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Definição

Este tema aborda o conceito de texto e discurso, bem como a distinção e a complementaridade
entre eles, além de apresentar uma caracterização dos gêneros textuais e alguns cuidados
necessários na produção e leitura de textos.

Propósito
Compreender o conceito de texto, discurso e gênero textual para identificar estratégias e
cuidados necessários à elaboração e à leitura de um texto.

Módulo 1
Distinguir os conceitos de texto e de discurso.

Módulo 2
Identificar aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual.

Módulo 3
Reconhecer o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de textos.
INTRODUÇÃO
Todas as vezes em que você se comunica ou interage com alguém, há sempre
uma intenção ao falar ou ao escrever.

Dependendo dessa intenção ou da finalidade do ato de comunicação, haverá


maneiras diferentes de construir sua fala e sua escrita, ou seja, você acabará
usando modos específicos para se expressar ou interagir por meio da língua.
Vejamos a seguinte situação:

Imagine que Rodrigo chegou em casa ansioso por contar algo que aconteceu no
trabalho, uma situação ocorrida que lhe deu muita esperança de ser promovido.

Falamos e escrevemos com as mais diferentes intenções, adequando nosso ato


de comunicação a partir delas, por isso devemos concluir que há diversas formas
de organizar o discurso. Isso também implica dizer que existem diversos gêneros
textuais, além daquelas modalidades que você deve ter aprendido na escola,
como narração, descrição e dissertação.

No diálogo acima, qual modalidade você acha que Rodrigo utilizou para contar o
fato ocorrido?

Ao contar o episódio, tentando mostrar as chances de ter uma promoção, ele


utilizou aspectos característicos da narração, que é um tipo específico de se
organizar o discurso, assim como nós também fazemos comumente no dia a dia.

Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos
típicos da narração, como: personagem, espaço, tempo etc.

Para compreender tudo isso e identificar possíveis aplicações no uso da língua,


você aprenderá os conceitos de discurso e de texto para, então, verificar como o
conhecimento dos diferentes gêneros textuais o ajudará a escrever e a ler melhor.
CONCEITO DE TEXTO E DISCURSO
Para distinguir texto e discurso, primeiramente é preciso conceituá-los, além de
identificar a utilidade dessa distinção. Mas, em vez de começar logo com uma
definição, vamos pensar um pouco sobre a prática, ou seja, vamos considerar uma
situação concreta de uso da língua. Imagine que alguém diga a um colega o
seguinte:

A resposta "sei" provavelmente frustrou quem perguntou. A decepção ou mesmo o


estranhamento diante de tal resposta ocorre porque a intenção de quem pergunta
não é obter uma informação sobre o conhecimento ou não do horário, mas pedir
um dado que traga sentido, referência e clareza.

A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim


como a forma com que o texto é recebido pelo enunciatário.

Enunciação - O termo enunciação refere-se à atividade social e interacional em que


a língua é colocada em funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou
escreve), tendo em vista um enunciatário (aquele para quem se fala ou se
escreve).
O produto da enunciação é chamado enunciado. No campo dos estudos da
linguagem, o conceito de enunciação, assim como tantos outros, apresenta
variações na forma como é definido, conforme a abordagem teórica em que seja
tomado.

A enunciação está presente na maioria dos textos. No caso da nossa hipotética


situação de comunicação, pode-se imaginar a presença explícita dessa enunciação
do seguinte modo:

É possível que um texto não explicite as intenções do autor, ou seja,


a enunciação pode estar implícita. Nesse caso, será preciso ouvir ou ler o texto,
entendê-lo e perceber as intenções do autor. Teremos, então, uma decodificação
desse texto.

Além da intenção, que pode estar implícita ou explícita na interação por meio da
linguagem, temos sujeitos que interagem em determinado tempo ou contexto a
partir de um texto ou mensagem.

