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LITERATURA BRASILEIRA III

O CONTO NO BRASIL
18/02/2020

Prof. Lemuel Diniz


“A partir de 1836, foram numerosas as
produções, aparecidas na imprensa cotidiana,
senão de contos verdadeiros, muito próximas
desse gênero, intermediárias do conto e da
crônica, pela sua feição de narrativa, tendente
a despertar o interesse do leitor do tempo.
Esse já estava acostumado à publicação de
folhetins traduzidos do estrangeiro,
especialmente de revistas e jornais franceses e
ingleses, no que eram férteis os periódicos da
década de 1830-40” (LIMA, p. 46).
“Diz Barbosa Lima que o conto se divulgou no
Brasil ‘como um gênero autônomo, no período
de influência romântica. Seus primeiros
escritores foram os melhores jornalistas da
época, Justiniano José da Rocha, Pereira da
Silva, Josino Nascimento Silva, Firmino
Rodrigues da Silva, Francisco de Paula Brito,
Vicente Pereira de Carvalho Guimarães, Martins
Pena, João José de Sousa e Silva Rio.
Esses é que foram, efetivamente, os precursores
do conto no Brasil’, embora observe que ‘não
eram a rigor vocações espontâneas. A primeira
impressão que eles nos dão é a de jornalistas,
habituados com os modelos europeus, e
interessados em transportar para o Brasil um
tipo de ficção, que estava sendo um dos fatores
de êxito dos periódicos literários ou políticos do
Velho Mundo’” (p. 46)
“O conto brasileiro, como expressão
verdadeiramente literária, viria da segunda fase
do romantismo, posterior ao indianismo de
Gonçalves de Magalhães, Basílio da Gama e
Gonçalves Dias” (p. 46)
“As narrações de cunho fantástico da Noite na
taverna, de Álvares de Azevedo, muito embora
o estilo e a inspiração desse livro de um poeta
exacerbadamente romântico nada tenham a ver
com o Brasil, dado o seu influxo direto de
Musset e Byron” (p. 47)
• Noite na Taverna é uma antologia de contos
 do autor ultrarromântico brasileiro 
Álvares de Azevedo sob o pseudônimo Job
Stern. Foi publicada postumamente, em 1855;
três anos após a morte de Azevedo. O livro é
estruturado como uma narrativa moldura
 contendo cinco contos (e também um prólogo
e um epílogo, totalizando assim sete capítulos)
narrados por um grupo de cinco rapazes se
abrigando em uma taverna.
• É um dos mais populares e influentes
trabalhos da ficção gótica na literatura
brasileira.
• Diz-se que o livro foi fortemente inspirado
pela obra de 1790 Noches lúgubres,
do espanhol José Cadalso.
“O grande nome, porém, a fixar, desde os
começos do conto brasileiro, não só
cronologicamente, como pela incomparável
altura da sua arte, é ...
Machado de Assis” (p. 47).
Em relação aos contos machadianos é válida a
separação em duas fases. A primeira inclui
Contos fluminenses (1870) e Histórias da meia
noite (1873) (BOSI, p. 78). Os contos presentes
nesses livros estão presos “não só aos moldes
românticos, não só quanto aos tipos, como
também quanto ao sentimentalismo” (LIMA, p.
48).
A segunda fase do Machado contista inclui
Papéis Avulsos (1882), no qual se nota um salto
“grande para o domínio perfeito do gênero
[conto]” (LIMA, p. 48).
Comentário do prof. Ronnie Roberto Campos:
“Papéis avulsos está entre as primeiras
publicações da fase madura de Machado de
Assis, e já apresenta muitas das características
que o imortalizaram: o humor sutil, o
pessimismo, o ceticismo, a ironia fina e
corrosiva e as denúncias implacáveis que
revelam os mais perversos segredos de uma
sociedade maculada pela máscara da
hipocrisia.”
Outros livros de contos dessa fase são Histórias
sem data (1884), Várias histórias (1896), Páginas
recolhidas (1899) e Relíquias da Casa Velha
(1906).
Outras coletâneas saíram póstumas, reunindo
contos esparsos antes publicados em jornais e
revistas (BOSI, p. 78).

