Você está na página 1de 30

Psicologia Filosófica – Idade Antiga; Idade Média e Idade Moderna

A Psicologia tem um longo passado e uma curta história. Longo passado porque a
maior parte dos problemas já tinham sido levantados por outras áreas e uma curta história
porque só no século XIX é que nasce a Psicologia como ciência.

A psicologia possui um longo passado, já que, desde a Antiguidade Clássica esteve


sempre presente nas nossas vidas. Desde aí, o Homem dedicou-se a refletir sobre questões
relativas à sua natureza com o intuito de se compreender, de saber o porquê da sua existência,
de ter consciência e perceção da sua realidade de tudo o que o rodeia. Nesta altura, estava
bem patente o espiritualismo e, como consequência disso, o Homem refletia acerca das suas
emoções, sentimentos, preocupações. Ou seja, desde bem cedo despertaram no ser humano
interrogações acerca dos “mistérios” da sua mente e enigmas do seu comportamento. Deste
modo, foram desabrochando os primeiros filósofos e pensadores, sendo este o ponto de
partida para o aparecimento e expansão da filosofia. O desenvolvimento desta ciência mãe
desencadeou o aparecimento de inúmeros ramos (incluindo a psicologia) que, ao
desenvolverem-se, muitos deles tornaram-se independentes. É aqui, que percebemos o
porquê de a psicologia ter uma curta história. Foi, apenas no século XIX, que a psicologia se
afirmou como ciência independente e autónoma da filosofia e adotou um método científico.
Foi Wilhelm Wundt o principal responsável por esta emancipação da psicologia, criando, em
1879, o primeiro laboratório experimental de psicologia. A partir deste marco histórico, a
psicologia deixou de ser limitada a teorias resultantes de especulações de filósofos (teorias
essas que não eram submetidas a testes empíricos) e apareceu como ciência, aparecendo cada
vez mais investigadores que fundamentavam as suas teorias na observação, investigação,
registo sistemático de dados e experimentação. Nos dias de hoje, a psicologia possui uma
vasta variedade de técnicas e métodos de estudo que são constantemente aperfeiçoados e
melhorados tendo em vista uma constante evolução desta ciência. 

Como conclusão, é de realçar que a Psicologia possui um LONGO PASSADO de


questões relativas à mente e comportamento humano, contudo uma CURTA HISTÓRIA de
respostas científicas que esclarecem essas questões.

proto- idade idade


história média contemporânea

idade idade XIX - Nasce a


antiga moderna Psicologia

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 1


Hipócrates
Teoria Hipocrática dos Humores – O ser humano possui 4 humores:

1. Sangue
2. Fleuma ou Linfa
3. Bílis Amarela
4. Bílis Negra

O equilíbrio dos humores (saúde)  crase

O desequilíbrio dos humores (doença)  discrasia

A doença e a cura

 A doença segundo Hipócrates resulta do desequilíbrio entre o organismo e o meio


 A cura é a obra da natureza de cada individuo
 O método apenas pode ajudar o doente na sua luta para ele restabelecer o equilíbrio

Sócrates
A psicologia para Sócrates liga-se imediatamente à ética. A felicidade, o fim do homem,
sentido metafisico.

Método Ironia e Maiêutica

Platão – Psicologia Platónica


“Mito ou alegoria da Caverna”

a) Mundo sensível: imagens, suposições, conjeturas Não devemos fazer


b) Mundo das opiniões, das crenças
c) Mundo inteligível inferior: conhecimento das ciências, razão discursiva
d) Mundo inteligível superior: inteligência, essência

Aristóteles – Psicologia Aristotélica


Segundo Aristóteles há paralelismo entre os aspetos psicológicos e fisiológicos 
Paralelismo Psicofisiológico

Os afetos da alma são dados como um corpo tais como: coragem, brandura, temor,
piedade, audácia, alegria, amor e ódio.

Historicidade: Pensar o Humano


 Da antiguidade clássica à idade contemporânea
 Idade Antiga: do século IV a.C. à queda do Imperio Romano do Ocidente 476 (ou
invasão árabe 631)
 Idade Média: queda do Império Romano do Ocidente à Queda do Império
Romano do Oriente 1453
 Idade Moderna: queda do Império Romano do Oriente à Revolução Francesa 1789
 Idade Contemporânea: Revolução Francesa até …

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 2


- Em XIX é a ciência que estuda a alma

- Em XX é a ciência que estuda o comportamento

Psicologia Filosófica Psicologia científica

Método dedutivo Método experimental


Do geral para o particular Do particular para o geral

Marcos importantes da Psicologia:

 1879 – 1º laboratório de Psicologia na Alemanha (Leipzig) – Wundt


 1881 – 1º revista de Psicologia a publicar artigos experimentas (Philosophy Studien)
 1887 – 1º revista Psicológica Americana (American Journal of Psychology)
 1888 – 1º docência de Psicologia no Mundo (Catell)
 1908 – Definida, pela primeira vez, como ciência do comportamento

Evolução Paradigmática em Psicologia


 Estruturalismo: Wundt, Titchener
 Funcionalismo: Darwin
 Associacionismo: Pavlov
 Comportamentalismo ou Behaviorismo: Watson; Skinner

Estruturalismo – Wundt (e Titchener que foi discípulo de Wundt)


Wundt:

 Alemão
 Professor de filosofia em Leipzig
 1873/4 lança a revista “princípios da psicologia”
 1881 lança outra

Contributos:

 Promoção da experimentação
 Promover a Psicologia a ciência independente
 Analise da estrutura da experiencia imediata
 Analise dos comportamentos mais elementares

Método introspetivo:

 Autoexame do estado metal


 Auto-observação
 Perceção interna

O que é a sensação? Resulta da estimulação de um órgão dos sentidos e os impulsos


atingirem o cérebro.

O que é o sentimento? Complemento subjetivo da sensação

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 3


A relevância do passado para o presente (pág. 2 a 4)
A psicologia é uma das disciplinas académicas mais antigas e, ao mesmo tempo, uma das
mais modernas, ou seja, possui um longo passado e uma curta historia. As pesquisas sobre a
natureza e o comportamento humano remontam ao seculo V a.C., quando os filósofos gregos
tais como Platão e Aristóteles se empenhavam para resolver muitos dos problemas de
interesse dos atuais psicólogos.

No entanto, somente quando os pesquisadores passaram a confiar na observação e na


experimentação minuciosamente controladas para estudar a mente humana é que a psicologia
começou a adquiri uma identidade distinta das suas raízes filosóficas.

O seculo XIX é o período em que a disciplina se tornou independente e passou a adotar


métodos distintos de investigação e de raciocínio teórico. Apesar de há muito tempo atras,
Aristóteles e Platão se preocuparem com problemas ate hoje de interesse feral, as suas
abordagens dessas questões eram totalmente diferentes das dos psicólogos atuais.

A união da filosofia e da fisiologia, duas disciplinas totalmente distintas, produziu um novo


campo de estudo que desde logo adquiriu identidade e importância próprias. Esse novo campo
cresceu rapidamente, tornando-se uma das disciplinas académicas com mais interesse
atualmente.

Atualmente, alguns psicólogos dedicam-se às funções cognitivas, outros lidam com as


forças inconscientes e, outros até, trabalham somente com o comportamento observável. A
psicologia moderna compreende várias áreas de estudo que pouco parecem ter em comum,
exceto o grande interesse na natureza e no comportamento humano, e uma abordagem que
tenta, de algum modo, ser cientifica.

É importante ter em consideração que o passado é importante para o presente, por


exemplo, muitos psicólogos clínicos tentam compreender os pacientes adultos explorando a
sua infância, os psicólogos behavioristas também acreditam na influencia do passado na
formação do presente. Então, podemos afirmar que a influencia do passado ajuda a moldar o
presente.

Concluímos então, que a Psicologia tem evoluído ao longo dos tempos e que se tem
afirmado como uma disciplina independente apesar do seu longo passado e da sua curta
história.

Contribuições do Empirismo à Psicologia (pág. 53)


Até a Psicologia se tornar uma ciência independente, em meados do seculo XIX recebeu
inúmeras contribuições tanto da filosofia quanto da fisiologia. Uma das contribuições vindas da
filosofia foi o empirismo. O empirismo é a doutrina que afirma que todo o conhecimento é
resultado da experiencia sensorial. Os empiristas preocupavam-se em descobrir como a mente
adquiria o conhecimento, tendo sido esta a doutrina filosófica que mais contribuiu para a
Psicologia porque estava relacionada com o desenvolvimento da mente. Um dos principais
empiristas foi, por exemplo, John Locke.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 4


Os primórdios da Psicologia Experimental (pág. 63 a 65)
As primeiras aplicações do método experimental à mente são creditadas a quatro
cientistas alemães um deles, Wilhelm Wundt.

Por que a Alemanha?

A ciência estava em franco desenvolvimento na maior parte da Europa como por exemplo
na Inglaterra, na França e na Alemanha. No entanto, a psicologia experimental começou na
Alemanha devido a algumas características exclusivas da ciência alemã que, tornaram a
Alemanha o solo mais fértil para o crescimento da nova psicologia. Algumas dessas
características são a abordagem cientifica alemã e o movimento reformista nas universidades
alemãs

1. O modo como se abordou cientificamente a Psicologia na Alemanha:


adotaram a abordagem indutiva e a biologia como um membro da família das ciências
e usaram ferramentas da ciência para explorar e medir todas as facetas da atividade
mental.
2. O movimento reformista nas universidades alemãs:
No princípio do século XIX, uma onda de reforma educacional voltada para os
princípios da liberdade académica invadiu as universidades na Alemanha. Desse modo,
criou-se o ambiente ideal para o surgimento da investigação cientifica. A Alemanha
também proporcionou grandes oportunidades para a aprendizagem e a pratica de
novas técnicas cientificas. Para além disso, as universidades alemãs eram financiadas
com um corpo decente bem-remunerado e apetrechadas de equipamentos de
laboratório com tecnologia de ponto. O mesmo não acontecia nos outros locais da
Europa como por exemplo na Inglaterra que apenas possuía duas universidades,
Oxford e Cambridge, onde não havia incentivo, auxilio nem financiamento para
pesquisas cientificas de qualquer disciplina. Alem disso, a politica académica era
contraria à implementação de novas áreas de estudo no currículo.

Portanto, não havia outro local com melhores oportunidades para a pesquisa cientifica
como na Alemanha.

A Nova Psicologia (pág. 77 a 91)


Wilhelm Wundt foi o fundador da psicologia como disciplina académica formal.
Instalou o primeiro laboratório (1897 em Leipzig), lançou a primeira revista especializada e deu
inicio à psicologia experimental como ciência. Os temas das suas pesquisas, como por exemplo
a sensação e perceção, tornaram-se capítulos básicos de livros didáticos e são até hoje fontes
inesgotáveis de estudo.

