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Thiago Gonzaga 1

LITERATURA AFRODESCENDENTE
NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX
(De Fabião das Queimadas a Edgar Borges-Blackout)

- Thiago Gonzaga -

Natal-RN
2021
“Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão
em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo
conteúdo do seu caráter”.
(Martin Luther King)

Divulgada no Brasil de forma sistemática apenas nas últi-


mas décadas, a literatura afro-brasileira é uma fonte bastante con-
sistente de conhecimentos a respeito de algumas nações africanas,
assim como de nossas raízes culturais e da notável integração das
duas culturas. Neste breve ensaio, tentaremos abordar o tema afro-
-brasileiro, num panorama local, considerando apenas a literatu-
ra escrita. Numa perspectiva histórico-literária utilizamos como
principal fonte teórica o livro “Literatura e Afrodescendência no
Brasil”, organizado pelo professor Dr. Eduardo de Assis Duarte.
Buscar delinear o percurso do negro dentro da literatura
norte-rio-grandense, não é fácil: há poucos registros de textos lite-
rários escritos por afrodescendentes. Porém é importante identifi-
car na produção literária potiguar a presença do negro ao longo do
processo literário brasileiro. Por conseguinte, tentaremos selecio-
nar alguns autores e textos (de poesia e prosa de ficção) represen-
tativos a partir da fase inicial da literatura norte-rio-grandense até
o final do século XX.
Fazendo uma pesquisa investigativa e criteriosa nos textos
ficcionais (prosa, poesia), nos autores e na crítica, tendo como prio-
ridade as questões referentes à problemática do negro no campo da
literatura potiguar, acreditamos estar contribuindo para ampliar
o leque dos estudos críticos e literários nesse campo. Ao centrar-
mos nossa pesquisa nas questões sobre o negro, trabalhadas pela

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tradição literária brasileira, identificaremos marcas da presença de
negros e mulatos, tanto escrevendo como participando de alguns
textos artísticos.
A literatura negra no Rio Grande do Norte quase não exis-
te, e quando aparece ao longo da história não tem o caráter de
engajamento que, de maneira geral, procura denunciar aspectos
problemáticos da realidade em que vive o negro, de forma a contri-
buir para que se produzam certas mudanças na sociedade da qual
ele faz parte.

6 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


SUMÁRIO

O NEGRO NO RIO GRANDE DO NORTE������������������������9

PRIMEIROS INDÍCIOS DE AFRODESCENDENTES NA


LITERATURA NORTE-RIO-GRANDENSE����������������������12

COMO O NEGRO É RETRATADO NA LITERATURA


NORTE-RIO-GRANDENSE NA POESIA��������������������������21

COMO O NEGRO É RETRATADO NA LITERATURA


NORTE-RIO-GRANDENSE NA FICÇÃO�������������������������53

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O NEGRO NO RIO GRANDE DO NORTE

A chegada do negro em solo potiguar se dá em 1.600


quando os primeiros escravos vieram para Natal trazidos pelo ca-
pitão-mor João Rodrigues Colaço, que em seu requerimento de
sesmarias, justifica a compra de escravos da Guiné. Nos anos se-
guintes, negros em pequeno contingente foram empregados em
Cunhaú e Ferreiro Torto, primeiros engenhos, vindo todos eles
de Pernambuco, centro principal do mercado de escravos para o
nordeste brasileiro. Não houve uma importação direta do negro
escravo da África para o Rio Grande do Norte
O negro não teve aqui a importância que teve em outras
capitanias; foi mais participativo na formação social da região atra-
vés de cruzamentos étnicos. No Rio Grande do Norte, como a in-
dústria açucareira não era tão relevante, e as atividades no interior
se limitaram à criação de gados e à cultura de mandioca, milho e
feijão, a força do trabalho escravo foi quase inexpressiva.
As estatísticas sobre escravos negros no Rio Grande do
Norte só são conhecidas a partir do século XIX, quando houve um
aumento da atividade açucareira notadamente em Ceará-Mirim,
São José de Mipibu, Goianinha, Canguaretama e São Gonçalo.
Os dados com relação a escravos em solo potiguar informam que
em 1835 o Rio Grande do Norte contava com 10.240 escravos,
mas nem todos eram negros. O último recenseamento de escravos
realizado no Estado em 1887 apontava apenas 2.161.
No livro História da Cidade do Natal, Câmara Cascudo
relata que, na capital, a quantidade de escravos não era numerosa.
Em 1873, 822 escravos. Em 1881, 339. Na contagem feita em 31
de março de 1887, Natal possuía 152 escravos. Em 1888, no final
da escravidão, Natal tinha apenas 5 escravos. Foi a terceira capi-

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tal de província sem escravidão antes da lei áurea; as outras duas:
Fortaleza e Manaus. Em toda a província do Rio Grande do Norte
foram libertos 482 escravos pela lei áurea.
Natal também possuiu uma Guarda Negra (criação política
destinada a popularizar a Princesa Isabel). Augusto Mattos, Mestre
em História Social do Brasil pela Universidade de Brasília aponta
que a Guarda Negra teve sua formação iniciada na casa do abolicio-
nista e monarquista Emilio Rouedé, em 10 de julho de 1888, com o
total apoio de José do Patrocínio, que se intitulou criador e mentor
do grupo. Segundo Mattos, nos estatutos sobre o grupo, publicados
na Cidade do Rio, os negros escolhiam os membros da diretoria que
autorizava admissão de novos integrantes. Mattos descreve os inte-
grantes da Guarda Negra como negros alfabetizados que tinham a
missão de agregar outros ex-escravos para o grupo, sob a proteção
dos abolicionistas. Seus associados consideraram a data de 13 de
maio como um marco da libertação dos cativos no Brasil que jura-
ram defender. Mas, segundo Cascudo, aqui no Estado esse grupo
não fez coisa alguma, nem de bem nem de mal.
O negro foi presença constante, mas não determinante
para a economia potiguar; os escravos vinham dos mercados de
Recife, para os engenhos, em maior quantidade, e um pouco para
o sertão, onde se transformavam em vaqueiros ou empregados do-
mésticos. Com o desenvolvimento da cultura do algodão, vieram
para o Rio Grande do Norte os Bantos, via Pernambuco. Em 30
de setembro de 1883 quando Mossoró libertou seus 50 escravos,
outras cidades do Estado seguiram o exemplo. Após a abolição
da escravatura, o negro se espalhou pelos engenhos e fazendas do
Estado. Manoel Dantas no livro Homens de Outrora, relata que a
escravidão negra não deixou traços no sertão do Rio Grande do
Norte; segundo Dantas o escravo era na verdade quase considera-
do alguém da família. Na zona sertaneja alguns negros chegaram

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até a ter posição social elevada. Manoel Dantas afirma que, no
século XVIII existiu um negro na cidade de Acari cujo nome era
José Feliciano da Rocha “homem que era venerado como exemplo
de cidadão, honradez e civismo”.

