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Revisando a Neurose

A neurose implica:
 A instalação da função paterna simbólica
 A atribuição de um saber ao pai é um modo de
negação à possibilidade do gozo materno absoluto.
 A assimilação da estrutura essencial da linguagem,
 A primazia da dúvida em relação à certeza psicótica,
 Uma inibição considerável das pulsões, em oposição
à sua desinibida atuação,
 Uma tendência a encontrar mais prazer na fantasia do
que no contato sexual direto.
 O mecanismo do recalque e o retorno do recalcado
através de sintomas, atos falhos, sonhos, atuações.
Neurose
 Envolve a predominância da zona fálica sobre as demais
zonas erógenas,

 Certo grau de incerteza sobre o que excita o indivíduo,


dificultando-o localizar este objeto de excitação.

 Recusa a ser a causa do gozo do outro.

 Dificuldades de identificação sexual,

 O fator decisivo é o conflito psíquico: Freud explicava as


neuroses pela existência de um conflito entre o eu e as
pulsões sexuais e/ou agressivas.
 O recalcamento leva à inscrição ou a um registro
separado de uma percepção ou de uma idéia que um dia
passou pela cabeça do sujeito. Não implica a total
eliminação dessa percepção ou pensamento. Não pode
haver recalcamento sem que uma ideia, uma cena, um
pensamento tenha sido aceita em algum nível do
psiquismo.

 Para Lacan, o que é recalcado não é a percepção, nem o


afeto, mas os pensamentos referentes às percepções, aos
pensamentos a que o afeto está ligado.

 O afeto e o pensamento, representantes da pulsão no


psiquismo, costumam estar ligados desde o início, mas
quando ocorre o recalque, eles se separam e o
pensamento pode ser excluído da consciência enquanto o
afeto, não.
• Quando um pensamento é recalcado, ele não permanece
adormecido, liga-se a outros pensamentos e expressa-se
como sintoma, o retorno do recalcado, ou através de
formações do inconsciente.

• O recalcado e o retorno do recalcado são a mesma coisa:


a idéia recalcada é a mesma que se expressa de modo
disfarçado nos atos falhos, nos lapsos, etc.

• O retorno do recalcado é a única evidência da existência


do recalcado, que se manifesta através de perturbações,
crises, mal estar psíquico, angúatia, etc.

• Um sintoma é a única prova do recalcamento do que a


psicanálise precisa. O sintoma neurótico é uma
mensagem dirigida ao Outro.
• As diferentes formas clínicas dentro da neurose, todas
definidas a partir do recalcamento, correspondem às
diversas posições do sujeito e não a diversidade dos
sintomas.

• Os mesmos sintomas podem aparecer em formas


neuróticas bem diferentes, ou mesmo em estruturas
clínicas distintas.

• Na Antiguidade, a histeria era considerada uma doença


orgânica de origem uterina, logo, especificamente
feminina, que afetava o corpo como um todo. Platão
chega a afirmar que a mulher, diferente do homem, trazia
em seu seio um animal sem alma. O destino das
mulheres e, mais ainda, o das histéricas, foi situado
próximo da animalidade, durante séculos.
HISTERIA
• Na Idade Média, as convulsões e sufocações histéricas
eram consideradas a expressão de um prazer sexual e, por
isso, um pecado, chegando a serem queimadas em
fogueiras como endemoniadas.

• Mesmo no Renascimento, elas eram ainda vistas pela


Igreja Católica como bruxas e foi preciso muita luta por
parte de médicos e teólogos para superar os terrores da
Inquisição. Só nos meados do século XVIII, se operou a
passagem de uma concepção demoníaca da histeria,
portanto, de loucura, para uma concepção científica.

• A histeria do fim do século XIX se revela como um


sintoma no corpo da mulher, sinal de uma rebelião sexual
que serviu de motor para sua emancipação política.
HISTERIA
• A histeria passa a ser vista não mais como uma doença, mas
como a doença em estado puro, aquela que não é nada em si
mas é passível de assumir a forma de todas as outras.

• É mais um estado do que um acidente: o que torna a mulher


desta época doente, por essência, é sua situação sexual neste
momento social.

• A histeria é uma neurose geralmente latente que eclode por


ocasião de acontecimentos marcantes, ou em períodos
críticos, da vida de um sujeito.

