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PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

RELIGIÃO

unidade 1

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PSICOLOGIA DA RELIGIÃO - unidade 1
RELIGIÃO

SUMÁRIO

1 Religião .................................................................................................................................................... 03

1.1 Introdução ........................................................................................................................................... 03

1.2 Religião ................................................................................................................................................. 03

1.3 Religião e Cultura ................................................................................................................................ 04

1.4 Religião e Religiosidade ...................................................................................................................... 05

1.5 Religião e Espiritualidade ................................................................................................................... 06

1.6 Ciências da Religião ............................................................................................................................ 06

REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................. 07

GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................. 07

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1. RELIGIÃO moral, chamada igreja, todos aqueles


que a elas aderem”
1.1. Introdução

Há alguns provérbios que fazem parte de nossa


língua e alguns interditos também. Um deles diz
que: “Política e religião não se discutem”. Ficam
como assuntos frequentes, dos quais a polêmica
deveria passar longe... E, na fala popular,
ditos religiosos não são infrequentes. Veja os
seguintes:

• Se Maomé não vai à montanha, a montanha


vai a Maomé.
• Quem planta vento, colhe tempestade.
• Quem dá aos pobres, empresta a Deus.
• Dê a César o que é de César, e a Deus o que
é de Deus.
• Não julgueis para que não sejais julgados.
• Quanto mais eu rezo, mais assombração me
aparece.

Alguns deles fazem alusão ao texto bíblico e


outros a elementos da cultura religiosa popular. Nessa frase, Durkheim sintetiza sua compreensão
de religião, enquanto sistema de crenças e
Nesta aula vamos conversar sobre o tema: práticas. No entanto, a religião não pode ser
Religião. compreendida apenas nessa esfera objetiva.
Para João Batista Libanio (2002), a religião pode
O que ele significa? ser compreendida em 3 campos semânticos:
Religião e religiosidade são expressões
sinônimas? a) Campo objetivo:
Religião e espiritualidade caminham juntas?
Como a cultura afeta a religião? Como instituição, com ritos, sinais, símbolos,
doutrinas, celebrações, adesões. É um siste-
Essas são algumas questões que orientam essa ma de representação, orientação, normativi-
primeira aula do curso. Uma vez que nosso dade. Sustenta-se na tradição e na comuni-
tema é Psicologia da religião, precisaremos dade. Esse campo orienta muitas das condu-
analisar, inicialmente, o que significa religião, tas humanas, norteia a moralidade, estabe-
antes de analisarmos a Psicologia que analisa lece proibições e, inclusive, orienta sistemas
os fenômenos religiosos. legais de vários países ao redor do mundo.

1.2. Religião b) Campo subjetivo:

Esta aula se inicia com uma frase de Émile Religiosidade, mística, espiritualidade, senti-
Durkheim: mento religioso. Esse é o campo da experiên-
cia religiosa, que, como o próprio nome já diz,
“Religião é um sistema solidário é experiência, portanto, pessoal e incontestá-
de crenças e de práticas relativas a vel. Ninguém pode contradizer a experiência
coisas sagradas, isto é, separadas, do outro, porque quem viveu foi ele. Nesse
interditas; crenças e práticas que campo há a percepção do que é sagrado e a
unem em uma mesma comunidade valorização desse elemento. “O sagrado, ao

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descentrar o ser humano, provoca a expe- 1.3. Religião e cultura