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PRIMEIROS INDÍCIOS DE
AFRODESCENDENTES NA LITERATURA
NORTE-RIO-GRANDENSE

A primeira manifestação literária afrodescendente de que


se tem registro em solo potiguar deu-se com Fabião Hermenegildo
Ferreira da Rocha, mais conhecido como “Fabião das Queima-
das”, poeta de expressão oral e popular, que nasceu escravo em
1848, na Fazenda Queimadas, do coronel José Ferreira da Rocha,
atualmente município de Lagoa de Velhos (RN). Fabião come-
çou a cantar durante os trabalhos na roça e tornou-se tocador de
rabeca, tendo adquirido seu instrumento ainda adolescente, com
o apoio do dono, (segundo José Fernandes Bezerra, em “Retalhos
do meu Sertão”, Fabião seria um filho bastardo do fazendeiro com
uma escrava) que permitia e incentivava que ele cantasse nas casas
dos mais abastados da região e nas feiras; dessa maneira conseguiu
angariar algum dinheiro, que possibilitou comprar a sua alforria.
Analfabeto, Fabião criava inteligentemente seus versos,
como o “Romance do boi da mão de pau”, com 48 estrofes. Suas
composições apresentam traços dos romances ibéricos herdados da
Idade Média. Fabião foi um tocador renomado em alguns estados
da região nordeste, e tornou-se bastante conhecido à época, sobre-
tudo em Natal, através do Dr. Eloy de Souza.
Referindo-se a Fabião das Queimadas, em seu livro “Pano-
rama da Poesia Norte-rio-grandense”, Rômulo Wanderley conta o
seguinte episódio:
“H. Castriciano e seu irmão Eloy de Souza, que muitas
vezes a ele se referiu em suas famosas Cartas Sertanejas, de Jacinto
Canela de Ferro, trouxeram-no uma noite à vila Cincinato, resi-

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dência oficial do governador Ferreira Chaves e Governantes que o
sucederam até 1942.
“Foi nessa noite que o poeta negro improvisou esta sauda-
ção ao então senador Eloy de Souza:
“ Seu doutô Eloy de Souza
Minha mãe sempre dizia,
Se o senhor não fosse rico,
Era da nossa famia.”

Em uma nota de pé de página, Rômulo Wanderley afirma:


“Eloy de Souza não se envergonhava do sangue negro que lhe cor-
ria nas veias. Tinha consciência do seu valor, que superava a alvura
de muitos brancos.” ( 1965,p.290). Rômulo Wanderley também
diz no referido livro “Fabião nasceu em 1936”, fato descartado
por muitos pesquisadores, inclusive o escritor Irani Medeiros, que
publicou recentemente “Fabião das Queimadas – de Vaqueiro a
Cantador”, onde afirma que Fabião realmente nasceu em 1848 e
que a escrava com quem comprara alforria seria a sua prima em
segundo grau e não sua sobrinha como dizem alguns.
Fabião das Queimadas morreu com 80 anos em 1928, e re-
centemente descobrimos que o seu falecimentoe foi noticiado nos
principais jornais do país, à época, como, por exemplo, no “Jornal
do Brasil”, do Rio de Janeiro, com a manchete “Um Grande Poeta
Do Sertão” (23-07-1928), no Ceará, o jornal “O Ceará” destaca
artigo de Leonardo Motta com o título “Fabião” (23-9-1928), em
São Paulo, saiu nota no “Correio Paulistano” (06-07-1928). No
Rio Grande do Norte, além de Câmara Cascudo e Eloy de Souza,
o jovem escritor Afonso Bezerra também escreveu artigo sobre Fa-
bião das Queimadas, em 28-01-1929.

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Importante divulgador da obra de Fabião das Queimadas,
Eloy de Souza (1873-1959), era irmão de Henrique Castriciano
e Auta de Souza. Político, jornalista e escritor, Eloy dedicou-se às
atividades político-partidárias, tendo sido Senador e Deputado Fe-
deral. Eloy de Souza registrou certa vez que os cantadores eram a
nota mais colorida das festas sertanejas e que Fabião das Queima-
das “extraordinário negro velho, era um dos últimos”, deixando-
-nos entender que deveriam existir outros nomes de cantadores em
sua época, inclusive os que “desafiavam” Fabião, como por exem-
plo, o famosíssimo Manuel do Riachão.
Luís da Câmara Cascudo, em artigo “Notas sobre o Escravo”
para a revista Boletim do Ariel (RJ), em 1937, destaca que, para a
época era comum os escravos comprarem sua alforria pagando com
seu próprio trabalho o preço afixado pelo dono e que Fabião comprou
além de sua carta de liberdade, a da sua mãe, e como já dissemos, de
outra parente, com quem ele viria a se casar. Cascudo também destaca
que alguns escravos possuíam gados e paióis de farinha e milho que
vendiam em época de seca, inclusive, às vezes, para os próprios donos.
O escritor Barreto Sobrinho escreveu texto no Jornal da
Manhã (RJ), em 24-12-1937, destacando os seguintes versos feitos
por Fabião na ocasião da morte de sua mãe:
“Minha mãe era pretinha
Pretinha que nem quixaba
Mas assim mesmo pretinha
Cheirava que nem mangaba...”

Henrique Castriciano (1874-1947), poeta, escritor, educa-


dor e político, notabilizou-se sobretudo como importante intelec-
tual de sua época, tendo sido o primeiro Presidente da Academia
Norte-rio-grandense de Letras. Auta de Souza considerada uma

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das mais ilustres poetas norte-rio-grandenses, nasceu em 1876 no
município de Macaíba (RN), na época, principal centro comercial
do Rio Grande do Norte, e faleceu em 1901, aos 24 anos de idade,
vítima de tuberculose. Auta deixou alguns poemas divulgados em
jornais e revistas locais e regionais e um livro publicado, “Horto”.
Os irmãos eram bisnetos de Francisco Pedro Bandeira de
Melo, senhor de vastas terras e boa soma de gado na antiga região
de Coité, hoje Macaíba. Esse bisavô dera em casamento sua filha
Cosma Bandeira de Melo (não se sabe ao certo se ela era filha na-
tural ou adotiva) ao seu brilhante vaqueiro, tido como negro, Félix
José de Souza. Da união dos dois, nasceu Eloy Castriciano de Sou-
za, pai de Eloy de Souza, Henrique Castriciano e Auta de Souza.
Fabião das Queimadas, Auta de Souza, Eloy de Souza e
Henrique Castriciano são, portanto, os primeiros registros, pelo
menos de forma oficial, de afrodescendentes na literatura norte-
-rio-grandense.
Enquanto Fabião das Queimadas tinha como principal ca-
racterística a poesia oral, cantando fatos do sertanejo, Auta de Sou-
za, em seu único livro, voltou-se para questões espirituais, muito
próxima da segunda geração romântica. Para alguns críticos

“Uma ideia – Abolição.


