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METODOLOGIAS PARA

APRENDIZAGEM ATIVA

Pablo Rodrigo Bes


Storyboard/storytelling
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever o potencial das estratégias de aprendizagem ativa pautadas


em narrativas de problemas reais.
„„ Identificar o potencial das estratégias de aprendizagem ativa de story-
board e storytelling.
„„ Listar os diferentes modos de aplicação das estratégias storyboard e
storytelling nos contextos de aprendizagem.

Introdução
O uso da produção de narrativas é uma estratégia de aprendizagem
muito valiosa para que os alunos possam desenvolver suas capacidades
de descrição, organização e planejamento de ideias sobre um tema
proposto ou em direção à solução de um problema. No cenário contem-
porâneo, os professores podem utilizar recursos digitais para que seus
alunos produzam algumas destas estratégias ativas de aprendizagem que
envolvem as narrativas, como o storyboard e o storytelling, que ajudam
a organizar, estruturar as histórias e criá-las/contá-las, respectivamente,
de forma criativa e inovadora.
Neste capítulo, você aprenderá sobre os benefícios do uso de narra-
tivas para o desenvolvimento da aprendizagem. Além disso, você
aprenderá sobre as estratégias de storyboard e storytelling,
conhecendo suas características, potencialidades e formas de
aplicação.
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Potencial das narrativas


O uso de narrativas na convivência em sociedade faz parte da história da
humanidade, tendo nos acompanhado no decorrer de nossa própria evolução
e do aprimoramento de nossa cultura. Mesmo países ou continentes, que
inicialmente não aderiram ao surgimento da escrita e seus registros, como o
continente africano, por exemplo, mantiveram suas tradições e perpetuaram
sua cultura a partir do trabalho de hábeis contadores de história, que tinham
como função transmitir para as gerações por vir os ensinamentos, as tradições,
as vivências e as experiências exitosas ou mal sucedidas de seus antecessores.
As narrativas também foram utilizadas com conotação moral pelas fábulas e
pelos contos de fada, contribuindo para a formação de subjetividades desde
a infância, impondo modelos de papéis sociais abordados nas histórias. As
narrativas ainda podem ser utilizadas como recurso metodológico de pesquisas,
como as narrativas de si mesmo, nas quais aquele que narra normalmente
revisita suas memórias, selecionando e reescrevendo a própria história. As
narrativas têm tanto potencial externo quanto interno, pois afetam os sujeitos
que às leem, observam, e proporcionam que, internamente, por suas escritas
e imagens, seu criador também se modifique.
Trazendo a discussão para o cenário contemporâneo, podemos considerar
que a possibilidade de uso das narrativas se ampliou muito, acompanhando
as tendências dos avanços na área da comunicação. Para Kenski (2008,
p. 662), “a comunicação e a educação vivem momentos de efervescência”. Este
é o ponto inicial deste capítulo: de que forma a comunicação, com o uso de
tecnologias digitais de comunicação e informação (TDCIs), proporcionou que
o professor e os alunos pudessem experienciar novas maneiras de utilização e
construção de narrativas como recurso didático para uma aprendizagem ativa.
Ou seja, iremos abordar maneiras de entender como podemos utilizar essa
potência para modificar nossas práticas docentes, colocando o aluno como
protagonista, idealizador, planejador e criador de suas próprias narrativas.
No entanto, precisamos perceber que, ao propormos uma educação híbrida,
que utilize os recursos on-line e todas as possibilidades que as TDICs oferecem
atualmente, por muitas vezes podemos ser uma exceção dentro das escolas em
que desenvolvemos nossa docência. Conforme destaca Valente (2014, p. 142),
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Infelizmente as mudanças observadas no campo da comunicação não têm a


mesma magnitude e impacto com relação à educação. Esta ainda não incor-
porou e não se apropriou dos recursos oferecidos pelas TDICs. Na sua grande
maioria, as salas de aulas ainda têm a mesma estrutura e utilizam os mesmos
métodos usados na educação do século XIX: as atividades curriculares ainda
são baseadas no lápis e no papel, e o professor ainda ocupa a posição de pro-
tagonista principal, detentor e transmissor da informação.

