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RESUMO
O presente estudo tem por objetivo descrever o fenômeno religioso de um modo geral,
a partir das perguntas existenciais que levam as ciências a mergulhar nas mais diversas
investigações por se tratar de um tema complexo para o entendimento do pluralismo
religioso. Este fenômeno é visto à luz das tradições religiosas, e também pelas ciências.
Por outro lado, o fenômeno religioso é também compreendido como objeto de estudo
do Ensino Religioso (ER). Por isso, faz-se necessário essa pesquisa a respeito desse
fenômeno, uma vez que isso é tratado em sala de aula, onde educadores e educandos
procuram compreender o sagrado do outro, a partir da tradição religiosa de cada um,
que “dizem respeito à totalidade da vida”, onde as pessoas buscam essa transcen-
dência que dá sentido à vida. A pesquisa é de natureza bibliográfica qualitativa e entre
os autores estudados destacamos: Aresi, Harada, Flores, Ruedell, Filoramo e Prandi,
Eliade, entre outros.
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Ciências das Religiões: uma análise transdisciplinar - Volume 2
INTRODUÇÃO
O Ensino Religioso, de acordo com a sua especificidade, não deve ser confundido com
nenhuma outra ciência humana, pois apresenta um grande desafio de como despertar o
educando para a percepção do Transcendente, sem fazer proselitismo. Observamos que em
cada cultura religiosa existem normas de valores e essas se apresentam com ensinamentos
para uma construção da cidadania e da paz. É onde o fazer pedagógico se espelha para
levar aos estudantes o conhecimento do ethos de cada cultura religiosa.
Sendo assim, é importante destacar o papel da Ciência frente ao fenômeno religioso e
as dimensões das religiões nas áreas sociais e humanas e a importância de seu estudo para
as disciplinas das Ciências Sociais a partir da História, Antropologia, Sociologia e Psicologia.
1 HARADA, Hermógenes. O Fenômeno Religioso. In: BETTENCOURT, Estevão Tavares, O.S.B. Crenças, Religiões, Igrejas, & Seitas:
quem são? Coletânea de artigos publicados na revista O Mensageiro de Santo Antônio. Igrejas & Igrejas, 1989-1995, Editora: O
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Mensageiro de Santo Antônio. Santo André, SP. 2000, p. 22.
Para Flores5, tanto a antropologia quanto o homem surgiram ao mesmo tempo. Daí as
indagações do homem que está sempre se questionando, procurando saber quem ele é, de
onde veio e para onde vai? Ao se questionar, esse mesmo homem, por não conhecer, põe a
sua inteligência em desequilíbrio, uma vez que este não tem o domínio desse conhecimento.
Enquanto não existe uma resposta para essa busca, a fundamental é aquela já construída
pelo conhecimento do mistério.
2 JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo, FMS. O Processo de Escolarização do Ensino Religioso no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes
2002, p. 86.
3 STEEL, Edson. Ensino Religioso: Ensino Fundamental II. São Paulo-SP. Global Editora, 2009, p. 31.
4 CATÃO, Francisco. A Tradição Religiosa e o Sagrado. In: Revista Diálogo, nº 3, ago. 1996. Caderno 04, FONAPER. 2000, p. 27.
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5 FLORES, Alberto Vivar. Antropologia da Libertação Latino-Americana. São Paulo, SP: Paulinas, 1991, p. 70.
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6 FLORES, 1991, p. 74.
A sociologia da religião (SR) não coloca a religião no centro dos seus interes-
ses; antes fixa, a atenção no fato religioso entendido como produto social ou
com fruto de uma criação coletiva, dotado de uma especial estrutura simbólica,
pelo papel que exerce no interior dos mecanismos sociais7.
Dessa forma, entendemos o fenômeno religioso do ponto de vista sociológico, não como
uma pesquisa individual, mas sim coletiva, cujo relacionamento entre os seres humanos pos-
sa acontecer no decorrer da história, dentro de uma simbologia, com interpretações dos fatos
religiosos que marcaram o início de tudo a partir do desenvolvimento religioso da humanidade.