Seu verbo – é mais que espada
Seu braço forte é a enxada
Do túmulo da escravidão.”

Apesar do seu inegável talento, Segundo Wanderley foi


duramente criticado, sobretudo por causa da forte influência que
recebeu de Castro Alves. Parece-nos ter sido ele o único poeta na-

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talense com participação ativa no movimento abolicionista. Se-
gundo Wanderley morreu em Natal, no dia 14 de janeiro de 1909.
Câmara Cascudo, no seu livro “História da Cidade do Natal”, diz
que a abolição não revelou nenhum poeta, no Estado. Apenas um
natalense fazia sucesso: era, na Bahia, estudante de Medicina, Se-
gundo Wanderley.
Enquanto na capital do Rio Grande do Norte havia uma
aparente indiferença, em Mossoró, por volta de 1882, o comer-
ciante Joaquim Bezerra da Costa Mendes começou a propagar a
ideia da libertação dos escravos, com muito entusiasmo. No dia 6
de janeiro de 1883, foi criada a Sociedade Libertadora Mossoroen-
se, sendo ele o primeiro presidente. Vale ressaltar que os escravos
vinham do Maranhão, para trabalhar nas salinas de Macau e Areia
Branca, principalmente.
Em pouco tempo a Libertadora conseguiu redimir muitos
escravos, de modo que, em 10 de junho de 1883, foi proclamada a
libertação de, praticamente, metade dos escravos do município. E
em 30 de setembro do mesmo ano declarava-se, naquela cidade, a
abolição total da escravatura.
Como território livre, Mossoró passou a ser procurada por
escravos que conseguiam fugir. Sabiam eles que ali chegando, en-
contrariam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia evi-
tar que os fugitivos voltassem para os seus donos. Alguns eram
comprados e liberados, outros eram mandados para Fortaleza, e
nunca mais apareciam. Tudo isso aconteceu cinco anos antes que a
Princesa Isabel assinasse a Lei Áurea.
O baiano Castro Alves, cognominado Poeta dos Escravos,
teve grande influência no movimento abolicionista de Mossoró.
Mesmo depois de sua morte, ele continuou ligado à causa através
dos seus versos, e por isto se tornou um dos poetas mais popula-
res. Não menos importante, a atuação de Paulo de Albuquerque

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cognominado o “poeta da abolição mossoroense” e a do tribuno e
poeta Almino Afonso, este, elemento de proa da campanha.
Segundo o historiador Geraldo Maia do Nascimento
(Mossoró na Trilha da História: Anotações), estudantes universitá-
rios, da época, que normalmente se formavam na Bahia ou no Rio
de Janeiro foram os grandes responsáveis em difundir a poesia de
Castro Alves no movimento mossoroense; alguns escreveram sobre
o tema, mas não em obras publicadas, infelizmente.
Passados alguns anos sem registros em livro sobre negros
na prosa e poesia, no Rio Grande do Norte, em 20 de janeiro de
1929, um jovem escritor, Afonso Bezerra, nas páginas do jornal
“Diário de Natal”, dedica uma crônica a Fabião das Queimadas.
Um ano antes, Afonso Bezerra havia escrito belo artigo com o títu-
lo de “Escravos”, defendendo a igualdade entre negros e brancos,
inclusive exaltando as qualidades e virtudes dos afrodescendentes.
Ainda em 1929, Câmara Cascudo publica o seu poema “Banzo”,
na Revista de Antropofagia.
Em 1922 publicou-se o livro “Poetas do Rio Grande do
Norte”, antologia organizada por Ezequiel Wanderley, com 108
poetas, incluindo Antonio Glicério (1881-1921). Natural de Cea-
rá-Mirim, o poeta era filho de uma escrava, conforme revelou o
escritor Nilo Pereira, em uma crônica, transcrita, em parte, no dis-
curso de posse do academico Iaperi Araújo, na Revista da ANRL.
Glicério era um homem simples, com apenas instrução primaria,
trabalhou praticamente toda a sua vida numa tipografia; de origem
humilde e sem recursos financeiros, deixou inédito seu livro “Can-
tilenas”. Quando da fundação da Academia Norte-rio-grandense
de Letras, foi escolhido como patrono da cadeira 25.
O negro e a escravidão não são assunto de nenhum dos
poemas constantes na primeira antologia poética do Estado.

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Na década de 1930, Uriel Lourival, filho do poeta Lourival Açu-
cena, compôs a canção “Céu Moreno”, considerada por alguns como
sendo um dos primeiros manifestos na música, em defesa do Negro.
A seguir, trecho da letra de “Céu Moreno”
(...)
Deus, fizeste só então
Nevados serafins
De olhares tão azuis
Deus, perdão meu Deus, mas esqueceste.
Não fizeste um anjinho
Moreninho de áurea luz
(...)

Segundo pesquisa, por nós realizadas, quem primeiro de-


dicou um poema, totalmente, a temática afrodescendente, em solo
potiguar, foi o poeta Cosme Lemos (1904-1981). Tal poema, inti-
tulado “Ao meu Irmão Negro Americano”, constaria da antologia
“Panorama da Poesia Norte-rio-grandense”, de Rômulo Wander-
ley (1965).
Abaixo um trecho:
Ao meu irmão negro americano
(Quando em sua pátria se reacende o ódio racista)
(...)

Lutou até morrer conta o racismo.


Mas desde aquela noite
De tão infamante açoite,

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Nunca mais ele olhou o estrelado pendão
E morreu sem cantar sua antiga canção:
(...)