As metodologias para aprendizagem ativa seguem na tendência


oposta da citada pelo autor, uma vez que colocam o aluno como
protagonista no processo de ensino e aprendizagem e transferem o foco para
As
a aprendizagem significativa, possibilitando-lhe escolhas bem como formas metodologias
ativas e o
de participação e envolvimento prático nas ações cotidianas da sala de aula e ensino
dos períodos de estudo on-line, inclusive quando falamos de educação contemporâneo.

híbrida. Dentro deste contexto surgem estratégias de aprendizagem ativa que


utilizam tecnologias digitais para oferecer suporte para a construção de
narrativas pelos alunos. Essas narrativas podem associar textos, contando
histórias que se desenro-lam junto ao decorrer do processo e o aumento de
sua complexidade, assim como incluir imagens e fotografias, procurando
criar uma linguagem mais acessível e de fácil entendimento sobre os
assuntos abordados. São exemplos dessas propostas de construção de
narrativas digitais pelos alunos (e pelos professores) o storyboard e o
storytelling, que conheceremos detalhadamente no próximo tópico.
Podemos afirmar que a criação de narrativas como parte das estratégias de
aprendizagem ativa é valiosa, pois permite que os alunos tenham benefícios em:

„„ cognição;
„„ memória;
„„ sentimentos;
„„ criatividade;
„„ percepção;
„„ seleção e organização;
„„ planejamento;
„„ comunicação;
„„ descrição;
„„ reflexão;
„„ crítica;
„„ autoavaliação.
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Ao construir suas narrativas, os alunos acionam seus conhecimentos prévios


e se tornam receptivos para as novas descobertas cognitivas propostas pelos
professores. Assim, se valem tanto de suas memórias quanto da criatividade
e da percepção sobre os temas ou situações propostos em que deverão atuar.
Muitas vezes, os alunos terão que planejar sua escrita a partir da seleção e
da organização de ideias, expressões e imagens, assim como terão que tomar O papel do
decisões sobre os elementos de comunicação que se encontram envolvidos aluno na
metodologia
na construção de suas narrativas. Dessa forma, também desenvolvem sua ativa.

capacidade de descrição dos fatos, reflexão sobre os aspectos estudados,


possibilidades de crítica sobre os temas, além de autocrítica e autoavaliação
sobre a narrativa que construíram. Para Garcia-Lorenzo (2010), as histórias
permitem, ainda, que sejam expressas e reconstruídas as emoções dentro de
um limite, fornecendo um espaço seguro para que se explorem diferentes
formas de ser e ver o mundo.
O uso de narrativas combinado às TDICs tem sido amplamente realizado o uso de
a partir de estratégias de simulação na aprendizagem baseada em problemas, narrativas
em um
em projetos ou em equipes, entre outras metodologias ativas, servindo como ensino
baseado
passo inicial para que os alunos descrevam em detalhes o problema, suas em projetos
características e sua evolução, passando ao leitor, quadro a quadro, como o ABP.

fato descrito ocorreu. Estas ações envolvem:

„„ a idealização do problema;
„„ o planejamento de etapas de construção da narrativa;
„„ a escolha da linguagem mais adequada ao público e ao tema;
„„ a seleção de imagens que dialoguem com o texto descrito;
„„ os sentimentos que se desejam desencadear, entre outros.