Os aspectos relacionados com a pessoa (quem fala/ouve ou quem escreve/lê)


e com o tempo (em que momento ou contexto a comunicação se dá) também
fazem parte da enunciação.
Mesmo que esses aspectos nem sempre estejam explicitados ou claros no texto, a
produção textual envolve os seguintes elementos da enunciação:

A partir dessa abordagem inicial sobre enunciação, vamos a uma primeira


caracterização de texto e de discurso. Segundo Abreu (2004), podemos dizer que:
O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo e, muitas vezes, com
algumas marcas da enunciação que nos ajudarão na tarefa de decodificá-lo.

O discurso, por sua vez, é dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo
de codificação e só termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de
decodificá-lo. Por isso, também se afirma que o discurso é histórico.

Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser considerado algo
acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu início juntamente com o
texto e vai se completando à medida que o texto vai sendo lido por seus
leitores. Por isso, Abreu (2004) nos diz que o discurso é sempre dinâmico e
pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do
repertório de seus leitores.

As concepções de texto e de discurso nos permitem, então, mais do


que fazer uma distinção, perceber que eles são complementares.

Por isso, podemos afirmar: Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo


a público e se realizando. É bom observar que o texto pode ser escrito ou oral,
embora enfatizemos na maioria das vezes o texto escrito. O discurso também
pode se realizar tanto a partir de um texto escrito quanto de um texto oral.

Podemos, então, concluir que todas as vezes que escrevemos ou falamos


temos um texto que se realiza como discurso. Isso acontece porque quem fala
e escreve tem uma intenção ou objetivo contido na mensagem e até na forma
de comunicá-la. Quem ouve e lê precisa decifrar (compreender) a mensagem e
a sua intenção a partir do próprio conhecimento de mundo e, claro, do próprio
texto.

Mas, você pode se perguntar:

Para que serve definir texto e discurso, além de fazer a distinção


entre eles?
Qual a utilidade desses conceitos?
Essas perguntas são muito importantes e serão respondidas na continuidade
deste tema. Mas antes, verifique se você de fato aprendeu o que é um texto e um
discurso realizando a atividade a seguir.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A enunciação é um conceito importante para compreender o que é um discurso,
além da distinção e complementaridade entre texto e discurso. Sobre a
enunciação, é correto afirmar que:

a) Refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em


funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um
enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve), produzindo um enunciado.

b) A intenção tem pouca importância na produção do texto e, consequentemente,


na forma como ele será lido.

c) A intenção é um de seus elementos, estando sempre presente no texto de forma


explícita.

d) O produto da enunciação é chamado enunciatário.

e) No campo dos estudos da linguagem, assim como tantas outras noções, a de


enunciação apresenta uma única forma de ser apresentada, sendo resumida a dois
elementos: enunciador e enunciatário.

A alternativa A está correta.

A intenção de quem pergunta é um elemento fundamental na enunciação, assim


como a forma com que o texto é recebido pelo enunciatário. O termo enunciação
refere-se à atividade social e interacional em que a língua é colocada em
funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um
enunciatário (aquele para quem se fala ou se escreve). O produto da enunciação é
chamado enunciado. No campo dos estudos da linguagem, o conceito de
enunciação, assim como tantos outros, apresenta variações na forma como é
definido, conforme a abordagem teórica em que seja tomado.
2. Texto e discurso são conceitos que devem ser compreendidos como distintos e
ao mesmo tempo complementares porque:

a) O texto é a parte abstrata e o discurso é a parte concreta.

b) O texto é escrito e o discurso é oral.

c) O discurso é o texto em atividade comunicativa, vindo a público e se realizando.

d) O texto é dinâmico e indefinido enquanto o discurso é estático e definitivo.

e) O texto pode ser repetido infinitamente, sempre de formas diferentes,


dependendo da bagagem cultural de seus leitores, já o discurso pode ser
considerado algo acabado e estático.

A alternativa C está correta.

O texto é um produto da enunciação, estático, definitivo. O discurso, por sua vez, é


dinâmico: principia quando o emissor realiza o processo de codificação e só
termina quando o destinatário cumpre sua tarefa de decodificá-lo. O discurso é
histórico. Quando um texto é escrito, finalizado pelo seu autor, pode ser
considerado algo acabado e estático. No entanto, o discurso teve seu início
juntamente com o texto e vai se completando à medida que o texto vai sendo lido
por seus leitores. Por isso, o discurso “é sempre dinâmico e pode ser repetido
infinitamente, sempre de formas diferentes, dependendo do repertório de seus
leitores”.

