhos lingüísticos prova que as gramáticas de Anchieta
(1595) e Figueira (1621) refletem o tupi genuíno (cf. Rodrigues
1997). Tais testemunhos existem no século XVI também nos relatos
de Hans Staden (1557), André Thevet (1558) e Jean de Léry. É
instrutivo, entre outros, o “Colloque de l’entrée ou arrivée en la terre
du Brésil” de Léry, que reproduz, como num guia de conversação, um
longo diálogo em tupi e francês (Léry 1578: 236-252).

5.2 Primeiros empréstimos (1500-1570)


As primeiras influências que o Brasil exerceu sobre a língua portu-
guesa se encontram no vocabulário. A aceitação de empréstimos,
sobretudo substantivos, é a forma mais direta de interferência
lingüística.196 Brasileirismos dos tempos antigos são empréstimos das
línguas indígenas que se limitam quase exclusivamente ao tupi
difundido nas regiões litorâneas. Esses antigos empréstimos aparecem
inicialmente só como brasileirismos quanto à sua origem, o que
encontra um paralelo histórico na denominação língua brasílica.
Incluem-se no grande número de empréstimos que o português
recebeu na época das Descobertas, bem como os de línguas africanas
e asiáticas.197 Do ponto de vista atual, é preciso diferenciar, com
relação a isso, entre exotismos efêmeros do léxico da época, que se
encontram em parte nos relatos de viagem, e que nesse meio-tempo se
tornaram obsoletos, e empréstimos definitivamente lexicalizados.
Em contato com o Novo Mundo, o espanhol já registrou em 1492
o primeiro testemunho de uma língua indígena. As palavras
registradas no diário de bordo de Colombo canoa (26 de outubro) e

196
Quando se quantificam os empréstimos por classes de palavras, obtêm-
se, para cada língua, resultados diferentes, porém a relação entre cada classe
de palavra apresenta uma certa constância. Os substantivos situam-se, nesse
caso, no topo, com cerca de três quartos do contingente (cf. Haugen 1950:
224).
197
Para a Ásia, cf. Glossário Luso-Asiático (Dalgado 1982).
151

hamaca ‘rede’ (3 de novembro)198 são empréstimos do taino do


Caribe, dos quais canoa se encontrou diretamente registrado no
dicionário espanhol-latim de Nebrija (c1495). Em contraposição aos
indianismos antigos do espanhol, os primeiros empréstimos portu-
gueses do Novo Mundo não são conhecidos de maneira geral.
A Carta de Pero Vaz de Caminha199 de 1 de maio de 1500 não
possui, como primeiro documento sobre o Brasil, nenhum vocabulário
tupi. Com relação à Carta, fica a questão, porém, sobre a etimologia
da palavra “tubaram” (tubarão), atestada pela primeira vez nesse texto
(Cortesão 1994: 137). No espanhol, o primeiro testemunho é datado
de 1519 (DECH, tiburón). A palavra aparece, no entanto, já em 25 de
janeiro de 1493, no diário de bordo de Colombo (Diario 1492-93:
202), que existe hoje somente em uma cópia tardia de Bartolomé de
las Casas. Embora não haja dúvidas sobre a origem indígena da
palavra, remontá-la ao tupi, como fazem Friederici (1960, tiburón) e
Corominas/Pascual é pouco convincente (DECH, tiburón: “quizá
tomado, por conducto del port., del tupí uperú (o iperú, con aglu-
tinación de una t- que en este idioma funciona a modo de artículo”).
Contra isso depõem:
· o testemunho espanhol de 1493, que exclui uma intermediação do
português.
· a forma do suposto étimo tupi iperú, ipperú, ipero (Friederici, ibid.),
visto que, no século XVI, não existe nenhuma razão para uma
sonorização do -p- em português.
· o uso contextual da palavra na Carta: “depois de pasarmos o rrio,
foram huuns bij ou biij d eles amdar antre os marinheiros que se
recolhiam aos batees, e levaram d aly huum tubaram, que Bartolameo
Dias matou; e levava lh o, e lançou o na praya” (Cortesão 1994: 134-
135). É muito provável que “tubaram” fosse conhecido pelos
endereçados em Portugal. Se fosse seu primeiro uso, a palavra teria
sido esclarecida, como é o caso dos primeiros indianismos do espanhol
quando Colombo disse: “Vinieron en aquel día muchas almadías o
canoas a los navíos a resgatar cosas de algodón filado y redes en que
dormían, que son hamacas” (Diario 1492-93: 130).

198
Cf. Diario (1492-93: 125, 130).
199
Cf. História (1921-24: II, 85-99), Capistrano de Abreu (1929: 287-
307), Cortesão (1943), S. Castro (1985), Cortesão (1994: 127-141). Cf. 4.1.
152

Em 1516, Petrus Martyr de Angleria (Anghiera) relata sobre o oeste


da ilha Hispaniola acerca dos índios e de um “piscis 5dã ab eis dict9
Tiburon9 5 hoĩem ĩ ictu dẽtis secat mediū & vorat” (De orbe novo
1516: 132). Também Bartolomé de las Casas fala de peixes “que los
indios llamaron tiburones” (DECH, tiburón). Portanto, tiburón é, com
grande probabilidade, um empréstimo que provém do Caribe, como
por exemplo o esp./port. cacique.200
Também os documentos posteriores a Caminha que narram sobre a
descoberta e a natureza do Brasil não refletem o contato lingüístico
com os índios tupi. Trata-se da Carta del Maestre Johan em espanhol
com interferências portuguesas que se volta ao rei de Portugal, como
participante da expedição de Cabral,201 bem como o relatório de 1501
conhecido como Relação do Piloto Anônimo publicado em italiano e
erradamente atribuído a um português, de um integrante de nome
desconhecido da viagem de descoberta.202
Os escritos de Américo Vespúcio, como a carta endereçada a
Lorenzo di Pierfrancesco de’ Medici, de 1502, e o relato conhecido
como Mundus Novus dos anos de 1503/04 tampouco testemunham um
vocabulário indígena.203 O mesmo vale para o primeiro testemunho
francês que descreve a expedição ao Brasil, de Binot Paulmier de
Gonneville, a partir de Honfleur (1503-1505) e, após o retorno em
1505 em Ruão, foi conhecido como Relation authentique.204
No ano de 1511 existe, finalmente, no diário de bordo da Nau
Bretoa (LNBert 1511) o primeiro documento que contém indicações
pormenorizadas de um carregamento a bordo no Brasil. O diário foi
descoberto por Varnhagen, em 1844, na Torre do Tombo, em Lisboa

200
Cf. Marcus (1987), “L’arawak dans le lexique luso-brésilien”.
201
Cf. História (1921-24: II, 100-105), Ribeiro/Araújo Moreira Neto
(1992: 56-57), Cortesão (1994: 143-144).
202
Cf. a versão italiana (Berchert 1892, 83-86; Ramusio 1979: 949-956) e
a tradução portuguesa (História 1921-24: II, 106-117; Cortesão 1994: 145-
166).
203
O material de Vespúcio se encontra em Pozzi (1984; cf. 75-85, 87-
121). Ao contrário do que diz, a apresentação de Waldseemüller na Cosmo-
graphiae Introductio de 1507, Vespúcio empreendeu não quatro, mas somente
duas viagens ao Novo Mundo. Os relatos do Brasil se referem à viagem de
1501 (cf. Ramusio 1978: 657-658).
204
Cf. Julien/Herval/Beauchesne (1946), Les Français en Amérique pen-
dant la première moitié du XVIe siècle, 23-49.
153

(Teixeira/Papavero 2002: 187), e vale como documento importante


para o significado econômico que se esboçava da futura colônia. Na
listagem de animais que cada membro da tripulação trazia consigo do
Brasil, foram mencionados, ao lado de papagaios, macacos e gatos, os
nomes específicos de duas espécies de animais:
“It. ho capytam trespapagayos e dous toys e hu gato e sam p. todos bj
peças [...] It. ho mestre dous gatos e hu çagoym e sam p. todos iij
peças” (LNBert 1511:108).
Com esse registro, tuim (tupi tuĩ ‘periquito’) e sagüi tornaram-se as
primeiras palavras do Brasil, documentadas em português,205 que
provêm do tupi.206
Poucos anos após a viagem da Nau Bretoa, o italiano Pigafetta
participou da viagem ao redor do mundo de Magalhães (1519-1522),
que o conduziu, em 1519, também à costa brasileira. No anexo de seu
relatório de viagem que foi conhecido sob o título Primo viaggio
intorno al globo terracqueo, Pigafetta nos transmite uma lista de
palavras das línguas da América do Sul e da Ásia Oriental. Entre elas
encontram-se doze palavras designadas como “vocaboli del Brasile”.
Alguns desses “vocaboli” como “canoe” e “hamac” devem ser agru-
pados com o taino caribenho, “hui” e “pinda”, porém, provêm do tupi
(Pigafetta 1800: 191) e podem ser identificados como uí ‘farinha’ e
pindá ‘anzol’.207
Uí aparece no português do Brasil somente em 1781 na forma uiçu
‘farinha de peixe torrada’ (DENF, s.v.). Pindá existe hoje com dois

205
Ambrósio Fernandes Brandão descreve esses animais nos Diálogos das
Grandezas do Brasil da maneira que se segue: “tuins, de pequeno corpo e mui
lindos, que explicam arrazoadamente tudo o que lhes ensinam”, “os formosos
e lindos sagüins que se criam nesta província, donde os levam para Portugal,
com serem lá estimados pelo seu bom cabelo, pequeno corpo, feições do rosto
e viveza dos espíritos” (Diálogos 1618: 173; 204).
206
Tuim ‘ave psitaciforme, [...] tem coloração geral verde [...]’; sagüi
‘designação comum às espécies de primatas, da família dos calitriquídeos,
com cinco gêneros e várias espécies em território brasileiro [...]’ (Aurélio,
s.v.). O francês também tomou emprestado sagüi (DDM: 1537, sagouin). Cf.
Friederici (1960, saguin; tuim), DHPT (s.v.).
207
Neiva (1940: 3-4) também aponta para uí e pindá. A ordenação de uma
outra palavra, por Cardoso (“tun, por tunga, bicho de pé”; 1961a: 41) mostra-
se contudo como errada, visto que a correspondente italiana em Pigafetta é
“buono” (1800: 191).
154

significados: (1) ‘ouriço-do-mar’ e (2) ‘variedade de anzol, entre


indígenas do Norte do Brasil’ (cf. Houaiss, s.v.). A conexão entre os
significados de ‘ouriço-do-mar’ (1587, DENF) e ‘anzol’ (1899,
Houaiss) resulta do uso dos espinhos do animal como anzóis ou de
sua forma pontiaguda. A palavra contribuiu também para a formação
de diversos compostos que, conforme o significado, caracterizam, por
um lado, o ouriço do mar negro (pindá-preto, pindaúna < tupi pindá +
una ‘preto’) e, por outro lado, se referem a diferentes aparelhos de
pesca (pindacuema, pindapóia, pindá-siririca, pindauaca; cf.
Houaiss, s.v.).
As duas palavras transmitidas por Pigafetta apontam, já em 1519,
para uma peculiaridade na documentação dos indigenismos brasi-
leiros, pois pertencem a uma lista de designações que são teste-
munhadas antes em fontes estrangeiras do que em portuguesas.
Assim, as notas da viagem de reconhecimento das águas costeiras
brasileiras de Pero Lopes de Sousa (Diário 1530-32), que precede a
fundação de São Vicente, não contêm nenhum vocabulário tupi. Até a
chegada do primeiro Governador Geral, Tomé de Sousa, e dos jesuítas
na recém-fundada capital Salvador, em 1549, não é documentado, em
português, nenhum outro substantivo de origem indígena.
Houaiss remete, para essa época, somente os dois adjetivos gentí-
licos maranhense (1531) e pernambucano (1535) (Houaiss, s.v.).
Com isso, permanece questionável se Maranhão provém de fato do
tupi, visto que o espanhol conhece o nome Marañón que, com seu
significado concreto ‘cajueiro’ é difundido na América hispânica,
como topônimo e, além disso designa, no Peru, um dos mananciais do
Amazonas.
A indicação de Koppel (1986: 31), conforme a qual Damião de
Góis, em 1541, no seu escrito latino Hispania mencionaria produtos
brasileiros às últimas duas folhas, manifestou-se como falsa. Na obra,
fala-se somente de pau-brasil, enfeites com penas, redes (lecti
pensiles), assim como de papagaios, cercopitecos e macacos, sem que
designações específicas fossem nomeadas (cf. Hispania 1541, s.p.).
Por volta do ano 1540, é conhecido um pequeno vocabulário tupi-
francês com o nome de “Le langaige du Bresil”, que foi redigido por
Jehan Lamy. Como empréstimos aceitos mais tarde (v. abaixo),
encontram-se cauim (“CAOUIN”) e tapir (“TAPPIRE”) (cf.
Dalby/Hair 1966).
155

Com a chegada dos jesuítas sob a direção de Manuel da Nóbrega,


começa-se, no Brasil, a literatura jesuítica, que é documentada em
numerosas cartas, cuja publicação se deve a Serafim Leite (cf. Leite
1956-58 e Cartas do Brasil). Na primeira década, encontram-se
testemunhos para o alimento básico mandioca e para a farinha dela
extraída, carimã, que hoje é denominada de modo genérico como
farinha. Quanto às frutas tropicais, mencionam-se mangaba, ananás e
goiaba. A palavra mandioca aparece pela primeira vez em 1551 na
tradução espanhola de uma carta redigida em português pelo padre
Manuel da Nóbrega, em 1549, na Bahia, porém, o original se perdeu
(Cartas do Brasil, 60; 442).208
É de se admirar que a designação generalizada no Brasil hoje para
o ananás, a saber, abacaxi (Ananas comosus), que também provém do
tupi e se distingue fenotipicamente do ananás (‘abacaxi branco’;
Ananas sativus) seja somente testemunhada por volta de 1767 (DENF,
s.v.). Deve-se atribuir, sem dúvida, a uma tipificação consecutiva da
denominação,209 pois também o guarani utiliza hoje avakachi. No
espanhol, difundiu-se ananá(s) (tupi-guarani naná) no século XVI sob
a influência do português (haja vista a prótese do a-), de modo que se
usa ananá hoje na Argentina e no Uruguai, enquanto a fruta em outros
lugares se chama piña, devido à sua estrutura externa.
No âmbito das idéias religiosas aparecem tupã ‘designação tupi do
trovão’, pajé ‘curandeiro’, bem como caraíba com a significação de
‘curandeiro’ e ‘branco entre índios’. Nesse contexto, a utilização da
designação tupã para ‘Deus’ na catequese dos índios, que se fazia na
língua deles, podia ser vantajosa.
Quanto aos animas, encontram-se inicialmente só menção – e isso,
fora da literatura jesuítica – ao tamaru ‘espécie de crustáceo grande’ e
à tunga (zunga). Mais tarde se tornou conhecido no Brasil como
bicho-de-pé, o qual se aninha como parasita incômodo na sola do
pé.210 Com a forma maracajá-açu ‘ocelote’, literalmente ‘gato-do-

208
O espanhol, por sua vez, tomou emprestada a palavra do guarani. É
atestada em 1527 em Enrique Montes (“mandioque”) (cf. Ribeiro/Araújo
Moreira Neto 1992: 112).
209
Cf. esp. durazno (Ilhas Canárias e América Hispânica) para melocotón
‘pêssego’.
210
Já na lista dos “vocaboli del Brasile” de Pigafetta se encontra “tun”
(1800: 191), que Cardoso (1961: 41) associa ao bicho-do-pé (“tun, por tunga,
156

mato grande’, aparece pela primeira vez o adjetivo sufixóide -(gu)açu


(tupi a’su, u’su ‘grande’) que, no português brasileiro, integra cerca
de 269 formações (cf. Houaiss).
Com referência à documentação geralmente escassa dos indige-
nismos, Rizzini (1988: 145) aponta para o fato de que os jesuítas eram
exortados a não detalhar sobremaneira as coisas mundanas em suas
cartas. A parcimônia de testemunhos se explica, por conseguinte, por
um lado, pela necessidade carente, cunhada por interesses espirituais,
de querer comunicar as peculiaridades do mundo profano. Por outro
lado, tampouco fora do clero, ninguém tinha tomado ainda nenhuma
iniciativa de agir como cronista. Em contraposição ao Brasil, o reino
colonial espanhol já dispunha, na metade do século XVI, da Historia
general y natural de las Indias, de Gonzalo Fernández de Oviedo y
Valdés, que lista cerca de 500 indigenismos.
Nos anos de 1557/58, efetuou-se uma cisão significação con-
cernente às considerações dos cronistas. Hans Staden, proveniente de
Homberg, na região de Hessen, tinha empreendido duas viagens para
o Brasil, sobre as quais relata em sua Wahrhaftige Historia (‘História
verdadeira’) de 1557. Os franceses, que já desde o começo do século
XVI regularmente aportavam no Brasil, erigiram o Forte Coligny em
1555, na baía do Rio de Janeiro, o qual resistiu até a tomada dos
portugueses em 1567. Ao meio-ambiente brasileiro da colônia
francesa referem-se os relatos de André Thevet (Les singularités de la
France Antarctique, 1557)211 e de Jean de Léry (Histoire d’un voyage
fait en la terre du Brésil, publicada em 1578).212
Trinta anos antes que a literatura portuguesa se estabelecesse de
maneira definitiva com o Tratado Descritivo do Brasil em 1587 de

bicho de pé”), embora a correspondente italiana, em Pigafetta seja “buono”


(1800: 191).
211
A obra é datada algumas vezes como sendo de 1558. Segundo Lestrin-
gant apareceu, porém, já uma edição em 1557 (cf. Th).
212
Também o infante Ulrich Schmidel, proveniente de Straubing (Bavie-
ra) que permaneceu de 1534 a 1553 na região do Prata, entrou no território
brasileiro em sua marcha de Asunción a São Vicente. Em seis meses,
percorreu mais de 1000 km, antes de empreender a viagem de volta para casa
a partir do litoral. Seu relatório, publicado em 1567 (Wahrhaftige Historien
einer wunderbaren Schiffart ‘Histórias verdadeiras de uma viagem marítima
maravilhosa’) informa, ao contrário de outras obras, além do termo mandioca
(“Mandeoch”), nenhum vocabulário específico tupi-guarani (cf. Schmi, 48).
157

Gabriel Soares de Sousa, as obras de Staden, Thevet e Léry (seu


material remonta a 1558) documentaram os primórdios etnográficos
da descrição da terra, que também transmitem um vasto vocabulário
do tupi. Essas fontes superam de longe as até então esporádicas
referências dos jesuítas a respeito da fauna, flora e vida indígena e
testemunham, como que antecipando, os empréstimos que o português
testifica por escrito na maior parte das vezes por volta do final do
século XVI ou posteriormente.
Deve-se partir do fato de que o vocabulário tupi transmitido por
Staden, Thevet e Léry no século XVI pertencia preponderantemente
também ao léxico dos europeus que viviam no Brasil. Quanto a
Staden e Léry, poder-se-ia supor inicialmente, tendo em vista os
tupinismos, que sua vida entre os indígenas não se comparava com a
dos colonos. O material de Thevet que foi orientado em sua
composição pelas informações dos franceses residentes no Brasil,
testemunha, porém, que o uso com respeito ao vocabulário de origem
tupi é procedente.

5.2.1 Testemunhos em Hans Staden


Hans Staden havia permanecido em sua primeira viagem de janeiro a
abril de 1549 em Pernambuco. As impressões decisivas do Brasil que
culminavam na sua descrição detalhada dos habitantes e de seus
hábitos foram obtidas em sua segunda viagem (1550-1555). Como
infante, chefiava uma fortificação, a serviço dos portugueses, próxima
a São Vicente (SP), quando na passagem do ano de 1553-1554, foi
aprisionado pelos tupinambá. Durante quase um ano, encontrou-se nas
mãos dos canibais, aprendendo também a sua língua. Seu relato sobre
seu tempo como prisioneiro transmite, ao lado de numerosos
topônimos indígenas e de algumas frases na sua língua, cerca de 50
tupinismos. Apresentamos aqui as palavras ainda hoje correntes no
Brasil juntamente com a primeira ocorrência em português (cf.
Houaiss, s.v.) e a forma transmitida por Staden (St).213
Lema português Datação Staden (1557) Significado

213
A datação é fornecida por Houaiss (s.v.), quando não for marcado
diferentemente. As indicações com * são testemunhos indiretos da carta
perdida de Nóbrega de 1549 (Cartas do Brasil, 60; 62) e de um texto latino de
Anchieta (1560).
158

abati m. 1587 St abbati ‘milho’


acangatara f. sXX St kannittare ‘adorno de penas’
acauã (macaguã) f. 1587 St mackukawa ‘espécie de falcão’
anhangá m. c1584 St Ingange ‘diabo’
beiju m. a1576 St byyw ‘bolo de massa de mandioca’
buriqui (muriqui) m. c1594 St pricki ‘espécie de macaco’
capivara f. 1560* St cativare ‘roedor’
carimã f. 1554 St keinrima ‘farinha de mandioca’
cauim m. c1584 St kaawy ‘bebida de mandioca cozida
[DHPT] e fermentada’
cipó m. 1587 St sippo ‘liana’
enduape m. 1851 St enduap ‘adorno de penas’
guará m. 1560* St uwara ‘flamingo’
jaguar m. 1610 St jau ware ‘onça’
jenipapo m. c1574 St junipappe- ‘fruto do jenipapeiro’
eywa
jetica f. c1631 St jettiki ‘batata-doce’
[DHPT]
mandioca f. 1549* St mandioca
maracá m. 1561 St tammerka ‘matraca; objeto de culto’
moquém m. 1554 St mokaen ‘grelha onde se moqueia a
carne/o peixe’
muçurana f. 1587 St mussurana ‘espécie de cobra’ (St:
‘corda’)
paca f. a1576 St backe ‘roedor’
pajé m. 1551 St paygi ‘curandeiro, adivinho’
petume m. 1587 St bittin ‘tabaco, fumo’
piracema f. 1560* St pirakaen ‘tempo de desova’
piracuí m. 1876 St pira kui ‘farinha de peixe’
pirati m. s.a. St bratti ictiol. ‘tainha, muge(m)’
poracé m. 1693 St a prasse ‘dança indígena’
saruê m. 1899 St serwoy ‘sarigüê, opossum’
taiaçu m. 1618 St teygasu ‘javali’
dattu
tatu m. 1560* St dattu ‘mamífero com o corpo pro-
tegido por uma couraça’
tucum m. 1587 St tockaun ‘espécie de palmeira’
tunga f. 1587 St attun ‘bicho-do-pé’

Na transcrição das palavras indígenas, evidencia-se em Staden uma


certa discrepância com relação às designações originais, que devem
ser entendidas em conexão com a origem de Staden (dialeto de
Hessen) e as convenções ortográficas do alemão da época. Nesse
aspecto, os cronistas portugueses e franceses tiveram uma tarefa mais
fácil, visto que puderam transmitir, por exemplo, também as nasais e a
acentuação do tupi.
159

O material de Staden reflete a relação imediata com a vida


cotidiana. Dessa forma, testemunha, por exemplo, a palavra tupi inĩ,
que designa a rede típica das culturas indígenas. O português nunca
aceitou essa palavra, enquanto, em espanhol, se impôs uma designa-
ção do taino, a saber, hamaca. No alemão, aliás, a palavra
Hängematte (lit. ‘esteira pendurada’) é uma transposição por
etimologia popular do esp. hamaca.
Quanto à alimentação, Staden menciona, ao lado da mandioca, pela
primeira vez, o milho, que, na designação abati (tupi abati ‘milho;
arroz’), só pôde difundir-se regionalmente no português brasileiro
(Houaiss). Em comparação das formas, chama a atenção o fato de
Thevet não registrar a palavra com <b>, mas com <u> ou <v>. Isso
corresponde à sua percepção da fricativa bilabial [β] do tupi.
Em conexão direta com a mandioca e com o milho está o cauim,
um estimulante obtido por meio da fermentação. Trata-se de uma
denominação genérica que se refere também a bebidas alcoólicas à
base de diversas frutas. Staden, Thevet e Léry mencionam o cauim, na
literatura portuguesa (c1584) é traduzido por ‘vinho’, no século XVIII
também por ‘aguardente’ (cf. DHPT, s.v.). É notavel a datação tardia
da palavra (1781) no Dicionário Houaiss.
Fora isso, Staden nomeia o beiju ‘bolo de massa de tapioca ou de
mandioca’, dos quais hoje ainda há diferentes tipos (beijucica,
beijucuruba, beiju-membeca, beiju-moqueca, beijuteica). Piracuí
(tupi pirá ‘peixe’ + (k)uí ‘farinha’) não se deve confundir com a ração
para animais, mas é preparado no Estado do Amazonas em iguarias
finas (bolinhos, quibe de piracuí). No português, piracuí só é
testemunhado em 1876. O peixe utilizado na fabricação dessa farinha
se chama tainha ou, como atestado em Staden, pirati. É bastante
comum nas águas litorâneas brasileiras e entra, para desovar, nas
cabeceiras dos rios. O tempo propício para a pesca é denominado
piracema e significa, portanto, hoje no Amazonas, também ‘cardume’.
Com o nome de jenipapo, Staden cita uma planta, de cujo suco os
índios obtinham uma tinta negro-azulada para a pintura corporal.
Hoje, prefere-se fabricar compotas, sucos e licores dessa fruta. A
forma apresentada por Staden, junipappeeywa, apresenta uma ligação
com o tupi ibá ‘fruto, planta, árvore’. Além dela, Staden atesta com o
nome cipó (tupi isá ‘galho’ + pó ‘mão’) uma palavra típica da floresta,
que na Europa, via de regra, é conhecida pela forma correspondente
liana (< fr. liane; ing. liana). No Brasil, há mais de 100 derivações e
160

composições de cipó (cf. Houaiss). Com o termo tucum, Staden


menciona também pela primeira vez um tipo de palmeira endêmica do
Brasil que, como tantas outras numerosas espécies, tem suas
utilidades de uso.
Da fauna, Staden menciona o buriqui, o grande primata da
América (que também se chama, na maioria das vezes, muriqui ou
mono-carvoeiro); o guará, o íbis vermelho sul-americano; a paca, um
roedor aparentado com o aguti, citado por Thevet e de proporções
menores, e o taiaçu ‘javali’. Como Thevet e Léry cita ainda o tatu e a
capivara.
Digno de nota é também a referência ao jaguar, atestado pela
primeira vez por Staden e Léry, que em português não é documentado
antes de 1610. Isso se deve claramente pelo fato de haver disponível a
denominação específica onça (lat./gr. lynx). A associação de um signo
lingüístico já existente com ampliação do significado aparece por
vezes na denominação da fauna e da flora do Novo Mundo. Assim, o
espanhol da América Central e no norte da América do Sul recorre,
analogamente, ao vocábulo tigre. Como o esp. tigre, o port. jaguar
não se refere à espécie negra (onça-preta), mas à onça-pintada que é
também a denominação preferida. Visto que o significado da forma
inicial jaguara era ambígua em tupi (‘onça; cachorro’), para tirar o
sentido equívoco, formou-se a composição jaguara + eté (tupi eté
‘verdadeiro’) que gerou a forma portuguesa jaguaretê (c1584). No
espanhol da região do Prata, usa-se comumente jaguareté, visto que o
significado da forma básica tinha se estreitado em guarani, desde o
século XVII, para o de ‘cão’, que, hoje, é designado pelo guarani
jagua.
Por maracá, descrito por Staden e Léry, entende-se uma matraca
feita de cabaça que se difundiu não só no Caribe, como denominação
de um instrumento de percussão (esp. maraca), mas também se
internacionalizou. Staden destaca a função no culto de que dispunha o
maracá entre os índios. Designações para danças (poracé) e orna-
mentos de pena (acangatara, enduape), nomeados por Staden, são de
natureza mais específica e foram documentados somente com um
considerável atraso no português. Moquém e petume serão discutidos,
devido ao seu desenvolvimento especial, respectivamente nos capítu-
los sobre Léry e Thevet.
161

5.2.2 Testemunhos em André Thevet


O franciscano e cosmógrafo André Thevet veio à Baía de Guanabara
(RJ), em 1555, com Nicolas Durand de Villegagnon, comendador da
colônia francesa, permanecendo, contudo, em terra somente seis
semanas. Em seu relato de viagem, Les singularités de la France
Antarctique, publicado em 1557 e, mais tarde, ampliado em sua
Cosmographie Universelle (1575), explica cerca de 70 tupinismos.
Para o português, limitaremo-nos aqui à indicação das palavras mais
freqüentes do relato de Thevet, que, até 1557, ainda não haviam sido
testemunhadas.
Lema português Datação Thevet (1557) Significado
caju m. c1584 Th acajou, fr. ‘cajueiro’
anacardier
canindé m. sXX Th carindé ‘arara’
cutia (acuti, aguti) c1584 Th agoutin, fr. agouti ‘aguti’
m.
cauim m. c1584 Th cahouin ‘bebida de mandioca
[DHPT] cozida e fermentada’
jacaré m. 1560* Th jacare absou, fr. ø ‘caimaõ’
jenipapo m. c1574 Th génipat, fr. génipa, ‘fruto de jenipapeiro’
prune de cythère
pacova f. a1576 Th pacona, fr. ø ‘banana’
quati (coati) m. c1584 Th coati ‘mamífero de focinho
longo’
tapir m. 1851 Th tapihire, fr. tapir ‘anta’
(tapira f.) (1560*)
tatu m. 1560* Th tatou ‘mamífero com o
corpo protegido por
uma couraça’
tucano m. c1584 Th toucan ‘ave de bico muito
volumoso e longo’

Com “acajou” Thevet designa o cajueiro, cuja fruta apresenta uma


sinuosidade característica. Em português, se chama caju e em francês
noix de cajou. Por extensão, pode-se também referir à árvore em
português como caju, para a qual, porém, em regra se usa a forma
derivada cajueiro (1585). A forma francesa (com prótese do a-)
remonta ao étimo tupi (akaju) e também existe em português como
acaju. Essa variante é, porém, ambígua, pois o português acaju pode
também designar o mogno (< ing. mahogany). Em francês, acajou,
depois de uma fase de ambigüidade (s. XVII-XIX), passou a significar
hoje exclusivamente o mogno (tanto a árvore quanto a madeira).
162

Com o termo pacova (pacoba; cf. tupi oba ‘folha’), Thevet designa
a banana, cujo nome da África ocidental ainda não era usual. Thevet
indica a bananeira também como tendo uma afiliação indígena na
forma “paquouere”. Nisso reside, contudo, um erro, haja vista que se
trata evidentemente já da derivação portuguesa pacoveira (com o
sufixo -eira, cf. bananeira), que, em português, por sua vez, somente
é documentada em 1618 (Houaiss).
A já testemunhada mandioca (tupi mani’oka) aparece em Thevet e
Léry sob uma variante especial (Thevet: manihot, Léry: maniot). A
variação de formas com e sem <d> provém do tupi, que realiza a
consoante pré-nasalizada nd <n> também como [n]. A grafia com <h>
tem ligação provavelmente também com a pronúncia, visto que
Thevet, valendo-se da representação da glotal ainda realizada no
francês do século XVI (em palavras de origem germânica), distingue
evidentemente o golpe de glote homorgânico <’> [ʔ] existente no tupi.
É bastante notável a terminação -ot, que contrasta com -oca e, com
isso, apresenta um interessante paralelo com a forma guarani
mandi’o(g), estando a zona de fala guarani mais ao sul. Na forma
francesa que aparece em Thevet (atualmente se diz manioc), baseia-se
também o nome científico Manihot esculenta.
Uma curiosidade no relato de Thevet é o francês pétun ‘tabaco,
fumo’, que só é difundida regionalmente no português sob a forma
petume. A palavra foi aceita em francês, formou a derivação pétuner
‘fumar, aspirar rapé’ e foi até o século XVII um concorrente termino-
lógico para tabac. No século XIX, cunhou-se, com a mesma base, o
francês pétunia, como nome de gênero das petúnias endêmicas da
América do Sul, que é, como o tabaco, uma solanácea e é cultivada
como planta ornamental na Europa. Sob a forma petúnia, essa palavra
foi devolvida ao português. Pétun era considerado um arcaísmo no
francês standard já no século XVIII, mas se estabeleceu no bretão
(bret. butun ‘tabaco, fumo’, butunat ‘fumar’, butuner ‘fumante’,
butuneg ‘campo de tabaco’). A participação ativa dos bretões nas
expedições ao Brasil é conhecida. O próprio Villegagnon, o fundador
do Fort Coligny, por exemplo, provinha da Bretanha.
A palavra jacaré (em Thevet: “jacare absou” com o sufixóide
aumentativo -açu) merece menção especial. Do ponto de vista
terminológico, tanto os espanhóis no Caribe quanto os portugueses
tomaram nota do fato de que no Novo Mundo se encontrava um tipo
especial de crocodilo, a saber, o caimão (cf. esp. caimán < taino). A
163

espécie designada por Thevet chama-se hoje também jacaré-açu e é a


maior espécie com seus até seis metros de comprimento. Em francês,
a palavra não conseguiu estabelecer-se.
Com canindé (Th carindé), também chamada arara-de-barriga-
amarela, mencionou-se, pela primeira vez, um das grandes espécies
de psitacídeos (a arara). Fora isso, Thevet se refere ao estranho e
bicudo tucano juntamente com uma ilustração.
Para o até então não-citado tapir, dispunha-se já em português de
uma palavra, anta (< ár. lamṭ ‘espécie de antílope’). Ela é, ainda hoje,
a mais corrente, enquanto tapir entrou na Europa na terminologia
científica (cf. Tapirus terrestris). No português, tapir só é atestado em
1851/1856 (DHTP).

5.2.3 Testemunhos em Jean de Léry


Um esforço especial de descrever o estranho mundo do Brasil e
compreendê-lo terminologicamente é apresentado na Histoire d’un
voyage fait en la terre du Brésil, de Jean de Léry. O huguenote Jean
de Léry chegou em 1557 com um grupo de pessoas na Colônia
francesa da Baía de Guanabara e permaneceu dez meses no país. Seu
relato é, em comparação com o de Thevet, mais autêntico, visto que
ele se baseia em observações próprias e não nasceu de uma
compilação de conhecimentos, da qual dependia Thevet devido à sua
breve estada. Claude Lévi-Strauss caracterizou a obra de Léry como
“bréviaire de l’ethnologue”.
Como Staden, Léry passou vários meses entre os índios e
dominava o tupi, o que se manifesta no capítulo XX, “Colloque de
l’entrée ou arrivée en la terre du Brésil”, um diálogo de mais de dez
páginas, produzido na forma de um guia de conversação em tupi e em
francês com explicações gramaticais. A Histoire d’un voyage fait en
la terre du Brésil, cuja primeira edição se perdeu durante as guerras
de religião, foi publicado em 1578.
Em Léry, transmite-se o espírito da época dos Descobrimentos no
trato com a linguagem. Seu modo de proceder é influenciado pelos
cronistas espanhóis, dentre os quais se refere repetidamente a
Francisco López de Gómara (Historia general de las Indias, 1552).
Fora do “Colloque de l’entrée”, ele nomeia e explica cerca de 130
tupinismos. Também aqui nos limitaremos – excetuando o material do
164

qual já se tratou – a algumas palavras de interesse, que em Portugal


em parte ainda não haviam sido documentadas.
Lema português Datação Léry (1578 [1558]) Significado
aí m. 1560* Lér hay, fr. aï ‘bicho-preguiça’
aipim m. a1576 Lér aypi, fr. ø ‘mandioca-doce’
arara f. 1576 Lér ara ‘arara’
jaguar m. 1610 Lér jan-ou-are, fr. ‘onça’
jaguar
moquém m. 1554 Lér boucan ‘grelha onde se mo-
queia a carne/o peixe’
sarigüê f. 1560* Lér sarigoy, fr. sarigue ‘opossum’
tunga f. 1587 Lér ton, fr. ø ‘bicho-do-pé’

Com o vocábulo aipim, Léry atesta um tipo de mandioca que também


é chamada de macaxeira ou mandioca-doce (Manihot palmata), visto
que ela contém, em comparação com a mandioca, menos cianureto.
Do âmbito das comidas preparadas provém a designação moquém,
uma grelha para torrar peixe ou carne. Já é testemunhado em 1554 nas
cartas jesuíticas (Houaiss, s.v.). No Caribe, os espanhóis receberam do
taino um vocábulo para uma armação correspondente (esp. barbacoa,
ing. barbecue). A forma boucan em Léry apresenta uma adaptação do
tupi mokaẽ, que se desenvolveu em francês de uma maneira especial.
Enquanto o português pode atestar uma derivação (moquear) somente
em 1763, Léry já usa boucané, boucaner e boucanerie ‘lugar onde se
moqueia’. No século XVII, a derivação boucanier tornou-se a
designação dos desbravadores de florestas franceses no Haiti, os quais
torravam sua carne segundo o costume indígena e traziam como arma
um fusil boucanier ‘espingarda’. Após reiterada ampliação de signifi-
cado, reconhecia-se, com boucanier, o termo geral para aventureiros e
saqueadores nos trópicos, também transmitido para o ing. buccaneer.
A palavra francesa boucanière significa – nesse contexto de vida
inquieta – ‘prostituta’.
Enquanto com o termo tuim já se mencionava em 1511 uma
espécie brasileira de papagaio, o nome da grande arara aparece
somente em Jean de Léry. Isso se deve possivelmente ao fato de que
havia disponível, para uma denominação mais genérica, o termo
papagaio, já atestado no século XIII, o qual remonta indiretamente ao
ár. babbaġāʾ.
O bicho-preguiça conservou em francês o nome tupi apontado por
Léry como denominação zoológica (aï), enquanto, na linguagem
comum, foi substituído pela característica comportamental evidente
165

desse ser vivo (a preguiça). Em português, aí (Anchieta 1560: 222;


“aîg”) possivelmente não se impôs, exceto em compostos (aí-mirim;
tupi mirĩ ‘pequeno’), devido à interferência com o advérbio de lugar
homônimo.
A grafia do testemunho de Léry para o gambá aponta para uma
particularidade fonética. Léry anota a palavra com o final <-oy>, o
qual comparando com a palavra portuguesa sarigüê (1560; var.
sarugüéia 1858, saruê 1899), documenta que o ditongo francês <oi>,
no século XVI, ainda se pronunciava ['w(]. A designação hoje
corrente, gambá, é também de origem tupi, mas aparece em português
somente em 1817. As circunstâncias permitem supor que há com
sarigüê e gambá um deslocamento de designações, como com ananás
e abacaxi.
Ao lado desses tupinismos correntes, Léry documenta outras
palavras, como, por exemplo, airi ‘espécie de palmeira’ (em Thevet:
haïri), que são documentadas em português, em parte, mais tarde
(port. airi c1607, DHPT).

5.2.4 Empréstimos posteriores a 1560


Representando a literatura portuguesa, José de Anchieta, numa carta
de São Vicente, atesta, em 1560, uma tendência mais evidente para
descrever a natureza. Houaiss (s.v.) considera os tupinismos contidos
no texto latino como primeiros testemunhos portugueses.
Com o termo timbó, Anchieta nomeia uma planta de cujo suco os
índios retiravam um veneno que paralisava os peixes, de tal modo que
podiam ser pegados com a mão. Hoje a palavra, em português
brasileiro, traz também o significado de ‘moleza’. No contexto da
pesca chama a atenção o fato de que o vocabulário tupi atestado até
aquela época em português não tenha ainda registrado nenhuma
espécie de peixe autóctone.
Anchieta nomeia pela primeira vez algumas espécies de cobras,214
das quais nos é conhecida sucurijuba (tupi su’u ‘morder’ + kori ‘logo’
+ juba ‘amarelo’), sob a forma abreviada sucuri. O nome se refere à
característica desse réptil, de contornos parcialmente amarelados, de

214
Já Staden tinha citado a muçurana, uma espécie não-peçonhenta de
serpente. No entanto, a palavra aparece em Staden em sentido figurado e
designa entre os índios um cordão grosso com o qual amarravam seus prisio-
neiros.
166

surpreender a vítima por meio de um bote rápido. A jararaca (p. ex.,


jararaca-pintada, no Pantanal) é ainda hoje temida como cobra
peçonhenta, uma vez que procura a proximidade das moradias
humanas. Em boipeba (atual boipeva) ‘espécie de cobra’ e boicininga
‘cascavel’ é possível identificar a palavra tupi mboia para serpente.
Esse é o caso também da cobra mítica indígena, boitatá (+ tupi tatá
‘fogo’; Thevet e Léry atestam a palavra), mencionada por Anchieta.
Está associada com os fogos fátuos que aparecem, por exemplo, nos
pântanos devido a gases incandescentes.
Do âmbito mítico, Anchieta relaciona, além disso, ipupiara
‘monstro marítimo’ e curupira, um ser demoníaco com a estatura de
um anão que protege a floresta. A palavra está associada com o tupi
kurumi ‘menino’, que também foi tomado emprestado (port. curumim)
e hoje é difundida na região do Amazonas. No português brasileiro,
utiliza-se ainda guri (1911, DHPT), que provém igualmente do tupi.
Também Anchieta cita (após Staden, Thevet, Léry) capivara,
piracema, sarigüê, tapir e tatu, bem como aí, guará e jacaré (que o
Dicionário Houaiss não reparou serem os primeiros testemunhos na
literatura de Anchieta). Outros primeiros testemunhos em Anchieta
são tamanduá e guainumbi. Para o último termo, difundiu-se mais
tarde o neologismo expressivo beija-flor (1813, Houaiss), que forma
hoje a base de mais de setenta compostos/espécies (beija-flor-branco,
beija-flor-canela).
Por volta de 1570, surgiu com o Tratado da Terra do Brasil de
Pero de Magalhães Gândavo, natural de Portugal, a primeira obra que,
na literatura portuguesa, se dedica exclusivamente ao Brasil e traz
traços sistemáticos de uma descrição da colônia referente à terra.215
Em 1576, Gândavo publicou a História da Província Santa Cruz, que
é entendida, todavia, não como obra histórica, mas detalha, no
primeiro plano, as circunstâncias e a natureza do país. Ambas as obras
trazem apenas quinze novos testemunhos de tupinismos que, em parte
também tinham sido nomeados em Staden, Thevet ou Léry. No
entanto, a obra transmite nomes em português, pela primeira vez, de
peixes endêmicos. Houaiss anota, com relação ao DENF, a palavra

215
Houaiss indica o Tratado da Terra do Brasil com “a1576”. Em fontes
da literatura brasileira é datado, em regra, por volta de 1570 (cf. Magalhães
Gândavo 1980: 11).
167

baiacu. Para acrescentar, citar-se-ia também tambuatá (cf. “Mayacú”,


“Tamoatá”; História 1576: 115-116).
Os tupinismos atestados nas fontes até 1570 podem ser organi-
zados em diferentes categorias. Devem-se distinguir: (1) manutenção
preponderante da designação genuinamente portuguesa com difusão
regional do tupinismo (milho – abati; onça – jaguar; rede [inĩ];
cardume – piracema), (2) substituição da designação consecutiva-
mente tipificada do tupinismo (ananás – abacaxi; sarigüê – gambá),
(3) documentação notavelmente protelada em português (canindé,
piracuí), (4) desenvolvimento desviante da palavra em português e em
francês (moquém – fr. boucan; petume – fr. pétun) e (5) volta do
termo via francês (fr. pétunia > port. petúnia) inclusive na
terminologia científica (Manihot; Tapir).
Derivações geonímicas do tupi aparecem raramente antes de 1570.
Contudo, os termos onomásticos são considerados lexicograficamente,
via de regra, como subordinados. Além disso, a sua etimologia é
freqüentemente difícil de remontar, o que, no caso dos tupinismos, se
deve ao problema da segmentação dos constituintes. Assim, a palavra
carioca ‘habitante do Rio de Janeiro’ remontaria ao tupi kari’oka <
kara’i oka ‘casa(s) do(s) branco(s)’ (= oka ‘casa’) (Nascentes 1952a,
s.v.). Já Léry cita, no “Colloque de l’entrée”, a colônia “Kariauh”
(cap. XX). O primeiro testemunho de 1560, “os que vyerão da
Carioca” (Anchieta 1560: 195), é igualmente um topônimo.
Substantivos como camucim ‘vaso, urna’ (cf. Camocim, CE) e guará
‘flamingo’ (cf. Guarajuba, BA, MG) < tupi guará + juba ‘amarelo’)
trouxeram também uma contribuição à toponímia brasileira.
Entre os tupinismos registrados num período antigo, encontram-se
ainda alguns que devem ser organizados nomeadamente quanto ao seu
uso no meio indígena. Assim é a palavra jetica ‘batata-doce’, teste-
munhada por Staden, mas não mencionada por Thevet nem por Léry.
Visto que o português não registra o primeiro testemunho antes de
1631 (DHPT) e hoje, além disso, usa batata-doce, é de se supor a
afiliação indígena. Ainda mais adiado na documentação portuguesa,
embora já tivesse sido atestado em Thevet e Léry, bem como em
Staden, é piracuí ‘farinha de peixe’ (1876, Houaiss).
Basicamente, deve-se considerar que podem acontecer transpo-
sições areais, as quais limitam hoje palavras inicialmente mais
difundidas (curumim; piracuí) à presença na região amazônica para
168

onde índios falantes de tupi penetraram no século XVII. Isso deveria


esclarecer isoladamente uma revisão da história da palavra.
Os testemunhos de tupinismos que surgiram no tempo entre a
descoberta do Brasil e o Tratado da Terra do Brasil de Pero de
Magalhães Gândavo, por volta de 1570, dão a impressão de aleatorie-
dade da base documental puramente portuguesa. No contexto dos
testemunhos de Staden, Thevet e Léry surge um quadro diferenciado.
Torna-se claro, diante do trabalho de compilação de Thevet, que a
comunicação oral da antiga sociedade colonial na comunhão com a
natureza do dia-a-dia era permeada de numerosos tupinismos.
Desde 1583 apareceram os tratados Do Clima e Terra do Brasil e
Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil, de Fernão Cardim. Com
isso, os jesuítas iniciaram também a descrever mais minuciosamente o
Brasil. Os escritos resumidos sobretudo com o título de Tratados da
Terra e Gente do Brasil de Cardim incluem, segundo o Dicionário
Houaiss, 67 novos tupinismos, o que quantitativamente, em compa-
ração com Léry, é ainda pouco. Com o Tratado Descritivo do Brasil
em 1587 de Gabriel Soares de Sousa, a literatura portuguesa consegue
finalmente, pelo final dos século XVI, fazer o passo decisivo na com-
preensão sistemática da fauna e flora do Brasil, bem como dos hábitos
indígenas. A obra apresenta 179 primeiros testemunhos do tupi (cf.
Houaiss, pesquisa de datação).
Devido à situação das fontes lexicográficas é quase impossível,
antes do século XIX, traçar uma diferença precisa entre os brasilei-
rismos conforme a proveniência e os brasileirismos na organização
das variedades lingüísticas, de sorte que o termo brasileirismo
subentende ambas as categorias. Um ponto de convergência entre a
definição como empréstimo de uma língua indígena e a entrada na
formação de uma variedade brasileira se dá, contudo, sob o aspecto de
que os empréstimos tupi da fauna e flora no mundo dos colonos
brasileiros ocorriam, sem dúvida, em maior número e de maneira mais
diferenciada do que no uso lingüístico de Portugal. Sob esse ponto de
vista, a diferenciação lexical do português no Brasil começa já no
século XVI.

5.3 Indicações lingüísticas (1536-1767)


Exceto pelos empréstimos, a literatura do século XVI não contém
nenhuma indicação explícita do desenvolvimento da língua no Brasil.
169

Os gramáticos da época limitam-se a afirmações de natureza genérica.


