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Centro Universitário do Distrito Federal – UDF

Psicologia

Elem Carime da Silva Aureliano


RGM:26532298

Estudo de Caso Freud – Presidente Schreber

Disciplina: Teoria da Personalidade I (3/N1)

Brasília – DF
2022
Estudo de Caso Freud – Presidente Schreber

Ao realizar o estudo de caso sobre Schreber segundo a visão da teoria


psicanalítica de Freud, observa-se de forma sucinta que Daniel Paul Schreber
nascido no ano de 1842 na cidade de Leipzing, filho de pedagogos/educadores
teve uma infância rígida coordenada entre a educação no lar e na escola. Seu
pai, o médico Dr. Daniel Gottlob Moritz Schreber, exerceu lhe relevante influência
social duradoura ao introduzir a cultura física e o trabalho manual visando a
elevação dos padrões de saúde. Este era considerado um profissional muito
respeitado tratando dos mais eminentes homens da sociedade.

Casado, o juiz apresentava frustração por não poder ter filhos, apesar
disso, tinha uma vida próspera e feliz. Era um homem responsável e bem
sucedido. Mas, foi no ano de 1884 que sua primeira doença começou. Segundo
Dr.Flechsig, diretor Psiquiatra da Universidade de Leipzing, tratava-se de um
distúrbio caracterizado por uma crise grave de hipocondria de quem recebeu alta
seis meses depois. Um certo período de tranquilidade pairou na vida do jurista
por oito anos, apesar disso alguns sonhos de retorno da sua enfermidade o
perturbaram juntamente a ideia de que poderia ser muito bom ser mulher e poder
submeter-se ao ato de cúpula. A segunda doença manifestou-se em 1893,
mesmo ano em que assumiu o cargo de juiz-presidente na corte de apelação na
cidade de Leipzig, caracterizada por uma torturante insônia, o que o forçou a
retornar à clínica Flechsing. No início de sua internação apresentava ideias
hipocondríacas, queixava-se de ter amolecimento do cérebro e afirmava que
morreria cedo. As ideias de perseguição, ilusões visuais vieram em seguida
juntamente com ilusões sensoriais e intensa sensibilidade a luz. Sentia-se
intensamente torturado e ansiava pela própria morte. Entre tais alucinações
começou a manifestar novos sinais de distúrbio manifestando a crença delirante
da emasculação, bem como a ideia de que ao tornar-se a mulher de Deus traria
a redenção ao mundo.

Tal caso se destaca pela publicação autobiográfica realizada por Schreber


que apesar de sua instabilidade emocional manteve seu lado cognitivo
consciente para sublimar suas experiências. Em seu livro Memórias de um
doente dos nervos, Daniel conseguiu registrar argumentos que validaram o seu
desejo de retornar ao convívio social diante do tribunal podendo assim, viver
livremente por um tempo sem interferência legal. É a partir dessa obra que Freud
constrói sua teorização.

Dentro de uma visão cíclica e entrelaçada, pode-se identificar nesse livro


autobiográfico conceitos presentes na obra freudiana. Segundo o psicanalista, o
desequilíbrio de Schreber expressa mecanismos de defesa do autor contra sua
libido homossexual. Sua revolta contra Deus por querer “se aproveitar de forma
libidinosa de seu corpo - se liga com a figura de seu pai e a sua
homossexualidade recalcada. Sendo isso a base do delírio, onde o amor é
transformado em ódio servindo de combustível para o surgimento paranoico, o
jurista desenvolve a ideia fixa de que seria o único capaz de originar uma nova
raça de homens por meio de um processo de fecundação direta de Deus após a
sua emasculação. Sua essencialidade caracteriza sua visão narcisista que o traz
como único meio pelo qual a humanidade alcançaria um estado de beatitude.

No que diz respeito aos níveis da vida mental, segundo Freud nas
relações ocultas existentes entre os atos conscientes, existe uma divisão
topográfica da mente. Nela, ele delimita três níveis mentais ou instâncias
mentais: consciente; pré-consciente; inconsciente. Tais níveis podem ser
observados concomitantemente diante da análise biográfica que descreve ações
por parte de Daniel, onde apesar de seus momentos de falta de lucidez, o mesmo
consegue acessar em seus níveis consciente e pré-consciente informações que
respondem pelo aspecto racional relacionando-se com o mundo exterior, ou
seja, a organização argumentativa do paciente consegue visualizar nas leis
jurídicas pontos que justifiquem sua liberação do tratamento psiquiátrico.

Em contrapartida, observa-se o elemento inconsciente aflorado, pois


apesar de estar consciente de seus comportamentos explícitos, o paciente não
mantinha a consciência dos processos mentais que estavam por trás deles visto
que o inconsciente não está disponível para a mente consciente. Os sonhos
onde Schreber se via atingido novamente pelo distúrbio nervoso entre suas duas
primeiras internações, expressam, por exemplo, o conteúdo que estava
armazenado no seu inconsciente.

É na instância da mente que se encontra a luta travada entre o id, Ego e


Superego onde os impulsos de desejos do id na buscar do prazer são quase que
constantemente ilógicos e podem apresentar ideias incompatíveis que não
condizem com a moralidade. Aqui visualiza-se a teoria da sexualidade que
estabelece o homossexualismo como o resultado da impossibilidade da
satisfação heterossexual normal. Nessa dicotomia, nota-se que o ego
constantemente tenta ponderar os desejos irracionais do id e do superego com
as demandas realistas do mundo externo caracterizado por uma vida social bem
sucedida e amplo conhecimento jurista.