CUIDADOS NA ELABORAÇÃO DO TEXTO


Compreender a relação entre texto e discurso deve levá-lo a determinados
cuidados na produção do texto e na sua leitura.
Em relação à leitura, você deve lembrar que o discurso é um conceito relacionado
com as intenções presentes no texto (de forma explícita ou implícita) e outros
elementos da comunicação como:

• Quem escreve;

• Quem lê;

• Em que contexto o texto foi produzido;

• O momento em que o texto é lido.

Isso quer dizer que o discurso é algo situado, ou seja, ele é produzido por alguém,
com determinada intenção, em algum contexto e tendo em vista o interlocutor.

Você certamente percebeu o quão importante é a construção do discurso e a


relevância de refletir sobre ele. Mas sejamos um pouco mais práticos, trataremos
agora da elaboração do texto.

ELABORAÇÃO DO TEXTO
Ao elaborar um texto, você deve ter em mente que não escreve para si mesmo,
pois seu texto é produzido para que outros o leiam, ele se transformará em
discurso. Por isso, deve haver cuidado na elaboração, na forma pela qual suas
intenções estarão marcadas ou presentes na mensagem.

Se escrevemos e falamos para que outros nos entendam ou mesmo atendam


aos objetivos de nossa comunicação, precisamos nos esforçar para irmos além
da simples expressão do que temos em mente. Isso tem a ver com um
importante mecanismo da comunicação, que foi resumido pelo professor
Blikstein (1990), em seu livro Técnicas de comunicação escrita, da seguinte
forma.

Os princípios do mecanismo da comunicação seriam:

Veja o exemplo:
É preciso, então, cuidado em relação a vários aspectos no uso da língua nas
situações de comunicação.

Vejamos três deles:

1. Vocabulário

Preferir palavras e expressões que, além de expressar o que pensamos, ajudem o


leitor ou ouvinte a identificar a nossa intenção ou o objetivo do texto. Palavras
pouco conhecidas ou rebuscadas, termos técnicos e vocabulário restrito a uma
área diferente da do nosso interlocutor podem oferecer alguma dificuldade.
O vocabulário sempre deve estar adequado ao contexto em que comunicamos
nossa mensagem e ao nosso interlocutor. Se precisarmos usar alguma palavra
difícil ou pouco conhecida, é recomendável que ela venha acompanhada de
alguma explicação, evitando deixar o texto pedante ou pretencioso. Não é um
vocabulário excessivamente formal ou com preciosismos que vai demonstrar
nosso domínio da língua.
2. Adequação da linguagem às situações e aos leitores que temos em
vista

O estilo e o nível de linguagem que usamos em nossa escrita ou fala devem


estar adequados ao contexto da comunicação, ao objetivo ou à intenção da
nossa mensagem e ao interlocutor (o receptor, a pessoa com quem nos
comunicamos):

Se o objetivo, por exemplo, for escrever um manual com procedimentos e


orientações para o uso de um celular, o texto deverá ter um estilo que respeite a
língua culta, mas que será simples, objetivo e claro, com predomínio de verbos no
imperativo ou infinitivo, além de descrições e outras características desse gênero
textual.
Se escrevermos um bilhete ou enviarmos um recado por um aplicativo de
mensagens, usaremos uma linguagem mais coloquial, um tom pessoal e talvez
algumas abreviaturas, entre outras características.

Mais adiante você aprenderá outros aspectos importantes na produção e na


elaboração do texto em função de seu gênero.

3. Construção das frases e correção gramatical

Organizar cada parágrafo do texto, os períodos e as frases que o compõem é uma


forma de deixar o texto claro, coeso e coerente.
Escrever e falar sem incorreções gramaticais também contribui para o melhor
entendimento da mensagem, além de dar credibilidade ao autor em virtude do seu
domínio da língua padrão. Há outros cuidados na elaboração do texto que
destacamos para ajudá-lo a escrever melhor. São aspectos que o ajudarão a
perceber características que devem estar presentes em todos os textos e, além
disso, a aprender uma outra forma de definir o que é um texto.

