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Projetos de Pesquisa

em Serviço Social
Autoras: Profa. Silmara Cristina Ramos Quintana
Profa. Carla da Silva
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudella
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Profa. Daniela Emilena Santiago Dias de Oliveira
Professoras conteudistas: Silmara Cristina Ramos Quintana / Carla da Silva

Silmara Cristina Ramos Quintana

Graduada em Serviço Social pela Faculdade de Serviço Social de Araraquara (1983); especialista em Psiquiatria e Psicologia de
Adolescentes pela Faculdade de Ciência Médicas/Unicamp (1990), Psicodrama Pedagógico/Animus (1996) e Orientação Educacional
e Vocacional/CBA (1994); Mestre em Medidas Socioeducativas pela Uniban (2010).

Atualmente é coordenadora e professora do curso de Serviço Social (UNIP – Campinas), professora do curso de pós-graduação
(lato sensu) em Gestão Social de Políticas Socais (UNIP Interativa – 2010-atual) e professora conteudista convidada pelo Grupo
Unisepe. Também é consultora, assessora e supervisora na área de políticas públicas (planejamento, execução e avaliação). Tem
experiência na área da docência e coordenação de curso de graduação e de pós-graduação em Serviço Social e Gestão Pública,
nas modalidades presencial e EaD e experiência como assistente social, atuando principalmente nos seguintes temas: criança e
adolescente, pessoa com deficiência, família, proteção social básica e especial, políticas publicas, sistema de garantia de direitos e
justiça restaurativa. É pesquisadora na área da justiça restaurativa.

Carla da Silva

Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) em 2005. É pesquisadora e
membro do grupo de estudos da ONG SOS Ação Mulher e Família e bolsista do CNPQ, doutoranda em Serviço Social com ênfase
em Políticas Sociais e Movimento Social, pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Serviço Social (2011) e especialista em Serviço Social, Saúde e Violência Urbana pelo
Programa de Aprimoramento Profissional da FCM da Unicamp (2007).

Tem experiência como assistente social, proteção básica, no Centro de Convivência Inclusivo e Intergeracional (Casa dos
Sonhos), em parceria com o Hospital Dr. Cândido Ferreira (saúde mental); proteção especial de média e alta complexidade
(atendimento a mulheres, crianças e adolescentes em situação de violência). Também tem experiência na docência desde 2011,
tendo ministrado disciplinas de graduação, curso de Serviço Social, e de pós-graduação, das instituições Unisepe-Unifia (Centro
Universitário Amparense), 2011-2014; Faculdade de Serviço Social do Instituto Superior de Ciências Aplicadas (Isca-Limeira),
2011‑2013; e UNIP (Campinas/Swift), 2013-2016. Atualmente é docente da Faculdade de Serviço Social PUC-Campinas, lecionando
as disciplinas com ênfase em Gênero, Política Social e Pública, Supervisora Acadêmica; e estágio em Direitos Humanos. Consultora
de equipes de trabalho da Política de Assistência Social.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Q7p Quintana, Silmara Cristina Ramos.

Projetos de Pesquisa em Serviço Social / Silmara Cristina Ramos


Quintana, Carla da Silva. - São Paulo: Editora Sol, 2020.

204 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Projetos de pesquisa. 2. Pré-projeto. 3. Procedimentos.


I. Silva, Carla da. II. Título.

CDU 001.8

U505.83 – 20

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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Juliana Maria Mendes
Luanne Batista
Jacinara Albuquerque
Sumário
Projetos de Pesquisa em Serviço Social

