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um-ato-coletivo

Publicado em NOVA ESCOLA 01 de Dezembro | 2002

Planejamento

Planejamento, um ato
coletivo
Bons planos de aula só serão eficientes se por trás deles
houver muita discussão sobre os objetivos da escola
Denise Pellegrini
NOVA ESCOLA
Paola Gentile

Planejamento:
elaboração, por
etapas, de planos e
programas com
objetivos definidos.
O verbete, tão Aqui tem mais
reportagens!
lembrado no início
do ano, é a base
para a criação de boas aulas e
também um dos pontos cruciais
no desenvolvimento de um
Equipe da Escola Altina Ribeiro Toledo, de
Marechal
trabalho escolar eficiente. Para
Deodoro: reuniões nos três períodos. auxiliar a equipe pedagógica nessa
Foto: Eduardo Queiroga/Lumiar empreitada, NOVA ESCOLA
elaborou este caderno especial.
Foram ouvidos 43 educadores que
oferecem indicações preciosas sobre essa tarefa na Educação Infantil e no
Ensino Fundamental. Além de falar de cada disciplina separadamente, o
caderno traz também um passeio pelo mundo da transdisciplinaridade, na
entrevista com Paulo Afonso Ronca.

Nunca é demais lembrar que o início da definição do próximo ano letivo é,


necessariamente, um ato coletivo. "A principal função do planejamento é
construir, desestruturar e reconstruir o projeto político-pedagógico da
escola", afirma José Cerchi Fusari, professor de Didática e de Coordenação do
Trabalho na Escola da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
E ninguém pode assumir sozinho essa responsabilidade.

Encontros freqüentes

Trabalho coletivo organizado é uma das marcas registradas do Centro de


Atenção Integral à Criança e ao Adolescente Raimundo Gomes de Carvalho,
em Fortaleza. Além de uma quinzena pedagógica no início do ano, em que se
reúnem os noventa professores primeiro, todos juntos; depois, por áreas há
encontros a cada dois sábados e todas as terças-feiras. "Temos um projeto
anual chamado Aprender com Prazer e dele todos vão puxando outros
projetos a cada mês", explica a coordenadora pedagógica Eliene Sales
Andrade.

A realidade escolar, porém, nem sempre é essa. O horário reservado para


discussões em grupo muitas vezes é desproporcional ao de sala de aula (em
média, duas horas de reunião em cada quarenta semanais). Até três anos
atrás, essa era a situação da Escola de 1o Grau Altina Ribeiro Toledo, em
Marechal Deodoro, a 40 quilômetros de Maceió. A unidade tem mais de mil
alunos distribuídos em três turnos. "Ninguém sabia planejar e todos resistiam
à idéia. Apenas esperavam que eu dissesse como tudo deveria ocorrer",
lembra Nadja Porangaba, uma das coordenadoras pedagógicas.

A escola virou de "cabeça para baixo" em 1999, quando ingressou no Plano de


Desenvolvimento da Escola, o PDE do Ministério da Educação. A equipe
definiu a linha pedagógica e criou uma unidade de objetivos. "Antes, cada um
fazia seu trabalho", diz Nadja. A situação ainda não é a ideal, mas a diretora
adjunta Isabel Cristina do Nascimento consegue driblar o maior problema do
corpo docente: a impossibilidade de todos se reunirem num mesmo horário,
o que só ocorre no início e no final do ano letivo. "A maioria dos docentes tem
dois empregos", ela explica. Para dar coesão ao trabalho pedagógico, ela
funciona como um elo entre os três períodos. Trabalha diretamente com os
coordenadores do diurno, participando das reuniões semanais da manhã e
da tarde, e com os do noturno num encontro semanal.

Essa integração, ainda que parcial, é fundamental, segundo os especialistas.


"Se houver decisões coletivas sobre a política da escola e a melhor maneira
de atingir os objetivos, o profissional terá todo o respaldo para orientar sua
prática cotidiana e bolar ações", afirma Eny Maia, consultora da Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo e da Secretaria de Ensino Médio e
Tecnologia do MEC.

Temas transversais

Algumas questões deveriam fazer parte do dia-a-dia da escola, entremear as


reuniões para constituir a base de um bom planejamento. Veja algumas
sugestões feitas por Fusari:
? Como inserir novas situações da realidade do estudante nos objetivos da
escola e no processo de ensino e aprendizagem?

? Como trabalhar o conhecimento em rede?

? Quais as melhores metodologias, procedimentos e instrumentos de ensino


e avaliação?

? Como inserir discussões sobre a mídia e a tecnologia e seu uso na relação


interativa entre professor e aluno?

As respostas precisam ter como norte a realidade sociocultural do público


escolar. Essas informações darão subsídio para a formulação dos objetivos
intermediários e finais da educação e definirão como trabalhar os temas
transversais. "O projeto educativo da instituição é a base para o planejamento
dessa área", afirma Neide Nogueira, coordenadora de temas transversais dos
Parâmetros Curriculares Nacionais.

Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo, Meio Ambiente, Saúde, Orientação


Sexual e Ética. Cada equipe deve dar ênfase aos assuntos mais adequados ao
contexto e às necessidades da turma num determinado momento. "Se várias
adolescentes estão grávidas, pode-se priorizar as questões de Orientação
Sexual", exemplifica Neide. Ela afirma que os temas transversais têm o viés de
formação para a cidadania e devem ser trabalhados ao longo de toda a
escolaridade.

Sim aos imprevistos

As discussões entre os membros da equipe ajudam a selecionar conteúdos,


fugir da repetição e da rotina, integrar as diversas experiências de
aprendizagem, evitar a improvisação sem nexo e garantir segurança contra os
constantes imprevistos dentro da classe. Acontecimentos que os alunos viram
na televisão no dia anterior, vivências que trazem para compartilhar com os
colegas, problemas de aprendizagem e outros tantos que fazem com que
você tenha de desviar o curso da aula planejada.