Vamos, então, conhecer quatro importantes recomendações que você precisa


considerar ao escrever e ao ler um texto:
Esses cuidados na elaboração do texto correspondem a uma forma de entender o
que é um texto. Por isso, é hora de apresentar a seguinte definição: O texto é um
todo orgânico gerador de sentido. Essa definição nos ajuda a perceber que um
texto tem que fazer sentido e possui princípio e fim, mesmo que ele seja um texto
muito pequeno.

Imagine que alguém, diante de um princípio de incêndio, grite:


Ou vamos supor que uma professora, diante de uma sala de aula muito barulhenta,
escreva numa lousa a palavra:

Nos dois casos temos um exemplo de texto, por menor que seja sua estrutura.
Isso acontece porque nessas situações de comunicação existe uma
unidade linguística delimitada e que produz sentido a partir da intenção de quem
fala ou escreve.

Linguística – Estudo científico da linguagem e das línguas naturais. A utilização


deste termo depende das perspectivas metodológicas, das teorias e das
disciplinas que estudam os diferentes
fenômenos. http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=terminology
Compreender que o texto é um todo orgânico que produz sentido também traz
como desdobramento estabelecer correspondência e articulação entre suas
partes. As frases não podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa
sequência sem sentido e sem unidade.

O processo de articulação do texto, que permite a integração entre suas partes, é


chamado de encadeamento semântico (semântico = sentido). Ele é que produz a
textualidade ou a “trama semântica”. A coesão, segundo Abreu (1999), é
exatamente esse processo de encadeamento que produz a textualidade, que cuida
da estruturação da sequência superficial do texto.

Conforme nos ensinam Platão e Fiorin (2003), podemos também dizer que a
coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou
frases do texto, por meio de “elementos formais que assinalam o vínculo entre os
componentes do texto”. Quando um conteúdo escrito apresenta repetições
desnecessárias, retomando uma palavra ou ideia sempre com o mesmo termo,
temos um caso de falta de coesão. O exemplo a seguir, retirado do livro Curso de
redação, do professor Antônio Suarez Abreu, é uma boa oportunidade para
verificar a falta de coesão num texto.
Se você levar em conta que o termo “revendedoras de automóveis” pode ser
substituído por agência, concessionária ou loja, e “automóveis” pode ser
substituído por carros, veículos, produto ou mercadoria, é possível reescrever o
texto estabelecendo a coesão. Veja:

Perceba que, além de evitar a repetição de “revendedoras de automóveis” e da


palavra “automóveis”, substituindo esses termos por sinônimos, foram
utilizados mecanismos de coesão como a elipse, ou seja, omissão de um
termo.

Nesse exemplo, na oração desiste de comprar o automóvel, foi omitido o


complemento da forma verbal “desiste”, sem prejuízo à compreensão do texto.
Também se substituiu o termo “os automóveis” na frase para vender os
automóveis mais caro pelo pronome oblíquo átono junto ao verbo vender: “para
vendê-los mais caro”. Outro mecanismo de coesão utilizado foi a retomada do
termo “revendedora de automóveis” valendo-se de um advérbio, no caso, o
advérbio de lugar “lá”: “o cliente vai lá...”. Há diversas outras formas de articular
as partes de um texto, as sentenças ou frases que formam cada período ou
parágrafo, garantindo a coesão textual.
Veja o exemplo a seguir:

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos


para uma reunião ontem à tarde, porém poucos compareceram, já que
uma forte chuva inundou os principais acessos ao colégio.

Perceba que duas informações iniciais estão articuladas com a ideia de oposição:
a convocação e o não comparecimento de quem foi convocado. Em seguida,
apresenta-se a causa para o não comparecimento: a forte chuva. A coesão
também se manifesta ao se evitar a repetição desnecessária da expressão “os
pais e os responsáveis” na oração: porém poucos compareceram, além de se
retomar o termo “escola” pelo sinônimo “colégio” na última oração.

