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UNIVERSIDADE SÃO TOMÁS DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE ÉTICA E CIÊNCIAS HUMANAS

Novela

Psicanálise (Religião e Fé)

Introdução a psicologia

Docente:

Maputo, Abril de 2023


1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, observa-se a religião como um aspecto que
sempre esteve presente nas relações, propiciando trocas fecundas e revitalizando questões
antigas e actuais, que ao desenvolver-se assumiu diferentes formas nas mais variadas
culturas.
A psicologia da religião surgiu também a partir dessa necessidade de compreender o
homo religiosus que habita em cada um de nós, permeando nossa psique e seus elementos: o
consciente, o inconsciente e suas manifestações. Essa vertente da psicologia surgiu com
William James no início do século XIX: “James atribuía à natureza humana a capacidade de
entrar em comunhão directa com o divino por um sentimento de peculiar solenidade e
intensidade, denominada experiência religiosa, DIAS, (2017, p.102).

A religião, ao contrário do que se esperou, não desapareceu em nosso tempo, mesmo


em um mundo profundamente tecnológico e científico, em uma aldeia global de realidade
virtual, a multiplicação e o renascimento das crenças religiosas se dão em todos os aspectos e
camadas humanas. Nesta pluralidade conceitual, marca também de nossos dias, comummente
a religião é definida a partir de sua origem etimológica. O vocábulo latino religare, que tem
como tradução o verbo português religar, apesar de significantemente não fugir de uma
correcta proposição, pode revelar além desta um valor intrínseco maior.

Actualmente, religiões que colocam a ênfase na crença, enquanto outras destacam a


prática; há aquelas que focam em uma experiência subjectiva, enquanto outras propõem
como importante, o desenvolvimento de actividades na comunidade; algumas religiões se
apresentam como universais, afirmando suas leis e cosmologia como válidas ou obrigatórias
à todas as pessoas, outras ainda se colocam como prática a um grupo definido ou localizado.
Além disso, as relações religiosas estão associadas a várias instituições públicas, como
escolas, hospitais, famílias, governos e hierarquias políticas.

Pode-se, portanto, aprofundar na questão da estrutura da fé como condição geradora


do sujeito, principalmente o 3 “sujeito-psicanalítico”, será preciso conhecer os determinantes
que sustentam o pilar da cristandade. Os escritos bíblicos nos dão uma definição do que seria
fé:
1.1. Objectivos

1.1.1Geral
Abordar sobre Psicanálise (Religião e Fé).

1.1.2. Específicos
 Definir os principais conceitos do tema;
 Compreender sobre as teorias de Psicanálise (Religião e Fé).

2. Metodologia

2.1. Instrumentos e técnicas para a recolha de informação

Relativamente a pesquisa exploratória Rodrigues (2007,afirma que são finalidades de


uma pesquisa exploratória, sobretudo quando bibliográfica, proporcionar maiores
informações sobre determinado assunto.

 Pesquisa Documental:

Segundo Gil (2000), é muito semelhante à pesquisa bibliográfica. A diferença


essencial entre ambas está na natureza das fontes: enquanto a bibliográfica se utiliza
fundamentalmente das contribuições de diversos autores, a documental vale-se de materiais
que não receberam, ainda, um tratamento analítico, podendo ser reelaboradas de acordo com
os objectos da pesquisa.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. Religião

No que tange aos processos religiosos é preciso se compreender como ele se


desenvolve através do tempo no contexto psíquico do homem, quais suas influências, suas
relações com o desenvolvimento da personalidade e suas manifestações exteriores a essa
psique activa e inconstante, que se alimenta de processos psíquicos energéticos e fugazes, os
quais o homem só pode manifesta-los e representa-los através de uma linguagem simbólica e,
muitas das vezes, universal.

Segundo JUNQUEIRA, (2008, p.33), a religiosidade põe em questão todos os níveis


da consciência particular uma intenção de referência a uma realidade maios, humana, em
invisível e numinosa, da qual depende a opção fundante do se e do viver.

Podemos dizer que a religiosidade por meio de seus dogmas e de suas crenças,
direcciona o homem a crer na existência de um ser superior, que está além de todas as forças
do universo, também contribui com este estudo, ao dizer que “A religiosidade se expressa em
atitudes e práticas rituais, baseia-se na fraternidade, na compaixão e na unidade cósmica
enraizada em Deus”. Sendo assim, a religiosidade não se dá apenas por meio de
comportamentos religiosos, como já foi dito anteriormente, mas acima de tudo, o ser humano
enquanto ser religioso necessita estabelecer uma relação de amor entre si, e com o que o liga
ao transcendente, Holanda 2006, (p.27)

Descreve a religiosidade como um “sentimento universal” que se manifesta no ser


humano, a partir do momento em que se constitui uma conexão com aquilo que ele próprio
entende como sendo sagrado. Sendo assim, o sagrado pode se manifestar de formas distintas.
Entretanto, é pertinente dizermos que a religiosidade se faz presente em todos os povos,
independente de credo, crenças ou religiões, pois ela tende a ser algo pessoal existente em
cada ser humano. Salgado (2006).

