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https://novaescola.org.br/conteudo/7876/5-etapas-para-a-formacao-de-professores-
decolar
Encontros agendados semanalmente, equipe presente, as dúvidas dos professores sendo levadas às
reuniões. Parece que tudo está certo com a formação permanente na escola. Porém, no fim do ano,
um olhar atento para o desempenho dos alunos constata que eles estão com as mesmas necessidades
de ensino do início das aulas; e os professores, com as mesmas dúvidas sobre como ensinar
determinados conteúdos.
Não é difícil concluir: falta alguma coisa para que o horário de trabalho coletivo seja mais eficaz. Pode
ser que, mesmo com tempo e espaço reservados, falte um plano para a formação na escola. Sim, um
projeto elaborado e estruturado de modo a fazer com que os temas tratados obedeçam a uma
sequência lógica e as estratégias formativas levem à reflexão sobre a prática e ao aprofundamento do
conhecimento didático. Tudo planejado com consistência para que não seja apenas um treinamento
mas traga também mudanças efetivas na maneira de ensinar. "O trabalho do coordenador pedagógico
é garantir que as intenções educacionais sejam transformadas em práticas concretas que levem ao
aprendizado dos alunos. E, para que isso aconteça, é preciso ter um projeto de formação muito bem
elaborado", diz Dayse Gonçalves, formadora de professores e coordenadora pedagógica da Escola
Carlitos, em São Paulo.
1. Concepção
É o embasamento do projeto, que deve considerar as necessidades de aprendizagem dos alunos e dos
professores imprescindíveis para a escola atingir as metas do projeto político-pedagógico (PPP). Para
conceber o plano de formação, é preciso retomar as aspirações da comunidade e os objetivos por série
ou ciclos em cada disciplina. Se um deles for desenvolver espírito crítico e autonomia dos jovens, os
encontros formativos devem dar subsídios para o professor planejar a aula prevendo intervenções e a
participação dos estudantes. Se está estabelecido que no fim do 2º ano as crianças serão capazes de
escrever alfabeticamente, o foco dos encontros formativos dos professores das séries iniciais estará
nas didáticas de alfabetização. "Comparar as expectativas com os resultados alcançados permite ao
coordenador definir os rumos de seu trabalho", afirma Maria Josefa de Sousa Távora, coordenadora do
grupo de pesquisa Currículo e Tecnologia Educacional da Universidade Estadual do Pará (UEPA).
Durante a revisão do PPP da EMEI Antenor Honório Pizzol, em Venda Nova do Imigrante, a 120
quilômetros de Vitória, a coordenadora Rita Agostine constatou que o documento considerava a
importância das brincadeiras para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Porém, os
espaços e materiais utilizados não permitiam que essas intenções se concretizassem. No planejamento
da formação, ela incluiu leituras e discussões sobre conceitos da primeira infância e como a creche e a
pré-escola podem atuar nesse segmento. Nas três reuniões sobre o uso do espaço e dos materiais, os
próprios educadores sugeriram a reformulação completa do pátio da escola. Em um mês, o local
ganhou um acervo de brinquedos e objetos como panelas, barbantes, garrafas e cordas, que
possibilitaram a diversidade de propostas para experiências sensoriais, corporais e artísticas. As
paredes, antes vazias, receberam pinturas e demais produções das crianças.
O pátio vazio, sem cantos lúdicos e brinquedos, não lembrava em nada um espaço de lazer de uma
escola de Educação Infantil.
O piso quebrado e os tijolos espalhados representavam um perigo para a integridade física das
crianças.
O banco de areia estava abandonado e virou depósito de objetos que não eram mais utilizados.
Para mudar a situação, professores e pais se juntaram para dar uma repaginada no local, com novos
espaços e brinquedos que favorecessem o desenvolvimento da garotada.
O ambiente ficou mais colorido e ganhou novos elementos, como mesas, vasos, utensílios domésticos,
caixotes de madeira e prateleiras para guardar os objetos.
As crianças podem se expressar artisticamente por meio de desenhos e pinturas com diversos
materiais - lápis, giz de cera e tinta - na parede, que agora serve como uma imensa tela.
Até a árvore ganhou uma nova função. Ela abriga os "telefones", feitos de material reciclado, por meio
dos quais os pequenos podem se comunicar uns com os outros.
2. Diagnóstico
o acompanhamento dos planejamentos (semestral, planos de aula, relatórios das atividades) e das
avaliações, que revelam o conhecimento de cada professor sobre didática e como o utiliza na prática;
a análise das produções dos alunos (tarefas e cadernos), que indicam como eles interagem com a
maneira como o professor ensina e com o conteúdo. "Muitas vezes a atividade está bem planejada,
mas a turma não conseguiu entender o conteúdo e o seu significado", afirma Fátima Souza, professora
da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A
organização de pastas por série e disciplina, com a cópia dos registros, facilita essa consulta;
os resultados das avaliações internas e externas, que possibilitam identificar as dificuldades e os
avanços da garotada ao longo de um período.
Investigando a aprendizagem
Além disso, há um acompanhamento periódico das produções dos alunos com base nos assuntos
trabalhados nos encontros. Assim, fica mais fácil detectar os avanços e as dificuldades e dar devolutivas
que favoreçam a formação.
3. Estruturação
Em escolas com a segunda etapa do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, se exige maior cuidado
com a organização da rotina de formação, pois são necessários três momentos distintos:
por área de conhecimento - Humanas, Exatas e Biológicas -, semanal ou quinzenal, para abordar
as didáticas específicas. Pode ser feito pelo coordenador-geral quando não há coordenadores por
área;
por série, mensal, para discutir a evolução da aprendizagem das turmas; e
geral, mensal, com a participação de toda a equipe docente.