Fernão de Oliveira menciona o Brasil na sua Gramática da Lingua-
gem Portuguesa de 1536 somente em relação ao seu pensamento de
que a difusão da língua portuguesa entre as populações das colônias
seria um bom pressuposto para uma convivência pacífica:
“[...] e não trabalhemos em língua estrangeira, mas apuremos tanto
a nossa com boas doutrinas, que a possamos ensinar a muitas
outras gentes e sempre seremos delas louvados e amados porque a
semelhança é causa do amor e mais em as línguas. E, ao contrário,
vemos em África, Guiné, Brasil e Índia não amarem muito os
portugueses que entre eles nascem só pela diferença da língua e os
de lá nascidos querem bem aos seus portugueses e chamam-lhes
seus porque falam assim como eles” (Gramática 1536: 45).
João de Barros menciona o Brasil na Gramática da Língua Portu-
guesa de 1540 dentro do quadro de uma enumeração de regiões, cuja
população nativa aprendia mal o português:
“Barbarismo [...] E em nenhUa párte da térra se cométe máis ésta
figura da pronunçiaçám que nestes reinos, por cáusa das muitas
nações que trouxemos ao jugo de nósso serviço. Porque, bem
como os Gregos e Roma [h]aviam por bárbaras todalas outras
nações estranhas a eles, por nam poderem formár sua linguágem,
assi nós podemos dizer que as nações de África, Guiné, Ásia,
Brasil, barbarizam quando quérem imitár a nossa” (Gramática
1540: 357).
João de Barros conhecia pessoalmente o Brasil, pois tinha estado em
1535 na liderança de duas das capitanias criadas por Portugal para a
administração, a Capitania do Maranhão e a Capitania do Rio Grande
(Vianna 1980: 68). Enquanto sua função de líder na Casa da Índia e as
experiências da Ásia no Diálogo em Louvor da Nossa Linguagem são
explicitadas verbalmente,216 não dá acerca do Brasil nenhuma infor-
mação.
Nas afirmações dos gramáticos da época se entrevê que se dá
muita importância para o ato de criar obras cuja base pudesse exercer

216
“E agora, da conquista de Ásia, tomamos chatinar por “mercadejar”, //
beniaga por “mercadoria”, lascarim por “homem de guerra”, çumbaya por
“mesura” e “cortesia”, e outros vocábulos que sam já tam naturaes na boca
dos homEes que naquellas partes andaram, como o seu próprio português”
(Diálogo 1540: 81).
170

a difusão da língua e da fé cristã nas regiões ultramarinas.217 Para tal,


valem-se de cartilhas para a alfabetização e de gramáticas. Os contatos
com línguas estrangeiras foram úteis para o uso prático do comércio
ou também da intenção missionária.
No último terço do século XVI, surge uma informação indireta
acerca de uma diferenciação entre português europeu e brasileiro, a
partir do desenvolvimento fonético do português europeu. Até hoje, a
historiografia do português brasileiro não se deu conta desse fato. O
ponto de partida é a realização das oclusivas sonoras /b/, /d/, /g/, que
no português europeu foram fricativizadas para [β], [ð], [γ] em
posição intervocálica de modo análogo ao desenvolvimento do
espanhol. O português do Brasil não se submeteu a essa mudança,
haja vista a atual realização oclusiva desses sons. As obras que tratam
da história lingüística do português não dão nenhuma informação
sobre a periodização da fricativização no português europeu.218
Segundo a apresentação do médico John David Rhys, proveniente do
País de Gales, em De Italica pronvnciatione, & orthographia, a pro-
núncia fricativa de /d/ ([ð]) em Portugal, já era corrente em 1569:
“Laxè ut plurimùm hanc literam efferunt Hispani, ac Lusitani unà
cum Langobardis, ac eorum finitimis, quoties inter duas uocales
collocatam reperiunt. Sit exempli gratiam Hispanica dictio
Amortecido examinatus, Lusitanica Almufada puluinar, Italica
spada Langobardorum more pro lata. In his enim atque similibus
D Grecorum δ sono emulatur” (Rhys 1569: 118).
Na Ortografia de Duarte Nunes de Leão, encontra-se, em 1576,
também um testemunho inequívoco para essa pronúncia:
“D, T, letras mudas, têm em si muita semelhança porque a
pronunciação de ũa e da outra, é quase de ũa maneira, com a

217
João de Barros escreve: “[...] per esta nossa arte aprenderem a nossa
linguagem com que póssam ser doutrinados em os preçeitos da nossa fé, que
nella vam escritos” (Diálogo 1540: 85). João de Barros aponta nesse contexto
a transitoriedade do poder e as vantagens de uma influência cultural nas
colônias: “As armas e padrões portugueses postos em África e em Ásia e em
tantas mil ilhas fora da repartiçam das três partes da terra, materiaes sam e
pode-âs o tempo gastar; peró nam gastará doutrina, costumes, linguagem que
os Portugueses nestas terras leixarem” (Diálogo 1540: 85).
218
Teyssier menciona somente a síncope do /d/ intervocálico na termi-
nação da segunda pessoa do plural (cf. -ades [‘ades] > [‘aðes]> [‘aes] > [‘aìs])
(1984: 44). Esse desenvolvimento iniciou-se no século XV.
171
língua posta no mesmo lugar, salvo quando o t se forma com mais
espírito e com a língua mais levantada para o pàdar, e o d com ela
entre os dentes” (Ortografia 1576: 57).
A fricativização (“entre os dentes”) documentada para o /d/ e ocorrida
no português europeu na segunda metade do século XVI foi, portanto,
evidentemente o primeiro índice de diferenciação entre o português
europeu e o brasileiro.
A passagem para o século XVII não traz nenhuma alteração na
situação das fontes metalingüísticas. Duarte Nunes de Leão afirma na
Origem da Língua Portuguesa (1606) somente que no Brasil se fala
português.219 Suas listagens de empréstimos europeus e orientais no
português não levam em consideração as colônias.
Nascentes acredita, invocando a História de Antônio Vieira de J.
L. de Azevedo, poder ter uma informação acerca da pronúncia
brasileira do século XVII e informa que o padre Vieira, que havia
vindo criança para o Brasil, tinha recebido o sotaque da terra: “[...] já
apanhou uma ponta de sotaque” (Nascentes 1952: 180). Essa
apresentação se manifesta, contudo, errônea, visto que Azevedo tinha
formulado o sotaque de Vieira como pura hipótese: “Acaso também
uma ponta de sotaque, que já nesse tempo adoçaria a fala do Brasil”
(Azevedo 1931: 69-70).220
Os contatos com os índios fornecem preponderantemente
informações lingüísticas para o Brasil daquela época e não permitem
conclusões concretas para o português. A escassez de dados se
expressa na seguinte afirmação:
“Em Pernambuco, em 1595, o mameluco Francisco Barbosa podia
entender a fala do gentio: «... ouviu... huas palavras na lingoa que

219
“[...] se falla em muitas cidades de Africa, que ao nosso jugo saõ
subjectas, como no mesmo Portugal, & em muitas prouincias da Ethiopia, da
Persia & da India, onde temos cidades e colonias, nos Syonitas, nos Malaios,
nos Maluqueses, Lequeos, & nos Brasijs, & nas muitas & grandes ilhas do
mar Oceano, & tantas outras partes [...]” (Origem 1606: 318).
220
Da mesma maneira, Gomes se permitiu uma interpretação errônea do
acento do padre Vieira: “O sotaque brasileiro, que lhe foi marcado em
Portugal, era um sinal incontestável de forte impregnação do ambiente em que
passara os tempos mais impressivos de sua existência” (1986: 81; sem
indicação de fonte). Aliás, essa formulação é plágio literal de um artigo de
Bem Veiga (1970: cf. 52; também sem indicação da fonte).
172
querião dizer queres mais, ...»” (Silva Neto 1946: 10, sem a
indicação da fonte).
Do que foi dito acima, deduz-se somente que o mestiço Francisco
Barbosa entendia a fala dos índios (“a fala do gentio”).
Em 1620, o jesuíta espanhol Juan Sardina Mimoso imitava na
Relación de la real tragicomedia o português dos índios. Chamam a
atenção as substituições de /f/ > [p], /l/ > [r] e /7/ > [j], fonemas que o
tupi não conhece, bem como a queda dos /r/, /l/ finais, que concorda
posicionalmente também com a estrutura fônica do tupi.221 Em
contrapartida, Anchieta relata, sobre os índios, que mantinham contato
direto com os jesuítas:
“Os filhos dos índios aprendem com nossos Padres a ler e
escrever, contar, cantar e falar português e tudo tomam mui bem”
(apud Silva Neto 1986: 31).
Frei Vicente do Salvador cita, na História do Brasil (1627: 370), a
expressão de um escravo negro que teria gritado aos seus camaradas
durante um combate com os holandeses: “«Não retira, não, sipanta,
sipanta»” (cf. 6.2).222 Um outro testemunho de língua falada daquela
época é transmitida pelo holandês Johan Nieuhof, que viajou pelo
Brasil de 1640 a 1649. Trata-se da reivindicação de um grupo de
pessoas indignadas que exigiam a punição de dois traidores no Recife
de 1646:
“Em forca los cachiores treidores, dat is, Na de galgh, die
bedriegers, die verraders” (Nieuhof 1682: 137b).
A exortação se dirige a um representante das autoridades e quer dizer,
no original, enforca os cachorros traidores. O uso da terceira pessoa
do singular do indicativo corresponde ao uso lingüístico atual.223

221
Já Magalhães Gândavo escreveu em 1576 sobre o tupi: “carece de tres
letras, convem a saber, nam se acha nella F, nem L, nem R, cousa digna
despanto porque assi nam têm Fé, nem Lei, nem Rei [...] (História 1576: 124).
222
‘Não se retirem, enxotem [o inimigo]’.
223
Cf. um exemplo da imprensa atual: “«O que faremos com este inimigo
da revolução?», perguntou o juiz à turba. «Lincha, lincha!», foi a resposta”
(Veja, 22/1/1997: 48). A forma los no texto de Nieuhof deve ser considerada
uma interferência com o espanhol.
173

No começo do século XVIII, Contador de Argote, nas Regras da


Lingua Portugueza, faz pela primeira vez uma caracterização diató-
pica que compreende o Brasil:
“Ha os Dialectos ultramarinos, e conquistas de Portugal, como
India, Brasil, &c. os quaes tem muytos termos das linguas
barbaras, e muytos vocabulos do Portuguez antigo” (Contador de
Argote 1725: 300).
Em contraste com João de Barros, que registra influências dos
empréstimos asiáticos no português, Contador de Argote aponta
genericamente influências que faziam valer no âmbito lingüístico
português, diferenciando-o regionalmente. Nas possessões ultramari-
nas eram moldadas de forma tão evidente que ele fala convictamente
de “Dialectos ultramarinos”. Também a indicação do “Portuguez
antigo” nos territórios de ultramar é um indício de desenvolvimentos
lingüísticos divergentes. Corresponde às normas areais de Bartoli
(1925) que as situações lingüísticas mais antigas se encontram em
territórios periféricos – os quais participam apenas de forma limitada
dos desenvolvimentos inovadores do centro – nesse caso, de Portugal.
Segundo Contador de Argote, um dialeto é “o modo diverso de
fallar a mesma lingua” (1725: 291). Limita-se, portanto, não somente
ao vocabulário, mas se relaciona também à pronúncia, como ele
mesmo explica comparando Lisboa e a região da Beira:
“[...] em huma parte se usa de humas palavras, e pronuncia, e em
outra parte se usa de outras palavras, e outra pronuncia, não em
todas as palavras, mas em algumas. Esta diversidade pois de fallar,
que observa a gente da mesma lingua, he que se chama Dialecto”
(Contador de Argote 1725: 291).
Para o português do Brasil, que ele conta entre os “Dialectos ultra-
marinos”, é possível obter de sua definição somente um ponto de
apoio indireto para uma diferenciação fonética.
A importância do vocabulário indígena é enfatizada pelo escritor
Gregório de Matos, nascido na Bahia (c1633-1696) no seguinte
poema publicado por volta de 1680, que contém tupinismos:
Aos principais da Bahia chamados os caramurus
[...]
Um calção de pindoba a meia zorra,
Camisa de Urucu, mantéu de Arara,
174
Em lugar de cotó arco, e taquara,
Penacho de Guarás, em vez de gorra.
224
(Matos 1992: 640-641)
O citado “Portuguez antigo”, mencionado em Contador de Argote
(1725), e o vocabulário de empréstimos são tematizados pouco depois
por Bluteau no Supplemento ao Vocabulario Portuguez e Latino
(1727-28). O Supplemento contém um curto “Vocabulario de termos
comummente ignorados, mas antigamente usados em Portugal, e
outros, trazidos do Brazil, ou da India Oriental, e Occidental”. Do
ponto de vista das variedades lingüísticas, essa composição é de pouca
importância, pois se trata exclusivamente de denominações da fauna e
da flora que, em parte, ficam vagas. Assim, um dos registros diz:
“Albara. Ambaiba. Anda. Amongeaba. Aguaxima. Araca. Hervas, e
Arvores. R.” (Bluteau 1728). A relação com o Brasil está escondida
sob a sigla “R”, que se refere à obra de Pisoni De Medicina
Brasiliensi.
Antes do surgimento do “Vocabulario” já haviam aparecido
isoladamente brasileirismos nos dicionários portugueses. Dessa forma,
Bento Pereira, no Thesouro da Lingoa Portuguesa (Thesouro 1647)
registrou ananás (DHPT: 1557).

5.4 Testemunhos portugueses (1767-1822)


A primeira indicação direta de uma característica brasileira fora do
léxico é dada em 1767, no Compendio de Orthografia de Monte
Carmelo. Ele se refere à pronúncia e concretiza, com isso, em meados
do século XVIII, a existência de uma variedade brasileira, à qual
Contador de Argote havia, em 1725, apenas apontado indiretamente:
“Finalmente costumam pronunciár-se com dois Accentos domi-
nantes as Dicçoẽs do seguinte Catalogo, e as derivadas, as quaes
devem notar bem os Brasilienses; porque confundem os Accentos
da nossa Lingua” (Monte Carmelo 1767: 128).

224
Grifo nosso. As seguintes palavras vêm do tupi: caramuru ‘de raça
branca’, pindoba ‘palmeira’, urucu ‘o fruto do urucuzeiro; substância tintorial
que se extrai da polpa desse fruto’; arara ‘designação comum às aves
psitaciformes da família dos psitacídeos’; taquara ‘bambu’; guará ‘ave
ciconiforme, da família dos tresquiornitídeos’ (cf. G. de Matos 1992: 640-641
e Aurélio, s.v.).
175

A advertência de Monte Carmelo aos falantes brasileiros para que não


confundam os “dois Accentos” do português refere-se à realização das
vogais pretônicas que, no português brasileiro, nem realizam a
redução do português europeu, nem distinguem a abertura e o
fechamento fonologicamente. Numa lista de várias páginas, Monte
Carmelo (1767: 129-132) representa a pronúncia aberta no português
europeu com acento agudo. No exemplo
“Prégár. Publicar, &c. Pregár, he Fixar com prégos”,
Monte Carmelo lembra ao leitor a oposição entre “Prégár” [pr(‘Var]
‘pregar (num púlpito), declarar publicamente’ e “Pregár” [pre'Var] >
[prö'Var]225 ‘pregar (com pregos)’. O português brasileiro realiza, na
pronúncia, em ambos os casos, o /e/ fechado [pre'-] (cf. 3.1.1.2).

5.4.1 O teatro português


Como fonte competente para as características do português brasileiro
manifesta-se, na segunda metade do século XVIII, o teatro português,
sobretudo o teatro de cordel. 226 Nele ocorre a figura estereotipada,
exposta à ridicularização, do brasileiro rico. Como “mineiro fingido”,
a personagem finge provir das condições abastadas das região de
Minas Gerais conhecida por suas minas de ouro e diamante no século
XVIII, a fim de tirar vantagens na sociedade. Os brasileiros são
preponderantemente caracterizados só com referência à sua origem e
não mostram nenhuma particularidade lingüística que chame a
atenção. Duas peças, porém, O Mizeravel Enganado (An. 1788) e O
Periquito ao Ar (Rodrigues Maia c1800), evidenciam concretamente
alguns indícios do português brasileiro. O Mizeravel Enganado
especifica a origem brasileira do “falso” brasileiro Fabrício inicial-
mente na didascália:
“Fabrici com hum roupaõ de seda, e barrete, affectando a falla de
carióca” (An. 1788: 11).

225
Em meados do século XVIII se completa no português europeu a
redução da pretônica /e/: [e] > [ö] (cf. 7.1.1.2).
226
“Le Teatro de Cordel est l’ensemble des pièces publiées sous forme de
brochures à bon marché. Ces brochures (folhetos) étaient vendues sur la voie
publique, en général par des aveugles. Elles étaient suspendues à des ficelles
(cordel: «ficelle»)” (Teyssier 1983: 600, n. 5).
176

“Carióca” se refere nesse contexto não só genericamente aos


brasileiros, mas também deixa implícito semanticamente uma ‘pessoa
de cor’, sendo a personagem caracterizada como um mulato.227
Quanto à sua pronúncia especial informa, no surgimento de Fabrício
(“Diga o seu nome”) ainda a observação: “Fallando carióca” (ibid.).
Além disso, atribuem-se formas brasileiras aos trechos seguintes
abaixo:
Fabrício Mantenha meu Senhorzinho, que pertende V. m.
Alberto He aquelle meu amigo, que eu disse que logo, que lhe
fallei me offereceo dinheiro, e creio que o tras.
Fabrício Porém, eu já estou servido, porque a [sic] Sinhor Roza
me disse honte, que naõ occupasse, que elle me trazia
dinheiro. (An. 1788: 12)
A forma Sinhor, marcada por Teyssier (1983: 607) como caracte-
rística, pode valer como brasileira, na realização pretônica de /e/ como
[i], mas surge associada com um erro tipográfico (“a [sic] Sinhor
Roza”) e não encontra outra correspondência no texto (Senhor,
Senhorzinho, Senhor; cf. An. 1788: 11-12). Em senhorzinho, o
diminutivo é entendido como brasileiro e inserido com propósitos
cômicos. A forma corresponde, no português brasileiro, a sinhozinho
‘tratamento que davam os escravos ao filho do sinhô’ (Aurélio, sinhô-
moço). As indicações de Teyssier para mantenha < Deus (vos)
mantenha (“archaïque et paysanne”) e a desnasalização de honte [=
ontem] (“également vulgaire dans le portugais d’Europe”) não podem
ser diretamente ligadas ao português brasileiro, uma vez que ocorrem
no português europeu e são também meios estilísticos para
intensificação da comicidade.
A fonte mais significativa da época para as particularidades do
português brasileiro é a peça de teatro O Periquito ao Ar, ou O Velho
Uzurário de Rodrigues Maia, que surgiu por volta de 1800 e é
mantida, numa cópia ampliada de 1818.228 Nessa farsa portuguesa
surge pela primeira vez um brasileiro que é caracterizado em suas
227
Cf. Morais Silva (1890-91, s.v.). No português europeu, carioca signi-
fica também ‘café já preparado, ao qual se adiciona água’ (Aurélio, s.v.).
228
Cf. Teyssier (1983: 608). A cópia se encontra na Bibliothèque
Nationale (Manuscr. Port. 101, t. 26, n. 49, f.os 304-324). No Centre Culturel
Calouste Gulbenkian (Paris) existe, além disso, uma transcrição não-
publicada (Elvas s.a.; Man 203).
177

peculiaridades lingüísticas de maneira conseqüente. Teyssier publicou


da peça somente um pequeno trecho com comentários (1983: 610-
611).
Para registrar esse importante documento da história lingüística e
dar um quadro mais extenso das características ali contidas, todos os
testemunhos do trecho, que tenham alguma relação com o português
brasileiro, são a seguir compilados em consideração ao contexto e
comentados (cf. Noll 1995b). A ortografia foi mantida, abreviaturas
corriqueiras foram resolvidas.229 Todas as formas brasileiras aparecem
destacadas por nós, em negrito. Os trechos sublinhados provêm da
cópia e referem-se, em parte, ao português brasileiro.
Quanto ao enredo: Lésbia, a mulher do usurário Pandolfo, deve
casar-se com um rico brasileiro, Dom Periquito das Alturas do Serro
do Frio230. Seu coração, porém, pertence a Florindo, de origem
humilde. Com ajuda da serviçal Esperta, seu namorado Endrómina e
sua irmão Simulada, o brasileiro deve ser desmascarado, como
impostor e como sedutor inescrupuloso:
Mutação 1a.
Cena 1a. [305v]
Esperta Mas que he? Que he? Não me tenha enbuxada.
Lésbia Meu Pai quer-me cazar com hU Carioca, e hoje se fazem
as Escripturas.
[...]
a
Cena 3 . [306v]
Esperta Que tem que venha! Por ventura serà elle o primeiro que dà
com as filhas de enbuscada! Vá, vá, que isso agora he
moda: vamos que eu cà fico de Atalaia. Maldito seja o
Cafè com Leite do Carioca, que he a causa de tudo isto.
[...] [308v-309r]
Esperta Mas espere; como se chama o tal carioca?
Lésbia D. Periquito das Alturas do Sêrro do Frio.
Esperta Periquito! Ah, ah, ah.

229
Trata-se de abreviaturas corriqueiras como <Q> para <que> etc.
230
Na Comarca do Serro Frio (MG) foram encontrados, em 1729, os
primeiros diamantes (cf. Vianna 1980: 281).
178

Mal enpregado não ser Papagaio, que eu faria divertir


[Elvas s.a.: divertia] os Rapazes com elle no Campo de
Santa Anna, athé lhe darem cabo dos óssos: mas||vem
Endròmina.
[...]
a
Cena 4 . [309r-309v]
Esperta Tinha hUa couza para pedir-te, mas como tu ...
Endrómina Mas cômo eu! o quê? Falla, dà isso à luz, mas ouviste; nem
dinheiro, nem couza que o valha.
Esperta Não, não he dinheiro, atende: a filha do meu Patrão,||cega,
e não vê de amor pelo caixeiro da Caza, e faria tenção de
cazar com elle, por far, e não far, e vai agora o Pai querer
cazalla com hU Brazileiro, e hoje se fazem as Escripturas:
com que, se tal socede, minha Ama dá hU Estouro. Eu
então queria que tu, por meio de alguã pêta das tuas,
espantasses o tal Noivo de Caza, discazando-o da menina, e
fazendo-a cazar com o Caixeiro.
[...] [310v]
Endrómina [...] Porem esquecia-me o ponto essencial da função: como
se chama o Carioca?
Esperta D. Periquito das Alturas do Sêrro do Frio.
Endrómina Estamos navegados, e venha o penhor do nosso tratado.
Vamos, dà cà essa mão de nabos. [...]
[...]
a
Cena 7 . [311v]
Periquito O Senhor Pandolfo, licença mi dà?
Pandolfo Entre quem he. [...]
[...]
a
Cena 8 . [311v-312r]
[...]
Periquito Com vénia do Sinhorinho: como le foi a Você? Passou-le
bem? Mi diga, passou-le bem?
Pandolfo Com muitas Saudades do Senhor D. Periquito.
Periquito E como le vai a Sinhorinha? mi diga, vai-le bem?
179

Pandolfo Estoira por se vêr jà nas limpezas do matrimonio; e o


Senhor D. Periquito, como tem passado?
Periquito oh! mi deixe gentes, que passei muito mal com os enjôos
que tive, vindo di lá. Mande-le entregar||aquele mimozinho
que trago à Sinhorinha. Em aportando aqui o meu Navio
Tramoia, verà Você que preciozidades tenho a honra de
ofertar-le. Mi diga, a Sinhorinha gosta de Cajú, Banana, e
Coquinho?
Pandolfo Ella gosta de tudo o que he bom. [...]
[...]
a
Cena 9 . [312r-312v]
Esperta Senhor? Senhor! (Mas oh diabo que jà cà está o Café com
Leite.) [...]
Pandolfo Leva aquelas Bandejas a minha filha que são as prendas
que lhe traz o Senhor D. Periquito das Alturas.
Periquito E le diga que està aqui o seu Noivo que a dezeja
comprimentar.
Esperta (De que Deus o livrará!)
Periquito E le diga Você que mi fellecite com sua prezença. [Elvas
s.a.: fehlt]
Pandolfo Sim, diz-lhe que venha cà fòra.
Esperta Quem! a menina! E como se ella està doente!
Pandolfo Que! Pois ella adoeceu de repente!
Periquito Mi diga Você, està molestinha a Sinhorinha?
Esperta Sim Senhor, està muito atacada de hU pranto estré-||lico
ultramarinho.
Pandolfo Logo lhe passa, que he hU flacto que lhe costuma dar pelas
Luas; leva, leva isso para dentro.
[...]
Periquito oh que molestia tão terrivel! Eu tenho padecido muito de
flactulencias que mi dão a matar, e me deixam tão
quebrantado ... mas mi diga Você, gostou a Sinhorinha do
Cazamento?
180

Pandolfo oh, muitissimo. Quando lhe dei parte do nosso ajuste,


bailou as Estopinhas.
[...]
a
Cena 10 . [312v]
Esperta Ai; aì a minha Rica Ama do Coração, aì.
Pandolfo Quê? Que he isso? Està pior?
Esperta Sim Senhor; está com os olhos em alvo; nem fumáças nem
esfregações a melhorão. Ai, ai, quem antes a não
conhecêra.
Periquito Mi consterna muito, mi consterna; a poderêmos vizitar?
Pandolfo Pois não! Vamos para dentro.
Esperta Quê! Não Senhor; agora não pode sêr, porque quando se
lhe apanha o pranto, esperneìa para aqui, braceja para alí;
ai, ai. [...]
[313r]
Periquito Ai, mi valha São Thelmo: oh Sinhorinho Sôgro, diga
Você à Sinhorinha Criada, que não castigue tanto, que dê
mais di mancinho; mi deixou sem movimento; mi quebrou
este braço; mi ajude Você a mitêlo aqui; mi dê o meu
chapeo.
[...]
Pandolfo Senhor D. Periquito, entre para aquela Salla que eu jà vou.
Periquito obedeço ao Sinhorinho.
[...]
a
Mutação 3 .
Cena 23a. [...] [319r]
Pandolfo Oh Esperta, vai chamar o Brasileiro.
[...]
a
Cena 24 . [319v-320r]
Esperta Ei-lo aqui.
Periquito Mi chamou Você? Mi chamou a mim?
Pandolfo Sim Senhor, Vossemecê conhece esta menina?
Periquito Virdade que não. [...]
181

Simulada Quê! Não me conhece! Olhe bem para mim.


Periquito Le juro que não; e Você mi conhece a mim! Mi conhece!
Diga.
Simulada Oxalà que não; tão poucas vezes tem Vossemecê estado em
minha caza?
Periquito Oh mulher, que diz Você? Eu na sua casa! Que diz? Mi
deixe gentes, mi deixe.
Simulada Ainda ontem; não se lembra da sua costureira?
Periquito Você a minha costureira! Você! Que testemunho! Que
testemunho!
Simulada Tambem negarà que ainda hà poucos dias me deu pallavra
de cazamento?
Periquito oh mulher! Eu li dei à Você pallavra de cazamento! Eu!
Està doida você? Você a minha costureira! Eu li dei a Você
pallavra de Cazamento! oh que testemunho! que grande
testemunho.
Simulada Doida estava eu quando lhe dei entrada em minha caza:
Senhor, este maroto não se convence, e assim antes quero
ficar infamada, do que cazar-me com Simelhante bandalha,
e vadío: caze||com elle a Senhora sua filha, mas Vossemecê
lhe acharà o êrro; perjuro, ingrato, traidor, o céo vingarà a
minha innocencia. [...]
Periquito Ai, mi valha São Thelmo; oh gentes, vocês não veem o
que mi està socedendo? Que mi diz você?
Pandolfo Que lhe digo! Que se ponha jà, jà no meio da Rua,
grandessissimo tratante.
Periquito E mi diz você isso a mim! Acrê você? Que mi Socede!
Que mi socede! [...]
[...]
Cena 25a. [320r]
Esperta Senhor, Senhor, eu vi pela janella do Xanguão, sobir pela
Escada acima hU Millitar de Bigode Retorcido muito
arrenegado, egritando pelo Senhor D. Periquito.
[...]
182

Cena 26a. [320r-320v]


Endrómina Abra-se esta porta com mil diabos.
Periquito Por mim! Por mim!
Esperta Sim Senhor! vinha dizendo que o queria matar, porque lhe
enganou [Elvas s.a.: engano] huã Irman.
Endrómina Ah, não querem abrir! Va dentro. [...]
Pandolfo oh Senhor, Engana mossas, ponha-se fòra, que eu||não
quero desordens em minha caza; vamos. [...]
Periquito Mas por onde? Por onde? Mi valha São Thelmo.
Pandolfo oh Rapariga, léva jà daqui, e esconde como poderes em
algures esse Môno.
Esperta Venha comigo, que eu o deitarei pela Janella da cozinha,
em ar de Tigella da casa.
Periquito Gentes! Mi mêta Você, seja por onde fôr. [...]
[...]
a
Cena 30 . [322v]
Periquito Que cousas tão Serias! Mi botão fòra para cazar a
Sinhazinha com esse taful!
(Rodrigues Maia c1800: 305r-322v)
A peça de teatro reflete o português brasileiro nas expressões de
Periquito, como era visto por volta de 1800, por meio de uma lista de
exemplos específicos. O texto pode ser comentado em relação aos
brasileirismos que contém, aos brasileirismos enfatizados e às carac-
terísticas não levadas em consideração.
No campo fonético, é notável, em primeiro lugar, o [-i] final dos
pronomes pessoais átonos e da preposição de (mi diga, 312v; di lá,
312r). O desenvolvimento histórico da língua transformou o [-e] em
[-i] em português até o início do século XVIII e continuou reduzindo
essa vogal, no século XVIII, a [-ö] (cf. 7.1.1.4). Em sinhorinho,
sinhorinha (313r), que estão em contraste com senhor (311v), trata-se
do alçamento vocálico da pretônica /e/ em [i] que, às vezes, ocorre no
183

português brasileiro e que aqui é condicionado pela palatal [ñ] que se


segue (cf. 3.1.1.2).231
O fato de enfatizar essas características provém da sua proemi-
nência na fala e serve, por assim dizer, à estilização dos indícios
sentidos como típicos. Por isso, o texto também aponta, por duas
vezes, caracterizações exageradas que, por apresentarem um
alçamento de /e/ em [i], seriam adequadas para serem associadas com
o português brasileiro (cf. 3.1.1.2). Trata-se de mitêlo (313r, cf. metê-
lo) e de virdade (319v, cf. verdade). Contudo, a suposta realização
brasileira não é comum nesses exemplos, por causa da falta da
assimilação a [i] ou do contato com uma consoante palatal seguinte.
Uma informação fonética indireta é dada, no texto, por meio da
anotação predominante do pronome dativo átono le (lhe). A pronúncia
brasileira que serve de base é [li], para a qual o texto também tem um
exemplo (li dei, 319v). Le deve ser entendido como um índice da
despalatalização de lhe ([7i] > [li]), que se generalizou extensamente
no português brasileiro.232 Quando aparece em outras palavras, é uma
característica da língua popular (cf. 3.1.2.5).
Do ponto de vista morfologico, observa-se o uso típico dos
diminutivos do português brasileiro (mimozinho, coquinho, 311v;
molestinha, 312r; mancinho, 312v). Entre elas, ocorre também a
formação sinhorinho (311v), que se refere a Pandolfo e, por enfatizar
suas características, deve ser visto como um elemento intensificador
de comicidade. O futuro sogro devia ter sido chamado naquela época
também, mesmo no Brasil, de o senhor e não de senhorinho ou de
você (311v).
Sintaticamente, não é de se ignorar a próclise do pronome oblíquo
típica do português brasileiro (mi deixe, 311v; le diga, 312r; mi
consterna, a poderêmos vizitar?, 312v), que sempre é evitado no
português europeu ao iniciar-se a oração (cf. 7.2.2).
Você aparece na peça de teatro como característica da fala
brasileira. No português europeu, você se limita, desde o século XVII,
ao uso familiar (cf. 3.2.2) e devia, portanto, face a Pandolfo, ser

231
A palatalização também ocorre no português europeu (Leite de
Vasconcellos 1987: 103), mas aqui é inequivocamente entendida como
brasileirismo.
232
A despalatalização de lhe também ocorre no português europeu (cf.
7.1.2.5).
184

sentido como inculto ou impolido. Em contrapartida, sinhorinha


(311v) significa ‘senhorita de boa família’ (cf. Wegener 1811, s.v.) e
correspondia ao uso no português europeu. Nesse contexto, Periquito
evita a forma brasileira senhorita. Observa-se que ele, após seu
desmascaramento no final da peça, usa a forma brasileira sinhazinha
(322v), que, na época, era usada pelos escravos, no tratamento com a
filha do senhor do engenho.
A forma sinhazinha traz também uma informação indireta da
fonética do português brasileiro. A forma deriva de sinhá < sinhô
[si‘ño] e deixa implícito, com isso, a queda bastante difundida do /r/
final no português brasileiro. Gentes! (320v) é uma interjeição de
alegria ou de espanto usual no Brasil do século XIX (Morais Silva
1890-91, gente), que hoje é usada na forma singular.
As características do português brasileiro, transmitidas pela peça
de teatro aparecem associadas à freqüência. Desse modo, o [-i] final
em ajude (313r) e conhece (319v) não é marcado, ao contrário de di
[= de]. Em comparação com o português brasileiro de hoje, observa-
se que o texto não apresenta nenhum indício da africativização de [t]
> [tS] e [d] > [dZ] diante de [i] (grande, 319v; onde, 320v), nem da
vocalização de [l] > [u] (mal, 311v), tampouco da velarização do /r/
em final de sílaba.
Um tema de importância apenas marginal para a lingüística é a
caracterização do brasileiro. O nome que se lhe deu, Periquito, é um
tipo bastante difundido de papagaio. Além disso, o brasileiro é
representado como café com leite, carioca (‘pessoa de cor’), papagaio
e mono. Essas animosidades nascidas nos decênios anteriores à
independência da colônia se encontram eco em designações brasileiras
correspondentes para os portugueses.233

5.4.2 A gramática portuguesa: Soares Barbosa (1822)


As particularidades do português brasileiro na virada do século XIX,
direta ou indiretamente testemunhadas, estão em contraste com a
gramaticografia da época, que não se interessava pela língua no
Brasil. O lexicógrafo Antônio de Morais Silva, nascido no Brasil,

233
Nos séculos XVII e XVIII, designavam-se os portugueses em Recife
de mascates (cf. Guerra dos Mascates em Pernambuco, 1710-1711).
Imigrantes também eram chamados de pés de chumbo (Schäffer 1824: 74).
Cf. Brasil e Portugal — a imagem recíproca (N. Vieira 1991).
185

registrou no Epitome da Grammatica da Lingua Portugueza de 1802,


pela primeira vez, a posição proclítica dos pronomes oblíquos átonos,
atestados em O Periquito ao Ar (Rodrigues Maia c1800).234 Contudo,
Morais Silva não se refere diretamente ao Brasil, mas fala de “erros
das Colônias”:
“Eu lhe amo, lhe adoro: são erros das Colonias: quero-lhe como á
minha vida; sc. quero-lho bem, como &c. e correcto” (Morais
Silva 1806: 92, n. b).
Em 1822 aparecia a Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza,
de Jerónimo Soares Barbosa († 1816), que, segundo os dados de
Oiticica (1916: 20), já havia sido completada em 1803. A obra é
mencionada por Teyssier (1984: 77), mas não é citada nem comen-
tada. Soares Barbosa descreve na Grammatica outras características
do português brasileiro:
“Assim, trocando o a Grande em pequeno, dizem os Brazileiros
vădio, sădio, ătivo em lugar de vādío, sādío, āctívo; e ás avessas
pondo o á Grande pelo pequeno, pronuncião āqui em lugar de
ăqui. O mesmo fazem com o e; ja pronunciando-o como e pequeno
breve em lugar do Grande e Aberto em Prĕgar por Prēgar, ja
mudando o e pequeno e breve em i, dizendo Minino, Filiz,
Binigno, Mi dêo, Ti dêo, Si firio, Lhi dêo.
Os Algarvios tambem dizem Pidaço, Cigueira, Pidir, &c. [...]”
(Soares Barbosa 1830: 51).
Soares Barbosa se vale inicialmente, seguindo em parte as afirmações
de Monte Carmelo (1767), da pronúncia das pretônicas do português
brasileiro. Diferenciando em “Grande” e “pequeno” para caracterizar
respectivamente a abertura ou o fechamento das vogais, Soares
Barbosa se orienta pelos primeiros gramáticos da língua portuguesa,
Fernão de Oliveira (Gramática 1536) e João de Barros (Gramática
1540). Conforme as Regole della lingua fiorentina (c1495), Trissino e
Salviati, apoiando-se na gramática grega, usaram, no século XVI, as
letras ε e ω (cf. ω, ômega, o “o grande”) com atribuições diferentes
como símbolos de diferenciação das vogais abertas italianas em
relação às fechadas /e/, /o/. Tolomei e Gilio representaram a abertura
vocálica com vogais maiúsculas, o que, de uma certa maneira,

234
O Epítome, publicado em Lisboa em 1806, foi integrado em 1813 ao
Diccionario da Lingua Portugueza (Morais Silva 1813: I-XLVIII).
186

concretiza graficamente o grau de abertura (cf. Kukenheim 1932: 37-


38). Esse procedimento esclarece a terminologia da ortografia
gramatical portuguesa.
Em Soares Barbosa, “a Grande” corresponde ao [a]; “a pequeno”,
ao [ä]; “e Grande e Aberto”, ao [(] e “e pequeno breve”, ao [ö].
Contudo, Soares Barbosa não descreve corretamente as circunstâncias
no português brasileiro. Pois o /a/ pretônico não se reduz a [ä] no
português brasileiro, como a situação lingüística atual mostra, exceto
diante de nasal. A confusão de [a] e de [ä], atribuída ao português
brasileiro por Soares Barbosa, em ambas as direções, é falsa, visto que
o português brasileiro em todos os exemplos apresentados realiza [a]
aberto. Somente o exemplo āqui [a] em vez do PE ăqui [ä] descreve
corretamente as situações.235
Também não se pode seguir Soares Barbosa na representação
brasileira de Prēgar que, segundo ele, se pronuncia com “e pequeno
breve” e corresponderia a uma realização brasileira com [ö]. Contudo,
o /e/ pretônico, no português brasileiro, ou se pronuncia de maneira
fechada ou aberta, como respectivamente nas áreas meridional e
setentrional do Brasil. A realização [ö], suposta por Soares Barbosa é
estranha ao português brasileiro.236 Em oposição à sua apresentação, o
PE pregar [(] e pregar [ö] convergem foneticamente no português
brasileiro em [e] (ou em [(]). A descrição de Soares Barbosa se
mostra, por fim, como apontamento básico para a realização distinta
em português europeu e brasileiro da vogal pretônica. Seus exemplos
foram aceitas acriticamente, no entanto, por obras posteriores, como a
Grammatik der portugiesischen Sprache (Pinheiro de Sousa 1851) e a
Grammaire portugaise raisonnée et simplifiée (Souza 1872).

235
Além disso, deve-se levar em consideração que as palavras escolhidas
por Soares Barbosa, a saber, vadio, sadio e activo não são apropriadas como
exemplos, uma vez que se apresentam como exceções no português europeu
devido à conservação do [a] pretônico. A vogal aberta pretônica [a] ocorre no
português europeu devido à síncope de uma consoante (vadio < lat.
*vagātīvus) ou em palavras eruditas (activo < lat. āctīvus). Romero alude à
apresentação contraditória de Soares Barbosa: “pois entre nós os aa de sadio e
de aqui são iguais, não é nenhum fechado como o â português [...]” (Romero
1977 [11888]: 242).
236
Uma confusão dos graus de abertura descritos não é possível, pois o [e]
é designado de “Grande Fechado” (cf. “Taboa das vinte Vozes Portuguezas
com todas as suas escripturas”, Soares Barbosa 1830: 6).
187

O trecho citado acima de Soares Barbosa testemunha ainda outros


indícios do português brasileiro. As frases Mi dêo, Ti dêo, Si firio, Lhi
deu documentam a realização atestada já em O Periquito ao Ar
(Rodrigues Maia c1800) do /e/ final como [i] e a posição proclítica
típica do português brasileiro do objeto oblíquo átono.
O confronto entre ătivo e āctívo aponta a simplificação corrente de
certos encontros consonantais no português brasileiro em empréstimos
eruditos (cf. PB seção [s] vs. PE secção [ks]).237 Si firio, Minino,
Filiz, Binigno testemunham a tendência do português a alçar o /e/
pretônico quando antecede a tônica [i]. Com a indicação da realização
da pretônica /e/ no Algarve (Pidaço [< pedaço], Pidir [< pedir]),
Soares Barbosa estabelece também uma comparação regional com o
sul de Portugal. Uma afirmação importante se encontra com referência
à pronúncia do /s/ no português brasileiro:
“Os Brazileiros pronuncião como Z o S liquido, quando se acha
sem voz diante, ou no meio, ou no fim do vocabulo, dizendo:
Mizterio, Fazto, Livroz novoz, em vez de Misterio, Fasto, Livros
novos” (Soares Barbosa 1830: 52).
Por “S liquido”, Soares Barbosa entende a realização [S], generalizada
desde o século XVIII no português europeu para o /s/ em posição
implosiva, enquanto com “Z” designa o [s] mantido nessa posição no
português brasileiro. A descrição dessa diferença é a primeira menção
do contraste sentido geralmente como muito marcante na fonética do
português europeu e brasileiro (cf. 7.1.2.1). A última indicação de
Soares Barbosa para o português brasileiro parece confundir as
circunstâncias lingüísticas:
“[...] os Brazileiros tambem subtrahem ao Diphthongo ai a pre-
positiva dizendo Pixão em lugar de Paixão” (Soares Barbosa
1830: 53)
Nesse caso, trata-se antes da pronúncia [pa'SÄÙ], na qual, ao contrário,
o ditongo é reduzido à vogal, sendo a semivogal [ì] absorvida pela
sibilante prepalatal (cf. 3.1.1.5).
A Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza, de Soares
Barbosa (1830, 11822), forma, por um tempo, a conclusão da
literatura publicada em Portugal sobre as peculiaridades do português

237
Activo é hoje pronunciado sem o [k] no português europeu.
188

brasileiro. Depois dela, a descrição do português brasileiro e sua


diferenciação são representadas preponderantemente no Brasil.

5.5 Testemunhos brasileiros (1770-1826)


As fontes descritas até agora enfatizam o peso da literatura lusitana e a
posição especial que assume O Periquito ao Ar para a documentação
do português brasileiro até 1800. Surpreende o fato de que, nos
primeiros trezentos anos de colonização, não disponhamos de nenhum
testemunho lingüístico substancial do Brasil. Essa é também uma
conseqüência da política colonial portuguesa, que não permitia
nenhuma tipografia no Brasil. Enquanto os espanhóis já em 1535
enviavam uma imprensa para o México e também as forneciam às
outras regiões coloniais (Passos 1952: 8ss.), o Brasil prescindia de
algo do gênero até a chegada da Corte, em 1808, no Rio de Janeiro.
No entanto, para suas posses na Índia (Goa 1556), China (Macau
1588) e Japão (1590), Portugal tinha imprensas à sua disposição.
Foi argumentado que, para as culturas desenvolvidas dessas terras,
em oposição ao Brasil, os portugueses precisariam da imprensa para a
missão nas línguas locais (Hallewell 1985: 5, 9). Contudo, imprensas
também foram divulgadas “nas comparativamente insignificantes
capitais das colônias da costa ocidental africana, em São Salvador do
Congo e em São Paulo de Luanda”.238 A jurisdição especial que valia
para o Brasil necessita, contudo, de uma outra justificativa. A
imprensa era temida como um instrumento perigoso de agitações
religiosas e políticas. Os jesuítas confiados à missão no Brasil eram
tidos como suspeitos, por causa de sua simpatia com os indígenas e de
sua posição contra a escravidão dos nativos. Evidentemente, se
queriam evitar desdobramentos descontrolados por meio da proibição
da imprensa. Em Portugal, decretou-se em 1508 que uma impressão
só podia sair com o aceite real (Hallewell 1985: 3). A Ortografia de
Barreto (1671) só contém nove licenças. A notícia de uma imprensa
em funcionamento no Rio de Janeiro em 1747 teve como conse-
qüência a sua imediata proibição por decreto real e seu confisco para
Portugal (Buarque de Holanda 1996: 120).

238
“[…] in den verhältnismäßig unbedeutenden Hauptorten der Kolonien
an der afrikanischen Westküste, in São Salvador do Congo und in São Paulo
de Luanda” (Brandenburger 1925: 58).
189

Também a posição geo-econômica do Brasil desempenhava um


papel nessas decisões. Portugal reivindicava com exclusividade as
riquezas de sua colônia. Devido à extensão continental do território
brasileiro, Portugal exerceu uma política de isolamento que obstruía
os portos para navios estrangeiros e até limitava as comunicações
internas, bem como a ampliação das atividades econômicas.239
Quanto à imprensa, o Brasil era, até 1808, completamente
dependente da mediação da metrópole. Para a literatura brasileira, o
caminho para Portugal significou uma perda de autenticidade que,
pela censura, foi ainda mais acentuado. Existiam também
regulamentos do ponto de vista do conteúdo. Como já foi
mencionado, os jesuítas eram exortados a não se referirem às coisas
demasiadamente mundanas (Rizzini 1988: 145). Essas circunstâncias
externas não impediram somente o desenvolvimento precoce de uma
literatura brasileira independente, mas também a transmissão da
literatura popular que, do ponto de vista da história lingüística, teria
sido muito valiosa. Também o teatro, que representa uma fonte
abalizada para língua falada, quase não está documentado no Brasil
antes da introdução da imprensa, exceto pelas contribuições religiosas
dos jesuítas (cf. Almeida Prado 1993).240

5.5.1 A carta de uma escrava (1770)


As primeiras informações concretas que provêm do Brasil acerca das
características lingüísticas do português brasileiro de época anterior a
1800, ocorrem numa carta redigida em 1770 por uma escrava, de
próprio punho, cujo nome era Esperança Garcia, dirigida ao
governador do Piauí. Quando se pensa que a instrução para ler e
escrever no tempo do Brasil Colônia apenas privilegiava uma pequena
parcela da população e que as mulheres, via de regra, não eram

239
Com essas medidas, o tráfico de pedras e metais preciosos devia
também ser reprimido. A partir de 1727, foram promulgadas limitações para a
construção de estradas e para a navegação das vias marítimas. Em 1785, os
manufaturados brasileiros foram encerrados e proibiu-se que os brasileiros
possuíssem navios (cf. C. Cunha 1979: 66-67; Hallewell 1985: 21).
240
“Infelizmente, em face da escassez de notícias, o período colonial
resiste à plena pesquisa e ao estudo definitivo das nossas manifestações tea-
trais dessa fase. A imprensa periódica é ainda, à falta de outra melhor, a fonte
de tais estudos, e essa só tivemos a partir de 1808” (Galante de Sousa 1960: I,
79).
190

contempladas, o documento existente, da remota região Norte, é de


fato singular. Fora isso, trata-se, no que tange à autora, de uma
representante da população escrava, o que, do ponto de vista
lingüístico, torna essa carta de especial interesse. O documento,
proveniente do Arquivo Público do Estado do Piauí diz:
“Eu Sou hua escrava de V.S. dadministração do Capam Antọ Vieira
de Couto, cazada. Desde que oCapam pa Lá foi adeministrar, q. me
tirou da fazda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para
ser cozinheira da sua caza, onde nella passo mto mal.
A Primeira hé Q. há grandes trovoadas de pancadas enhum Filho
meu sendo huã criança Q lhe fez estrair sangue pella boca, em min
não poço esplicar Q Sou hũ colcham de pancadas, tanto Q cahy
huã vez do Sobrado abacho peiada; por mezericordia de Ds
esCapei.
A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres
annos. E huã criança minha e duas mais por Batizar.
Pello Q Peço a V.S. pello amor de Ds. e do Seu valimTo ponha aos
olhos em mim ordinando digo mandar a Porcurador que mande p.
a Fazda aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e Batizar
minha Filha
de V.Sa. sua escrava
EsPeranCa garcia” (cf. Mott 1979: 8-9).241
Entre as características que contém, são notáveis a epêntese
(“adeministrar”) e a metátese (“Porcurador”), a qual é típica da
língua popular brasileira. Além disso, a autora transmitiu oscilações
na realização pretônica de /e/ [e i] (“ordinando”) à escrita e, portanto,
utiliza <e> por [i] (“mezericordia”, “vevia”). É interessante, ademais,
a grafia <abacho>, que testemunha a redução do ditongo [aì] > [a] sob
a influência da fricativa pré-palatal [S] seguinte. A posição do
pronome sujeito (“Eu Sou”) no início do texto assinala levemente o
uso lingüístico brasileiro. Face a isso, percebe-se o uso da forma
sintagmaticamente correta pa eu viver, que evita, na linguagem
coloquial, a forma para mim viver. 242
Para os pressupostos do debate conduzido sobre antigas criouli-
zações (cf. cap. 6) ou sobre uma transmissão deficiente (transmissão
lingüística irregular) do português no Brasil, que deve se relacionar
241
Agradeço a Dieter Woll por sua informação ao artigo de Mott.
242
Quanto à posição pronominal, não se deixa derivar nenhuma afirmação
específica do sintagma aonde elle me tirou.
191

preponderantemente com a população negra escrava, este escrito de


1770 é um documento que relativiza as revindicações crioulísticas.

5.5.2 Azeredo Coutinho (1798)


Outras características lingüísticas do português brasileiro ocorrem em
1798, nas normas de duas escolas, publicadas pelo bispo de
Pernambuco, Jozé J. da Cunha de Azeredo Coutinho. Trata-se do
Seminário Episcopal de N. Senhora da Grasa da cidade de Olinda
para meninos e o Recolhimento de N. Senhora da Gloria do lugar da
Boa-Vista (Recife) para as meninas, nas quais se educavam órfãos e
crianças de baixa condição social sob a guarda da Igreja. Nos
estatutos, Azeredo Coutinho aponta para a necessidade de corrigir
hábitos lingüísticos errôneos durante a aula:243
“Quanto á Arte de Lér.
§. 2. Deve o Profesor ensinar aos seus Dicipulos a conhecer as
letras, ou caratéres de que se áde||servir, fazendo diferensa das
vogaes, e das consoantes, e do sôm de cada uma delas separadas,
ou juntas umas com as outras, naõ lhes consentindo que pro-
nunciem umas em lugar de outras: v. gr. v em lugar de b, nem b
em lugar de v, como vento em lugar de Bento, e Bento em lugar de
vento, nem acresentar letras aonde naõ á, como v. gr. aiagua em
lugar de a agua, naõ aiá em lugar de naõ a á; nem tirar letras onde
á, como v. gr. Janero em lugar de Janeiro; teado em lugar de
telhado; mio em lugar de milho; nem inverter a ordem das letras,
pondo em primeiro lugar as que se devem pôr em segundo, como
v. gr. treato em lugar de teatro; cravaõ em lugar de carvaõ;
virdasa em lugar de vidrasa; breso em lugar de berso; provezinho
em lugar de pobrezinho &c. Deve ensinar-lhes a pronunciar os
ditongos com clareza, e em toda sua forsa: como v. gr. meu Pai, e
naõ me Pai; pauzinho e naõ pazinho; naõ, e naõ num &c.
§. 3. Deve ensinar-lhes a proferir com perfeisaõ os sons das
vogaes de cada uma das palavras, como por exemplo a vogal à da
palavra bordado, que é longa, e se deve proferir com a boca mais

243
Os resumos, lingüisticamente relevantes, reproduzidos aqui, conforme
o original dos Estatutos existem, até hoje, somente como nota de rodapé do
artigo “Formação e desenvolvimento da língua nacional brasileira” (J. A.
Castro 1986: 381-382) numa forma abreviada e sem comentário esclarecedor.
Uma outra referência se encontra em Silva Neto (1986: 65), que retirou seus
exemplos de Sobrados e Mocambos de Gilberto Freyre.
192
aberta, do que o a da palavra covado, que é breve, e que se deve
pronunciar com a boca mais fexada: a vogal e da palavra febre,
cujo primeiro e é longo, e se pronuncia com a boca mais aberta do
que o segundo e, o qual com tudo naõ se deve pronunciar com a
boca taõ fexada que paresa i, como febri, di Deus, di cá, di lá; a
vogal i da palavra gentio, frio, que é longo, e se pronuncia como
se||fosem dois ii, e com a boca mais aberta, do que o i da palavra
abrio, consentio, e este mais aberto do que o i da palavra Indio,
relojio, que é breve; a vogal ó da palavra olhe, que se deve
pronunciar com a boca mais aberta; como o ó das palavras cólhe,
mólhe, e naõ olhe com o o fexado, e proprio do o das palavras
folha, folho, cujo segundo o ainda é mais fexado do que o
primeiro, e se pronuncia quazi como u folhu: a vogal u da palavra
escrupulo, cujo primeiro u é longo, e se pronuncia com a boca um
pouco menos fexada do que o segundu u, que é breve &c. A falta
destas, e d’outras semelhantes advertencias, que parecem imperti-
nencias aos que refletem pouco, produs defeitos, que ainda que nas
primeiras idades, e nas Escolas saõ muito faceis de se emendarem,
e de se corrijirem; com tudo depois saõ muito dificultozos, e
muitas vezes irremediaveis.”
(Estatutos do Seminario Episcopal de N. Senhora da Grasa da cidade de
Olinda de Parnambuco, Azeredo Coutinho 1798a: 46-48)

“Nas lisões de ler porá a Mestra muito cuidado em evitar nas suas
Disciplinas tres vicios, ou defeitos, em que se abituaõ muitas por
descuido de quem as ensinou. O primeiro é no pronunciar das
palavras o inverter em algumas a ordem das letras como por
exemplo breso em lugar de berso: cravaõ em lugar de carvaõ:
outras vezes suprimindo no meio das palavras algumas letras,
como teado em lugar de telhado: fio em lugar de filho: outras
suprimindo a letra ultima principalmente no número plural, e nos
nomes, que acabaõ em agudo como muitas flore em lugar de
muitas flores: Portugá em lugar||de Portugal &c. O segundo
defeito em que muitas ficaõ é o ler sempre duvidando, ou como
soletrando cada palavra, fazendo asim defeituozisima a leitura, e
imperceptivel o que dizem; ainda quando elas saõ expeditas no
falar. O terceiro é o modo, e tom de ler como cantando, e ás vezes
fazendo sair o som pelos narizes: o que tudo procede do costume,
que tomaraõ nas aulas por negligencia das Mestras, que naõ as
souberaõ corrigir de semelhantes defeitos.”
(Estatutos do Recolhimento de N. Senhora da Gloria do lugar da Boa-Vista de
Parnambuco, Azeredo Coutinho 1798b: 101-102)
193

Características dos Estatutos, que também ocorrem em O Periquito ao


Ar (Rodrigues Maia c1800) são a grafia <i> para o [-i] final (febri, di
Deus, di cá, di lá) e a desfonologização de /7/ em [j] (telhado > teado
[ti‘jadu], milho > mio; filho > fio).
Um indício atestado pela primeira vez nos Estatutos é a mono-
tongação de [eì] > [e] no português brasileiro (“Janero em lugar de
Janeiro”), que hoje é largamente difundido (cf. 3.1.1.5). No standard
europeu, o desenvolvimento no século XIX conduziu à abertura
(Janeiro [Zä‘näìru]).
Em Portugá (Portugal), trata-se da queda do /l/ final freqüente na
língua popular brasileira, que se diferencia da vocalização final geral
(> [ù]) (cf. 3.1.2.4). Outras características fonéticas da língua popular
são o betacismo ([v-] > [b-]: “Bento em lugar de vento”), a dissolução
dos hiatos por um [ì] epentético (“aiagua em lugar de a agua”), a
redução pretônica dos ditongos (“meu Pai, e naõ me Pai; pauzinho e
naõ pazinho; naõ, e naõ num”) e a metátese (“breso em lugar de
berso; provezinho em lugar de pobrezinho”).244 Muitas flore é um
testemunho da redução da marca de plural na língua popular brasileira
que, via de regra, se limita na determinação simples em primeira
posição. O esforço básico de Azeredo Coutinho em busca de uma
pronúncia correta expressa-se na descrição da quantidade vocálica
relativa (“a vogal u da palavra escrupulo, cujo primeiro u é longo, e se
pronuncia com a boca um pouco menos fexada do que o segundu u,
que é breve &c.”).
Em comparação com o português brasileiro de hoje, os Estatutos
ainda não fornecem nenhuma informação acerca da vocalização do /l/
em final de sílaba em [u] ou da velarização/queda do /r/ na mesma
posição. O texto não permite, com respeito à africativização de [t] >
[tS] e [d] > [dZ] diante de [i] (di Deus, di cá, di lá), nenhuma
conclusão definitiva, visto que a região de Recife e Olinda ainda hoje
não apresenta esse fenômeno (cf. 3.1.2.2). É notável a falta de
informações acerca da posição proclítica dos pronomes oblíquos
átonos no português brasileiro.
As seguintes peculiaridades dos Estatutos não são organizáveis de
forma inequívoca, mas podem ser interpretadas como indícios de
características brasileiras. A crítica “fazendo sair o som pelos narizes”

244
Isso também pode ser observado no português europeu (Leite de
Vasconcellos 1987: 77, 89-90; 103).
194

refere-se sem dúvida à nasalização heterossilábica do português


brasileiro (PB cama ['kÄma] vs. PE ['kämä]; cf. 3.1.1.6). O traço
parafraseado como “ler como cantando” deve ser entendido certa-
mente como indicação da musicalidade da entoação brasileira, que se
explica por meio de uma transferência da dicção da linguagem
coloquial na leitura e, dessa forma, enfatizou a crítica de Azeredo
Coutinho. Um quarto de século mais tarde, o Visconde de Pedra
Branca afirmou que o português no Brasil, em comparação com o de
Portugal, tem “plus d’aménité” (Balbi 1826: 173).

5.5.3 Viola de Lereno (1798-1826) e Contos Populares


Uma outra fonte para brasileirismos são, no final do século XVIII, as
modinhas do poeta brasileiro Domingos Caldas Barbosa (c1738-1800)
que residia durante muito tempo em Lisboa. Elas estão disponíveis na
coleção Viola de Lereno (1798-1826) e foram mencionadas por
Teyssier (1983: 612). A modinha representa uma forma brasileira da
romance que era apreciada no Portugal do século XVIII.245 Basica-
mente, Teyssier se refere aos seis lundus da coleção que apresentam
uma forma de cunho mais popular das modinhas246 Os lundus
apresentam brasileirismos lexicais, mas não mostram nenhuma
peculiaridade fonética exceto di lá com di no lugar de de (Viola de
Lereno 1798-1826: II, 54). Contudo, nas assonâncias sobressai um
indício que escapou de forma evidente a Teyssier:
Se não tens mais quem te sirva
O teu moleque sou eu
Chegadinho do Brasil
Aqui stá que todo é teu.
(Viola de Lereno 1798-1826: II, 44)
Aqui rimam eu e teu com Brasil. Esse é possivelmente, na segunda
metade do século XVIII, o primeiro testemunho para a vocalização do
/l/ em final de sílaba (cf. [bra'siù]), que hoje quase se generalizou (cf.