Ao se referir à presença das narrativas em nossa vida cotidiana e seu uso


escolar, Silva e Sobrinho (2016, p. 362–363) reforçam o que viemos discutindo,
ao comentarem que:

[...] a escola necessita adotar novas estratégias para despertar a curiosidade


do seu público para aquilo que é proposto comunicar. Com isso, é perceptível
nesse meio, uma espécie de ― cabo de guerra em busca de atenção, consegue-a
aquele que tiver uma melhor história para contar, como: o filme em cartaz, a
espetáculo teatral, o enredo de um livro.
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Dessa forma, o desafio para os professores é compor, junto aos alunos, o papel do
histórias que ocupem espaço em suas mentes e possam concorrer com outros Professor.

campos do conhecimento que utilizam recursos midiáticos e de estratégias


narrativas para vender ideias, produtos ou serviços, como é o caso do marketing.
São inúmeros os ganhos com o uso de narrativas no processo de apren-
dizagem, uma vez que “histórias narradas ativam a memória, a reflexão, a
imaginação e atingem o lado emocional de quem conta e de quem as ouve ou Potencial
educacional.
lê. Dessa forma, geram significados que perduram na memória e possibilitam
a autoavaliação e a construção de alternativas para inúmeras situações postas
em jogo” (QUINTANA; REBELLO; ROCHA, 2016, p. 163). Ao construir
uma narrativa, o aluno faz uso de seu repertório anterior sobre o tema, de
suas vivências, seus conhecimentos, seus sentimentos e sua reflexão, a partir
da seleção de dados de sua memória que julgar apropriados para se utilizar
na tarefa. Podemos perceber que são muitas as operações de pensamento que
serão realizadas e que irão desafiar os alunos a partir da construção destas
narrativas.

Os professores podem planejar o uso da produção de narrativas fazendo uso do


suporte oferecido pelos recursos digitais, como utilizado na educação híbrida, ou
simplesmente pedir que os alunos as realizem a partir de materiais simples, como
folhas sulfite ou cadernos, nos quais os alunos podem desenvolver suas histórias sobre
o tema proposto, seguindo o estilo das histórias em quadrinhos.

Storyboard e storytelling
Algumas abordagens para a construção de narrativas que têm sido amplamente
utilizadas na contemporaneidade e que utilizam metodologias de aprendizagem
ativa são o storyboard e o storytelling. O storyboard pode ser considerado
um protótipo, script ou esqueleto sobre o qual é planejada a história que será
contada. É no storyboard que serão inseridos os textos, as imagens, os áudios O que é?

e outros recursos que estarão presentes na narrativa que compõe o storytelling.


Imagine que você pretende criar uma narrativa sobre determinado tema e,
para isso, deve utilizar o programa PowerPoint. Neste caso, cada slide pode
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corresponder a uma cena em que irão se articular o texto, as imagens e os


áudios, como se o slide fosse a página de um livro ou um quadro de uma
história em quadrinhos. Moreira et al. (2018, p. 1088) acrescentam que:

O storyboard é um guia visual que retrata as principais cenas de um produto


audiovisual de forma rápida e objetiva, uma espécie de “história em qua-
drinhos” que apresenta o conteúdo de um material, na maioria das vezes,
audiovisual; porém é utilizado também para retratar sequências de conte-
údos em disciplinas escolares, entre outros. Geralmente, a imagem de um
storyboard precisa transmitir uma impressão mais fiel de uma imagem real,
sem, no entanto, determinar muitos detalhes, sendo importante transmitir a
sequência e clima de uma cena.

Já o storytelling é mais amplo, sendo considerado como a capacidade de


contar boas histórias. Porém, conforme enfatizam Quintana, Rebello e Rocha
(2016, p. 163), “existem várias definições de storytelling; mas, de um modo
geral, todas elas giram em torno da ideia de combinar a arte de contar história
com uma gama de recursos multimídia, tais como imagens, áudio e vídeo”.
Para que a história seja criada e que a combinação citada pelos autores ocorra,
é necessária a construção de um storyboard preciso e detalhado. É importante
percebermos que, na atualidade, com a internet e seus inúmeros aplicativos, a
criação dessas narrativas foi facilitada, sendo utilizada por vários campos de
atuação, como a publicidade e o marketing, e vem se introduzindo no cenário
da educação híbrida.
Ao se referir à construção de narrativas digitais, que compõe o storytelling,
Carvalho (2008, p. 87) comenta que:

A construção e produção de narrativas digitais se constituem num processo l


de produção textual que assume o caráter contemporâneo dos recursos audio- l
l
visuais e tecnológicos capazes de modernizar 'o contar histórias', tornando-se
l
uma ferramenta pedagógica eficiente e motivadora ao aluno, ao mesmo tempo l
em que agrega à prática docente o viés da inserção da realidade tão cobrada l
Modernização
em práticas educativas. dos sistemas
de ensino.
l
Ou seja, ao utilizar a metodologia ativa de construção de narrativas digitais l
l
com nossos alunos estaremos proporcionando um aumento do interesse e a l
participação dos alunos por perceberem a inserção da tecnologia digital, que l
l
faz parte do seu dia a dia, em suas práticas escolares. Podemos considerar
alguns passos para a criação de um storytelling digital, conforme ilustrado
na Figura 1.
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Passo 1. Passo 2.
Defina uma Pesquise,
ideia, um explore e
propósito aprenda

Passo 8.
Passo 3.
Reflita a partir
Escreva
dos feedbacks

Passo 4.
Passo 7. Planeje/
Compartilhe construa seu
storyboard
Passo 5.
Reúna ou crie
Passo 6. imagens,
Junte tudo áudios e
vídeos
Figura 1. Processo de criação de um storytelling.
Fonte: Adaptada de Morra (2019).

Perceba, seguindo os passos descritos na Figura 1, como a produção de


storytellings pelos alunos exige esforços de pesquisa, planejamento e seleção
de materiais que se aliem aos temas propostos a se desenvolver. Por exemplo,
um professor da educação básica propõe aos alunos o desafio de construir
um storytelling sobre o consumo na sociedade atual. Para isso, o professor
disponibiliza algum material impresso e pede que os alunos utilizem o la-
boratório de informática para realizar pesquisas on-line e se apropriar dos
elementos necessários para compor a narrativa. Enquanto alguns colegas se
familiarizam com o tema, outros já podem estar pensando na forma como
irão abordar o assunto, quais serão os personagens, que recursos utilizarão,
qual a linguagem e quais mensagens querem transmitir. Após isso, inicia-se
a construção do plano a ser seguido, o storyboard que estrutura a narrativa,
no qual os elementos são relacionados em forma do projeto que se tornará
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a história. Ao final, o storyboard é convertido em imagem e, valendo-se de


ferramentas de edição de imagens ou vídeo, pode assumir seu formato final,
que será compartilhado com a turma para que possa ser avaliado e receber os
feedbacks tanto dos colegas quanto dos professores e, se necessário, refazer
ou ajustar a narrativa.
É importante percebermos que durante todas essas fases proporcionadas
pela utilização desta estratégia para aprendizagem ativa, os alunos revisitam
seus conhecimentos sobre o assunto, procurando ampliá-lo e, ainda, refletem
sobre suas atitudes diárias que tangenciam o tema, produzindo novos
significados a sua forma de viver e ver o problema em sua vida diária,
podendo, inclusive, levá-los a mudança de comportamentos.
Ao desenvolver a estratégia do storytelling com o ensino superior, Quintana,
Rebello e Rocha (2016) apontam alguns passos utilizados para a criação de
storytellings pelos seus alunos do ensino a distância, conforme listado a
seguir.

1. Construção de personagens.
2. Construção de contextos.
3. Elaboração da narrativa.
4. Transposição para o formato de imagem.
5. Divisão da história em capítulos.
6. Inserção no AVA.

