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HELENA H. NAGAMINE BRANDAO INTRODUCAO A ANALISE DO DISCURSO as quais confna ( Joga, Psicologia, etc), por outro lado, er 3. NBO Serd sufciente para, por si s6, marcer a sua espe no interior dos estudes da inguagem, sob o risco de permanec Qiistica manente. Sera necessério considerar outras dimensées con ‘que aponta Maingueneau (1987). ‘3es em que o discurso & produzido, as quais, temente a enunciagao, ~ 0s embates hisi6ricos, sociais, © espaco prép Interior de um interdiscurso. ma con Wo lormacao ideolbgica, que se manifest cia séciordeolégica pode se explicar sendio em funcio dé espectfica, sistema Uma prética discur dupla compete ducao e a compreensdo de frases sempre novas 0 indivkiuo eu ut z Je manera especfica (performance); 2 competéncia ideoligica ou goral q as agbes e das signi implicit es novas (Sika, de AD so, do lado da ideologia, os cones curso, as idsias de Foucault. € s le6ricos que Pécheux, um seus concetos. De Althusser, a infiuéncia mais direta se faz a partir do alo sobre os Aparelhos Ideol6gicos de Estado na conceit rmagao ideolbgica”. E si ‘4 a expresso “lormacao discursiva” da qual a AD se apropr metendo-a a jaho espectico, 4. 0 conceito de ideologia Matzado por diferentes nuances signficativas, © termo ideobgia & falda hoje uma nogdo contusa e controversa. Antes de abordar 0 conceto e Ideologa em Althusser, faremos algumas colocagées sobre o fendmeno Em seguida, expo- Fomos algumas consideragBes de Ricoour (1977) que retoma uma vis8o in- Toressante de Jaques Ellul sobre o fendmeno ideoldgico. AS idéias “como lendmenos Mano, enquanto organismo vivo, com o meio ambiente” (p. 23). Entendda ela se opunha & Metatsica, 2 Teologia, 2 cos que se propunham como método. pojor lfica os ideblogos tran Geses de “abstratos, nebulosos, idealstas e perigosos (para 0 poder) por Gaisa do seu desconhecimento dos problemas concretos’ (Reboul, 1980:17). A ideologia passa a ser vista entdo como uma doutrina irrealsta 6 Sectéria, sem fundamento objetvo, e perigosa par 3.1 EmMarx Em Marx e Engels, vamos encontrar 0 termo ideologia também im- Pregnado de uma carga semintica negativa. A semeihanca de Napoleso Ge critcara os fidsofos franceses, M Marx e Engels identificam ideologia com a separago que se faz entre @ producto das idéias e as condigdes sociais e histéricas em que so pro- Wuzidas. Por isso iA encontram a sua espera e aquelas que surgem com a sua propria ago” (p. 14). a “produgéo de ietamente @ in- dos homens, como Dessa forma, citando novamente Marx ¢ Engel idéias, de concepcdes e da consciéncia liga-se, a pri aligagao entre a e No entanto, o que as ideologias fazem, segundo Marx e Engels, é co- Jocar os homens e suas relagdes de cabega para balxo, como ocot refracdo da imagem numa cémara escura. Metal jas para se chegar & realidade. 6 nesse momento que, para Marx, nasce “ ideologia propriamente dita, isto &, 0 sistema ordenado de idéias ou repre~ sentagbes e das normas @ regras como algo separado e independente das Je seus produtores — 0s te6ricos, os ideélogos, lectuais — néo estdo diretamente vinculados & produgdo material das condicdes de existéncia, E, sem perceber, exprimem essa desvinculacao ou separagdo através de suas idéia: Essa separacao ‘aparente autonomia ao nomizadas @ pre- valecendo sobre 0 segundo, passam a ser expresso das idéias da classe dominante: AAs idéias da classe dominante so, em cada época, as idéias domi- nantes, isto é, a classe que é a forca material dominante da sociedade |. A classe que tem a sua dis- posi¢o os meios de produgo material dispde, ao mesmo tempo, dos medida em que dominam como tras coisas, dominem também como pensadores, como prod idéias; que regulem a produgao e distribuigab de idéias de seu tempo e ‘que suas idéias sejam, por isso mesmo, as idéias dominantes da épo- ca" (Marx e Engels, 1965:14). cchega ent A a 6 um ins- E