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Tatiany Albuquerque
@psitatimelo
Na própria pele...
Ana Jácomo
Depois de tantas buscas, encontros,
desencontros, acho que a minha mais sincera
intenção é me sentir confortável, o máximo que
eu puder, estando na minha própria pele. É me
sentir confortável, mesmo convivendo com
tantas perguntas que o tempo não respondeu e
com a ausência de qualquer garantia de que ele
ainda responda. É me sentir confortável, mesmo
entendendo que as respostas que tenho
mudarão, como tantas já mudaram, e que
também mudarei, como eu tanto já mudei.
Depois de tantas buscas, encontros, desencontros,
acho que a minha mais sincera intenção é me sentir
confortável, o máximo que eu puder, estando na
minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo
sentindo que cada vez mais eu sei cada vez menos, e
não saber, ao contrário do que já acreditei, pode nos
fazer vislumbrar uma liberdade incrível, às vezes.
Tem saber que é nítida sabedoria, que fortalece, que
faz clarear, mas tem saber que é apenas controle
disfarçado, artifício do medo, armadilha da dona
autosabotagem.
Depois de tantas buscas, encontros, desencontros,
acho que a minha mais sincera intenção é me sentir
confortável, o máximo que eu puder, estando na
minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo
percebendo que a minha vida não tem lá tanta
semelhança com o enredo que eu imaginei para ela
na maior parte da jornada e que nem por isso é
menos preciosa. É me sentir confortável, cabendo
sem esforço e com a fluidez que eu souber, na única
história que me é disponível, que é feita de capítulos
inéditos, e que não está concluída: esta que me foi
ofertada e que, da forma que sei e não sei, eu vivo.
Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho
que a minha mais sincera intenção é me sentir
confortável, o máximo que eu puder, estando na minha
própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando,
vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria
inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que
eu ainda não soube transformar, embora continue me
empenhando para conseguir. É me sentir confortável,
mesmo sentindo uma saudade imensa de uma pátria,
aparentemente utópica, onde os seus cidadãos tenham
ternura, respeito e bondade, suficientes, para ajudar uns
aos outros na tecelagem da paz e no desenho do
caminho.
Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho
que a minha mais sincera intenção é me sentir
confortável, o máximo que eu puder, estando na minha
própria pele. Estarmos na nossa própria pele não é fácil e
essa percepção é capaz de nos humanizar o bastante para
nos aproximarmos com o coração do entendimento do
quanto também não seria fácil estarmos na pele de
nenhum outro. Por maiores que sejam as diferenças, as
singularidades de enredo, as particularidades de cenário,
não nos enganemos: toda gente é bem parecida com toda
gente. Toda gente é promessa de florescimento, anseia
por amor, costuma ter um medo absurdo e se atrapalhar
à beça nessa vida sem ensaio.
Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha
mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder,
estando na minha própria pele. É me sentir confortável o suficiente
para cada vez mais encarar os desconfortos todos fugindo cada vez
menos, sabendo que algumas coisas simplesmente são como são, e
que eu não tenho nenhuma espécie de controle com relação ao que
acontecerá comigo no tempo do parágrafo seguinte, da frase seguinte,
da palavra seguinte. É me sentir confortável o suficiente para caminhar
pela vida com um olhar que não envelhece, por mais que eu envelheça,
e um coração corajoso, carregado de brotos de amor.
Se o teu destino é pensar,
então venera esse destino
como se venera um deus e
sacrifica-lhe o que de melhor
tiveres, o que mais amares.
Friedrich Nietzsche
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