Podemos considerar que Wundt é o “Pai da Psicologia Moderna” porque contribuiu


para a fundação da mesma não só por uma única descoberta científica, mas também pela
promoção vigorosa da experimentação sistemática realizada por ele próprio.

Todavia é preciso ter em conta que, embora Wundt seja considerado o fundador da
psicologia, ele não foi quem a criou porque a psicologia é o resultado de uma longa sequência
de esforços criativos.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 5


A Biografia de Wundt

Wilhelm Wundt passou os primeiros anos da sua vida na Alemanha, a sua terra natal.
Teve uma infância solitária e sonhava em tornar-se um escritor famoso.

Nos primeiros anos o rendimento escolar de Wundt era baixo e apesar da sua família
ser dotada de forte tradição académica o mesmo não acontecia com Wundt. Apesar de a sua
relação não ser a melhor com os professores e os seus colegas, Wundt aprendeu a controlar os
seus desvaneios e consequentemente tornou-se popular. Apesar de não ter grande interesse
pela escola conseguiu desenvolver a sua capacidade intelectual o que fez com que aos 19
estivesse preparado para prosseguir os estudos universitários. Decidiu então estudar medicina
porem no decorrer do curso, percebeu não ter tanta inclinação para a medicina e decidiu
especializar-se me fisiologia completando o doutoramento em 1855.

Em 1864, lecionou fisiologia e foi destacado para assistente aos estudantes no


laboratório, no entanto detestou a função para a qual foi destacado e acabou por desistir dela.
Nesse mesmo ano, Wundt foi promovido a professor adjunto onde permaneceu por mais dez
anos.

Estando envolvido na pesquisa em fisiologia, Wundt começou a conceber o estudo da


psicologia como uma disciplina científica experimental independente.

Wundt começou por sintetizar as ideias no livro intitulado por Contributions to the
theory of sensory perception, publicado em partes entre 1858 e 1862. Descreveu as suas
originais experiencias feitas realizadas num laboratório improvisado em sua casa e os métodos
que considerava adequados para a nova psicologia utilizando, pela primeira vez o termo
“Psicologia Experimental”.

O livro de Wundt juntamente com outro livro de Fechner são considerados um


importante marco no surgimento desta nova ciência à qual chamamos de Psicologia
Experimental.

No ano seguinte, em 1863, Wundt publicou outro livro que intitulou de “Lectures on
the minds of men and animals”.

Em 1867, Wundt começou a lecionar um curso de psicologia fisiológica, o primeiro


curso formal dessa área em todo o mundo. As suas aulas originaram matéria para, mais tarde,
publicar outro livro importante, publicado em duas partes. “Principles” é, indubitavelmente, a
sua obra prima, onde Wundt estabeleceu a psicologia como uma ciência laboratorial
independente com problemas e métodos de experimentação próprios.

Os anos em Leipzig

Wundt começou a mais longa e importante fase da sua carreira em 1875, ao tornar-se
professor de filosofia da University of Leipzig, onde trabalhou durante 45 anos.

O laboratório de Wundt e também a sua crescente fama atraíram a Leipzig muitos


estudantes que desejavam trabalhar com ele. Entre estes estudantes estavam diversos
americanos que retornaram aos EUA para implementar laboratórios próprios. Assim o
laboratório de Leipzig exerceu enorme influência no desenvolvimento da psicóloga moderna,
servindo como modelo para novos laboratórios e constantes pesquisas. Para alem dos EUA
outros alunos de Wundt instalaram diversos laboratórios na Itália, na Rússia e no japão.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 6


Wundt era um professor bastante popular e isso comprova-se pelo facto de que os
cursos que eram lecionados por ele eram os mais populares.

A psicologia cultural

Com a implementação do laboratório e a criação da revista especializada, além da


grande quantidade de pesquisas, Wundt voltou-se para a filosofia.

(Outra área em que Wundt concentrou o seu grande talento foi na criação da psicologia
social.)

Wundt acreditava que as funções mentais mais simples tais como a sensação e a perceção,
deveriam ser estudadas por meio de métodos de laboratório.

No entanto os processos mentais superiores, como a aprendizagem e a memoria, não


podiam ser investigados pela experimentação cientifica, por serem condicionados pela língua e
por outros aspetos culturais.

Wundt dedicou 10 anos ao desenvolvimento da psicologia cultural, mas, como já havia


previsto, exerceu pouco impacto sobre a psicologia americana. E, uma razão provável para a
falta de interesse dos psicólogos americanos na psicologia cultural de Wundt seria a época da
sua publicação, entre 1900 e 1920. E isso deveu-se ao facto de que nesse período uma nova
psicologia surgia nos EUA, com uma abordagem ligeiramente distinta da de Wundt.

Graças ao seu estilo de vida organizado, Wundt conseguiu completar e organizar os seus
estudos pouco antes de morrer. Analises foram feitas, e constatou-se que Wundt escreveu
cerca de 54.000 paginas entre os anos 1853 e 1920.

Concluímos então que Wundt, concretizou o sonho da sua infância, tornar-se um famoso
escritor.

O estudo da experiencia consciente

A psicologia de Wundt utilizava os métodos experimentais das ciências naturais,


principalmente as técnicas empregadas pelos fisiologistas. Wundt adaptou esses métodos
científicos de investigação para a nossa psicologia e prosseguiu na sua pesquisa do mesmo
modo como os cientistas físicos se dedicavam ao objeto de estudo da sua própria área.

O objeto de estudo de Wundt era a consciência. O impacto de empirismo e do


associacionismo do seculo XIX refletia-se no sistema de Wundt. Na sua perspetiva, a
consciência incluía varias partes diferentes e podia ser estudada pelo método da analise ou da
redução.

No entanto, a semelhança entre a abordagem de Wundt e da maioria dos empiristas e dos


associacionistas concentrava-se apenas nesse ponto de vista. Wundt não aceitava a ideia de os
elementos da consciência serem estáticos e se conectarem de forma passiva mediante algum
processo mecânico de associação. Pelo contrário, ele acreditava no papel ativo da consciência
em organizar o próprio conteúdo. Portanto o estudo separado dos elementos, do conteúdo ou
da estrutura da consciência proporcionaria apenas o ponto inicial para a compreensão dos
processos psicológicos.

Voluntarismo – a ideia de que a mente é capaz de organizar o conteúdo mental em


processos de pensamento de nível mais elevado.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 7


Wundt concentrou-se no estudo da capacidade própria de organização da mente, dando o
nome de voluntarismo ao seu sistema, em referencia à palavra “volição” que significa o ato ou
a força de vontade. O voluntarismo refere-se à força de vontade própria de organizar o
conteúdo da mente em processos de pensamentos superiores.

Experiência mediata e imediata – a experiencia mediata oferece qualquer informação,


exceto sobre os seus elementos, e a experiencia imediata é equilibrada por interpretação.

Na opinião de Wundt, os psicólogos deveriam dedicar-se ao estudo da experiencia


imediata e não da experiencia mediata. A experiencia mediata proporciona ao individuo as
informações ou o conhecimento relacionado com algo alem dos elementos de uma
experiência. É a forma usual de empregar a experiencia para adquirir o conhecimento do nosso
mundo. Por exemplo: quando olhamos uma rosa e dizemos “A rosa é vermelha”, subentende-
se que o nosso interesse principal se concentra na flor e não no facto de percebermos algo
denominado de “(cor) vermelha”. No entanto a experiencia imediata de visualizar a flor não
esta no objeto propriamente dito, e sim na experiencia de perceber que alguma coisa é
vermelha.

Do mesmo modo, ao descrevermos a sensação de desconforto provocada por uma dor de


dente, relamos a nossa experiencia imediata. No entanto, se apenas dissermos: “estou com
dor de dente”, referimo-nos somente à experiencia mediata.

Na perspetiva de Wundt, as experiências básicas humanas, como a perceção da cor


vermelha ou a sensação de desconforto provocada pela dor, formam os estados da consciência
(os elementos mentais) organizados de forma ativa pela mente.

O método de introspeção

Wundt descrevia a sua psicologia como a ciência da experiência consciente. Sendo assim, o
método da psicologia cientifica deve abranger as observações da experiência consciente. No
entanto somente o individuo que passa pela experiencia é capaz de observá-la. Wundt
estabeleceu que o método de observação devia necessariamente utilizar-se da introspeção, ou
seja, do autoexame do estado mental. Ele referia-se a esse método como perceção interna.
Wundt não foi o criador do método da introspeção porque este já existia no tempo de
Sócrates.

Introspeção – autoanálise da mente para se inspecionar e relatar os pensamentos ou


sentimentos pessoais.

Na física a introspeção foi utilizada para estudar a luz e o som e na fisiologia foi aplicada na
pesquisa dos órgãos dos sentidos. Por exemplo, para obter informações sobre os sentidos, o
pesquisador aplicava um estímulo e pedia ao individuo para descrever a sensação produzida.

A introspeção, ou perceção interna, praticada no laboratório de Wundt na University of


Leipzig, obedecia a regras e condições estabelecidas por ele.

Wundt acreditava que a sua forma de introspeção – a perceção interna – permitia fornecer
todos os dados básicos necessários para o estudo dos problemas de interesse da psicologia,
assim como a perceção externa proporcionava os dados para as ciências como a astronomia e
a química. Na perceção externa o foco de observação encontrava-se fora do observador. Por
exemplo, uma estrela ou reação da mistura química no tubo de ensaio. Na perceção interna, o
foco encontra-se dentro do observador – na sua experiência consciente.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 8


O objetivo de realizar a perceção interna sob rígidas condições experimentais consiste em
produzir observações precisas passiveis de repetição, da mesma forma que a perceção externa
produz para as ciências naturais observações que podem ser repetidas separadamente por
outros pesquisadores.

Wundt praticamente não aceitava o tipo de introspeção qualitativa em que as pessoas


simplesmente descreviam as suas experiencias intimas. A descrição introspetiva que buscava
estava relacionada principalmente com os julgamentos conscientes sobre o tamanho, a
intensidade, a duração de vários estímulos físicos, ou seja, o tipo de análise quantitativa da
pesquisa psicofísica.

Elementos da experiencia consciente

Definidos os objetos de estudo e a metodologia para a nova ciência da psicologia Wundt


traçou as suas metas:

 Analisar os processos conscientes, utilizando-se dos seus elementos básicos


 Descobrir como esses elementos eram sintetizados e organizados
 Determinar as leis da conexão que regiam a organização dos elementos

Sensações – Wundt alegava ser a sensação uma das duas formas básicas de experiencia. A
sensação surge sempre que um órgão do sentido é estimulado e os impulsos resultantes
atingem o cérebro. Pode ser classificada pela intensidade, duração e modalidade do sentido.

Sentimentos – o sentimento é a outra forma elementar da experiencia. A sensação e o


sentimento são aspetos simultâneos da experiencia imediata. O sentimento é o complemento
subjetivo da sensação, embora não se origine diretamente de órgão do sentido. Sensações são
acompanhadas de certas qualidades de sentimento; quando se combinam para formar um
estado mais complexo, resultam na qualidade de sentimento.

Wundt propôs a teoria tridimensional do sentimento com base nas próprias


observações introspetivas. Munido de um metrónomo, notou que, após ouvir uma série de
cliques, alguns padrões rítmicos eram mais prazerosos ou agradáveis do que outros. Concluiu
que parte da experiencia de qualquer padrão sonoro requer o sentimento subjetivo do prazer
ou desprazer. Wundt sugeriu assim que esse estado de sentimento poderia ser alocado em
uma variação continua desde o extremamente agradável ate ao extremamente desagradável.

Wundt observou um segundo tipo de sentimento, ouvindo os cliques do metrónomo: uma


leve tensão ao antecipar cada som sucessivo, seguida do alivio apos ouvir o clique. Concluiu
assim que, alem do contínuo prazer/desprazer, o sentimento possuía uma dimensão de
tensão/relaxamento. Posteriormente, ao aumenta o intervalo dos cliques, sentiu.se
suavemente excitado, e ao reduzi-lo sentiu-se calmo e até um pouco deprimido.

Dessa forma, variando o intervalo do metrónomo e praticando a introspeção, descrevendo


as suas experiencias conscientes imediatas, Wundt definiu três dimensões independentes do
sentimento: prazer/desprazer, tensão/relaxamento e excitação/depressão. Cada sentimento
básico era efetivamente descrito de acordo com a sua localização dentro do espaço
tridimensional, ou seja, a sua posição em cada uma das dimensões.

Wundt considerava as emoções um composto complexo de sentimentos elementares e, se


fosse possível destaca-los na grade tridimensional, as emoções poderiam ser reduzidas a esses
elementos mentais. Embora a teoria tridimensional do sentimento tivesse despertado o

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 9


interesse para varias pesquisas em Leipzig e em outros laboratórios europeus da época, não
resistiu ao teste do tempo.

Teoria tridimensional do sentimento – a explicação de Wundt para os estados do


sentimento baseada em três dimensões:

1. prazer/desprazer
2. tensão/relaxamento
3. excitação/depressão

A organização dos elementos da experiência consciente

Apesar da sua enfase nos elementos da experiencia consciente, Wundt reconheceu que,
ao olharmos para os objetos do mundo real a nossa perceção é dotada de unidade ou de
totalidade. Por exemplo, ao olharmos por uma janela, vemos uma árvore e não sensações
individuais ou experiencias conscientes de brilho, cor ou formato que os observadores
treinados do laboratório descrevem como resultado das suas introspeções. A nossa
experiencia visual do mundo real abrange a árvore inteira e não como as sensações e os
sentimentos básico constituintes da árvore.

Wundt explicou o fenómeno por meio da sua doutrina da aperceção. O processo de


organização dos elementos mentais formando uma unidade é uma síntese criativa que cria
novas propriedades mediante a mistura ou a combinação dos elementos.

Aperceção – processo de organização dos elementos mentais.

Para Wundt, a aperceção consiste num processo ativo. Nossa consciência não atua apenas
sobre sensações e sentimentos básicos que experimentamos. Ao contrario, a mente atua
nesses elementos de forma criativa para compor a unidade. Desse modo, Wundt não
acreditava no processo da associação mecânica e passiva defendido pela maioria dos
empiristas e associacionistas britânicos.

O destino da psicologia de Wundt na Alemanha

Embora a psicologia wundtiana tenha se espalhado rapidamente, não transformou de


imediato nem completamente a natureza da psicologia académica na Alemanha. No período
de Wundt – na realidade, já em 1941, duas décadas após a sua morte – a psicologia nas
universidades alemãs ainda consistia na área de especialização da filosofia. Em parte, era
devido à resistência de alguns psicólogos e filósofos em separar a psicologia da filosofia e
também a um fator contextual importante: os órgãos governamentais responsáveis pela
criação das universidades não viam nenhum valor prático na psicologia para garantir a
alocação de recursos para o estabelecimento de departamentos académicos e laboratórios
independentes.

A dificuldade estava no fato de a psicologia de Wundt se concentrar na descrição e na


organização dos elementos da consciência, não sendo assim, apropriada para a solução dos
problemas do mundo real.

Desse modo, apesar da sua aceitação nas universidades de vários países, a evolução da
psicologia wundtiana como a ciência distinta foi relativamente lenta na própria Alemanha. Na
Alemanha apenas quatro estudiosos constavam nas listas oficiais como psicólogos e não como

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 10


filósofos. Por volta de 1925, apenas 25 pessoas na Alemanha intitulavam-se psicólogos e
somente em 14 das 23 universidades tinham departamentos de psicologia independes.

Nos EUA, nesse mesmo período, existiam muitos mais psicólogos e departamentos de
psicologia. O conhecimento e as técnicas de psicologia estavam a ser aplicados aos problemas
práticos na economia e na educação. Ainda assim, deveríamos reconhecer que a origem para
pensar o campo da psicologia nos EUA era derivada do pensamento de Wundt.

As criticas à Psicologia de Wundt

A posição de Wundt, assim como a de qualquer outro inovador, estava sujeita a criticas.
Especialmente vulnerável era o método da perceção interna ou da introspeção. Os críticos
questionavam: “quando a introspeção realizada por diferentes observadores produz
resultados distintos, como saber qual é o resultado correto?”. As experiências realizadas com o
uso da técnica de introspeção nem sempre produzem o mesmo resultado, já que se trata de
uma auto-observação – é definitivamente uma experiência particular. As opiniões políticas de
Wundt também eram alvo de criticas.

O sistema de Wundt também enfrentou a concorrência crescente nis países de língua


alemã apos a primeira guerra mundial. Nos últimos anos de vida de Wundt, duas escolas de
pensamento surgiram na europa, obscurecendo a sua visão: a psicologia da Gestalt na
Alemanha e a psicanalise na Áustria. Nos EUA o funcionalismo e o behaviorismo encobriram a
abordagem wundtiana.

Alem disso as forças contextuais económicas e politicas vigentes contribuíram para o


desaparecimento do sistema wundtiano na Alemanha. Com o colapso económico apos a
derrota alemã na primeira guerra mundial, as universidades ficaram falidas. O laboratório de
Wundt, onde ele orientou a primeira geração de psicólogos, foi destruído por um bombardeiro
de americanos e inglês em 1943. Assim, a natureza, o conteúdo, a forma e ate mesmo o lar da
psicologia de Wundt perderam-se.

A herança de Wundt

O ato de instalação do primeiro laboratório de psicologia exigia uma pessoa com o vasto
conhecimento da fisiologia e da filosofia contemporâneas e com a capacidade para sintetizar
efetivamente as ideias e os métodos dessas disciplinas. Para Wundt cumprir a meta de fundar
uma nova ciência, teve de rejeitar o pensamento não cientifico do passado e eliminar as
relações intelectuais entre a nossa psicologia científica e a antiga filosofia mental. Ao restringir
o objeto de estudo da psicologia à experiência consciente e definir a disciplina como uma
ciência baseada na experiência, Wundt conseguiu evitar discussões sobre a imortalidade da
alma e as suas relações com a mortalidade do corpo. Ele apenas alegava enfaticamente que a
psicologia não lidava com essas questões e essa afirmação foi um grande passo adiante.

Wundt deu inicio a um novo domínio da ciência e conduziu pesquisas no laboratório que
instalara exclusivamente para esse fim. Publicou os resultados na sua própria revista e tentou
desenvolver uma teoria sistemática da natureza da mente humana. Alguns dos seus alunos
deram continuidade ao trabalho, criando laboratórios para prosseguir com as experiencias
relacionadas com as questões estabelecidas por ele e empregando as suas técnicas, desse
modo, Wundt proporcionou à psicologia todos os acessórios de uma ciência moderna.

Os resultados dos seus esforços representam uma conquista tão extraordinária que Wundt
merece ocupar uma posição exclusiva de destaque ente os psicólogos do período moderno.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 11


O facto de a maior parte da história da psicologia pós-Wundt consistir de posições
contrarias as limitações por ele impostas para a área não desvaloriza as suas brilhantes
contribuições, mas sim enaltece ainda mais a sua grandeza.

Outras tendências da psicologia alemã

Wundt deteve o monopólio da nossa psicologia por pouco tempo. A ciência também
começava a florescer noutros laboratórios alemães. Embora Wundt fosse obviamente o mais
importante organizador e sistematizador dos primeiros passos da psicologia, outras figuras
também exerceram influencia na evolução inicial da área. Os pesquisadores que não
concordavam com o ponto de vista de Wundt propunham ideias diferentes, embora todos
estivessem comprometidos com um objetivo comum: a expansão da psicologia como ciência.
O trabalho desses psicólogos aliado ao de Wundt, transformou a Alemanha indiscutivelmente
no centro do movimento.

Os acontecimentos na Inglaterra dariam à psicologia uma temática e uma direção


radicalmente diferentes. Charles Darwin apresentava a teoria da evolução e Francis Galton
começava a trabalhar com a psicologia das diferenças individuais. Ao chegarem aos EUA, essas
ideias exerceram um impacto ainda maior sobre o rumo da psicologia do que o trabalho
pioneiro de Wilhelm Wundt.

Além disso, os primeiros psicólogos americanos, muitos dos quais formados sob a
orientação de Wundt em Leipzig, retornaram aos EUA e transformaram a psicologia wundtiana
em algo tipicamente americano.

Concluímos então que depois da sua fundação, a psicologia dividiu-se em fações e,


rapidamente, a abordagem de Wundt tornou-se apenas mais uma delas.

Estruturalismo (pág. 105 a 120)


Apesar de jurar fidelidade eterna ao sistema de psicologia de Wundt, Titchener alterou-o
drasticamente ao levá-lo da Alemanha para os EUA. Ele apresentou uma abordagem própria à
qual denominou de Estruturalismo. Embora alegasse tratar-se do mesmo sistema estabelecido
por Wundt na realidade, os dois eram completamente distintos e a denominação
“estruturalismo” é adequada para definir apenas a psicologia de Titchener. O estruturalismo
permaneceu em evidencia durante cerca de 20 anos nos EUA ate ser superado por outros
movimentos.

Wundt identificou os elementos/conteúdo da consciência, no entanto a questão que mais


lhe chamava à atenção era a organização desses elementos, ou seja, a sua síntese em
processos cognitivos superiores por meio da aperceção. Na opinião de Wundt, a mente era
dotada do poder de organização voluntaria dos elementos mentais, posição divergente da
explicação mecanicista da passividade mental sustentada pelos empiristas e associacionistas
britânicos.

