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Frederico Pieper1
Trabalho acadêmico não tem por finalidade reafirmar senso-comum ou crenças prévias,
mas para tem intenção de problematizar. Desfazer compreensões generalistas e
errôneas.
“Duvide de seus princípios”. Isso vale tanto para aquele que pratica uma religião como
para aquele que se coloca “religiosamente” contra a religião.
Um bom texto acadêmico não é aquele que resume o autor ou objeto estudado, mas
aquele que problematiza. Para tanto, é preciso se deixar interpelar pelo objeto de estudo,
bem como saber levantar indagações a ele.
No estudo da religião, há importante alteração: não se vive numa tradição religiosa, mas
ela é transformada em objeto de consideração. Isso se dá principalmente a partir do
século XVII. Essa atitude implica em se colocar a certa distância desse “objeto”.
Divulgação científica.
1
Material preparado para a disciplina Seminário de Pesquisa II, ministrada na pós-graduação em Ciência
da Religião da UFJF, 2021/2. Para composição desse material foram utilizados HALPERN, Faye et alii.
A Guide to Writing in Religious Studies. Cambridge, MA: Havard Webpublishing, 2007. Disponível em:
https://hwpi.harvard.edu/files/hwp/files/religious_studies.pdf; TURABIAN, Kate. A Manual for Writers
of Research Papers, Theses, and Dissertations. 8a. edição. Chicago: The University of Chicago Press,
2010.
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1) Visão de mundo.
A religião oferece ao ser humano uma percepção geral do mundo. Isso implica em:
2) Função existencial.
A religião teria o papel de suporte interior para constituição de sentido. A religião seria
consequência da pergunta do ser humano pelas origens e pelo destino, por não se
contentar ao meramente fisiológico. O ser humano como animal simbólico. A religião é
uma fonte de sentido.
3) Função social/cultural
Ex.: “viver num mundo social é viver uma vida ordenada e significativa. A sociedade é
a guardiã da ordem e do sentido não só objetivamente, nas suas estruturas
institucionais, mas também subjetivamente, na sua estruturação da consciência
individual” (BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria
sociológica da religião. Trad. José Carlos Barcellos. São Paulo: Paulinas, 1985, p.34)
Essas duas últimas linhas de abordagem, que nos interessam aqui, podem ser dividias
em tendências.
Ex.: “Este é o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não
faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o autossentimento do homem,
que ou ainda não conquistou a si mesmo ou já se perdeu novamente. Mas o homem não
5
Ex.: “De que se trata quando se fala em fato religioso, perguntam-se aqueles que
são levados, pelas suas próprias disciplinas, a negar qualquer autonomia às
experiências religiosas. Para um sociólogo, a religião é antes de tudo um fato social;
ela é mesmo, para certos sociólogos, o fato social por excelência. Para um
historiador, a religião é um fato histórico, e para o psicólogo, um fato psíquico.
Tudo isto é em parte verdadeiro: pois não há fato humano que não seja ao mesmo
tempo fato social, psíquico, biológico, sexual etc). Mas trata-se de surpreender
justamente o que um fato religioso nos mostra enquanto fato religioso” (ELIADE.
Briser le Toit de la Maison. P273-274. ALLEN, D. “Eliade and History” The
Journal of Religion. P.550).
3
WILSON, Bryan. Religion in Sociological Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1982, p.20.
4
MONTERO, Paula. Religião e dilemas da sociedade brasileira. In: MICELI, Sérgio. O que ler em
ciência social no Brasil. Caxambu: ANPOCS, 1999, p.329.
6
Portanto, pesquisas sobre religião não devem demonstrar ou refutar conceitos religiosos
como a existência de Deus ou a reencarnação. Essas ideias não podem ser provadas com
evidência para todos. Antes, o objetivo é como o ser humano tematiza essas questões e,
a partir delas, se estabelece no mundo. Portanto, é possível investigar como Feuerbach
questiona a existência de Deus ou a noção hinduísta de reencarnação. Enquanto ciência
hermenêutica, a CR lida sempre com essas mediações.
Ainda que uma abordagem neutra da religião seja impossível, é requerido que o
investigador não se feche em suas compreensões prévias, utilizando o estudo que
empreende apenas como meio para confirmar aquilo que já sabe. É preciso abertura para
questionar seus pressupostos.
§5. Ciência da religião é mais uma questão de perspectiva sobre o objeto do que de
metodologia
Dessa maneira, um cientista político, por exemplo, interpreta a religião tendo em vista o
entendimento da política e como a religião se insere nesse que é o fim de sua
compreensão. Seria assim tão absurdo dizer que o cientista da religião tem por objetivo
compreender como a religião determina outras esferas sociais?
Assim, por exemplo, não se trata somente de se perguntar como a teoria sociológica de
Durkheim afeta a compreensão de religião, mas como a concepção de Deus em
Durkheim afeta a teoria social na modernidade? E como a ideia de religião em Freud
determina a psicanálise? Em segundo lugar, como a religião permite compreender
certas faces de fenômenos (inclusive não religiosos) que de outra forma ficariam
inacessíveis.
Não cabe à CR determinar a verdade do objeto que estuda. Mas, por exemplo, ela pode
mostrar como a religião aparece em lugares onde menos se espera e com configurações
mais improváveis possível. Como nos alerta Mark C. Taylor, “religião é mais efetiva
onde ela é menos óbvia”5. Portanto, não se trata somente de estudar tradições religiosas
consolidadas, mas em que medida na cultura, nas mentalidades e nas ideologias há
dimensão religiosa? Por exemplo, o que há de religioso em certos movimentos
políticos? No pensamento de um autor isso também se mostra importante. Em um
filósofo, qual impacto e importância que certas abordagens da religião podem trazer
para o entendimento de sua proposta filosófica?
5
TAYLOR, Mark C. Introduction. In: TAYLOR, Mark C. Critical Terms for Religious Studies. Chicago:
Chicago University Press, 1998, p.04.
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A pesquisa faz parte do nosso cotidiano. Nós fazemos questões e buscamos por fatos
para respondê-la. Pode ser como encontrar um serralheiro de confiança ou questões
mais profundas.
Eles também devem nos mostrar por que valeu a pena fazer a pergunta deles, como sua
resposta nos ajuda a entender algum problema maior de uma nova maneira. Se
pudermos descobrir por que a Tiradentes tornou-se um símbolo nacional, podemos
então responder a uma pergunta mais ampla: como é que símbolos regionais moldaram
nosso caráter nacional?
2. porque eu quero descobrir Y (por que sua história se tornou um símbolo nacional)
Aqui já se tem um problema: Por que Tirandentes se tornou um símbolo nacional com
instauração da República no Brasil? Como isso aconteceu?
Com essa pergunta, pode levantar todos os dados de que necessita. Quando tem dados
suficientes, pode elaborar uma hipótese de trabalho.
3. para que eu possa ajudar outros a entender Z (como esses símbolos regionais
moldaram nosso caráter nacional).
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Por quê? Porque eu quero descobrir como as pessoas comuns avaliam o risco de se
machucarem pelo terrorismo.
E se você fizer isso? Depois de fazer isso, podemos entender melhor a grande questão
de quão emocional e fatores racionais interagem para influenciar a maneira como os
pensadores comuns pensam sobre o risco.
Por mais que pareça difícil, sempre imaginem alguém perguntando: e daí?
Estabelecendo um problema
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Em geral, a pesquisa tem início com uma intuição. O contato com um tema, que pode
ser de várias formas (apresentado por um colega, por um professor, descoberto na
biblioteca ou experiência de vida etc), desperta o interesse. No entanto, com isso temos
apenas um tema que desejamos estudar. Para que essa intuição inicial possa se
transformar em um projeto, há um longo percurso a ser feito.
Todo trabalho acadêmico tem início com uma pergunta ou um conjunto de questões. É
importante salientar esse ponto como o primeiro passo no sentido de transformar uma
intuição em um projeto de pesquisa.