• É possível pensar a histeria como o teatro da subjetividade,


como um fundamento da construção subjetiva que tem
necessariamente seu eixo na ênfase na relação com o Outro.
HISTERIA Tereza Dubeux

 O sofrimento histérico expressa-se através de sintomas


somáticos que, em sua maioria, são transitórios, que não
resultam de nenhuma causa orgânica e que, em sua localização
corporal, não obedecem a nenhuma lei anatômica ou fisiológica.

 A histeria se manifesta através de várias maneiras, sendo que


as duas formas mais conhecidas são a histeria de conversão e a
histeria de angústia (a fobia).
HISTERIA
Alguns aspectos caracterizam esse quadro clínico:

o A apresentação do conflito edipiano com pontos de fixação nos


registros oral e fálico;
o A escolha de um mecanismo de defesa específico: o recalque e
a conversão somática do afeto, a canalização do afeto
separado da idéia para o corpo. (Este afeto é a angústia diante
da ameaça de castração).
o Freud destaca, no histérico, uma antecipação somática, uma
espécie de apelo ao corpo, para que uma representação
recalcada vá nele se alojar.
o A prevalência de uma determinada forma de identificação. Em
geral, há uma dificuldade de definição sexual.
o É como se tudo tivesse uma conotação sexual, menos o que é
efetivamente genital.
HISTERIA Tereza Dubeux

 O corpo que adoece na histeria é o corpo sexuado e este


corpo sofre por se dividir entre a parte genital anestesiada e
atingida por fortes inibições sexuais tais como: a ejaculação
precoce, a frigidez, a impotência, a aversão sexual, entre
outras, e todo o resto não genital do corpo, que aparece
muito erotizado e sujeito a excitações sexuais permanentes.

Esta conversão, no entanto, não é gratuita, ela mantém um


nexo com a vivência traumática sobre a qual incidiu o recalque.

É como se diante da confrontação com o enigma que diz


respeito a quem somos nós, o que nos deixa confrontados com
o vazio, a histérica respondesse defensivamente: “eu sou meu
corpo”, e tentasse a todo custo resolver-se por seu intermédio.
HISTERIA
• Do ponto de vista descritivo, a histeria apresenta uma
entidade clínica definida, com sintomatologias e traços
estruturais próprios. Do ponto de vista relacional, reproduz um
vínculo doentio com o outro que se repete na transferência.

• Inicialmente, Freud formula o problema etiológico da histeria


em termos de quantidade de energia: a histeria deve-se a um
excesso de excitação que não foi descarregada por via verbal,
ou somática, porque a representação psíquica do trauma, ao
ter sido impedida de expressão, torna-se um corpo estranho
que atua no psiquismo.

• O afeto, aderido à idéia, representação inconciliável com o eu,


ganhará outro destino. Tratando-se de uma excitação psíquica,
o afeto não pode ser recalcado, e é convertido em excitação
somática, ou seja, em sintoma corporal.
• O corpo de que se trata nesse caso é aquele cuja função
orgânica foi invadida pela função sexual. O órgão é
destacado da função que lhe é destinada normalmente pela
sua função orgânica, para servir à função que lhe é conferida
pela fantasia.

• Um exemplo é o caso da cegueira histérica em que o olho


pode ver inconscientemente, sendo afetado pelo que estiver
vendo, mas não vê de maneira consciente, apontando
claramente para uma divisão psíquica.

• O excesso de erotização da histérica foi atribuído por Freud


a esse incremento do imaginário que faz com que as zonas
erógenas se multipliquem na sintomatologia histérica e
possam acampar em qualquer local do corpo.
• O que a psicanálise visa mostrar é que qualquer função
orgânica pode ser apropriada para dar expressão a uma
questão psíquica, o que significa ser investida de modo
erógeno, ao modo histérico.

• O analista precisa estar atento não apenas às evidências


fenomenológicas, mas buscar identificar a estrutura defensiva
do sujeito a partir de sua fala, e de seu modo de se endereçar
ao Outro na elaboração de seu discurso.

• Essa investigação da dimensão estrutural da defesa do sujeito


é o eixo que permite ao analista orientar seu trabalho de modo
a se precaver da infinidade de apelos imaginários que buscam
a todo tempo seduzi-lo e confundi-lo.
 As zonas erógenas são localizações no corpo que se revelam
vias prioritárias de expressão sexual, sendo, portanto, vias
fundamentais de intercâmbio com o outro, em que a pele e as
mucosas ganham uma função prevalente.

 É a partir do Outro que a criança é introduzida no universo


sexual. Em sua posição de passividade, a criança vive uma
experiência de sedução primária na qual é despertada para o
prazer pelos cuidados da mãe ou de quem exerce a função
materna.