245
“As modinhas brasileiras, que alguns dizem serem uma prolação das
Serranilhas portuguesas, são por assim falar a forma bárdica de nossa poesia
popular. São canções de autores conhecidos, que, inspirados no lirismo tradi-
cional do povo, facilmente espalharam-se e tornaram-se quase anônimas”
(Romero 1977: 255).
246
“[...] são mais entrecortados e lascivos na música, e mais explosivos na
letra” (Romero 1977: 255).
195

3.1.2.4). Visto que esse testemunho ocorre no quadro de uma asso-


nância, é preciso cautela, porém, na interpretação.247 Além disso, a
forma chegadinho testemunha a ampliação do uso das construções
diminutivas nos particípios do português do Brasil (cf. 3.3).
Outros testemunhos para o português brasileiro se encontram nos
Cantos Populares do Brasil, publicados por Romero em 1883. Ao
lado dos brasileirismos lexicais, contêm testemunhos para a queda do
/r/ final (buscá, recebê), a monotongação de [aì] diante de [S] (baxo),
para a epêntese (fulô [flor]) e para abreviações coloquiais como seu
[senhor], siá [senhora], mêm’é [mesmo é], tá [está], p’ra [para].248
No entanto, os testemunhos não se deixam ordenar diacronicamente.
Fica em aberto saber quais formas remontam possivelmente à época
anterior a 1800.

5.5.4 Pedra Branca (1826)


A primeira descrição do português brasileiro, apresentada sem
intenção de querer corrigir supostos erros, provém de Domingos
Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca, poeta e precursor do
Romantismo brasileiro, que, após a Independência do Brasil, se
estabeleceu como diplomata em Paris. Nessa cidade, o geógrafo Balbi
interessou-se pelas diferenças entre português europeu e brasileiro.249
As informações daí decorrentes de Pedra Branca encontraram entrada
na Introduction à l’atlas ethnographique du globe (1826) de Balbi,
um tratado sobre o benefício do ensino de línguas e sobre a sua
classificação.250 Referem-se à pronúncia e ao vocabulário do
português brasileiro.
“Les langues montrent les mœurs et le caractère des peuples. Celle
des Portugais se ressent de leur caractère religieux et belliqueux.

247
As modinhas apresentam, como poesia popular, uma rima irregular
que, na maior parte das vezes, se orienta para abbd e abcb. A rima masculina
se limita sempre à última sílaba. Além disso, ocorrem pares impuros (estrelas
[e] - belas [(]; tremer [e] - mulher [(]) e assonâncias (cf. Viola de Lereno
1798-1826: II, 169, 171).
248
Cf. Romero (1897: 179-186, 203).
249
“[...] les différences que le dialecte brésilien pourrait présenter,
comparé à la langue du Portugal” (Balbi 1826: 172-175).
250
Segundo as indicações de Ribeiro (1933: 28, n. 1), a contribuição do
Visconde de Pedra Branca provém dos anos 1824-25.
196
[...] L’âpreté dans la prononciation a accompagné l’arrogance des
expressions, et se conserve encore aujourd’hui en héritage; mais
cette langue, transportée au Brésil, se ressent de la douceur du
climat et du caractère de ses habitans; elle a gagné pour l’emploi et
pour les expressions des sentiments tendres, et, tout en conservant
son énergie, elle a plus d’aménité” (Balbi 1826: 172-173).
A relação entre clima, caráter do povo e língua equivale a uma
representação da época.251 Desse ponto de vista, o botânico inglês
Caldcleugh comenta em 1825, em Travels in South America, a
pronúncia do português brasileiro:
“The Portuguese spoken by the Brazilians is easily distinguishable
from that used by the natives of the mother country. The mode of
speaking is much slower, a peculiarity to be observed in all
colonies, and can only be accounted for by the climate depriving
them of that activity of mind of which there is no deficiency in
Europe; producing, in fact, considerable lassitude” (Caldcleugh
1825: I, 65-66).
A teoria climática se mira também na lingüística do século XIX, que
entendia o objeto de suas investigações como organismo vivo,
exemplificado na Stammbaumtheorie (‘teoria da árvore genealógica’)
de Schleicher. Por volta do final do século, o filólogo brasileiro
Pacheco da Silva Jr. dirá: “Não ha escapar á influencia das particu-
laridades locaes de pronuncia e phraseologia. O clima é o mais
poderoso dos elementos do meio” (1880: 488). A teoria é seguida até
o século XX e desempenhou um papel também nas explicações da
formação do espanhol americano.252
O contraste prosódico descrito por Pedra Branca entre o português
europeu e o brasileiro encontra uma famosa correspondência na
caracterização do português brasileiro, cunhada por Eça de Queirós,

251
Na Itália, a teoria climática tinha sido usada já no século XVI como
fundamentação da variação lingüística regional.
252
No espanhol americano, associaram-se, como condicionadas pelo
clima, certas concordâncias fonéticas entre a região meridional da Espanha e
as regiões litorâneas americanas, que contavam com uma colonização de
imigrantes do sul da Espanha (Henríquez Ureña 1921). Saussure representou a
seguinte opinião no Cours de linguistique générale: “Le climat et les
conditions de la vie peuvent bien influer sur la langue, [...]” (1931: 203).
Bourciez explicava dessa forma as diferenças fonéticas entre a língua
espanhola e a portuguesa (31967: 405s.).
197

como “português com açúcar” (cf. Lyra 1965: 206, n. 6). A rigorosa
categorização do português europeu, feita por de Pedra Branca, em
relação à “âpreté” e à “arrogance des expressions” é também uma
afirmação de identidade nacional perante o antigo poder colonial.
Pedra Branca aponta, além disso, sobretudo, diferenças lexicais entre
o português europeu e o brasileiro.
“A cette première différence, qui embrasse la généralité de
l’idiome brésilien, il faut encore ajouter celle des mots qui ont
changé tout-à-fait d’acception, ainsi que celle de plusieurs autres
expressions qui n’existent point dans la langue portugaise, et qui
ont été emprunté aux indigènes, ou qui ont été importées au Brésil
par les habitans de différentes colonies portugaises d’outre-mer”
(Balbi 1826: 173).
Pedra Branca refere-se à mudança semântica em comparação com o
português europeu, aos neologismos brasileiros, bem como a emprés-
timos das línguas indígenas e africanas. Em relação a isso, apresenta,
em duas listas, o primeiro contraste lexical entre português europeu e
brasileiro. As listas de Pedra Branca foram inicialmente publicadas
por Balbi (1826: 173-175). Cem anos depois, João Ribeiro apresentou
o material com pequenos comentários para as palavras calunda,
capoeira, cécia, faceira, sótão e tope (1933: 30-37). Pimentel Pinto
aceitou as listas de Ribeiro sem qualquer outro comentário (1978-81:
I, 6-7). Na versão de Wanke/Simas Filho, as indicações de significado
do francês são substituídas pelo português (1991: 20-21). Nossa
apresentação segue estritamente a de Balbi (1826). Apenas a
seqüência de palavras foi posta na ordem alfabética.

NOMS QUI ONT CHANGÉ DE SIGNIFICATION.


Mots. Signification Signification Comentário (cf. Aurélio)
en Portugal. au Brésil.
Arruma- Action Parade. arrumação, s.f.; PE/PB:
mento.253 d’arranger. [‘desfile’] ‘ato ou efeito de arru-
[‘ação de mar(-se)’
arrumar’]

253
Arrumamento não aparece nos dicionários portugueses (cf. Bluteau
1712-21, Bluteau 1727-28, Bluteau 1789, Morais Silva 1813). Também a
forma brasileira é, hoje, arrumação.
198

Babados. Bavé. Jabot, babado, s.m., adj.; PE:


[‘molhado de falbalas. molhado de baba’; PB:
baba’] [‘enfeite’] ‘folho pregueado, fran-
zido, ou godê, para guar-
nição de saias, toalhas,
etc.’
Capoeira. Cage à Broussailles. capoeira, s.f.; PE/PB:
poules. [‘brenha’] ‘gaiola grande’; PB:
[‘gaiola de ‘mato que nasceu nas
frangos’] derrubadas de mata
virgem’
Cecia. Action de Minaudière. sécia, s.f.; PB: ‘mulher
grasseyer. [‘mulher elegante, mas afetada,
[‘puxar no r’] afetada’] presumida’ [cf.
minaudière]
Chacota. Chanson Moquerie. chacota, s.f., PE/PB:
grivoise. [‘zombaria’] ‘zombaria’; PB: ‘antiga
[‘canção canção popular’
picante’]
Faceira. Grosse Coquette. faceira, s.f., PE/PB: ‘a
mâchoire. [‘mulher carne dos lados do
[‘mandí- vaidosa’] focinho do boi’; PB:
bula’] ‘mulher vaidosa’
Sotão. Souterrain. Mansardes. sótão, s.m., PE:
[‘porão’] [‘quartos no ‘desvão’, (prov.) ‘cave’
sótão’]
Tope. Entrave. Cocarde, tope, s.m., PE/PB:
[‘obstáculo’] bouquet de ‘obstáculo’; PB: ‘laço de
fleurs. fita em chapéu’
[‘emblema (no
chapéu);
ramalhete’]

Comparando, torna-se evidente que Pedra Branca contrasta tenden-


cialmente, em ambas as variedades, os significados básicos com os
significados especiais brasileiros. Um desenvolvimento interessante
existe em sótão. A palavra generalizou-se hoje no significado caracte-
199

rizado inicialmente como brasileiro, enquanto o sentido preponderante


‘porão’ no século XIX ainda é usado, mas apenas regionalmente.
“Cecia”, que representa no século XVIII uma pronúncia afetada
dos sibilantes, significa, conforme Pedra Branca, no português
brasileiro ‘mulher elegante, mas afetada, presumida’, o que corres-
ponde ao uso atual da língua (Aurélio, sécia).254 O significado
atribuído ao português europeu no século XIX “Action de grasseyer”
(‘puxar no r’) é, contudo, surpreendente, pois teria a ver, conforme a
tradução francesa, com uma pronúncia uvular da vibrante. Trata-se,
evidentemente, da primeira referência a uma realização uvular do
fonema /3/ [ʁ] (e do arquifonema /R/ [ʁ-] em posição inicial) no
português europeu, que Gonçalves Viana somente registrou como
peculiaridade em 1883 (cf. 7.1.2.3).
O contraste de Pedra Branca entre o vocabulário do português
europeu e o brasileiro traz o caráter de uma escolha pouca
representativa de exemplos, apresentados para ilustrar. No entanto, ele
registra desenvolvimentos diferentes no vocabulário de ambas as
variedades, não informados pelos dicionários daquela época, pois
limitavam a denominação de “brasileirismos” preponderantemente às
designações de animais e plantas. O Diccionario da Lingua Portu-
gueza de 1813 não registra, para nenhum dos exemplos de Pedra
Branca, um significado brasileiro:
arrumamento –; babado –; capoèira, s.f., ‘especie de cesto fecha-
do onde estão gallinhas’; cecia –; chacóta, s.f., ‘cantiga villanesca,
que os rusticos cantão em coro, ou só um’; facéira, s.f., ‘de boi, a
carne das faces’; §. t. vulg. ‘vaidoso, patarata, casquilho rafado,
que se sustenta com faceira de boi’; sótão, s.m., ‘cave soterranea,
escura’; tope, s.m., ‘choque, encontro de duas coisas que se topão’,
‘laço de fita que se põe no vestido, calçado ou chapeo’ (cf. Morais
Silva 1813, s.v.).
Em sua segunda lista, Pedra Branca apresenta uma seleção de lexemas
desconhecidos em Portugal que, por mais uma vez, representa a
primeira concepção contrastiva do tipo (Balbi 1826: 173-175):

254
“Pelo contrario escrevamos, pronunciamos Sá [...] e naõ C,a [sic] [...]
porque esta pronunciaçaõ naõ he naturalmente nossa, mas só affectada, ou de
mulheres açucaradas, ou de homens ceciosos” (Madureira Feijó 1739: 36).
200

NOMS EN USAGE AU BRÉSIL ET INCONNUS EN [sic]


PORTUGAL
Mots. Signification. Comentário (cf. Aurélio)
Balaio. Espèce de panier. balaio, s.m., ‘cesto de palha’
Batuque. Danse des batuque, s.m., ‘designação comum a
nègres. certas danças afro-brasileiras’
Boquinha. Petit baiser. boquinha, s.f., bras., fam., ‘beijo’
Caçula. Cadet d’une caçula [do quimb.], s.m./f., ‘o mais
famille. moço dos filhos’
Calunda.255 Magnétisme, des calundu, s.m., cf. amuo, ‘mau hu-
vapeurs. mor, enfado, traduzido no aspecto,
nos gestos ou no silêncio’
Cangote. Le chignon. cangote, var. de cogote, s.m., pop.,
‘nuca’
Capéta. Lutin. capeta, s.m., fam., ‘traquinas’
Capim. Gazon. capim [do tupi], s.m., bras., ‘da
família das gramíneas’
Carpina. Charpentier de carpina, var. de carapina, s.m., bras.,
bâtiment. ‘carpinteiro’
Chacra.256 Maison de chacra, var. de chácara, s.f., bras.,
campagne. ‘casa de campo’
Charquear. Préparer la charquear, v.tr., bras., ‘salgar (a
viande sèche. carne)’
Chibio.257 Polissin, vaurien. –
Chingar. Passer des xingar [do quimb.], v.tr., bras.,
sobriquets. ‘dizer insultos’
Coivara. Action de brûler coivara [do tupi], s.f., bras., ‘restos
des broussailles. ou pilha de ramagens não atingidas
pela queimada’

255
Calunda é, provavelmente, uma lição errônea de calundu.
256
A forma escrita corrente hoje é chácara.
257
Trata-se provavelmente da palavra xímio “Mono, macaco. §. fig.
Imitador, arremedador” listada por Morais Silva (1844, s.v.).
201

Cuchillar. Someiller. cochilar [do quimb.], v.intr., bras.,


‘dormir levemente’
Dondon. Vaudeville. dondom, s.m., bras., ‘dança de
fandango’
Fadista. Fille publique. fadista, s.f., lus., pop., ‘meretriz’
Fadú.258 Bouderie. fado, s.m., bras., ‘no s. XVIII, dança
popular, ao som da viola, com
coreografia de roda movimentada,
sapateados e meneios sensuais’
Farofa.259 Ostentation farofa [do quimb.], s.f., ‘jactância’
ridicule.
Findinga. Fille publique. findinga, s.f. bras. desus., ‘meretriz’
Fuxicar. Chiffonner. fuxicar, v.tr., ‘amarotar’
Jaià. Demoiselle. iaiá, s.f., bras., fam., ‘tratamento
dado às meninas e às moças, hoje
quase abolido’
Mandinga. Fétiche. mandinga, s.f., ‘bruxaria’
Mascate. Marchand forain. mascate, s.m., bras., ‘mercador
ambulante’
Mascatear. Faire le mascatear, v.intr., bras., ‘vender
marchand forain. (mercadorias) pelas ruas’
Mi deixe. Noli me tangere. → próclise no PB
Mocotó. Pied de bœuf. mocotó [do tupi], s.m., bras., ‘pata
dos animais bovinos’
Mulambo. Guenille. molambo [do quimb.], s.m., bras.,
‘roupa velha ou esfarrapada’
Mungangas. Grimaces. munganga, cf. moganga, s.f. bras.,
‘caretas’
Munheca. Le poignet. munheca, s.f., bras., ‘pulso’

258
Trata-se evidentemente do fado. O significado corrente hoje, a saber,
‘canção popular portuguesa’ não tinha sido desenvolvido na época.
259
A palavra farofa é conhecida, no Brasil, sobretudo no significado
‘farinha comestível’ (cf. Aurélio, s.v.).
202

Muquem. L’endroit où l’on moquém, s.m., bras., ‘grelha de varas


boucane. para assar ou secar a carne ou o
peixe’
Muquiar. Boucaner. moquear, v.tr., bras., ‘secar (a carne
ou o peixe) no moquém para
conservá-los’
Muxiba. Des peaux de muxiba [do quimb.], s.f., bras.,
viande maigre. ‘carne magra, para cães’
Muxingueiro. Celui qui est –; cf. muxinga [do quimb.], s.f.,
chargé de bras., ‘surra’
fouetter les
esclaves.
Muxoxo. Action de faire la muxoxo, s.m., bras., ‘estalo com a
moue. língua para indicar desprezo ou
desdém’
Nanica. Naine. nanico, adj., ‘de figura anã’
Nuello. Sans plumes. nuelo, adj., ‘implume’
Pabulo. Fat, suffisant. pábulo, adj., ‘presumido’
Pequira. Criquet. pequira, cf. piquira [do tupi], s.f.,
bras., ‘diz-se de eqüídeo de pequena
estatura’
Pimpaò. Ferrailleur, pimpão, s.m., ‘fanfarrão’
crâne.
Presinganga. Ponton, prison. presiganga, s.f., ‘navio, geralmente
um pontão, que servia de prisão ou
que recolhia presos’
Quindins. Minauderies, quindim, s.m., ‘graça petulante’
petits soins.
Quitanda. Marché de quitanda [do quimb.], s.f., bras. RJ,
vivres. ‘pequeno estabelecimento onde se
vendem frutas, etc.’
Quitûtes. Ragouts, fricots. quitute [do quimb.], s.m., bras.,
‘petisco’
203

Rossa. Maison de roça, s.f., bras., ‘terreno de pequena


campagne ou lavoura’
ferme.
Saracutear. Tournailler. saracotear, v.tr., ‘rebolar’
Senzàla. Case de nègres. senzala [do quimb.], s.f., bras.,
‘conjunto de casas ou alojamentos
que se destinavam aos escravos de
uma fazenda ou de uma casa
senhorial’
Sipoada. Coup de badine. cipoada, s.f., bras., ‘chicotada’
Tapera. Terrain tapera [do tupi], s.f., bras.,
abandonné. ‘habitação ou aldeia abandonada’
Trapiche. Magasin au bord trapiche, s.m., ‘armazém onde se
de l’eau. guardam mercadorias importadas ou
para exportar’

A segunda lista de Pedra Branca contém para o léxico brasileiro


empréstimos típicos do tupi (capim, mocotó, tapera) e de africanismos
(caçula, calundu, cochilar, farofa, molambo, muxiba, muxinga,
quitanda, quitute, senzala, xingar). A grafia reflete mais adequada-
mente a pronúncia, por meio do [u] pretônico em cuchillar, mulambo,
muquem, muquiar, bem como do [i] no hiato muquiar, do que a
escrita atual (cochilar, molambo, moquém, moquear).
A maioria dos exemplos apresentados como brasileirismos por
Pedra Branca era desconhecida em Portugal. Somente alguns são
reconhecidos no Diccionario da Lingua Portugueza (Morais Silva
1813) como brasileirismos, o que evidencia a estreita base lexico-
gráfica no começo do século XIX. Morais Silva (1813) lista as
seguintes palavras, que aparecem em Pedra Branca, sem fazer qual-
quer consideração para os significados brasileiros:260
baláio, s.m., ‘especie de cesta palhinha’; cogóte [Pedra Branca:
cangote], s.m., vulg., ‘a parte posterior da cabeça’; mandínga, s.f.,
t. da Africa, ‘feitiçaria; feitiços’; moxínga [cf. Pedra Branca:
muxingueiro], s.f., ‘surra de açoutes; dizem-no os pretos’;
munhéca, s.f., ‘a juntura da mão com o braço’, ‘o collo da mão’;
pábulo, adj., chulo, ‘o que se dá á logração’; saracoteár, v.n., ‘não

260
Os exemplos desviam-se, quanto à grafia, dos de Pedra Branca.
204
parar num lugar, andar vagando, girando, inquieto’; sipoáda, s.f.,
‘golpe com sipó’; trapíche, s.m., ‘casa de guardar generos de
embarque, com apparelho para carregar, e descarregar dos navios’
(cf. Morais Silva 1813, s.v.).
Os exemplos de Pedra Branca que são enumerados por Morais Silva
como com significado brasileiro mostram que Morais Silva não se
concentra em diferenças semânticas entre o português europeu e o
brasileiro, mas de maneira análoga às designações da fauna e flora, se
refere preponderantemente o vocabulário ligado à terra:
roça, s.f., ‘granja, terra de lavoira no Brazil’; senzála, s.f., ‘no
Brasil, a casa de morada dos pretos escravos’; tapéra, s.f., Bras.,
‘quinta, ou fazenda que algum tempo se grangeou, e que depois se
abandona, e deixa fazer mato, ou sapezal’; xárque [Pedra Branca:
charquear], s.m., ‘no Sul do Brasil principalmente no Rio Grande
de S. Pedro assim chamão ás carnes feitas em mantas, salpicadas
de sal, e curadas ao Sol, que transportão para vender’ (cf. Morais
Silva 1813, s.v.).
Esse procedimento prossegue também na quinta edição, bastante
aumentada, de 1844. Completando a edição de Morais Silva de 1813,
o Diccionario da Lingua Portugueza lista, em 1844, boquínha, capim,
mocotó, moquém e moqueár, da segunda lista de Pedra Branca, com a
indicação do uso brasileiro. Então, numa palavra como “Boquínha
§. t. Brasil. Beijinho” se considera, a qual, em comparação com o
português europeu, somente apresenta um deslocamento semântico
(Morais Silva 1844, s.v.).
O material de Pedra Branca não só testemunha o desenvolvimento
lexical do português brasileiro e o registro atrasado, nos dicionários,
de brasileirismos semânticos, o que exemplifica o material de Morais
Silva, mas também é importante para a datação dos primeiros
testemunhos brasileiros. Embora a lista de Pedra Branca já tenha sido
publicada em 1921 por João Ribeiro (1933), o material não foi nem
considerado pelo Dicionário Etimológico Nova Fronteira (DENF),
revisto e ampliado em 1986, nem pelo Dicionário Houaiss. As
palavras seguintes, da lista de 1826, aparecem no DELP, no DENF e
no Houaiss com uma data mais recente:
caçula (DENF: XIX; DELP: 1850), capeta (DENF, Houaiss:
1899), charquear (DENF: 1881; Houaiss 1858), cipoada [Pedra
Branca: sipoada] (DENF, Houaiss: 1871), cangote (DENF,
205
Houaiss: 1899), coivara (DENF: 1863; Houaiss c1607), fadista
(DENF: XIX; DELP, Houaiss: 1876), farofa (DENF, Houaiss:
1899), mascate (DENF: 1873; Houaiss a1858), mascatear (DENF:
1881; DELP: 1890; Houaiss 1877), molambo (DENF, Houaiss:
1848; DELP: 1890), moquear (DENF: XIX; DELP 1873; Houaiss
1763), muxiba (DENF, Houaiss: 1899), muxoxo (DENF, Houaiss:
1899), nanica (nanico, DENF: 1899; Houaiss 1836), piquira
(DENF, Houaiss: 1842), presiganga (DENF: XIX; DELP 1844;
Houaiss 1846), quindim (DENF: XIX; DELP: XIX; Houaiss
1880), quitute (DENF: 1890; Houaiss 1858).
Como já foi esclarecido acerca dos testemunhos insuficientemente
recolhidos para a palavra brasileiro (cf. 4.3), mostra-se aqui que, por
meio de um estudo contínuo das fontes textuais, a datação de um
número considerável de brasileirismos poderia ser retroagida. A
insuficiência na coleta do material vocabular se encontra também num
dicionário relativamente novo e com grande grupo de colaboradores:
o Dicionário Houaiss. Assim, os etnônimos tupi (s. XVIII, abonado
no DELP), guarani (1864, abonado em J. de Alencar) e tapuia (1858,
abonado na 6ª edição de Morais Silva) são aceitos de segunda mão,
embora as três designações juntas já se encontram em Frei Vicente do
Salvador (História 1627: 77). É difícil de entender por que esses
textos básicos do século XVII não foram avaliados pelo Dicionário
Houaiss.
Da descoberta do Brasil até o início do século XIX, abre-se uma
lacuna significativa na transmissão das situações lingüísticas
concretas brasileiras. Será tarefa da pesquisa perseguir testemunhos
brasileiros (manuscritos) relevantes e outras informações
metalingüísticas daquela época. Uma fonte importante são, nesse
âmbito, também, os arquivos em Portugal (Torre do Tombo). A
lingüística portuguesa infelizmente se interessou pouco pela língua do
Brasil, exceto por afirmações subjetivas das infrações normativas
brasileiras. A situação precária das fontes nos séculos XVII e XVIII
contribuíram sobremaneira para criar espaço para especulações acerca
de uma crioulização antiga do português em contato com os escravos
africanos. Esse tema é objeto do próximo capítulo.
206

6. A questão da crioulização, contatos aloglotas e o


lugar histórico do português
6.1 Terminologia
A questão de uma crioulização inicial do português no solo brasileiro
foi considerada com respeito às características atuais da língua
popular (rural) brasileira, desde uma reflexão de F. A. Coelho (1880-
86), concernente a isso.261 Desde os anos 80 do século XX, a temática
é fortemente discutida, na qual tomavam a palavra sobretudo
defensores da tese de crioulização. O motivo de uma recente ocupação
com a matéria surgiu, de um lado, com base da ampliação geral dos
estudos crioulísticos e, por outro, por meio de uma variedade do
português brasileiro no sul do Estado da Bahia, que foi descoberta em
1961, no contexto das pesquisas de campo do Atlas Prévio dos
Falares Baianos (APFB), mas se tornou conhecida somente anos mais
tarde por um artigo de Silveira Ferreira (1984-85).
Zimmermann (1996) apresentou a temática da crioulização num
relato detalhado, de modo que podemos ater-nos à sua caracterização,
sem precisarmos recapitular significativamente o caminho. É evidente
que não existem testemunhos concretos para uma crioulização do
português brasileiro, que datem do tempo colonial (cf. cap. 5). Nesse
ponto é que a tendência pró-crioulização, fortemente representada na
discussão atual, se move num círculo de especulações dedutivas, que
exigem alguns esclarecimentos.
Sob o nome de crioulos, entendem-se os descendentes nascidos
nas colônias, contudo, a designação exclui a relação com os

261
Cf. F. A. Coelho (1880-86), Nobiling (1911), Reinecke (1937), Silva
Neto (1986, 11950), Révah (1963), Elia (1965, 1966: 203-205), McKinney
Jeroslow (1975), Reinecke (1975), Carvalho (1977, 1979), Elia (1979), Guy
(1981), Silveira Ferreira (1984-85), Macedo Silva (1986), Holm (1987),
Tarallo (1988), Couto (1989), Guy (1989), Couto/Aragão Costa
Martins/Garcia da Silva (1990), Couto (1991), Baxter (1992b), Holm (1992),
Baxter/Lucchesi (1993), Megenney (1993), Naro/Scherre (1993), Tarallo
(1993a), Bartens (1994), Holm (1994), Mollica (1994), Ribeiro de Mello
(1994), Bartens (1995), Baxter (1995), Zimmermann (1996), Baxter (1997),
Ribeiro de Mello (1997), Ribeiro de Mello/Baxter/Holm/Megenney (1998),
Baxter/Lucchesi (1999), Couto (1999), Lucchesi (1999a, 1999b), Ribeiro de
Mello (1999a, 1999b), Taddoni Petter (1999), Naro/Scherre (2000), Bonvini
(2001), Rodrigues de Souza (2001), Scherre/Naro (2001), Megenney (2002),
Naro/Scherre (2003), Lucchesi/Baxter (2006), Naro/Scherre (2007).
207

indígenas.262 No Brasil, o termo se associa, em primeiro lugar, com a


população de negros e mulatos. Dessa forma, Bluteau definia crioulo
como “escravo, que nasce na casa do seu senhor” (1712-21: s.v.).
Quando Mata Machado Filho em O Negro e o Garimpo em Minas
Gerais fala de “dialeto crioulo” em São João da Chapada (1943: 113-
138), se refere ao significado de crioulo que se associa às pessoas e
não a uma língua crioula. Do ponto de vista do conteúdo, nas
“cantigas afro-negras”, trata-se de africanismos do tempo do ciclo das
minas.
Com respeito à questão da crioulização, é preciso acentuar, do
ponto de vista histórico, que Coelho chamava atenção para paralelos
entre as línguas crioulas e o português brasileiro, sem, contudo, criar
necessariamente uma conexão causal.263 Silva Neto admite, para o
Brasil, a existência de uma forma lingüística histórica, que chama de
“crioulo ou semicrioulo” (1986: 48), ao lado do português falado,
sobretudo no litoral, preponderantemente pelos europeus e seus
descendentes. Já Schuchardt264 havia utilizado o termo semicrioulo
(“Halbkreolisch”) em outro contexto. É preciso esclarecer em detalhes
o que se associa necessariamente com a designação.
O termo crioulo era usado, de modo geral, no século XIX, no
sentido do fr. patois (créole), para designar uma forma lingüística
colonial e tida como desleixada. Hoje, em compensação, permanece a
tendência de associar extensamente as formas históricas do contato
lingüístico com crioulizações. Chaudenson critica essa ampliação
indeferenciada do termo:

262
Para a etimologia das designações crioulo e criollo, cf. Noll (2004c).
263
“Diversas particularidades características dos dialectos crioulos
repetem-se no Brasil; tal é a tendência para a supressão das formas do plural,
manifestada aqui, que, quando se seguem artigo e substantivo, adjectivo e
substantivo, etc., que deviam concordar, só um toma o sinal do plural”
(Coelho 1880-86: 43). No mesmo trabalho, Coelho apontou para o fato de
que, quanto à falta de concordância, havia também numerosos exemplos nos
cantos populares portugueses. Isso torna relativa a “tendência crioulizante”
(1880-86: 170-171).
264
Schuchardt entende por semicrioulo uma forma lingüística que hoje,
no contínuo crioulístico, se ordenaria como mesoleto. Designa, contudo, o
português brasileiro como português com tons dialetais (“mundartliches
gefärbtes Portugiesisch”, 1888-89: 481).
208
“Le succès même des études créoles fait que, dans les dernières
décennies, on a pu assister à une généralisation abusive de
l’emploi des mots «créole» et «créolisation». Si l’on nomme
«créole» toute langue qui s’est formée, à partir d’autres langues, en
situation de contact linguistique, il n’y a guère de langue au monde
qui ne puisse se voir appliquer ce qualificatif” (Chaudenson 1995:
13).
As línguas crioulas acusam claras características. Assim, valem-se de
partículas para especificar os valores de tempo, modo e aspecto, em
vez do sistema verbal românico. Um crioulo dispõe de uma
gramaticalidade própria e atua como língua materna. Silva Neto
define os crioulos como
“falares de emergência, com caracteres definidos e vida própria,
que consistem na deturpação e simplificação extrema de uma
língua, quando imperfeitamente transmitida, e aprendida por gente
de civilização inferior” (Silva Neto 1949: 8).
Nessa passagem, associa as características de um pidgin (“falares de
emergência”), segundo a atual compreensão do termo, com o de uma
língua crioula (“com caracteres definidos e vida própria”). Quanto às
relações brasileiras, descreve semicrioulo como a “adaptação do
português no uso dos mestiços, aborígines e negros” (Silva Neto
1986: 48).265 O resultado de uma acomodação desse tipo, que se
configurou sem dúvida diferentemente com indígenas e africanos,
poderia ser um português insuficientemente aprendido ou atingir a
formação de uma língua crioula, por meio de formas lingüísticas
pidginizadas. Nesse ponto, a posição de Silva Neto é ambígua e não
se apóia, de modo algum, em um crioulo stricto sensu, visto que limita
muito uma possível influência estrutural (“talvez nos primeiros
tempos, algum traço lingüístico devido a fenômenos de interferência
com outra língua”, Silva Neto 1986: 48). Por isso, não é adequado
afirmar sumariamente que Silva Neto reconhecia “a existência de
crioulos ou semicrioulos durante o período colonial”, como o fazem
Lucchesi/Baxter (2006: 168).

265
Aqui também surgem obscuridades nas palavras de Silva Neto. Se, por
um lado, distingue o semicrioulo por uma “extrema simplificação de formas”
(1986: 48), em outra passagem, formula: “[...] semicrioulo, ou seja, um
estágio mais aperfeiçoado da primitiva aprendizagem [...] O semicrioulo
encerra, pois formas e torneios semicultos” (1949: 8).
209

Holm (1992) relaciona a designação “semi-creole” à língua


popular brasileira atual, a qual concebe como o resultado de uma
descrioulização. Com isso, fica em aberto se deve haver um crioulo
genuíno, como ponto de partida do desenvolvimento. Conforme
Holm, um semi-creole pode resultar-se também do confronto de
características crioulas e não-crioulas por meio do empréstimo de
estruturas (“by borrowing features”, 1988: 10). Não foi dito o que se
deve entender estruturalmente por semicrioulo, quais traços o
caracterizam e o que distingue um semicrioulo, de modo geral, dos
traços da língua popular falada em espanhol e em português.
Cientificamente, termos como “semicrioulo” e “crioulóide”
provam, em tal contexto, como designações cômodas insatisfatórias
que passam ao uso da Crioulística sobretudo quando uma crioulização
não é demonstrável, mas tem mérito por causa de alguma referência
com o crioulo. Além do português brasileiro, isso também ocorre com
o espanhol das Antilhas. Assim, Lorenzino (1993: 118) classifica as
ocorrências de perda do -s em final de sílaba no “español popular
dominicano” – contra toda experiência romanística e hispanista –
como “rasgos semicriollos”. Quem acompanha a instabilidade do -s
em final de sílaba na România (cf. Geckeler 1976), particularmente as
relações do espanhol meridional e a aspiração regional do -s no
espanhol americano (p. ex., na Argentina), não pode aceitar, do ponto
de vista argumentativo, a classificação de Lorenzino. Quanto à
história da matéria, essa associação se apresenta cada vez mais
restritiva: de Granda (1968) representava o ponto de vista de que, nos
séculos XVI e XVII, se falava um crioulo baseado no espanhol em
amplas partes dos territórios ultramarinos. Bickerton/Escalante
limitavam isso, no âmbito de suas pesquisas com o palenquero
(Colômbia), ao território caribenho (1970, 262). Desde os anos 80,
afunilou-se a discussão à identificação dos assim chamados traços
semicrioulos. Com isso, também o português brasileiro foi
classificado preponderantemente como semicrioulo.
Depois que o conceito de Holm de semi-creole foi usado por
quinze anos na literatura especializada sem sequer uma definição
prévia e obrigatória, Holm associa agora a problemática com o termo
“partial restructuring” (2004: XI, XIII). Visto que línguas flexivas
basicamente tendem à perda das flexões, em princípio, todas as
línguas românicas podem ser entendidas diacronicamente como
parcialmente reestruturadas, embora o desenvolvimento não tenha
210

nada a ver com a crioulização. Terminologicamente, Holm desloca-se


para uma zona neutra com seu partial restructuring; do ponto de vista
do conteúdo, contudo, vai além, afirmando que traços marcantes da
língua popular brasileira remontam a influências africanas.
No âmbito da gênese da língua popular brasileira, Baxter (1995) e
Lucchesi (1999a, 2003) definiram o conceito de transmissão
lingüística (/geracional) irregular. Já Silva Neto tinha falado de
“língua [...] imperfeitamente transmitida” (1949: 8). Conforme
Lucchesi, o aprendizado do português por meio de falantes indígenas
e africanos teria ativado um processo de transmissão irregular da
língua que se poderia caracterizar como “tipo mais leve do que o que
se dá na pidginização/crioulização típica” (1999a: 77). Dessa forma,
certas estruturas gramaticais se teriam simplificado ou foram
eliminadas. Esse princípio é, sem dúvida, mais adequado do que o
conceito de semicrioulo, visto que Baxter e Lucchesi, contrariamente
a Holm, também incluem a população indígena. Contudo, é
problemática a idéia estática da transmissão irregular, esboçada por
Lucchesi:
“Portanto, o fator que determina inicialmente a intensidade do
processo da transmissão lingüística irregular [...] é a intensidade da
erosão gramatical que se dá no momento inicial do contato [...]”
(Lucchesi 2003: 275).
Num território da extensão do Brasil, esse “momento inicial do
contato” devia repetir-se muitas vezes, de forma diferente, no espaço e
no tempo. Naturalmente, uma transmissão lingüística irregular pode
também realizar-se, quando influências não-aloglotas estão em
primeiro plano, como, por exemplo, a falta de uma instrução escolar
mais ampla, o que foi o caso do Brasil ao longo de quatrocentos anos.
Com relação às formas lingüísticas de comunidades marcadamente
africanas do interior brasileiro, como a do Cafundó (SP), nas quais se
apresentam africanismos lexicais específicos, Couto introduziu a
designação anticrioulo.266 Parte da idéia primeira de que uma língua

266
Quanto às falas nessas localidades, veja a literatura seguinte: Cafundó
(Salto de Pirapora, SP): Vogt/Fry (1996). João Ramalho (SP): Sant’Ana
Spera/Ribeiro (1989). S. João da Chapada (MG): Mata Machado Filho (1944:
113-138). Tabatinga (Bom Despacho, MG): S. Queiroz (1998). Outras
informações se encontram no belo artigo panorâmico de Couto (1999) sobre
contatos lingüísticos no Brasil.
211

crioula seja “uma língua de vocabulário europeu e gramática africana”


(1992: 71). Essa afirmação, todavia, não é correta, pois já Schuchardt
(1909: 443) tinha chamado a atenção para o fato de que as línguas
crioulas não podiam simplesmente ser entendidas como uma
combinação de vocabulário europeu e gramática africana. Visto que
não se trata, na variedade do Cafundó, de relações gramaticais, mas de
vocabulário, Couto vê sua premissa acima formulada como invertida
(“consta basicamente da gramática do português rural circundante e
de um léxico parcialmente africano”, 1992: 75) e nomeia o resultado
de anticrioulo. A designação anticrioulo não foi, no entanto,
escolhida de maneira ideal. Embora Couto aponte para diferenças na
formação das línguas crioulas e a do Cafundó (1999: 183), essas
diferenças dificilmente podem ser definidas, como se houvesse uma
relação de agentes contrários (“anti”). Por fim, no caso do Cafundó,
trata-se de 170 itens lexicais de origem banto, não conhecidos fora da
comunidade, cujo uso cumpre uma função críptica e, ao mesmo
tempo, lúdica (cf. Taddoni Petter 2005: 196).

6.2 Contatos luso-africanos


No início da história do Brasil havia, especialmente ainda em tempos
de densidade demográfica ainda extremamente baixa, um grande
número de núcleos de formas individuais de contato lingüístico.
Tendências pontuais de crioulização não podem, em princípio, ser
descartadas. A questão decisiva está, porém, se partirmos de tais
desenvolvimentos limitados ou se classificarmos a língua popular
basicamente como o resultado de uma crioulização inicial, como se
faz repetidamente.267
A argumentação utilizada se revela um círculo vicioso. Devido a
certas características da língua popular atual (v. abaixo), parte-se de
uma forma lingüística crioulizada, cujas estruturas teriam sido
neutralizadas consideravelmente até os dias de hoje, por meio de uma
descrioulização igualmente admitida no desenvolvimento histórico do
português brasileiro. Isso remete à interpretação do material tido como
reestruturado. Paralelos entre os crioulos e a língua popular brasileira
apresentam, todavia, somente o ponto de partida das pesquisas e não
são indícios suficientes para uma influência.

267
Cf. Guy (1981: 283ss.; 1989), Holm (1987).
212

A gênese das línguas crioulas atlânticas ocorreu no contexto


colonial, por meio do deslocamento de populações africanas lingüis-
ticamente heterogêneas, quando essas, em situação de isolamento, se
depararam com uma população branca proporcionalmente pequena
em termos numéricos. Isso vale tanto para Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, na costa africana, quanto para as ilhas caribenhas em que se
falam crioulos. Os africanos puderam satisfazer suas necessidades
comunicativas, dada a heterogeneidade lingüística entre eles, somente
se associando com as respectivas línguas coloniais. Megenney (1983:
1) supõe que cerca de 500 a 700 línguas e dialetos africanos chegaram
à América por meio do tráfico de escravos, Bonvini/Taddoni Petter
(1998: 73) avaliam 200 a 300 línguas.
Quanto aos idiomas africanos, que foram trazidos ao Brasil, trata-
se de línguas nígero-congolesas, entre as quais são de especial signifi-
cado, por um lado, as do tronco kwa, com o ewe (sudeste de Gana, sul
do Togo, sudoeste de Benim) e o iorubá (Nigéria ocidental, Benin,
Togo) e, por outro, as línguas bantu, como o quicongo (Congo, norte
de Angola), o quimbundo (região central de Angola) e o umbundo
(sul de Angola).268 Além disso, as línguas mande, espalhadas entre o
Senegal e a Nigéria (p. ex., o mandinga) e o hauçá (Nigéria) têm um
papel secundário.
O tráfico de escravos com o Brasil iniciou-se em meados do século
XVI e trouxe para o país pessoas da assim chamada Costa da Guiné,
ou seja, do território que fica preponderantemente ao norte da Linha
do Equador, do Senegal até o rio Congo. No século XVII, vinham
para o Brasil, preponderantemente, escravos das regiões meridionais
de fala bantu (Congo, Angola). Como pano de fundo desse
deslocamento populacional concentrado, o jesuíta português Pedro
Dias, que havia crescido no Brasil, redigiu, em 1697, uma gramática
do quimbundo (Arte da Língua de Angola), que enfatiza a importância
dos falantes de línguas bantu para o Brasil daquela época. Seu
Vocabulário português-angolano de 1694 nunca foi impresso, pelo
que se sabe (cf. Bonvini/Taddoni Petter 1998: 75).

268
Cf. Heine/Schadeberg/Wolff (1981), Y. Castro 2006: 104-110).
213

No século XVIII, aumentou a quantidade de escravos que vinham


do Golfo da Guiné, da assim chamada Costa da Mina269. Foram
levados sobretudo para a Bahia e Minas Gerais. No Brasil, eram
conhecidos como mina (Costa da Mina), jeje, mina-jeje e nagô
(iorubá), entre outros nomes. Os últimos chegaram sobretudo somente
pelo fim do século XVIII (Ramos 1979: 189). Nos anos 1731/1741,
António da Costa Peixoto redigiu a Obra nova da Língua Geral da
Mina, que reflete a significativa afluência de escravos da região de
falas kwa nas zonas de exploração de minérios de Minas Gerais. A
designação língua geral se refere, nesse contexto, com o uso geral da
língua africana, que se identificou como ewe-fon, de Benim (Y.
Castro 2002). No século XIX, prevaleceram novamente escravos das
zonas de fala bantu, inclusive Moçambique, a que se atribui pouca
importância.
Uma continuidade de línguas africanas ocorreu, sem dúvida, no
Brasil, por meio da chegada sem cessar de novos escravos. Fica,
porém, em aberto se isso conduziu a um bilingüismo permanente e,
em caso afirmativo, em que lugar. É preciso alguma reserva quando
Y. Castro classifica as formas lingüísticas afro-brasileiras do Brasil
com naturalidade em “dialeto das senzalas, dialeto rural, dialeto das
minas e dialetos urbanos” (1980: 13). Uma conseqüência importante
se obtém, contudo, da existência das duas citadas gramáticas
africanas: dado que os escravos dispuseram, para suas necessidades
comunicativas no Brasil, tanto da sua língua natal quanto do
português, em que residiria a necessidade da formação de um crioulo
de base portuguesa? Os pressupostos elementares para a gênese de
uma língua crioula não são então preenchidos.
No Brasil, a caracterização lingüística dos africanos respeitava, em
primeiro lugar, uma distinção entre negros boçais e negros ladinos. Os
negros boçais eram recém-chegados e dominavam somente suas
respectivas línguas maternas africanas. Os negros ladinos falavam
português, ou porque ou já haviam estado em contato com a língua na
costa africana,270 ou porque a haviam aprendido no Brasil. Além

269
A partir de São Jorge da Mina (Elmina), a primeira fortaleza
portuguesa (1482) na Costa do Ouro (Gana). O trecho litorâneo designado
como Costa da Mina estende-se de Gana à Nigéria.
270
Y. Castro (1990: 103) considera que o número de negros ladinos
embarcados para o Brasil era relativamente pequeno.
214

desses, havia um terceiro grupo, que, em sentido amplo, era incluído


entre os ladinos. Trata-se dos negros crioulos. Enquanto os negros
provenientes da África às vezes eram classificados como “ladino” ou
“muito ladino” conforme sua proficiência no idioma, não ocorre, com
relação aos negros crioulos, nenhuma caracterização especial. Com
relação ao desenvolvimento do português no Brasil, é justamente aos
negros crioulos, falantes do português como língua materna – de cuja
variedade não se dispõe qualquer documento antigo – que cabe um
papel muito mais decisivo do que aos recém-chegados da África, em
primeira geração.
A proporção numérica dos grupos populacionais na zona em
questão é de significado decisivo para a formação de uma língua
crioula, como expõe Mintz (1971), em um artigo fundamental, a
respeito dos pressupostos socioculturais para uma crioulização. Já
Alexander von Humboldt tinha insistido, em 1826, em seu “Essai
politique sur l’île de Cuba”, que a relação entre negros e brancos,
numa zona genuinamente crioula, como a Jamaica, se situava por
volta de 10:1 (1992: 63). Bickerton (1981: 4) supõe que a parcela de
falantes de línguas dominadas como língua materna não deva ser
maior do que 20%, para que se possa formar uma língua crioula. Visto
que o tráfico de escravos africanos registra um aumento no Brasil,
com o desenvolvimento da economia açucareira (ciclo do açúcar)
após 1549, uma crioulização que teria influenciado fundamentalmente
a língua popular brasileira deveria retroceder também a um período
antigo, isto é, ao século XVII. No Brasil, no entanto, a população
negra e a de descendentes de negros representavam, nos séculos XVII
e XVIII, 60% da população total (Mussa 1991).271 Além do mais,
encontravam-se entre eles, contudo, muitos que usavam o português
como língua materna.
Já não se pode imaginar o início de uma crioulização no século
XVIII como fenômeno generalizado no Brasil, visto que, nessa época,
já residiam gerações de negros crioulos (inclusive de mulatos). Esses
possuíam, entre os escravos, o maior prestígio e desempenhavam um
papel abalizado no processo de aculturação (cf. Laurence 1974: 490).
271
Também conforme os dados de Holm, apenas 25% da população eram
negros, entre 1600 e 1650, sendo que uma quota de 50% deve ter sido
atingida somente por volta de 1770 (cf. 1987: 411). Ao todo, 3,6 milhões de
africanos devem ter sido trazidos para o Brasil, até o século XIX (Curtin
1970: 49).
215

Mesmo os que eram designados como “negros de Angola” e já


dispunham de conhecimentos de português, intervinham no processo
de aquisição de linguagem, transmitindo seus conhecimentos aos
recém-chegados da África:
“No século XVII um cronista holandês informava da facilidade
com que os negros de Angola, já ladinos, ensinavam e iniciavam
os negros boçais na língua portuguesa e nos trabalhos do campo e
do engenho” (Silva Neto 1986: 77-78).272
O fator de integração dos negros crioulos nascidos no país com a
língua materna portuguesa diferencia o Brasil, de maneira essencial,
das zonas de fala genuinamente crioula. Já Nina Rodrigues afirmava:
“o negro novo era obrigado a aprender o português para falar com os
senhores brancos, com os mestiços e os negros crioulos” (1977: 123).
A pequena consideração que se dá ao papel dos negros crioulos
conduz a um erro fundamental na interpretação das estatísticas de
população pela Crioulística. Uma fórmula associada à população do
Brasil segundo o princípio branco [= elemento português] vs. negro
[= potencial fator de crioulização] não é praticável do ponto de vista
lingüístico. Na estatística colonial da população, os negros crioulos
deveriam ser, de fato, computados, com respeito ao seu significado
para o desenvolvimento lingüístico, juntamente com o contingente
branco (português) e separados do africano.
1538-1600 1601-1700 1701-1800 1801-1850 1851-1890
Africanos 20% 30% 20% 12% 2%
Negros - 20% 21% 19% 13%
brasileiros
Mulatos - 10% 19% 34% 42%
Brancos - 5% 10% 17% 24%
brasileiros
Europeus 30% 25% 22% 14% 17%

272
A capacidade de adaptação lingüística entre os negros do Brasil é
expressa também numa carta de 1759 do governador do Estado do Maranhão
e Grão-Pará, na qual se pronuncia sobre a língua geral em Belém: “[...] foy
over debaixo daminha janella dous Negros dos que proximamente seestão
introduzindo da Costra da Africa, fallando desembaraçadamente a sobredita
Lingua enão comprehendendo nada da Portugueza” (cf. Ferreira Reis 1958:
497).
216

Índios 50% 10% 8% 4% 2%


integrados
(Composição étnica da população brasileira, 1538-1890;
cf. Mussa 1991, apud Lucchesi 1999: 79)

A apresentação de Mussa (1991) a respeito da composição da popula-


ção no Brasil entre 1538 e 1890 possibilita felizmente uma separação
dos diferentes grupos. Assim, constituia-se, no século XVII somente a
metade da população negra de africanos. Os outros negros eram
“negros brasileiros” e “mulatos” nascidos no país. Se reunirmos esse
grupo de negros crioulos com os brancos, seguindo a perspectiva
lingüística, ambos representam 60% da população total. O grupo de
africanos forma, em contrapartida, uma minoria de 30%, cuja
porcentagem, no século XVIII, caía para 20%. Mesmo se reunirmos
os africanos com o grupo menos adaptado lingüisticamente dos índios
integrados, ambos atingem, segundo os números de Mussa, no século
XVII, não mais do que 40% e, no século XVIII, somente 28% da
população total. Essas relações são muito distanciadas dos pressu-
postos acima descritos para uma crioulização.
Até a segunda metade do século XVIII, não há nem dados precisos
das características do português no Brasil, nem testemunhos sub-
stanciais da língua popular ou da língua de grupos específicos ou de
negros em situação propícia à crioulização. Os documentos decisivos
do tráfico de escravos foram destruídos, por um decreto oficial de
1891. Os poucos documentos da realidade lingüística do Brasil
durante os primeiros séculos deixam campo aberto para especulações
e, por conseguinte, para interpretações errôneas. Um exemplo disso
nos dá J. A. Castro relacionando a seguinte declaração do padre
jesuíta Antônio Vieira em seus “Sermões à Glorificação de São
Francisco Xavier”:
“Todas as nações do Oriente, de qualquer côr que sejam, fallam a
lingua portugueza, mas cada uma a seu modo, como no Brazil os
de Angola e os da terra: e Xavier, que fazia para que elles o
entendessem? Arremedava as suas linguagens com os proprios
assentos [sic], nunca mais eloquente, que quando nos tempos, nos
casos, nos generos, imitava os seus barbarismos [...]” (Vieira
1907-09: XIII, 168).
A declaração de Vieira sobre o missionário Francisco Xavier,
relacionada com a Ásia, não autoriza J. A. Castro (1986: 292), de
217

modo algum a concluir que “por isso, tornava-se o português, no


Brasil, meia língua, meia portuguesa e meio de todas as outras nações
que a pronunciavam a seu modo”, uma vez que Castro parafraseia o
contexto e o associa ao Brasil.273
Concernente ao Brasil, Vieira refere-se ao contato com os negros
chegados da África (“os de Angola”) e uma parte dos indígenas (“os
da terra”). A adequação de Francisco Xavier a um nível lingüístico
insuficiente de proficiência em português (na Ásia) corresponde a
uma forma corrente de garantia de comunicação. As peculiaridades
fonéticas no português dos indígenas brasileiros observadas em 1620
por Juan Sardina Mimoso (cf. 5.3), a saber, a substituição de /f/ > [p],
/l/ > [r] e /7/ > [j], e a queda dos /r/, /l/ finais ocorrem também numa
situação de contato lingüístico. Não podem ser equiparadas com
características do português em falantes com competência de língua
materna, como, por exemplo, nos mamelucos, cuja linguagem é muito
mais decisiva para a história do português brasileiro. Isso também se
deve também tomar em consideração, quando se fala dos paralelos
com a linguagem dos negros no teatro do século XVI.274 As
peculiaridades salientadas, são, sobretudo de aprendizado, as quais

273
O texto de Vieira diz, no contexto: “A lingua portugueza nas terras e
mares por onde o Santo [Francisco Xavier] andou, tem avesso e direito: o
direito é como nós a fallamos, e o avesso como a fallam os naturaes. E Xavier
para ser melhor entendido na doutrina que ensinava, não usava do direito da
lingua, senão do avesso. Aos canarins á canarina, aos malayos á malaya, aos
japões á japôa. [...] Mas perguntára eu ao Nuncio Apostolico, ou Padre Mestre
Francisco, onde aprendeu elle estas linguas, ou estas meias linguas? E’ certo
que não em Pariz, nem na sua Universidade da Sorbona, nem em Roma, nem
em Veneza, nem em Bolonha, nem em Lisboa. Mas tambem não ha duvida
que só as pôde aprender no Cenaculo de Jérusalem, onde o Espirito Santo
desceu não só em linguas de fogo, mas em linguas partidas: Apparuerunt
dispertitae linguae. E porque eram, ou foram, ou haviam de ser aquellas
linguas partidas? Tambem aqui é o novo commentador S. Francisco Xavier.
Eram linguas partidas, não só porque eram muitas linguas, senão porque eram
linguas e meias linguas: Dispertitae linguae: como as que elle arremedava.
Meias linguas, porque eram meio europeas, e meio indianas: meias linguas,
porque eram meio politicas, e meio barbaras: meias linguas, porque eram
meio portuguezas, e meio de todas as outras nações que as pronunciavam, ou
mastigavam a seu modo” (Vieira 1907-09: 168-169).
274
Para a linguagem dos negros em Gil Vicente, cf. Teyssier (1959: 227-
250).
218

servem, aliás, no teatro, para a tipificação e a estilização dos


personagens, bem como para a comicidade.
Do tempo dos primeiros ataques holandeses no Nordeste do Brasil,
no início do século XVII, existe um único testemunho que Frei
Vicente do Salvador, na História do Brasil, cita em 1627.275 Durante
um combate com os holandeses em Pernambuco, o escravo Bastião,
incentivou outros escravos, que queriam bater-se em retirada, com os
dizeres: “«Não retira, não, sipanta, sipanta».” Frei Vicente do
Salvador explica essa expressão com estas palavras:
“[...] querendo nisto dizer que não era tempo de retirar quando
brigavam já à espada, porque tinha experimentado dos holandeses
que não eram tão destros nesta arma como nas de fogo, e assim
vindo à espada tinha já o pleito por vencido” (História 1627: 370).
Silva Neto (1986: 69) e Barbosa Lima Sobrinho (1977: 28) citam esse
testemunho sem detalhar a forma sipanta. Da exposição de Frei
Vicente do Salvador deduz-se que sipanta tem o significado antônimo
de retira. Logo, sipanta é uma forma do verbo espantar ‘afugentar,
repelir, enxotar’ (Aurélio, s.v.). A exortação significa: ‘Não se
retirem, enxotem [o inimigo]’.
A dificuldade de uma interpretação desse significado deve ser
brevemente apresentada a seguir. Poder-se-ia tentar separar sipanta
em si e panta. O verbo pantar não é existente em português, contudo,
ocorre no crioulo de Cabo Verde como panta(r) no sentido corres-
pondente a ‘afugentar’ e como um dado de uso da linguagem
popular.276 A forma cabo-verdiana panta(r) corresponde, com a aférese
do es- (espantar), a uma tendência para a dissolução dos clusters con-
sonantais (sp-), servindo, assim, a uma simplificação da pronúncia.
Em sipanta, o encontro sp- foi resolvido por metátese ([isp] > [sip]).
Nos Cantos Populares brasileiros está testemunhado uma dissolução
semelhante, por meio de epêntese: flor > fulô (Romero 1897: 203).
Todo o restante do ambiente lingüístico permanece desconhecido.
Não é possível avaliar de onde veio Bastião e qual era o conhecimento
de português de que ele dispunha. Como explicação para “não retira,

275
As primeiras investidas holandesas sobre o Nordeste do Brasil foram
efetuadas em 1624-25 e tiveram, como conseqüência, a conquista passageira
de Salvador.
276
“Pantâ(r S.T. [S. Tiago] pop. (espantar) enxotar (animais), afuguentar
[sic]: pánta galinha; V. espantar” (cf. Rodrigues Fernandes s.a., s.v.).
219

não, sipanta, sipanta” apresentaram-se as seguintes hipóteses: (1) um


imperativo negativo na forma indicativa, típica da língua falada no
Brasil ou (2) uma forma verbal crioulizada (retirá), oxítona, como
exigida pelos infinitivos, com a queda do /r/ final. Além disso,
aparece a negação repetitiva (não retira não) da língua coloquial – e,
às vezes, atribuída a uma influência africana.
A fala de Bastião seria, portanto, usada, na mesma medida, pelos
defensores e pelos opositores da tese da crioulização, assim como
pelos que atribuem uma influência africana generalizada no português
brasileiro. Face à possibilidade de uma metátese associada a um
africanismo ou à língua popular (espanta > sipanta), a existência da
forma crioula cabo-verdiana panta(r) não permite uma única inter-
pretação, com respeito à proveniência crioula. O testemunho de
Nieuhof, de 1646, “Enforca os cachorros traidores” e o uso atual
“Lincha, lincha!” (cf. 5.3) falam a favor de um imperativo no singular.
O comentário de Frei Vicente do Salvador alude, ao fim e ao cabo, à
motivação da ação, mas não à forma lingüística, a qual lhe parecia,
evidentemente, desnecessário esclarecer. Outros testemunhos diretos
da fala dos negros no Brasil não são conhecidos antes do final do
século XVIII (cf. 5.5.1).
Deve-se ao navegante francês Le Gentil de la Barbinais uma
declaração metalingüística, quando esteve, no Natal de 1714 em
Salvador e assistiu à missa do galo, a convite do governador geral:
“[...] une Religieuse se leva, & s’étant gravement assise dans un
Fauteuil, elle fit un long discours à l’Assemblée en Portugais
corrompu, tel que le parlent les Esclaves. Ce discours étoit un recit
satirique des intrigues galantes des Officiers de la Cour du Viceroi.
Elle désigna la Maîtresse d’un chacun, & fit un détail de ses
bonnes & mauvaises qualitez” (Le Gentil de la Barbinais 1728:
150).277
Essa descrição só pode ser classificada com dificuldade, visto que não
é conhecido se Le Gentil sequer tinha conhecimentos de português.

