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Análise do filme Como estrelas na Terra – um olhar para a

psicomotricidade como ferramenta para aprendizagem

Embora o acesso à informação tenha colaborado para desmistificar diversos


transtornos, inclusive os de aprendizagem, ainda é possível identificar preconceito,
estigma e, até mesmo, falta de discernimento a respeito da dislexia. Segundo o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV, dislexia “é um termo
alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades de aprendizagem
caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras,
problemas de decodificação e dificuldades de ortografia”, (DSM IV, p. 67), contempla
os Transtornos Específicos de Aprendizagem como uma “perturbação da leitura e
escrita” (Idem).
O filme Como estrelas na Terra: toda criança é especial, apresenta um caso
de dislexia em um menino de 9 anos e todas as implicações em sua vida. A começar por
sua própria família que não compreende sua peculiaridade e, além de o comparar com
seu irmão mais velho, faz julgamentos acerca de seu comportamento, relacionando
preguiça, falta de respeito e rebeldia, às suas dificuldades de aprendizagem. Também a
escola, incapaz de observar com sensibilidade a singularidade de cada criança, trata com
rigidez e grosseria o que atribuem a distração e “burrice”. A falta de acolhimento e
compreensão fazem com que vergonha, culpa e insegurança sejam sentimentos
companheiros de Ishaan Awasthi.
O preconceito que os indivíduos que possuem o transtorno de aprendizagem
sofrem, especialmente antes do diagnóstico, é uma característica que influencia a
construção de uma identidade nas crianças e reforça um estigma de fracassos. O
diagnóstico precoce oportuniza uma intervenção assertiva que reduza os prejuízos
sociais na vida dessas pessoas.
Após uma sucessão de maus tratos, um professor identifica a dificuldade de
Ishaan e passa a realizar atividades lúdicas de estimulação psicomotora, como uma
forma de reeducação, para que ele consiga desenvolver as funções cognitivas e motoras
afetadas pelo transtorno de neurodesenvolvimento. Por meio da arte, o professor
encoraja o aluno a aprender uma maneira diferente de entender as letras e sons e
transformá-las em palavras e frases. Santos et al (2009) afirma que a psicomotricidade é
uma maneira de se relacionar com a ação, e foi unindo movimento, artigos artísticos,
letras e números, que Ishaan aprimora funções primordiais da psicomotricidade e
desenvolve a lateralidade, discriminação visual e auditiva, noção espacial, coordenação
motora fina e ritmo (Jimenez, 2008), por exemplo, essenciais para seu aprendizado.
De acordo com Xisto e Benetti (2012), a psicomotricidade “pode ser entendida
como uma técnica cuja organização de atividades possibilite à pessoa conhecer de uma
maneira concreta seu ser e seu ambiente de imediato para atuar de maneira adaptada”.
Atividades utilizando a massinha e o movimento do pincel foram significativos para o
sucesso do menino, já que exercícios de manipulação são de importante relevância para
o desenvolvimento psicomotor. Além de incentivar as aptidões perceptivas que são
aquelas que “auxiliam o aluno a interpretar o significado dos estímulos orais, visuais,
táteis, auditivos, corporais e de coordenação, tomando consciência do seu corpo, da
forma pela qual ele se move, da sua posição no espaço e das relações entre ele e o meio
ambiente” (Xisto e Benetti, 2012).
A contribuição da psicomotricidade para a educação infantil é notável,
considerando que o desenvolvimento neurológico adequado parte de diversas etapas,
desde a herança genética, a maturidade de estruturas cerebrais e a interação com o meio,
processo que inicia na gestação e segue até aproximadamente os 6 anos do indivíduo.
(Moraes e Maluf, 2015). É neste momento que a criança está com seu maior potencial
de aquisição de saberes e que, segundo Fonseca (1995), os “fatores psicomotores e as
unidades funcionais possuem relação direta com o desenvolvimento cognitivo e
eficiência na aprendizagem” (apud Moraes e Maluf, 2015).
O filme encerra com uma bela mensagem de superação por parte da criança
disléxica e de acolhimento às diferenças para os pais e professores. É necessário
reforçar a importância de um olhar atento e sensível a cada criança, entender sua
singularidade e seu ritmo próprio, com vistas a descoberta e enaltecimento de suas
habilidades e não destacar suas dificuldades. O professor possui um importante papel no
desenvolvimento da criança, que vai além do cognitivo, mas também o afetivo e social.
REFERÊNCIAS

FONSECA V. Manual de observação psicomotora: Significação psiconeurológica


dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artmed; 1995.

JIMENEZ, K. C. Você sabe o que é Psicomotricidade? 2008. Disponível em:


<http://www.ribeiraopires.net/index.php?option=com>, Acesso em: 18/10/2022

MORAES, Sonia; MALUF, Maria Fernanda de Matos. Psicomotricidade no contexto


da neuro aprendizagem: contribuições à ação psicopedagógica. Rev. psicopedag.,
São Paulo, v. 32, n. 97, p. 84-92, 2015.   Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862015000100009&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 20/10/2022.

SANTOS, R.C. F et al. Psicomotricidade: uma ferramenta norteadora no processo


de ensino aprendizagem de crianças com dislexia. Revista Ciência em Extensão, São
Paulo, v.5, n.2, p.79,2009.

XISTO, Patricia Baldecera, Benetti, Luciana Borba. A psicomotricidade: uma


ferramenta de ajuda aos professores na aprendizagem escolar. Monografias Ambientais,
2012, v(8), nº 8, p. 1824 – 1836. Disponível em:
file:///C:/Users/bbruc/Downloads/revistas,+v8n8p1824-18362012.pdf acesso em:
17/10/2022

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