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Seminário de Pesquisa em Ciência da Religião 2

Frederico Pieper1

§1. Aspectos introdutórios

Trabalho acadêmico não tem por finalidade reafirmar senso-comum ou crenças prévias,
mas para tem intenção de problematizar. Desfazer compreensões generalistas e
errôneas.

Em certo sentido, é para complicar a vida.

“Duvide de seus princípios”. Isso vale tanto para aquele que pratica uma religião como
para aquele que se coloca “religiosamente” contra a religião.

Um bom texto acadêmico não é aquele que resume o autor ou objeto estudado, mas
aquele que problematiza. Para tanto, é preciso se deixar interpelar pelo objeto de estudo,
bem como saber levantar indagações a ele.

A pesquisa, especialmente sobre religião, começa com dois sinais: ! ?

No estudo da religião, há importante alteração: não se vive numa tradição religiosa, mas
ela é transformada em objeto de consideração. Isso se dá principalmente a partir do
século XVII. Essa atitude implica em se colocar a certa distância desse “objeto”.

Não há abordagem neutra. Todo estudo já parte de concepções prévias e de um interesse


(eros, no sentido de Platão). Por outro lado, se não houver distanciamento, o objeto não
pode ser alvo de consideração.

Divulgação científica.

§2. O surgimento de um campo específico para o estudo da religião

O reconhecimento da necessidade de um campo específico para o estudo da religião se


dá no século XIX: início da CR.

Religião é, então, estudada no âmbito da sociedade, dos grupos ou da personalidade.

CR recebeu vários nomes: história das religiões, religião comparada, fenomenologia da


religião, etc.

CR surge para se distinguir da abordagem confessional da religião, como um estudo


sobre a religião. Esse projeto se estrutura a partir de três elementos: estudos filológicos
(MaxMüller), história e fenomenologia da religião e antropologia cultural.

1
Material preparado para a disciplina Seminário de Pesquisa II, ministrada na pós-graduação em Ciência
da Religião da UFJF, 2021/2. Para composição desse material foram utilizados HALPERN, Faye et alii.
A Guide to Writing in Religious Studies. Cambridge, MA: Havard Webpublishing, 2007. Disponível em:
https://hwpi.harvard.edu/files/hwp/files/religious_studies.pdf; TURABIAN, Kate. A Manual for Writers
of Research Papers, Theses, and Dissertations. 8a. edição. Chicago: The University of Chicago Press,
2010.
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A CR se divide em ciência teórica e empírica 2. No primeiro caso, estuda-se uma


moldura conceitual (filosofia da religião, tradições religiosas), oferecendo formulações
normativas e conceituais da religião. No segundo caso (Religião, Sociedade e Cultura;
Tradições religiosas), aparecem abordagens mais descritivas de grupos ou fenômenos
religiosos específicos.

§3. Noções e perspectivas modernas sobre a religião

O estudo moderno tende a enfatizar os seguintes papeis da religião na vida humana:

1) Visão de mundo.

A religião oferece ao ser humano uma percepção geral do mundo. Isso implica em:

a) Explicação do mundo (por que as coisas são de um determinado modo e não de


outro? Como explicar a realidade?)
b) Percepção do mundo (o que é ou não emocionalmente aceitável? O que é
intuído? Até onde a explicação racional alcança? Quais os limites da linguagem?
Experiência religiosa).
c) Atitude frente ao mundo, o que implica em avaliação do mundo. (o que é
aceitável e o que não é? O que é mais importante e menos importante? Critério
para julgamento implica em escala de valores).

Ex.: Espaço sagrado: demarcado e dotado de significado particular. Exemplos de


lugares sagrados: monte, coluna, árvore, pedra, céu, escada etc.

“Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo: o espaço apresenta roturas,


quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras (...) há portanto,
um espaço sagrado, e por conseqüência ‘forte’, significativo, e há outros espaços não-
sagrados, e por conseqüência sem estrutura nem consistência, em suma amorfos. Mais
ainda: para o homem religioso essa não-homogeneidade espacial traduz-se pela
experiência de uma oposição entre o espaço sagrado – o único que é real, que existe
realmente – e todo o resto, a extensão informe, que o cerca. É preciso dizer, desde já,
que a experiência religiosa da não-homogeneidade do espaço constitui uma experiência
primordial, que corresponde a uma ‘fundação do mundo’. Não se trata de uma
especulação teórica, mas de uma experiência religiosa primária, que precede toda a
reflexão sobre o mundo. É a rotura operada no espaço que permite a constituição do
mundo, porque é ela que descobre o ‘ponto fixo’, o eixo central de toda a orientação
futura. Quando o sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, não só há rotura na
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Sobre isso, conferir: MÜLLER, F. M. Introduction to the Science of Religion. London: Longmans, 1893,
p.74; TIELE, C. P. Elements of the Science of Religion. Vol. I, London: William Blackwood and Sons,
1897.p.08 e p.302; KRISTENSEN, W. B. The meaning of religion. Tradução John B. C. The Haugue:
Martinus Nijhoff, 1971, p.7ss; KITAGAWA, J. La historia de las religiones en los Estados Unidos de
Norteamerica. In: ELIADE, M; KITAGAWA, J. Metodología de la historia de las religiones.
Barcelona:Paidos, 1996, p.40; Eliade, M. Observaciones metodológicas sobre el estudio del simbolismo
religioso. In: ELIADE, M; KITAGAWA, J. Metodología de la historia de las religiones.
Barcelona:Paidos, 1996, p.123; GRESCHAT, Hans-Jürgen. O que é Ciência da Religião? São Paulo:
Paulinas, 2006; WACH, J. Introduction to the History of Religions. New York: MacMillan Publishing
Company.
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homogeneidade do espaço, como também revelação de uma realidade absoluta, que se


opõe à não-realidade da imensa extensão envolvente. A manifestação do sagrado
funda ontologicamente o mundo. Na extensão homogênea e infinita onde não é
possível nenhum ponto de referência, e onde, portanto, nenhuma orientação pode
efetuar-se, a hierofania revela um ‘ponto fixo’ absoluto, um “Centro”” (ELIADE. O
sagrado e o profano. P. 25-26).

2) Função existencial.

A religião teria o papel de suporte interior para constituição de sentido. A religião seria
consequência da pergunta do ser humano pelas origens e pelo destino, por não se
contentar ao meramente fisiológico. O ser humano como animal simbólico. A religião é
uma fonte de sentido.

Ex. “Quando o indivíduo em crescimento descobre que está destinado a permanecer


uma criança para sempre, que nunca poderá passar sem proteção contra estranhos
poderes superiores, empresta a esses poderes as características pertencentes à figura do
pai; cria para si próprio os deuses a quem teme, a quem procura propiciar e a quem, não
obstante, confia sua própria proteção. Assim, seu anseio por um pai constitui um motivo
idêntico à necessidade de proteção contra as consequências de sua debilidade humana. É
a defesa contra o desamparo infantil que empresa suas feições características à reação
do adulto ao desamparo que ele tem de reconhecer – reação que é, exatamente, a
formação da religião” (FREUD, S. “O futuro de uma ilusão”. In: FREUD, S. O futuro
de uma ilusão, o Mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). São Paulo:
Imago, 2006, p.33).

3) Função social/cultural

A religião desempenha o papel de coesão social e cultural em torno de alguns princípios


apontando na direção de caminhos específicos. Na medida em que reifica certa
estruturação social, pode ser analisada como responsável pela alienação social.

Ex.: “viver num mundo social é viver uma vida ordenada e significativa. A sociedade é
a guardiã da ordem e do sentido não só objetivamente, nas suas estruturas
institucionais, mas também subjetivamente, na sua estruturação da consciência
individual” (BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria
sociológica da religião. Trad. José Carlos Barcellos. São Paulo: Paulinas, 1985, p.34)

§ 4. Linhas de abordagem da religião

a) Confessional. Estuda-se a religião a partir de uma perspectiva interna,


reconhecendo a autoridade de textos sagrados ou de uma tradição religiosa,
mantendo-se num vocabulário e preocupações específicos do grupo religioso a
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que se pertence. A intenção é defender a pertinência e relevância desses


preceitos religiosos.
b) Crítica. Busca-se mostrar a religião como ilusão temporária do ser humano, em
geral causada por outros fatores que não religiosos: desamparo, medo, negação
da vida, condições de vida indignas, etc.
c) Fenômeno. Busca-se um estudo sobre a religião compreender como fenômeno
humano, em geral, abstraindo-se da verdade de seu objeto.

É importante considerar que Religião é um conceito moderno.

Autonomização das esferas sociais o surgimento de um campo específico da experiência


humana chamado Religião.

Essas duas últimas linhas de abordagem, que nos interessam aqui, podem ser dividias
em tendências.

a) Crítica: Busca-se a origem da religião (não no sentido temporal). Essa origem é


encontrada em outra esfera social. Assim, por exemplo, a religião é explicada a
partir da psiquê, das relações sociais desiguais, da alienação da consciência, etc.
O religioso pensa estar falando de Deus, mas, na realidade, está falando sobre
outra coisa. Em geral, o objetivo do estudo é promover consciência crítica tendo
em vista a superação da religião.

Ex.: “Este é o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não
faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o autossentimento do homem,
que ou ainda não conquistou a si mesmo ou já se perdeu novamente. Mas o homem não
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é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o estado,


a sociedade. Esse estado e essa sociedade produzem a religião, uma consciência
invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral
desse mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica em forma popular, seu
entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua base geral de consolação e
de justificação. Ela é a realização fantástica da essência humana, porque a essência
humana não possui uma realidade verdadeira. Por conseguinte, a luta contra a religião é,
indiretamente, contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião. A miséria
religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a
miséria. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração,
assim como o espírito de estados de coisas embrutecidas. Ela é o ópio do povo. A
supressão (Aufhebung) da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência de
sua felicidade real. A exigência que abandonem as ilusões acerca de uma condição e a
exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões. A crítica da
religião é, pois, em germe, a crítica do vale de lágrimas, cuja auréola é a religião”
(Marx, K. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Boitempo, 2010. P.145-146).

b) Explicativa. Busca-se explicar o papel social/cultural da religião. Essa função é


explicada a partir da abordagem do papel que a religião desempenha na
sociedade e na cultura. Portanto, a religião é um meio para explicar a sociedade
ou a cultura em geral.

A abordagem do sociólogo “Difere do que eu considero ser o de religionistas


comparativos porque o sociólogo tem o compromisso final de explicar a religião por
referência a proposições teóricas amplas sobre a sociedade (...) [O sociólogo]
procura encontrar, sob a superposição do estilo e conteúdo cultural específico,
princípios estruturais sociais”3. Ou ainda:“Os fenômenos religiosos interessam-me,
não como um campo em si mesmo de investigação, mas como via de acesso à
compreensão da sociedade brasileira”4.

c) Compreensiva. Busca-se explicar a religião como fenômeno humano e em


“escala religiosa”. Isso não significa em entender a religião a partir de si mesma,
mas sem apelar à autoridade de uma tradição religiosa específica. Por outro lado,
busca-se evitar a redução da religião a outras esferas sociais. A noção de sagrado
(e congêneres) surge da necessidade de se criar uma categoria que atenda a esses
requisitos.

Ex.: “De que se trata quando se fala em fato religioso, perguntam-se aqueles que
são levados, pelas suas próprias disciplinas, a negar qualquer autonomia às
experiências religiosas. Para um sociólogo, a religião é antes de tudo um fato social;
ela é mesmo, para certos sociólogos, o fato social por excelência. Para um
historiador, a religião é um fato histórico, e para o psicólogo, um fato psíquico.
Tudo isto é em parte verdadeiro: pois não há fato humano que não seja ao mesmo
tempo fato social, psíquico, biológico, sexual etc). Mas trata-se de surpreender
justamente o que um fato religioso nos mostra enquanto fato religioso” (ELIADE.
Briser le Toit de la Maison. P273-274. ALLEN, D. “Eliade and History” The
Journal of Religion. P.550).
3
WILSON, Bryan. Religion in Sociological Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1982, p.20.
4
MONTERO, Paula. Religião e dilemas da sociedade brasileira. In: MICELI, Sérgio. O que ler em
ciência social no Brasil. Caxambu: ANPOCS, 1999, p.329.
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Nessa mesma direção, “A ciência moderna reabilitou um princípio que certas


confusões do século XIX comprometeram gravemente: é a escala que cria o
fenômeno. Henri Poincaré perguntava a si próprio, com ironia: ‘um naturalista que
só tivesse estudado um elefante ao microscópio acreditaria conhecer completamente
este animal?’ O microscópio revela a estrutura e o mecanismo das células, estrutura
e mecanismo idênticos em todos os organismos pluricelulares. E não há dúvida de
que o elefante é um animal pluricelular. Mas não será mais do que isso? À escala
microscópica podemos conhecer uma resposta hesitante. À escala visual humana,
que tem pelo menos o mérito de nos apresentar o elefante como fenômeno
zoológico, não há hesitação possível. Da mesma maneira, um fenômeno religioso
somente se revelará como tal com a condição de ser apreendido dentro da sua
própria modalidade, isto é, de ser estudado à escala religiosa. Querer delimitar este
fenômeno pela fisiologia, pela psicologia, pela sociologia e pela ciência econômica,
pela linguística e pela arte, etc... é trai-lo, é deixar escapar precisamente aquilo que
nele existe de único e irredutível, ou seja o seu caráter sagrado. É verdade que não
há fenômenos religiosos puros, assim como não há fenômeno única e
exclusivamente religioso”. (ELIADE, M. Tratado de história das religiões. São
Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 1).

Portanto, pesquisas sobre religião não devem demonstrar ou refutar conceitos religiosos
como a existência de Deus ou a reencarnação. Essas ideias não podem ser provadas com
evidência para todos. Antes, o objetivo é como o ser humano tematiza essas questões e,
a partir delas, se estabelece no mundo. Portanto, é possível investigar como Feuerbach
questiona a existência de Deus ou a noção hinduísta de reencarnação. Enquanto ciência
hermenêutica, a CR lida sempre com essas mediações.

Ainda que uma abordagem neutra da religião seja impossível, é requerido que o
investigador não se feche em suas compreensões prévias, utilizando o estudo que
empreende apenas como meio para confirmar aquilo que já sabe. É preciso abertura para
questionar seus pressupostos.

§5. Ciência da religião é mais uma questão de perspectiva sobre o objeto do que de
metodologia

Ciência da religião constitui-se como área plurimetodológica.

O ponto de articulação da CR, a meu ver, está em se perguntar como a dimensão


religiosa afeta os outros âmbitos. A representação gráfica acima pode transmitir a ideia
de que as esferas sociais se dão de modo muito fragmentado, como se uma dimensão
não tivesse relação com a outra. Nada mais longe da realidade. As esferas sociais
interagem. E, penso eu, seria tarefa do cientista da religião justamente identificar como
a religião determina e se articula com outras esferas sociais. Com isso, a religião não é
independente, mas ao mesmo tempo, consegue-se perceber seu espectro e alcance
próprios. Ela não é autocontida, no sentido de que dizer que a religião é autônoma ou
considerar em escala religiosa significa abordar a religião como algo que não afeta
outras áreas. Como dito, é uma questão de lugar hermenêutico. Isto é, a partir de onde
interpreto a religião e as relações que ela estabelece com outros âmbitos. Quanto ao
método que se emprega aqui, eles podem ser o mais variados possíveis.
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Dessa maneira, um cientista político, por exemplo, interpreta a religião tendo em vista o
entendimento da política e como a religião se insere nesse que é o fim de sua
compreensão. Seria assim tão absurdo dizer que o cientista da religião tem por objetivo
compreender como a religião determina outras esferas sociais?

Assim, por exemplo, não se trata somente de se perguntar como a teoria sociológica de
Durkheim afeta a compreensão de religião, mas como a concepção de Deus em
Durkheim afeta a teoria social na modernidade? E como a ideia de religião em Freud
determina a psicanálise? Em segundo lugar, como a religião permite compreender
certas faces de fenômenos (inclusive não religiosos) que de outra forma ficariam
inacessíveis.