277
“[...] levantou-se uma religiosa dirigindo-se a uma cadeira de espaldar
alto, iniciou, circunspecta, um longo discurso em português corrompido,
como falavam os negros. [...] O discurso da madre era uma Sátira das intrigas
galantes dos oficiais da corte do vice-rei. Cada qual teve nomeada e [sic] sua
amante, relatando-se as suas boas e más qualidades” (paráfrase de Le Gentil
de la Barbinais 1728: 150, apud Nascimento 1994: 143).
220

Mesmo que a citada freira se tivesse valido da forma lingüística de


escravos africanos, no tal contexto satírico, não se afirma nada sobre a
sua estrutura e disseminação. Em outro contexto de sua apresentação,
Le Gentil tece duras críticas aos costumes do país que parecem
corrompidos como a referida língua (“Les mœurs sont corrompues
dans ce Pays”; 1728: 146), de modo que também seu juízo lingüístico
poderia representar parte de uma rejeição in limine.
Entre os séculos XVI e XIX, formaram-se, no Brasil, inúmeros
assentamentos de escravos fugidos que eram conhecidos como
quilombos e mocambos (cf. Reis/Santos Gomes 1998). Muitas dessas
colônias permaneciam apenas alguns anos, antes de serem destruídas.
Contudo, há hoje no Brasil, ainda, 511 comunidades em 22 Estados
que proviriam de antigos quilombos (Veja, 20/5/1998: 80). Não
existem, porém, testemunhos lingüísticos dos quilombos, que
poderiam dar valiosas informações sobre crioulizações pontuais. Os
quilombos eram de especial interesse, nesse ponto, para uma criouli-
zação, dado que se compunham preponderantemente de fugitivos que
haviam sido trazidos há pouco tempo para o Brasil e não de negros
crioulos, que haviam nascido na terra (cf. Carneiro 1964: 27).
Carneiro cita, todavia, aquando da destruição do “quilombo do
Piolho” em 1795, que ficava ao norte de Vila Bela (MT): “[...] todos
falavam português com a mesma inteligência dos pretos de que
aprenderam” (1964: 79).
O mais conhecido quilombo foi o dos Palmares, situado no sul de
Pernambuco (hoje Alagoas), que teria sobrevivido, até sua destruição
em 1695, durante grande parte do século XVII (Kent 1965: 162). Um
testemunho supostamente metalingüístico relacionado com o idioma
falado em Palmares é trazido à luz por Barros dos Santos, apoiando-se
na Nova Lusitânia, História da Guerra Brasílica, de Francisco de
Brito Freyre (1675). Em tradução própria para o alemão, Barros dos
Santos “cita” sem indicação das páginas do texto português (1994:
166). Consultando-se, porém, a História da Guerra Brasílica (Brito
Freyre 1675), a suposta citação se configura, no entanto, como
inexistente. Nas Memórias da Justiça Brasileira encontramos a
correspondente passagem, que se relaciona com uma pouco definida
“carta ao rei” de Brito Freyre, que governou Pernambuco entre 1661 e
1664. Lá se fala supostamente dos moradores de Palmares: “falam
uma língua toda sua, às vezes parecendo da Guiné ou da Angola,
outras parecendo português e tupi, mas não é nenhuma dessas e sim
221

outra nova” (Carillo s.d.: 65, 77). Isso encontra uma certa correspon-
dência com o fato de os mucambos de Palmares possuirem nomes de
etimologia africana, tupi e portuguesa (Taddoni Petter 2006: 122).
Freitas, em Palmares (1984: 41-42), cita igualmente Brito Freyre, sem
indicar a fonte precisa. Numa obra posterior, ele dedicou um capítulo
à língua falada em Palmares que apresenta até a transcrição de uma
carta de Brito Freyre (Freitas 2004: 68-76). Porém, esse texto também
não contém o trecho referido. Na carta, Brito Freyre relata que, depois
de uma campanha que causara a morte de muitos negros fugitivos,
mandou alguns “línguas” para persuadir os outros a deixarem as suas
moradias nos matos.278 O termo línguas indica que se mandaram
intérpretes, mas não sabemos se deviam traduzir um crioulo ou uma
língua africana. Levando em conta o surgimento da Arte da Língua de
Angola, uma gramática do quimbundo de Pedro Dias, no final daquele
século, a versão africana parece mais provável.
No século XIX, há declarações – extraídas da literatura de viagem
– de europeus proficientes na língua, que depõem, de modo geral,
contra uma crioulização do português. Assim, registra o oficial
alemão Schlichthorst, que esteve a serviço do imperador brasileiro, de
1824 a 1826, em sua obra Rio de Janeiro, wie es ist (‘O Rio de
Janeiro como é’):
“Uebrigens lernen fast alle Neger mit großer Leichtigkeit Portu-
giesisch; in drei Monaten koennen sie sich in der Regel noth-
duerftig verstaendlich machen” (Schlichthorst 1829: 180).279
No mesmo sentido de Schlichthorst, expressa-se também o oficial
Carl Seidler em Zehn Jahre in Brasilien (‘Dez anos no Brasil’):
“Denn anfangs liegt den ersteren fast gar nichts zu thun ob, indem
man sich nur bemueht, ihnen die portugiesische Sprache beizu-

278
“[...] procurei então os outros de reduzi-los com indústria e suavidade
para arrancar as raízes dos males que se padecem há tantos anos, mandando
lançar nos seus mocambos algumas línguas para os persuadir a que baixassem
e se reduzissem (como já se havia reduzido a Nação dos Tapuias) a viver
junto a nós em sítios assinalados” (Freitas 2004: 72).
279
“Aliás, quase todos os negros aprendem o português com grande
facilidade; em três meses podem, via de regra, fazer-se entender sofrivel-
mente” (trad. de Schlichthorst 1829: 180).
222
bringen, die sie in der Regel auch sehr schnell lernen, [...]”
(Seidler 1835: 123).280
Um quadro ainda mais claro das relações registra o inglês Henry
Koster. Como arrendatário de uma fazenda em Jaguaribe (Pernam-
buco), Koster viveu, de 1809 a 1820, numa região que era
antigamente centro canavieiro e que ainda hoje se destaca por um alto
número de população negra. Sobre os escravos diz:
“The Portugueze language is spoken by all the slaves, and their
own dialects are allowed to lay dormant until they are by many of
them quite forgotton. No compulsion is resorted to to [sic] make
them embrace the habits of their masters, but their ideas are
insensibly led to imitate and adopt them” (Koster 1816: 411).
Koster, filho de um comerciante de açúcar, havia nascido em Portugal
e, por isso, era familiarizado da melhor maneira com a língua.281 Fala
de uma disseminação generalizada do português entre os escravos e
sublinha a pouca importância das línguas africanas (“their own
dialects”). Nesse contexto, salienta também a tendência óbvia na
população escrava de querer aceitar os hábitos de seus senhores.
Parece lógico que essa adaptação, assim como o domínio da língua
lhes traziam vantagens. É especialmente elucidativa a especificação de
Koster com respeito aos conhecimentos lingüísticos dos negros
nascidos no Brasil (“creole negroes”), em comparação direta com os
indígenas:
“The Indians seldom if ever speak Portugueze so well as the
generality of the creole negroes” (Koster 1816: 122).282
A afirmação não deixa dúvidas de que os negros nascidos em
Pernambuco, no primeiro quartel do século XIX, falavam em sua
totalidade, um português genuíno. Koster não fala de formas

280
“Pois, inicialmente não cumpre aos primeiros fazer nada enquanto
somente se esforça a ensinar-lhes português, o qual geralmente aprendem
muito rapidamente” (trad. de Seidler 1835: 123).
281
No prefácio do Travels, escreve desculpando-se de possíveis insufi-
ciências de seu relato de viagem, redigido em inglês: “[...] the idiom of a
foreign language [Portuguese] is perhaps more familiar to me than that of my
own” (Koster 1816, V).
282
“Os índios raramente, se não jamais, falam tão bem português, quanto
a totalidade dos negros crioulos” (trad. de Koster 1816: 122).
223

lingüísticas crioulas autóctones. As suas observações são de especial


importância, uma vez que não se referem a um meio urbano, mas ao
ambiente rural da economia fazendeira. Koster tinha viajado a região
rural do Nordeste e conhecia muito bem as circunstâncias.
Nesse contexto, é interessante também a carta redigida por uma
escrava da região do Piauí em 1770, que representa uma prova
impressionante da capacidade lingüística e da formação da autora (cf.
5.5.1). Nela se observam algumas características fonéticas do
português brasileiro, mas nenhum tipo de erro de concordância. Nem
ao menos o pronome sujeito aparece enfatizado.
No começo do século XIX, os Estados Unidos e a Inglaterra
esforçaram-se para proibir o tráfico de escravos. Apesar disso, mais
escravos (“peças”) foram comprados pelo Brasil na primeira metade
desse século, do que em qualquer outro momento.283 O fato de que os
escravos recém-chegados se adequavam, em parte, com dificuldade ao
novo ambiente lingüístico deve ser visto como pontual. Em 1860,
Avé-Lallemant relatava, do sul da Bahia, onde se deparava com um
grupo de negros, que provinham de um navio negreiro aprisionado e
falavam preferentemente em iorubá:
“Nur wenige Neger redeten verständlich portugiesisch. Unter sich
schwatzten sie mit großer Lebendigkeit und Leidenschaftlichkeit
ihre Nagósprache [...]” (Avé-Lallemant 1860: I, 151).284
Para o desenvolvimento geral do português no Brasil, esses recém-
chegados tardios não desempenham nenhum papel preponderante,
visto que também eles permaneceram na sua maioria em contato com
os negros crioulos. Gilberto Freyre cita, do Diário de Pernambuco, de
1858, o seguinte anúncio que diz respeito a um escravo angolano
fugido:
“Era Antônio angolano de “pés grossos”, mas falava tão bem o
português que se confundia com os pretos crioulos (D. P., 19-8-
58)” (Freyre 1979: 49).

283
No Brasil, o comércio de escravos foi interdito em 1831; em 1850, a
importação de escravos foi proibida. Em 1888, a escravidão foi definitiva-
mente abolida no Brasil (cf. Houaiss 1988: 68ss.).
284
“Somente alguns negros falavam compreensivelmente o português.
Entre si conversavam com grande vivacidade e paixão a sua língua nagô [...]”
(trad. de Avé-Lallemant 1860: I, 151).
224

Como os dizeres de Schlichthorst e de Seidler, que descrevem o


aprendizado sem problemas do português pelos negros, essa
afirmação confirma a capacidade de assimilação lingüística dos
recém-chegados e, além disso, as declarações de Koster, com respeito
ao português genuíno dos negros crioulos. Robert Walsh, capelão na
embaixada britânica do Rio de Janeiro de 1828 a 1829, relata que,
nessa época, havia um número já considerável de negros alforriados
(quase 600.000), que, às vezes, eram bem-sucedidos na sociedade.285
No âmbito do sincretismo, marcado sobretudo por idéias religiosas
herdadas e ainda hoje praticado por um certo número de afro-
brasileiros nos cultos do candomblé (de origem iorubá) e da umbanda
(de origem bantu), apontou-se para a língua dos assim chamado pretos
velhos. Enquanto Megenney (1991, 1992, 1997) se ocupa exclusiva-
mente com o vocabulário das cantigas correspondentes, Bonvini
(2000) fez um estudo baseado em gravações que detalha as particula-
ridades fonéticas e morfossintáticas. Remetendo à discussão acerca de
eventuais crioulizações antigas do português brasileiro, Bonvini atesta
traços crioulizantes na fala dos pretos velhos.
Na excelente introdução de seus Falares africanos na Bahia, Y.
Castro (2001) aporta dados decisivos para a classificação e o julga-
mento dessas formas lingüísticas. As expressões conhecidas como
língua-de-santo são de natureza ritual e dispõem a forma simbólica da
expressão como pano de fundo. Por meio delas, imagina-se entrar em
contato com as divindades. Isso pressupõe uma iniciação mais
detalhada e o conhecimento de um “complexo código de símbolos
(substâncias, folhas, frutos, raízes, etc.) e gestos, associados a um
repertório lingüístico específico das cerimônias” (Y. Castro 2001: 80).
Na África mesmo, aparecem nesse contexto, formas lingüísticas
híbridas, que se compõem de diversos dialetos e de elementos
arcaizantes (língua velha). O uso cultual pode conduzir à imitação de
sons de línguas estrangeiras, à criação de novas formas ou à
glossolalia, a fala extática em línguas estrangeiras, que é conhecida,
aliás, nas comunidades cristãs primitivas (2001: 88).

285
“These are, generally speaking, well-conducted and industrious
persons; and compose indiscriminately different orders of the community.
There are among them merchants, farmers, doctors, lawyers, priests, and
officers of different ranks” (Walsh 1830: II, 365).
225

Os pretos velhos aparecem como negros e negras idosos que


vivenciaram o tempo da escravidão. “Seu meio de falar é um portu-
guês rudimentar que, supostamente, teria sido o mesmo usado, a
princípio, pela escravaria, não se lhe atribuindo, portanto, origem
sobrenatural” (Y. Castro 2001: 89). Uma vez que a ligação com a
África tem uma importância especial pelas razões do culto, dá a
entender que a língua dos pretos velhos possivelmente provém de
formas fossilizadas da língua que os negros boçais usavam, como o
iorubá que, por exemplo, Avé-Lallemant mencionou na sua descrição
em 1860.

6.3 Estruturas e paralelos


O ponto de apoio mais adequado para uma possível crioulização do
português brasileiro se encontra, para os defensores dessa tese, nas
pesquisas de campo do Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFP). A
colônia de Helvécia descoberta por Silveira Ferreira em 1961, no sul
da Bahia, oferece, com suas peculiaridades lingüísticas, um material
interessante em relação aos mecanismos que podem atuar na formação
de uma língua crioula (cf. Silveira Ferreira 1984-85). Todavia, a
colônia fora fundada só em 1818 e se compunha, no ano de 1858, de
40 chácaras com 200 colonos, sobretudo suíços e alemães, bem como
2000 negros.286 Logo, não é de forma alguma representativa para as
circunstâncias brasileiras dos séculos XVI e XVII, nem como
ambiente lusófono, nem como exemplo da relação numérica entre
brancos e negros. Silveira Ferreira descreve suas investigações de
curto prazo em Helvécia da seguinte forma:
“A oportunidade que tivemos de conversar com o povo de
Helvécia foi escassa. A nossa curta permanência na vila permitiu-
nos um primeiro contacto à noite, no dia da chegada. Foram
contactos assistemáticos na porta da pensão onde estávamos
hospedados” (Silveira Ferreira 1984-85: 23).

286
“[…] 200 brancos, a maioria alemães e suíços, alguns franceses e
brasileiros, e 2000 negros […] Os últimos são, quase todos, nascidos e
educados na colônia. […] Todos estão batizados, educados como cristãos e
tratados bem. A maioria dos meninos é admitida no aprendizado de uma
profissão, as meninas são ensinadas em todos os trabalhos femininos.” (trad.
de Tölsner 1858: 3).
226

Como típico de Helvécia, Silveira Ferreira registrou (1984-85: 28-34)


as seguintes características que não se apresentam de forma exclusiva:
realização de -ão como [õ], ausência do artigo definido, confusão
entre o artigo masculino e feminino, realização do artigo indefinido
como [Uma], falta de concordância entre nome, pronome e adjetivo,
uso do verbo na terceira pessoa no lugar da primeira pessoa, três
exemplos para o uso do infinitivo no lugar da forma verbal conjugada
(sem o contexto).
Para a argumentação, no tocante à crioulização, é decisiva a
menção das faltas de concordância no sistema nominal e verbal, que
foram também tematizadas com relação à língua popular brasileira.
Pode-se, quando muito, suspeitar se a variedade de Helvécia é o
resultado de uma crioulização seguida de uma descrioulização, ainda
mais que já se haviam passado vinte anos até o parco material de 1961
ter sido publicado. Com isso, retirou-se consideravelmente a base para
a pesquisa no local.
Coloca-se a questão de saber até que ponto as características de
Helvécia e a estrutura da língua popular brasileira podem oferecer
pontos de apoio para a tese de uma antiga crioulização? Deve-se
lembrar aos defensores da tese da crioulização, no tratamento das
características lingüísticas, que sua argumentação sobre o primeiro
passo de uma comparação dos fenômenos não procede. Antes que
circunstâncias de dependência sejam atribuídas, as circunstâncias no
português e nas línguas românicas devem ser esclarecidas. As
possibilidades da lingüística histórico-comparativa nem sempre foram
esgotadas perante o julgamento de problemas no campo das línguas
crioulas e, às vezes, foram mesmo ignoradas.287 A seguir alguns
pontos devem ser tematizados.
Visto que a crioulização se liga à influência de populações
africanas, poder-se-ia deduzir, que a língua popular nos territórios
brasileiros mais fortemente influenciados pelos indígenas, como,
por exemplo, o interior de São Paulo, dispusesse de marcas distintas
daquelas das regiões de Pernambuco e Bahia, de cunho africano,
onde, depois do século XVI, já não havia nenhuma relação intensiva
com a população indígena. A língua popular brasileira, porém, é, em

287
Já em 1963, Révah publicou um artigo fundamental para a proble-
mática aqui tratada que apresenta as relações com a România.
227

contrapartida, diante da difusão de suas marcas relativamente homo-


gênea.288
Desse modo, a formação defectiva do plural, tida como remi-
niscência de uma antiga crioulização (as casa# branca#), apresenta-
se, no dialeto caipira de São Paulo, apesar de seu substrato indígena
(Amaral 1982: 70), da mesma forma que na região de Pernambuco,
onde havia muitos negros (Marroquim 1934: 103-105). Também no
Ceará ela se encontra (McKinney Jeroslow 1974: 56ss.), que, em
comparação com a Bahia e Pernambuco, ainda hoje apresenta uma
parcela pequena de população negra. Diante desse pano de fundo, é
difícil entender por que McKinney Jeroslow, na base de seu estudo
regional do Ceará (1974), publicou um artigo com o título “Creole
characteristics in rural Brazilian Portuguese” (1975), embora essa
parte do nordeste brasileiro não dispusesse de nenhum pressuposto
histórico para uma crioulização. Também no Rio Grande do Sul, que
somente foi colonizado no século XVIII e que quase não tinha contato
com populações africanas, o plural na língua popular é formado de
maneira análoga (cf. Ferreira Paes 1938: 409ss.). Finalmente, afirma-
se que a formação defectiva de plural no português brasileiro,
dependendo da situação, também ocorre com falantes cultos e,
portanto, é parte de um diassistema que não se deixa limitar às áreas
rurais de conservação (cf. M. Azevedo 1984).
A limitação da marca de plural nessa posição (as casa# branca#)
corresponde à redução de uma redundância morfológica. Também no
francês, o plural, por causas fonéticas, é com freqüência reconhecível
só no artigo anteposto. Enquanto, nas línguas crioulas de base
portuguesa, em regra, se forma o plural por meio de um numeral, um
coletivo ou um adjetivo quantificador (cf. Veiga 1995: 139), a
formação flexionada de plural na língua popular brasileira não
corresponde a nenhuma estrutura crioula. Contudo, a falta de paralelos
reconhecíveis é interpretada como o resultado de uma descrioulização
hipotética sob a influência do português.
Partindo do princípio de que as línguas crioulas atlânticas se
formaram no século XVII, seria preciso responsabilizar, nessa
perspectiva crioulística, sobretudo as línguas bantu pela queda da
concordância na marcação do plural do português brasileiro. As

288
Cf. Révah (1959: 277): “Ce qui frappe lorsqu’on examine l’ensemble
des parlers populaires brésiliens, c’est leur remarquable unité [...]”.
228

línguas bantu formam o plural, contudo, por meio de prefixos de


classe concordantes. Um exemplo do swahili, língua da África
oriental, que também é falada no norte de Moçambique, esclarece
isso: miti mirefu minne ‘quatro árvores altas’ (mti ‘arvore’, miti
‘arvores’, -refu ‘alto’, -nne ‘quatro’). Este princípio vale também para
as línguas quimbundo e umbundo disseminadas em Angola.289 De
fato, as línguas bantu mostram uma concordância mais marcada do
que as românicas.
Para defender a tese da crioulização, as línguas kwa (ewe e iorubá)
seriam, em princípio, mais adequadas como línguas de referência,
com sua tendência isolante. No Brasil, porém, isso não está conforme
a cronologia dos fatos, pois um considerável afluxo de escravos das
regiões africanas onde se falam essas línguas ocorreu somente no
século XVIII e, no caso do iorubá, somente por volta do fim desse
século. Relacionando com a formação do plural aqui discutida,
afirma-se que o ewe, para essa finalidade, pospõe o pronome pessoal
da terceira pessoa do plural wo como conexão fraca (atí ‘árvore’, pl.
atíwo). Se o substantivo se determina contextualmente por um
adjetivo que lhe segue (didi ‘longo’), a marca de plural aparece depois
dessa especificação (atí didiwó; Westermann 1945-46: 7). Com a
marcação do plural na última posição, o ewe se encontra em oposição
diametral ao português brasileiro, que realiza o plural, em sua língua
popular, na primeira posição. No iorubá, em contrapartida, a formação
do plural se dá pela anteposição do pronome awọn (awọn igi
‘árvores’). Quando se adiciona um adjetivo (giga ‘alto’), o pronome
não se realiza e o plural é feito pela reduplicação do adjetivo posposto
(igi giga giga; Delanọ 1964: 61). Também aqui não se reconhece
nenhum elo de ligação entre estruturas africanas e brasileiras.
Refere-se amiúde ao paradigma verbal, como um outro argumento
central para a tese da crioulização. Ao contrário da forma crioula que,
em regra, provém do infinitivo oxítono (falá), a língua popular
brasileira da zona rural generaliza amplamente a forma da terceira
pessoa do singular. Isso pode ser fundamentado estruturalmente. A

289
Quimbundo: “É importantíssimo aprender bem esta parte; porque tanto
os nomes como os verbos e os adjectivos devem concordar com o nome a que
se referem.” (Chatelain 1964: 10). Umbundo: “Os adjectivos, quando apostos
a um substantivo, seguem as regras gerais de concordância, antepondo ao
radical do adjectivo o concordante correspondente ao classificador do
substantivo que qualifica” (Valente 1964: 116).
229

ampliação, iniciada no século XVII, do uso de você no tratamento


familiar causou a coincidência formal das segunda e terceiras pessoas
do singular (você fala, tu fala). Em seguida, também a primeira pessoa
do plural nós foi afetada devido à interferência de a gente (a gente
fala, nós fala).290 A segunda pessoa do plural caiu de uso, como no
português europeu. A terceira pessoa do plural sofreu, na língua
popular brasileira, uma desnasalização (eles falam ['falÄÙ] > ['falu],
['fala]), que, como fenômeno fonético geral, não é limitada ao sistema
verbal e, além disso, é atestada também no português europeu
(cf. 7.1.1.6). Esses desenvolvimentos conduzem a um nivelamento
análogo das formas que, por fim, podem até mesmo submeter a
primeira pessoa do singular (eu fala).
Em português coincidem, aliás, numa parte da conjugação, a
primeira pessoa do singular com a terceira pessoa do singular (p. ex.,
pretérito imperfeito, subjuntivo). Também aqui é possível a compa-
ração com o francês, que, nos verbos regulares, na língua coloquial,
ainda conhece foneticamente, de modo geral, somente uma oposição
paradigmática (je, tu, il/elle, on (nous), ils/elles [paRl] vs. vous
[paR’le]).
Naro e Scherre apontam para o fato de que no substandard do
português europeu também se vêem exemplos de coincidência entre a
primeira e a terceira pessoa do singular no presente e no pretérito
perfeito do modo indicativo (eu foi; eu teve), bem como exemplos de
concordância faltante entre sujeito e predicado em número (era duas,
três sardinha; pescadas e linguado nunca lá faltou).291 Até mesmo
desvios no gênero (as raízes enterrado) e queda de preposições
(comprei (no) ano passado), que são ligados de forma especialmente
estreita a desenvolvimentos crioulos e que ocorrem em Helvécia, são
igualmente atestadas no substandard europeu.292 Embora esses
fenômenos não sejam freqüentes no português europeu, sua
ocorrência contraria a idéia de que sejam limitadas ao português
brasileiro. Além disso, uma perspectiva diacrônica se instaura.
Naro/Scherre verificaram em oito textos portugueses pré-clássicos

290
Cf. “— Ele fala e nós ouve. E depois? — Depois? Ele acaba, a gente
bate palmas” (Amado 1958, Gabriela, Cravo e Canela, 253).
291
Cf. Scherre/Naro (2001: 41), Naro/Scherre (2000: 240); Naro/Scherre
(2007: 91-95, 103-107, 156).
292
Cf. Scherre/Naro (2001: 41-42), Naro/Scherre (2007: 156).
230

mais de 200 faltas de concordância entre sujeito e predicado (Entom


os parentes ouve conselho; cf. 2000: 242).293
Callou (1998) comprova num estudo temporal entre os anos 60 e
90 que num povoamento afastado, de nome Mato Grosso, que fica,
como Helvécia, no interior da Bahia, também são registráveis faltas de
concordância de número no campo nominal e verbal, assim como de
gênero. A população do local compunha-se, até os anos 60, quase
exclusivamente de analfabetos, mas, ao contrário de Helvécia, tratava-
se de uma fundação puramente portuguesa, sem elemento africano.
Ao lado das contradições na distribuição diatópica das marcas no
Brasil e em Portugal, levanta-se, no contexto de Helvécia, também a
questão fundamental: por que não há hoje no Brasil nenhuma
população remanescente crioula? Devido ao tamanho do país e à vasta
possibilidade de isolamento rural seriam, sem dúvida, de esperar tais
populações restantes, aceitando-se a idéia de uma crioulização
difundida. Na Colômbia, encontra-se, ao sul de Cartagena, em
Palenque de San Basilio, um povoado fundado em um antigo
assentamento de escravos fugidos, que remonta ao século XVII.
Conservou sua língua crioula baseada no espanhol (palenquero) num
meio hispanófono até a atualidade,294 embora estivessem em situação
de diglossia, por causa dos contatos com os arredores, já no século
XVIII (cf. Bickerton/Escalante 1976: 255). O exemplo de San Basilio
ilustra não só que a falta de populações remanescentes crioulas no
Brasil depõe contra a crioulização, mas também relativiza a idéia de
uma descrioulização tida como natural.
Diante desse panorama, fica também inexplicado quando e em que
etapas um português crioulizado no Brasil deveria ter caminhado
rumo a uma gradual descrioulização, até a língua popular atual.
Precisamente na época decisiva dos séculos XVII e XVIII,
desenvolveu-se, em princípio, na população do Brasil, devido ao
comércio de escravos, uma proporção em desvantagem para os
brancos, o que deveria ter fomentado e conservado uma crioulização
existente. Pouco claro é, ademais, entender por meio de quais
situações o Brasil deveria ter sido descrioulizado em toda sua grande

293
Cf. Naro/Scherre (2000: 242), Naro/Scherre (2007: 152-155).
294
Cf. Bickerton/Escalante (1970: 256): “The last available population
figures are for 1953; the village then contained 1,486 persons, with some 742
natives residing outside it [...]”.
231

extensão. Embora o português seja hoje a língua oficial nas ilhas de


Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, a população dessas regiões
continua falando crioulo. Nem mesmo a influência dos meios
modernos de comunicação e o prestígio do português como língua de
cultura e elo de ligação com o Primeiro Mundo põem em risco a
existência do crioulo. Mesmo o francês, a língua românica que se
difundiu de forma mais conseqüente e mais eficiente em detrimento
dos dialetos e das línguas regionais, continua coexistindo com os
crioulos nos départements d’outre-mer de Guadalupe, Martinica,
Guiana e Reunião. Há descrioulização apenas no contexto do
continuum (no sentido de variação acroletal), em contato com a língua
francesa, que tem mais prestígio. A existência do crioulo em si não é
nem afetada, nem corre risco, por causa disso. Línguas crioulas são
línguas maternas e seu desaparecimento deve ser minuciosamente
fundamentado.
Diante dos paralelos que há na colonização dos territórios
espanhóis e portugueses da América, surpreende o fato de que, nas
regiões espanholas no continente americano, somente a crioulização
pontual de San Basilio seja significativa. Mesmo na clássica situação
insular das grandes Antilhas, exceto em suposições retrospectivas,
nenhuma língua crioula de base espanhola se formou. Seria também
preciso fundamentar contrastivamente uma suposta crioulização
brasileira, sob esse aspecto.
Numa perspectiva histórica, a questão de crioulizações pontuais
permanece como um campo de especulação. No entanto, uma extensa
crioulização pode ser excluída para o caso do Brasil. Nesse contexto,
é preciso recapitularmos o que foi afirmado:
(1) Não há testemunhos lingüísticos históricos para uma crioulização
do português brasileiro.
(2) O ambiente existente no Brasil contraria os pressupostos
necessários, em regra, para a formação de línguas crioulas, devido à
situação continental, relação populacional e difusão das línguas
africanas.
(3) O fator integrativo dos negros crioulos diferencia o Brasil de
maneira significativa das regiões genuinamente falantes de crioulo.
(4) As declarações da literatura de viagem do século XIX depõem
contra uma crioulização.
232
(5) Não há, no Brasil, nenhuma população remanescente de fala
crioula.
(6) Um assumido processo de descrioulização permanece pouco
transparente tanto do ponto de vista cronológico quanto com respeito
às razões para o completo desaparecimento do crioulo.
(7) A divulgação regional uniforme das características da língua
popular brasileira depõe contra uma crioulização.
(8) Na língua popular brasileira moderna não se reconhece nenhuma
estrutura relativa a seu sistema que seja claramente ligada a uma
antiga língua crioula.
A argumentação a favor de um crioulo baseia-se unicamente na
existência de estruturas consideradas simplificadoras na fala e
existentes, em certa medida, de forma paralela, nos crioulos e na
língua popular brasileira, formas essas que também podem ser
explicadas como imanentes à língua (cf. 6.5). No quadro da
problemática deve ser considerado, de mais a mais, que as línguas
crioulas de base portuguesa e a língua popular brasileira residem
sobre uma mesma base comum: trata-se do português falado nos
séculos XVI e XVII. Também se pode recorrer a essa circunstância
para a fundamentação de estruturas paralelas. É decisivo que a tese da
crioulização não pode sustentar-se sem a difusão em larga escala de
um crioulo. Núcleos isolados no quadro dos espaços colonizados
como Palmares formaram, do ponto de vista lingüístico, mundos
paralelos que sucumbiram sem que o legado de suas variedades fosse
conhecido ou sequer tivesse atuado influentemente, de alguma forma,
sobre a língua portuguesa.
Até o século XIX – e ainda depois, para certas parcelas da
população – a formação do português brasileiro apresenta-se quase
exclusivamente como um desenvolvimento da língua falada, sem
imprensa, sem grandes estabelecimentos de instrução, sem correção
normativa. Marroquim esboça a situação para as regiões do Nordeste
e, com isso, dá uma idéia de aspectos que desempenham um papel na
formação da língua popular rural:
“400 anos de abandono, sem assistência social de qualquer
natureza, fechados no isolamento de suas grótas e de sua
ignorancia, foram tempo suficiente para que os matutos
constituissem o seu linguajar, com carateristicas proprias e uma
gramatica consuetudinaria a que todos obedecem” (Marroquim
1934: 100).
233

A formação das línguas românicas testemunha já suficientemente


quais modificações fundamentais na estrutura lingüística podem ser
atuantes nessas circunstâncias.

6.4 Português e língua geral


Quando se encontram diversas variedades de uma língua, na
constituição de novas zonas lingüísticas – dado então o contexto
colonial da América Ibérica – chega-se, em regra, a uma nivelação de
certas características e à formação de uma koiné ou de várias koinai.
Pode-se concluir que o desenvolvimento de uma língua é determinado
estruturalmente sobretudo a partir dos falantes nativos dessa língua.
Dessa forma, variedades de aprendizes indígenas e dos recém-
chegados africanos da primeira geração que permaneciam em contato
com os europeus não têm um papel importante e não devem ser
utilizados como critério da evolução lingüística.
O contexto histórico permite que suponhamos, já nos primeiros
tempos, a co-existência de variedades do português no Brasil, que
interagiam de forma diferente. Partindo dos grupos da população,
trata-se de:
· o português dos mamelucos, descendentes da união dos brancos com
os índios.
· o português dos índios em contato com os colonos europeus.295
· o português dos descendentes dos escravos negros e dos mulatos,
nascidos da sua união com os brancos.
· o português dos recém-chegados da África na primeira geração
(negros boçais ® negros ladinos).
· o português da casa-grande e da senzala, o complexo fazendeiro
rural que cunhava a sociedade agrária colonial.296
· o português das populações urbanas.

295
Já Manuel da Nóbrega se deparou, aquando de sua chegada ao Brasil
em 1549, com índios que falavam o português (cf. Serafim Leite 1965: 216).
296
Cf. Casa-Grande e Senzala de Gilberto Freyre (1980, 11933).
Referimo-nos, neste contexto, explicitamente ao português e não a um
“dialeto das senzalas”, que Y. Castro (1980: 14-15) admite, nesse ambiente,
como uma “espécie de língua franca” formada sobre uma base bantu.
234
· o português dos colonos chegados de Portugal.297
O português dos descendentes mamelucos, bem como dos negros
crioulos (e dos mulatos), exceto aqueles que se encontravam no
isolamento dos quilombos, não devia ter apresentado nenhum
diferencial supra-regional específico do grupo, mas apenas marcas
regionais (e mais tarde também diastráticas). Esse aspecto pode ser,
portanto, particularmente importante, quando se trata de um grande
espaço geográfico, cujas regiões de colonização só se juntaram com o
tempo.
Os pontos de partida para a colonização do Brasil foram as zonas
litorâneas e arredores, o que teve também conseqüências iminentes
para a formação do português brasileiro. Ainda hoje, a densidade
demográfica diminui, a olhos vistos apenas a algumas centenas de
quilômetros em direção ao interior (cf. Almanaque Abril 1995: 581,
mapa).

Natal (1599)

Nordeste Filipéia (1585)


Igaraçu (1536)
Olinda (1537)

São Cristóvão (1590)


Leste
Salvador (1549)

Ilhéus (1536)
Santa Cruz (1536)
Porto Seguro (1535)

Vitória (1551)
Espírito Santo (1551)
Sul São Paulo (1558)
Rio de Janeiro (1565)
Itanhaém (1561) Santos (1545)
Cananéia São Vicente (1532) Fundações brasileiras
(1600) até 1600 (segundo A.
de Azevedo 1956: 13)

Já no ano de 1600 existiam as fundações de Natal, Filipéia de Nossa


Senhora das Neves (João Pessoa), Igaraçu, Olinda, São Cristóvão,
Salvador da Bahia de Todos os Santos, Santa Cruz (Santa Cruz

297
Outros grupos, como por exemplo, os colonos espanhóis, não
desempenham nesse contexto, em São Paulo, nenhum papel importante.
235

Cabrália), Porto Seguro, São Jorge dos Ilhéus, Nossa Senhora da


Vitória (Vitória), Espírito Santo (Vila Velha), São Sebastião do Rio
de Janeiro, Santos, São Vicente, São Paulo de Piratininga, Nossa
Senhora da Conceição de Itanhaém e São João Batista de Cananéia
(cf. Azevedo 1956: 12-14). No norte do Brasil foram fundadas, em
1612, São Luís (francesa até 1615) e, em 1616, Belém.
Como primeiros centros de colonização, formaram-se as capitanias
de Pernambuco, Bahia e São Vicente (São Paulo), depois as do Rio de
Janeiro e do Maranhão. A ligação entre as regiões afastadas se
realizava inicialmente por via marítima. Continuou-se a explorar a
terra a partir das regiões costeiras.
O centro de Pernambuco irradiou-se para Alagoas, Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará. No século XVII, os bandeirantes avançaram
de São Paulo para o Paraná, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais (Elia
1966). Essas expedições, no entanto, não conduziram diretamente à
difusão do português, uma vez que o objeto dos empreendimentos não
estava no povoamento (cf. 5.1.2). A ligação com o interior brasileiro
se dava principalmente na região entre Natal e Salvador, no Nordeste,
assim como em São Vicente, no Sudeste. Na Bahia e em Sergipe, a
criação de gado ampliou-se na área do Rio São Francisco, no sertão, e
a região foi, nos séculos XVII e XVIII, a mola-mestra das nascentes
ligações entre o norte e sul. O ciclo do gado foi um momento decisivo
para a integração do interior (interiorização) e a territorialização do
Brasil.298 Para estabelecer a ligação entre o Maranhão e a Bahia,
dependia-se da via terrestre pelo Piauí e Pernambuco, por causa das
correntes marítimas desfavoráveis.
No começo do século XVII, Ambrósio Fernandes Brandão incluiu
um comentário sobre a qualidade do português do Brasil em seus
Diálogos das Grandezas do Brasil (1618). Nessa obra, que se refere
às circunstâncias e à natureza do país, principalmente nas capitanias
de Pernambuco e da Paraíba, as afirmações de Brandônio, senhor de

298
“A maior significação, porém, do ciclo do gado, é a que lhe advém da
circunstância de ter proporcionado a ligação geográfica dos movimentos de
expansão partidos da Bahia e de São Vicente, de Pernambuco e do Maranhão.
Unidos, no Norte de Minas, no primeiro caso, no interior do Piauí ou do
Ceará, no segundo, por intermédio dos passadores de gado processou-se a
verdadeira união terreste do Sul, Centro, Leste e Nordeste” (Vianna 1980:
214-215).
236

engenho, depõem a favor de uma presença manifesta do português na


colônia daquela época:
Alviano: Tudo isso tenho bem enxergado nas pessoas com
quem conversei; demais que os acho a todos mui
bem falantes.
Brandônio: Assim é, porque já vos disse que o Brasil era
academia aonde se aprendia o bom falar. (Diálogos
1618: 214-215)
Na região do Amazonas, desenvolveu-se, em virtude da mestiçagem
da população, a língua geral, que se difundiu nos séculos XVII e
XVIII, em detrimento do português, a partir da região genuinamente
tupi do Pará em direção ao oeste. Uma carta do rei aos jesuítas de
Belém, datada de 1688, “ordenando-lhes o ensino da língua-geral
também aos filhos dos portuguêses” (Edelweiss 1969: 34), dá provas,
nessa formulação, de que o português era falado, naquela época, ao
menos em Belém.
O interesse pelos índios que os jesuítas testemunhavam resultava
da sua tarefa missionária, pois a catequese se realizava em língua
indígena, como nos territórios espanhóis da América (exceto nas
Antilhas). Os jesuítas mantiveram essa prática até o século XVIII. Por
meio da separação dos índios em aldeias (de repartição), buscavam
um certo isolamento dos nativos, os quais queriam proteger de
influências externas nocivas, ao mesmo tempo que sabiam que
estavam sob sua influência.
Para promover a exploração do norte do Brasil, que formava uma
unidade administrativa independente, de 1621 a 1775, com o nome de
Estado do Maranhão e Grão-Pará, foi precisa mão-de-obra local. Os
jesuítas atrapalhavam o desenvolvimento com suas aldeias indígenas e
eram, ademais, beneficiados com suas atividades. Dessa conjuntura é
que nasceu, por fim, o desejo de seu desemposse. Em 1720 havia, só
no Pará, 63 aldeias com mais de 54.000 índios (Bessa Freire 1983:
54). Os problemas se esboçavam já no decorrer do século XVII,
quando o povo do Maranhão se revoltara contra os plenos poderes dos
jesuítas e, em 1663, conseguiram a sua deposição temporária (Beozzo
1983: 95-96).
No começo do século XVIII, impôs-se a convicção no Brasil de
que seria útil para o progresso da colônia uma consolidação do
português no ensino, o qual continuava nas mãos dos jesuítas. Assim,
237

o governador geral João de Lencastro, em 1702, propôs ao rei que


fossem fundados dois seminários para moços e moças índias de quatro
a doze anos “com condição de que nos Seminarios se não havia de
fallar outra lingoa mais do que a Portugueza” (J. A. Castro 1986:
303). Outrora também se mostram esforços de se usar o português na
educação dos índios. Em 1722, Lisboa recomendava ao governador
do norte do Brasil a introdução de clérigos com bons conhecimentos
lingüísticos, os quais deveriam ensinar os índios em português:
“[...] se encomenda que os Missionários que houverem de pôr nas
Aldeias, sejam muito práticos na língua dos Índios, como fazem os
Padres da Companhia de Jesus; e ensinem aos mesmos Índios a
língua portuguesa (cf. Leite 1938-50: IV, 311).
Em 1727, o rei decretou numa carta ao governador do norte do Brasil
uma proibição da língua geral nas colônias e nas aldeias indígenas:
“[…] os índios que são da administração de suas Regiões sejam bem
instruídos na língua portuguesa [...]” (Bessa Freire 1983: 56). Esse
interdito, contudo, não pôde ser implementado.
Em 1750, os territórios portugueses no Pará e Rio Negro
(Amazonas), a oeste da Linha de Tordesilhas, foram oficialmente
reconhecidos no Tratado de Madri, segundo o princípio do uti
possidetis. Com isso, aumentou, no região setentrional do Brasil, a
necessidade de mão-de-obra, que continuava sendo ligada, no entanto,
às aldeias dos jesuítas. O desejo de proteger os índios, por um lado, e
as necessidades de satisfazer os colonos, por outro, foram, nos séculos
XVII e XVIII, pontos de partida da política indigenista contraditória
de Portugal. O objetivo da legislação era, em princípio, a intenção
declarada já na lei de 1609 de que todos os índios do Brasil, batizados
ou não, deveriam ser livres e remunerados de acordo com o trabalho
efetuado (Beozzo 1983: 94). Isso ia, na mesma medida, contra jesuítas
e colonos. No entanto, na realidade local, a retirada da guarda dos
jesuítas oferecia mais possibilidades para ataques contra os índios,
que por fim, quase não puderam ser punidos. Quando o Marquês de
Pombal, em meados do século XVIII, recebeu autorização de regência
absolutista, mandou nomear seu irmão Francisco Xavier de Mendonça
Furtado como governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará.
238

Mendonça Furtado pôs fim nos privilégios dos jesuítas e retirou-lhes


tanto os poderes temporais quanto os eclesiásticos.299
As medidas para a administração e a exploração do território
foram publicadas, em 1757, no Diretório dos Índios. Os dizeres de J.
H. Rodrigues, de que o Diretório “tinha como um dos seus principais
objetivos vulgarizar a língua portuguesa” (1985: 33), exageram a
importância do aspecto lingüístico. Apesar de referir-se à língua, o
Diretório é um manifesto econômico: somente três dos 95 artigos
tocam no assunto da língua e do ensino (§ 6, § 8, § 9). Para terminar
com o ensino jesuíta em língua geral e para civilizar os índios, o § 6
determina que o ensino das crianças deva ocorrer exclusivamente em
português. Nas aldeias, o uso do português também seria obrigatório
para todos os nativos que pudessem seguir uma instrução.300 O
Diretório foi confirmado, em 1758, pelo rei, aplicado em toda
extensão do Brasil e permaneceu em vigor por quatro décadas.301 Os

299
“Para Mendonça Furtado o mais desesperador era que, praticamente,
todo o comércio havia escorregado para as mãos dos religiosos [...]” (Beozzo
1983: 52).
300
“6 Sempre foi maxima inalteravelmente praticada em todas as
Naçoens, que conquistáraõ novos Dominios, introduzir logo nos Póvos
conquistados o seu proprio idiôma, por ser indisputavel, que este he hum dos
meios mais efficazes para desterrar dos Póvos rusticos a barbaridade dos seus
antigos costumes; e ter mostrado a experiencia, que ao mesmo passo, que se
introduz nelles o uso da Lingua do Principe, que os conquistou, se lhes radîca
tambem o affecto, a veneraçaõ, e a obediencia ao mesmo Principe.
Observando pois todas as Naçoens polîdas do Mundo este prudente, e sólido
systema, nesta Conquista se praticou tanto pelo contrário, que só cuidáraõ os
primeiros Conquistadores estabelecer nella o uso da Lingua, que chamaráõ
geral; invençaõ verdadeiramente abominavel, e diabólica, para que privados
os Indios de todos aquelles meios, que os podiaõ civilizar, permanecessem na
rustica, e barbara sujeiçaõ, em que até agora se conserváraõ. Para desterrar
este perniciosissimo abuso, será hum dos principáes cuidados dos Directores,
estabelecer nas suas respectivas Povoaçoens o uso da Lingua Portugueza, naõ
consentindo por modo algum, que os Meninos, e Meninas, que pertencerem às
Escólas, e todos aquelles Indios, que forem capazes de instrucçaõ nesta
materia, usem da Lingua propria das suas Naçoens, ou da chamada geral; mas
unicamente da Portugueza, na forma, que sua Magestade tem recõmendado
em repetidas ordens, que até agora se naõ observáraõ com total ruina
Espiritual, e temporal do Estado” (Almeida 1997, Apêndice, 3-4).
301
Após um atentado contra o rei, os jesuítas, tidos como os culpados,
tiveram de abandonar Portugal e suas possessões em 1759. Um desenrolar de
fatos análogo se realizou no reino colonial espanhol. Em 1767, os jesuítas
239

objetivos do Diretório, que, de fato, só tiveram uma importância para


o Pará e para a Amazônia, fracassaram, contudo, com relação à
economia, à demografia e à política cultural. A substituição da língua
geral pelo português não foi, por fim, nenhuma conseqüência do
planejamento, mas ocorreu indiretamente, devido ao colapso da
atividade missionária (MacLachlan 1971-72: 360, 370).
Na região do Amazonas, o português divulgou-se depois do
Tratado de Madri (1750), no entanto, de maneira bastante lenta,
suplantando a língua geral amazônica, que a precedera nos séculos
XVII e XVIII.302 O botânico inglês Alfred Wallace, que tinha viajado
pela Amazônia de 1848 a 1852, declarou:
“Os [índios] que atualmente vivem na cidade do Pará e em todos
os demais trechos do baixo Amazonas já estão há muito civili-
zados. Tendo esquecido a língua de seus antepassados, hoje falam
o português e são conhecidos pela denominação de tapuias [...]”
(1979: 291).
Em virtude da lusitanização, alguns topônimos indígenas foram
substituídos (p. ex., de Tapajós para Santarém; de Pauxis para
Óbidos). Na Amazônia foram decisivos também, para tal, 500.000
colonos do árido Nordeste brasileiro, que imigraram para lá durante o
ciclo da borracha entre 1872 e 1910 (Bessa Freire 1983: 70).
No Maranhão, que com São Luís já no século XVII era um centro
de colonização, o português era arraigado há mais tempo, como
afirma Frei Francisco dos Prazeres, por volta de 1819, na Poranduba
Maranhense:
“Prezentemente a lingua corrente no paiz é a portugueza; os
instruidos a falam muito bem; porem entre os rusticos ainda corre

foram expulsos da América espanhola e o espanhol foi ali determinado, por


meio da Cédula de Aranjuez, em 1770, como a língua única (Rosenblat 1964:
209).
302
Sobre a divulgação da língua geral amazônica, Silva Araújo e
Amazonas afirmou, em 1852: “He a universal interprete em toda a Provincia
do Pará. Falla-a toda a nação indigena, que se relaciona nas Povoações. Nas
Cidades falla-se da porta da sala para dentro; e nas Villas e demais
Povoações, exceptuada Pauxis no Baixo Amazonas, he a unica, não por se
ignorar a portugueza, mas porque, constrangidos os Indigenas, os Mamelucos,
em falla-la pela dificuldade de formarem os tempos dos verbos, do que os
dispensa a geral, respondem por esta se se lhes pergunta por aquella” (1984:
104).
240
um certo dialecto (1), que, em quanto a mim, é o rezultado da
mistura das linguas das diversas nações, que têm abitado no
Maranhão: elles a falam com um certo metal de voz, que o faz
muito agradavel ao ouvido” (Prazeres c1819: 139-140).

