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em Serviço Social
Autoras: Profa. Silmara Cristina Ramos Quintana
Profa. Carla da Silva
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudella
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Profa. Daniela Emilena Santiago Dias de Oliveira
Professoras conteudistas: Silmara Cristina Ramos Quintana / Carla da Silva
Graduada em Serviço Social pela Faculdade de Serviço Social de Araraquara (1983); especialista em Psiquiatria e Psicologia de
Adolescentes pela Faculdade de Ciência Médicas/Unicamp (1990), Psicodrama Pedagógico/Animus (1996) e Orientação Educacional
e Vocacional/CBA (1994); Mestre em Medidas Socioeducativas pela Uniban (2010).
Atualmente é coordenadora e professora do curso de Serviço Social (UNIP – Campinas), professora do curso de pós-graduação
(lato sensu) em Gestão Social de Políticas Socais (UNIP Interativa – 2010-atual) e professora conteudista convidada pelo Grupo
Unisepe. Também é consultora, assessora e supervisora na área de políticas públicas (planejamento, execução e avaliação). Tem
experiência na área da docência e coordenação de curso de graduação e de pós-graduação em Serviço Social e Gestão Pública,
nas modalidades presencial e EaD e experiência como assistente social, atuando principalmente nos seguintes temas: criança e
adolescente, pessoa com deficiência, família, proteção social básica e especial, políticas publicas, sistema de garantia de direitos e
justiça restaurativa. É pesquisadora na área da justiça restaurativa.
Carla da Silva
Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) em 2005. É pesquisadora e
membro do grupo de estudos da ONG SOS Ação Mulher e Família e bolsista do CNPQ, doutoranda em Serviço Social com ênfase
em Políticas Sociais e Movimento Social, pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Serviço Social (2011) e especialista em Serviço Social, Saúde e Violência Urbana pelo
Programa de Aprimoramento Profissional da FCM da Unicamp (2007).
Tem experiência como assistente social, proteção básica, no Centro de Convivência Inclusivo e Intergeracional (Casa dos
Sonhos), em parceria com o Hospital Dr. Cândido Ferreira (saúde mental); proteção especial de média e alta complexidade
(atendimento a mulheres, crianças e adolescentes em situação de violência). Também tem experiência na docência desde 2011,
tendo ministrado disciplinas de graduação, curso de Serviço Social, e de pós-graduação, das instituições Unisepe-Unifia (Centro
Universitário Amparense), 2011-2014; Faculdade de Serviço Social do Instituto Superior de Ciências Aplicadas (Isca-Limeira),
2011‑2013; e UNIP (Campinas/Swift), 2013-2016. Atualmente é docente da Faculdade de Serviço Social PUC-Campinas, lecionando
as disciplinas com ênfase em Gênero, Política Social e Pública, Supervisora Acadêmica; e estágio em Direitos Humanos. Consultora
de equipes de trabalho da Política de Assistência Social.
CDU 001.8
U505.83 – 20
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Juliana Maria Mendes
Luanne Batista
Jacinara Albuquerque
Sumário
Projetos de Pesquisa em Serviço Social
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 CONSTRUÇÃO DO PRÉ-PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL........................................ 11
1.1 Por que pesquisamos?......................................................................................................................... 11
1.2 Levantamento dos temas e da literatura que circunscreve o assunto
da pesquisa...................................................................................................................................................... 22
1.3 Levantamento dos temas de interesse dos alunos.................................................................. 30
1.3.1 Crianças....................................................................................................................................................... 31
1.3.2 Adolescentes.............................................................................................................................................. 31
1.3.3 Políticas públicas de educação........................................................................................................... 34
1.3.4 Políticas públicas de habitação.......................................................................................................... 36
1.3.5 Temas estruturantes............................................................................................................................... 37
1.3.6 Sistema de garantia de direitos......................................................................................................... 40
1.3.7 Levantamento de literatura que circunscreve o assunto de cada pesquisa.................... 44
1.3.8 Escolha do tema....................................................................................................................................... 47
2 ELABORAÇÃO DO PLANO DE TRABALHO................................................................................................ 47
2.1 Estrutura................................................................................................................................................... 48
2.1.1 Identificação.............................................................................................................................................. 48
2.1.2 Localização e compilação..................................................................................................................... 49
2.1.3 Fichamento................................................................................................................................................. 49
2.1.4 Análise e interpretação.......................................................................................................................... 50
2.1.5 Redação....................................................................................................................................................... 50
3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E DO OBJETO DA PESQUISA............................................................ 52
3.1 Delimitação do problema da pesquisa......................................................................................... 52
3.2 Delimitação do objeto de pesquisa................................................................................................ 55
4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA: SOCIAL, TÉCNICA E CIENTÍFICA......................................................... 56
4.1 Definição dos objetivos da pesquisa............................................................................................. 59
4.2 O marco teórico conceitual da pesquisa..................................................................................... 60
4.3 Formulação de hipóteses................................................................................................................... 64
Unidade II
5 A METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................................................................. 73
5.1 Delimitação da metodologia da pesquisa................................................................................... 73
5.2 O campo da pesquisa e o trabalho de campo........................................................................... 79
5.3 Abordagem da pesquisa..................................................................................................................... 80
5.3.1 Pesquisa quantitativa............................................................................................................................. 80
5.3.2 Pesquisa qualitativa................................................................................................................................ 83
5.3.3 Comparações entre as abordagens: quantitativa e qualitativa............................................ 87
5.4 Tipos de pesquisa................................................................................................................................... 89
5.4.1 Pesquisa com objetivo exploratório................................................................................................. 89
5.4.2 Pesquisa com objetivo descritivo...................................................................................................... 90
5.4.3 Pesquisa com objetivo explicativo.................................................................................................... 91
5.5 Procedimentos para a pesquisa....................................................................................................... 91
5.5.1 Pesquisa com procedimento bibliográfico.................................................................................... 92
5.5.2 Pesquisa com procedimento documental..................................................................................... 94
5.5.3 Pesquisa de laboratório......................................................................................................................... 95
5.5.4 Pesquisa de levantamento................................................................................................................... 95
5.5.5 Pesquisa de campo.................................................................................................................................. 98
5.5.6 Estudo de caso.......................................................................................................................................... 98
5.5.7 Pesquisa‑ação........................................................................................................................................... 99
5.5.8 História de vida.......................................................................................................................................101
5.6 Coleta de dados...................................................................................................................................104
5.6.1 Instrumentos de coleta de dados....................................................................................................107
5.7 Análise e interpretação dos dados...............................................................................................122
5.7.1 Categorias de análise.......................................................................................................................... 123
5.7.2 Preparação dos dados......................................................................................................................... 125
5.7.3 Análise....................................................................................................................................................... 125
5.7.4 Considerações finais ou conclusões.............................................................................................. 127
6 QUALIFICAÇÃO DO PRÉ‑PROJETO DE PESQUISA...............................................................................128
6.7.1 Revisão do pré‑projeto de pesquisa.............................................................................................. 128
6.1 Entrega do projeto de pesquisa.....................................................................................................130
6.2 Entrega do relatório de pesquisa..................................................................................................133
Unidade III
7 INICIANDO A ELABORAÇÃO DO PROJETO............................................................................................141
7.1 Observação.............................................................................................................................................141
7.2 Tema.........................................................................................................................................................145
7.3 Problema.................................................................................................................................................147
7.4 Hipótese..................................................................................................................................................149
7.5 Objetivo...................................................................................................................................................151
7.6 Metodologia..........................................................................................................................................153
7.6.1 Quanto ao método racional de abordagem............................................................................... 154
7.6.2 Quanto ao objetivo.............................................................................................................................. 155
7.6.3 Quanto aos procedimentos.............................................................................................................. 156
7.6.4 Quanto à técnica de pesquisa......................................................................................................... 157
7.6.5 Quanto ao objeto.................................................................................................................................. 158
7.6.6 Quanto ao tipo de amostragem..................................................................................................... 159
7.6.7 Quanto à abordagem do problema............................................................................................... 160
7.6.8 Instrumentos...........................................................................................................................................161
7.7 Comitê de Ética....................................................................................................................................164
7.8 Revisão bibliográfica..........................................................................................................................165
7.9 Ética e plágio.........................................................................................................................................168
7.10 Cronograma........................................................................................................................................169
7.11 Projeto....................................................................................................................................................170
7.12 Resumo.................................................................................................................................................171
8 MODELO DE PROJETO...................................................................................................................................173
APRESENTAÇÃO
Convidamos você a trilhar, através deste livro-texto, os percursos dos processos investigativos, como
dimensão constitutiva do trabalho do assistente social – subsídio para a produção do conhecimento
sobre processos sociais – e como fortalecimento do objeto da ação profissional.
Para tanto, abordaremos a pesquisa como espaço para o exercício da práxis profissional, contando
com a articulação entre o conhecimento teórico‑metodológico e o técnico‑operativo na compreensão
da realidade social, com vistas à produção do conhecimento científico.
Vamos pensar juntos na concepção, elaboração e realização de seu projeto de pesquisa, lembrando
sempre que esse poderá ser o primeiro de muitos projetos de pesquisa na sua trajetória profissional.
Assim, por agora, teremos como objetivos: problematizar a investigação como dimensão constitutiva
do trabalho do assistente social, como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos
sociais e como reconstrução do objeto da ação profissional; fortalecer em você, aluno, uma atitude
investigativa diante da realidade social; compreender e discutir a natureza, o método e o processo de
construção de conhecimento, bem como o debate teórico‑metodológico na área.
Esses objetivos serão alcançados a partir de uma discussão aprofundada sobre o olhar estabelecido
pelo aluno para com a realidade social, por meio de experimentação, com a Teoria da Pesquisa Social,
que se fortalece e instrumentaliza por meio da inclusão no estágio, espaço privilegiado de investigação
e elaboração do conhecimento teórico, que é agregado à vivência técnico‑operativa. Nesse espaço, a
experiência gera a análise e o confronto das teorias, estimulando a investigação, donde nasce um novo
saber‑fazer teórico e prático. Maria Liduína Silva (2011) afirma que o pesquisador tem possibilidade
de interpretar e transformar a realidade, estabelecendo‑se assim o método dialético.
Se de um lado estão os métodos que nos indicam os caminhos da práxis profissional, de outro,
simultaneamente, existe a necessidade de saber registrar os achados de pesquisa. Para ter um ordenamento,
deveremos planejar um caminho para a pesquisa e seu registro, nascendo assim o projeto de pesquisa.
INTRODUÇÃO
Ao longo do curso você, aluno, teve de estabelecer critérios de tempo, disponibilidade emocional e
aprendizado para sua formação profissional.
Não tem sido fácil, com certeza. Afinal, temos de fazer escolhas e, com isso, deixamos para outro
momento atividades que nos são importantes e prazerosas.
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Agora temos um novo desafio para você. Não basta desejar, “arrumar um tempinho”. Será necessário
muito mais: chegou o tempo de intensificar essa dedicação, a fim de ter uma produção científica.
Aqui, teremos o objetivo de desconstruir o medo de escrever e buscar sua criatividade de expressar
tudo aquilo que vem vivenciando durante as aulas, as leituras, os estudos e o estágio.
Outro desafio importante é saber que o projeto de pesquisa poderá ser elaborado com outras
pessoas; para que isso se traduza em avanço e crescimento, você precisará identificar características
convergentes e divergentes para os participantes se complementarem, pois vão trabalhar durante
dois anos: juntos, iniciarão o projeto, realizarão a pesquisa e elaborarão o relatório da pesquisa – TCC
(Trabalho de Conclusão de Curso).
Perceba que estamos falando de um tempo longo e que precisa ser planejado de forma que alinhe
todas as demandas (pessoais, familiares, profissionais e de estudo e pesquisa).
Precisamos estar bem próximos, a fim de que, à medida que formularmos o conhecimento teórico
sobre projetos, identifiquemos os caminhos a serem trilhados.
Expostas essas nossas demandas relacionais, vamos abordar alguns conceitos importantes para a
nossa tarefa.
