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2018
LEVINÁS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Tradução de
Pergentino Pivatto. 5 ed. Ptrópolis, RJ: Vozes, 2010.
"O Outro metafísico é outro de uma alteridade que não é formal, de uma alteridade que não é um simples
inverso da identidade, nem de uma alteridade feita de resistência ao Mesmo, mas de uma alteridade anterior a
toda a iniciativa, a todo o imperialismo do Mesmo; outro de uma alteridade que não limita o Mesmo, porque
nesse caso o Outro não seria rigorosamente Outro: pela comunidade da fronteira, seria, dentro do sistema,
ainda o Mesmo. O absolutamente Outro é Outrem; não faz número comigo. A coletividade em que eu digo ‘tu’ ou
‘nós’ não é um plural de ‘eu’. Eu, tu, não são indivíduos de um conceito comum." (LEVINAS, 1988, p.26.).
Desde o início das Fouctions mentales dans lês sociétes inférieures, Levy-Bruhl
descreve uma representação, com a qual os elementos emocionais não só estão
misturados, mas também orientam de maneira nova. E, com efeito, mister entendem por
esta forma da atividade, por esta forma da atividade mental, junto aos primitivos, não
um elemento intelectual ou cognitivo puro ou quase puro, mas um fenômeno mais
complexo no qual o que, para nós, é propriamente ‘representação’, se encontra ainda
confundido com outros elementos de caráter emocional ou motor, colorido, penetrado
por eles, e implicando, por consequência, ou atitude em relação aos objetos
representados.
Levy-Bruhl analisa a mentalidade primitiva, tendo plena consciência de que aí
ocorre uma reviravolta de categorias. As ligações causais que são para nós o próprio
esqueleto da natureza, o fundamento de sua realidade e de sua estabilidade, possuem
(aos olhos dos primitivos) pouco interesse, “Nós estamos aqui em presença de um
espécie de a prior sobre o qual a experiência não tem onde se agarrar.
UM DEUS HOMEM?
HERMENEUTICA E ALÉM
Que o pensamento que desperta para Deus julgue ir além do mundo ou escutar
uma voz mais íntima que a intimidade, a hermenêutica que interpreta esta vida ou este
psiquismo religioso não poderia assimilá-lo à experiência que este pensamento pensa
precisamente ultrapassar. Este pensamento aspira a um além, a um mais-profundo-que-
si – a uma transcendência diferente do fora-de-si que a consciência intencional abre e
perpassa.
É preciso, então, pensar as fórmulas husserlianas além de suas formulações. A
consciência encontra-se promovida ao nível de ‘acontecimento’ que, de alguma
maneira, desenrola em aparecer – em manifestação – a energia ou a essência do ser e
que, neste sentido, se faz psiquismo. É, aliás, por esta positividade – presença e
identidade, presença ou identidade – que a tradição filosófica entende quase sempre a
essência do ser.
A transcendência de Deus – nem linear, como a visada intencional, nem
teleológica para findar na pontualidade de um pois e, fixar-se em entes e substantivos,
nem mesmo, inicialmente, dialogal, nomeando um tu – já não se terá produzido pela
transcendência ética, para que desejo e amor se tenham feito mais perfeitos que a
satisfação? Que esta transcendência se tenha produzido a partir da relação com outrem
não significa nem que o outro homem seja Deus nem que Deus seja um grande Outrem.
Segundo os modelos de satisfação, desta forma, a posse comanda a procura, o
gozo é melhor que a necessidade, o triunfo é mais verdadeiro que o fracasso, a certeza
mais perfeita que a dúvida, a resposta vai mais longe que a questão. Procura,
sofrimento, questão seriam simples diminuição do achado, do gozo, da felicidade e da
resposta: pensamentos insuficientes do idêntico e do presente, conhecimentos indigentes
ou o conhecimento em estado de indigência. Ainda uma vez, é o próprio bom-senso. E
também o senso comum.
A FILOSOFIA E O DESPERTAR.
O SOFRIMENTO INÚTIL
O sentido de um itinerário filosófico varia para aquele que o percorre de acordo com o
momento ou o lugar em que tenta justifica-lo. É somente a partir de fora que se pode
abarcar e julgar o seu percurso. Ao próprio pesquisador não resta senão o recurso de
descrever os temas que o preocupam no momento preciso em que procura situar-se.
Tudo isso fixa um novo modo de concretude. Para a fenomenologia, esta
concretude engloba e suporta as abstrações ingênuas da consciência cotidiana, mas
também científica, absorvida pelo objeto, entravada no objeto.
É, no psiquismo como saber – que vai até à consciência de si – que a filosofia
transmitida situa a origem ou o lugar natural do significativo (sensé) e reconhece o
espírito. A diacronia do tempo é quase sempre interpretada como privação da sincronia.
O advir do que há de vir é compreendida a partir da pretensão, como se a
temporalização do futuro não fosse senão uma espécie de domínio, uma tentativa de
recuperação, como se o advir do futuro não fosse mais que a entrada de um presente.
Pergunto: A intencionalidade é sempre – como Husserl e Brentano o afirmam –
fundada sobre representação? Ou, a intencionalidade é o único modo de “doação de
sentido?” O significativo (sensé) é sempre correlativo de tematização e de
representação? Resulta ele sempre da reunião da multiplicidade e da dispersão
temporal? O pensamento é por essência relação ao que lhe é igual, quer dizer,
essencialmente ateu?
A consciência pré-reflexiva, não intencional, não poderia ser descrita como
tomada de consciência desta passividade, como se, nela, já se distinguisse a reflexão de
um sujeito, colocando-se como que no nominativo indeclinável, assegurado em seu
direito de ser.
E dominando a timidez do não intencional, qual infância do espírito a ser
ultrapassada ou qual acesso de fraqueza sucedido na passividade do não intencional –
no próprio modo de sua espontaneidade e antes de toda formulação de ideias metafísicas
a este respeito – coloca-se em questão a própria justiça da posição no ser que se afirma
com o pensamento intencional, saber e domínio do ter-à-mão.
Portanto, por trás da afirmação do ser que persiste analiticamente – ou
analiticamente – ou animalmente – em seu ser e onde o vigor ideal da identidade que se
identifica, se afirma e se consolida na vida dos indivíduos humanos e na sua luta pela
existência vital, consciência e racional, a maravilha do eu reivindicado por Deus no
rosto do próximo – a maravilha do eu reivindicado por Deus no rosto de Próximo.
Suspensão de sua prioridade ideal, negadora de toda alteridade, excluindo o terceiro.