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CURSO

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5 Juntou a Fome
com Vontade de Ler
o Realismo e o Naturalismo
José Leite Jr.

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a

Realização
1.
PEQUENAS
REVOLUÇÕES
s últimas décadas do sé-
culo dezenove foram defi-
nitivas para a instituciona-
lização cultural no Ceará. guras como Rodolfo Teófilo e de Guilher-
Comparado com a informa- me Studart, que participaram ativamente
lidade da Academia Fran- de algumas dessas agremiações oitocen-
cesa do Ceará, de 1873, o tistas. O estudante que hoje lê obras como
Clube Literário, de 1886, Dona Guidinha do Poço ou A normalista,
teve maior estabilidade para dar apenas dois exemplos, não pode
funcional, com reuniões esquecer que seus respectivos autores, Oli-
literárias regulares e periódico próprio, A veira Paiva e Adolfo Caminha, surgiram
Quinzena. Logo em seguida, em 1887, mas nesse decisivo contexto histórico.
com propósitos científicos, seria fundado o Num tempo de grandes transformações,
Instituto do Ceará. Na última década des- é importante que se diga, abriu-se espaço na
se século, surgiram a Padaria Espiritual, cena intelectual a setores socialmente des-
de 1892, o Centro Literário e a Academia prestigiados. As agremiações, coerentes com
Cearense (de Letras), ambos de 1894. Conti- ascendência abolicionista e índole republi-
nuam até os dias atuais tanto o Instituto do cana, acolhiam os filhos do povo, a exemplo
Ceará como a Academia Cearense de Letras. de comerciários e pequenos funcionários pú-
No contexto cearense, literatura e ciên- blicos, como foram Antônio Sales e Álvaro
cia são parceiras históricas, convocadas Martins (MARQUES, 2018). Quebrando todo
que são a decifrar a mesma sociedade desi- um paradigma histórico, também as mulhe-
gual, tendo prestado relevantes serviços na res começaram a ocupar espaços num am-
abolição da escravatura e na compreensão biente marcadamente masculino, a exemplo
dos efeitos sociais e endêmicos das secas. de Francisca Clotilde, pioneira num século
O universitário de hoje deve lembrar-se que de pioneirismo civilizatório.
recebeu toda uma herança científica de fi- Quer saber mais? Aprochegue-se!

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2.
LITERATURA
MALACA
CHETAS
O poeta pernambucano Alf. Castro
EM DOSE TRIPLA: (1873-1926) é considerado por Sânzio
de Azevedo como “o representante
REALISMO, mais legítimo e ortodoxo da pura arte
parnasiana na literatura cearense”.
NATURALISMO E Em 1908, realizou a primeira sessão da
IMPRESSIONISMO agremiação literária Plêiade, de breve
existência. Nela, o presidente seria
conjunto das transforma- o dono da casa onde se realizaria a
ções sociais e econômicas referida sessão (revezavam).
do século dezenove teve
um impacto inegável na
produção artística e lite- dem páginas românticas. Não seria fora
rária do Ocidente. Mesmo de propósito a concepção de um grande
em uma condição perifé- Romantismo, que, diante do cientificismo,
rica, o Brasil sofreu essa experimentou uma transição de uma arte
influência, aclimatando-a idealista para a materialista.
ao nosso meio. Prova dis- A mesma prudência se impõe sobre a
so é a transição do Romantismo para o Re- diferença entre o Realismo e o Naturalis-
alismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. mo, já que ambas as tendências represen-
No entanto, é importante destacar, essa tam uma inclinação ao materialismo po-
transição não se operou uniformemen- sitivista, sendo aquele mais introspectivo
te, não sendo razoável, feita uma simples e este mais social.
leitura da produção das três últimas déca- O Realismo é uma primeira reação
das do século dezenove e primeiras do sé- ao Romantismo, vindo o Naturalismo am-
culo vinte, compor um quadro esquemá- pliar esse afastamento, contrapondo-se às
tico, uma divisão rigorosa entre traços concepções materialistas e cientificistas
românticos e realistas, naturalistas ao idealismo romântico. Vale lembrar que
e parnasianos. Afinal, essas tendências a denominação de Naturalismo baseia-
têm uma origem comum: a revolução -se na ideia de que todos os elementos
burguesa, cujo paradigma histórico se da natureza estão sujeitos às mesmas
constituiu com a Revolução Francesa e a leis, portanto o ser humano – e as perso-
centralidade cultural exercida pela França. nagens literárias – sofreriam as mesmas
Em síntese, “O romantismo foi o meio de determinações impostas pelo meio e fato-
expressão próprio da ascensão burguesa; res hereditários, a depender da deflagração
o naturalismo seria o de sua decadência. ” de acontecimentos condicionantes. É bas-
(SODRÉ, 1965, p. 18). tante conhecida esta analogia que Émile
Assim, quando se fala numa periodiza- Zola (1840-1902) faz na segunda edição de
ção literária, o que importa são tendên- Thérèse Raquin, romance inaugural do Na-
cias, jamais consensos. Nesse sentido, turalismo no mundo: “Eu simplesmente fiz
há românticos que parecem antecipar o sobre dois corpos vivos o trabalho analítico
Realismo e há realistas que não escon- que os cirurgiões fazem sobre cadáveres. ”

