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RELIGIÕES
Introdução
O lugar da religião passa a ser questionamento veementemente durante
a Idade Moderna, que se estende até o século XIX. Nesse período, acon-
teceram mudanças no tecido social: no campo das ciências, os conheci-
mentos foram segmentados e buscavam fiar-se tão somente na validade
científica do trabalho. No aspecto econômico, vemos a intensificação
da modernização do trabalho, dos avanços industriais e das demandas
políticas por melhores condições de vida por parte de movimentos sociais.
Nesse contexto, a religião enfrenta uma enorme combativa por parte
dos teóricos de diversas áreas. É, então, dada a tarefa aos estudos teoló-
gicos de conciliar a fé à ciência, à razão. Isso se estende até o século XX,
que, por um lado, intensifica os limites da ciência perante as religiões e,
por outro, dicotomiza ainda mais uma esfera da outra. Isso, inevitavel-
mente, reverbera também no estudo da teologia no Brasil quanto na
historiografia religiosa brasileira.
Neste capítulo, você verá quais foram os principais teóricos e movi-
mentos teológicos no século XIX. Além disso, conhecerá as bases teóri-
cas da teologia do século XX, bem como os seus desdobramentos em
distintas interpretações, e verá uma análise da historiografia da religião
brasileira, suas vertentes teóricas e suas principais dificuldades.
2 Historiografia da religião
Apesar de Hegel (1974) ter vivido no século XIX, sua teoria dialética fornece
as bases para a fundamentação teórica da religião. A teoria hegeliana apresenta
um sistema de compreensão do mundo que é dividido em três momentos: tese,
antítese e síntese. A tese consiste, nesse sentido, no pensamento. Ou seja,
quando o pensamento se dá, ele se dá sobre algo, sobre a realidade — em
termos hegelianos, a natureza — que configura a antítese, aquilo que nega
o pensamento; ou aquilo sobre o qual o pensamento tem que compreender,
argumentar. Dessa relação entre pensamento e natureza, homem e mundo,
surge uma compreensão, ou uma constatação que se configura como síntese:
dos, apesar de muitos terem vivido em situações análogas, pois seu trabalho
era remunerado. Muitos desses imigrantes eram de origem italiana e alemã
e acabaram por fundar distintas colônias de raízes católicas e protestantes.
No século XX, o país recebeu muitos imigrantes de origem oriental, que
também trouxeram consigo suas tradições culturais — destacam-se ,nesse
contexto, as religiões Seicho-No-Ie e budista (SOUZA, 1997). Nesse mesmo
século, ocorreram missões religiosas de vertente protestante que deram, mais
tarde, respaldo ao surgimento de ramificações como o pentecostalismo e o
neopentecostalismo.
Esses fenômenos e acontecimentos apresentam dificuldades para a aplicação
de uma historiografia das religiões no Brasil. Dada a multiplicidade cultural que
compõe a história do Brasil, podemos dizer que se trata de um lastro enorme
de temas a serem abordados e, também, há que se reconhecer as influências
de outras historiografias que participam do modo como escrevemos a história
de nosso país. Desde o final do século XX, as pesquisas têm se voltado para o
estudo das religiões por meio de agendas relacionadas a identitarismo, cultura
e resistência. Entretanto, a religião pensada em relação a si mesma carece de
pesquisas acadêmicas, tal como elucidam Refkalefsky e Patriota (2006, docu-
mento on-line): “[...] [a] temática sobre religião e religiosidade na comunicação
social ainda não recebeu da comunidade acadêmica brasileira — apesar de
importantes estudos pioneiros — a relevância necessária”.
Isso se deve, em grande parte, à influência positivista que os estudos
históricos têm sofrido desde a Proclamação da República (1889) (FREYRE,
2000). A exemplo disso, os cursos de teologia só passaram a ser reconhecidos
pelo Ministério da Educação e puderam formar bacharéis em 1999. Por outro
lado, a ciência da religião empreendeu poucas investigações acadêmicas e,
consequentemente, têm-se poucas produções nessa área do conhecimento.
Destacam-se, nesse sentido, os trabalhos em torno da questão positivista,
movimento protagonizado por Augusto Comte, que se fundamentava na
organização rigorosa do trabalho científico por meio da observação e da
compreensão. Ou seja, o pensamento positivista se baseava na pesquisa por
meio da ciência (FREYRE, 2000). A partir dessa matriz de pensamento,
constituia-se a crença indubitável na ciência e no racionalismo, de modo
que o desenrolar da história não podia ser outro senão o do esclarecimento
racional e científico. Isso levou a que vários teóricos pensassem as áreas do
conhecimento por um determinismo; por exemplo, após a modernidade, seria
inevitável que as religiões desaparecessem, pois as saídas argumentativas da
religião se esgotariam frente à explicação científica.
Historiografia da religião 11
Conclui-se que foi entre as décadas de 1970 e 2000 que essas correntes se
desenvolveram em distintas perspectivas nos estudos da religião no Brasil, o
que apresenta um paradoxo: ao mesmo tempo que, ao fim do século XX, tem-se
uma intensa influência de várias bases historiográficas no estudo da religião,
tem-se, também, a dificuldade de intensificar uma historiografia que abandone
essas bases metodológicas ou, ainda, que as ressignifique (FONSECA, 1995).
Atualmente, a historiografia abre espaço para debates em torno da religião
também voltada aos estudos de gênero, neo-historicismo e micro-história,
por exemplo, o que é de grande relevância, uma vez que o Brasil tem uma
formação cultural que relaciona distintos fenômenos religiosos.
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Historiografia da religião 13
Leitura recomendada
PIERUCCI, A. F. Secularização em Max Weber: da contemporanea serventia de vol-
tarmos a acessar aquele velho sentido. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 13, n.
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d=S0102-69091998000200003. Acesso em: 19 jul. 2020.
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