Agora é hora de verificar o que você aprendeu sobre os aspectos da distinção


entre texto e discurso na produção e leitura textuais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

3. Compreender que o texto é um todo organizado que produz sentido implica


afirmar que, na leitura e na produção textual, é recomendável:

a) Basear a leitura em fragmentos e partes isoladas do texto, sem levar em conta o


contexto.

b) Não identificar como texto aquelas produções muito curtas, de apenas uma
única palavra, como no exemplo em que alguém grita “Fogo!”, diante de um
princípio de incêndio.

c) Estabelecer correspondência e articulação entre as partes do texto, pois as


frases não podem ser soltas ou simplesmente amontoadas numa sequência sem
sentido e sem unidade.

d) Dar pouca ou mesmo nenhuma importância à forma com que o leitor vai receber
o texto.

e) Não delimitar o texto escrito num determinado espaço, pois a organização


textual pouco importa.
A alternativa C está correta.

A opção A está incorreta porque a leitura do texto não deve se basear em


fragmentos ou partes isoladas, sem levar em conta o contexto. As
alternativas B e E estão incorretas porque textos não se definem por serem
grandes ou pequenos, mas por serem delimitados em algum espaço e
produzirem sentido. A opção D está incorreta porque a forma pela qual o leitor
recebe o texto tem sua importância na produção textual. A resposta correta é
a C por primar pela coesão textual.

4. O texto bem escrito deve ter suas partes articuladas adequadamente, ou seja,
deve ter a marca da coesão textual. No texto abaixo, há graves problemas de
coesão textual.

A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da escola


para uma reunião de pais e responsáveis dos alunos ontem à tarde, por isso
poucos compareceram, porém, uma forte chuva inundou os principais acessos
ao colégio.

Assinale a alternativa que apresenta o restabelecimento da coesão textual.

a) A diretora convocou para uma reunião ontem à tarde, pois uma forte chuva
inundou os acessos à escola, uma vez que poucos compareceram.

b) A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos da


escola para uma reunião ontem à tarde na escola, mas poucos pais e
responsáveis dos alunos da escola compareceram, porque uma forte chuva
inundou os principais acessos à escola.

c) A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para


uma reunião ontem à tarde, porque poucos compareceram, mas uma forte
chuva inundou os principais acessos ao colégio.

d) Uma vez que a diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos


alunos para uma reunião ontem à tarde, poucos compareceram, porém, uma
forte chuva inundou os principais acessos ao colégio.

e) A diretora da escola convocou os pais e os responsáveis dos alunos para


uma reunião ontem à tarde, mas poucos compareceram devido a uma forte
chuva que inundou os principais acessos ao colégio.

A alternativa E está correta.

A alternativa correta é a única que apresenta uma versão do texto em que as


repetições desnecessárias são evitadas, o sentido de oposição entre a primeira
e a segunda parte é estabelecido e a articulação com sentido de causa e efeito
é recuperada entre o último e o segundo período.

GÊNEROS TEXTUAIS
Você já aprendeu que, ao falar ou escrever, a intenção e outros aspectos se fazem
presentes no ato comunicativo, cor­respondendo a um modo característico de
construção do discurso. Esse modo específico de organizar o discurso se constitui
num conjunto de características relativamente estáveis, configurando diferentes
textos ou gêneros textuais.

A noção de gêneros textuais foi desenvolvida por um pensador russo, Bakhtin


(1895-1975), no começo do século XX. Ele usou a palavra gêneros para se refe­rir
aos textos orais ou escritos que elaboramos nas diversas situações de
comu­nicação.

EXEMPLOS
Um bilhete que alguém deixa para sua mãe, uma piada que se conta na mesa de
um bar, uma ata redigida durante uma reunião ou um artigo de opinião publicado
nas redes sociais são exemplos de gêneros textuais, pois apresentam um conjunto
de caracte­rísticas sociocomunicativas e uma estrutura específica.
Sociocomunicativas
Diz-se daquilo que está inserido em um contexto social e tem função
comunicativa.