Titchener também se concentrava nos elementos ou conteúdos mentais, assim como na


conexão mecânica mediante o processo da associação, entretanto descartava a doutrina da
aperceção definida por Wundt. O seu enfoque estava nos elementos propriamente ditos e na,
sua opinião, a principal tarefa da psicologia consistia na descoberta da natureza das

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 12


experiências conscientes elementares – a determinação da estrutura da consciência mediante
a analise das suas partes componentes.

A biografia de Titchener

Nasceu em Chichester na Inglaterra, numa família tradicional, mas de poucos recursos.


Graças à sua considerável capacidade intelectual, Titchener obteve bolsas de estudo para a
faculdade. Na universidade estudou filosofia e os clássicos, além de trabalhar como assistente
de pesquisa em fisiologia. Interessou-se pela psicologia wundtiana, interesse esse, não
partilhado muito menos incentivado pela universidade. Por isso, Titchener teve de partir para
Leipzig. Durante a vida estudantil, criou uma relação forte com Wundt e com a sua família. Ia à
casa de Wundt bastantes vezes e, nela passou, pelo menos um natal com eles.

Titchener esperava tornar-se o inglês pioneiro da nova psicologia experimental de Wundt,


mas, quando voltou para Oxford, os seus colegas ainda estavam reticentes em relação à
chamada abordagem cientifica dos seus temas filosóficos favoritos. Permaneceu em Oxford
alguns meses, mas percebeu que as melhores oportunidades estavam noutro lugar. Deixou a
Inglaterra e partiu para os EUA onde passou o resto da sua vida, para ensinar psicologia e
dirigir um laboratório.

De 1893 a 1900, Titchener criou o seu laboratório, conduziu pesquisas, escreveu artigos
académicos e por fim, publicou mais de 60 trabalhos. Devido ao grande número de alunos,
atraídos e fascinados pela sua psicologia, Titchener teve que abrir mão da tarefa de participar
pessoalmente nos estudos de pesquisa, deixando essa tarefa a cargo dos estudantes. Desse
modo, a sua posição sistemática atingiu o auge do desenvolvimento por meio da sua
orientação das pesquisas realizadas pelos alunos. Titchener orientou mais de 50 doutorados
em psicóloga, cujas dissertações na maioria, continham marcas das suas ideias. Selecionou os
temas de pesquisa e atribuiu-lhes questões do seu maior interesse. Dessa forma, criou o
sistema do estruturalismo, que mais tarde alegou ser a “única psicologia científica digna do
nome”.

Entre as obras da sua autoria estão “Na outline of psychocology” (1896), “Primer of
psychology” (1998) e, publicado em 4 volumes, “experimental psycology: a manual of
laboratoty”. Esses últimos, mais conhecidos como manuais, incentivaram o trabalho de
laboratorio da psicologia dos EUA e influenciaram a geração dos psicólogos experimentalistas.

Titchener dividia a sua energia entre o trabalho com a psicologia e diversos passatempos.
Regia um pequeno grupo musical que se reunia todos os domingos à tarde na sua casa,
colecionada moedas entre outros passatempos.

Com o passar dos anos, Titchener trabalhava em casa e, a partir de 1909, lecionava apenas
às segundas à tarde durante o período primaveril. A sua esposa selecionava as pessoas que os
procuravam de modo a protege-lo de estranhos e, os alunos, eram orientados a procura-lo
somente em caso de urgência.

Embora sustentasse o modo autocrático como um estereótipo do professor alemão, era


gentil e prestável com os colegas e estudantes, desde que fosse tratado com respeito de que
acreditava ser merecedor.

As vezes as relações de Titchener com os psicólogos fora do seu grupo também eram
tensas. Eleito pelos fundadores como membro da APA em 1892, renunciou logo em seguida
porque a associação negou-se a expulsar um membro que ele acusava de plagiário.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 13


Os experimentalistas de Titchener: proibido para as mulheres

Em 1904, um grupo de psicólogos autodenominados “os experimentalistas de Titchener”


começaram a reunir-se regularmente para comparar as observações obtidas nas pesquisas.
Além de selecionar os temas e os participantes, Titchener geralmente conduzia reuniões. Uma
das regras era a proibição de participação das mulheres. Segundo um relato, Titchener
desejava “ouvir relatos com liberdade para interromper, debater e criticar, num ambiente
encoberto pelo fumo dos charutos e sem a presença das mulheres, (…) elas são delicadas
demais para fumar”.

Algumas alunas tentaram assistir às reuniões, no entanto foram tentativas fracassadas.


Embora Titchener excluísse as mulheres das reuniões experimentalistas, ele encorajava e
apoiava o progresso delas na psicologia. Titchener aceitava as mulheres nos programas de pós-
graduação ao passo que as universidades de Harvard e da Colômbia não as aceitavam.
Nenhum psicólogo, naquela época, concedeu tantas mulheres doutoradas como Titchener.

A primeira mulher doutorada em psicologia foi Margaret Floy washbum, aluna de


Titchener e, foi também, a primeira psicóloga eleita para a Academia Nacional de Ciências.
Alem disso, chegou a ser presidente da APA (American Psychological Association).

Apesar de Titchener não abrir mão da proibição das mulheres participarem nas reuniões
experimentalistas, ele empenhava-se para que os psicólogos experimentalistas deixassem de
ser um grupo exclusivamente masculino e apenas deixaram de o ser ate 1924, dois anos após a
morte de Titchener.

O conteúdo da experiência consciente

De acordo com Titchener, o objeto de estudo da psicologia é a experiência consciente


como dependente do individuo que a vivencia. Esse tipo de experiencia difere de estudo para
estudo por cientistas de outras áreas.

As outras ciências não dependem da experiencia pessoal. Titchener citou, como exemplo
da física, a temperatura de uma sala pode ser de 30ºC, haja ou não uma pessoa para senti-la.
Todavia, quando há observadores que relatam sentir um calor desconfortável, essa sensação –
a experiencia da temperatura elevada – depende das experiencias individuais dos presentes.
Para Titchener, esse tipo de experiência consciente é o único enfoque adequado para a
pesquisa psicológica. Ele descreveu a diferença entre a experiencia dependente e a
independente no livro “A textbook of psychology”, publicado em 1909.

No estudo da experiência consciente, Titchener fez um alerta a respeito de se cometer o


que chamou de erro de estímulo, que era uma confusão entre o processo mental e o objeto da
observação. Por exemplo, o observador que vê uma maça e a descreve apenas como a fruta
maça em vê de descrever elementos como a cor, o brilho e a forma que está a visualizar,
comete o erro de estímulo. O objeto da observação não deve ser descrito na linguagem
quotidiana, amas em termos do conteúdo consciente elementar da experiência.

Erro de estímulo – confusão entre o processo mental que está sendo estudado e o
estímulo ou objeto que está sendo observado.

Quando o observador se concentra no objeto de estímulo e não no conteúdo consciente,


não faz distinção entre o conhecimento adquirido no passado em relação ao objeto (por
exemplo, que o nome do objeto é maçã) é a própria experiência imediata e direta. Todo o

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 14


observador sabe que a maça é vermelha, redonda e tem certo brilho. Ao descrever ouras
características, que não sejam a cor, o brilho e o formato, em vez de observar o objeto, o
observador está a interpretá-lo. Trata-se assim da experiencia mediata e não da imediata.

Titchener definia a consciência como a soma das experiencias existentes em determinado


momento. A mente é a soma das experiencias acumuladas ao longo do tempo. A consciência e
a mente são semelhantes, apenas com a diferença de que a consciência envolve os processos
mentais que ocorrem em determinado momento e a mente, o total desses processos.

A psicologia experimental, na visão de Titchener, era uma ciência puera. Ele não se
preocupava com a aplicação do conhecimento psicológico. A psicologia, afirmava, não se
propõe a curar mentes doentias nem a reformar a sociedade. O único propósito legítimo da
psicologia é descobrir os fatores estruturais da mente. Ele acreditava que os psicólogos deviam
manter-se distantes das especulações sobre o valor prático do seu trabalho. Por isso,
posicionou-se contra o desenvolvimento da psicologia infantil, animal e outras áreas
incompatíveis com a psicologia introspetiva experimental do conteúdo da experiência
consciente.

Introspeção
Titchener empregava a introspeção, ou auto-observação, com base em observadores
rigorosamente treinados para descrever os elementos no seu estado consciente, em vez de
relatar o estimulo observado ou percebido, utilizando apenas nomes conhecidos. Percebeu
que todos aprendemos a descrever a experiencia em termos do estimulo, por exemplo,
chamar o objeto vermelho, redondo e brilhante de maça é o suficiente e útil para o
quotidiano. Todavia no seu laboratório de psicologia, essa pratica teve de ser desaprendida.

Titchener adotou a mesma definição de Külpe para descrever o seu método, introspeção
experimental sistemática. Como Külpe, ele utilizava relatos detalhados, subjetivos e
qualitativos das atividades mentais dos indivíduos durante o ato da introspeção. Ele opunha-se
à abordagem de Wundt cujo foco eram as medições quantitativas e objetivas porque
acreditava não serem uteis na analise das sensações e imagens elementares da consciência,
ponto central da sua psicologia.

Por outras palavras, Titchener divergia de Wundt porque estava interessado em analisar a
experiência consciente complexa a partir das partes componentes, e não a síntese dos
elementos mediante a aperceção. Titchener dava enfase às partes, enquanto Wundt, ao todo.
Alinhado com a maioria dos empiristas e associacionistas britânicos, o objetivo de Titchener
era descobrir os chamados átomos da mente.

O seu conceito de introspeção aparentemente já era formado antes de ele estudar com
Wundt em Leipzig. O espirito mecanicista também influenciou Titchener.

A abordagem experimental de Titchener – a proposta de Titchener consistia na abordagem


experimental para a observação introspetiva na psicologia. Ele obedecia rigorosamente às
normas da experimentação científica afirmando que um experimento é uma observação que
pode ser repetida, isolada e variada. Quanto maior a quantidade de repetições das
observações maior a probabilidade de clareza na perceção e de precisão na descrição do
objeto observado. Quanto mais isolada a observação mais fácil será a execução da tarefa e
mor o risco de confusão proveniente de circunstanciais irrelevantes ou de enfase ni ponto

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 15


errado. Quanto mais amplamente se puder variar a observação, mais clara será a perceção da
uniformidade da experiência e maior a chance de descoberta de leis.