A opinião, disseminada em parte na literatura especializada, de que a


língua geral ocupava um lugar central como meio de comunicação
entre os habitantes do Brasil até a promulgação do Diretório dos
Índios e da expulsão dos jesuítas,303 assim como a idéia de um amplo
uso da língua geral entre os negros,304 precisa ser avaliada regional-
mente de forma diferenciada em cada caso. Ora, a situação nas regiões
litorâneas era diferente da zona de influência da língua geral paulista
ou da língua geral amazônica. O fato de que, nas zonas litorâneas
centrais do Brasil, não se tenha formado nenhuma língua geral própria
é, nesse contexto, bastante significativo e depõe a favor da dissemina-
ção generalizada do português. Fora isso, a história da colonização
testemunha que nessas regiões, amplos trechos do litoral haviam sido
despovoados com relação aos nativos já no século XVI ou eles
haviam sido vítimas de epidemias (cf. Rodrigues 1996: 11-12). Os
escravos negros, que chegavam à terra, com o início do tráfico
comércio, quase não tinham, no final do século XVI, oportunidade de
travar contatos mais próximos com o tupi na Bahia. O mesmo vale
para o sul do Brasil.
Na região de São Paulo que era mais arraigada, de forma
autóctone, aos índios no interior e que serviu como ponto de partida
para as expedições dos bandeirantes, a situação era outra. A respeito
disso, testemunham as declarações de Antônio Vieira, datadas de
1694, sobre a importância da língua geral nas famílias, embora o
português, por volta do fim do século XVII, também estivesse aí
arraigado.305 Depreende-se da correspondência do governador Artur
303
Naro/Scherre partem de um “predomínio quase total da «língua geral»
– um pidgin ou koiné simplificado de origem tupi – até pelo menos o início
ou meados do século XVIII” (1993: 438). Sampaio fala, com respeito ao uso
do tupi e do português, de uma proporção entre falantes que até o início do
século XVIII atingia 3:1 na colônia (1987: 69).
304
Já em 1561 existe um documento mostrando que os negros queriam
falar português com os jesuítas (cf. Serafim Leite 1938-50: I, 479).
305
“[...] as famílias dos portugueses, e índios em São Paulo estão tão
ligadas hoje umas com as outras, que as mulheres e os filhos se criam mística
e domesticamente, e a língua, que nas ditas famílias se fala, é a dos índios, e a
241

Sá e Meneses, datada de 1698, que em São Paulo, falavam a língua


geral, preponderantemente, as mulheres e os empregados.306 Isso se
deve, entre outras coisas, ao fato de que as mulheres não participavam
do ensino de ler e escrever. A constituição do meio lingüístico se
torna clara quando se leva em conta que a oeste, o guarani, língua
aparentada com a língua geral, ainda hoje é a língua do povo no
Paraguai. Um outro dado específico permite a declaração do
governador Antônio Pais de Sande, que, em 1692, apontou para o fato
de que as crianças aprendiam primeiramente a língua indígena e, só
depois, a portuguesa.307 Isso significa obviamente que, no final do
século XVII, o português em São Paulo também estava arraigado.
Testemunhos apontam para o fato de que o português era mais
disseminado entre os bandeirantes do que se costuma afirmar. Em
relação à importância da língua geral, apresenta-se uma carta do bispo
de Pernambuco, datada de 1697, na qual se caracteriza o bandeirante
Domingos Jorge Velho também do ponto de vista lingüístico.308 Esse
tinha destruído o Quilombo dos Palmares, no Nordeste do país, como
comandante de uma bandeira de São Paulo, a pedido do governo. A
declaração do bispo de que Domingos Jorge Velho seria comparável
com um selvagem e de que teria buscado a ajuda de um intérprete,
porque nem sequer conseguia falar adequadamente (“nem falar
sabe”), cria um contraste interessante, com relação à conduta de Jorge
Velho. O fato de o bandeirante – como cristão e apesar de seu
casamento – viver rodeado de sete supostas concubinas deve ter
ocasionado a caracterização drástica, em todos os pontos, feita pelo
bispo. Na verdade, Domingos Jorge Velho, evidentemente, não só

Portuguesa a vão os meninos aprender à escola [...]” (Vieira 1694, apud Silva
Neto 1986: 51).
306
“[...] a mayor parte daquella Gente se não explica em outro ydioma, e
principalmente o sexo feminino e todos os servos, e desta falta se experimenta
irreparavel perda, como hoje se ve em São Paulo como o nouo Vigario que
veio provido naquella Igreja, o qual há mister quem o interprete” (Sá e
Meneses 1698, apud Buarque de Holanda 1996: 123-124).
307
“[...] os filhos primeiro sabem a língua do gentio do que a materna”
(Pais de Sande 1692, apud Buarque de Holanda 1996: 124).
308
“Este homem he hum dos mayores salvages com q.ẽ tenho topado:
quando se avistou comigo trouxe consigo Lingoa, porq.ẽ nem falar sabe, nem
se differença dos mais barbaro Tapuya, mais q.ẽ em dizer q.ẽ he Christão, e
não obstante o haverse cazado de pouco, lhe assistem sete Indias Concubinas,
e daqui se pode inferir, como procede no mais” (Ennes 1938: 353).
242

falava o português, mas também assinava documentos (cf. Buarque de


Holanda 1996: 126; Monteiro 1994: 164). Entre eles, encontra-se uma
carta dirigida ao rei e redigida de próprio punho, datada de 15 de
julho de 1694 (cf. Ennes 1938: 204-207).
As afirmações de Joaquim Ribeiro fornecem argumentos impor-
tantes a favor da divulgação do português entre os bandeirantes.
Conforme ele, a transmissão do vocabulário do século XVI no dialeto
caipira de São Paulo não teria sido possível se o português ali não
tivesse sido disseminado desde muito cedo (1946: 165ss.). Além
disso, não existem documentos redigidos pelos bandeirantes na língua
geral. Visto que se conhecem topônimos tupi em regiões que somente
poderiam ser espalhados por meio das investidas dos bandeirantes,
Chaves de Melo parte do fato de que os bandeirantes – que também
tinham índios genuínos em suas tropas – eram bilíngües (Chaves de
Melo 1971: 42, n. 12). Buarque de Holanda aponta para o fato de que
as alcunhas dos moradores de São Paulo no século XVII eram
cunhadas preponderantemente em língua indígena (p. ex., Gaspar Vaz
da Cunha, o Jaguaretê), as quais, durante o século XVIII desapare-
ceram quase completamente.309
Em 1828, o ilustrador viajante Hercules Florence afirmou, com
relação a São Paulo, que a língua geral lá ainda era falada, de forma
esporádica, somente na geração mais velha. Faria sessenta anos que
essa situação teria iniciado.310 O uso da língua geral retrocedeu,
portanto, em São Paulo, sobretudo na segunda metade do século
XVIII. O português também já estava divulgado nessa região, todavia,
nessa época, como vimos, há muito tempo.
No começo do século XVIII, as minas de ouro e diamante de
Minas Gerais desencadearam um forte afluxo de povoamento, o que
fez a população crescer, entre 1690 e 1790, de 300.000 para 3 milhões
de habitantes, os quais urbanizaram a região e a tornaram abastada
(ciclo do ouro). Pelo ciclo do ouro foram, na seqüência, também
atingidos Goiás e Mato Grosso (Elia 1966: 196). Nas regiões

309
Encontram-se também formações híbridas. Assim o governador
Antônio da Silva Caldeira Pimentel era chamado de Casacuçu (casaco + -çu <
tupi a’su, u’su ‘grande’), “porque trazia constantemente uma casaca com-
prida” (Buarque de Holanda 1996: 128).
310
“Em São Paulo, há sessenta anos, as senhoras conversavam nessa
língua, que era a da amizade e da intimidade doméstica. Ouvi-a ainda da bôca
de alguns velhos” (Florence 1948 [1828]: 281).
243

meridionais, foram explorados, no século XVIII, Santa Catarina e Rio


Grande do Sul, partindo-se do litoral. Até meados do século XVIII, as
regiões ocidentais desse território eram ainda sob influência
espanhola. A partir do segundo quarto do século XIX, a colonização
de amplas regiões do interior do Paraná, de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul se realizou com falantes, principalmente de alemão e
de italiano (Rodrigues 2006: 153).

6.5 A questão de certas influências indígenas e africanas no


português brasileiro
Independentemente da questão da crioulização, algumas caracterís-
ticas do português brasileiro e da língua popular brasileira (fora o
campo do léxico, cf. 3.3) foram atribuídas a uma influência externa.
Tratar-se-ia de supostas conseqüências do contato lingüístico com as
línguas indígenas (ind.) e africanas (afr.) e, na maior parte, associadas
a ambas.311 Nesse contexto, os seguintes critérios estão em primeiro
plano na discussão:
(1) a entoação brasileira (ind., afr.).
(2) a nasalização heterossilábica ([kÄ.ma]), em contraste com o portu-
guês europeu (ind., afr.).
(3) a desfonologização da língua popular de /7/ > /j/ (ind., afr.).
(4) a queda dos /r/ (ind., afr.), /l/ e /s/ finais (afr.).
(5) a neutralização da língua falada de /r/ e /l/ > /R/, por exemplo, em
final de sílaba (afr.).
(6) a africativização de /t/, /d/ diante de [i] > [tS], [dZ] (ind., afr.).
(7) a assimilação progressiva na língua falada de [nd] > [n] (ind., afr.).
(8) a africada [tS] para a grafia <ch> (ind.).

311
Influência indígena: Cf. Raimundo (1926), Sampaio (1931), Mendonça
(1936), Ayrosa (1938), Neiva (1940), Elia (1948), Silveira Bueno (1953),
Fernandes (1961), Silveira Bueno (1963a), Chaves de Melo (1971), Elia
(1979), Vázquez Cuesta/Mendes da Luz (1980), Silveira Bueno (1984), Robl
(1985), Silva Neto (1986), Sampaio (1987), Elia (1994). — Influência
africana: Cf. Mendonça (1936), Christie (1943), Chaves de Melo (1945),
Mendonça (1948), Silveira Bueno (1954), Chaves de Melo (1971), Elia
(1979), Y. Castro (1977, 1983a), Vázquez Cuesta/Mendes da Luz (1980),
Gärtner (1986), Silva Neto (1986), Ribeiro de Mello (1994), Gärtner (1996a,
1996b), Ribeiro de Mello (1997, 1999).
244
(9) a quebra generalizada de encontros consonantais (flor > fulô) (ind.,
afr.).
(10) a aférese (está > tá, você > cê) (afr.).
(11) o uso dos pronomes retos ele, ela como objeto direto (afr.).
(12) a regência em juntamente com verbos de deslocamento (afr.).
(13) o uso de tem impessoal no lugar de há (afr.).
(14) a negação repetida: não quero não (afr.).
Em princípio, todas as línguas têm uma tendência imanente à
mudança que foi denominado por Sapir como drift (port. deriva).
Uma tal mudança pode ser promovida ou provocada (trigger effect),
em casos particulares, por fatores externos como isolamento, contato
lingüístico e migração. No português brasileiro, não existe, porém,
nesses casos particulares, nenhuma prova substancial de mudança
lingüística condicionada por sistemas alheios. Quando Schlichthorst
afirmava, entre 1824 e 1826, com respeito à linguagem dos escravos
recém-chegados,
“Nur die Buchstaben st und r machen ihnen große Schwierigkei-
ten; ersteren sprechen sie wie t, letzteren wie l aus, z. B. ta bom
statt sta bom, dalé statt dareis. Dieselbe Schwierigkeit in der
Aussprache bemerkt man bei kleinen Kindern [...]” (Schlichthorst
1829: 180-181),312
poderia então comprovar uma tendência africana. O próprio Schlicht-
horst, contudo, relativiza a declaração, citando o caso da aquisição
lingüística e enfatiza, assim, por sua vez, a situação de aprendiz que
não deve ser equiparada com a competência de falantes maternos.
Quanto à apreciação dos paralelos, deve-se considerar, como na
discussão sobre a crioulização, antes de tudo, o fato de que a difusão
generalizada das características mencionadas (exceto a pronúncia
regional [tS] para a grafia <ch>) relativiza fortemente a possibilidade
de influências externas no espectro de variedades do português
brasileiro. Isso vale sobretudo para as características que ocorrem não
só na África, mas também nas línguas crioulas de base portuguesa da

312
“Somente as letras st e r lhes são de grande dificuldade; a primeira eles
pronunciam como t, a última como l, por exemplo, ta bom em vez de sta bom,
dalé em vez de dareis. A mesma dificuldade na pronúncia se percebe em
crianças pequenas [...]” (trad. de Schlichthorst 1829: 180-181).
245

Ásia e lá, portanto, não se pode atribuir nenhuma influência africana,


entre as quais se citam:
· a queda do /r/ final (→ 4.).
· o uso de ele, ela como pronome objeto (→ 11.).
· a regência em com verbos de deslocamento (→ 12.).
· o uso impessoal de tem no lugar de há (→ 13.).
Note-se que o substrato malaio do papiá kristang, crioulo de base
portuguesa, dispõe da /r/ final, até em sílaba tônica, como no
infinitivo português (p. ex., keluạr ‘saída’). A queda do /r/ final é
atestado, no entanto, no português europeu regional e coloquial em
situação pré-consonantal (cf. 7.1.2.3). Ademais, a aspiração brasileira
de /r/ [x h] comprova que existe também uma fase intermediária da
evolução. O uso de ele, ela como acusativo é documentado no
português europeu do século XV (cf. 7.2.2), o uso de em com verbos
de deslocamento é testemunhado no português do século XVI (cf.
7.2.3). Tem, por sua vez, não representa, no português brasileiro, a
única substituição para há (→ faz; cf. 7.2.3). Fora isso, Scherre/Naro
(2001: 43) documentaram, entre outras coisas, o uso do pronome reto
ele, ela como objeto direto, a regência em com verbos de
deslocamento e o uso impessoal de tem no lugar de há também no
substandard europeu do século XX.
Também para as demais características surgem restrições defini-
tivas para a possibilidade de uma afiliação indígena ou africana:
· Quanto ao julgamento da questão da entoação (→ 1.), falta qualquer
tipo de fundamentação.
· A nasalização heterossilábica conservada no português brasileiro
(→ 2.) foi característica do português até o século XVII e, além disso,
ainda era amplamente divulgada em Portugal no começo do século
XX (Leite de Vasconcellos 1987: 75). Em quimbundo, não se nasaliza
uma vogal antes de [m n] (Chatelain 1964: XXIII). O iorubá conhece
vogais nasais e o alófono [ã], o que, porém, ocorre somente em formas
contratas, como conseqüência de assimilação progressiva (Bamgboṣe
1966: 7-8), ao contrário da assimilação regressiva do português
brasileiro [kÄma]. Em tupi, em contrapartida, a nasalização regressiva
ocorre.
246
· A desfonologização de /7/ > /j/ (→ 3.) aparece também no nordeste
de Portugal (cf. 7.1.2.5), faz parte da evolução do francês e é ampla-
mente divulgada no espanhol, sobretudo no espanhol americano.313
· Quanto à queda dos /r/, /l/ e /s/ finais (→ 4.), é possível apontar
circunstâncias lingüísticas análogas no espectro de variedades do
espanhol meridional. Além disso, a perda do /r/ final aparece também
em dialetos portugueses do norte, do centro e do sul (cf. 7.1.2.4;
Naro/Scherre 2007: 122).
· Quanto à neutralização de /r/ e /l/ > /R/ em posição pré-consonantal
(→ 5.), é possível apontar circunstâncias análogas no noroeste de
Portugal (Minho) (cf. 7.1.2.4). Visto que o tupi não conhece o /l/, a
substituição por [r] seria uma conseqüência natural, não fosse o fato
de um grupo consonantal com [l] não corresponder à estrutura
fonológica do tupi. No Vocabulário Português-Brasílico publicado em
1700 aparece arapineta proveniente do português alfinete (J. A.
Castro 1984: 362), o que evidencia a ruptura do encontro [rp] > [rap]
ao lado da substituição do /l/ e do /f/. A afiliação africana abriga
contradições, pois deve ser responsável pela neutralização no espanhol
do Caribe, embora o resultado lá seja /L/ (e não /R/) e ocorra muito
mais freqüentemente do que no português brasileiro.
· A africativização de /t/ e /d/ > [tS], [dZ] (→ 6.) foi explicado pela
influência africana (Ribeiro de Mello 1999: 169), já que o crioulo de
São Tomé e Príncipe (ao contrário de outros crioulos de base portu-
guesa) apresenta essa africativização. Evidentemente, Ribeiro de
Mello não levou em consideração que a africativização não ocorre em
amplos territórios do Nordeste brasileiro, fortemente marcados pela
presença africana (cf. 3.1.2.2).
· O desenvolvimento de [nd] > [n] (→ 7.) é uma fenômeno de
assimilação difundido, também conhecido de dialetos portugueses (cf.
Naro/Scherre 2007: 122) e do italiano meridional, que mostra diversas
afinidades com as línguas ibero-românicas (cf. Rohlfs 1949-54:
§ 253). No tupi, o d pré-nasalizado (nd) também é realizado como [n],
embora, por exemplo, mani'oka se tenha transformado em mandioca
no português. Considerando o fenômeno como africano, urge observar
que o d pré-nasalizado (nd) se ouve no inventário de sons das línguas
bantu e até mesmo as denominações das línguas bantu angolanas mais
faladas (kimbundu e umbundu) mostram esse encontro consonantal

313
No espanhol americano, tanto a desfonologização de /7/, quanto a
manutenção do fonema no Paraguai foram associadas a influências indígenas.
247
que seus falantes teriam, supostamente, assimilado no português
brasileiro.
· A africada [tS], correspondente à grafia <ch> (→ 8.), se apresenta
como um arcaísmo que foi conservado também no norte de Portugal,
enquanto, no século XVII, se desenvolveu para [S], no centro e no sul
daquele país.314 Visto que o tupi dispõe da fricativa [S] (grafada como
<x>), não haveria razão para uma substituição [S] > [tS]. Para
Rodrigues de Souza (2001: 53), a africada é um traço da “semi-
crioulização do português em Mato Grosso”, embora, até o século
XVII, [tS] correspondesse à pronúncia comum do português.
· A ruptura de encontros consonantais (flor > fulô) (→ 9.) também se
testemunha em Portugal (cf. 7.1.1.7). O surgimento do fenômeno no
século XX (táxi → ['takis]) depõe a favor de um desenvolvimento
imanente.
· A aférese (→ 10.) tem, no português brasileiro, pouca importância.
Uma afiliação africana das formas abreviadas tá e cê seria no mínimo
surpreendente no caso de cê, haja vista que as línguas crioulas de base
portuguesa usam bo, uma forma apocopada da mesma palavra.
Também a incomum queda da vogal inicial não se deixa generalizar
necessariamente como uma estrutura CV preferida das línguas
africanas. O ewe, por exemplo, tem um grande número de substantivos
com prefixo vocálico, correspondentes à estrutura VCCV (atsú
‘marido’; Westermann 1907: 48). A aférese existe também em dialetos
portugueses (cf. Naro/Scherre 2007: 123).
· A negação repetitiva (→ 14.) é um arcaísmo, que era usual no
português europeu, sem ênfase, até o século XVI (cf. 7.2.3). Além
disso, também não é possível fazer uma ligação aqui com as línguas
africanas. O quimbundo nega com a prefixação de ki e um sufixo, que
pode cair, no linguajar rural (Chatelain 1964: 51). O ewe junta a
partícula me antes e o depois do verbo (Westermann 1907: 73). O
iorubá antepõe diversas partículas, sendo que a dupla negação conduz
a uma afirmação (Delanọ 1965: 103). Em nenhum caso ocorre uma
circunfixação de idênticas partículas de negação, como é o caso do
português brasileiro (não quero não).
Os exemplos mostram de novo que a mera comparação estrutural não
serve para deduzir uma afiliação indígena ou africana. Isso vale,
sobretudo, quando se considera que a atribuição dupla dos elementos
indígenas e africanos parece quase arbitrária e intercambiável.

314
Cf. Teyssier (1984: 48, mapa; 53-54).
248

Todas as características do português brasileiro, com exceção do


léxico – ao qual se conferem influências indígenas e africanas –
podem ser explicadas, com relação a seu desenvolvimento, como
simplesmente portuguesas ou românicas. Apesar disso, uma influência
externa concorrente não se exclui, por fim, em casos particulares,
desde que possa ser fundamentada por testemunhos substanciais. Com
freqüência, a afiliação africana restringe-se, porém, somente a
explicações não-específicas.
Ocasionalmente, nos artigos de crioulística, refere-se ao princípio
da formação multicausal de estruturas (multiple causation), intro-
duzido terminologicamente por Malkiel (1967). Poder-se-ia também
falar de uma convergência de fatores particulares. A mudança
lingüística se apóia com freqüência em mais de uma causa. Isso não é
novo, pelo contrário, já foi a opinião de F. A. Coelho.315 É também o
fundamento da lingüística histórico-comparativa averiguar e ponderar,
todos os fatores, um frente ao outro, os quais, possivelmente, tenham
influenciado um desenvolvimento. Um problema igualmente reconhe-
cido por Coelho consiste, portanto, na ponderação dos fatores
particulares. Nesse ponto, a Crioulística tende, por sua vez, de
preferência, a favorecer a afiliação africana per se. A influência do
substrato tupi é hoje, por assim dizer, algo fora de moda.
De qualquer modo, em casos em que o desenvolvimento
lingüístico no Brasil equivale a formas arcaicas ou regionais do
português, a evolução interna permanece o fator mais plausível da
mudança. Não obstante, a queda das consoantes finais em português
popular (-r, -l), por exemplo, e a terminação silábica em vogal do tupi,
bem como das línguas africanas ficam no mesmo plano. Conclusões
mais precisas poderão, eventualmente, ser extraídas, em casos
particulares, somente de outras fontes da história da língua. A
afirmação de Silva Neto de que, “no português brasileiro não há,
positivamente, influência de línguas africanas ou ameríndias” (1986:
96), pode, assim, ser confirmada, na medida que nenhum

315
“[...] aparece a linguagem peculiar dos citadãos brasileiros, o dialecto
brasileiro, se assim se lhe quer chamar, o português alterado no Brasil pela
acção de causas tão complicadas como são a mistura étnica, o contacto com
línguas diversas que persistem ou desaparecem (como é o caso com os
dialectos do elemento negro da população), o clima, a distância da sede
originária, e ainda outras a cada uma das quais é na maior parte dos casos bem
difícil de atribuir o papel que lhe compete” (F. A. Coelho 1880-86: 160).
249

desenvolvimento do português brasileiro (afora o léxico e as


expressões idiomáticas) pode ser claramente classificado, segundo o
atual conhecimento dos fatos, como sendo de origem africana ou
indígena.
250

7. A formação das peculiaridades brasileiras em


comparação com o português europeu
Neste capítulo, as características do português brasileiro, tratadas
sincronicamente no capítulo 3, serão discutidas num contexto de
história lingüística e descritas, na medida do possível, em sua
formação. A partir daí, saem os pressupostos associados ao contexto
lingüístico para a periodização do português brasileiro, empreendida
no capítulo 8. A descrição da formação histórica das características se
dá com base nas suas fontes mais antigas (cap. 5) e com referência à
discussão sobre a crioulização (cf. 6.2, 6.3), bem como sobre as
supostas influências indígenas e africanas (cf. 6.5). Além disso, com
finalidade comparativa, circunstâncias diatópicas do português
europeu também são levadas em consideração. Como ampliação da
temática aqui tratada, o capítulo 9 acerca de arcaicidade, inovação e
regionalismo europeu no português brasileiro tratará da ordenação
dessas circunstâncias diatópicas e da relação diacrônica com o
português europeu.
Na apresentação das características com referência à formação do
português brasileiro no presente capítulo, segue-se a sistemática
numérica escolhida no capítulo 3, portanto, sem necessidade de
remeter cada vez aos parágrafos respectivos. Referências a outras
línguas românicas, apresentadas a fim de completar o quadro de
relações do português, servem apenas para ilustrar.

7.1 Fonética e fonologia316


7.1.1 Vocalismo
7.1.1.1 Vogais orais tônicas
A falta da oposição fonológica entre /a/ e /ä/ no português brasileiro e
a conseqüente concordância do presente com o pretérito perfeito na
primeira pessoa do plural da primeira conjugação remontam à
situação fônica do português do século XVI, que provavelmente

316
O desenvolvimento diacrônico da pronúncia no português europeu e
brasileiro é tratado por Hart (1955), Révah (1958), Hart (1959), Révah
(1959), Paiva Boléo (1960), Lourenço de Lima (1976), Lindley Cintra
(1983a), C. Cunha (1992), Noll (2006). A respeito do vocalismo, cf. Teyssier
(1966), Herculano de Carvalho (1962-63), Naro (1971).
251

reconhecia [a] e [ä] somente como alofones diante de nasal. Contudo,


João de Barros, marca o perfeito, já em 1540, com um acento agudo
(“Amámos”), o que, em princípio, correspondia ao assim chamado a
Grande, ou seja, a atual pronúncia [a] no português europeu
(Gramática 1540: 31). Apesar disso, Teyssier (1966: 143) e Azevedo
Maia (1986: 315) partem do fato de que a oposição etimologicamente
imotivada (cantamos vs. cantámos), válida somente na língua padrão
atual e para a zona central de Portugal, ainda não se havia
estabelecido no século XVI. Nos dialetos portugueses setentrionais,
ambas as formas se fundem em [a], ao passo que no sul, a pronúncia é
[ä].317
O fechamento brasileiro de /e/, /o/ diante de nasal é um
desenvolvimento que se completou supostamente por analogia com a
pronúncia fechada de /a/ nessa posição. Fernão de Oliveira
testemunha, em 1536, a realização de [ä] diante de nasal.318
A realização diferente de /e/ no português europeu (Lisboa,
Portugal central) e no brasileiro, diante de palatal ([7 ñ S Z]), é devida
a uma abertura vocálica no português europeu (PE [( ä ä äì] vs. PB
[e]) que, irradiou de Lisboa. Roquete tachava essas pronúncias ainda
como errôneas em 1845 na pronúncia de Lisboa; para Gonçalves
Viana, apresentavam-se, já em 1883, como freqüentes (cf. Teyssier
1984: 65).
A pronúncia com vogal tônica aberta de senhora (PB [si‘ñ)ra]),
que se diferencia da do português europeu (PE [sö‘ñorä]) é
testemunhada pelo padre Lopes Gama em 1842, oriundo de Recife, e
lá residente, em seu jornal satírico O Carapuceiro: “mas de senhor
formão senhóra com o bem aberto” (fac-símile apud M. Pessoa 1994:
78).319

317
Cf. Gonçalves Viana (1941: 49), Azevedo Maia (1986: 313-314).
318
“Temos A grande, como Almada, e a pequeno, como Alemanha”
(Gramática 1536: 48).
319
Trata-se do no 58 de 19 de outubro de 1842, que Marlos Pessoa (1994:
78-80) apresenta em fac-símile. Veja também a seleção de Cabral de Mello
(Lopes Gama 1996: 422-423), a antologia de Dalgado (que infelizmente não
inclui os testemunhos do no 58; Lopes Gama 1958) e a edição fac-similar do
Carapuceiro, que não tínhamos à disposição (Lopes Gama 1832-42).
252

7.1.1.2 Vogais orais pretônicas


A realização distinta das vogais orais em posição pretônica no
português europeu e brasileiro remonta ao desenvolvimento do
português europeu no século XVIII. Após a resolução dos hiatos
medievais, o português dispunha, no início do século XVI, de oito
vogais orais (/i e ( ä a ) o u/) na posição pretônica. O português
brasileiro simplificou esse sistema para cinco fonemas (/i e a o u/)
eliminando as vogais semi-abertas, de modo que /e/ e /o/ nas áreas
meridionais são articuladas de modo fechado. A abertura das
pretônicas /e/ [(], /o/ [)], existente no Norte e no Nordeste pode ser
vista como uma variante na diminuição do número de vogais
pretônicas para cinco fonemas ([i ( a ) u] vs. [i e a o u]). Dado que,
nessa área, se trata meramente de uma tendência para a abertura,
enquanto na região meridional, o fechamento se apresenta como
amplamente generalizado, a abertura das pretônicas parece ser a
evolução mais recente.
A diferença da qualidade vocálica pretônica entre português
europeu e brasileiro é comentada em 1767 por Monte Carmelo no
Compendio de Orthografia (cf. 5.4). No português europeu,
esboçava-se por volta do final do século XVII um desenvolvimento
que, na segunda metade do século XVIII, já estava completo,
reduzindo as pretônicas /e/, /a/, /o/ preponderantemente para [ö] (<e->
[i]), [ä], [u].320
A influência assimilatória da vogal pretônica pela tônica [i] no
português brasileiro corresponde a uma tendência românica. Dessa
forma, o lat. fēcī desenvolveu-se no português fiz (cf. esp. hice, fr. je
fis), antes da queda posterior da vogal metafonizante /i/. O alçamento
dos /e/, /o/ pretônicos em português brasileiro (menino [mi'ninu],
dormir [dux'mix]) segue essa tendência. Na Historia Naturalis
Brasiliae de 1648, o naturalista Markgraf cita a forma “Priguiza”,
com [i] pretônico, reflexo da língua falada, ao lado do nome indígena
desse animal.321 Além disso, encontram-se paralelos no sistema

320
Cf. Naro (1971), Teyssier (1984: 60-63). Uma gramática francesa do
português descreveu já em 1682 flutuações entre os [o] e [u] pretônicos em
cortar, as quais têm a ver com esse desenvolvimento. Note-se que, no Livro
da Nau Bretoa de 1511, já aparece a forma “purtugall” (Nau Bretoa 1511: 96;
cf. cap. 4.2).
321
“AI Brasiliensibus, Lusitanis Priguiza” (Markgraf/Piso 1848, p. 221).
253

fonológico do século XVI, no momento da implantação do português


no Brasil. Havia vacilações fundamentais com relação à realização das
pretônicas [e], [i] e [o], [u], que já ocorriam tanto no português
europeu quanto no espanhol antes do século XVI e só se estabilizaram
no século XVIII. Fernão de Oliveira apresenta titubeações com
respeito à pronúncia de dormir/durmir (dormir), somir/sumir (sumir)
e bolir/bulir (bulir) (Gramática 1536: 64), o que enfatiza a variação
metafônica na realização das vogais pretônicas.
O alçamento de [o] > [u] em contato com consoantes labiais
[p b f v m] apresenta um fenômeno assimilatório, produzindo – por
meio do traço labial comum – uma associação com a vogal [u], mais
fortemente arredondada. Ao mesmo tempo, leva-se em conta uma
menor diferença no grau de abertura entre as consoantes participantes
(grau de abertura 1 e 2) e o [u] fechado, face ao [o]. As circunstâncias
complexas nas vogais pretônicas do português brasileiro são um
indício para o desenvolvimento, determinado, em primeiro plano, pelo
uso lingüístico oral do português no Brasil.

7.1.1.3 Vogais orais postônicas


Analogamente às circunstâncias das vogais pretônicas, o português
brasileiro manteve a situação fonológica portuguesa do início do
século XVIII, com [e], [a] e, em parte, com [o], no que diz respeito às
vogais postônicas. Na segunda metade do século XVIII, o português
europeu reduziu as postônicas /e/ [ö] e /a/ [ä] (cf. 7.1.1.2).

7.1.1.4 Vogais orais finais átonas


Também com as vogais orais finais átonas, o português brasileiro
conserva o sistema fonológico do século XVIII com a realização de
/e/ [-i] e de /a/ [-a]. O /e/ final foi, em português, no século XVIII,
alçado para [-i]. A primeira indicação a respeito disso foi dada por
Caetano de Lima em 1734, na sua Grammatica italiana. Na segunda
metade do século XVIII, o português europeu transformou o /i/ final
em [-ö]. A realização [-ö] é testemunhada em 1769 (Teyssier 1984:
57-60). O fechamento do /a/ final [-ä] completou-se no português
europeu paralelamente. Nos dialetos portugueses meridionais
(alentejano), manteve-se o [-i] final ainda hoje de forma predominante
(cf. Kröll 1994: 550).
254

As variantes [-e], [-o] existentes na região Sul do Brasil, na


posição final, em vez de [-i], [-u] foram associadas, dada a sua
presença na fala do Rio Grande do Sul, a uma suposta influência
espanhola. Contudo, essas variantes não se limitam a esse território,
mas são também encontradas no dialeto caipira do interior de São
Paulo e no sul do Paraná (cf. 3.1.2.3). Diante desse pano de fundo,
uma influência espanhola não é plausível (cf. Révah 1958: 389).
As obras que tratam da história do português diferem sobre
quando /e/ e /o/ finais respectivamente foram alçados para [-i] e
[-u].322 Assim, o momento do alçamento de /o/ entre o século XVI e
XVIII é mais discutível do que o do alçamento do /e/ no século XVIII.
A história lingüística não fornece nenhum testemunho para o fato de
que /e/ e /o/ finais correspondam a uma realização distinta de [-e] e
[-o], antes do século XVIII (cf. Naro 1971: 625). Portanto, as
variantes brasileiras regionais [-e], [-o] seriam arcaísmos do século
XVII.
Quanto ao leve fechamento do /a/ final [ä], que ocorre
regionalmente, o português brasileiro talvez siga o desenvolvimento
do europeu. É, todavia, cedo para poder prever uma generalização do
fenômeno. A modificação da pronúncia ganhou terreno de maneira
evidente somente nos últimos vinte anos.
O enfraquecimento do /i/ final (noite [‘noitSi] > [‘noitS], cidade >
[si‘dadZ]), decorrente, no português brasileiro, da palatalização
(africativização) de /t/ e /d/ antes de [i], corresponde a uma tendência
românica de assimilar [i] na vizinhança de uma espirante pré-palatal.
McKinney Jeroslow testemunhou esse fenômeno no interior do Ceará
(1974: 19-20). O desenvolvimento de baixo [‘baìSu] > [‘baSu] segue o
mesmo princípio (cf. 7.1.1.5). Quanto ao /i/ final, trata-se, portanto, de
um enfraquecimento condicionado nessa posição.

7.1.1.5 Ditongos orais


A realização divergente de <ei> em português europeu e brasileiro
(peito, PE ['päìtu] vs. PB ['peìtu]) remonta a um desenvolvimento do
português europeu do século XIX. No norte e no centro-oeste de
Portugal, alterna-se, em parte, [äì] com [eì], [(ì],323 enquanto a maior

322
Cf. Herculano de Carvalho (1962-63), Teyssier (1966), Naro (1971).
323
Cf. Lindley Cintra (1983c: 42), Teyssier (1984: 64).
255

parte do centro e do sul monotongam ([e]).324 O desenvolvimento para


[äì] de Lisboa foi registrado em 1883 por Gonçalves Viana (21941:
13), que é citado, como fonte, por Teyssier (1984: 107, n. 55). Antes
de Gonçalves Viana, o filólogo brasileiro Paranhos da Silva
apresentou, em 1879, a transformação no português europeu:
“[...] a fala da terra [...] do bâim, do lâite, do bâijo [...]” (p. 23). —
“Os poetas portuguezes escrevem bejo com a vogal do castelhano
beso, para poder rimar com pejo, desejo, etc.; mas escrita assim, a
palavra não pode ser pronunciada como todos a pronuncião em
Lisboa, pois sôa lá como bâijo, e só tem uma rima perfeita, que é
quâijo” (Paranhos da Silva 1879: 23; 64).
Um testemunho ainda mais antigo de 1853 (“mantâiga”) é
apresentado por Silva Neto, retirado da segunda edição do Método
Português-Castilho de Feliciano de Castilho. A primeira edição de
1850 ainda não continha esse testemunho (Silva Neto 1986: 155-156).
A evolução desse ditongo se deixa entrever já em tempos antigos.
O lat. vulg. [aì], que é conhecido, por exemplo, a partir da formação
da primeira pessoa do singular do futuro do indicativo ou de
desenvolvimentos por metátese como de lat. primarius (> *primairu),
já se havia alçado em português antigo como [eì]. A tendência
manifesta no português brasileiro para a monotongação (> [e]) é a
conseqüência de um processo análogo, que se havia completado no
espanhol já no século XII (esp. primero). O primeiro testemunho para
a monotongação no português brasileiro é dado por Azeredo
Coutinho, com o exemplo “Janero em lugar de Janeiro” (1798: 47; cf.
5.5.2). No português europeu, a monotongação de [eì] é testemunhada
em 1769 como sendo do Alentejo.325
A monotongação de [aì] > [a] (PB baixo [‘baìSu] > [‘baSu])
observada no português brasileiro é um fenômeno condicionado pela
fricativa pré-palatal que subtrai o [i].326 Essa monotongação aparece

324
A isoglossa que separa, no português europeu, [eì] de [e] vai do terço
norte da Estremadura portuguesa, perpendicularmente ao sul, até a região de
Lisboa, que está excluída, e depois descreve uma espécie de arco de ogiva em
direção ao nordeste, até a fronteira espanhola (cf. Lindley Cintra 1983b, 160-
161, mapa).
325
Cf. sardenhero em vez de sardinheiro (Teyssier 1984: 64, 107).
326
Sob essa mesma influência é que o fr. ant. chier [tSì(r] se desenvolveu
no século XIII para cher [S(r]. No espanhol antigo, o encontro -it- < -kt-
256

também no sul de Portugal e é atestada repetidamente no século XVI


em Camões.327 No português brasileiro, aparece em 1770 na carta de
uma escrava do Piauí (“abacho”, cf. 5.5.1). Paranhos da Silva também
a menciona:
“Assim, pronunciamos cáixa, báixo (quasi como caxa, baxo [...]”
Paranhos da Silva 1879: 36).
O ditongo realizado ocasionalmente como [où], no português
brasileiro, que, originalmente, se formou a partir do <au> latino,
encontra-se também no norte e noroeste de Portugal, bem como em
um enclave na Estremadura portuguesa (cf. Teyssier 1984: 48, mapa).
No século XVII, monotongou-se para [o] no centro e no sul de
Portugal (cf. Teyssier 1984: 52). No português brasileiro, o ditongo
[où] é, portanto, um arcaísmo. Por meio da monotongação de [où], o
português segue um desenvolvimento românico, pois, na România, o
ditongo <au> permaneceu apenas no occitano, no reto-românico, em
dialetos italianos e no romeno. A falta da alternância no português
brasileiro entre <ou> [où o] e <oi> (cf. PE touro, toiro; ouro, oiro),
que surgiu no português europeu no contexto da monotongação de
[où] se apresenta como um arcaísmo dos séculos XVI-XVII.
A substituição do ditongo [äì], ocorrida em português brasileiro no
Norte e no Nordeste diante de nasal (p. ex., plaina ['plaìna])
corresponde a uma regularização do sistema por meio da eliminação
de um alofone de baixa freqüência. No padrão europeu do português,
em contrapartida, o [äì] foi reforçado pela transformação [eì] > [äì],
iniciada em Lisboa.

7.1.1.6 Vogais e ditongos nasais


A nasalização heterossilábica em português brasileiro (cama, PE
[‘kä.mä] vs. PB [‘kÄ.ma]) deve ser classificada como um arcaísmo
mantido, também regionalmente, em Portugal. No português europeu,

(noite < lat. vulg. *nocte) transformou-se, no século XI, em [tS] (noche). Cf.
7.1.1.4.
327
Cf. Leite de Vasconcellos (1987 [1901]: 103): “cáxa, báxo”. Em
Camões se lê: “A soberba Veneza está no meio|Das águas, que tão baxa
começou” (Os Lusíadas III, 14). Nos Lusíadas se alternam baixo – baxo,
debaixo – debaxo, abaixo – abaxo, ocorrendo as formas ditongadas mais
freqüentemente (22 : 9).
257

porém, não é sentido como típico.328 Uma associação direta do


fenômeno com uma suposta influência do tupi-guarani ou de línguas
africanas no português brasileiro, portanto, é improvável (cf. 6.5.).
As vogais nasais portuguesas são, historicamente, tanto o resultado
de uma nasalização numa sílaba originalmente fechada por uma nasal
(lat. can-tat, port. can-ta [‘kÄ.tä]) quanto numa sílaba aberta, por meio
de uma nasal na sílaba seguinte (lat. lana > port. ant. *lã-na > lãa >
port. lã).329 A norma do português central renunciou à nasalização
heterossilábica nos séculos XVI-XVII e desenvolveu-se, por con-
seguinte, paralelamente ao francês.330 As formas “una”, “luna”
(respectivamente [Ua], [lUa]; cf. Amaral 1982: s.v.), que ocorrem
regionalmente no português brasileiro (Paraná, dialeto caipira,
Nordeste), são também arcaísmos dos séculos XVI-XVII. O português
europeu substituiu <hUa> no século XVIII na língua escrita. Na língua
popular, no entanto, permanece (cf. DELP, um).
O contraste que há entre os ditongos nasais PE [ÄÌ] e PB [EÌ]
(bem) ocorre em Portugal, somente como uma realização da região
central, enquanto no norte e no sul do país, pronuncia-se como [EÌ]
(em porções do Alentejo apenas como [E]) (cf. Gonçalves Viana
1892: 53). A diferenciação surgiu no português europeu no século
XIX paralelamente ao desenvolvimento [eì] > [äì] nos ditongos orais
(cf. 7.1.1.5). Teyssier (1984: 107, n. 55) se refere a Gonçalves Viana
(1883) para testemunhar a pronúncia [ÄÌ]. Antes, o poeta brasileiro
Gonçalves Dias havia indicado, numa carta de 1857, a típica
transformação lisboeta.
“[...] não há brasileiro, nem mesmo surdo, que tolere a rima mãe
com também, como aqui fazem os bons rimadores, ou que
admitisse um tambãim impossível, como a gente culta de Lisboa”
(apud Pimentel Pinto 1978-81: I, 37)
A tendência à desnasalização de nasais átonas em posição final, na
língua popular (homem ['omi], eles falam > ['falu], ['fala]) aparece

328
Leite de Vasconcellos afirmou, em 1901: “Dans la plus grande partie
du pays, une consonne nasale intervocalique nasalise la voyelle qui précède,
par ex. dans cãma, pẽna, vĩnho” (1987: 75).
329
A queda da nasal remonta ao século XI e a forma é atestada do século
XIII ao século XVI (DELP, s.v.).
330
Para Molière, grammaire e grand-mère são homófonos no século
XVII.
258

também no norte de Portugal (Entre Douro e Minho; Baixo Minho:


“home”; “eles amo”), no sul (Baixo Alentejo: foram ['foru])331 e é, no
português europeu, testemunhado no teatro do século XVIII (Teyssier
1983: 607) assim como no português medieval (DELP, homem).
Também o alçamento de em-, en- [E], na posição inicial, em [I]
(engenheiro [IZe'ñeru]), que aparece na linguagem oloquial brasileira,
ocorre regionalmente em português europeu.332 Corresponde ao
sistema fonológico do século XVI, que atesta formas como intrar
(entrar). Nas cartas de Manuel da Nóbrega, encontra-se repetidamente
em 1549 a forma insinar (Cartas do Brasil 1545-68: 20ss.).
Nos verbos pôr, ter e vir, a realização simples do ditongo nasal na
terceira pessoa do plural do presente do indicativo (têm, PB [tEÌ]), em
oposição às formas do português europeu (PE [tÄjÄÌ]), corresponde à
redução de duas sílabas com mesmo som (haplologia). A pronúncia
[tEÌ] pode ser abonada em 1843 com Gonçalves Dias na “Canção do
Exílio”. As estrofes seguintes não distinguem ritmicamente tem de
têm, ambos monossílabos:
Nosso céu tem mais estrêlas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amôres.
(Antologia, p. 42)

7.1.1.7 Vogais epentéticas


A semivogal [ì] que é introduzida em oxítonas e monossílabos antes
de um /s/ final (paz, PE [paS] vs. PB [‘paìs]) é uma inovação do
português brasileiro. Não obstante, esse desenvolvimento é conhecido
nas línguas românicas e se apresenta como uma repetição do processo,
que conduziu, a partir do lat. nōs via *nois ao it. noi, bem como
desenvolvimentos análogos nos dialetos italianos (cf. Schmitt Jensen
1995). Evidentemente, a adição da semivogal se efetiva causalmente
pela presença de um [s] ou de um [S] pré-palatal seguinte, de modo
que o processo não deve ser descrito primariamente como uma
ditongação, mas como uma epêntese. A semivogal cria na articulação

331
Cf. Leite de Vasconcellos (1987: 86-88); Martins Sequeira (1957: 21);
Kröll (1994: 551).
332
“[...] on peut dire que E- devient I- dans le Nord, dans le Centre et dans
l’Extrémadure Cistagne” (Leite de Vasconcellos 1987 [1901]: 86).
259

uma ponte natural com respeito aos graus de abertura entre a vogal
(graus de abertura 6-4) e a posição de boca quase fechada de /s/ (grau
de abertura 1). Fora isso, o [s] já mostra, em seu modo de articulação,
a língua repousando nas gengivas internas inferiores, característico
também para o [ì].
Azeredo Coutinho (1798) ainda não cita a epêntese como um dos
fenômenos característicos do português brasileiro (cf. 5.5.2).333 Um
trabalho de mestrado realizado por Klebson Oliveira na Universidade
Federal da Bahia, que analisa textos escritos por africanos e afro-
descendentes na Bahia do século XIX, documenta o ditongo em 1841:
“Ao sete dias do Meis de Novembro [...]” (Oliveira 2003: II, 405).
Num poema de amor de Braz Pitorras, do Ceará, o desenvol-
vimento é testemunhado em 1848 por meio da interpretação das rimas
mais / dás:
Minha Ignês, não posso mais
Tanto silêncio guardar
Novas tuas não me dás.
(apud Seraine 1949: 62)

Também na literatura conhecida do romantismo brasileiro, encontram-


se diversos testemunhos para a existência da semivogal epentética.
Em “Meus Oito Anos” (1857), de Casimiro de Abreu, a pronúncia
[nuìs] resulta da interpretação da rima nus / azuis:
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras

333
Numa carta de Francisco Nunes da Costa, desembargador em Camamu
(BA), aparece, em 1789, o nome de uma pessoa que se chama “Francisco de
Souza Feis” (apud Lobo 2001, Cartas Baianas Setecentistas, p. 155). Chama
a atenção a forma <Feis> porque <ei> antes de /s/ final sugere a epêntese da
língua falada. Contudo, <Feis> não é conhecido como sobrenome. Poder-se-ia
tratar do sobrenome Feles (plural de fel que, aliás, forma também o plural féis
no português brasileiro). Outra possibilidade seria supor uma abreviação de
<Fernandes> que leva em conta a pronúncia [-is] no final ® <Feis>. Em
ambos os casos, não se trataria de uma epêntese.
260
Das borboletas azuis!
(Antologia, 240-241)

Gonçalves Dias rima em “Ainda uma Vez — Adeus!” atrás / mais.


Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu’era...
E um louco fim, nada mais!
(Antologia, 48-49)

Varnhagen registra em 1891 numa carta escrita em língua popular que


anexa, como comentário, à sua edição da Poranduba Maranhense de
Frei Francisco dos Prazeres (1819) a forma “treis” em vez de três
(“treis cuié di prata”). Infelizmente a carta não é datada (cf. Varn-
hagen 1891: 140). Face ao estado atual das fontes, o começo da
epêntese do [ì] deve situar-se na primeira metade do século XIX.
A tendência ampliada, na língua coloquial brasileira, de desfazer
clusters consonantais que se encontram em limite silábico, por meio
de uma vogal epentética, é um indício para o desenvolvimento
lingüístico determinado, em primeiro plano, pelo uso oral. No limite
silábico, a epêntese vocálica corresponde aos princípios da hierarquia
sonora e da lei de contato entre sílabas (cf. Vennemann 1988: 9,
40).334 Segundo essa lei, no contato de duas sílabas, o final (offset) da
primeira sílaba deve possuir idealmente a menor força consonantal
possível em relação ao início (onset) da sílaba seguinte. Visto que nos
clusters encontrados no português brasileiro, as plosivas no final de
sílaba possuem, contudo, uma força consonantal maior do que as
fricativas e as nasais no início da sílaba seguinte, palavras como
opcional [op.sjo-] e admitir [ad.mi-] desviam-se da sua estrutura
silábica ótima. Isso é remediado por meio da epêntese de um [i], que
constrói a necessária distância de sonoridade com a sílaba seguinte.
Assim, a estrutura silábica VC.CV ([ad.mi]) é regularizada como

334
A perda de sonoridade e o aumento daí resultante de força consonantal
correspondem à seqüência seguinte: vogais (baixas, médias, altas), glides,
líquidas (vibrantes, laterais), nasais, fricativas (sonoras, surdas), plosivas
(sonoras, surdas).
261

V.CV.CV ([a.dZi.mi]), sendo a seqüência CV ótima ou não-marcada.


Fora isso, há razões que se encontram, stricto sensu, na fonotática do
próprio português. Certos encontros consonantais em construções
eruditas da tradição escrita ou em estrangeirismos são sentidas como
alheias ao sistema português. Desse modo, uma sílaba iniciada com
[pn-] (pneu) não corresponde ao desenvolvimento fônico do
português e conduz, pela introdução do [i], novamente à estrutura CV,
menos marcada. A dissolução do encontro fl- já é conhecido desde os
primórdios da história do português (lat. flamma > port. chama [S-]).
Encontra-se uma variante na epêntese (flor → [fu'lo]), que também
ocorre no português europeu.335 Por isso, não se reconhece aqui
qualquer influência primária de línguas africanas nesse caso (cf. 6.5.).
A epêntese se abona na carta de 1770 de uma escrava do Piauí
(“adeministrar”, cf. 5.5.1). A mesma palavra aparece numa carta de
Francisco Nunes da Costa, desembargador em Camamu (BA), em
1782. Esse testemunho é interessante porque demostra que a epêntese
também fazia parte da fala de pessoas instruídas:
“A Fazenda-Real despende [annoalmen-] | te duzentos mil reis
com o Parocho, | que apenas os vé, eos adeministra duas, [ou] ||1v
Tres vezes no anno:” (apud Lobo 2001, Cartas Baianas
Setecentistas, p. 143).
Na poesia romântica, encontram-se mais testemunhos de epêntese. Na
poesia de Gonçalves Dias (“A mangueira”), aponta-nos a métrica que
admirar tenha quatro sílabas ([adjimi'rax]) no verso octossílabo.
Grata estação dos amores,
Abrigo dos que o não tem,
Deixa-me ouvir teus cantores,
Admirar teus verdores
(apud Sousa da Silveira 1921: 23)
a
A formação de um [ ] fraco sob a influência do acento tônico na
língua coloquial brasileira pode ser comparada com a tendência para a
ditongação de vogais tônicas nas línguas românicas. É o caso, por
exemplo, do desenvolvimento do latim ĕ, ŏ em espanhol (> ie, ue).
Percebe-se também um certo paralelismo com o romeno: PB vida

335
“Dans felor = flor, gueloria = gloria, pelantar = plantar, les groupes
FL, GL, PL sont détruits par l’intercalation d’un e” (cf. Leite de Vasconcellos
1987 [1901]: 100).
262

[‘vida > ‘viada] vs. rom. viaţă, PB mesa [‘meza > ‘meaza] vs. rom.
neagră e PB forte [‘f)xtSi > ‘f)axtSi] vs. rom. foarte. A epêntese na
língua popular de [ù] em [oa] (boa [‘boa] > [‘bowa]) serve para
desfazer o hiato e, portanto, facilitar a pronúncia. Em Portugal,
encontra-se no Baixo Minho (“Lisboua”, cf. Martins Sequeira 1957:
35).