Segundo Freud, naturalmente, as pessoas sentem-se motivadas a buscar


o prazer e a reduzir a tensão. Tal motivação é constituída a partir da energia
psíquica e física que se origina dos impulsos primitivos do ser humano. Tais
impulsos podem ser agrupados sob dois títulos: sexo, ou Eros; e agressividade,
destruição ou Tanates. Estes, tem origem no id, mas ficam sob o controle do ego
que entra em contato com o mundo interior e estabelece as ponderações. A libido
ou a agressividade são manifestados na busca de equilibrar a ansiedade que
insiste em associar-se a um objeto que sacie o desejo muitas vezes repreendidos
pela noção de moralidade do superego. Nessa perspectiva entende-se que
Schreber invoca tais instintos de prazer e por vezes desejou de forma violenta
acabar com sua própria vida utilizando-se do impulso destrutivo como reação a
fortes impulsos hostis.

A partir da análise do relato autobiográfico de paranoia de Schreber, Freud


propôs que sua doença era expressão de um mecanismo de defesa do sujeito
contra sua libido homossexual. Ele também estabeleceu a projeção como
mecanismo característico da paranoia e sustentou ser o delírio uma tentativa de
cura da ruptura psíquica na psicose, feita pelo doente. Sua tese se fundamentava
no seu próprio modelo teórico para as psiconeuroses, baseado nos conceitos de
fixação, recalque e retorno do recalcado na forma de sintomas. A bissexualidade
inata do ser humano defendida por Freud em seus Três ensaios sobre a teoria
da sexualidade (1905), é o ponto inicial de sua construção, que estabelece o
homossexualismo como o resultado da impossibilidade da satisfação
heterossexual normal. O seu antigo conceito de “divisão do ego” secundário aos
mecanismos de defesa contra o recalque é aqui identificado. Após recalcada, a
libido homossexual retornaria com a falência das defesas e o ego defender-se-
ia novamente com o desenvolvimento da paranoia, através de seu mecanismo
de projeção, manifestado pelos delírios de perseguição e de ciúme, por
erotomania e por megalomania. Esta reflete a fixação da libido no próprio ego e
revela dinamicamente a regressão da homossexualidade sublimada ao
narcisismo. Narcisismo esse, que por mais de uma vez foi transparecido na
autobiografia de Schreber onde sua essencialidade e superioridade o fizeram
crer que seu sacrifício de emasculação seria o único meio de alcance de
redenção pela humanidade e que só ele teria condições de suportá-lo.

Tal figura paterna posteriormente teria considerável relevância ao


processo patológico de Daniel que se utilizou do processo de projeção durante
seus delírios enquanto em surto psicótico. O paciente projetou sua figura de seu
pai primeiramente no Dr. Flechsig e posteriormente em Deus. Seu pai era um
médico bem sucedido comparado à Deus o qual tinha o poder da cura e milagres.
Ser um médico bem conceituado agregava de certa forma a seu pai, a figura de
alguém com poderes curadores e digno de milagres. Dentro dessa ótica pode-
se também citar o complexo de Édipo e o complexo de castração evidentes na
figura do juiz que sofreu de seu pai repressão na infância.

Tal repressão trouxe consigo na fase adulta a fixação como mecanismo


de defesa do ego. O paciente em sua fixou-se na fase anal clinicamente
manifestada segundo Schreber na evacuação os elementos de seu ser que se
encontram reunidos, sem exceção. Portanto, a evacuação faz frente à dispersão
trazendo alívio. No ato de evacuar Schreber tenta reunir os elementos de seu
ser naquilo que sai de seu corpo, as fezes. Acredita-se que o excremento
liberado pelo paciente teria a função de órgão condensador de gozo, separado
do corpo e meio de eliminar suas dores sofridas durante seu processo de
emasculação.
O presente estudo de caso traz consigo a tipificação das ideias elaboradas
por Freud bem como a possibilidade de aquisição de conhecimento de noções
teóricas da psicologia que consiste em constante aprimoramento. A riqueza de
conteúdo atrelada ao fato de compreender a fala de um paciente em processo
da doença deram ao leitor, e principalmente ao psicanalista Freud, a dimensão
do sofrimento daqueles que reprimem seus impulsos baseados nas normas
morais e que de alguma maneira manifestam suas angústias e traumas criando
uma realidade paralela na qual conseguem amenizar suas dores da alma. É por
meio da análise dos quadros que se consiste na elaboração de teorias e não o
contrário.
Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund – “Notas Psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de


paranóia”, 1911 in Obras Completas de Sigmund Freud, vol XIII. Amorrortu editores,
Argentina.

FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. São Paulo: Editora


Harbra Ltda, 1986.

_______________ “Introdução ao Narcisismo”, 1914 in Obras Completas de Sigmund


Freud, vol XIV. Amorrortu editores, Argentina.

_______________ “História de uma neurose infantil (O “Homem dos Lobos”)”, 1918 in


Obras Completas de Sigmund Freud, vol XII. Amorrortu editores, Argentina.

Ciência psicológica Michael Gazzaniga, Todd Heatherton, Diane Halpern ;


tradução: Maiza Ritomy Ide, Sandra Maria Mallmann da Rosa, Soraya Imon de Oliveira
; revisão técnica: Antônio Jaeger. – 5. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2018.

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