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escolar

Publicado em GESTÃO ESCOLAR 01 de Julho | 2015

Replanejamento

7 ações para examinar o trabalho


escolar
Aproveite o fim do bimestre para refletir sobre o desempenho dos alunos,
analisar as condições oferecidas e elaborar um plano de ação
Karina Padial

Foto: Getty Images

No começo do período letivo, diretor e coordenador pedagógico, junto com os professores, se reúnem
para fazer um balanço do ano anterior, atualizar o projeto político-pedagógico (PPP) e planejar os
meses seguintes. Eles reveem os conteúdos a ser trabalhados e as competências a ser desenvolvidas
em cada segmento, analisam as principais sequências didáticas e decidem quais projetos institucionais
serão mantidos, modificados ou iniciados. O tempo foi passando e, agora, mais um fim de bimestre
(ou trimestre) se apresenta como uma grande possibilidade da comunidade escolar avaliar, com base
em tudo o que foi previsto, como o processo de ensino tem acontecido.

Isso não significa apenas verificar quanto do livro didático cada turma conseguiu cumprir e decidir
quais alunos serão encaminhados para a recuperação paralela. “É hora de olhar para a produção dos
estudantes, os dados relacionados ao desempenho escolar, o trabalho desenvolvido pelo professor e
as condições oferecidas pela instituição”, alerta Dayse Gonçalves, coordenadora pedagógica da Escola
Carlitos, em São Paulo. E isso, segundo Elisabete Campos, pesquisadora do Observatório da Prática
Docente, da Universidade Católica de Santos (Unisantos), não acontece apenas com um conselho de
classe realizado em meia hora. “Planejamento é fundamental para que essas discussões, que devem
ser coletivas, aconteçam em tempo e espaço adequados”, observa. Confira a seguir, sete ações que
colaboram para tirar o melhor proveito dessa pausa avaliativa e traçar caminhos eficientes para os
próximos meses.
1. Analisar os indicadores de aprendizagem

Uma semana é um bom tempo para diretor e coordenador pedagógico trabalharem juntos no
levantamento de dados de aprendizagem – que inclui os índices de evasão, de aprovação e reprovação
e distorção idade-série – e na retomada das metas estipuladas para essa área. As avaliações externas e
internas podem servir de base para essa reflexão. Por meio delas, é possível identificar os conteúdos
em que a garotada apresenta mais dificuldade.
Os portfólios individuais, com produções e atividades desenvolvidas ao longo dos últimos meses,
também são instrumentos ricos em informação e permitem reconhecer o caminho percorrido por cada
um. Comparar esse material com a sondagem inicial e com os resultados obtidos no bimestre ou
trimestre anterior dá uma boa noção da evolução que as turmas e os estudantes tiveram. “Vale o
alerta para não cair na armadilha de confrontar as notas de um aluno com as de outro, isso não
contribui para identificar as necessidades dos que se saíram pior”, diz Neurilene Martins, colunista da
revista NOVA ESCOLA e professora de Pedagogia do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), em
Salvador. O mais importante é refletir sobre quais intervenções e projetos funcionaram e quais
precisam ser revistos.

Uma planilha com critérios divididos em área é o pontapé inicial do trabalho desenvolvido na EMEF
Alexsandro Nunes de Souza Gomes, em Canaã dos Carajás, a 709 quilômetros de Belém. Esse
documento é preenchido pelos professores e analisado pela coordenação pedagógica para
diagnosticar quantos estudantes atingiram o desempenho esperado, quantos não alcançaram e onde
estão as principais dificuldades. “A cada bimestre ele é atualizado, de modo a permitir o
acompanhamento do progresso conquistado por cada um e pela turma. E, no início do ano, ele é
preenchido junto com o docente da série anterior, favorecendo a troca de informações com quem já
conhece aqueles alunos”, explica a diretora, Luceni da Costa Ribeiro.