A introspeção realizada pelos regentes ou observadores do laboratório de Titchener era


baseada em vários estímulos, proporcionando observações extensas e detalhadas dos
elementos das suas experiencias. Cora Friedline, aluna de Titchener, lembrou-se da pesquisa a
respeito da sensibilidade orgânica. Pela manha os observadores teriam de engolir um tubo que
seguia ate ao estomago e mante-lo durante todo o dia e com ele fariam as suas normais
rotinas. No inicio, vários alunos vomitaram, mas aos poucos acabavam por se habituar.
Durante o dia eles apresentavam-se no laboratório nos horários fixados, e em cada um dos
tubos dos observadores era derramada agua quente e eles faziam a introspeção das sensações
experimentadas. Depois repetia-se o processo usando agua gelada. Noutra pesquisa, os
estudantes andavam munidos de blocos de anotações para registar as sensações e o que
sentiam quando urinavam e defecavam.

O estudo relacionado ao sexo é um exemplo de um dado histórico perdido. Os estudantes


casados deviam de anotar as sensações e os sentimentos básicos que vivenciavam durante as
suas relações sexuais. No entanto, o facto tornou-se de conhecimento geral no campus da
universidade e o laboratório de psicologia ficou com a reputação de imoral. A encarregada do
dormitório feminino não permitia que as alunas fossem ao laboratório depois do anoitecer,
diziam que o laboratório “não era um lugar seguro para ninguém ir”.

Os elementos da consciência

Titchener apresentou três propostas básicas para a psicologia:

1. reduzir os processos conscientes aos seus componentes mais simples


2. determinar as leis de associação desses elementos da consciência
3. conectar os elementos às suas condições fisiológicas

Titchener definiu três estados elementares da consciência: o estado da sensação, o da


imagem e os estados afetivos. As sensações são elementos básicos da perceção e estão
presentes nos sons, nas visões, nos cheiros e nas experiencias provocadas pelos objetos físicos
do ambiente. As imagens são elementos das ideias e encontram- se no processo que reflete as
experiencias não realmente presentes no momento, como lembrança de uma experiência do
passado. Os estados afetivos, ou as afeiçoes, são elementos da emoção e encontram-se nas
experiencias como o amor, o ódio e a tristeza.

Cada elemento é considerado consciente e distinto dos demais, podendo haver a


combinação entre eles para a formação das perceções e das ideias.

As características dos elementos mentais – embora básicos e irredutíveis, os elementos


mentais podem ser categorizados, do mesmo modo que os elementos químicos são agrupados
em classes. Apesar da simplicidade, os elementos mentais são dotados de atributos distintivos.
Aos atributos de qualidade e intensidade definidos por Wundt, Titchener adicionou a duração
e a nitidez. Essas quatro características eram consideradas fundamentais, já que estão
presentes, em certo grau, em toda a experiencia.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 16


 Qualidade é a caraterística como o “frio” ou “vermelho” que distingue claramente um
elemento de todos os demais
 Intensidade refere-se à força, fraqueza, sonoridade ou brilho de uma sensação
 Duração é o curso da sensação a longo prazo
 Nitidez refere-se à função da atenção na experiencia consciente; uma experiencia no
foco da nossa atenção é mais nítida do que a que não seja alvo da nossa atenção.

As sensações e as imagens possuem todos esses quatro atributos, todavia os estados


afetivos são dotados apenas de três: a qualidade, a intensidade e a duração, não possuindo a
nitidez. Porque Titchener acreditava ser impossível concentrar a atenção diretamente num
elemento de emoção ou sentimento. Quando tentamos faze-lo a qualidade afetiva como a
tristeza ou a satisfação desaparece. Alguns processos sensoriais, especialmente a visão e o
tato, são dotados de outro atributo, a extensão, já que envolvem a noção espacial.

Titchener reconhecia que algumas qualidades mal definidas podem ocorrer durante o
pensamento, no entanto afirmava que, ainda assim, consistiam em sensações ou imagens.

Os alunos da pós-graduação de Cornell realizaram muita pesquisa relacionada com os


estados afetivos e as suas constatações levara Titchener a rejeitar a teoria tridimensional dos
sentimentos de Wundt. Titchener alegava que o afeto estava presente apenas numa dimensão
– no prazer/desprazer – e rejeitava as dimensões de tensão/relaxamento e
excitação/depressão definidas por Wundt.

No final da sua vida, Titchener alterou de forma significativa a sua psicologia estrutural.
Começou a trabalhar no que imaginava ser a exposição completa do seu sistema. Por volta de
1918 não abordava mais o conceito de elementos mentais nas aulas e afirmava que a
psicologia devia dedicar-se ao estudo das dimensões ou dos processos mentais mais amplos –
qualidade, intensidade, duração, nitidez e extensão - enão nos elementos básicos.

Na década de 1920, Titchener colocou em dúvida em duvida o uso do termo “psicologia


estrutural” e passou a chamar à sua abordagem de psicologia existencial. Reavaliou o seu
método de introspeção e adotou o tratamento fenomenológico, examinando a experiência
como um todo e não dividida em elementos.

Essa mudança de perspetiva foi drástica e, se Titchener tivesse vivido tempo suficiente
para implementá-la, ela teria alterado radicalmente o destino e a visão da psicologia
estrutural.

Críticas ao estruturalismo

Titchener acreditava estar a estabelecer uma base para a psicologia, no entanto os seus
esforços fizeram parte apenas de uma fase da historia da disciplina. O estruturalismo morreu
juntamente com Titchener. O facto de ser mantido por tanto tempo deve-se exclusivamente à
admiração da sua personalidade dominadora.

Criticas à introspeção

As críticas ao método de introspeção não eram novidade. As criticas mais relevantes


em relação ao método de introspeção estavam voltadas ao tipo de observação praticada nos
laboratórios de Wundt e Külpe.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 17


O filosofo positivista Auguste Comte criticou o método introspetivo, alegando que, se a
mente fosse capaz de observar as próprias atividades, teria de se dividir em duas partes: um
observadora e outra observada e, para ele, obviamente, isso era impossível.

O médico inglês Henry Maudsley também fez criticas à introspeção e falou sobre a
psicopatologia.

Um dos alvos das criticas era a definição, já que Titchener aparentemente tinha
dificuldade em definir exatamente o significado do método introspetivo. Ele tentava explica-lo,
relacionando-o com condições experimentais específicas.

O segundo alvo das criticas à metodologia de Titchener estava relacionado com a


tarefa exata que os observadores estruturalistas eram treinados para executar. Os críticos
também alegavam ser a introspeção, na verdade, uma forma de retrospeção, porque havia um
intervalo de tempo entre a experiencia e o seu relato.

No entanto, Titchener continuava a acreditar que os seus observadores treinados,


continuariam a realizar automaticamente a observação, sem alterar conscientemente a
experiência.

Mais criticas ao sistema de Titchener

A introspeção não era o único alvo das criticas. O movimento estruturalista foi acusado
de artificial e estéril na tentativa de analisar os processos conscientes a partir dos elementos
básicos. Os críticos afirmavam não ser possível resgar a totalidade da experiencia partindo
posteriormente de qualquer associação ou combinação das partes elementares.

A definição estruturalista da psicologia tornara-se alvo de ataques. Nos últimos anos


da vida de Titchener, os estruturalistas tinham excluído varia especialidades do projeto de
Titchener, porque eles não estavam de acordo com a sua visão da psicologia. Titchener não
considerava a psicologia infantil e a animal como psicologia.

Contribuições do estruturalismo

Apesar de todas essas criticas, os historiadores dão o devido credito às contribuições


de Titchener e dos estruturalistas.

Embora o objeto de estudo e os propósitos dos estruturalistas não sejam


fundamentais, o método de introspeção, mais amplamente definido como relato oral baseado
na experiencia, ainda é utilizado nas diversas áreas da psicologia.

Os relatórios introspetivos que envolvem processos cognitivos como o raciocínio são


frequentemente usados na psicologia atual. A psicologia cognitiva, com interesse nos
processos conscientes, vem conferir maior legitimidade à introspeção.

Outra contribuição importante do estruturalismo foi ter sido alvo de criticas. O


estruturalismo proporcionou o estabelecimento de forte ortodoxia contra a qual os mais
recentes movimentos da psicologia puderam concentrar as suas forças. Essas novas escolas de
pensamentos existem devido à reformulação progressiva da posição estruturalista. Os avanços
científicos pedem a existência de uma oposição. Com o estruturalismo de Titchener, sendo o
alvo da oposição, a psicologia superou os seus limites iniciais.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 18


Funcionalismo: as influencias anteriores (pág. 121 a 143)
O protesto funcionalista

O funcionalismo refere-se, assim como o nome indica, ao funcionamento da mente ou


ao uso que o organismo dela faz para alimentar-se ao ambiente. Os funcionalistas não
estudavam a mente do ponto de vista da sua composição – dos elementos básicos ou da sua
estrutura – mas como um conglomerado de funções e processos que resultam em
consequências praticas no mundo real.

Sendo o primeiro sistema de psicologia exclusivamente americano, o funcionalismo


consistia num protesto contra a psicologia experimental de Wundt e a psicologia estruturalista
de Titchener, ambas consideradas excessivamente restritas.

Os funcionalistas interessam-se pela possível aplicação da psicologia aos problemas


quotidianos relacionados com a reação e a adaptação das pessoas dos diferentes ambientes. A
herança mais importante do movimento funcionalista nos EUA foi a rápida evolução da
psicologia aplicada.

Precursores do funcionalismo

A maior parte dos trabalhos a respeito das funções da consciência, das diferenças
individuais e do comportamento animal estava a realizar-se ao mesmo tempo que Wundt e
Titchener optavam por excluir essas áreas das suas definições de psicologia. Somente com a
chegada da nova psicologia aos EUA é que as funções mentais, as diferenças pessoais e os
ratos de laboratório ganharam destaque na psicologia.

A revolução da teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882)

A obra de charles Darwin, “on the origin of species by means of natural selection”,
publicada em 1959 é um dos livros mais importante de todos os tempos. A teoria da evolução
apresentada no seu trabalho teve um enorme impacto na psicologia contemporânea
americana, que deve a sua forma e substancia a Darwin, mais do que a qualquer outra ideia ou
pessoa.

A hipótese de que os seres vivos mudam com o tempo, noção fundamental da


evolução, não surgiu com Darwin. Outros intelectuais anteciparam essa ideia já no seculo V
a.C., mas somente no final do século XVIII a teoria foi investigada de forma sistemática. O
fisiologista inglês Erasmus Darwin (avo do Darwin e do Galton) afirmava que todos os animais
de sangue quente tinham evoluído de um único filamento vivo e animado por deus.

