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Coesão e Coerência

A Coesão e a Coerência são mecanismos fundamentais na construção textual.


Para que um texto seja eficaz na transmissão da sua mensagem é essencial que faça
sentido para o leitor.
Além disso, deve ser harmonioso, de forma a que a mensagem flua de forma segura,
natural e agradável aos ouvidos.

Coesão Textual
A coesão é resultado da disposição e da correta utilização das palavras que propiciam a
ligação entre frases, períodos e parágrafos de um texto. Ela colabora com sua
organização e ocorre por meio de palavras chamadas de conectivos.

Mecanismos de Coesão
A coesão pode ser obtida através de alguns mecanismos: anáfora e catáfora.
A anáfora e a catáfora se referem à informação expressa no texto e, por esse motivo,
são qualificadas como endofóricas.
Enquanto a anáfora retoma um componente, a catáfora o antecipa, contribuindo com
a ligação e a harmonia textual.
Algumas Regras
Confira abaixo algumas regras que garantem a coesão textual:
Referência
Pessoal: utilização de pronomes pessoais e possessivos. Exemplo: João e Maria
casaram. Eles são pais de Ana e Beto. (Referência pessoal anafórica)
Demonstrativa: utilização de pronomes demonstrativos e advérbios. Exemplo: Fiz
todas as tarefas, com exceção desta: arquivar a correspondência. (Referência
demonstrativa catafórica)
Comparativa: utilização de comparações através de semelhanças. Exemplo: Mais um
dia igual aos outros… (Referência comparativa endofórica)
Substituição
Substituir um elemento (nominal, verbal, frasal) por outro é uma forma de evitar as
repetições.
Exemplo: Vamos à prefeitura amanhã, eles irão na próxima semana.
Observe que a diferença entre a referência e a substituição está expressa
especialmente no fato de que a substituição acrescenta uma informação nova ao
texto.
No caso de “João e Maria casaram. Eles são pais de Ana e Beto”, o pronome pessoal
referencia as pessoas João e Maria, não acrescentando informação adicional ao texto.
Elipse
Um componente textual, quer seja um nome, um verbo ou uma frase, pode ser
omitido através da elipse.
Exemplo: Temos ingressos a mais para o concerto. Você os quer?
(A segunda oração é perceptível mediante o contexto. Assim, sabemos que o que está
sendo oferecido são ingressos para o concerto.)
Conjunção
A conjunção liga orações estabelecendo relação entre elas.
Exemplo: Nós não sabemos quem é o culpado, mas ele sabe. (adversativa)
Coesão Lexical
A coesão lexical consiste na utilização de palavras que possuem sentido aproximado ou
que pertencem a um mesmo campo lexical. São elas: sinônimos, hiperônimos, nomes
genéricos, entre outros.
Exemplo: Aquela escola não oferece as condições mínimas de trabalho. A
instituição está literalmente caindo aos pedaços.

Coerência Textual
A Coerência é a relação lógica das ideias de um texto que decorre da sua
argumentação - resultado especialmente dos conhecimentos do transmissor da
mensagem.
Um texto contraditório e redundante ou cujas ideias iniciadas não são concluídas, é um
texto incoerente. A incoerência compromete a clareza do discurso, a sua fluência e a
eficácia da leitura.
Assim a incoerência não é só uma questão de conhecimento, decorre também do uso
de tempos verbais e da emissão de ideias contrárias.
Exemplos:
O relatório está pronto, porém o estou finalizando até agora. (processo verbal acabado
e inacabado)
Ele é vegetariano e gosta de um bife muito mal passado. (os vegetarianos são assim
classificados pelo fato de se alimentar apenas de vegetais)