Na década de 1980, destaca-se o poeta e escritor João Ba-


tista de Morais Neto, usando o pseudônimo João da Rua, e decla-
radamente afrodescendente, buscava em sua literatura, de caracte-
rística marginal, protestar contra o preconceito racial dentre outros
temas sociais. Nessa década foram vários os poetas que trouxeram
protestos em seus versos alguns fazendo alusão ao preconceito ra-
cial, como, por exemplo, Horácio Paiva, Jaumir Andrade, Jois Al-
berto, Socorro Trindad, Venâncio Pinheiro, além de Avelino Araú-
jo e Falvez Silva, se destacando na poesia visual.
Nos anos de 1990 a antologia “Geração Alternativa – Anti-
logia Poética Potiguar” organizada por J. Medeiros, inclui o poeta
negro, Edgar Borges (1961-1999), conhecido pelo pseudônimo
Blecaute, ou Black- out, que publicou apenas um livro, “Duas Ca-
beças”, em 1981 e deixou alguns poemas dispersos em periódicos.
Todavia, não encontramos, pelo menos de forma explicita, nenhu-
ma militância declaradamente afro nos versos de Edgar Borges,
que, evidentemente sofreu todo tipo de mazela em vida, sobretudo
pela sua cor, e seu estilo de vida alternativo. Talvez, os versos, e
ascendência afro assumida, de João da Rua são os que mais irão
refletir, pelo menos de forma explícita essa militância, durante as
décadas de 80 e 90 do Século XX, aqui no Estado.
Nos anos seguintes poucos poetas e ficcionistas iriam sur-
gir em nossa literatura, produzindo um material mais consistente
sobre a temática. O movimento afro na literatura do Estado, só
voltaria a ganhar força na virada do século com o advento da in-
ternet e maior engajamento dos jovens na política e consequente-
mente nas causas sociais.

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COMO O NEGRO É RETRATADO NA
LITERATURA NORTE-RIO-GRANDENSE
NA POESIA
SEGUNDO WANDERLEY

Escravidão

Oh! não me digam, não creio,


Ser o escravo, - impossível! –
O ente mais desprezível,
O germen mais corruptor,
Mentira! Mentira tudo,
Porque pior que o escravo
É este monstro ignavo,
Que o mundo chama – senhor!...
(Fragmento do poema)

Segundo Wanderley (1860-1909). Poeta. Autor de “Estrelas Cadentes”,


“Recoltas Poéticas” e outros livros.

Thiago Gonzaga 23
PAULO DE ALBUQUERQUE

“Às aras da realeza


Subiram duas falanges
Tinham do Nilo a beleza,
A majestade do Ganges:
Eram os gentis libertados
Que vinham iluminados
Pelo sol da redenção
E, depois de redimidos,
Não foram mais oprimidos
Pela brutal servidão.

Dos escravos fiz senhores


Dos senhores fiz irmãos
Desigualdades de cores
Não separam cidadãos...
Chora a Pátria comovida!
Rompe a aurora e outra vida
A Pátria dourando vai...
Surge Deus no infinito
E Moisés brada: Bonito!
De pé no Monte Sinai.

...

24 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


Eu nasci de umas ternuras
De umas auroras de amor
Habito numas alturas
A que chamei meu Tabor.
O meu nome é uma data
Que deslumbra, que arrebata,
Qual fogo de Prometeu
Minha mãe é a Caridade,
Minha esposa – a Liberdade,
O Dia Trinta – sou “Eu!”

Obs.: O dia 30 de setembro assinala a libertação dos escravos em


Mossoró.

Paulo de Albuquerque (1844-1902). Poeta e político, abolicionista his-


tórico. Autor de “Sombras e Crenças” e outros livros.

Thiago Gonzaga 25
ALMINO AFONSO

“Musa da História”

A sua Majestade o Imperador

“ Pela Pátria, pela Glória,


Venho dizer-te uma cousa:
De Paranhos, ( sou a História)
Eu não te vi junto à lousa !

Eu não te vi no proscênio,
Quando, inundado de luz,
Evolava-se o grão-gênio
Da terra da Santa-Cruz.

Por cima das nuvens d´ouro,


Que boiavam na amplidão,
Recebia um Anjo louro
O Anjo da Redenção.

As crianças redimidas,
Contemplando os céus, olhavam;
De saudade e amor transidas,
As mães escravas – choravam.

26 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


O comércio, a arte, os lábios,
Os mesteirais, multidões,
A dor por todos os lábios,
Rompia dos corações.

E diz a pátria cativa,


Concentrando a sua dor!
- Nesta dor falta um conviva...
Eis que chega... O imperador!...
.................................................

Almino Afonso (1840-1899). Poeta e politico, abolicionista histórico.


Autor de “Cantos Rústicos”.

Thiago Gonzaga 27
CÂMARA CASCUDO

Banzo

Para Ribeiro Couto

Subiu a toada
Dos negros mocambos.
Saiu a mandinga
De pretos retintos
Vestidos de ganga.

Quilengue, Loanda,
Basuto e Marvanda
Fazendo munganga.
Tentando chamego
Cantando a Xangô.

Escudos de couro
Pandeiros, ingonos,
Batuques e dança...
Palhoças pontudas
Com ferros na lança.

Terreiros compridos
De barro batido.
Cantigas e guerras

28 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


Com sobas distantes...
Caçada ao leão.

Caninga de choro
Zoada de grilo.
Campina de cana
Com água tranqüila...
A voz do feitor.

Mucamas cafuzas
Moleques zarombos...
Na noite retinta
A toada subia
Dos negros mocambos.

Câmara Cascudo (1898-1986). Folclorista, escritor, jornalista e profes-


sor. Autor de “Canto de Muro”, “Dicionário do Folclore Brasileiro” e
outros livros.

Thiago Gonzaga 29
JAIME DOS G. WANDERLEY

Algemados de Saudade

Na solidão, tenebrosa da senzala,


onde, em cochichos, se escondia a fala,
para não molestar patrões cruéis,
habitavam, sorvendo amargo travos
de dissabores e perfídia, escravos,
como se fossem presos de galés

Vieram, de ultramar, peregrinando,


cumprir um triste fado, miserando,
carpir a sua magua entre estrangeiros.
De vez perderam sua liberdade,
sentindo a alma algemada de saudade,
nos porões absconsos dos negreiros

Pisando o chão, amigo, do Brasil,


o negro escravizado e sempre hostil,
sua angustia secreta não na expande.
E recluso no seu inconformismo,
o magoa a tortura do ostracismo,
no horror que lhe provoca a “ Casa Grande”.

Não podia chorar nem maldizer


as dores que o faziam padecer,
a sentença que havia de cumprir.

30 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


Tudo ali, era medo, susto espanto,
uma surpresa havia em cada canto,
em tudo um mau agouro a o perserguir.