Somente pesquisamos porque temos perguntas não respondidas. O que move nosso
empenho no estudo é o reconhecimento de que há perguntas que precisam ser
respondidas.
Se seu tema parece um verbete de enciclopédia, você vai encontrar muito material e não
vai saber por onde começar. É um trabalho para a vida toda. Portanto, é preciso tornar
um tópico manejável.
Ex.: Uso de máscaras em cerimônias religiosas
Usos de máscaras em cerimônias religiosas africanas.
Usa de máscaras como símbolos da vida em cerimônias religiosas africanas.
A elaboração do problema da pesquisa por ter um lugar tão central e, por isso mesmo,
um dos passos mais difíceis de ser dado. Não se transforma um tema de interesse em um
problema de maneira repentina. Para que isso ocorra, faz-se necessário conhecimento
prévio sobre o tema a ser investigado. Portanto, para que isso ocorra, é pressuposto que
se tenha conhecimento sobre o autor ou texto a ser investigado, conhecimento mínimo
sobre os comentadores mais importantes e pontos de debate em torno do autor/texto a
ser estudado.
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Uma dica: quando não se tem conhecimento aprofundado sobre um autor/texto, uma
boa dica é iniciar com textos introdutórios que sejam confiáveis. Em geral, esses textos
nos ajudam a mapear as principais tendências internas ao pensamento do autor a ser
investigado e, em alguns casos, nos indicam pontos problemáticos de sua proposta de
pensamento e debates entre os intérpretes. Em outros termos, pode ser que esses textos
nos ofereçam pistas de onde encontrar pontos de abordagem interessantes. Mas, lembre-
se: não se deve exigir de um texto introdutório mais do que ele pode oferecer. Ele pode
ser um bom início. Mas, não se deve permanecer limitado a esse tipo de texto. À medida
que ele cumpriu sua função, é preciso buscar textos mais específicos e aprofundados.
Observação. O critério para definição do que constitui uma boa pergunta é que ela deve
conduzir para evidências. Nota-se que os dois últimos exemplos não evocam evidências.
Ou a resposta é muito simples e direta (não permite grandes problematizações) ou acaba
caindo numa descrição, numa simples exposição sem tematizar o pensamento do autor
estudado. Portanto, um critério para saber se temos um bom problema é averiguar em
que medida ele nos conduz para as evidências e nos direciona.
Por exemplo: Por que a distinção entre ser e ente é tão central para a compreensão da
noção de sagrado e último Deus em Heidegger?
Não: Como o cristianismo mudou nos últimos cinco séculos? (Precisaria de uma
biblioteca inteira para responder isso)
Não: Qual o tipo de prática religiosa realizada nas reuniões da maçonaria? (É preciso
averiguar se há evidências disponíveis ou se nós conseguimos acesso a ela).
De maneira sucinta, podemos dizer que: a) Uma boa problemática emprega “como” e
“por quê” ao invés de “o quê” na elaboração da pergunta. Com isso, consegue-se uma
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Estudo atento e fichamento dos textos. Não se de simplesmente ler o textos, mas de
estuda-los. Uma boa dica é não somente ler os textos, mas abrir arquivos para que se
façam anotações, que podem ser: a) resumo da estrutura do texto e de suas principais
ideias; b) comentários. À medida que se lê, é possível que venham ideias à sua mente. É
fundamental anotá-las para não se esquecer; c)citações que se julga importantes.
Mapa de ideias: estabelecer uma ideia central e explorar ideias correlatas e como elas se
relacionam.
Escrita livre: sente-se na frente do seu computador e e escreva por uns 15 minutos o que
lhe vier à mente. Não deve haver, nesse primeiro momento, preocupação se faz ou não
sentido, se é ou não pertinente, se há ou não coerência. A proposta é simplesmente
externar as ideias. Após esse exercício, é preciso ir revisando para averiguar a conexão
entre as ideias, sua pertinência, etc.
Essa técnica tem o benefício de superar um sentimento inicial de que não conseguirá
produzir o texto proposto ou algum bloqueio de por onde começar. No entanto, a
desvantagem é que se produz muito material que não será utilizado ou, na escrita final,
o resultado pode ser bem diferente do que se pensou inicialmente. Portanto, quem
emprega essa técnica tem de estar ciente da necessidade de utilizar a tecla “delete”.
1. Contexto histórico.
a) Pergunte como seu objeto se articula com o contexto histórico/social/cultural mais
amplo.
O que vem antes? Como se processaram mudanças com o passar do tempo? Por que
essas mudanças ocorreram?
obs.: essa pergunta pode ser feita em relação a um conceito no interior da proposta de
um autor.
b) Inserção numa perspectiva mais abrangente. Como o tema que você estuda funciona
como parte de um sistema maior? Ex.: como ele revela certos sistemas de poder, de
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cultura, de controle? Em que medida ele representa valores sociais estabelecidos? Qual
o lugar desse objeto na problemática mais ampla em que se insere? (ex. como o
mimetismo pode ajudar a entender a relação entre violência e religião?)
c) Compare e contraste com outras propostas. Como esse tema e sua abordagem se
contratam com outros similares? Ex. c como a proposta de abordagem da relação entre
violência e religião proposta por Girard se contrasta com a de outros autores?
b) Como as partes que você estuda chegam a formar um sistema? Quais partes são
importantes? Quais são secundárias? Por quê algumas são mais importantes do que
outras? Como as diversas partes se articulam?
c) Pergunte pelas ausências e buracos. Por que determinado aspecto recebe atenção em
determinados contextos e em outros não? Como explicar que o discurso aponte numa
direção e a prática para a outra?
7. Elabore questões que construam acordo. Por exemplo, se uma fonte faz uma
afirmação que você acha convincente, elabore questões que entendam essa questão.
"Pedro entende que os evangélicos tem tido grande influência em decisões locais em
cidades de médio porte. Isso se aplica ao caso de Juiz de Fora? Como se dá a presença
de igrejas pentecostalizadas no cenário político e no espaço público local?
9. Procure por perguntas que outros pesquisadores colocam, mas não respondem.
10. Discussões na internet, congressos etc. podem ser também fontes de perguntas
para debate.
c) Você teria de ler muitas fontes: como o cristianismo mudou nos últimos 500 anos?
d) Você não consegue acesso a fontes relevantes: os rituais da maçonaria poderiam ser
considerados rituais religiosos?
3. Você não consegue encontrar aspetos que mostrem que a resposta pode estar
errada.
Observações.
Não recuse uma pergunta porque você acha que alguém já a tenha perguntado. Se
alguém já tiver feito essa pergunta, você pode oferecer uma outra ou melhor resposta
para ela. Em ciências humanas, uma boa questão tem mais do que apenas uma boa
resposta.
Encontre uma questão que VOCÊ que responder. Educação não é memorizar uma série
de propostas que alguém outro elaborou. Também não é dizer pela enésima vez o que
Aristóteles pensou.
Pesquisar é encontrar suas próprias respostas para suas questões. Não é preciso
reinventar a roda a cada vez. Por isso, estudamos outros autores. Para ver como essa
questão já foi trabalhada, como foi respondida para, a partir disso, ponderar como você
vai lidar com ela.
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Uma vez que você possui um problema, levante diversas hipóteses. A princípio, não
importa se elas são muito especulativas ou mesmo se elas estão corretas. Faça uma
espécie de “Brain Storm” de hipóteses.
Mesmo as hipóteses que depois se mostram errôneas têm seu lugar. Se a princípio você
considera uma hipótese plausível, mas depois de se aprofundar na pesquisa nota que ela
é absurda, um ponto pode ser analisar o porquê essa hipótese parecia razoável, mas não
resistiu à análise mais detida.