• Nos próprios cuidados com o bebê, na forma de limpá-lo,


tocá-lo, protegê-lo, abre-se um universo de apelo ao contato e
o corpo do bebê é libidinizado ou erotizado.

• O bebê encontra-se, nesse contexto, em posição de


dependência absoluta, como um objeto oferecido ao Outro,
podendo aparecer como instrumento de seu gozo.
• Essa posição é importante na construção da estrutura
fundamental da fantasia, podendo comprometer a possibilidade
de advir como sujeito. Para Freud, a histeria é uma estrutura
que conjuga três elementos: um arquivo de lembranças, um
núcleo traumático e um fio lógico.

• O problema da histeria é que além de poder configurar


manifestações que se confundem com qualquer quadro clínico,
como esquizofrenia, perversão, depressão, transtornos
bipolares devido a sua plasticidade, ela confunde o próprio
sujeito que as produz, tendo como conseqüência, dificuldades
diagnósticas.

• Freud não nega as dificuldades e sofrimentos que a fixação e


a intensificação de tal defesa pode trazer e, até por isso, se
dispõe a clinicar, porém sem pretensão de extirpar o estilo
defensivo da histérica como a uma má-formação qualquer.
Considera o estilo como uma manifestação subjetiva e extirpá-
la seria suprimir o próprio sujeito, o que seria um contra-senso.
 Segundo Nasio, em seu livro “A Histeria”, é possível observar
três posições permanentes do eu histérico, que fazem parte de
sua dinâmica estrutural, e que aparecem no processo
transferencial: - eu insatisfeito, o eu tristeza e o -
eu histericizante.

 O primeiro estado é de um eu insatisfeito, passivo, em que o


eu está constantemente à espera de receber do Outro, não a
satisfação que completa, mas a não resposta que frustra. É
como se o sujeito buscasse uma insatisfação e o
descontentamento de que tanto se queixa. Este é o seu gozo.

 A histeria é, antes de mais nada, o laço que o neurótico tece


com os outros a partir de suas fantasias. O estado
fantasmático de insatisfação é o que marca toda a vida desse
neurótico, e é, portanto, levado para suas relações. O histérico,
como qualquer sujeito neurótico, é aquele que, sem ter
conhecimento, impõe na relação afetiva com o outro, a lógica
doentia de sua fantasia inconsciente. Uma fantasia em que ele
desempenha o papel de uma vítima infeliz e insatisfeito.
O Eu Insatisfeito
Tereza Dubeux

 A razão disso é clara: o histérico é um ser de medo que, para


atenuar sua angústia, não encontrou outro recurso senão manter
incessantemente, em suas fantasias e em sua vida, o estado de
insatisfação.

 De que ele tem medo? Ele teme o perigo de viver a satisfação


de um gozo máximo. Um gozo tal que, se o vivesse, ele
enlouqueceria. Pouco importa que ele imagine esse gozo
máximo como o gozo do incesto, o sofrimento da morte ou a dor
da agonia.

 O problema consiste em evitar a qualquer preço qualquer


experiência que evoque de perto, ou de longe, um estado de
plena e absoluta satisfação.
O EU TRISTEZA
Tereza Dubeux
 O sujeito histérico não consegue definir sua identificação
como homem nem como mulher, decorrendo daí a tristeza do
eu histérico, correspondente ao vazio e à incerteza de sua
identidade sexual.

 Uma plasticidade singular do seu eu instala o histérico numa


realidade confusa, onde se desenrola o jogo doloroso das
identificações múltiplas e contraditórias com diversos
personagens e ao preço de ele permanecer estranho a sua
própria identidade de ser sexuado.

 A bissexualidade, a dificuldade de identificação com um


modelo prevalente, leva o histérico a questionar “sou homem?”
“sou mulher?” “O que quer uma mulher?” “O que é ser um
homem para uma mulher?” “ O que o homem quer de uma
mulher?”
O EU HISTERICIZANTE Tereza Dubeux

 Histericizar é erotizar qualquer expressão humana por si só,


mesmo que ela não seja de natureza sexual.

 O histérico com toda a inocência, sexualiza tudo o que não é


sexual, qualquer gesto, qualquer palavra, qualquer silêncio que
percebe no outro ou que dirige ao outro.

 A sexualidade histérica não é uma sexualidade genital, é um


simulacro de sexualidade, mais próximo da masturbação e das
brincadeiras sexuais infantis do que de uma verdadeira relação
sexual.