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3.
Um dos mais importantes autores da se-
gunda metade do século dezenove, Eça de
Queirós (1929) afirmava que existia um mo-
vimento geral na arte que se opera, ao longo
da história, numa tensão entre a tendên-
cia idealista e a realista. O idealismo seria QUANDO
a arte baseada na imaginação, enquanto o
realismo se constituiria pela documentação.
A PRINCIPAL
Assim, no Ceará, o Romantismo teve sua
nota dominante idealista, com Lendas e can-
ARMA É O
ções populares, de Juvenal Galeno, ou com LIVRO: O CLUBE
Iracema, de José de Alencar, ambas publica-
das em 1865, mas abrangeu uma tendência LITERÁRIO
realista, a exemplo de O Cabeleira, de Franklin uma cidade servida por
Távora, publicado em 1876. Por seu turno, no apenas duas livrarias e uma
Realismo e Naturalismo houve trabalhos mais biblioteca pública, inau-
ortodoxos, como A normalista, de Adolfo Ca- gurada em 1867, o Clube
minha, romance de 1893, ao lado de outros, Literário representou um
um tanto sincréticos, como o Luzia-Homem, acontecimento naquela
de Domingos Olímpio, lançado em 1903. Fortaleza que não chega-
Pelo menos em sua proposta original ou va a vinte mil habitantes,
próximo disso, o Naturalismo no Brasil não ocupando a área entre as
conheceria o século vinte: “O lustro 1890-95 atuais avenidas Duque de
pode, assim, servir perfeitamente para fixar Caxias, Dom Manuel e Imperador. A novidade
a fase mais alta do naturalismo, entre nós. saiu na edição de 16 de novembro de 1886 do
Daí por diante começará a declinar: não Libertador, dando conta de que na véspera
apresentará mais nenhum livro de valor houvera sua sessão inaugural, presidida por
destacado ou mesmo de tipicidade. Com Antônio Bezerra. Conta a matéria que o grupo
O cortiço, O missionário e os dois romances preparava seus estatutos e teria seu periódi-
de Adolfo Caminha [A normalista e Bom- Vale ainda ressaltar, como ensina Arnold co, A Quinzena. São identificados os funda-
-crioulo], realmente, a nova escola oferecia Hauser (1972), que o Naturalismo transitou dores: “João Lopes, seu principal fundador e
o melhor de si.” (SODRÉ, 1965, p. 188). para o Impressionismo, que parece preferir animador, Antônio Bezerra, Antônio Martins,
Para Sânzio de Azevedo, o cientificismo, o flagrante ao documento e a impressão Oliveira Paiva, José Olímpio, Abel Garcia e
principal característica da escola Natura- à simples constatação da realidade, no José de Barcelos.” (BARREIRA, 1948, p.116).
lista, nas letras cearenses já era perceptível que resulta uma arte mais introspectiva e Em pouco tempo foram aderindo outros inte-
na Academia Francesa (AZEVEDO, 1982, p. rica em efeitos estilísticos e sugestões sen- ressados, entre os quais Juvenal Galeno, Jus-
150). Mas a onda positivista, evolucionista e soriais. Enfim, tais características avançam tiniano de Serpa, Farias Brito, Rodolfo Teófilo
determinista parece não ter afugentado o es- sobre o século vinte, tendo repercussões e, em contraponto a tantas figuras masculi-
pírito romântico, a julgar pela produção em no segundo momento do Modernismo, nas, a educadora Francisca Clotilde.
prosa e verso nas agremiações sucessivas, inclusive unindo propostas ideológicas O primeiro número de A Quinzena saiu no
como o Clube Literário e o Centro Literário, contrárias, como a produção de Rachel sábado, 15 de janeiro de 1887. As palavras de
e periódicos da época: “Folheie-se qualquer de Queiroz e a de Gustavo Barroso, che- João Lopes, no texto de abertura do periódi-
número do Libertador, desse tempo, e será gando a exemplos mais posteriores, como co, mostram a consciência do desafio cultu-
fácil ver-se a presença avassaladora do Herman Lima, Moreira Campos, Batista de ral: “Não faltará quem considere arriscado,
Romantismo [...].” (AZEVEDO, 1982, p. 151). Lima, entre outros expoentes literários. temerário mesmo, este empreendimento a

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que nos abraçamos. ” Para ele, mesmo “na
capital do império […] o meio não é propí-
cio às letras e às publicações exclusivamente
literárias”. Oliveira Paiva, na edição de 31 de
julho de 1887 de A Quinzena, considera a di-
fusão cultural como uma questão de pa-
triotismo: “Nada é tão capaz de fomentar o
patriotismo e acender os brios de uma Nação
como a literatura. ” Nessa guerra patriótica, a
principal arma seria o livro: “O Livro acom-
panha o indivíduo onde quer que ele vá. Cus-
ta-lhe barato. Que mais? Deve ser uma arma
para o cearense.” Propondo a divisa “O livro
é a palavra em ação”, o futuro autor de Dona
Guidinha do Poço prometia derrotar, “de bas-
tilha em bastilha, a tirania da ignorância”.
A dinâmica de funcionamento do grupo,
com a leitura de novidades chegadas a Forta- MALACA
leza e a apresentação de temas eruditos, liga-
va as gerações entre si e conectava a provín- CHETAS
cia ao mundo literário brasileiro e europeu.
A experiência de estreia nesse ambiente é Oliveira Paiva, além de exímio
assim lembrada por Antônio Sales: “Um dia romancista, também foi autor
escrevi um soneto – que meti por baixo da de contos, sendo muitos deles
porta da redação, firmando com um pseudô- conhecidos primeiramente através
nimo. O soneto foi publicado, e então apre- d’A Quinzena. Sânzio de Azevedo, em
sentei-me e fui incorporado ao dito grupo...” Aspectos da Literatura Cearense, traz
Na avaliação de Dolor Barreira, “O Clube Lite- um estudo sobre essa verve pouco
rário […] foi, em todas as oportunidades, fiel estudada do autor, posteriormente
ao seu programa de incentivar, por todos os também perquirida por Nilto Maciel
modos, o levantamento do nível intelectual em Contistas do Ceará. Muitos
do Ceará” (BARREIRA, 1948, p.121-123). historiadores ainda desconhecem os
O Clube Literário, tão regular em suas ati- contos de Oliveira Paiva. Em História
vidades, não sustentou a A Quinzena além de Concisa da Literatura Brasileira, Alfredo
junho de 1888. Uma das últimas notícias de Bosi, por exemplo, não se refere ao
atividade da agremiação ainda apareceria n’A contista Oliveira Paiva, embora o
República, em 4 de outubro de 1894, avisando considere “prosador terso, que sabia
que, à noite, haveria uma reunião do Clube descrever e narrar com mão certeira e
Literário na sede do Clube Cearense. “De uma intervir no momento azado com talhos
forma ou de outra, tenham durado mais ou te- irônicos de inteligência fina e crítica”.
nham durado menos, o certo é que foi marcan- O que nos demonstra que
te a influência que o Clube Literário e A Quinze- muitos caminhos ainda temos
na [...] exerceram na incrementação da nossa para conhecer e pesquisar sobre
riqueza literária. ” (BARREIRA, 1948, p.126). os escritores cearenses.

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4.
A QUINZENA
Quinzena circulou de 15 1887: “De proporções modestas, A Quinze-
de janeiro de 1887 a 10 na vai, contudo, rompendo galhardamente
de junho de 1888, sendo a espessa camada do indiferentismo públi-
impresso na mesma tipo- co por tudo quanto é exclusivamente lite-
grafia do Libertador. Man- ratura e cremos que conquistará em breve
tiveram-se suas oito pági- posição segura e estável entre as folhas li-
nas ao longo das trinta terárias do país. ” (BARREIRA, 1948, p.118).
edições. Para quem ima- Sobre a distribuição de assuntos, toma-
ginasse que um periódico -se aqui, a título de exemplo, o primeiro
com essas características número do periódico. Assumem a redação
tipográficas não valesse os seis mil-réis de João Lopes, Antônio Martins, Abel Garcia,
uma assinatura anual, assim alertou a nota J. de Barcelos e José Olímpio. É ainda João
publicada no Libertador de 19 de maio de Lopes quem assina o editorial – “Expedien-
te. Preliminares” –, com a proposta do jor-
nal no âmbito do Ceará e sua correlação
com a imprensa literária nacional.
Em seguida vem a primeira parte do
artigo “Origem da palavra Ceará”, assina-
do por Paulino Nogueira, que teria conti-
nuidade no número seguinte. Depois lê-
-se o soneto “Lumen-Numen”, de Virgílio
Brígido, texto de feição marcadamente
romântica, que termina com uma sines-
tesia: “Tudo penso escutar, quando em
teus olhos / Vejo esse raio límpido luzir
/ Iluminando a noite que me envolve.”
Contrastando com as imagens enamora-
das do soneto, aparece “Corda sensível”,
um pequeno conto de Oliveira Paiva, que,
sob pretexto de narrar a traquinagem de
crianças, serve de exercício naturalista,
como revela o desfecho, que flagra um
parto de ratinhos, inocentemente aco-
lhidos pela pequena filha de um coro-
nel, numa analogia entre a maternidade
humana e a animal. Da incipiente expe-
riência naturalista, a leitura volta ao Ro-
mantismo de Juvenal Galeno, com “O re-
gresso”, balada em décimas, cujo enredo
descreve uma cavalgada de retorno à casa
paterna em meio ao cenário sertanejo.

