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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO

SUMÁRIO

Apresentação 3

Objetivos da unidade 3

O que é texto? 4

Textos multimodais 11

Encerrando a discussão 15

Referências 16

Indicação de vídeo: 16

Leitura recomendada: 16

Podcast: 17
Noção básica de texto e multimodalidade

1. Apresentação

Durante toda nossa vida escolar estivemos diante de disciplinas que se


apoiavam em textos para diversas finalidades. Nas aulas de história, o texto
era utilizado para contar o nosso passado; nas aulas de língua portuguesa,
utilizavam o texto para que pudéssemos conhecer a nossa língua materna.
Seja qual for a disciplina escolar, o fato é que o texto sempre foi utilizado como
base.
Fora do âmbito escolar, também nos valemos do texto para diversas
ações do cotidiano. Ao tomarmos um ônibus, sabemos que estamos seguindo
a direção correta, pois, antes de entrarmos no coletivo, fazemos a leitura do
texto que ele traz em seu letreiro. Em um debate, em uma apresentação de
trabalho e até em uma consulta médica, utilizamos textos.
Diante da constante presença de textos em nosso cotidiano, era de se
esperar que o texto fosse algo já bem definido entre nós. No entanto, quando
lançamos a pergunta: “o que é texto?”, observamos uma série de definições
que, muitas vezes, limitam algo tão plural como o texto. Neste material,
abordaremos as principais discussões sobre o tema, buscando desconstruir a
noção limitadora sobre o texto que trazemos desde a nossa infância. Para
tanto, apresentaremos temas que versam sobre a definição de texto e as
diversas formas como ele pode se apresentar na sociedade.
No final deste material, encontram-se sugestões de textos e vídeos
sobre o tema, que irão contribuir no enriquecimento de seu aprendizado. Não
deixe de conferir.
Bons estudos!
Déreck F. Pereira

2. Objetivos da unidade
● Compreender e refletir acerca da noção texto;
● Discutir sobre como o texto se apresenta em nosso cotidiano;
● Entender a função comunicativa dos elementos que compõem o texto
3. O que é texto?

Geralmente, quando perguntamos a alguém o que vem a ser texto,


obtemos respostas como: “texto é um aglomerado de palavras”, “texto é
tudo aquilo que podemos ler nos livros”, “textos são palavras em um papel”.
Essa definição de texto está presente na fala de muitos brasileiros,
independentemente de questões sociais, como escolaridade ou poder
aquisitivo. Mas será que o texto é isso mesmo? Será que texto é, de fato, um
aglomerado de palavras?
Para tentarmos responder ao questionamento, suponhamos que
estamos fazendo um passeio despretensioso por um parque municipal e, ao
sentarmos em um banco, encontramos um pedaço de papel contendo as
frases do quadro abaixo:

Quadro 1: Conjunto de frases


O dinheiro tem que servir, não governar. Deus não pertence a nenhum povo.
As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Algumas
pessoas cuidam melhor de seus cães do que de seus irmãos.

Fonte: Autor deste texto

O que esse conjunto de frases lançadas no papel consegue nos dizer?


O que compreendemos sobre o que foi lido? O que interpretamos a partir do
que foi lido no papel encontrado? Certamente, iremos desprezar o papel
encontrado, pois ele não nos traz nenhuma informação lógica. Vale
salientarmos que estamos falando do conjunto que foi formado com as frases,
não das frases isoladas.
Diferentemente do que encontrávamos nos livros didáticos, em nossa
época de ensino básico, onde as frases utilizadas nos ajudavam na formação
do sentido e nos comunicavam alguma coisa, o conjunto de frases presente
no quadro 1 não nos comunica absolutamente nada lógico. Mas, então,
temos um texto no quadro 1?
Sobre a noção de texto, os linguistas Fávero e Koch (1994, p. 25),
afirmam que

Texto em sentido lato, designa toda e qualquer


manifestação da capacidade textual do ser humano (...)
isto é, qualquer tipo de comunicação realizada através
de um sistema de signos. (...) Em sentido estrito, o texto
consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que
forma um todo significativo, independente de sua
extensão. Trata-se, pois de uma unidade de sentido, de
um contínuo comunicativo contextual que se caracteriza
por um conjunto de relações responsáveis pela tessitura
do texto - os critérios ou padrões de textualidade, entre os
quais merecem destaque especial a coesão e a
coerência.

