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ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

I. Ciência da Religião e Antropologia: um


caminho compartilhado. Ciência da Religião
e Antropologia nasceram na segunda metade do
século XIX praticamente juntas e caminharam lado
a lado por um bom período. Max Müller, um dos
primeiros pensadores da Ciência da Religião, se
preocupou em estabelecer comparações entre formas
distintas de pensamento, como mitologia, religião
e linguística, prática característica da Antropologia
(Geertz, 2014). Essa nova ciência, que veio a ser
conhecida como Religionswissenschaft, consistia em
estabelecer histórias comparadas de religiões, cons-
truir traduções e interpretações de textos religiosos
e também teorias do desenvolvimento das religiões
e seu instrumental metodológico. Há de se lembrar
de que nesse período a expansão colonial europeia se
fazia muito presente por sobre os povos indígenas em
todos os cantos do planeta. A Antropologia nasceu
como forma de explicar a existência de uma imensa
diversidade humana em conciliação com a unidade
da espécie. A presença de povos e culturas tão exó-
ticas instigou esses desbravadores, antropólogos e
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cientistas da religião. De certo, não havia muita dis- deveria ser compreendido em seus próprios termos.
tinção entre os dois campos de saberes. Tudo estava Os estudos de religião passaram a ser dominados por
por ser constituído. Além do próprio Max Müller, teólogos, psicólogos e outros pensadores com incli-
faziam parte desse movimento pensadores como nação fenomenológica, como Rudolf Otto (1869-
William Robertson Smith, teólogo e orientalista, 1937), Carl Jung (1875-1961), Gerardus van der
Sir James George Frazer, antropólogo, Andrew Lang, Leeuw (1890-1950), Joachim Wach (1898-1955)
e Mircea Eliade (1907-1986).
mitólogo, entre outros. O próprio ecletismo das
Esses acontecimentos acabaram por fazer com
formações indicava uma aglutinação em torno de
que as duas disciplinas, Antropologia e Ciência da
objetivos comuns e a formação de um novo campo Religião, permanecessem afastadas por um longo
de conhecimento. período. Isso não evitou, sem sombra de dúvida, que
Ao longo dos anos seguintes, Antropologia e a segunda utilizasse da primeira em seus estudos,
Ciência da Religião foram estabelecendo parâme- principalmente no tocante aos dados etnográficos ge-
tros específicos e acabaram por constituir campos rados pelo método antropológico. Armin Geertz
distintos de conhecimento. Contudo, a então nas- (2014) lembra que os estudiosos de religião olharam
cente Religionswissenschaft não dispunha de uma para a Antropologia como companheira, pois, além
metodologia única. Os métodos empregados pelos do trabalho de campo, esta também forneceu as prin-
primeiros estudiosos de religião foram desenvolvidos cipais teorias da religião na maior parte do século XX.
em outros departamentos, como História, Linguís- Essa perspectiva divergente se faz presente até os
tica, Filosofia, Psicologia e Antropologia. A Ciência dias atuais, embora com algumas pontes promissoras
Comparada da Religião já nasceu com a caracterís- já estabelecidas. Pode-se perceber esse movimento
tica de um pluralismo metodológico. Hoje, essas na busca da compreensão da natureza da própria
constituem o denominado rol de subdisciplinas, ou religião, sem necessariamente remeter ao seu pro-
disciplinas auxiliares, da Ciência da Religião. A palado elemento sui generis, como veremos mais
adiante. Para os fenomenólogos de então, o religioso
Antropologia, portanto, sempre esteve presente, e
só pode ser compreendido a partir dele mesmo, pois
fortemente ligada, à Ciência da Religião.
traz em si mesmo um elemento irredutível (Otto,
Essa estreita ligação inicial tinha como horizonte
2007, Terrin, 1998). A partir dessa abordagem, não é
a preocupação comum com as origens. Essa era uma possível olhar a religião de uma perspectiva externa
tônica constante no século XIX, fosse pelo avanço a ela. Não é possível empreender um reducionismo
tecnológico proporcionado pela revolução industrial, e explicá-la sob pressupostos materialistas, como
fosse pelo surgimento e desenvolvimento cada vez pretendiam, e pretendem, muitos antropólogos.
mais consistentes do conhecimento científico. Os an- Para os pensadores religionistas, quando falamos
tropólogos desenvolveram uma teoria evolucionista de religião já temos algo preestabelecido em nossas
que procurava compreender as diferenças entre os mentes, algo proporcionado pela própria experiência
povos a partir de escalas evolutivas, pensamento esse religiosa que tenhamos passado. É famosa a postura
fortemente criticado anos depois. Os estudiosos de de Rudolf Otto, que se negava a aceitar a possibi-
religião também se preocuparam em compreender a lidade de que alguém que nunca tivesse sido tocado
religião e a cultura dentro de quadros evolutivos. pelo numinoso pudesse falar sobre ele.
Quer se olhasse pela Antropologia, pela Psicologia, O antropólogo Pascal Boyer (2013) denominou
pela Sociologia, quer pela Ciência da Religião, essa vertente de “modo erudição”, em contraposição à
havia uma perspectiva comum que apontava para a postura “modo ciência”. Com isso ele não quer dizer
que o modo erudição não seja ciência, mas apenas
evolução da civilização.
que não está preocupado em formalizar experimentos
Na passagem para o século XX deu-se um forte
e comprovações científicas e se volta mais a especula-
questionamento da visão evolucionista, principal- ções filosóficas. Essa postura levou ao que podemos
mente pelo seu caráter eminentemente etnocêntrico. chamar de “essencialista”, pois pensa a religião
A Antropologia abandonou o paradigma evolucio- como fruto de uma essência que está para além da
nista e, junto dele, uma perspectiva intelectualista, dimensão humana. Estudar religião deveria levar
que será tratada mais à frente, de se compreender a em conta, necessariamente, esse primado da expe-
religião. Surgiram novas correntes de Antropologia riência fenomenológica, a experiência do sagrado.
Cultural ou Social, todas com a intenção de com- Para outros estudiosos da religião, e notadamente
preender as diferenças humanas através da cultura. os antropólogos, isso não basta. É preciso olhar de
Estabeleceram um verdadeiro determinismo cultural. maneira distanciada, não emocional (o que a Ciência
No campo da Ciência da Religião, no entanto, a da Religião designa como “ateísmo metodológico”).
separação acabou por criar uma corrente com fortes Não se trata de querer provar ou negar um possível
agendas religiosas. Em oposição ao tratamento da sagrado independente do ser humano. Está claro
religião como uma coisa ou fato social, no sentido que isso está longe das nossas possibilidades. Se existe
apontado por Durkheim, empreenderam uma
contraposição ao positivismo científico. Para pen-
sadores de então, religião seria algo sui generis que
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ou não esse outro mundo de que falam as pessoas A perspectiva histórica era muito presente e princi-
religiosas, isso não deve interferir na nossa maneira
palmente os antropólogos olhavam as religiões dos
de compreender o religioso. Só é possível tratar
povos nativos como estágios primitivos de evolução
daquilo que está ao alcance dos nossos sentidos. A
de urna mesma religião. Essa deveria ser superada
Antropologia acabou por se afastar da preocupação pelo avanço da ciência. No entanto, o mais impor-
de generalizações e das buscas por uma conceituação
tante para nossos objetivos neste trabalho é ressaltar
geral de religião e de sua natureza.
a perspectiva intelectualista então empreendida.