LISTA DOS MELHORES CONTOS DE MACHADO –


BOSI, p. 79
O conto brasileiro “não começou com Machado
de Assis” mas “firmou-se com ele, recebendo-
lhe das mãos trato que nenhuma das
outras[mãos] anteriormente lhe haviam dado e
feição nova e característica com o interesse dos
temas e alinho e cuidado do estilo” (LIMA, p.
47).
“A predileção de Machado de Assis pelo conto
firma-se, como se nota, desde os seus inícios
literários, sendo interessante lembrar o que a
seu respeito dizia ele, em 1873: ‘É gênero difícil,
a despeito de sua aparente facilidade e creio
que essa mesma aparência de facilidade lhe faz
mal, afastando-se dele os escritores e não lhe
dando, penso eu, o público, toda a atenção de
que muitas vezes é credor’” (LIMA, p. 49).
A respeitada teórica Lúcia Miguel Pereira afirma
que apesar dos ótimos romances Memórias
póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom
Casmurro, “foi, incontestavelmente, como
contista que Machado de Assis fez as suas
obras-primas” (LIMA, p. 49).
Com a ascensão do movimento do Naturalismo
destacam-se outros contistas. “Aluísio de
Azevedo, com as páginas de intensa
dramaticidade de Pegadas e demônios de estilo
tão sóbrio e de tão aguda psicologia: ‘Heranças’
e ‘A serpente’ devem figurar permanentemente
em qualquer antologia do gênero” (LIMA, p. 50).
Outros contistas talentosos desse período:
MEDEIROS E ALBUQUERQUE (1867-1934).
Melhores contos: “Flor seca”, “Vidas
estragadas”, “Um vencido”, “A confissão”,
“Tique-taque” e, principalmente, “As calças do
Raposo”.
VIRIATO CORREIA:
• Literatura infantil
• Era uma vez... (1908)
• Contos da história do Brasil (1921)
• Varinha de condão (1928)
• Arca de Noé (1930)
• No reino da bicharada (1931)
• Quando Jesus nasceu (1931)
• A macacada (1931)
• Os meus bichinhos (1931)
• História do Brasil para crianças (1934)
• Meu torrão (1935)
• Bichos e bichinhos (1938)
• No país da bicharada (1938)
• Cazuza (1938)
• A descoberta do Brasil (1930)
VIRIATO CORREIA: “contos de ambiente
sertanejo a que se mistura um ardente lirismo,
uma forte sensualidade, nos tipos e nas
situações e uma poderosa textura dramática,
sabe animar as suas narrativas dum interesse e
dum profundo sentido universal” (LIMA, p. 50).
Melhores contos de Viriato:
“Terras malditas”, “O outro”, “A desfeita”, “A
desforra”, “Madrugada negra”.
COELHO NETO
Era um escritor de “ardente imaginação”,
“incapaz de conter os excessos de seu
temperamento genuinamente tropical, com
muito de sua ascendência de índio amazônico”
(LIMA, p. 50).
• Filho do português Antônio da Fonseca Coelho
com a índia Ana Silvestre Coelho.
• Estudou no Colégio Pedro II, matriculou-se em
1883 na Faculdade de Direito de São Paulo.
• No curso jurídico Coelho Neto expande suas
revoltas, logo se envolvendo no movimento
de alunos contra um professor e, para evitar
represálias, transfere-se para a faculdade do
Recife, e ali conclui o primeiro ano.
Após este lapso, retorna para São Paulo, e logo
participa de movimentos abolicionistas e
republicanos, entrando em choque com os
professores, não chegando a concluir o curso.
Casou-se em 1890 com Maria Gabriela Brandão,
filha do professor Alberto Olympio Brandão,
com quem teve catorze filhos.
Em 1923 converteu-se ao Espiritismo,
proferindo um discurso no Salão da Guarda
Velha no Rio de Janeiro sobre sua adesão.
[3]
 Sobre a matéria, o "Jornal do Brasil" publicou
entrevista com o escritor (7 de junho de 1923),
anteriormente intransigente adversário do
Espiritismo.
Melhores contos: “Assombramento”, “Praga”,
“Os velhos”, “Casadinha”, “Cega”, “Fertilidade”,
“Bom Jesus da Mata”, “Banzo”
“São contos de mestre, muita vez vizinhos da
perfeição, por aquele sopro de poesia selvagem,
aquela exacerbação de instintos rudes, aquela
aguda sensibilidade mestiça, em que se fundem
crenças, superstições,
anseios duma raça curtida de dores e de
fracassos, ao fatalismo do meio, o que lhe dá a
muitas páginas um frêmito épico” (LIMA, p. 50).
DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925) e PEDRO
REBELO (1868-1905): escritores de restrita
produção, mas que “deixaram páginas
perduráveis, dum sabor nitidamente
machadiano muita vez, sem contudo o
servilismo do pasticho” (LIMA, p. 51).
JÚLIA LOPES DE ALMEIDA (1862-1934)
Filha de médico
Pioneira da literatura infantil no Brasil, seu
primeiro livro foi Contos Infantis (1886).
Autora dos livros de contos Ânsia eterna (1938)
e Um drama na roça (1907). Melhores contos:
“A caolha”, “A valsa da fome”.
CARMEN DOLORES
Tese UFSC:
Carmen Dolores, escritora e
Título: cronista: uma intelectual feminista
da Belle Époque
Autor: Hellmann, Risolete Maria
Investigamos, neste estudo, a obra
jornalística e literária de Carmen
Dolores (um dos pseudônimos de
Emilia Moncorvo Bandeira de
Mello), escritora, cronista,
conferencista, dramaturga e crítica
literária do século XIX, comumente
caracterizada, no campo intelectual
do seu tempo, como máscula,
corajosa e ousada. Dessa obra,
focalizamos a atuação jornalística,
Resumo:
intelectual, crítica e feminista por
meio da análise de suas crônicas
publicadas no jornal O Paiz entre
1905 e 1910.Reconhecida pela
crítica periodística de seu tempo,
esquecida politicamente pela
História da Literatura e Crítica
Literária canônicas ao longo do
século XX, ela vem sendo
redescoberta pela crítica literária
feminista contemporânea. 
Melhores contos: “Nos bastidores”, “A mãe”, “O
derivativo”.
ARTUR AZEVEDO:
“linguagem simples e correntia, numa forma
desprentensiosa”. “Plebiscito” “é uma página de
psicologia e de alegre sátira, digna de figurar em
qualquer literatura” (LIMA, p. 51).
AFONSO ARINOS
SIMÕES LOPES NETO
MONTEIRO LOBATO (p. 53)
LIMA BARRETO (p. 54)
JOÃO DO RIO (p. 54)
MÁRIO DE ANDRADE (p. 54)
ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO (1901-
1935) (p. 54)
GRACILIANO RAMOS (P. 56)
JOÃO GUIMARÃES ROSA (p. 58)
REFERÊNCIAS:
BOSI, Alfredo. Machado de Assis. São Paulo:
Publifolha, 2002.
LIMA, Herman. Evolução do conto. In:
COUTINHO, Afrânio (Org.). A literatura no Brasil.
7. ed. rev. e atual. São Paulo: Global, 2004. p.
45-63.

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