Fatores de Coerência
São inúmeros os fatores que contribuem para a coerência de um texto, tendo em vista
a sua abrangência. Vejamos alguns:
Conhecimento de Mundo
É o conjunto de conhecimento que adquirimos ao longo da vida e que são arquivados
na nossa memória.
São o chamados frames (rótulos), esquemas (planos de funcionamento, como a rotina
alimentar: café da amanhã, almoço e jantar), planos (planejar algo com um objetivo,
tal como jogar um jogo), scripts (roteiros, tal como normas de etiqueta).
Exemplo: Peru, Panetone, frutas e nozes. Tudo a postos para o Carnaval!
Uma questão cultural nos leva a concluir que a oração acima é incoerente. Isso porque
“peru, panetone, frutas e nozes” (frames) são elementos que pertencem à celebração
do Natal e não à festa de carnaval.
Inferências
Através das inferências, as informações podem ser simplificadas se partimos do
pressuposto que os interlocutores partilham do mesmo conhecimento.
Exemplo: Quando os chamar para jantar não esqueça que eles são indianos. (ou seja,
em princípio, esses convidados não comem carne de vaca)
Fatores de contextualização
Há fatores que inserem o interlocutor na mensagem providenciando a sua clareza,
como os títulos de uma notícia ou a data de uma mensagem.
Exemplo:
— Está marcado para às 10h.
— O que está marcado para às 10h? Não sei sobre o que está falando.
Informatividade
Quanto maior informação não previsível um texto tiver, mais rico e interessante ele
será. Assim, dizer o que é óbvio ou insistir numa informação e não desenvolvê-la, com
certeza desvaloriza o texto.
Exemplo: O Brasil foi colonizado por Portugal.
Princípios Básicos
Após termos visto os fatores acima, é essencial ter em atenção os seguintes princípios
para se obter um texto coerente:
Princípio da Não Contradição - ideias contraditórias
Princípio da Não Tautologia - ideias redundantes
Princípio da Relevância - ideias que se relacionam
ATIVIDADES
1 – (Enem – 2013) – 
Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após
uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia
de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois
vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um
termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos
astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo
gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento
como o vírus se apossa do organismo infectado. 

RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o


leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é
construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e
pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do
sujeito é:

a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre
línguas.”

b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.

c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que


significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”

d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.

e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se


apossa do organismo infectado.”
2 – (Enem – 2011) – 

Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para


diminuir o risco de infarto, mas também de problemas como morte súbita e
derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar
atividade física regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver
vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão
arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a
diminuir o estresse e aumentar a capacidade física, fatores que, somados,
reduzem as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com
acompanhamento médico e moderação, é altamente recomendável.

ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009.


As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que
atuam na construção do sentido. A esse respeito, identifica-se, no
fragmento, que

a) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias.

b) o conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste.

c) o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”, introduz uma


generalização.

d) o termo “Também” exprime uma justificativa.

e) o termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de colesterol e de glicose


no sangue”.

3 – (Simulado INEP) –

Aumento do efeito estufa ameaça plantas, diz estudo.

O aumento de dióxido de carbono na atmosfera, resultante do uso de


combustíveis fósseis e das queimadas, pode ter consequências calamitosas
para o clima mundial, mas também pode afetar diretamente o crescimento
das plantas. Cientistas da Universidade de Basel, na Suíça, mostraram que,
embora o dióxido de carbono seja essencial para o crescimento dos
vegetais, quantidades excessivas desse gás prejudicam a saúde das plantas
e têm efeitos incalculáveis na agricultura de vários países.

O Estado de São Paulo, 20 set. 1992, p.32.

O texto acima possui elementos coesivos que promovem sua manutenção


temática. A partir dessa perspectiva, conclui-se que

a) a palavra “mas”, na linha 2, contradiz a afirmação inicial do texto: linhas 1


e 2.

b) a palavra “embora”, na linha 4, introduz uma explicação que não


encontra complemento no restante do texto.

c) as expressões: “consequências calamitosas”, na linha 2, e “efeitos


incalculáveis”, na linha 6, reforçam a ideia que perpassa o texto sobre o
perigo do efeito estufa.

d) o uso da palavra “cientistas”, na linha 3, é desnecessário para dar


credibilidade ao texto, uma vez que se fala em “estudo” no título do texto.

e) a palavra “gás”, na linha 5, refere-se a “combustíveis fósseis” e


“queimadas”, nas linhas 1 e 2, reforçando a ideia de catástrofe.
4 – (ENEM – 2014)

Há qualquer coisa de especial nisso de botar a cara na janela em crônica de


jornal ‒ eu não fazia isso há muitos anos, enquanto me escondia em poesia
e ficção. Crônica algumas vezes também é feita, intencionalmente, para
provocar. Além do mais, em certos dias mesmo o escritor mais escolado
não está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo para
reclamar: moderna demais, antiquada demais.