A pesquisa social tem um cunho científico, portanto gera conhecimento, ou seja, seu trabalho não
pode ser considerado algo isolado: pelo contrário, deverá ter a função de construir conhecimento.
Nessa lógica vamos apresentar o referencial teórico sobre elaboração do projeto de pesquisa a partir
de três unidades correlacionadas, de forma que, ao finalizar esses estudos, consiga ter elaborado seu
projeto de pesquisa que culminará no seu TCC.
Por fim apresentamos um modelo de projeto de pesquisa com todas as fases para que o aluno
exercite seu aprendizado. Simultaneamente aos estudos empreendidos essa disciplina solicitará a
elaboração de um projeto de pesquisa que receberá orientação de um professor, através da plataforma
blakboard - AVA.
10
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Unidade I
1 CONSTRUÇÃO DO PRÉ-PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Para reconhecer a importância da pesquisa, nos valemos de alguns estudiosos sobre o assunto, que
fundamentam a relevância do conhecimento científico, e que sustentam toda a intervenção cotidiana,
em diversas áreas do saber, sendo que aqui delimitamos as ciências sociais, posto que o serviço social
recorre a essa ciência.
Numa trajetória do desenvolvimento do conhecimento científico, na área das ciências sociais que
compreende o estudo das relações humanas em sociedade, é onde o indivíduo se relaciona e atua
coletivamente quando em vivência e convivência na sociedade.
Historicamente, tivemos as religiões como impulsionadoras da chamada moral para deliberar sobre
as relações individuais, sociais e espirituais, impetrando poder à ordem de seus superiores, em nome do
extranatural. Simultaneamente, a filosofia teve a responsabilidade de explicar a existência individual e a
coletiva, creditando a si todo o saber, conforme o olhar do filósofo/estudioso.
Também o artista, por meio da sua arte, seja ela escrita, plástica, musical ou interpretativa, teve o
papel de registrar o consciente e o subconsciente das relações humanas/individuais e sociais/coletivas.
Contudo, é a ciência “não exclusiva, não conclusiva, não definitiva” (MYNAIO, 2011, p. 9) que coloca
à prova o conhecimento passado, o presente e o futuro, com sua função investigativa, que delimita o
problema, estabelece o foco de atenção, registra suas múltiplas relações e reações com seu entorno
direto e indireto, contudo não o limita; pelo contrário, insere-o, sempre que pertinente, em novas
reações, a partir de novas variáveis.
Vogel (2011) lembra que a ciência é permeada por conflitos e contradições, sendo um dos embates
o existente entre ciências sociais e ciências naturais. Minayo (2008 apud VOGEL, 2011) aponta que,
para alguns autores, existe uma uniformidade: eles indicam que o natural deve se equiparar ao social,
pois somente assim poderá receber o título de ciência. Outros estudiosos, no entanto, defendem que as
diferenças, singularidades e peculiaridades dessas áreas devem prevalecer.
11
Unidade I
Vogel (2011) prossegue, afirmando que, diante de inúmeros questionamentos sobre a configuração
das ciências sociais na lógica de conhecimento científico, Minayo propõe a ponderação sobre os seguintes
dilemas: “seguir os caminhos das ciências estabelecidas e empobrecer seu próprio objeto? Ou encontrar
seu núcleo mais profundo, abandonando a ideia de cientificidade?” (MINAYO, 2008 apud VOGEL, 2011,
p. 11). Minayo (2008 apud VOGEL, 2011, p. 11) ainda lembra também que para discutir as ciências sociais
em sua singularidade, essa autora utiliza cinco critérios (listados a seguir), que as diferenciam, mas que
não as desvinculam dos princípios da cientificidade:
O terceiro critério é que nas ciências sociais existe uma identidade entre
sujeito e objeto, pois lida com seres humanos, que por seus traços como
classe, faixa etária etc., se aproximam do investigador.
Ao considerarmos os critérios de identificação do objeto das ciências sociais pelas lentes da autora,
passamos a considerar que a vivência do indivíduo se reflete junto aos demais, em que um sujeito
se conecta ao outro em suas múltiplas experiências de inserção ou de exclusão na sociedade, tendo
como causa o conjunto sócio-histórico, econômico e político que sustenta as relações de potência e
impotência, que estabelecem a hierarquia de poder ou submissão nas relações coletivas. Sendo essa
leitura de mundo e de relações interpessoais e sociais que estabelecem com qual lente conceitua-se a
metodologia da pesquisa, que para a visão do serviço social Minayo (2008 apud VOGEL, 2011, p. 14-15)
tem a melhor aproximação:
A pesquisa é uma atividade basilar da ciência, que investiga para construir a realidade. Mesmo
sendo uma prática teórica, ela vincula o pensamento à ação, donde se tem que qualquer pesquisa deve
ser iniciada com uma pergunta ou uma dúvida, que para ser respondida, demanda articulação dos
conhecimentos anteriores ou a criação de novos conhecimentos.
Para entendermos melhor, apresentamos a seguir várias definições de pesquisa, dadas por diversos
pesquisadores e compiladas por Silva e Menezes (2001 apud, p. 19):
13
Unidade I
Assim estabelecemos que a pesquisa na área social tem intrinsecamente como objeto a realidade
sócio-histórica e a forma como essa reverbera nas relações pessoais e coletivas, portanto Minayo (2008,
p. 17 apud VOGEL, 2011) reflete sobre a necessidade da teoria, que é:
E para complementar essa linha de conceituação sobre a importância da teoria, Vogel (2011) aponta
ainda que:
Percebe-se com esses autores que não criamos uma nova teoria ao pesquisarmos, mas que a partir de
sustentação teórica anterior, e com avanços científicos, implementam-se informações a partir de novas
investigações. Contudo é mister considerar que se faz necessário ter um ponto de partida que sustenta
o posicionamento ético-político e ideológico, que é a linha teórica que subsidia a leitura, a compreensão
e a análise do fenômeno perquirido, ou seja a linha teórica macroestrutural e as microestruturais.
Entretanto devemos considerar que surgem problemas que as teorias existentes não abrangem, ou
não são suficientes para esclarecer, posto que a realidade está em movimento. Portanto faz-se necessária
a pesquisa exploratória, na qual é proposta uma nova interpretação. Nenhuma teoria, por mais bem-
formulada que seja, tem o potencial de explicar todos os fenômenos e processos (VOGEL, 2011), posto
que o tempo é contínuo.
Nesse sentido, a teoria se baseia em um conjunto de proposições, que são as hipóteses cujo
referencial teórico cientifico vem comprovando. Quando elencadas, devem ser claras, possibilitando o
fácil entendimento e trazendo, em sua apresentação, as relações abstratas, para que estas norteiem as
questões inseridas no cotidiano.
14
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
A partir da teoria, especialmente aquela que sustenta o referencial da delimitação do tema escolhido
pelo pesquisador, e que subsidiará o(s) conceito(s) que norteará(ão) a pesquisa, que segundo Vogel tem
uma abrangência sobre conceitos, aqui referidos:
São os temas mais significativos num discurso científico, são eles que
focalizam e delimitam o tema de estudo e são carregados de sentido, já
que uma mesma palavra pode ter conceitos diferentes em teorias distintas.
Minayo (2008) aponta quatro características do conceito que devem estar
claras para o pesquisador: o conceito tem que ser valorativo (explicitação
da corrente teórica onde os conceitos foram concebidos), pragmático
(descrição e interpretação da realidade) e comunicativo (nítidos, inteligíveis,
abrangente e específico ao mesmo tempo). Os três tipos de conceitos são os
teóricos (compõem o discurso da pesquisa), de observação direta (definem
os termos para serem trabalhados em campo ou nas análises documentais),
e de observação indireta (relacionam o contexto da pesquisa com os
conceitos da observação direta). A autora afirma que tanto as teorias como
os conceitos são fundamentais para qualquer pesquisa, porém eles não
podem ser camisas de força (VOGEL, 2011, p. 13).
Nesse sentido, a delimitação do tema deve estar sustentada por uma teórica estrutural, por teóricas
subjacentes e específicas, e essas demarcam os conceitos estruturantes sobre o olhar do pesquisador. Esse
olhar é a explicitação de seu posicionamento ético e político frente ao recorte da realidade pesquisada.
Portanto, para iniciar uma pesquisa, é necessário reconhecer as correntes de pensamento existentes
e como elas dialogam com as hipóteses, e a partir dessa identificação estabelecer critérios para suas
escolhas. Para alguns autores, como Minayo (2007), Demo (1996 apud SILVA; MENEZES, 2001), Severino
(2007) e Gil (1997, 2002, 2008), é necessário reconhecer os métodos de pesquisa para poder identificar
qual o mais apropriado à realidade que se apresenta, ou mesmo considerar o diálogo entre eles, para
então iniciar o percurso da elaboração do conhecimento.
Esse conhecimento pode ser adquirido de diversas formas, e para a pesquisa de cunho científico se
estabelece a partir de parâmetros de como se busca a informação contida nos referenciais teóricos, na
coleta de dados no campo onde se encontra o fenômeno em eminência e no processo de análise dos
dados investigados. A forma como se vê, sente, lê, escreve e explica o fenômeno é identificada como o
método da pesquisa, e é lançada a partir de uma conceituação de alguns autores que apresentamos,
por exemplo: “é um esforço para atingir um fim, investigação, estudo, caminho pelo qual se chega a
um determinado resultado” (LALANDE, 1999, p. 678); e outro: “método significa uma investigação que
segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento
racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado” (CHAUÍ apud SILVA, 2011, p. 5). Também se
entende método de pesquisa como:
Mas, como fazer esse caminho? Veja, precisamos reconhecer que a investigação científica depende de
um “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos” para que seus objetivos sejam atingidos: são os
métodos científicos, “conjunto de processos ou operações mentais que se devem empregar na investigação.
É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa” (GIL, 1999, p. 26 apud SILVA; MENEZES, 2001).
Os métodos que fornecem as bases lógicas da investigação são: dedutivo, indutivo, hipotético‑dedutivo,
dialético e fenomenológico. Para facilitar o entendimento, vamos descrevê-los seguir:
16
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Observação
Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear
significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se
procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo procuram-se evidências
empíricas para derrubá-la (GIL, 1999, p. 11-5 apud SILVA; MENEZES, 2001).
Saiba mais
www.filosofia.com.br/
Contudo, ao planejar é necessário identificar qual será a natureza da pesquisa em tela, conforme
esclarece Gil, pode ser de natureza:
Para os assistentes sociais, muitas pesquisas são de natureza aplicada, pela base profissional ser
interventiva, contudo muitas pesquisas em nossa área têm apresentado a reflexão sobre o objeto do
serviço social, que é a questão social, e sua reverberação na realidade sócio-histórica. Nesse sentido, não
tem a natureza mais ou menos apropriada, pelo contrário, ambas são presentes e de real significado
para a profissão e seu comprometimento com a justiça social.
17
Unidade I
Quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir
em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o
uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana,
desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão etc.).
A autora apresenta o conceito de duas abordagens, sendo que podem ser utilizadas separadamente
ou simultaneamente, uma pesquisa pode ter abordagem apenas qualitativa, apenas quantitativa, ou
quantiqualitativa. O que define essa abordagem são os referenciais teóricos e a linha teórica que sustenta
a pesquisa, e a captura do campo de pesquisa empírica, que pode suscitar mais que uma abordagem,
quando apresenta dados tanto numéricos e objetivos como dados que descrevem as interlocuções do(s)
indivíduo(s) com a realidade sócio-histórica.
A abordagem estabelecida no planejamento aponta os objetivos desta, que para Gil (2008) podem ser:
porque explica a razão, o “porquê” das coisas. Quando realizada nas ciências
naturais, requer o uso do método experimental, e nas ciências sociais requer
o uso do método observacional. Assume, em geral, as formas de pesquisa
experimental e pesquisa expost-facto (GIL, 2008, p. 27-8).