na seqiincia dessas colocagées que Ci caracterizacao da ideologia segundo a concepcao mar 20 Irumento de dominagao de classe porque a classe d inante faz com que da divisdo soci € intelectual. Necesséria a dominacao de class lusdo, isto 6, abstracdo @ inversao da reaidade 6.0 modo de ser do social de ponta-cabega. A aparéncia social Ino 6 algo falso e errado, mas é o modo como 0 proceso social aparece Para a consciéncia direta dos homens. Isto significa que uma ideologia sem- [pre possui uma base real, sé que essa base est de ponta-cabeca, é a apa- f€ncie social” (p, 105) Par consciéncia dos homens essa visad iluséria da realidade Gomo se fosse realidade, a ideologia organiza-se “como um sistema logico € Goerente de representacbes (idéias @ valores) e de normas ou regras (de Gonduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que de- em pensar e como devem pensar, 0 que devem valorizar, 0 que devem Sentir, 0 que devem fazer e como devem fazer" (Chaui 1980:113). Ela se presenta, ao mesmo tempo, como explicacao teérica e prética. Enquanto ‘explicacdo, ela nao expiicita e, radi- iscurso, e de adamente ideolbgico, se caracterize pela presenga de Dessa forma, se em Marx o termo ideologia parece estar reduzido a Juma simples catego 330 ou mascaramento da realidade ‘Social, isso decorre do falo de se tomar, como ponto de partida para a elabo- ia e 0 respectivo desnuda- urguesa. A ideologia a que ele se refere 6, portanto, es- Pecificemente a ideologia da classe dominante. 3.2 Em Althusser Em Ideologia e apareihos ideolgices do estado (1970), Althusser firma que, para manter sua dominagao, a classe dominante gera mecanis- mos de perpetuago ou de reprodugao das condi¢ées materiais, ideolsicas # polticas de exploracao. E al ent4o que entra o papel do Estado que, atra- 2 a administracdo, 0 Exército, a polcia, os tribun: relhos Ideoldgicos ~ AIE — (compreendendo in: wi © sindicato, a cione secundariamente pé nam de um modo massivamente prevalente pala ide« nando secundariamente pela repressdo, mesmo sea bastante atenuada, dissimulada G0 das relagdes de producao. Na segunda parte de bre 0 concaito de ideo! dos AIE e da reprodugao que Ceito, 0 de “ideologia dominante”. Nessa parte do s: car & conceituacad do quo er das ideologias pari ‘otoma as indagacdes so- da problem: fa_em torno de um uso especflico do con ‘comuns de qualquer ral de qu: feologia” e, para explicd $s hipéteses: a) “a ideoiogia representa a relagao imaginéria de individuos com suas reais condigdes de existér Com esta tese, Althusser se opde a concepcdo simplista de ideologia 22 ‘Gom as condigSes reais de vida. Sendo essas relagbes imagindtias, isto 6, © para a delormacao imagindria das condicdes de exisiéncia reais do ho- mem, numa palavra, para a(aliena~ao no imaginério da representacéo das teondigdes de existéncia dos homens" (p. 60). ‘a ideologia tem umalexisténcia porque existe sempre num apare- 3, em outras palavras, o comportamento (material) de “um io dotado de uma consciéncia em que forma livremente, as idéias em que tencia da ideologia 6, portanto, mi jepresentadas, envolvem a par ja interpela individuos como sujeitos”, oda ideologia tem {Jellos. Nesse processo de c ‘exercem papel importante no desses mecanismos opera a mento se dé no n goes, em pr individuos concrelos em su- interpelacao e o (re)conhecimento Constitutiva da ideologia, ser somente através do sujeito e no sujeita que a existéncia da ideologia sera possivel 3.3 Em Ricoeur © fenémeno ideoidgico tem sido fortemente marcado pelo ‘Sem querer combater Marx ou ir a seu favor, Paul Ricoeur aler tendéncia que se faz sentir sob essa influéncia q lerpretagdo_redutora do) fendr lermos de ciasses socials. Inter apenas por sua fungéo minante. Uma defni¢ao de ideologia que a reduz as fungées de don justiticagao € que nos leva a ace ‘com as nogdes de erro, ment fungdes, mas, antes de chegar a anterior e