Se uma hipótese se mostra mais plausível e promissora, ela se constituirá como sua
hipótese de trabalho central. Estabelecer uma hipótese centra é importante, afinal ela
guiará no sentido de saber que tipo de evidências serão do seu interesse. Por exemplo.
De que tipo de evidências você precisará: números, citações, observações, imagens,
documentos históricos, entrevistas etc. E mais, dentro disso, quais obras de determinado
autor ou que aspectos do trabalho de campo serão mais relevantes.
Uma boa hipótese possui três características. Ela deve ser original, argumentável e
interessante.
a) Original
Entende-se que uma hipótese é original quando é fruto do seu próprio trabalho. Nesse
sentido, a hipótese deve ser a resposta à pergunta levantada pelo trabalho acadêmico.
Assim como uma pesquisa somente possui um problema central, ela também possui
uma hipótese central.
Assim como ocorre com o problema central, é preciso cautela e cuidado na redação da
hipótese, que deve ser expressa com clareza e em uma única sentença.
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Para se atentar a esse critério, é fundamental que se faça uma distinção entre a
problemática e hipótese do autor que se está estudando e da problemática e hipótese da
pesquisa.
Nesse exemplo, nota-se que o problema e a hipótese não são da pesquisa propriamente
dita, mas elas acabam reproduzindo a problemática e a hipótese do autor. Nesse caso, a
falta de originalidade da hipótese faz com que o trabalho se transforme numa mera
reprodução do pensamento do autor estudado. Em trabalhos bibliográficos, há lugar
para comentário e reprodução das ideias do autor estudado. No entanto, esse não deveria
ser seu alvo final. O comentário e reprodução de certas ideias do autor pesquisado
devem conduzir à sustentação de uma hipótese que é articulada pela própria pesquisa.
Quando se fala em originalidade de uma hipótese, não se deve entender que se trata de
exigir do pesquisador que ele tenha uma ideia completamente nova, que ninguém nunca
teve antes. Especialmente, em se tratando de pesquisa bibliográfica, originalidade
significa oferecer novas leituras de textos conhecidos e conexões antes ignoradas por
comentadores e intérpretes.
b) Argumentável
Em outras palavras, deve haver evidências para a hipótese ser sustentada. Por isso
mesmo, de modo similar à problemática, a hipótese somente é elaborada após sério
estudo do tema que se está pesquisando. Para sua elaboração, é necessário que se tenha
contato prévio com o tema. No caso de uma dissertação ou tese, ela é elaborada após
muita leitura. Portanto, aqui não deve haver pressa.
Uma boa hipótese deve ser bem delimitada. Uma hipótese muito abrangente e com
afirmações generalistas retira dela seu caráter argumentativo. Em segundo lugar, é
preciso também verificar se o pesquisador terá meios de levantar as evidências capazes
de sustentar a hipótese.
Uma boa hipótese requer que se desenvolvam argumentos em torno dela. O seu leitor
não deve acatá-la de início. Aliás, é muito mais interessante para ele se ao ler o que
você pretende, tenha suspeitas se a hipótese é ou não pertinente. Isso demandará de você
a mobilização de argumentos para convencer o seu leitor de que sua hipótese é válida. O
ideal é que o leitor seja convencido da sua hipótese à medida que vai tomando contato
com seus argumentos.
Um artigo, dissertação ou tese tem apenas uma hipótese. Nesse sentido, repete-se o que
já foi dito em relação à problemática. Portanto, para ficar bem claro, um trabalho
acadêmico possui apenas uma problemática e uma hipótese. Nesse sentido, é preciso
diferenciar entre hipótese e argumentos. A hipótese se constitui como resposta à
problemática levantada, sendo o ponto principal que se trabalho defenderá e, em torno
da qual, irá se estruturar. No sentido de sustentar a hipótese, você levantará argumentos.
Lembre-se: os argumentos devem sempre trabalhar a partir e em favor da hipótese. Eles
não se constituem como outras hipóteses, mas dão sustentação à hipótese.
Exemplo. Uma pesquisa se dedica à relação entre fé e dúvida nos filmes de Scorsese.
Esse problema surge à medida que o pesquisador vai vendo e analisando os filmes de
Scorsese e nota como em vários deles essa temática aparece. Num segundo momento,
vai percebendo que há certos padrões. Ou seja, fé e dúvida aparecem sempre de
determinadas formas. Essas evidências levam à formulação de um problema e,
consequentemente, de uma hipótese. Na hora de escrever o texto da tese, entretanto, o
texto já deve anunciar de início a hipótese e, então, elencando as evidências e
argumentos que levaram a essa hipótese.
Não se deveria iniciar a escrita de um trabalho sem antes ter esse elemento claro. Afinal,
é justamente o caráter argumentativo de uma hipótese que levará à estruturação do
trabalho. A divisão dos capítulos e dos subtítulos é estabelecida à medida que percebo
quais temas, argumentos e evidências que preciso mobilizar para poder sustentar a
hipótese que estou defendendo.
C) Interessante
Uma hipótese é considerada interessante quando ela oferece novas percepções e leituras
de um determinado tópico, tema ou autor. Em outros termos, ela requer a revisão do
modo convencional de se ver determinado assunto.
Dicas: Artigos, dissertações e teses não são romances policiais, em que se mantem o
mistério até o final. Um bom projeto ou texto acadêmico não deixa para revelar sua
hipótese apenas no final. O ideal é que esses pontos sejam anunciados na introdução do
texto. O despertar do interesse de um leitor do texto acadêmico é diferente do leitor de
um romance policial. O interesse do texto está justamente nesse mecanismo. Ao
anunciar de início a hipótese, o interesse do leitor pelo texto deve ser mantido para que
ele verifique aonde essa hipótese irá conduzir e se está bem argumentada. Portanto, não
é preciso temer que o texto fique desinteressante por se anunciar a hipótese de início. Se
ela for original, argumentável e interessante o leitor irá ter curiosidade na leitura do
texto por essas razões.
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Assim como a problemática, a hipótese deve ser anunciada em uma frase. Em geral, a
hipótese deve aparecer logo no início do texto. Para chamar a atenção para ela, vale
colocar alguns indicadores: “Esse artigo sustenta que...”; “A hipótese dessa dissertação
é:”
Como organizar?
Colocar tudo isso num esboço pode ser de grande valia. Pode ajudar a ter clareza no
plano a ser seguido bem como ajuda a alinhavar problema, hipótese, argumentos e
evidências. Com essa prática, fica mais fácil estruturar o trabalho e colocar todas as
partes para trabalharem em função da problemática e da hipótese
Enunciado do problema
Argumento 1
21
Evidência 1
Evidência 2
Argumento 2
22
Evidência 1
Evidência 2
No decorrer das aulas, tenho feito paralelos entre a pesquisa acadêmica e roteiros de obras
policiais. Não obstante as peculiaridades de cada uma, as obras policiais podem nos ajudar a
compreender de maneira aplicada o que são: problema, hipótese, argumentos e evidências.
Uma das peculiaridades das obras policias é o que se conhece por “plot twist”. Para prender a
atenção do seu público, as obras policiais nos fazem suspeitar de um personagem. No entanto,
logo em seguida, as suspeitas recaem sobre outro personagem. Essas viradas nos levam a ver
como várias hipóteses são construídas e testadas à luz das evidências. Mas, apenas uma delas
se comprova.
Para essa semana, nossa tarefa será a seguinte. Todos(as) devemos assistir o episódio da série
Cold Case no link https://www.youtube.com/watch?v=qAAlgJ3AIjM . Ao ver o episódio, vocês
deverão indicar qual é o problema (enigma a ser resolvido), hipótese (resposta ao enigma),
argumentos e evidências.
A série Cold Case consiste em reabrir inquéritos de crimes cujas investigações ficaram
inconclusas e foram encerradas há alguns anos. Para isso ocorrer, parte-se do princípio de que
há novas evidências e que levariam à possibilidade da solução do crime. Assim, a série pode
ser muito útil para nosso objetivo de identificar aspectos centrais da pesquisa acadêmica.
