Você está na página 1de 2

A fantasia.

A clínica da Fantasia (Marco Antônio Coutinho Jorge)

A função, a importância. Homogeneização entre conceito de fantasia e de inconsciente.


A descoberta do ics qualifica a originalidade da psicanálise e concomitante à fantasia ics.
Função da fantasia é o núcleo do aparelho psíquico. Relacionada ao sintoma neurótico
inevitavelmente. Se dedica a ela durante o período de 1906 a 1911 (ciclo da fantasia).
Articulada também à pulsão, que é a origem do sintoma. A pulsão insiste e pede satisfação
insistentemente de forma continuada (princípio do prazer), a realidade objetiva não aceita
(princípio de realidade), nega. Esse não produz o efeito de realidade psíquica, realidade
interna subjetiva ou REALIDADE FANTÁSTICA. O princípio da realidade é a constituição
da fantasia. O princípio de realidade é a constituição da fantasia. "Nunca renunciamos a nada,
apenas substituímos uma coisa por outra" (FREUD). A satisfação se torna então uma
continuidade fantástica, uma dialética precisa e simples. O sintoma é a transbordação da
fantasia e da busca por prazer. No fundo é a busca por uma satisfação corporal. É sempre
sobre satisfação.

Incidir sobre a fantasia requer saber da estrutura, na técnica analítica. Fantasias cs e ics.
O que interessa a Freud são as criadas no ics e que permanecem no ics, as fantasias
incestuosas do final do período edípico. A realidade humana é fantasmática. A percepção é
mediada pelo desejo e o desejo é sustentado, segundo Lacan, pela fantasia ics. O desejo tem a
ver com a falta e a fantasia é aquilo que reponde à falta do desejo e coloca um objeto no lugar
desse objeto que falta e produz o desejo, mas já não existe mais. Ela coloca o objeto no lugar
da falta que cria uma dependência neurótica, uma fixação de objeto, afunilando o mundo em
torno desse objeto e restringindo o sujeito. A fantasia fundamental é um axioma para lacan,
ela nos protege do real. A fantasia é sempre fantasia de completude porque é a busca do
objeto perdido, liga então à castração e a travessia edípica. A fantasia fundamental é o que
instaura o lugar no qual o sujeito pode identificar o desejo. "eu vou querer a macarronada, se
não tiver". Na travessia edípica há uma perda de gozo pela castração. A fantasia é
simbólico-imaginária que mantém o real fora. Melhor remédio para a angústia é o desejo. O
real está além da realidade, é o sem sentido, o que invade dele produz o trauma. O édipo atua
como fantasia inconsciente de completude.

Freud

"uma parte desses impulsos que determinam a vida amorosa perfaz o


desenvolvimento psíquico; essa parte está dirigida para realidade [...] Outra parte
desses impulsos libidinais foi detida em seu desenvolvimento, está separada tanto da
personalidade consciente como da realidade, pôde expandir-se apenas na fantasia ou
permaneceu de todo no inconsciente…" (FREUD, 1912, p. 135)

FREUD, Sigmund. "A Dinâmica da Transferência"" , 1912. (in: "Observações


Psicanalíticas Sobre Um Caso de Paranoia Relatado em Autobiografia ["O
Caso Schreber"], Artigos Sobre a Técnica e Outros Textos", Vol. 10; São
Paulo: Companhia das Letras, 2021

Elisabeth Roudinesco

Só um homem subtrai-se a ela: o pai da horda, isto é, o pai simbólico. Fabricando um


alógrafo, Lacan chamava de hommoinzin (au moins un) [homenosum (ao menos um)] esse
pai encarregado de instituir a fantasia de um gozo absoluto a partir do qual se podia ordenar
para todos os outros (homens) o lugar de uma proibição: proibição do incesto, gozo
inacessível.

Gozo tem sua efigie na noção de incesot, fantasia de eliminar a distância entre o objeto e o
traço que ele deixa e ao qual a gente retorna alucinatoriamente. O que é impossível, portanto
essa satisfação que é uma satisfação mítica, construída a posteriori, depois da entrada da
linguagem, depois da castração, depois do complexo de édipo. Essa satisfação é produzida
então como uma efígie da unificação e da sutura definitiva da nossa divisão subjetiva, o que é
impossível. Daí o gozo é inacessível, interditado àquele que fala.

Noção de gozo relacionada ao objeto a, ao mesmo tempo causa de desejo e condensador de


gozo. Ponto que a gente não consegue abrir mão pois parece mandar na gente através da
fantasia.

José Portes

Na teoria kleiniana o contato com a realidade por parte da criança e a frustração ou


gratificação de seus desejos a partir dela, influenciam sua fantasia inconsciente, que seria a
"expressão mental das pulsões (instincts)" (FAVERET, slide 9). Dessa forma, a fantasia é uma
forma de interação do bebê com a realidade que se dá através de objetos parciais, de fantasia,
nos primórdios de sua vida psíquica e que, mais tarde, dão a percepção de um objeto total.
Isso se dá a partir desse acúmulo de experiências (frustrantes e gratificantes) em relação, por
exemplo, à mãe, inicialmente apreendida parcialmente como seio bom e seio mau, ou seja,
aquilo que a satisfaz e não a satisfaz, e posteriormente como um objeto total ambivalente. Na
clínica, para Klein, "a criança expressa suas fantasias, seus desejos e suas experiências reais
de um modo simbólico, através de brinca­deiras e jogos" (KLEIN, 1932, P. 27) de modo que,
para analisar a brincadeira como seu modo de expressão, deve-se considerar não os
significados de símbolos isoladamente, mas "todos os mecanismos e métodos de
representação empregados pelo trabalho do sonho, sem nunca perder de vista a relação de
cada fator com a situação como um todo" (Ibidem).
Nesse sentido, podemos conjecturar que um dos resultados buscados por Klein na
clínica de crianças muito pequenas deveria ser capacitar a criança a se adaptar à realidade, já
que "sua relação com a realidade é fraca" (Ibidem) e "Só depois que resistências muito fortes
e obstinadas tiverem sido superadas é que ele será capaz de ver que seus atos agressivos [nas
brincadeiras e jogos] eram dirigidos ao objeto no mundo real" (Ibidem, P. 31).

Você também pode gostar