De acordo com esses objetivos verifica-se que uma pesquisa pode assumir um ou mais objetivos
complementarmente, e estão intrinsecamente relacionados à natureza da pesquisa, posto que a
delimitação do tema pode caminhar para uma problematização macroestrutural, que no caso do serviço
social vem a ser a questão social, ou de em suas múltiplas expressões, e para as quais a intervenção do
fazer profissional se concretiza, mas que ainda nesse caso demandará por uma delimitação do problema,
posto que essas expressões se avolumam em múltiplas violências e violações de direitos, através de
desenhos diversos.
19
Unidade I
Observação
Retomando não podemos acreditar que uma pesquisa seja a finalização de um saber. Pelo contrário,
no campo da pesquisa social, ela poderá indicar novos caminhos de intervenção, considerando que, em
ciências sociais, o movimento é constante, cíclico e espiral, demandando continuidade na investigação.
Contudo, somente a partir do reconhecimento das histórias de vida e, simultaneamente, das histórias
sociais é que teremos a identificação do lócus da política que agrega ou desagrega as relações sociais.
Assim, estabelecemos aqui as dimensões da profissão de serviço social para os conhecimentos fundantes
(econômico-sociais, políticos e ideoculturais) e interventivos. Em relação a esse tema, Guerra esclarece:
Assim, toda pesquisa, seja ela de cunho teórico ou teórico-prático, o assistente social, ao inseri-la
no fazer profissional, estabelece o compromisso com o projeto ético-político (PEP) da categoria ao que
afirma Guerra (1998), é necessário haver
20
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Entretanto, considerando que para sistematizar conhecimento é necessário método, que estabelece
organicidade entre os fundamentos filosóficos e os pressupostos ético-políticos para a análise dos
objetos sociais, ao olharmos para métodos ou matrizes clássicas, delimitamos o processo teórico-critico,
que indica a lógica da leitura e análise do fenômeno.
Essa lógica é o diálogo crítico, que o pesquisador estabelece com as linhas teóricas do método ao
que Iolanda Guerra refere que não existe diálogo entre eles, por serem excludentes.
Os tipos de pesquisa apresentados nas diversas classificações não são estanques. Uma mesma
pesquisa pode estar, ao mesmo tempo, enquadrada em várias classificações, desde que obedeça aos
requisitos inerentes a cada tipo.
Realizar uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um tema e defina um
problema para ser investigado, elabore um plano de trabalho e, após a execução operacional desse plano,
escreva um relatório final e que seja apresentado de forma planejada, ordenada, lógica e conclusiva.
Assim, a partir de agora, vamos esquematizar um tema, para juntos trabalharmos nas etapas
metodológicas da pesquisa social, concretizando-a com a elaboração do projeto de pesquisa.
21
Unidade I
Precisamos deixar claro que o ato de pesquisar não se limita a esse momento da graduação em
serviço social, ou de qualquer outra graduação. Pesquisar é investigar, inquirir, buscar, reconhecer, olhar,
escutar, aprofundar a realidade social e, consequentemente, as relações entre os sujeitos, reconhecendo
a singularidade dos indivíduos no tecido social e suas relações interpessoais e sociais, no momento
atual e na sua história de vida permeada e inserida em suas referências histórica, cultural, econômica e
política, individual e coletivamente.
Com esse olhar singular, devemos estar inseridos no campo profissional. Nesse momento, você
vivencia o estágio curricular, deparando-se com a realidade social, mas, muitas vezes, sente dificuldade
de identificar em que aspectos a ética, a política, a teoria e a metodologia podem ser inseridas.
Essa dúvida não é apenas sua, mas também da maioria dos graduandos e – podemos dizer – de
alguns profissionais. A dicotomia é o princípio que mostra uma situação com dois pontos de vista
alternativos, que nem sempre são excludentes, podem ser complementares. Tal sensação é o que Guerra
(2010) conceitua como dicotomia teoria/prática e não pode ser desconsiderada; pelo contrário,
precisamos enfrentá-la para consolidarmos efetivamente nossa profissão e o compromisso com o projeto
ético‑político de serviço social.
Assim, retomamos a demanda pelo reconhecimento da realidade social, que se dá, pedagogicamente,
em quatro momentos:
• Experimentar o espaço profissional, ou seja, entrar e atuar no campo profissional com todo o
referencial técnico-operativo.
• Identificar as relações de força entre os sujeitos sociais e as instituições de poder (Estado e demais
instituições), com seu referencial ético-político, procurando ler e refletir sobre essas relações.
• Investigar as formas de exclusão geradas nos chamados processos de inclusão, escutando o que
reverbera dessa relação de forças nos sujeitos sociais e em sua relação social, política, cultural e
econômica, balizando-se por seu referencial teórico-metodológico.
Lembrete
Escrever ou ler isso parece muito fácil, mas sabemos que não é, pois nessa perspectiva encaramos
os conflitos e as contradições de nossa atuação. Contudo, temos de ser honestos e reconhecer que
a simples e complexa ação de viver nos remete ao contraditório, e a vivência profissional nos
instiga a romper com a hegemonia do poder institucional, articulando e potencializando novas
formas de relação.
Para tal, não podemos nos tornar simples executores de projetos político-partidários, apresentados
como políticas públicas, mas, ao contrário, a partir de nossa inserção no cotidiano das políticas públicas,
nos tornarmos questionadores e investigadores sobre a ação do Estado.
Assim, diante dos instrumentos, das técnicas e das estratégias do serviço social, precisamos manter
uma postura crítica, ética e política, não aceitando a manipulação que nos é imposta a todo tempo,
conforme reflete Guerra:
23
Unidade I
Diante das demandas impostas pelo social, na qualidade de profissionais, urge avançarmos em
nossos conhecimentos, encarando as contradições e buscando soluções, como nos inspira Guerra:
Observação
Cabe, portanto, ao profissional estar atento ao movimento societário imposto e desvelá-lo, fazendo
o mesmo com seu papel como profissional e enquanto sujeito desse tecido social, pois exercemos dupla
função: somos trabalhadores e profissionais, inseridos na mesma textura manipulada historicamente
pela classe dominante, conforme nos apontam Marx e Engels (1989 apud GUERRA, 2010, p. 4):
24
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Saiba mais
Caso seja necessário, quando em campo profissional, recomenda-se ter na pesquisa social um
instrumento permanente, que inclua em seu rol de instrumentos técnicas e estratégias, a serem inseridas
no cotidiano, não como manutenção da hegemonia do poder, mas como instrumento de libertação do
ranço da culpabilização do sujeito pela sua realidade social.
Trata-se de um novo caminho, que desmistifica a culpabilização, aberto pelo da responsabilização, não
do sujeito, mas do Estado, enquanto instituição de poder e mediador da corrupção e da desvalorização
do povo. Encontramos, historicamente, um Estado que valoriza a economia e o capital, fortalecendo a
hegemonia dominante, em detrimento da equidade dos cidadãos.
25
Unidade I
Temos o compromisso pessoal e profissional de levar, para a nossa prática diária, esse conceito, não
limitando a pesquisa social somente à utilização na academia, ou a uma exigência da graduação. Se
assim a entendermos, estaremos restringindo nosso olhar e nosso saber fazer. Em vez disso, precisamos
ter a pesquisa social como um instrumento cotidiano que nos impulsiona a desmistificar e desvendar a
manipulação do projeto societário hegemônico.
Nesse sentido, ainda temos de avançar nesses nossos questionamentos, pois quando nos deparamos
com o ritual da prática, muitas vezes, tendemos a valorizar a rotina e até a acreditar que estamos
cumprindo com os compromissos, contudo precisamos identificar se essa rotina não nos impele à
manutenção da hipocrisia de um fazer aparente, em detrimento de um fazer que liberta sujeitos e
transforma a realidade social.
apreendida a partir das formas mais complexas e gerais postas no modo de aparecer
dos fatos, fenômenos, processos e práticas sociais, estes, como formas necessárias de
determinados conteúdos. Mas a compreensão da realidade supõe partir da superação
da imediaticidade, da mera aparência, por meio de procedimentos que neguem a mera
objetividade, o dado imediato, a aparência, e resgatem os conteúdos concretos que os
fenômenos, processos e práticas sociais portam. Há que se enfatizar que numa sociedade
de classes há o predomínio da racionalidade formal-abstrata sobre a razão, da imagem
sobre o conceito, do abstrato sobre o concreto, de procedimentos quantificáveis, do
cálculo racional, de ações manipulatórias, da sociabilidade reificada e generalizada,
pela extensão da racionalidade instrumental da relação homem-natureza para todas
as dimensões da vida social, o que condiciona, em ampla medida, a elaboração
teórico‑filosófica. Com isso pretende-se afirmar que os procedimentos da intelecção, a
racionalidade formal‑abstrata, que exerce hegemonia na ordem burguesa, opera de maneira
a obstaculizar a reflexão da razão.
O texto de Iolanda Guerra nos alimenta e incita a retomar o que foi apresentado anteriormente, no
que concerne às metodologias para a pesquisa científica, e esclarece que na intervenção do profissional
de serviço social nada pode estar restrito a um único olhar ou conceito, limitando a leitura crítica.
Devemos abrir a metodologia para as “múltiplas determinações” (MARX, 1989 apud GUERRA, 2010), a
fim de entendermos as singularidades num universo totalitário.
Esse método deve ter subjacente uma racionalidade que permita alcançar
o concreto como síntese de múltiplas determinações (cf. MARX, [1989]),
captar as relações sociais de maneira articulada, seus nexos e mediações,
numa perspectiva de totalidade, para o que tem que ser histórico,
dialético, inclusivo e crítico.
Estamos caminhando para reconhecer a pesquisa social, não apenas como um instrumento da
pesquisa científica acadêmica, desvinculada da prática, mas como instrumento permanente, que sustenta
uma nova práxis profissional, construída a partir da reflexão sobre as competências ético‑políticas,
teórico‑metodológicas e técnico-instrumentais ou operativas.
27
Unidade I
Temos de avaliar como estamos utilizando essa última competência, para que seja efetivado o
compromisso com as classes subalternas e expropriadas de seus direitos humanos, sociais, culturais,
econômicos e políticos.
Existe uma demanda por “novos instrumentos operativos, [cuja] profissão carece de uma
racionalidade, como fundamento e expressão das teorias e práticas, capaz de iluminar as finalidades”
(GUERRA, 2010, p. 14). Ou seja, a autora nos diz que o que chamamos de instrumentos, técnicas e
estratégias não podem ser considerados ações-fim da profissão, mas que é necessário compreendê-los
como uma instrumentalidade com a qual os assistentes sociais, por meio da articulação e da mediação
teórica voltada a fins específicos, atuam e transformam a realidade.
Iamamoto e Carvalho (2009) nos convidam a considerar uma razão: o referencial teórico permeia
nossa prática com intensidade e intencionalidade para que não nos tornemos mecânicos e superficiais,
mas estejamos abertos para identificar nosso objeto de trabalho. “O assistente social lida, no seu trabalho
cotidiano, com situações [...] vividas por indivíduos e suas famílias, grupos e segmentos populacionais,
que são atravessadas por determinações de classe” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 33).
Diante desse importante instrumento que é a pesquisa social, vamos a partir daqui sugerir uma
metodologia para a elaboração do pré-projeto de pesquisa, nesse momento, vinculada à sua prática no
estágio e ao referencial teórico estudado durante a graduação. Teremos como base a crítica na atuação
profissional, na lógica do respeito ao sujeito social, inserido numa realidade histórica e atual.
• Acrescenta um novo capítulo à relação entre teoria e prática, por meio da práxis profissional,
numa inserção dialética da leitura de realidade que redimensiona e amplia a teoria.
Assim, acreditamos que estejamos prontos para entrar no universo da pesquisa, pois revisitamos
conceitos importantes no âmbito da metodologia científica e transcendemos a práxis profissional do
serviço social. É chegado o momento de decolarmos nessa viagem… mãos na massa… afinal, temos uma
descoberta a ser realizada, então precisamos fazer algumas perguntas e buscar as respostas, segundo
Gomes (2011, p. 38-39):
29
Unidade I
O quê?
Quais? Como?
Onde?
