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fechamento-do-ano-conselho-de-classe
Publicado em NOVA ESCOLA 24 de Novembro | 2021

Planejamento

Conselho de classe: o que


fazer antes, durante e
depois da reunião
Educadores falam da importância de se preparar para este
momento, envolver a comunidade, planejar a recomposição
das aprendizagens e dar devolutiva para alunos e famílias
Victor Santos

Crédito: Getty Images


Entre as dinâmicas que fazem parte da rotina das escolas, uma das mais
marcantes, principalmente no fim do ano, é o conselho de classe. “É o momento
de analisar as possíveis variáveis que impactaram ou não na aprendizagem dos
alunos”, sintetiza Maura Barbosa, coordenadora pedagógica na Comunidade
Educativa CEDAC, em São Paulo (SP). Com isso, tira-se o desempenho do
estudante do foco – por exemplo, sem cravar que determinado aluno não
aprendeu – e direciona-se o olhar para as condições que a escola ofereceu para
esse processo de ensino e aprendizagem. Assim, o conselho envolve um
verdadeiro encadeamento de ações entre diretor, coordenador pedagógico e
professores, que devem atingir as famílias posteriormente.
Em relação ao funcionamento do conselho, Maura diz que tudo depende da
escola e das secretarias. Afinal, a instituição de ensino pertence a uma rede, que
tem seus procedimentos legais. O diretor preside o conselho e responde
pedagogicamente pela escola, dando prosseguimento a essas reuniões que
possuem, então, um respaldo da lei. A periodicidade pode variar, mas, no geral,
ocorrem quatro conselhos ao longo do ano letivo, ao final de cada bimestre.
Nas redes de alguns estados, a frequência é trimestral.
Embora esses encontros tenham uma periodicidade definida, a proximidade do
fim do ano acaba jogando luz no último deles. “É que o fechamento do período
letivo funciona como um balanço de tudo o que planejamos e fomos cuidando
em cada um dos conselhos, ações e acompanhamentos”, detalha a especialista.
“Então, nessa reunião vamos verificar questões como quantos foram aprovados,
quantos foram retidos, a distorção idade-série que nós temos e os alunos que
abandonaram a escola.”
Nesse contexto, os professores têm função crucial, já que o conselho vai
requerer um olhar cuidadoso para toda a turma e também para as variáveis
relacionadas a cada estudante em particular. “E quem está ali todos os dias,
conversando com os alunos, imerso na sala de aula, é o professor. Ele saberá
dizer o que está ocorrendo e apontar as melhores estratégias para o trabalho
com cada um”, reforça a coordenadora pedagógica.
Nessa perspectiva, a terceira reportagem do especial Como planejar o
fechamento do ano traz o que os educadores precisam fazer antes, durante e
depois dessas reuniões para que estas alcancem ao máximo os seus objetivos.
Como se organizar para o conselho de classe
Este Nova Escola Box é completamente focado na temática dos conselhos de
classe, momentos que têm como foco discutir os resultados do trabalho
docente ao longo do ano, o desempenho dos estudantes e estratégias para
melhorar o ensino na escola
leia o box

Como se preparar para a reunião


Com 26 anos de experiência em sala de aula, o professor Luiz Felipe Lins leciona
Matemática para o 9º ano na Escola Municipal Francis Hime, no Rio de Janeiro
(RJ), e atua também na rede privada. Ele foi eleito Educador do Ano de 2020 e
compartilha alguns pontos que considera essenciais nessa fase pré-conselho.
“Costumo ter um olhar para tudo o que o aluno faz em termos de produção,
busca e dedicação. Observo o resultado das avaliações, que não são apenas
provas. Temos projetos, jogos e trabalhos em dupla ou em grupo”, destaca o
professor. “A partir disso, procuro montar a minha própria planilha.”
Segundo Maura Barbosa, é papel da gestão escolar estimular que práticas
como essa sejam realizadas por todos os educadores nessa etapa de
preparação para o encontro. “Diretor e coordenador pedagógico devem
orientar os professores para irem munidos de dados – e ali no conselho, a partir
dessas informações, planejar ações e não ficar fazendo queixa atrás de queixa
ou discutindo coisas que já teriam de ter sido discutidas.”
No Centro de Ensino Professor Ezelberto Martins, em São Luís (MA), a
professora de Filosofia e apoio pedagógico Jullie Anne Kuntz Truss conta que é
grande a ênfase nessa questão de munir-se de dados. “Por aqui, o movimento
dos professores de aderir cada vez mais às tecnologias, trazido pela pandemia,
repercutiu na organização do próprio conselho”, relata. “Temos uma planilha
Google, que é alimentada pelos próprios professores, com uma aba para cada
turma, nomes dos alunos nas linhas e do componente curricular nas colunas,
com espaços para nota, desempenho e observações. Com isso, a gente chega
ao conselho com um bom caminho andado, porque a parte mais quantitativa
está consolidada, e o conselho fica com uma parte mais qualitativa.”
Avaliação e fechamento do ano no Ensino Fundamental 1
Este Nova Escola Box busca mostrar como duas professoras e escolas
encerraram o ano letivo passado, além de sugerir dicas de como definir
critérios de avaliação, organizar os registros dos alunos e fazer uma devolutiva
final aos pais e responsáveis.
confira mais aqui

Boas práticas durante o conselho


Existem algumas posturas e direcionamentos gerais que são indispensáveis
nesses encontros. “Conselho de classe não é para buscar culpados”, enfatiza
Maura Barbosa. “O foco é discutir a busca de soluções para questões que já
estão dadas”. Essa mesma perspectiva é reforçada pelo professor Luiz Felipe
Lins. “Apontar é fácil, mas o que a gente pode fazer para recuperar?”, reflete.
Assim, segundo Luiz Felipe, alguns pontos devem nortear a estrutura geral da
reunião. “Precisamos olhar para o grupo e depois para os alunos
individualmente. No caso da avaliação da turma, é importante refletir como ela
está se comportando, o quanto se desenvolveu e o quanto precisa avançar. Já
em relação aos estudantes, é preciso ver aqueles que estão apresentando
dificuldades e começar a pensar em estratégias diferenciadas”.
Abordar as dificuldades, conforme explica Jullie Truss, é delicado e, ao mesmo
tempo, essencial. “Temos de saber mapear tudo isso, porque não existe ‘caso
perdido’ em relação aos estudantes. Todos têm interesses, sonhos e desejos”,
afirma. “O conselho é justamente a hora de rever tudo o que realizamos e fazer
ajustes”.
Tamanha relevância e quantidade de tópicos a serem tratados exige dos
educadores algumas atitudes de ordem bem prática que facilitam o bom
andamento da reunião. “Na nossa escola, mantivemos a prática de fazer o
encontro on-line”, relata Jullie. “E além da planilha consolidada, temos uma
pauta que os professores recebem com antecedência. Fixamos também um
horário para começar e terminar, que geralmente não passa de duas horas.”
Especificamente sobre a condução do conselho, a educadora orienta: “É bom
termos consciência de que todos precisam de espaço para se pronunciar, então
é preciso evitar falas longas, principalmente se a reunião for remota, e reforçar
a importância de levantar a mão, muitas vezes até organizando uma fila para
falar”.
O professor Luiz Felipe elenca algumas práticas que considera interessantes
para abrir esses momentos. “Gosto quando o conselho começa com alguma
dinâmica, envolvendo um texto ou vídeo reflexivo. Outro aspecto que se
destaca é poder contar com falas dos alunos em algum momento, por exemplo,
quando um representante leva os anseios e as angústias da turma”.
Avaliação na Educação Básica – Como e por que fazer
Neste curso vamos discutir o papel importante da avaliação por meio de
situações reais vividas por professores, mergulhando na prática para entender
as intenções que direcionam as escolhas das estratégias avaliativas, do o que e
do como ensinar e os resultados da aprendizagem.
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Visão global do aluno e busca de alternativas