No campo da Psicologia, ainda é muito tímido encontrar dados que relatem a existên-
cia de Deus. Poucos são os que têm essa preocupação. Nos fins do século XIX e início do
século XX é que a Psicologia começou a se interessar pelo fenômeno religioso.
Aresi afirma que:
Apesar disto não é fácil encontrar dados psicológicos para provar a existência
de Deus, porque infelizmente não existe uma psicologia unificada, mas sim,
uma coleção de dados e opiniões. Há muita divergência entre os psicólogos.
Para alguns a Psicologia trata do comportamento humano, correspondente ao
estímulo-resposta dos animais; para outros trata só das relações psicofísicas;
para outros trata ainda dos processos conscientes e inconscientes da mente8.
Como podemos observar, poucos são os que se preocupam com a psique humana
sobre a existência de Deus, além disso, existem muitas divergências a esse respeito. Para
Jung, a existência de Deus pode ser definida como uma atividade física e psíquica, jamais
o intelecto humano definirá Deus. Ele afirma ainda que, alguns psicólogos definem Deus
como um complexo autônomo.
A conceituação de Deus para Jung, um dos mais importantes conceitos: “É apenas
através da psique que podemos estabelecer que Deus age sobre nós”9. Como podemos
7 FILORAMO, Giovanni. PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões; tradução José Maria de Almeida. São Paulo-SP: 3. ed. Paulus,
2003, p. 154.
8 ARESI, Albino. Pode-se Educar Sem Deus? III ed. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1980, p. 80
9 JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Petrópolis, RJ:
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Vozes, 2000, p. 139.
A religião é a ponte relevante que liga o ser humano ao sagrado em busca do trans-
cendente para que este não se sinta sozinho. Pode-se afirmar que durante a maior parte da
história da humanidade as certezas sobre o mundo foram dominantemente dadas pela fé,
pela crença mágica ou religiosa que perdurou por muito tempo.
Na pós-modernidade, com o aparecimento das novas tecnologias, cedendo espaço a
um sonho de consumo, em que a fome e a pobreza imperam nos quatros cantos do planeta,
contribuindo para o aumento das desigualdades sociais, produzindo com força uma imensa
população excluída.
Diante desse quadro é preciso objetivar um olhar diferenciado para a busca de sentido
para a vida. Nessa busca, o ser humano procura sintonizar-se com o sagrado pela procura
do transcendente, em meio à angústia, existe a esperança de que algo divino vai acontecer
em sua vida, pela força da fé, uma força libertadora do sagrado que lhe inspira a realização
como ser humano, que é de poder participar e se sentir como um responsável pela mu-
dança na sociedade.
O ser humano não subsiste sozinho, pois precisa estar em constante relacionamento
com seus semelhantes, bem como com outros seres do planeta numa interação de um-sair-
-de-si, de um estar-e-agir-com e de um volver-a-si11. Para isso é necessário o diálogo, tão
importante numa relação que transporta esse ser para uma convivência de enriquecimento,
que possibilita um crescimento dos indivíduos numa construção coletiva.
Com essa edificação dialógica, o ser humano interioriza e passa a perceber o sentimento
de sair de si para a busca da dimensão religiosa, uma necessidade que desperta para uma
religação consigo mesmo e com o Transcendente, O Divino. É nessa busca do sagrado e
nessa religação que consiste na religião.
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linas 2007, p. 131.
12 ELIADE, Mircea. Tratado da História das Religiões. Tradução: Fernando Tomaz e Natália Nunes. São Paulo: Martins Fontes, 1993,
p. 128.
13 RUEDEL, 2007, p. 77.
14 SANTIDRIÁN, Pedro R. Dicionário Básico das Religiões. Tradução Maria Amélia Pedrosa. Desenhos Mariano Sinués. Aparecida-SP:
Santuário, 1996, p. 84.