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 CONSTRUÇÃO DO PRÉ-PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL........................................ 11
1.1 Por que pesquisamos?......................................................................................................................... 11
1.2 Levantamento dos temas e da literatura que circunscreve o assunto
da pesquisa...................................................................................................................................................... 22
1.3 Levantamento dos temas de interesse dos alunos.................................................................. 30
1.3.1 Crianças....................................................................................................................................................... 31
1.3.2 Adolescentes.............................................................................................................................................. 31
1.3.3 Políticas públicas de educação........................................................................................................... 34
1.3.4 Políticas públicas de habitação.......................................................................................................... 36
1.3.5 Temas estruturantes............................................................................................................................... 37
1.3.6 Sistema de garantia de direitos......................................................................................................... 40
1.3.7 Levantamento de literatura que circunscreve o assunto de cada pesquisa.................... 44
1.3.8 Escolha do tema....................................................................................................................................... 47
2 ELABORAÇÃO DO PLANO DE TRABALHO................................................................................................ 47
2.1 Estrutura................................................................................................................................................... 48
2.1.1 Identificação.............................................................................................................................................. 48
2.1.2 Localização e compilação..................................................................................................................... 49
2.1.3 Fichamento................................................................................................................................................. 49
2.1.4 Análise e interpretação.......................................................................................................................... 50
2.1.5 Redação....................................................................................................................................................... 50
3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E DO OBJETO DA PESQUISA............................................................ 52
3.1 Delimitação do problema da pesquisa......................................................................................... 52
3.2 Delimitação do objeto de pesquisa................................................................................................ 55
4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA: SOCIAL, TÉCNICA E CIENTÍFICA......................................................... 56
4.1 Definição dos objetivos da pesquisa............................................................................................. 59
4.2 O marco teórico conceitual da pesquisa..................................................................................... 60
4.3 Formulação de hipóteses................................................................................................................... 64
Unidade II
5 A METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................................................................. 73
5.1 Delimitação da metodologia da pesquisa................................................................................... 73
5.2 O campo da pesquisa e o trabalho de campo........................................................................... 79
5.3 Abordagem da pesquisa..................................................................................................................... 80
5.3.1 Pesquisa quantitativa............................................................................................................................. 80
5.3.2 Pesquisa qualitativa................................................................................................................................ 83
5.3.3 Comparações entre as abordagens: quantitativa e qualitativa............................................ 87
5.4 Tipos de pesquisa................................................................................................................................... 89
5.4.1 Pesquisa com objetivo exploratório................................................................................................. 89
5.4.2 Pesquisa com objetivo descritivo...................................................................................................... 90
5.4.3 Pesquisa com objetivo explicativo.................................................................................................... 91
5.5 Procedimentos para a pesquisa....................................................................................................... 91
5.5.1 Pesquisa com procedimento bibliográfico.................................................................................... 92
5.5.2 Pesquisa com procedimento documental..................................................................................... 94
5.5.3 Pesquisa de laboratório......................................................................................................................... 95
5.5.4 Pesquisa de levantamento................................................................................................................... 95
5.5.5 Pesquisa de campo.................................................................................................................................. 98
5.5.6 Estudo de caso.......................................................................................................................................... 98
5.5.7 Pesquisa‑ação........................................................................................................................................... 99
5.5.8 História de vida.......................................................................................................................................101
5.6 Coleta de dados...................................................................................................................................104
5.6.1 Instrumentos de coleta de dados....................................................................................................107
5.7 Análise e interpretação dos dados...............................................................................................122
5.7.1 Categorias de análise.......................................................................................................................... 123
5.7.2 Preparação dos dados......................................................................................................................... 125
5.7.3 Análise....................................................................................................................................................... 125
5.7.4 Considerações finais ou conclusões.............................................................................................. 127
6 QUALIFICAÇÃO DO PRÉ‑PROJETO DE PESQUISA...............................................................................128
6.7.1 Revisão do pré‑projeto de pesquisa.............................................................................................. 128
6.1 Entrega do projeto de pesquisa.....................................................................................................130
6.2 Entrega do relatório de pesquisa..................................................................................................133

Unidade III
7 INICIANDO A ELABORAÇÃO DO PROJETO............................................................................................141
7.1 Observação.............................................................................................................................................141
7.2 Tema.........................................................................................................................................................145
7.3 Problema.................................................................................................................................................147
7.4 Hipótese..................................................................................................................................................149
7.5 Objetivo...................................................................................................................................................151
7.6 Metodologia..........................................................................................................................................153
7.6.1 Quanto ao método racional de abordagem............................................................................... 154
7.6.2 Quanto ao objetivo.............................................................................................................................. 155
7.6.3 Quanto aos procedimentos.............................................................................................................. 156
7.6.4 Quanto à técnica de pesquisa......................................................................................................... 157
7.6.5 Quanto ao objeto.................................................................................................................................. 158
7.6.6 Quanto ao tipo de amostragem..................................................................................................... 159
7.6.7 Quanto à abordagem do problema............................................................................................... 160
7.6.8 Instrumentos...........................................................................................................................................161
7.7 Comitê de Ética....................................................................................................................................164
7.8 Revisão bibliográfica..........................................................................................................................165
7.9 Ética e plágio.........................................................................................................................................168
7.10 Cronograma........................................................................................................................................169
7.11 Projeto....................................................................................................................................................170
7.12 Resumo.................................................................................................................................................171
8 MODELO DE PROJETO...................................................................................................................................173
APRESENTAÇÃO

Convidamos você a trilhar, através deste livro-texto, os percursos dos processos investigativos, como
dimensão constitutiva do trabalho do assistente social – subsídio para a produção do conhecimento
sobre processos sociais – e como fortalecimento do objeto da ação profissional.

Para tanto, abordaremos a pesquisa como espaço para o exercício da práxis profissional, contando
com a articulação entre o conhecimento teórico‑metodológico e o técnico‑operativo na compreensão
da realidade social, com vistas à produção do conhecimento científico.

Vamos pensar juntos na concepção, elaboração e realização de seu projeto de pesquisa, lembrando
sempre que esse poderá ser o primeiro de muitos projetos de pesquisa na sua trajetória profissional.

Assim, por agora, teremos como objetivos: problematizar a investigação como dimensão constitutiva
do trabalho do assistente social, como subsídio para a produção do conhecimento sobre processos
sociais e como reconstrução do objeto da ação profissional; fortalecer em você, aluno, uma atitude
investigativa diante da realidade social; compreender e discutir a natureza, o método e o processo de
construção de conhecimento, bem como o debate teórico‑metodológico na área.

Esses objetivos serão alcançados a partir de uma discussão aprofundada sobre o olhar estabelecido
pelo aluno para com a realidade social, por meio de experimentação, com a Teoria da Pesquisa Social,
que se fortalece e instrumentaliza por meio da inclusão no estágio, espaço privilegiado de investigação
e elaboração do conhecimento teórico, que é agregado à vivência técnico‑operativa. Nesse espaço, a
experiência gera a análise e o confronto das teorias, estimulando a investigação, donde nasce um novo
saber‑fazer teórico e prático. Maria Liduína Silva (2011) afirma que o pesquisador tem possibilidade
de interpretar e transformar a realidade, estabelecendo‑se assim o método dialético.

Na lógica de se estimular a concretização da pesquisa social, em que se estabeleça a práxis


profissional do Serviço Social, partiremos para o desenho do modelo de projeto de pesquisa, organizando
o pensamento e delineando os caminhos a serem traçados. Para tal, cumpriremos os seguintes objetivos
específicos: escolher e delimitar o objeto de estudo, contando com a orientação e o acompanhamento
do professor; elaborar o pré‑projeto de pesquisa e apresentá‑lo a uma banca examinadora, com vistas a
qualificá‑lo para desenvolver o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

Se de um lado estão os métodos que nos indicam os caminhos da práxis profissional, de outro,
simultaneamente, existe a necessidade de saber registrar os achados de pesquisa. Para ter um ordenamento,
deveremos planejar um caminho para a pesquisa e seu registro, nascendo assim o projeto de pesquisa.

INTRODUÇÃO

Ao longo do curso você, aluno, teve de estabelecer critérios de tempo, disponibilidade emocional e
aprendizado para sua formação profissional.

Não tem sido fácil, com certeza. Afinal, temos de fazer escolhas e, com isso, deixamos para outro
momento atividades que nos são importantes e prazerosas.

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Agora temos um novo desafio para você. Não basta desejar, “arrumar um tempinho”. Será necessário
muito mais: chegou o tempo de intensificar essa dedicação, a fim de ter uma produção científica.