 O histérico emite sinais sexuais levando o outro a crer que


seu verdadeiro desejo é enveredar pelo caminho de um ato
sexual.
O EU HISTERICIZANTE
 No entanto, o que o histérico deseja é que o ato sexual
fracasse: ele se apega ao desejo inconsciente da não
realização do ato e, por conseguinte, ao desejo de
continuar como um ser insatisfeito.

 A fala do histérico é carregada de um sentido sexual,


suscita imagens fantasmáticas, provoca efeitos erógenos
no corpo, mas não realiza nada. A sedução é a forma
privilegiada para a histérica demonstrar seu poder fálico.

 É célebre no senso comum o fato de dizerem que certas


pessoas só pensam “naquilo”, referindo-se àquelas que
interpretam qualquer palavra, qualquer gesto com o sentido
sexual. Por exemplo, logo associam as palavras freudianas
do seu neto em alemão: Fort Da, com a palavra foda em
português.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
Tereza Dubeux
 Em qualquer tipo de histeria a economia do desejo mantém-
se fundamentalmente idêntica. Esta identidade é balizada
segundo índices mais profundos que os sintomas, que
contribuirão para precisar a estrutura: os traços estruturais.

 É preciso distinguir sintomas de traços estruturais: enquanto


os mesmos sintomas podem aparecer em qualquer estrutura,
os traços estruturais são constantes àquela estrutura.

 O primeiro traço da histeria é a alienação subjetiva em


relação ao desejo do outro:

 Na maioria dos casos, os processos de identificação atestam


a alienação subjetiva do histérico em sua relação com o desejo
do outro, especialmente sob a forma dessa sujeição do próprio
desejo ao que se pode supor, até mesmo imaginar, que seja o
desejo do outro.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
Tereza Dubeux
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
 O desejo da mãe se revela à criança como um desejo
inscrito na dimensão do ter e não do ser. A castração
materna evidencia-se ao assumir a falta e o desejo pelo pai
ou por outros objetos.

 Ao tirar a questão do desejo da criança da dimensão de ser


o falo da mãe, o pai conduz a criança para o registro da
castração. O pressentimento da castração é aquilo através
do qual a criança descobre não ser e não ter o falo. Só
assim, o pai tem acesso à função de pai simbólico.

 A passagem do ser para o ter é determinada pela intrusão


paterna: pai imaginário, priva e frustra, na medida em que o
pai é reconhecido pela mãe como aquele que faz a lei. O
pai simbólico favorece ao sujeito se tornar um sujeito
desejante.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA Tereza Dubeux

 Para agradar e tentar preencher o que imagina ser o prazer


do outro, a histérica se engajará de bom grado numa cruzada
de sacrifício, colocando-se a serviço do outro. Anula-se em
função do outro apenas para afirmar a impotência desse outro.

 O sacrifício é feito para que ela seja vista. A histérica procura


mostrar-se através desse outro. Seu caráter de sacrifício é
essa permanente identificação com o falo do outro que, sem
ela, não seria nada.

 A histérica queixa-se de não ter sido amada pela mãe e essa


falta de amor se inscreve num jogo fálico. Por essa razão, a
identidade do histérico é insatisfatória, frágil.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA

• O que quer a histérica? O que ela gostaria é de um saber em


seu inconsciente que viesse ordenar, regular seu próprio
desejo. Quer dizer que ela não agüenta mais estar sempre a
serviço do desejo dos outros; especialmente do desejo dos
mestres. Ela gostaria de ter em seu inconsciente a expressão
de seu próprio desejo.

• Por que a histérica aceita se tornar o objeto capaz de satisfazer


o mestre? Há muitas histéricas que se sacrificam para que o
mestre seja o verdadeiro mestre; para que seus desejos sejam
sempre realizados. Ela deseja reabilitar o pai ideal e onipotente
visando preencher o abismo aberto pela castração materna.
Sustentar o pai como mestre e gozar da mãe possuem o
mesmo valor na sua fantasia fundamental.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA

• Quando a histérica aceita satisfazer o desejo do mestre, o que


ela se torna? Ela se torna o falo; ela se torna o instrumento
com que o mestre sustenta o seu poder, tornando-se, assim,
indispensável ao mestre para que ele possa exercer seu poder.
Quer dizer que é ela quem se torna o mestre de seu mestre.

• Todos nós conhecemos, seja na vida social, seja na família ou


na prática clínica, este dispositivo em que a serva é que é a
patroa, ou a mulher que coordena as ações do homem.