2. Observar as condições oferecidas pela escola

Para que o ensino e a aprendizagem ocorram de maneira adequada, alguns aspectos precisam ser
garantidos, como o cumprimento do calendário escolar. Você pode analisar esse item respondendo
uma série de questões sobre a realidade vivida por cada classe. Maura Barbosa, consultora de GESTÃO
ESCOLAR, sugere algumas delas: quantos dias letivos estavam previstos e quantos, de fato,
aconteceram? Quantas vezes os alunos foram dispensados mais cedo? Por quais motivos? Quantos
professores substitutos atuaram em cada classe? Qual foi o período da substituição? “Ao visualizar
essas respostas, a equipe gestora pôde descobrir que o 6º ano A teve o dobro de aulas de Matemática
que o 6º ano B e que isso pode ajudar a explicar um desempenho inferior dessa turma nas atividades
de cálculo”, afirma.

Avalie, também, a situação dos espaços escolares, todos eles considerados ambientes de
aprendizagem. Um banheiro em boas condições contribui para a segurança dos estudantes e os ensina
sobre higiene e conservação do patrimônio. Além desses aspectos ligados à manutenção predial, é
necessário estar atento ao uso que se faz desses lugares. Áreas como a biblioteca e a sala de
informática precisam contar com um cronograma organizado. Verifique, portanto, como e com que
frequência elas vêm sendo aproveitadas e estabeleça metas e ações para aprimorar essas atividades,
caso seja necessário.

3. Refletir sobre as estratégias didáticas

Ao longo do bimestre, a coordenação pedagógica produz uma série de materiais, como registros das
observações de sala, relatórios sobre os momentos de estudo e análise dos planos de aula dos
professores e dos cadernos dos alunos. Agora é o momento de rever tudo isso e construir um
panorama do que está acontecendo em cada turma.

É preciso saber se as sequências estão adequadas às necessidades da garotada, se há atividades


planejadas tanto para os estudantes que estão com dificuldade como para os mais avançados, de
forma a garantir que todos sigam progredindo, se os diferentes recursos pedagógicos estão sendo
bem utilizados e, em especial, se os horários de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) têm contribuído
para melhorar as práticas em sala de aula. “É o olhar combinado para tudo isso que dá ao coordenador
a possibilidade de identificar os pontos fortes e fracos de sua equipe e ajustar o planejamento das
ações formativas para os meses seguintes”, observa Dayse, da Escola Carlitos.

4. Olhar para o trabalho da equipe gestora


Nesse momento de analisar todas as dimensões da escola, é fundamental a gestão incluir no pacote
uma reflexão sobre suas próprias ações. Afinal, de que maneira suas práticas têm contribuído para
que os alunos atinjam os objetivos de aprendizagem? Segundo Ângela Dalben, doutora em Educação
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do livro Conselhos de Classe e Avaliação –
Perspectivas na Gestão Pedagógica (192 págs., Ed. Papirus, 19/3790-1300, edição esgotada), para
realizar essa reflexão vale considerar os diversos âmbitos de atuação. “Entre eles estão a relação com a
comunidade interna e externa, a formação em serviço, o acompanhamento do desempenho dos
alunos, a realização de reuniões com a equipe e o monitoramento dos projetos institucionais”, pontua.

Para colaborar com esse momento, é interessante elaborar previamente algumas perguntas avaliativas
que possam ser usadas ao final de cada período. Essas questões funcionam como métricas e ajudam a
sistematizar as ações e identificar lacunas. Com isso, tem-se a oportunidade de aprimorar o trabalho e,
ainda, comparar o que foi alcançado em um bimestre com outro e até em relação a anos anteriores.

5. Envolver os demais segmentos no processo avaliativo

A comunidade deve estar alinhada em relação ao que se espera alcançar em termos de aprendizagem.
Por isso, é preciso pensar em diferentes estratégias que permitam a todos identificar os avanços
alcançados. Para os docentes, vale organizar uma reunião para, com base em dados levantados
previamente, retomar tudo o que foi feito, compartilhar o andamento das situações didáticas e os
ajustes necessários e socializar as boas práticas.