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SABATINA Passado o idílio romântico, vem a crônica
de “Os quinze dias”, neste número assina- MALACA
Entre 1898 a 1902, o poeta cearense
da por Antônio Martins (normalmente a
seção caberia a João Lopes), que recorda
CHETAS
José Albano (1882-1923) esteve em a exitosa campanha abolicionista cearen- Embora Francisca Clotilde tenha
Fortaleza, após longo período na se, reflete sobre o problema das endemias participado do Clube Literário
Europa. Frequentou o Centro Literário, e reprova certo pacto conciliatório na po- e tenha escrito n’A Quinzena,
publicando em 1901 n’A República. lítica local. Fechando a edição, vêm dois responsáveis por acolher autores
Tão “inclassificável” e diferente para sua poemas de Justiniano de Serpa: o primei- realistas como Oliveira Paiva, a
época ele parecia, que Manuel Bandeira, ro é “A escola”, com suas cinco quadrinhas autora, como vimos no módulo
em sua Apresentação da poesia brasileira, de sete sílabas, e o sonetilho “As crianças”, anterior, não é considerada uma
diria que “temos que dar atenção à peças que remontam ao moralismo algo escritora realista e sim romântica.
figura singular de José de Abreu Albano; piegas das velhas crestomatias. Mesmo seu mais famoso livro, A
singular porque inteiramente fora dos Como se vê, as oito páginas conciliam te- divorciada, de 1902, é também uma
quadros da poesia brasileira”. mas, gêneros e autorias díspares. Nos textos obra romântica e diferentemente
propriamente literários, nota-se claramente do que muitos proclamam por aí,
Sânzio de Azevedo, que nos
uma oscilação entre o que sobrou do Ro- o enredo não traz propriamente
conta essa história, traduz: “Figura
mantismo e o que ainda falta do Naturalis- bandeiras feministas para
naturalmente excêntrica, [...] é dotado
mo. No geral, a nota dominante é mesmo além do próprio mote da
de uma genialidade vizinha da loucura
o Ceará, considerado com ufanismo por obra: o divórcio. Aliás, o tema é
(que afinal iria nublar-lhe o fim da
João Lopes, examinado pela onomástica colocado para o(a) leitor(a) de uma
existência.” (AZEVEDO, 1982, p.59)
de Paulino Nogueira, cantado nos versos forma quase compulsória para a
Vale a pena conhecer e estudar
sertanejos de Juvenal Galeno e sancionado personagem principal que se vê
as suas Rimas.
pela crônica política de Antônio Martins. abandonada pelo marido alcoólatra,
Nesse primeiro número de A Quinzena mas que tenta de todas as maneiras
ainda não aparecia Francisca Clotilde. Seu reaver o seu matrimônio, conferindo
primeiro texto no periódico vem assinado à personagem características
com o pseudônimo “Jane Davy”, na edição das heroínas românticas que tudo
de 15 de abril de 1887. Trata-se do conto sofriam e suportavam em nome
“Mors Amor”, que parece homenagear o so- do amor. Você pode ler A divorciada
neto homônimo de Antero de Quental (um na sua Biblioteca Virtual do AVA.
dos mais lembrados de Sonetos, de 1861).
Mas a homenagem fica por aí, pois o conto
de Francisca Clotilde ainda tem uma escrita de um conto natalino de François Coppée.
iniciante, num enredo que reedita a tragé- Ainda não é a romancista de A divorciada,
dia do amor entre jovens de classes sociais claro, mas foi na tolerância dessas experi-
distintas: “Mas uma distância imensa os ências que se provou seu talento literário.
separava. Ela era rica e nobre, ele pobre e Não parece ser outra a avaliação de Sân-
Crestomatias obscuro.” Noutros números, assinando com zio de Azevedo, sobre o papel d’A Quinzena
Antologias, coletâneas o próprio nome, aparecem outros contos, na revelação de novos escritores: “Ao lado de
com textos em prova e/
como “Brincar com cinza” e “A enjeitada”, poemas românticos de Juvenal Galeno e das
ou versos, geralmente
com fins didáticos. a poesia, a exemplo dos sonetos “Deserto” narrativas, igualmente românticas, de José
e “Homenagem” (este dedicado à poetisa Carlos Júnior ou “Jane Davy” (Francisca Clo-
Ana Nogueira, também colaboradora de A tilde) surgiam os contos cientificistas de Ro-
Onomástica Quinzena), o ensaio, em que se encaixa “Vic- dolfo Teófilo; o Realismo despontava, porém,
Estudo linguístico tor Hugo”, e mesmo a tradução, que é o caso com mais força e arte através dos contos
dos nomes próprios. de “O Luís de ouro”, versão em português de Oliveira Paiva. ” (AZEVEDO, 1976, p. 91)

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5.
O CENTRO
BOLACHINHAS
Quintino Cunha, orador, poeta e
contista, figurava na lista de sócios-
Ao longo de seus dez anos de ativida-
des, muitas foram as adesões, tendo presi-
dido o Centro Literário os seguintes sócios:
Temístocles Machado, Guilherme Studart,
José Lino da Justa, Pápi Júnior e Rodrigues
fundadores do Centro Literário. Por
LITERÁRIO sua personalidade singular e tão
de Carvalho. (BARREIRA, 1948, p. 256). Os
relatos históricos apontam como origem
ano de 1894 foi duplamente anedoticamente divulgada, cremos do Centro Literário uma dissidência da
contemplado nas letras do não precisar nos deter aqui sobre ele. Padaria Espiritual. O próprio Antônio
Ceará. No dia 15 de agosto, Sales, fundador da Padaria, confirma essa
era fundada a Academia versão: “Uma cisão operada na Padaria
Cearense (de Letras) e, no MALACA com a retirada de Álvaro Martins e Temís-
dia 27 de setembro, surgia o
Centro Literário.
CHETAS tocles Machado determinou a criação de
uma outra associação que tomou o nome
Os cearenses ficaram sa- de Centro Literário. ” (BARREIRA, 1948,
bendo da existência de uma O Centro Literário teve o cuidado de
p.230). Um dia após a fundação do Centro
nova agremiação literária, em Fortaleza, pelo deixar uma mensagem para o futuro,
Literário, segundo Mário Linhares, “a Pada-
jornal A República: “Com a epígrafe acima (Cen- que só poderia ser aberta na passagem
ria aprovava as exclusões de Temístocles
tro Literário) foi instituída uma agremiação dos de 2000 para 2001, “para que as
Machado e Álvaro Martins”. (BARREIRA,
nossos rapazes de letras, cujo escopo é fomen- gerações vindouras possam avaliar
1948, p.230). Dolor Barreira faz uma ava-
tar o estímulo e o desenvolvimento literário, com que devotamento o Ceará cultiva
liação positiva da rivalidade dos centristas
atualmente tão descurado entre nós. ” (BAR- os cometimentos da inteligência”.
com os padeiros, pois quem acabou lu-
REIRA, 1948, p.226). Na mesma notícia vinha (BARREIRA, 1948, p. 241-242)
crando com a animosidade foi a cultura
a relação dos sócios fundadores, alguns dos cearense: “As duas sociedades literárias,
quais já conhecidos do Clube Literário, como muito louvavelmente, tudo fariam, sob o
Juvenal Galeno, Farias Brito, José Olímpio, Ál- ponto de vista intelectual, para suplantar e
varo Martins, Pápi Júnior e Rodolfo Teófilo. avantajar-se uma à outra...”

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É notória a organização do Centro
Literário, a julgar pela elaboração de sua “Lei
Orgânica” e a constituição societária. Dentre
os sócios correspondentes, estavam nomes
consagrados da crítica literária, como Sílvio
6.
SÓ A ARTE
Romero e Araripe Júnior, o poeta parnasia-
no Alberto de Oliveira, o gramático João
IMORTALIZA: A
Ribeiro e o romancista Adolfo Caminha. A REVISTA IRACEMA
mesma lista inclui as irmãs Julieta de Melo revista Iracema “apareceu a 2 de
Monteiro e Revocata Heloísa de Melo, pio- abril de 1895, sob a redação de
neiras da imprensa feminina gaúcha. Pedro Muniz e Júlio Olímpio, en-
As finalidades da agremiação não dei- cimando-a esta divisa: ‘Só a Arte
xavam de ser pragmáticas, como a realiza- imortaliza’”. (BARREIRA, 1948, p.
ção de conferências abertas, finanças para 238). Os seis primeiros números
edição de obras dos associados, correspon- da Iracema foram quinzenais. A
dência com sociedades congêneres, dentre partir do sétimo, a periodicidade
outras. Houve preocupação com um espa- passou para ser trimestral, extin-
ço cultural aberto ao público, deixando-se guindo-se ao final do ano de 1896. Além do pe-
“o livro ao alcance de todos, no meio da riódico, foram publicados livros dos associados.
rua”. (BARREIRA, 1948, p.234). Não seria razoável concluir que uma asso-
Triolé (triolet) No entanto, havia seus excessos, como ciação tão diversificada tenha chegado a uma
Poema de forma fixa, o projeto de mudança do nome da capi- unidade programática, mas é possível inferir al-
com estrofe(s) de tal, que passaria de “Fortaleza” para “Ira-
oito versos em que gumas linhas gerais. Uma delas é o regionalis-
cema”. Os centristas veneravam Alencar. mo, conforme identificado por Artur Azevedo,
o primeiro verso se
repete como quarto e
As sessões começavam normalmente com quando liga o poemeto Pescadores da Taíba,
sétimo, e o segundo, assuntos relativos à organização, seguin- de Álvaro Martins, ao sertanismo poético de
como último. do-se de uma “parte literária”, com leitura Juvenal Galeno. Há também um ufanismo,
de textos dos mais diversos gêneros. Era com as variantes nacional e local, ao que tudo
comum a reunião terminar com certa ani- indica ideologicamente vinculado ao projeto
mação, quando Alvarins (Álvaro Martins) civilizatório republicano, que assim traduz Ro-
declamava trovas e triolés, para a diver- drigues de Carvalho: “Bem se vê que há um
são ou emoção dos presentes. plano para a uma literatura muito nossa, mol-
Importante mencionar a única presença dada sobre a etnografia, o meio ambiente, a
feminina no Centro Literário, a de Alba Val- civilização enfim.” (BARREIRA, 1948, p. 256).
dez, que posteriormente, em 1922, se tor- Em relação aos estilos de época, não faltaram
naria a primeira mulher a ingressar na Aca- propostas realistas e naturalistas, a exemplo
demia Cearense de Letras como estudamos dos conto “Romântica”, de Adolfo Caminha, e
no módulo anterior. Entre as sessões sole- “Estupro”, de Pedro Muniz, reunidos na Iracema
nes da agremiação, talvez a mais destacada n.º 7 (1896). No entanto, o espírito romântico
tenha sido a homenagem a José de Alencar reinventa-se, explícita ou implicitamente, mes-
nos dezoito anos de seu falecimento. Tam- mo nos últimos anos de um século em que vi-
bém havia sessões fúnebres, como aquela goraram, pelo menos nos meios intelectuais, as
em memória de Adolfo Caminha. Não faltou doutrinas materialistas. E não se pode esquecer
a sessão de passagem do século, aberta ao da presença feminina, pois, além de Francisca
público, com a banda da Escola de Aprendi- Clotilde, a gaúcha Julieta de Melo Monteiro
zes Marinheiros, queima de fogos e o discur- também colabora com o poema “Manhã de pri-
so filosófico de Farias Brito. mavera”, que está no n.º 6 da Iracema (1895).

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caderneta de esboços de um desenhista in-
teressado em revelar a riqueza de motivos
que muitos veriam como banalidade.
Vale lembrar que o título Cromos não
lhe é exclusivo. Na verdade, constitui uma

7.
configuração discursiva cultivada por mui-
tos poetas, que emprestam ao poema uma
feição pictórica, em geral sonetilhos que Sonetilhos
descrevem pequenas cenas. Sonetos feitos
com versos
Sânzio de Azevedo sugere a influência
O REALISMO NA de B. Lopes, autor de obra homônima.
mais curtos,
sobretudo os
POESIA CEARENSE X. de Castro ora flagra cenas domésticas,
captando pequenos diálogos e situações
heptassílabos.

emos em Augusto Xavier de Cas- entre familiares, ora se volta para um pla-
tro (1858 – 1895), o X. de Castro, no mais amplo, descrevendo situações do
nosso maior representante meio popular. Exemplo desta segunda ten-
do realismo na poesia cea- dência é o sonetilho “Em Porangaba”, que
rense. De passagem breve no flagra um pequeno drama do trabalho in-
panorama literário cearense, o fantil, que perde o propósito anedótico se
escritor foi a segunda baixa da passado pelo crivo da contemporaneidade:
Padaria Espiritual – a primeira
tinha sido Joaquim Vitoriano, Para o trem. Da vilazinha
Verde, risonha, engraçada,
em 1894 –, vindo a falecer três Vem para a beira da estrada
anos depois do início da agremiação. Nela, Toda a gente, ali vizinha.
adotou o nome de “Bento Pesqueiro”. Seu
único livro, intitulado Cromos, foi publicado Começa na férrea linha
Por gritar a meninada:
sob o selo da Padaria Espiritual, em 1895. – E olha a castanha assada
Sânzio de Azevedo considera-o romântico É nova, é boa, é fresquinha!
em seus poemas da década de 1870, tran-
sitando ao Realismo na década seguinte, – Dê cá, diz um passageiro
E enquanto puxa o dinheiro
“Sua feição definitiva e mais importante”
Parte o trem já da Estação…
(AZEVEDO, 1976, p. 93). Não se trata de
uma postura realista como a que assumiria Corre, e o menino aturdido
um Cesário Verde, por exemplo, mas não Grita e brada enraivecido:
– Paga as castanhas, ladrão!
deixa de propor versos que lembram uma