Problema:
Hipótese:
Argumentos:
Evidências:
Conforme havíamos combinado, em anexo envio um template que resume boa parte do que
estudamos nesse semestre. Como atividade, vocês deverão preencher o template com as
informações correspondentes aos projetos de pesquisa de vocês. O prazo para realizar essa
atividade é 04/01/2023, quarta-feira. Essa atividade terá peso avaliativo para a nota final do
curso. Portanto, recomendo atenção e cuidado no preenchimento das informações.
O formulário deverá ser preenchido com texto corrido, evitando-se a escrita por meio de
tópicos.
Seminário de Pesquisa 2
Escolha uma série, episódio de uma série (quando for possível separá-la do todo) ou um
filme. Para a atividade, é fundamental que a obra escolhida busque resolver um enigma
(um crime, por exemplo). No final desse arquivo, há algumas sugestões.
A partir disso, considerando o que foi discutido em aula, indique os pontos solicitados
no quadro abaixo:
Problema:
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Hipótese de trabalho:
Evidências.
Sugestões de séries:
Monk
CSI
CSI: New York
CSI: Cyber
CSI: Miami
CSI: Vegas
Constantine
Bom dia Verônica!
Bones
Sherlock
Elmentary (Elementar). Relacionado com Sherlock Holmes)
Gotham
The Blacklist
Lucifer
O mentalista
Criminal Minds (Mentes Criminosas)
FBI
Fargo
Marcella
Ponto cego
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Na medida em que você tem uma pergunta, uma hipótese de trabalho e alguns
argumentos, você pode iniciar a busca por dados e evidências. Na prática da pesquisa,
nem sempre esse caminho é linear. Para levantar certos argumentos e construir uma
hipótese, você já deve ter algum contato com as evidências. Mas, nesse momento, é
hora de sistematizar essas articulações.
Fontes secundárias (para aprender com outros). Fontes secundárias são textos,
artigos, dicionários etc que analisam fontes primárias, em geral escritas por outros
especialistas. As fontes secundárias são utilizadas, principalmente, para três finalidades:
3) Encontrar modelos para sua própria pesquisa e análise. É importante não apenas
observar o que outros escreveram, mas como escreveram sobre seu tema. Um bom
exercício imaginativo é pensar na fonte secundária como um colega que está falando
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sobre seu tema. Entenda essa interação com a fonte secundária como uma conversa.
Com isso, você pode estar atento aos argumentos, evidências que são ou não são
utilizadas, detalhes estilísticos, etc.
Fontes secundárias não devem ser citadas como fonte de evidências primárias. O único
caso em que Apud é justificável se dá quando a obra é de difícil acesso. Mesmo assim,
não se deve fazer uso recorrente desse recurso. Pode ser que, ao ler uma fonte
secundária, você se depare com uma evidência que lhe chama a atenção. Cabe ao
pesquisador buscar essa fonte primária e ter contato direto com ela, inclusive para
considerá-la dentro de seu contexto mais amplo.
Fontes terciárias. São fontes baseadas em fontes secundárias e escritas por pessoas que
não são especialistas. Para pesquisa acadêmica, esse tipo de fonte deve ser visto com
rigor, desconfiança e, raramente, empregada.
Seus leitores irão confiar mais em você se eles puderem confiar nas suas evidências. E
eles apenas poderão confiar nas suas evidências, se eles puderem encontrar suas fontes.
Portanto, tenha cuidado com a citação de suas fontes, de modo que ela seja acurada e
seus leitores possam encontra-las.
Desde o primeiro contato com as fontes, é importante que se tenha cuidado no registro
das informações. Desde dados bibliográficos (tais como autor, título, ano) até mesmo
informações de conteúdo (assunto, contexto das citações etc). Apesar de ser uma
atividade monótona, ela ajudará muito quando, no futuro, você precisar manipular essas
informações.
1. Uma pesquisa se inicia buscando alguém que sabe algo sobre seu tema e que
indica referências sobre ele. Nesse sentido, algumas fontes podem ser
interessantes: estudantes em nível mais avançado; professores; redes sociais;
programa de cursos de disciplina que lidem com temas correlatos.
2. Busca pela internet. Uma dica de pesquisa é colocar a palavra “Abstract” após a
palavra pesquisada. Com isso, insere-se um filtro que irá lhe remeter apenas para
textos de caráter acadêmico.
Ferramentas úteis na internet:
Publish or Perish
https://harzing.com/resources/publish-or-perish
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http://www.sibi.usp.br/apoio-pesquisador/indicadores-pesquisa/publish-or-perish/
http://sci-hub.tw/
https://b-ok.lat/
http://www.periodicos.capes.gov.br/
Esse portal reúne periódicos das mais diversas áreas do saber. Uma vez que se paga pela
assinatura desses periódicos, somente instituições credenciadas podem ter acesso. Nesse
caso, você somente terá acesso ao conteúdo assinado caso acesse o site com um IP da
UFJF. É possível também acessar de casa. Para isso, é preciso acessar o SIGA e
procurar o campo específico que permite esse acesso.
Indexador: Scielo
http://www.scielo.org/php/index.php
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http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
No site Domínio Público é possível encontrar várias obras que não mais estão
protegidas por direitos autorais. Lá também há possibilidade de busca de teses e
dissertações defendidas nas diversas áreas do conhecimento no Brasil. É uma ótima
ferramenta para se travar diálogo com a bibliografia secundária.
http://dedalus.usp.br/F/
V3DVETL7PHA5PPCIT5Y2B8MRP5BBXHBJMIRE1VHH9JDRTMUTP9-
32461?RN=592389100&pds_handle=GUEST
http://www.sbu.unicamp.br/sbu/
https://faculdadejesuita.edu.br/acesso/biblioteca/
4. À medida em que você tem contato com os textos pertinentes ao tema que você
estuda, sempre se lembre de também olhar a bibliografia desses textos. Busque
perceber: quais textos são frequentemente citados? Isso pode indicar textos
clássicos de um determinado campo, ou seja, textos incontornáveis de um campo
de estudos. Quais textos são essenciais para aquilo que estou pesquisando?
Quais textos são recomendados para o que estou estudando? Quais textos
poderiam ser interessantes para analisar? É importante construir essa percepção
em relação às fontes.
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A partir disso, você deve decidir quais partes do livro você deve ler, quais deverão
receber mais atenção e como elas podem lhe auxiliar na sua pesquisa.
Critérios de qualidade
a) O autor possui reputação na área de estudos? Quais são suas credenciais? Você
pode descobrir isso por meio de uma pesquisa na internet. Nos livros sempre há
uma breve biografia do autor. Com relação ao estudo da religião, é preciso
sempre cautela. Nessa área, há muitos autores com boa reputação em outra área
mas que, ao escreverem sobre religião, utilizam suas credenciais para dar
credibilidade a concepções não acadêmicas.
b) A fonte ainda é atualizada? É preciso considerar que determinados estudos
possuem prazo de validade. Uma pesquisa em Ciências Sociais com dados do
censo, por exemplo, tem sua validade até a próxima divulgação dos dados do
próximo censo. Pesquisas em humanidades tendem a ter vida mais longa. Mas, é
sempre importante se certificar se a fonte que estamos utilizando não está
desatualizada.
c) A fonte é publicada por uma editora/periódico com reputação? Muitas editoras e
grande parte dos periódicos adotam o sistema de revisão às cegas. Portanto,
antes de um texto ser publicado ele é analisado por dois outros especialistas.
Essa análise é feita sem acesso ao nome do autor (por isso, às cegas). De certa
maneira, esse é um mecanismo que garante mínimo de qualidade ao material
publicado.
d) A fonte recebeu boas resenhas? Ainda que o hábito de se fazer resenhas tenha
diminuído nos últimos tempos, esse pode ser um critério para se certificar da
qualidade daquilo que foi publicado.