basica que conceme a ideologia em geral. Ele analisa 0 conceito de ideologia em trés instancias: 1acdo e de 3, Sem crtica, a identificacao de ideologia do. Ele nao nega a exis €) Fungao geral da ideologia Ricoeur (1977) atrbui a ideologia a fungdo geral de mediadora na inte- ‘gtago-social, na coesdo do grupo. Esse papel se caracteriza pela presenga de cinco tragos: 1. A ideotogia_perpet feologia 6 fun da dos pais fundadores, para conver- {€-la num credo de todo 0 grupo, mas também o de perpetuar a energia inicial para além do periodo de efervescéncia” (p. 68). Essa perpetuagao de um ato fundador esté-igada a “necessidade, para um grupo social, de conferir-se uma imagém de si mesmo, de representar-se, no sentido teatral do termo, de representar e encenar’. 2._A ideologia & dindmica e motivadora. Ela impulsiona a préxis social, motivando-a, e “um motivo € a0 mesmo tempo aquilo que justiica e que 28 ‘gompromete”. Por isso, “a ideologia argumenta’, estimula uma préxis social Que a concretiza. Nesse sentido, ola & mais do que um simples reflexo de uma formagao social, ela & também. (Porque sua praxis “6 movi- da pelo desejo de demonstrar que o grupo que a protessa tem razao de sero {ue 6”) © projeto (porque modela, dita as regras de um modo de vi icadora.@ esquem: ideologia apresenta um cardier codi “Una kotgaé ota nfotestca io "an cos ds E ‘iv @ No-transparente da ideologia que’ © > tencia as modi ) Fungao de dominagao Nessa instancia, 0 conceito de ideologia est igado aos aspectos hie- Férquicos da organizacéo social cujo sistema de autoridade interpreta o just- fica Toda autoridade procura, segundo seus sistemas polficos, legiimar- $2, © para tal 6 necessério que haja correlativamente uma crenga por parte “dos individuos nessa legiimidade. Como a legitimago da autondade de- 25 Nga do que os individuos podem dar, surge a ideologia como icador da dominacéo. E 6 no momento em que a ideologa-integr Gia-dominagdo que emerge o cardter de distorcé ideologia. Mas nem todos os tracos que foram dor passam a funcao da dis 0 se cruza com a ideolo- @ de dissimulacdo da idos a Seu papel media- ©) Fungo de deformagao Aqui 0 termo ideologia adquite a nogao marxista propriamente dita fenémeno insuperd- .de. social sempre pos- ;etaco, em imagens na medida em que simbélica e comporta uma 4 de ideologia néo se fixard dé em face. do problema da dominagao, detona o car gorr-ideologia. De um lado, lerios uma concep¢ao de ideologia geralmenie ligada a fenfdmeno ideologia de maneira m ue leva a0 escamalea- HeBes que lhe sao inerentas. oldgico a vo. Esse sentido negativo apareceréste Utiizando-se de varias manobras, serve para legitimar 0 poder de uma clas- '8€ 0u grupo social. la concepcao.de mundo de uma determinada comu- Midade social numa determinada circunstancia histérica. Isso vai acarretar uma’ compreenso dos fenémenos linguagom e ideologia como nodes es- tetamente vincuiadas e mutvamente necessérias, uma vez que a primera & luna das instncias mais signiicaivas em que a segunda se materaiza J)Nesse senico, nfo bum Sacwso deotsco, mas fod oe Sacirsos 0 [ sio, Essa postura deta de lado uma concepyao de ideclogia como “Consciéncia" cu aissmulagéo, mascaremento, votando-se para o Gfo 20 entender a ideoioia como ago inerente 20 signo em gera. Dessa forma, pelo card igo da referéncia. Essa liberdade de re ite produzir, por exemplo, sentidos novos, fenuar outros e eliminar os indesejéveis. Parece que essas duas concepcdes néo se excluem se partitmos do Pressuposto de que a ideologia, enquanio concep¢éo de mundo, apresenta- ‘Se como uma forma legitima, verdadeira de pensar esse mundo. Tal modo de penser, de recortar 0 mundo ~Giravessado pela sub i08 em relagdo 20s modos de organizagao jade pode ser vivida de maneira incons- icouer Giz Ser a ideoiogia operatéria © no te- 4s de nds” & a partir dela que pensamos @ é-1a no nivel da consciéncia. Ela, Imenté>E nesse ponto que as duas gia $e cruzam. TS80 pode ocorter especificamente com eterminados discursos como o poltica,.o reigioso, o da propaganda, enfim, {98 marcadamente institucionalizados. Nele: fem, alenuam out Gontradicoes que subjazem as relagdes soci Heir, os elementos da iam dados, como as Selecionando, dessa ma- lade e mudando as formas de articulaggo do es- exemplo, 0 ca faz da realidade, retratando assim, ainda que de for- ma enviesada, uma viso de mundo. 