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8.
Oliveira Paiva (1861-1892) por sua vez
SABATINA ensaiou contos de tendência naturalista n’A
Quinzena e publicou o romance A afilhada
Quer saber mais sobre Adolfo Caminha? em folhetins d’O libertador. Sua obra mais
O REALISMO NA Adolfo Caminha: vida e obra (Armazém aplaudida é Dona Guidinha do Poço, obra
póstuma, cuja primeira edição só sairia
PROSA CEARENSE da Cultura) é uma magistral e saborosa
biografia escrita por Sânzio de Azevedo em 1952, por intervenção de Antônio Sales,
em dúvida, temos como prin- sobre este polêmico escritor que Américo Facó e Lúcia Miguel Pereira. Dolor
cipais expoentes da prosa nos deixou obras valorosas, mesmo Barreira anotou este comentário de Tristão
realista cearense os autores: tendo vivido tão pouco. Disponível em de Ataíde, que reconheceu nesse romance
Adolfo Caminha, Antônio Sa- e-book, mas também em sebos virtuais “páginas de sertanismo inteiramente
les, Domingos Olímpio, Oli- em formato impresso. novas para a época: secas vivas, originais,
veira Paiva, Rodolfo Teófilo e sem se demorarem em longas descrições, e,
Pápi Júnior. Vamos saber um pelo contrário, sabendo evocar a paisagem
pouco mais sobre eles?
O aracatiense Adolfo Ca- BOLACHINHAS em duas palavras características, com rara
concisão de estilo e flagrância de transpo-
minha (1867 -1897) impressiona pela sição. Os tipos são verdadeiros e cheios de
impactante obra que deixou em seus cur- Oliveira Paiva antes de se dedicar à vida. Tudo revela um temperamento literá-
tos trinta anos de vida, colhido que foi literatura, foi seminarista no Crato, rio de excepcional acuidade de visão, liber-
pela tuberculose. É um dos três nomes tentou a carreira militar, no Rio tado de preconceitos e exprimindo-se por
destacados por Dolor Barreira, pela quali- de Janeiro, mas acabou voltando meio da maior sobriedade de traços, apenas
dade das obras lançadas na última década a Fortaleza e empenhou-se nas os essenciais”. (BARREIRA, 1948, p.298-299)
do século dezenove, ao lado de Oliveira campanhas abolicionista e republicana. Lúcia Miguel Pereira admirou-se de que
Paiva e Rodolfo Teófilo. É nessa década que uma obra de tal qualidade tivesse caído no
são publicados os títulos mais representa- esquecimento por mais de meio século: “Re-
tivos do Naturalismo cearense e brasileiro. Como a maior influência naturalista duzidos aos seus elementos dramáticos, D.
De Adolfo Caminha, foram publicados os em língua portuguesa era então Eça de Guidinha do Poço nada tem de original: amor,
romances A normalista (1893), Bom-crioulo Queirós, não faltou quem apontasse essa ciúme e vingança surgem em muitas histórias
(1895) e Tentação (1896). influência sobre Adolfo Caminha, como fez banais. Mas os temas simples são muitas
Concordando com Leonardo Mota, por Brito Broca: “A normalista transpira Eça de vezes aqueles em que melhor se paten-
ele citado, Barreira situa a obra de Adolfo Ca- Queirós por todos os poros. Quando o au- teia a superioridade do escritor, do cria-
minha ao lado de outras, identificadas como tor pintava a figura do estudante Zuza pen- dor. Escritor e criador foi sem dúvida alguma
naturalistas, de Júlio Ribeiro e de Aluísio sava no primo Basílio; Maria do Carmo foi Manuel de Oliveira Paiva. Creio que antes de
Azevedo. Como esses autores se propu- modelada por Luísa; o redator da Madras- qualquer outro, ousou escrever como se
nham abrir em suas páginas literárias o que ta é um avatar do Palma […].” (BARREIRA, fala, sem contudo ser incorreto, num estilo
a hipocrisia burguesa dissimulava, não era 1948, p. 295-296). saboroso e colorido, que é uma fusão admi-
raro suscitarem reações moralistas, como Outro título que despertou reações críti- rável da linguagem escrita e da oral”.
a que saiu na Gazeta de Notícias (Rio de Ja- cas foi Bom-crioulo, que, segundo Waldemar Interessante notar que a atenção des-
neiro), a propósito d’A normalista, romance Cavalcanti, “é a história cruel de uma paixão ses críticos incide sobre os traços pré-
ambientado em Fortaleza. Na réplica, Adolfo homossexual, poucas vezes a literatura brasi- -modernistas da escrita de Oliveira Paiva.
Caminha reiterou sua filiação ao romance leira atingiu tão alto nível de realismo” (BAR- Em meio ao beletrismo marcado pelo re-
documental: “Mas, vamos: é preciso não REIRA, 1948, p. 296). Reunindo esses dois buscamento da frase, ele soube ser mode-
confundir a verdade flagrante e necessária, títulos, assim se posiciona Agripino Grieco: rado nas palavras, econômico de traços,
reproduzida naturalmente, com a patifaria “Adolfo Caminha, que não sabia romancear fazendo transitar o Naturalismo para o
rasa, que dói nos ouvidos e faz saltar o san- romantizando, sarcástico até na sua meia Impressionismo literário.
gue à face da burguesia. / Zola, por maior que piedade, foi o pintor da áspera verdade, tra- Seus contos foram publicados em 1976
seja o número de seus inimigos, não é um ro- tando muito bem da vida provinciana e da pela Academia Cearense de Letras, numa
mancista imoral...” (BARREIRA, 1948, p. 293). vida de bordo […]. ” (BARREIRA, 1948, p. 296). edição prefaciada por Sânzio de Azevedo.