Não cabe à CR determinar a verdade do objeto que estuda. Mas, por exemplo, ela pode
mostrar como a religião aparece em lugares onde menos se espera e com configurações
mais improváveis possível. Como nos alerta Mark C. Taylor, “religião é mais efetiva
onde ela é menos óbvia”5. Portanto, não se trata somente de estudar tradições religiosas
consolidadas, mas em que medida na cultura, nas mentalidades e nas ideologias há
dimensão religiosa? Por exemplo, o que há de religioso em certos movimentos
políticos? No pensamento de um autor isso também se mostra importante. Em um
filósofo, qual impacto e importância que certas abordagens da religião podem trazer
para o entendimento de sua proposta filosófica?

5
TAYLOR, Mark C. Introduction. In: TAYLOR, Mark C. Critical Terms for Religious Studies. Chicago:
Chicago University Press, 1998, p.04.
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De uma intuição ao estabelecimento de um problema

A pesquisa faz parte do nosso cotidiano. Nós fazemos questões e buscamos por fatos
para respondê-la. Pode ser como encontrar um serralheiro de confiança ou questões
mais profundas.

Aprender a pesquisar é importante para além da academia.

À medida que aprendemos a pesquisamos, aprender a analisar a pesquisa de outros.

No cotidiano, posso me mover no âmbito da crença ou do senso comum. Posso assumir


uma autoridade, a tradição, insight espiritual como autoridade. No entanto, como eu
tenho de explicar aos outros porque acreditamos em certas cosias e convencê-los, não
basta apenas descrever nossas emoções ou colocar uma opinião.

Assim, a pesquisa se baseia em fatos compartilhados pelos leitores e aceitos como


verdade independentemente de nossas crenças ou sentimentos.

Todos os pesquisadores reúnem fatos e informações, o que chamamos de dados

Eles também devem nos mostrar por que valeu a pena fazer a pergunta deles, como sua
resposta nos ajuda a entender algum problema maior de uma nova maneira. Se
pudermos descobrir por que a Tiradentes tornou-se um símbolo nacional, podemos
então responder a uma pergunta mais ampla: como é que símbolos regionais moldaram
nosso caráter nacional?

Três perguntas fundamentais:


1. Estou trabalhando no tópico X (histórias sobre Tirandentes)
As pesquisas começam por aqui. No entanto, alguns pesquisadores ficam apenas nesses
tópicos mais gerais. Uma consequência é que não se tem critério para separar os dados
levantados.

2. porque eu quero descobrir Y (por que sua história se tornou um símbolo nacional)
Aqui já se tem um problema: Por que Tirandentes se tornou um símbolo nacional com
instauração da República no Brasil? Como isso aconteceu?

Com essa pergunta, pode levantar todos os dados de que necessita. Quando tem dados
suficientes, pode elaborar uma hipótese de trabalho.

3. para que eu possa ajudar outros a entender Z (como esses símbolos regionais
moldaram nosso caráter nacional).
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Mostra em que medida a pergunta é relevante. Antecipa-se a pergunta do leitor: e daí?


Por que isso é importante? Por que deveria me importar com isso?
Apontar para uma questão maior. Assim, por exemplo, estudar a Igreja Mundial do
Poder de Deus em Juiz de Fora pode nos ajudar a compreender melhor o
neopentecostalismo brasileiro.

Três tipos de questões.


1. Conceitual. O que devemos pensar? Quando resposta à pergunta: E daí? Não diz
aos leitores o que fazer, mas como compreender determinado aspecto.
1. Estou trabalhando no tópico X
2. porque eu quero descobrir como / por que / se Y (e daí se você fizer isso?)
3. para que eu possa ajudar outros a entender como / por que / se Z.

2. Prático. O que devemos fazer?


Estou trabalhando no tópico de avaliação de risco.

Por quê? Porque eu quero descobrir como as pessoas comuns avaliam o risco de se
machucarem pelo terrorismo.

E se você fizer isso? Depois de fazer isso, podemos entender melhor a grande questão
de quão emocional e fatores racionais interagem para influenciar a maneira como os
pensadores comuns pensam sobre o risco.

3. Aplicado. O que devemos entender antes de fazer?


1. Estou trabalhando no tópico X
2. porque eu quero descobrir Y (e daí se você fizer isso?)
3. para que eu possa dizer aos leitores o que fazer para corrigir / melhorar Z.

Estou trabalhando no tópico de comunicar riscos de forma eficaz.

Porque? Porque eu quero descobrir quais fatores psicológicos levam os americanos


comuns a exagerar o risco pessoal de um ataque terrorista.

E se você fizer isso?


Então, posso dizer ao governo como neutralizar esses fatores quando comunicarem ao
público sobre o risco real de terrorismo.

Por mais que pareça difícil, sempre imaginem alguém perguntando: e daí?

Estabelecendo um problema
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Em geral, a pesquisa tem início com uma intuição. O contato com um tema, que pode
ser de várias formas (apresentado por um colega, por um professor, descoberto na
biblioteca ou experiência de vida etc), desperta o interesse. No entanto, com isso temos
apenas um tema que desejamos estudar. Para que essa intuição inicial possa se
transformar em um projeto, há um longo percurso a ser feito.

Cinco tarefas numa pesquisa:


■ Faça uma pergunta que valha a pena responder.
■ Encontre uma resposta que você possa apoiar com bons motivos.
■ Encontre evidências confiáveis para apoiar seus motivos.
■ Elabore um relatório que seja um bom caso para sua resposta.
■ Revise esse rascunho até que os leitores pensem que você cumpriu as quatro
primeiras metas

Todo trabalho acadêmico tem início com uma pergunta ou um conjunto de questões. É
importante salientar esse ponto como o primeiro passo no sentido de transformar uma
intuição em um projeto de pesquisa.

Somente pesquisamos porque temos perguntas não respondidas. O que move nosso
empenho no estudo é o reconhecimento de que há perguntas que precisam ser
respondidas.

Se seu tema parece um verbete de enciclopédia, você vai encontrar muito material e não
vai saber por onde começar. É um trabalho para a vida toda. Portanto, é preciso tornar
um tópico manejável.
Ex.: Uso de máscaras em cerimônias religiosas
Usos de máscaras em cerimônias religiosas africanas.
Usa de máscaras como símbolos da vida em cerimônias religiosas africanas.

A elaboração de boas perguntas tem o papel: a) despertar o interesse do nosso leitor; b)


evita a síndrome do papel em branco; c)Direcionar a escrita do texto. Cada página do
texto que vamos escrever deve, de uma forma mais direta ou por vezes mais indireta,
lidar com a pergunta que se busca responder.

A elaboração do problema da pesquisa por ter um lugar tão central e, por isso mesmo,
um dos passos mais difíceis de ser dado. Não se transforma um tema de interesse em um
problema de maneira repentina. Para que isso ocorra, faz-se necessário conhecimento
prévio sobre o tema a ser investigado. Portanto, para que isso ocorra, é pressuposto que
se tenha conhecimento sobre o autor ou texto a ser investigado, conhecimento mínimo
sobre os comentadores mais importantes e pontos de debate em torno do autor/texto a
ser estudado.
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Uma dica: quando não se tem conhecimento aprofundado sobre um autor/texto, uma
boa dica é iniciar com textos introdutórios que sejam confiáveis. Em geral, esses textos
nos ajudam a mapear as principais tendências internas ao pensamento do autor a ser
investigado e, em alguns casos, nos indicam pontos problemáticos de sua proposta de
pensamento e debates entre os intérpretes. Em outros termos, pode ser que esses textos
nos ofereçam pistas de onde encontrar pontos de abordagem interessantes. Mas, lembre-
se: não se deve exigir de um texto introdutório mais do que ele pode oferecer. Ele pode
ser um bom início. Mas, não se deve permanecer limitado a esse tipo de texto. À medida
que ele cumpriu sua função, é preciso buscar textos mais específicos e aprofundados.

O que constitui uma boa pergunta?


1) Uma boa pergunta pede pelo “como” ou “por quê” ao invés de “O quê”
Exemplo: como a ideia de último Deus, defendida por Heidegger em
Contribuições para a filosofia, ajuda na compreensão do niilismo?

Por que Heidegger emprega a noção de “último Deus” ao tratar do niilismo?

O que não fazer:


A noção de sagrado é importante para o pensamento de Heidegger?
Resposta: sim.

O que Heidegger diz a respeito de sagrado nas suas obras tardias?

Observação. O critério para definição do que constitui uma boa pergunta é que ela deve
conduzir para evidências. Nota-se que os dois últimos exemplos não evocam evidências.
Ou a resposta é muito simples e direta (não permite grandes problematizações) ou acaba
caindo numa descrição, numa simples exposição sem tematizar o pensamento do autor
estudado. Portanto, um critério para saber se temos um bom problema é averiguar em
que medida ele nos conduz para as evidências e nos direciona.

Por exemplo: Por que a distinção entre ser e ente é tão central para a compreensão da
noção de sagrado e último Deus em Heidegger?
Não: Como o cristianismo mudou nos últimos cinco séculos? (Precisaria de uma
biblioteca inteira para responder isso)
Não: Qual o tipo de prática religiosa realizada nas reuniões da maçonaria? (É preciso
averiguar se há evidências disponíveis ou se nós conseguimos acesso a ela).

Uma boa questão indica como se poderia montar um quebra-cabeça ou contradição


Exemplo: Por que esse texto que diz acreditar no amor de Deus, gasta tanto tempo com
a vingança divina?

De maneira sucinta, podemos dizer que: a) Uma boa problemática emprega “como” e
“por quê” ao invés de “o quê” na elaboração da pergunta. Com isso, consegue-se uma
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problematização que escape de generalidades, além de remeter a investigação para a


coleta de evidências.

Como fazer isso?

Estudo atento e fichamento dos textos. Não se de simplesmente ler o textos, mas de
estuda-los. Uma boa dica é não somente ler os textos, mas abrir arquivos para que se
façam anotações, que podem ser: a) resumo da estrutura do texto e de suas principais
ideias; b) comentários. À medida que se lê, é possível que venham ideias à sua mente. É
fundamental anotá-las para não se esquecer; c)citações que se julga importantes.

Mapa de ideias: estabelecer uma ideia central e explorar ideias correlatas e como elas se
relacionam.

Escrita livre: sente-se na frente do seu computador e e escreva por uns 15 minutos o que
lhe vier à mente. Não deve haver, nesse primeiro momento, preocupação se faz ou não
sentido, se é ou não pertinente, se há ou não coerência. A proposta é simplesmente
externar as ideias. Após esse exercício, é preciso ir revisando para averiguar a conexão
entre as ideias, sua pertinência, etc.

Essa técnica tem o benefício de superar um sentimento inicial de que não conseguirá
produzir o texto proposto ou algum bloqueio de por onde começar. No entanto, a
desvantagem é que se produz muito material que não será utilizado ou, na escrita final,
o resultado pode ser bem diferente do que se pensou inicialmente. Portanto, quem
emprega essa técnica tem de estar ciente da necessidade de utilizar a tecla “delete”.

Lembrar que a inspiração vem depois de muita transpiração.

Definir e avaliar um problema


Possibilidades de perguntas:

1. Contexto histórico.
a) Pergunte como seu objeto se articula com o contexto histórico/social/cultural mais
amplo.

O que vem antes? Como se processaram mudanças com o passar do tempo? Por que
essas mudanças ocorreram?

obs.: essa pergunta pode ser feita em relação a um conceito no interior da proposta de
um autor.

b) Inserção numa perspectiva mais abrangente. Como o tema que você estuda funciona
como parte de um sistema maior? Ex.: como ele revela certos sistemas de poder, de
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cultura, de controle? Em que medida ele representa valores sociais estabelecidos? Qual
o lugar desse objeto na problemática mais ampla em que se insere? (ex. como o
mimetismo pode ajudar a entender a relação entre violência e religião?)

c) Compare e contraste com outras propostas. Como esse tema e sua abordagem se
contratam com outros similares? Ex. c como a proposta de abordagem da relação entre
violência e religião proposta por Girard se contrasta com a de outros autores?

2. Questione pela natureza do que você estuda.


a) Como aquilo que você estuda mudou com o decorrer do tempo? Como o pensamento
de um auto determinado se alterou com o passar dos anos? Por que isso ocrreu? Quais
as consequências disso para sua proposta de pensamento?

b) Como as partes que você estuda chegam a formar um sistema? Quais partes são
importantes? Quais são secundárias? Por quê algumas são mais importantes do que
outras? Como as diversas partes se articulam?

c) Pergunte pelas ausências e buracos. Por que determinado aspecto recebe atenção em
determinados contextos e em outros não? Como explicar que o discurso aponte numa
direção e a prática para a outra?

3. Transforme questões positivas em negativas. Por que o autor não menciona


determinado aspecto que deveria ser importante? Por que nas cerimônias, determinado
símbolo não recebe atenção? Por que a escola não valoriza o ensino religioso?

4. Pergunte questões especulativas. Por que determinado autor menciona certo


conceito e outro, que se inspira nele, não? Por que determinados líderes religiosos se
mostram mais preocupados com pautas morais do que com pautas sociais?

5. Pergunte: e se?. E se Girard abordasse o julgamento de Sócrates do mesmo modo


como ele faz com a paixão de Jesus? E se o terreiro não fosse reafricanizado? E se os
líderes religiosos dessem mais atenção aos problemas sociais do entorno de seus
templos?
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6. Elabore questões que reflitam discordância com sua fonte. Se um autor ou


comentador faz uma afirmação que você considera fraca ou errada, indique desacordo.
"João afirma que os líderes evangélicos se ocupam das questões morais a fim de não se
envolver nos problemas da sociedade. Mas, ao tratar de questões morais, não querem os
líderes evangélicos justamente exercerem poder de decisão sobre questões sociais?

7. Elabore questões que construam acordo. Por exemplo, se uma fonte faz uma
afirmação que você acha convincente, elabore questões que entendam essa questão.
"Pedro entende que os evangélicos tem tido grande influência em decisões locais em
cidades de médio porte. Isso se aplica ao caso de Juiz de Fora? Como se dá a presença
de igrejas pentecostalizadas no cenário político e no espaço público local?

8. Faça perguntas de similaridades. Carlos analisa as igrejas evangélicas do ponto de


vista econômico, a partir do paradigma de mercado religioso. Como seria uma análise
os terreiros de candomblé do mesmo modo?

9. Procure por perguntas que outros pesquisadores colocam, mas não respondem.

10. Discussões na internet, congressos etc. podem ser também fontes de perguntas
para debate.

2. Avalição das questões


1. Pode responder à questão muito facilmente?

a) Pergunta que pode ser pulada: Seria Heidegger adepto do nazismo?

b) Sumariza uma fonte: O que Heidegger diz sobre o sagrado?

2. Você não pode encontrar evidências para ela.

a) Não há fatos. O Corão foi dado por Deus ao profeta?

b) A pergunta é baseada no gosto ou preferências pessoais: O texto sagrado é revestido


de grande beleza?
15

c) Você teria de ler muitas fontes: como o cristianismo mudou nos últimos 500 anos?

d) Você não consegue acesso a fontes relevantes: os rituais da maçonaria poderiam ser
considerados rituais religiosos?

3. Você não consegue encontrar aspetos que mostrem que a resposta pode estar
errada.

Quão importante é a religião para cultura?

Observações.
Não recuse uma pergunta porque você acha que alguém já a tenha perguntado. Se
alguém já tiver feito essa pergunta, você pode oferecer uma outra ou melhor resposta
para ela. Em ciências humanas, uma boa questão tem mais do que apenas uma boa
resposta.

Você pode também organizar seu projeto comparando e contrastando respostas,


buscando dar suporte para a que você acha que há mais evidências convincentes.

Encontre uma questão que VOCÊ que responder. Educação não é memorizar uma série
de propostas que alguém outro elaborou. Também não é dizer pela enésima vez o que
Aristóteles pensou.

Pesquisar é encontrar suas próprias respostas para suas questões. Não é preciso
reinventar a roda a cada vez. Por isso, estudamos outros autores. Para ver como essa
questão já foi trabalhada, como foi respondida para, a partir disso, ponderar como você
vai lidar com ela.
16

Estabelecendo uma hipótese

Um trabalho acadêmico sem uma hipótese é como um mamífero sem espinha. De um


lado, somente pesquisamos porque temos algum problema que deve ser solucionado. De
outro, se coloca a hipótese que consiste numa possibilidade de resposta para a problema
levantado.

Uma vez que você possui um problema, levante diversas hipóteses. A princípio, não
importa se elas são muito especulativas ou mesmo se elas estão corretas. Faça uma
espécie de “Brain Storm” de hipóteses.

