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A ESTRUTURA NEURÓTICA

Concepção Freudiana da Neurose


 Freud começa a conceber a neurose através de sua
teoria da sedução na qual as pacientes histéricas, em
geral as mulheres, teriam sofrido abusos sexuais
reais na infância, por parte de adultos: pais, tios,
babás, etc.

 Após ter abandonado a teoria da sedução, em 1897,


a neurose tornou-se, para ele, uma doença ligada a
um conflito psíquico inconsciente, de origem infantil
e dotado de uma causa sexual. Resulta de um
mecanismo de defesa contra a angústia decorrente
de excitações sexuais excessivas e enigmáticas.
Trata-se de uma formação de compromisso entre a
defesa e a iminente realização de um desejo sexual
inconsciente.

 A partir de 1894, Freud adotou o termo psiconeurose,


que abandonaria depois de seu encontro com
Charcot, para ampliar a definição de neurose.
Concepção Freudiana da Neurose
 Freud começou então a definir a histeria como uma
neurose. Ele desvinculou definitivamente a histeria
da presunção de sua origem uterina, associando-lhe a
uma etiologia sexual e a um enraizamento no
inconsciente.

 A partir daí, e após a publicação dos Estudos sobre a


Histeria, em 1895 , a histeria, no sentido freudiano,
tornou-se o protótipo para o discurso psicanalítico,
da neurose como tal.

 A neurose passou, então, a ser definida como uma


doença nervosa na qual um trauma, de origem
psíquica, intervinha.
Concepção Freudiana da Neurose
 A neurose decorria de duas atitudes psíquicas
provenientes da clivagem do sujeito:
um conflito entre o eu e o id: a coexistência de uma
atitude que representaria a exigência pulsional, (do id),
com outra exigência,(do ego) que leva em conta a
realidade, procurando limitar as tendências da pulsão.

 Já na psicose, há uma perturbação entre o eu e o


mundo externo, que se traduz na produção de uma
realidade delirante e alucinatória (o surto psicótico),
visando reconstruir uma pseudo - realidade.

 Freud completa sua concepção estrutural ao introduzir


um terceiro elemento: a perversão. Ele caracterizou
como uma expressão bruta e não recalcada da
sexualidade infantil ( perversa polimorfa), pela
utilização do mecanismo de defesa, o desmentido da
castração, da diferença sexual, com a fixação na
sexualidade infantil.
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose

 Depois de estabelecer a etiologia sexual das neuroses,


Freud tentou distingui-las, de acordo com seus
aspectos clínicos e seus mecanismos específicos. De
um lado, situa a neurastenia e a neurose de angústia,
cujos sintomas se originam diretamente da vida sexual
atual.

 A neurastenia estaria ligada a um modo de satisfação


sexual inadequado, como a masturbação ou o coito
interrompido, e a neurose de angústia, à ausência de
satisfação e, conseqüentemente, uma excitabilidade
nervosa.

 Essas neuroses foram denominadas de neuroses atuais


e não seriam da alçada do tratamento psicanalítico.
Tratavam-se de neuroses em que o conflito provinha
da atualidade do sujeito e não de sua história infantil e
nas quais o sintoma não se manifestaria de maneira
simbolizada.
O QUE É NEUROSE ?
 Neurose é um modo de defesa contra a castração pela
fixação em um argumento edipiano. A neurose é uma
maneira imprópria que o sujeito emprega para se opor
a um gozo inconsciente e perigoso.

 Na neurose, os sintomas são a expressão simbólica que


tem raízes na história infantil do sujeito e constitui uma
solução de compromisso entre o desejo e a defesa. Por
exemplo, através do recalque, separa a idéia do afeto,
dando diferentes destinos ao afeto, de acordo com a
forma neurótica prevalente.

 O termo neurose tem variado bastante. Atualmente,


tende a ser reservado para: a neurose obsessiva, a
histeria e a histeria de angústia. Essas três neuroses
podem se definir segundo o modo particular que o eu
tem de se defender, três maneiras inadequadas de lutar
contra o gozo intolerável e, por conseguinte, três
modos diferentes de viver a própria neurose.
O QUE É NEUROSE ?
NEUROSE OBSESSIVA:
É um modo de sofrer conscientemente no
pensamento, isto é, deslocar o gozo inconsciente e
intolerável para um sofrimento de pensar.

FOBIA OU HISTERIA DE ANGÚSTIA


Implica sofrer conscientemente com o mundo que o
cerca, isto é, projetar para o mundo externo o gozo
inconsciente e intolerável e cristalizá-lo num
elemento do ambiente externo, então transformado
num objeto fóbico.