4. O conceito de discurso em Foucault ‘Alguns dos conceitos colocados por Foucault foram fecundos para aqueles que se lancaram numa pesquisa lingiistica visando ao aiscurso. 968) concebe os discursos como como sendo formados por elementos que néo esti princpio de unidade. Cabe a andlse do discurso descrever essa disperséo, buscando 0 estabelecimento de regras capazes de reger a lormacao ras de forma lam a determinagdo dos elemenios que compiem o discurso, @ saber 0s objfos que aparecem, coexistem e se tanslormam num "espago comum discursvo; os dierertes tpos de enunciacdo cue podem perme 0 discurso; of concetas em suas formas de aparecimento © iansfonmacio em um campo discursive, relacionados em um sistema comum: 0s temas @ toorias, isto 6, 0 sistema de relagées entre diversas estratégias capazes de dar conta de uma formacéo dscursiva, prmtindo ou exchindo certos temas ou teoras. Essas regras que determinam, portanto, uma “lormaco discursiva’ ‘se apresentam sempre como um sistema de relagdes entre objetos, tipos enunciativos, conceilos ¢ estratégias. Sao elas que caracterizam a “forma- cdo discursiva” em sua singularidade e possibiltam a passagem da disper- ‘So para a requiaridade. Reguiaridade que 6 atingida pela andlise dos enun- ciados que constituem a formacao discursiva. Definindo para Foulcault, a andlise de uma formagdo discursiva con- sista, entéo, na descrigao dos enunciados que a compdem. E a noggo de 6 contraposta & no¢éo de proposi¢ao e de frase (unidade, respectivamente, constitutiva da Wgica ¢ da lingUfstica da frase), Cconcebendo-o como a unidade elementar, bésica, que forma um discurso, O discurso seria concebido, dessa forma, como uma familia de enunciados Pertencentes a uma mesma formacdo discursiva. 28 “- due 0 enunciado enuncia, “6 a ferenciagdo e desaparect ynados pola frase”. Assim, 0 tenunciado, por sua funedo de existéncia, “relaciona as unidades de signos que podem ser proposiges ou frases com um dominio ou campo de obje- tos" (Machado, 1981:168), possibiltando-as de aparecerem com conteidos Concretos no tempo e no espaco. jade do aparec Mento dos objetos e relagées que so ‘A segunda caracte do Discurso) diz lua-se na vertente oposta a uma terpretado como 0 fundador do pensa- ‘como um proceso sem ruptura em ue os elementos sao introduzidos continuamente no tempo concebido como totalizagao. Critica, dessa forma, uma concep¢do do sujeito enquanto ins- tancia fundadora da linguagem: dizer que 0 tema do suj te "com seu modo de ver" as formas vazias da lingua; ele wvessando a espessura ou a inércia das coisas vazias, reto- proposigées, as ciéncias, os conjuntos dedutivos ‘seu fundamento. Em sua relacdo com sentido, 0 sujeito fundador dispbe de signos, de marcas, de tracos, de letras. Mas no tem ne- cessidade, para os manifestar, de passar pela instancia singular do discurso (1974:49), Rompendo com essa ordem cléssica que via a histéria como um dis- curso do continuo, do desenrolar previsivel do Mesmo, Foucault instaura uma nova viséo da histéia como ruptura e descontinuidade, construindo-se uma série de mutagdes inaugurais onde no ha lugar para um p ou human. Atri siado, para ele, sua mar jetividade tundadora /a. sem referencia a uma teleologia ou a uma sub- Descrever uma formulacdo enquanto enunciado néo consiste em ana- lisar as relagées entre o autor e o que ole diz (ou quis dizer, ou disse 29

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