7.1.2 Consonantismo
7.1.2.1 A realização de /s/
A palatalização do /s/ implosivo [S] (chiamento) iniciou no português
europeu, provavelmente, no final do século XVII “em grande área do
Sul” (Silva Neto 1986: 160), o que se refere ao centro e ao sul de
Portugal. Luís António Verney, que deixou Portugal em 1736, já a
descreve no Verdadeiro Método de Estudar como generalizada.336
Diante da já percebida semelhança na realização do /s/ implosivo
entre o português europeu e a variedade carioca, colocam-se, do ponto
de vista lingüístico, três questões básicas:
(1) Quais testemunhos históricos existem para o chiamento?
(2) Qual é a difusão do chiamento no português brasileiro?
(3) Como explicar a concordância com o português europeu?
O esclarecimento das duas primeiras perguntas é um pressuposto
essencial para a resposta da terceira. A pesquisa, por muito tempo,
contudo, não levou em conta esse procedimento. A questão sobre a
difusão geral do chiamento no português brasileiro foi, de fato,
colocada, mas não esclarecida suficientemente, visto que, de um lado,
faltam trabalhos dialetológicos correspondentes. Por outro, não foi
analisado de maneira comparativa o material de que se dispõe (Noll
1996a). Apesar de haver uma bibliografia extensa sobre a dialetologia

336
“Diz Álvaro Ferreira Vera [1631] que nenhuma dicção portuguesa
deve acabar em X [...] O que eu sei é que a pronúncia portuguesa acaba em x
todas as palavras que acabam em s; quero dizer que todo o s final pronunciam
como x, [...] Observo que não só o s final pronunciam como x, mais também o
z final, o que V. P. pode ver em Diz,||Luiz, Fiz etc..” (Verney 1746: 77-78). A
grafia <x> está associada com a pronúncia [S] em português assim como no
espanhol antigo e no catalão.
263

brasileira,337 questões básicas, como a difusão do /s/ aqui debatida,


são tratadas escassamente.338 Isso demonstra que a perspectiva de uma
dialetologia pan-brasileira, até agora, tem sido realizada de modo
ainda insuficiente.
Dessa forma, não surpreende que a concordância da realização do
/s/ no falar carioca e no português europeu seja vista como uma
relação causal (cf. Révah 1958: 390). Essa relação foi definida de
maneira mais detalhada por Lipski, em dois artigos (1975, 1976).
Giangola (2001) também estabelece essa relação,339 enquanto
Leite/Callou (2002: 32) e M. Azevedo (2005: 220) apontam para uma
possível conexão. Conforme esses autores, o chiamento do Rio de
Janeiro é uma conseqüência da mudança provisória da Corte
portuguesa para o Rio de Janeiro entre 1808 e a Independência do
Brasil, em 1822. Lipski (1975: 222) a caracterizou como “direct result
of dialect imitation”. Em virtude da transferência da Corte,
condicionada por pressões políticas da França, vieram cerca de 15.000
portugueses para a capital do Brasil “para «relusitanizar» o Rio de
Janeiro” (Teyssier 1984: 77). A explicação de Lipski segue o modelo
tradicional da influência de adstrato, ou seja, do português europeu
sobre a fala carioca. Lipski não conseguiu, contudo, apresentar
nenhum argumento que ultrapassasse a discussão da possibilidade de
uma tal influência. No contexto da transferência da Corte portuguesa
para o Rio de Janeiro, com um eventual traslado do chiamento,
convém perguntar se há testemunhos concretos daquele tempo para a
realização do /s/ no Rio de Janeiro.
Soares Barbosa († 1816) apresenta na Grammatica Philosophica
um contraste entre a pronúncia do /s/ em Portugal e no Brasil:

337
Cf. Lindley Cintra (1976: 137-145), Dietrich (1980: 60-98), Baranow
(1991), Silva de Aragão (1997, 2006).
338
Pequenos apontamentos ao chiamento fora do Rio de Janeiro se
encontram em Marroquim (1934: 36, 76), Gueiros (1938: 561), Mignone
(1938: 489), Seraine (1938: 463), Silva Neto (1986, 11950: 173), J. L. de
Castro (1958: 102, 107), Farias de Lacerda (1961: 47), Thomas (1973: 231),
C. Cunha (1974: 335), Pessoa (1986), Leite/Callou (2002).
339
“Historically, the Carioca preference for [S] and [Z] can be attributed to
the transfer of the Portuguese government from Lisbon to Rio de Janeiro in
the early 19th century” (Giangola (2001: 12, n. 6).
264
“Os Brazileiros pronuncião como Z o S liquido, quando se acha
sem voz diante, ou no meio, ou no fim do vocabulo, dizendo:
Mizterio, Fazto, Livroz novoz, em vez de Misterio, Fasto, Livros
novos” (Soares Barbosa 21830: 52).340
O /s/ descrito como “liquido” por Soares Barbosa é o [S] lusitano,
enquanto “Z” corresponde ao [s] brasileiro. Não cita um chiamento no
português brasileiro, o que está provavelmente associado com o fato
de a Grammatica Philosophica ter sido concluída em 1803, apesar de
publicada em 1822, como afirma Oiticica (1916: 20).
A reflexão de Lipski acerca da “dialect imitation” (1975: 222) é
relativizada, contudo, já em 1826, quando se leva em conta a
caracterização negativa do português europeu, feita pelo Visconde de
Pedra Branca, no que tange a “l’âpreté dans la prononciation” e
“l’arrogance des expressions”.341 Sob esse ponto de vista, uma
influência de adstrato, motivada pelo prestígio do [S] europeu, parece
menos convincente, uma vez que prestígio político durou apenas
poucos anos até a Independência do Brasil em 1822.
O inglês Alexander Caldcleugh, que morou no Brasil entre 1821 e
1823, fez observações a respeito da pronúncia do /s/ no português
brasileiro:
“The pronunciation of the Brazilians is not so nasal nor so jewish
in the sound of the s, and on the whole it is a more agreeable
language than in the mouth of a native” (Caldcleugh 1825: I, 66).
A referência a “jewish” é aqui uma indicação à pronúncia [S], típica
da pronúncia do português europeu que é designada às vezes, em
formulação análoga, também como “chiante mourisca” (cf. Paranhos
da Silva 1880: 24). Caldcleugh, que conhecia bem o Rio de Janeiro,
associava o chiamento, por volta de 1823, somente ao português
europeu.
Também, nos anos seguintes, não se encontra nenhuma indicação
por meio da qual se testemunhe um chiamento no português
brasileiro. Varnhagen, no Florilegio da Poesia Brazileira, em 1850,

340
Paulino de Souza, em 1872, copiou, quase literalmente, esse texto de
Soares Barbosa, no capítulo “Des vices de prononciation”, de sua Grammaire
portugaise raisonnée et simplifiée.
341
Balbi (1826: 172-173), cf. 5.7.
265

não caracterizava a diferença para o português europeu de forma


distinta do seu antecessor Soares Barbosa:
“Estas differenças, que principalmente consistem [...] em dar ao s
no fim das syllabas o valor que lhe dão os italianos, e não o do sh
inglez, ou do sch allemão [...]” (Varnhagen 21946: I, 18).
Setenta anos após a mudança da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro,
encontramos, no filólogo brasileiro Paranhos da Silva, afirmações
muito interessantes, no que diz respeito ao chiamento. Não foi dada a
devida atenção aos resultados de sua obra, como se verá, embora
Paranhos da Silva seja citado, ocasionalmente, na literatura
especializada mais antiga. O conteúdo de sua obra O Idioma do
Hodierno Portugal Comparado com o do Brazil (Paranhos da Silva
1879) – a primeira comparação detalhada entre o português europeu e
o brasileiro – e o Sistema de Ortographia Brazileira (Paranhos da
Silva 1880) são quase desconhecidos, a despeito de sua importância
para a história lingüística:342
“[...] diremos que segundo a ideia que em Portugal se forma da
letra s, teve quasi razão o grammatico portuguez [Soares Barbosa]
e confirma o que eu digo sobre a pronuncia de s, cujo valôr no
Brazil nunca foi o de x. [...] Isto quer dizer que s tem no papel a
mesma forma para os Brazileiros e para os Portuguezes; mais no
orgão vocal brazileiro é sempre sibilante, ás vezes forte, ás vezes
branda; no orgão vocal portuguez, assim como no suabio, é ás
vezes chiante” (Paranhos da Silva 1879: I, 20).
Paranhos da Silva nega enfaticamente que o /s/ no português
brasileiro corresponda à pronúncia [S]. Não faz referência a qualquer
chiamento no Rio de Janeiro, apesar de se mencionarem
regionalismos em outra passagem. O contraste rigoroso entre o [s]
brasileiro e o [S] português seria incompreensível no caso de um
chiamento na capital brasileira. No Sistema de Ortographia
Brazileira, Paranhos da Silva volta novamente ao tema do chiamento,
após a descrição de correspondências fonéticas distintas para o <x> no
português brasileiro:
“[...] palavras como excesso, excepto, excitar [...] què os estran-
gèiros amigos, como Madurèira [cf. Morais de Madureira 1739],
da ortografia latina, mas da pronùncia mourisca, leem ech-césso,

342
Os trabalhos se encontram na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
266
ech-céto, ech-citar; e què nós os Brazilèiros lemos «eséso, eséto,
esitar.»||§ 11. Óra, seria uma verdadèira calamidade para os
ouvidos bràzileiros què todos esses valores se reduzisem a o som
de chiante mourisca; o coál só póde ter logar de vez en coàndo,
como a disonància na mùzica” (Paranhos da Silva 1880: 23-24).
Depois de descrever a realização alveolar do /s/ como brasileira,
Paranhos da Silva acaba concedendo, sem detalhamento, a possibili-
dade de uma ocorrência da “chiante mourisca” [S] no português
brasileiro. Provavelmente quer dizer, com isso, que havia uma
variante livre ocasional [S] para o /s/ implosivo. De qualquer forma,
porém, Paranhos da Silva não teria caracterizado a alta freqüência do
[S] como uma “calamidade para os ouvidos bràzileiros”, se o
chiamento estivesse sido difundido no Rio de Janeiro, então capital do
Brasil.
Leite de Vasconcellos relata, em 1901, a partir de um encontro
com um habitante de São Paulo:
“J’ai entendu un habitant de São Paulo prononcer l’-s comme dans
le sud du Portugal, c.-à-d. x, ex.: trêx = três, dôix = dois” (Leite de
Vasconcellos 1987: 133).
Para a cidade de São Paulo, o [-S] não é típico. Talvez se tratasse de
um falante de Santos (SP) (cf. 3.1.2.1). Surpreende que Leite de Vas-
concellos cite essa ocorrência casual no “Dialecte brésilien” e não
mencione uma possível palatalização no Rio de Janeiro. Em 1921,
finalmente, Nascentes, expressando-se diretamente a respeito da
pronúncia do Rio de Janeiro, diz:
“As classes cultas pronunciam o s final, mudando entretanto numa
chiante, como no Sul de Portugal. Ha quem attribua esta pronuncia
ao influxo portuguez, sem explicação maior” (1921: 317).
Segundo essa caracterização diastrática, o próprio Rio de Janeiro
ainda não possuía, de maneira evidente, um chiamento generalizado
no começo do século XX. Uma influência preponderante de adstrato
lusitano no surgimento do chiamento carioca é, por conseguinte,
rechaçada devido às seguintes razões de história lingüística:
(1) A pronúncia portuguesa foi criticada no começo do século XIX por
Pedra Branca de modo geral e, na seqüência, por Paranhos da Silva,
em especial com relação ao [S].
267
(2) Não existe nenhuma característica fonética do português europeu
que tenha influenciado paralelamente o falar carioca. Isso diz respeito,
sobretudo, à redução das vogais átonas, típica do português europeu
do começo do século XIX, que permaneceu estranha ao falar carioca.
(3) O encontro -sc- (descer, nascer) deveria ser realizado como [Ss],
como ocorre no português europeu, no caso de uma influência de
adstrato no falar carioca. No entanto, pronuncia-se como [s] no Rio de
Janeiro, assim como em todas as outras regiões brasileiras que palata-
lizam.
(4.) No século XIX, não há qualquer testemunho para a palatalização
do /s/ no Rio de Janeiro.
Os atuais documentos falam a favor de um desenvolvimento gradual
da palatalização, a qual ocorreu possivelmente na segunda metade do
século XIX, partindo da alta sociedade e, de forma evidente, ainda
não havia concluído no começo do século XX. Pode-se partir do fato
de que haja, no português brasileiro, uma disposição para o
desenvolvimento próprio de um chiamento mais tardio, em
comparação com o português europeu. Isso se torna claro,
especialmente, quando se entende a expansão da palatalização no
português brasileiro (cf. 3.1.2.1).
Nesse contexto, é importante observar que as palatalizações
limitadas distributivamente, na posição pré-consonantal ou final,
encontradas no espaço geográfico entre a Bahia e o Maranhão (zona
intermediária), sejam naturalmente classificadas, em virtude do
desenvolvimento gradual, sob o mesmo fenômeno de palatalização
que a generalização do chiamento carioca. Provavelmente se
desprezou esse ponto de vista no passado, ao considerar-se o Rio de
Janeiro, por muito tempo, quase como um caso isolado.
A situação instável lingüisticamente no Nordeste do Brasil (zona
intermediária) é uma clara indicação para o fato de o chiamento, no
português brasileiro, ser um desenvolvimento relativamente recente.
A palatalização preferida diante de plosivas, sobretudo diante de [t],
aponta, aliás, para a gênese do fenômeno, que certamente iniciou a
partir da posição pré-consonantal. Encontra-se uma palatalização
semelhante também em outras línguas. Dessa forma, no alemão
padrão, os encontros /s/+/t/ e /s/+/p/ são sempre pronunciados como
[St Sp] em início de palavra. Em diversas variedades do italiano, o
mesmo se encontra, incluindo-se também /s/+/k/ [Sk] (cf. Rohlfs
1949-54, § 188).
268

A constelação geolingüística no Brasil deixa claro ser impossível


que uma irradiação do chiamento possa ter ocorrido a partir do Rio de
Janeiro para o resto do país. O desenvolvimento do chiamento em
Belém, no Norte do país, demonstra, por fim, que também o
chiamento no Rio de Janeiro pode ter sido iniciado de maneira
independente, sem estar diretamente associado à presença da Corte
portuguesa.
A queda fonética de /s/ na língua popular brasileira é uma
particularidade que deve ser vista no contexto da queda das apócopes
consonantais (também ocorre com /r/ e /l/ finais). Assim, observa-se
que um contexto sonoro (nasal ou líquida seguinte) incentiva a queda
de /s/ (vamos lá [vämo'la]) e também ocorre, como no português
europeu, em situação pré-consonantal, por exemplo, em mesmo
['memu]. Isso encontra um paralelo no francês antigo, que perdeu o
/s/ implosivo em contexto sonoro no século XI, enquanto sua queda
em contexto surdo ocorreu apenas no século XIII. As línguas
românicas orientais perderam o /s/ final já na Antigüidade. Mas
também as línguas românicas ocidentais tendem à perda da consoante,
da mesma forma como ocorreu no francês. Na área do espanhol, a
queda do /s/ implosivo é típica do sul da Espanha e das zonas
litorâneas americanas (tierras bajas, p. ex. no Caribe),
desenvolvimento que começou no século XV (cf. Geckeler 1976).
No tocante à marca do plural, a manutenção limitada apenas à
primeira posição, existente no registro popular do português
brasileiro, não tem nada a ver com a queda do [-s] condicionada
foneticamente. Trata-se da redução de uma marca morfológica sentida
como redundante (cf. 6.3).

7.1.2.2 A palatalização de /t/, /d/


Palatalizações são a mais típica particularidade fonética das línguas
românicas face ao seu desenvolvimento a partir do latim. Existem
sobretudo na România Ocidental. Nesse contexto da
palatalização/africativização de /t/, /d/ do português brasileiro, aponta-
se, dentro de uma perspectiva histórica, para o desenvolvimento do
lat. diurnu(m) através de [dì] ao ital. giorno [dZ] (cf. fr. jour, esp.,
port. jornada). Como desenvolvimento similar, é conhecida a
palatalização de /t/, /d/ também no francês canadense, que, na
269

variedade do français acadien conduziu às africadas [tS], [dZ] e, nas


demais zonas, a [ts], [dz].
Não é possível saber quando se iniciou a africativização de /t/, /d/
no português brasileiro. No português europeu, há uma realização
[tS] a partir do desenvolvimento dos encontros latinos pl-, cl-, fl-, que
sobrevive no norte de Portugal (chave [tS]) e desde o século XVIII é
conhecido como regionalismo.343 Nesse aspecto, deveria ter sido
mencionada, na gramática de Soares Barbosa (1830, concluída em
1803?), uma africativização existente no Brasil no começo do século
XIX. Diante desse pano de fundo, a africativização de /t/, /d/ é um
desenvolvimento que iniciou no português brasileiro provavelmente
só no decorrer do século XIX, em centros urbanos.344 No século XIX
é também testemunhada a africativização de /t/, /d/ no crioulo de base
portuguesa da Ilha do Príncipe (cf. Schuchardt 1888-89: 475). Os
desenvolvimentos em ambas as áreas lingüísticas são, no entanto,
independentes, uma vez que as zonas centrais da antiga concentração
populacional de escravos no Nordeste (p. ex., Recife) ainda hoje não
dispõem de nenhuma africativização. No final dos anos 40 do século
XX, Stavrou (1947: 26) apontou para o fato de que professores
brasileiros, naquela época, ainda, se esforçavam a erradicar o costume
de africativizar de seus alunos.
A atual constelação geolingüística no Estado da Bahia, com uma
generalização das africadas na zona de sua capital, Salvador, a
conservação da realização [t], [d] no interior do Estado (cf. APFB) e a
polimorfia fonética na cidade litorânea de Ilhéus são indícios
evidentes para o fato de que a africativização no português brasileiro é
um desenvolvimento urbano. A polimorfia existente em espaços
estreitos mostra, por seu lado, que se trata de um fenômeno
relativamente recente.

343
Cf. Teyssier (1984: 48, mapa; 53-54).
344
Contudo, às vezes existe, nos desenvolvimentos fonéticos, um grande
espaço de tempo entre a primeira ocorrência do fenômeno, sua difusão e sua
documentação. A transformação [f- > h-], ocorrida no castelhano, é teste-
munhada desde o século IX, mas, graficamente, só se impôs a partir do século
XIV.
270

7.1.2.3 A realização de /r/, /3/


A realização velar do /r/ inicialmente alveolar, não ocorre apenas no
português brasileiro no início de palavra, em contraposição à norma
européia, mas em vastas porções do Brasil, de maneira geral, em
posição implosiva (para exceções, cf. 3.1.2.3). Na variedade européia
de Setúbal, é até conhecida uma difusão do fenômeno em todas as
posições (Leite de Vasconcellos [1901] 1987: 98). A velarização de
/r/ ocorre não só em português, mas também em outras línguas
européias, como o inglês (/r/ retroflexo), o francês, o holandês e o
alemão. Entre as línguas românicas, o francês registra a passagem
para a articulação uvular a partir do século XVI (cf. Reighard 1985).
A velarização do /r/ ocorre isoladamente também em variedades do
espanhol americano: em Porto Rico, Venezuela, Colômbia e Panamá
(cf. de Granda 1978a: 23-24). O desenvolvimento em Porto Rico é
datado por de Granda, como sendo do século XIX. Além disso,
também existe em variedades do italiano (cf. Rohlfs 1949-54, §§ 164,
224, 263, 307).
No português europeu, Gonçalves Viana caracterizava a variante
uvular, em 1883, como uma peculiaridade da pronúncia lisboeta
(21941: 24). Provavelmente, a velarização em Portugal, no início do
século XIX, já estava ocorrendo: é o que se pode pressupor de um
testemunho do diplomata brasileiro Pedra Branca, em 1826 (PE sécia
“Action de grasseyer”).345 Gonçalves Viana comentou, em 1883,
também sobre a pronúncia velar do /r/ implosivo, no português
brasileiro:
“Ce r fricatif sonore est cependant assez fréquent dans la pro-
nonciation des Brésiliens, et remplace chez eux le r vibrant; je ne
saurais dire, toutefois, jusqu’à quel point cette prononciation est
individuelle ou dialectale; je l’ai surtout remarquée chez des
naturels de Pernambuco et de São Paulo” (Gonçalves Viana 21941:
25-26).346

345
Cf. 5.7 e Noll (1997).
346
Surpreende a indicação de Gonçalves Viana para São Paulo, pois a
realização velar, em posição implosiva, não é típica dessa área. Mais tarde,
Gonçalves Viana modificou a sua apresentação: “[...] como o r final de muitos
dialectos brasileiros, entre elles o do Rio de Janeiro, por ex. em ma@, se@”
(1892: 40).
271

Esse testemunho, de fato, descreve a velarização do português


brasileiro, no final do século XIX, de fato, como mais desenvolvido
do que no português europeu. O /r/ velar é descrito ainda naquela
época como sonoro, o que não é mais o caso, na atualidade.
Considerando que o primeiro testemunho no português europeu
remonta, provavelmente, a 1826, pode-se partir do fato de que o
desenvolvimento em português brasileiro já tivesse começado no
início do século XIX. A realização do /r/ como [h] é citada, por
Stavrou, no fim dos anos 40, para o Rio de Janeiro, com remissão aos
correspondentes ingleses how e Harry (1947: 30). A manutenção do
/r/ apical na posição implosiva em São Paulo e no Sul corresponde, do
ponto de vista areal, à conservação de um arcaísmo lingüístico numa
zona marginal.
A variante retroflexa do /r/ [4], descrita como r-caipira
e encontrada sobretudo no interior do Estado de São Paulo, no sul de
Minas Gerais e no Paraná, é uma inovação do português brasileiro.
Não pode ser associada com o substrato indígena, como pensava
Amaral (1982: 48), visto que o tupi-guarani apenas conhece o /r/
apical e o r-caipira tampouco é típico do espanhol de fronteira do
Paraguai. No espanhol do centro da Costa Rica, em áreas rurais da
Guatemala, na região mexicana de Verucruz e no chabacano, língua
crioula de base espanhola nas Filipinas, no entanto, encontra-se
igualmente um [4] retroflexo (cf. Noll 2001: 31) Foneticamente, trata-
se de um bloqueio da articulação vibrante que ocorre sobretudo na
posição implosiva. O desvio da tensão articulatória pode resultar
numa velarização (PB carta ['kaxta]), numa assibilação (esp. andino
carro ['kaZo]) ou na pronúncia retroflexa.
A queda do /r/ final da língua coloquial brasileira encontra
paralelos regionais no português europeu. Leite de Vasconcellos
([1901] 1987: 98) apresenta a apócope do /r/ especialmente no norte e
no centro de Portugal (comprá’ caro), mas aparece também no sul.
Leite de Vasconcellos acrescenta que a perda da vibrante em posição
final de palavra, diante de uma palavra iniciada por consoante, é
bastante comum.347 No contexto românico, a queda ocorre, entre
outros casos, com o espanhol meridional (sobretudo da Andaluzia
ocidental), o espanhol americano (Caribe), no italiano meridional e

347
“Une [sic] r devant la consonne initiale du mot suivant disparaît facile-
ment dans le langage courant: trabalhá’ todo o dia” (1987: 77).
272

em variedades do italiano setentrional, sobretudo no infinitivo (cf.


Rohlfs 1949-54, § 307). Quanto às línguas românicas, corresponde à
norma no infinitivo do catalão e do francês (verbos em -er). Essas
circunstâncias do mundo românico descredenciam, no português
brasileiro, um desenvolvimento influenciado, principalmente, pelas
línguas africanas (cf. 6.5), como isso, por exemplo, é apresentado por
de Granda (1978a). Deve-se observar, nesse contexto, que, no
espanhol argentino, que teve um contato superficial com populações
africanas, também ocorre parcialmente a queda do /r/ final.348
No português brasileiro, a forma sinhazinha (Rodrigues Maia
c1800: 322v) < sinhá, sinhô deixa implícito a queda do /r/ final na
língua popular por volta de 1800. Essa queda é definitivamente
comprovada em 1842 por Lopes Gama, que criticava formas
respectivas em seu jornal O Carapuceiro:
“Muitos declarão guerra aos rr finaes, e dizem sempre mandà,
buscà, comê, dormí, singulà, &c. &c.” (fac-símile apud M. Pessoa
1994: 78)
O Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de
Letras, elaborado de 1940 a 1943, transcreve o /r/ final como
fricativa.349 Contudo, a queda do /r/ final não é decorrência
necessariamente associada a um intermediário velar e aspirado (amar
[a'max], [a'mah]). Isso é sabido pelas circunstâncias da cidade de São
Paulo, onde o /r/ em posição final, às vezes, é realizado de maneira
alveolar (41%) e, às vezes, cai (49%). Variantes velares ou aspiradas
não ocorrem como prováveis etapas intermediárias nesse contexto
(Callou/Leite/Moraes 2002: 484). Em comparação, é interessante a
citada perda da consoante em Portugal (comprá’ caro), que, na língua
popular brasileira, ocorre inclusive quando segue uma vogal (quero
saber uma coisa ['k(ru sa'be uma 'koìza]).
A realização hoje preponderantemente dessonorizada do /r/
implosivo [x], a realização de [h] em início de palavra e a queda no
final de palavra são sinais de um enfraquecimento geral do /r/ no
português brasileiro. Esse enfraquecimento é explicado por uma perda

348
“La r final de los infinitivos se debilita en diversos grados y hasta llega
a caer en el habla vulgar y campesina de algunas regiones del país” (Vidal de
Battini 1966: 111).
349
Cf. adoecer “[adue'se4]” (Nascentes 1961-67, s.v.). Nesse contexto, o
símbolo [4] é caracterizado como “fricativo” na introdução do dicionário.
273

na tensão articulatória que ocorre sobretudo em /r-/ e /3/. Na posição


pré-consonantal, que corresponde ao /r/ em final de sílaba, essa
tendência do esforço diminuído, do ponto de vista articulatório, se
mostra mais forte do que o princípio da lei de contato silábico (cf.
Vennemann 1988: 40). Desse modo, no caso do /r/, a realização
alveolar [r] em final de sílaba estabelece, basicamente, uma distância
sonora maior e, portanto, mais propícia ao fortalecimento da
consoante inicial da sílaba seguinte do que a fricativa [x], que ocorre
regionalmente no português brasileiro. No desenvolvimento sub-
seqüente – e isso se refere, no português brasileiro, sobretudo à
posição final – pode acontecer a queda da consoante ([a'ma]). Nesse
caso, cria-se novamente um encontro silábico ótimo do tipo V-CV.
Pode-se partir do fato de que, num futuro próximo, o /r/ final no
português brasileiro, ao menos nos infinitivos, cairá completamente.
Callou/Leite/Moraes (2003: 96, 99) atestaram no Rio de Janeiro, entre
os anos 70 e 90 do século XX, um aumento geral da queda da
consoante de cerca de 65% para 75%; com os verbos, o aumento
passou de 73% para 82%.

7.1.2.4 A realização de /l/


A vocalização do /l/ implosivo no português brasileiro é um processo
que ocorreu de forma ampla nas línguas românicas (cf. Kolovrat
1923). Trata-se de um desenvolvimento da velarização do /l/
implosivo, já atestada no latim pós-clássico. Desse modo, o francês, o
espanhol e o português, por exemplo, modificaram o lat. altru(m)
respectivamente para autre, otro e outro, enquanto o catalão
conservou o /l/ velarizado em altre [L]. Na área occitana, o gascão e o
provençal apresentam uma vocalização do /l/ final. Em ambas as
variedades, a atual forma para o lat. sāl corresponde ao português
brasileiro [saù]. Em Portugal, a vocalização do /l/ implosivo já é
atestada em 775 no lat. “sauto” em vez de salto (Kolovrat 1923: 228)
e aparece hoje no dialeto do Alto Minho: mel ['m(ù], calças ['kaùsaS]
(cf. Kröll 1994: 549).
Para o desenvolvimento antigo em português brasileiro, há apenas
pontos de apoio incertos. O primeiro remonta a um decreto de 1669 e
diz respeito ao Quilombo dos Palmares, situado em Pernambuco
naquela época. Nele, aparece a palavra Palmares, grafada uma vez
274

como Paulmares.350 Não é claro se se trata aqui de um erro ou de uma


reprodução involuntária do nome, em sua forma popular. Uma outra
indicação, até agora também desconhecida, se encontra em Gregório
de Matos. Numa poesia irônica, o poeta designa o governador geral
Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, cuja gestão, em
Salvador, data de 1690 a 1694, aludindo à sua pronúncia fanhosa,
como “meu Nausau ausônio” (Matos 1992: 179). A forma Nausau (<
nasal ou nasão?) poderia sugerir, no contexto da imitação da língua
falada, o desenvolvimento de [-L] > [-u].351
No entanto, há também um testemunho que relativiza a possibi-
lidade de um desenvolvimento antigo da vocalização. Com referência
ao conteúdo do Vocabulário Português-Brasílico, compilado no
Maranhão por volta de 1700, J. A. Castro (1984: 362) comentou a
palavra arapineta (< port. alfinete), adaptada à fonética do tupi. Visto
que a substituição de /l/ > [r] pressupõe a realização lateral do /l/ em
português, Castro acredita que isso contradiz uma hipótese de
vocalização do /l/ no começo do século XVIII. Contudo, deve-se levar
em conta que o aparecimento de arapineta no Vocabulário Português-
Brasílico não exclui o fato de que a palavra pudesse ter sido
emprestada bem antes de 1700. Também não está claro o papel do
plural errôneo chapéis, atestado no Brasil já no século XVII, que
poderia sugerir uma confusão entre palavras terminadas em -el e em
-éu.352 Acreditamos que se trata mas provavelmente de uma inter-
ferência com palavras da mesma família (chapelinho etc.)
Por fim, os citados testemunhos não demonstram definitivamente
nenhuma conclusão. Face às surpreendentes assonâncias nas modi-
nhas de Caldas Barbosa (Viola de Lereno, 1798-1826) de Brasil com
eu, teu (cf. 5.5.3), poder-se-ia tomar o início do processo de
vocalização no português brasileiro no começo do século XIX.
Conforme Nascentes, a vocalização do /l/ implosivo já estava
difundida no Rio de Janeiro no primeiro quartel do século XX:

350
Ordem do governador Bernardo de Miranda Henriques ao capitão-
mor das Alagoas, acêrca dos prêtos dos Palmares (publicado por Carneiro
1958: 224-225, 225).
351
Deve-se observar que tanto Gregório de Matos quanto Câmara
Coutinho eram nascidos no Brasil.
352
Cf. o site do Projeto do Dicionário Histórico do Português do Brasil
(http://moodle.icmc.usp.br/philologic/; acesso restrito).
275
“O l final é pronunciado levemente pela classe culta; os pedantes
exageram-no. A classe semiculta vocaliza-o diante de a, e, i num u
vogal que tem de comum com ele a qualidade de velar, (cfr. [...]
papel-papéu, papé, [...] Brasiu, Brasi)” ([1922] 1953: 48).
Stavrou descreve a vocalização do /l/ implosivo no final dos anos 40
do século XX como “very common among Cariocas, but not among
those who are careful of their speech” (1947: 27). M. Azevedo (2005:
45-46) aponta para o fato de que a pronúncia velar, até meados do
século XX, no português brasileiro, era tida como padrão. Por isso,
encontra-se o /l/ velarizado, por exemplo, em São Paulo, entre falantes
mais idosos. A velarização corresponde também à transcrição no
Dicionário da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras,
elaborado de 1940 a 1943: alto ['ɑLtu] (Nascentes 1961-67, s.v.).
A neutralização popular do /r/ e /l/ pré-consonantal em português
brasileiro (alto [axtu], ['artu]) ocorre também no noroeste de Portugal
e desenvolve-se a partir da articulação alveolar originariamente
homorgânica.353 Além disso, é um fenômeno típico do espanhol da
Andaluzia. Uma associação direta do fenômeno com uma influência
africana é, por conseguinte, muito improvável no português brasileiro
(cf. 6.5.). No Brasil, o desenvolvimento deve ter iniciado antes do
século XVIII, uma vez que nos territórios em que hoje se realiza um
/r/ velar pré-consonantico [x], o início da velarização no século XIX
teria impossibilitado a substituição do [L] por meio da homorgânica
apical [r] (> [x]).
A substituição popular da lateral associada a plosivas (problema
[pro'brema], clima ['krima]) repete um processo que já existia no
português antigo (germ. *blank > port. branco) ou que conduzia à
palatalização (lat. clamāre > port. chamar). A base novamente é a
semelhança articulatória de /r/, /l/ que, em muitas línguas, conduz a
desenvolvimentos de assimilação e dissimilação.
A queda do /l/ final, que ocorre na língua popular brasileira,
também é conhecida do espanhol meridional (Andaluzia ocidental).

353
“Dans le Minho, et surtout dans le Baixo-Minho, l’l se change en r,
avec le dégagement d’un u, lorsqu’il n’existe pas déjà un u ou un o dévant
[sic] l’l” (Leite de Vasconcellos 1987 [1901]: 98). Kröll cita o exemplo do
minhoto central ['aùrtu] para alto (1994: 549). Outros exemplos se encontram
em Martins Sequeira (1957: 29).
276

No português brasileiro é testemunhada em 1798 por Azeredo


Coutinho, no exemplo “Portugá em lugar de Portugal” (cf. 5.5.2).
A vocalização do /l/ implosivo no português brasileiro é uma
conseqüência articulatória da posição mais fortemente côncava da
língua, motivada pela velarização da consoante. No decorrer do
desenvolvimento, perde o contato com os alvéolos e forma, assim,
uma vogal. Do ponto de vista da otimalização da estrutura silábica, a
vocalização do /l/ implosivo no português brasileiro significa a
substituição da seqüência VC por um ditongo.

7.1.2.5 A realização de /7/


As variantes decorrentes da desfonologização de /7/ na língua popular
brasileira (mulher [mu'j(], [mu'l(]) remontam às articulações distintas
do /7/ em português brasileiro. A pronúncia [mu'j(] mostra com [j] a
realização originalmente dorsodental, com a ponta da língua nos
dentes incisivos inferiores. Para Portugal, o Atlas Lingüístico de la
Península Ibérica testemunha a forma deslateralizada em Trás-os-
Montes.354 Retroceder o fenômeno à influência do tupi-guarani ou das
línguas africanas não é portanto provável (cf. 6.5.). A deslateralização
do [7] é criticada no Brasil em 1798 por Azeredo Coutinho (cf. 5.5.2).
Também Lopes Gama cita exemplos em 1842 em O Carapuceiro:
“Diz oreia, veiaco, cuié, muié em vez de orelha, velhaco, culher,
mulher &c.” (fac-símile apud M. Pessoa 1994: 78).
A variante [mu’l(], também difundida na língua popular brasileira
(sobretudo no Nordeste), é o resultado de uma modificação na
articulação de /7/. Com a ponta da língua destacada dos incisivos
inferiores, a realização dorsodental, genuinamente portuguesa, se
torna dorsopalatal e a ponta da língua é liberada para realizar o [l]
alveolar. Em Portugal, não existe o desenvolvimento [7] > [l] fora o
pronome dativo da terceira pessoa. A pronúncia lateral [l] é atestada
na pronúncia popular brasileira em Lopes Gama (1842) em O
Carapuceiro:
“e o lh quase sôa como l simplesmente na bocca de muitos, que
ainda assim não o proscrevem de todo: por isso dizem muler,

354
Cf. ALPI (mapas 6, 12, 47); Leite de Vasconcellos (1987 [1901]: 107).
277
colér, ficou-le, pegou-le, le pedio em vez de mulher, colher, ficou
lhe, pegou-lhe, lhe pediu.” (fac-símile apud M. Pessoa 1994: 78).
Visto que a despalatalização no português brasileiro já está
documentada, para o português brasileiro, em Rodrigues Maia
(c1800) no pronome dativo da terceira pessoa do singular lhe [li] (cf.
5.4.1), pode-se concluir então que o /7/ dorsopalatal típico do
português brasileiro já tenha ocorrido no século XVIII. As
transformações de [7] em [j] ou em [l] pressupõem diferentes
realizações do /7/ do ponto de vista de sua gênese. A realização hoje
diferenciada diastraticamente como [j] e [l] independe do ponto de
articulação de /7/.

7.1.2.6 A realização das plosivas sonoras


A realização fricativa das plosivas sonoras intervocálicas ([β ð γ])
surgiu no português europeu no século XVI paralelamente ao
desenvolvimento semelhante em espanhol e é típico dos dialetos
setentrionais e centrais do português europeu.355 Segundo a apresenta-
ção de John David Rhys, a pronúncia fricativa de /d/ ([ð]) em Portugal
já era comum em 1569; Duarte Nunes de Leão a atesta na sua
Ortografia de 1576 (cf. 5.3). O português brasileiro não participou
desse desenvolvimento, haja vista a atual situação fônica de plosiva.
Portanto, a distinta realização das plosivas sonoras intervocálicas se
tornou evidentemente o índice de diferenciação fonética mais antigo
entre o português europeu e o brasileiro.
A assimilação progressiva de [b], [d] após [m n] (também [tA’mEÌ],
quando [‘kwÄnu]), representada na pronúncia popular brasileira, pode
ser comparada com desenvolvimentos da Península Ibérica (e sul da
Itália).356 Em Portugal, Leite de Vasconcellos apresenta formas
correspondentes em Cadaval (Estremadura).357 Essa assimilação é
decorrente da articulação homorgânica (labial [m b]; dental [n d]).

355
O /d/ intervocálico na terminação da segunda pessoa do plural dos
verbos já havia sido transformado em fricativa no século XV.
356
Cf. lat. vulg. *palumba, cujo encontro -mb- foi assimilado em caste-
lhano (esp. paloma), aragonês e catalão, ao passo que em português, galego e
asturo-leonês foi conservado (port. pomba).
357
Cf. “tamém = também, imora = embora” (Leite de Vasconcellos 1987
[1901]: 100).
278

O desenvolvimento [v] > [b] (betacismo), também presente


esporadicamente no português brasileiro, é típico do norte e noroeste
de Portugal. Contador de Argote a atribuía, em 1725, à região do
Minho.358 No português brasileiro, Azeredo Coutinho a criticou em
1798 (cf. 5.5.2):
“[...] naõ lhes consentindo que pronunciem umas em lugar de
outras: v. gr. v em lugar de b, nem b em lugar de v [...]” (Azeredo
Coutinho 1798a: 47).

358
Cf. Teyssier (1984: 48, mapa). Contador de Argote explicou para a
região do Minho: “[...] a letra V consoante pronuncião como B” (1725: 293).
Leite de Vasconcellos é mais preciso: “Dans la Beira, en Entre-Douro-e-
Minho et dans la partie Sud de Trás-os-Montes, on confond d’une manière
générale b et v” (1987 [1901]: 95).
279

7.2 Morfossintaxe
7.2.1 Determinação e substantivos
Ao contrário do espanhol, que associava o pronome possessivo ao
artigo definido já na Idade Média e o abandonou hoje na língua
standard, o artigo ocorria apenas esporadicamente nesse contexto em
português medieval. No século XV, Fernão Lopes o usava em apenas
5% dos casos. Somente em Camões (s. XVI) é possível verificar um
aumento do uso do artigo em 30%, o qual, em Antônio Vieira (s.
XVII), chega a 70% e, em Alexandre Herculano (s. XIX), a 90%
(Said Ali 1965: 96). As percentagens são confirmadas na obra de Eça
de Queirós no século XIX. Em obras do século XX (p. ex., Augustina
Bessa-Luís) atingem entre 88% e 98% (Woll 1982: 75). A língua
escrita brasileira registrou em 1810, quando do início da imprensa de
jornais e livros, um uso do artigo por volta dos 80%, o que
corresponde diretamente ao desenvolvimento no português europeu e
à presença dos portugueses no Rio de Janeiro (a partir de 1808). Já em
1820, o uso do artigo caiu para 50% (Anderson 1995: 4). O manejo
livre do uso do artigo no português brasileiro baseia-se no uso
lingüístico mais antigo e enfatiza o desenvolvimento de uma
variedade de norma menos forte.
O artigo em português, até a época clássica, foi pouco usado com
regiões e topônimos (Silveira Bueno 1955: 227). Com Antônio Vieira
(s. XVII), já se apresenta nos seguintes exemplos, contudo, o atual
uso brasileiro: “pela Africa, pela Asia e pela America” (Said Ali
1965: 127). A posição do artigo, comparativamente mais freqüente no
português brasileiro, deu-se no sentido de uma nivelação (PB na
África vs. PE em África).
A omissão do artigo definido diante de substantivos, usados em
sentido geral, orienta-se, na língua popular brasileira, possivelmente
para o uso lingüístico tipicamente proverbial (cf. camarão que dorme,
onda leva).
A ausência da crase na ligação do artigo indefinido com a
preposição de (dum, duma) se deve, no português brasileiro, à
manutenção do [-i] final, vogal que se desenvolveu no século XVIII
para [-ö] no português europeu. A separação de em e o artigo
indefinido (em uma), encontrada na língua escrita brasileira,
corresponde ao uso lingüístico do século XVI:
280
[...] a nossa linguagem com que póssam ser doutrinados em os
preçeitos da nossa fé, que nella vam escritos” (Diálogo 1540: 85).
A limitação da marca de plural à primeira posição (as casa# branca#)
na língua coloquial brasileira manifesta-se como redução, por
economia lingüística, de uma marca morfológica redundante (cf. 6.3).
Corresponde ao desmantelamento sucessivo da flexão, típico das
línguas flexionais. Esse desenvolvimento também se consumou no
code phonique do francês (le [lö] bon pain vs. les [le] bons pains).

7.2.2 Pronomes e formas de tratamento


A tendência da língua falada para a supressão de relações oblíquas e
preposicionais, a favor do pronome relativo que, significa uma
nivelação que sublinha a preferência para as relações acusativas
diretas. Observa-se também em francês (fr. pop. la femme que je suis
avec em vez de avec laquelle).
Com relação aos pronomes demonstrativos, a mudança do sistema
ibero-românico de três formas para o de duas formas no português
brasileiro corresponde à redução de uma diferenciação, em princípio
redundante, renunciada também pelo francês (celui-ci, celui-là) ou
pelo inglês (this, that).
Com a tendência à posição fortalecida do pronome sujeito na
língua falada, o português brasileiro se afasta de seu status original de
língua pro-drop e se aproxima do francês, que gramaticalizou a
posição do pronome. A mudança em português brasileiro somente se
atesta no século XIX. Dessa forma, Tarallo (1998: 45) verificou, em
casos sintaticamente relevantes entre 1880 e 1981, um aumento no
uso do pronome sujeito de 32,7% para 79,4%. M. Duarte (1993: 112)
acompanhou o desenvolvimento entre 1845 e 1992 e registrou um
resultado comparável, com um aumento de 20% para 74%. Com
relação à interpretação das estatísticas, deve-se atentar para o fato de
que a fixação escrita da fala apenas pode fornecer um quadro
imperfeito da língua falada em 1880. Possivelmente, a percentagem
de pronomes sujeitos era já em 1880, de fato, maior na língua falada
do que o transmitido.
Esse desenvolvimento está, sem dúvida, associado à redução da
flexão verbal na língua popular e coloquial, bem como à cumulação
de funções gramaticais da terceira pessoa do singular. O pronome
sujeito se torna, assim, um substituto desambigüizador da flexão. A
281

quantidade de pronomes sujeitos de primeira e segunda pessoa,


comparativamente alta, face aos de terceira reside provavelmente no
fato de que a primeira e a segunda pessoa têm uma parcela claramente
mais ativa na comunicação. Além disso, deve-se diferenciar formal-
mente, no português brasileiro, a segunda pessoa da terceira.
No português brasileiro, a troca da segunda pessoa do singular
pela terceira se baseia no deslocamento de você para o âmbito do
tratamento informal, que ocorreu no século XVII (Teyssier 1984: 72).
Esse deslocamento equilibrou o sistema de forma análoga à queda da
segunda pessoa do plural, que acabou sendo abandonada no século
XIX. No português brasileiro regional, vós ainda ocorria, contudo, nos
anos 30 do século XX, como tratamento informal da segunda pessoa
do singular e se ligava com o verbo na segunda ou terceira pessoa do
singular: “Vóis me chamasse mixtiço” (Marroquim 1934: 112-113).
Na literatura brasileira, é notável a troca de tu por você na primeira
metade do século XIX. Em O Juiz de Paz da Roça, uma peça de teatro
de Martins Pena, de 1838, a troca de formas é evidente:
José Minha Aninha, não chores. Oh, se tu soubesses como é
bonita a Corte! Tenho um projeto para te dizer. [...]
Você sabe que eu agora estou pobre [...] (cf. M. Aze-
vedo 1981: 275).
O uso insistente de você como característica brasileira em O Periquito
ao Ar (Rodrigues Maia c1800; cf. 5.4.1) sublinha a difusão generali-
zada da forma no português brasileiro.
Evitar o pronome objeto átono de terceira pessoa, o, a,
substituindo-o parcialmente pelas formas tônicas ele, ela, em
português brasileiro, corresponde a uma tendência da língua falada de
substituir as formas curtas e morfologicamente fracas por meio de
outras mais encorpadas e mais expressivas. Segundo esse princípio,
desenvolveram-se muitas preposições românicas (cf. lat. de + in +
ante > diante). Essa tendência é também um motivo para a ampliação,
na língua coloquial brasileira, do campo funcional de para face a a no
dativo (fala pra ele) e em complementos de movimento (vou pra
universidade). O uso dos pronomes sujeitos tônicos ele, ela para
pessoas na função de acusativo é, em português, já atestado no século
XV, pelo cronista Fernão Lopes, na Crônica de D. Fernando
282

(c1436).359 Encontram-se numerosos outros exemplos, entre eles no


Cancioneiro da Vaticana (s. XVI), cujos modelos remontam ao século
XIV.360 Também no português europeu substandard do século XX,
Scherre/Naro (2001: 43) atestaram ele, ela para pessoas na função de
objeto direto.
O uso dos pronomes sujeitos de terceira pessoa como pronomes
objetos apóia-se no português brasileiro (1) no uso lingüístico mais
antigo, (2) na escolha de formas morfologicamente mais estáveis, (3)
na analogia do emprego pronominal com objetos preposicionados
(para ele) e (4) na topicalização do objeto por meio do deslocamento
para a direita do verbo, efetuada no uso oral (encontrei ele).
Quanto à referência a coisas, o uso dos pronomes sujeitos tônicos
no português brasileiro significa uma ampliação do campo funcional,
que é condicionada pelo enfraquecimento dos pronomes objetos. Esse
enfraquecimento também é responsável, sobretudo, pelo aumento dos
objetos nulos no português brasileiro. Com respeito ao tempo entre
1880 e 1981, Tarallo (1998: 45) informa uma forte redução dos
pronomes objetos diretos (60,2% > 18,2%) e preposicionais (72,9% >
44,8%). Com respeito aos pronomes objetos diretos, isso se deve
basear, preponderantemente, na rejeição das formas morfologicamente
fracas o, a. Tarallo não dá qualquer razão para a transformação e
conclui, a partir dos testemunhos, que o começo dos
desenvolvimentos tenha ocorrido no final do século XIX. Segundo
uma pesquisa de Cyrino (1993: 165), o número de objetos nulos no
século XVIII estava ainda por volta dos 14,2%. Na primeira metade
do século XIX, aumentou para 41,6%, atingiu, na primeira metade do
século XX, 69,5% e, na segunda metade do século XX, finalmente
estava em 81,1%. Quanto aos pronomes objetos diretos, isso
corresponde aos resultados de Tarallo (18,2% de objetos colocados
implicam 81,8% de objetos nulos).
O uso acusativo dos pronomes objetos de segunda e terceira
pessoa no lugar de você (a saber, te, lhe) resulta da coexistência de tu
e você no tratamento informal, sobretudo da posição fixa, pós-verbal,
de você, que às vezes parece pesada, do ponto de vista sintático (“Eu

359
“El-rei mandou-o logo prender, e levaram êle e Mateus Fernandes a
Sevilha” (Lima Coutinho 1968: 338).
360
“Perdi ela que foi arrẽ milhor”, “…desque vi ela” (cf. Silveira Bueno
1955: 211).
283

também estive, mas não vi você lá” → mas não te vi; cf. Nascentes
1949-50: 68). O uso de te no lugar de você é também atestado no
português brasileiro em O Juiz de Paz da Roça, de 1838: “Tenho um
projeto para te dizer. [...] Você sabe que eu agora estou pobre [...]”
(M. Azevedo 1981: 275).
A pronominalização do substantivo (a) gente surgiu em português
no século XVIII, sobressaiu-se no século XIX e se consolidou no
século XX (Santos Lopes 2002: 26, 32). No desenvolvimento
histórico, não existe nenhuma diferença evidente entre o português
europeu e o brasileiro (Callou/Leite/Moraes 2003: 109). O aumento
da freqüência no uso de a gente no português brasileiro é observável
no português brasileiro nos anos 70 e 90 do século XX, em face dos
resultados de pesquisas do projeto NURC. Nesse espaço de tempo, a
relação inverteu-se, dos 42% (a gente) para os 58% (nós) em 56% (a
gente) para 44% (nós). Contudo, esse resultado oferece apenas um
lado do espectro diacrônico de variedades do português brasileiro.
Marroquim testemunhou já, em A Língua do Nordeste, um uso
lingüístico popular generalizado de a gente em Alagoas e
Pernambuco: “Nos e vos obliquos não são empregados pelo povo. Nós
é substituido por a gente” (1934: 113). O fato que conduziu à
pronominalização de a gente está certamente associado à importância
das formas de tratamento nominais como você (< Vossa Mercê), o
senhor/a senhora, em português.
A posição dos pronomes objetos átonos, junto com a discussão
sobre a ortografia, manifestou-se como o ponto de discussão mais
controverso no diálogo sobre as variedades de Portugal e Brasil.
Nesse contexto e conforme esse ponto de vista, foi possível interpretar
o livro Iracema, de José de Alencar, de 1865, dependendo da postura
assumida, ou como libertação da escrita brasileira das obrigatorie-
dades da norma lusitana, ou como corrupção do português. A
apresentação, a seguir, do problema se limita, sem tomar conta dos
acontecimentos extralingüísticos, à formação das estruturas lingüís-
ticas.
A ênclise pronominal apresenta-se hoje, essencialmente, dentro do
quadro das línguas românicas, como uma particularidade do português
europeu. Remonta a uma lei da sintaxe românica medieval, cujo
princípio funcional abrangente, durante muito tempo, não foi
apresentado, sobretudo em publicações sobre o problema da
colocação dos pronomes em português. Trata-se da lei de Tobler-
284

Mussafia, que foi descrita por Tobler em relação ao francês antigo, e


por Mussafia, para o italiano antigo, mas diz respeito a todas a línguas
românicas medievais.361 Conforme essa lei, nenhuma frase deve
começar com um pronome pessoal átono. Em conseqüência disso, o
pronome objeto se apresenta encliticamente, a fim de evitar a primeira
posição no período ou na oração principal assindética. Dessa forma,
em italiano antigo, encontra-se a forma parmi iniciando a oração, em
vez de mi pare, assim como vidilo no lugar de lo vidi. Não se referem
à lei de Tobler-Mussafia nem Lawton (1965), em seu estudo sobre a
sintaxe do pronome objeto em português antigo, nem Endruschat
(1996), nem Schei, em sua monografia sobre a colocação pronominal
(2003).362
O princípio funcional da lei se baseia nas relações de entonação
em grupos rítmicos. Keniston (1937: 89) fala, nesse sentido, de um
breath-group. O pronome objeto fica em ênclise, se o acento principal
recai sobre o verbo, dentro de um grupo rítmico, por não existir, por
exemplo, nenhum grupo nominal que o preceda. Um grupo rítmico,
por exemplo, começa após conexões assindéticas ou uma pausa. Esse
princípio é atuante ainda hoje e governa também casos complexos de
colocação pronominal. Via de regra, as gramáticas do português dão,
nesse ponto, uma explicação casuística, não apontando para o
mecanismo geral. Teyssier (1976: 92-93) apresenta dois casos
especiais de mudança de posição do pronome, que são, nesse sentido,
simples de classificar no português europeu:
· Assim se resolveu o problema.
· Ela era também pobre, mas ele dar-lhe-ia o bastante para sustentar
Luisita e assim ficar-lhe-ia mais barato do que num colégio.
No primeiro exemplo, a tonicidade recai antes do verbo, em assim, o
que possibilita a próclise. No segundo caso, e assim funciona como

361
“Abbiamo fin qui trovato: a) enclisi costante in principio di periodo o
di proposizione principale asindetica; b) quasi costante in principale coordi-
nata con e, ma; c) concorrente colla proclisi in principale formante apodosi; d)
usata per analogia, e quindi non di rigore, nelle dipendenti coordinate
asindeticamente o per mezzo di e, ma senza ripetizione del pronome ecc.”
(Mussafia 1886: 299). Cf. Meyer-Lübke (1897), “Zur Stellung der tonlosen
Objektspronomina”.
362
Endruschat (1996: 98) cita somente a lei de Wackernagel, que
descreve um fenômeno de posição semelhante em grego antigo e em latim (cf.
Wackernagel 1892: 406ss.).
285

uma unidade autônoma, que interrompe, expondo o verbo seguinte e


fazendo, assim, atuar a ênclise.
· Três dias passam-se depressa.
· Três dias se passaram.
O primeiro exemplo reflete a ênclise generalizada hoje no português
europeu em orações principais afirmativas. A segunda oração
modifica a declaração, acentuando o atributo temporal introdutório
três dias (→ próclise).
Na língua escrita portuguesa, a posição enclítica, até o século
XVIII, se limita ao fato de se evitar o pronome numa posição inicial
em oração principal afirmativa. Isso corresponde ainda hoje à regra da
língua escrita brasileira. Compare em português brasileiro (Veja,
12/10/1994, 100-101):
· A vida se renova na seca no Pantanal.
· Entre os animais do Pantanal encontram-se alguns recordistas de
resistência.
No primeiro exemplo, o sujeito anteposto atrai o acento para si
(→ próclise); no segundo, uma nova seqüência rítmica começa com
encontram-se (→ ênclise). Também no português europeu a próclise
preponderava até o século XIX nas orações principais afirmativas em
que o verbo não ocupa a primeira posição. A difusão da ênclise nessas
orações, contudo, se esboça em português europeu no século XVIII e
atinge até 40% naquele tempo (Galves 2000: 145). Os exemplos
seguintes do português europeu do século XIX seriam hoje classifi-
cados como indiscutíveis violações à regra (cf. Anderson 1995: 5):
· A corveta se poz em fugida [Portugal 1805].
· O serviço se fará em cinco Repartições... [Portugal 1850].
A atual regra, para o português europeu, é, por conseguinte, o
resultado de um desenvolvimento que conduziu a uma ampliação
sistemática da ênclise em orações principais afirmativas, desde o
século XVIII, ultrapassando o mecanismo atuante na lei de Tobler-
Mussafia. Isso disfarça, da perspectiva atual, o princípio funcional
original da ênclise pronominal portuguesa. Para a discussão conduzida
em Portugal e no Brasil sobre a posição dos pronomes, isso significa
que o uso escrito brasileiro não rompe, de forma alguma, com uma
tradição do português. Ao contrário, tendo recusado a inovação
286

européia de ampliação da ênclise nos séculos XVIII e XIX, o


português brasileiro se aproxima mais do uso lingüístico original.
Como fundamentação para a ampliação da ênclise em português
europeu, referiu-se à redução das vogais átonas ocorrida no século
XVIII (cf. me [mö], te, lhe, o [u], a [ä]).363 Isso pode, contudo, não ter
sido decisivo, pois o galego também ampliou a ênclise em orações
afirmativas, sem que tivesse ocorrido uma redução das vogais átonas.
Com a generalização da próclise na língua falada, o português
brasileiro segue o desenvolvimento comum das línguas românicas.
A perda do princípio funcional da lei de Tobler-Mussafia significa
um passo decisivo na transição das formas lingüísticas medievais para
as modernas. No francês, a próclise se impôs já no século XIV; no
italiano, uma fase de generalização se seguiu até cerca de 1600
(Ulleland 1960: 79). No espanhol, a próclise se tornou usual, de modo
geral, somente no século XVII; formas enclíticas surgem, contudo,
ainda no século XVIII.364 No presente, verifica-se uma continuação da
atuação da lei somente no padrão europeu do português e na língua
escrita brasileira. Em italiano e em espanhol, encontram-se, na língua
escrita, somente resquícios do antigo uso (it. affittasi appartamento,
esp. dícese que).
Contudo, existe, ainda hoje, uma estrutura sintática nas línguas
românicas diretamente relacionada com o princípio de rejeição da
primeira posição do pronome. Trata-se da ênclise do imperativo (esp.
dime, dígame; it. dimmi, mas: mi dica). Ela destaca, por um lado, a
associação originalmente significativa entre o acento tônico e a
segunda posição sintática para o português/romance e, por outro,
testemunha, por meio da variante italiana mi dica, uma estrutura
análoga à do português brasileiro. Na posição do pronome objeto
átono, o português brasileiro apresenta hoje, com a generalização da
próclise na língua falada, inclusive no imperativo (PB me ajuda, me
diga), o desenvolvimento mais progressivo entre as línguas
românicas.
Nos tempos compostos, a colocação do pronome depois do verbo
auxiliar parece corresponder à antiga preferência para a segunda

363
Cf. Said Ali (1895, apud Pimentel Pinto 1978-81: 453), Gärtner
(1997a: 337).
364
“Quedòse muy confuso el Saliva, y dixo [...]” (Gumilla 1982 [1745]: I,
128).
287

posição (tinha me visto) que se generalizou, até na presença do


pronome sujeito (ele tinha me visto) e em frases negativas (não tinha
me visto). A eliminação da mesóclise se deve à nivelação de uma
irregularidade morfológica.
A próclise do pronome objeto foi avaliado como característico do
português brasileiro pela primeira vez na peça de teatro portuguesa O
Periquito ao Ar (Rodrigues Maia c1800).