A construção de personagens é importante para que o desenrolar da nar-


rativa ocorra, procurando seguir a abordagem do tema de forma criativa,
compondo o arquétipo ou se aproximando das representações mentais existentes
sobre o tópico que será descrito e desenvolvido a partir da história contada.
Tendo definido os personagens, deve-se pensar no contexto em que a história se
insere, onde ela ocorre, quais características deverão ser destacadas e quais as
áreas do conhecimento ou campos da ciência a abordagem irá utilizar. Também
é importante que o contexto sirva de base para que os microlearnings possam
ser desenvolvidos no decorrer da história. Definidos os personagens e criado
o contexto, chega o momento de elaborar a narrativa, produzindo o texto e os
diálogos, caso venham a existir. Para a elaboração desta etapa, costuma-se criar
os storyboards, que em muitos casos são realizados pelo programa PowerPoint,
devido a sua facilidade de uso e de associar texto, imagem e outros recursos
de mídia. Ao finalizar o storyboard, este passa a ser convertido em imagem.
Caso seja necessário, o storytelling pode ser dividido em capítulos para que
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os alunos possam desenvolver os conteúdos abordados com maior precisão


e detalhamento. Após a realização dessas tarefas, cabe aos alunos colocar o
storytelling em funcionamento no ambiente virtual da universidade, que utiliza,
neste caso, a plataforma Moodle para a configuração da educação a distância.

„„ Arquétipos: termo criado pelo psiquiatra suíço Carl Jung que se refere aos conjun-
tos de imagens primordiais que são geradas a partir da repetição de uma mesma
experiência perceptiva ao longo das gerações. É como se uma repetição ancestral
formasse camadas que se acumulam nas profundezas do nosso inconsciente. É
neste campo fértil que a construção de significado ocorre.
„„ Microlearnings: são os demais conceitos e ideias que tangenciam o tema principal
da história e devem ser aprendidos pelos leitores ao longo do storytelling.
„„ Moodle: é o acrônimo de modular object-oriented dynamic learning environment,
um software livre de apoio à aprendizagem, executado em ambiente virtual. Por
ser gratuito, costuma ser amplamente utilizado por instituições de ensino como
plataforma para o ensino híbrido.

Desafiar os alunos a criar seus storytellings é uma excelente oportunidade


para que eles se desenvolvam em diferentes áreas, tornando-se uma proposta
dinâmica, interessante e alinhada com os aspectos motivacionais que nos
cercam na atualidade. Silva e Sobrinho (2016, p. 362) comentam sobre os
benefícios da utilização de storyboard e storytelling como estratégia para
a aprendizagem ativa, destacando que:

[...] além de provocar o aumento no desempenho escolar, ainda ajuda a melhorar


as habilidades exigidas no mercado de trabalho. Desse modo, exercitando a
escrita, a criatividade, a capacidade narrativa, a construção de argumentos Os benefícios
e o pensamento lógico, inclusive estimulando a capacidade de gerir o tempo da utilização de
metodologias
para cumprir os prazos estipulados pelo professor, sendo necessário ao de- ativas.
correr das atividades aprender a escutar uns aos outros e trabalhar em equipe.

Os ganhos são muito sólidos para a aprendizagem e o desenvolvimento de


competências atualmente requeridas de nossos alunos ao aplicar o storyboard
e o storytelling. Para isto, como professores, devemos propor-nos a inovar
nossas práticas pedagógicas, nos apropriando e inserindo novas metodologias
em nossos planos de aula.
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Aplicando o storyboard e o storytelling


A utilização do storyboard e do storytelling não se limita ao ensino superior;
pelo contrário, pode se encaixar muito bem na educação básica. Da mesma
forma, pode fazer parte de um processo ou de uma metodologia de apren-
dizagem maior utilizado pelos professores. Veremos a descrição de alguns
exemplos de utilização destas estratégias de aprendizagem ativa em sala de aula.
A primeira experiência que iremos analisar foi realizada com duas turmas de
alunos do 1º ano do ensino médio, na disciplina de Língua Portuguesa, em uma
escola da rede privada no Pará, tendo como objetivo facilitar a compreensão
de diferentes tipos de linguagens. Os alunos foram divididos em 11 equipes
de aproximadamente sete alunos e realizaram a produção de seu storytelling
ao longo de seis períodos de aula (de 45 minutos de duração), seguindo a
sequência didática apresentada no Quadro 1.