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Com relação às fontes online, seja ainda mais criterioso. A facilidade de se divulgar
informações ajuda por um lado, mas cria também um mar de desinformação. Por isso,
alguns critérios podem ajudar:
Uma vez que você encontrou uma fonte confiável, evite uma leitura mecânica que
meramente busca dados, fatos, datas, informações etc. É preciso importante estabelecer
inteiração com as fontes. É importante não apenas o que as fontes dizem, mas suas
implicações, consequências, deficiências e novas possibilidades.
Leia o texto imaginando que o autor está sentado à sua frente e vocês estão dialogando.
1º. Passo: É fundamental a postura de uma leitura generosa que busca entender a fonte
em seus próprios termos. Parta do princípio de que quem disse/escreveu tem
conhecimento sobre o que está falando.
Na segunda leitura, faça perguntas amigavelmente. Imagine como a fonte iria responder
a alguns desses questionamentos.
33
É muito bom quando um autor parecer confirmar nossas próprias ideias. No entanto, o
risco é que isso não permita que você desenvolva suas próprias ideias. Você poderá
ficar muito dependente do autor. O que fazer nesses casos?
1) Sempre mantenha postura interrogativa: Que novos casos ele pode cobrir? A
fonte oferece novas perspectivas? Há alguma evidência que a fonte não tenha
considerado ou que não tenha considerado adequadamente?
2) Perguntar se não há novas evidências que podem ser usadas para dar suporte a
argumentos e hipóteses lançadas pelo autor. Talvez, ele utilize uma evidência
antiga e você encontre novas evidências capazes de dar suporte às ideias dele.
Ou ainda, o autor utiliza evidências fracas e você pode oferecer uma evidência
mais convincente.
3) Você pode provar ou trazer evidências para aspectos que a fonte apenas havia
especulado ou pressuposto.
4) Você pode ampliar determinada posição para novas áreas.
causa Y, mas talvez não seja assim; B) A fonte diz que X causa Y, mas talvez
ambos sejam causados por Y; C) A fonte diz que X é suficiente para causar Y,
mas talvez não seja assim. D) A fonte diz que X causa somente Y, mas talvez
não seja assim. .
5) Contradições de perspectiva. Esse é o tipo de dissenso mais produtivo. Não se
trata de apontar contradições na construção do pensamento da fonte, mas de
indicar outros caminhos de se abordar o mesmo tema. Modos de se construir
isso. A) A fonte discute X a partir da perspectiva de Y. Mas, talvez, se a
consideramos da perspectiva de K novas abordagens mais producentes podem se
revelar; B) A fonte analisa X a partir da teoria Y, mas talvez você possa analisar
X de um novo ponto de vista e vê-la de uma outra maneira.
Enfim. Para lidar com as fontes, é fundamental que sempre se tenha uma pergunta: Em
que isso importa? E daí? Não se deve aceitar algo porque está escrito ou em virtude da
mera autoridade. O conhecimento é construído a partir do convencimento de hipóteses
de trabalho plausíveis, pautadas em argumentos sólidos e ancoradas em evidências
confiáveis.
Cada qual pode criar seu próprio modo de trabalho. O importante é que se tenha um
método de tomar as notas enquanto se está lidando com as fontes.
Resumir: utilize esse recurso nos casos em que você precisar apenas de informações
mais gerais, seja de um trecho, de uma parte ou mesmo do texto todo. É importante
considerar que, em geral, um resumo raramente pode se constituir como boa evidência
para o texto final de sua pesquisa.
Parafrasear: utilize esse recurso quando você quer reproduzir as ideias do autor de
maneira mais acurada que o resumo, mas de modo mais claro ou pontuando aspectos
que o texto original poderia deixar passar. Parafrasear não significa substituir uma ou
duas palavras, mas utilizar o máximo possível suas próprias palavras. Cuidado para
utilizar esse recurso de modo inadequado e incorrer em plágio!
1) Para constituir evidências que se relacionam com seus argumentos e/ou hipótese
de trabalho. Por exemplo, se você quer indicar que diferentes grupos evangélicos
reagem de maneira diferente ao conservadorismo político, você deve citar
diferentes fontes onde isso aparece.
2) As palavras são de uma autoridade que se articula com seus argumentos/hipótese
de trabalho.
3) A citação indica originalidade na abordagem de determinado tema.
4) A citação oferece uma moldura para o resto de sua discussão.
35
1. Ao citar uma fonte, é importante ter atenção e indicar no seu próprio texto
quando essa fonte está resumindo as ideias de outro autor e quando a fonte
expressa sua própria perspectiva sobre o tema.
2. Registre o porquê e quais os argumentos que levam a fonte a concordar ou
discordar de determinada posição. Portanto, é importante não somente registrar a
concepção que a fonte sustenta, mas o porquê dessa posição.
3. Registre o contexto em que a citação aparece.
4. Tenha atenção ao grau de assertividade que a fonte confere à citação. Não diga
que ela assuma determinada posição de maneira certa ou indubitável, quando a
fonte não faz isso.
Durante todo esse processo, lembre-se de escrever enquanto lê. Não espere para
começar a escrever somente no final. Durante o período de pesquisa de dissertação/tese,
é importante sempre separar um tempo diário para escrita. Essa escrita pode ser: um
rascunho de parágrafo que dialogo com a fonte, resume uma linha de raciocínio,
especula sobre alguma ideia relacionada à pesquisa etc.
É importante resumir e parafrasear. Esse é o meio pelo qual se ganha domínio sobre
determinadas ideias, autores, sistemas, etc.
A construção de um argumento
Lembre-se de cenas do dia a dia. Numa conversa ao redor da mesa, você traz seus
argumentos, mostra suas evidências. Os interlocutores reagem concordando ou não com
36
o que você apresenta. A partir disso, uma conversa se estabelece. A ideia de um texto
acadêmico, guardadas as devidas peculiaridades, é muito parecida.
No caso da escrita acadêmica solitária, você pode imaginar o que o interlocutor poderia
ou gostaria de perguntar. Você deve fazer o exercício de se colocar no lugar desse leitor
e imaginar o que ele considera válido bem como que argumentos e evidências podem
ser convincentes para sustentar sua hipótese.
No centro da sua pesquisa, estão três aspectos que precisam ser articulados: hipótese,
argumentos que tornam hipótese convincente e evidências que dão suporte aos
argumentos.
3) Argumentos: Pedro é suspeito por ter interesse na morte de João; ele estava na cena
do crime;
Hipótese. Tenha sempre à mente e à sua frente a hipótese que você quer defender de
maneira clara, concisa. O ideal é que ela seja expressa em uma ou duas sentenças. Não
mais do que isso. Uma boa hipótese é argumentável, remente para evidências e desperta
o interesse no leitor.
Argumento e evidência.
Para pesquisadores mais iniciantes, argumentos de autoridade são aceitos (Ex.: Vattimo
diz que a metafísica deve ser superada; Mariano afirma que neopentecostais tendem a se
associar ao conservadorismo político). No entanto, em pesquisas mais amadurecias, é
preciso mais do que argumento de autoridade.
Os melhores leitores são os mais críticos, afinal não aceitam tudo que você escreve
passivamente. Eles vão pensar em questões, levantar objeções e imaginar alternativas.
Uma dica para testar a relevância de um argumento para sua hipótese é construir uma
ponte entre eles. Coloque a hipótese e o argumento, indicando como um conduz ao
outro. “O frequente recurso a pautas morais presente nas pregações dos pastores
indicam (argumento)que os evangélicos dão suporte ao conservadorismo político no
Brasil contemporâneo (hipótese)”
Atividade
Escrita e argumentação
1. Debate com outras perspectivas
Ao expor o que outros disseram sobre o tema que você está tratando, você demonstra
conhecimento do que outros já disseram sobre ele, intimidade com outras perspectivas
possíveis sobre o tema e, ainda, mostra em que medida a sua interpretação é plausível.
