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● Frantz Fanon nasceu em 20

de julho de 1925 na Martinica;


● Estudou psiquiatria e filosofia
na França;
● Dirigiu o Departamento de
Psiquiatria do Hospital Blida-
Joinville na Argélia (hoje
renomeado como Hospital
Frantz Fanon);
● Tornou-se membro da Frente
de Libertação Nacional da
Argélia
Guimarães (2010) aponta o silenciamento científico em torno da
obra de Fanon, após uma muito rápida animação nos anos 1960,
vindas principalmente por Sartre se arrefeceu muito rapidamente,

Em 1968 foi lançada a primeira edição brasileira de Os


condenados da Terra, porém, rapidamente tirada de circulação
pelos órgãos da repressão da Ditadura Militar;

Pele Negra, Máscaras Brancas, seu primeiro livro, é escrito


quando o autor tinha 25 anos e publicado quando o autor tinha 27
anos;
A obra é escrita e submetida a arguição como tese de doutorado do
autor, porém é negada (o autor já não o previa?)
● Paulo Freire é
autor brasileiro
de maior
reconhecimento
influenciado
pelo pensamento
de Fanon, com
citações em sua
obra mais
célebre:
Pedagogia do
Oprimido (1967)
● Tornar-se Negro,
Neusa Santos
Souza (1983)
● O texto é permeado por:
● Análises psicanalíticas, análises clínicas, sócio
diagnósticos, de obras literárias e cinematográficas;
● Entre as fontes que o autor utiliza neste estudo
estão laudos clínicos psiquiátricos, pesquisas de
campo entre um público diverso das Antilhas e da
França (em grande parte estudantes e operários),
obras literárias, cinematográficas e anúncios
publicitários do mundo francófono;
Fanon, afirmou que pretendia tratar questões de tempo
presente, delimitadas no espaço em que transitara o mundo
francófono, porém, tratando-se de análises sobre fenômenos
sociais ocorridos em diferentes partes do planeta – as relações
assimétricas entre diferentes grupos humanos, marcadas
principalmente pela questão racial – o autor considerou que o
livro provavelmente contemplaria sociedades para além dos
limites coloniais franceses. (Rocha, 2015, p. 110)