Um bom projeto prevê ainda planos formativos individuais, baseados nas necessidades de cada
docente, com reuniões para fazer a leitura crítica de projetos e sequências didáticas e sugerir leituras
específicas.
A organização da agenda de formação exige a distribuição dos conteúdos em uma sequência lógica e o
estabelecimento de um prazo para cada etapa ser cumprida, evitando o improviso e o desvio de foco.
Atenção, pois isso não significa intransigência. "Se surgir uma questão pertinente não prevista
inicialmente ou a necessidade de retomar conteúdos, é preciso ser flexível", afirma Dayse Gonçalves.
Depois, é hora de o coordenador prever os próprios estudos para se atualizar em relação aos
conhecimentos e buscar materiais que contribuam para a aprendizagem dos docentes. "Ao lidar com
professores especialistas, é provável que o formador aprenda sobre a didática específica ao mesmo
tempo que ensina o professor. A meta, no entanto, é ele conquistar uma assimetria nessa relação a fim
de oferecer mais ajuda aos docentes", declara Beatriz Gouveia.
Estudos segmentados
Na EM Bernardo Ferreira Guimarães, em Rio Piracicaba, a 142 quilômetros de Belo Horizonte, Elizara
Aparecida Mendes e Andréa da Silva, respectivamente diretora e coordenadora pedagógica, montam
um verdadeiro quebra-cabeça para planejar os encontros formativos dos professores do 6º ao 9º ano.
"Fazemos reuniões quinzenais individuais. Nelas, tratamos das demandas particulares que surgem das
análises dos registros e da observação de sala", afirma a diretora.
A equipe docente também participa de formações por área de conhecimento. Em 2013, três tardes por
semana eram reservadas para essa finalidade. Este ano, os encontros serão à noite. A ideia é tratar das
didáticas específicas e abordar temas que dizem respeito a toda a equipe, como indisciplina e história
quilombola - conteúdo imprescindível para conhecer melhor a realidade da comunidade.
4. Desenvolvimento
O desenvolvimento dessas ações exige do coordenador a organização de uma rotina própria, na qual
preveja, além dos momentos de estudos e planejamento das pautas dos encontros, o
acompanhamento das ações desenvolvidas pelos professores, a devolutiva da análise dos registros e as
entradas em sala de aula para observação.
Formação na prática
No início de cada semestre, a coordenadora Flávia Viana Pignataro, da EE Professora Noêmia Garcia
Ciciliato, em Florínea, a 482 quilômetros de São Paulo, prepara um cronograma com os temas que
serão tratados ao longo dos dois horários de trabalho coletivo que realiza por semana - um para Língua
Portuguesa, outro para Matemática. "Elaboro uma sequência que leva em consideração o percurso da
aprendizagem dos professores", conta Flávia, finalista da última edição do Prêmio Victor Civita
Educador Nota 10.
Ao longo de 2012, ela trabalhou leitura e produção de contos. "Achei importante aprofundar os tipos de
leitura - compartilhada, em voz alta e reconto - antes de iniciar a discussão sobre a escrita", afirma a
coordenadora. "Para isso, reservei as seis primeiras reuniões."
Ela apresentou bons modelos de atividade, inclusive alguns realizados pela própria equipe, pediu que
os professores lessem e produzissem um texto e, ao mesmo tempo, identificassem os
comportamentos leitores e escritores envolvidos. Na observação de classe, ela anotou os
procedimentos que não haviam sido bem incorporados à prática.
Flávia estabeleceu uma rotina semanal para analisar as atividades propostas escolhendo as que mais
se relacionavam com os conteúdos dos encontros. Assim, definiu as entradas em sala de aula para
fazer observação ou registros em foto e vídeo, que posteriormente iriam entrar em pauta.
5. Avaliação
Participação nos encontros, dúvidas levantadas e capacidade de estabelecer novas relações podem
constar de uma tabela com todos os nomes em que, ao longo da reunião, o coordenador faça
anotações.
A autoavaliação contribui: "Ela é eficaz quando o coordenador compara as impressões dos professores
com a produção de cada um", pontua Claudiene Dias da Silva, supervisora da Secretaria Municipal de
Educação de Ariquemes, a 203 quilômetros de Porto Velho.
A frequência e duração dos encontros, o prazo de entrega dos relatórios, a qualidade e a variedade dos
textos e vídeos apresentados e a organização do espaço são itens que podem ser avaliados em uma
conversa com o grupo ou colocados em uma ficha específica para ser preenchida por todos.
Monitoramento coletivo
Para dar conta das necessidades de todos os professores, a gestora aposta na avaliação contínua do
processo formativo. No ano passado, o trabalho coletivo priorizou o desenvolvimento de
procedimentos de escrita na produção de textos e na leitura. A análise das produções e dos cadernos
dos alunos foi uma constante. "Eu li o planejamento e o registro das atividades dos professores e dei a
devolutiva em encontros individuais", explica. Ela analisou também as reflexões que eles fizeram em
dupla, no fim de cada encontro, para identificar se o conteúdo foi bem apropriado ou se era preciso
retomá-lo. Além disso, Deborah instituiu a sondagem de hipótese de escrita como atividade
permanente para as turmas de alfabetização, possibilitando a avaliação dos alunos.
Para conhecer a percepção dos professores sobre o trabalho desenvolvido, pediu que todos
escrevessem um texto contando a maneira como os estudos contribuíram para a prática em sala de
aula, os impactos na aprendizagem dos alunos e sugestões para o planejamento seguinte.