Enquanto ele contava sua história, provavelmente nem se deu conta de elementos
típicos da narração, como: personagem, espaço, tempo etc.

Há gêneros textuais que são típicos da vida acadêmica. Se você tiver que
apresentar os resultados de um trabalho acadêmico ou de uma pesquisa realizada
ao final do curso, provavelmente terá de escrever uma monografia ou um artigo
acadêmico, que constituem também exemplos de gêneros textuais. Caso queira
apresentar os resultados de uma visita técnica ou de uma inspeção que tenha rea-
lizado, poderá elaborar um relatório, outro exemplo de gênero textual. O e-
mail enviado a um colega também faz parte de um gênero textual. A lista de
exemplos poderia se estender bastante.

Conforme conceituado por Marcuschi (2002), os gêneros textuais são os textos


materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam
características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades
funcionais, estilo e composição característica.

Agora que você já sabe o que é um gênero textual, tenha cuidado para não cair
numa confusão muito comum que alguns estudantes fazem entre gêneros e tipos
textuais. Para ajudá-lo a compreender a diferença entre eles, veja o quadro a
seguir:
(Fonte: Marcuschi, 2002)

De certo modo, nossa experiência de estudo da língua portuguesa na escola está


mais relacionada com os tipos de textos, também denominados tipos textuais.
Mas precisamos ter cuidado para não achar que escrever ou ler um texto se
resume a compreender os aspectos gramaticais e linguísticos relacionados com
um número limitado de tipos textuais.
Os gêneros textuais podem ser tanto escritos quanto orais. Há gêneros textuais
que são bem tradicionais, como os sermões, as cartas e os diários pessoais.

Por exemplo:

Outros gêneros são mais recentes, resultado das tecnologias digitais. O e-mail, por
exemplo, é um gênero textual digital que nos remete às cartas ou aos bilhetes,
enquanto o blog se aproxima mais dos diários pessoais ou mesmo das crônicas.

Um gênero textual pode conter diferentes tipos textuais.


Vejamos a seguinte situação:

Vamos supor que você tenha uma página e poste um texto sobre uma viagem que
tenha realizado. Provavelmente haverá um trecho com relato de algum “perrengue”
pelo qual você tenha passado (narração), outra parte com detalhes dos brinquedos
de um parque sensacional que você conheceu (descrição) e, ao final, a defesa da
ideia de que viajar é uma das melhores coisas da vida (argumentação). Nesse
exemplo, a postagem contém texto narrativo, descritivo e argumentativo.

Vamos praticar?

Que tal ir a alguma de suas redes sociais e fazer dois posts? Em um deles, utilize
os seguintes tipos textuais: narração, descrição e argumentação. No outro, escolha
apenas uma dessas tipologias.

Em seguida, avalie qual dos dois posts produziu mais interações, como likes e
comentários.
Todas essas informações e exemplos sobre os gêneros textuais servem para
deixar muito claro que deveremos ter estratégias de leitura adequadas a cada
gênero textual, pois eles possuem estrutura, intenções e estilos próprios.

Uma estratégia adequada de leitura passa pela expectativa correta em relação ao


texto ou seu gênero textual. Um leitor competente deve possuir conhecimentos
prévios sobre cada gênero textual para identificar no texto características próprias
de cada gênero. Você não deve ler um e-mail como lê um blog. A prática de leitura
de um romance é distinta da leitura de uma notícia ou de um artigo no jornal. Não
se deve ouvir um sermão na Igreja do mesmo modo que se ouve alguém numa
conversa ao telefone.

Quando lemos um texto, precisamos identificar o gênero textual ao qual ele


pertence. Ninguém deve procurar instruções sobre procedimentos e informações
precisas num gênero textual como o conto ou o poema, assim como não se deve
ler uma receita culinária procurando expressões poéticas sobre os sentimentos ou
mesmo tentando entender algum enredo de uma história.

Vejamos um exemplo de gênero textual: o anúncio publicitário.