Fanon fala enquanto Martinicano quem educado como francês,


se depara com a condição de Martinicano (não-francês) de
preto (não-branco e por conseguinte não-francês)
● Os adolescentes negros dominam a
representação de negro 16p.
● Infantilização da representação do negro;
A alienação do negro não é apenas uma
questão individual, e sim um fenômeno
socialmente construído, que opera como
importante mecanismo do colonialismo
Linguagem
Todo povo colonizado — isto é, todo povo no seio do qual
nasceu um complexo de inferioridade devido ao sepultamento
de sua originalidade cultural — toma posição diante da
linguagem da nação civilizadora, isto é, da cultura
metropolitana.
Um martinicano, chegando ao porto metropolitano do Havre,
entrou num café. Com absoluta segurança, proclamou:
“Garrrçon, uma gaafa de ceveja”.* Temos neste caso uma
verdadeira intoxicação. Preocupado em não corresponder à
imagem do preto-comedor-de-RR, tinha feito destes uma boa
provisão, mas não soube calcular a dosagem. 36p.
petit-nègre
“Os negros, eu os conheço; é preciso dirigir-se a eles
gentilmente, lhes falar de seu país; saber lhes falar com jeito,
é assim que se deve fazer”… 44p
Entretanto, pode-se argumentar que não há intenção nem
desejo de afligi-lo. Concordamos, mas é justamente esta
ausência de intenção, esta desenvoltura, esta descontração,
esta facilidade em enquadrá-lo, em aprisioná-lo, em primitivizá-
lo, que é humilhante. 45p.
Falar uma língua é assumir um mundo, uma
cultura.
Lembro-me, há pouco mais de um ano, em Lyon,
após uma conferência onde eu havia traçado um
paralelo entre a poesia negra e a poesia europeia,
de um amigo francês me dizendo calorosamente:
“No fundo você é um branco”. 50p.
Encontro um alemão ou um russo falando mal o francês.
Tento, através de gestos, dar-lhe as informações que ele pede, mas
não esqueço que ele possui uma língua própria, um país, e que talvez
seja advogado ou engenheiro na sua cultura. Em todo caso, ele é
estranho a meu grupo, e suas normas devem ser diferentes. No caso
do negro, nada é parecido. Ele não tem cultura, não tem civilização,
nem “um longo passado histórico”. Provavelmente aqui está a origem
dos esforços dos negros contemporâneos em provar ao mundo
branco, custe o que custar, a existência de uma civilização negra
“Sou negro, realizo uma fusão total
com o mundo, uma compreensão
simpática com a terra, uma perda do
meu eu no centro do cosmos: o
branco, por mais inteligente que seja,
não poderá compreender Armstrong
e os cânticos do Congo. Se sou
negro não é por causa de uma
maldição, mas porque, tendo
estendido minha pele, pude captar
todos os eflúvios cósmicos. Eu sou
verdadeiramente uma gota de sol sob
a terra...” 56p.
Dialética Eu-Outro
O Homem é movimento em direção ao mundo e ao seu semelhante. 53p.
Na maioria das discussões sobre racismo e colonialismo, há uma crítica da
alteridade, da possibilidade de tornar-se o Outro.
A luta contra o racismo anti-negro não é, portanto, contra ser o Outro. É
uma luta para entrar na dialética do Eu e do Outro. 16p.
Stendhal: “Sei lá, não sei mais de nada! Não quero mais saber de nada, ou
melhor, só sei de uma coisa, que o preto é um homem igual aos outros, um
homem como os outros, e que seu coração, que só parece simples aos
ignorantes, é tão complexo quanto o do mais complexo dos europeus.” 71p.
Não há no mundo um pobre
coitado linchado,
um pobre homem
torturado,
em quem eu não seja
assassinado e humilhado.
(Aimé Césaire, Et les chiens
se taisaient).
Apesar das diferentes formas em que se
manifesta, o racismo nas sociedades latinas é
tão perverso quando no mundo anglófono, pois
em todos os casos funcionará como
mecanismo de exclusão social dos negros.
Como pensar a formação psíquica
do negro
● Reconhece o mérito de Freud ao destacar o fator
ontogenético, contrariando a psicologia anterior, nos
adoecimentos psíquicos, mas também, o crítica quanto a
falta de elementos socigenéticos.
● Nem Freud, nem Adler, nem mesmo o cósmico Jung em
suas pesquisas pensaram nos negros.
Que observamos no caso do negro?
A não ser que utilizemos este dado
vertiginoso – tanto ele nos
desorienta – do inconsciente coletivo
de Jung, não se pode compreender
absolutamente nada. A cada dia os
dramas se sucedem nos países
colonizados. Como explicar, por
exemplo, que um jovem estudante
preto, chegando à Sorbonne com o
objetivo de se graduar em filosofia,
antes mesmo de entrar em contato
com qualquer organização
conflitante que o espera, assuma
uma atitude defensiva?

Filme Corra!, direção: Jordan Peele (2017)


● O autor faz suas explicações por meio de mitos, arquétipos que
se apresentam no imaginário e na formação social de brancos e
negros:
● A mulher preta que busca a ascensão social, econômica e
sobretudo humana na relação amorosa com o branco; que
busca salvar seus descendentes;
● O homem negro que busca ser visto como branco, reconhecido
como branco ao se relacionar com uma mulher branca;
A dialética do Eu e do Outro

Na maioria das discussões sobre racismo e colonialismo, há


uma crítica da alteridade, da possibilidade de tornar-se o Outro.
(Gordon, 2015, p. 16)
sobre as relações do negro antilhano no seio de sua família e
dele ao se deparar com o Francês-francês
(...) para o preto, há um mito a ser enfrentado. Um mito
solidamente enraizado. O preto o ignora enquanto sua
existência se desenvolve no meio dos seus; mas ao primeiro
olhar branco, ele sente o peso da melanina.
Como a ideologia que
ignorava a cor podia apoiar
o racismo que negava?
Com efeito, a exigência de
ser indiferente à cor
significava dar suporte a
uma cor específica: o
branco.
Racismo e colonialismo deveriam ser entendidos como modos
socialmente gerados de ver o mundo e viver nele. Isto significa,
por exemplo, que os negros são construídos como negros.