• No entanto, o que a histérica quer é outra coisa: ela quer ter


em seu inconsciente um desejo que seria o desejo específico
da mulher.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
• O que seria um desejo no inconsciente que seria o desejo
específico de uma mulher e que viria organizar sua existência é
uma grande questão contemporânea.

• No momento em que a mulher procura a especificidade da


expressão do seu desejo, ela encontra um modo de expressão
que é viril.

• Lacan dizia que há na mulher um desejo que não é apenas


fálico, mas que há um gozo Outro. No entanto, este gozo Outro
não tem referente, e se não há referente como seria possível
expressar um Outro gozo para a mulher?

• O que seria esse mais gozar da mulher não regulado pela


referência fálica?
A Relação da histérica com o outro sexo Tereza Dubeux

 Na relação com o outro sexo, a histérica busca sempre o


falo no outro. Procura no outro o que ela não tem. Constituir-
se como podendo ser o falo do outro implica a não aceitação
da dimensão da falta, da castração, enfim, da entrada do pai
como representante da lei que regula o gozo.

 Cabe à mãe reconhecer na palavra do pai a única capaz de


mobilizar seu desejo. Essa mobilização do desejo da mãe pelo
pai faz com que criança institua o pai imaginário num lugar
onde ele é depositário do falo, tornando-se, para a histérica,
um pai idealizado.

 A circulação do desejo entre um homem e uma mulher é


suspensa pelo reconhecimento recíproco da castração no
outro.
A Relação da histérica com o outro sexo
 A escolha do parceiro amoroso da histérica é feita com
hesitação e visa a insatisfação do desejo.

 Nesse sentido, a histérica busca um parceiro que reproduza


um pai completo, perfeito, idealizado, que nunca existiu. Na
realidade, tem convicção da imperfeição do parceiro, assim
como tinha das insuficiências paternas.

 O jogo histérico é a questão da conquista do falo que deveria


ter sido solucionada pelo declínio do Édipo.

 Para ter o falo, é preciso ser colocado na posição de não tê-lo,


de confrontar-se com a castração simbólica e aceitá-la. A
possibilidade de ser castrado é essencial na viabilidade de ter o
falo.
A HISTERIA MASCULINA
Tereza Dubeux

 A grande crise da histeria no homem aparece, às vezes, como


um acesso de cólera, que pode significar uma confissão de
impotência sexual transvestida através dessa descarga libidinal.

 Na histeria masculina, a sedução também se constitui como um


suporte privilegiado de uma negociação de amor.

 O histérico oferece seu amor sem se poupar, um amor de


fachada, já que o histérico é incapaz de se engajar, realmente,
com a sedução: deseja ser amado por todos, sem perder nenhum
objeto de amor, o que denota o traço característico da histeria, a
sua insatisfação.

 O histérico tem uma incapacidade de gozar, não consegue


usufruir do que ele tem, faz-se de vítima, lamenta pelo que não
tem.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA MASCULINA
 Quando o histérico consegue obter o que cobiçava no outro,
apressa-se em fracassar. É o fracasso diante do sucesso.

 Pode-se observar uma duplicidade de elementos


incompatíveis: uma tendência ostensiva para mostrar suas
ambições, suas potencialidades e êxitos e outra tendência
vitimista que consiste em imputar à realidade externa o
fracasso da realização dessa tendência primeira.

 É na base dessa inaptidão inconscientemente orquestrada


que se desenvolvem processos de supercompensação, como
o alcoolismo e a toxicomania. O álcool e a droga permitem
assegurar ao histérico uma compensação em seu ser
masculino.

 Trata-se de tentar parecer como um homem, já que o


histérico se queixa de não poder, não conseguir, sê-lo.
A RELAÇÃO COM O OUTRO SEXO
Tereza Dubeux
 A relação com o outro feminino é alienada através da
representação da mulher como uma mulher idealizada e
inacessível. Desenvolve comportamentos de evitação de
contatos sexuais com a mulher, instituindo manifestações
sintomáticas: de natureza perversa, como a encenação
homossexual e o exibicionismo, encenação do próprio corpo
(fisiculturismo); além de outras manifestações, como a
impotência, a ejaculação precoce, ou a impossibilidade de gozar
com a penetração (o coito interrompido).