Mesmo as hipóteses que depois se mostram errôneas têm seu lugar. Se a princípio você
considera uma hipótese plausível, mas depois de se aprofundar na pesquisa nota que ela
é absurda, um ponto pode ser analisar o porquê essa hipótese parecia razoável, mas não
resistiu à análise mais detida.

Se uma hipótese se mostra mais plausível e promissora, ela se constituirá como sua
hipótese de trabalho central. Estabelecer uma hipótese centra é importante, afinal ela
guiará no sentido de saber que tipo de evidências serão do seu interesse. Por exemplo.
De que tipo de evidências você precisará: números, citações, observações, imagens,
documentos históricos, entrevistas etc. E mais, dentro disso, quais obras de determinado
autor ou que aspectos do trabalho de campo serão mais relevantes.

Se você não encontra nenhuma hipótese satisfatória ou promissora, reconsidere a


problemática. Ela pode ter alguma limitação.

É importante observar que se trata de hipótese de trabalho. Portanto, a hipótese não é


uma resposta final à qual você deve se abraçar a qualquer custo. É preciso trabalhar com
essa hipótese, mas ter abertura para considerar suas fragilidades e os argumentos
contrários. Ex. pesquisa que buscava aplicar as teses de Weber a uma comunidade
luterana no Paraná. No meio da pesquisa, viu-se que isso não era viável.

Uma boa hipótese possui três características. Ela deve ser original, argumentável e
interessante.

a) Original

Entende-se que uma hipótese é original quando é fruto do seu próprio trabalho. Nesse
sentido, a hipótese deve ser a resposta à pergunta levantada pelo trabalho acadêmico.

Assim como uma pesquisa somente possui um problema central, ela também possui
uma hipótese central.

Assim como ocorre com o problema central, é preciso cautela e cuidado na redação da
hipótese, que deve ser expressa com clareza e em uma única sentença.
17

Para se atentar a esse critério, é fundamental que se faça uma distinção entre a
problemática e hipótese do autor que se está estudando e da problemática e hipótese da
pesquisa.

Exemplo: Em quem medida a imolação da vítima sacrificial é resposta ao problema da


violência? Hipótese: Para Girard, a vítima sacrificial, ao ser culpabilizada pela
violência, evita o conflito de todos contra todos, canalizando a violência de todos contra
ela mesma, recriando a coesão social.

Nesse exemplo, nota-se que o problema e a hipótese não são da pesquisa propriamente
dita, mas elas acabam reproduzindo a problemática e a hipótese do autor. Nesse caso, a
falta de originalidade da hipótese faz com que o trabalho se transforme numa mera
reprodução do pensamento do autor estudado. Em trabalhos bibliográficos, há lugar
para comentário e reprodução das ideias do autor estudado. No entanto, esse não deveria
ser seu alvo final. O comentário e reprodução de certas ideias do autor pesquisado
devem conduzir à sustentação de uma hipótese que é articulada pela própria pesquisa.

Exemplo: Como Tillich, na sua definição de fé, articula religião e modernidade? A


compreensão de fé em Tillich, como preocupação última, surge como resposta à
fragmentação da modernidade em esferas sociais autônomas e o consequente
rebaixamento da religião a uma esfera ao lado das outras.

Quando se fala em originalidade de uma hipótese, não se deve entender que se trata de
exigir do pesquisador que ele tenha uma ideia completamente nova, que ninguém nunca
teve antes. Especialmente, em se tratando de pesquisa bibliográfica, originalidade
significa oferecer novas leituras de textos conhecidos e conexões antes ignoradas por
comentadores e intérpretes.

b) Argumentável

Em outras palavras, deve haver evidências para a hipótese ser sustentada. Por isso
mesmo, de modo similar à problemática, a hipótese somente é elaborada após sério
estudo do tema que se está pesquisando. Para sua elaboração, é necessário que se tenha
contato prévio com o tema. No caso de uma dissertação ou tese, ela é elaborada após
muita leitura. Portanto, aqui não deve haver pressa.

Uma boa hipótese deve ser bem delimitada. Uma hipótese muito abrangente e com
afirmações generalistas retira dela seu caráter argumentativo. Em segundo lugar, é
preciso também verificar se o pesquisador terá meios de levantar as evidências capazes
de sustentar a hipótese.

Exemplos: O sagrado é uma categoria importante para os estudos de religião.

O ser humano é intrinsicamente religioso.

O Corão é o principal livro do Islã.


18

Além de problemas de delimitação, os exemplos anteriores possuem outra limitação.


Essas hipóteses não são falseáveis. Para sabermos se uma hipótese é falseável, uma
pergunta a ser feita é: há possibilidades de alguém levantar argumentos e evidências
contrárias à hipótese que estou sustentando? Se a resposta for negativa, suspeite se sua
hipótese não está sendo muito generalista ou está apenas afirmando fatos, em torno dos
quais não há nenhum debate.

Exemplo: O cristianismo é fruto do encontro entre tradição judaica e pensamento


grego.

Uma boa hipótese requer que se desenvolvam argumentos em torno dela. O seu leitor
não deve acatá-la de início. Aliás, é muito mais interessante para ele se ao ler o que
você pretende, tenha suspeitas se a hipótese é ou não pertinente. Isso demandará de você
a mobilização de argumentos para convencer o seu leitor de que sua hipótese é válida. O
ideal é que o leitor seja convencido da sua hipótese à medida que vai tomando contato
com seus argumentos.

Um artigo, dissertação ou tese tem apenas uma hipótese. Nesse sentido, repete-se o que
já foi dito em relação à problemática. Portanto, para ficar bem claro, um trabalho
acadêmico possui apenas uma problemática e uma hipótese. Nesse sentido, é preciso
diferenciar entre hipótese e argumentos. A hipótese se constitui como resposta à
problemática levantada, sendo o ponto principal que se trabalho defenderá e, em torno
da qual, irá se estruturar. No sentido de sustentar a hipótese, você levantará argumentos.
Lembre-se: os argumentos devem sempre trabalhar a partir e em favor da hipótese. Eles
não se constituem como outras hipóteses, mas dão sustentação à hipótese.

Exemplo. Hipótese: “A compreensão de fé em Tillich, como preocupação última, surge


como resposta à fragmentação da modernidade em esferas sociais autônomas e o
consequente rebaixamento da religião a uma esfera ao lado das outras”. Para sustentar
essa hipótese, a pesquisa deve mostrar como Tillich compreende a modernidade como
época de fragmentação. Esse é um argumento e não uma hipótese. Afinal, esse
argumento serve para poder, posteriormente, sustentar a hipótese.

Outro elemento a se considerar são as evidências. A pertinência de uma hipótese


significa também indicar as evidências que a sustentam. No trabalho final, seja no
projeto ou texto de dissertação, em geral lançamos a hipótese e no decorrer dos
capítulos vamos trazendo os argumentos e as evidências.

No entanto, a ordem de exposição não necessariamente reflete a ordem da pesquisa. No


processo de pesquisa bibliográfica, iniciamos com leituras de certos textos previamente
delimitados e vamos nos deparando com certas questões, problemas, etc. Essa leitura
nos conduz à elaboração do problema e da hipótese. Portanto, numa certa circularidade,
a leitura de partes nos leva a pensar hipóteses mais amplas, na mesma medida em que as
hipóteses mais amplas vão sendo confrontadas com partes. É o círculo hermenêutico
entre as partes e o todo. Em suma, a pesquisa se constrói primeiro com as partes e certas
evidências que levam a elaborar uma hipótese. A exposição da pesquisa no artigo,
19

dissertação ou tese segue o caminho inverso. Anuncia a hipótese para ir expondo os


argumentos e evidências. Em outros termos. Na pesquisa, vamos dos argumentos e
evidências para a hipótese. Na escrita do trabalho, vamos da hipótese para os
argumentos e evidências.

Exemplo. Uma pesquisa se dedica à relação entre fé e dúvida nos filmes de Scorsese.
Esse problema surge à medida que o pesquisador vai vendo e analisando os filmes de
Scorsese e nota como em vários deles essa temática aparece. Num segundo momento,
vai percebendo que há certos padrões. Ou seja, fé e dúvida aparecem sempre de
determinadas formas. Essas evidências levam à formulação de um problema e,
consequentemente, de uma hipótese. Na hora de escrever o texto da tese, entretanto, o
texto já deve anunciar de início a hipótese e, então, elencando as evidências e
argumentos que levaram a essa hipótese.

Não se deveria iniciar a escrita de um trabalho sem antes ter esse elemento claro. Afinal,
é justamente o caráter argumentativo de uma hipótese que levará à estruturação do
trabalho. A divisão dos capítulos e dos subtítulos é estabelecida à medida que percebo
quais temas, argumentos e evidências que preciso mobilizar para poder sustentar a
hipótese que estou defendendo.

C) Interessante

Uma hipótese é considerada interessante quando ela oferece novas percepções e leituras
de um determinado tópico, tema ou autor. Em outros termos, ela requer a revisão do
modo convencional de se ver determinado assunto.

Nesse aspecto, percebemos como os elementos se convergem. Se o problema


estabelecido não simplesmente repete o problema do autor, mas remete para o
levantamento de evidências, naturalmente, a hipótese vai ser interessante. Em outros
termos, se há cuidado em estabelecer e redigir bem um problema, a hipótese decorrente
tenderá a ser interessante, uma vez que não irá simplesmente replicar as ideias centrais
de um autor, mas deverá discuti-las.

Dicas: Artigos, dissertações e teses não são romances policiais, em que se mantem o
mistério até o final. Um bom projeto ou texto acadêmico não deixa para revelar sua
hipótese apenas no final. O ideal é que esses pontos sejam anunciados na introdução do
texto. O despertar do interesse de um leitor do texto acadêmico é diferente do leitor de
um romance policial. O interesse do texto está justamente nesse mecanismo. Ao
anunciar de início a hipótese, o interesse do leitor pelo texto deve ser mantido para que
ele verifique aonde essa hipótese irá conduzir e se está bem argumentada. Portanto, não
é preciso temer que o texto fique desinteressante por se anunciar a hipótese de início. Se
ela for original, argumentável e interessante o leitor irá ter curiosidade na leitura do
texto por essas razões.
20

Assim como a problemática, a hipótese deve ser anunciada em uma frase. Em geral, a
hipótese deve aparecer logo no início do texto. Para chamar a atenção para ela, vale
colocar alguns indicadores: “Esse artigo sustenta que...”; “A hipótese dessa dissertação
é:”

Como organizar?

Colocar tudo isso num esboço pode ser de grande valia. Pode ajudar a ter clareza no
plano a ser seguido bem como ajuda a alinhavar problema, hipótese, argumentos e
evidências. Com essa prática, fica mais fácil estruturar o trabalho e colocar todas as
partes para trabalharem em função da problemática e da hipótese

Pressupostos para a compreensão do


problema.

Nessa parte, você deve colocar alguns


elementos que precisam ser esclarecidos a fim
de que o (a) leitor (a) possa compreender
adequadamente o problema proposto. Pode
ser o esclarecimento de algum conceito,
contextualização histórica/social/cultural do
objeto de estudo.

Enunciado do problema

Qual o problema central que a pesquisa


pretende resolver? Lembre-se de formular o
problema se utilizando de como e por quê?
Um bom problema induz à construção de uma
explicação (hipótese de trabalho), à busca de
evidências e desperta a atenção do (a) leitor(a)

Enunciado da hipótese de trabalho

Deve-se anunciar qual será a resposta à


problemática levantada para a pesquisa.
Lembre-se que uma hipótese de trabalho deve
ser original, argumentável e interessante. A
hipótese não deve ser uma camisa de força,
mas conceder uma direção ao trabalho. Você
pode se perguntar: ao final da leitura desse
trabalho, do que o leitor(a) deverá estar
convencido(a)? ou ainda: onde eu quero
chegar com essa pesquisa?

Argumento 1
21

Apresentar um argumento que dá sustentação


à hipótese. Você pode começar pelo
argumento mais forte ou pelo que você
considera mais frágil e pode ir no crescendo.
Lembre-se de apresentar o argumento com
clareza e mostrar como ele dá suporte à
hipótese. A pergunta aqui é: como esse
argumento dá suporte à hipótese?

Evidência 1

De que tipo de evidência se trata: uma


citação; trecho de uma entrevista;
observação de pesquisa de campo;
trecho de documento histórico; trecho
retirado de meios de comunicação;
mídias sociais, etc.

Onde encontrar essa evidência? (em


qual livro; em qual mídia social; em
qual documento).

Na medida do possível, reproduzir o


trecho que servirá de evidência.

Em que medida essa evidência dá


suporte ao argumento e confirma a
hipótese?

Evidência 2

Argumento 2
22

Evidência 1

Evidência 2

No decorrer das aulas, tenho feito paralelos entre a pesquisa acadêmica e roteiros de obras
policiais. Não obstante as peculiaridades de cada uma, as obras policiais podem nos ajudar a
compreender de maneira aplicada o que são: problema, hipótese, argumentos e evidências.

Uma das peculiaridades das obras policias é o que se conhece por “plot twist”. Para prender a
atenção do seu público, as obras policiais nos fazem suspeitar de um personagem. No entanto,
logo em seguida, as suspeitas recaem sobre outro personagem. Essas viradas nos levam a ver
como várias hipóteses são construídas e testadas à luz das evidências. Mas, apenas uma delas
se comprova.

Para essa semana, nossa tarefa será a seguinte. Todos(as) devemos assistir o episódio da série
Cold Case no link https://www.youtube.com/watch?v=qAAlgJ3AIjM . Ao ver o episódio, vocês
deverão indicar qual é o problema (enigma a ser resolvido), hipótese (resposta ao enigma),
argumentos e evidências.

A série Cold Case consiste em reabrir inquéritos de crimes cujas investigações ficaram
inconclusas e foram encerradas há alguns anos. Para isso ocorrer, parte-se do princípio de que
há novas evidências e que levariam à possibilidade da solução do crime. Assim, a série pode
ser muito útil para nosso objetivo de identificar aspectos centrais da pesquisa acadêmica.

Pegue sua pipoca, papel e caneta e mãos à obra!


23

Problema:

Hipótese:

Argumentos:

Evidências:

Conforme havíamos combinado, em anexo envio um template que resume boa parte do que
estudamos nesse semestre. Como atividade, vocês deverão preencher o template com as
informações correspondentes aos projetos de pesquisa de vocês. O prazo para realizar essa
atividade é 04/01/2023, quarta-feira. Essa atividade terá peso avaliativo para a nota final do
curso. Portanto, recomendo atenção e cuidado no preenchimento das informações.

O formulário deverá ser preenchido com texto corrido, evitando-se a escrita por meio de
tópicos.

Seminário de Pesquisa 2
Escolha uma série, episódio de uma série (quando for possível separá-la do todo) ou um
filme. Para a atividade, é fundamental que a obra escolhida busque resolver um enigma
(um crime, por exemplo). No final desse arquivo, há algumas sugestões.

A partir disso, considerando o que foi discutido em aula, indique os pontos solicitados
no quadro abaixo:

Sinopse da série/episódio ou filme

Problema:
24

Qual é o enigma a ser resolvido?

Hipótese de trabalho:

Chega-se a uma hipótese de trabalho


(solução para o enigma, crime, situação
etc. a pós algumas tentativas e erros.
Nesse quadro, indique também alguma
hipótese que foi inicialmente ventilada,
mas que se mostrou errônea. Por fim,
indique a hipótese que os investigadores
acreditam ser a mais promissora.

Argumentos (não é necessário indicar


todos os argumentos. Podem ser 2).

Não se esqueça de mostrar como esses


argumentos se relacionam com a hipótese.
No caso de uma série criminal, um
argumento irá indicar motivos que teriam
levado X a matar Y, por exemplo.

Evidências.

Os argumentos devem se basear em


evidências. Sendo assim, indique uma ou
25

duas evidências para cada argumento. No


caso de uma série criminal, as evidências
são os rastros que foram deixados para
trás (uma digital, uma testemunha, pedaço
de uma roupa etc).

Descreva sumariamente como você


percebeu que o roteiro constrói as
articulações entre hipótese, argumentos e
evidências.

Sugestões de séries:
Monk
CSI
CSI: New York
CSI: Cyber
CSI: Miami
CSI: Vegas
Constantine
Bom dia Verônica!
Bones
Sherlock
Elmentary (Elementar). Relacionado com Sherlock Holmes)
Gotham
The Blacklist
Lucifer
O mentalista
Criminal Minds (Mentes Criminosas)
FBI
Fargo
Marcella
Ponto cego
26
27

Uso de fontes e evidências na pesquisa acadêmica em C. da Religião

Na medida em que você tem uma pergunta, uma hipótese de trabalho e alguns
argumentos, você pode iniciar a busca por dados e evidências. Na prática da pesquisa,
nem sempre esse caminho é linear. Para levantar certos argumentos e construir uma
hipótese, você já deve ter algum contato com as evidências. Mas, nesse momento, é
hora de sistematizar essas articulações.

Para iniciar, é preciso atenção a dois aspectos:

1) Tipo de fontes e como encontrar fontes confiáveis;


2) Como lidar e utilizar as fontes.

I) Tipo de fontes e como encontrar fontes confiáveis;

1. Tipos e características das fontes


Fontes primárias. Nas diversas modalidades de pesquisa que se faz em C. da Religião
as fontes primárias são os textos e falas originais. Nesse sentido, podem ser: diários,
cartas, jornais, entrevistas, anotações de trabalho de campo, imagens, filmes, textos
escritor pelo pensador a ser estudado, moedas, imagens, sons, etc. Pesquisas de pós-
graduação devem sempre se pautar em dados oriundos de fontes primárias.

Fontes secundárias (para aprender com outros). Fontes secundárias são textos,
artigos, dicionários etc que analisam fontes primárias, em geral escritas por outros
especialistas. As fontes secundárias são utilizadas, principalmente, para três finalidades:

1) Manter-se atualizado sobre as pesquisas atuais em torno do tema pesquisado. A


intenção é se manter informado e refinar sua interpretação;

2)Familiarizar-se com pontos de vista de outros pesquisadores. Parte fundamental da


pesquisa é tomar conhecimento e responder a pontos de vista de outros autores e
questionamentos possíveis de serem feitos pelos leitores. Com relação às fontes
secundárias, é possível fazer alguns questionamentos: Quais alternativas às suas ideias
elas oferecem? Quais evidências elas oferecem que você deve reconhecer? Atenção:
alguns pesquisadores pensam que citar abordagens que discordam da sua podem
enfraquecer seus argumentos. No entanto, trata-se do contrário: ao apresentar pontos de
vista contrários, você demonstra que conhece a literatura a respeito do tema e, inclusive,
pode responder a elas.

3) Encontrar modelos para sua própria pesquisa e análise. É importante não apenas
observar o que outros escreveram, mas como escreveram sobre seu tema. Um bom
exercício imaginativo é pensar na fonte secundária como um colega que está falando
28

sobre seu tema. Entenda essa interação com a fonte secundária como uma conversa.
Com isso, você pode estar atento aos argumentos, evidências que são ou não são
utilizadas, detalhes estilísticos, etc.

Fontes secundárias não devem ser citadas como fonte de evidências primárias. O único
caso em que Apud é justificável se dá quando a obra é de difícil acesso. Mesmo assim,
não se deve fazer uso recorrente desse recurso. Pode ser que, ao ler uma fonte
secundária, você se depare com uma evidência que lhe chama a atenção. Cabe ao
pesquisador buscar essa fonte primária e ter contato direto com ela, inclusive para
considerá-la dentro de seu contexto mais amplo.

Fontes terciárias. São fontes baseadas em fontes secundárias e escritas por pessoas que
não são especialistas. Para pesquisa acadêmica, esse tipo de fonte deve ser visto com
rigor, desconfiança e, raramente, empregada.

Seus leitores irão confiar mais em você se eles puderem confiar nas suas evidências. E
eles apenas poderão confiar nas suas evidências, se eles puderem encontrar suas fontes.
Portanto, tenha cuidado com a citação de suas fontes, de modo que ela seja acurada e
seus leitores possam encontra-las.

Desde o primeiro contato com as fontes, é importante que se tenha cuidado no registro
das informações. Desde dados bibliográficos (tais como autor, título, ano) até mesmo
informações de conteúdo (assunto, contexto das citações etc). Apesar de ser uma
atividade monótona, ela ajudará muito quando, no futuro, você precisar manipular essas
informações.

2. Como buscar fontes confiáveis?


Pressuposto básico: em todas as buscas, é importante indicar o tema. Mas, não se
esqueça de recorrer também às palavras-chave. Lembre-se de que o nível de
especificidade ou abrangência dessas palavras chave terá impacto nos resultados, tanto
no número deles como no nível de especialização.

1. Uma pesquisa se inicia buscando alguém que sabe algo sobre seu tema e que
indica referências sobre ele. Nesse sentido, algumas fontes podem ser
interessantes: estudantes em nível mais avançado; professores; redes sociais;
programa de cursos de disciplina que lidem com temas correlatos.
2. Busca pela internet. Uma dica de pesquisa é colocar a palavra “Abstract” após a
palavra pesquisada. Com isso, insere-se um filtro que irá lhe remeter apenas para
textos de caráter acadêmico.
Ferramentas úteis na internet:

Publish or Perish

https://harzing.com/resources/publish-or-perish
29

Ao acessar o site, é necessário instalar o aplicativo no computador. O recurso mais


interessante desse aplicativo é o levantamento bibliográfico. É possível realizar procura
por autor, palavras no texto, palavras no título, ano de publicação entre outros. Um
aspecto importante é o ordenamento dos textos a partir do critério de impacto. Isto é: os
artigos são listados segundo o número de vezes que foram citados em outros textos. Se
o artigo é muitas vezes citado, isso é um indício de sua relevância para a área de estudos
em questão.

É possível também exportar a listagem dos artigos para planilha Excel.

O material disponível em outros idiomas, especialmente em inglês, é muito mais


volumoso do que em português. Vale a pena realizar, pelo menos, buscas em inglês e
espanhol.

Mais informações sobre esse programa podem ser obtidas em:

http://www.sibi.usp.br/apoio-pesquisador/indicadores-pesquisa/publish-or-perish/

Site com artigos disponíveis

http://sci-hub.tw/

Esse site disponibiliza artigos e materiais em pdf. É possível utilizá-lo em articulação


com o Publish or Perish da seguinte maneira. Em primeiro lugar, você busca artigos
sobre a temática de pesquisa no Publish or Perish. Após ter o título e autor, você pode
verificar se está disponível nesse site. Aqui também se aplica a regra: caso você busque
em outros idiomas, especialmente inglês, o material disponível é muito maior.

https://b-ok.lat/

Portal de Periódicos CAPES

http://www.periodicos.capes.gov.br/

Esse portal reúne periódicos das mais diversas áreas do saber. Uma vez que se paga pela
assinatura desses periódicos, somente instituições credenciadas podem ter acesso. Nesse
caso, você somente terá acesso ao conteúdo assinado caso acesse o site com um IP da
UFJF. É possível também acessar de casa. Para isso, é preciso acessar o SIGA e
procurar o campo específico que permite esse acesso.

Indexador: Scielo

http://www.scielo.org/php/index.php
30

O scielo é um indexador que reúne periódicos acadêmicos nacionais de qualidade. Para


ser aceito no indexador, o periódico deve seguir uma série de procedimentos.
Infelizmente, por razões administrativas e de concepção, o indexador possui poucos
periódicos na área de religião. Mas, mesmo assim, pode ser muito útil para pesquisa.

Banco de teses da CAPES

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp

No site Domínio Público é possível encontrar várias obras que não mais estão
protegidas por direitos autorais. Lá também há possibilidade de busca de teses e
dissertações defendidas nas diversas áreas do conhecimento no Brasil. É uma ótima
ferramenta para se travar diálogo com a bibliografia secundária.

3. Busca na biblioteca. Por mais que no Brasil as bibliotecas sejam bastante


limitadas, vale uma busca no catálogo da biblioteca. Essas buscas podem revelar
textos importantes para a pesquisa. Para esse tipo de pesquisa, vale consultar
sistemas de universidades de referência no Brasil. Em geral, essas bibliotecas
possuem um acervo mais completo e podem indicar bibliografias importantes.

http://dedalus.usp.br/F/
V3DVETL7PHA5PPCIT5Y2B8MRP5BBXHBJMIRE1VHH9JDRTMUTP9-
32461?RN=592389100&pds_handle=GUEST

http://www.sbu.unicamp.br/sbu/

https://www.itf.edu.br/institucional/biblioteca-digital.vm (Petrópolis, com ótimo


acervo na área de religião).

https://faculdadejesuita.edu.br/acesso/biblioteca/

https://bibliotecaredentorista.com.br/ (em Juiz de Fora, com ótimo acervo na área de


religião)

4. À medida em que você tem contato com os textos pertinentes ao tema que você
estuda, sempre se lembre de também olhar a bibliografia desses textos. Busque
perceber: quais textos são frequentemente citados? Isso pode indicar textos
clássicos de um determinado campo, ou seja, textos incontornáveis de um campo
de estudos. Quais textos são essenciais para aquilo que estou pesquisando?
Quais textos são recomendados para o que estou estudando? Quais textos
poderiam ser interessantes para analisar? É importante construir essa percepção
em relação às fontes.
31

3. Como avaliar as fontes?


Dê uma olhada no índice. Procure identificar se o livro trata do tema ou de algum
aspecto correlato de sua pesquisa.

Leia a introdução do livro, sobretudo as partes finais da introdução. Nesse momento,


os livros oferecem um esquema do livro. Isso pode facilitar sua decisão de em que
medida o livro poderá ou não ser útil para sua pesquisa. Se for um texto com vários
autores, leia o prefácio do editor.

A partir disso, você deve decidir quais partes do livro você deve ler, quais deverão
receber mais atenção e como elas podem lhe auxiliar na sua pesquisa.

Se for um artigo ou dissertação/tese: Leia o resumo e as palavras-chave com


atenção; leia a introdução, buscando identificar o problema, hipótese de trabalho e
argumentos. Vale também conferir a conclusão. Se ainda restar alguma dúvida,
confira os dois primeiros parágrafos de cada seção. A partir disso, você pode definir
se se trata de um texto necessário, recomendado ou possível para sua pesquisa.

Critérios de qualidade

a) O autor possui reputação na área de estudos? Quais são suas credenciais? Você
pode descobrir isso por meio de uma pesquisa na internet. Nos livros sempre há
uma breve biografia do autor. Com relação ao estudo da religião, é preciso
sempre cautela. Nessa área, há muitos autores com boa reputação em outra área
mas que, ao escreverem sobre religião, utilizam suas credenciais para dar
credibilidade a concepções não acadêmicas.
b) A fonte ainda é atualizada? É preciso considerar que determinados estudos
possuem prazo de validade. Uma pesquisa em Ciências Sociais com dados do
censo, por exemplo, tem sua validade até a próxima divulgação dos dados do
próximo censo. Pesquisas em humanidades tendem a ter vida mais longa. Mas, é
sempre importante se certificar se a fonte que estamos utilizando não está
desatualizada.
c) A fonte é publicada por uma editora/periódico com reputação? Muitas editoras e
grande parte dos periódicos adotam o sistema de revisão às cegas. Portanto,
antes de um texto ser publicado ele é analisado por dois outros especialistas.
Essa análise é feita sem acesso ao nome do autor (por isso, às cegas). De certa
maneira, esse é um mecanismo que garante mínimo de qualidade ao material
publicado.
d) A fonte recebeu boas resenhas? Ainda que o hábito de se fazer resenhas tenha
diminuído nos últimos tempos, esse pode ser um critério para se certificar da
qualidade daquilo que foi publicado.
32

e) A fonte é frequentemente citada por outros? Caso a fonte seja citada


frequentemente, isso pode indicar que se trata de uma fonte com influência.
Algo a se observar: não basta apenas ser citado frequentemente. Muitas vezes,
um trabalho é citado por conter problemas e erros. Tenha atenção quanto a isso.
Por si só, esses critérios não garantem que a fonte seja confiável. Mas, elas podem dar
sinais do nível de confiabilidade de determinada fonte.

Com relação às fontes online, seja ainda mais criterioso. A facilidade de se divulgar
informações ajuda por um lado, mas cria também um mar de desinformação. Por isso,
alguns critérios podem ajudar:

a) O site é patrocinado por uma organização com reputação?


b) Tem alguma relação com um periódico acadêmico?
c) Ele ataca de maneira ofensiva outros pesquisadores?
d) O site indica se há pesquisadores que ajudam na sua manutenção, indicando
claramente fontes das suas informações?
Para trabalho acadêmico, evite citar enciclopédias tais como Wikipedia. Essas
enciclopédias tem seus verbetes escritos de maneira anônima. Isso compromete sua
confiabilidade.

Se você está escrevendo um trabalho de disciplina, um TCC, um artigo, uma dissertação


ou uma tese, a abrangência das fontes será diferente. Até mesmo porque o tempo
disponível para a realização de cada pesquisa é diferente.

II. Como lidar e utilizar as fontes.


Uma vez que se certificou do nível de confiabilidade das fontes, o passo seguinte é o
que fazer com elas.

Uma vez que você encontrou uma fonte confiável, evite uma leitura mecânica que
meramente busca dados, fatos, datas, informações etc. É preciso importante estabelecer
inteiração com as fontes. É importante não apenas o que as fontes dizem, mas suas
implicações, consequências, deficiências e novas possibilidades.

Leia o texto imaginando que o autor está sentado à sua frente e vocês estão dialogando.

1º. Passo: É fundamental a postura de uma leitura generosa que busca entender a fonte
em seus próprios termos. Parta do princípio de que quem disse/escreveu tem
conhecimento sobre o que está falando.

Quando se assume muito prontamente uma postura crítica, há grandes chances de se


cometer injustiças ou de se fazer leituras parciais e equivocadas.

Na segunda leitura, faça perguntas amigavelmente. Imagine como a fonte iria responder
a alguns desses questionamentos.
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E quando há fusão de horizontes entre você e a fonte estudada?

É muito bom quando um autor parecer confirmar nossas próprias ideias. No entanto, o
risco é que isso não permita que você desenvolva suas próprias ideias. Você poderá
ficar muito dependente do autor. O que fazer nesses casos?

1) Sempre mantenha postura interrogativa: Que novos casos ele pode cobrir? A
fonte oferece novas perspectivas? Há alguma evidência que a fonte não tenha
considerado ou que não tenha considerado adequadamente?
2) Perguntar se não há novas evidências que podem ser usadas para dar suporte a
argumentos e hipóteses lançadas pelo autor. Talvez, ele utilize uma evidência
antiga e você encontre novas evidências capazes de dar suporte às ideias dele.
Ou ainda, o autor utiliza evidências fracas e você pode oferecer uma evidência
mais convincente.
3) Você pode provar ou trazer evidências para aspectos que a fonte apenas havia
especulado ou pressuposto.
4) Você pode ampliar determinada posição para novas áreas.

E quando as discordâncias aparecem?

O dissenso é muito produtivo no sentido de ajudar a encontrar uma hipótese de trabalho


bem como encorajar suas ideias próprias. Há diversas formas de se construir o dissenso
com a fonte:

1) Contradições específicas. Uma fonte diz que algo se caracteriza por


determinados aspectos, mas esse algo diz respeito a outro tipo de coisa Ex.
Smith diz que certos grupos religiosos podem ser considerados ‘cultos’ devido
às suas crenças estranhas, mas essas crenças não são diferentes das religiões
estabelecidas” . Modos de se construir isso: a) A fonte diz que X é de um tipo de
Y, mas talvez não seja; b) A fonte afirma que X tem sido a característica central
de Y, mas talvez não o seja; c) A fonte diz que X é
normal/significativo/útil/moral.., mas talvez não o seja.
2) Contradições entre parte e todo. Você pode mostrar como uma fonte erra no
estabelecimento da relação entre determinada parte e o todo. Modos de se
construir; a) A fonte diz que X é parte de Y, mas talvez não o seja; b) A fonte
diz que a parte X está relacionada de certa maneira com a parte K, mas talvez
não seja assim; c) A fonte diz que todo X tem Y como sua parte, mas talvez não
seja assim.
3) Contradição histórica ou de desenvolvimento. Você pode mostrar como uma
fonte erra na origem e/ou desenvolvimento de um tópico. Modos de se construir:
a) A fonte diz que X está se alterando de determinada maneira no decorrer do
tempo, mas talvez não seja assim; b)A fonte diz que X se origina em Y, mas
talvez não seja assim; c)A fonte diz que X se desenvolve de certa maneira, mas
talvez não seja assim.
4) Contradições de causa-efeito. Você pode demonstrar como uma fonte erra no
estabelecimento de causa-efeito. Modos d se construir: a) A fonte diz que X
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causa Y, mas talvez não seja assim; B) A fonte diz que X causa Y, mas talvez
ambos sejam causados por Y; C) A fonte diz que X é suficiente para causar Y,
mas talvez não seja assim. D) A fonte diz que X causa somente Y, mas talvez
não seja assim. .
5) Contradições de perspectiva. Esse é o tipo de dissenso mais produtivo. Não se
trata de apontar contradições na construção do pensamento da fonte, mas de
indicar outros caminhos de se abordar o mesmo tema. Modos de se construir
isso. A) A fonte discute X a partir da perspectiva de Y. Mas, talvez, se a
consideramos da perspectiva de K novas abordagens mais producentes podem se
revelar; B) A fonte analisa X a partir da teoria Y, mas talvez você possa analisar
X de um novo ponto de vista e vê-la de uma outra maneira.
Enfim. Para lidar com as fontes, é fundamental que sempre se tenha uma pergunta: Em
que isso importa? E daí? Não se deve aceitar algo porque está escrito ou em virtude da
mera autoridade. O conhecimento é construído a partir do convencimento de hipóteses
de trabalho plausíveis, pautadas em argumentos sólidos e ancoradas em evidências
confiáveis.