A própria questão de saber se religião é uni-
Tratava-se de explicar a religião como fruto da
versal ou não depende da nossa definição de reli- mente humana, de uma racionalidade ou, ainda, de
gião. As então nascentes Ciência da Religião e uma racionalidade não desenvolvida. A religião e
Antropologia saíram a procura da compreensão das
sua congênere magia eram encaradas como formas
outras religiões, dos povos distantes e considerados
de conhecimento do intelecto humano. Não se tra-
exóticos em comparação aos europeus. Para muitos
tava de uma essência externa ao ser humano, mas
desses povos não existia nenhuma correspondência de uma construção relativa a uma maneira primitiva
ao que entendemos por religião, assim como não
de compreender o mundo. Descartada a perspectiva
existe até hoje. O termo começou a ficar ambíguo.
etnocêntrica evolucionista, alguns componentes des-
A palavra “religião” foi e é utilizada de maneiras
sa visão dos primeiros pensadores são importantes
muito diferentes. A questão de saber se a religião de ser frisados. A religião seria fruto da mente de
é universal ou não depende da nossa definição e
uma espécie única, os seres humanos. Nesse sentido,
da perspectiva sobre a religião. Para alguns, só os
a religião (ou o conhecimento religioso) seria a mes-
ocidentais ou, quando muito, as grandes civilizações ma em todas as culturas, fruto da unidade psíquica
orientais têm religião. Aos nativos só restaria a humana. O que diferenciaria seriam os estágios de
magia e a superstição. Quanto mais abstrata a
evolução em que cada sociedade se encontrava. Mas
definição, mais amplo será aquilo que está sendo
havia a possibilidade de existir um elemento comum
definido. Por outro lado, quanto mais restrito o
entre a imensa diversidade religiosa da humanidade.
conceito, mais deixamos de fora práticas e crenças Esse elemento comum estava radicado na maneira
diferentes das nossas.
de pensar e raciocinar.
Para os essencialistas, esse problema é contornado Na crítica feita ao evolucionismo, a visão inte-
pela ideia de que a essência deve ser igual em todas lectualista foi posta de lado. Surgiram no interior da
as religiões, pois se encontra acima das diversidades postura materialista visões reducionistas de cunho
culturais. Essa é a postura, por exemplo, de Mircea funcional. Nessa perspectiva, a religião persistiria
Eliade, que empreendeu um esforço gigantesco porque possui uma função na sociedade ou uma
para encontrar as diferentes manifestações de um função para a vida das pessoas. Podemos perceber
mesmo sagrado nas diversas sociedades históricas. desde colocações funcionalistas sociais, como a de
Contrariamente aos essencialistas encontram-se Durkheim, em que a religião promove a coesão
as posturas materialistas, que compreendem a reli- social, até as funcionalistas emocionais, como a de
gião como construções humanas. De acordo com Malinowski, em que a religião serve para aplacar
Boyer (2013), esse é o modo de a ciência olhar a as ansiedades diante das dificuldades da vida. Essas
religião. Encontramos aqui as posturas epistemo- visões reducionistas focaram em análises particulares,
lógicas que empreendem uma redução da religião distanciando-se cada vez mais de uma busca por
àquilo que é observável empiricamente. Guardam uma natureza da religião. Não há dúvidas de que
silêncio em relação a uma verdade última. O foco da ambas trouxeram grandes contribuições aos estudos
analise está nas particularidades. Em geral, criticam de religião. Algumas críticas podem ser colocadas a
o essencialismo afirmando que é mais teológico que essas posturas, como, por exemplo, o fato de que,
científico, pois não há possibilidade de observar ao contribuir para a coesão entre membros de uma
empiricamente o que os crentes falam. É tudo uma mesma sociedade, a religião propicia também, em
questão de crença. muitos casos, divisão e desarmonia. Da mesma for-
Do outro lado, os essencialistas costumam criticar ma, embora as religiões abrandem nossas ansiedades,
os materialistas, pois esses não seriam capazes de também as promovem. Lembremo-nos dos casos
captar a essência da religião devido a seu caráter em que as divindades são cruéis e as exigências
Sui generis. Tanto uma corrente como outra são aos fiéis, extremamente estressantes. Além disso, a
compostas de infinidades de versões diferentes. visão funcionalista social não conseguiu explicar um
Foram reunidas, aqui, em duas grandes vertentes ponto central da preocupação para com os estudos
apenas para fins didáticos. de religião, qual seja, o da persistência e universali-
Como já afirmado anteriormente, no início da dade da religião e qual sua natureza comum. Essas
Ciência da Religião, com Max Müller, e da An- explicações são atrativas, mas também enganadoras.
tropologia, com Edward Tylor e James Frazer, havia Fazem parecer que há um propósito, intencional-
uma forte ênfase na busca das origens da religião. mente planejado, para a existência da religião.
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Em ambos os casos não podemos dizer que a razão o início da Antropologia, muitos antropólogos não
ou causa da existência das religiões seja o fato de as admitem falar na existência de uma Antropologia
pessoas se sentirem mais unidas ou mais confortáveis. da Religião específica. A religião seria apenas um
A causa fundamental da universalidade da religião elemento a mais, dentre vários que compõem uma
deve ser procurada em outro lugar. cultura, passível de ser reestudado pelo recorte an-
No campo essencialista da Ciência da Religião, tropológico. Além do mais, não concordam com a
a resposta ao reducionismo funcionalista veio por indicação de religião no singular, visto que recusam
meio das fenomenologias de Otto e Eliade. Como a ideia de algo único para além das diversidades
afirmado antes, para esses pensadores a natureza da culturais. Religiões seriam muitas, relativas às coisas
religião se encontrava num elemento essencial fora culturais, não havendo uma religião essencial, ou
do ser humano. A explicação para uma unidade da um sagrado, para além daquilo que é observado
religião seria facilmente acessada, pois indepen- empiricamente.
deria dos seres humanos e das suas sociedades tão A Antropologia se caracteriza pelo estudo do
diversas. Esse sagrado, que é único, se manifestaria outro, do contato com a alteridade. A Ciência da
de uma maneira ou de outra. Religião utiliza a Antropologia da Religião e tam-
No entender de A. Geertz (2014), alguns antro- bém a Sociologia da Religião como instrumentos
pólogos dos últimos anos estão começando uma nova de compreensão da conotação social e cultural da
perspectiva, retomando o viés intelectualista, que religião. Todas as religiões estão inseridas em
pode fazer com que as duas disciplinas novamente sociedades específicas e no interior de um ambiente
se aproximem, sem ser apenas para empréstimos simbólico e cultural. Independentemente do que
teórico-metodológicos. Para A. Geertz, a própria afirmam os líderes religiosos, as instituições religiões
crítica pós-colonialista, presente na Antropologia são fortemente influenciadas pelos contornos sociais.
