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tema 01 - PSICOLOGIA: EVOLUÇÃO HISTÓRICA, OBJETO DE ESTUDO, CONCEITO E

INTERFACE COM A EDUCAÇÃO.


conteúdo: evolução histórica do conhecimento sobre indivíduo/sujeito/pessoa, o objeto da
psicologia como ciência, conceitos fundadores e relação com a educação

- evolução
● A História da Psicologia, na perspectiva da cultura ocidental, pode ser vista como a
trajetória de caracterizar e definir o ser humano como fenômeno - especialmente em
termos de natureza e dinâmica interna;
● Essa evolução pode ser vista como esforço que converge na constituição da
psicologia científica moderna, a partir de meados do séc. XIX, com origem em ideias
desenvolvidas no ocidente a partir da Grécia Clássica (séc. V a.C.). O resultado
culmina em um conjunto de reflexões e instrumentos teóricos que consolidam a
“personalidade” e o “psicológico” como conceitos, dentre outros. Nessa perspectiva,
em alguma medida, a trajetória da Psicologia como ciência se relaciona com o
desenvolvimento histórico da própria Filosofia;
● Nessa linha, uma Medicina da Alma (ψυχή - psychí) foi erigida a partir dos trabalhos
de Platão, Demócrito, Aristóteles, Hipócrates, Cícero, Sêneca e Galeno, com
desdobramentos até o Renascimento. O núcleo desse campo de conhecimento
reside na ideia de cuidado com a alma, para equilíbrio e manutenção da saúde, de
maneira homóloga ao que se prescrevia para o cuidado com o corpo. Assim, o
desvio das funções era interpretado como doença. Portanto, o conceito de “doença
da alma” repousa numa tomada de consciência médica – por considerar a dimensão
da doença - e também uma consciência filosófica - já que o objeto (alma) acometido
pela moléstia depende de uma definição ontológica. Coroando essa “tradição
clássica”, a primeira vez que a palavra “Psicologia” apareceu publicada foi em uma
obra de 1590, escrita pelo filósofo alemão Rudolf Goclenius (1547-1628). No texto, o
autor a definiu como ciência da alma, da psique ou da mente;
● Em seu desenvolvimento mais recente, na contemporaneidade, a Psicologia no final
do século XIX se concentrava em estudar a mente e a consciência por meio do
método introspectivo - baseado em relatos biográficos e descrições de experiências.
O principal autor desse período é W. Wundt (1832 - 1920). A partir do século XX,
alicerçada na ideia de ciência do comportamento e no cognitivismo, a Psicologia
consolidou teorias e práticas (privilegiadamente experimentais) que fizeram avançar
o conhecimento sobre os processos mentais modulares da saúde física e mental.
Nesse sentido, configura-se na evolução histórica da Psicologia também uma
“tradição moderna”, permeada pela abordagem empírica. Constitui-se hoje como
campo do conhecimento com limites extensos, alta complexidade e profunda
heterogeneidade.