Como podemos perceber por intermédio da citação acima, as autoras


definem o texto como uma unidade completa de sentido, ou seja, para que
tenhamos um texto é preciso que todos os elementos presentes nessa
“unidade” estejam conectados ao ponto de contribuir na formação do
sentido. É preciso, então, que os elementos estejam ligados, formando um
“tecido”. O autor de um texto, então, atua como uma rendeira. Assim como
uma rendeira, que precisa conectar todos os fios da lã, durante a
composição de uma peça de vestuário, o autor do texto precisa conectar
palavras, frases e orações para que, no final, ele tenha um conjunto que faça
sentido para quem está lendo.
Sendo assim, não podemos considerar o exposto no quadro 1 como um
texto, pois, apesar de ser possível entender o sentido de cada frase
isoladamente, o parágrafo (o todo) não forma uma unidade de sentido.
Para que o exposto no quadro 1 fosse um texto, teríamos que incluir
algum elemento que pudesse oferecer uma conectividade entre as frases do
parágrafo. Vejamos o quadro 2 a seguir:
Quadro 2: Reelaboração do conjunto de frases
O dinheiro tem que servir, não governar. Deus não pertence a nenhum povo.
As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Algumas
pessoas cuidam melhor de seus cães do que de seus irmãos. Esses são alguns
dos pensamentos do Papa Francisco.
Fonte: Autor deste texto

Como podemos perceber, a inclusão do último período, a saber: “Esses


são alguns dos pensamentos do Papa Francisco”, auxilia-nos na construção
de um sentido lógico para o que foi lido. Isso acontece, pois a inserção desse
período cria um elo entre os elementos. Agora, nós podemos entender que
as frases, que antes eram soltas, fazem parte da citação do pensamento de
alguém, no caso, do líder religioso da igreja católica.
A mesma coisa aconteceria se, ao invés de encontrássemos o exposto
no quadro 1, encontrássemos algo como:

Quadro 3: conjunto de palavras


Diploma, cópia do boleto pago, ficha social, foto, declaração
Fonte: Autor deste texto

Da mesma forma que as frases encontradas no papel do primeiro


exemplo não faziam nenhum sentido, o conjunto de palavras encontradas
neste segundo exemplo também não o faz. No quadro 3, não existe nenhum
motivo lógico que valide a conexão das palavras expostas. Todavia, se
encontrássemos essa sequência de palavras expostas de outra forma, como
no quadro a seguir, certamente teríamos um texto.

Quadro 4: reescrita do conjunto de palavras


Caro candidato, para que sua inscrição seja validada, apresente os
seguintes documentos: Diploma, cópia do boleto pago, ficha social, foto,
declaração
Fonte: Autor deste texto
Perceba que, agora, existe uma motivo para que essas palavras
estejam listadas, ou seja, elas não estão soltas, jogadas no papel, mas ligadas
devia a uma função sociocomunicativa. Dessa forma, o quadro 4 apresenta
um exemplo de texto, mais especificamente a uma lista de documentos
necessários para realizar a inscrição de determinado certame.
A definição de texto dada por Fávero e Koch (1994), ajuda-nos a
desfazer a falsa ideia de que texto é um aglomerado de palavras ou tudo
aquilo que está no papel. Além disso, a definição das autoras ainda nos
mostra que um texto pode ser de qualquer extensão, ou seja, para que uma
unidade seja um texto, não é necessário que ela seja longa. Durante nosso
período escolar, ouvíamos de nossos professores que o texto precisava conter,
por exemplo, mais de vinte linhas, pois ele não deveria ser curto. Na verdade,
a extensão do texto, na escola, é interessante para que o profissional das
letras possa avaliar o aprendizado do educando acerca das diversas
questões gramaticais que foram discutidas durante o período escolar, mas ela
não pode ser tomada como um critério para a definição de texto. Nas
palavras de Fávero e Koch (1994, p. 25), o texto deve ser definido como “um
todo significativo, independente de sua extensão” Veja a figura abaixo:

Figura 1: Placa de aviso

Fonte: Itafort Extintores

A figura acima traz a seguinte frase: “Cuidado. Tóxico”. Ao nos


depararmos com tal placa em um produto, nós automaticamente buscamos
ter o mínimo de contato possível com ele. Os mais cautelosos nem chegarão
a tocá-lo. Essa nossa ação mostra que a mensagem que o produtor do aviso
quis passar foi recebida com sucesso pelo leitor, e isso aconteceu devido ao
fato de não termos palavras desconexas, mas palavras conectadas,
formando um tecido textual. Na referida placa, encontramos um
“todo/unidade” de sentido completo, logo, um texto. É interessante que
percebamos que, diferentemente do que foi feito com o papel do primeiro
exemplo, em que as palavras foram desprezadas por não fazerem sentido,
aqui, diante do aviso de “cuidado. Tóxico”, a mensagem foi compreendida
e interpretada, auxiliando na construção dos sentidos do leitor e,
consequentemente, alcançando o objetivo do seu produtor.
Sendo assim, o texto não possui limites no que diz respeito à sua
extensão. Assim como um arquivo com 300 páginas, uma placa com uma
única palavra, como “cuidado”, pode ser considerada um texto, desde que
tudo que esteja nela faça sentido.
Tendo ficado clara a ideia de que para que algo seja considerado um
texto, todos os elementos que estão presentes em sua composição precisam
estar conectados, a fim de haver um sentido na unidade que está sendo
formada, é o momento de destacarmos outra passagem da citação feita por
Fávero e Koch (1994). As linguistas, ao afirmarem que “o texto consiste em
qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo”
(FÁVERO; KOCH,1994, p. 25), desfazem a crença de que texto é apenas o que
é escrito.
O texto, como bem mencionado pelas estudiosas, também é uma
passagem falada, isto é, a oralidade também constitui um texto. Quando
estamos conversando com um amigo, estamos produzindo um texto; assim
como quando estamos realizando uma apresentação oral no trabalho ou em
qualquer outra situação de fala. Logo, o texto vai além do alfabético, isto é,
da escrita. O texto está presente em outras áreas da língua,com a falada.
Vale pontuarmos que, assim como a escrita, a oralidade também
precisa auxiliar na construção do sentido para que seja considerada um texto.
Todas as palavras proferidas precisam estar conectadas, formando o nosso
tecido textual. Dessa forma, uma pessoa que oraliza palavras desconexas,
não está produzindo um texto. Quem nunca passou por uma situação de
nervosismo e, no ato de sua fala, ouviu o seu interlocutor dizer algo como “não
estou entendendo nada do que você está falando” que atire a primeira
pedra. Isso acontece, pois quando estamos nervosos, devido a situações
particulares, podemos perder o nosso foco e proferir falas em que as ideias
não estão conectadas.
O texto, esse todo/unidade de sentido, possui um objetivo
comunicativo, ou seja, ele quer passar uma informação ao seu leitor. Para
tanto, essa informação pode se valer tanto do verbal quanto do não verbal.
É nesse sentido que unidades como imagens, cores, gestos também são
considerados textos. Note a figura abaixo.

Figura 2: A imagem formando uma unidade de sentido

Fonte: copafer.com.br

Quando estamos em um ambiente hospitalar ou em qualquer outra


situação em que o silêncio é algo necessário e encontramos uma placa como
a presente na figura acima, nós imediatamente controlamos os nossos
barulhos, diminuindo o som de nossa voz, silenciando aparelhos eletrônicos
etc. Isso acontece porque a referida imagem transmitiu uma mensagem,
alcançando um objetivo sociocomunicativo. Se, ao invés da imagem, a
placa expusesse apenas a palavra “Silêncio”, as nossas reações seriam as
mesmas. Isso evidencia que a imagem transmite o mesmo efeito de sentido
que o alfabético. Logo, o imagético configura-se como um texto (não verbal).
Em uma situação de trânsito, não precisamos de um semáforo que
exponha palavras escritas, como “pare”, “atenção”, “siga”. Motoristas e
pedestres conseguem construir sentidos durante a leitura das cores presentes
no semáforo, evidenciando que as cores também atingem o mesmo objetivo
sociocomunicativo que o verbal. E quem nunca ouviu alguém falar sobre
linguagem corporal? Dessarte, percebemos então que o texto vai muito além
do que é escrito. Ele pode ser toda e qualquer unidade de sentido completo
(cf. FÁVERO; KOCH, 1994).
Até aqui, discutimos a noção de texto, tomando-o como uma unidade
ou um todo que produz sentido. Neste momento, é importante destacarmos
que, na relação dialógica, texto não se refere apenas ao discurso que está
colocado pelo autor, pois em todo texto existe um leitor que, no ato da leitura,
continua o processo de construção de sentido. Ou seja, existe uma relação
autor-texto-leitor. É por existir essa relação que podemos encontrar mais de
uma interpretação do mesmo texto. Mas isso não quer dizer que o texto não
tem sentido, isso quer dizer que o leitor fez um trabalho de construção do seu
próprio sentido por meio das aberturas deixadas (involuntariamente) no texto.
Quando falamos em aberturas, estamos falando que o texto não é 100%
acabado, fechado em si, pois, se assim fosse, não teríamos divergências de
interpretações, não teríamos espaços para ambiguidades.
Entretanto, não podemos entender que todas as leituras são possíveis.
Segundo Rezende (2018), o autor do texto se vale de um vocabulário
específico e modela suas frases de determinada maneira, de modo a
conduzir o leitor a uma certa conclusão. O arranjo das palavras no texto,
entretanto, pode suscitar um entendimento que escapa ao controle do autor
e é nesse momento que o leitor participa com sua interpretação, que nasce
de suas experiências e conhecimento de mundo. Vejamos:

Figura 3: A interpretação do leitor na construção do sentido

Fonte: Portal UOL

A figura 3 mostra o título de uma reportagem realizada pela equipe do


Portal UOL sobre o assassinato de Eliza Samudio, mãe do filho do então goleiro
do Flamento, Bruno. Quando lemos o título da reportagem, uma questão é
levantada: quem amava Bruno? O texto exposto pelo portal nos permite ter
duas interpretações: a primeira é a de que Eliza amava Bruno e, por isso, foi
morta; já a segunda é a interpretação de que Macarrão amava Bruno e, por
ciúmes, levou Eliza para ser morta.
Essa divergência de interpretação acontece devido ao fato de o texto
não ser algo fechado, pois se assim o fosse, entenderíamos exatamente o que
o autor quis nos dizer. Então, o leitor participa dessa construção de sentido por
meio do texto, seja ele escrito ou oral. Agora, notemos que a figura 3,
apresenta-nos mais do que um texto escrito, ela nos apresenta um texto onde
há relação entre o alfabético e o imagético, constituindo um texto formado
por mais de uma modalidade de comunicação. A esse tipo de unidade de
sentido, damos o nome de multimodal.

4. Textos multimodais

Vivemos em um momento de grandes transformações sociais


ocasionadas pelo desenvolvimento tecnológico que tem reconfigurado
muitas ações da vida moderna. Atualmente, é cada vez mais comum a
exposição das pessoas às novas tecnologias que exigem o domínio de novas
práticas de leitura/escrita e uma maior interação entre as diferentes práticas
de leitura (escrita, imagética, gestual). Com a disseminação das novas
tecnologias, o texto vem adquirindo cada vez mais novas configurações, que
transcendem a modalidade escrita da linguagem.
De acordo com Nascimento et al. (2011), nas práticas corriqueiras do
cotidiano da sociedade contemporânea, o espaço concedido à imagem
ampliou-se consideravelmente. Segundo a autora, os documentos textuais
presentes nas práticas diárias trazem consigo não apenas a linguagem verbal
escrita, mas também um amplo contingente de recursos visuais. Partindo
desse pressuposto, há um infinito contingente de elementos imagéticos e
visuais, que podem ser empregados na composição textual com fins a
acarretar determinados efeitos de sentido. Como postula Silva (2014), a
materialização de todo esse contingente de elementos revela as
particularidades dos propósitos comunicativos do autor.
De acordo com Moraes (2007), hoje, a composição textual está cada
vez mais calcada na mescla da escrita e a imagem, estando tais elementos
fazendo parte de uma relação quase que indissociável, como podemos
observar na propaganda a seguir:

Figura 4: Multimodalidade textual

Fonte: IMECAP HAIR

A figura acima nos apresenta uma propaganda de um produto de


beleza que, como estratégia, faz uso de imagens com um propósito: chamar
a atenção do público. É importante notarmos que não é só o uso da imagem
que assume um propósito, mas também o jogo com as cores e o tamanho
das fontes. O que podemos tirar dessa estratégia utilizada? Certamente,
podemos entender que o produtor objetivou chamar atenção do leitor para
a marca do produto, assim como os efeitos que ele pode fazer na pele de
quem o utiliza.
Essa junção advém da propagação tecnológica, que tem deflagrado,
nos últimos anos, uma intensa adesão ao plano visual. Esse contexto marcado
pela difusão tecnológica tem carreado a efervescência de novos formatos
textuais. O texto assume, hoje, a condição de multimodal. O que tem
facultado a promoção de novas formas e maneiras de ler.
Mas o que seria um texto multimodal? Dionísio (2007) define o texto
multimodal como um processo de construção textual ancorado na
mobilização de distintos modos de representação. Isso remete não apenas
aos textos escritos, mas também aos orais, gestuais, imagéticos. Diante dessa
acepção, a multimodalidade discursiva abarca não só a linguagem verbal
escrita, como também outros registros, tais como: a linguagem oral e gestual.
Quando falamos e, ao mesmo tempo, gesticulamos, estamos realizando um
texto multimodal, uma vez que estamos utilizando duas formas de
comunicação, a saber: a oralidade e o gestual, que vão ajudar a construir o
sentido do texto que estamos elaborando. A multimodalidade encontra-se,
portanto, nas múltiplas linguagens que utilizamos em situações de
comunicação.
Estes recursos visuais também constituem formas de expressão do
conteúdo do texto e nos orientam na condução da leitura, fazendo-nos
enxergar que os sentidos somente serão reconstruídos pela leitura eficiente do
conjunto dos modos semióticos presentes no texto e não apenas com base
em uma única modalidade.
A linguagem constituída como multimodal é aquela em que o sentido
advém da relação textual estabelecida entre os diferentes modos utilizados
para sua constituição (cf. KREES; VAN LEEUWEN, 1996). Isso quer dizer que uma
propaganda, por exemplo, que se vale da escrita e da imagem precisa
relacionar esses dois elementos, fazendo com que um não esteja
desconectado do outro.

Figura 5: A multimodalidade textual em anúncios

Fonte:.raizesfm.com.br

A propaganda acima busca anunciar uma loja de açaí. Para isso, faz
uso tanto de palavras quanto de imagens e cores. Vamos notar que existe
uma relação de sentido entre o alfabético, o imagético e as cores, tornando
a propaganda da figura 5 em um texto. O contrário, no entanto, aconteceria
se ao invés da figura do açaí tivéssemos qualquer outra imagem que não
remetesse ao produto, como, por exemplo, um sapato. Nessa conjectura, o
texto multimodal consiste em uma construção textual calcada na união de
elementos provenientes de diferentes registros da linguagem.
Os arcabouços teóricos de Nascimento et al. (2011) defendem que
nenhum texto é monomodal e/ ou monosemiótico; pelo contrário, todo texto
é multimodal e multisemiótico. Há textos que são materializados unicamente
através da escrita. Ainda assim, esses textos trazem consigo marcas e traços
multimodais, tais como: cores e fontes diferenciadas em um mesmo texto, o
tamanho da fonte, o itálico, o negrito, o sublinhado etc. Para os autores, a
predominância da linguagem escrita em um dado texto não significa dizer
que este é monomodal.
Se, na escrita de um texto, o autor quer destacar uma frase ou um
parágrafo, pois acredita que aquele ponto merece a atenção do leitor, ele
pode diferenciar a cor, sublinhar tal parte ou deixar em itálico. Todos esses
recursos ensejam determinados efeitos de sentidos em uma construção
textual. É nessa junção que reside a multimodalidade textual.
Nesse sentido, o uso de elementos e recursos multimodais na
construção textual enseja a extensão das potencialidades de produção e,
em especial, de compreensão de texto. A compreensão textual não é algo
resultante apenas do texto verbal, mas abarca um grande leque de
elementos semióticos. Ora, o leitor dá sentido ao texto tendo o respaldo não
apenas de signos alfabéticos, mas de elementos imagéticos e visuais. Ou seja,
os leitores envolvem-se em uma nova forma de ler marcada por documentos
textuais materializados por elementos tanto verbais como visuais. A leitura e a
escrita vão, então, adquirir um novo formato e uma nova moldagem.
Apesar dos textos multimodais, atualmente, estarem presentes em todo
lugar (em outdoors, na TV, na internet, nos jornais e não raro, em livros
didáticos), o trabalho pedagógico com estes textos, no ambiente escolar
ainda é incipiente, uma vez que as estratégias de leitura, por exemplo,
contemplam os conceito tradicional de texto linear e a imagem figura apenas
como suporte ilustrativo do texto escrito sendo aceita de forma natural, como
a representação simples da realidade sem interpretações e/ou
questionamentos.
Para Dionísio (2005, p.3), os recentes avanços tecnológicos têm
oportunizado o surgimento de novas formas de interação que implicam na
necessidade de revisão e ampliação das interações humanas e de alguns
conceitos no âmbito do processamento textual e das práticas pedagógicas
que lhe são decorrentes, uma vez que imagem e palavra mantêm relação
cada vez mais próxima, cada vez mais integrada.
Em suma, é importante que todo o texto passe a ser utilizado na reflexão
acerca da língua portuguesa, não só as questões gráficas, mas também as
imagéticas, que hoje em dia parecem ser indispensáveis. Perder de vista a
importância da reflexão sobre os diversos recursos possíveis dentro de um
texto é privar o aluno de ter a capacidade de desenvolver suas habilidades
comunicativas.