Você já teve contato com fundamentos históricos, técnicos e metodológicos, políticas públicas, Ética,
Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito etc. Já tem uma base sólida de conhecimento generalista e
iniciou seu contato com a prática profissional no estágio. Isso lhe garante uma vivência em relação ao
objeto do Serviço Social, que o embasa e habilita para fazer a escolha de um tema.
A ciência do Serviço Social pesquisa e atua em áreas que perpassam pelas questões sociais, que
são consequência das desigualdades provocadas pela hegemonia do sistema capitalista, excluindo do
mercado profissional os sujeitos que não tiveram acesso às condições de qualificação, muitas vezes, pela
ausência de políticas públicas sociais. São temas de pesquisa relacionados a essa área, entre outros:
• trabalho;
• geração de renda;
• direitos sociais;
• direitos humanos;
• trabalho coletivo;
• ética profissional.
São temas fundantes que compõem o universo teórico/prático do serviço social. Cada um destes
pode constituir ou gerar o tema do pré‑projeto de pesquisa social.
Podemos ainda pensar nos segmentos sociais, tais como os apontados a seguir.
1.3.1 Crianças
Segundo a Convenção dos direitos humanos (ONU, 1989, p. 6), “a criança é definida como todo
ser humano com menos de dezoito anos”. Nesse sentido não apenas a imagem a seguir nos remete a
singeleza da criança, mas todo o seu contexto, e sem dúvida nos convida à pesquisa para entender seu
universo de direitos e as violações a ele.
Figura 2 – Criança
1.3.2 Adolescentes
31
Unidade I
Mas para além de conceito da adolescência enquanto corpo físico e emoções, devemos considerar
sua dinâmica quando inserida em certos contextos territoriais, econômicos, políticos, culturais.
A imagem a seguir nos indica a grupalidade que a adolescência sugere, mas que muitas vezes está
permeada por afetos e desafetos, inclusão e exclusão, contudo a imagem adolescente nos permite
sempre acreditar na possibilidade da transformação. Tendo como delimitação da pesquisa adolescente
a partir de um determinado recorte bem específico.
Figura 3 – Adolescentes
Segundo o artigo 1º do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), são “pessoas com idade igual ou superior a
60 (sessenta) anos”. Que para além da angelitude nos remete aos direitos que lhe devem ser assegurados
como indivíduos que tem uma história configurada na realidade sócio-histórica, na qual de alguma
forma estamos submergidos.
Figura 4 – Idosos
32
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Pessoas com deficiência são um universo de possibilidades para aprofundar conhecimento a partir
da pesquisa. São inúmeras singularidades, sendo que em grande maioria refletem violação de direitos,
especialmente quando observamos as fundamentações sobre direitos fundamentais apresentadas pela
LBI – Lei Brasileira de Inclusão, lei n. 13.146 de 6 de julho de 2015.
1.3.2.3 Família
Consideramos família como um grupo de pessoas que se encontram unidas, por um determinado
período de tempo, com laços consanguíneos ou não, de afeto e cuidado de proteção.
As políticas públicas sociais são ações da gestão pública, desenvolvidas pelo Estado ou em parceria
com a sociedade civil, por meio de serviços, programas, projetos, transferência de renda que visam
proporcionar aos sujeitos sociais (cidadãos) a proteção social e a garantia de direitos, para uma vida com
dignidade, com equidade e justiça.
São consideradas políticas públicas sociais aquelas que asseguram à população o exercício de seus
direitos individuais e sociais: educação, saúde, trabalho, assistência social, previdência social, justiça,
agricultura, saneamento, habitação popular e meio ambiente.
Perceba como o campo das políticas públicas sociais é amplo e suscita várias delimitações do tema
a ser pesquisado.
Em relação às políticas públicas sociais temos serviços, programas, projetos e benefícios desenvolvidos,
cada um suscita uma investigação desde sua formulação, desenvolvimento de critérios de inclusão e de
desligamento e avaliação.
33
Unidade I
Figura 5 – O Programa Bolsa Família faz parte do Plano Brasil sem Miséria
Entendendo ainda que é através da educação que os sujeitos sociais garantem sua autonomia e
independência, pois ela os qualifica para assumirem seu papel social com dignidade, considerando que
a leitura, a escrita e a interpretação dos fatos são ferramentas fundamentais para a verdadeira inclusão,
essa política se torna essencial à proteção social e à garantia de direitos, e, portanto, suscita vários
olhares para a pesquisa.
34
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Segundo o Ministério da Saúde, políticas públicas de saúde promovem a saúde dos diversos
segmentos da população brasileira. São baseadas no princípio do SUS de oferecer acesso integral,
universal e gratuito ao sistema de saúde pública a todos os brasileiros, seja uma criança, uma pessoa
com deficiência ou um trabalhador.
Vem sendo foco de muitos avançados, mas também de inúmeros retrocessos, e caba investigar as
ações que possibilitaram a saúde, e as ações que adoeceram a população.
A política em tela apresenta duas proteções sociais, sendo a básica e a especial, essa última de
média e de alta complexidade, com seus respectivos serviços, programas, projetos e benefícios, estando
cada um desses disponíveis para serem pesquisados seja na esfera federal, na estadual ou municipal,
conforme o projeto de pesquisa delimita.
35
Unidade I
E não menos importante, pelo contrário, as questões que envolvem o trabalhador da área, a gestão
dessa política e o financiamento na perspectiva da gestão do fundo público.
Percebe-se que há muito a pesquisar nessa política, a partir de delimitações de temas que suscitam
incursões teóricas permeadas pela intervenção dos trabalhadores do Suas.
Em relação à situação da urbanização nas cidades brasileiras, encontramos um grande déficit tanto
de infraestrutura como de moradias, isso se deve ao fato de que o processo de urbanização ocorre
em um ritmo acelerado e desorganizado, e existe concentração de pessoas em regiões periféricas dos
municípios, especialmente nos de médio e grande porte, ocasionando bolsões de miséria, fruto do êxodo
rural, que se iniciou com a industrialização e a não reforma agrária efetiva. Além disso temos a questão
do sistema econômico que impulsiona o trabalhador a assumir subempregos, que nem sempre lhe
garantem continuidade e estabilidade, gerando a descontinuidade de salário, além de leis trabalhistas
que não são cumpridas.
36
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Figura 8 – O Programa Minha Casa, Minha Vida é um exemplo de política pública de habitação
Existem vários temas estruturantes e outros subjacentes a serem pesquisados, entre eles destacamos:
Violência
Para discutirmos a violência, recorremos a Chauí (1984, p. 35), que define esse conceito, de forma ampliada:
37
Unidade I
Temos assim vários tipos de violências, que são demandas do serviço social, considerando a violação
de direitos que tanto a vítima como o violentador se expõem.
Apresentamos alguns dos tipos de violência que emergem das ações profissionais do assistente
social, sejam de articulação, mediação ou intervenção:
Considerando que todo e qualquer ato que leve à omissão ou à prática por pais e ou responsáveis
por criança e adolescente, que cause danos físico, sexual e/ou psicológico, reverbera na transgressão
do dever de afeto cuidado e proteção que o adulto tem para com o outro. Muitas vezes essa prática
submete o outro em situação de fragilidade ao poder do adulto, que coisifica a infância e a juventude
negando o direito se ser tratado como sujeito social em condição peculiar de desenvolvimento.
Violência de gênero
É aquela ação que provoca um comportamento deliberado e consciente que submete o outro a
situação de domínio físico e/ou psicológico e/ou sexual, exercida de um para outro sexo, em que um se
torna ativo e o outro passivo.
Exploração sexual
Entendendo que a exploração e o abuso sexual contra crianças e adolescentes vêm sendo estudado
no Brasil desde 1990, e ainda com ações incipientes, mas que anualmente em 18 de maio militantes e
protetores dos direitos se mobilizam para sensibilizar a população sobre essa situação que perdura em
nossa sociedade, conceituamos o abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes como uma
forma hedionda de influência do poder de um dominador que os submete à exploração sexual para
aferir recursos financeiros.
Trabalho infantojuvenil
Conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é vedado o trabalho para crianças
e adolescentes com até 14 anos. A partir dessa idade, somente é permitido que ocorra o trabalho na
condição de aprendiz.
Parte das pessoas imagina que essa legislação seja a causadora de situações de violência, em razão
do tempo que as crianças e, especialmente, os adolescentes passam sem ter afazeres. Contudo, isso
esbarra na contradição de que esse tempo deve ser empregado para frequentar a escola e desenvolver
aspectos emocionais e relacionais, favorecidos pelo brincar. Entretanto, ocorre que, mesmo existindo a
legislação, e com toda a luta travada pelo direito ao desenvolvimento pleno da criança e do adolescente,
estes ainda são expostos à situação de trabalho infantojuvenil.
Esses trabalhos, muitas vezes, são insalubres e comprometem a qualidade de vida, especialmente
pelo esforço físico. Além do trabalho externo, temos ainda as atividades domésticas, de que crianças e
38
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
adolescentes são incumbidos, sem que os responsáveis por eles percebam a violação de direitos que ocorre
nesses casos, existindo sempre uma explicação, como de que os mais velhos podem cuidar dos irmãos mais
novos, bem como de que limpar, lavar e cozinhar não é trabalho, e sim dever, entre outras justificativas.
O tema trabalho infantojuvenil apresenta-se como um grande desafio para o serviço social, pois
há poucas pesquisas. Existe uma possibilidade de enfrentamento da situação quando esta é revelada,
deixando de ser considerada natural.
Drogas
Quando falamos em drogas, devemos entender que esse conceito engloba toda e qualquer substância
psicoativa que, quimicamente, tenha influência sobre o ser humano. Outro aspecto é a questão do que
é lícito/legal e do que é ilícito/ilegal. Independentemente dessa diferenciação, contudo, ambos os tipos
causam dependência orgânica e psíquica.
• o tráfico.
Todas as políticas públicas sociais trabalham de modo intersetorial, e as equipes agem de forma
interdisciplinar, na busca pela proteção social dos sujeitos sociais afetos a essa questão. Contudo, os
esforços ainda são insuficientes para atender à demanda que se apresenta.
As respostas não são fechadas: pelo contrário, há muito a ser pesquisado e analisado, portanto esse
é um tema importantíssimo para o serviço social.
Medidas socioeducativas
Previsto pelo ECA, art. 112 da Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990, para dar suporte a essa legislação,
temos o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), instituído e regularizado pela
Lei n. 12.594. Entre as medidas socioeducativas previstas há duas grandes modalidades:
• Meio aberto: sendo liberdade assistida (LA) e prestação de serviços à comunidade (PSC).
Com o rigor necessário para os fenômenos que envolvem segredo de justiça. São campos a serem
pesquisados com infinitas possibilidades.
39
Unidade I
Veja, a seguir, duas vertentes deste tópico que podem ser trabalhadas em sua pesquisa.
Na lógica da proteção social proposta pela Constituição Federal de 1988, e pela participação popular
garantida pela efetivação dos Conselhos de Direitos:
• Conselho da Mulher;
• Conselho do Idoso;
• Conselho da Saúde;
• Conselho da Educação.
Esses são espaços legítimos de participação e controle social, em que os recursos, especialmente
nos conselhos deliberativos, são acompanhados pelos conselheiros. Constituem importantes espaços de
defesa de direitos, na luta pela qualidade das políticas públicas sociais, em que o assistente social tem
duplo compromisso: fazer parte como conselheiro e oferecer subsídios para a participação dos usuários
das políticas públicas.
Cada um desses espaços de participação e controle social, em cada esfera de governo, seja municipal,
estadual ou federal, apresenta significativo potencial para pesquisa, com ganhos imensos tendo em
vista que a gestão dos conselhos tem pouca pesquisa realizada.
Legislação
Compõe a base dos Direitos Humanos e Sociais. Eis alguns assuntos que apresentamos. Claro que
existem muitos outros. Você pode escolher aquele que, enquanto vive, tem um grande desejo de
desvendar. O que lhe chamar mais a atenção deverá ser o seu tema de pesquisa.