Em 1809 o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck formulou a teoria


comportamentalista da evolução, que enfatizava a modificação das características físicas do
animal mediante o reforço de adaptação ao ambiente. Lamarck sugeria que essas
modificações eram herdadas de geração para geração. Por exemplo: a girafa desenvolveu o
seu longo pescoço durante varias gerações devido à necessidade de alcançar os galhos cada
vez mais altos para obter comida

Em meados da década de 1800 o geólogo britânico Charles Lyell introduziu a noção da


evolução na teoria geológica, argumentando que a terra tinha passado por vários estágios de
desenvolvimento ate chegar à estrutura atual.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 19


Os intelectuais procuravam uma resposta alternativa para a criação, para além da
doutrina bíblica da criação. Os cientistas obtinham cada vez mais conhecimento das espécies já
conhecidas e obtinham novo conhecimento das espécies desconhecidas. Foram tantas as
descobertas que não havia como os pesquisadores continuarem a acreditar na doutrina bíblica
da criação. Na década de 1830 os ingleses e europeus viram pela primeira vez especeis de
animais muito semelhantes aos seres humanos. Um ano antes de Darwin regressar de uma
viagem de exploração que durou 5 anos, um chimpanzé chamado Tommy foi exibido no
zoológico de londres. Os visitantes ficavam ansiosos para vê-los comportarem-se como
crianças, no entonto a maior parte dos visitantes considerava o espetáculo perturbador.
Portanto, animais como os orangotangos chimpanzés e macacos exibem comportamentos
quase ao mesmo nível que os humanos.

Os exploradores também descobriram fosseis e ossadas de criaturas que não


correspondiam aos das espécies existentes, esqueletos aparentemente pertencentes a animais
que em algum momento habitaram a terra, mas que por alguma razão se extinguiram.

As pessoas desejavam saber o que aqueles fosseis e ossadas poderiam revelar sobre a
origem do homem. Para os cientistas o crescente numero desses artefactos dava indicações de
que as formas vivas não poderiam ser consideradas constantes, imutáveis desde o inicio dos
tempos e deviam ser vistas como sujeitas mudanças e modificações. As espécies antigas
evidentemente tornaram-se extintas dando lugar a novas, sendo algumas delas versões
alteradas das formas existentes. Talvez tudo na natureza tivesse resultado de mudanças e
ainda continuasse no processo de evolução.

A crescente denominação da ciência contaminava as atitudes populares. As pessoas


estavam cada vez menos convencidas das ideias a respeito da natureza humana e da
sociedade baseadas nos dogmas das antigas autoridades religiosas, mais pelo contrário,
estavam dispostas e desejosas para transferir essa crença para a fé cientifica.

A atmosfera intelectual dos tempos produziu a noção de evolução nas apenas


respeitável cientificamente como também necessária. Entretanto durante muito tempo os
estudiosos analisaram, especularam e levantaram hipóteses, mas ofereceram poucas provas
concretas. Então Darwin no seu livro OTOOS apresentou informações tao bem organizadas que
a teoria da evolução não pode ser ignorada.

A biografia de Darwin

Quando era criança, Darwin dava poucas indicações de que se tornaria um cientista
tao dedicado e entusiasmado. Era rude e maldoso, mentia e roubava para chamar a atenção.
Ele parecia tao pouco promissor que o seu pai, médico rico, acreditavam que o jovem Darwin
acabaria por ser o desgraçado da família. Embora o seu desempenho escolar fosse fraco,
demonstrava interesse pela historia natural e colecionava moedas, minérios e rochas. O pai de
Darwin mandou-o para a universidade de Edinburgh para estudar medicina, mas o jovem
fartou-se e começou a mostrar-se entediado. Como resposta, o pai disse-lhe que Darwin se
deveria de tornar clérigo.

Darwin passou três anos na universidade de Cambridge e achou a experiência uma


perda de tempo, pelo menos do ponto de vista académico. No âmbito social, no entanto,
achou fantástico, tendo sido esse o período mais feliz da sua vida.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 20


Um dos seus professores conseguiu uma indicação para que Darwin como naturalista
para fazer parte da excursão do HMS Beagle, um navio que o governo britânico estava
preparado para uma viagem cientifica ao redor do mundo. A famosa excursão, que durou de
1831 a 1836 explorou as águas da América do Sul seguindo para o Taiti e a nova Zelândia e
retornou à Inglaterra, passando pela ilha ascensão e pelos açores. Todavia Darwin quase foi
recusado para trabalhar a bordo do navio por causa do formato do seu nariz.

A viagem rendeu a Darwin a oportunidade de ele observar uma variedade de vida


animal e vegetal e de “colecionar” novas espécies e enormes quantidades de dados. A viagem
também mudou a sua personalidade. Darwin regressou à Inglaterra como cientista dedicado e
com uma nova paixão: desenvolver a teoria da evolução.

Casou-se em 1839 e três anos depois mudou-se com a esposa para um local longe da
agitação urbana de londres e pode, finalmente, concentrar-se no seu trabalho. Sempre teve
uma saúde frágil tendo a sua casa de transformado numa verdadeira “enfermaria onde
ninguém era saudável, onde a doença era regra e a saúde exceção”.

A doença tornou-se um mecanismo conveniente, protegendo-o dos afazeres e


proporcionando-lhe a solidão e a contração necessárias para ele criar e desenvolver a sua
teoria.

A ideia de evolução tinha sido condenada pelas autoridades religiosas conservadores e


ate em alguns meios académicos. Ele sabia que quando publicasse o livro, seria condenado por
heresia. Percebeu que essas preocupações com o trabalho eram a causa dos seus persistentes
males físicos. Esperou 22 para apresentar publicamente as suas ideias porque desejava ter a
certeza de que, ao faze-lo, a teoria estaria perfeitamente apoiada em provas científicas
incontestáveis. Assim Darwin prosseguiu no trabalho com calma e com cuidado
extremamente rigoroso. Manteve em segredo a maior parte do seu trabalho e compartilhava
as suas ideias apenas com os amigos mais íntimos. Durante mais de 15 naos Darwin elaborou,
trabalhou nos dados e aperfeiçoou-os para que todos os aspetos da sua teoria fossem
inquestionáveis.

Ninguém sabe ao certo quanto tempo mais ele teria estendido o seu trabalho se não
tivesse recebido uma carta chocante de uma pessoa chamada Alfred Russel Wallace 14 anos
mais novo que Darwin. Wallace esboçou uma teoria da evolução nitidamente semelhante à de
Darwin embora não estivesse tão rica como a dele, e apenas demorou 3 dias a ficar completa.
Wallace pedia opinião a Darwin para publicá-la.

Wallace não recebeu o reconhecimento proporcional pelo desenvolvimento de uma


teoria tao semelhante à de Darwin. Na verdade, a sua reação foi praticamente o contrário.
Quando soube que o seu trabalho e o de Darwin seriam lidos na sociedade Lenneana, Wallace
declarou ter recebido “mais reconhecido e credito do que merecia”. Mostrou-se satisfeito
quando soube que, ao mandar os papeis para Darwin, ele fora o “meio inconsciente que fez
que Darwin se concentrasse na tarefa” para completar um dos livros mais importantes da
historia.

A origem das espécies por meio da seleção natural

A teoria da evolução darwiniana é muito conhecimento. A partir do facto da variação entre os


membros individuais de uma espécie, Darwin deduziu ser essa variabilidade espontânea
transmitida de uma geração para outra. Na natureza, o processo de seleção natural resulta da

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 21


sobrevivência dos organismos mais adaptados ao seu ambiente e na eliminação dos mais
fracos. A batalha pela sobrevivência é constante e as formas de vida sobreviventes são as que
se adaptam ou se ajustam como êxito às circunstancias ambientais a que forem expostas.
Resumindo: as espécies que não se adaptam são extintas.

Darwin formulou as ideias sobre a luta pela sobrevivência e a sobrevivência do mais


apto após a leitura, de autoria do economista Thomas Malthus. Então, somente os mais fortes,
espertos e adaptáveis sobreviriam.

Darwin aplicou o principio malthusiano a todos os organismos humanos para


desenvolver a sua teoria da seleção natural. Esses seres vivos que sobrevivem à batalha e
atingem a maturidade tendem a transmitir aos seus descentes as mesmas habilidades e
vantagens que lhes permitem prosperar. Alguns descentes acabaram por ter as suas boas
qualidades mais desenvolvidas do que os pais. As qualidades tendem a sobreviver ao longo de
varias gerações ocorrem mudanças que podem ser bastante significativas a ponto de
produzirem as diferenças observadas hoje entre as espécies.

A seleção natural não foi o único mecanismo da evolução reconhecido por Darwin. Ele
também concordava com a doutrina de Lamarck de que as modificações na forma, derivadas
da experiencia durante o ciclo de vida do animal, podem ser transferidas ás gerações
subsequentes.

Thomas henry Huxley e a polemica sobre a evolução – á medida que os estudiosos de


diversas áreas aderiam à teoria da evolução ou a detestavam, o próprio Darwin permanecia à
parte e não se interessava em participar nas crescentes discussões.

Huxley, ambicioso biólogo que foi a força diretriz no estabelecimento da ciência


inglesa, estava disposto a se envolver nas polemicas e foi um dos defensores mais ávidos da
teoria.

Darwin chamava a Huxley de seu “bom e gentil agente programador do evangelho” da


evolução.

No período de um ano apos a publicação de OTOOS a associação britânica para o


progresso da ciência promoveu um debate a respeito do evolucionismo na universidade de
Oxford. Os amigos e defensores de Darwin pressionavam-no a participar no debate, no
entanto ele não suportava a ideia de ter de se defender em publico.

A evolução desafia a religião. Embora alguns lideres religiosos aceitassem a teoria da


evolução, a maioria considerava-a uma ameaça, pois desafiava a interpretação bíblica literal
sobre a criação de deus. Um religioso importante acusou a teoria de “tentativa de destituir
deus”.

Em 1925, no famoso “experimento com macacos” realizado em Dayton no Tennessee,


John T. Scopes, professor do ensino medio, foi condenado por ensinar a teoria da evolução.
Quase meio seculo mais tarde, em 1972, uma autoridade religiosa do Tennessee acusou a
teoria de Darwin de “fomentar a corrupção, a luxuria, a imoralidade, a ganancia e os atos
criminosos como o consumo de drogas, a guerra e as atrocidades do genocídio”. Em 1968, a
suprema corte americana derrubou a lei que proibia o ensino da teria da evolução nas escolas
publicas, mas uma pesquisa realizada em 1985 revelou que metade de uma amostragem
nacional de americanos adultos rejeitava a versão do evolucionismo.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 22


Em 1987, a suprema corte americana votou contra um projeto de lei do estado da
Louisiana que exigia que, se a teoria da evolução fosse ensinada nas escolas publicas, o
“criacionismo” (visão bíblica da origem das espécies) deveria igualmente constar no currículo
escolar. Em 1990, o conselho estadual da educação do Texas aprovou a adoção de livros
didáticos de ciências que tratam da teoria da evolução, apesar da objeção de um terço dos
membros.