desde meados da década de 1970, e na Ciência Convém lembrar, também, que não há sociedade ou
da Religião desde os anos 1990, possibilita essa cultura que não apresente algum tipo de sistema de crenças
aproximação. Essa perspectiva intelectualista resgata religiosas. Nesse aspecto, a Antropologia da
a visão evolucionista a partir da premissa de que a Religião não se iguala à Ciência da Religião, visto
religião é fruto da mente humana e esta mente que para essa o fenômeno religioso não se limita aos
é, por sua vez, resultado de um longo processo aspectos sociais e culturais, havendo outras dimen-
evolutivo/adaptativo. O autor aponta que essa sões que devem ser consideradas para a realização
nova abordagem já produziu importantes estudos de uma compreensão global.
em diferentes disciplinas auxiliares da Ciência da Por seu lado, a Antropologia prescinde da Ciência
Religião. O próprio Pascal Boyer (2001) é citado da Religião, pois o estudo da religião constitui uma
pela sua hipótese das ideias contraintuitivas da reli- temática dentre várias outras, também importantes,
gião. A teoria dos rituais como sinalização custosa, como parentesco, troca ou estrutura social. Tal cons-
que procura explicar muitas das atitudes religiosas tatação não significa colocar uma hierarquia entre
aparentemente contraditórias, como o jejum e a as duas; ao contrário, é necessário perceber que a
abstinência, foi desenvolvida por Bulbulia e Sosis Antropologia auxilia a Ciência da Religião no que
(2011). Grande impacto teve a obra do antropólogo se refere à discussão dos aspectos simbólicos que
Roy Rappaport (1999), além da obra seminal de envolvem o fazer religião no interior das sociedades
Robert Bellah (2011) sobre a religião e a evolu- humanas. Tem por excelência o estudo de elementos
ção humana. Todas essas obras servirão, segundo básicos das religiões, como o ritual, a mitologia e
A. Geertz, para os próximos passos conjuntos da o sistema de crenças em geral.
Antropologia e da Ciência da Religião. Esse autor Em um primeiro momento, na Antropologia do
afirma que podemos avançar no conhecimento da século XIX, a questão que se colocava era compreen-
religião retomando os objetivos comuns do final der como aqueles outros povos, tidos por primitivos,
do século XIX, ou podemos permanecer presos a compreendiam o mundo. E eles compreendiam a
uma incompreensibilidade mútua, cada qual no seu partir de uma perspectiva mágico-religiosa, repleta de
recanto disciplinar como forma de evitar conflitos. crenças. A grande indagação era a de compreender
Essa introdução nos permite perceber os cami- a imensa diversidade humana apesar da unidade
nhos e descaminhos percorridos pela Antropologia biológica da espécie humana. Não se reconhecia na-
e sua irmã Ciência da Religião ao longo de um quelas crenças uma religião verdadeira. Religião,
século e meio. Os desafios estão ali colocados e afinal, seria somente as monoteístas, reveladas e
trata-se de perceber que as duas ciências têm muito denominadas religiões do livro. Dizia-se que os po-
a ganhar com esse diálogo. Vamos, agora, voltar vos tidos como primitivos eram detentores de uma
nosso olhar específico à Antropologia da Religião mentalidade primitiva, que enxergava feitiçarias e
propriamente dita. animismos em todos os cantos. Pensar o diferente
II. A Antropologia da Religião. Embora a reli- passava por pensar as diferentes mentalidades, fos-
gião esteja presente, enquanto tema central, desde sem essas tidas por animista, mágica, mítica ou até
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pré-lógica. Foi dessa maneira que a temática religiosa assim, a uma etapa mais evoluída que, por meio da
chegou aos estudos antropológicos. prece e do sacrifício em nome desses deuses, pro-
A religião teve lugar destacado nesse período. cura o caminho da salvação. Este seria o momento
Havia uma preocupação em pensar a espécie humana da religião para Frazer. Quando, enfim, percebe
em seu todo através de uma denominada “unidade os limites da religião, o ser humano volta para o
psíquica" Se o civilizado pensava cientificamente, e princípio da causalidade, mas dessa vez não mais de
ainda praticava religião, o então primitivo pensava maneira mágica, mas sim experimental e científica.
magicamente. Esse seria um estágio a ser superado Dessa forma, atinge o grau mais evoluído, ou seja, a
no rumo evolutivo. Enquanto uns pensavam ainda moderna ciência da civilização ocidental. Frazer exer-
de maneira animista ou mágica, outros já teriam ceu papel fundamental na legitimidade dos estudos
alcançado um estágio superior de desenvolvimento de religião. Sua influência não se limitou ao meio
e de compreensão da realidade, sabendo separar a acadêmico, mas teve forte impacto também entre os
ciência, voltada às coisas materiais, da religião, religiosos e na população em geral. Enfatizou a eru-
voltada à dimensão da relação com o criador e a ver- dição e o estudo comparativo de civilizações antigas
dade última. Edward Tylor (1832-1917) elaborou o e trouxe para um público mais amplo o gosto pela
conceito de “animismo’’ como um primeiro estágio busca das origens da religião. Sua grande obra, o
do processo evolutivo daquilo que viria a se tornar a livro O ramo de ouro (Frazer, 1982), e exemplo dessa
religião (Tylor, 1976). O ser primitivo não possuía imensa sabedoria, reunindo mitos dos mais diversos
a crença em deuses, mas atribuía os fenômenos em tomo de um eixo comum. Até hoje é considerado
naturais à intervenção de espíritos benevolentes ou um trabalho exemplar.
malévolos. O animismo seria, para ele, uma forma III. O olhar da Antropologia nos estudos das
de pensar num mundo em que tudo estaria povoa- religiões. Na passagem para o século XX, a visão
do por seres invisíveis que habitam os objetos, as evolucionista foi fortemente criticada. Nasceram
plantas, os animais e os homens. As experiências da correntes teóricas na Antropologia, de cunho
doença, da morte e, sobretudo, dos sonhos estariam eminentemente culturalistas. A religião passou a
nas origens da noção de alma. No pensamento ser, cada vez mais, um dos elementos culturais a ser
evolucionista de então, o animismo daria lugar ao estudado dentre vários outros. A Antropologia não
politeísmo e depois ao monoteísmo. A definição se coloca como a única ciência capaz de dar conta da
de religião de Tylor marcou a Antropologia e os religião, mas traz um olhar específico que contribui
estudos de religião por um bom tempo. Para Tylor, de maneira incisiva sobre as demais ciências, nota-
religião é a crença em seres sobrenaturais ou damente a Ciência da Religião. Trata-se do olhar
espiritualizados. Na Antropologia e também na So- relativizador. Diferentemente da postura evolucionis-
ciologia, principalmente com Durkheim (2000), ta, a nova maneira de pensar exige o contato direto
essa definição básica de religião foi muito criticada. com os povos estudados, através de uma imersão do
James George Frazer (1854-1941) foi outro dos antropólogo na cultura a ser estudada.