Ivanna SantAna Torres, responsável pela parte diversificada do currículo no


Centro de Ensino Fundamental Caseb, em Brasília, reviu seu plano inicial para
as doze turmas de 7ª e 8ª série duas vezes em 2001. Em abril, para incluir
temas ambientais e atender ao projeto Agenda 21, do governo federal. Em
outubro, ela descobriu que o colega de Língua Portuguesa estava produzindo
um jornal, mesma atividade que ela havia planejado para o quarto bimestre.
Ivanna resolveu a questão sugerindo um trabalho de poesia em forma de
classificados. "Quando não nos obrigamos a cumprir todos os conteúdos até
o final do ano, não nos sentimos perdidos", declara.
Essa sensação de inutilidade ocorre ao não conseguir executar o que se havia
definido previamente. Se a turma não trouxe a pesquisa pedida, é
interessante usar esse fato para ensinar como fazer uma pesquisa eficiente.
"Os conteúdos podem ser conceituais, procedimentais ou atitudinais, por isso
dá para transformar qualquer fato não planejado em aula produtiva", afirma
a psicóloga Siglia Cruz de Sá Leão. Se os objetivos são claros para todos, não
importa quais os temas empregados para chegar a eles.

Agora é só com você

Participando do planejamento coletivo, o professor passa da condição de


executor para a de sujeito do processo. Agora, sozinho, cabe a você definir o
que pretende fazer ao longo do ano. Novamente é preciso escolher os
objetivos, desta vez os de cada disciplina, ou seja, as competências que o
aluno precisa desenvolver naquela série ou ciclo.

As metas indicam os conteúdos mais significativos e os procedimentos


adequados. Não se esqueça de relacionar os recursos que serão utilizados
nas diversas atividades e como será feita a avaliação. Para a educadora Ilza
Martins SantAnna, um plano por disciplina deve ter o jeitão de um guia:
"Simples, lógico, coerente, funcional e flexível".

Para introduzir um tema, bole uma questão ou situação que desperte o


interesse da turma. Provoque a exposição de idéias, para confrontá-las com
os novos conceitos introduzidos, e proporcione oportunidades para sua
utilização. Terezinha Pádua, psicopedagoga e professora aposentada da
Universidade Federal de Goiás, aconselha a determinar um tempo prévio para
a execução de cada etapa, distribuindo as atividades ao longo do mês ou da
semana.

Terminada a aula, é importante anotar tudo o que ocorreu, inclusive as


reações dos alunos. Essa avaliação é fundamental não somente para
acompanhar o desenvolvimento de cada estudante, mas para fornecer dados
para o replanejamento e aprimoramento do trabalho. É o que ocorre no
Raimundo Gomes de Carvalho. Uma vez por mês, todos se reúnem com a
missão de analisar a aprendizagem das turmas. Com as fichas de auto-
avaliação das turmas em mãos, eles discutem como vêem o processo em
cada área do conhecimento. "Esses encontros são um grande subsídio para
repensar as aulas seguintes", afirma a coordenadora Eliene.

Seguindo essas sugestões, será possível começar o ano aproveitando bem a


semana de planejamento. Na hora de criar suas aulas, consulte as outras
reportagens no índice. Você vai encontrar experiências que vão ajudá-lo a
organizar melhor o dia-a-dia da escola.
Recepção calorosa

O acolhimento na volta das férias é fundamental para criar um clima de


cooperação entre o corpo docente. José Cerchi Fusari dá alguns conselhos
para a coordenação pedagógica organizar bem a semana de planejamento:

? envolva toda a direção e coordenação

? comece a elaborar a reunião com antecedência, pensando espaços para o


encontro geral e para os debates

? selecione um texto como o Era uma vez desta edição que propicie uma
reflexão sobre os objetivos da educação no mundo atual e providencie cópias
para todos

? elabore a pauta de discussão prevendo os temas mais abrangentes, mas


deixe itens em aberto para acrescentar sugestões da equipe

? um dia antes, cuide para que os locais de reunião sejam limpos,


identificados e já organizados com mesas e cadeiras na disposição ideal

? reserve de 30 a 60 minutos antes do início dos trabalhos para conversas


informais

? depois das boas-vindas, distribua o texto selecionado, dê tempo para leitura


e abra o debate

? apresente a pauta e inclua as sugestões dos professores

? reorganize as reuniões do resto da semana já com os novos temas


propostos

? no final dos debates, faça um resumo das conclusões e distribua para todos

Quer saber mais?

Escola de 1º Grau Altina Ribeiro Toledo, R. dos Cajueiros, s/nº, CEP 57160-000, Marechal Deodoro, AL, tel. (82)
263-7698

Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente Raimundo Gomes de Carvalho, R. Raimundo Ribeiro,
400, CEP 60526-500, Fortaleza, CE, tel. (85) 290-3631

Centro de Ensino Fundamental Caseb, 909 Sul, Brasília, DF, CEP 70390-090, tel. (61) 242-2170

BIBLIOGRAFIA

Planejamento como Prática Educativa, Danilo Gandin, 112 págs., Ed. Loyola, tel. (11) 6914-1922, 10,30 reais

Planejamento em Destaque Análises Menos Convencionais (Cadernos Educação Básica - 5), Maria Luisa M. Xavier e
Maria Isabel H. Dalla Zen (orgs.), 170 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3311-7177, 19 reais

Planejamento Sim e Não, Francisco Whitaker Ferreira, 160 págs., Ed. Paz e Terra, tel. (21) 2512-8744, 19 reais

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