3.2. Fé

A fé seria, então, a ligação com o esperado, a determinação da acção, o vivido de uma


opção que mobiliza todo o ser.
Diz Segundo (1997, p. 93): é uma determinada estrutura de sentido e de valores que
cada um constrói para dar significação à sua existência dentro do real. (). Todos nós temos
uma fé que é aquilo que dá sabor a nossa existência. É a aposta de cada um, que o faz viver.
Dizer que o ser humano precisa de significação é dizer que ele constrói uma fé.

Isso, no entanto, não quer ainda dizer que essa fé seja religiosa. Ela pode se tornar
religiosa em função de sua intensidade, associada à totalidade e abrangência de seu
envolvimento. Diz ele: a fé. Religiosa. Não se caracteriza como tal por crer em outra coisa
que a [fé] antropológica.
Segundo, (1997, p. 92). Potencialmente, crê no mesmo, mas de um modo específico.
Quase poderíamos dizer que é um grau de intensidade, de totalidade ou de certeza na aposta,
à qual pode ou não chegar a fé antropológica.

A fé se torna religiosa quando cremos totalmente, mesmo que não haja nenhuma
referência a uma divindade. A acepção popular do termo (como quando se diz sigo
religiosamente essa norma., ou. sou um torcedor religioso.) já aponta para essa dimensão de
totalidade. A abrangência e o envolvimento totais da fé que se tornou religiosa, no sentido
próprio, remetem a um sentido universal. Mas justamente por ser universal, esse sentido não
é verificável empiricamente.
Comparar com o quê, se ele se refere ao todo? Se tudo está aí incluído, não posso ter
nenhum recuo. E, no entanto, há na experiência humana essa possibilidade na construção do
sentido.

3.3. Psicanálise

Psicanálise, por sua vez, caminha de mãos dadas com a filosofia descortinando os
enigmas da vida quotidiana. Desenvolvida por Sigmund Freud e existente a mais um século
como a ciência do inconsciente, a psicanálise é entendida como um método de tratamento
dos transtornos psíquicos e, inclusive, um método de pesquisa que tem como objectivo a
investigação e compreensão do inconsciente. É considerada como uma forma de tratamento
das psiconeuroses que acometem os seres humanos.
Conforme Nasio (1995, p. 49), “A psicanálise é um procedimento, um método e a
teoria daí derivada”, apresentando três linhas de pesquisa, para assim defini-la:
 Método de investigação dos processos psíquicos que, de outro modo, são
praticamente inacessíveis;
 Método de tratamento dos distúrbios neuróticos que se fundamenta nessa
investigação;
 Série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio.

De acordo com Vale (2018), não se pode negar as contribuições de Freud por meio da
psicanálise para o conhecimento humano e para os estudos mentais, de forma que o
verdadeiro choque moral provocado por essas ideias serviu para que a humanidade rompesse
seus tabus e preconceitos na compreensão da sexualidade.

A visão da psicanálise de Sigmund Freud trouxe avanços importantes para os estudos


mais actuais. É possível observar isso na aprendizagem, na cura de fobias e nos traumas,
medos, estado emocional e outras contribuições de problemas originados no processo
emocional.

De acordo com Novais (2017, p. 333), nos esclarece qual o interesse da psicanálise.
A psicanálise é um procedimento médico que visa à cura de certas formas de doenças
nervosas (as neuroses) através de uma técnica psicológica.

3.4. Religião e Psicanálise

Para Freud uma das grandes responsáveis por desencadear as neuroses é a religião, de
forma que o seu primeiro escrito sobre a religião foi os ensaios Atos obsessivos e práticas
religiosas. Freud, (1906, p. 109), traça um paralelo entre as cerimonias e rituais presentes na
neurose, deixando evidente que se trata de uma abordagem sobre as similaridades entre a
obsessão e a religião.