grandes iniciadores da Antropologia. Para ele, a O trabalho de campo, a busca do “ponto de vista
magia seria uma forma primitiva de ciência, mas do nativo” (Malinowski, 1978), o olhar relativizador
que fracassou pela sua precocidade. Esse fracasso e o distanciamento são elementos essenciais dessas
da magia em atingir os resultados materiais espe- novas visões. Para uma Antropologia que nào segue
rados acabava por levar o primitivo a desenvolver a mais os pressupostos evolucionistas preconizados
religião. Frazer estabelece uma sequência evolutiva pelos iniciadores, não existe uma religião mais
que vai da magia, passa pela religião e atinge o verdadeira que outra. Nesse sentido, é o olhar do
ápice na ciência moderna (Frazer, 1982). Ele per- antropólogo que permite peneirar nas redes de signi-
cebe a superstição como um desvio intelectual ficados das diferentes culturas e perceber os sentidos
que desvirtuava o pensamento lógico. Frazer vê no intrínsecos que cada sistema religioso possui.
feiticeiro alguém que acredita compreender as leis A negação da busca das origens da religião, ou
que regem o mundo e pode assim controlar os fenô- de sua essência, trouxe a ênfase nos particularismos,
menos da natureza. Da mesma forma que a ciência, nas negações das grandes comparações e também na
a magia também trabalha a partir da associação de busca das funções dos elementos culturais olhados
ideias, numa relação de causa e efeito. Para Frazer. numa totalidade circunscrita do grupo estudado.
a magia utiliza de maneira errônea o princípio de Esse olhar só poderia ser o das particularidades em-
associação de ideias e pode então ser considerada piíricas. Qualquer teorização mais geral só é possível
como uma falsa ciência. A magia seria a primeira a partir de infindáveis casos concretos Trata-se de
forma de pensamento humano O primitivo procu- um empirismo que rompe com qualquer perspectiva
ra controlar, por seus próprios meios, as forças da fenomenológica de busca de uma essência, supras-
natureza. Após perceber que não consegue utilizar social Olhar para as outras culturas, diferentes da
essas forças, abandona a magia para se dedicar a ocidental, força um olhar que nega uma universa-
adoração de seres divinizados e superiores. Passa, lidade do religioso identificada nos monoteísmos
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largamente conhecidos. Cada forma nova e diferente Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi um antropó-
de sistema religioso que a Antropologia foi desven- logo que, embora não tenha elegido a religião como
dando foi estabelecendo a certeza que não se poderia objeto central de sua obra, influenciou fortemente
mais pensar num sagrado para além das consti- a Antropologia da Religião. Esse autor desenvolveu
tuições históricas e nem mesmo para um continuum um extenso estudo sobre as mitologias e sobre o
entre formas primitivas e civilizadas de religião. A pensamento dito selvagem ou pensamento mágico
religião do outro ganhou reconhecimento e valor. (Lévi-Strauss, 1970). Para ele, a religião tem inte-
A magia, as feitiçarias em geral, os mitos e tudo o resse na medida em que espelha as estruturas incons-
que envolve qualquer sistema de crenças passaram cientes da mente humana. Estas sim é que serão sua
a ser vistos no valor que trazem em si mesmos. preocupação central. De certa maneira, Lévi-Strauss
Essa nova perspectiva está muito longe de uma retomou um viés intelectualista, pois estava em busca
Antropologia religiosa. Não existe preocupação com a das invariáveis universais de pensamento presentes
veracidade daquilo que é preconizado pelas religiões em toda a espécie. Para ele, o pensamento humano
ou por qualquer sistema de crenças. Em última trabalha e sempre trabalhou seguindo princípios
instância, isso significa dizer que não parte, como de uma estruturação binária inconsciente. Em seu
método de análise, do pressuposto da existência livro O pensamento selvagem (1970), defende que
de uma essência do sagrado ou de uma divindade. o selvagem elabora seu conhecimento a partir das
Essa é uma questão que não cabe aos antropólogos. mesmas regras que o civilizado. No entanto, en-
Para Evans-Pritchard (1986), o fato de o antropólo- quanto a ciência moderna ocidental se faz a partir
go ter ou não uma fé religiosa pouco importa, pois de abstrações, a ciência das sociedades tradicionais
não há preocupação com a verdade ou a falsidade ou do selvagem, como ele prefere chamar, se faz a
do pensamento religioso. As crenças religiosas são partir de classificações do mundo concreto. Não
fatos sociais. O mais importante são os significados haveria, portanto, uma distinção valorativa entre
por trás dos sistemas de crenças religiosas. Para a magia e a ciência. Mais para a maturidade de sua
Radcliffe-Brown (1973), a função social da religião carreira, Lévi-Strauss se dedicou a um amplo estudo
é independente da sua verdade ou falsidade. Todas as comparativo dos mitos, marcando fortemente esse
religiões, por mais excêntricas que possam parecer; campo de análise.
desempenham papéis importantes no mecanismo A maneira pela qual a Antropologia retratou
social. a religião trouxe implicações para a própria
O contato com o outro, com suas maneiras par- concepção sobre o ser humano. Ampliou a noção
ticulares de se comportar e crer, possibilitado pelo de humanidade e do reconhecimento de que as
imprescindível trabalho de campo, deslocou a preo- diferenças religiosas, tão caras uma vez que podem
cupação sobre as origens da religião para o campo separar povos e provocar conflitos bélicos, são frutos
das funções sociais. Nesse processo, abandonou-se das vivências sociais e de como os diferentes povos
a busca de uma teorização geral sobre a unidade constituíram, ao longo da história, suas trajetórias
psíquica humana e focou-se nos pormenores da vida e visões de mundo, A constatação antropológica da
religiosa de determinado povo. A grande contribui- não existência de povos ou culturas que prescindam
ção para os estudos de religião foi, sem dúvida, o da religião teve várias consequências. Essa univer-
reconhecimento de valor desses universos religiosos, salidade da religião, que para um crente religioso
que deixaram de ser vistos como vestígios de um pode ser atribuída à comprovação da existência do
passado para se tomarem atuais e alternativos aos sagrado, para a Antropologia trouxe mais indaga-
modelos então considerados únicos, como o mono- ções que certezas. Trata-se de uma natureza religiosa
teísmo cristão. Houve uma ampliação conceitual humana ou de uma origem religiosa da cultura e
sobre a religião. das sociedades humanas? Pode-se dizer que para a
Religião e magia deixaram de ser categorizadas Antropologia essa universalidade segue o princípio
como heranças de uma situação pré-lógica, ilógica preconizado por Émile Durkheim (2000), de que
ou irracional. Importante ressaltar aqui que, embora a religião é um constructo das sociedades, numa
tenham características distintas quanto à finalidade e evidente redução do religioso a um fato social.
ao modo de operação, religião e magia passaram Uma pequena vertente da Antropologia, apontada
a ser vistas pelos antropólogos como elementos de no início deste texto, volta-se hoje para a busca de
um mesmo sistema mais amplo de crenças. As duas elemento fundador da religião na própria mente
dimensões se interpenetram e são tratadas como um humana. De toda maneira, percebe-se que não há
todo. A própria separação entre religião e magia, nem nunca houve um consenso sobre a definição de
tão claramente definida por Durkheim (2000, p. religião e sobre os métodos de análise que pode-
12), deixou de ser tranquila, pois há vários sistemas riam ser empregados em seus estudos. Portanto, há
mágicos em tomo de comunidades de Igreja, assim aqui uma questão conceitual. Longe de demonstrar
como há muito de magia nas religiões fortemente fraqueza teórica, essa diversidade evidencia uma
institucionalizadas. riqueza e um eterno questionamento que fez com
mental de Lévi-Strauss, que não apenas delineou o
que essa ciência avançasse e renovasse a si mesma,
funcionamento da magia através da eficácia simbólica
em busca de uma melhor compreensão da religião
como trouxe enormes contribuições no campo das
e do ser humano em geral.