riência antagônica de presença e distância,
de manifestação e ocultamento, que se fun- Sagrado é, para Rudolf Otto (2007), o mysterium
damenta na própria natureza da experiência tremendum et fascinosum (mistério tremendo e
transcendental de Deus feita na experiência fascinante) que promove horror, espanto, êxtase
humana” (LIBANIO, 2002, p.92). e fascinação. O livro original de Otto é de 1917
(Das Heillig) e, nele, apresenta as características e
c) Campo da fé: as manifestações do sagrado, que ele denomina
de “numinoso”, de totalmente outro. O sagrado
Resposta a uma palavra revelada. Envolve é um fenômeno sui generis, ontologicamente
todas as dimensões do ser humano: razão, independente e autônomo. Ele é absoluto em
vontade, história, prática, escatologia. A fé é sua essência e possui uma dinâmica própria.
a crença na religião e na divindade que é ve-
nerada nela. As pessoas concretizam sua relação com o
sagrado através de símbolos, ritos e expressões
Para Hans-Jurgen Greschat (2005), a religião estéticas pré-estruturadas. Otto associa os
possui 4 lados e deve ser analisada a partir deles. termos religião e sagrado e, muitas vezes, os
Ele amplia a ideia de Libanio em alguns aspectos, aponta como sinônimos, o que não é verdadeiro.
mas desconsidera o elemento fé, como um dos Esse termo “sagrado” só se associa à religião em
campos para se compreender a religião. religiões monoteístas, sendo desconhecido de
religiões politeístas. Vale a pena ler o texto de
Os 4 lados da religião seriam os seguintes: Frank Usarski sobre a expressão “sagrado”.

a) Comunidade: demarcação de fronteiras que Aprofunde seus conhecimentos:


determina o que lhe pertence ou não lhe per- Os enganos sobre o sagrado
tence. Religiões integram pessoas em comu- (http://www.pucsp.br/rever/
nidades. rv4_2004/p_usarski.pdf).

b) Sistema de atos: nenhuma religião conse- Durante muito tempo, a religião constituiu o
gue sobreviver sem os atos religiosos ou os centro da vida particular e da vida social. Com
ritos. Em algumas, os ritos são até mais im- os avanços tecnológico e científico, ela deixou de
portantes do que a doutrina. ocupar o lugar central da vida, no entanto, sua
presença e sua influência são inquestionáveis.
c) Doutrina: atos rituais incluem gestos e ter- O termo religião vem do latim religio (culto ou
mos simbólicos cujo significado torna-se prática religiosa) e há duas suposições para
acessível à medida que se conhece o simbo- o verbo de onde derivou: relegere (reler- ideia
lismo da linguagem mitológica. Princípios éti- defendida por Cícero em 45 a.C.) e religare (unir,
cos de uma religião também estão ligados a religar):
suas doutrinas.
Aprofunde seus conhecimentos:
d) Experiência religiosa: força vital que anima Religião vem de ‘reler’ ou ‘religar’?
as religiões, alimentando seus ensinamentos (http://veja.abril.com.br/blog/
e ritos. Quanto mais pessoas a experienciam, sobre-palavras/consultorio/
mais essa força cresce; e quanto mais as pes- religiao-vem-de-reler-ou-religar/).
soas dão sentido à sua experiência religiosa,
mais a religião adquire valor na vida. A religião é uma produção humana, ou seja, é a
tentativa que fazemos para dar sentido ao que
Estabelecidas as diferenças entre os termos, vale nos acontece e à vida. É também um fenômeno
perguntar: o que a religião proporciona? Qual a histórico-social, porque envolve processos de
relação entre os termos religião e sagrado? transmissão da tradição e dos saberes. E é uma
organização discursiva, pois estabelece regras

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de vida e de relações sociais. Vemos como exemplos de ritos a eucaristia, o


casamento, o batismo na religião cristã.
Você, com certeza, já viu como expressões
religiosas habitam leis brasileiras e até objetos A religião não apenas torna sagrados o tempo e
aparentemente profanos, como uma nota de o espaço, mas sacraliza também objetos e seres.
dinheiro, em que aparece a expressão: “Deus Surgem os objetos sagrados (como o crucifixo, o
seja louvado”. pão e o vinho na eucaristia, pedras, imagens) e
seres sagrados (animais intocados como a vaca
Vale assistir ao vídeo de Kanitz sobre a para o hindu, impuros como a carne de porco
importância da religião: para o judeu, por exemplo).

Assista ao vídeo: A 1.4. Religião e religiosidade


importância da religião – Kanitz
(http://www.youtube.com/ Esse vídeo aponta as principais religiões
watch?v=t2Fc5JDag7o-). mundiais e sua prevalência no mundo. Como
vimos anteriormente, quando se mencionava a
Segundo Marilena Chauí (2005), a religião vincula expressão religião, abrangem-se tanto aspectos
os mundos profano (da natureza) e o sagrado objetivos, quanto subjetivos.
(das divindades), ou seja, o que acontece no
mundo tem uma matriz divina. Essa divisão do Assista ao vídeo: A História das
mundo entre sagrado e profano foi defendida por Religiões (https://www.youtube.
Mircea Eliade que organizou as características com/watch?v=bqvh8WaBVo8).
desses dois mundos.