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15 ARESI, 1980, p. 23.
Quando pensamos em grandes religiões mundiais, nos reportamos logo para o cris-
tianismo, islamismo, judaísmo, budismo e hinduísmo. Para muitos estudiosos, o número de
religiões existentes no mundo inteiro está em torno de quarenta a cinquenta mil e muitas
são consideradas seitas do próprio cristianismo. Embora muitas dessas religiões tenham
vida curta. Há de se considerar que centenas e até mesmo milhares delas surgem e desa-
parecem a cada ano, por isso nunca teremos um número definitivo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acompanhado
pelo Instituto de Estudos de Religiões (ISER), organização que reúne estudiosos sobre o fenô-
meno religioso, em seu último censo demográfico, cuja entrevista apontou para uma pergunta.
Segundo Guerriero: Qual a sua religião ou culto? Portanto uma pergunta aberta co-
lheu-se trinta e cinco mil respostas distintas [...] agrupou todas essas denominações em
mais de cento e vinte classificações que podem ser distribuídas em nove grandes blocos16.
A partir dessas grandes religiões citadas anteriormente é que foram surgindo novas
religiões, com novas mensagens e princípios e daí nasceram novos grupos em busca de
caminhos diferentes para chegar à salvação. Temos que levar em consideração que essas
religiões não surgiram do nada, mas sim embasadas a partir daquelas existentes, por uma
simples divergência ou por acreditarem que essas religiões já não são fiéis aos seus prin-
cípios e valores.
Este autor afirma:
Por muito tempo os novos movimentos religiosos foram definidos a partir das crises
sociais, pela intolerância de outras religiões, que geraram insatisfações de alguns grupos
religiosos e com isso foram surgindo novas religiões, provocando mudanças internas e rup-
turas que geraram um reflexo dessas crises sociais.
16 GUERRIERO. Silas. Novos Movimentos Religiosos: o quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas. 2006. (Coleção Temas do Ensino Re-
ligioso. Tradições Religiosas), p. 20.
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17 GUERRIERO, 2006, p. 40.
Muitos cientistas estudiosos das religiões dedicaram boa parte de sua vida na busca
de descobrir algo que liga o ser humano ao sagrado. Diante dessa complexidade de conhe-
cimento é que surgem os mais variados questionamentos e indagações sobre a compreen-
são das religiões.
Como cada cultura absorve esse fenômeno religioso? Qual a sua manifestação religiosa,
uma vez que é ela que registra profundamente a forma de vida de um povo? As religiões
históricas trazem ao seu modo a solução para os profundos enigmas da vida humana, pro-
curando dar resposta aos questionamentos que durante milênios a humanidade dirige a si
própria: O que é o homem? Qual é o sentido de sua vida? O porquê do bem e do mal, da
dor e do sofrimento. Existe vida após a morte? De onde viemos e para onde vamos?
Para Ruedell, o profundo do ser humano é a dimensão religiosa, com a qual sinto-
nizamos quando algo nos toca incondicionalmente. Nessa afirmação ele quer dizer que a
dimensão religiosa desse ser pode ser vista pelos pesquisadores numa ótica diversa, no
entanto uma coisa tem em comum que é o ser humano religioso19.
Ele afirma que estudos feitos em diversas áreas da história humana comprovam que
os homens deixaram sinais de relacionamentos com o Absoluto, ou seja, sinais de crença
em realidades de um mundo que está situado fora e além de seu cotidiano.
Com este posicionamento, observamos que o ser humano nessa busca da verdade
encontra o sagrado, seja em um objeto qualquer, ou numa obra de arte, ou até mesmo na
18 VELOSO, Eurico dos Santos. Fundamentos Filosóficos dos Valores no Ensino Religioso: subsídios pedagógicos. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2001. (Coleção subsídios pedagógicos). p, 92.
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19 RUEDEL, 2007, p. 80.