trocas simbólicas. Mary Douglas elaborou uma teoria
IV. Os temas centrais da Antropologia da Reli-
sobre a naturalidade dos símbolos, ao menos como
gião. A Antropologia da Religião, na longa trajetória
de sua existência, acabou por eleger alguns temas eles passam a ser manifestações previsíveis (1996).
como centrais de suas análises. Muitas propriedades Focada na dimensão do simbolismo da experiência
das religiões particulares que foram sendo estudadas corporal, Douglas enfatizou o ritual como sinónimo
ganharam um estatuto de objeto de estudo particu- de símbolo. O efeito do rito se liga â modificação da
lar e constituíram campos autônomos de análises. experiência. Experiências díspares ganham sentido
Dentre esses, podemos destacar o estudo dos mitos, quando vivenciadas num quadro de estruturas sim-
dos rituais, dos símbolos e dos sistemas de crenças. bólicas. Para ela, o ritual consiste essencialmente em
O estudo das crenças não se restringe necessa- uma forma de comunicação. Clifford Geertz (1978)
riamente ao campo da Antropologia da Religião. Po- elegeu os sistemas simbólicos de uma cultura como
de-se compreender que as crenças dizem respeito a centro de suas análises, como o religioso, o político,
um universo muito mais amplo, que vai além daquilo o científico e outros. A análise antropológica dos
que poderíamos chamar de “crenças religiosas” ou símbolos procura descobrir os sistemas de significado
“crenças sagradas". No entanto, em que pesem as subjacentes, num esforço interpretativo empreendido
críticas feitas à noção de crença, semelhantes às pelo pesquisador.
empreendidas ao conceito de “religião”, as cren- Para a Antropologia, a simbolização reflete a ma-
ças religiosas compõem um dos objetos verificáveis neira como os símbolos religiosos se constituem, se
da Antropologia da Religião. Como um fenômeno fixam e se transmitem na história e nas sociedades
mental, a crença foi considerada um objeto próprio humanas. Ela se diferencia de outras abordagens
da Psicologia, mas, se pensado em termos de sua sobre os símbolos, tanto as que possam vir da Psi-
materialidade, na encarnação em objetos específicos, canálise quanto as de uma concepção que parta
as crenças ganham contornos específicos e são tra- do princípio de que os símbolos têm um significado
tadas de maneira especial pela Antropologia. Nesse fixo, inerente a eles mesmos, em todas as religiões
aspecto, não há necessário vínculo com a categoria e culturas.
“fé”, esta sim de cunho religioso. As crenças, para Por fim, destacam-se ainda mito e ritual. Esses
a Antropologia, ganharam destaque à medida que dois elementos da religião constituíram campos
foram sendo estudadas em suas especificidades. Cada de dimensões abissais nos estudos antropológicos.
cultura possui, assim, um conjunto de elementos em Muitas vezes vistos como inseparáveis, pois um lida
que seus integrantes creem fazer parte do mundo e com o aspecto do imaginário e das mentalidades,
que termina por moldar os contornos da realidade enquanto o outro trata do universo das práticas, há
mais ampla. No estudo clássico sobre a magia do quem veja uma supremacia do ritual sobre o mito,
feiticeiro, Lévi-Strauss (1975) afirma que o apren- como Jack Goody (2012) ou Victor Tumer (1974).
diz de feiticeiro que ambicionava desmascarar Outros, como Lévi-Strauss, se preocuparam com
os truques realizados pelos xamãs tornou-se ele o estudo do mito, deixando o ritual praticamente
próprio um grande xamã, não pela sua convicção de lado.
particular, mas pela crença coletiva e confiança O rito é um elemento essencial da vida religiosa.
depositada pelo grupo. Da mesma forma, no estudo São tipos especiais de eventos mais formalizados e
sobre os Azande, Evans-Pritchard (1978) percebe estereotipados. Ritual é sempre comunicação. São
que os nativos têm plena consciência de que as formas que os próprios membros de um grupo
doenças podem ser tratadas com remédios, visto que encontram de dizer a eles mesmos quem eles são
possuem vasto conhecimento sobre ervas e plantas (Geertz, 1978), mas, mais que isso, é uma maneira
medicinais, mas é inconcebível não reconhecer que evidente de comunicação entre o mundo dos hu-
há obra de bruxaria ou feitiçaria em todos os casos em manos e o mundo dos deuses. O ritual tem o poder
que alguém fica acamado. Essas crenças compõem de instaurar uma condição social, reforçando os
a materialidade do mundo dos Azande. vínculos entre os indivíduos e estabelecendo os pa-
Talvez uma das mais fortes contribuições da péis sociais de cada um. É importante perceber que
Antropologia para o estudo da religião se dê no fato existe uma classe especial de rituais, estudada por
de ela ter dirigido especial atenção para a pesquisa Arnold Van Gennep (1978) e depois aprofundada por
de sistemas simbólicos (Hock, 2010). Considerar eminentes antropólogos, dentre eles Víctor Turner:
a cultura humana como fruto da capacidade de os ritos de passagem (Tumer, 1974). Trata-se de uma
simbolização é apenas ponto de partida. A grande ampla gama de rituais que marcam mudanças de
contribuição se dá porque compreende o universo estado, não apenas definitivas, como as passagens
simbólico como elemento fundamental das comuni- entre as fases da vida, mas também temporárias,
cações e dás trocas. Percebe-se então o papel funda- como as festas de inversão de papéis, que acabam,
65 ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

por fim, reforçando as posições sociais. Para Van muitos deles, penetrar nos universos cosmológicos
Gennep, os rituais possuem três fases principais: e nas visões de mundo de povos muito diferentes.
uma separação, um momento de transformação e, Dada a linguagem cifrada dos mitos, a sua análise
por fim, um de reintegração. Todas essas fases são nunca foi tarefa das mais tranquilas. Muitos dos
acompanhadas de outros rituais, tornando o uni- primeiros estudiosos de religião se utilizaram de
verso extremamente complexo. Turner, por sua vez, informações advindas dos levantamentos etnológicos
aprofundou suas análises no estado intermediário para empreender esforços na tentativa de construções
desses rituais, o do momento da transformação, de mitologias comparadas. Utilizados também
denominado de fase limiar. Para esse autor, o ritual por outras chaves de leitura, como a Psicanálise
tem o poder de renovar a sociedade, já que provoca ou a Filosofia, os estudos de mitos foram ganhando
uma abolição, mesmo que temporária, da estrutura consistência teórica no interior da Antropologia. O
social vigente e instaura uma antiestrutura em que mito passou a ser visto como um sistema de códi-
as posições sociais são rompidas. Trata-se de uma gos culturais da experiência ordinária dos povos
suspensão das hierarquias, das autoridades e das tradicionais, indiferente às aparentes contradições
ordens sociais, numa espécie particular de comuni- lógicas internas.