Tomando notas de maneira sistemática

Cada qual pode criar seu próprio modo de trabalho. O importante é que se tenha um
método de tomar as notas enquanto se está lidando com as fontes.

Especialmente, é fundamental que você sabia quando resumir, citar ou parafrasear.

Resumir: utilize esse recurso nos casos em que você precisar apenas de informações
mais gerais, seja de um trecho, de uma parte ou mesmo do texto todo. É importante
considerar que, em geral, um resumo raramente pode se constituir como boa evidência
para o texto final de sua pesquisa.

Parafrasear: utilize esse recurso quando você quer reproduzir as ideias do autor de
maneira mais acurada que o resumo, mas de modo mais claro ou pontuando aspectos
que o texto original poderia deixar passar. Parafrasear não significa substituir uma ou
duas palavras, mas utilizar o máximo possível suas próprias palavras. Cuidado para
utilizar esse recurso de modo inadequado e incorrer em plágio!

Citações podem ser utilizadas:

1) Para constituir evidências que se relacionam com seus argumentos e/ou hipótese
de trabalho. Por exemplo, se você quer indicar que diferentes grupos evangélicos
reagem de maneira diferente ao conservadorismo político, você deve citar
diferentes fontes onde isso aparece.
2) As palavras são de uma autoridade que se articula com seus argumentos/hipótese
de trabalho.
3) A citação indica originalidade na abordagem de determinado tema.
4) A citação oferece uma moldura para o resto de sua discussão.
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5) A citação sintetiza um conjunto de aspectos de determinado autor ou obra, de


modo que ela pode se constituir como fonte de desdobramentos e comentários.
6) A citação indica uma ideia com a qual você discorda ou em relação à qual você
tem algum dissenso.
Ao citar, tenha atenção aos seguintes aspectos:

1. Ao citar uma fonte, é importante ter atenção e indicar no seu próprio texto
quando essa fonte está resumindo as ideias de outro autor e quando a fonte
expressa sua própria perspectiva sobre o tema.
2. Registre o porquê e quais os argumentos que levam a fonte a concordar ou
discordar de determinada posição. Portanto, é importante não somente registrar a
concepção que a fonte sustenta, mas o porquê dessa posição.
3. Registre o contexto em que a citação aparece.
4. Tenha atenção ao grau de assertividade que a fonte confere à citação. Não diga
que ela assuma determinada posição de maneira certa ou indubitável, quando a
fonte não faz isso.

Durante todo esse processo, lembre-se de escrever enquanto lê. Não espere para
começar a escrever somente no final. Durante o período de pesquisa de dissertação/tese,
é importante sempre separar um tempo diário para escrita. Essa escrita pode ser: um
rascunho de parágrafo que dialogo com a fonte, resume uma linha de raciocínio,
especula sobre alguma ideia relacionada à pesquisa etc.

É importante resumir e parafrasear. Esse é o meio pelo qual se ganha domínio sobre
determinadas ideias, autores, sistemas, etc.

Em todos os casos, lembre-se sempre de ter clareza onde encontrar a informação,


indicando obra e páginas das referências.

Revise constantemente suas anotações. Com o desenvolvimento da pesquisa, é natural


que uma passagem ou ideia que tenha passado desapercebida, seja reconsiderada. Ou
ainda, que ela seja abordada sob nova ótica e se mostre promissora. Especialmente, em
momentos de crise na pesquisa, essa revisitação pode ser muito produtiva.

A construção de um argumento

Um argumento não tem a intenção de silenciar posicionamentos divergentes ou mesmo


de concebê-los como adversários ou inimigos. Um bom argumento tem por objetivo
trazer boas razões de modo a convencer outros de que há bons motivos para se aceitar a
posição que você defende.

Lembre-se de cenas do dia a dia. Numa conversa ao redor da mesa, você traz seus
argumentos, mostra suas evidências. Os interlocutores reagem concordando ou não com
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o que você apresenta. A partir disso, uma conversa se estabelece. A ideia de um texto
acadêmico, guardadas as devidas peculiaridades, é muito parecida.

No caso da escrita acadêmica solitária, você pode imaginar o que o interlocutor poderia
ou gostaria de perguntar. Você deve fazer o exercício de se colocar no lugar desse leitor
e imaginar o que ele considera válido bem como que argumentos e evidências podem
ser convincentes para sustentar sua hipótese.

De maneira esquemática, as perguntas abaixo devem ser tratadas e respondidas num


texto acadêmico:

1) Qual é a sua hipótese? O que você está defendendo?


2) Quais são os argumentos que dão suporte à sua hipótese?
3) Quais as evidências que sustentam cada um de seus argumentos?
4) Como você responde a objeções e concepções divergentes da sua?
5) Por que seus argumentos são relevantes para sua hipótese?
Ao responder essas perguntas, você não pode garantir que seus leitores irão aceitar sua
afirmação. Mas, certamente, você a tornará mais compreensível e potencialmente mais
convincente.

Organizando os elementos de sua pesquisa

No centro da sua pesquisa, estão três aspectos que precisam ser articulados: hipótese,
argumentos que tornam hipótese convincente e evidências que dão suporte aos
argumentos.

Paralelo com séries policiais: 1) Resolver um enigma: quem matou João?;

2) Hipótese: Pedro é o suspeito principal;

3) Argumentos: Pedro é suspeito por ter interesse na morte de João; ele estava na cena
do crime;

4) Evidências: as digitais de Pedro estão na arma que matou João.

Hipótese. Tenha sempre à mente e à sua frente a hipótese que você quer defender de
maneira clara, concisa. O ideal é que ela seja expressa em uma ou duas sentenças. Não
mais do que isso. Uma boa hipótese é argumentável, remente para evidências e desperta
o interesse no leitor.

Argumento e evidência.

Argumento e evidência. Apesar de no nosso cotidiano parecerem semelhantes, há


diferenças entre eles.
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1) Nós pensamos em argumentos lógicos e em evidências duras. Não faz muito


sentido falar em argumentos duros e evidências lógicas. Isso porque nós
deveríamos basear os argumentos em evidências e nunca as evidências em
argumentos;

2) O argumento é mais abstrato, apresentando uma síntese de várias evidências e


tendo como possível origem suas próprias ideias. As evidências, em geral, vêm
de fora de sua mente, de modo que você deve sempre ciar uma fonte para elas.
Essa fonte pode ser um texto, entrevista, um documento etc (fonte primária!).

3) Os argumentos precisam de evidências para se sustentar. Já as evidências não


precisam de nada além da referência a uma fonte confiável.

Para pesquisadores mais iniciantes, argumentos de autoridade são aceitos (Ex.: Vattimo
diz que a metafísica deve ser superada; Mariano afirma que neopentecostais tendem a se
associar ao conservadorismo político). No entanto, em pesquisas mais amadurecias, é
preciso mais do que argumento de autoridade.

Para dissertações e teses, é preciso argumentos construídos a partir de evidências de


fontes primárias!

Em pesquisas na área de C. da Religião, é importante que se certifique de que as


evidências são adequadas e dão sustentação para os argumentos. Pergunte sempre se as
evidências são confiáveis, convincentes, adequadas e dão real sustentação para os
argumentos.

Responda a perguntas possíveis dos leitores.

Os melhores leitores são os mais críticos, afinal não aceitam tudo que você escreve
passivamente. Eles vão pensar em questões, levantar objeções e imaginar alternativas.

Os leitores levantam basicamente dois tipos de questões:

1) Problemas internos de sua proposta. Quanto às evidências: a) não são


confiáveis ou estão ultrapassadas; b) não são acuradas; c) não sustentam
adequadamente seu argumento; d) não representam de maneira adequada as
evidências disponíveis; e) são tipo de evidências inadequadas para o campo de
estudos; f) são irrelevantes, porque não contam como evidência.
Quanto aos argumentos: a) são inconsistentes ou contraditórios; b) são muito
fracos para sustentarem suas afirmações e hipótese; c) são irrelevantes para sua
hipótese.
Quanto à hipótese: a) não responde ao problema levantado; b) é muito ampla e
precisa ser mais bem delimitada; c) não é argumentável.

2) Argumentos vindos de fora. Em C. da Religião há diversas perspectivas sobre


o mesmo tema. Portanto, é natural que haja reservas em relação à sua pesquisa
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que partam de uma concepção diferente das coisas. Especialmente em nossa


área, com sua interdisciplinaridade, reconhecem-se como válidas diversas
maneiras de se pensar, argumentar e de busca de evidências. Portanto, é preciso
considerar e responder a objeções que tenham essa raiz.
Estabeleça a relevância de seus argumentos. É importante sempre considerar que
determinado leitor tenha reticência em relação a seu argumento não porque ele não
tenha evidências ou elas não sejam confiáveis. Mas, o ponto é que o leitor pode
considerar seus argumentos e evidências irrelevantes.

Uma dica para testar a relevância de um argumento para sua hipótese é construir uma
ponte entre eles. Coloque a hipótese e o argumento, indicando como um conduz ao
outro. “O frequente recurso a pautas morais presente nas pregações dos pastores
indicam (argumento)que os evangélicos dão suporte ao conservadorismo político no
Brasil contemporâneo (hipótese)”

Exercício. Procure, de forma suscinta, responder às seguintes questões em, no máximo,


uma página:

1) Qual é a sua hipótese? O que você está defendendo?


2) Quais são os argumentos que dão suporte à sua hipótese?
3) Quais evidências que sustentam esses argumentos?
4) Como você responde a objeções e concepções divergentes da sua?
5) Por que seus argumentos são relevantes para sua hipótese?
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Atividade

Escrita e argumentação
1. Debate com outras perspectivas

Para auxiliar no estabelecimento de uma hipótese original, argumentável e interessante,


é importante que o pesquisador faça uma pergunta para si próprio e veja se ele é
convencido pela resposta a que chega: Por que essa hipótese é importante? Motivos
podem ser entendidos como elementos que fazem com que os leitores se interessem
pelo seu texto. Em outros termos: por que alguém deveria dedicar algumas horas para
ler esse texto que estou escrevendo? Em que medida minha hipótese traz algo relevante
sobre o tema?

Em geral, o motivo se coloca como contra-argumentação em relação a outra visão


importante sobre o mesmo tema. Nesse sentido, um bom texto pode começar expondo
essa interpretação em relação à qual ele se coloca. É importante tentar ser o mais
honesto possível ao relatar essa outra perspectiva, especialmente nos casos em que o
texto tem uma visão crítica em relação a ela. Não se deve simplificar argumentos ou
deixar pontos complexos de fora para tornar, posteriormente, a contra-argumentação
mais fácil. Além de desonesto, acaba não valorizando a sua própria interpretação.

Ao expor o que outros disseram sobre o tema que você está tratando, você demonstra
conhecimento do que outros já disseram sobre ele, intimidade com outras perspectivas
possíveis sobre o tema e, ainda, mostra em que medida a sua interpretação é plausível.
Um modo de escrever isso é: “Em geral, os intérpretes entendem esse assunto assim
[explique o que é essa visão], mas há algo que se perde ou esquecido ou errado nessa
perspectiva. Nesse sentido, meu texto pretende... [o que seu texto traz em relação a
essas interpretações].

É preciso tomar cuidado para não levantar argumentos contra espantalhos. Por
espantalho aqui entendemos concepções muito erradas e fracas, que ninguém leva a
sério. A princípio, essa tática parece atrativa. Escolhe-se algum intérprete ou visão sobre
determinado assunto e, facilmente, rebate-se seus argumentos. No entanto, uma vez que
essa interpretação não é levada a sério, acaba desvalorizando os próprios argumentos do
seu texto. No final das contas, o seu texto fica esvaziado, afinal criticou um texto ou
posição que ninguém leva a sério. Além do mais, atacar um espantalho não exige muito
de quem está escrevendo. É muito fácil refutar posturas mal fundamentadas. Por isso
mesmo, o seu próprio texto fica fraco. No entanto, ao discutir com interpretações sérias
e cuidadosas, o seu próprio texto sai valorizado. Afinal, há de se mobilizar muitos
argumentos e de qualidade para sustentar sua perspectiva. É possível fazer um paralelo
com o humor. Nas peças de comédia, há a o escada. Ele não é o humorista principal,
mas é aquele que faz a deixa para o principal entrar com a piada. Quanto melhor for o
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escada, mais o humorista principal se destaca. Nesse caso do texto acadêmico, ocorre
algo similar.

Há, basicamente, dois modos de se formular esses pontos de debate. 1) Dialogar com
uma interpretação sobre o tema que estamos lidando. Essa interpretação pode ser de um
autor ou de vários. Em alguns casos, pode ser uma tendência de interpretação do tema;
2) É possível também que você imagine contra-argumentações e insira no seu texto. Em
termos de redação, isso pode aparecer do seguinte modo. “Nesse ponto, alguém poderia
pensar que esse argumento é problemático por [indicar as razões]”.

Em geral, as frases em que se anuncia esse debate se iniciam com adversativas: “Apesar
de”, “No entanto”, “Entretanto”... etc. Ex.: Apesar de Vattimo entender que há uma
continuidade entre o pensamento de Nietzsche e Heidegger, esse texto busca argumentar
que se pode encontrar importantes rupturas”.

Diante de outras tendências ou interpretações são possíveis as seguintes relações:

1) Discordância. Você discorda totalmente da posição que alguma interpretação


defende sobre o tema. Nesse caso, você tem de demonstrar onde estariam os
erros nessa interpretação. Ela, por exemplo, utiliza fontes corretas? Lê e
interpreta essas fontes e maneira adequada? Quais e por que os argumentos são
problemáticos?
2) Complementação. Há uma perspectiva sobre o tema estudado que é muito boa,
mas, não aborda certos aspectos que você julga importantes. Nesse sentido, os
eu texto pode caminhar na direção de se colocar como complementação dessa
perspectiva. Portanto, não se trata de dizer que ela é totalmente errônea, mas de
dizer que ela estaria incompleta.
3) Desenvolvimento. Ocorre quando há alguma interpretação sobre o tema em que
um autor, por exemplo, lança uma ideia, mas não a desenvolve. Nesse caso,
você pode pegar esse aspecto e dizer que vai desenvolvê-lo. Quando isso
ocorrer, é importante dar os créditos para o autor que inspirou sua perspectiva.
No trabalho acadêmico, isso é feito por meio de citações.

Não há uma regra quanto ao tamanho que esse ponto pode assumir no seu trabalho. Vai
depender bastante de que tipo de texto estamos falando. Numa dissertação ou tese, por
exemplo, a depender da importância desse ponto, pode se precisar de páginas e páginas,
talvez até um capítulo inteiro, para expor uma perspectiva importante sobre o tema.
Inclusive, há teses que se estruturam toda em torno do debate com algum intérprete. No
caso de estudos de textos filosóficos ou religiosos clássicos, isso é muito comum.

Qual a importância disso? Principalmente, em pesquisas bibliográficas, evitar que se


fique apenas repetindo o texto do autor que se está estudando. O motivo confere rosto
próprio ao trabalho de pesquisa que está sendo realizado.