CURSO literatura cearense 75


Trata-se de textos retirados d’A Quinzena,
que só estariam ao alcance dos bibliófilos,
Por sua vez, Rodrigues de Carvalho,
ao fazer um balanço literário da produção PASSANDO
não fosse a iniciativa acadêmica. Vitimado
de tuberculose, Oliveira Paiva faleceu na
cearense da década de 1890, divide sua opi-
nião, entre reprovações e elogios, sobre a
A LIMPO
capital cearense, no dia 29 de setembro de produção literária de Rodolfo Teófilo, reco-
Aves de Arribação, conforme Sânzio
1892. A Academia Cearense de Letras lhe nhecendo que ele mantinha uma produção
de Azevedo, foi publicada no Correio
dedicou a cadeira 25. constante, que incluía “História da seca do
da Manhã (RJ) em 1903, retificando
Representante do Naturalismo cearen- Ceará; A fome (romance); Ciências naturais
Dolor Barreira, Pedro Nava, Wilson
se, Rodolfo Teófilo é sem dúvida o autor em contos; Botânica elementar: monografia
Martins e Otacílio Colares, que
de uma das obras mais impactantes da da mucunã; Os Brilhantes (romance); Viola-
apontavam o ano de 1902.
nossa literatura brasileira: A fome. Far- ção (novela/conto); Maria Rita (romance)”,
macêutico por formação, ao lado de sua acrescentando a próxima chegada do ro-
notável atuação como sanitarista, partici- mance O paroara. Carvalho reconhece nele Enfim, Sodré parece recuperar a crítica
pou ativamente no movimento literário ce- “um homem de ciência e um beletrista”, ad- de José Veríssimo, que não foi tolerante
arense. Foi o padeiro “Marcos Serrano” na mitindo que “os seus romances são cheios com o descompasso entre o homem de ci-
Padaria Espiritual e membro do Centro Lite- de vida pela imaginação, e estampam o ências e o literato: “Os processos descriti-
rário. Em 1922, Rodolfo Teófilo tomaria seu meio e a época em que se dá a ação”. No en- vos do autor, principalmente quando quer
assento na Academia Cearense de Letras. tanto, não deixa de advertir que o autor “é referir aos estados d’alma, têm a secura e
Numa leitura apressada, pode-se imagi- descuidado na forma”, mas acaba por con- o descolorido de um inventário ou de um
nar que Rodolfo Teófilo tenha sido um na- cluir que “a literatura do Ceará muito deve a corpo de delito. Cometendo um erro grave
turalista arraigado, mas não é o que conclui este escritor” (CARVALHO, 1899, p. 195-198). de ofício, o autor, como já notei, multiplica
sua fortuna crítica. Pedro de Queirós, em É curioso que, sendo homem das a terminologia da técnica médica e fisioló-
artigo sobre o conto Violação, de Rodolfo ciências num momento de grande pres- gica. Assim dirá: ‘Brilhante se estirou à von-
Teófilo, chega a atribuir à vivência traumá- -tígio cultural positivista, Rodolfo Teófilo tade e a onda de sangue embaraçada em
tica do autor – que, aos nove anos de ida- não chega a ser o mais autêntico dos diversos pontos seguiu seu caminho até
de, testemunhou uma epidemia de cólera naturalistas. Sânzio de Azevedo recorda os capilares das extremidades do corpo’
em Maranguape – traços físicos e compor- que ele havia debutado na literatura [...]. ” [José Veríssimo, Estudos de literatura]
tamentais que o marcariam para sempre: romântica: “Rodolfo Teófilo, que havia (BARREIRA, 1948, p. 308).
“Quem já viu um sorriso de Rodolfo? ” Tra- composto versos românticos na década Talvez a grandeza humana tenha pou-
ços que também feririam sua literatura, anterior [1870], mas haveria de firmar-se pado Rodolfo Teófilo do sepultamento
como observa o mesmo acadêmico: “As como romancista” (AZEVEDO, p. 91). Para previsto em tom de lamento por Sodré: “As
cenas cruas da natureza e do mundo social além dos versos juvenis, sua adesão ao obras de Rodolfo Teófilo, assim, ficaram li-
são o ambiente onde o autor de Violação Naturalismo “se exerceu mais pela apre- mitadas à província e o tempo as sepultou.
respira a longos haustos. Na sua paleta têm sentação eventual de cenas rebarbativas Poderiam ter chegado até nós, entretanto,
pouco relevo as cenas de inspiração suave, e pelo vocabulário científico, fruto de sua no conhecimento dos leitores, pela rique-
serena, risonha. Predominam as paisagens formação profissional (era botânico e far- za e pela variedade dos temas: o da seca,
carregadas, os quadros tristes. É ele o ma- macêutico) do que através dos enredos em A fome, de 1890, o da migração para
goado pintor dos painéis da seca. / O fero- que, na maioria dos casos, são francamen- a Amazônia, em O paroara, de 1889, o do
císsimo cataclismo de 62 projetou-lhe no te românticos”. (AZEVEDO, 1982, p. 151) cangaço, em Os Brilhantes, de 1895, os da
elevado espírito veladuras inapagáveis.” Também a Nélson Werneck Sodré não servidão feudal e dos conceitos de honra
(QUEIRÓS, 1898, p. 236-237). escapa o espírito romântico subjacente ao familiar, em Maria Rita, de 1897. ” (SODRÉ,
vocabulário de pretensões cientificistas e 1965, p. 196). Após uma vida de incansável
mesmo à crueza de certas passagens de tí- produção, Rodolfo Teófilo veio a falecer em
tulos como A fome, Violação e Os Brilhantes: Fortaleza, no dia 2 de julho de 1932. Em
“mas o hibridismo de seus livros, isto é, a reconhecimento, a Academia Cearense de
parcela da herança romântica que sobrevi- Letras lhe dedica a cadeira número 33.
via às tinturas formais de naturalismo, salta A experiência literária de Antônio Sales
à simples observação” (SODRÉ, 1965, p. 195). (1868- 1940) também foi muito vasta, distri-

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buída entre a poesia, o ensaio, a crônica e
também o romance. No Ceará, estreou com
seus Versos diversos, de 1890, tendo previa-
BOLACHINHAS
mente contribuído n’A quinzena, do Clube
Literário. Notabilizou-se pela idealização Toda obra naturalista é realista, mas
e fundação da Padaria Espiritual (1892), nem toda obra realista é naturalista.
sendo o autor de seu famoso “Programa de
Instalação”, onde assumiu o nome de “Moa-
cir Jurema”: “Uma sociedade literária, como MALACA
já se haviam fundado tantas, com um cará-
ter formal de academia-mirim, burguesa,
CHETAS
retórica e quase burocrática, era cousa para
Cruz Filho revela que o poeta Matias
qual eu sentia uma negação absoluta. ” (SA-
de Araújo, personagem de Aves de
LES, 2010, p. 17). No Rio de Janeiro, partici-
arribação, seria o próprio Antônio
pou ativamente da imprensa literária e dos
Sales, e que a cidade-cenário Ipuçaba
eventos iniciais da Academia Brasileira de
seria o Soure, hoje denominada
Letras, embora não tenha assumido assen-
Caucaia, na Região Metropolitana de
to nessa agremiação. Assumiu a cadeira 20
Fortaleza. (AZEVEDO, 1982, p.34)
da Academia Cearense de Letras.
O romance é uma exceção no itinerário
literário de Antônio Sales. A maior aproxi- proposta por Abelardo Montenegro: “o con-
mação de Antônio Sales com o a experiên- traste entre os processos sociais sertanejos
cia realista e naturalista se manifesta em e os processos sociais citadinos, o antago-
Aves de arribação, já conhecido em folhe- nismo entre o matuto e o praciano, entre o
tins do Correio da Manhã, jornal carioca, em requinte da civilização e a rudeza do mato,
1903, e publicado em livro no ano de 1914. encarnando a antítese Florzinha – a donze-
Dolor Barreira diz que Tristão de Ataíde la sertaneja – e Bilinha, a demi-vierge lito- demi-vierge
identifica vínculos dessa obra com o Rea- rânea” (BARREIRA, 1948, p. 553). Meio virgem.
lismo, pelas “semelhanças com Madame Para Sodré, em Aves de arribação, “há Jovem bastante
liberal nos modos,
Bovary”, ao passo que Lúcia Miguel Pereira uma aguda observação e boa fixação dos porém sem
admite maior aproximação com o Natu- costumes, além do levantamento do qua- nunca ter tido
ralismo d’A normalista, certamente pelo dro social” (SODRÉ, 1965, p.197). Mas tudo relações sexuais”.
estudo psicossocial do provincianismo: isso é sugerido com certo comedimento, (LAROUSSE,
“Uma professora e um promotor represen- como observa Otacílio Colares, um dos pre- tradução livre).
tam os elementos estranhos, que não só faciadores da obra: “É uma estória sem tra-
contrariam os hábitos antigos, como pro- gédias flagrantes, de um sensualismo aqui
vocam agitação e inquietação na pacatez e ali repontante mas velado, longe dos mol-
provinciana. ” (BARREIRA, 1948, p. 551). A des violentos dos livros de Adolfo Caminha
professora é Bilinha, o promotor é Alípio, e da rudeza crua das cenas e ambientes dos
esboçando-se um triângulo amoroso, em de Teófilo. ” (COLARES, 1979, p.XVIII)
virtude da expectativa de casamento deste Após uma exaustiva revisão da crítica
com Florzinha, filha do coletor da pacata sobre essa obra, Sânzio de Azevedo consta-
Ipuçaba. O título pode induzir, pelo menos ta o sincretismo de sua elaboração: “A nos-
aos que não passam deste na leitura de so ver, o romance de Antônio Sales pode
uma obra, que se trata de mais um roman- ser classificado como uma obra realista,
ce da seca, mas, na verdade, simboliza a dentro da qual podemos encontrar [...] ca-
presença temporária de pessoas estranhas racterísticas regionalistas, naturalistas
ao ambiente social, numa oposição assim e psicológicas.” (AZEVEDO, 1982, p. 31).