O tronco, as correntes e a chibata,


o castigo que dói que fere e mata,
Peewee Cole era um moço jovial e forte,
Do Harlem, em Nova York, descendia
De nobre estirpe da África, que fazia
(Há quatrocentos anos
De escravidão e de ódios desumanos)
A riqueza e o poder da América do Norte.

Desde criança, no Harlem, Peewee Cole cantava


A canção dos irmãos, como quem se embalava:
“Eu também sou América!
Eu também sou América!”

Vem a guerra fatal. Como bom patriota,


Cole vai se alistar na aérea frota.
E cheio de fervor e de ufania
Pela Democracia
Solicita e consegue a suprema façanha,
De partir para o “front”, combater a Alemanha.

Soldado Americano, ele canta bizarro,


Sonhando entre a fumaça do cigarro;

Thiago Gonzaga 31
Eu também sou América!
Eu também sou América!

Mas na noite cruel da véspera da partida,


Cole quis festejar a sua despedida...
E, por ingenuidade ou por abstração,
Entra e se serve em bar de um alemão.

O germano, iracundo, com feroz olhar,


Quebra-lhe o copo aos pés e vendo o franco
Apoio do salão, ousa gritar:
- Vê este bar, oh! negro, é bar de branco.

E sob o olhar de nojo dos compatriotas.


Cole saiu escorraçado como um cão,
Entre expansões de mofas e risotas,
Pelo inimigo expulso do seu próprio chão.

Partiu na madrugada para a guerra,


Partiu para morrer nos céus da Alemanha,
Partiu levando dentro d’alma a sanha
Daquela última noite em sua terra.

Esplêndido de ódio e louco de heroísmo,


Lutou até morrer conta o racismo.
Mas desde aquela noite
De tão infamante açoite,

32 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


Nunca mais ele olhou o estrelado pendão
E morreu sem cantar sua antiga canção:

“Eu também sou América!
Eu também sou América!”

Oh! Vem meu irmão negro americano,


Deixa as plagas do ódio à tua raça
E vem beber conosco a grande taça
Da solidariedade e do amor humano!

Vem, que aqui nada te será hostil!


Vem, para que teu filho nasça no Brasil!
E este filho
Cantará sem receio o estribilho:
- também sou Brasil!
- também sou Brasil!

Cosme Lemos (1904-1981). Poeta. Autor de “ Sete Instantes em Ver-


sos” e “Peewee Cole”.

Thiago Gonzaga 33
BERILO WANDERLEY

Samba

Meninos, lá vem a Escola de Samba!


Mulatos cansados,
mulatos suados,
tirando cadência dos seus tamborins
riscando compasso no asfalto molhado,
enchendo o espaço de um samba que fala
de um caso de amor...
Reparai a morena
que é porta-estandarte,
repleta de samba na carne cabôcla;
do samba nervoso,
que desce do morro;
do samba que fala de coisas tão simples,
trazendo legendas do velho Noel;
pedaço da gente que vive no môrro;
do magoado Ataulfo chorando “pois é...
jurando que Amélia é mulher de verdade...

Berilo Wanderley (1934-1979). Poeta, escritor e jornalista. Autor de


“Telhado do Sonho”, “ O Menino e seu Pai Caçador” e outros livros.

34 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


ETELVINA DULCE

Maracatu

Maracatu, barulho de samba,


Coisa que cheira a feitiço
E que tem gosto de muamba.
Melodia rítmica e macabra
Que parece que nunca mais se acaba.

Sacolejos, requebros, remelexos,


Batuques de bombo
Acompanhados de realejos.
Saudade de mãe preta esquecida
A embalar do branco
O começo da vida.

Maracatu, cheiro quente de raça,


Melodia que fica,
Mesmo depois que passa.
Maracatu, cheiro de carne, de terra,
De chão!
Maracatu, pecado, perdição.

Etelvina Dulce (1915-1971). Poeta. Seus poemas nunca foram reunidos


em livro, encontram-se dispersos em diversos periódicos de Natal.

Thiago Gonzaga 35
MIGUEL CIRILO

O gesto

no carrossel dos mortos,


em sangue me descubro:

NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO


POR DENTRO NEGRO MAIS NEGRO
MEUS IRMÃOS SÃO TODOS
NEGROS.
NEGRO O ROSTO BEM AMADO
NEGRO O MEU NOME: DANADO.

círculo negro sobre mim


e sangue até os joelhos.

olhos cegos cegos cegos:


furaram todos os olhos.
são todos os olhos – negros.
são negros todos os cegos.

branco – só o vazio.
branco igual a inexistente.
branco de incolor.

Miguel Cirilo (1936- 2005) Poeta. Autor de “Os Elementos do Caos”.

36 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


JAUMIR ANDRADE
Maria Preta

Maria Preta,
Seu riso
rinso.
Vazias,
suas tripas
ra ta ta vam,
metralhadoras.
Suas orações
africanas,
reação
aos atuais
violões
marcusianosi
Internacionalmente
explosivos.
Seu corpo,
indústria
de prazeres
que consumíamos
para desbaratar
a fome romântica
dos nossos sexos.

Jaumir Andrade (1949-1984). Poeta. Autor dos Livros “ Demopoesia”


e “ Em Meu Peito de Urso Meu Grito de Mulher”.

Thiago Gonzaga 37
HOMERO HOMEM

Sobre Cacilda. Preta. Por Fome

Cacilda. Preta. Por fome


(essa fome brasileira,
Mais nortista que sulista,
sergipe de tão comum).

Cacilda, preta, por fome


de comida se dá toda.
Por amor só dá a um.

Mau comércio de Cacilda.


Cacilda dorme com todos
mas acorda sem nenhum.

Vigarice de Cacilda
pelas ruas do Sol-Posto
cavando seu desjejum:

Se espoja em cama-de-vento,
apaga a vela a Ogum.
O corpo viram cem pratas.
Com vinte de safadeza,
Mais dez de sem-vergonhice,
Cacilda compra pimenta.
Meia-noite janta atum.

38 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


Ah profissão de Cacilda
que deita por feijão-preto
e nana por jerimum.

Deita, Cacilda. Deitada


A fome quebra o jejum.

Cacilda, preta expedita


polvilha pele e axila
Com talco leite de rosa
desodoriza o bodum.

Cacilda, preta expedita.


Sempre fatura algum.

Cacilda, negrinha à-toa,


Mulher de Cosme e Doum.
Com fome se dá a todos.
Jantada, só dá a um.