Um modo de escrever isso é: “Em geral, os intérpretes entendem esse assunto assim
[explique o que é essa visão], mas há algo que se perde ou esquecido ou errado nessa
perspectiva. Nesse sentido, meu texto pretende... [o que seu texto traz em relação a
essas interpretações].
É preciso tomar cuidado para não levantar argumentos contra espantalhos. Por
espantalho aqui entendemos concepções muito erradas e fracas, que ninguém leva a
sério. A princípio, essa tática parece atrativa. Escolhe-se algum intérprete ou visão sobre
determinado assunto e, facilmente, rebate-se seus argumentos. No entanto, uma vez que
essa interpretação não é levada a sério, acaba desvalorizando os próprios argumentos do
seu texto. No final das contas, o seu texto fica esvaziado, afinal criticou um texto ou
posição que ninguém leva a sério. Além do mais, atacar um espantalho não exige muito
de quem está escrevendo. É muito fácil refutar posturas mal fundamentadas. Por isso
mesmo, o seu próprio texto fica fraco. No entanto, ao discutir com interpretações sérias
e cuidadosas, o seu próprio texto sai valorizado. Afinal, há de se mobilizar muitos
argumentos e de qualidade para sustentar sua perspectiva. É possível fazer um paralelo
com o humor. Nas peças de comédia, há a o escada. Ele não é o humorista principal,
mas é aquele que faz a deixa para o principal entrar com a piada. Quanto melhor for o
40
escada, mais o humorista principal se destaca. Nesse caso do texto acadêmico, ocorre
algo similar.
Há, basicamente, dois modos de se formular esses pontos de debate. 1) Dialogar com
uma interpretação sobre o tema que estamos lidando. Essa interpretação pode ser de um
autor ou de vários. Em alguns casos, pode ser uma tendência de interpretação do tema;
2) É possível também que você imagine contra-argumentações e insira no seu texto. Em
termos de redação, isso pode aparecer do seguinte modo. “Nesse ponto, alguém poderia
pensar que esse argumento é problemático por [indicar as razões]”.
Em geral, as frases em que se anuncia esse debate se iniciam com adversativas: “Apesar
de”, “No entanto”, “Entretanto”... etc. Ex.: Apesar de Vattimo entender que há uma
continuidade entre o pensamento de Nietzsche e Heidegger, esse texto busca argumentar
que se pode encontrar importantes rupturas”.
Não há uma regra quanto ao tamanho que esse ponto pode assumir no seu trabalho. Vai
depender bastante de que tipo de texto estamos falando. Numa dissertação ou tese, por
exemplo, a depender da importância desse ponto, pode se precisar de páginas e páginas,
talvez até um capítulo inteiro, para expor uma perspectiva importante sobre o tema.
Inclusive, há teses que se estruturam toda em torno do debate com algum intérprete. No
caso de estudos de textos filosóficos ou religiosos clássicos, isso é muito comum.
2. Corpo do texto
41
Por isso mesmo, é importante escolher boas citações. Em geral, elas podem: condensar
várias ideias que você pode explorar ao comentar a passagem; conduzir à necessidade
de estabelecer argumentos e análises; mudança de perspectiva. É preciso sempre
pressupor que elas não são tão autoevidentes ou autoexplanatórias como parecem.
2) E, em alguns casos, você deve dizer quais os motivos que levam a refutar
leituras que poderiam parecer mais óbvias.
3) O ideal é você pensar que seu trabalho é convencer ao leitor que as evidências
dão suporte à sua hipótese ou, no mínimo, que elas oferecem mais suporte para
sua hipótese do que de outros autores.
a) Você deve clarificar com suas próprias palavras o que o autor disse naquela
passagem. Trata-se de uma aproximação inicial, na qual você vai contextualizar
a passagem, como que repetindo o autor, explicar o que ele disse.
b) Você deve analisar a passagem. Essa é a parte mais importante. Diferentemente
de quando você estava resumindo, aqui você deve acrescentar algo. Quando se
analisa uma citação não somente se repete o que já foi dito, mas se acrescenta
algo. Nesse momento, por exemplo, você pode trazer outros textos sobre o tema
42
Como fazer?
Exemplo: “Deus não existe” (Salmos 53.1). citação completa: “Diz o tolo em seu
coração: Deus não existe”.
43
d) Evite o uso excessivo de citações no seu texto. Seja criterioso na escolha das
citações e no momento em que você deve utilizá-las.
e) Palavras individuais não precisam aparecer entre aspas, a não ser que seja um
conceito específico do autor ou você queira indicar algo com as aspas (Por
exemplo: Heidegger emprega Dasein).
f) Nunca use reticências para retirar alguma parte do texto que você julga ser
inconveniente por ir contra sua hipótese. Por outro lado, não coloque juntas
citações que devem ser feitas separadamente.
3. Argumentação
Um ponto importante na escrita acadêmica é mostrar que seu ensaio está consciente de
possíveis objeções para seu argumento. Nas palavras de Marie, Smith e Silz.
Depois de ter exposto seu argumento e integrado o suporte, vá de volta para o passo
em que você acha que é a sua mais importante evidência textual. Examine os
pedaços de evidência que eram difíceis para reconciliar com o seu argumento.
Considere contra-argumentos e interpretações alternativas e tente refutar as objeções
mais contundentes à sua tese.
Onde seu argumento é mais fraco ou mais vulnerável? Quais críticas podem um
leitor inteligente levantar? Quais evidências essas pessoas teriam ao seu lado? Por
que a posição deles é menos convincente do que a sua? Você vai analisar
brevemente as passagens que parecem indicar uma explicação alternativa, e, então,
mostre por que essas passagens são menos representativas do que as que você
escolheu, ou por que essas passagens são tiradas do contexto, ou por que elas não
apresentam uma visão adequada. Se lhe pediram para comparar e contrastar dois
autores e você tomou um lado de um autor, considere como o outro autor pode
responder às críticas que você encampou (MARIE, SMITH, SILZ, p.18).
44
O modo como você estrutura suas sentenças e seus parágrafos dão suporte às ideias que
lhe são mais importantes?
Para os parágrafos, uma dica é, especialmente ao seu início, fazer uso de sentenças que
anuncie o ponto principal a ser tratado naquele parágrafo. No fundo, essas sentenças
fazem para o parágrafo aquilo que a hipótese fazer para o trabalho como um todo.
Exemplo:
O que é discutir epistemologia?
Uma vez que se indicaram as razões que justificam e que tornam as discussões em torno
da espistemologia necessárias, trata-se de delinear, de maneira introdutória, o que está
envolto nas discussões dessa natureza.
Se o conhecimento científico possui seus limites, não podemos esperar coisa diferente
das reflexões sobre ele. Toda epistemologia é marcada pela finitude. Enquanto tal, é um
empreendimento histórico e inacabado. Por isso mesmo, ela é tema constante de
reflexão. A cada novo momento, em cada contexto histórico social distinto, é preciso
repensar a prática científica, tanto geral com de cada disciplina. Não se trata,
obviamente, de reinventar a roda. Essas reflexões se dão com base no que já foi
construído. Elas nunca parte do grau zero. Tornar-se consciente disso traz um alívio,
mas também aponta uma tarefa, especialmente quando pensamos na CR no Brasil.
Como podemos pensar sobre aquilo que fazemos se desconhecemos muitos dos autores
que, em outros contextos históricos, se mostram como referências incontornáveis para a
CR?
Enfim: frases mais tópicas nos parágrafos e “placas de sinalização” orientam seus
leitores, evitando que eles possam se perder no texto e nos argumentos.
Introdução e conclusão
Essas são as últimas partes de um ensaio, TCC, dissertação ou tese que são escritas.
Somente depois de ter desenvolvido todo o trabalho é que esses itens são redigidos.