Ao longo de seus dias, você com certeza viveu possibilidades e desafios no que tange aos direitos,
sejam os seus, os de pessoas próximas ou de sua convivência, ou ainda os daqueles com quem você
pode ter uma relação profissional. Não importa a distância entre você e a situação que o estimula
a investigar, o importante mesmo é que exista um interesse vibrante e intenso, conforme registram
Barreto e Honorato (1998):
40
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Esse interesse pode perpassar pelo desafio de questionar na lógica da crítica, pela suscetibilidade
que provoca a outrem, ou pode ser desvelador de uma intervenção técnica: o importante é sentir
desejo de investigar.
Estamos aqui contrapondo Durkheim, o qual afirma que a primeira e mais fundamental regra para
o cientista social é tratar os fatos sociais como coisa, e valorizando Gil, quando afirma que “os fatos sociais
dificilmente podem ser tratados como coisas, pois são produzidos por seres que sentem, pensam, agem
e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes maneiras” (GIL, 2008, p. 5), e avança
dizendo que “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o
emprego de procedimentos científicos” (GIL, 2008, p. 26).
Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, o Dia Internacional dos Direitos Humanos,
celebrado no dia 10 de dezembro, ganhou um sentido prático para sessenta adolescentes que
cumprem medidas socioeducativas no município. Mais do que ouvir adultos falarem sobre
seus direitos, eles colocaram a mão na massa e produziram uma revista em quadrinhos para
dialogar diretamente com crianças e adolescentes sobre o tema. O resultado do trabalho foi
lançado hoje pela Fundação Criança, órgão municipal responsável pela política da infância,
e será distribuída em todas as escolas públicas do município.
Pedro Silva*, de 16 anos, participou, junto com os colegas, de oficinas sobre desenho e
direitos humanos durante seis meses. “Já sabia desenhar e agora aprendi mais ainda”, disse.
Ele está feliz pela publicação e espera que a cartilha possa ajudar outros adolescentes a
conhecerem seus direitos. “Muita coisa eu só fiquei sabendo na fundação. A gente passa
por tanta coisa na rua, porque não sabe o direito que tem”, declarou. Dentre os assuntos
que mais interessaram Pedro na construção da cartilha, ele cita o direito de ir e vir e o de
não ser agredido.
regiões bem afastadas do centro e com baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano].
Extremo sul, leste e parte da zona norte”, disse.
Tafner destaca que muitas vezes o Estado só chega a essas famílias quando as infrações
são cometidas pelos jovens. O promotor atuou no início dos anos 2000 no enfrentamento
a violações sofridas na antiga Fundação do Bem‑Estar do Menor (Febem). Na época, até
mesmo casos de tortura foram identificados.
Para o presidente da Fundação Criança, Ariel de Castro Alves, o trabalho por meio da
arte ajuda a envolver os adolescentes em atividades positivas. “O nosso trabalho é criar um
novo projeto de vida para esses jovens, no qual eles possam estar engajados na cidadania”,
explicou. Ele acredita que a produção da cartilha, por exemplo, potencializa talentos e torna
os adolescentes protagonistas de um trabalho do qual eles se orgulham. “Se o Estado excluir,
o crime vai incluir”, declarou.
A revista em quadrinhos, que também ganhou uma versão em audiobook para pessoas
com deficiência visual, aborda temas como o contexto histórico do surgimento da Declaração
Universal dos Direitos Fundamentais do Homem, lançada no Pós‑Guerra em 1948, e a
formulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, após a promulgação
da Constituição.
42
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Exemplo de aplicação
O artigo exposto suscita alguns temas, por exemplo, adolescência e políticas públicas para o adolescente;
o sistema nacional de medidas socioeducativas e sua execução - meio aberto e meio fechado; violência na
adolescência; adolescentes em conflito com a lei; adolescentes em medidas socioeducativas.
Saiba mais
O assunto é bem mais abrangente, permite diversas possibilidades de recortes. Nesse sentido, o
recorte abrangerá aquilo que o pesquisador anseia abordar com parâmetros concisos em sua pesquisa.
Muitos alunos ou pesquisadores podem abordar um mesmo assunto, mas isso não significa que
todos tratarão do mesmo tema. Vejamos o exemplo que estamos utilizando:
• Assunto: Adolescente.
Primeiro deve ser escolhido o assunto de pesquisa, e em seguida é preciso ainda afunilá‑lo,
restringi‑lo, circunscrevê‑lo. Para ajudar nessa etapa da elaboração do projeto de pesquisa, podemos
pensar em alguns critérios, que, segundo Gil (2008), podem ser:
Sempre depende do objetivo do pesquisador elaborar o dado recorte, pois devemos considerar a
delimitação usando a terminologia da Victor Franz Rudio, quando utiliza a definição do “campo de
observação” (RUDIO, 1985, p. 72‑75). Esse campo comporta, além do lugar (recorte espacial) e das
circunstâncias (recorte temporal), a população a ser estudada.
Essa população consiste em quem será o objeto da pesquisa, considerando que pode referir‑se a um
conjunto de políticas públicas, aos usuários de algum serviço de uma determinada política pública, ou
ainda a sujeitos que serão questionados acerca de seus comportamentos ou sua visão de mundo (por
exemplo, adolescentes em medida socioeducativa de meio aberto atendidos num determinado Creas).
Em outras palavras, nesse ponto, já estamos nos aproximando do objeto de pesquisa e da problemática
que buscamos pesquisar.
• Caso haja publicações sobre o tema a ser abordado, existem lacunas na literatura? Quais?
Em pesquisa, chamamos de estado da arte o que já existe em pesquisas sobre o assunto, conceitos,
achados, análises de dados que estão na literatura para serem pesquisados.
Trata‑se de uma revisão histórica de tudo o que já foi escrito, obviamente, com um recorte de autores
escolhidos (que será abordado logo a seguir), pois algumas pesquisas de literatura são infindáveis,
considerando o enorme número de publicações existentes.
É por meio da revisão de literatura que você descobre se a sua pesquisa será inovadora ou não. Todo
esse investimento requer cuidado para garantir inovação, até porque será necessário evitar duplicação
de informações e – sabemos – seu tempo é precioso, e o dos demais pesquisadores também.
Assim, rememorando o exemplo Política Pública para Adolescentes, temos de fazer o contorno em
Adolescentes em Medida Socioeducativa e definir se será em meio aberto ou fechado, para concretizar
e sistematizar a pesquisa bibliográfica.
44
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Essa sistematização de estudo para a revisão de literatura ou pesquisa bibliográfica contribuirá para:
• reconhecer as publicações disponíveis sobre o tema e as abordagens realizadas por outros pesquisadores;
• conhecer opiniões divergentes e convergentes sobre o tema e mais aspectos pesquisados que
podem não ter sido identificados por você.
Considerando que nessa fase sua pesquisa é de graduação, você não terá descobertas autônomas,
pois deve sempre se apoiar no que já foi registrado na bibliografia sobre o tema.
Num trabalho de conclusão de curso de graduação, sua pesquisa parte daquilo que já foi descoberto
e registrado.
Numa iniciação científica, você fará experimentos, a partir do estudo iniciado por um orientador,
sobre o tema abordado.
Na dissertação de mestrado, você segue uma linha de pesquisa dentro da proposta curricular do
curso e também realiza a revisão bibliográfica do tema.
Nesses casos, seus achados de pesquisa apresentam as considerações finais sobre o tema, diante dos
novos resultados.
Diferentemente, na tese de doutorado, há um referencial teórico, mas o propósito é ter achados que
ampliem consideravelmente os registros anteriores.
A revisão da literatura vai subsidiar o processo de levantamento das informações já publicadas sobre o
tema, e isso norteará o mapeamento do que já foi pesquisado e analisado e daquilo que oferece possibilidade
de resultar em novos achados de pesquisa. Estes surgem quando você problematiza o assunto.
Para Luna (1997 apud SILVA e MENEZES, 2001), a revisão da literatura em um trabalho de pesquisa
passa pelas seguintes etapas:
45
Unidade I
Para realizar a revisão bibliográfica, você terá de desenvolver um planejamento, definir como será
feita, ou seja, precisará ter uma metodologia.
São muitos textos, TCCs, dissertações, teses, artigos científicos, livros, páginas na internet etc. Como
vai sistematizar o registro e a organização das informações com as quais está tomando contato? Por isso
existe a metodologia para a revisão bibliográfica.
Assim, para tornar o processo de revisão de literatura mais produtivo, você poderá seguir alguns
passos básicos para sistematizar seu trabalho e canalizar seus esforços. Os passos sugeridos por Lakatos
e Marconi (2010, p. 23) são:
• Escolha do tema.
• Tema.
• Estrutura do trabalho.
• Identificação.
• Localização e compilação.
• Fichamento.
• Análise e interpretação.
46
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
• Redação.
• Fontes de informações.
A partir daqui, vamos tentar construir juntos, à luz de Lakatos e Marconi (2010), a metodologia da
revisão bibliográfica.
Já temos nosso tema, que é o exemplo: Adolescentes em medida socioeducativa. Vamos fazer a
revisão da literatura no que tange a políticas públicas de atenção ao adolescente incluído em medida
socioeducativa, analisando aspectos legislativos e operacionais, bem como identificando que se trata de
uma ação interdisciplinar.
Assim, vamos buscar o que já foi publicado sobre o tema. Como há temas sobre os quais há muita
publicação (caso desse nosso exemplo), é necessário organizar o tempo, para não o desperdiçar.
Você deve se lembrar de que falamos sobre a importância de o tema ser conhecido por nós; assim, já
estão estabelecidas nossa relação com o que vamos pesquisar, as linhas filosóficas que desejamos revisar
e as opiniões que queremos agregar ao trabalho.
Não podemos perder tempo. Precisamos organizar nossa rotina de trabalho, afinal, estamos numa fase
em que, além de termos nossas responsabilidades no nosso dia a dia, como trabalho, família e nós mesmos,
ainda precisamos ter tempo para as disciplinas regulares, o estágio, os relatórios de estágio e o TCC.
Portanto, identifique quais aspectos quer abordar em seu tema. Vamos seguir o exemplo, para
facilitar – Adolescente em medida socioeducativa:
• Lei n. 12.594, que trata da organização das execuções das medidas socioeducativas e legitima o
Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (Sinase) (BRASIL, 2012).
• Adolescência – obras dos autores Maria de Lourdes Trassi Teixeira e Paulo Artur Malvasi.
Assim, você já terá um caminho estabelecido. Isso quer dizer que terá um plano de trabalho de
pesquisa bibliográfica. Observe que, inclusive, identificamos materiais legislativos e outros, alguns
disponíveis on‑line gratuitamente. Isso economizará muito tempo e facilitará a própria orientação
quanto a novos materiais, já com um foco.
47
Unidade I
2.1 Estrutura
• Adolescência.
Você já estará em busca de conceitos sobre esses subtemas e encaminhará sua leitura para possíveis
proposições, de acordo com sua experiência, seja das aulas, seja do estágio. O exemplo que estamos
utilizando é o de medidas socioeducativas. Caso você realize estágio no Creas, está bastante familiarizado.
Obviamente existem vários recortes a serem feitos, mas vamos tratar desse assunto no item que
discute a problematização.
2.1.1 Identificação
Nesse ponto, você já deverá ter um esquema, que não é concluso, nem fechado, mas aberto para os
desafios da pesquisa.
Essa é uma fase da revisão bibliográfica que dará acesso às informações e ampliará o universo da
pesquisa, pois você poderá encontrar aspectos a serem abordados. Para isso, precisa estar disposto até
mesmo a mudar de rumo.
Implica abrir o leque da pesquisa, para ampliar seu levantamento bibliográfico, mas de forma
organizada, por meio de índices, sumários, resumos.
É o momento de voltar a fazer buscas ativas em bibliotecas presenciais e virtuais, pois pode haver
caminhos novos a serem percorridos.
Saiba mais
48
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Agora que você já identificou, a princípio, o material bibliográfico que pretende usar, ou seja, fez o
levantamento bibliográfico, nessa etapa deverá entrar em contato com o material efetivamente, ou seja,
deverá ler.
