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RELIGIOSO
AULA 2
Fenomenologia da religião
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O contexto de condenação e não enfrentamento às críticas
epistemológicas acaba por promover um estado psicológico de uma moderna
“caça às bruxas” aplicada aos pensadores.
A partir desse momento, surgem também os fundamentalismos católicos,
com base em uma distorcida compreensão de infalibilidade papal, e também os
protestantes, que absolutizam a inerrância bíblica.
Apesar de um crescente acúmulo do conhecimento empírico das Ciências
da Religião, após a Primeira Guerra Mundial, houve também uma crise cultural
europeia que se refletiria como uma crise da cristandade, com os respectivos
sistemas de crença em um crescente processo de racionalização, seja pela
disputa interna à própria cristandade, seja pela crítica do racionalismo
investigativo, ambos insuficientes para lidar com os sentimentos confusos,
oriundos do conflito bélico e da crise de unidade na Europa.
Uma alternativa à epistemologia da nascente Ciência da Religião nesse
momento era a Fenomenologia da Religião, que se baseava no pensamento
filosófico de Edmund Husserl (1859-1938) e reunia as críticas feitas às teologias
normativas tanto por parte de católicos, como é o caso de Franz Brentano (1838-
1917) e do idealismo alemão, quanto por parte da teologia liberal protestante.
O que Husserl realiza no interior do sistema cultural alemão em crise é
ajudar a compreender que o conhecimento é inseparável da interioridade
compreensiva do espírito.
A pesquisa fenomenológica fundamenta-se no modo próprio de viver e
não se define como algo abstrato e distante da vida, razão pela qual visa justificar
como somos feitos sem prescindir do rigor filosófico ou da filosofia como “ciência
do rigor”.
A Ideia de fenomenologia de Husserl faz uma observação direta da
experiência subjetiva, que interage com a consciência como padrão estrutural
cognitivo-emocional-sensorial de nosso próprio comportamento e do mundo
exterior tal qual se vê.
Desse modo, a fenomenologia descreve as “essências” do fenômeno,
como objeto que é dado à consciência desde aquilo que aparece e se manifesta
nas vivências, sendo estas imanentes à consciência.
A tentativa de correlacionar o conjunto de todas as notas que marcam
essas vivências constitui sua intencionalidade, ou a origem do itinerário entre a
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“intuição” provocada e o sentido percebido, ou o caminho contrário de como o
sentido das coisas pode ser encontrado no ser humano por meio das vivências.
Rudolf Otto (1869-1937) pretendeu seguir a mesma perspectiva com a
religião. Teólogo alemão e erudito das religiões, trabalhou com a ideia do
sagrado (Das Heilige) ou do numen (essência divina), que constitui o ser em sua
totalidade e está presente em todas as religiões como uma “força misteriosa”
que vem a ser conhecida nas vivências que estão implicadas na existência, nos
eventos ou nas ações.
Por meio da redução eidética – método da fenomenologia de Husserl que
visa encontrar as questões essenciais nas vivências da alma ou da interioridade
humana –, o cientista da religião deve desenvolver um sensus numinis que
permita encontrar a experiência do sagrado no seu mais íntimo.
Soma-se a isso o interesse de Otto pela chamada teoria do monoteísmo
primordial, uma novidade em meio às ideias evolucionistas que tendiam a ver o
monoteísmo como evolução do politeísmo.
Aplicando o método da fenomenologia, percorre-se o caminho do
fenômeno – o que aparece das religiões – até a essência destas, a experiência
religiosa ou a experiência do numen.
Tal método entendia que os objetos da Ciência da Religião era a religião
a ser analisada e o fenômeno, sendo este mais amplo e convergente em sua
estrutura com as demais religiões.
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Positivismo: ocorre um desenvolvimento sistemático da Fenomenologia
que se baseia em manifestações históricas dos fatos religiosos. Nomes
de destaque: Chantepie de la Saussaye, Hermann Usener, A. Dieterich,
W. Wund, Lévy-Bruhl, F. Heiler e R. Otto e M. Eliade.
1. Crenças religiosas
2. Afiliação religiosa ou identificação religiosa
3. Religião organizacional (espaços institucionais)
4. Religião não organizacional (religiosidade pessoal)
5. Religião subjetiva (como o sujeito religioso se percebe)
6. Compromisso religioso (envolvimento com uma religião)
7. Religiosidade como busca (auxílio na compreensão de situações limites
da vida)
8. Experiência religiosa (místicas e transcendência)
9. Bem-estar religioso (nível de satisfação com a vida)
10. Coping religioso como utilização de recursos cognitivos e
comportamentais da religião como caminho de resiliência.
11. Conhecimento religioso (conhecimento doutrinal de uma religião)
12. Consequências religiosas que incidem sobre comportamentos
decorrentes da religiosidade da pessoa
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as religiões como uma “força misteriosa” que se dá a conhecer nas vivências
implicadas na existência, nos eventos ou nas ações.
Tal abordagem, contudo, ia desencadear uma “briga de métodos”, por ser
a fenomenologia clássica acusada de “criptoteologia” e o pressuposto de que o
cristianismo teria algo de superior (surplus).
Após a revisão crítica da Fenomenologia da Religião, inicia-se um debate
metateórico da Ciência da Religião, na qual se privilegia uma abordagem mais
empírica, mais igualitária, dando maior atenção à história.
Hans-Jürgen Greschat entende que a Fenomenologia desenvolveu-se
como método de investigação das religiões que procura as “concordâncias
fenomenológicas”, dando atenção ao elemento essencial em detrimento dos
elementos históricos, contextuais e regionais, ao passo que
o cientista da religião, mais empírico, procurou “como algo religioso funciona”,
enfatizando exatamente o seu dado contextual, geográfico, histórico,
linguístico e cultural.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS