“A partir de 1836, foram numerosas as produções, aparecidas na imprensa cotidiana, senão de contos verdadeiros, muito próximas desse gênero, intermediárias do conto e da crônica, pela sua feição de narrativa, tendente a despertar o interesse do leitor do tempo. Esse já estava acostumado à publicação de folhetins traduzidos do estrangeiro, especialmente de revistas e jornais franceses e ingleses, no que eram férteis os periódicos da década de 1830-40” (LIMA, p. 46). “Diz Barbosa Lima que o conto se divulgou no Brasil ‘como um gênero autônomo, no período de influência romântica. Seus primeiros escritores foram os melhores jornalistas da época, Justiniano José da Rocha, Pereira da Silva, Josino Nascimento Silva, Firmino Rodrigues da Silva, Francisco de Paula Brito, Vicente Pereira de Carvalho Guimarães, Martins Pena, João José de Sousa e Silva Rio. Esses é que foram, efetivamente, os precursores do conto no Brasil’, embora observe que ‘não eram a rigor vocações espontâneas. A primeira impressão que eles nos dão é a de jornalistas, habituados com os modelos europeus, e interessados em transportar para o Brasil um tipo de ficção, que estava sendo um dos fatores de êxito dos periódicos literários ou políticos do Velho Mundo’” (p. 46) “O conto brasileiro, como expressão verdadeiramente literária, viria da segunda fase do romantismo, posterior ao indianismo de Gonçalves de Magalhães, Basílio da Gama e Gonçalves Dias” (p. 46) “As narrações de cunho fantástico da Noite na taverna, de Álvares de Azevedo, muito embora o estilo e a inspiração desse livro de um poeta exacerbadamente romântico nada tenham a ver com o Brasil, dado o seu influxo direto de Musset e Byron” (p. 47) • Noite na Taverna é uma antologia de contos do autor ultrarromântico brasileiro Álvares de Azevedo sob o pseudônimo Job Stern. Foi publicada postumamente, em 1855; três anos após a morte de Azevedo. O livro é estruturado como uma narrativa moldura contendo cinco contos (e também um prólogo e um epílogo, totalizando assim sete capítulos) narrados por um grupo de cinco rapazes se abrigando em uma taverna. • É um dos mais populares e influentes trabalhos da ficção gótica na literatura brasileira. • Diz-se que o livro foi fortemente inspirado pela obra de 1790 Noches lúgubres, do espanhol José Cadalso. “O grande nome, porém, a fixar, desde os começos do conto brasileiro, não só cronologicamente, como pela incomparável altura da sua arte, é ... Machado de Assis” (p. 47). Em relação aos contos machadianos é válida a separação em duas fases. A primeira inclui Contos fluminenses (1870) e Histórias da meia noite (1873) (BOSI, p. 78). Os contos presentes nesses livros estão presos “não só aos moldes românticos, não só quanto aos tipos, como também quanto ao sentimentalismo” (LIMA, p. 48). A segunda fase do Machado contista inclui Papéis Avulsos (1882), no qual se nota um salto “grande para o domínio perfeito do gênero [conto]” (LIMA, p. 48). Comentário do prof. Ronnie Roberto Campos: “Papéis avulsos está entre as primeiras publicações da fase madura de Machado de Assis, e já apresenta muitas das características que o imortalizaram: o humor sutil, o pessimismo, o ceticismo, a ironia fina e corrosiva e as denúncias implacáveis que revelam os mais perversos segredos de uma sociedade maculada pela máscara da hipocrisia.” Outros livros de contos dessa fase são Histórias sem data (1884), Várias histórias (1896), Páginas recolhidas (1899) e Relíquias da Casa Velha (1906). Outras coletâneas saíram póstumas, reunindo contos esparsos antes publicados em jornais e revistas (BOSI, p. 78).