O jovem Anderson (Juan Paiva) foi enquadrado por um policial branco em Malhação
Carminha usou a palavra "macaco" para se referir a negros
Representações de cor e
representações de raça
● “O negro, o obscuro, as sombras,
as trevas, a noite, as
profundezas abissais, denegrir a
reputação de alguém; e do outro
lado: a mirada clara da
inocência, a pomba branca da
paz, a luz ofuscante,
paradisíaca”. A linguagem não
pode expurgar essas conotações,
que aparecem também na
religião: “O pecado é negro
como a virtude é branca”. 160p.
O inconsciente coletivo não depende de uma herança cerebral:
é a consequência do que eu chamaria de imposição cultural
irrefletida. Nada de surpreendente, pois que o antilhano,
submetido ao método do sonho em vigília, reviva as mesmas
fantasias de um europeu. É que o antilhano tem o mesmo
inconsciente coletivo do europeu.
Campanha do Governo do Paraná sobre racismo institucional
https://www.youtube.com/watch?v=JtLaI_jcoDQ
Negro-branco / subdesenvolvimento-
desenvolvimento
Mais diretamente, todo indivíduo deve rejeitar suas instâncias
inferiores, suas pulsões, jogando-as nas costas de um gênio mau
que será aquele da cultura à qual pertence (vimos que é o preto).
Esta culpa coletiva é carregada por aquele que se convencionou
chamar de bode expiatório. Ora, o bode expiatório, para a
sociedade branca – baseada em mitos: progresso, civilização,
liberalismo, educação, luz, refinamento – será precisamente a
força que se opõe à expansão, à vitória desses mitos. Essa força
brutal, opositora, é o preto que a fornece.
Monteiro Lobato menciona o
amigo em termos que hoje soam
assustadores:
“Renato (Kehl), tu és o pai da
eugenia no Brasil e a ti devia eu
dedicar meu Choque, grito de
guerra pró-eugenia. Vejo que errei
não te pondo lá no frontispício,
mas perdoai a este estropeado
amigo. Precisamos lançar,
vulgarizar estas ideias. A
humanidade precisa de uma coisa
só: póda. É como a vinha”.
“Há na Martinica duzentos brancos que se julgam superiores a
trezentos mil elementos de cor. Na África do Sul devem existir
dois milhões de brancos para aproximadamente treze milhões
de nativos, e nunca passou pela cabeça de nenhum nativo
sentir-se superior a nenhum branco.”
Após ter sido levado aos limites da autodestruição, o preto,
meticulosa ou tempestuosamente, vai saltar no “buraco negro”
de onde partirá “com tal vigor o grande grito negro que
estremecerá os assentamentos do mundo”
Sobre a Revolução:
● que uma revolução cultural deve ser também uma revolução
social que transforme todas as estruturas do sistema político
e econômico vigente, portanto, a luta dos negros deve estar
alinhada com a luta anticapitalista, e contra todas as formas
de opressão existentes Os Condenados da Terra. (1961)

● A luta contra a opressão no mundo colonial deve abranger a


totalidade das condições em que a opressão se manifesta,
considerando fatores psicológicos, contexto histórico e
social, sistema político e econômico. É preciso descolonizar
as nações, mas também os seres humanos .
Bibliografia
Guimarães, A,S,A. A recepção de Faonon no Brasil e a identidade negra.
Revista Novos . 2008.
Franz Fanon. Pele Negra, Máscaras Brancas. Ed. Edufba. 2008.
Fanon, F. (1968). Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro, RJ: Editora
Civilização Brasileira

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