Dessa forma, para Freud as pessoas que praticam aptos obsessivos ou cerimoniais
pertencem à mesma classe das que sofrem de pensamento obsessivo, ideias obsessivas,
impulsos obsessivos e afins. Isso, em conjunto, constitui uma entidade clínica especial, que
comummente se denomina de “neurose obsessiva" além dessa visão, é possível encontrar
diversas abordagens sobre religião nas demais obras escritas por Freud. “ Freud, (1906, p.
110).
Freud também relaciona as doutrinas religiosas com um caráter ilusório e que não
podem ser comprovadas, aproximando-as de um delírio e colocando o conhecimento
científico como a “única estrada que nos pode levar a um conhecimento da realidade externa
a nós mesmos” Freud, (1927, p. 45).
Afirmações como essas, difundiram a ideia entre o meio psicanalítico de que para
Freud não há “casamento” entre a psicanálise e a religião, mas observa-se que a crítica de
Freud em relação à religião, conforme suas próprias palavras, parece ir contra a seguinte
resposta dada a Oskar Pfister (Freud apud Roudiesco; Plon, 1998, p. 589):

“A psicanálise, em si, não é nem religiosa nem irreligiosa. É um instrumento sem


partido, do qual podem servir-se religiosos e leigos, desde que o façam unicamente a serviço
do alívio dos seres que sofrem”.

Conforme Flecha (2016), dessa forma, a visão religiosa parece amena, no entanto,
diante de outras posições mais radicais, Freud era um homem que não necessitava
emocionalmente do amparo de um ser superior, pois para ele, o que bastava para lidar com a
vida, era aquilo que se oferecia de forma evidente no mundo da natureza.

3.4. A Fé e Psicanálise

Embora dizendo que os problemas relativos à fé religiosa são de outra natureza,


Mannoni, com a análise que faz sobre a iniciação dos jovens hopi, chega ao cerne da
verdadeira natureza da fé. Encontra a ligação entre a crença e a fé, pois sabendo que tanto “a
fé como a crença são ambas feitas da palavra de outrem” e que “a fé sempre seja misturada
de crença”, consegue estabelecer uma distinção entre elas, para então concluir que “A
história de Talayesva é a historia de todo mundo, normal ou neurótico, hopi ou não. Afinal de
contas vemos, nós próprios, como, não encontrando nenhum sinal de Deus no céu, instalamo-
lo nos céus, por uma transformação análoga à dos hopi, MAnnoni, (1973, p.18).

Chamo de fé essa segunda edição da capacidade de iludir-se e da crença em figuras


divinas e angelicais, capazes de garantir a segurança e a cura dos males e do adoecimento:
ocorreu aí inegável desmistificação do carácter absoluto da autoridade que pais e deuses
detinham na primeira infância infância, CIntra, (2004, p. 47/48).

A profissão de fé sempre passa por um fundamento. As bases da fé ocidental foram


lançadas por “Jesus Cristo”, e partir de sua ressurreição, criou-se a chamada doutrina
cristã. Todo fundamento erigido para sustentação da fé passa pelo crivo de alguém. A
partir do momento em que o homem toma a dianteira de escrever as bases doutrinárias
que regerão a sua condução começa a supressão do seu desejo e o nascimento de um
“mal-estar na credulidade”. O homem cria para si parâmetros que afitarão directamente
sua estrutura psíquica. Como bem explanou Niet: o homem matou Deus e criou com isso
5
o surgimento do “super-homem”, na concepção de que este mesmo homem precisa
constantemente ser superado Nietzsch, (1885).
4. CONCLUSÃO

Psicanálise fornece uma boa explicação sobre a constituição da crença no psiquismo


humano e seus posteriores desenvolvimentos. Representação nomeada de imago por Freud,
Freud via a crença como derivada da relação do pai e filho, com foco na crise do Édipo. Para
ele, a crença era uma ilusão nascida do desejo de protecção.

Debater a crença religiosa e a fé no contexto psicanalítico, e colocar em destaque as


possibilidades deste enlace têm sido desafiador. A ilusão considerada por Freud para com a
religião, é baseada na deposição de um desejo ao este objecto.
A meu ver essa entrega absoluta é a fé propriamente religiosa (seja o. centro do
universo. nela nomeado, ou não). E aquela repercussão nos outros âmbitos t, é a ideologia, ou
seja, a visão de mundo que decorre desse dinamismo mais radical. Todo homem acaba tendo
uma fé central, e uma consequente ideologia.

Em função da inegável presença da religião, essa teve seu reconhecido lugar na teoria
psicanalítica, atestado pelo seu triunfo, anunciado por intérpretes de Freud.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cintra, Elisa M. U. A questão da crença versus a questão da fé: articulações com a


Verleugnung freudiana. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, 2004, p. 43.

Dias, Julio C. T. Perspectivas da Psicologia da Religião. Revista Caminhando. 2017,


97-115 p.

Segundo, J. L. A história perdida e recuperada de Jesus de Nazaré: São Paulo: 1997,


p. 92.

Salgado, Ana Paula Alves. A religiosidade no cuidar de enfermagem. Monografia


Faculdade de Enfermagem da Universidade do Rio de Janeiro, 2006.

Nietzsche, Friedrich “A fé a luz da psicanálise” - Editora Verus, 2010. 1882.

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