LISTA DOS MELHORES CONTOS DE MACHADO –
BOSI, p. 79 O conto brasileiro “não começou com Machado de Assis” mas “firmou-se com ele, recebendo- lhe das mãos trato que nenhuma das outras[mãos] anteriormente lhe haviam dado e feição nova e característica com o interesse dos temas e alinho e cuidado do estilo” (LIMA, p. 47). “A predileção de Machado de Assis pelo conto firma-se, como se nota, desde os seus inícios literários, sendo interessante lembrar o que a seu respeito dizia ele, em 1873: ‘É gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade e creio que essa mesma aparência de facilidade lhe faz mal, afastando-se dele os escritores e não lhe dando, penso eu, o público, toda a atenção de que muitas vezes é credor’” (LIMA, p. 49). A respeitada teórica Lúcia Miguel Pereira afirma que apesar dos ótimos romances Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, “foi, incontestavelmente, como contista que Machado de Assis fez as suas obras-primas” (LIMA, p. 49). Com a ascensão do movimento do Naturalismo destacam-se outros contistas. “Aluísio de Azevedo, com as páginas de intensa dramaticidade de Pegadas e demônios de estilo tão sóbrio e de tão aguda psicologia: ‘Heranças’ e ‘A serpente’ devem figurar permanentemente em qualquer antologia do gênero” (LIMA, p. 50). Outros contistas talentosos desse período: MEDEIROS E ALBUQUERQUE (1867-1934). Melhores contos: “Flor seca”, “Vidas estragadas”, “Um vencido”, “A confissão”, “Tique-taque” e, principalmente, “As calças do Raposo”. VIRIATO CORREIA: • Literatura infantil • Era uma vez... (1908) • Contos da história do Brasil (1921) • Varinha de condão (1928) • Arca de Noé (1930) • No reino da bicharada (1931) • Quando Jesus nasceu (1931) • A macacada (1931) • Os meus bichinhos (1931) • História do Brasil para crianças (1934) • Meu torrão (1935) • Bichos e bichinhos (1938) • No país da bicharada (1938) • Cazuza (1938) • A descoberta do Brasil (1930) VIRIATO CORREIA: “contos de ambiente sertanejo a que se mistura um ardente lirismo, uma forte sensualidade, nos tipos e nas situações e uma poderosa textura dramática, sabe animar as suas narrativas dum interesse e dum profundo sentido universal” (LIMA, p. 50). Melhores contos de Viriato: “Terras malditas”, “O outro”, “A desfeita”, “A desforra”, “Madrugada negra”. COELHO NETO Era um escritor de “ardente imaginação”, “incapaz de conter os excessos de seu temperamento genuinamente tropical, com muito de sua ascendência de índio amazônico” (LIMA, p. 50). • Filho do português Antônio da Fonseca Coelho com a índia Ana Silvestre Coelho. • Estudou no Colégio Pedro II, matriculou-se em 1883 na Faculdade de Direito de São Paulo. • No curso jurídico Coelho Neto expande suas revoltas, logo se envolvendo no movimento de alunos contra um professor e, para evitar represálias, transfere-se para a faculdade do Recife, e ali conclui o primeiro ano. Após este lapso, retorna para São Paulo, e logo participa de movimentos abolicionistas e republicanos, entrando em choque com os professores, não chegando a concluir o curso. Casou-se em 1890 com Maria Gabriela Brandão, filha do professor Alberto Olympio Brandão, com quem teve catorze filhos. Em 1923 converteu-se ao Espiritismo, proferindo um discurso no Salão da Guarda Velha no Rio de Janeiro sobre sua adesão. [3] Sobre a matéria, o "Jornal do Brasil" publicou entrevista com o escritor (7 de junho de 1923), anteriormente intransigente adversário do Espiritismo. Melhores contos: “Assombramento”, “Praga”, “Os velhos”, “Casadinha”, “Cega”, “Fertilidade”, “Bom Jesus da Mata”, “Banzo” “São contos de mestre, muita vez vizinhos da perfeição, por aquele sopro de poesia selvagem, aquela exacerbação de instintos rudes, aquela aguda sensibilidade mestiça, em que se fundem crenças, superstições, anseios duma raça curtida de dores e de fracassos, ao fatalismo do meio, o que lhe dá a muitas páginas um frêmito épico” (LIMA, p. 50). DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925) e PEDRO REBELO (1868-1905): escritores de restrita produção, mas que “deixaram páginas perduráveis, dum sabor nitidamente machadiano muita vez, sem contudo o servilismo do pasticho” (LIMA, p. 51). JÚLIA LOPES DE ALMEIDA (1862-1934) Filha de médico Pioneira da literatura infantil no Brasil, seu primeiro livro foi Contos Infantis (1886). Autora dos livros de contos Ânsia eterna (1938) e Um drama na roça (1907). Melhores contos: “A caolha”, “A valsa da fome”. CARMEN DOLORES Tese UFSC: Carmen Dolores, escritora e Título: cronista: uma intelectual feminista da Belle Époque Autor: Hellmann, Risolete Maria Investigamos, neste estudo, a obra jornalística e literária de Carmen Dolores (um dos pseudônimos de Emilia Moncorvo Bandeira de Mello), escritora, cronista, conferencista, dramaturga e crítica literária do século XIX, comumente caracterizada, no campo intelectual do seu tempo, como máscula, corajosa e ousada. Dessa obra, focalizamos a atuação jornalística, Resumo: intelectual, crítica e feminista por meio da análise de suas crônicas publicadas no jornal O Paiz entre 1905 e 1910.Reconhecida pela crítica periodística de seu tempo, esquecida politicamente pela História da Literatura e Crítica Literária canônicas ao longo do século XX, ela vem sendo redescoberta pela crítica literária feminista contemporânea. Melhores contos: “Nos bastidores”, “A mãe”, “O derivativo”. ARTUR AZEVEDO: “linguagem simples e correntia, numa forma desprentensiosa”. “Plebiscito” “é uma página de psicologia e de alegre sátira, digna de figurar em qualquer literatura” (LIMA, p. 51). AFONSO ARINOS SIMÕES LOPES NETO MONTEIRO LOBATO (p. 53) LIMA BARRETO (p. 54) JOÃO DO RIO (p. 54) MÁRIO DE ANDRADE (p. 54) ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO (1901- 1935) (p. 54) GRACILIANO RAMOS (P. 56) JOÃO GUIMARÃES ROSA (p. 58) REFERÊNCIAS: BOSI, Alfredo. Machado de Assis. São Paulo: Publifolha, 2002. LIMA, Herman. Evolução do conto. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). A literatura no Brasil. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Global, 2004. p. 45-63.