7.2.3 O verbo
Os desenvolvimentos diacrônicos na morfologia do verbo tendem, em
geral, no português brasileiro, a uma simplificação do sistema. Isso
diz respeito ao ajuste de formas especiais, ao nivelamento análogo das
formas no paradigma verbal da língua popular brasileira (cf. 3.2.3,
6.3) e ao alargamento do indicativo na construção do imperativo na
língua coloquial.
A analogia formal é favorecida pela interferência da forma
substituta da primeira pessoa do plural (a gente fala > nós fala), a
extensão e freqüência de você (você fala > tu fala) e a desnasalização
da terceira pessoa do plural (eles falam > eles falo, eles fala). A
desnasalização e adaptação da terceira pessoa do plural para a terceira
pessoa do singular são também testemunhados no norte de Portugal:
eles faço, eles faz, eles tir, eles quer, eles diz (Martins Sequeira 1957:
21).
A marcação adverbial do futuro (vou amanhã), comum na língua
coloquial brasileira, ocorre também no espanhol, sobretudo no
americano (voy a cantar). A forma perifrástica de futuro segue um
desenvolvimento que já conduziu, na formação das línguas românicas,
à difusão de uma forma semelhante (lat. cantabit > lat. vulg. cantare
habet). Há línguas românicas que formam o futuro geralmente de
maneira perifrástica (sardo, romeno).
O extenso uso do indicativo em função imperativa na língua
coloquial brasileira contemporânea foi qualificado ainda como
incomum, sobretudo no imperativo negativo, para as cidades do
Nordeste, no primeiro terço do século XX (não faça isso, menino),
enquanto Nascentes o descrevia como corrente, para o Rio de Janeiro
daquela época (cf. Marroquim 1934: 212, Nascentes 1953: 92).
A generalização da terceira pessoa do singular tem em vez de há
com sentido impessoal mostra-se, no português brasileiro, como
288

imposição de uma tendência coloquial que escolheu não só o


conteúdo semântico mais expressivo (‘ter a posse de’), mas também a
forma mais substancial, do ponto de vista morfológico. Pelas mesmas
razões, há é, em parte, substituída, no seu significado temporal, no
português brasileiro falado, ou por faz ou por tem (faz três anos). Na
formação dos tempos compostos, também se substituiu em português
haver por ter (tem, tinha chovido). Somente a língua escrita brasileira
tende ao uso de haver no mais-que-perfeito. Mesmo no sentido futuro
perifrástico ter ganhou algum terreno no português brasileiro (ele tem
a pagar vs. ele há de pagar; Callou/Avelar 2002: 65-66). Tem já é
atestada, no sentido impessoal, no século XVI, por exemplo, na
Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (terminada em 1580).365 Júlio
Ribeiro comentou em sua Grammatica Portugueza, no final do século
XIX:
“«TEM muita gente na egreja [sic] — Agora TEM muito peixe no
tanque». Este uso vai-se tornando geral no Brasil, até mesmo entre
as pessoas illustradas” (J. Ribeiro 1890: 296).
Além disso, Scherre/Naro (2001: 43) também apresentam um uso
correspondente de tem no português europeu substandard do século
XX.
Quanto às perífrases verbais com gerúndio (estou escrevendo) em
português brasileiro, trata-se, do ponto de vista histórico, de uma
construção corrente de modo geral, que, no português europeu, só foi
abandonada, ao longo do século XIX, em prol de uma construção
preposicionada (estar a + infinitivo), mas que, ainda hoje, é mantida
no sul de Portugal.366 Na primeira edição da gramática de Meldola, de
1785, a perífrase preposicionada ainda não é mencionada. O
comentário de Schäfer (1997: 276-277), de que Meldola
“interessantemente” se restringia à forma com gerúndio, típica do
Brasil, esquecendo-se da forma habitualmente usada em Portugal,
evidentemente, não levou em consideração o desenvolvimento
histórico do português europeu. No século XIX, o gerúndio ainda era
difundido na literatura portuguesa (p. ex., em Eça de Queirós).

365
“Nos matos da costa tem muito pau brasil [...]” (cf. Silveira Bueno
1955: 207).
366
Cf. Anderson (1995: 2-3), Leite de Vasconcellos (1987: 121), Kröll
(1994: 553).
289

A negação repetitiva na língua coloquial brasileira (não quero


não) é também um arcaísmo, que ocorre em épocas antigas do
português.367 A construção exercia originalmente uma ênfase, por
meio da repetição pós-verbal, atuante como no francês antigo.368
Corresponde também ao princípio da dupla negação do português que
destaca um pronome indefinido negativo, por meio da anteposição do
advérbio não (não sei nada, não vi ninguém). Repetições enfáticas são
também observáveis, em outros casos, tanto em português brasileiro
(“Já vem já”; Marroquim 1934: 202) quanto em português europeu
(Já! Já!; Ele é rico, rico). O poeta originário do Ceará, Juvenal
Galeno da Costa e Silva, utiliza a negação repetitiva em suas Lendas e
Canções, na segunda metade do século XIX (Seraine 1949: 70).
A construção com em, corrente na língua coloquial, com verbos de
deslocamento (vou, cheguei no centro) é um arcaísmo, que remete ao
uso latino de in + acusativo (cf. fr. je vais en ville) e é atestado, por
exemplo, no Cancioneiro da Vaticana (s. XIV, compilado no s. XVI),
depois em João de Barros e em Camões (s. XIV).369 No português
brasileiro, algumas construções cristalizadas são também encontradas
(à → na mesa, na porta, na quinta-feira, na sombra). Scherre/Naro
(2001: 43) documentaram o uso de em associado a movimento
também no português europeu substandard do século XX. Evidente-
mente, trata-se da repressão de uma forma morfologicamente fraca,
como ocorreu com os pronomes objeto o, a (cf. 7.2.2). A substituição
da preposição a tem correlação, no português brasileiro falado, com a
ampliação, para complementos de movimento, do campo funcional de
para face a a (PB vou pra universidade).

367
“Diferentemente de nós, e de acôrdo com a linguagem vulgar, os
escritores antigos, e ainda alguma vez os quinhentistas, empregavam sem
restrições a negação dupla, e até tríplice, com efeito reforçativo” (Said Ali
1965: 199). Gil Vicente: “E este serão glorioso|Não he de justiça, não” (Barca
do Purgatório 1518: 104).
368
Cf. lat. non + verbo > fr. ant. (uso acentuado) ne + verbo + pas (point,
gote, mie). No français familier, a negação pas preponderantemente se
deslocou para a posição à direita do verbo.
369
Cancioneiro da Vaticana: “En a primeyra rua que cheguemos...” (cf.
Silveira Bueno 1955: 214). João de Barros: “era vindo nesta terra” (cf. Lima
Coutinho 1968: 338-339). Camões: “Nalgum porto seguro de
verdade|Conduzir-nos, já agora, determina” (Lusíadas, II, 32); “Os Cabelos da
barba e os que decem|Da cabeça nos ombros, todos eram|Uns limos prenhes
dágua, e bem parecem” (Lusíadas, VI, 17).
290

Isso vale também para a ampliação da marcação do dativo por


meio de para. Assim, diz-se no português brasileiro me fala ou fala
pra mim, fala pra ele. O uso de para nesse contexto é testemunhado
em Lopes Gama (1842), em O Carapuceiro (fac-símile apud M.
Pessoa 1994: 78): “Espiou para elle, espie isso, espie aquillo” com
significado e construções análogas a ‘olhou para ele, olha isso, olha
aquilo’.
Alargando a estrutura SV, ocorre, no português brasileiro, um
paralelo com o francês, que também encontra uma correspondência no
français familier, no que diz respeito às orações interrogativas diretas
(où tu vas?). Tarallo (1998: 49) relata, considerando um trabalho de
Duarte, para as orações interrogativas diretas, um aumento da
estrutura SV de cerca de 20% para mais de 90% num período entre
1918 e 1989 (1998: 49). Berlinck (1989: 97) compreende, entre 1750
e 1987, o desmantelamento geral da estrutura VS no português
brasileiro da ordem de 42% para 21%.

7.2.4 Língua falada e língua escrita


Devido à falta da imprensa e de instituições educacionais adequadas
até o século XIX, o desenvolvimento do português brasileiro
manifesta-se, em grande medida, como um desenvolvimento que
seguiu a base da língua falada.370 Celso Cunha afirmou, a respeito
disso:
“Entramos assim no século XIX com uma distância enorme entre a
língua escrita e a língua falada” (C. Cunha 1979: 77).
A polimorfia com relação ao chiamento, à palatalização de /t/, /d/ e à
realização de /r/ dão uma idéia disso. No âmbito da gramática, seria
desejável encontrar um caminho para a normatização do português
brasileiro, o qual deveria oferecer uma orientação confiável nas áreas
controversas entre a língua falada e a língua escrita. Estritamente
falando, existe, nesse sentido, uma indecisão contínua entre língua
falada, a língua usada pelos meios jornalísticos e uma gramática
codificada que busca um certo equilíbrio com a norma européia, no
tocante à interpretação do catálogo de regras lusitanas. Nesse
contexto, lembremo-nos da alusão irônica à situação lingüística na

370
Cf. T. L. Ferreira (1966), História da Educação Lusobrasileira.
291

“Carta pras Icamiabas” de Mário de Andrade, em Macunaíma, no ano


de 1928:
“Mas cair-nos-íam as faces, si ocultáramos no siléncio, uma
curiosidade original deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de
expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e
escrevem noutra. [...] Nas conversas, utilizam-se os paulistanos
dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na
vernaculidade [...] Mas si de tal desprezível língua se utilizam na
conversação os naturais desta terra, logo que tomam da pena, se
despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu,
exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana,
no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperescível
galhardia, se intitula: língua de Camões!” (M. de Andrade 1988:
84).
Visto que as línguas de cultura se baseiam hoje numa normatização,
pergunta-se, com respeito ao estado do desenvolvimento do português
brasileiro, se, dada a atual distância de normas, devemos continuar
abandonando o sistema brasileiro para uma auto-regulação lingüística
ou ter em conta a situação de língua, no sentido de dar uma orientação
seletiva. Isso poderia, no âmbito da colocação pronominal, por
exemplo, conduzir para que a próclise seja aceita como usual na
língua falada e que, na língua escrita, a ênclise seja prevista somente
em posição inicial do grupo rítmico. Nesse contexto, é surpreendente
a observação do filólogo português F. A. Coelho que afirmou no final
do século XIX:
“[...] acordar eles é correcto no Brasil, por isso que é determinado
pelas tendências características do falar brasileiro. [...] em Portugal
é incorrecto dizer acordar eles; no Brasil será muito
provàvelmente incorrecto um dia dizer acordá-los. As línguas são
arrastadas num movimento evolutivo, que as opiniões dos
gramáticos podem atenuar um pouco, mas nunca impedir” (F. A.
Coelho 1880-86: 173).
As peculiaridades do português brasileiro são uma realidade.
Aparecem nos trabalhos lingüísticos, com toda a evidência, mas as
reflexões ainda carecem de resultados práticos, no que diz respeito à
elaboração de um instrumentário oferecido àqueles que vivem essa
realidade lingüística. Cem anos depois da Independência, o português
brasileiro se manifestou no movimento modernista e declarou a
separação da “sintaxe lusa” (cf. Barbadinho Neto 1972). Cem anos
292

depois do Modernismo, ou melhor, antes ainda, o português do Brasil


deveria finalmente dispor de uma gramática brasileira para uso. Não
adianta muito levar em consideração regras (p. ex., de ênclise), as
quais nem os melhores jornalistas do Brasil respeitam. Quanto a isso,
os Manuais de Redação estão mais perto da realidade que as
gramáticas. Já há muito tempo, o uso ultrapassou as gramáticas
publicadas no Brasil. É necessário que se restabeleça um certo equi-
líbrio. Uma nação moderna como o Brasil precisa de uma língua
normatizada, e aqueles que se formam em suas escolas precisam se
identificar com a língua que é sua.

7.3 Léxico
Faltam ainda hoje as bases para uma descrição diacrônica do
vocabulário do português brasileiro ou para uma apresentação da
diferenciação, organizada contrastivamente com o português europeu.
A história do vocabulário português no Brasil não foi, até hoje,
esclarecida. Faltam até mesmo trabalhos preliminares com relação ao
registro dos primeiros empréstimos, como analisamos no capítulo 5.2.
Para a história lexical do português, dispõe-se da pouco sustentada
História do Léxico Português de Messner (1990), que exclui o Brasil.
Numa contribuição não publicada, Woll investigou, no 4o congresso
da Associação Internacional de Lusitanistas (1993) um certo número
de antigos testemunhos de brasileirismos nos dicionários portugueses.
Nesse assunto, dever-se-ia, em princípio, avaliar comparativamente
toda a literatura portuguesa sobre o Brasil inclusive a correspondência
dos séculos XVI a XVIII.
Como auxílio, dispomos nesse meio tempo do Dicionário
Histórico do Português do Brasil, que permite a pesquisa eletrônica
de palavras e contextos em documentos,371 bem como do Corpus do
Português, que reúne textos de 1300 a 1999 e possibilita uma busca
diferenciada entre Portugal e o Brasil no século XX.372 Dispomos
também do Dicionário dos Dicionários Portugueses (Messner
1994ss.) que resume sinopticamente o material dos dicionários portu-
gueses até a sexta edição do dicionário de Morais Silva em 1858. Para
as obras etimológicas, o Dicionário Histórico das Palavras

371
Cf. http://moodle.icmc.usp.br/philologic/; acesso restrito.
372
Cf. www.corpusdoportugues.org/; 06/06/07.
293

Portuguesas de Origem Tupi (DHPT) oferece um auxílio valioso, com


suas datações. Contudo, o DHPT inclui apenas material que o autor
mesmo pôde verificar, sem admissão de documentos de outras
fontes.373 Além disso, o Dicionário Eletrônico Houaiss (cf. 3.3), que
aproveitou o acervo lexicográfico de A. G. da Cunha, na Fundação
Casa Rui Barbosa,374 ampliou as possibilidades de pesquisas lexico-
gráficas do português brasileiro. A sua ferramenta “pesquisa de
datação”, por exemplo, facilitou muito a redação do capítulo 5.2 sobre
os primeiros empréstimos tupi (1500-1570).
Desenvolvimentos diacrônicos e diatópicos no vocabulário do
português do Brasil podem ser encontrados desde muito cedo. Desse
modo, Antônio Vieira, por exemplo, em 1654, informa, numa carta do
Rio Tocantins:
“À meia-noite fizemos pábóca, que é a frase com que cá se chama
o partir, corrompendo a palavra da terra, e nos dias seguintes
passámos as praias da viração” (Peixoto/Alves 1921: I, 257).
Conforme a explicação do termo “pábóca” de Vieira, trata-se de um
empréstimo temporário que evidentemente está relacionado com o
tupi paba ‘acabar, chegar ao fim’ e formou um híbrido com o sufixo
português -oca. Possivelmente, a palavra encontrava uma difusão
apenas regional e hoje não é mais conhecida.
Em 1842, Lopes Gama criticava, no seu jornal O Carapuceiro, em
Recife, o uso freqüente do verbo espiar no sentido de ver, olhar:
“Por esses matos bem poucas pessoas fazem uso do verbo ver; ou
olhar: tudo he espiar Espiou para elle, espie isto, espie aquillo”
(fac-símile apud M. Pessoa 1994: 78)
Embora exista a transmissão do significado em português (cf. espiada
‘olhada’), o uso aqui descrito do verbo espiar não é mais usual hoje
no Nordeste do Brasil e também atualmente não é mais documentado
por escrito (cf. Navarro 2005, Dicionário do Nordeste). No romance
A Bagaceira, de José Américo de Almeida, publicado em 1928, espiar

373
“O consulente observará, folheando, por exemplo, o Dicionário Eti-
mológico Resumido, de Antenor Nascentes, que são numerosos os vocábulos
portugueses de origem tupi aí registrados que não foram incluídos no DHPT”
(DHPT, 15).
374
Cf. www.casaruibarbosa.gov.br/template_01/default.asp?VID_Secao=
97; 06/06/07.
294

ainda é usado nesse sentido: “[…] ou saía de golpe ou ficava a espiar


para fora.” (Silva de Aragão 1984: 82).
O processamento histórico do vocabulário português, em
comparação com o do francês e do espanhol, é, de modo geral, menos
desenvolvido. Isso vale, sobretudo, para o português brasileiro,
embora o monumental Dicionário Houaiss signifique um grande
passo adiante. Às vezes existe uma grande distância temporal entre o
surgimento de uma palavra e sua aceitação lexicográfica, como se
mostrou na história da palavra brasileiro (cf. 4.3). O pronome
interrogativo, usual na linguagem coloquial brasileira, cadê é datado
por Houaiss (s.v.) como de 1912. Lopes Gama citava, contudo, essa
palavra já em 1842, em O Carapuceiro: “Diz cadè elle? em vez de
que he delle?” (fac-símile apud M. Pessoa 1994: 78). O nome da fruta
abacaxi, que, como ananás, provém do tupi, é registrada, segundo o
DHPT (s.v.), somente em 1833. Houaiss (s.v.) pôde retroceder a
primeira abonação aqui para cerca de 1776.375
Antes do século XIX, ainda não há uma verdadeira base lexico-
gráfica para o português brasileiro (cf. 5.1). O Diccionario da Lingua
Portugueza (Morais Silva 1813), que reúne, pela primeira vez, um
número maior de brasileirismos, se concentra no vocabulário da fauna
e flora (cf. 5.5.4) e oferece pontos de apoio para desenvolvimentos
semânticos no português brasileiro, somente nas edições posteriores.
Desse modo, uma avaliação da bibliografia brasileira deveria ser
efetuada, sobretudo da língua escrita desde 1808, em comparação com
o léxico do português inventariado naquela época, para bem
compreendermos esses desenvolvimentos no vocabulário. Anderson
(1995) chegou a interessantes resultados em morfossintaxe, avaliando
textos portugueses impressos do século XIX, tanto de Portugal quanto
do Brasil.

375
Cf. abacaxi no Corpus de Português: s. XIX; no Dicionário Histórico
do Português do Brasil: 1801 (para os sites, v. acima).
295

7.4 Ortografia376
As diferenças na ortografia entre Portugal e o Brasil são a conse-
qüência de esforços divergentes para realizar uma reforma ortográfica,
considerada necessária por volta do final do século XIX, dada a quase
ausência de regras naquele momento.377 José de Alencar falava, em
1870, de uma “incerteza que reina sobre a ortografia da língua portu-
guesa” (Alencar 1979: 99).
Em ambos os países, empregaram-se também considerações a
respeito de uma ortografia orientada foneticamente.378 Paranhos da
Silva deixou claro, em Systema de Orthographia Brazileira que o
Brasil não aceitaria, sem mais, a escrita etimológica preferida em
Portugal:
“Portãto, não cõcorramos para a corrupsão do nóso idioma; não
Epreguemos a ortografia semijeroglìfica, como quérE aqueles para
quE é de Interèse què nós cõtinuemos coázi como os Japonezes,
què se sérvE dos livros da China....” (Paranhos da Silva 1880: 46).
As considerações de Gonçalves Viana, a respeito de uma
simplificação ortográfica (Bases de Ortografia Portuguesa),
publicadas em Portugal, em vários escritos, a partir de 1885, não
encontraram, inicialmente, nenhuma repercussão geral.379 Nesse meio
tempo, a Academia Brasileira de Letras, em 1907, também trabalhava
propostas para a alteração da ortografia (cf. Monteiro 1956: 18-22).
Antes que um caminho comum fosse encontrado, Portugal aprovou,
em 1911, contudo, para a surpresa de todos, uma reforma própria,
face a contradições ortográficas que apareceram até no Diário do

376
Para o desenvolvimento das regulamentações em português europeu e
brasileiro, cf. Dantas (1941), Monteiro (1956: 9-109), Chaves de Melo (1957:
267-286), Teyssier (1976: 41-43), I. Castro (1991a), Teyssier (1994: 157-
159), Garcez (1995), Mariani/de Souza (1996), Thielemann (1997).
377
“Teem escritores suas ortografias próprias, como as teem as imprensas
particulares e as do Estado. E nas do Estado são diferentes as ortografias da
Imprensa Nacional e as da Imprensa da Universidade [...] (Gonçalves Viana
1885, apud I. Castro 1991a: 377).
378
Portugal: Barbosa Leão (1875), Consideraçõis sobre a Ortografia
Portugueza; cf. I. Castro (1991a: 368-377) — Brasil: Paranhos da Silva
(1880), Sistema de Ortographia Brazileira.
379
Pontos essenciais foram a dissolução de dígrafos com <h>, baseados
no grego antigo, e as consoantes dobradas (exceto <rr> e <ss>).
296

Govêrno e que foram criticadas. A problemática do dualismo


português-brasileiro se tornou evidente, com a tentativa de aplicar
essa reforma também no Brasil, uma vez que tanto considerações
políticas quanto a diferença na pronúncia se opunham a uma
unificação. O prólogo que Macedo Soares tinha escolhido para seu
Diccionario Brazileiro da Lingua Portugueza, de 1888, já era um
credo geral no Brasil:
“Já é tempo dos brazileiros escreverem como se falla no Brazil, e
não como se escreve em Portugal” (Macedo Soares 1888: 3).
Em 1931, foi assinado um acordo luso-brasileiro, que devia fixar a
reforma portuguesa de 1911 também no Brasil, mas foi suspenso, do
lado brasileiro, em 1934, por razões práticas. O ponto de vista
brasileiro, orientado pragmaticamente, é expresso por Mota Assunção:
“O Brasil rejeita tudo que no sistema português porventura esteja
em conflito com a pronúncia normal brasileira” (Mota Assunção
1933: 10).
Após a publicação de vocabulários ortográficos divergentes, em
Portugal (1940) e no Brasil (1943), um acordo renovado surgiu em
1945 entre ambos os países, o qual novamente não foi aplicado no
Brasil. Nos anos 70, as regulamentações existentes foram levemente
modificadas (Brasil 1971, Portugal 1973), tendo ambos os países se
aproximado na regulamentação. Os conteúdos das diversas medidas
são, ao contrário da documentação ortográfica do século XVI, de
importância secundária, do ponto de vista da história científica e não
tinham, em si, nenhuma relevância para o desenvolvimento da lingua-
gem. Citamos mais uma vez Mário de Andrade que ironizou questões
ortográficas em Macunaíma: “[...] e muitas horas hemos ganho,
discreteando sobre o z do termo Brazil” (M. de Andrade 1988: 84-85).
A existência de diferentes ortografias conduziu, contudo, ao
abandono de diversos projetos de dicionários comuns (cf. Houaiss
1995: 95). Considerando o manejo lexicográfico sem problemas do
inglês britânico e americano, no tocante à ortografia e à pronúncia,
tais razões, no âmbito da língua portuguesa, perdem o terreno da
objetividade científica.
Outras tentativas foram tomadas em 1975 e em 1986, a fim de
realizar a unificação entre Portugal e Brasil. Em 1990, surgiu um novo
Acordo Ortográfico, como situação intermediária para o projeto de
297

reforma de 1986 – amplo demais e, por isso mesmo, bastante


controverso – que, como o acordo de 1945, deveria estabelecer a
concordância de ambos os países. Como projeto comum, nesse meio
tempo, para todos os países lusófonos, o Acordo de 1990 projetou, até
1993, a redação de um vocabulário ortográfico e devia entrar em vigor
em 1994.380 Em 1991, foi ratificado por Portugal e em 1995 pelo
Brasil. Devido à demora na aceitação pelos PALOP (somente Cabo
Verde havia aceitado), que se orientam todos, em princípio, pela
norma européia, o Acordo não passou, contudo, a ter validade.
Considerando as demoras ocorridas, a Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa, criada em 1996 (CPLP; cf. Große 1996) assinou,
em 1998, um protocolo de alterações que considerava novamente a
ratificação de todos os países e a produção de um novo vocabulário
ortográfico. Em 2004, foi aprovada uma adenda que tornou possível a
entrada em vigor do Acordo, com a ratificação de apenas três países.
Em 2006, São Tomé e Príncipe foi o quarto país a ratificar o Acordo.
É óbvio que o Acordo Ortográfico de 1990 contém um importante
componente político, com o qual a Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa busca manifestar-se como unidade e consolidar-se. Com
isso, a ostentativa integração dos estados PALOP deve fortalecer a
posição da língua portuguesa na África (cf. Garcez 1995: 172-174).
No entanto, a reorganização da ortografia portuguesa não visa atingir
a unificação total, reconhecendo as diferenças sistemáticas entre
Portugal e o Brasil. Na nota explicativa do Acordo de 1990 (Anexo
II,2), aponta-se que as regulamentações de 1945 e 1986 poderiam ter
obtido respectivamente 100% e 99,5% de concordância na ortografia.
Com o Acordo de 1990, pretende-se, todavia, atingir uma concor-
dância a congruidade em 98% dos casos.
Contudo, segundo uma pesquisa de Wittmann/Pêgo/Santos (1996)
sobre 48.019 lemas do vocabulário do português europeu, desviam-se
ortograficamente do português brasileiro somente 2,35% das palavras,
segundo a regulamentação prévia. Isso equivale uma concordância em
97,65% dos casos. O almejado Acordo de 1990, então, incrementa

380
Art. 2: “Os Estados signatários tomarão, através das instituições e
órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até
1 de Janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua
portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto
possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.” (cf.
www.grci.pt/documentos/internacional/acordo_ortografico.pdf; 06/06/07).
298

esse resultado em apenas 0,35%. Face a esses dados, coloca-se mais


uma vez a questão sobre qual vantagem pode haver na nova regula-
mentação, pelo menos do ponto de vista lingüístico? Dado que sempre
permanecem diferenças ortográficas entre o Brasil e os demais países,
teria sido mais razoável reconhecer mutuamente as duplas grafias já
existentes. A obsessão de uma reforma ortográfica desnecessária, mas
custosa, porém, apoderou-se recentemente também da Alemanha.
Se as forças unificadoras se contentarem com os resultados do
Acordo de 1990, de uma escrita comum concordante (mas sempre
algo divergente), talvez acabem aceitando também outras divergências
entre o português europeu e o brasileiro, em vez de continuar
preenchendo objetos nulos com os clíticos respectivos em livros
brasileiros (cf. 3.2.2).381 Para os observadores pragmáticos do
espectro de variedades portuguesas, em todo caso, o princípio da
unidade na diversidade sempre foi a melhor base para uma comuni-
dade lingüística de extensão multicontinental.

381
É verdade que o fato de desfigurar uma obra literária para não expor os
próprios leitores aos efeitos de outra variedade da mesma língua tem ainda
outra dimensão. Entretanto, até agora, ninguém teve a idéia de adaptar um
romance do americano Hemingway a fim de salvar o público britânico de
eventuais distúrbios lingüísticos.
299

8. A periodização do português brasileiro


8.1 Preliminares
No âmbito da diferenciação do português brasileiro, surge o tema da
periodização da história da língua no Brasil. No contexto lingüístico, a
periodização corresponde geralmente a uma classificação em vários
períodos, fases e subfases não necessariamente idênticos à periodiza-
ção da história literária. Cada periodização é um processo subjetivo de
divisão retrospectiva, dado que, na sincronia, a língua não apresenta
rupturas evidentes para seus falantes.
Segundo Saussure, distinguimos os elementos internos e os
elementos externos da língua, o que reflete também o fato de os
idiomas possuírem uma história interna e uma história externa. A
história interna afeta o sistema e as mudanças desse sistema. A
história externa concerne aos eventos históricos e sociológicos
suscetíveis de influírem na evolução da língua. São fatores como a
conquista de um território, a convivência com outra língua, a
escolarização ou a introdução de novos meios de comunicação (rádio,
televisão). Trata-se também de intervenções diretas decorrentes da
política lingüística como processos de estandardização, a elaboração
de tecnolectos e, às vezes, até a planificação da gramática (cf. Hagège
1995).
Com vista a um passado mais remoto, não é sempre fácil valorar o
impacto dos elementos sócio-históricos. Contudo, não pensamos que a
definição de Saussure, “est interne tout ce qui change le système à un
degré quelconque” (1931: 43), seja enigmática, como a caracterizou
Blumenthal (2003: 39). Saussure não pretendeu excluir a possi-
bilidade de os elementos externos influírem na evolução da língua.
Pelo contrário, logo que um elemento externo afeta o sistema, o
resultado dessa mudança se torna interno.382 Pois a mudança
lingüística se origina na fala e se baseia na variação sincrônica da
língua. Os elementos internos, por sua vez, não costumam interferir
nos elementos externos.

382
Veja a relação esboçada por Kiss: “[...] nous croyons cependant – et il n’y
a là rien d’étonnant si l’on prend au sérieux le concept de “structure” –
que toute influence externe qui atteint un élément de la langue s’exerce
nécessairement par l’intermédiaire de l’ensemble structuré dans lequel
prend place l’élément en question” (1982: 4).
300

As tentativas de periodização, como todas as classificações, são


relativas e dependem dos critérios que são levados em conta. Em
contraste com as periodizações na história da literatura, parece
evidente que a periodização da história de uma língua deve basear-se
principalmente em critérios lingüísticos, como na variabilidade dos
elementos internos através dos tempos e nas mudanças estruturais. No
entanto, não é razoável separar a evolução de uma língua da sócio-
história de seus falantes. Ao contrário do que afirma Elizaincín (1998:
144), convém manter a distinção de elementos internos e externos,
porque pertencem a categorias diferentes. Se a periodização fosse
reduzida a meros fatos históricos ou sócio-históricos, estaria situada
fora do quadro lingüístico. A vinculação de ambas as categorias é
necessária para chegar a uma periodização mais coerente, mesmo que
o problema da não-simultaneidade de alguns fatores seja evidente.
Concordamos com Gärtner (1999: 883) sobre o fato de a
contemporaneidade de vários processos de mudança poder resultar
uma fronteira temporal, que se relaciona também com um fato externo
suscetível de intervir nesses processos, mas não necessariamente
responsável por eles. Quanto à língua portuguesa, a síntese de Gärtner
distingue o período do galego-português (800-1350), dividido entre
uma fase maiormente oral e a formação da tradição escrita (1200-
1350), o português pré-clássico (1350-1550), que apresenta uma fase
transitória, e o português moderno (desde 1550). O português
moderno se subdivide no português clássico (1550-1750), numa
segunda fase transitória (1750-1850) (sem denominação da parte de
Gärtner) e no português contemporâneo (desde o s. XIX). Nessa
periodização, os critérios lingüísticos são evidentes. Salientam a
reestruturação românica até aproximadamente 800 e as duas fases
transitórias, que refletem as mudanças fonéticas/fonológicas e
morfossintáticas, entre o galego-português, o português clássico e o
português moderno.

8.2 Propostas de periodização referidas


Ao contrário do português europeu e de outras línguas românicas, no
português brasileiro, as propostas de periodização se limitam quase
exclusivamente aos fatores externos. Isto se deve também à escassez
dos dados lingüísticos conhecidos até o século XIX. Contudo,
dispomos de dados internos sobre a formação do português brasileiro
301

(cf. cap. 5). Observa-se também que nenhuma das propostas


existentes se baseia em períodos. Como não houve nenhuma
reestruturação fundamental da língua, como a que aconteceu no fim
da Idade Média, a história do português brasileiro costuma classificar-
se em fases e subfases.
Silva Neto (1946: 9-32) distingue “As três fases da história da
língua portuguesa no Brasil”, adotadas também por Vásquez
Cuesta/Mendez da Luz (1980: 221-224):
(1) de 1532 a 1654, desde o início da colonização até a expulsão dos
holandeses do Nordeste;
(2) de 1654 a 1808, quando chegou a família real portuguesa ao
Brasil;
(3) de 1808 em diante.
No que diz respeito às fronteiras temporais alegadas, observa-se que,
além de serem todas externas, uma delas carece de toda a relevância
lingüística. A invasões holandesas no Nordeste (1624-25 e 1630-54)
não tiveram nenhum impacto na evolução da língua. Não é falso
constatar que a expulsão dos holandeses marcou, em definitivo, o
caráter português da colonização (Lobo 2003: 397), mas a interiori-
zação do Brasil dos séculos XVII e XVIII não é conseqüência do
interlúdio holandês. Pelo contrário, se os holandeses tivessem conse-
guido manter-se no país, a data teria mais importância.
Segundo a periodização de Teyssier (1984 [1975]: 75-78), existem
igualmente três fases na evolução da língua portuguesa no Brasil:
(1) o período colonial até a chegada da família real portuguesa ao
Brasil em 1808;
(2) de 1808 à Independência em 1822;
(3) de 1822 em diante.
Nessa classificação, a fase intermédia de 1808 a 1822 parece simbó-
lica. Por um lado, o prazo de quatorze anos é quase impalpável em
termos lingüísticos. A chegada da Corte e a alegada relusitanização do
Rio de Janeiro deviam ter um impacto até depois de 1822. Por outro
lado, quanto à relusitanização, é improvável, por exemplo, que o
deslocamento palatal do /s/, /z/ implosivo ([s z] > [S Z]), tão caracte-
rístico da pronúncia carioca, tenha origem direta na chegada dos
portugueses. No início do século XX ainda, o chiamento do Rio de
Janeiro se limitava às classes cultas (cf. 7.1.2.1). A redução das vogais
302

átonas, ocorrida em Portugal no século XVIII, tampouco se transmitiu


à variedade carioca. A conseqüência mais importante da chegada dos
portugueses para o desenvolvimento da língua, porém, não foi
mencionada por Teyssier: trata-se da introdução do prelo, que marcou
o início da impressão tipográfica no Brasil.
Numa primeira periodização, J. A. Castro (1981: 391) alega duas
fases, caracterizando a história do português no Brasil:
(1) de 1549 a 1759, da chegada dos jesuítas até sua expulsão;
delineamento das caraterísticas do português brasileiro;
(2) de 1808 em diante, da chegada da família real portuguesa ao Brasil
até hoje; fixação das caraterísticas pela política do idioma.
Entre as duas fases, Castro define uma fase intermediária na segunda
metade do século XVIII, que “criou as condições para a fixação das
características básicas da primeira fase e implantação de algumas da
segunda, menos importante e essencialmente política” (1981: 391).
Outra proposta de periodização que não foi concebida como tal, mas
que forma a estrutura de uma trabalho fundamental de J. A. Castro
(1986) sobre a evolução da “língua nacional brasileira”, é parte inte-
grante da obra A Literatura no Brasil. O capítulo, não mencionado
nos outros trabalhos sobre a questão da periodização, distingue oito
fases:
(1) de 1500 a 1553, conjugação de variáveis da futura língua
brasileira;
(2) de 1553 a 1702, implantação efetiva do método jesuítico com a
chegada do segundo Governador Geral, Duarte da Costa;
(3) de 1702 a 1758, despertar de Portugal para a realidade do binômio
língua-sociedade no Brasil; propósito de criar seminários para os
índios onde se fale unicamente português (1702);
(4) de 1758 a 1826, solução pombalina para a questão da língua no
Brasil e em Portugal; manifestação de nacionalismo lingüístico na
Câmara dos Deputados (1826);
(5) de 1826 a 1882, institucionalização da política lusófila da língua
como persistência do arcadismo e como ação anti-romântica;
(6) de 1882 a 1924, recrudescimento do purismo como reação ao
nacionalismo lingüístico embutido nas idéias republicanas;
(7) de 1924 a 1946, criação da língua literária do país e primeiro
reconhecimento público da existência da língua brasileira;
303

(8) de 1946 a 1986, consolidação da língua literária brasileira e afrou-


xamento da norma gramatical da língua escrita.
Nos dois tratados de J. A. Castro, como nas outras propostas de perio-
dização, nota-se a incerteza com respeito ao início da história da
língua portuguesa no Brasil. Estão à disposição 1500 (descoberta),
1532 (fundação de São Vicente), 1534 (divisão do Brasil em capita-
nias hereditárias), 1549 (chegada do primeiro Governador Geral,
Tomé de Sousa, e do padre Manuel da Nóbrega, acompanhado dos
outros jesuítas) e 1553 (chegada do segundo Governador Geral e do
padre José de Anchieta, autor da primeira gramática do tupi).
Como Teyssier, J. A. Castro exclui a relevância do fim das inva-
sões holandesas no Nordeste. No século XVIII, Castro toma em
consideração a tendência pré-pombalina para a utilização da língua
portuguesa no ensino dos índios. Trata-se da iniciativa do governador
João de Lencastro que, com esse objetivo, propôs ao rei a criação de
dois seminários na Bahia. A partir do século XIX, a segunda
periodização de Castro possui um caráter literário explícito, o que
corresponde ao quadro da obra, na qual seu artigo foi publicado.
M. Pessoa (2003 [1997]: 15-80) retoma o conceito das três fases,
introduzindo, porém, uma divisão em subfases:
(1) de 1534 a 1750, o que compreende o período entre a divisão do
Brasil em capitanias hereditárias e as reformas pombalinas;
(2) de 1750 a 1922.
Essa segunda fase, cujo início deve marcar o fim do multilingüismo,
se divide em três subfases: (a) de 1750 a 1808, (b) de 1808 a 1850 e
(c) de 1850 a 1922. A última subfase se estende do fim do tráfico de
escravos em 1850 ao emergir do Modernismo.
(3) Segue a fase de 1922 em diante com a elaboração da língua
literária.
Lobo (2003) critica essa proposta de periodização em dois pontos.
Primeiro, acha problemática a consideração paralela da língua falada e
da língua literária numa mesma proposta. Ao contrário dessa autora,
não pensamos que isto represente um problema, porque uma perio-
dização tem que abarcar a língua inteira e, como qualquer classifica-
ção, tomar em consideração vários critérios de diversas categorias.
Porém, para a elaboração da língua literária sob um ângulo
304

lingüístico, José de Alencar marcaria um ponto de partida mais


apropriado antes do Modernismo. Além disso, depende também da
brasilidade da dita língua literária. Segundo um trabalho interessante
de Woll (cf. 7.2.1), Jorge Amado, em O País do Carnaval (1932)
utilizava o pronome possessivo com o artigo definido em 88% dos
casos. Em Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966), no entanto, a
utilização do artigo definido caiu para 2%. Isso não reflete uma
mudança na língua, pelo contrário, é signo de que Jorge Amado se
afastou do modelo gramatical lusitano. Face a essas considerações, a
data de 1922 se revela mais simbólica do que lingüisticamente
fundada.
No segundo ponto, Lobo contradiz o fato apresentado por M.
Pessoa de o multilingüismo ser um traço marcante apenas para o
período que se estende de 1534 a 1750, apontando que 47% dos
africanos chegaram ao Brasil no século XVIII e 38% no século XIX
(Lobo 2003: 400). A objeção é interessante porque demonstra o
problema das periodizações lingüísticas. Contudo, a questão que se
põe não é a do multilingüismo em geral, dado que o Brasil, até hoje,
não é um país unilíngüe. Falam-se “cerca de 200 línguas, das quais
umas 180 são indígenas e as demais são idiomas de minorias de
origem européia e asiática” (Rodrigues 2006: 153). A questão deveria
ser esta: qual foi o impacto do multilingüismo na língua portuguesa no
Brasil e até quando esse impacto teve sua importância primordial? Os
fugidos do quilombo dos Palmares que falavam um português talvez
acrioulado, os escravos de língua kwa que trabalhavam no fundo das
minas de ouro e os índios da Amazônia, todos eles fazem parte da
história lingüística do Brasil. Porém, isto não significa que esses
grupos, por exemplo, tenham afetado decisivamente a formação do
português brasileiro.
O artigo de Schmidt-Riese (2002), uma versão refundida de Jung-
bluth/Schmidt-Riese (2002), intitulada “Periodização e português
brasileiro”, não se dedica à solução prática do problema. Depois de
refletir o “status epistêmico” das periodizações, refere as propostas de
Silva Neto, Gärtner e Lobo. Ao concluir suas explicações, apresenta
uma sinopse periodizada da história do Brasil. Nesse contexto,
convém lembrar uma observação de Schildt, que afirma ou que a
escolha de fatores externos carece freqüentemente de uma
sistematização. Referem-se a fatos históricos arbitrários, sem razão
305

justificativa particular (cf. Schildt 1990: 415). Concluímos que não


adianta a reflexão teórica que não seja capaz de aplicar-se à realidade.
Lobo (2003), por sua vez, apresenta elementos para uma nova
proposta, que se baseia na “história demográfico-lingüística”, no
crescimento populacional associado ao processo de urbanização e no
processo de escolarização associado ao processo de estandardização
lingüística. Por conseguinte, distingue duas fases:
(1) até 1850, multilingüismo generalizado, não-urbanização, não-
escolarização e não-estandardização lingüística;
(2) de 1850 em diante, multilingüismo localizado, urbanização, esco-
larização e estandardização lingüística.
Reconhecendo a necessidade de subdividir essas fases, Lobo
considera que isso dependerá de um melhor conhecimento das
distintas histórias lingüísticas regionais. Como marco divisor entre as
duas fases, determina a data oficial da extinção do tráfico negreiro no
Brasil em 1850. Segundo essa autora, a primeira fase se define,
“fundamentalmente, como o tempo de contato-concorrência entre
línguas indígenas, línguas africanas e a língua portuguesa, tendo, ao
final, prevalecido o uso dessa última” (Lobo 2003: 403). Não concor-
damos com a utilização de termos ambivalentes como “contato-
concorrência”. Contato de línguas houve, mas o conceito de
concorrência é outro assunto.
Achamos que, no Brasil, a prevalência da língua portuguesa nunca
foi posta em perigo. Por conseguinte, o Diretório dos Índios de 1757
foi uma medida política para fomentar a economia no Estado do
Maranhão e Grão-Pará, destituindo do poder os jesuítas que protegiam
a mão-de-obra indígena nessa região. A “vitória da língua portuguesa
no Brasil colonial”, como se intitula o artigo de J. Rodrigues, não se
deu só “na segunda metade do século dezoito” (1985: 41). A língua
portuguesa já se tinha arraigado com o início da economia açucareira
no século XVI, nos núcleos da colonização no litoral que foram os
pontos de partida para a interiorização do Brasil, durante o ciclo do
gado, nos séculos XVII e XVIII. Nos engenhos, falava-se português.
Além disso, um testemunho documenta, já em 1561, que os negros
pediram até aos jesuítas para que eles lhes falassem em português e
não em tupi (Leite 1938-50: I, 479; cf. 6.4). As atividades econômicas
e o prestígio da língua dos colonizadores determinaram a posição da
língua portuguesa bem antes de 1757.
306

Quanto às línguas africanas, nunca houve uma situação de


concorrência. No início do século XIX, Henry Koster, lusoparlante e
dono de uma plantação em Pernambuco, comentou: “The Portugueze
language is spoken by all the slaves, and their own dialects are
allowed to lay dormant until they are by many of them quite
forgotton” (1816: 411; cf 6.2).383 A chegada de milhares de negros
boçais ao Brasil durante o século XIX – um fenômeno principalmente
da primeira geração – não foi mais capaz de influir de maneira
significativa na situação lingüística da população crioula. Aliás,
qualquer influência aloglota na estrutura da língua portuguesa, se
ocorreu de fato, devia ter acontecido a partir do século XVII. Por isso,
o critério do “multilingüismo generalizado”, com o marco de 1850,
proposto por Lobo já se afasta do impacto lingüístico subjacente.
Quanto à urbanização, o processo se acelerou só a partir da década
de 40 do século XX. Em 1940 ainda, 68,76% da população brasileira
vivia no campo (Costa 1975: 54). Por conseguinte, os efeitos lingüís-
ticos da urbanização se fizeram sentir bem depois o marco de 1850,
proposto por Lobo.
Recentemente, Martins Ramos/Pinto Venâncio (2006: 581) propu-
seram uma periodização do português escrito no Brasil em três fases
da forma seguinte:
(1) de 1500 a 1825, o português do Brasil está subordinado ao
ritmo das transformações do português europeu;
(2) de 1825 a 1930, inicia-se a expressão escrita em português
brasileiro;
(3) de 1930 em diante, percebem-se diferências regionais e
manifestam-se formas de identidade regional.
Embora os autores apontem para o fato de uma divisão realizar-se
melhor em franjas de separação de que em datas precisas (2006: 576-
577), aproximam-se do segundo conceito com as datas de 1825 e
1930. Essas datas devem representar respectivamente a percepção de
certas mudanças morfossintáticas no português brasileiro e o começo
da documentação de regionalismos (entre 1920 e 1940). Apesar da
problemática de querer estabelecer uma periodização que separe a

383
“A língua portuguesa é falada por todos os escravos, e seus próprios
dialetos ficam desusados até serem mais ou menos esquecidos por muitos
deles” (trad. de Koster 1816: 411).
307

língua falada da língua escrita, não se pode sustentar que, até 1825, a
língua escrita no Brasil estava subordinada ao ritmo das transforma-
ções do português europeu, nem que o “início da expressão escrita em
português brasileiro” (2006: 581) tenha coincidido com essa data um
tanto aleatória (cf. 8.3; Tarallo 1993b: 82). Além disso, a falta de uma
documentação mais ampla, antes da introdução da impressão tipo-
gráfica em 1808, assim como a censura e a produção dos livros em
Portugal, são fatos que ocultam os dados subjacentes. Isso vale
também para a suposta percepção da documentação de regionalismos
(data de 1930) que é somente o reflexo secundário perante uma
realidade lingüística já estabelecida.384

8.3 Uma nova proposta de periodização


Esboçamos aqui uma periodização que tenta levar em consideração a
história externa, assim como a evolução lingüística da língua
portuguesa no Brasil. Embora não se disponha de muitos dados
lingüísticos na história do português brasileiro antes do século XIX,
pensamos que essa tentativa está justificada, para restabeleçer-se um
certo equilíbrio com a sócio-história. Sem contrapartida, essa corre o
risco de basear-se em estatísticas e datas particulares, afastando-se dos
mesmos processos lingüísticos.
Como o português brasileiro é uma variedade da língua portu-
guesa, convém incluir sua base européia nas considerações de
classificação. Na discussão sobre o artigo de periodização de Bechara,
Teyssier chamou a atenção para o fato seguinte: “Fenómenos de
separação têm também a sua importância” (cf. Bechara 1991: 76).
Acrescentamos que esse aspecto não se limita necessariamente ao
momento determinado da separação de duas variedades ou da gênese
de uma nova variedade. Dado que, no domínio lingüístico, o atributo
brasileiro se define também pelo contraste com a variedade européia,
os processos contínuos que condicionam esse contraste dependem das
mudanças de ambos os lados. A distância lingüística entre as duas
variedades constitui um ponto de referência importante para avaliar a
posição do português brasileiro no tempo. Na perspectiva sincrônica,

384
Cf. Collecção de Vocabulos e Frases Usados na Provincia de S. Pedro do
Rio Grande do Sul (Pereira Coruja 1852), “A linguagem popular
amazonica” (Veríssimo 1983).
308

contudo, percebe-se essa distância num momento determinado, sem


que seja importante a pergunta de que lado dependeu a evolução.
Outro aspecto concerne à duração das fases propostas numa
tentativa de periodização. Como se trata de processos lingüísticos que
costumam estender-se por décadas, não é razoável delimitar as fases
por datas fixas, como se faz para eventos históricos. Preferimos uma
classificação em séculos e semi-séculos, supondo as datas
constituírem marcas aproximativas e artificiais na transição. As fases
que propomos na evolução do português brasileiro são as seguintes:
(1) de 1500 a 1550, fase inicial: traslado da língua portuguesa ao
Brasil.
A história da língua portuguesa no Brasil começa pela descoberta do
território. Ao contrário do Diário de Cristóvão Colombo, a Carta do
Achamento de Pero Vaz de Caminha ainda não continha nenhum
vocabulário de origem indígena. Embora o início da colonização se
tivesse atrasado até 1532, os portugueses já tinham deixado os
degredados “lançados” no litoral que, às vezes, vieram servir de
intérpretes mais tarde, quando Portugal se dedicou à exploração do
pau-brasil. Os primeiros empréstimos lingüísticos (tuim, sagüi)
apareceram no Livro da Nau Bretoa em 1511 (cf. 5.2). Por isso, as
datas administrativas de 1532 ou 1534 são mais arbitrárias do que
1500.
(2) de 1550 a 1700, primeira fase formativa: formação das primeiras
características da língua portuguesa no Brasil.
Por volta de 1550, data que coincide com o limiar da fase clássica do
português moderno, vários fatores indicam a formação das primeiras
características da língua portuguesa no Brasil. Aparece o primeiro
traço distintivo entre o português do Brasil e o português europeu na
fonética. Trata-se do testemunho do médico John Rhys em 1569, que
notou a pronúncia fricativa [ð] do /d/ intervocálico em Portugal, com-
parando-o ao /d/ grego (cf. 5.3). Como o português brasileiro nunca
adotou essa pronúncia, a diferença resulta dessa observação meta-
lingüística. Na década de 50 do século XVI, os empréstimos do tupi,
documentados por Hans Staden, André Thevet, Jean de Léry e pelas
cartas jesuíticas, comprovam a existência de um vocabulário “brasi-
leiro” que, em Portugal, certamente nem se utilizava da mesma forma,
nem, em parte, se conhecia (cf. 5.2.1-5.2.3).
309

As atividades dos jesuítas, que chegaram em 1549, marcam o


início do ensino primário e secundário assim como da documentação
geográfica e historiografia regular de língua portuguesa sobre o
Brasil. Depois das obras francesas de Thevet e de Léry, foram escritos
o Tratado da Terra do Brasil (1570) e a História da Província Santa
Cruz (1576) de Pero de Magalhães Gândavo, Do Clima e Terra do
Brasil e Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil (c1584) de
Fernão Cardim, assim como o Tratado Descritivo do Brasil em 1587
de Gabriel Soares de Sousa (cf. 5.2.4).
No século XVII, a evolução lingüística da língua portuguesa no
Brasil é apenas palpável. Observa-se a manutenção da nasalização
heterossilábica (ca.ma ['kÄ.ma]), abandonada em Portugal (['kä.mä]).
Além disso, a oposição verbal na primeira pessoa do plural entre o
presente (com a fechado) e o pretérito perfeito (com a aberto)
(cantamos vs. cantámos), estabelecida no centro de Portugal, não foi
aceita no Brasil.385 Ambas as evoluções dependem da diferenciação
do português europeu.
Não queremos reabrir a discussão sobre a presumida formação de
uma língua crioula no Brasil que, caso tivesse acontecido, teria
alterado decisivamente a estrutura da língua na segunda metade do
século XVII para descrioulizar-se numa fase posterior não
determinada pelos crioulistas. Contudo, segundo a documentação e as
condições gerais no Brasil Colônia, é muito improvável a dita
crioulização ter ocorrido fora dos quilombos isolados (cf. cap. 6).
(3) de 1700 a 1800, fase diferenciadora: formação do português
brasileiro, diferenciação das variedades européia e brasileira.
Segundo Tarallo “o português do Brasil existe como língua literária
somente a partir dos anos 1700. Qualquer material anterior àquela
data revelaria, pois, traços do português europeu e enviesaria os
dados” (1993b: 82). Agregamos que o século XVIII se caracteriza
pela diferenciação evidente das variedades européia e brasileira.
Durante as primeiras décadas, realizou-se a pronúncia chiante de /s/ e