CURSO literatura cearense 77


Em síntese, trata-se de um exemplar do
Impressionismo literário, já que a um na- PASSANDO central é um sedutor sem escrúpulos, um
aventureiro de simpática aparência, mas
turalista de raiz não escaparia o simbolismo,
em que o inverno cearense, consolidado em
A LIMPO de baixa extração moral, dificilmente dei-
xaria de sofrer a influência do mestre que
abril, é assim louvado: “O marulho surdo a todos empolgava na época: Eça de Quei-
Assim como a obra Simas, apontada
das águas, rolando sobre as lajes do leito, rós.” (AZEVEDO, 1982, p.152) Também re-
por Nestor Victor como um dos
acompanhava o grande coro das aves, cujas conhece como qualidade desse romance
“melhores romances que se tem
vozes, diferentes de som e de expressão, se o fato de não se exceder nos chavões na-
produzido no Brasil” (AZEVEDO, 1976,
harmonizavam no mesmo hosana em hon- turalistas: “Mas, apesar de seu intuito na-
126), muitas outras publicadas em
ra da estação bendita. ” (SALES, 1979, p. 72). turalista, Pápi Júnior soube fugir daquele
pequenas tiragens ou mesmo em única
Aves de arribação foi publicada em fo- radicalismo deformante que faz com que,
edição, ou publicadas por editoras
lhetim em 1903, embora tenha sido escrita nalgumas obras da corrente, todas as
locais, sem experiência de distribuição,
ainda em 1897 – afirmação de Azevedo, a personagens mergulhem, sem exceção, na
nascem e morrem no Ceará desde
partir da afirmação da viúva de Sales a Abe- mesma lama.” (AZEVEDO, 1982, p. 155).
sempre. Hoje, a insistente ausência
lardo Montenegro, em O romance cearense Azevedo lamenta que, provavelmente
de boas casas editoriais no estado,
– e publicada em livro em 1914. Ao final da por ser pouco conhecida, a obra quase nun-
além de poucas estratégias de
apresentação da primeira edição, escreve ca é citada quando se estuda o romance
incentivos de publicações dessas
o autor: “[...] A crítica encontrará, por certo, realista-naturalista brasileiro.
obras por órgãos da cultura ou
neste trabalho, muitas falhas e inexperiên- Octogenário, Pápi Júnior faleceu em
universitários, associados ao completo
cias que já são sensíveis para mim, agora; Fortaleza em 30 de novembro de 1934.
desconhecimento do patrimônio
mas encontrará também, espero, páginas Na Academia Cearense de Letras, ele é o
literário cearense, contribuem para
em que estão pintados fielmente alguns as- patrono da cadeira de número cinco.
manter a produção e a historiografia
pectos e alguns costumes desta minha ter- Domingos Olímpio (1851–1906), dife-
literária apartada dos estudos da
ra, tanto mais sofredora quanto mais queri- rentemente dos demais autores que estu-
Literatura Brasileira.
da”. (AZEVEDO, 1982, p.33) damos até aqui, não fez da capital cearense
De vida mais longeva temos Pápi Júnior palco para suas incursões literárias. Enquan-
(1854-1934). Nascido no Rio de Janeiro, o No entanto, Nélson Werneck Sodré não to esteve no Ceará, foi em Sobral que deixou
autor participou do Clube Literário e do Cen- vê prosseguimento na proposta naturalis- alguma contribuição. Foi em sua terra natal
tro Literário. Em 1897 organizou o Clube de ta do autor: “Pápi Júnior, que escreveu O que ele participou das rodas intelectuais e
Diversões Artísticas, com apresentações Simas, em 1898, à base da reconstituição, literárias, na União Sobralense. No lança-
no Teatro Iracema. É autor de peças de te- descambaria para o romantismo inequí- mento da pedra fundamental do Teatro São
atro e prosa de ficção (contos e romances). voco, adiante, de sorte que Os gêmeos, de João, foi Domingos Olímpio quem discursou.
Sua obra mais apreciada pela crítica é seu 1914, completamente fora de época, cons- Depois, se transferiu para a capital paraense,
romance inaugural, O Simas (1898). Pedro titui ostensivo desmentido aos que preten- daí transferindo-se definitivamente para o
Queirós identifica nessa obra traços do ro- dem incluí-lo entre os naturalistas”. (SODRÉ, Rio de Janeiro, tendo colaborado na im-
mance documental, pela verossimilhança: 1965, p. 196) Para Carlos d’Alge, é possível prensa local e mesmo fundado seu próprio
“tão aparentemente real que se presume fazer uma correlação entre os romances de semanário, Os Anais (1904-1906), logo depois
não passar as folhas de uma ficção, mas a Eça de Queirós e O Simas: “Assim como n’O de publicar Luzia-Homem (1903). No exílio
narrativa de um fato verdadeiro engenhosa- primo Basílio, a Juliana descobre as cartas carioca, foi esse livro que o reintegrou à terra
mente escrita.” (QUEIRÓS, 1898, p. 240). amorosas de Luísa; n’A relíquia, há a troca para onde ele jamais voltaria.
de embrulhos; e n’Os Maias, chega de Pa- Percebe-se, por seu exemplo, uma cen-
ris, um senhor que traz displicentemente tralidade das agremiações em Fortaleza,
uma caixa de charutos; n’O Simas, uma car- mas é importante lembrar que muitas ou-
ta ocasional feita sob emoção precipita os tras surgiram na segunda metade do sécu-
acontecimentos. ” (D’ALGE, 2001, p. 56). lo dezenove em outras cidades no Ceará.
Por sua vez, Sânzio de Azevedo não Tudo indica que não houve grande comu-
hesita no enquadramento naturalista d’O nicação entre as associações culturais in-
Simas: “Obra naturalista, cuja personagem terioranas e as da capital.

