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A sensação foi sempre algo de incômodo para o pensamento, como elemento incorrigível
e noturno da mente. Mesmo a loso a sensualista que pretendia inspirar-se unicamente
nas notas sensíveis, o que realmente fazia era ultrapassar prontamente a sensação na
percepção, daí construindo os outros momentos da razão. A sorte do processo sensorial
foi sempre a de subordinar-se e absorver-se nos processos noéticos superiores ou a de
ser eliminado em dialéticas de separação do tipo platônico. De qualquer forma, seja pela
sua integração em estratos superiores do conhecimento, seja pela sua expulsão do saber
fundado, a sensação foi raramente objeto de uma vontade radical de esclarecimento.
Nas loso as de tipo eidético-platônico, uma aproximação losó ca do sensível não podia
ser proposta a não ser sob a forma de alusões míticas. O devir sensível, confundindo-se
com o não-ser, com a privação in nita, com a matriz passível de todas as formas, não
manifestando entretanto nenhuma forma própria, escapava a qualquer categoria do
conhecimento.
Encontramos, por outro lado, nas loso as que não implicam uma separação entre o
sensível e o eidético, mas supõem uma permanente elaboração de um pelo outro, a
mesma impaciência no concernente à interpretação do sensível enquanto tal e uma
decidida relutância na franca abertura do problema. Assim, Kant, depois de dizer, no limiar
da Crítica da Razão Pura, que os objetos nos são dados somente através da sensibilidade, e
depois de denominar “matéria” aquilo que corresponde à sensação na apreensão dos
objetos, passa imediatamente ao estudo dos processos que ordenam e estrati cam o
diverso sensorial, dentro de certas formas da razão. Dessa maneira, a estética
transcendental torna-se o estudo, não do mundo da sensibilidade, mas de seus princípios
a priori: o espaço e o tempo. Desde o início, Kant ultrapassa o campo da experiência
imediata, cingindo-se à investigação das condições de possibilidades dessa experiência.
Há algo anterior ao conhecimento, que este não pode compreender. O diverso sensorial,
em sua originalidade, não se apresenta como um momento cognitivo, como uma notícia
ou informação sobre algo — em que, sem dúvida, depois se transforma — mas tem mais
a nidade e analogia com os processos volitivos, com o desejo, o apetite e a aspiração.
Para compreender a relação entre o momento sensorial e a capacidade volitiva podemos
nos reportar a Benedetto Croce que nos diz em sua Filoso a da prática ser o homem um
microcosmo de volições no qual se re ete todo o cosmo e contra o qual ele reage,
“querendo” em todas as direções. Estas palavras poderiam fazer surgir a suspeita de que
este cosmo “querido”, e querido em todas as direções, nada mais seria do que o relevo
externo, o negativo, a projeção exterior desse âmbito do querer, que é o nosso eu
passional.
A componente hilética da consciência se manifesta como um puro dado, isto é, como algo
alheio ao produzir interno da consciência unicamente à consciência noética e às formas de
transcendência ulteriores. Com efeito, é impossível reduzir o extrato sensorial a qualquer
função meramente teorética ou representativa, pois a sensação não se origina como
representação, mas sim como resultado da impulsividade original. É com o material
fornecido por essa primeira posição da consciência que a função representativa vai
elaborar a sua esfera própria de determinações.
Notas:
[1] O presente Ensaio pode ser lido em seu livro “Dialética das Consciências“, na edição
mais recente da editora É Realizações.
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PUBLICADO EM Ensaios
MARCADO Crítica da Razão Pura Edmund Husserl Exegese da Ação Immanuel Kant
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