Homero Homem (1921-1991). Poeta e escritor. Autor de “ Cabra das


Rocas”, “Terra Iluminada” e outros livros.

Thiago Gonzaga 39
LUIZ RABELO

OS ANJINHOS NEGROS MORREM DE FOME

“Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes...”

(Castro Alves)

Na Etiópia
Os anjos negros morrem
de fome,
os anjinhos negros, as “criancinhas negras
morrem de fome.
Enquanto isso
No Brasil fala-se em Maluf, em Figueiredo, em Tancredo.
(Grandes nomes! Grandes nomes!)

Enquanto isso na Etiópia


os anjos negros morrem
de fome
e na América do Norte fala-se em Reagan
e na União Soviética fala-se em Chernenko.
(Grandes nomes! Grandes nomes!
(...)

Luiz Rabelo (1921-1996). Poeta e escritor. Autor de “ Os Símbolos


Inúteis”, “ Caminhos dos Mortos” e outros livros.

40 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


DIÓGENES DA CUNHA LIMA

Os Negros do Rosário

Antigos negros cativos


Voltaram, na procissão.
Pelo batuque dos bombos
Os negros chamam o passado.
Pífanos velhos mazombos
Ao batuque fazem manto.
Pra ter santa no sertão
Carece de muito canto.

Diógenes da Cunha Lima (1937). Poeta, escritor e professor. Autor


de “Poemas Versus Prelúdios”,” O Livro das Respostas” e outros livros.

Thiago Gonzaga 41
PAULO DE TARSO CORREIA DE MELO
Uma Canção para Zé Pretinho

Zé pretinho foi o primeiro executado em Natal, na ma-


nhã de 23
de maio de 1843. Não sabemos onde nasceu, como vivia, idade,
antecedentes, espécie de delito. A memória popular defende o
acusado, na acepção de inocência total.

Luis da Câmara Cascudo


História da Cidade do Natal.
Raramente a história fala
dos que não tiveram sorte.
De Zé Pretinho ela narra
que foi condenado à morte.

Se nada se lhe atenua


o tempo sábio o redime:
não ficou o sobrenome,
também não ficou o crime.

Diz-se que olhou a cidade


entre inocente e escarninho,
antes de última vontade:
comer bolo e tomar vinho.

42 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


Quem era esse Zé Pretinho?
Homem simplório sem dolo,
ou não pedia, adivinho,
um copo de vinho e bolo.

Ou será que Zé Pretinho


bem sabia o que fazia?
Diverso pão, outro vinho –
blasfêmia ou eucaristia?

Paulo de Tarso Correia de Melo (1944). Poeta, escritor e professor.


Autor de “Talhe Rupestre”, “Natal: Secreta Biografia” e outros livro

Thiago Gonzaga 43
BIANOR PAULINO
Senzala

O
feitor
olha
o
poder
do
olhar
dos
olhos
do
negro
olhar

Bianor Paulino (1949-2011) Poeta e professor. Autor do livro de “O


Empalhador de Palavras” e outros livros.

44 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


IRACEMA MACEDO

Negreiro

As dores que venho sentindo


não estão cifradas neste palco
não me assustam mais
eis que são hábitos
viver este absurdo e dançar no entanto
como um mendigo na chuva
uma mulher bonita a bordo de um navio
As dores que venho sentido
não sangram não me roubam nada
só me aquecem
como se eu tivesse nascido ao certo
para a ternura do mundo que espicaça
para este teor de coisas que sufoca
a textura grossa da pele dos pretos
as faces azuladas os músculos tesos
Os navios passam e passam
eu permaneço.

Iracema Macedo (1970). Poeta e professora. Autora de “Lance de Dar-


dos”, “ Invenção de Eurídice” e outros livros.

Thiago Gonzaga 45
JÓIS ALBERTO
Raça

A Abdias Nascimento

negra nega
nega a tua alma branca
nega a copa e cozinha
nega, a história do brasil:
nega negaram
a raça de grandes homens negros.
nega, não nega
o teu cabelo a tua raça.

Jóis Alberto (1959). Poeta, escritor e jornalista. Autor de “Poetas Azuis


Paixões Vermelhas Amores Amarelos”.

46 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


JOAO BATISTA DE MORAIS NETO

Raça

O padre Caldas
orangotango da Corte
entre a Arcádia e a rua
com a sua Viola de Lereno
faz irromper sua fúria branda

Cruz e Sousa
fascina-se pelas imagens brancas
e pela assepsia das formas
mas em seu emparedamento
afirma sua negra dor.

O mulato Lima
vivendo na fronteira
em que álcool, loucura e miséria
formaram um molotov de adversidades
detonou o mundo medíocre de sua época
sendo “pobre, mulato e livre”.

Gil
de refazenda e realce
da refavela ao poder
afirma seu brilho
de canto e discurso

Thiago Gonzaga 47
a cintilação de palavra e gesto
em cores vivas.

Machado
ah! O Bruxo!
esse sublimou.

Joao Batista de Morais Neto (João da Rua) (1961). Poeta, escritor e


professor. Autor de “Temporada de Ingênios”, “ O Veneno do Silêncio”
e outros livros.

48 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


AVELINO DE ARAÚJO
Soneto do Apartheid

Avelino de Araújo (1953) é poeta e artista plástico. Publicou “Livro de


Sonetos”, “Olho Nu” e outros livros.

Thiago Gonzaga 49
LUIZ RABELO
Marthin Luther King

Não o chamo de Martin.

Chamo-o de Mártir Luther King

Natal, RB, 13/04/1986

Do livro “Poemas” (org. Dorian Gray Caldas). Natal: Departamento Es-


tadual de Imprensa, 1999.

50 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


EDGAR BORGES- BLECAUTE

R/EVOLUÇÂO

Tinha 15 anos
quando a palavra não era dita
Tinha 20 anos
quando o livro não era aberto
até a penúltima página
Tinha 30 anos
somados, rascunhados na minha própria favela
onde trasportava todos os dias sonhos de
morro a morro
Tinha 40 anos
quando o sucesso era verde e amarelo
no bê a bá da minha escola
Ah! tinha muitos anos para viver em Cuba...
mas num ato infeliz
fuzilaram-me...

