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plano-educacional-individualizado-pei
Publicado em NOVA ESCOLA 25 de Março | 2024

Inclusão

Inclusão: por que e como


construir o Plano
Educacional
Individualizado (PEI)
Documento reúne as necessidades, conhecimentos e
potencialidades dos estudantes com deficiência
Thais Paiva

O PEI é um documento em constante revisão que reúne as necessidades,


conhecimentos prévios, potencialidades e habilidades destes estudantes, além
de detectar as barreiras que enfrentam na escola. Foto: Getty Images
Aprovada em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva não só garante a matrícula dos alunos com deficiência,
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou altas habilidades nas escolas regulares
do Brasil, como também prevê o atendimento às suas necessidades
educacionais especiais de forma integrada à proposta pedagógica da escola.
Para auxiliar a garantir esse direito, temos o Plano Educacional Individualizado,
mais conhecido pela sigla PEI, um documento elaborado pelo professor com
base na observação e avaliação de um aluno com deficiência, TEA ou altas
habilidades. O instrumento reúne as necessidades, conhecimentos prévios,
potencialidades e habilidades destes estudantes, além de detectar as barreiras
que enfrentam para seu bem-viver na escola.
É importante ressaltar que não se trata de um laudo, mas de uma ferramenta
de planejamento, apoio e acompanhamento pedagógico do desenvolvimento
do estudante. “Antes de tudo, o PEI é um direito desses alunos de terem seus
educadores debruçados sobre eles, procurando a melhor forma de ensiná-los.
O PEI é um documento escolar e não médico”, destaca Maria da Paz (Gunga)
Castro, educadora, formadora de professores e especialista em inclusão.
O PEI é especialmente valioso para orientar a parceria entre o trabalho do
professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e da sala de aula
regular.
LEIA TAMBÉM – O que é e não é o AEE?
O documento conta a história desse estudante – o que e como ele estudou,
como isso foi avaliado, entre outros pontos – ele garante que a trajetória do
aluno não se perca, independentemente da rede ou escola em que se
matricule. “Isso é especialmente útil quando o aluno vem de outra turma ou de
outra unidade escolar. Enquanto para outras crianças o principal documento de
comunicação entre docentes é um boletim, relatório, portfólio, essas crianças
precisam de mais. O PEI é um arcabouço da vida estudantil da criança com
deficiêcia”, acrescenta Gunga.
Apesar de elaborado pelo profissional do AEE, o instrumento não deve ser uma
incumbência só dele – o planejamento, discussão e aplicação são coletivos. “O
PEI deve ser construído perpassando todos os setores da escola, envolvendo
desde o profissional da Sala de Recursos até a gestão”, explica Andreia Castro
de Andrade, professora de AEE na EMEIF Benedita Torres, em Canaã dos
Carajás (PA).
Quando e o que considerar para construí-lo?
Dentro do calendário escolar, o PEI de cada aluno deve começar a ser escrito
ainda no início do ano letivo e não há uma data de conclusão. Ele deve fazer
parte da rotina escolar e ser revisto constantemente, para fazer alterações
quando necessário, conforme o andamento do ano e desenvolvimento do
estudante.
“Costumo dizer que PEI se faz a lápis, nunca a caneta. Eu desconfio de um PEI
que esteja pronto em março. A escola tem que ter autonomia para construir
seu documento de avaliação que pode se basear em atividades, observação,
provas, etc. A partir dessa avaliação, ela traça então objetivos e metas para cada
aluno com deficiência. É importante que coloque também, neste momento, as
ações dos professores que supõem que vão contribuir para a meta”, aconselha
Gunga.
Em linhas gerais, o PEI deve, primeiramente, justificar o porquê daquele aluno
necessitar do documento e responder às seguintes questões: o que, como,
para que, e por que ele vai aprender aquele determinado conteúdo.
Como construí-lo?
O primeiro passo para a construção do PEI é a realização de um diagnóstico.
Conhecer a fundo o estudante e seu entorno, mapear suas potências e as
barreiras para sua aprendizagem é o que possibilitará a elaboração de um
documento robusto que ajude, de fato, a planejar estratégias e propostas
contextualizadas. Este momento é especialmente importante para que a criança
não seja reduzida ao seu laudo médico.
Adriana Cunha, professora de AEE na EM Professor Ricardo Gama, em Recife
(PE), lembra que o PEI deve colher informações sobre o aluno a partir de
conversas com professores, famílias e com a própria criança. “Cada criança vai
ter seu PEI que responda às suas necessidades. Ele deve apontar quais são as
intervenções que a gente pode trabalhar com ela”, diz a educadora. “Se é uma
criança com dificuldade de concentração, o PEI deve contribuir para que essa
dificuldade diminua. A gente deve pegar essas orientações e transformar em
um percurso educacional, com objetivos e habilidades que precisam ser
trabalhadas e quais são os recursos possíveis para isso.”
Na rede em que Andreia trabalha o PEI possui outro nome, Plano de
Desenvolvimento Individualizado (PDI), mas sua função é a mesma: auxiliar as
ações pedagógicas de aprendizagem do aluno com deficiência que recebe o AEE
na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), de modo a garantir um ambiente
inclusivo, de acordo com o currículo desenvolvido pela escola.
“Na hora de construí-lo, o primeiro contato é com a família. Pesquisamos com
ela todas as informações daquele aluno. O histórico da criança começa ainda
na gravidez, passa pela primeira infância, o primeiro balbucio, o
desenvolvimento motor, até chegar naquele momento atual”, conta a
educadora. Também pergunta-se sobre o laudo médico, a medicação que
utiliza, o lugar onde a criança vive, sua vida social, seus interesses, suas
dificuldades, entre outros pontos.
Esta conversa feita pelo professor de AEE é encaminhada para o setor de
orientação da escola para gerar um relatório circunstanciado que será
compartilhado com a coordenação pedagógica. Esta última, por sua vez,
convida cada professor da escola para uma conversa individualizada que dá
insumos para o planejamento das diferentes aulas. “O professor de Ciências,
por exemplo, pode vir a conhecer que a criança gosta muito de um jogo ou
desenho e decidir usá-lo para ensinar um conteúdo”, explica Andreia.
O elo entre sala comum e a sala de recursos é feito por meio de reuniões. “O
professor entra com o pedagógico, o conteúdo, e a gente entra com a
adaptação do pedagógico”, explica.
A rede de Canaã dos Carajás possui também um instrumento avaliativo que é
anexado ao PDI e aplicado a cada bimestre. “Cada vez que a gente realiza uma
avaliação, a gente preenche esse documento, uma espécie de relatório que
descreve como foi o decorrer do bimestre para o estudante. Ele teve êxito nas
atividades? Teve retorno positivo? O que pode mudar? O que pode melhorar?
Então, no próximo bimestre, isso serve como base para revisar o PDI”, explica a
educadora.