2. Corpo do texto
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A função de se empregar citações (seja de informantes do campo, documentos


históricos ou do autor pesquisado) funciona como evidência do que se está dizendo.
Portanto, um texto acadêmico em CR não se constrói apenas com suas próprias ideias
em um papel. É preciso trazer evidências que deem suporte às ideias que estão sendo
argumentadas.

Por isso mesmo, é importante escolher boas citações. Em geral, elas podem: condensar
várias ideias que você pode explorar ao comentar a passagem; conduzir à necessidade
de estabelecer argumentos e análises; mudança de perspectiva. É preciso sempre
pressupor que elas não são tão autoevidentes ou autoexplanatórias como parecem.

1) Em nenhum momento, você deve assumir que uma passagem é autoevidente.


Lembre-se sempre que você tem que explicar o que você pensa que essa linha ou
passagem está dizendo.

2) E, em alguns casos, você deve dizer quais os motivos que levam a refutar
leituras que poderiam parecer mais óbvias.
3) O ideal é você pensar que seu trabalho é convencer ao leitor que as evidências
dão suporte à sua hipótese ou, no mínimo, que elas oferecem mais suporte para
sua hipótese do que de outros autores.

Para interpretar uma passagem, você deve satisfazer três objetivos:

a) Você deve clarificar com suas próprias palavras o que o autor disse naquela
passagem. Trata-se de uma aproximação inicial, na qual você vai contextualizar
a passagem, como que repetindo o autor, explicar o que ele disse.
b) Você deve analisar a passagem. Essa é a parte mais importante. Diferentemente
de quando você estava resumindo, aqui você deve acrescentar algo. Quando se
analisa uma citação não somente se repete o que já foi dito, mas se acrescenta
algo. Nesse momento, por exemplo, você pode trazer outros textos sobre o tema
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ou do mesmo autor, pode mostrar certos pressupostos ou consequências que


podem ser aferidas da citação utilizada.
c) Você deve mostrar precisamente como essa passagem se articula com seus
argumentos. Portanto, depois de desenvolver a análise é preciso deixar muito
claro para o leitor como e porque essa citação contribui ou dá suporte para seu
argumento. Não deixe isso para o leitor fazer. É sua função deixar isso claro no
texto.

Como fazer?

a) Defina palavras-chave e explique ideias importantes. Em geral, uma citação tem


ideias e conceitos que não serão familiares para o leitor. A sua função primeira é
explicar esses conceitos. Nesse momento, é muito comum que seja preciso você
recorrer a outros textos do autor ou documentos históricos que se está
pesquisando.

Exemplo: Como já indicamos, razões de cunho ético movem os posicionamentos de


Vattimo sobre este tema. Ele mesmo deixa claro que a tentativa de superação da
metafísica “no final das contas, não se baseia em motivos ‘teóricos’, senão, antes
de tudo, em razões éticas” (VATTIMO, 2002, p. 63). Dessa maneira, a exigência de
crítica à metafísica não é guiada por razões epistemológicas ou mesmo lógicas. Isto
quer dizer que os limites da metafísica se colocam não porque ela tenha se mostrado
incongruente ou destituída de fundamentação lógica. A imprescindibilidade dessa
tarefa encontra seu lugar apropriado no solo das ações práticas humanas. Colocando
isso em termos mais diretos, Vattimo entende que a metafísica deve ser superada por
ser intrinsicamente violenta. Assim, a metafísica deve ser superada na medida em
que se reconhece o íntimo elo que a une com a violência.

b) Se você está formulando as ideias de outro autor em suas próprias palavras,


mesmo que não esteja utilizando palavra por palavra, é necessário citar.

Exemplo: Contrariando Vattimo, L. Grion (GRION,2001, p.15) busca um retorno da


metafísica. Grion critica o abandono de Vattimo da noção tradicional de ser, assim
como o enfraquecimento do conceito de verdade. Para o autor, a conexão entre
metafísica e violência estabelecida por Vattimo é um falso problema. A metafísica em si
não é violenta. Ela apenas coloca certos princípios válidos para todo discurso, sem
necessariamente agir violentamente. A violência decorre da não obediência a estes
princípios, inviabilizando o diálogo. Dessa maneira, não é a metafísica que impossibilita
o diálogo, mas a desobediência a certo ordem estabelecida que conduz à violência.

c) Cuidado para não utilizar citações fora contexto.

Exemplo: “Deus não existe” (Salmos 53.1). citação completa: “Diz o tolo em seu
coração: Deus não existe”.
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d) Evite o uso excessivo de citações no seu texto. Seja criterioso na escolha das
citações e no momento em que você deve utilizá-las.

Exemplo: Na medida em que cedem ao apelo da deusa, as próprias Erínias, que


constituem o coro desse drama, admitem que o lado negro da Justiça mítica
representada por elas tem nesse momento sua honra reduzida a nada através dos
“inelutáveis dolos dos deuses” (JON, 2005, p.45). Uma vez destituídas de suas arcaicas
funções míticas, para que não se vejam expulsas (JON, 2005, p.45), as Erínies se
transformam em seu contrário, em Eumênides, deusas benfazejas. Com isto, elas têm
sua essência completamente alterada na medida em que perdem seu papel originário
orientado para a “asseveração de que, sem o coração nutrido de medo, nem o individuo
nem a comunidade teria respeito por Justiça” (JON, 2005, p.45)

e) Palavras individuais não precisam aparecer entre aspas, a não ser que seja um
conceito específico do autor ou você queira indicar algo com as aspas (Por
exemplo: Heidegger emprega Dasein).

f) Nunca use reticências para retirar alguma parte do texto que você julga ser
inconveniente por ir contra sua hipótese. Por outro lado, não coloque juntas
citações que devem ser feitas separadamente.

Exemplo: “Da mesma maneira, um fenômeno religioso somente se revelará como


tal com a condição de ser apreendido dentro da sua própria modalidade, isto é, de
ser estudado à escala religiosa. Querer delimitar este fenômeno pela fisiologia, pela
psicologia, pela sociologia e pela ciência econômica, pela lingüística e pela arte,
etc... é trai-lo, é deixar escapar precisamente aquilo que nele existe de único e
irredutível, ou seja o seu caráter sagrado. É verdade que não há fenômenos
religiosos puros, assim como não há fenômeno única e exclusivamente religioso”.
(ELIADE, 2002. p. 1).

3. Argumentação

Um ponto importante na escrita acadêmica é mostrar que seu ensaio está consciente de
possíveis objeções para seu argumento. Nas palavras de Marie, Smith e Silz.

Depois de ter exposto seu argumento e integrado o suporte, vá de volta para o passo
em que você acha que é a sua mais importante evidência textual. Examine os
pedaços de evidência que eram difíceis para reconciliar com o seu argumento.
Considere contra-argumentos e interpretações alternativas e tente refutar as objeções
mais contundentes à sua tese.

Onde seu argumento é mais fraco ou mais vulnerável? Quais críticas podem um
leitor inteligente levantar? Quais evidências essas pessoas teriam ao seu lado? Por
que a posição deles é menos convincente do que a sua? Você vai analisar
brevemente as passagens que parecem indicar uma explicação alternativa, e, então,
mostre por que essas passagens são menos representativas do que as que você
escolheu, ou por que essas passagens são tiradas do contexto, ou por que elas não
apresentam uma visão adequada. Se lhe pediram para comparar e contrastar dois
autores e você tomou um lado de um autor, considere como o outro autor pode
responder às críticas que você encampou (MARIE, SMITH, SILZ, p.18).
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O modo como você estrutura suas sentenças e seus parágrafos dão suporte às ideias que
lhe são mais importantes?

Para os parágrafos, uma dica é, especialmente ao seu início, fazer uso de sentenças que
anuncie o ponto principal a ser tratado naquele parágrafo. No fundo, essas sentenças
fazem para o parágrafo aquilo que a hipótese fazer para o trabalho como um todo.

Exemplo:
O que é discutir epistemologia?

Uma vez que se indicaram as razões que justificam e que tornam as discussões em torno
da espistemologia necessárias, trata-se de delinear, de maneira introdutória, o que está
envolto nas discussões dessa natureza.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que essas controvérsias envolvem conflitos e


debates. No Brasil, não temos muito a cultura de nos criticar ou mesmo de submeter
nossos pontos de vista expressos em publicações ao diálogo crítico. De maneira um
tanto quanto imediata, passamos da discussão das ideias para o âmbito pessoal. De
início, cabe dizer que não é essa a intenção desse curso. Quando discutirmos com textos
de colegas, nossa intenção é tentar pensar com eles e a partir deles. Trata-se de conflito
de intepretações, não de pessoas.

Se o conhecimento científico possui seus limites, não podemos esperar coisa diferente
das reflexões sobre ele. Toda epistemologia é marcada pela finitude. Enquanto tal, é um
empreendimento histórico e inacabado. Por isso mesmo, ela é tema constante de
reflexão. A cada novo momento, em cada contexto histórico social distinto, é preciso
repensar a prática científica, tanto geral com de cada disciplina. Não se trata,
obviamente, de reinventar a roda. Essas reflexões se dão com base no que já foi
construído. Elas nunca parte do grau zero. Tornar-se consciente disso traz um alívio,
mas também aponta uma tarefa, especialmente quando pensamos na CR no Brasil.
Como podemos pensar sobre aquilo que fazemos se desconhecemos muitos dos autores
que, em outros contextos históricos, se mostram como referências incontornáveis para a
CR?

Placa de sinalização. Além disso, outra estratégia interessante é usar “placas de


sinalização”. Isso quer dizer o seguinte. Em determinados momentos do texto é
importante inserir parágrafos que indicam de onde o texto está vindo e para onde ele
vai. Para isso, é importante resumir o que foi dito e, por vezes, indicar para onde isso
nos leva.

Normalmente, esse tipo de parágrafo aparece em momentos de virada no texto


(transição de um tema para outro; de um tópico para outro ou de capítulo), quando se
está encerrando um assunto e prestes a passar adiante.
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Exemplo: “Em suma, os traços principais da fenomenologia nesse momento são:


pergunta pelo sentido para além dos fatos, empatia, caráter sui generis da religião e
objetividade na descrição. Por ora, essas considerações são suficientes para pontuar os
principais aspectos da fenomenologia da religião. Num momento apropriado do curso
voltaremos a esse tema para que possamos detalhar as particularidades de algumas
dessas propostas. No entanto, antes de avançarmos para a última tendência constitutiva
da CR, cabe uma pergunta. Em que medida é justo associar vincular essa tendência,
sobretudo em seu início, com o protestantismo liberal?”

Enfim: frases mais tópicas nos parágrafos e “placas de sinalização” orientam seus
leitores, evitando que eles possam se perder no texto e nos argumentos.

Introdução e conclusão

Essas são as últimas partes de um ensaio, TCC, dissertação ou tese que são escritas.
Somente depois de ter desenvolvido todo o trabalho é que esses itens são redigidos.

Com relação à introdução, não se satisfaça apenas em fazer um resumo do que será
tratado no decorrer do texto. Lembre-se que esse é o momento de você captar o
interesse do leitor para seu texto. Para tal, você deve mostrar porque ele deve ler o seu
texto. Isso é feito indicando a relevância dele para o tema tratado.

Isso pode ser feito com: a) anúncio da problemática e da hipótese de maneira mais clara
possível. Lembre-se que não se trata de desenvolvê-las em todos os seus pormenores.
Como se trata de uma introdução, você deve enunciar esses pontos para que o leitor se
situe sobre o tema e a partir de que conjuntos de questões e/ou perspectivas eles serão
tratados. Além do mais, é preciso considerar que o leitor ainda não está de posse de
várias noções e conceitos. Portanto, é preciso cuidado no modo como se enuncia
problemática e hipótese para que sejam compreensíveis ao leitor; b) indicação de
debates que serão travados e de quais questões são tocadas. Não se trata de citar autores,
mas de apontar quais temas relevantes são tocados ao se tratar da temática proposta.
Eventualmente, em se tratado de um debate importante no tema, vale a pena mencionar
autores envolvidos. C) Por fim, acenar aonde se espera chegar com o trabalho.

Conclusão. É bom evitar dois extremos: apenas sumarizar o que foi feito ou escrever
uma ou duas linhas. Lembre-se: muito do que o seu leitor vai se lembrar é o que está na
conclusão. Você deve recuperar o argumento principal. Mas, não apenas o resuma.
Você pode aproveitar a conclusão para indicar a especificidade da sua pesquisa. Para
isso, no caso da conclusão, é válido, por exemplo: situar seu argumento dentro de um
contexto mais amplo; mostrar algumas consequências mais amplas do que foi discutido
no texto; destacar algumas contribuições que essa hipótese traz. Tome cuidado com
relação a uma coisa: a conclusão não é lugar de abrir um novo debate. Ele deve pôr em
relevo o que foi discutido, não propor novas questões. Eventualmente, pode-se dizer
46

sobre alguns temas que você vislumbrou, mas que não pretende desenvolver no presente
estudo.

Exemplo:

É nossa esperança que tenhamos demonstrado efetivamente como uma consideração


da estética é vital para determinar as intenções morais de nossos três autores, e o
significado moral das histórias que contam. Há, claro, uma aparentemente
interminável quantidade de trabalho a ser feito - analisamos apenas duas passagens
até agora! –mas, este estudo sugere a possibilidade de um método interpretativo
geral que possa ser aplicado a esses textos. Valmiki localiza o leitor na distância
estética exigida pela “Rasa-teoria”; Kampan traz seus leitores para perto de
experiências dos personagens, enquanto ocasionalmente permite um distanciamento
cósmico, perspectiva adotada sempre que seja necessária; Tulsi adota
consistentemente a perspectiva mais distanciada dos três, permitindo uma
combinação de impessoal, instrução moral didática e uma visão gloriosa da vastidão
e bem-aventurança de Rama, o senhor do universo. Tomando uma sugestão de
Abhinavagupta, os estudiosos modernos e os comentaristas podem levar em
consideração tais ideias estéticas para tentar interpretar a significância moral desses
três Ramayanas. Ao mesmotempo, eles podem perceber que, antes do período
moderno, a tradição indiana nunca via a ética como uma categoria a ser considerada
por si só. Para os indianos mentes, a ética está inextricavelmente interligada com
todos os aspectos da existência humana. Assim, ao (re) introduzir a estética no
debate ético, esperamos que o mundo possa começar a ver novamente como todas as
nossas "categorias de conhecimento" modernas são realmente profundamente inter-
relacionadas - um ponto que a tradição indiana sempre afirmou.

Checklist

O que fazer O que não fazer

Releia o texto antes de escrever Tentar escrever sem uma cuidadosa


leitura dos textos.

Examine a questão central para pistas Selecione um argumento para reafirmar o


sobre o qual tipo de hipótese ela requer que é óbvio no texto.

Elabore uma questão interessante que seu Cita comentários de aula do professor
texto tentará responder

Claramente afirme sua hipótese na Ignore toda ou parte da questão principal.


introdução. Se for um texto mais longo
(TCC, dissertação), mencione os pontos
que você usará para defender sua
hipótese

Escolha cuidadosamente citações que Escreva uma introdução que não inclua o
sirvam de evidência e as interprete para o enunciado da hipótese.
leitor no corpo do texto
47

Tenha certeza de que cada ponto que Use citações como evidências textuais,
você menciona segue logicamente do mas sem interpretar para o leitor.
anterior e dirige logicamente para o
posterior e que, de maneira última, dá
suporte à sua hipótese.

Vincule sua conclusão com a hipótese e Escreva uma conclusão que apenas repita
outros pontos levantados no texto. o corpo do texto.

Considere objeções e argumentos Esqueça de considerar objeções aos seus


contrários para a hipótese defendida. argumentos.

Escreva um rascunho e revise o texto, Use generalizações.


pelo menos, uma vez.
48

Estruturação do projeto de pesquisa

Esse texto tem a função de ser um auxílio na redação de projetos de pesquisa. Para isso,
ele busca caracterizar o que constitui cada item do projeto, sugerir alguns pontos que
podem ser contemplados em cada um deles, além de oferecer algumas dicas e sugestões.
Não há modelo único e nem sempre se exigem as mesmas coisas nos projetos de
pesquisa. Nesse caso, tomamos como paradigma uma proposta um pouco mais simples,
mas que, ao mesmo tempo, permite contemplar aspectos básicos exigidos num projeto.