Além de unir humano e divino, a religião cria a A experiência pessoal ou a vivência individual da
ideia de espaços sagrados (há lugares onde Deus religião faz parte da religiosidade, termo que se
fala, onde Ele habita, onde Ele se manifesta, onde refere a todo comportamento, ação ou crença
se devem trazer oferendas, como o templo, a que tenha um caráter religioso. A religiosidade
igreja, o terreiro, o altar) e espaço profano (os está no âmbito dos sentimentos e exige a fé. Ela
lugares por onde transitamos em nosso dia- assume as incoerências da religião e pode existir
a-dia) e também a ideia de tempo sagrado e fora das instituições e dos lugares sagrados.
tempo profano. O tempo sagrado é o tempo que Atualmente essa expressão está em voga.
narra sobre a origem das coisas, da vida. Chauí
menciona que, “por isso, a narrativa religiosa Ouvimos muitas pessoas se dizerem religiosas,
sempre começa com alguma expressão do mas recusando a religião por acreditarem que
tipo: ‘no princípio’, ‘ no começo’, ‘quando o deus esta tem características que lhe são inaceitáveis.
X estava na terra’, ‘quando a deusa Y viu pela Como assim? Há pessoas que cultivam práticas
primeira vez’.” (CHAUI, 2005, p.254). E o tempo religiosas dentro de casa, como a oração,
profano, por sua vez, é regido pela lógica de dias, os cânticos, a solidariedade que são alguns
meses, anos. elementos comuns a determinadas religiões,
mas se recusam a compartilhar sua crença em
A história sagrada explica porque o mundo comunidade, em um lugar que considerem
existe, responde a várias perguntas e reorganiza sagrado. Há questionamentos se os dados do
a vida. Censo brasileiro que mencionam o grupo dos
“sem religião” não se refira a pessoas que não
Para que a ligação entre humano e divino se adotam práticas religiosas, e, sim, a pessoas que
mantenha se criam ritos. Estes se referem cultivam essas práticas isoladamente, sem se
à repetição minuciosa e perfeita de gestos, vincularem a grupos determinados.
palavras e emoções. A repetição é necessária,
porque se acredita que os deuses orientaram A religiosidade se relaciona à busca por ascese
o que deveria ser feito e se faz sempre assim. espiritual ou por libertação de amarras, ao trazer

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elementos importantes como a busca de justiça A espiritualidade é a experiência de encontro


e de fraternidade. com o mistério. Esse termo ganha amplitude
nos anos 60 com a geração dos “buscadores”,
A religiosidade pode ser entendida como pessoas que valorizavam o espírito humano
uma busca por alguém em que se crê (capacidade de intuição, de afeto, de
e se tem fé em sua possibilidade de atualização de seu potencial), influenciadas pelo
ouvir seus questionamentos e atender Humanismo nos Estados Unidos, especialmente.
seus pedidos, essa relação, no entanto, O humanismo na Psicologia, também chamado
diferentemente da espiritualidade, se dá de “abordagem centrada na pessoa”, valoriza
através de atividades pré-estabelecidas, a busca pelo transcendente ou por experiências
como cultos, ritos e reuniões (PESSANHA; de pico (peak-experiences) como as denominou
ANDRADE, 2009, p.78). Abraham Maslow.

A religiosidade abarca tanto elementos A espiritualidade, diferentemente da religião


individuais quanto institucionais. Se pensarmos (organizacional, ritual e ideológica), se relaciona
nas condutas religiosas do povo brasileiro, pode- ao pessoal, afetivo, experiencial, pensante,
se inferir a presença de uma matriz religiosa com amplia possibilidades humanas, traz sentido,
as seguintes características: unidade, conexão com o transcendente. Pode
não ser religiosa, expressando-se através do
Mística amor ao próximo (reverência, confiança e
perdão)
Valorização do elemento sobrenatural, ligação
entre os elementos natural e sobrenatural, 1.6 Ciências da Religião

Mágica Já estudamos o que é religião, o que é religiosidade


e, nossa aula se encerra com a recuperação da
crença na mudança imediata de situação, desde expressão: “ciências da religião”. A que ela se
que se utilize a fé para isso e refere?