Esse material deverá ser localizado fisicamente. É interessante ir até as bibliotecas de faculdades, do
polo, e/ou da sua cidade, pois você deverá ter o livro em mãos para começar a ler.
Os materiais que estão on‑line precisam ser organizados numa pasta em um pen drive. Cada assunto
poderá ter uma pasta com título de fácil identificação. Sempre que salvar um documento, deverá ter
registrado o endereço eletrônico no material, para reconhecer com facilidade a localização.
Estabeleça dia e horário para suas leituras. Se estiverem organizados em um grupo de alunos, definam
se estudarão juntos ou se farão leituras em separado. Organizem de modo equilibrado o material de
cada um. Isso gerará transparência, compromisso e responsabilidade individual e coletiva. É importante
todos terem uma mesma rotina, salvaguardando as individualidades, mas tendo o compromisso de
localizar as obras e estudar, com o objetivo de compilar o material a ser trabalhado diretamente no
referencial teórico da pesquisa.
Lembrete
2.1.3 Fichamento
O fichamento permite que você reúna as informações necessárias e úteis à elaboração do texto da
revisão. Podem ser elaborados diversos tipos de fichas, como:
• citações: com a reprodução literal entre aspas e a indicação da página da parte dos textos lidos de
interesse específico para a redação dos tópicos e itens da revisão (IAMAMOTO; CARVALHO 2010);
49
Unidade I
• resumo: com um resumo indicativo do conteúdo do texto; com suas palavras, conforme seu
entendimento, mas, ainda assim, se for usar alguma palavra, indique ((IAMAMOTO; CARVALHO 2010));
• esboço: apresentando as principais ideias do autor lido de forma esquematizada, com a indicação da
página do documento lido; pode ser um esquema, sem uma linguagem corrida, apenas por tópicos.
Nessa etapa do fichamento, você deverá identificar todas as obras lidas e respectivas citações,
sistematizar as análises e os comentários de cada obra ou artigo e tecer críticas ao material lido.
Sugerimos que tenha um texto para cada autor, fichando de acordo com a sequência das páginas,
separando as citações e registrando‑as. Em seguida, faça um resumo das principais informações; isso
o ajudará quando tiver lido mais de um artigo e/ou livro, além de fazê‑lo ganhar tempo e qualidade
na produção.
Quando terminar o fichamento do primeiro grupo de materiais elencados para pesquisar, faça uma
nova leitura e identifique aquilo que for adequado para usar, especialmente considerando o tema do
seu trabalho.
Muitas coisas que fichamos nem sempre vamos utilizar, mas não dispense nada, pois poderá usar
posteriormente, ou mesmo em outras oportunidades de pesquisa.
Essa leitura deve ser crítica e apurada, para fazer um recorte do que for mais próximo do tema, e será
também um encaminhamento para a problematização e o foco do trabalho.
2.1.5 Redação
Agora que você já tem todo o material, deve preparar a primeira redação, observando alguns critérios:
• objetividade;
• clareza;
• precisão;
• consistência;
• linguagem impessoal;
50
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
• O texto tenha começo, meio e fim; opte por parágrafos curtos de, no máximo, cinco linhas, pois
isso facilita a leitura e a escrita.
• O texto introdutório explicando o objetivo da revisão de literatura; capriche, pois isso poderá ser
utilizado na íntegra quando da finalização do trabalho;
• A revisão de literatura não seja restrita à colagem de citações; sempre que for utilizar a citação de
um autor, deverá escrever uma introdução e, posteriormente, um fechamento.
Observação
Saiba mais
Ferramentas nacionais:
http://www.cade.com.br
http://www.radaruol.com.br
Ferramentas internacionais:
http://www.excite.com
http://www.webcrawler.com
http://www.yahoo.com
51
Unidade I
Agora você já sabe o que quer pesquisar, já tem um tema e levantou várias referências sobre ele, que,
no nosso exemplo, é “Adolescente em situação de medida socioeducativa”. Pois bem, esse é um tema
que abrange inúmeras possibilidades, que com certeza não precisam nem devem ser apresentadas num
único trabalho.
Aqui estamos tratando de um projeto de pesquisa, ou seja, você terá de realizar um recorte, encontrar
um assunto específico diante de tudo o que encontrou para, de fato, pesquisar.
Um equívoco que muitos alunos cometem em suas pesquisas é revisitar uma vasta bibliografia
e apresentar uma pequeníssima síntese, muitas vezes, deslocada do foco da pesquisa. Por vezes,
quando vamos ler um trabalho de conclusão de curso ou mesmo uma monografia, nós nos
deparamos com um resumo da bibliografia sobre o tema, completamente desvinculado da
pesquisa de campo.
Considerando o universo do campo prático com o qual o aluno se depara quando em campo de
estágio, poderá realizar uma pesquisa científica significativa que subsidiará novos conhecimentos
teóricos e metodológicos, vislumbrando novas formas de intervenção profissional.
Obviamente, muitas vezes, a pesquisa usa o método bibliográfico, mas, ainda assim, deverá ter um
recorte do tema, pois o trabalho de conclusão de curso não deve ser apresentado como um resumo do
tema, absolutamente.
Pelo contrário, mesmo que a pesquisa caminhe no método bibliográfico, será necessário apontar
autores que convergem para o mesmo conteúdo e autores que divergem deste, para que tenhamos uma
pesquisa bibliográfica. Apontar apenas o que se fala sem fazer essa análise não é pesquisar.
Retomando nossas considerações sobre a importância da pesquisa para o serviço social, ressaltamos
que esta possibilita novas descobertas ou consolida o conhecimento desenvolvido, numa proposta
sempre dialética, em que, a partir do apreendido, na relação com a prática, surgem novos achados
teóricos, metodológicos e técnicos, possibilitando o reescrever de nossa atuação.
Com isso, não podemos desconsiderar nem menosprezar a pesquisa no campo da atuação prática,
para que essa retroalimente a nossa intervenção profissional.
52
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Contudo, se o assunto e o tema já fizerem parte de sua vivência, já terá questionamentos, pois
tem olhado para a questão‑problema, bem como apresenta dúvidas sobre o que vem presenciando e
estudando, e isso o instigará à investigação. Para que esta se efetive, deverá ter pontos de partida, que
são as perguntas que você pretende realizar para a busca das respostas científicas.
Dessa construção que cuida de cada etapa, sem negligenciar sua sequência, estabelece‑se a
sustentação da pesquisa, que se concretiza com o amadurecimento, para o êxito da formulação de um
problema de pesquisa.
Para Gil (2008), o problema de pesquisa deve satisfazer alguns requisitos metodológicos, tais como ser:
a) claro e preciso;
b) empírico;
c) delimitado;
Ao problematizar o tema, os conceitos e os termos usados na enunciação não devem dar margem a
dúvidas e ambiguidades, o que resultará em uma apresentação clara e precisa.
53
Unidade I
Cuide para que o problema, por meio do questionamento, esteja delimitado, isto é, tenha um foco,
com objetividade, assertividade e diretividade.
Por fim, será necessário buscar resolver os questionamentos a partir de critérios metodológicos e
científicos, de forma que seja passível de solução.
Essas quatro dimensões devem ser utilizadas por você, para que examine se há ou não consistência
no problema delimitado. Para isso, deve olhar, escrever, reescrever e perguntar‑se: os termos utilizados
estão corretos e claros? Os questionamentos levantados são passíveis de solução com os instrumentos,
as estratégias e as técnicas adotadas? A situação‑problema está delimitada num determinado foco? A
demanda levantada para a pesquisa é empírica?
Você deve estar se perguntando como fazer isso. Para formular um problema, você terá de
transformar o tema em uma pergunta. Com esse objetivo, vamos buscar nosso assunto (adolescente em
conflito com a lei), o tema (adolescente em medida socioeducativa), a delimitação do tema (adolescente
em cumprimento de medida em meio aberto) e elaborar uma frase interrogativa: “Quanto tempo os
adolescentes atendidos pelo Creas de Pirapuã levam para cumprir a medida socioeducativa em meio
aberto de liberdade assistida?”
Observe que não perguntamos o tempo estabelecido por lei para a medida socioeducativa de
liberdade assistida, que é de 6 a 36 meses; nem estamos pesquisando mais de uma medida, pois isso
seria mais um fator significativo que poderia influenciar os resultados. Perguntamos, a partir da análise
de dados reais, em um determinado serviço, de um município específico, tomando por base o prazo
estabelecido para a medida, quanto tempo o adolescente leva para cumpri‑la efetivamente.
Essa problematização deve vir ao encontro da sua observação, a qual leva você a analisar os fatores que
envolvem a situação. Isso porque, como pesquisador da área de ciências sociais, suas perguntas acabam
por ser direcionadas para uma relação causal, ou que busca conceituar ou descrever a ocorrência de um
determinado fenômeno social, fazendo surgir novas perguntas para esse momento de aprendizagem.
Assim, torna-se fator primordial que haja possibilidade de responder as perguntas ao longo da pesquisa.
Da mesma forma, aconselha-se a não fazer muitas, para não incorrer no erro de não serem apresentadas
as devidas respostas.
• Quais as razões que levam o adolescente em medida socioeducativa a não respeitar o prazo estabelecido?
54
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Assim, você precisa saber se investiga a causa do fenômeno, originando uma pesquisa explicativa, ou
se pretende estudar a ocorrência do fenômeno, gerando uma pesquisa descritiva.
Esperamos ter conseguido transmitir a beleza de uma delimitação do problema, em que o foco de
seu trabalho se estabelece, explicando o que vai buscar em sua pesquisa.
Retornemos ao exemplo. Caso você esteja realizado estágio num Creas, no Serviço de Medidas
Socioeducativas e perceba que muitos adolescentes demoram para cumprir a medida socioeducativa,
questione‑se:
• Qual a postura do orientador de medida, dos executores do Sistema de Justiça e dos representantes
do Sistema de Garantia de Direitos diante desse fenômeno?
Perceba que esses questionamentos direcionam sua pesquisa, dando centralidade ao fenômeno
cumprimento versus descumprimento da medida socioeducativa, possibilitando abertura para a análise
dos resultados, tendo em vista a legislação que sustenta a proteção social e a corresponsabilidade dos
atores da sociedade civil e da gestão pública diante desse fenômeno.
Lembrete
Quando você consegue delimitar o problema a ser pesquisado, já está caminhando para a delimitação
do objeto de pesquisa. Essas etapas são integradas e dialogam entre si, não sendo estanques ou separadas.
Aqui estamos construindo um passo a passo didático, na lógica de uma compreensão maior do porquê
do projeto de pesquisa, a partir de um fenômeno de interesse pessoal, podendo estar ou não inserido
em sua realidade prática.
55
Unidade I
Nessa etapa, vamos construir mais um recorte, que é o campo de observação, a partir de uma
determinada área do conhecimento e de critérios consistentes.
Esse é o momento de estabelecer contato com a realidade concreta, com reflexão, despido de
preconceitos, prejulgamentos e pré‑saberes, desvelando o cotidiano e as relações sociais a ele pertencentes.
56
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
vai ficando para trás, deixando a obscuridade, e é a partir disso que a sociedade de classes se organiza,
muitas vezes condicionada pela lógica da propriedade privada.
Esse caminho ora trilhado serve para identificar a demanda pela produção de conhecimento e pela
reafirmação da interiorização de um projeto ético‑político, instituído a partir da década de 1980, comprometido
com o projeto societário. É a busca do conhecimento, concretizada pela investigação a partir de um vínculo
teórico, em que o serviço social reflete teórica e criticamente sobre as necessidades humanas, fundamentado
na lógica da intervenção profissional, que permite o empoderamento da realidade pelos sujeitos sociais.
É por meio da investigação com embasamento teórico e com análise social crítica que os assistentes
sociais desenvolvem sua ação, imanados nos movimentos da categoria profissional e do contexto histórico.
Essa leitura sociocrítica se estabelece a priori e, em muitas situações, mistificada com a realidade,
conduzindo práticas de controle social que provocam uma imersão nas demandas institucionais, que
muitas vezes se desvinculam das demandas dos sujeitos sociais.