Já os pais podem receber um questionário sobre o desenvolvimento da criança, a participação deles


nesse processo e as ações da escola. “Quantas vezes seu filho tem tarefa de casa?”, “Você acompanha
a realização dela?” e “Está satisfeito com a quantidade e a qualidade das lições?” são algumas das
perguntas que valem ser feitas aos responsáveis. “Ao estabelecer esse diálogo, consegue-se perceber,
por exemplo, uma família que tem mais dificuldade de colaborar e passa-se a buscar alternativas para
isso”, observa Elisabete Campos, da Unisantos. A pesquisadora, no entanto, faz a ressalva de que a
comunicação não pode se restringir ao preenchimento desse questionário. Ela precisa acontecer
também por outros meios e em outros momentos.

Na EE Professor José Félix, em Potim, a 173 quilômetros de São Paulo, que atende o Ensino Médio, a
direção divulga um resumo de todas as reuniões no blog da instituição e convida os alunos para
participar de momentos como o conselho de classe. Para que essa participação seja bem aproveitada,
os representantes dos estudantes e os docentes são orientados sobre a postura que devem adotar no
encontro, sem fazer críticas ou ofensas pessoais e respeitando a vez do outro de falar. “É uma forma
de ouvi-los e de compartilhar com os professores suas impressões em relação a questões pedagógicas
e de comportamento”, conta a diretora, Sheila Duarte.

6. Aprimorar o conselho de classe

De nada adianta realizar todo o levantamento indicado nos demais itens aqui relatados se o conselho
de classe se concentrar na apresentação de notas, problemas de comportamento e reclamações (leia
sobre como desenvolver um projeto institucional de conselhos de classe aqui). As informações
coletadas pela equipe gestora devem pautar esse encontro e colaborar para que ele seja, de fato,
concentrado nas dificuldades individuais dos alunos e não naquelas que são comuns à maioria da
classe. Assim, consegue-se identificar as causas do baixo desempenho de alguns estudantes e pensar
em intervenções que ajudem a resolvê-las.

Também com base nos dados, deve-se refletir sobre a progressão que cada um conseguiu alcançar, a
participação em sala de aula, os trabalhos realizados individual e coletivamente, a frequência e o
comportamento. “Da mesma maneira, é necessário olhar para as práticas pedagógicas desenvolvidas, a
articulação entre o plano de ensino e as atividades realizadas em sala e as ações paralelas de apoio
educacional”, diz Dayse, da Escola Carlitos.

7. Definir um plano de ação

Depois de identificadas as necessidades, é hora de sistematizá-las e elaborar ações adequadas para


cada situação. Projetos institucionais ou de formação podem ser planejados para resolver questões
que atinjam boa parte da comunidade, como o combate à indisciplina ou o incentivo à leitura.

Para dar conta das dificuldades individuais, vale estruturar o apoio pedagógico ou aprimorar as
estratégias já oferecidas pela escola. As possibilidades são muitas. Neurilene, da Unijorge, aponta três
caminhos que podem ser desenvolvidos paralelamente. O primeiro é um trabalho na sala de aula em
que o docente planeja diferentes tipos de atividades, abordagens e situações que ofereçam aos alunos
novas possibilidades de aprender, garantindo que todos avancem em seus conhecimentos. Isso
acontece, por exemplo, quando, em vez de um exercício no caderno, é proposto um jogo para ser
realizado por uma dupla em que cada aluno se encontra em nível diferente de aprendizagem. O
segundo prevê que durante o período letivo sejam organizados novos reagrupamentos temporários
entre estudantes de diferentes turmas ou séries de acordo com suas dificuldades. Nesse caso, os
docentes também são divididos conforme o conteúdo que mais dominam. O terceiro e último
estabelece um horário no contraturno para o atendimento individualizado. “O mais importante é
qualificar a ajuda. Não adianta ter esses espaços se a responsabilidade for transferida a um estagiário
sem preparo. Gestores, professores e pais devem estar mobilizados e atentos à execução e ao
cumprimento dessas ações”, finaliza Neurilene.

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