dade, a communitas. Após a fase de liminaridade, há Claude Lévi-Strauss buscou as propriedades
um retorno, quando a antiestrutura se refaz numa universais dos mitos, não aceitando a tese de que
nova estrutura. Embora os ritos de passagem não se eles seriam a projeção ideológica do ritual. Esse
restrinjam ao universo religioso, é nele que são vistos autor se abstém de qualquer juízo sobre a realidade
em sua plenitude. histórica ou veracidade dos mitos. Para ele (1975),
Vários outros tipos de rituais foram bastante o que interessa é a estrutura básica que está por trás
estudados pela Antropologia da Religião, como os de várias versões de um mesmo mito e que permite
rituais de sacrifício, as peregrinações e os cultos acessar o quadro de estruturas primordial do pen-
de modo geral. Um ritual pode ser entendido como samento humano.
uma chave heurística, através da qual podem ser V. A definição de religião. Assim como em vá-
acessados aspectos de uma sociedade que dificilmen- rios outros campos dos estudos de religião, também
te se manifestam em falas ou discursos. Por meio de entre os antropólogos não há uma definição única
rituais podem ser observados aspectos fundamentais do objeto central de estudo. O que se pode tirar de
de como uma sociedade vive, pensa a si mesma e se comum é que há um reconhecimento da valoriza-
transforma. ção de um empirismo como negação da busca de
De certa maneira os rituais encenam um ou vários uma essência para o religioso. Diferentemente das
mitos. Para muitos antropólogos, a relação entre ritual primeiras escolas, conforme tratado anteriormente,
e mito é direta. Os mitos são narrativas coletivas, as correntes antropológicas majoritárias do século
contadas a partir de um discurso metafórico, que XX e começo do século XXI privilegiaram o estudo
tratam das questões mais íntimas de uma sociedade. da religião enquanto portadora de uma função na
Em geral, costuma-se ver apenas as narrativas que sociedade, em detrimento das primeiras, que bus-
tratam das origens das coisas, de ordem material ou cavam uma perspectiva de se encontrar as raízes da
social, e que ligam o mundo dos humanos ao dos religião na forma de pensamento. Essas correntes
deuses e heróis míticos. No entanto, o mito é uma funcionalistas podem ser percebidas divididas entre
forma de linguagem muito mais ampla e presente aquelas que enfatizam os aspectos simbólicos, as
em todas as sociedades. Num primeiro momento, e que se preocupam principalmente com as práticas e
seguindo as posições positivistas, a Antropologia via aquelas que priorizam as estruturas sociais.
nos mitos uma expressão da irracionalidade dos povos A percepção da religião como algo universal in-
tradicionais. A partir da crítica que a Antropologia sere-se, assim, na escolha do conceito utilizado. Uma
empreendeu à visão evolucionista, os mitos começa- acepção clássica, e rígida, de religião, como aquela
ram a ser compreendidos como tendo relação com a utilizada nos primórdios da Antropologia, incorreria
estrutura social. Como fazem sentido para os povos na impossibilidade de reconhecer a existência da
que os vivenciam, os mitos são tidos como manifes- religião fora dos limites das sociedades ocidentais
tação de outra racionalidade, que tratam de verdades e mesmo dos monoteísmos. Aos outros povos cabe-
profundas do grupo. Longe de perceber o mito como riam apenas formas primitivas de se compreender a
uma fábula infantil ou um discurso ilusório, a Antro- realidade, como a magia. O reconhecimento de que a
pologia percebe a presença de mitos em praticamente palavra “religião” guarda fortes aspectos políticos e
todas as religiões. As histórias e narrativas sagradas ideológicos, por se tratar de uma concepção ocidental
são, em última instância, mitos. Estão longe do que colocada à força por sobre outros povos, levou alguns
poderia ser chamado de falsidade. Trata-se de profun- a uma rejeição pura e simples do conceito, embora
das expressões do imaginário humano. isso não resolvesse a questão. É preciso considerar
Os mitos estão entre os objetos mais apreciados o que se entende por religião antes de negar o
pelos antropólogos, visto que permitem, na visão de próprio conceito.
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO 66

Os antropólogos acabaram seguindo basicamente da religião, historiador e antropólogo holandês, reli-


duas grandes definições de religião (Obadia, 2011). gião (aqui entendida como religião no singular) é
A primeira delas pode ser representada pelo pensa- qualquer sistema simbólico que influencia as ações
mento de Tylor, e a outra, pelo de Durkheim. Para humanas pela oferta de formas ritualizadas de conta-
o primeiro, a ênfase do religioso, ou o que toma um to entre o mundo cotidiano e um quadro metaempí-
ato ou uma ideia religiosa, é o fato de reconhecer a rico mais geral de significados (Hanegraaff, 1999, p.
presença de seres espirituais ou sobrenaturais. Para 371). Essa religião, no singular, só serve enquanto
uma categoria analítica e deve ser desdobrada para
Durkheim, é a ideia de sagrado, em oposição à
podermos enxergar as formas que efetivamente se
de profano, que evidencia o religioso. Essas duas
manifestam socialmente. Nessa perspectiva, ele se
grandes acepções do religioso evidenciam a comple-
utiliza de duas subcategorias: a de religiões (no
xidade do fato e as dificuldades em se tentar reduzir
plural) e a de espiritualidades. A diferença entre
num único parâmetro algo tão abrangente. Embora essas subcategorias da classe geral e mais ampla de
Tylor tenha influenciado alguns antropólogos de lín- religião está no fato de que nas religiões o sistema
gua anglo-saxônica, é a posição de Durkheim que simbólico é representado por alguma instituição
vai estar mais presente nos estudos antropológicos, social. Assim, religião necessita inevitavelmente
no que tange à ideia de religião como construção de um grupo articulado em torno de um conjunto
social, com sua conotação de funcionalidade. mitos, com hierarquia e papéis definidos, e
Não há dúvidas de que essa concepção sofreu de uma doutrina que manifeste ou demonstre um
acréscimos e modificações até mesmo na ampliação conhecimento sistematizado. Ao mesmo tempo, essa
do conceito, abarcando a noção de representação definição permite englobar sistemas de crenças que
coletiva. Isso se deve não apenas a Durkheim, mas não tratam explicitamente de aspectos sobrenaturais,
principalmente a Marcel Mauss (2005). É desse de seres espirituais ou de distinção entre sagrado
último a definição de religião como conjunto de e profano.