Thiago Gonzaga 51
COMO O NEGRO É RETRATADO NA
LITERATURA NORTE-RIO-GRANDENSE
NA FICÇÃO
MARTINS DE VASCONCELOS

CORPO SANTO OU O NEGRO ROBERTO

O negro Roberto, todo obediência e zelo, recebia uma


pancada brutal, sem a menor insurreição, como se lhe dessem um
abraço amigo, com a diferença que aquele contato daninho fazia-o
verter através das pupilas, cansadas, melancólicas, quase sempre
uma humílima e pesarosa lágrima que sualma cristã fazia desti-
lar do íntimo, como a consolo da própria alma, que dimanava o
perdão àquele torturador; ao passo que o afago se lhe faziam, pe-
netrando até os refolhos do seu ser, enchia-o de um bem estar
indizível, tão suave e bom, que o pobre Roberto ria, ria como um
inocente; e aí é que ele via o lado tredo que o molestava tanto: mas
Roberto não esbravejava, não!
Era um negro tal qual poderia ser um mártir!
Todos os moradores da ribeira gostavam do preto e até
com certo desvelo!
(...)

(Fragmento de Histórias do Sertão)

Martins de Vasconcelos (1874-1947). Escritor, poeta e jornalista. Autor de


“ Saltério da Saudade”, Histórias do Sertão “ e outros livros.

Thiago Gonzaga 55
JAIME HIPÓLITO

A TRAGÉDIA DO NEGRO JESUS

“Bicho danado, esse Jesus!”


“O negro é o cão!”
“Quem te viu e quem te vê, moleque!”
As exclamações explodiam em todas as reuniões do sin-
dicato. Velhos salineiros, líderes de classe, figurões habituados a
debater com ministros, presidentes de grandes sindicatos do Rio
de Janeiro e São Paulo, todos respeitavam o negro Jesus, inegável
revelação de orador e líder operário. Não havia tema que não es-
tivesse apto a discutir, fosse ou não solicitada sua opinião. E com
que fluência falava, a boca cheia de frases altissonantes, os gestos
estudados acompanhando as frases de efeito. A plateia, contagiada,
mal se continha.
“Muito bem, Jesus!”
“Queima o estopim, companheiro!”
(...)

(Fragmento de Estórias Gerais)

Jaime Hipólito (1928-1993) Escritor e jornalista. Autor de “ Es-


tórias Gerais” e “ De Autores e de Livros”.

56 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


WALDSON PINHEIRO

OS HOMENS DA COR DA NOITE

As novidades parece que deixaram pra aparecer todas


duma vez só. Nem bem eu tinha conhecido boi e cavalo, lá aparece
também outro tipo de gente que eu nunca tinha visto. Eram dois
homens, duas mulheres e um menino, a diferença com eles sendo
que tinham o couro preto que nem uma noite de lua nova. E pa-
rece que queriam não dar na vista, que vieram se meter num lugar
bem escondido, perto de mim. Falavam numa mistura de portu-
guês, tupi e outra língua que eu acho que era a deles mesmo, que
até deu trabalho pra entender. Aí eu liguei a presença deles com
umas coisas que eu já tinha ouvido e compreendi tudo. Aqueles só
podiam ser negros escravos que andavam fugidos.
(...)

(Fragmento de Itacirica - A Pedra que Pensava)

Waldson Pinheiro (1930-1999). Escritor e professor. Autor


de “Itacirica - A Pedra que Pensava” e “ Dicionário de Portu-
guês – Interlíngua “.

Thiago Gonzaga 57
FRANCISCO SOBREIRA

TIANA

Não, meu filho, eu não paguei ao negro Tiana para desa-


lojar a família. Ele foi de livre e espontânea vontade. Devia estar
bêbado, como sempre. Não sou homem de tomar certas atitudes.
Gosto de agir por meio da via legal. E no presente caso, procurei
solucioná-lo de maneira amigável. Agora, não tenho culpa se um
moleque bêbado se intromete na questão, levado por motivos que
ignoro. Estou mortificado por haver o caso tomado um rumo di-
ferente, tudo por obra de um negro safado.

(...)

(Fragmento de A Morte Trágica de Alain Delon)

Francisco Sobreira (1942). Escritor e poeta. Autor de “A Morte


Trágica de Alain Delon”, “ A Venda Retirada” e outros livros.

58 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


EULÍCIO FARIAS DE LARCEDA

OS OLHOS DE NANANA

Amanheceu o dia, os urubus rondando minha choça.


Mau sinal. O negro Verdadeiro me viu com a carne da cria-
ção nos ombros. Riso amarelo. Agora eu tinha virado mar-
chante? Negro filho da puta. Na certa ele (fuxicante) ia dizer
a Seu Pedro Sá que tinha-me visto vendendo carne de criação.
Comecei a ficar sem graça e preocupado. Se fosse descoberto?
Ah, nem é bom pensar... Nanana e os meninos de barriga
cheia. A cachorra Piaba. Nesses dias ela estava também no ví-
cio. O diabo é que o Delegado de Santana de Garrotes quan-
do pegava um pobrezim, o esfolava vivo. Ixe. Surra de lâmina
de facão não há lombo de cristão que aguente. Há? Valha-me
Nossa Senhora dos Martírios. Nanana e os bichinhos...

(...)

(Fragmento de Os Deserdados da Chuva)

Eulício Faria de Lacerda (1925-1996). Escritor e professor. Autor


de “ O Rio da Noite Verde”, Os Deserdados da Chuva” e outros
livros

Thiago Gonzaga 59
MANOEL ONOFRE JR.

DE VOLTA AO NINHO

... De Lurdes. Negra vistosa – “um tipão” - , a pele de jaboticaba


madura, os cabelos crespos com cheiro de sabão de coco, uns olhos
meio assustados(...)
... Um belo dia, ela foi procurada por uma tal de Arlete, dona da
pensão ( naquele tempo ainda não havia boate) “O Meu Doce Lar”.
(...)
- Não seja besta – argumentava Arlete. Você não está desemprega-
da? Pois, lá na pensão, minha filha, você tem de um tudo. E pode
até, quem sabe, arranjar um xodó, que lhe monte casa(...)
No outro dia (...) amanheceu frente à pensão “O Meu Doce
Lar”, no Rabo da Gata. Bateu palmas. Na janela surgiu a cabeça de
uma loura oxigenada.
- Dona Arlete está?
- Vou chamar... Arlete, tem uma negra aqui, querendo falar com
você.
De Lurdes ainda ouviu a loura dizer, em voz baixa, com um risi-
nho:
-Xô, urubu.
Ouviu e caiu das nuvens.
(Fragmentos de Chão dos Simples)

Manoel Onofre Jr (1943). Escritor e magistrado. Autor de “Chão dos


Simples”, “Ficcionistas Potiguares” e outros livros.

