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Pollyanna Melo
Nos últimos dois anos, as escolas precisaram reformular práticas e buscar novas estratégias pedagógicas diante do
cenário educacional que se estabeleceu com a pandemia de Covid-19. Ainda assim, os prejuízos eram esperados:
segundo relatório lançado pela Unesco, o Unicef e o World Bank Report, a crise que interrompeu os sistemas
educacionais e fechou escolas afetou mais de 1,6 bilhão de estudantes em todo o mundo.
No Brasil, na segunda metade de 2021, a retomada parcial do ensino presencial começou com um esquema misto de
atividades. Agora, coordenador, gestor, estudantes e professores voltam a se encontrar presencialmente, nessa rotina
próxima de um ano regular, mas que ainda prevê novidades. Diante disso, como estabelecer ações prioritárias? Uma
das novas terminologias e palavras-chave para conduzir esse retorno é a recomposição das aprendizagens. Trata-se da
retomada do aprendizado que não aconteceu por causa do atípico cenário pandêmico, com ações para melhorar a
qualidade do ensino remoto emergencial, combater a evasão escolar, aprimorar a modalidade mista, garantir um
retorno presencial seguro às escolas e cuidar do bem-estar emocional dos estudantes
Depois, com a pandemia já instalada, também se precisou mostrar aos professores que a tecnologia não é sua
substituta, mas uma ferramenta que pode potencializar o trabalho educacional.
Com foco nos Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental, o primeiro texto desta trilha começa justamente com a
discussão sobre o papel da equipe gestora no processo da recomposição. São profissionais quem apoiam o
desenvolvimento dos professores, principalmente em momentos de crise, e organiza a equipe para atuar de maneira
coletiva.
A escuta das conversas formadoras entre coordenadores e professores ajudam não apenas a delimitar iniciativas
pedagógicas, mas a estreitar as relações interpessoais e aumentar o companheirismo. “Muitas vezes, é na simplicidade
que as coisas acontecem, com um: ‘Oi, tudo bem? O que você precisa?’”, diz. Entre as propostas mais práticas de
formação continuada desses profissionais está o incentivo ao uso de tecnologias e da sala de informática e o apoio
àqueles que possuem mais dificuldade, com o objetivo de ajudá-los a mudar a didática em benefício do aprendizado. E
espera-se que isso reflita tanto no ensino dos objetos de conhecimento quanto nas avaliações
- Fortalecer as reuniões pedagógicas e incluir o tema da recomposição nas pautas de formação para serem debatidas;
- Tirar o foco dos estudos de textos teóricos e fomentar a exposição de situações práticas para serem analisadas a
partir de uma questão e discutidas junto aos professores com a mediação do coordenador;
- Estudar, pesquisar e escolher bons exemplos para levar aos professores e promover discussões a fim de adaptar
propostas à realidade do grupo;
- Criar rotinas de acompanhamento das aprendizagens de cada turma com base no que o professor registra sobre as
dificuldades e evoluções dos estudantes, com planilhas, por exemplo;
- Ter conversas individuais com os professores para propor atividades considerando priorização curricular e intervir nas
dificuldades;
- Estabelecer diálogos de confiança e sem julgamento, que possibilitem acompanhar aulas in loco, combinadas
previamente, com objetivo pedagógico; - Revisar a organização dos grupos e dos tempos escolares nas rotinas.
Gestão escolar: como reestruturar o aprendizado para focar no potencial do aluno
Uma verdadeira recomposição de aprendizagens precisa levar em conta as deficiências e as potencialidades de cada
estudante, que precisa ser observado individualmente – nada de pensarmos no aluno como “mais um tijolo no muro”! É
importante, ainda, contar com planejamentos mais personalizados, na medida do possível.
Tudo isso exige organização, um processo constante e sistemático de avaliações – com percursos individualizados –
replanejamentos periódicos, acompanhamento focal e elaboração de estratégias numa parceria entre equipe gestora,
docentes e famílias.
A figura central e cotidiana desse processo é o professor. É ele o responsável por diagnosticar lacunas e potencialidades
dos seus alunos, indicando o ponto de partida para as ações, bem como os possíveis caminhos para o sucesso na
recomposição de aprendizagens. Nesse contexto, cabe a nós gestores proporcionar as condições para que esse trabalho
ocorra.
- Documente os percursos dos alunos: esse processo, liderado pela coordenação pedagógica, é essencial para
apresentar, justificar e (em certos casos) até “segurar a pressão” por resultados mais imediatos por parte de
coordenadorias ou secretarias de Educação. Afinal, a recomposição é um processo que deve ser contínuo e gradual, e a
documentação ajuda a deixar isso devidamente registrado;
- Viabilize momentos de replanejamento e reflexão sobre as necessidades e potencialidades dos estudantes: nesse
ponto, a garantia de destinar um terço da carga horária de professor para o planejamento (prevista por lei) é vital. Desse
modo, cabe às equipes gestoras e à coordenação pedagógica elaborar estratégias de diversificação de atendimento aos
seus educadores, buscando um olhar cada vez mais individualizado aos alunos.
- Fomente espaços de formação e análise: é dessa forma que a equipe docente vai compreender a necessidade de
desenvolver uma Educação efetivamente integral. Com isto, centros de estudo e reuniões de planejamento na escola
podem e devem reafirmar a valorização de elementos socioemocionais e intersetoriais, e as reflexões devem abordar as
famílias também (até com apontamento e/ou encaminhamento a atendimentos clínicos, quando necessário);
- Mantenha o diálogo com as unidades escolares do território: com a perspectiva de percurso continuado, diante do
cenário pandêmico, vários dos nossos alunos mudaram de segmento em 2020 e 2021, levando na bagagem uma série
de dificuldades. Encaminhar avaliações e relatórios desses estudantes à nova escola facilita em semanas, ou meses, o
trabalho de recomposição de aprendizagem;
- Desenvolva momentos de atendimento focal para casos mais graves: o reforço escolar precisa ser o mais personalizado
possível, sempre pensando em diversificar as interações, de acordo com as potencialidades de cada um dos alunos.
Inclusive, no processo de reordenar a escola e as aprendizagens, nossa função é identificar, incentivar e explorar as
competências que os nossos estudantes já apresentam, respeitando e valorizando os seus saberes.
É importante entender que o espaço escolar é um local para a elaboração de ferramentas que vão auxiliar os nossos
alunos no exercício da cidadania – e não apenas um lugar limitado ao ato de instruir – perceberemos que a
recomposição de aprendizagem será mais natural, como um acerto de rota, mas sob uma nova estrada de oportunidades
e de inclusão para se trilhar.