Aqui, teremos o objetivo de desconstruir o medo de escrever e buscar sua criatividade de expressar
tudo aquilo que vem vivenciando durante as aulas, as leituras, os estudos e o estágio.

Outro desafio importante é saber que o projeto de pesquisa poderá ser elaborado com outras
pessoas; para que isso se traduza em avanço e crescimento, você precisará identificar características
convergentes e divergentes para os participantes se complementarem, pois vão trabalhar durante
dois anos: juntos, iniciarão o projeto, realizarão a pesquisa e elaborarão o relatório da pesquisa – TCC
(Trabalho de Conclusão de Curso).

Perceba que estamos falando de um tempo longo e que precisa ser planejado de forma que alinhe
todas as demandas (pessoais, familiares, profissionais e de estudo e pesquisa).

Precisamos estar bem próximos, a fim de que, à medida que formularmos o conhecimento teórico
sobre projetos, identifiquemos os caminhos a serem trilhados.

Expostas essas nossas demandas relacionais, vamos abordar alguns conceitos importantes para a
nossa tarefa.

A pesquisa social tem um cunho científico, portanto gera conhecimento, ou seja, seu trabalho não
pode ser considerado algo isolado: pelo contrário, deverá ter a função de construir conhecimento.

Nessa lógica vamos apresentar o referencial teórico sobre elaboração do projeto de pesquisa a partir
de três unidades correlacionadas, de forma que, ao finalizar esses estudos, consiga ter elaborado seu
projeto de pesquisa que culminará no seu TCC.

Inicialmente, versaremos sobre a principiologia da pesquisa considerando sua cientificidade e


importância para o serviço social, focando em duas vertentes a pesquisa: para o campo profissional e
para o campo do referencial teórico. Discutiremos a delimitação do tema, do problema e as hipóteses
do projeto de pesquisa.

Em seguida discorremos sobre a metodologia da pesquisa, etapa a etapa, conceituado cada


uma. Passaremos pelos procedimentos de pesquisa e prosseguiremos pela coleta e análise de dados,
considerando os métodos de pesquisa, sempre com ênfase no método dialético. E então discorremos
sobre a apresentação do projeto de pesquisa, sua qualificação e o relatório final.

Por fim apresentamos um modelo de projeto de pesquisa com todas as fases para que o aluno
exercite seu aprendizado. Simultaneamente aos estudos empreendidos essa disciplina solicitará a
elaboração de um projeto de pesquisa que receberá orientação de um professor, através da plataforma
blakboard - AVA.

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PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Unidade I
1 CONSTRUÇÃO DO PRÉ-PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

1.1 Por que pesquisamos?

Para reconhecer a importância da pesquisa, nos valemos de alguns estudiosos sobre o assunto, que
fundamentam a relevância do conhecimento científico, e que sustentam toda a intervenção cotidiana,
em diversas áreas do saber, sendo que aqui delimitamos as ciências sociais, posto que o serviço social
recorre a essa ciência.

Numa trajetória do desenvolvimento do conhecimento científico, na área das ciências sociais que
compreende o estudo das relações humanas em sociedade, é onde o indivíduo se relaciona e atua
coletivamente quando em vivência e convivência na sociedade.

Assim na antropologia temos a preocupação do Homo sapiens com o conhecimento da realidade


(MINAYO 2008 apud VOGEL, 2011). Em que a autora destaca que as tribos primitivas explicavam a vida
e a morte e suas relações individuais e sociais como “mitos”.

Historicamente, tivemos as religiões como impulsionadoras da chamada moral para deliberar sobre
as relações individuais, sociais e espirituais, impetrando poder à ordem de seus superiores, em nome do
extranatural. Simultaneamente, a filosofia teve a responsabilidade de explicar a existência individual e a
coletiva, creditando a si todo o saber, conforme o olhar do filósofo/estudioso.

Também o artista, por meio da sua arte, seja ela escrita, plástica, musical ou interpretativa, teve o
papel de registrar o consciente e o subconsciente das relações humanas/individuais e sociais/coletivas.