- objeto de estudo e conceitos


● De acordo com a tradição clássica, o objeto de estudo pode ser considerado como o
fenômeno “humano”. O desenvolvimento técnico e social da Grécia no V séc. a.C.
colocou as cidades-estado ao sul da península balcânica e do Peloponeso no centro
das principais rotas comerciais que ligavam três continentes. Essa centralidade
colaborou para que surgisse uma sociedade altamente cosmopolita e com
excedentes suficientes para o financiamento de “pensadores”. Além disso, o
desenvolvimento linguístico do período proporcionou um repertório de expressões e
conceitos que catalisaram as reflexões sobre a origem do homem, bem como suas
características essenciais e seu destino. Dentre essas características, as principais
escolas de pensamento da época definiam alma e espírito como sinônimos do
mundo interior. Essa tradição clássica encontrou ecos e desdobramentos no
medievalismo, no renascimento e mesmo no Iluminismo;
● Por outro lado, é relativamente consensual que a tradição moderna (científica) teve
início na Europa com as especulações metafísicas do filósofo e matemático alemão
Gustav Fechner (1801-1887), que desenvolveu o embrião da abordagem teórica e
conceitual identificada como psicofísica (Psychophysik). Essa abordagem define a
alma como extensão do corpo, em decorrência de relações funcionais. Em seguida,
o pioneiro a desenvolver a Psicologia em âmbito universitário foi Wilhelm Wundt, que
lançou as bases para uma Psicologia Experimental. Segundo o médico alemão, o
objeto dessa Psicologia é a estrutura dos processos psíquicos, que são os
conteúdos da experiência na perspectiva do sujeito (experiência imediata). O
pesquisador preconizou que o método científico se desenvolveria por meio de
experimento e observação criteriosa, com o objetivo de apresentar terminologia
rigorosa e registros quantitativos. Nesta vanguarda, cumpre também destacar a
contribuição norte-americana para a consolidação da ciência psicológica. Considera-
se que o primeiro livro de Psicologia publicado nos EUA foi lançado em 1827 por
Thomas Upham (1799-1872), como uma tentativa de articular os fundamentos do
protestantismo - dos quais se originou a nação - com o estudo da subjetividade
humana. A tradição norte-americana ganhou excepcional fôlego com os trabalhos de
William James (1842 - 1910). O autor defendia uma ciência dos processos mentais
(ou da vida mental) - que tem por objeto as sensações, desejos, cognições,
raciocínios e decisões;
● Em seu desenvolvimento ulterior, a Psicologia se ramificou a partir de linhas mestras
que podem ser assim elencadas:
psicanalítica: Reconhece que os traumas psíquicos produzem abalos emocionais que
podem gerar sintomas (resíduos), a partir do inconsciente (Freud, Adler, Jung);
behaviorista / comportamental: O comportamento se apresenta como o único objeto
passível de verificação e por isso constitui o cerne desta linha investigativa. Conceitos
fundamentais são ambiente, estímulo/resposta, reforço e controle/previsão (Watson,
Skinner);
Gestalt: Defende uma abordagem complexa (de design) para o mundo interior do ser
humano. Tomada como fenômeno, a mente tem origem nas percepções que concorrem na
criação do real, na vida de cada sujeito. ();
fenomenológica / existencialista: Constitui-se como corrente que explora a psique como
modalidade de ser, sem generalização excessiva. A condição humana, a consciência e a
transcendência são os conceitos fundamentais na abordagem. (Franz Brentano, Edmund
Husserl);
epistemologia genética: O principal tema do campo científico é a forma pela qual a cognição
humana se desenvolve. Os conceitos fundantes são sujeito do conhecimento, construção
do real, assimilação/acomodação, equilíbrio e estágios de desenvolvimento (Jean Piaget);
Histórico-Cultural: Caracterizada pela dialética envolvida nas relações de produção e
reprodução social, nas quais se desenvolvem os âmbitos individual e coletivo. Nessa
acepção, entram elementos conceituais derivados de natureza, cultura e história (Vygotsky);
cognitivista: mente como entidade, autogoverno e pensar/calcular ();
psicobiologista: ()
- interface com a educação
● na esteira dos avanços científicos decorrentes da Psicologia Moderna, a partir de
meados do séc. XIX, as Ciências da Educação paulatinamente passaram a ser
(re)vistas com destaque para as áreas em que a Psicologia se expandia, como:
aprendizado, desenvolvimento cognitivo e mente;
● importante ressaltar que, quando abordamos as relações entre Psicologia e
Educação, precisamos reconhecer a existência de pelo menos duas tradições
consolidadas atualmente: a Psicologia da Educação e a Psicologia Escolar e
Educacional;
● em uma primeira aproximação, a Psicologia da Educação se constitui a partir da
aplicação dos princípios psicológicos ao campo da educação. Essa aplicação,
segundo Coll, Palacios e Marchesi (1996), decorre de uma seleção de princípios e
explicações oriundas das linhas mestras - como a Psicologia do Desenvolvimento ou
a Psicologia da Motivação. Por outro lado, a Psicologia Escolar e Educacional
constitui-se com base na prescrição de atendimento psicológico dentro das escolas,
pela qual os profissionais da Psicologia podem contribuir no cotidiano da instituição -
tanto em atendimento clínico como consultor para pensar planejamento e execução
do processo ensino-aprendizagem;
● do ponto de vista acadêmico, a Psicologia da Educação já é uma disciplina
universitária que apresenta programas de pesquisa, objetivos e conteúdos próprios.
Desde a primeira década do século XX, autores defendem a importância da
Psicologia para o aperfeiçoamento do ensino. Por exemplo, Edward L. Thorndike
(1874-1949) já reconhecia o papel do aprendizado nos estudos psicológicos com
animais e prescrevia que para os humanos a Psicologia poderia contribuir com a
cientificidade do ensino. Outro autor, Édouard Claparède (1873-1940), foi um dos
pioneiros na Europa a desenvolver estudos sistemáticos sobre psicologia infantil e
pedagogia. Em geral, os avanços técnicos e teóricos desse momento histórico
derivam de três campos: pesquisas experimentais sobre aprendizagem, mensuração
das diferenças individuais e a Psicologia da Criança;

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