HISTERIA
Implica sofrer conscientemente no corpo, ou seja,
converter o gozo inconsciente e intolerável num
sofrimento corporal.
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
 A angústia de castração, para Lacan, indicaria que a
operação normativa, que é a simbolização da
castração, não teria sido completamente realizada. A
simbolização se realiza através do Édipo.

 A castração, isto é, a perda do objeto perfeitamente


satisfatório, é determinada pela linguagem, e o que
permite simbolizá-la é o Édipo, ao atribuí-la a uma
exigência do pai em relação a todos nós, (a função
paterna simbólica). Sendo simbolizada a castração,
habitualmente persiste uma fixação no pai, que é
nosso modo comum de normalidade. É o que o termo
sintoma significa na concepção lacaniana.

 Não sendo a neurose o sintoma, quais são os fatores


que tornam o Édipo neurotizante?
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
 Lacan afirma que o patogênico é a discordância entre
aquilo que o sujeito percebe do pai real e a função
paterna simbólica. O problema é que esse tipo de
discordância é inevitável, sendo, pois perigoso atribuir
a neurose ao sofrimento que os pais causaram, ou não,
à criança.

 Charles Melman insiste na importância da história na


constituição da neurose. Sugere a existência de uma
rejeição em aceitar a perda do objeto, que, portanto,
se vê atribuída não a uma exigência do pai, mas a uma
história considerada original e exclusiva, o que não
corresponde necessariamente à realidade: falta de
amor materno, impotência do pai real, trauma sexual,
nascimento de um irmão ou de uma irmã, etc.
A Perspectiva Lacaniana da Neurose

 No lugar em que o mito edipiano, mito coletivo, subjaz


uma promessa, o mito individual do neurótico pereniza
um dano. Se existir a fixação ao pai, ela se deve à
queixa que lhe é dirigida para que repare esse dano.

 Assim, não é apenas ao pai e à mãe que o neurótico


permanece apegado; é, mais amplamente, a uma
situação organizada por seu mito individual.

 Essa situação é estruturada como um argumento que


irá se repetir durante toda a sua vida, impondo a ele
suas estereotipias e seus fracassos, nas diversas
circunstâncias que irão se apresentar.
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
 Estar preso a um argumento é característico da
neurose. Na psicose, não existe drama edipiano que
possa ser representado. Na fobia, momento anterior à
neurose, existe a repetição de um idêntico, que é o
elemento da fobia, mas ele não se inscreve em um
argumento. Quanto à perversão, ela se caracteriza por
uma montagem imutável, que tem por finalidade dar
acesso ao objeto, e que não atribui lugar nem à
história, nem a personagens específicos.

 Assim, é possível concluir que o real instalado na


infância irá servir de modelo para todas as situações
futuras, apresentando-se à vida como um sonho
submetido à lei do coração e ao desprezo pela
realidade forçosamente diferente, sendo o conflito
sempre o de antigamente.
A Perspectica Lacaniana da Neurose
 O ponto fundamental, devido às suas
conseqüências clínicas, é que o argumento
termina em fracasso, pois a maneira pela
qual o neurótico aborda a realidade mostra
que ele reproduz, sem modificá-la, a
situação do fracasso original.

 Que significação atribuir a essa repetição


do fracasso? Seria a de finalmente obter
uma perfeita apreensão do objeto, ou, ao
contrário, a de fazer com que sua perda
seja definitiva? A posição neurótica oscila
entre essas duas intenções opostas.
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
 É na relação com o Outro que o neurótico
adquire a sua estrutura, apesar da grande
predominância da relação narcisista nas
neuroses.

 O Édipo propõe um pacto simbólico. Por


meio da renúncia a um certo gozo, o
sujeito pode ter acesso lícito ao gozo
fálico. As condições do pacto são bem
estabelecidas para o futuro neurótico, mas
ele não irá renunciar completamente a
este tipo de gozo e nem a se pretender
não castrado.
A Perspectiva Lacaniana das Neuroses
 O neurótico desejaria ser à imagem desse
Pai: sem falha, não castrado; é por isso
que Lacan diz que o neurótico tem um eu
forte, um eu que, com todas as suas
forças, nega a castração que sofreu.

 Apesar da contradição com o termo eu


fraco empregado por Freud, Lacan
concorda com o que ele formula no final de
sua obra, a respeito do rochedo da
castração, que nada mais é do que a não
admissão da castração.
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
 Ao defender-se da castração, o neurótico
continua temendo-a, enquanto uma
ameaça imaginária, sem nunca saber bem
ao que pode ser autorizado - quer se trate
de sua palavra ou de seu gozo – mantém
suas limitações.

 A psicanálise, que não está a serviço da


moral ordinária (de inspiração edipiana e
preconizando a lei paterna), deve permitir
que o sujeito se interrogue tanto sobre a
escolha do gozo que fez, como a respeito
da existência do Outro.

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