Com relação à introdução, não se satisfaça apenas em fazer um resumo do que será
tratado no decorrer do texto. Lembre-se que esse é o momento de você captar o
interesse do leitor para seu texto. Para tal, você deve mostrar porque ele deve ler o seu
texto. Isso é feito indicando a relevância dele para o tema tratado.
Isso pode ser feito com: a) anúncio da problemática e da hipótese de maneira mais clara
possível. Lembre-se que não se trata de desenvolvê-las em todos os seus pormenores.
Como se trata de uma introdução, você deve enunciar esses pontos para que o leitor se
situe sobre o tema e a partir de que conjuntos de questões e/ou perspectivas eles serão
tratados. Além do mais, é preciso considerar que o leitor ainda não está de posse de
várias noções e conceitos. Portanto, é preciso cuidado no modo como se enuncia
problemática e hipótese para que sejam compreensíveis ao leitor; b) indicação de
debates que serão travados e de quais questões são tocadas. Não se trata de citar autores,
mas de apontar quais temas relevantes são tocados ao se tratar da temática proposta.
Eventualmente, em se tratado de um debate importante no tema, vale a pena mencionar
autores envolvidos. C) Por fim, acenar aonde se espera chegar com o trabalho.
Conclusão. É bom evitar dois extremos: apenas sumarizar o que foi feito ou escrever
uma ou duas linhas. Lembre-se: muito do que o seu leitor vai se lembrar é o que está na
conclusão. Você deve recuperar o argumento principal. Mas, não apenas o resuma.
Você pode aproveitar a conclusão para indicar a especificidade da sua pesquisa. Para
isso, no caso da conclusão, é válido, por exemplo: situar seu argumento dentro de um
contexto mais amplo; mostrar algumas consequências mais amplas do que foi discutido
no texto; destacar algumas contribuições que essa hipótese traz. Tome cuidado com
relação a uma coisa: a conclusão não é lugar de abrir um novo debate. Ele deve pôr em
relevo o que foi discutido, não propor novas questões. Eventualmente, pode-se dizer
46
sobre alguns temas que você vislumbrou, mas que não pretende desenvolver no presente
estudo.
Exemplo:
Checklist
Elabore uma questão interessante que seu Cita comentários de aula do professor
texto tentará responder
Escolha cuidadosamente citações que Escreva uma introdução que não inclua o
sirvam de evidência e as interprete para o enunciado da hipótese.
leitor no corpo do texto
47
Tenha certeza de que cada ponto que Use citações como evidências textuais,
você menciona segue logicamente do mas sem interpretar para o leitor.
anterior e dirige logicamente para o
posterior e que, de maneira última, dá
suporte à sua hipótese.
Vincule sua conclusão com a hipótese e Escreva uma conclusão que apenas repita
outros pontos levantados no texto. o corpo do texto.
Esse texto tem a função de ser um auxílio na redação de projetos de pesquisa. Para isso,
ele busca caracterizar o que constitui cada item do projeto, sugerir alguns pontos que
podem ser contemplados em cada um deles, além de oferecer algumas dicas e sugestões.
Não há modelo único e nem sempre se exigem as mesmas coisas nos projetos de
pesquisa. Nesse caso, tomamos como paradigma uma proposta um pouco mais simples,
mas que, ao mesmo tempo, permite contemplar aspectos básicos exigidos num projeto.
1) Título provisório
Trata-se do nomear aquilo que se pretende fazer. Um bom título fornece ao leitor o tema
que será tratado, o recorte a ser adotado e, eventualmente, perspectiva a ser empregada.
Exemplos:
Por vezes, é possível utilizar alguma frase de efeito ou metáfora recorrente, seguidas de
uma especificação.
Exemplo: “São os evangélicos que seguram essa cadeia, se não fossem eles, quem iria
converter os mauzão?”: considerações sobre o papel do “proceder evangélico” na prisão
2) Delimitação do tema
Nesse modelo de projeto, essa é a parte mais importante. Após ter nomeado o tema por
meio do título provisório, o que se espera desse tópico é que o projeto apresente e
argumente em favor de um recorte mais específico em torno daquilo que se constitui o
projeto. Essa é, geralmente, a parte mais extensa de um projeto de pesquisa. Abaixo,
seguem sugestão de pontos que podem ser abordados.
a) Contextualização e pressupostos.
e a hipótese podem não ser compreendida em toda sua riqueza. Por exemplo, um projeto
que se propõe a investigar o reiki. É uma boa estratégia apresentar alguns elementos
históricos constitutivos dessa prática, tendo em vista não ser um tema muito usual. Mas,
nesse caso, é preciso evitar o outro extremo: mesmo quando se tratar de oferecer
informações mais gerais, é importante articular essas informações com a problemática e
com a hipótese. Assim, ao invés de simplesmente fornecer informações generalistas, é
importante que na redação já vá se tematizando alguma questão. No caso do exemplo
citado, se a problemática de fundo está na caracterização do reiki como religião ou
prática terapêutica, ao tratar da trajetória dessa prática do Japão para o Brasil já pode ir
se tematizando isso. Ao invés de simplesmente dizer que o reiki tem início no Japão,
depois é trazido para o Brasil, etc, é possível tratar dessas informações, mas, já
indicando, por exemplo, se no seu início no Japão era tratado como religião ou com
prática terapêutica. Assim, o texto fica mais interessante e não meramente uma
exposição de curiosidades.
Exemplo
b) Problemática e hipótese.
É importante notar como o projeto vai se estruturando de aspectos gerais para mais
específicos: no título, anuncia-se o tema. No início da delimitação, já se afunila um
pouco mais ao tratar de pressupostos e informações relevantes dentro desse tema mais
geral. Com a problemática e a hipótese, observa-se uma delimitação ainda maior, pois
eles indicam o que será investigado.
c) Referencial teórico
6
HALPERN, Faye et alii. A Guide to Writing in Religious Studies. Cambridge, MA: Havard
Webpublishing, 2007. Disponível em: https://hwpi.harvard.edu/files/hwp/files/religious_studies.pdf
51
Uma dica: o referencial teórico não é apenas uma oportunidade para citar autores e
conceitos, recorrendo a argumentos de autoridade. Esses autores e conceitos devem
estar submetidos a uma função: eles devem servir para a melhor compreensão do que
está sendo investigado. Portanto, uma pergunta que sempre deve ser feita é: O que esse
autor/escola/noção me permite entender do tema em questão e que sem eles eu não teria
me atentado? Quais vantagens determinada autor/escola/noção trazem para abordar essa
temática? Em outros termos, se você pode chegar às mesmas conclusões sem recorrer ao
referencial teórico, pode ser que esteja fazendo um uso pobre desse referencial ou que
ele seja desnecessário ou ainda que ele não seja uma boa escolha – o que leva à procura
de outros que podem cumprir melhor essa função.
e) Recorte do objeto.
52
Por fim, no âmbito da delimitação, é importante fazer um recorte também no seu objeto
de estudo. Esse recorte pode ser temporal, geográfico, temático, etc. Além disso, é
importante também justificar essas delimitações.
3. Justificativa
Lembre-se que o projeto é a oportunidade que você tem de convencer o seu leitor da
pertinência da sua proposta de pesquisa. Em termos institucionais, ele se configura
como momento no qual você tem de mostrar para uma banca avaliadora ou para seus
leitores que sua pesquisa é factível, interessante, inovadora e, portanto, merece ser
aprovada. O lugar para deixar isso mais explícito é a justificativa.
Essa justificativa pode ser amparar em vários aspectos. O mais usual é apontar a falta de
estudos sobre o tema em discussão. Quando não é esse o caso, a justificativa pode
mostrar como a abordagem que a pesquisa traz é inovadora em relação às pesquisas já
53
existentes. Isso pode ser feito mostrando em que medida ela contradiz, ou corrige ou
amplia uma posição consolidada sobre o tema.