385
Embora João de Barros marcasse o pretérito perfeito com acento na sua
Gramática (1540), o que, em princípio, corresponderia ao “a Grande” (a
aberto), Teyssier (1966: 143) e Azevedo Maia (1986: 315) expõem que a
oposição fonológica ainda não existia no século XVI (cf. 7.1.1.1).
310

/z/ implosivos em Portugal.386 O chiamento geral se encontra também


em várias regiões do Brasil (p. ex., Rio de Janeiro, Belém do Pará),
mas essa evolução é posterior à de Portugal (cf. 3.1.2.1, 7.1.2.1).
Trata-se de um desenvolvimento paralelo que tem origem na deriva da
língua portuguesa. Embora a diferenciação tenha acontecido mais uma
vez do lado do português europeu, é prova, no entanto, da
independência do português brasileiro que não o seguiu nisso. Essa
independência, manifesta na manutenção das sibilantes alveolares,
confirma-se também na preservação das vogais [a] e [i] em posição
final átona, reduzidas em Portugal (> [ä], > [ö]) na segunda metade do
século XVIII (Teyssier 1984: 59).
Por volta de 1800, a peça teatral O Periquito ao Ar documenta
pelas grafias <mi>, <di> que o /i/ final (<-e>) era reconhecido como
um traço da pronúncia brasileira. Além disso, o texto comprova a
próclise dos pronomes objeto no português brasileiro falado (mi diga;
(cf. 5.4.1). Essa mudança estrutural se acentuou no século XIX,
quando o português europeu estendeu a ênclise além da posição
inicial do verbo no sintagma (na frase ou depois de uma pausa), à
maioria das frases afirmativas (Anderson 1995; cf. 7.2.2). Pelo lado
brasileiro, os estatutos de dois seminários, redigidos pelo bispo de
Pernambuco, José J. da Cunha de Azeredo Coutinho, em 1798,
comprovam características da fala popular. Entre outras coisas, as
observações dirigidas aos mestres comentam a não-concordância na
formação do plural (“muitas flore”) e a monotongação de <ei>
(“Janero”) (cf. 5.5.2).
No século XVIII, o processo de diferenciação entre as variedades
européia e brasileira foi notado e comentado pelos gramáticos.
Jeronymo Contador de Argote mencionou os “Dialectos ultramarinos,
e conquistas de Portugal, como India, Brasil, &c.” (1725: 300),
referindo-se ao vocabulário. Em 1767, porém, Luís do Monte
Carmelo constata que “os Brasilienses [...] confundem os Accentos da
nossa Lingua” (1767: 128). Essa observação se refere à redução do
vocalismo pretônico no português europeu ([a] > [ä], [e] > [ö], [o] >
[u]), que se produziu no século XVIII (cf. 5.4). Note-se que essa
evolução não se deve confundir com as vacilações de e/i e o/u

386
Comentada no Verdadeiro Método de Estudar por Luís António Verney
que deixou Portugal em 1536 (cf. 7.1.2.1).
311

pretônicos que caracterizavam o vocalismo da língua portuguesa já


antes do século XVI.
No decurso do século XVIII, a língua portuguesa substituiu o tupi
no ensino clerical e em muitos setores da vida privada regional onde
se falava. O primeiro passo foi a iniciativa do Governador Geral, João
de Lencastro, em 1702 de propor ao rei a criação de dois seminários
para índios “com condição de que nos Seminarios se não havia de
fallar outra lingoa mais do que a Portugueza” (J. A. Castro 1986:
303). Em 1727, o rei ordenou ao governador do Estado do Maranhão
de proibir a língua geral nos povoados e nas aldeias dos índios (Bessa
Freire 1983: 56). Essa medida não se pôde implementar antes da
proclamação do Diretório dos Índios em 1757. Frei Francisco dos
Prazeres constatou na Poranduba Maranhense: “Prezentemente a
lingua corrente no paiz é a portugueza; os instruidos a falam muito
bem” (c1819: 139-140). No primeiro quarto do século XIX, o
ilustrador Hercules Florence observou que a língua geral paulista era
falada só por alguns velhos ainda.387 Certamente, a língua geral se
falava no Maranhão por volta de 1850 ainda, e na Amazônia, a língua
portuguesa ainda não tinha se difundido nesse tempo. Não obstante, as
características do português brasileiro e a importância dessa língua na
interiorização do Brasil se afirmaram no século XVIII. Nesse século,
realizaram-se a interligação de muitos núcleos isolados no interior e a
expansão vigorosa do território a partir da região litorânea, sancionada
no Tratado de Madri (1750).
Da mesma maneira, o adjetivo relacional brasileiro, atestado em
1663 como insulto dos portugueses dirigido aos habitantes
“madeireiros” da terra, estabeleceu-se como gentilício no século
XVIII (cf. 4.3).
(4) de 1800 a 1950, fase de desenvolvimento da escrita e do ensino:
introdução da impressão tipográfica e da imprensa, implantação do
ensino público oficial e criação do ensino superior; diferenciação
progressiva da norma européia.
Com a chegada da Corte ao Brasil (1808), a impressão tipográfica foi
introduzida. No mesmo ano, fundou-se o primeiro jornal no Brasil, a

387
“Em São Paulo, há sessenta anos, as senhoras conversavam nessa língua,
que era a da amizade e da intimidade doméstica. Ouvi-a ainda da bôca de
alguns velhos” (Florence 1948 [1828]: 281).
312

Gazeta do Rio de Janeiro. Esses acontecimentos marcam um passo


decisivo na história do português brasileiro. Antes, quase não
circulavam livros no país, todas as obras eram censuradas e impressas
em Portugal, e não havia imprensa. Com as mudanças ocorridas no
início do século XIX, o português brasileiro se manifestou definitiva-
mente na língua escrita. Esse fato teve como conseqüência uma
primeira regularização da língua que, até lá, tinha dependido quase só
da fala e do uso escrito de poucos instruídos. Essa situação foi
comentada por C. Cunha: “Entramos assim no século XIX com uma
distância enorme entre a língua escrita e a língua falada” (1979: 77).
A implementação de uma política educativa no Brasil foi um processo
bastante lento. Segundo o censo de 1872, apenas 19,8% dos homens e
11,5% das mulheres sabiam ler e escrever (no Rio de Janeiro: 41,2%
vs. 29,3%); em 1920, foram 28,9% dos homens e 19,9% das mulheres
(no Rio de Janeiro: 66,5% vs. 55,8%; cf. Hahner 1996: 98).
O ensino primário e secundário, administrado pelos jesuítas e
substituído pelas aulas-régias no final do século XVIII, desenvolveu-
se gradualmente no século XIX. Foram criadas escolas (lei de 1827),
bem como colégios, escolas profissionais, escolas superiores, acade-
mias e faculdades. A primeira universidade foi a de São Paulo,
fundada em 1934. A partir da década de 40 do século XX, os esforços
de expandir o sistema escolar foram intensificados.
Quanto à evolução lingüística (cf. cap. 7), o contraste com o
português europeu se acentuou no século XIX. Em 1826, Domingos
Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca, que foi diplomata
brasileiro em Paris, esboçou a primeira caracterização do português
brasileiro (cf. 5.5.4). Agregou duas listas de palavras, uma contras-
tando a semântica das lexias contidas ao português europeu e uma
outra, enumerando vocábulos desconhecidos em Portugal.
Na fonética, a distância entre as duas variedades aumentou devido
às mudanças ocorridas na fala de Lisboa. O português brasileiro
conservou a vogal [e] no contato com as palatais [7 ñ S Z] (Lisboa,
centro de Portugal: espelho [(], venho [ä], vejo, fecho [äì]) e os
ditongos [eì EÌ] (Lisboa, centro de Portugal: beijo [äì], bem [ÄÌ]). Em
Lisboa e no português brasileiro ao norte de São Paulo, o /3/ se
velarizou. No português brasileiro, essa evolução se reforçou ainda,
afetando também o /r/ implosivo. Enquanto o /3/ se aspirava, o /r/ final
tendia a perder-se. Outra evolução inovadora brasileira foi a
introdução da vogal epentética [i] em palavras terminando em vogal
313

acentuada + /s/ (mês <“Meis”> ['meìs]), atestada em 1841 (cf.


7.1.1.7). É possível que a vocalização do /l/ implosivo já tenha come-
çado por volta de 1800 (“Brasil” [iù]; cf. 7.1.2.4). Não existe nenhum
testemunho comprovando o início da palatalização de /t/ e /d/ antes de
[i]. Mas essa evolução de índole urbana remonta provavelmente
também ao século XIX.
Além disso, o português brasileiro conservou o gerúndio (PE estou
a fazer) e a próclise em frases afirmativas. A próclise (menos em
posição inicial) se impôs cada vez mais na língua escrita. Dessa
maneira, a tendência da norma européia para estender a ênclise às
frases afirmativas com sujeto substantival anteposto durante o século
XIX acabou por ser recusada no Brasil. No domínio da língua
literária, o Modernismo (1922) libertou o português brasileiro
definitivamente da “sintaxe lusa” (cf. Barbadinho Neto 1972: 18).
(5) de 1950 ao presente, fase de nivelação: evolução dos meios de
comunicação, introdução da televisão, urbanização progressiva.
O marco divisor de 1950 talvez seja o mais aproximativo na nossa
periodização. Contudo, a década de 40 marca o início de um aumento
significativo na urbanização do Brasil, resultante tanto do crescimento
populacional urbano como das migrações internas. Como já exposto
anteriormente, em 1940 ainda, 68,76% da população brasileira vivia
no campo (Costa 1975: 54). Em 1950, a percentagem da população
em áreas urbanas contava com 36,16%. Até 1960, passou a 45,08%
(IBGE), aumentando de 11% nas décadas de 60 e de 70. Em 1970,
pela primeira vez, houve um predomínio da população urbana que
atinge 82,59% na atualidade (2003; IDB 2004).
No domínio lingüístico, a urbanização progressiva implicou a
nivelação das variedades rurais da população afluente: “[...] os
migrantes que chegam à cidade já como adultos alteram certas
características de seu dialeto original” (Bortoni 1989: 178). Na década
de 70, a modernização da agricultura desalojou muitos trabalhadores
rurais à periferia das cidades.
No entanto, o êxodo rural não só concernia aos núcleos urbanos
nas regiões (migração intra-regional), mas também às metrópoles a
nível nacional (migração inter-regional). Assim, a fundação de
Brasília (construída a partir de 1957) atraiu imigrantes do Brasil
inteiro. É consabido que o fluxo migratório levou muitos nordestinos
e mineiros, tanto do campo quanto de núcleos urbanos, a São Paulo e
314

ao Rio de Janeiro, que “são não apenas as maiores regiões de


imigração, mas também as de maior retenção de imigrantes” (Costa
1975: 89). Na década de 70, 41% da população do Rio de Janeiro era
considerada forasteira (Cunha 1974: 332). Durante o Regime Militar
(1964–1984), o fluxo migratório foi, em parte, desviado para realizar
o plano de desenvolvimento da Amazônia.
Outro fator nivelador na evolução do português brasileiro foi a
introdução da televisão em 1950. Enquanto a migração teve um efeito
lingüístico integrativo nas cidades, favorecendo a adaptação das falas
rurais, a televisão atuou tanto na cidade quanto no campo. Pela
introdução desse meio de comunicação, a população rural e as classes
urbanas modestas adquiriram uma competência mais ampla do
diassistema lingüístico relativamente ao padrão gramatical da língua.
Convém agregar que esse padrão, até hoje, se baseia sobretudo no uso
culto, dado que o português brasileiro ainda não dispõe de nenhuma
gramática de referência que seja, de fato, brasileira.

8.4 Ciclos e fases


Recentemente, I. Castro propôs uma classificação complementar à
periodização tradicional, repartida em períodos e fases. Acha interes-
sante “encarar a história da língua portuguesa como repartida em duas
grandes unidades cíclicas” (2004: 84). Esses ciclos seriam o da
formação (séculos IX a XV) e o da expansão da língua. Lembramos
que, nessa acepção, ciclo se define como “período em que ocorrem
fatos históricos importantes a partir de um acontecimento, seguindo
uma determinada evolução” (cf. Aurélio, s.v.). Por conseguinte, a
História do Brasil distingue os ciclos do pau-brasil, do açúcar, do
gado, do ouro etc. Com o termo “ciclo” da expansão da língua,
alegado por I. Castro, implicam-se a noção de consolidação (s. XV até
início do s. XVI) e de expansão, para fora da Europa.
No que diz respeito à periodização do português brasileiro, a
proposta de Lobo (cf. 2.), com sua bipartição, parece aproximar-se do
conceito dos ciclos. Porém, com vistas a tomar em consideração a
evolução lingüística interna, esse conceito não é aplicável ao
português brasileiro, porque não houve nenhuma ruptura evidente na
evolução do sistema. Quanto aos fatores externos, poder-se-ia alegar
um ciclo de oralidade até 1800 e um ciclo de (formação da) tradição
escrita. Mas essa divisão seria abstrata demais, porque, entre o fato
315

desencadeador (introdução da impressão tipográfica) e os efeitos


perceptíveis (progresso significativo da alfabetização), se estende
mais de um século.388 Em 1920, 75,6% dos brasileiros ainda não
sabiam ler nem escrever (com base nos dados de Hahner 1996: 98).
Outro problema é o do termo inerente ao conceito de “ciclo”. A
formação da tradição escrita não significou o fim da oralidade ou de
sua importância para a evolução da língua.
Pensamos que a periodização de uma língua apresenta os mesmos
problemas que encontramos em qualquer classificação. Precisamos
escolher os critérios, tomando em consideração diversas categorias, a
hierarquia entre elas e a disponibilidade dos dados. Como se trata do
domínio lingüístico, a evolução interna da língua deve ter seu lugar
certo ao lado dos eventos sócio-históricos. Dado que o português
brasileiro é uma variedade da língua portuguesa, as evoluções
respectivas determinando a distância percebida entre as duas varie-
dades devem igualmente fazer parte das considerações. No final,
porém, o resultado será sempre algo subjetivo.
Levando em conta o que foi dito, concluímos, recapitulando as
fases da nossa periodização do português brasileiro: (1) de 1500 a
1550, fase inicial, (2) de 1550 a 1700, primeira fase formativa, (3) de
1700 a 1800, fase diferenciadora, (4) de 1800 a 1950, fase de
desenvolvimento da escrita e do ensino e (5) de 1950 em diante, fase
de nivelação.

388
Aliás, o mesmo vale para o início da urbanização do Brasil no século
XIX, por um lado, e seu aumento nítido no meio do século XX, por outro
lado.
316

9. Arcaicidade, inovação e regionalismo europeu no


português brasileiro
9.1 Arcaicidade e inovação
O português brasileiro apresenta, em seu desenvolvimento, desde o
século XVI, traços que são tanto conservadores quanto inovadores.389
Arcaicidade e inovação são categorias neutras, dependentes de uma
variedade de referência que se orienta idealmente por alguma norma
lingüística. Para o português europeu, tradicionalmente, é a linguagem
da metrópole no território entre Coimbra e Lisboa que exerce
adequadamente essa função com relação à expansão colonial. Assim,
comparam-se, na perspectiva diatópica, as características lingüísticas
ali estabelecidas desde o início da diferenciação no século XVI com
as alterações que ocorreram em seguida. Se a diferenciação lingüística
partisse do português europeu, então o português brasileiro se
mostraria como conservador. Já se a novidade iniciasse no Brasil, o
português brasileiro seria considerado como inovador. Essa
perspectiva se amplia mais quando se confrontam as variedades de
Portugal com as do Brasil de um modo geral (cf. Head 1987). A
posição assumida para a variedade standard européia permite situar as
variedades regionais em Portugal e seu papel na formação do
português brasileiro (cf. 9.2). O segundo princípio é complementar e
evita avaliações de erro pontuais, que podem surgir quando se refere
ao português brasileiro, a partir de uma única variedade, como, por
exemplo, ocorre com Lindley Cintra (1983a), com relação à do Rio de
Janeiro.
As características fonéticas e morfológicas do português brasileiro
abaixo listadas são avaliadas como arcaicas, uma vez que o português
europeu se desenvolveu estruturalmente para além desses pontos.
Esses tópicos originam-se das relações descritas nos capítulos 3.1–3.2
e 7.1–7.2. A lista aqui escolhida corresponde à suposta cronologia da
diferenciação a partir do português europeu. São estruturas conserva-
doras no português brasileiro:

389
Um artigo fundamental, que enumera características a respeito da
arcaicidade e da inovação do português brasileiro é o de C. Cunha (1986). Cf.
também Silva Neto (1941a), Joaquim Ribeiro (1959: 47-83), A. de Sousa
(1962), Vaz Leão (1962).
317
· a manutenção das plosivas sonoras ([b d g]), que no standard
europeu, no século XVI, se tornaram fricativas ([β ð γ]).
· a manutenção da nasalização heterossilábica (cama [‘kÄ.ma]), que
foi abandonada no português europeu do século XVI ([‘kä.ma]) e que
hoje só existe regionalmente.
· a não-formação da oposição fonológica /ä/ vs. /a/ (PE cantamos vs.
cantámos), que se desenvolveu no centro de Portugal entre os séculos
XVI e XVII.
· a conservação parcial da variação pretônica de [e - i], [E - I], [o - u],
que, no português europeu, ainda ocorria nos séculos XVI e XVII.
· a conservação tendencial do nexo <ou> [où o] (< lat. <au>) em lugar
da alternância com <oi> no português europeu, que remonta aos
séculos XVI e XVII.
· a negação repetitiva da fala coloquial brasileira (não quero não).
· a manutenção regional de [tS] <chave> (nos Estados de São Paulo,
Minas Gerais, Paraná e sobretudo no Mato Grosso), que, no português
europeu (exceto no norte) perdeu, no século XVII, o seu componente
plosivo ([S]).390
· a manutenção de uma ligação relativamente livre do pronome
possessivo com o artigo definido, que no português europeu se tornou
quase obrigatório até o século XX.
· a manutenção tendencial das vogais pretônicas e pós-tônicas
[e], [a], [o], que, no português europeu do século XVIII, foram
preponderantemente reduzidas ([ö], [ä], [u]).
· a manutenção das vogais finais [a], [i], que no português europeu do
século XVIII foram reduzidas para [ä], [ö].
· a conservação regional da implosiva alveolar /s/, que se palatalizou
no português do século XVIII ([S]), assim como a realização análoga
do encontro -sc- (descer: PB [s] vs. PE [sS].
· a conservação de [e], seguida de palatal ([7 ñ S Z]) face à abertura
iniciada no português europeu (Lisboa e Portugal central), no século
XIX ([( ä äì]).

390
Cf. Silva Neto (1986: 171), Furlan (1989: 135). Amaral (1982: 48)
descreve a realização do <ch> (e de sua correspondente sonora) no dialeto
caipira: “ch e j palatais são explosivos, como ainda se conservam entre o povo
em certas regiões de Portugal, no inglês (chief, majesty) e no italiano (cielo,
genere)”. Cf. 7.1.2.2.
318
· a manutenção dos ditongos [eì] e [Eì], que se tornaram abertos no
português europeu (Lisboa, Portugal central) no século XIX ([äì],
[Äì]).
· a manutenção do gerúndio (está fazendo), que no português europeu
do século XIX foi substituído por uma perífrase (a + infinitivo).
· a conservação da próclise nas frases afirmativas com sujeito
substantival anteposto, que em português europeu, desde o século
XIX, são construídas encliticamente.
Desenvolvimentos inovadores no português brasileiro, que ocorreram
de maneira comum e, portanto, podem valer como típicos são, em
comparação com o standard europeu:
· a perda da variação antiga da pretônica [e - (] (pregar ‘fixar com
pregos’ vs. pregar ‘pronunciar sermões’) e [o - )] (oficina, procurar),
que no português brasileiro, na porção meridional do país, conver-
giram nas variantes fechadas e na porção setentrional nas abertas. O
português europeu, em contrapartida, reduziu, no século XVIII as
vogais fechadas ([prö'gar], [ufi'sinä] vs. [pr('gar], [pr)ku'rar]).
· a africativização comum de /t/ e /d/ diante de [i] (tio [‘tSiu], dia
[‘dZia]).
· a epêntese comum de [ì] antes /s/ em sílaba tônica final (atrás
[a‘traìs]).
· a velarização comum do /r/ implosivo: [x], com aspiração na
posição inicial ([h-]).
· a vocalização do /l/ implosivo (bolso [où], Brasil [iù]).
· o rompimento dos clusters consonantais (plosiva + fricativa/nasal)
por meio de um [i] epentético (advogado [adZivo’gadu]).
· o apoio paragógico de consoantes finais por meio de [i] (VARIG
[‘varigi]).
· o r-caipira retroflexo mais ou menos comum, sobretudo na posição
implosiva, em São Paulo, no Sul, assim como no Centro-Oeste e no
sul de Minas Gerais (quarto ['kwa4tu]; cf. 3.1.2.3).
· a generalização da próclise na língua falada (me chamo).
· o uso de ele, ela como pronome objeto para a terceira pessoa na
língua falada.
As seguintes características, que, na linguagem popular brasileira,
ocorrem com distribuições e freqüências distintas, representam tam-
bém inovações do português brasileiro:
319
· a desnasalização na posição final (eles falam ['falÄÙ] > ['falu],
['fala]).
· a queda parcial do plural (p. ex., do -s), morfologicamente
condicionada.
· a queda do /r/ final.
· a queda do /l/ final.
· a deslateralização de /7/ (mulher [mu'j(]).
· a despalatalização de /7/ (mulher [mu'l(]).
Das características mencionadas, evidencia-se que o vocalismo
brasileiro, em comparação com o europeu, se apresenta com traços
essencialmente conservadores, enquanto o consonantismo está per-
meado de inovações. O português brasileiro se destaca por uma
tendência manifesta e sistemática de eliminar a consoante final.
Citaram-se a vocalização generalizada do /l/ final e o apoio
paragógico das consoantes em final de sílaba por meio de [i]. Além
disso, o desenvolvimento da língua popular implica a queda do /r/
final, a queda do /l/ final e ainda a simplificação das marcas de plural,
morfologicamente condicionada.
Contudo, existe um mecanismo na natureza da língua, que
contraria convergências por meio de desenvolvimentos em direção
oposta. Isso ocorre no português brasileiro, com relação à tendência
para as sílabas terminadas em vogal. De alguns anos para cá se
observa na ligação com africadas pré-palatais, com freqüência, a
perda do /i/ final (noite ['noitS]), que também inclui a pré-palatal
sonora na posição final (cidade [si'dadZ]). Esse desenvolvimento tem
por base a afinidade da pré-palatal, ao assimilar o [i] vizinho. No
português, com relação ao ditongo [aì], isso se atesta já no século XVI
(baixo ['baSu]) (cf. 7.1.1.5).
Ao lado das diferenciações aqui descritas, existem, no português
europeu e no brasileiro, desenvolvimentos que em diferentes
contextos ocorrem paralelamente. A esses se contam, na perspectiva
diatópica, a generalização do /s/ pré-dorsal, a palatalização de /s/ na
posição implosiva ([S]), a monotongação de <ei> [e] (primeiro
[pri'meru]) e de <ou> [o] (ouro ['oru]), bem como a
desafricativização de [tS]. A essas características associa-se também a
questão de uma influência específica do português europeu meridional
no Brasil.
320

9.2 A questão da influência do português europeu meridional na


formação do português brasileiro
Nos primeiros trabalhos descritivos sobre a caracterização lingüística
do português do Brasil foram levantados, no começo do século XX,
paralelos, comparáveis no âmbito fonético, com as variedades faladas
no sul de Portugal. Dessa forma, Franco de Sá (1915) estabeleceu uma
ligação entre a pronúncia do Brasil, de um lado, e a do
Alentejo/Algarve, de outro.391 As semelhanças evidentes que existem
fizeram pensar, conseqüentemente, numa influência atuante, especi-
ficamente meridional, na formação do português brasileiro, que se
sobressaía em relação à dos dialetos do norte e do centro de Portugal.
Apostando nisso, Nascentes, nos anos 20 do século XX, supôs essa
base nas circunstâncias de um povoamento do Brasil preponderante-
mente formado por portugueses meridionais.392 Também Entwistle
postulou uma influência causal do sul de Portugal, referindo-se
unicamente ao Algarve.393
Associando a isso, é interessante observar que, quase ao mesmo
tempo, se discutia a questão da formação do espanhol americano e a
teoria do andalucismo formulada por Wagner (1920), que
desempenhou um papel decisivo na discussão dos hispanistas por
muito tempo. Segundo Wagner, a formação fonética do espanhol
americano se caracteriza pela influência das variedades da Andaluzia
e da Estremadura, sobretudo no litoral da América hispânica em
decorrência de uma parcela preponderante da população ser
proveniente dessas regiões aquando dos primórdios da colonização
(cf. Noll 2005a).

391
“A nossa maneira de pronunciar approxima-se da das provincias do
Alemtejo e do Algarve, e differe muito da das provincias do norte e do centro,
e da de Lisbôa e Coimbra” (Franco de Sá 1915: 287).
392
“Da comparação que fizemos, principalmente na fonética, entre o
português de Portugal e o do Brasil resulta a conclusão que a língua que
falamos é mais parecida com a do Alentejo e com a do Algarve, do que com
as das províncias do norte e do centro e com as de Lisboa e Coimbra. Talvez
porque a grande massa dos colonizadores primitivos tivesse sido oriunda
daquelas províncias meridionais” (Nascentes 1960 [11926-29]: 262).
393
“El portugués brasileño está basado en el portugués del Algarve, y se
acerca así, por tanto, muy próximamente al portugués insular” (Entwistle
1982 [1936]: 377).
321

Tendo em vista as estatísticas populacionais do tempo da colônia,


as condições do português brasileiro se configuram, contudo, de
maneira diferente das do espanhol americano. Não há dados que
comprovem uma imigração preponderante no Brasil, proveniente do
sul de Portugal:
“Não houve também predominância etnográfica do Sul sôbre o
Norte, ou vice-versa, uma vez que os dados históricos nos falam
de correntes imigratórias provenientes de tôdas as partes do terri-
tório metropolitano” (Elia 1966: 190).
Isso não é nenhuma surpresa, dadas as pequenas proporções do país,
se comparado com a Espanha, e de sua população, bem como os
curtos trechos até a costa. Também Silva Neto supunha, em
investigações limitadas, um povoamento regionalmente equilibrado
no Brasil, partindo da metrópole. No século XVII, afirma ter havido
na Bahia até mesmo uma preponderância do norte de Portugal, que se
correlacionava com a densidade populacional mais alta no noroeste de
Portugal (1988: 589; 583-584).
Em 1958, Lindley Cintra (1983a) retomou a questão dos paralelos
fonéticos e pesquisou por meio do Atlas Lingüístico de la Península
Ibérica (ALPI) indícios nas variedades portuguesas européias e na
carioca. Como pontos de apoio para uma possível influência meri-
dional no português brasileiro, citam-se, no artigo, as seguintes
características:
· /s/, /z/ pré-dorsais.
· a monotongação de <ei> [e].
· a monotongação de <ou> [o].
· a falta das ápico-alveolares /$/, /%/.
· a desfonologização de /v/ > /b/ ([b β]).
· a falta da africada [tS] <ch>.
Em relação à divulgação regional das tais características, fica claro
que não se limitam às variedades do Algarve e do Alentejo, como
anteriormente foi formulado por Franco de Sá, Nascentes e Entwistle.
Pelo contrário, no tocante às escolhidas características, o território que
as compartilha ocupa entre a metade e dois terços de Portugal. Assim,
a conservação das sibilantes ápico-alveolares (/$/, /%/) e do ditongo
<ou> [où] se limita exclusivamente ao norte de Portugal, assim como
preponderantemente ocorre com a confusão entre /b/ e /v/ (cf. Teys-
322

sier 1984: 48, mapa). Silva Neto descreve a situação de partida de


forma mais adequada, quando afirma que as semelhanças entre o
português brasileiro e o português “algarvino-alentejano” teriam
resultado da falta de traços típicos do português setentrional (1988:
589). Contudo, ele também não tocou no âmago da questão.
A restrição às influências meridionais, de parte da literatura
especializada, é imprecisa e, por isso, em vários pontos, enganosa. De
fato, trata-se dos falares centro-meridionais, pois, em confronto com
os traços referidos ao Algarve e ao Alentejo, destacam-se as
características lingüísticas do sul e do centro face às do norte de
Portugal. Com isso, é também claro que ambas as regiões juntas
poderiam formar uma parcela maior de colonos para o Brasil do que o
norte do país sozinho. O fato de que a antiga dialetologia portuguesa
entendia como pertencendo ao sul o território até o Mondego
(Coimbra) (cf. Leite de Vasconcellos 1987 [11903]: 125) contribuiu
para possíveis mal-entendidos, ora tratando exclusivamente dos
territórios meridionais stricto sensu ora incluindo o centro de
Portugal. Só Lindley Cintra (1983b: 153) especificou em sua “Nova
proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses” o
“português centro-meridional”.
A consideração do passado limitada à perspectiva de norte vs. sul
obstruiu a visão do papel lingüístico do centro de Portugal. A
significação histórica do território entre Coimbra e Lisboa, bem como
o plano histórico-lingüístico excluem que características geralmente
designadas como do português meridional tivessem sido difundidas
do sul de Portugal gradualmente em direção ao centro. A expansão da
língua evoluiu, desde a Idade Média, na direção oposta. Partindo do
centro, a Reconquista atingiu comparativamente em pouco tempo o
sul, o que esclarece a proximidade dos falares centro-meridionais.
Quando Silva Neto situa o começo da palatalização do /s/ implosivo
[S] no fim do século XVII “em grande área do Sul” (cf. 7.1.2.1),
entendem-se, com isso, o centro e o sul.
Na discussão sobre a formação do português brasileiro, a divisão
entre norte e sul de Portugal conduziu a um outro mal-entendido. Com
isso, a pouca atenção que se deu ao centro de Portugal manifesta-se
como a insuficiência do ponto de vista puramente sincrônico. É de se
observar que diferenças básicas entre o português de Lisboa e o
português brasileiro remontam a uma diferenciação que somente
323

ocorreu no século XIX e que partiu de Lisboa.394 Por isso, para a


descrição da situação atual, está inteiramente correta a afirmação de
Nascentes (1960: 262) de que o português brasileiro apresenta mais
concordâncias com o sul de Portugal do que com o centro e com o
norte. Contudo, obtêm-se conclusões erradas com relação aos
desenvolvimentos históricos a partir do julgamento da situação
lingüística atual, como o suposto papel do português meridional no
povoamento do Brasil. Esse é o caso de Nascentes, que explicitamente
separa do sul o Portugal central.
As características lingüísticas pesquisadas por Lindley Cintra
(1983a [1958]) a respeito das concordâncias entre as variedades
européias do português e o português do Rio de Janeiro necessitam,
das perspectivas brasileiras, ademais, de uma especificação. Head
(1986, 1987), retificando, apontou para o fato de que os paralelos
feitos em relação ao Rio de Janeiro remetem, por meio de uma
inclusão deficiente de variedades regionais (rurais), a um quadro
enviesado da situação do português brasileiro. Como já mostrou a
questão do chiamento (cf. 7.1.2.1), é necessário investigar tanto a
divulgação regional no português brasileiro quanto o desenvolvimento
diacrônico em ambas as variedades.
As monotongações de <ei> e de <ou>, classificadas como
meridionais, não se impuseram de maneira geral no português
brasileiro. A realizações [eì] e [où] ocorrem por toda a parte ([eì] é
obrigatório em palavras como jeito, peito). Isso vale, aliás, também
para a alternância baixo ['baìSu], ['baSu], a qual corresponde hoje, no
sul de Portugal, à forma ['baSu] (cf. 7.1.1.5). Nas três características
mencionadas espelham-se o sul, o centro e o norte de Portugal.
Não se deve, no entanto, cometer novamente o erro de querer
derivar uma relação com a gênese histórico-lingüística na base de
condições análogas fonéticas do presente. Tanto os ditongos [eì] e
[où] quanto a africada [tS] <ch> eram, no século XVII, típicas do
português de modo geral. A monotongação de <ei> é atestada, em
Portugal, em 1769 e, no Brasil, em 1798 (cf. 7.1.1.5). A mono-
tongação de <ou> iniciou-se, em Portugal, no século XVII e hoje, no

394
Trata-se da abertura vocálica em peito [äì] (PB [eì]), bem [ÄÌ] (PB
[EÌ]), diante de palatal, espelho [(], venho [ä] (PB [e]); vejo [äì], fecho [äì]
(PB [e]), assim como da articulação sobretudo uvular de /3/ e de /r-/ [R 8 X x]
(PB [h x]).
324

português brasileiro, avançou mais do que a transformação respectiva


de [eì] > [e]. A constelação fala em ambos os casos de desenvol-
vimentos paralelos que atuaram no sentido da deriva (drift) da língua
portuguesa e, em ambos os lados do Atlântico, evoluíram de forma
diferente. Por conseguinte, não se trata de transmissões regionalmente
condicionadas. Isso vale também para a desafricativização de [tS]
(chave), que hoje só se encontra no norte e no centro-este de Portugal
(cf. Teyssier 1984: 48, mapa). Silva Neto confirma a existência da
antiga africada, bem como de seu par sonoro [dZ] (já) no Brasil,
precisamente no “sul de São Paulo, sul de Mato Grosso e norte do
Paraná” (1986: 171).
Somente a monotongação de [aì] diante da pré-palatal [S] poderia,
por meio de um surgimento antigo em Camões (baixo – baxo; cf.
7.1.1.5), ter sido diretamente transmitida de Portugal. No entanto, ela
ainda não possuía, no século XVI, sua qualidade atual de
regionalismo meridional.
Quando variantes dialetais entram em contato, em conseqüência de
movimentos migratórios, observa-se normalmente um nivelamento
das características mais chamativas. No contexto brasileiro, isso se
mostrou, num passado mais recente, nas migrações provindas de
regiões interioranas de Minas Gerais e de Alagoas para a capital
Brasília.395 Silva Neto partiu basicamente de um nivelamento das
variedades portuguesas no solo brasileiro (1988: 589). Essa opinião
também foi aceita por Hart (1959: 270).396
Na formação do português brasileiro foram suprimidas, como
conseqüência do nivelamento, evidentemente tanto a tendência do
norte de Portugal para a desfonologização de /v/ (> /b/) quanto a
adoção das sibilantes ápico-alveolares (/$/, /%/). Ambas as caracte-
rísticas ocorrem também hoje no norte, mas /v/ > /b/ também no
centro-oeste de Portugal, e são de modo geral marcados e incultos (cf.
PE falar à labrega).
Contrariamente à declaração de Lindley Cintra (1983a), essas
características típicas do norte de Portugal também ocorrem no Brasil,

395
Cf. Bortoni-Ricardo (1985): The Urbanization of Rural Dialect Speak-
ers e Adant (1989): “Difusão dialetal: o caso dos alagoanos em Brasília”.
396
“Brazilian Portuguese thus represents, not a transplanting of any
continental Portuguese dialect, but rather a new synthesis, a kind of koiné in
which regional variations are minimized” (Hart 1959: 270).
325

no nível popular e regional. Isso se depreende, entre outros, já na


Introdução de Silva Neto (1986 [11950]: 171-172).
· Ao menos o betacismo (/v/ [b-]), que representa uma neutralização, é
exemplificável na língua popular brasileira em muitas palavras (p. ex.,
bassoura; cf. Head 1987: 265). Azeredo Coutinho já o menciona em
1798 (cf. 5.5.2). Amaral apresenta, em 1920, exemplos no dialeto
caipira (1982: 51).
· Sobre a possível existência de ápico-alveolares /$/, /%/ na área
litorânea de São Paulo, Head remete à dissertação inédita de Wiik-
mann.397 O “s post-vocálico” do dialeto caipira citado por Amaral per-
manece obscuro.398
Além dessas, outras características do português setentrional encon-
tram um paralelo no Brasil. Trata-se de:
· a negação com num (não) (p. ex., no Ceará; cf. McKinney Jeroslow
1974: 177), que ocorre no norte e no centro de Portugal (cf. Leite de
Vasconcellos 1987: 118), enquanto a forma alentejana nã não é
corrente no português brasileiro.
· a pronúncia antiga -om [O] do ditongo -ão (mão [mO]) (p. ex., em
Mato Grosso (Portugal: Minho; cf. Kröll 1994: 547).
· a vocalização do /l/ implosivo (Portugal: Alto Minho; cf. 7.1.2.4).
· a tendência popular para a desnasalização na sílaba final (homem
['omi], eles falam > ['falu], ['fala] (Portugal: Entre Douro e Minho; cf.
7.1.1.6).
· a desfonologização de /7/ (> /j/) por meio da deslateralização
(Portugal: Trás-os-Montes; cf. 7.1.2.5).
· a neutralização popular dos /r/ e /l/ pré-consonantais, que se tornam
/r/ no português brasileiro (Portugal: Minho; cf. 7.1.2.4).
397
Wiikmann (1983), O falar caiçara da Ilha dos Búzios. Universidade
Estadual de Campinas. A isso se refere Head: “[...] Wülkeman [sic] (1983)
apresenta uma descrição fonológica que parece documentar a sobrevivência,
no Brasil, do antigo sistema de quatro sibilantes, actualmente típico de uma
parte do Norte de Portugal” (1987: 267).
398
Amaral (1982: 47) expõe que: “[...] é uma linguo-dental ciciante, não
se notando jamais as outras modalidades conhecidas entre portugueses e mes-
mo entre brasileiros de outras regiões. [...] Para produzir este som a língua
projeta a sua ponta contra os dentes da arcada inferior e encurva-se de modo
que os bordos laterais toquem os dentes da arcada superior, só deixando uma
pequena abertura sob os incisivos [...].” Por causa da posição convexa da
língua, isso corresponde mais a um /s/ coronal.
326

Não se deduz daí que as características do português setentrional


representem uma continuidade causal direta daqueles desenvolvi-
mentos no português brasileiro. Além disso, pode-se excluir, tanto no
plano do povoamento do Brasil quanto nos indícios lingüísticos, que
as influências regionais lusitanas que contribuíram para a formação do
português brasileiro apontam para alguma preponderância do sul de
Portugal. Nesse contexto, o papel do centro de Portugal e dos falares
centro-meridionais precisava ser mas bem esclarecido. Nas perspec-
tivas diacrônicas e diatópicas abre-se, no português brasileiro, um
espectro de indícios lingüísticos que também abrange a influência das
variedades do português setentrional. Por último, devem considerar-
se, como próprios do português europeu, a manutenção de [tS], a
monotongação ['baìSu] > ['baSu] e, também, a pronúncia alentejana do
/e/ final [-i] (cf. 7.1.1.4), que se tornaram típicos do português
setentrional ou meridional só no decorrer do tempo. Isso vale
sobretudo também para os desenvolvimentos ocorridos no centro de
Portugal no século XIX, por meio dos quais a variedade standard
portuguesa se distanciou foneticamente tanto do português brasileiro
quanto do português europeu meridional, sobrepondo, com isso, os
relacionamentos histórico-lingüísticos originais.

9.3 A questão da influência açoriana no português brasileiro


Além da questão de uma influência geral do português meridional no
português brasileiro, discutiu-se a possibilidade de uma influência
regional do português brasileiro por meio de imigrantes provenientes
dos Açores, os quais se estabeleceram preponderantemente entre os
anos de 1748 a 1756 com cerca de 6.000 pessoas (Furlan 1989: 34,
177) na região litorânea de Santa Catarina e também no Rio Grande
do Sul.399 O conhecimento da história do povoamento pode ser o
motivo pelo qual o botânico francês Saint-Hilaire em 1820 associasse
a pronúncia dos catarinenses diretamente com a dos Açores.400

399
Sobre o povoamento, veja também Laytano (1940), Belo (1947-54) e
Paiva Boléo (1944, 1964, 1983).
400
“Por seu lado, os mineiros talvez dêem demasiada suavidade à língua
materna, ao contrário dos habitantes de Santa Catarina, que a falam de um
modo áspero e fanhoso, demorando-se longamente na penúltima sílaba e
articulando as outras bruscamente. É possível que tenham herdado essa pro-
núncia dos seus antepassado açorianos” (Saint-Hilaire 1978: 135-136).
327

Paiva Boléo, numa série de artigos que redigiu a partir de 1943,


favoreceu decisivamente a tese da influência açoriana no português
brasileiro. Contudo, não conhecia, de própria observação, o Brasil
daquele tempo.401 No seu artigo “Brasileirismos” (1943: 26-30),
estabelece mais de uma vez comparações entre a pronúncia da ilha
açoriana oriental de São Miguel e o português brasileiro. Dessa forma,
especula se a africativização brasileira de /t/ e /d/ diante de [i] não
proviria possivelmente de São Miguel (1943: 30). Além disso,
especifica que houve uma influência lingüística açoriana no Rio
Grande do Sul e em Santa Catarina, onde a imigração é mais
manifesta no plano regional. Já em 1947, Rogers apontava para a
fraqueza da tese de Paiva Boléo. Nem por isso, a influência
supostamente açoriana no português brasileiro deixou de ser um topos
na literatura lingüística. Kröll afirmava mesmo que “[...] extensas
regiões do Brasil foram povoadas por emigrantes vindos da Madeira e
dos Açores” (1994: 555). Naturalmente, as ilhas povoadas no século
XV dispunham, face à extensão brasileira, somente de um contingente
comparativamente limitado de colonos.
Com respeito às influências lingüísticas transmitidas para o
português brasileiro, as suposições concentram-se nas áreas de
povoamento do litoral de Santa Catarina. Borba Corrêa (2000) critica
o fato de, com freqüência, a origem dos colonos dessa região ser
representada como limitada aos Açores. Vê nisso até um ponto de
apoio para a mercantilização do termo “açoriano”, que existe
inegavelmente no turismo da região.402 Furlan (1989) dedicou, à
questão lingüística, uma excelente monografia.
Visto que a situação lingüística dos Açores em meados do século
XVIII não é conhecida, parte-se evidentemente do fato de que a
variedade em questão deva equivaler a uma forma lingüística do
português meridional, o que corresponde à história do povoamento
das ilhas. Contudo, não foi levado em conta, na discussão, o fato de
que, sob essa premissa, não se possa mais falar, do ponto de vista
lingüístico, de influência açoriana stricto sensu. Em conseqüência,
permanece em aberto quais critérios devem ser avaliados como

401
Cf. Paiva Boléo (1943: 27-30, 1944, 1983 [1954]).
402
“Curioso notar, que se apregoa de forma exagerada como sendo total-
mente açoriana a colonização do litoral catarinense. Parece-me que tem
poderoso “marketing” sobre o termo “açoriano” (2000: 42-43).
328

definitivamente açorianos. Os traços lingüísticos mais notáveis dos


Açores, as vogais arredondadas anteriores [y] e [ø], não ocorrem em
Santa Catarina. Mas isso vale também para as outras características
dos Açores que foram citadas por Rogers (1949) e Kröll (1994: 555).
No entanto, os seguintes traços específicos do português brasileiro de
Santa Catarina foram associados como influência açoriana (cf. Furlan
1989: 101):
(1) a palatalização do /s/ implosivo [S] (chiamento).
(2) a falta da epêntese nas oxítonas antes de um /s/ palatalizado final
(voz [v)S] em vez de [v)ìS] ou [v)ìs]).
(3) a velarização do /r/ [x] implosivo.
(4) o [-e -i] paragógico em oxítonas com /r/, /l/, /s/ finais.
(5) a africativização de /t/ no grupo -it- (oito ['oìtSu]).
(6) a acentuação enfática da sílaba tônica.
(7) a elevação tonal final nas frases afirmativas.
(8) o uso familiar do tu.
A partir das exposições do capítulo 3 se deduz que as características
(1), (3) e (8) são espalhadas em vastas porções do Brasil. A falta de
epêntese nas oxítonas diante de [S] final (→ 2) é, no português
brasileiro, também observável na Baixada Cuiabana (MT) e em parte
no Pará (voz [v)S]; cf. 3.1.2.1).403 O fenômeno em si corresponde, em
princípio, à falta de epêntese em São Paulo e no sul do Brasil antes do
[s] alveolar na sílaba tônica final (atrás [a'tras], cf. 3.1.1.7), somente
em associação com chiamento, incomum para o sul.
A formação de um [-e -i] paragógico em oxítonos após /r/, /l/, /s/
(→ 4) é atestada regionalmente no Rio Grande do Sul, em Goiás e no
nordeste do Brasil (cf. Furlan 1989: 126-130); nos Açores, conforme
as pesquisas de Rogers, contudo, a vogal epentética não é difundida
(1949: 51). Também a palatalização do grupo -it- (→ 5) é típica da
região Nordeste e do norte de Minas Gerais (cf. 3.1.2.2). A
acentuação enfática da sílaba tônica (→ 6) e a elevação final do tom
nas orações afirmativas (→ 7) não são comprováveis como caracte-
rísticas açorianas conforme as informações disponíveis.

403
Compare-se a transcrição de depois [de'poS] da Baixada Cuiabana
(MT) (Fernandes 1986: 86).
329

Apenas a palatalização do /s/ implosivo [S] poderia ser relacionada


com a imigração portuguesa do século XVIII. Isso, porém,
pressuporia que a palatalização nessa região fosse atestada relativa-
mente cedo. Quanto ao chiamento do Rio de Janeiro, já se demostrou
que a transformação lingüística supostamente desencadeada em 1808
pelo estabelecimento da Corte portuguesa não encontra nenhuma
menção no século XIX e somente no começo do século XX valia
como característica dos cidadãos mais cultos (cf. 7.1.2.1).
Em Santa Catarina, o chiamento se encontra na faixa litorânea
central entre Piçarras e Garopaba, inclui a Ilha de Santa Catarina e
corresponde, na extensão, mais ou menos, aos pontos principais da
imigração açoriana de 1748-1756 (Furlan 1989: 104). O Atlas
Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil confirma a tendência
para a palatalização do /s/ final, com um pequeno deslocamento na
extensão geográfica para a área entre Itajaí e Imbituba (ALERS, mapa
01-06). Contudo, em seis, por exemplo, o chiamento ocorre só nesses
dois lugares da costa, ou seja, nos pontos extremos, mas não na zona
intermediária (ALERS, mapa 05). Furlan calculou, nas suas investi-
gações, a freqüência da palatalização do /s/ implosivo na região como
por volta de 80% das ocorrências. A limitação na expansão e a
variação condicionada à posição apontam para o fato de que a
palatalização é um processo longo e gradual. Comparativamente, em
Portugal, o chiamento se generalizou desde o final do século XVII até
1736, conforme a afirmação de Verney (cf. 7.1.2.1). Não se sabe,
porém, se o chiamento ocorreu em meados do século XVIII nos
Açores. Por conseguinte, a palatalização na faixa litorânea central de
Santa Catarina poderia ter sido desencadeada ou promovida pelos
colonos açorianos ou ter sido desenvolvida independentemente, como
em Belém (PA).
No contexto da suposta influência açoriana, Furlan (1989: 17)
critica Paiva Boléo, que teria feito equivalência, nessa questão, entre
“semelhanças” e “influência”. Na verdade, não se trata sequer de uma
argumentação apoiada na comparação de fenômenos, como ocorre nas
supostas influências estruturais indígenas, africanas e crioulas (cf. cap.
6), visto que faltam, no português brasileiro, paralelos diretos com o
português açoriano. Finalmente, transpôs-se, nessa questão, a história
da colonização para a história lingüística, a fim de se corresponderem
as particularidades de uma variedade local brasileira com a identidade
lingüística de um grupo facilmente delimitável. A despeito disso,
330

vários colonos das zonas litorâneas de Santa Catarina também


provieram de São Paulo e de outras regiões do Brasil, bem como do
Portugal continental. Resumindo, faltam indícios decisivos para uma
influência açoriana em Santa Catarina.

9.4 Conclusão
O português brasileiro manteve traços arcaicos em seu desenvolvi-
mento, os quais remontam, em parte, até o século XVI e incluem todas
as grandes regiões de Portugal. Isso denuncia uma continuidade
equilibrada de sua formação. O início da colonização do Brasil, por
volta de 1550, coincide, na periodização da língua portuguesa, com a
transição da época pré-clássica para a clássica. O contato lingüístico
entre o Brasil e Portugal foi moldado, no período subseqüente, por
uma contínua imigração de colonos portugueses, a qual também não
terminou após a Independência, continuando até a primeira metade do
século XX. Marcas típicas do português europeu não puderam,
contudo, impor-se em momento algum. Nem mesmo a fricativização
das plosivas intervocálicas, já existente no século XVI, penetrou no
português brasileiro. Nem o afluxo populacional, em virtude das
minas de ouro e diamante, no século XVIII, nem a instalação da Corte
portuguesa em 1808 apresentaram, sequer no plano regional,
quaisquer efeitos demonstráveis no Brasil, do ponto de vista das
mudanças lingüísticas ocorridas nessas mesmas épocas, no português
europeu (a saber, a redução das vogais átonas e o chiamento geral).
A formação antiga do português brasileiro se baseia no português
dos séculos XVI-XVIII, que, a partir de influências específicas in
loco, bem como no contato com a terra natal e com suas províncias
evoluiu para diferentes formações regionais de koiné. Depois que, no
século XVI, os primeiros centros de povoamento foram estabelecidas
na costa brasileira, explorou-se o interior, nos séculos XVII e XVIII.
O desenvolvimento lingüístico daquela época não é possível de deter-
minar, mas pode-se já concluir a coexistência de diferentes variedades
do português brasileiro, a partir da composição populacional e das
relações geo-econômicas (cf. 6.3).
A diferenciação fonética entre as variantes européia e brasileira do
português se acentuou no século XVIII, por meio do forte desenvolvi-
mento particular do português europeu, no que diz respeito, especial-
mente, ao vocalismo e ao chiamento, sem falar das alterações que
331

partiram de Lisboa, no século XIX. O português brasileiro, por sua


vez, realizou inovações do século XVIII ao XX como a velarização de
/r/, a africativização de /t/, /d/ e a vocalização do /l/ implosivo.
Na sintaxe, a generalização da próclise na língua falada, associada
com a ampliação do uso do pronome sujeito, bem como da estrutura
SV significam um passo, no português brasileiro, rumo a uma
aproximação tipológica com o francês.404
As teses de influências externas específicas no desenvolvimento
do português brasileiro não são verificáveis. Isso vale, de igual modo,
para a influência africana, no sentido de uma antiga crioulização (cf.
6.4), para as influências indígenas ou africanas fora do vocabulário
(cf. 6.5), para a suposta predominância das variedades meridionais do
português europeu na formação do português brasileiro (cf. 9.2), para
a alegada influência da Corte portuguesa na difusão do chiamento no
Rio de Janeiro (cf. 7.1.2.1) e para a assumida influência açoriana em
Santa Catarina (cf. 9.3). Desenvolvimentos convergentes, contudo,
não devem, de modo algum, ser excluídos. Entretanto, é quase
impossível decidir, por exemplo, no caso da queda do /r/ final na
linguagem coloquial brasileira, até que ponto a incompatibilidade
fonotática do tupi ou das línguas africanas interferiu na tendência à
queda das vibrantes nessa posição, testemunhada tanto no português
quanto nas línguas românicas ocidentais. Em todo caso, o fato de
alguns desenvolvimentos do português brasileiro, atribuídos à
influência das línguas africanas, poderem também ser associados ao
tupi, do ponto de vista fenomenológico, depõe contra certas convic-
ções monopolizadoras da Crioulística.
No fim deste trabalho, podemos lembrar uma afirmação de Neiva,
que, nos anos 40 do século XX, observava: “Tudo está por estudar no
Brasil” (1940: 5). Desde então, grandes progressos foram feitos,
muito embora a pluralidade da variação lingüística no Brasil, até hoje,
não tenha sido completamente compreendida por meio dos dados.
Esforçamo-nos a apresentar as relações, no português brasileiro, face
aos testemunhos disponíveis e às experiências acumuladas. Novas
fontes poderiam fornecer um quadro distinto da formação do
português brasileiro, embora as linhas gerais, provavelmente,

404
Na comparação dos sistemas fonológicos das línguas românicas,
verifica-se uma afinidade básica entre o português e o francês (cf. Müller
1971).
332

permaneçam as mesmas. Em 22 de abril de 2000, o Brasil comemorou


seus 500 anos de existência. Esse acontecimento proporcionou a
oportunidade adequada para estimular o descobrimento dessa terra de
dimensões continentais, também do ponto de vista lingüístico.
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