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Centro Universitário do Distrito Federal – UDF

Psicologia

Elem Carime da Silva Aureliano

RGM:26532298

Estudo de Caso Jung - Religiosidade e problemas com o álcool: um estudo de caso.

Disciplina: Teoria da Personalidade I (3/N1)

Professor: Rui Teixeira

Brasília – DF

2022
Estudo de caso Jung

Para Jung o conceito de religiosidade se forma preponderantemente a partir de dois


fatores: numen e religio. Segundo Rudolf Otto, numen seria uma qualidade especificamente
relacionada ao sagrado que desperta efeitos como reverência, fascínio e medo. Dessa
forma, religião ou religiosidade estariam diretamente relacionadas a processos que
dinamicamente influenciam a consciência e experiência humana.
O conceito de libido de Jung também se retrata na religiosidade por meio de dois
sentidos. O primeiro demanda que o caráter numinoso depende diretamente de uma intensa
carga libidinal, portanto pelo arquétipo e o segundo remete à simbologia na qual a libido
pode ser transformada, como por exemplo ritos, mitos e cultos.
Nessa transformação da libido instintiva em manifestação cultural, Jung apresenta
uma função religiosa natural do self como centro da personalidade global que busca na
concretização simbólica a realização do self. Um arquétipo que vai de encontro à auto
realização dentro de um ideal de perfeição, completude e equilíbrio pleno que se materializa
em figuras deificadas.
Dentro da visão trazida pelo autor no texto, o alcoolismo é apresentado no modelo
segundo Heather de problem drinking (1980, 1999) onde os fatores condicionantes a esse
problema com o álcool são colocados de forma particular e individualizada, ou seja não
constituem regra essencial ao seu início ou aumento considerável. Tal fato não pode ser
considerado estritamente por uma vertente biológica, pois traz em si, fatores socioculturais
concretos.
Dentro da visão analítica de Jung o álcool é visto por aquele que o consome como
um fascínio irresistível que se aproxima intimamente do caráter religioso, na medida em que
caracteriza sistemas simbólicos, os quais de forma concreta representam arquétipos que
apesar de serem negativos, conseguem personificar o homem em sua cultura por meio de
uma certa compensação unilateral.
De acordo com Marlon Xavier o sujeito tomado como estudo de caso é descrito
como do gênero masculino, com idade de cinquenta anos,nomeado como "O''. Este, teve ao
longo de sua vida vários problemas físicos. Enxaquecas, tuberculose, hepatite e outros são
apresentadas e associadas ao constante uso de medicamentos que configuram um círculo
vicioso caracterizado por uma retroalimentação. Ao consumir álcool, O. agravou seus
problemas físicos e consequentemente se via na necessidade em aumentar o consumo de
medicações que diminuíssem suas dores. Há também o relato de acompanhamento
psicoterapêutico, o qual trouxe para o personagem a diminuição considerável do uso do
álcool.
Segundo o autor,na tentativa de abranger a totalidade da psique, nesse caso em
questão, foram utilizadas principalmente as narrativas biográficas ou relatos do paciente e a
análise dos sonhos. As narrativas constituem a parte de compreensão consciente, já os
sonhos verificam o significado inconsciente que o sujeito constrói com relação a sua
religiosidade e alcoolismo de forma ampla.
No que diz respeito à religião o sujeito a aborda de diferentes formas dentro da visão
junguiana. Sua narrativa condensa as três principais: a referida ao consciente - o
espiritismo, a dionisíaca referente ao inconsciente e o religio que contempla e expande as
anteriores. De forma mais detalhada, pode-se dizer que o primeiro caracteriza a fé expressa
na razão e no autoconhecimento; este busca no ideal de conhecer-se a si mesmo,
manter-se em harmonia consigo e com o mundo. Em seguida, a fé é vista como agente
incentivador à concretização de objetivos determinados formando uma rede influenciadora
que alimenta atitudes modestas, otimistas que respeita limites e promove sentido a
quaisquer problemas sejam eles causados pelo alcoolismo ou em relação à própria vida.
(autoconhecimento)
Já no que diz respeito à dionisíaca, encontra-se na figura de Dionísio - Deus grego a
manifestação do subconsciente - a manifestação dos desejos de forma simbólica trazendo
em seus arquétipos mensagens subliminares que poderiam ser expressas pelo teatro, mas
se expõem por meio do alcoolismo como forma compensatória.
Com relação ao relígio de forma ampla, dispensa-se a ideia de divindades e
focalizam-se em papéis de desenvolvimento de valores morais, códigos de conduta e
senso cooperativo em uma visão social sociológica. Na religião também está o que
corresponde ao sentido da vida como uma força motriz que reúne todos os fatores e faz
com que O. busque a sua individuação construindo sentido à sua vida e gerando forças
para afastar-se do álcool.
É na infância de O. que se encontra, de certa forma, a essência da busca de
compensação constante. Esse período inicial da vida foi marcado pela supressão dos
sentimentos que se escondiam atrás de um mundo militar sem liberdade de expressar
emoções. Nesse cenário, observa-se que ao negar o reconhecimento à totalidade do
arquétipo o ego que compreende o centro da consciência enquanto personalidade,
apresenta-se de forma coercitiva, ou seja, o álcool é personagem principal diante da
compulsão automática que se manifesta negando as emoções. Tal coerção se desfaz pela
consciência no momento em que aceita-se a totalidade do dionísico que passa a ser visto
como busca de aceitação a espiritualidade, sexualidade e manifestação artística.
De acordo com as ideias apontadas por Heather pode -se encontrar na carta escrita
por Jung ao fundador do AA, Willian G Wilson no ano de 1961 sobre Roland H., a ideia de
que a chave para entender o alcoolismo está na noção de dependência. Ou seja, quando
uma pessoa depende de algo, é dependente. O que nos faz entender que sem a
substância, esta se sentirá mal e pensará que precisa dela de forma constante. Nesse
sentido podemos entender a frase de Jung na carta: “Sua fixação ao álcool era o
equivalente, num grau inferior, da sede espiritual do nosso ser pela totalidade expressa em
linguagem medieval, pela união com Deus”. Em outras palavras, a necessidade de tomar o
álcool (que em latim é spiritus) visa a preencher uma falta, um vazio. É uma busca, ainda
que tortuosa, de uma saída. Uma forma de expressar sentimentos que foram de alguma
forma reprimidos em razão de se apresentar à sociedade uma persona que reprime o self e
nos deixa dependentes das expectativas daqueles que nos cercam. Resultado desse
desequilíbrio.
Referências Bibliográficas

XAVIER, Marlon. Religiosidade e problemas com o Álcool: um estudo de caso.


Psicologia, Ciência e Profissão, Santa Catarina, volume único, 25, p. (88 - 99),
Março, 2005.

JUNG, C.G. – Psicologia e Religião. Rio de Janeiro: Editora Zahar Editores, 1965.

FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. São Paulo: Editora Harbra
Ltda, 1986.

FEIST, Jess; FEIST, Gregory J.; ROBERTS, Tomi-Ann. Teorias da Personalidade. 8ª


Edição. Porto Alegre: AMGH, 2015.

Ciência psicológica Michael Gazzaniga, Todd Heatherton, Diane Halpern ; tradução:


Maiza Ritomy Ide, Sandra Maria Mallmann da Rosa, Soraya Imon de Oliveira ; revisão
técnica: Antônio Jaeger. – 5. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2018.

JUNG, C.G.; Orth, Edgar. Cartas de C. G. Jung. Volume I - 1906-1945.1ª Edição. São
Paulo:Editora Vozes, 2018

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