Qual é o papel da gestão escolar na construção do PEI?


Colaboração é a palavra-chave. “A gestão é quem tem que garantir
que o PEI foi bem feito e que há caminhos para sua execução. De nada
adianta detectar barreiras para a aprendizagem dos alunos com
deficiência se a gestão não dar condições, recursos e estratégias para
superá-las”, aponta Gunga.
Daí a importância que as ações previstas no PEI estejam contempladas
pelo Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola e que a gestão
providencie instâncias de troca e acompanhamento sobre o
documento e seus respectivos alunos.
“Aqui, a coordenação pedagógica proporciona momentos de
planejamento nos quais o professor do AEE pode conversar com o
professor da sala regular e compartilhar experiências. Nestas trocas,
falamos sobre os avanços e os desafios e se há necessidade de mudar
ou não o PEI”, conta Adriana.

PEI em constante revisão


Como um documento vivo, sua avaliação deve ser contínua. “É importante que
as avaliações sejam rotineiras, baseadas em uma observação cuidadosa e
detalhada”, afirma Gunga. “O PEI não vai ser avaliado só no final do ano, mas o
tempo todo para ver o que ele já atingiu e o que ainda falta. Na nossa escola, a
gente tem acesso ao PEI online no site da prefeitura e vamos preenchendo e
editando por lá, acrescenta Adriana.
A professora acrescenta ainda que tanto professor da sala comum como o
professor de AEE devem enxergá-lo como um instrumento formativo. “Ali,
estão, por exemplo, práticas que já deram certo, práticas que eles podem se
inspirar para fazer em sua sala, é um feedback interessante para o docente”.
Esta percepção de que o documento existe para o auxílio de toda a comunidade
escolar é o que não pode ser perdido de vista. “Quando cheguei na rede, eu não
conhecia o instrumento e achei que era mais uma burocracia. Não tinha noção
da grandeza desse instrumento, do quanto ele podia proporcionar para a
escola, para mim e para o aluno”, pontua Andreia.

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