CURSO: LETRAS
DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA V – VANGUARDA E TRADIÇÃO
CONTEUDISTAS: ANABELLE LOIVOS, ANÉLIA PIETRANI E MARCOS
PASCHE
META
OBJETIVOS
Após o estudo dos conteúdos desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Identificar os mais importantes tópicos do que se entende por literatura
barroca.
2. Identificar de que maneira e por que essa literatura (principalmente na
figura de Gregório de Matos) é prestigiada fora do século XVII (período em que
o estilo barroco foi dominante na literatura brasileira).
INTRODUÇÃO
1 – O BARROCO, OS BARROCOS
Você já deve ter percebido, com as aulas dos semestres anteriores, que o
estudo da literatura brasileira toca necessariamente na questão dos estilos
literários (ou estilos de época). Se você tomar como referência os livros
didáticos voltados para o Ensino Médio, provavelmente vai ter a sensação de
que essa concepção, baseada nos estilos, é consensual e absoluta acerca do
estudo da literatura brasileira. Aqui não se condenam os livros didáticos,
porque eles são peça importante para o professor que atua em tal esfera do
ensino. O que se pretende demonstrar é que, como eles têm maior tendência a
prestar informação do que exercer reflexão, suas páginas costumam aparentar
um ponto pacífico sobre o que constitui a história da literatura nacional.
O ensino universitário tem uma concepção diferente, e por isso se dedica a
problematizar muito do que se consagra como verdadeiro e generalizante.
Como esta aula trata do Barroco, não será outro o exemplo. De acordo com as
informações mais correntes, ele é um estilo do século XVII, caracterizado
especialmente pela religiosidade, pelas contradições e pelo exagero. Mas veja
o que disse a respeito um especialista em literatura antiga, o professor e
ensaísta Ivan Teixeira (1950-2013):
Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus
o disse, perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos
distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós
também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros?
Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó
do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído: os vivos
são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet (“aqui jaz”).
Estão essas praças no verão cobertas de pó; dá um pé-de-vento,
levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos, e muitos
vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo: anda, corre, voa,
entra por esta rua, sai por aquela; já vai adiante, já torna atrás; tudo
enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo cega, tudo
penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar, nem sossegar
um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento, cai o pó, e
onde o vento parou, ali fica, ou dentro de casa, ou na rua, ou em
cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na
campanha. Não é assim? Assim é. E que pó, e que vento é este? O
pó somos nós: Quia pulvis es (“que pó és”); o vento é a nossa vida:
Quia ventus es vita mea (“minha vida é como o vento”). Deu o vento,
levantou-se o pó; parou o vento, caiu. Deu o vento, eis o pó
levantado: esses são os vivos. Parou o vento, eis o pó caído: estes
são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó; os vivos pó levantado, os
mortos pó caído; os vivos pó com vento, e por isso vãos; os mortos
pó sem vento, e por isso sem vaidade. Esta é a distinção, e não há
outra (2011, p. 529).
Portanto, por uma perspectiva usual, o Barroco pode ser entendido
principalmente a partir desses três fatores: religiosidade, contraste e exagero. É
assim que ele figura na tradição literária brasileira. Vamos ver, na próxima
parte, como ele figura fora dessa tradição, ou seja, na linhagem moderna dessa
mesma literatura.
Octavio Paz:
1. A poesia do Ocidente é marcada pelo culto ao novo e ao amor à
novidade.
2. Os barrocos espanhóis praticaram a “estética da surpresa”.
3. Novidade e surpresa são termos afins.
4. Conceitos, metáforas, argúcias e combinações verbais do poema
barroco são destinados a provocar o assombro.
5. A novidade do século XVII não implicava a negação da tradição.
6. Novidade para os barrocos espanhóis não era sinônimo de mudança,
mas de assombro.
Silviano Santiago:
1. A contribuição da América Latina para a cultura ocidental consiste em
destruir os conceitos de “unidade” e “pureza”, ao transfigurar os elementos
europeus.
2. Sem poder fechar suas portas à invasão estrangeira, o latino-americano
não pratica meramente a cópia nem é passivo diante da produção europeia.
3. A marca da presença do discurso latino-americano é, muitas vezes, de
vanguarda.
4. O papel do escritor latino-americano resulta da assimilação do modelo
original e a necessidade de produzir um novo texto, que é, em parte, uma
experiência sensual com o signo estrangeiro e, em outra, uma afronta ou uma
reação ou uma negação.
5. No entrelugar do discurso americano, entre a assimilação e a expressão,
se realiza o ritual antropófago da literatura latino-americana.
Gregório de Matos foi sem dúvida uma das maiores figuras de nossa
literatura. Técnica, riqueza verbal, imaginação e independência,
curiosidade e força em todos os gêneros, eis o que marca a sua
obra e indica desde então os rumos da literatura nacional (1945, p.
31).
João Adolfo Hansen, em seus estudos sobre a sátira de Gregório, ainda cita
dois outros sonetos por consoantes forçados – “apa, epa, ipa, opa, upa”: um de
autoria de Bernardo Vieira Ravasco, irmão de Padre Antônio Vieira, e outro do
próprio Vieira, em resposta ao irmão, com os mesmos consoantes, mas de tom
moralizante. São eles:
(1999, p. 320)
O poema acima, de caráter encomiástico, é bom exemplo de como Gregório de
Matos explora a visualidade do texto escrito, através da distribuição dos
quatorze versos do soneto na página em que há o aproveitamento de letras
equivalentes das palavras em cada dístico. Ainda que não seja propriamente
uma inovação poética (outros poetas anteriores a Gregório e mesmo alguns
contemporâneos já exploravam a visualidade na forma do poema), o poema de
Gregório é bom exemplo de conjugação do poema discursivo, pois é de fato
um soneto, que, por si só, já tem uma forma fixa, uma imagem imutável, e do
poema visual, uma vez que, sem utilizar ou formar figura alguma, as próprias
palavras são distribuídas constelarmente no papel. Estamos diante de um
soneto concreto, que, em certa medida, antecipa alguns traços do
Concretismo. Esse poema de Gregório assume relevância nos estudos da
poesia visual como um prenúncio, no Brasil, do “poema-limite da Modernidade”,
conforme definiu Haroldo de Campos o “Coup de dés”, de Mallarmé.
ATIVIDADE I (OBJETIVO 1)
Após observar a imagem, identifique aspectos dela que se vinculem aos três
fatores basilares do Barroco segundo a perspectiva usual: a religiosidade, o
contraste e o exagero. Responda discursivamente.
RESPOSTA COMENTADA
CONCLUSÃO
LEITURA RECOMENDADA
ATIVIDADE II (OBJETIVO 2)
RESPOSTA COMENTADA
RESUMO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, Alfredo (org.). Essencial Padre Antônio Vieira. São Paulo: Companhia
das Letras / Penguim, 2011.
______. História concisa da literatura brasileira. 41ª ed. São Paulo: Cultrix,
2003.
GOMBRICH, E.H. A História da arte. Trad. Álvaro Cabral. 16ª ed. Rio de
Janeiro: Ao Livro Técnico, 1999.
HANSEN, João Adolfo. A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do
século XVII. 2ª. ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial; Campinas: Editora da
UNICAMP, 2004.
MATOS, Gregório de. Obra poética completa (2 vol.). Códice James Amado. 4ª
ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.