crenças e ritos, discursos e atos; definição bastante Essa ampliação conceitual permite compreender
abrangente e inclusiva é que permite delinear os uma série de novas manifestações espiritualizadas
contornos de um sistema religioso ou outro sem da nossa sociedade, como a Nova Era, e que não
reduzi-lo a um lugar-comum. são englobadas pelos conceitos mais tradicionais
Afastando-se um pouco da perspectiva funcional, de religião. Tal discussão remete à questão do que
o norte-americano Clifford Geertz abriu uma nova é ou não é religioso. Uma vez que a Antropologia
via para compreensão antropológica da religião. não parte de um pressuposto da existência de uma
Em seu estudo dos anos 1960, estabeleceu uma manifestação de um sagrado, que responderia pela
definição de religião tida como clássica nos dias substância religiosa de um objeto, de um ato ou de
atuais. Religião, para ele, é um sistema de sím- uma ideia, é preciso procurar esses fundamentos
bolos, e a possibilidade de estudo se dá por uma em outros terrenos. A definição de Hanegraaff tem
via hermenêutica e semiótica (1978). Procura
esse atributo.
focar no que a religião representa para seus atores
Uma grande crítica ao conceito de Geertz foi
e como ela estabelece a nossa própria noção de
realidade. Sua noção pareceu bastante útil. Não fala preconizada por Talai Asad (1993), autor que afirma
de sobrenaturalidade ou divindade, muito menos não ser possível separar os símbolos religiosos da-
em sagrado, podendo ser, dependendo do que se queles que não o são. É preciso, no entender desse
busca compreender, bastante conveniente. Pode-se antropólogo, ir a fundo ao contexto histórico em que
perceber que ela serve tanto para religião como se constituíram e se autorizaram esses símbolos reli-
para as espiritualidades difusas. Geertz atribui o giosos. Para ele, Geertz não definiu, propriamente,
poder da religião ao fato de esse sistema simbólico como atuam os símbolos.
realizar a junção entre o éthos, a maneira de ser e Independentemente dessa crítica, Talal Asad parte
de sentir de um determinado grupo, com a visão de uma perspectiva que vem ganhando notoriedade
de mundo, a formulação da ordem geral das coisas nos estudos antropológicos, a de uma Antropologia
elaborada por esse mesmo grupo. A junção dessas pós-colonialista. Essa disciplina deixa de ser uma
duas dimensões tem o poder de formular uma ima- construção de um olhar do ocidental sobre os demais
gem geral da estrutura do mundo e um programa povos, mesmo que relativizada e antietnocêntrica. A
de conduta humana em que um e outro se reforçam voz, agora, não é mais a do colonizador, mas a dos
mutuamente. próprios “nativos”. A questão básica gira em torno
Alguns autores, como Hanegraaff (1999) amplia- da impossibilidade de uma tradução. Qualquer
ram o conceito de Geertz, falando da existência de costume ou ideia fora de contexto, traduzido, perde
um parâmetro amplo, singular, abstrato, mas que em poder explicativo e corre o risco de ser utilizado
se manifesta concretamente sempre de maneiras como forma de dominação por quem o traduz. A
diferenciadas, seja em religiões institucionalizadas, noção de religião se insere nesse contexto. Não é
seja em espiritualidades difusas. Para esse cientista possível haver uma definição universal de religião.
67
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

não apenas porque seus elementos constitutivos e e não necessariamente vistas como dentro de uma
suas relações são historicamente específicos, mas categoria, a religião. Há transmissão das tradições
porque essa definição é ela mesma um produto dos rituais, dos mitos que são contados a cada nova
histórico do processo discursivo (Asad, 1993, p. 29). geração, dos agentes especializados em lidar com o
Longe de haver qualquer possibilidade de mundo dos seres sobre-humanos etc. Contudo, não
consenso, a diversidade conceitual sobre religião há uma identificação de tudo isso com algo especial.
demonstra a própria diversidade metodológica da Isso é perceptível na grande maioria das sociedades
Antropologia. Nesse sentido, essa ciência tem contri- estudadas pela Antropologia, as sociedades indíge-
buído para a ampliação dos horizontes sobre o que nas. Não aparece o conceito religião para essas
é religião e como a dimensão da espiritualidade sociedades.
é compreendida pelos diferentes povos. Como numa Por fim, num terceiro domínio, surgem as insti-
via de mão dupla, a Antropologia elabora um esforço tuições que promovem, organizam e regulamentam
para compreender o universo religioso do outro, aquelas tradições do segundo domínio. Esse é um
mas as populações em geral também se utilizam fenômeno restrito às grandes sociedades, politica-
dessa produção intelectual para olharem para si mente organizadas com a formulação de estados
mesmas e se posicionarem diante das diferenças, e organização jurídica bastante complexa. Em tais
no eterno jogo das alteridades. Com o conceito de sociedades, corporações organizadas de especialistas
“religião” tem sido assim. Com a Antropologia a em rituais codificam, padronizam e marcam uma
sociedade aprendeu a olhar sempre de maneira mais versão específica, ortodoxa, das tradições aponta-
crítica para aquilo que tenderia a ser visto como das. Aparece um grupo de especialistas que tentam
algo absolutamente natural. A religião do outro ganhar influência política e excluir organizações
deixa de ser mera superstição e passa a ser vista rivais. Sendo especialistas exclusivos, eles geralmente
como uma maneira alternativa de compreender e promovem a ideia de que o que fornecem é único e
se situar no mundo. diferente de qualquer outro tipo de serviço. Utilizam
Mais recentemente, uma nova postura, já apon- um termo que os cientistas sociais podem facilmente
tada na introdução deste verbete, vem trazer uma identificar como “religião” para descrever esse
perspectiva mais simples e direta para esse dilema. domínio. É o caso das grandes religiões mundiais
Tal perspectiva retoma a visão intelectualista através (Boyer, 2013).
de uma Ciência Cognitiva da Religião, que reúne O ponto central apresentado pelo autor é de que a
conhecimentos vindos da Filosofia, da Psicologia, noção de religião enquanto um domínio específico
da Biologia, da Neurociência, da Linguística e da e especial é ideológica. É a criação das grandes e
Cibernética, num viés evolucionista neodarwiniano, religiosas alianças estabelecidas como corporações e
sem cair no etnocentrismo do século XIX. instituições. Para os membros de tais organizações, é
Boyer (2013), um dos expoentes dessa vertente, intuitivamente óbvio que um tipo especial de serviço
refere-se à discussão da existência ou não de algo que corresponde a um tipo especial de instituição. Tam-
se pode chamar de religião. Tudo depende, no en- bém é altamente desejável que outras pessoas estejam
tender desse autor, da maneira como a enxergamos. convencidas de que existe de fato um domínio tão
Gomo a economia, a religião é algo que se vê na especial, caso contrário a organização religiosa não
maioria das sociedades. Como um jogo esportivo, seria vista como tendo algo de especial para fornecer.
no entanto, só existe na medida em que apresenta, Essa definição parece ser bastante útil na me-
naquele dado contexto histórico, um conjunto explí- dida em que dá conta da polêmica existência ou
cito de conceitos e normas. Para resolver o problema, não existência da religião em todas as sociedades,
Boyer propõe que olhemos para a religião a partir aponta para o elemento comum das religiões (não
de três domínios distintos. Num primeiro domínio, no mundo externo, mas na própria mente humana),
percebemos que em todas as sociedades há crenças fala das transmissões das tradições religiosas e, prin-
e comportamentos sobre agentes imaginários. Os cipalmente, insere a noção política e ideológica que
seres humanos parecem dispostos a receber pen- tanto afeta as organizações religiosas no meio social.