Quadro 1. Sequência didática de produção do storytelling no ensino médio

Explanação sobre a metodologia a ser utilizada pelos alunos.

Dividir os alunos das equipes que colocarão a estratégia em prática.

Processo de escolha dos temas pelos grupos. Tipos de linguagem: verbal


e não verbal, publicitária, cinema, história em quadrinhos e artes plásticas.

Definição da ideia central que conduzirá a criação da história pela equipe.


Sequência didática

Pesquisa sobre o tema e assuntos que se encaixem no


contexto a ser abordado na produção do storytelling.

Criação dos storyboards, primeiro a partir de


esboço e depois no PowerPoint.

Realizar a edição de vídeos a partir do software HitFilm 3 Express.

Produção das storytellings.

Divulgação ao grande grupo das storytellings produzidas.

Avaliação das storytellings e de todo o processo criativo.

Fonte: Adaptado de Silva e Sobrinho (2016).


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Silva e Sobrinho (2016) salientam ainda que utilizaram os seguintes recursos


de tecnologia digital para que seus alunos pudessem construir suas storytellings:
o programa Word para a escrita de roteiros pelas equipes, o programa Power-
Point para a criação dos storyboards e o editor de vídeo HitFilm 3 Express.
Utilizaram o Facebook para divulgar as histórias produzidas, e para coleta
dos feedbacks avaliativos, o programa Typeform.
Outro exemplo de aplicação do storyboard na área educacional ocorre
no atendimento educacional especializado (AEE), que deve ser estendido a
toda a educação básica, visando complementar e apoiar os estudos de alunos
que apresentam maiores dificuldades de aprendizagem. Moreira et al. (2018)
relatam a experiência realizada em oficinas visando instrumentalizar as salas
de recursos multifuncionais, na qual associaram a construção de storyboards
com atividades práticas realizadas pelos alunos e mediadas pela tecnologia
computacional Radio Frequency Identification (RFID). Pelo uso de cartões em
papel com RFID, podem se realizar as conexões com os recursos multimídias
utilizados e construir associações entre os componentes da história produzida
nos storyboards. A Figura 2 mostra como os storyboards foram utilizados na
formação dos professores da sala de recursos multifuncionais e com os alunos
que frequentam o atendimento especializado.

Figura 2. Aplicação do storyboard em oficinas na formação de professores e com alunos do AEE.


Fonte: Moreira et al. (2018, documento on-line).

Moreira et al. (2018, p. 1085) também comentam que:

No nosso ambiente, a intenção de uso dessa ferramenta é oferecer uma forma


de organizar ideias de modo a trabalhar narrativas com as crianças dentro
do tema proposto pelas professoras. Para isso propusemos uma adaptação da
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ferramenta, onde uma cena é composta por vários quadros do storyboard,


cada um deles associado a um cartão do ambiente computacional.

Dessa forma, os professores das salas de recursos multifuncionais adaptam


seus storyboards de forma a auxiliar a compreensão da cena retratada, muitas
vezes dividindo uma cena em vários quadros para que os alunos possam
interagir em sua construção, entendendo plenamente seu contexto.
Moreira et al. (2018) descrevem a utilização do storyboard em alguns modelos
de aplicação diferentes para os alunos desenvolverem suas atividades: desafios,
narração de histórias e atividades de sequência, conforme demonstra o Quadro 2.

Quadro 2. Atividades com a utilização do storyboard

Desafio O desafio consiste na tentativa de adivinhar o que estava sendo


comunicado na narrativa que o storyboard apresenta nos cartões
de comunicação. Antes disso, são definidos os temas possíveis
sobre os quais devem ser construídos os desafios. A utilização
dessa atividade proporciona a interação entre os alunos, que
podem realizar, em dupla ou grupos, a possibilidade de estabelecer
relações entre as imagens e suas vidas cotidianas, o que amplia
sua capacidade de comunicação e associação de ideias.