60 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


MARIA EUGÊNIA MONTENEGRO
O ANJO NEGRO

O Anjo Negro estava desolado. Ninguém queria brincar


com ele no céu.
O Anjo Negro via tudo e continuava a insistir;
- Deixa eu brincar um pouquinho com vocês.
- Não – diziam os anjos louros – anjo negro não tem vez.
Vá para o seu lugar.
O Anjo Negro monologava: “Meu Deus, nunca pensei que
até no céu houvesse discriminação.” E chorava sem parar. Havia al-
guns que procuravam consolá-lo, mas os mandões eram absolutos
e eles tinham medo.
Resolveram confinar o Anjo Negro para que os deixassem
em paz. Mandaram-no para a Nuvem Deserta. Ali, ao lado de ou-
tros anjinhos negros, choravam tanto, que encheram nuvens e nu-
vens de lágrimas.

(...)

(Fragmento de Todas as Marias)

Maria Eugênia Montenegro (1915- 2007) Escritora e professora. Auto-


ra de “ Saudade, teu Nome é Menina”, “Todas as Marias” e outros livros.

Thiago Gonzaga 61
BARTOLOMEU CORREIA DE MELO
ROSA VERDE AMARELOU

PRETO que, de tão preto, ser mais preto não podia!...

Era um boizão muito erado, grosso de chifres e mocotós. Bambean-


do ronceiro, arrastava uma carroça desconchavada. Cheia, assim
coculada, de quanto lixo coubesse. Sobejos de feira festejados pelo
mosqueiro. Ladeando, vinha ele, de quase mesma velhice e pre-
tura. Chapéu-de-couro bufento e amarfanhado, mais semelhando
uma poia-de-vaca seca. Resmungava aboios curtos, cutucando jei-
toso com o cabo do vassourão. Logo atrás, aceso de orelhas e rabo
acuado, choutava um vira-lata. Pelame rajado de tanta sujeira que,
nem dando pra dizer cor, talvez até preto também fosse.
(...)

(Fragmento de Lugar de Estórias)

Bartolomeu Correia de Melo (1945-2011) Escritor, poeta e professor.


Autor de “Lugar de Estórias”, “ Tempo de Estórias” e outros livros.

62 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


MOACYR DE GÓES

A MORTA NA PORTA

Daí em diante, Oliveira virou Henrique, o Rei Cariongo. Dan-


çou os primeiros passos com a Rainha Ginga. E aconteceu o milagre.
Angola chegou e ocupou a praça. A dança guerreira ia a meio quan-
do o Embaixador, desatendido pelo Rei Cariongo, entrou em peleja,
matou o Príncipe Sueno e prendeu Henrique, o Rei Cariongo. O povo
temia quando as espadas e lanças eram terçadas, estalando e retinindo
no meio do palco. Os instrumentos musicais subiam de tom. Os cor-
pos se torciam na esgrima. A Rainha Ginga dançava mas não cantava
nenhuma melodia. Nem sempre os Congos de Saiote traziam a Rai-
nha Ginga. Bastava cantar em sua homenagem. Mas, naquela noite,
Oliveira sentira a vontade de estar junto de mulher. Por isso fora bus-
car Marinalva. Em um minuto a morena arranjara uns panos e vestia,
agora, uma fantasia de acordo com o conjunto dos Congos. Marinalva
dançava que era um dengo só. Oliveira sentiu consolo para sua triste-
za. Os homens cantavam e contavam a história. Depois da peleja che-
gou a paz. Foi selada uma nova amizade. Os homens suados, alguns
saiotes rasgados, cantavam a canção da despedida. A África deixava a
praça. O conjunto folclórico, terminado o auto, descia do palanque.
A garrafa de cachaça passava de mão em mão, os homens molhando
as gargantas secas. Oliveira, pela primeira vez, recusou a bicada. Omar
se aproximou do líder dos Congos de Saiote e perguntou:
- E a morta?
- Faço o enterro amanhã.
(...)
(Fragmento de 7 Contos Curtos e um Outro nem Tanto )

Moacyr de Góes (1930-2009). Escritor e professor. Autor de “7 Contos


Curtos, e um Outro nem Tanto”, Chão das Almas” e outros livros.

Thiago Gonzaga 63
PEDRO SIMÔES

ZÉ PRETINHO

- Como é o seu nome?


- Zé, mas o povo me chama de Zé Pretinho por causa que
meu pai é conhecido como Mané Pretinho. Já ouviu falar dele?
Balancei a cabeça para os lados, não, não conhecia o seu
pai.
O garoto teria uns doze, treze anos. Era bem escuro como
o apelido o confirmava, franzino, mas tinha o tamanho dos de sua
idade. Era simpático e parecia bem humorado.
Deu um assobio muito estridente, com os lábios arregaça-
dos, entre os dentes. Atendeu ao chamado um cachorro pequeno,
magro e feio como ele só.

(...)

(Fragmento de Estórias de Mal-Assombros e Encantamentos)

Pedro Simões (1944- 2013). Escritor, poeta e professor. Autor de “Es-


tórias de Mal-Assombros e Encantamentos”, O Homem que Assassinava
Árvores” e outros livros.

64 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


CONCLUSÃO PARCIAL

Até início dos anos 60, havia poucos ficcionistas no Es-


tado; com o boom do conto, fenômeno nacional, neste período,
cresceu o número deles, porém pouquíssimos se interessaram em
tomar o afrodescendente como tema.
Por fim, devemos salientar que este ensaio não tem inten-
ção de estabelecer o cânone da literatura afro-brasileira em solo po-
tiguar; apenas tenciona dar um roteiro, um guia para se conhecer
e pesquisar escritores e textos com características afrodescendente,
bem como o reflexo da questão racial na obra destes e de outros
autores.
Esperamos ter trazido elementos que propiciem reflexões
sobre as diversas facetas dessa escritura, e colocando-a em sintonia
com a literatura nacional como um todo.
Chegamos à conclusão de que a literatura afro-brasileira
no Rio Grande do Norte é também um conceito em construção
como afirma Duarte em Por um conceito de literatura afro-brasi-
leira in: “Literatura e Afrodescendência no Brasil”.
Verificando o volume de textos acumulados ao longo das
décadas, constatamos ser quase inexpressiva essa vertente em nossa
terra, pelo menos de forma mais explicita. O movimento, como já
dissemos, só iria ganhar mais força e visibilidade, com o advento
de uma nova geração, mais engajada e preocupada com o tema.

Thiago Gonzaga 65
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66 LITERATURA AFRODESCENDENTE NO RIO GRANDE DO NORTE NO SÉCULO XX


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Thiago Gonzaga 69

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