samentos sobre agentes não fisicamente presentes. A Ciência Cognitiva da Religião é uma das ver-
Isso inclui seus pensamentos sobre pessoas ausentes tentes dos estudos de religião que tem apresentado
ou falecidas, mas também sobre heróis míticos, maior número de contribuições nos últimos anos. A
personagens de ficção e uma variedade de agentes Antropologia é apenas uma de suas componentes,
sobre-humanos com, geralmente, capacidades físicas mas traz um elemento desafiador para a compreen-
contraintuitivas. A criação espontânea de tais noções são das religiões. Afinal, partindo do pressuposto de
é universal nas mentes humanas, e provavelmente que a religião pode ser compreendida como uma
explicada em termos de disposições cognitivas ad- construção humana, entende que essa elaboração
vindas do processo evolutivo da espécie. se dá a todo momento e em todos os grupos huma-
Num segundo domínio, Boyer (2013) aponta para nos. Assim, essa naturalidade com que a religião
o aparecimento de diferentes tradições sobrepostas emerge não estaria nas formas culturais, mas na
ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO 68

própria constituição da espécie, específicamente nas Johns Hopkins Press, 1993; BELLAH, R. N. Religion in Human
elaborações cognitivas de nosso cérebro. As formas Evolution: From the Paleolithic to the Axial Age. Cambrid-
culturais dariam a roupagem diferenciada a um ge/London: Harvard University Press, 2011; BOWIE, F. The
mesmo elemento comum de todo Homo sapiens. A anthropology of religion: An introduction. Oxford: Blackwell
forma de elaboração de nosso sistema cognitivo só Publishing, 2006; BOYER, P. Explaining religious concepts.
poderia ser entendida à luz da percepção do longo Lévi-Strauss the brilliant and problematic ancestor. In: XY-
processo evolutivo sofrido por nossa espécie. Restam, GALATAS, D.; McCORKLE, L. (Eds.). Mental Culture, Classical
ainda, maiores esclarecimentos a esse respeito, como, Social Theory and the Cognitive Science of Religion. Durham,
por exemplo, perceber se a religião é apenas um
UK: Acumen, 2013. p. 164-175; BOYER, P. Religion explained:
subproduto dessa evolução ou se ela foi significativa
The evolutionary origins of religious thought. New York:
para a nossa sobrevivência.
Basic Books, 2001; BULBULIA, J.;SOSIS, R. Signalling Theory
♦ ♦♦ and the Evolution of Religious Cooperation. Religion, n.
41, v. 3, 2011, p. 363-388; DOUGLAS, M. Natural symbols:
Faz tempo que a Antropologia deixou de ser a Explorations in cosmology. London: Routledge, 1996; DUR-
ciência das chamadas “sociedades primitivas”. Hoje KHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo:
os antropólogos se preocupam com todo o tipo de Martins Fontes, 2000; EVANS-PRITCHARD, E. E. A religião e
sociedade, como é o caso das sociedades ocidentais os antropólogos. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, Iser,
pós-industrializadas. Crenças, símbolos, rituais e n. 13/1, mar. 1986; EVANS-PRITCHARD, E. E. Bruxaria, orá-
mitologias continuam sendo estudados não mais culos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar, 1978;
no sentido de encontro com o totalmente outro, di- FRAZER, J. G. O ramo de ouro. Rio de Janeiro: Zahar, 1982;
ferentemente desse ocidental, mas nó sentido do que
GERTZ, A. W. Long-lost Brothers: On the Co-histories and
item de religioso no seio de nossa própria sociedade.
Interactions Between the Comparative Science of Religion
Para a Antropologia, a nossa sociedade deixou de
and the Anthropology of Religion. Numen, n. 61, 2014, p.
ser vista como secularizada. Hoje, as mais diferentes
formas de religiosidade são objetos de estudo dos 255-280; GEERTZ, C. "A religião como sistema cultural" e
antropólogos. As sociedades mantêm e reinventam "Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da
antigas religiões ao mesmo tempo em que novas cultura". In: GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio
surgem a todo momento. Além daquelas religiões de Janeiro: Zahar, 1978; GOODY, J. O mito, o ritual e o oral.
com contornos institucionalizados mais claros, há Petrópolis: Vozes, 2012; HANEGRAAFF, W. Defining religion
uma infinidade de outras formas de expressões re- in spite of history. In: PLATVOET, J. G.; MOLENDIJK, A. The
ligiosas, denominadas por alguns estudiosos como pragmatics of defining religion. Leiden-Boston-Koln: Brill,
novas espiritualidades. A eles cabe perceber as 1999; HOCK, K. Introdução à ciência da religião. São Paulo:
características dessas novas vivências, bem como Loyola, 2010; LÉVI-STRAUSS, C. O feiticeiro e sua magia. In:
desvendar e compreender as lógicas subjacentes Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
internas. Religiões interiorizadas e cada vez mais 1975; LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo:
individualizadas parecem querer contradizer tudo
Cia. Ed. Nacional, 1970; MALINOWSKI, B. Os argonautas
o que se entendia por religião. É a sociedade com
do Pacífico ocidental. São Paulo: Abril, 1978. (Coleção Os
sua riqueza e imensa variabilidade que traz novos
Pensadores.); MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São
desafios para os estudiosos atuais.
Ao longo desse século e meio de ciência antro- Paulo: Cosac & Naify, 2005; OBADIA, L. Antropologia das
pológica, a religião ganhou não necessariamente religiões. Lisboa: Edições 70, 2011; OTTO, R. O sagrado: os
contornos mais definidos, mas visibilidade no seio aspectos irracionais da noção do divino e sua relação com
das sociedades humanas. Pela própria trajetória do o racional. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/EST/Vozes,
conceito pode-se perceber que se está muito longe 2007; RADCLIFFE-BROWN, A. R. Estrutura e função na so-
de obter uma posição definitiva, ressaltando que isso ciedade primitiva. Petrópolis: Vozes, 1973; RAPPAPORT, R. A.
não seria nada salutar. Mas, por outro lado, houve Ritual and Religion in the Making of Humanity. Cambridge:
muito avanço na compreensão dos mecanismos e Cambridge University Press, 1999; TERRIN, A. N. O sagrado
simbolismos que envolvem o universo religioso, au- off limits: a experiência religiosa e suas expressões. Petró-
mentando a amplitude e a profundidade nas análises. polis: Vozes, 1998; TURNER, V. O processo ritual: estrutura e
Todo esse avanço trouxe para a Ciência da Religião antiestrutura. Petrópolis: Vozes, 1974; TYLOR, E. B. Primitive
o elemento fundamental da constituição simbólica e culture: Researches into the development of mythology,
social da religião. Com ele se tomou possível um in- philosophy, religion, language, art and custom. New York:
cremento nos estudos sobre múltiplas manifestações Gordon Press, 1976; VAN GENNEP, A. Os ritos de passagem.
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Bibliografia: ASAD, T. Genealogies of religión. Discipline religion: What we know, think and question. Plymouth:
and reasons of power in Christianity and Islam. London: The Altamira Press, 2008.
SILAS GUERRIERO

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