Alguns discorrem sobre o assunto, e é gostoso compartilhar ideias. Há os


textos que parecem passar despercebidos, outros rendem um montão de
recados: “Você escreveu exatamente o que eu sinto”, “Isso é exatamente o
que falo com meus pacientes”, “É isso que digo para meus pais”, “Comentei
com minha namorada”. Os estímulos são valiosos pra quem nesses tempos
andava meio assim: é como me botarem no colo ‒ também eu preciso. Na
verdade, nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela do jornal.
De modo que está sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos
que iam acabar neste livro, outros espalhados por aí. Porque eu levo a sério
ser sério… mesmo quando parece que estou brincando: essa é uma das
maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e continua sendo a
minha verdade: palavras são meu jeito mais secreto de calar.

LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de janeiro: Record, 2004.

Os textos fazem uso constante de recurso que permitem a articulação entre


suas partes. Quanto à construção do fragmento, o elemento

a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de


jornal”.

b) “assim” é uma paráfrase de “é como me botarem no colo”.

c) “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”.

d) “alguns” antecipa a informação “É isso que digo para meus pais”.

e) “essa” recupera a informação anterior “janela do jornal”.

5 – (ENEM – 2010) –

O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o Botafogo procurava


fazer uma forte marcação no meio campo e tentar lançamentos para Victor
Simões, isolado entre os zagueiros rubro-negros. Mesmo com mais posse
de bola, o time dirigido por Cuca tinha grande dificuldade de chegar à área
alvinegra por causa do bloqueio montado pelo Botafogo na frente da sua
área.

No entanto, na primeira chance rubro-negra, saiu o gol. Apóscruzamento


da direita de Ibson, a zaga alvinegra rebateu a bola de cabeça para o meio
da área. Kléberson apareceu na jogada e cabeceou por cima do goleiro
Renan. Ronaldo Angelim apareceu nas costas da defesa e empurrou para o
fundo da rede quase que em cima da linha: Flamengo 1 a 0.

Disponível em: http://momentodofutebol.blogspot.com (adaptado).

O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de


futebol, realizado em 2009, contém vários conectivos, sendo que

a) após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra


ter rebatido a bola de cabeça.

b) enquanto tem um significado alternativo, porque conecta duas opções


possíveis para serem aplicadas no jogo.

c) no entanto tem significado de tempo, porque ordena os fatos observados


no jogo em ordem cronológica de ocorrência.

d) mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”, ter
dificuldade não é algo naturalmente esperado.

e) por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque do


Flamengo motivaram o Botafogo a fazer um bloqueio.

6 – (ENEM – 2010) –

Os filhos de Anna eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam,


tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais
completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros.
O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o
vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se
quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como
um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas
essas apenas.

LISPECTOR, C. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

A autora emprega por duas vezes o conectivo mas no fragmento


apresentado. Observando aspectos da organização, estruturação e
funcionalidade dos elementos que articulam o texto, o conectivo mas
a) expressa o mesmo conteúdo nas duas situações em que aparece no
texto.

b) quebra a fluidez do texto e prejudica a compreensão, se usado no início


da frase.

c) ocupa posição fixa, sendo inadequado seu uso na abertura da frase.

d) contém uma ideia de sequência temporal que direciona a conclusão do


leitor.

e) assume funções discursivas distintas nos dois contextos de uso.

7 – (Enem – 2013) –

Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após
uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia
de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois
vocábulos virais: o italiano

influenza

e o francês

grippe

. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que


significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas
a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse
referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo
infectado.

RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o


leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é
construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e
pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do
sujeito é:

a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre
línguas.”

b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.

c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que


significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.

e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se


apossa do organismo infectado.”

GABARITO

Exercício resolvido da questão 1 –

e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se


apossa do organismo infectado.”

Exercício resolvido da questão 2 –

a) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias.

Exercício resolvido da questão 3 –

c) as expressões: “consequências calamitosas”, na linha 2, e “efeitos


incalculáveis”, na linha 6, reforçam a ideia que perpassa o texto sobre o
perigo do efeito estufa.

Exercício resolvido da questão 4 –

a) “nisso” introduz o fragmento “botar a cara na janela em crônica de


jornal”.

Exercício resolvido da questão 5 –

d) mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”, ter
dificuldade não é algo naturalmente esperado.

Exercício resolvido da questão 6 –

e) assume funções discursivas distintas nos dois contextos de uso.

Exercício resolvido da questão 7 –

e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se


apossa do organismo infectado.”

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