Exemplo
Além disto, a academia brasileira carece de estudos sobre este teólogo, que ao lado de
Karl Barth e Paul Tillich, é considerado um dos grandes expoentes da teologia do século
passado, sendo sua importância também reconhecida por renomeados filósofos. Não
circulam no Brasil muitas das obras primárias de Bultmann. Encontramos apenas
pequenos artigos em revistas teológicas, uma coletânea de artigos selecionados 7 de sua
autoria e o livro, Jesus Cristo e Mitologia. Comprova-se, dessa forma, a carência
existente na academia brasileira no que concerne aos estudos sobre Rudolf Bultmann.
4. Objetivos
Nessa parte, o projeto deve indicar onde a pesquisa pretende chegar. Para melhor
ordenar as coisas, é importante distinguir entre objetivo geral e objetivos específicos. O
objetivo geral aponta para o lugar onde o projeto pretende chegar. Por isso, ele se
aproxima muito da hipótese que se levantou. Por exemplo, o objetivo geral de uma
7
BULTMANN, Rudolf. Crer e Compreender. Artigos Selecionados. Trad. Walter Altmann e
Walter Schlupp. Sinodal, São Leopoldo, 1987.
54
pesquisa pode ser demonstrar como a religião está presente e a figura de Deus assume
caráter ambíguo, de repulsa e de entrega, no cotidiano de mães cujos filhos receberam
diagnóstico de câncer.
Já os objetivos específicos são relativos às etapas que se deve construir para chegar a
esse objetivo final. Partindo do exemplo anterior, objetivos específicos podem ser:
a)Expor criticamente a teoria dos cinco estágios que o indivíduo passa em situação de
sofrimento elaborada por Kübler-Roos, indicando como esse modelo pode ser ampliado
com a inserção do tema da religião; b) Analisar os discursos das mães que se encontram
nessa situação de sofrimento, buscando identificar como elas interpretam a relação com
a divindade diante dessa situação.... etc.
Nesse caso, vale um paralelo. Suponha que você está planejando uma viagem: você
quer sair de Juiz de Fora e ir para o Rio de Janeiro. Nesse caso, seu objetivo geral é
chegar ao forte de Copacabana no Rio de Janeiro. Os objetivos específicos são as etapas
que você deve cumprir para que esse objetivo maior seja realizado. Por exemplo, em
primeiro lugar, você deve chegar à rodoviária de Juiz de Fora; depois, pegar um ônibus
que vai passar por Itaipava e Petrópolis; por fim, descer na rodoviária do Rio de Janeiro
e pegar um transporte para Copacabana, etc... Por isso, é importante o projeto ter clareza
quanto ao seu objetivo geral. Afinal, se não aonde quero chegar, é bem possível que me
perca no caminho. Por outro lado, se isso está bem traçado sei que vou passar por
Petrópolis, mas não vou descer lá, pois não é esse meu objetivo. Muitos projetos se
perdem e temas paralelos ou divagações por não ter clareza quanto a esse aspecto.
Em resumo, o objetivo geral define o que o pesquisador pretende atingir com sua
investigação. Os objetivos específicos definem etapas do trabalho a serem realizadas
para que se alcance o objetivo geral. Os objetivos podem ser: exploratórios, descritivos
e explicativos. É importante sempre utilizar verbos no infinitivo para iniciar os
objetivos:
5. Metodologia
Nessa parte, espera-se que o projeto indique qual a metodologia será empregada. No
âmbito da Ciência da Religião, temos, num nível mais geral, basicamente dois tipos de
estudos.
55
Uma vez que se trata de um pré-projeto, é possível indicar apenas de modo mais
genérico a metodologia que será empregada. No entanto, caso se queira pontuar com
mais precisão o tipo de metodologia que será empregada, é possível consultar o texto
The Routledge Handbook of Research Methods in the Study of Religion 9. Aqui, há
sugestão de mais de 20 métodos distintos que podem ser empregados no estudo da
religião. Lembrando que a metodologia empregada depende muito do objeto a ser
analisado e dos objetivos que a pesquisa pretende atingir.
8
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2814/caderno%20direito%2016%20-
%20revisado%20031207.pdf
9
STAUSBERG, Michael; ENGLER, Steven. The Routledge Handbook of Research Methods in the Study
of Religion. London: Routledge, 2011.
56
6. Cronograma de execução
57
Nesse item, o projeto deve prever um plano de trabalho dentro de um prazo estipulado
para realização da pesquisa. No caso do TCC, tem-se um semestre. Para o mestrado, são
dois anos. No caso do doutorado, são quatro anos. Nesses dois últimos casos, é possível
pensar um cronograma dividido por semestres. No cronograma é importante prever as
etapas envolvidas na pesquisa, respeitando seu encadeamento cronológico. Por
exemplo, coleta das fontes é sempre anterior à análise das fontes. Abaixo, segue um
modelo com os itens a serem considerados no cronograma.
7. Bibliografia Básica
58
Inclui textos de referência que se julgam mais importantes. Nesse caso, podem-se
incluir: a)outras pesquisas feitas em torno do tema; b)no caso das pesquisas
bibliográficas, incluir os textos de referência apontados na delimitação; c)Em havendo,
não se esquecer de elencar textos importantes do aporte teórico; d) textos relativos ao
tema estudado. Bibliografia em torno de uma página é o suficiente para projeto de
mestrado.
59
I) Aplicativos e sites
1) Publish or Perish
https://harzing.com/resources/publish-or-perish
http://www.sibi.usp.br/apoio-pesquisador/indicadores-pesquisa/publish-or-perish/
http://sci-hub.tw/
https://b-ok.lat/
Libgen
https://www.zotero.org/
http://www.periodicos.capes.gov.br/
Esse portal reúne periódicos das mais diversas áreas do saber. Uma vez que se paga pela
assinatura desses periódicos, somente instituições credenciadas podem ter acesso. Nesse
caso, você somente terá acesso ao conteúdo assinado caso acesse o site com um IP da
UFJF. É possível também acessar de casa. Para isso, é preciso acessar o SIGA e
procurar o campo específico que permite esse acesso.
5) Indexador: Scielo
http://www.scielo.org/php/index.php
1) No Brasil
https://www.estantevirtual.com.br/
Esse site reúne vários vendedores e lojas de livros usados no Brasil. É possível
encontrar desde livros recém-lançados a textos raros. É válido ficar atento aos preços e
ao valor do frete, pois isso pode, em alguns casos, alterar substancialmente o valor final
do livro.
2) No exterior
https://www.abebooks.com/
https://www.alibris.com/
https://www.betterworldbooks.com/
Esses sites funcionam no mesmo modelo do Estante Virtual. É possível encontrar livros
com muita variação de preço. Além disso, é preciso atenção a duas coisas. 1) É preciso
considerar não somente o valor do livro, mas do frete. Não é muito raro casos em que o
frete é mais caro do que o livro. Portanto, uma boa pesquisa pode significar grande
economia; 2) Os livros demoram bastante tempo para chegarem ao Brasil. Em geral,
levam mais tempo do que o prazo indicado no ato da compra.
61
https://www.bookfinder.com/
Esse site não é, propriamente, um site de compra. Ele realiza uma busca nos sites de
livros usados em busca do melhor preço. Ao final, é disponibilizada uma lista com os
livros e os valores. Como dito anterior, é preciso cautela. No caso de importação para o
Brasil, um livro pode ser barato, mas com preço de frete extremamente elevado. Por
outro lado, em outro sebo o livro pode ser um pouco mais caro, mas por ter um valor de
frete menor, acaba tendo preço final mais barato.
1) Associações de CR10
Korean Association for Studies of Religion (1970), - Korean Association for the
History of Religions
http://koars.org/modules/doc/index.php?doc=AboutUs&___M_ID=104
Society for the Sociology of Religion (antiga Japanese Association fundada em 1975).
10
Para lista ainda mais completa, verificar http://www.iahrweb.org/members.php
62