Isso provoca uma desvalorização da profissão, mas temos de refletir que somente com a imersão nas
realidades sociais e profissionais teremos condições de aprimorar o conhecimento, por meio da análise
crítica da prática profissional, sustentando‑se teórica e metodologicamente em bases para uma nova
ação. Esta se fortalece a partir de uma postura ideopolítica e ética diante dos sujeitos sociais.
Estamos aqui falando do reconhecimento do profissional também como sujeito social imerso nas
questões sociais, que se pretende realizando um contínuo esforço investigativo de sua prática profissional,
para estabelecer, por meio da pesquisa social, numa perspectiva dialética, a efetiva ampliação do
conhecimento, expandindo a teoria e a metodologia da ação profissional.
A partir desse refletir contínuo e de sua concretização por meio da pesquisa social, que estabelece
indicadores de avaliação para as ações e articulações do profissional, diminuímos os riscos de
institucionalizar a prática profissional conservadora e expandimos as possibilidades de avanço, na
lógica da garantia de direitos dos sujeitos sociais, inclusive do profissional de serviço social. O contexto
histórico permeia a emersão da área e sua institucionalização, mas, processualmente, a apreensão das
suas formas de ser e existir no mundo social permite seu autorreconhecimento como profissão inserida
em um movimento maior.
Isso é o que conhecemos por adotar uma postura, escolher um caminho ético e político, em que
a teoria se renova diante de cada análise crítica das relações societárias, na busca da sociabilidade
humana, em que a opressão do homem pelo próprio homem seja criticamente avaliada e deixe de
ser reproduzida, fazendo‑se cumprir a premissa de liberdade estabelecida na Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1949). Para ser alcançada, essa liberdade precisa de pressupostos anteriores.
Realmente isso nos parece, a priori, utópico. Sem dúvida, concordamos, mas, se nos permitirmos
optar pela naturalização e pela banalização, desconstruiremos nossa humanidade e sociabilidade. Esses
conceitos são fundamentais para o profissional de nossa área, que prima pela pesquisa social, para
construir um novo projeto societário, em que o sujeito social seja, de fato, sujeito de sua história.
57
Unidade I
Quando pretendemos realizar ações resolutivas, muitas delas podem ser pontuais e imediatistas; ao
contrário de negar a demanda, necessitamos enfrentar de forma política esse “jeitinho brasileiro”, ou “é
urgente”, ou “só para não morrer”, ou “enquanto não tem coisa melhor” e assim por diante.
Isso se estabelece por meio de uma prática inovadora e desafiadora, em que a análise crítica deixa de
culpabilizar os sujeitos sociais pelas suas desventuras, iniquidades, desigualdades e estabelece padrões
de conduta diante dessas violações de direitos que serão devidamente controladas.
Observação
Estamos falando de uma ação transformadora que não se submete e não permite que o outro
se submeta aos desmandos dos que detêm o poder, mas que sustenta a democratização do poder
de escolha, a partir do suporte para se estabelecer, efetivamente, autonomia e independência de
pensar e agir.
Para se sustentar o projeto ético‑político (PEP), os assistentes sociais não podem e não devem
limitar‑se às ações individuais e locais, mas precisam pensar no coletivo, donde se concretiza a efetividade
da pesquisa social científica, que avalia as ações e propõe – ética, política, teórica e metodologicamente
– novas intervenções técnico‑operativas. Saem, assim, das ações individuais para as ações coletivas
de uma categoria profissional, que se fundamenta e se expande com os demais saberes em ações
interdisciplinares e transdisciplinares, não permitindo a ausência, mas, sim, a capacidade investigativa e
interventiva transformadora.
Essa ação é madura e comprometida com o humano, suas relações sociais e, a partir daí, com
uma nova lógica societária, em que o profissional não se limita às ações imediatistas e às práticas
burocráticas, mas, verdadeiramente, torna‑se responsável, com base em sua ética profissional e humana.
Marx (2006, p. 31) já afirmara que “não há estrada real para a ciência, e
só têm probabilidade de chegar a seus cimos luminosos aqueles que
enfrentarem a canseira para galgá‑los por veredas abruptas”. Portanto, a
pesquisa imanente faz‑se necessária para aqueles que estão determinados
58
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Somos chamados à responsabilidade profissional. Não é apenas uma questão de legado: no momento
em que nos apropriamos do conhecimento, estamos instrumentalizados para desenvolver a crítica, com
capacidade de questionamento e de investigação. A partir desse contato com a realidade, elaboramos um novo
saber, que não mais se esconde na “mundaneidade fetichizada” (GUERRA, 1993), mas que nos conclama
a aprofundarmos a pesquisa científica, a mudarmos o rumo da história e a redescobrirmos novas formas
de intervenção.
Daí a importância, para o assistente social, de pesquisar a partir de sua prática profissional, com
rigor científico, para estabelecer novas teorias que subsidiem uma prática inovadora e transformadora.
Objetivos indicam o que se pretende conhecer, medir ou provar no decorrer da pesquisa, ou seja, as
metas que desejamos alcançar. Podem ser gerais ou específicos. No primeiro caso, indicam uma ação
muito ampla; no segundo, procuram descrever ações pormenorizadas ou aspectos detalhados.
Uma ação individual ou coletiva materializa‑se por meio de um verbo. “Por isso é importante uma
grande precisão na escolha do verbo, escolhendo aquele que rigorosamente exprime a ação que o
pesquisador pretende executar” (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 75).
59
Unidade I
• Objetivo(s) específico(s): indicação das metas das etapas que levarão à realização dos objetivos
gerais. Por exemplo: classificar, aplicar, distinguir, enumerar, exemplificar, selecionar etc.
Nessa etapa, você pensará a respeito de sua intenção ao propor a pesquisa. Deverá sintetizar o que
pretende alcançar com ela. Os objetivos devem ser coerentes com a justificativa e o problema proposto.
O objetivo geral será a síntese do que você pretende alcançar, e os objetivos específicos explicitarão os
detalhes e serão desdobramentos do objetivo geral.
Os objetivos informarão para que você está propondo a pesquisa, isto é, quais os resultados que
pretende alcançar ou qual a contribuição que sua pesquisa efetivamente proporcionará.
Os enunciados dos objetivos devem começar com um verbo no infinitivo, e este deve indicar uma
ação passível de mensuração.
É de suma importância que o autor de um trabalho acadêmico científico seja honesto consigo mesmo
e com os autores pesquisados. Dizemos isso porque é muito comum fazermos recortes, especialmente
da internet, e colocarmos no trabalho como se a autoria fosse nossa.
Em primeiro lugar, precisamos entender que copiar um texto de outro autor sem sua autorização e
sem indicar as referências bibliográficas é considerado plágio. Vejamos claramente o que isso significa:
No Código Penal Brasileiro, em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a
Propriedade Intelectual, nós nos deparamos com a previsão de crime de violação de
direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: “Violar direito autoral: Pena –
detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa”[BRASIL, 1940]. E os seus parágrafos
1º e 2º, consignam, respectivamente:
60
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Aquele que se propõe a produzir conhecimento sério, renovador do Direito, quer seja ele
professor, pesquisador ou aluno, se obriga a respeitar os direitos autorais alheios. Vejamos
o que diz a Constituição Federal vigente [BRASIL, 1988], em seu artigo 5º, XVII: “aos autores
pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras [...]”. E a
devida proteção legal em legislação ordinária nós a encontramos na Lei n. 9.610/98, mais
precisamente nos seus artigos 7º, 22, 24, I, II e III, e 29, I.
Mas, se a própria Lei [...] citada nos informa, no seu artigo 46, [inciso] III, que não se
constitui ofensa aos mencionados direitos a citação, em livros, jornais, revistas ou em
qualquer outro meio de comunicação, de trechos de qualquer obra, desde que sejam
indicados o nome do autor e a proveniência da obra, onde constataremos a incidência
dessa contrafação (reprodução não autorizada) tão grave, especificamente entendida na
sua forma conhecida como plágio? Exatamente no modo como o plagiário se apossa do
trabalho intelectual produzido por outrem.
O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos
recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos
pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das
frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho
original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.
Agindo desse modo, o plagiário tenta iludir a um só tempo tanto ao verdadeiro autor
da obra fraudada, como também a quem é dirigido o seu “trabalho”, inclusive a coletividade
como um todo, que irá absorvê‑lo. Ensina‑nos Costa Netto [1998], discorrendo sobre o
delito de plágio:
Concluindo, asseveramos que [...] um trabalho de pesquisa levado a efeito nos ditames
das normas metodológicas cabíveis, fincado num rigor científico necessário e inafastável,
deve ainda ser [...] revestido de uma indefectível postura ética por parte do seu autor, quer
seja ele mero estudioso, professor ou aluno de graduação ou pós‑graduação.
61
Unidade I
Agir com respeito perante não somente aquilo que se propõe a produzir com seriedade,
mas igualmente em relação às fontes pesquisadas, às ideias consultadas, aos pensamentos,
reflexões, pontos de vista, propostos em estudos e pesquisas já feitas, [...] para melhor ilustrar,
fundamentar ou enriquecer o seu trabalho científico, é o mínimo que podemos esperar de
alguém voltado para o conhecimento.
Muitos são aqueles que não têm qualquer escrúpulo em selecionar e copiar trabalhos
inteiros, trechos ou pequenos textos que pertencem a outrem, diretamente em proveito
próprio, ou mesmo para comercializá‑los junto a terceiros, auferindo lucros à custa
alheia. Assinam‑nos como se fossem os verdadeiros autores e pouco se importam com as
consequências de seus atos criminosos.
prontos, maquiados pela leviandade de quem assim age. Mais do que um ilícito civil, uma vez
que afronta direito de personalidade do autor, constitucionalmente garantido, atingindo a
sua criação intelectual, nos deparamos também com um ilícito criminal gravíssimo, coberto
ainda pela inteira reprovação moral a que se sujeita aquele que pratica o plágio.
Estamos plenamente esclarecidos sobre essa situação de plágio. Portanto, certamente, não vamos
incorrer nesse ato, especialmente porque dedicamos três longos anos de nossas vidas para nos
qualificarmos e nos tornarmos profissionais que trabalham com as desigualdades sociais, sendo uma
destas a própria desigualdade intelectual e educacional.
Nessa reta final, todo o esforço dedicado é para que a conduta ética e política seja concretizada
tanto na nossa atuação profissional quanto na elaboração de planos, programas, projetos e relatórios de
prática profissional e de pesquisa social, com segurança na qualidade da apresentação, da justificativa
e do referencial teórico.
Esse é o marco: sempre que identificamos um assunto, colocamos foco num tema, e pesquisamos
criticamente os fatores que o envolvem, delimitamos problemas e hipóteses em torno do tema ou até
mesmo de uma situação‑problema, que suscite nossa análise aprofundada. Surge daí o interesse pela
pesquisa científica.
Contudo, é vital que, ao olharmos para nossas hipóteses diante do problema, não nos limitemos ao
nosso “achismo” – “teorização fundada no subjetivismo do ‘eu acho que’ (aplicável a qualquer campo
teórico)” (HOUAISS, 2009), mas que nossa consciência esteja desperta para investigarmos o que já foi
escrito e pensado sobre o mesmo tema ou problema.
Assim, diante de uma teoria já elaborada, vamos encontrar a sustentação daquilo que buscamos
compreender cientificamente, mas com honestidade intelectual e com a devida abrangência, pois um
mesmo tema possui teorias convergentes e divergentes, que devem ser mencionadas antes de se partir
para a busca de afirmações e confirmações desta ou daquela linha teórica.
Caso tenhamos clareza da postura ética diante dos autores e em respeito às diversidades e pluralidades
das teorias na área das Ciências Humanas ou Sociais, cabe‑nos entender o que é marco teórico, pressuposto
teórico e qual a diferença entre esses conceitos. É o que vamos buscar esclarecer aqui.