Em 1999, o conselho estadual da educação do Kansas votou pela eliminação de


qualquer menção à teoria da evolução do currículo das escolas publicas. Assim, a batalha
iniciada por charles Darwin ainda persiste, um seculo e meio depois.

O argumento da supremacia da raça branca – outro alvo de ataque na teoria de


Darwin logo apos a sua publicação viria daqueles que defendiam a doutrina da supremacia
branca. Essas pessoas acreditavam na superioridade herdada da raça branca e a consequente
inferioridade das demais. Esse ponto de vista racista denunciava a ideia de que negros e
brancos houvessem evoluído dos mesmos ancestrais, porque, se todas as raças tivessem a
mesma origem, como é que os brancos poderiam ser superiores.

Outros trabalhos de Darwin – Darwin logo desviou a sua atenção dos debates da
época e desenvolveu outro trabalho importante para a psicologia. O segundo importante
trabalho sobre a evolução, The descent of man, reunia as provas da evolução humana a partir
das formas de vida mais simples, enfatizando a semelhança entre os processos mentais
humanos e animais.

Darwin realizou um estudo intensivo das expressões emocionais nos humanos e nos
animais. Sugeriu que as mudanças dos gestos e das posturas típicas de vários estados
emocionais poderiam ser interpretadas com base no evolucionismo. Na obra “the expression
of the emotions in man and animals”, explicou expressões emocionais com vestígios dos
movimentos que em dado momento tiveram alguma função pratica.

Darwin alegava que as expressões faciais e a chamada linguagem corporal eram


“manifestações inatas e incontroláveis” dos estados emocionais internos. Por exemplo: a dor
era acompanhada de gestos e o prazer de um sorriso. Darwin afirmava que esses tipos de
expressões humanas e de outras espécies animais surgiram por meio da evolução.

A evolução em andamento: o bico dos tentilhões

Darwin realizou varias das suas observações a respeito da variação entre as espécies
quando esteve nas ilhas Galápagos, no oceano pacifico, próximo à costa da América do sul.
Observou como os animais da mesma espécie tinham evoluído de formas diferentes em
respostas às diversas condições ambientais.

Seguindo os passos de Darwin, os biólogos peter e rosemary Grant, da universidade de


Princeton, acompanhados de um grupo dedicado de estudantes de pós-graduação, visitaram
as ilhas para monitorizar as modificações encontradas nas gerações subsequentes de 13
espécies de tentilhões, decorrentes da adaptação dos pássaros às drásticas mudanças
ambientais. O programa da pesquisa começou em 1973 e durou mais de 20 anos. Os
pesquisadores testemunharam a evolução em andamento, observando as diferenças nas
pequenas aves cantoras de uma geração à outra. Os Grants chegaram á conclusão de que
Darwin tinha subestimado a forçada seleção natural. No caso dos tentilhões, a evolução era
mais rápida do que se imaginava.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 23


As variações observadas numa espécie de tentilhão iniciaram durante um rigoroso
período de seca que afetava o suprimento alimentar das aves, reduzindo-o a pequenas
sementes duras e pontiagudas. Somente os tentilhões de bico mais grosso, cerca de 15% da
população, quebrava e abriam as sementes. Muitas aves de bicos finos não conseguiram abrir
as sementes e logo morreram. Portanto, sob essas condições de seca, os bicos mais grossos
eram ferramentas necessárias para a adaptação quando essas aves de bicos mais espessos se
reproduziam, a sua ninhada também herdava essas características, com bicos de 4% a 5%
maiores do que os seus ancestrais antes da seca. Em apenas uma geração, a seleção natural
produzira uma espécie mais adaptada e forte.

Logo vieram as chuvas, com enormes tempestades e enchentes que varreram da ilha
as sementes graúdas, deixando apenas as miúdas como forte da alimentação dos pássaros.
Agora as aves de bicos mais grossos estavam em desvantagem, pois não conseguiam comer a
quantidade desejada. Era nítida a necessidade de bicos mais finos para a sobrevivência. A
partir dai, é fácil deduzir o que aconteceu.

Na geração seguinte o tamanho médio do bico era menor. Mais uma vez a espécie
tinha evoluído, adaptando-se às mudanças do seu ambiente. Assim como Darwin previu,
apenas os mais aptos sobreviveram.

A influência de Darwin na psicologia

O trabalho de Darwin, bem no final do século XIX influenciou a psicologia


contemporânea mediante:

 O enfoque na psicologia, que formatou a base da psicologia comparativa


 A enfase nas funções e não na estrutura da consciência
 A aceitação da metodologia e dos dados de diversas áreas
 A abordagem na descrição e mensuração das diferenças individuais

A teoria da evolução suscitou a intrigante possibilidade da continuidade do


funcionamento mental entre os humanos e os animais inferiores. Se a mente humana
fosse uma evolução das mentes mais primitivas, então será que haveria semelhanças
entre o funcionamento metal e dos homens? Dois seculos antes descartes insistira em
haver uma diferença entre o funcionamento humano e o animal. Agora a questão
voltava à tona.

Os psicólogos perceberam a importância do estudo do comportamento animal


para a compreensão do comportamento humano e concentraram a pesquisa no
funcionamento mental dos animais, introduzindo um novo tópico de laboratório de
psicologia. A investigação da psicologia animal viria a exercer grande impacto no
desenvolvimento da área. A teoria da evolução provocou também uma mudança no
objeto de estudo e na meta de psicologia. O enfoque da escola de pensamento
estruturalista era a analise do conteúdo da consciência. O trabalho de Darwin inspirou
alguns psicólogos que trabalhavam nos EUA a analisarem as funções da consciência.
Para alguns pesquisadores, esse enfoque pareceu mais importante do que a
descoberta de qualquer elemento estrutural da consciência. E assim, gradualmente, à
medida que a psicologia se dedicava mais ao estudo do funcionamento do ser humano
e dos animais na adaptação ao seu ambiente, a investigação detalhada dos elementos
mentais, iniciada por Wundt e Titchener, perdia o seu apelo.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 24


Os métodos de Darwin, que produziam resultados aplicáveis tanto nos seres
humanos como nos animais, não tinham qualquer semelhança com as técnicas
baseadas na filosofia. Os dados de Darwin foram obtidos de diversas fontes, incluindo
a geologia, a arqueologia, a demografia, as observações de animais selvagens e
domésticos e a pesquisa com a reprodução. Foram as informações obtidas de todos
esses campos que deram suporte à sua teoria.

Essa foi uma prova tangível impressionante da possibilidade de os cientistas


estudarem a natureza humana adotando técnicas que não a introspeção experimental.
Seguindo o exemplo de Darwin, os psicólogos que aceitava a teoria evolucionista e a
sua enfase nas funções da consciência tornaram-se mais ecléticos em relação aos seus
métodos de pesquisa, expandido, assim, nos tipos de informações obtidos.

Outro efeito da evolução na psicologia foi o crescente enfoque nas diferenças


individuais. Durante a viagem do beagle, Darwin observou varias espécies e formas, de
modo a que, para ele, era evidente a relação entre os membros da mesma espécie. Se
cada geração fosse idêntica aos seus ancestrais não haveria evolução. Portanto essas
variações, ou seja, essas diferenças individuais consistiam num principio importante do
evolucionismo.

Enquanto os psicólogos estruturalistas continuavam a buscar as leis gerais que


abrandecem toda a mente, os psicólogos influenciados pelas ideias de Darwin
procuravam as diferenças mentais individuais logo apresentaram técnicas para medir
essas diferenças.

Diferenças individuais: Francis Galton (1822-1911)

O trabalho de Galton a respeito da herança mental e das diferenças individuais da


capacidade humana incorporou efetivamente o espirito da evolução da nova
psicologia. Apresentava uma grande variedade de diferenças individuais da capacidade
humana. Huarte sugeria que as crianças começassem a estudar desde cedo para que a
educação pudesse ser planeada individualmente de acordo com as suas habilidades.

O livro de Huarte teve alguma repercussão, no entanto as suas ideias não eram
formalmente seguidas antes de Galton.

A biografia de Galton

Galton era dotado de extraordinária inteligência. Entre alguns tópicos da sua


pesquisa estão por exemplo, as impressões digitais. Ele inventou uma versão inicial da
impressora de telétipo, um dispositivo para abrir cadeados e um periscópio que lhe
permitia olhar sobre as cabeças das pessoas num desfile de rua.

Galton era o mais novo de nove filhos e nasceu em 1822, nas proximidades
Birmingham na Inglaterra. O seu pai era banqueiro prospero cuja família era abastada
e socialmente destacada. Aos 16 anos Galton começou a aprender medicina no
hospital de Birmingham, como assistente de medico. Entretanto, não achava uma
experiencia prazerosa e continuava somente por pressão do pai.

Um incidente ocorrido durante a aprendizagem de Galton é um exemplo da sua


curiosidade. Desejando conhecer os efeitos dos diversos medicamentos da farmácia,
ele passou a tomar pequenas doses de cada um e a anotar a sua reação, iniciando, de

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 25


forma sistemática, com os que começavam com a letra “A”. Essa aventura cientifica
teve fim na letra “C”, quando tomou uma dose de óleo de cróton um forte laxante.

Continuou os seus estudos de medicina no King’s College, em londres. No ano


seguinte mudou os planos e matriculou-se no trinity college da universidade de
Cambridge. Ali, diante do olhar do busto de sir Isaac Newton, procurou seguir o seu
interesse pela matemática. Embora o seu trabalho tivesse sido interrompido por um
profundo surto metal, conseguiu formar-se. Retomou o odioso estudo da medicina,
até que a morte do seu pai o libertou finalmente daquela profissão.

Viajou por toda a africa, relatou todas as viagens o que lhe rendeu uma medalha
da Royal Geographic Society. Na década de 1850, parou de viajar, alegando como
causas o casamento e a sua saúde frágil, mas manteve o interesse pela exploração e
escreveu um famoso guia intitulado “The art of travel”. Livro fez tanto sucesso que foi
publicado em 8 edições em 8 anos e reimpresso em 2001. Galton também organizava
expedições para exploradores e dava orientações sobre a vida no campo a soldados
em treinamento para servirem nos países estrangeiros.

A sua inquietação mental conduziu-o em seguida à meteorologia e à criação de


instrumentos para juntar informações meteorológicas. O seu trabalho nesse campo
resultou no desenvolvimento do tipo de mapa meteorológico usado até hoje. Galton
resumiu as suas descobertas num livro considerado a primeira tentativa de cartografar
em grande escala os padrões de meteoros.

Quando o seu primo Darwin publicou OTOOS, Galton ficou fascinado com a nova
teoria. O primeiro ponto a chamar-lhe à atenção foi o apeto biológico da evolução, e
assim ele realizou uma pesquisa sobre os efeitos das transfusões de sangue entre os
coelhos para descobrir se as características adquiridas seriam herdadas. Embora o seu
interesse pelo lado genético do evolucionismo não tivesse durado muito tempo, as
implicações sociais da teoria direcionaram o seu trabalho subsequente e
determinaram a sua influência na psicologia moderna.