Contudo, é a ciência “não exclusiva, não conclusiva, não definitiva” (MYNAIO, 2011, p. 9) que coloca
à prova o conhecimento passado, o presente e o futuro, com sua função investigativa, que delimita o
problema, estabelece o foco de atenção, registra suas múltiplas relações e reações com seu entorno
direto e indireto, contudo não o limita; pelo contrário, insere-o, sempre que pertinente, em novas
reações, a partir de novas variáveis.

Vogel (2011) lembra que a ciência é permeada por conflitos e contradições, sendo um dos embates
o existente entre ciências sociais e ciências naturais. Minayo (2008 apud VOGEL, 2011) aponta que,
para alguns autores, existe uma uniformidade: eles indicam que o natural deve se equiparar ao social,
pois somente assim poderá receber o título de ciência. Outros estudiosos, no entanto, defendem que as
diferenças, singularidades e peculiaridades dessas áreas devem prevalecer.

11
Unidade I

O campo científico possui ao mesmo tempo dois polos: um de unidade, pois


pode existir a semelhança em todas as atividades que partem da ideia do
conhecimento construído por meio de conceitos; e outro de diversidade,
pois o campo da ciência não pode ser reduzido a uma única forma de
conhecer, mas ela contém maneiras diversas de realização (BRUYNE apud
MINAYO, 2011, p. 10).

Vogel (2011) prossegue, afirmando que, diante de inúmeros questionamentos sobre a configuração
das ciências sociais na lógica de conhecimento científico, Minayo propõe a ponderação sobre os seguintes
dilemas: “seguir os caminhos das ciências estabelecidas e empobrecer seu próprio objeto? Ou encontrar
seu núcleo mais profundo, abandonando a ideia de cientificidade?” (MINAYO, 2008 apud VOGEL, 2011,
p. 11). Minayo (2008 apud VOGEL, 2011, p. 11) ainda lembra também que para discutir as ciências sociais
em sua singularidade, essa autora utiliza cinco critérios (listados a seguir), que as diferenciam, mas que
não as desvinculam dos princípios da cientificidade:

O primeiro é que o objeto das ciências sociais é histórico, ou seja, cada


sociedade humana se constrói de maneira diferente, porém aquelas que
vivenciam o mesmo período histórico têm traços em comum devido à
influência das comunicações, e as sociedades presentes são marcadas pelo
seu passado e constroem o seu futuro.

O segundo é que o objeto das ciências sociais possui consciência histórica


[...], não é apenas o investigador que tem capacidade de dar sentido ao
seu trabalho intelectual, mas todos os seres humanos dão sentidos às suas
ações, explicitam suas intenções [...], planejam o seu futuro, portanto o nível
de consciência histórica das ciências sociais se refere ao nível de consciência
histórica da sociedade de seu tempo.

O terceiro critério é que nas ciências sociais existe uma identidade entre
sujeito e objeto, pois lida com seres humanos, que por seus traços como
classe, faixa etária etc., se aproximam do investigador.

O quarto critério é que as ciências sociais são intrínseca e extrinsecamente


ideológicas, pois não existe ciência neutra [mas] apresenta[m] uma visão de
mundo [que] implica [...] todo o processo de conhecimento, desde a escolha
do objeto, a aplicação e o resultado, e isso ocorre também nas ciências
naturais, de forma diferente, mas que aparece quando se escolhem ou
descartam temas, métodos e técnicas.

O último critério é que o objeto das ciências sociais é essencialmente


qualitativo, pois elas possuem instrumentos e teorias que permitem a
aproximação da existência dos seres humanos em sociedade, abordando o
conjunto das expressões humanas nas estruturas, processos, representações,
símbolos e significados.
12
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Ao considerarmos os critérios de identificação do objeto das ciências sociais pelas lentes da autora,
passamos a considerar que a vivência do indivíduo se reflete junto aos demais, em que um sujeito
se conecta ao outro em suas múltiplas experiências de inserção ou de exclusão na sociedade, tendo
como causa o conjunto sócio-histórico, econômico e político que sustenta as relações de potência e
impotência, que estabelecem a hierarquia de poder ou submissão nas relações coletivas. Sendo essa
leitura de mundo e de relações interpessoais e sociais que estabelecem com qual lente conceitua-se a
metodologia da pesquisa, que para a visão do serviço social Minayo (2008 apud VOGEL, 2011, p. 14-15)
tem a melhor aproximação:

Afirmando que [...] a metodologia inclui simultaneamente a teoria


da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do
conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência,
sua capacidade pessoal e sua sensibilidade), [...] metodologia é muito mais
que técnicas, mas é a própria articulação entre a teoria e a realidade dos
pensamentos sobre a realidade [...]. Minayo (2008, p. 15) prossegue afirmando
que, com base em Lenin, para quem “o método é a alma da teoria”, nada
substitui a criatividade do pesquisador, e que tanto segundo Feyerabend
quanto Kuhn, o progresso da ciência ocorre de forma mais veemente
quando as regras são violadas, e não quando são seguidas. Dilthey (apud
MINAYO, 2008) complementa que apesar de precisarmos de determinados
parâmetros para produzirmos conhecimento, assim sendo a criatividade
passa a ser considerada fundamental.

A pesquisa é uma atividade basilar da ciência, que investiga para construir a realidade. Mesmo
sendo uma prática teórica, ela vincula o pensamento à ação, donde se tem que qualquer pesquisa deve
ser iniciada com uma pergunta ou uma dúvida, que para ser respondida, demanda articulação dos
conhecimentos anteriores ou a criação de novos conhecimentos.

Para entendermos melhor, apresentamos a seguir várias definições de pesquisa, dadas por diversos
pesquisadores e compiladas por Silva e Menezes (2001 apud, p. 19):

Minayo (1993, p. 23), vendo por um prisma mais filosófico, considera


a pesquisa como: “atividade básica das ciências na sua indagação e
descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante
busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É
uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota,
fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”.

Demo (1996, p. 34) insere a pesquisa como atividade cotidiana considerando-a


como uma atitude, um “questionamento sistemático crítico e criativo, mais
a intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente
com a realidade em sentido teórico e prático”.

13
Unidade I

Para Gil (1999, p. 42), a pesquisa tem um caráter pragmático, é um “processo


formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo
fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o
emprego de procedimentos científicos”.

Assim estabelecemos que a pesquisa na área social tem intrinsecamente como objeto a realidade
sócio-histórica e a forma como essa reverbera nas relações pessoais e coletivas, portanto Minayo (2008,
p. 17 apud VOGEL, 2011) reflete sobre a necessidade da teoria, que é:

[...] construída para explicar ou para compreender um fenômeno, um


processo ou um conjunto de fenômenos e processos”, e que tem como
funções esclarecer melhor o objeto de pesquisa, fornece[r] elementos
para questionamentos e o estabelecimento de hipóteses, colabora[r] na
organização dos dados com mais nitidez e guiar a análise [destes].

E para complementar essa linha de conceituação sobre a importância da teoria, Vogel (2011) aponta
ainda que:

A teoria pode ser o conhecimento de um determinado assunto construído


cientificamente por outros pesquisadores e que esses subsidiam novas
pesquisas, como, por exemplo, as grandes teorias (macroteorias) que são
[propostas] por autores de referência, sendo [...] as quatro principais [...]
o positivismo, o marxismo, a teoria da ação, e o compreensivismo, mas
há [outras] teorias menores, que se baseiam em alguma grande teoria e
especificam a explicação e a interpretação de um fenômeno (VOGEL, 2011, p. 12).

Percebe-se com esses autores que não criamos uma nova teoria ao pesquisarmos, mas que a partir de
sustentação teórica anterior, e com avanços científicos, implementam-se informações a partir de novas
investigações. Contudo é mister considerar que se faz necessário ter um ponto de partida que sustenta
o posicionamento ético-político e ideológico, que é a linha teórica que subsidia a leitura, a compreensão
e a análise do fenômeno perquirido, ou seja a linha teórica macroestrutural e as microestruturais.