Sincrética A Ciência da religião se refere a um campo


multidisciplinar e plural que estuda a religião
reapropriação, reinterpretação e reinvenção de (como singular, vaga, genérica). No termo religião,
conteúdos pertencentes a diferentes religiões escondem-se espiritualidade, religiosidade,
institucionalizadas. mitos, rituais, linguagem, pessoas religiosas,
simbolismo religioso.
Como brasileiros, temos receio do “olho-gordo”,
sentimos arrepios em determinados lugares, A religião e a religiosidade podem ser estudadas
cremos em mudanças imediatas de situação por vários campos de conhecimento como a
pelo poder da fé e, quantas vezes, vemos Sociologia, a Filosofia, a Economia, a Psicologia,
pessoas adotando ao mesmo tempo símbolos a História, a Geografia. Neste curso, veremos
e elementos de religiões diferentes, como, por a relação da Psicologia com a religião, ou a
exemplo, do candomblé e do catolicismo. Psicologia da religião.

1.5. Religião e espiritualidade Aprofunde seus conhecimentos:


Religião como solvente
O termo espiritualidade tem sido proferido, (http://www.scielo.br/scielo.
muitas vezes, como sinônimo de religiosidade, php?script=sci_arttext&pid=S01
no entanto, guarda características que lhe são 01-33002006000200008).
próprias e, nem sempre se vincula a uma religião, Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil
como ocorre com a religiosidade. (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
33002006000100004&script=sci_arttext).

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1999.
Interditos: Proibições
BITTENCOURT FILHO, José. Matriz religiosa
brasileira: religiosidade e mudança social. Numinoso: “Vivência que o ser humano tem dos
Petrópolis: Vozes; Koinonia, 2003. fatores sobrenaturais de toda ordem que, agindo
sobre seu estado psíquico geral, fazem surgir
CHAUI, Marilena. A experiência do sagrado e nele uma atitude religiosa: (Disponível em: http://
a instituição da religião. In: _______. Convite à www.aulete.com.br/numinoso#ixzz3A8ThVPO5)
Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005. p.252-268
Ontologicamente: Refere-se à ontologia (parte
GRESCHAT, Hans-Jurgen. O que é a Ciência da da ciência que estuda a natureza dos seres, o ser
religião? São Paulo: Paulinas, 2005. enquanto ser).

LIBANIO, João Batista. A religião no início do Ascese: Conjunto de exercícios (oração,


milênio. São Paulo: Loyola, 2002. meditação etc.) que visam ao aperfeiçoamento
espiritual [F.: Do b-lat. ascesis, do gr. áskesis.].
OTTO, Rudolf. O sagrado. São Leopoldo: Sinodal,
2007. (Disponível em: http://www.aulete.com.br/
ascese#ixzz3A8UVmAaQ)
PASSOS, João Décio. Como a religião se organiza.
São Paulo: Paulinas, 2006.

PESSANHA, Priscila Paes; ANDRADE, Edson


Ribeiro. Religiosidade e prática clínica: um olhar
fenomenológico-existencial. Perspectivas online,
v.3, n.10, p.75-86, 2009.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

ANGERAMI- CAMON, Valdemar Augusto (Org.)


Psicologia e religião. São Paulo: Cengage Learning,
2008

LEON, Jorge A. Introdução à Psicologia pastoral.


São Leopoldo: Sinodal, 1996.

JOHNSON, Paul E. Psicologia da religião. 3.ed. São


Paulo: ASTE, 1964.

MASSINI, Marina; MAHFOUD, Miguel (Orgs.).


Diante do mistério: Psicologia e senso religioso.
São Paulo: Loyola, 1999.

TOURNIER, Paul. Culpa e graça: uma análise do


sentimento de culpa e o ensino do evangelho.
7.reimp. São Paulo: ABU Editora, 2004.

VALLE, Edênio. Psicologia e experiência religiosa.

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