Paula Ramos Ghiraldelli – Morfologia – Linguística UFSCar 2019\2

AULA 1
Breve histórico da Morfologia

1. Como surge o termo

 A criação do termo morfologia é geralmente atribuída ao poeta, romancista e
dramaturgo Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), no início do século XIX, no
contexto da Biologia (1830 +ou-)

 Sua etimologia é grega:

 morf(o) = forma
 logia < [log(o) + ia] = ciência, arte, estudo, tratamento sistemático de um tema
(Aurélio, 2009; Houaiss, 2009)

 Na Biologia, morfologia significa:

 estudo da forma, da configuração, da aparência externa da matéria
 estudo da configuração e da estrutura externa de um órgão ou ser vivo
(Houaiss, 2009)

 Somente por volta de 1860, a palavra morfologia foi utilizada como termo linguístico,
englobando a flexão e a derivação.

2. A gramática clássica
 O termo morfologia – tradicionalmente empregado para designar o estudo das
formas das palavras de uma língua – não era conhecido dos gramáticos greco-
latinos

 A gramática clássica era dividida em 3 partes: - flexão (ou “acidentia”)

- derivação (formação de palavras)
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- sintaxe
 Para essa gramática, que era de base filosófica, o essencial era a classificação das
palavras de acordo com as suas características variáveis, ou acidentes, como, por
exemplo, as declinações, que serviam para distinguir os nomes em relação aos
verbos.

 Exemplos dessas gramáticas podem ser:

 Essas gramáticas têm tradição logicista e carregam o dogmatismo do certo e errado :

“A gramática filosófica possui um caráter dogmático e pretende reger as
regras do pensar; daí o caráter de certo e errado que ainda hoje se
encontra em muitas de nossas gramáticas.” (FÁVERO, 2000, p. 185).

3. Fatores influenciaram muito para que os estudos morfológicos se

desenvolvessem: modelo evolucionista
gramática de Pāniṇi (sânscrito)

3.1. Influência do modelo evolucionista sobre os estudos da linguagem

 Influenciados pelo modelo evolucionista de Darwin, os gramáticos e os filólogos
alimentavam o sonho de descobrir a origem da linguagem através do estudo da
evolução das palavras em indo-europeu, cujo tronco pode ser visualizado a seguir.

busca pelas formas originárias:

Começou então um estudo sistemático dos processos de
formação de palavras, numa perspectiva histórica, porque os
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gramáticos e filólogos consideravam as formas mínimas

constituintes das palavras como elementos originários.
3.2. A contribuição da gramática de Pāniṇi

 Outro fator que também influenciou o desenvolvimento da Morfologia: a descoberta

do sânscrito no fim do século XVIII por William Jones (1746-1794).
E o que tinha o sânscrito de tão especial?

escritos em sânscrito:
gramática de Pāniṇi
A contribuição da gramática de Pāniṇi (séc. VI a.C.) foi notável nos estudos
morfológicos, tendo em vista que "as primeiras descrições linguísticas conhecidas
foram produzidas em obras de gramáticos hindus, no I milênio a. C." (MATEUS;
VILLALVA, 2006).

 Observando a descrição da antiga língua falada na Índia por meio da notável

gramática de Pāṇini (século VI a.C.), foi possível perceber a sofisticação do sânscrito
com respeito, principalmente, à Fonética/Fonologia e à Morfologia.

surgem, assim, as sementes das futuras e

promissoras pesquisas em Morfologia:

Por meio do sânscrito (antiga língua sagrada da Índia), os estudiosos

puderam examinar uma gramática que, ao contrário da greco-romana,
reconhecia a estrutura interna das palavras, depreendendo unidades mínimas
como raízes e afixos.

as palavras poderiam ser segmentadas em unidades

menores, como raízes e afixos, diferentemente da
gramática grego-romana

Além disso, ao contrastar paradigmas morfológicos do sânscrito com o do

grego, do latim e o do alemão, chegou-se à conclusão de que todas poderiam
pertencer a uma única família (Franz Bopp apud SAUSSURE, 1972, p. 8).
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4. A Morfologia estruturalista

 A Morfologia estruturalista americana teve seu período áureo na década de 40 e

princípios de 50 do séc. XX. trabalhos realizados nessa fase dedicam-se
predominantemente aos estudos morfológicos.

 No Br, a figura de destaque no Estruturalismo é Mattoso Camara Jr.

 (publicações de 1940-60)

5. A Morfologia de base gerativa

 Na década de 1970, desenvolveram-se estudos em Morfologia Derivacional, numa

abordagem gerativa. Especialmente nesse tema, destacam-se os trabalhos de
Jackendoff e Aronoff.

 No Brasil, pode-se considerar que a primeira pesquisadora a tratar do tema pela

ótica gerativa é Margarida Basílio, que publica sua tese de doutorado em 1980, a
qual se intitula Estruturas lexicais do português: uma abordagem gerativa.