5. Encerrando a discussão

Neste material, realizamos uma breve discussão sobre a noção de texto,


como sendo uma unidade de sentido (cf. FÁVERO; KOCH, 1994). Além disso,
apresentamos também as diversas formas como este texto pode se
apresentar na sociedade atual, a saber: repleto de imagens, jogos de cores
e fontes, por meio da oralidade, gestual etc. Esse tipo de discussão se faz
importante na formação de indivíduos capazes de refletir acerca da própria
língua.
Ressaltamos que refletir acerca das múltiplas formas em que um texto
pode se apresentar, é de suma importância na formação de leitores críticos,
ou seja, indivíduos que diante de qualquer texto, verbal ou não-verbal,
coloca-se numa postura ativa, age como um analista, considerando o
contexto histórico, os interlocutores, situação de produção, meio de
divulgação do texto.
Referências
COSTA VAL, M. G. F.. Texto, textualidade e textualização. Pedagogia Cidadã
– Cadernos de Formação Língua Portuguesa, Unesp – São Paulo, v. 1, p. 113-
124, 2004.
DIONISIO, A. P. Multimodalidade discursiva na atividade oral e escrita
(atividades)”. In: MARCUSCHI, L. A.; DIONISIO, A. P. (orgs.). Fala e Escrita. Belo
Horizonte: Autêntica, 2007.
FÁVERO, L. L.; KOCH, I. G. V. Língüística textual:uma introdução.São Paulo:
Cortez, 1994.
LUNA, T. S. A pluralidade de vozes em aulas e artigos científicos. Ao Pé da
Letra (UFPE), v. 4, 2002.
MORAES, A. S. Pôster acadêmico: um evento multimodal. Ao Pé da
Letra (UFPE. Impresso), v. 09, p. 1, 2007.
NASCIMENTO, R. G.; BEZERRA, F. A. S.; HEBERLE, V. M. Multiletramentos:
iniciação à análise de imagens. Linguagem & Ensino, v. 14, n. 2, p. 529-552,
2012.
REZENDE, J. N. Relação autor-texto-leitor, 2018. Acesso em 21/01/2021;
Disponível em: https://jussaraneves.com.br/2018/04/a-relacao-autor-texto-
leitor.html#:~:text=Ter%20em%20mente%20que%20a,melhor%20os%20textos%
20que%20l%C3%AA.&text=O%20sentido%20de%20um%20texto,%2C%20nessa
%20intera%C3%A7%C3%A3o%20autor%2Dleitor.
SILVA, S. P. O Texto Visual na Educação Infantil: contribuições para construção
do conhecimento da criança. ArReDia, v. n.º 03, p. 77-101, 2014a.

Indicação de vídeo:

DIONÍSIO, A.; MARCUSCHI, A. Fala e escrita. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=6y9xK-9bbcw

Leitura recomendada:
SILVA, S. P.; SOUZA, F. E. B; CIPRIANO, L. C. Texto multimodal: um novo formato
de leitura. Disponível em:
http://www.filologia.org.br/linguagememrevista/19/08.pdf.

Podcast:

Leitura multimodal, disponível em:


https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy8yZDc3
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