 O desejo da mulher é interpretado como uma injunção para dar


prova de sua virilidade. O histérico confunde desejo e virilidade.
Na relação desejante com a mulher, ele sente necessidade de
ter o que ele imagina que a mulher demanda: o falo. Como não
se sente possuidor desse objeto, responde à mulher com a
impotência.
A RELAÇÃO COM O OUTRO SEXO
Tereza Dubeux

 A impotência pode ser vista como uma resposta à demanda


inconsciente da mãe. Este sintoma se revela, portanto, como
uma solução de compromisso, um acordo sintomático, entre
aquilo através do que a mulher pode gozar e a fidelidade à mãe.

 A ejaculação precoce dá testemunho da ameaça que o


histérico sente diante do gozo feminino. Para ele, há um perigo
imaginário na concretização do ato sexual com a mulher.

 Quanto mais ele se assegura de que o gozo da mulher não


pode resistir ao poder fálico, mais ele se instala na posição de
quem não o tem e gozará cada vez mais de modo precoce.

 Inconscientemente, identifica-se com a parceira feminina e


goza com a ejaculação precoce, como imagina que uma mulher
goza ao sucumbir ao poder fálico.
A Histeria depois de Freud
 É possível identificar uma economia geral da histeria que
evidencia duas formas clínicas paradoxais: a depressiva, em
que o sujeito vive como um estranho ao mundo e recusa toda
afirmação, assim como todo engajamento.

 Uma outra, uma forma ativa, na qual o sujeito faz de seu


sacrifício o sinal de uma escolha. A histérica pode, então, se
dedicar a rivalizar com os homens, substituí-los quando forem
demasiadamente medíocres, se fazer de homem não castrado,
à imagem do pai idealizado.

 Assim, ela fica apta a sustentar todos os discursos


constitutivos do laço social, porém marcados pela paixão
histérica, procurando fazer valê-lo para todos os outros. A
histeria masculina depende dos mesmos discursos, economia e
ética que a feminina. Caracteriza-se pela escolha de se dispor
do lado das mulheres, e de cumprir sua virilidade pelas vias da
sedução, como uma criatura excepcional e enigmática.
A Histeria depois de Freud
• Masculina ou feminina, a paixão histérica se sustenta na culpa
com a qual o sujeito se sobrecarrega, quando se acusa de ser
responsável pela castração e assim romper a harmonia do
universo. Torna-se responsável pela impossível adesão
natural dos homens e das mulheres, a partir do momento em
que são homens e mulheres pelo fato da linguagem.

• A histeria tem como meta, em certos casos, reabilitar o pai que


ocupa o lugar do Outro, mas numa posição de fraqueza, em
que ele próprio não é reconhecido, não tem força suficiente
em sua voz para fazer valer a sua lei.

• A histérica trabalha para a reabilitação desse pai que lhe falta


no campo do Outro, visando dar a ele a expressão de sua
plena potência, de sua autoridade e, assim, de algum modo
curá-lo. Trata-se para a histérica de salvar o pai a fim de que
ele seja capaz de garantir a universalidade de seu campo: de
garantir o lugar do não-todo castrado, como representante da
lei simbólica.
A Histeria depois de Freud
• Freud, ao afastar radicalmente a interpretação clássica da
medicina, sobre a histeria como uma mera simulação, afirma a
origem psíquica da histeria, pois a interpreta como ligada a
uma retenção de uma excitação sexual que não encontrou um
livre escoamento.

• Essa retenção está ligada, por outro lado, à recusa da mulher


em reconhecer essa excitação, em respeitá-la e, portanto, em
admiti-la, dando-lhe um destino conveniente.

• É interessante observar a distinção, ou a falsa simetria,


existente entre o desejo sexual do homem e a demanda que
aparece no sintoma histérico. O que é visado pelo desejo do
homem, permanece enigmático para a mulher. Por essa razão
uma mulher o devolve facilmente àquele que lhe manifesta
interesse: “ O que ele quer de mim? O que eu tenho que ele
quer de mim?”
A HISTERIA DEPOIS DE FREUD

• Daí ser esse desejo dialetizado, ao passo que a demanda, tal


como ela se exprime por ocasião do sintoma histérico, é direta,
imediata, imperiosa e delineia sem nenhum rodeio o objeto
visado.

• É neste ponto que esse tipo de demanda feminina se aparenta


com a pulsão, ao se apresentar como algo que vindo do corpo
não suporta nem controle, nem dialetização, exige apenas
satisfação.

• Esse sintoma histérico se manifesta de tal forma que a mulher se


apresenta como transbordada por ele, ou seja, à sua revelia o id
demanda nela, ela assiste à sua própria demanda, e é aí que se
pode inserir esse sintoma histérico que sempre intrigou os
médicos: “a bela indiferença histérica”.

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