1) Título provisório

Trata-se do nomear aquilo que se pretende fazer. Um bom título fornece ao leitor o tema
que será tratado, o recorte a ser adotado e, eventualmente, perspectiva a ser empregada.

Exemplos:

Teatro, Templo e Mercado – A Eficiência do Sistema de Comunicação e Marketing da


Igreja Universal do Reino de Deus. (emprega uma metáfora – a ser retomada no texto –
e utiliza o subtítulo para especificar).

O ensino religioso no estado do Espírito Santo: da legislação à sala de aula

Funções e Disfunções Éticas das Comunidades Religiosas (Título muito vago)

Contribuição para uma História do Protestantismo na Colômbia. A missão e a Igreja


Presbiteriana 1856/1946. (título vago e ambíguo. Qual a contribuição?)

Por vezes, é possível utilizar alguma frase de efeito ou metáfora recorrente, seguidas de
uma especificação.

Exemplo: “São os evangélicos que seguram essa cadeia, se não fossem eles, quem iria
converter os mauzão?”: considerações sobre o papel do “proceder evangélico” na prisão

2) Delimitação do tema

Nesse modelo de projeto, essa é a parte mais importante. Após ter nomeado o tema por
meio do título provisório, o que se espera desse tópico é que o projeto apresente e
argumente em favor de um recorte mais específico em torno daquilo que se constitui o
projeto. Essa é, geralmente, a parte mais extensa de um projeto de pesquisa. Abaixo,
seguem sugestão de pontos que podem ser abordados.

a) Contextualização e pressupostos.

Antes de abordar a proposta mais específica do projeto, é importante apresentar


informações e pressupostos que se julguem ser necessários para que o leitor possa
compreender a amplitude e a importância dos temas mais específicos a serem
pesquisados. Aqui, é preciso cuidado para se evitar dois extremos. De um lado, é
preciso cautela para não se omitir informações e pressupostos importantes para a melhor
compreensão da problemática e da hipótese. Caso se incorra nessa falha, a problemática
49

e a hipótese podem não ser compreendida em toda sua riqueza. Por exemplo, um projeto
que se propõe a investigar o reiki. É uma boa estratégia apresentar alguns elementos
históricos constitutivos dessa prática, tendo em vista não ser um tema muito usual. Mas,
nesse caso, é preciso evitar o outro extremo: mesmo quando se tratar de oferecer
informações mais gerais, é importante articular essas informações com a problemática e
com a hipótese. Assim, ao invés de simplesmente fornecer informações generalistas, é
importante que na redação já vá se tematizando alguma questão. No caso do exemplo
citado, se a problemática de fundo está na caracterização do reiki como religião ou
prática terapêutica, ao tratar da trajetória dessa prática do Japão para o Brasil já pode ir
se tematizando isso. Ao invés de simplesmente dizer que o reiki tem início no Japão,
depois é trazido para o Brasil, etc, é possível tratar dessas informações, mas, já
indicando, por exemplo, se no seu início no Japão era tratado como religião ou com
prática terapêutica. Assim, o texto fica mais interessante e não meramente uma
exposição de curiosidades.

Um ponto a se lembrar: a função de se apresentar esses pressupostos é fornecer ao leitor


informações e pressupostos que lhe permitam entender a especificidade e a relevância
do trabalho. Portanto, o critério para escolha de quais pressupostos e informações
devem constar e quais devem ficar de fora deve ser sempre pensada tendo em vista a
compreensão da relevância da problemática e da hipótese.

Exemplo

Suponhamos que minha problemática e hipótese tenham a ver com a noção de


ontoteologia em Heidegger.

O projeto poderia iniciar dissertando um pouco sobre o debate em torno da presença de


uma dimensão religiosa no pensamento de Heidegger, destacando que ela aparece, por
exemplo, quando no curso sobre as cartas de Paulo, posteriormente, com a noção de
sagrado e do último de Deus. Mas, apesar da importância desses temas, esse projeto se
debruçará sobre um conceito empregado nas obras de Heidegger no início dos anos de
1930 e que se torna importante para entender como ele articula pensamento filosófico e
religião: a noção de ontoteologia. (Obs.: nota-se que se oferece uma caracterização
geral, mas que já aponta para o problema a ser tratado).

Um exemplo ruim: Martin Heidegger (1889-1976) nasceu em Messkirch, Alemanha e


se notabilizou como um dos mais importantes filósofos do século XX. Estudou
fenomenologia e se tornou um de seus maiores representantes ao lado de E. Husserl. É
tido por muitos como pai do existencialismo, principalmente em virtude de sua obra Ser
e tempo, que obteve grande repercussão quando foi publicada. Heidegger também se
notabilizou como figura polêmica devido a sua adesão ao nazismo, ainda que por curto
período. Também trouxe contribuições significativas para o campo da hermenêutica.
(Obs.: São informações gerais, mas que tem pouca ou nenhuma relevância para a
delimitação do tema. Fica-se mais em generalidades, com informações facilmente
encontradas em qualquer site da internet ou no wikipedia. Esse tipo de redação
50

demonstra bastante incipiência na aproximação do tema. No linguajar popular, é o que


se chama encher linguiça).

b) Problemática e hipótese.

Após contextualizar o tema mais específico, oferecendo ao leitor pressupostos e


informações relevantes, o segundo passo consiste em apresentar a problemática e a
hipótese do projeto. Nesse momento, é importante utilizar recursos linguísticos e
estilísticos que ressaltem a importância desses dois itens, deixando claro que se passou
da apresentação dos pressupostos para a parte central do projeto.

É importante notar como o projeto vai se estruturando de aspectos gerais para mais
específicos: no título, anuncia-se o tema. No início da delimitação, já se afunila um
pouco mais ao tratar de pressupostos e informações relevantes dentro desse tema mais
geral. Com a problemática e a hipótese, observa-se uma delimitação ainda maior, pois
eles indicam o que será investigado.

Por isso, o primeiro passo numa pesquisa se constitui na elaboração da problemática e


da hipótese. Esses itens acabam fornecendo direcionamento para outras partes. Assim,
na abertura da delimitação, o projeto deve oferecer pressupostos e informações que
sejam relevantes para a melhor compreensão da problemática e da hipótese. Caso se
adote esse critério, dificilmente o projeto fica divagando sobre temas e assuntos alheios
à pesquisa. Além do mais, eles constam justamente na delimitação por terem essa
função. Uma boa problemática e hipótese delimitam um tema mais amplo.

Já trabalhamos elementos a serem ponderados nesse ponto, especialmente considerando


as características que devem ter a problemática e a hipótese 6. De maneira sucinta,
podemos dizer que: a) Uma boa problemática emprega “como” e “por quê” ao invés de
“o quê” na elaboração da pergunta. Com isso, consegue-se uma problematização que
escape de generalidades, além de remeter a investigação para a coleta de evidências. Já
uma boa hipótese é uma afirmação que responde à problemática, tendo como
características ser argumentável, falseável, interessante e original.

Uma sugestão é que a problemática e a hipótese sejam apresentadas de maneira bem


sucinta. O ideal é que cada uma seja enunciada numa frase. Caso se adote esse modelo,
é óbvio que a problemática e a hipótese ficarão bastante condensadas. Com isso, será
necessário esclarecer aspectos (conceitos, noções, etc) que ainda podem dificultar a
compreensão do leitor sobre o que está em jogo. Enfim, após a apresentação da
problemática e hipótese, é fundamental desenvolver uma explicitação dos seus
elementos constituintes. Além disso, pode ser interessante mostrar como a hipótese
responde à problemática e como ela é argumentável, original e interessante. Caso o
projeto consiga mostrar esses aspectos com relação à hipótese, o leitor ficará mais
convencido da sua pertinência.

c) Referencial teórico
6
HALPERN, Faye et alii. A Guide to Writing in Religious Studies. Cambridge, MA: Havard
Webpublishing, 2007. Disponível em: https://hwpi.harvard.edu/files/hwp/files/religious_studies.pdf
51

Especialmente no caso de investigações que envolvam pesquisa de campo, é importante


destacar os referencias teóricos que serão utilizados para abordagem dos dados. Não há
uma indicação muito clara do lugar onde isso pode ser feito. Dependerá de cada projeto.
Em alguns casos, o aporte teórico poderá ser apresentado antes da problemática e da
hipótese. Isso ocorre principalmente quando o aporte teórico é constitutivo da
problemática e da hipótese e não apenas uma mera ferramenta de aproximação do tema.
Mas, em outros casos, essa indicação do referencial teórico deve vir depois,
especialmente quando é preciso ter entendido a problemática e a hipótese para se
apreender a relevância do aporte teórico escolhido para a aproximação do tema.

Uma dica: o referencial teórico não é apenas uma oportunidade para citar autores e
conceitos, recorrendo a argumentos de autoridade. Esses autores e conceitos devem
estar submetidos a uma função: eles devem servir para a melhor compreensão do que
está sendo investigado. Portanto, uma pergunta que sempre deve ser feita é: O que esse
autor/escola/noção me permite entender do tema em questão e que sem eles eu não teria
me atentado? Quais vantagens determinada autor/escola/noção trazem para abordar essa
temática? Em outros termos, se você pode chegar às mesmas conclusões sem recorrer ao
referencial teórico, pode ser que esteja fazendo um uso pobre desse referencial ou que
ele seja desnecessário ou ainda que ele não seja uma boa escolha – o que leva à procura
de outros que podem cumprir melhor essa função.

d) Alguns argumentos e evidências.

Ainda na parte da delimitação, é importante que você apresente alguns argumentos e


evidências que podem dar suporte à hipótese que o projeto defende. É claro que, em se
tratando de um projeto, não se espera uma argumentação muito consolidada e
propositiva. Mas, o projeto consegue convencer mais o seu leitor se apresenta
minimamente evidências capazes de mostrar que a hipótese é plausível.

Note-se bem. Estamos falando de um projeto. A intenção de apontar evidências aqui


não é defender a hipótese, mas apenas mostrar sua plausibilidade. A defesa da hipótese
acontecerá com a dissertação. Portanto, por ora, essas evidências devem apenas indicar
que a hipótese não é algo que “tirou da cartola”, mas que tem um mínimo de
razoabilidade a partir de evidências coletadas numa aproximação inicial.

No caso, de quem se ocupa com pesquisa bibliográfica, as evidências são citações do


texto do pensador a ser estudado. Já em pesquisas de campo, seria importante trazer
algumas impressões iniciais que se tem do campo e que podem corroborar a
plausibilidade da hipótese. Lembre-se sempre de que, ao citar um autor ou um
informante do campo é sempre importante comentar a citação. Nunca cite e deixe sem
tecer um comentário seu, articulando como você interpreta aquelas palavras e quais
relações elas possuem com a pesquisa. Novamente, a intenção de trazer essas evidências
não é dar suporte á hipótese.

e) Recorte do objeto.
52

Por fim, no âmbito da delimitação, é importante fazer um recorte também no seu objeto
de estudo. Esse recorte pode ser temporal, geográfico, temático, etc. Além disso, é
importante também justificar essas delimitações.

No caso de pesquisas bibliográficas, é importante mencionar quais obras do autor serão


consideradas com maior ênfase. Por exemplo: para estudar a noção de ontoteologia em
Heidegger, vamos nos deter mais proximamente no curso que Heidegger ofereceu em
1930 sobre a Fenomenologia do Espírito de Hegel. Afinal, aqui é a primeira vez em que
essa noção aparece. Ao lado desse curso, a conferência A constituição ontoteológica da
metafísica será também considerada com bastante ênfase, uma vez que nesse texto,
apresentado numa conferência sobre o pensamento de Hegel e escrito mais de 20 anos
depois do curso, essa noção é retomada com mais maturidade, sendo apresentadas de
modo mais sistemático os contornos da noção de ontoteologia.

Quando se trata de pesquisa de campo, é importante delimitar também quais aspectos do


campo serão estudados. Exemplo: se o projeto pretende investigar a Igreja Mundial do
Poder de Deus, deve sinalizar se esse estudo será feito focando o site oficial e as redes
sociais; ou se vai estudar essa denominação religiosa em Juiz de Fora; se vai tratar das
lideranças ou realizar entrevistas com os fieis; se essas entrevistas serão qualitativas ou
quantitativas, etc. O projeto é enriquecido caso se apresente uma justificativa para cada
item. De novo, a problemática e a hipótese servem de referência que auxiliam no recorte
do objeto.

3. Justificativa

Lembre-se que o projeto é a oportunidade que você tem de convencer o seu leitor da
pertinência da sua proposta de pesquisa. Em termos institucionais, ele se configura
como momento no qual você tem de mostrar para uma banca avaliadora ou para seus
leitores que sua pesquisa é factível, interessante, inovadora e, portanto, merece ser
aprovada. O lugar para deixar isso mais explícito é a justificativa.

Uma falha muito comum é a confusão entre a justificativa do tema e a justificativa da


pesquisa. Erroneamente, muitos utilizam esse espaço para justificar a relevância da
pesquisa sobre determinado tema. Assim, por exemplo, argumenta-se a necessidade e
importância de se estudar o pensamento de Heidegger, a noção de ontoteologia, etc. No
entanto, a intenção da justificativa não é ser espaço para defesa da pertinência do tema,
mas para mostrar em que a pesquisa contribui para o conhecimento sobre determinado
assunto. Portanto, algo importante deve ser notado: não se trata de justificar o tema, mas
a abordagem que o projeto propõe sobre ele.

Essa justificativa pode ser amparar em vários aspectos. O mais usual é apontar a falta de
estudos sobre o tema em discussão. Quando não é esse o caso, a justificativa pode
mostrar como a abordagem que a pesquisa traz é inovadora em relação às pesquisas já
53

existentes. Isso pode ser feito mostrando em que medida ela contradiz, ou corrige ou
amplia uma posição consolidada sobre o tema.

Principalmente no caso de projetos que envolvam pesquisa de campo e de documentos,


é importante mostrar que tal projeto tem condições de ser executado. Por exemplo, se
um projeto pretende investigar a maçonaria e seus ritos, ele deve indicar como se terá
acesso a essas práticas, uma vez que não são abertos ao público. No caso de
investigação de documentos, vale mencionar onde eles estão disponíveis e sob quais
condições o pesquisador poderá ter acesso a eles.

Exemplo

A questão fundamental que me provoca a apresentar este projeto no contexto brasileiro


é sua relevância atual. O universo religioso brasileiro é muito rico em manifestações
mitológicas e simbólicas. Não tenho encontrado estudos relacionados com estas
características. O crescente interesse no movimento pentecostal tem resultado em
inúmeros estudos a respeito do símbolo, seu lugar e função no universo religioso. Mas
não tenho encontrado estudos dedicados à análise do símbolo na linguagem religiosa,
especificamente. Acho, assim, que o exame da problemática estudada por Bultmann e
desenvolvida depois no mundo teológico e filosófico contemporâneo poderá ajudar os
estudiosos de religião no Brasil na tarefa de interpretar este fenômeno, característico dos
vários movimentos religiosos presentes no Brasil, desde religiões africanas a
espiritualistas, passando por protestantes clássicos.

Após Bultmann, a arte hermenêutica tornou-se a problemática central de muitos


pensadores contemporâneos (como Heidegger, Ricoeur e Gadamer) contribuindo para o
amadurecimento de muitas questões. Em virtude destas novas visões, faz-se importante
a reavaliação do projeto de Bultmann Está presente aí de maneira básica a problemática
da linguagem que hoje perpassa diversas áreas da vida acadêmica brasileira.

Além disto, a academia brasileira carece de estudos sobre este teólogo, que ao lado de
Karl Barth e Paul Tillich, é considerado um dos grandes expoentes da teologia do século
passado, sendo sua importância também reconhecida por renomeados filósofos. Não
circulam no Brasil muitas das obras primárias de Bultmann. Encontramos apenas
pequenos artigos em revistas teológicas, uma coletânea de artigos selecionados 7 de sua
autoria e o livro, Jesus Cristo e Mitologia. Comprova-se, dessa forma, a carência
existente na academia brasileira no que concerne aos estudos sobre Rudolf Bultmann.

4. Objetivos

Nessa parte, o projeto deve indicar onde a pesquisa pretende chegar. Para melhor
ordenar as coisas, é importante distinguir entre objetivo geral e objetivos específicos. O
objetivo geral aponta para o lugar onde o projeto pretende chegar. Por isso, ele se
aproxima muito da hipótese que se levantou. Por exemplo, o objetivo geral de uma

7
BULTMANN, Rudolf. Crer e Compreender. Artigos Selecionados. Trad. Walter Altmann e
Walter Schlupp. Sinodal, São Leopoldo, 1987.
54

pesquisa pode ser demonstrar como a religião está presente e a figura de Deus assume
caráter ambíguo, de repulsa e de entrega, no cotidiano de mães cujos filhos receberam
diagnóstico de câncer.