Esse tipo de cuidado em relação ao gênero textual pode ajudar a evitar
interpretações equivocadas na leitura de um texto.

Ao ler uma anedota ou piada, nossa expectativa deve ser encontrar algum efeito
de humor. Ao ler o manual de um celular, devemos esperar descrições objetivas
das características do aparelho, assim como procedimentos sobre sua
utilização.

Alguns textos que pertencem a determinado gênero apresentam uma


configuração típica de outro gênero textual, ou seja, assumem a forma de outro
gênero buscando maior impacto sobre o leitor ou efeitos que não são tão
comuns. O nome que se dá a essa fusão de gêneros textuais
é intergenericidade ou intertextualidade de gêneros.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
5. Os gêneros textuais devem ser corretamente identificados com:

a) Textos presentes em nosso dia a dia e que apresentam características


sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e
composição característica.

b) Um conjunto limitado de características deter­minadas por propriedades


linguísticas e gramaticais.

c) A classificação que tipifica os textos em narração, descrição, argumentação,


injunção e exposição.

d) Os textos exclusivamente produzidos por meio da escrita.

e) Os textos exclusivamente orais.

A alternativa A está correta.

As opções B e C correspondem a características dos tipos textuais. As


alternativas D e E estão incorretas porque os gêneros textuais se realizam tanto
em textos escritos quanto em orais.

6. (ENEM 2013)

A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha,
tou podre. Outro dia a gente vamos.
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho.
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram
sem nenhum aplauso.
Perfeita.
(PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999)
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas,
reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem
como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva:

a) Narra um fato vivido por Maria José.

b) Surpreende o leitor pelo seu efeito poético.

c) Relata uma experiência teatral profissional.

d) Descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.

e) Defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.

A alternativa B está correta.

A cena descrita no poema narrativo A diva leva o leitor a imaginar a experiência


teatral através do diálogo expresso no texto. Ao chegar ao final do poema, o
leitor é surpreendido pela função poética, que transforma a simples Maria José
em uma diva pela sua atuação dramática espontânea.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando temos familiaridade com os diferentes gêneros textuais, as possiblidades
de leitura se ampliam e se tornam mais aderentes com as características formais
e sociocomunicativas do texto que estamos lendo. Por isso, quanto mais textos
diferentes e leituras diversas, mais enriquecido ficará seu repertório e suas novas
leituras. É o círculo virtuoso da leitura!

CONQUISTAS ADQUIRIDAS
• Distinguiu os conceitos de texto e de discurso.

• Identificou aspectos da distinção entre texto e discurso na produção textual.


• Reconheceu o conceito de gêneros textuais e suas implicações na leitura de
textos.
Referências Bibliográficas
ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2005.

ASSIS, J. A. Enunciação, enunciado. In: Glossário CEALE. Universidade Federal de


Minas Gerais, s/d. Disponível
em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/enunciacao-
enunciado. Acesso em: 20 nov. 2019.

BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio,
1980.

BLIKSTEIN, I. Técnicas de comunicação escrita. 8. ed. São Paulo: Ática, 1990.

FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 8. ed. São Paulo: Ática: 1998.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 12 ed. São Paulo: Ática, 1996.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática,
2001.

MARCUCSHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.;


MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2002. p. 19-36.

POSSENTI, S. Discurso. In: Glossário CEALE. Universidade Federal de Minas Gerais,


s/d. Disponível
em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/discurso. Acesso
em: 20 nov. 2019.

PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.

ROJO, R. Gêneros e tipos textuais. In: Glossário CEALE. Universidade Federal de Minas
Gerais, s/d. Disponível
em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/generos-e-tipos-
textuais. Acesso em: 20 nov. 2019.

Explore+

• Quer se aprofundar na compreensão dos gêneros textuais, conhecer mais


exemplos e entender como eles se realizam inclusive a partir das tecnologias
digitais? Então leia o artigo Gêneros textuais: definição e funcionalidade do
professor e linguista Luiz Antônio Marcuschi.
• Você pode aprender mais sobre a articulação entre as partes de um texto
estudando alguns mecanismos de coesão textual.

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