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As três formas clínicas da psicose

A Psicose é uma das estruturas clínicas utilizadas pela psicanálise para descrever
o posicionamento do sujeito diante da vida e das faltas. É marcada pela não inscrição do
nome do pai (Verwerfung), uma ruptura do referencial narcísico e pelo retorno
(sintoma) que invade o sujeito em forma de delírio, alucinação, estranhamento corporal
e angústia, como forma de suplência ao nome do pai foracluído. A esquizofrenia, a
paranoia e a melancolia são os tipos clínicos da psicose.
O desencadeamento da psicose mobiliza uma enorme angústia e se dá,
principalmente, com o fracasso da metáfora paterna, a dissolução do tripé imaginário
(Lacan 1957-58/1998, p.572) e uma substituição do nome do pai por um eu-objeto ou
ideal-realidade (Idem, p.584), que acaba por dissolver o imaginário e invadir a
subjetividade do sujeito. Sua estabilização acontece com o retorno do real foracluído do
simbólico, para localizar e apaziguar o gozo. Pode ocorrer pelo delírio (localização do
gozo fora do corpo, no outro), pela obra (representação do objeto de gozo que seja
separado do eu) ou pelo ato (sujeito tenta se desvencilhar do gozo).
A esquizofrenia é pautada no afastamento da libido do mundo externo (do outro
e das coisas) e investida no próprio corpo. A libido retorna ao auto-erotismo infantil e
invade o sujeito que faz uma dissolução do imaginário (deslocamento do gozo) e
reconstrói a realidade através do delírio. O hipocondrismo e megalomanismo são
consequências desse afastamento da libido objetal. A “cura” acontece ao circunscrever o
gozo no outro para reconstruir a realidade, ainda que em forma de delírios (uma
adaptação do que é real).
A paranoia, é uma forma de desligamento da libido objetal e regressão para o
ego. Há um ponto de fixação no narcisismo, um engrandecimento do eu, que pode dar
origem a manifestações persecutórias. Assim como na esquizofrenia, na paranoia, o
sujeito é acuado pelo real, não consegue se reconhecer, sente-se invadido, e os delírios
são mecanismos de defesa, uma relação com o que é real. O paranoico faz uma
inscrição do nome do pai no simbólico, modificando os sentidos do mundo e das coisas,
a fim de manter as suas bordas. Ele tem a certeza de que o outro sabe de seu gozo e
pode lhe impor ou negar isso de alguma forma.
Na melancolia há uma disfunção pulsional de perda da libido. Sem uma pulsão
de vida, a pulsão de morte toma conta do aparato psíquico do sujeito para obtenção de
uma satisfação. Freud descreve como um furo no psiquismo, no qual escorre a libido do
sujeito. O luto, o anseio pela perda (de vida pulsional, de libido) retrata a melancolia. O
ego do sujeito melancólico é incapaz de uma realização, seja em ações cotidianas
(comer, dormir), seja em relações com o outro (amar, transar). Em virtude da
diminuição de autoestima, o gozo do melancólico se situa em uma esfera delirante de
autopunição, autocrítica, auto injúria e autodestruição. É um gozo masoquista. A
suplência do nome do pai pode ter solução maníaca (defesa do superego).
Diferentemente da paranoia, em que o outro é perseguidor, na melancolia o outro está
no indivíduo a ponto de precisar se auto eliminar.

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