A herança mental

O primeiro livro importante de Galton para a psicologia foi Hereditary Genious


(1869). Quando Darwin o leu escreveu a Galton, dizendo-lhe nunca ter lido algo tao
interessante e original. Galton procurou demonstrar que a grandeza ou a genialidade
individual ocorria com tanta frequência dentro das famílias que a mera explicação da
influencia ambiental não era suficiente. Resumindo: a sua tese afirmava que o homem
notável teria filhos homens notáveis.

A maioria dos estudos biográficos descritos por Galton em Hereditary Genious


eram pesquisas sobre os ancestrais influentes cientistas e médicos contemporâneos.
Os dados demonstram que uma pessoa famosa herdava apenas a genialidade, como
também a sua forma especifica. Por exemplo: um grande cientista nascia numa família
que já se tivesse destacado na ciência.

O objetivo de Galton era incentivar o nascimento de indivíduos mais notáveis ou


mais aptos na sociedade e desencorajar o nascimento dos inaptos. Para essa finalidade
fundou a ciência da “eugenia”, palavra por ele cunhada. Galton desejava impulsionar o
aperfeiçoamento das qualidades herdadas da raça humana. Os seres humanos, assim

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 26


como os animais de criação, poderiam ter características melhoradas mediante a
seleção artificial. Se as pessoas de muito talento fossem selecionadas e acasaladas
geração apos geração, o resultado seria uma ela humana extremamente talentosa.
Propôs o desenvolvimento de testes de inteligência para selecionar homens e
mulheres brilhante, destinados à reprodução seletiva, e recomendou, que os melhores
recebessem incentivos financeiros para se casarem e procriarem.

A probabilidade de superioridade em algumas famílias não era alta o suficiente para


Galton aceitar seriamente qualquer possibilidade de influência de um ambiente superior,
como melhores oportunidades educacionais ou vantagens sociais. O seu argumento era de
uma eminencia ou a sua ausência deviam-se exclusivamente a uma função hereditária e não à
oportunidade.

Galton fundou o laboratório de Eugenia na universidade de londres, e uma organização


para promover as suas ideias à cerca do aperfeiçoamento das qualidades manetais da raça
humana.

Métodos estatísticos

Galton nunca ficava totalmente satisfeito com um problema ate encontrar alguma
maneira de quantificar os dados e analisa-los estatisticamente. Quando precisava ate
desenvolvia os próprios métodos.

Testes mentais

A expressão testes mentais foi cunhada por James Mckeen Cattell, discípulo americano
de Galton e aluno de Wundt. Entretanto foi Galton quem deu origem ao conceito de testes
mentais. Ele imagina que a inteligência podia ser medida com base na capacidade sensorial
individual e que, quanto mais inteligente, mais alto seria o nível de funcionamento sensorial do
individuo. Galton extraiu essa ideia da visão empirista de John Locke de que todo o
conhecimento é adquirido por meio dos sentidos. Se Locke estivesse correto, as pessoas mais
inteligentes teriam os sentidos mais apurados.

Teste mentais – testes de habilidade motora e capacidade sensorial; os testes de


inteligência usam medições complexas de habilidade mental.

A fim de atingir os seus objetivos, Galton precisava de inventar um aparelho que


realizasse medidas sensoriais de grande numero de pessoas com rapidez e precisão. Por
exemplo: para determinar a frequência sonora mais alta, passível de deteção, inventou um
apito que testou em animais e em seres humanos. Caminhava pelo zoológico de londres com
uma bengala que tinha o apito afixado numa ponta e na outra uma espécie de beiga de
borracha que ele apertava para tocar o apito, enquanto observava a reação dos animais. O
apito de Galton tornou-se uma peça-padrão entre os equipamentos do laboratório de
psicologia até ser substituído, na década de 1930, por um dispositivo eletrónico mais
sofisticado.

Entre outros instrumentos usados por Galton estão o fotômetro, para medir a precisão
com que uma pessoa consegue encontrar dois pontos da mesma cor, um pendulo calibrado
para medir a velocidade de reação à luz e ao som e uma serie de pensos ordenados para medir
a sinestesia ou a sensibilidade muscular. Criou ainda uma barra co varias medidas de distancia
para testar a estimativa de extensão visual e conjuntos de recipientes contendo diversas

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 27


substancias para testar s distinção olfativa. Na sua maioria. Os testes de Galton serviram como
protótipos para equipamentos que se tornaram padrão de laboratório.

Munido dos seus testes Galton prosseguiu e juntou uma enorme quantidade de dados.
Fundou o laboratório antropométrico na international health exhibiton, 1884.

Ele arrumava os instrumentos para as medidas psicométricas e antropométricas sob


uma mesa comprida, no fundo de uma sala e estreita, de mais ou menos 2m de largura por
11m de cumprimento. Mediante o pagamento de uma pequena taxa, o visitante entrava,
passava por todo o cumprimento da mesa e um atendente realizava a avaliação e registava os
dados num cartão.

Alem dessas medidas mencionadas, os funcionários do laboratório registavam a altura,


o peso, a capacidade respiratória, a força da impulsão e compreensão, a rapidez de sopro,
audição, a visão e a perceção cromática. Casa pessoa passava por um total de 17 testes. O
objetivo do programa de testes em grande escala de Galton era nada mais nada menos que a
definição da variedade da capacidade humana de toda a população britânica para determinar
os seus recursos metais coletivos.

A associação de ideias

Galton trabalhou em dois problemas relacionados com a área da associação:

1. A diversidade de associações de ideias


2. O tempo de reação (o tempo necessário para a produção de associações)

Um dos métodos usados por Galton para estudar a diversidade de associações era
caminhar cerca de 400m pela rua de pall mall (londres) concentrando a sua atenção
num objeto ate que ele lhe incitasse uma ou duas associações de ideias.

A primeira vez em que realizou essa experiência surpreendeu-se com o numero de


associações provocadas por cerca de 300 objetos que vira. Muitas dessas associações
eram lembranças de experiências do passado, inclusive de incidentes que pensava ter-
se esquecido há muito tempo. Ao repetir a caminhada alguns dias despois, constatou
uma considerável repetição das associações ocorridas na primeira experiencia, o que
pós fim ao seu interesse na questão. Voltou-se para as experiencias sobre o tempo de
reação, que produziram resultados mais satisfatórios.

Preparou uma lista de 75 palavras e escreveu cada qual numa tira de papel
separada. Depois de uma semana, leu uma palavra de cada vez e, com o cronometro,
registou o tempo que levou para produzir duas associações para cada palavra. Muitas
delas consistiam em apenas uma palavra, mas algumas eram imagens e figuras
mentais que exigiam diversas palavras para descreve-las. A tarefa seguinte era
determinar a origem dessas associações. Identificou cerca de 40% dos acontecimentos
da infância e da adolescência, demonstração inicial da influência das experiencias da
infância na personalidade adulta.

Galton também ficou bastante impressionado com a influencia dos processos de


pensamento do seu inconsciente, que trouxeram para o nível consciente incidentes
que acreditava ter esquecido há muito tempo atras.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 28


Mais importante que os resultados foi o método experimental que Galton
desenvolveu para estudar as associações, hoje conhecido como o teste de associação
das palavras.

Imagens mentais

As pesquisas de Galton a respeito das imagens mentais marcaram a primeira


aplicação ampla do questionário psicológico. Pedia-se as pessoas que se lembrassem,
de alguma cena, como por exemplo, a mesa do café da manha daquele dia, e
tentassem inferir imagens. Elas eram instruídas a relatar se as imagens eram obscuras
ou nítidas, claras ou escuras, coloridas ou não e assim por diante. Para sua surpresa, o
primeiro grupo de pessoas, cientistas conhecidos, não relatou nenhuma imagem
obtida. Alguns não entenderam muito bem do que Galton estava a falar.

Tomando uma amostragem mais ampla da população Galton obteve relatos de


imagens nítidas e bem distintas, cheia de detalhes e cores. As imagens descritas pelas
mulheres e pelas crianças eram mais concretas e detalhadas. Utilizando-se da analise
estatista, Galton descobriu que as imagens mentais, assim como muitas outras
características humanas, estavam distribuídas na população conforme a curva normal.

O trabalho de Galton sobre as imagens estava baseado na sua continua tentativa


de demonstrar as semelhanças hereditárias. Descobriu que a probabilidade de
ocorrência de imagens semelhantes era maior entre parentes do que entre pessoas
desconhecidas.

Aritmética olfativa e outros tópicos

A riqueza do talento de Galton fica evidente na variedade dos seus estudos de


pesquisa. Ele chegou a se colocar no estado mental de uma pessoa que sofre de
paranoia, imaginando que todos ou tudo que via o estivam a vigiar.

No auge da controvérsia entre o evolucionismo de Darwin e a teologia


fundamentalista, Galton estudou a questão com a objetividade necessário e concluiu
que, embora muitas pessoas tivessem fortes crenças religiosas, não havia provas
suficientes da sua validade.

Realizou uma pesquisa sobre o poder da oração na produção de resultados e


verificou que não tinha eficácia para os médicos curarem os pacientes ou para os
meteorologistas tentarem mudar as condições do tempo, nem para os religiosos
aplicarem-na na vida quotidiana. Acreditava haver pouca diferença entre as pessoas
possuidoras de fortes crenças religiosas e as que não possuíam, em termos de
expetativa de vida, de relacionamento interpessoal ou de enfrentamento dos próprios
problemas. Galton esperava que um conjunto de crenças mais efetivo pudesse ser
estruturado em termos científicos. Pensava que o desenvolvimento de uma ração
humana superior por meio da evolução, mediante a eugenia, devia ser a meta da
sociedade e não lugar no céu.

O seu interesse na quantificação e na analise estatística muitas vezes se


expressava no seu apego aos números. Um dia decidiu contar pelo cheiro e não pelos
números, e praticou bastante para puder esquecer o significado deles. Mas, em vez de
esquecer os números, atribuiu valores numéricos aos odores e aprendeu a adicionar e

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 29


a subtrair pensando no cheiro. Esse exercício intelectual deu origem a um trabalho
intitulado “Arithmetic by smell”

Comentários

Galton passou 15 anos a pesquisar problemas psicológicos e os seus esforços


tiveram impacto significativo na direção da nova psicologia, embora não fosse
realmente um psicólogo. O seu trabalho exerceu maior influencia na evolução da
psicologia americana do que o trabalho no fundador da disciplina, Wilhelm Wundt.

História e Epistemologia da Psicologia – Teste nº 1 30

Você também pode gostar