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https://novaescola.org.br/conteudo/21242/formacao-continuada-apoie-a-equipe-
para-colocar-em-pratica-a-aprendizagem-baseada-em-projetos
Coordenação pedagógica
Como replicar uma prática sem nunca ter entrado em contato com ela? Isso até pode ser possível,
mas, provavelmente, o resultado não será o mesmo de quem já teve a experiência antes. Essa é a
ideia por trás dos encontros formativos que usam a homologia de processos, isto é, que oferecem aos
professores aquilo que devem levar para os alunos. Ter essa perspectiva em mente é importante para
quem está planejando uma formação sobre a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP).
Como as demais metodologias ativas, a ABP favorece o protagonismo dos estudantes e a construção
de aprendizagens significativas. “É um método que aproxima o aluno do aprendizado, da escola e do
professor”, afirma Patrícia Costa, coordenadora pedagógica na EM Walmir de Freitas Monteiro, em
Volta Redonda (RJ).
Para Lilian Bacich, diretora da Tríade Educacional, formadora de professores e organizadora de livros
na área de metodologias ativas, a ABP ganhou maior destaque no cenário atual, de enfrentamento
das defasagens deixadas pela pandemia. Isso porque o princípio da colaboração favorece a
aprendizagem entre pares, facilita o trabalho com grupos mais heterogêneos e otimiza o tempo do
professor em sala de aula – já que, enquanto ele está com um grupo, os demais estão desenvolvendo
as atividades.
As pautas das formações devem vir do dia a dia da sala de aula e das necessidades que a equipe
pedagógica observa no cotidiano. É assim que surgem os temas abordados nos encontros semanais
na EM Prof. Waldir Garcia, em Manaus (AM). “É professor formando professor, uma troca de
experiências”, conta Amanda Freitas, coordenadora pedagógica da instituição.
Além dessa parte prática, também há momentos de estudo coletivo e discussão de experiências de
outras escolas. “Não pode faltar a teoria acompanhada da prática”, destaca a gestora. A escola
também tem uma parceria com uma universidade do município. Mensalmente, um convidado dá uma
formação. “Procuramos um especialista para ter um momento diferente.”
Na Walmir de Freitas Monteiro, Patrícia observa que enviar os materiais para os professores lerem
previamente funciona bem. Dessa forma, no dia do encontro, podem focar em discutir e pensar como
aquela bibliografia se aplica à realidade e às necessidades deles.
Lilian recomenda que a coordenação construa esse processo com a equipe, ou seja, possibilite que os
professores vivenciem previamente aquilo que farão em sala de aula, em vez de a gestão apresentar
os detalhes da metodologia. “Da mesma forma que os professores fazem com os alunos, os
coordenadores devem oferecer todos os recursos para que eles sejam protagonistas”, resume
Amanda.
O trabalho da coordenação não termina após o encontro formativo. A gestão deve criar formas de
fazer o acompanhamento dos professores, coletar informações e ajustar o percurso conforme a
necessidade. “Esse processo deve ser construído coletivamente. Isso gera mais pertencimento [para
os educadores], não é algo que está sendo imposto”, ressalta Lilian.
É isso o que acontece na escola onde Patrícia trabalha. Os docentes contam como foi a semana e
repensam as ações a partir das demandas dos alunos. “Temos de ouvir os professores. No início, nós
orientamos; depois, eles nos trazem [as questões] para darmos um suporte”, diz a coordenadora.
No caso da Waldir Garcia, os educadores registram seus percursos em um diário de bordo. Esse
material é acompanhado pela coordenação. “[É preciso] Saber como estão em sala de aula, como
podem melhorar. Vamos mudando [o planejamento] conforme o processo”, comenta Amanda.
Assim como os alunos passam por uma avaliação, que deve ser contínua durante o projeto, o mesmo
deve ser feito com o professor: “Avaliar os pontos positivos e negativos, o que poderia ser melhor”,
exemplifica Patrícia.
Ao fazer esse acompanhamento contínuo, a gestão vê o tipo de suporte que deve oferecer à equipe
pedagógica. “A dica é escutar os professores e estar sempre observando para perceber o que é
possível melhorar, o que está impedindo o professor de crescer, como apoiá-lo e como organizar a
formação continuada”, completa a coordenadora.
Além da escuta e de momentos de troca durante os encontros, Fernando também propõe que os
coordenadores realizem observações de sala de aula. A partir do que foi visto na prática, o
coordenador faz um diagnóstico do que foi bom e do que pode ser melhorado. Um ponto importante,
para não criar um clima de vigilância, é apresentar previamente para o professor o que será
verificado e garantir uma devolutiva após a observação.
Os projetos ficam mais interessantes quando realizados de forma interdisciplinar. “Não é uma
imposição, mas temos de mostrar que assim é mais eficaz. Com o tempo, os mais resistentes
entendem que é melhor, que amplia o leque de possibilidades”, explica Patrícia. “Uma habilidade
de Linguagens pode ser desenvolvida junto com uma de Ciências da Natureza. Conseguimos
estabelecer mais conexões, uma abordagem interdisciplinar”, complementa Lilian.
Lá, essa parceria já está bem consolidada e acontece organicamente por iniciativa dos próprios
professores. Para estimular essa cultura, Amanda sugere começar desenvolvendo o senso de
equipe. “Sempre tem um que gosta mais de projetos, e esse professor consegue mobilizar os
colegas se tem apoio da gestão, de alguém para mediar.”