Já os objetivos específicos são relativos às etapas que se deve construir para chegar a
esse objetivo final. Partindo do exemplo anterior, objetivos específicos podem ser:
a)Expor criticamente a teoria dos cinco estágios que o indivíduo passa em situação de
sofrimento elaborada por Kübler-Roos, indicando como esse modelo pode ser ampliado
com a inserção do tema da religião; b) Analisar os discursos das mães que se encontram
nessa situação de sofrimento, buscando identificar como elas interpretam a relação com
a divindade diante dessa situação.... etc.

Nesse caso, vale um paralelo. Suponha que você está planejando uma viagem: você
quer sair de Juiz de Fora e ir para o Rio de Janeiro. Nesse caso, seu objetivo geral é
chegar ao forte de Copacabana no Rio de Janeiro. Os objetivos específicos são as etapas
que você deve cumprir para que esse objetivo maior seja realizado. Por exemplo, em
primeiro lugar, você deve chegar à rodoviária de Juiz de Fora; depois, pegar um ônibus
que vai passar por Itaipava e Petrópolis; por fim, descer na rodoviária do Rio de Janeiro
e pegar um transporte para Copacabana, etc... Por isso, é importante o projeto ter clareza
quanto ao seu objetivo geral. Afinal, se não aonde quero chegar, é bem possível que me
perca no caminho. Por outro lado, se isso está bem traçado sei que vou passar por
Petrópolis, mas não vou descer lá, pois não é esse meu objetivo. Muitos projetos se
perdem e temas paralelos ou divagações por não ter clareza quanto a esse aspecto.

Em resumo, o objetivo geral define o que o pesquisador pretende atingir com sua
investigação. Os objetivos específicos definem etapas do trabalho a serem realizadas
para que se alcance o objetivo geral. Os objetivos podem ser: exploratórios, descritivos
e explicativos. É importante sempre utilizar verbos no infinitivo para iniciar os
objetivos:

Exploratórios (conhecer, identificar, levantar, descobrir)


Descritivos (caracterizar, descrever, traçar, determinar)
Explicativos (analisar, avaliar, verificar, explicar)

No âmbito de um projeto, a parte dos objetivos é curta e deve ser organizada em


tópicos.

De certa maneira, aspectos apontados na delimitação acabam reaparecendo aqui, ainda


que de forma mais concisa e resumida.

5. Metodologia

Nessa parte, espera-se que o projeto indique qual a metodologia será empregada. No
âmbito da Ciência da Religião, temos, num nível mais geral, basicamente dois tipos de
estudos.
55

Em primeiro lugar, há pesquisas bibliográficas. Nesse caso, adotam-se como


metodologia a leitura e interpretação de textos de autores. Aqui, pode-se adotar como
metodologia a leitura exegética ou estruturalista desses textos ou ainda análise do
discurso8. De maneira, mais geral, pode-se indicar que tipo de análise será feita:
seletiva, crítica ou reflexiva, descritiva, analítica etc.

Em articulação com a anterior, há a pesquisa de documentos. Entende-se por pesquisa


documental aquela que utiliza documentos (na maioria das vezes, com valor histórico)
como fonte de seus dados. O documento como fonte de pesquisa pode ser um texto, mas
não se restringe a ele: filmes, vídeos, fotografias, esculturas, etc. podem se constituir
como objeto de análise. Como no caso anterior, pode-se indicar que tipo de análise será
feita: seletiva, crítica ou reflexiva, descritiva, analítica etc.

Em segundo lugar, quando a pesquisa envolve interação com outros indivíduos e


grupos, diz-se que há pesquisa de campo. Nesse caso, é importante indicar que tipo de
metodologia será empregado na inteiração com o campo. Há pesquisas quantitativas ou
qualitativas. No primeiro caso, a intenção é analisar, dentro de um padrão estabelecido,
o maior número de entrevistas possível. O limite é que essas entrevistas acabam tendo
de ser pré-elaboradas pelo pesquisador. Com isso, há pouco espaço para manifestações
mais espontâneas dos pesquisados. Já no segundo, privilegia-se um número menor de
entrevistas, o que permite uma análise mais aprofundada e individualizada. Aqui
também vale mencionar se será empregada a observação participante ou outro tipo de
interação com os pesquisados.

Um aspecto que pode enriquecer o projeto é justificar a escolha por determinado


procedimento metodológico. Por exemplo, se o projeto afirma vai fazer uma pesquisa
quantitativa com questionários estruturados, eu tenho de indicar por que essa estratégia
se apresenta como mais adequada para mostrar a pertinência da hipótese que pretendo
defender.

Uma vez que se trata de um pré-projeto, é possível indicar apenas de modo mais
genérico a metodologia que será empregada. No entanto, caso se queira pontuar com
mais precisão o tipo de metodologia que será empregada, é possível consultar o texto
The Routledge Handbook of Research Methods in the Study of Religion 9. Aqui, há
sugestão de mais de 20 métodos distintos que podem ser empregados no estudo da
religião. Lembrando que a metodologia empregada depende muito do objeto a ser
analisado e dos objetivos que a pesquisa pretende atingir.

Exemplo de metodologia bibliográfica

A) Estudo da bibliografia existente. Levantamento de livros, artigos em revistas e


jornais que nos possibilitem melhor compreensão do projeto de desmitologização,

8
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2814/caderno%20direito%2016%20-
%20revisado%20031207.pdf
9
STAUSBERG, Michael; ENGLER, Steven. The Routledge Handbook of Research Methods in the Study
of Religion. London: Routledge, 2011.
56

da função religiosa do simbólico e possibilidades de articulação entre ambos. Neste


item, destacamos principalmente a pesquisa em obras escritas por Bultmann.

B) Confronto entre posições divergentes. Uma das características marcantes em


Bultmann e seu projeto é a polêmica. Na análise da bibliografia existente,
encontramos grande diversidade de posicionamentos, críticas e propostas. A
confrontação destes posicionamentos nos levará à adoção de visão crítica com
relação ao projeto de desmitologização e a função do simbólico na linguagem
religiosa, de forma que poderemos, melhor embasados, propor pistas sobre o
relacionamento do simbólico na linguagem religiosa de acordo com Bultmann e a
realidade religiosa brasileira.

C) Síntese. Após análise de bibliografia primária e confrontação de posicionamentos


divergentes, proporemos, melhor fundamentados, o que chamamos de
transmitologização, adotando aspectos do pensamento de Bultmann que julgamos
relevantes e construindo críticas pertinentes a outros elementos de sua proposta.

Exemplo de metodologia com trabalho de campo

Dos materiais: Levantamento bibliográfico em bibliotecas universitárias (programas de


graduação e pós-graduação em ciências sociais, sociologia, antropologia e ciências da
religião): monografias, capítulos de livros, artigos em periódicos especializados.
Levantamento bibliográfico em bases de dados digitalizadas e portais disponíveis na
web. Levantamento de materiais impressos de circulação comum (livros, jornais e
revistas). Monitoramento do site oficial da IMPD (www.impd.com.br), transmissões de
cultos e reuniões públicas on-line (TV Mundial), acompanhamento da programação
distribuída nos Canais de TV aberta (Bandeirantes e Canal 21) e TV à cabo (CNT).
Catalogação de materiais produzidos e distribuídos pela IMPD: Jornal Fé Mundial,
carnês de contribuição e dízimos, envelopes de ofertas, objetos consagrados não
perecíveis (ex.: pequenas toalhas, martelos, travesseiros etc). Material áudio-visual
(gravações de cultos e reuniões, fotos).

Dos métodos: Métodos qualitativos – serão empregadas estratégias passíveis de


convivência por parte da pesquisadora. Os métodos principais consistem na observação
participante (ouvir o que não foi dito, ver o que não foi mostrado) que envolve
observação direta dos grupos em estudo e entrevistas. As entrevistas poderão ser desde
individuais, nos modelos estruturada (com roteiros padronizados), semi-estruturada
(com roteiro geral, aberto ao aprofundamento de certas questões) e não estruturada (com
tema geral), até coletivas (com grupos focais), a depender das situações e possíveis
aberturas.

6. Cronograma de execução
57

Nesse item, o projeto deve prever um plano de trabalho dentro de um prazo estipulado
para realização da pesquisa. No caso do TCC, tem-se um semestre. Para o mestrado, são
dois anos. No caso do doutorado, são quatro anos. Nesses dois últimos casos, é possível
pensar um cronograma dividido por semestres. No cronograma é importante prever as
etapas envolvidas na pesquisa, respeitando seu encadeamento cronológico. Por
exemplo, coleta das fontes é sempre anterior à análise das fontes. Abaixo, segue um
modelo com os itens a serem considerados no cronograma.

Outra forma de se organizar o cronograma:

1o semestre de 2019: Cursar quatro disciplinas no programa de mestrado do Curso de


Pós-Graduação em Ciência da Religião. Levantamento de bibliografia, leituras básicas e
encontros com o orientador.

2o semestre de 2019: Cursar as disciplinas restantes. Levantamento de bibliografia,


principalmente secundária. Aprofundamento na bibliografia primária levantada.
Preparar exame de qualificação. Exame de qualificação

1o semestre de 2020: Readequação do projeto às indicações do exame de qualificação.


Redação do primeiro capítulo da dissertação.

2o semestre de 2020: Redação dos capítulos restantes, da introdução e da conclusão.


Revisão geral.

1º semestre de 2021: Defesa da dissertação.

7. Bibliografia Básica
58

Inclui textos de referência que se julgam mais importantes. Nesse caso, podem-se
incluir: a)outras pesquisas feitas em torno do tema; b)no caso das pesquisas
bibliográficas, incluir os textos de referência apontados na delimitação; c)Em havendo,
não se esquecer de elencar textos importantes do aporte teórico; d) textos relativos ao
tema estudado. Bibliografia em torno de uma página é o suficiente para projeto de
mestrado.
59

Aplicativos e recursos para pesquisa

I) Aplicativos e sites

1) Publish or Perish

https://harzing.com/resources/publish-or-perish

Ao acessar o site, é necessário instalar o aplicativo no computador. O recurso mais


interessante desse aplicativo é o levantamento bibliográfico. É possível realizar procura
por autor, palavras no texto, palavras no título, ano de publicação entre outros. Um
aspecto importante é o ordenamento dos textos a partir do critério de impacto. Isto é: os
artigos são listados segundo o número de vezes que foram citados em outros textos. Se
o artigo é muitas vezes citado, isso é um indício de sua relevância para a área de estudos
em questão.

É possível também exportar a listagem dos artigos para planilha Excel.

O material disponível em outros idiomas, especialmente em inglês, é muito mais


volumoso do que em português. Vale a pena realizar, pelo menos, buscas em inglês e
espanhol.

Mais informações sobre esse programa podem ser obtidas em:

http://www.sibi.usp.br/apoio-pesquisador/indicadores-pesquisa/publish-or-perish/

2) Site com artigos disponíveis

http://sci-hub.tw/

Esse site disponibiliza artigos e materiais em pdf. É possível utilizá-lo em articulação


com o Publish or Perish da seguinte maneira. Em primeiro lugar, você busca artigos
sobre a temática de pesquisa no Publish or Perish. Após ter o título e autor, você pode
verificar se está disponível nesse site. Aqui também se aplica a regra: caso você busque
em outros idiomas, especialmente inglês, o material disponível é muito maior.

https://b-ok.lat/

Libgen

3) Citação e referências bibliográficas

https://www.zotero.org/

É necessário baixar para o computador também. Ele permite citar automaticamente no


Word. Ele também inclui no final do arquivo as referências bibliográficas no padrão que
escolher: APA, ANBT...
60

Para utilizá-lo, é necessário baixar no computador. Após instalá-lo, o aplicativo “cria”


uma extensão no Chrome e no Word.

4) Portal de Periódicos CAPES

http://www.periodicos.capes.gov.br/

Esse portal reúne periódicos das mais diversas áreas do saber. Uma vez que se paga pela
assinatura desses periódicos, somente instituições credenciadas podem ter acesso. Nesse
caso, você somente terá acesso ao conteúdo assinado caso acesse o site com um IP da
UFJF. É possível também acessar de casa. Para isso, é preciso acessar o SIGA e
procurar o campo específico que permite esse acesso.

5) Indexador: Scielo

http://www.scielo.org/php/index.php

O scielo é um indexador que reúne periódicos acadêmicos nacionais de qualidade. Para


ser aceito no indexador, o periódico deve seguir uma série de procedimentos.
Infelizmente, por razões administrativas e de concepção, o indexador possui poucos
periódicos na área de religião. Mas, mesmo assim, pode ser muito útil para pesquisa.

II) Sites para compra de livros

1) No Brasil

https://www.estantevirtual.com.br/

Esse site reúne vários vendedores e lojas de livros usados no Brasil. É possível
encontrar desde livros recém-lançados a textos raros. É válido ficar atento aos preços e
ao valor do frete, pois isso pode, em alguns casos, alterar substancialmente o valor final
do livro.

2) No exterior

https://www.abebooks.com/

https://www.alibris.com/

https://www.betterworldbooks.com/

Esses sites funcionam no mesmo modelo do Estante Virtual. É possível encontrar livros
com muita variação de preço. Além disso, é preciso atenção a duas coisas. 1) É preciso
considerar não somente o valor do livro, mas do frete. Não é muito raro casos em que o
frete é mais caro do que o livro. Portanto, uma boa pesquisa pode significar grande
economia; 2) Os livros demoram bastante tempo para chegarem ao Brasil. Em geral,
levam mais tempo do que o prazo indicado no ato da compra.
61

É possível comprar utilizando cartão de crédito internacional.

https://www.bookfinder.com/

Esse site não é, propriamente, um site de compra. Ele realiza uma busca nos sites de
livros usados em busca do melhor preço. Ao final, é disponibilizada uma lista com os
livros e os valores. Como dito anterior, é preciso cautela. No caso de importação para o
Brasil, um livro pode ser barato, mas com preço de frete extremamente elevado. Por
outro lado, em outro sebo o livro pode ser um pouco mais caro, mas por ter um valor de
frete menor, acaba tendo preço final mais barato.

III) Associações científicas e periódicos da área de CR

1) Associações de CR10

International Association for the History of Relingon (http://www.iahrweb.org/)


American Academy of Religion (antiga National Association of Bible Instructors in
1963) - https://www.aarweb.org/

Associação Nacional de Pós-graduação em Teologia e Ciências da Religião (Brasil,


1985) - http://www.anptecre.org.br/

Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Brasil, 1985) - - http://www.soter.org.br/

Korean Association for Studies of Religion (1970), - Korean Association for the
History of Religions
http://koars.org/modules/doc/index.php?doc=AboutUs&___M_ID=104

Society for the Sociology of Religion (antiga Japanese Association fundada em 1975).

Australian Association for the Study of Religion (1975);

New Zealand Association for the Study of Religion (1978);

Chinese Association of Religious Studies (1979);

African Association for the Study of Religion (1992).

Sociedad chilena de Ciencias de las Religiones - https://religiones.cl/

North American Association for the Study of Religion (NAASR) - https://naasr.com/

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Para lista ainda mais completa, verificar http://www.iahrweb.org/members.php
62

2) Alguns periódicos internacionais na área de CR


Numen (Periódico da IAHR, 1954)
Przeglad Religiaznawczy (Polônia, 1957)
History of Religions (Estados Unidos, 1961)
Temenos (Finlândia, 1965)
Journal of Religion in Africa, Religion en Afrique (Africa, 1967)
Religion (Reino Unido e Estados Unidos, 1971)
Japanese Journal of Religious Studies (1974)
Shijie Zangjiaa Yanjiu (China, 1979)
Jongkyo Yeongu (Coreia, 1986)
Journal for the Study of Religion (Africa do Sul, 1988)
Method and theory in the Study of Religion (Estados Unidos, 1989)
Zeirschriit für Religionswissenschaf (Germany, 1993)
Religio. Revue pro Religionistiky (República Checa, 1993)
Archaevs: Studies in the history of religions (Romênia 1997)
Bandue (Espanha, 2007).

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