Definimos como marco teórico a afirmação específica de um autor elaborada para definir uma
situação‑problema. Vejamos, por exemplo, como Adailza Sposati define proteção social:
63
Unidade I
Assim, se o TCC tiver como objetivo identificar o modelo de proteção social no Brasil, o marco teórico
poderá ser de Sposati (2009, p. 21), na lógica da proteção social como “proteção à Vida – supõe apoio,
guarda, socorro e amparo”. Assim, seu trabalho versará sobre esse referencial teórico.
Todo o contexto de proteção social estará em vinculado à sua escolha, pois você deverá
selecionar o marco referencial para seu trabalho, baseado nas investigações, reflexões,
explicações e conclusões de um determinado autor. É uma escolha de perspectiva de abordagem
que vai acompanhá‑lo nos capítulos de referencial teórico, metodologia, análise da pesquisa e
considerações finais.
Se o marco teórico for alterado, você terá de rever o problema, os objetivos e as hipóteses. Modificar
o marco teórico significa mudar o rumo da pesquisa, ou seja, recomeçar.
Sendo que pressupostos teóricos são os diferentes autores que tratam do tema proteção social,
com suas peculiaridades, bem como conceitos que deverão ser questionados pela pesquisa, podendo ou
não ser sustentados pelo marco teórico.
Por isso, anteriormente, explicamos que pesquisa bibliográfica é muito detalhista, pois requer uma
busca conceitual e esmiuçada sobre o tema e os conceitos, podendo, a partir do marco teórico, ser aceita
ou rejeitada cientificamente.
Estamos fazendo, com este livro‑texto, um caminho para sistematizar a elaboração do seu trabalho
de conclusão de curso. Por isso, acompanhamos as etapas, para que o processo de concepção, execução
e análise da pesquisa não seja traumático, mas, sim, gratificante.
Como em muitos casos sua pesquisa será de campo, pode ser que você tenha suposições que o
intriguem e o mobilizem a buscar esclarecimentos sobre o real funcionamento de um serviço de sujeitos
sociais. Por isso, em Ciências Humanas ou Sociais, podemos chamar de hipóteses ou suposições,
contudo o termo coloquialmente utilizado é hipóteses.
64
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Outra preocupação que não deve existir é se sua hipótese será sustentada ou não, pois a pesquisa
servirá exatamente para isso. Seu achado de pesquisa poderá mudar totalmente sua hipótese; isso é
plenamente aceitável e sustentado teoricamente.
Assim, as hipóteses marcam o caminho da pesquisa, indicam a metodologia a ser utilizada e definem
o marco e os pressupostos teóricos. Lembramos que é muito producente já ter isso claro no projeto de
pesquisa, mesmo que durante a pesquisa as hipóteses sejam verificáveis, comprováveis ou negáveis.
A redação das hipóteses, a princípio, pode causar insegurança, mas esse aprendizado, que nesse
momento pode estar no começo, quando de sua vida acadêmica e profissional, será um facilitador para
projetos de mobilização de recursos, planejamentos estratégicos, planos de trabalho (longo, médio e
curto prazo), artigos e novos trabalhos acadêmicos.
Não há como garantir que isso não acontecerá; contudo, se durante o estágio tivermos feito bons
relatórios, com crítica teórica sobre as violações de direitos, teremos um caminho percorrido que poderá
diminuir muito esse sentimento de frustração, pois não partiremos do nada; ao contrário, teremos uma
base prática e teórica.
Muitas vezes, o aluno busca um novo tema, desconsiderando o que presenciou e estudou no decorrer
do curso, justamente o que pode lhe dar sustentação e um marco inicial para a indicação de suas
hipóteses. Assim, que tal rever suas anotações de estágio e de aula? Pode lhe ajudar muito.
Para a monografia de graduação, não há exigência de novos achados de pesquisa; estes podem ser
de confirmação do que já existe. Isso pode facilitar, você não acha? Mas, se quiser e tiver empenho desde
sua monografia de graduação, já poderá indicar um novo aspecto, ainda pouco pesquisado e analisado.
Isso será muito estimulante, não é?
Vamos buscar o exemplo de proteção social que apresentamos no marco teórico referente a esse
tema. Se nossa pesquisa tiver como objetivo geral “analisar o grau de proteção social oferecido às
65
Unidade I
Logo, podem‑se estabelecer uma hipótese de aspecto teórico e duas de aspecto prático:
• Hipótese 1 – O programa do BPC oferece o mais alto nível de proteção social aos seus beneficiários,
pois lhes garante vida digna após os 65 anos.
Nesse caso, partimos de hipóteses com caráter de valoração do programa, sem crítica, identificando
apenas pontos positivos e tendo como marco teórico que a proteção social no Brasil realmente trabalha
com a preservação da vida.
Mas podemos, ao contrário, buscar com o mesmo objetivo e com o mesmo marco teórico hipóteses
que também analisem as vulnerabilidades do programa:
• Hipótese 1 – O programa do BPC não efetiva a proteção social aos seus beneficiários, pois não
existe suporte integral das políticas públicas que garantam vida digna após os 65 anos.
Aqui temos um caminho já definido para a metodologia, que deverá buscar uma revisão bibliográfica
sobre proteção social e sobre o benefício de prestação continuada, com foco na pessoa idosa. Depois
temos uma pesquisa quantitativa, por meio de procedimentos de consulta a bancos de dados do
ministério de Assistência Social e do Cras I; e uma pesquisa qualitativa, com procedimentos de aplicação
de questionário aos beneficiários do programa ou mesmo com depoimentos ou histórias de vida. Assim,
a partir de suas hipóteses, será identificada sua metodologia, que apresentaremos mais à frente.
Estamos chegando ao final desta primeira parte, em que nos propusemos a apresentar a construção
do pré‑projeto de pesquisa em Serviço Social. Esperamos que tenha esclarecido suas dúvidas e que
este material facilite a construção de sua pesquisa e do respectivo relato.
66
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
Resumo
67
Unidade I
Exercícios
68
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
III – A relevância científica da pesquisa provém do fato de ser produzido conhecimento com bases
científicas sobre a intervenção do assistente social na situação de violência doméstica contra a mulher,
considerando uma realidade específica.
IV – O fato de produzir um conhecimento sobre o fazer do assistente social junto a uma demanda
específica (mulheres vítimas de violência doméstica) e, ainda, abordar esse exercício junto ao Creas, um
serviço público, denota a relevância técnica dessa pesquisa.
B) II, III e V.
C) I, II e III.
D) III, IV e V.
E) I, IV e V.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a relevância social da pesquisa provém da importância que o tema adquire para
a sociedade. A relevância social não está vinculada à importância do tema para a produção do
conhecimento científico.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a relevância social de uma pesquisa advém da sua importância social, ou seja, do
quão relevante o tema é para a sociedade. No exemplo apresentado sabemos que é importante
conhecer a violência doméstica contra a mulher, uma vez que esse fenômeno tem sido ampliado na
sociedade brasileira.
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Unidade I
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: o aspecto técnico de uma pesquisa advém da contribuição que ela confere à uma dada
área de formação. No caso em pauta o curso é o de serviço social, portanto a pesquisa deverá abordar
algum aspecto relacionado à atuação desse profissional. No exemplo apresentado, há produção de
conhecimento sobre a ação do assistente social em um espaço de política social.
V – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a relevância técnica de uma pesquisa está relacionada à importância que o tema
da pesquisa possui para a área de formação, e não para a sociedade. A relevância social vincula-se à
importância social de um tema de pesquisa.
Desde os anos 1980, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) desenvolve pesquisas e forma
pesquisadores que estudam assuntos relacionados a violência, democracia e direitos humanos
No entanto, entender a complexidade que cerca nossas relações sociais e tentar solucioná-la também
faz parte dessa nobre empreitada. Para isso, existem centros de pesquisa como o Núcleo de Estudos da
Violência da USP, que, desde 1987, desenvolve pesquisas e forma pesquisadores que estudam assuntos
relacionados a violência, democracia e direitos humanos.
De acordo com o professor Sérgio Adorno, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da USP e coordenador do NEV, o núcleo foi um dos primeiros centros com o objetivo
principal de estudar o ‘fenômeno da violência’.
Criado em parceria com o professor Paulo Sérgio Pinheiro, no final dos anos 1980, o NEV teve
início em uma pequena sala no próprio departamento de sociologia da FFLCH. Nos anos seguintes, o
núcleo cresceu, ganhou nova sede e autonomia para formar e receber pesquisadores de outras áreas do
conhecimento, como a professora Nancy Cardia, especialista em psicologia social.
70
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL
‘Tínhamos objetivos muito claros, primeiro construir uma base de documentação e contribuir para
melhorar a qualidade dos dados primários obtidos através de pesquisas de campo’, lembra Adorno ao
explicar que a atenção do grupo se concentrou inicialmente em mapear, por exemplo, os homicídios
desde o final dos anos 1970 até décadas mais recentes, verificando os indicadores sociais dos envolvidos,
ou seja, dados como escolaridade, ocupação, profissionalização e até acesso aos direitos básicos.
Segundo o professor, desde seu desenvolvimento inicial, o grupo tinha como uma de suas principais
metas realizar pesquisas ‘cujos resultados pudessem contribuir para formular políticas públicas mais
condizentes com o controle da violência’. Para ele, era essencial promover pesquisas que pudessem
contribuir para fomentar mudanças de mentalidades em relação aos direitos humanos e que, de alguma
maneira, também contribuíssem para a formação dos recursos especializados para trabalhar nas áreas
de justiça e direitos humanos.
Ao agregar pesquisadores de diferentes níveis de formação, o NEV nasceu com foco em estudar a
violência no Brasil, mas sempre a partir de comparações, inclusive com demais países da América Latina.
A ideia era ‘comparar com outras sociedades, em diferentes estados de desenvolvimento econômico e
social, para saber como experiências bem-sucedidas poderiam iluminar não só a nossa pesquisa, mas
também os formuladores de políticas públicas de segurança’, relata.”
PACHECO D. Núcleo estuda caminhos para criar um Brasil menos violento. Jornal da USP, 2019.
Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/nucleo-estuda-caminhos-para
-criar-um-brasil-menos-violento/. Acesso em 5 mar. de 2020.
A) Analisar e mapear os 120 casos atendidos pelo projeto Espaço Amigo de Sucupira, buscando
identificar os tipos de violência doméstica vivenciado pelas vítimas.
B) Interferir junto aos casos de violência doméstica que acometeram crianças e adolescentes
atendidos no projeto Espaço Amigo de Sucupira, buscando proteger as vítimas.
C) Abordar vítimas de violência doméstica atendidas pelo projeto Espaço Amigo de Sucupira e seus
familiares, visando conhecer os principais tipos de violência doméstica que as acometeram.
D) Identificar e analisar a ação do assistente social junto às crianças e aos adolescentes vítimas de
violência doméstica atendidas no projeto Espaço Amigo de Sucupira.
E) Realizar pesquisa de campo junto ao projeto Espaço Amigo de Sucupira a fim de mapear a ação
do assistente social junto a crianças com dificuldade de aprendizagem.
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Unidade I
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: uma pesquisa não é elaborada para intervir junto aos problemas sociais. Os dados produzidos
podem até resultar em intervenções e em prevenções, mas o objetivo é o de produzir conhecimento.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: o objetivo geral descrito apresenta uma pesquisa orientada para vítimas e familiares
envolvidos com violência doméstica, porém o tema da pesquisa é a prática do assistente social junto a
esses casos. Assim, há um descompasso entre o tema idealizado e o objetivo apresentado na assertiva.
D) Alternativa correta.
Justificativa: o objetivo geral deve ser iniciado com o verbo no infinitivo e deve estar relacionado
ao tema geral da pesquisa. A alternativa indica que o objetivo geral se vincula ao tema proposto pela
pesquisa, posto que aborda a questão da ação do assistente social junto à violência doméstica em um
projeto específico.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: há uma incompatibilidade entre o tema e o objetivo geral, posto que o tema está
orientado a entender a ação do assistente social junto a vítimas de violência doméstica contra crianças
e adolescentes, e não a crianças com dificuldade de aprendizagem, especificamente.
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