Narração A atividade consiste em contar ou recontar uma história


de histórias anteriormente contada por alguém, podendo também ser de
autoria própria ou baseada em livros, cantigas, etc. A atividade
pode ser realizada de forma individual ou em grupos e se espera
que as crianças consigam identificar os personagens da história
e organizar seus acontecimentos, trabalhando o conceito de
começo-meio-fim. Ao montar a história, os alunos também
devem verbalizá-la à medida que constroem os storyboards.

Sequência O objetivo desta atividade é trabalhar com sequências de


ações, seja de uma situação-problema, uma sequência
didática, uma sequência de apoio à realização de atividades
(por exemplo, atividades a realizar após usar o banheiro),
etc. A narrativa com os cartões de comunicação é utilizada
para dar comandos, de maneira a promover a associação
pela(s) criança(s) entre a ação e os símbolos dos cartões.

Fonte: Adaptado de Moreira et al. (2018).


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A utilização de estratégias para aprendizagem ativa baseadas em narrativas


se mostra muito rica no desenvolvimento de habilidades como a criatividade,
a organização e o planejamento de roteiros, a seleção de ideias e a redação de
textos que comuniquem suas mensagens pela escrita, por imagens ou demais
recursos audiovisuais que sejam empregados. Dessa forma, para a produção
destas narrativas pelos alunos, o storyboard e o storytelling surgem como
excelentes estratégias, podendo propiciar narrativas de forma digital, no
contexto da educação híbrida. Sobre a possibilidade da construção de narrativas
digitais e da emergência da textualidade eletrônica, Süssekind e Guimarães
(2004, p. 166) destacam que:

Essas formas são multimidiáticas na medida em que são semioticamente


híbridas, englobando o texto escrito, a exploração de suas possibilidades
gráficas, as distintas mídias imagéticas (gráficas, fotográficas e videográ-
ficas) e o som. [...] Está aí um dos poderes mais significativos da escrita na
nova mídia: reunir o texto com a imagem, assim como com outras mídias,
tais como som e vídeo.

Além disso, ao permitir que os alunos produzam suas histórias a partir da


formação de grupos ou equipes, o professor possibilita que enriqueçam sua
aprendizagem a partir da troca entre os colegas, aprimorando também suas
relações interpessoais.

Acesse o link a seguir e observe como o aplicativo PowToon pode ser utilizado para
a criação e a edição final de um storytelling, inclusive podendo importar storyboards
feitos no PowerPoint.

https://qrgo.page.link/KayrX
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Um professor de uma turma do sétimo ano do ensino fundamental procurou utilizar


a estratégia do storytelling com seus alunos, dividindo-os em equipes que deveriam
abordar o tema da interculturalidade no interior da escola, proporcionando um melhor
convívio entre todos os alunos, independente de questões étnico-raciais, religiosas, de
gênero ou culturais. Para isso, os alunos primeiro definiram o tema que pesquisariam
dentro deste eixo maior. Um dos grupos escolheu falar sobre o racismo. Após estudarem
sobre o assunto, criaram dois personagens principais: Juliana (negra) e Serginho (branco
de origem alemã), ambientaram a história no interior da escola e procuraram, pelos
storyboards feitos em folhas brancas e, posteriormente, no PowerPoint, retratar cenas
que poderiam ter conotação racista em simples atitudes ou nas falas dos persona-
gens. Somaram às cenas imagens que envolviam os sentimentos dos personagens e
escolheram como música de fundo melodias que alternavam entre ritmos africanos
e alemães. Ao final da história, os personagens se aliam e resolvem expressar suas
angústias e como poderiam se respeitar mesmo sendo diferentes. O título dado ao
storytelling foi: Viva! Somos diferentes!, sendo divulgado para os alunos pelo blog da escola
e tendo grande repercussão. Os demais alunos da turma e da escola procuraram ter
mais cuidados com seu comportamento após o contato com essa história construída
pelos colegas, o que demonstra que a aprendizagem foi significativa.

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