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IFCE - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência


Brena Távora Uchôa
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FICHAMENTO

COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. 13. ed. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil S.A. 1988. p. 8-18

A proposta de sua obra em parte, é apresentar os conflitos dos métodos da história literária,
com isto o autor inicia abordando seu pensamento acerca do assunto, segundo Coutinho
(1988, p. 7) “O que caracteriza o estado atual da questão não é a fuga ao método, porém a
crise de métodos.” Revelando o quão delicado é tratar dos métodos da história literária.

Adiante, o livro vai mostrar que essa temática já vem sendo debatida há décadas por alguns
autores em diversos países ao redor do mundo.

“Essa crise ficou bem formulada no Primeiro Congresso Internacional de História


Literária, reunido em Budapeste, em 1931, cujo tema foi, precisamente, “os métodos
da história literária”. Já antes, porém, desde 1895 na Alemanha, seguindo um grande
movimento de reação anti-historicista, a partir das idéias de Dilthey, desde 1902 ma
Itália, em torno às idéias de Benedetto Croce, e desde 1910 na França, a respeito dos
trabalhos de Gustave Lanson, a crise da metodologia no estudo da literatura
patenteava-se dessa ou daquela forma, prolongando-se até nossos dias em diversos
outros países, como a Inglaterra, os Estados Unidos, a União Soviética, os países da
Europa Central.” (COUTINHO, 1988, p. 7-8)

Ao longo do texto, irá se evidenciar a existência do embate entre o historicismo e o anti-


historicismo. Para Coutinho (1988, p. 8) “O conflito, portanto, está bem equacionado. De um
lado, a história literária histórica; do outro, tentativas de renovação metodológica, de conteúdo
estético ou filosófico.”

Coutinho (1988, p. 9-10) afirma que em relação ao método histórico ou erudito, cujo período
áureo foi entre 1860 e 1890, opõe-se o método estético ou crítico. Discorre ainda sobre as
características de composição da metódica histórica, concebendo a literatura a partir de fatores
externos como meio, raça e momento de Taine. Esse método por sua vez, se apropria ainda de
técnicas de pesquisas e arrolamento de fatos, de minúcias sobre as vidas, as fontes, as
influências e etc. aliado a um fatualismo e antiquarismo ou falsa acepção e idolatria do
passado pelo passado. A partir do “positivismo” compreende-se duas linhas paralelas: a escola
histórica e a escola positivista. A primeira, de matriz alemã considerava os produtos do
espírito como oriundos do “gênio do povo”, evidenciando o interesse pela poesia popular,
pelos saberes populares e pelas origens místicas ou divinas daqueles produtos; a segunda, de
matriz francesa buscou apoio nas ciências naturais, explicando os fatos do espírito “(...) pelas
leis gerais da evolução histórica, da gênese sociológica e das características psicológicas,
acentuando o papel da herança biológica (...)”.

A partir daí o texto revelará outras perspectivas do método histórico. Mais precisamente cinco
vertentes que derivam do historicismo literário.

“(...) devem mencionar-se, segundo Van Tieghem, as seguintes: 1) literatura


comparada. Estuda as relações entre as produções das diversas literaturas modernas,
procura explicar a obra literária pelas fontes, imitações, influências (J. Texte, L. P.
Betz, A. Farinelli, F. Baldensperger, etc.); 2) literatura geral. Alargando o objeto da
literatura comparada, coloca a obra no meio internacional, estuda- a nas suas
relações com as obras análogas, na forma ou no espírito, produzidas na mesma
época ou em épocas paralelas em vários países (Van Tieghem); 3) história literária
sociológica. Estuda o público a quem se dirigem as obras, os elementos diversos, os
caracteres, as reações, as variações sucessivas ou paralelas do gosto, a influêcia nos
escritores ( Hennequin, Lacomde, Lanson, Mornet, Schucking, etc.); 4) história
literária geográfica. Agrupa os escritores e as obras por províncias ou regiões
(Pierce, Nadler, Dupouy); 5) história literária geracional e periódica. Divide a
evolução da literatura em períodos (Periodisierung), ou, mais especificamente, em
“gerações”, com o intuito de melhor explicar as sucessões e alternâncias de que é
feita a história literária (George Renard, Cysarz, Petersen, Thibaudet, Peyre, Pindes,
Marias, Carilla, Portuondo, etc.).” (COUTINHO, 1988, p. 10)

Visto que no século XX os autores e críticos da época que tomavam cada vez mais
conhecimento da esteticidade e da arte, começaram então a ir de contra o método histórico.
Esse embate contra o historicismo é discriminado pelos seguintes pontos:

“(...) a) dá importância demasiada ao meio histórico e social, a despeito da pequena


influência que têm em muitas das obras mais interessantes; b) prende-se aos
menores detalhes biográficos, como se a vida do homem condicionasse
essencialmente a alma do escritor, na qual a obra se gerou; c) é complacente com os
autores medíocres, sob o pretexto de que esclarecem e explicam os contemporâneos;
em vez disso não deveriam ter guarida na literatura, pois não souberam criar beleza,
além de que, nesses assuntos, entre o pequeno e o grande a diferença não é de grau,
mas de natureza; d) faz uso excessivo, ou mesmo insustentável em princípio, das
estatíticas, catálogos, e outros meios numéricos de abordar a obra de arte; e) procede
a análises cada vez mais amplas, como se a quantidade, em matéria de influências
por exemplo, não fosse desprezível em relação à qualidade; f) dá grande ênfase às
influências e imitações, como se a única coisa que devesse contar em arte não fosse
o elemento pessoal do espírito e da obra; g) acumula, através de um labor tão
paciente quanto ineficaz, os pequenos fatos e os fragmentos de textos (fichas), que
perdem seu sentido próprio e seu valor real, retirados do organismo vivo de que são
parte, para construir edifícios artificiais; h) pretende explicar a obra literária, ou os
detalhes dessa obra, pelos fatos e textos conhecidos, como se, destarte,
conhecêssemos a realidade toda, esquecendo que o espírito do escritor foi dirigido
ou alimentado durante a criação por uma multidão infinita de encontros que
desapareceram sem deixar rastos.” (COUTINHO, 1988, p. 11-12)

Ao decorrer do texto o autor vai afirmar que não o cabe substituição do método histórico mas
a apresentação de outros métodos e pensamentos acerca de tais. Como exemplo, o método
psico-histórico, o método estético-crítico, o método filosófico, biológico e moral, a escola
alemã do Geisteswissenschaftler e outras escolas que interpretam a obra de arte como
produtos da raça. Ainda cita correntes que se baseiam na forma e no estilo, como a escola
estruturalista e a escola estilística.

Percebe-se ao longo do texto a necessidade do autor de proteger de certa forma o método


histórico já que o próprio autor faz uso deste em suas obras. De acordo com Coutinho (1988,
p. 13) “No ponto em que estamos, parece ultrapassada a fase da polêmica entre as duas
direções opostas.” Em certo ponto, Coutinho (1988, p. 13-14) até dar a entender que a história
não é primordial: “Mas, advertidos de que, no que respeita à compreensão, explicação e
julgamento da literatura, a história não deve ser primeira, mas subsidiária.” Contudo, não
deixa de revelar apreço à mesma, quando Coutinho (1988, p. 14) diz que “Os métodos
históricos têm um papel especial, no estabelecimento de fatos concretos.

Observamos que o autor tenta não se desfazer do método histórico, ao ponto de avaliar
problemáticas na metódica estética. Portanto, Coutinho (1988, p. 14) prossegue:

“A crítica histórica tem predominado, em virtude da maior facilidade da apreensão


exterior ou histórica do fato literário. Mas os problemas da análise estética ou
intríseca estão e aberto, e se ainda não foram completamente resolvidos e se não há
mesmo técnicas adequadas à solução de todas as dificuldades que encerram, todavia
já sabemos onde e como se situam, desafiando a argúcia dos críticos e estetas.”
COUTINHO, 1988, p. 14)

Coutinho (1988, p. 15) afirma que: “A história literária era mais história do que literária.”
Completa dizendo que: “O que interessava sobretudo era o extrínseco e não o intrínseco.” E
ao longo do texto ele vai definir muitas vezes o conceito, a forma e caracterítica desse
método, como também mostrar os pontos fracos mas sem deixar de citar os pontos fortes.

Coutinho (1988, p. 16) ainda vai citar “os tipos de história literária havidos desde o
Renascimento: 1) história literária como catálogo de livros; 2) história intelectual; 3) história
de civilizações ou espíritos nacionais; 4) método sociológico ou genético; 5) conceito do
relativismo histórico (a obra como simples reflexo do tempo); 6) história literária como a
história do desenvolvimento da arte (...)”.

Seguidamente, apresenta a importância de outras áreas para a compreensão da literatura,


afirmando: “ As outras disciplinas da natureza ou do espírito podem trazer-lhes dados que as
ajudam em sua tarefa mas não emprestar-lhes o seu método nem substituí-las no seu modo de
operar.” (COUTINHO, 1988, p. 17)

Coutinho (1988, p.17) conclui “Assim concebidas a natureza e a tarefa da história literária,
fica evidenciado que a sua finalidade, o objeto de seu estudo é a própria obra literária, na sua
estrutura e desenvolvimento.” Não deixando de lado outros aprendizados que: “São
conhecimentos secundários, subsidiários, auxiliares, mas que não se podem omitir.”
(COUTINHO, 1988, p. 18)

Completa Coutinho (1988, p. 18) “ A literatura está para os outros fenômenos da vida em
posição de relação, não de dependência ou submissão.” Configurando como saber singular e
necessário para a sociedade em geral se relacionando e assim contruibuindo.

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