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REFERÊNCIAS
BOLACHINHAS BIBLIOGRÁFICAS
A QUINZENA. Fortaleza: Centro Literário, 1887-1888.
Herman Lima (1897-1981) escreveu
AZEVEDO, Sânzio de. Aspectos da Literatura
contos, romance, livros de viagem, Cearense. Fortaleza: Edições UFC/Proed e Academia
sobre caricaturas (uma paixão), ensaios/ descaídas de forma e mesmo de estrutura Cearense de Letras, 1982.
crítica literária, biografia e de memórias. não impedem Luzia-Homem de ser realmente
AZEVEDO, Sânzio de. Literatura Cearense.
Entre as suas obras, Tigipió (1924) – que forte, denso e verdadeiro. Da obra de Domin- Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976.
teve adaptação do conto homônimo gos Olímpio, só ele permanece: mas basta
AZEVEDO, Sânzio de. Álvaro Martins. Revista da
para o cinema em 1986 –, realista com para assegurar ao autor um lugar destacado Academia Cearense de Letras, Fortaleza, v. 76, n.
características regionalistas, naturalistas na nossa literatura. ” (PEREIRA, 1988, p. 204) 36, p.207-209, 1975.
e psicológicas. Azevedo nos fala sobre a O romance tem do Naturalismo apenas BARREIRA, Dolor. História da Literatura Cearense.
obra: “Publicado na Bahia, Tigipió, além o compromisso documental, com o regis- Fortaleza: Instituto do Ceará, 1987[1948]. 4.v.
de enfeixar contos onde está presente tro de cenas, como a da frente de serviço que CARVALHO, Rodrigues de. Ceará Literário: nestes
a terra cearense, foi todo escrito aqui, levantou o prédio da cadeia pública de So- últimos dez anos. Rodolfo Teófilo. Revista da
sob o influxo das leituras de Afonso bral, de crianças mortas de fome na cidade Academia Cearense de Letras, v. 4, p. 190-191,1899.
Arinos e Gustavo Barroso, sendo uma onde a família sertaneja veio buscar socorro CARVALHO, Rodrigues. Ceará Literário: nestes últimos
das mais representativas obras da do flagelo da seca, além da denúncia de cor- dez anos. Centro literário. Revista da Academia
ficção cearense, em todos os tempos”. rupção de quem deveria zelar pela segurança Cearense de Letras, v. 4, p. 195-198, 1899.
(AZEVEDO, 1976, p.150 pública, como é o caso do soldado Crapiúna. COLARES, Otacílio. Introdução crítica: Aves de
No entanto, a documentação não tem a frie- arribação, romance diferente. In: SALES, Antônio.
za pretensiosamente científica, como com- Aves de arribação. Rio de Janeiro: José Olympio;
Apesar de ter produzido peças de teatro, prova a exuberância discursiva, com descri- Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1979.
contos e mesmo outros romances, deve-se ções ricas em sugestões sensoriais. No mais, D’ALGE, Carlos. O Simas de Pápi Júnior: um romance
à Luzia-Homem sua consagração literá- o idealismo romântico lhe serve de base, queirosiano. In: ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. A
ria. Surgido num momento de redescoberta produção literária do Ceará: antologia. Fortaleza:
particularmente no trato do gênero feminino, Expressão Gráfica, 2001. p. 49-64.
do Brasil, nas primeiras décadas da Repúbli- cujo simbolismo trágico metaforiza a própria
ca, esse romance tem correlação com obras HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da
terra cearense, entre os extremos da seca e a Arte. 2.ed. São Paulo: Mestre Jou, 1972. v.2.
regionalistas, seja na ficção, como Canaã, de opulência das quadras chuvosas.
Graça Aranha, seja no jornalismo literário, IRACEMA. Fortaleza: Clube Literário, 1895-1897.
como Os sertões, de Euclides da Cunha, am- QUEIRÓS, Eça de. Idealismo e Realismo. In: ______.
bos os títulos publicados no ano anterior da CONSIDERAÇÕES Cartas inéditas de Fradique Mendes e mais
páginas esquecidas. Porto: Lello & Irmão, 1929.
obra capital de Domingos Olímpio.
Ambientado em Sobral, o enredo traz um FINAIS QUEIRÓS, Pedro de. A Violação: conto de Rodolfo
flagrante do segundo ano da grande seca, Concluímos nosso módulo com a certeza de Teófilo. Revista da Academia Cearense de Letras,
Fortaleza, v.3, p.233-238, 1898.
iniciada em 1877. Típica do Impressionis- que teríamos outros nomes para discorrer,
mo literário, caracterizado pelo sincretismo e com mais análises, mas o espaço não nos QUEIRÓS, Pedro de. O Simas, de Pápi Júnior. Revista
da Academia Cearense de Letras, Fortaleza, v.3,
de tendências literárias do século anterior, o permite. Esperamos, todavia, que você faça p.238-243, 1898.
romance desafiou críticos da grandeza de uso de nossa Biblioteca Virtual, ampliando o
SODRÉ, Nélson Werneck. O Naturalismo no Brasil.
Lúcia Miguel Pereira, que hesitou entre a seu conhecimento sobre autor e obra. Procu-
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
admiração e a insatisfação com a obra, cuja re os títulos possíveis em bibliotecas, sebos
STUDART, Guilherme. Pequeno dicionário
heroína assim interpretou: “Essa heroína, virtuais, editoras, casas especializadas e pro-
biobibliográfico cearense. Revista da Academia
alma feminina prisioneira de um corpo más- cure lê-los. Não se contente com sinopses, Cearense de Letras, Fortaleza, v.4, p.25-72, 1899.
culo, viveu o drama de Hermafrodite.” resenhas e críticas. A SUA LEITURA e a sua
Mesmo insatisfeita com a construção da reflexão sobre ela é o mais importante. Apro-
obra, seja pelo rebuscamento da linguagem, prie-se e alimente-se. E por falar em alimen-
seja pela discordância com a metamorfose tar-se, quem quer pão? Você? Então espere o
da protagonista, ela acaba capitulando: “As próximo módulo, que vem quentinho!

CURSO literatura cearense 79


AUTOR
Este curso é parte integrante do programa
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198,
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a
José Leite Jr. Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.

É licenciado em Letras pela Universidade Estadual FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


do Ceará (Uece), com mestrado pela Universidade João Dummar Neto Presidente
Federal do Ceará (UFC), doutorado pela Universidade André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Federal da Paraíba (UFPB) e pós-doutorado pela Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Universidade de São Paulo (USP). Ensinou na Uece
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes
e na Universidade de Fortaleza (Unifor). Desde 2006 e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
é docente do Departamento de Literatura da UFC,
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
participando do quadro efetivo do Programa de Pós- Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Graduação em Letras. Coordena o Grupo de Estudos Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
de Semiótica Literária, ligado ao Grupo de Estudos Joel Bruno Designer Educacional
Semióticos da UFC (Semioce). É autor de obras entre CURSO LITERATURA CEARENSE
poesias e ensaios. É ilustrador e artista plástico, Raymundo Netto Coordenador Geral,
tendo realizado exposições individuais e coletivas, Editorial e Estabelecimento de Texto
participado de salões e de curadorias. Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico

ILUSTRADOR Miqueias Mesquita Diagramador


Carlus Campos Ilustrador
Carlus Campos Luísa Duavy Produtora
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
carreira em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. ISBN: 978-65-86094-28-2 (Fascículo 5)

Na construção do seu trabalho, aborda várias


técnicas como: xilogravura, pintura, infogravura,
aquarelas e desenho. Ilustrou revistas nacionais
importantes como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro
da produção gráfica ganhou prêmios em salões de
Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Todos os direitos desta edição reservados à:

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