Assim, chega-se efetivamente à parte de olhar para as turmas e alunos. “É muito
importante que o diretor e o coordenador pedagógico tragam uma análise do
contexto, que perpassa muitas dimensões, desde a quantidade de professores
substitutos em uma turma, por exemplo, até o próprio uso dos materiais,
examinando como que os mapas e livros da escola estão sendo utilizados”,
exemplifica Maura. Na sequência, de acordo com ela, os professores vêm com o
olhar mais direcionado para as turmas e os estudantes, trazendo questões
como “tenho esses cinco alunos, cujas dificuldades são essas”. É daí que partem
as discussões e definições de quais pontos serão atacados, seguindo diretrizes
como “vamos então fazer um grupo de apoio”. Tudo isso, segundo ela, deve ser
registrado.
Luiz Felipe compartilha um pouco das suas vivências de como elaborar os
questionamentos devidos nessa hora. “É relevante, por exemplo, ter como
parâmetro as competências da BNCC e se perguntar se está conseguindo
alcançar os alunos. E, ao identificar um problema, a pergunta é: ‘o que eu posso
fazer, dentro das possibilidades e conhecimento que eu tenho?’”.
Esse olhar direcionado para os estudantes, continua o educador, vai muito além
de verificar notas baixas. “Aqui na rede municipal do Rio de Janeiro, primeiro a
gente discute o aluno como um todo – no chamado ‘conceito global’ – e depois
falamos do estudante em cada disciplina”, explica. “Com isso, inicialmente
refletimos sobre como esse aluno busca conhecimento, se ele tem autonomia,
quais as suas dificuldades e se ele sabe trabalhar em equipe. Por aqui, o olhar
por disciplina dá um norte, mas o que tem maior peso é mesmo essa questão
global.”
Na escola em que atua em São Luís (MA), Jullie ressalta que a avaliação do
conselho também inclui bem mais elementos do que pontuações em provas e
simulados. “Nós avaliamos o engajamento desvinculado da nota – e para isso
lançamos mão de questionamentos do tipo ‘como ele é na sala? Ajuda os
colegas? Está ali presente? O que ele pode mostrar além disso?’ Não existe ‘caso
perdido’, e é desejável que os professores tenham critérios muito bem definidos
e claros, visando esse olhar mais integral para o desenvolvimento dos alunos.”
Em relação ao encaminhamento para o final da reunião, Jullie salienta que, além
do registro, é válido fazer algumas indagações finais para bater o martelo. “É
legal perguntar se todos estão de acordo ou se alguém tem algum outro ponto
a trazer’ – e assim conseguimos fechar os combinados.”
Depois do encontro: plano de ação
Como os próprios educadores consultados reforçaram, registrar tudo o que
ocorre no conselho é mandatório, pelo próprio caráter legal que a reunião
possui e pela necessidade de deixar esses documentos no histórico da escola.
No entanto, depois do conselho, há ainda muito trabalho a ser feito [mais
detalhes aqui], e por isso é importante ir além da mera documentação.
“Muitas vezes fazemos uma ata da reunião, porém mais relevante do que isso é
sair do conselho de classe com um plano de ação”, enfatiza Maura. “Ele deve
envolver todos, elencando as questões discutidas ao longo do encontro, quais
delas serão atacadas e o que será feito em seguida”.
Nessa linha, exemplifica a coordenadora, um dos desdobramentos pode ser
usar um dos HTPCs [ horários de trabalho pedagógico coletivo] mensais para
pensar em atividades diversificadas para os alunos com dificuldades. Segundo
ela, o foco é sair do conselho com uma ação já planejada e o que cabe aos pais
nisso.
O professor Luiz Felipe conta que depois do conselho entrega-se o boletim e
realizam-se atendimentos individualizados com familiares e, quando
necessário, passa-se um dia inteiro conversando com os responsáveis. De
acordo com Luiz Felipe, a partir do relatório consolidado pela equipe depois da
reunião, englobando tanto aspectos atitudinais quanto relacionados às
disciplinas, é possível montar um planejamento individualizado de
recomposição de aprendizagens.
A complexidade do que precisa ser feito antes, durante e depois desses
momentos é grande, mas, como resume Maura, trata-se de uma iniciativa com
muito potencial de impacto no contexto escolar e social. “De fato, conselho de
classe não é algo simples, justamente por ser um processo de olhar para a vida
do outro”, reconhece. “Mas é um dia de busca por soluções. O professor precisa
sair animado e com boas expectativas desses encontros, porque afinal ele não
está sozinho: professores, coordenador e diretor estão juntos nessa, e a escola
vai ter um projeto para ajudar esses alunos.”
Pós-conselho de classe: a importância do suporte ao professor
Educadores destacam a necessidade de apoio aos docentes depois das
constatações e deliberações das reuniões
“A prioridade do professor é conseguir fazer o planejamento e estar na escola
dando sua aula – e a gestão escolar está ali para apoiá-lo nesse sentido”, diz a
professora Jullie Truss. Essa questão do suporte à equipe é igualmente
ressaltada pela coordenadora pedagógica Maura Barbosa.
Nessa perspectiva, segundo a especialista, o momento do conselho também é
formativo, porque envolve uma análise da prática, das produções e das
intervenções dos professores. “Mas não é só chegar na reunião do final de ano
e falar ‘você não planejou direito’. A atenção ao professor deve ocorrer desde o
começo do ano, em cada conselho, com a gestão apoiando o educador de
forma que ele consiga pôr uma lupa cada vez mais refinada sobre a sua turma”,
afirma Maura.
Além disso, em muitos momentos, o conselho de classe sinaliza questões que
saem do espectro pedagógico, o que também exige auxílio aos docentes. “Não
dá para ficar tudo nas costas do professor. Quando abordamos algo clínico,
podemos até sinalizar, mas quem pode dar ao estudante e sua família um
diagnóstico é um profissional de saúde”, aponta o professor Luiz Felipe.
Maura também vê o pós-conselho por essa perspectiva. “O professor tem feito
muito, mas precisa de muita ajuda, porque ele vai direcionar seu foco para o
ensino e a aprendizagem. Mas quando olhamos para o contexto desses
estudantes, estamos diante de muitas dimensões e de pontos a serem sanados,
que só serão alinhados por meio de parcerias, como as feitas com órgãos de
saúde e cultura”, conclui.
Este conteúdo faz parte de uma série especial sobre como planejar o
fechamento do ano. Confira as demais reportagens aqui.

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