No processo educativo, é impossível tratar do ER sem falar das várias tradições religio-
sas, uma vez que cada cultura religiosa apresenta o fenômeno religioso, e cada uma dessas
culturas religiosas tem o seu culto diferenciado ao transcendente, e como tal se apresenta
o fenômeno religioso.
20 RUEDELL, Pedro. Educação Religiosa: Fundamentação antropológico-cultural da religião segundo Paul Tillich. São Paulo, SP:
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Paulinas 2007, p. 63.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi abordado no decorre da pesquisa, queremos ressaltar neste estudo
que não estamos tratando de fé ou dogmatismo, mas de uma construção do conhecimento,
uma vez que o ER tem como objeto de estudo o fenômeno religioso. Porém, nesse pro-
cesso, tivemos que investigar também esse fenômeno “à luz das Ciências”, ou seja: pela
Antropologia, Sociologia, Psicologia e a História. Cada uma dessas áreas apresenta o seu
ponto de vista de acordo com o objeto de estudo dos cientistas, os quais têm como objetivo
fundamental investigar esse fenômeno.
A complexidade de entendimento deste tema nos permite destacar a importância desta
pesquisa, o que reforçou com mais detalhe, visto ser uma área de estudo em que os educa-
dores e educandos precisam compreender para vencer as barreiras do preconceito.
Nesta visão, entendemos que, de acordo com sua proposta, tem uma grande contri-
buição no processo de formação, por ser um referencial que aborda as diversas culturas
presentes em seu meio e na sociedade. Neste caso, temos aí uma releitura do ER, numa
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Ciências das Religiões: uma análise transdisciplinar - Volume 2
visão de área de conhecimento voltada para o fenômeno religioso valorizando, dessa forma,
a diversidade cultural religiosa do Brasil.
O Ensino Religioso como área de conhecimento, segundo as suas diretrizes, seus objeti-
vos, propõe contribuir significativamente para a construção do ser humano, da cidadania e da
sensibilidade aos direitos de cada um, além de prepará-los para conviver com as diferenças,
dialogando com a diversidade e construindo referenciais que levem a uma educação mais
humana, mais cidadã. Por isso é importante que os educandos saibam que, além de sua
cultura religiosa, existem outras que precisam ser respeitadas, pois o nosso país apresenta
uma diversidade cultural religiosa muito grande, o que dificulta o diálogo e a tolerância.
REFERÊNCIAS
1. ARESI, Albino. Pode-se Educar Sem Deus? III ed. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1980.
2. CATÃO, Francisco. A Tradição Religiosa e o Sagrado. In: Revista Diálogo, nº 3, ago. 1996.
Caderno 04, FONAPER. 2000.
3. ELIADE, Mircea. Tratado da História das Religiões. Tradução: Fernando Tomaz e Natália Nu-
nes. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
4. FILORAMO, Giovanni. PRANDI, Carlo. As Ciências das Religiões; tradução José Maria de
Almeida. São Paulo-SP: 3. ed. Paulus, 2003.
5. FLORES, Alberto Vivar. Antropologia da Libertação Latino-Americana. São Paulo, SP: Pauli-
nas, 1991.
6. GUERRIERO. Silas. Novos Movimentos Religiosos: o quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas.
2006. (Coleção Temas do Ensino Religioso. Tradições Religiosas.
8. JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana
R. Ferreira da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
11. SANTIDRIÁN, Pedro R. Dicionário Básico das Religiões. Tradução Maria Amélia Pedrosa.
Desenhos Mariano Sinués. Aparecida-SP: Santuário, 1996.
12. STEEL, Edson. Ensino Religioso: Ensino Fundamental II. São Paulo-SP. Global Editora, 2009.
13. VELOSO, Eurico dos Santos. Fundamentos Filosóficos dos Valores no Ensino Religioso: sub-
sídios pedagógicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. (Coleção subsídios pedagógicos).
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