Entretanto devemos considerar que surgem problemas que as teorias existentes não abrangem, ou
não são suficientes para esclarecer, posto que a realidade está em movimento. Portanto faz-se necessária
a pesquisa exploratória, na qual é proposta uma nova interpretação. Nenhuma teoria, por mais bem-
formulada que seja, tem o potencial de explicar todos os fenômenos e processos (VOGEL, 2011), posto
que o tempo é contínuo.

Nesse sentido, a teoria se baseia em um conjunto de proposições, que são as hipóteses cujo
referencial teórico cientifico vem comprovando. Quando elencadas, devem ser claras, possibilitando o
fácil entendimento e trazendo, em sua apresentação, as relações abstratas, para que estas norteiem as
questões inseridas no cotidiano.

14
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

A partir da teoria, especialmente aquela que sustenta o referencial da delimitação do tema escolhido
pelo pesquisador, e que subsidiará o(s) conceito(s) que norteará(ão) a pesquisa, que segundo Vogel tem
uma abrangência sobre conceitos, aqui referidos:

São os temas mais significativos num discurso científico, são eles que
focalizam e delimitam o tema de estudo e são carregados de sentido, já
que uma mesma palavra pode ter conceitos diferentes em teorias distintas.
Minayo (2008) aponta quatro características do conceito que devem estar
claras para o pesquisador: o conceito tem que ser valorativo (explicitação
da corrente teórica onde os conceitos foram concebidos), pragmático
(descrição e interpretação da realidade) e comunicativo (nítidos, inteligíveis,
abrangente e específico ao mesmo tempo). Os três tipos de conceitos são os
teóricos (compõem o discurso da pesquisa), de observação direta (definem
os termos para serem trabalhados em campo ou nas análises documentais),
e de observação indireta (relacionam o contexto da pesquisa com os
conceitos da observação direta). A autora afirma que tanto as teorias como
os conceitos são fundamentais para qualquer pesquisa, porém eles não
podem ser camisas de força (VOGEL, 2011, p. 13).

Nesse sentido, a delimitação do tema deve estar sustentada por uma teórica estrutural, por teóricas
subjacentes e específicas, e essas demarcam os conceitos estruturantes sobre o olhar do pesquisador. Esse
olhar é a explicitação de seu posicionamento ético e político frente ao recorte da realidade pesquisada.

Portanto, para iniciar uma pesquisa, é necessário reconhecer as correntes de pensamento existentes
e como elas dialogam com as hipóteses, e a partir dessa identificação estabelecer critérios para suas
escolhas. Para alguns autores, como Minayo (2007), Demo (1996 apud SILVA; MENEZES, 2001), Severino
(2007) e Gil (1997, 2002, 2008), é necessário reconhecer os métodos de pesquisa para poder identificar
qual o mais apropriado à realidade que se apresenta, ou mesmo considerar o diálogo entre eles, para
então iniciar o percurso da elaboração do conhecimento.

Esse conhecimento pode ser adquirido de diversas formas, e para a pesquisa de cunho científico se
estabelece a partir de parâmetros de como se busca a informação contida nos referenciais teóricos, na
coleta de dados no campo onde se encontra o fenômeno em eminência e no processo de análise dos
dados investigados. A forma como se vê, sente, lê, escreve e explica o fenômeno é identificada como o
método da pesquisa, e é lançada a partir de uma conceituação de alguns autores que apresentamos,
por exemplo: “é um esforço para atingir um fim, investigação, estudo, caminho pelo qual se chega a
um determinado resultado” (LALANDE, 1999, p. 678); e outro: “método significa uma investigação que
segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento
racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado” (CHAUÍ apud SILVA, 2011, p. 5). Também se
entende método de pesquisa como:

Caminho pelo qual se atinge um objetivo; estrada, simultaneamente, rumo,


discernimento da direção; panorama que regula várias operações, técnicas;
via de acesso, onde se constrói o conhecimento científico; como fazer
15
Unidade I

(modo de fazer); melhor maneira para compreender o objeto, objetivos; uma


abordagem teórico-metodológica escolhida pelo pesquisador (conceitual e
operacional); escolha de instrumentos, técnicas de coletas e análise; é um
jogo de quebra cabeça (criação/encantamento/revelação) (SILVA, 2011, p. 5).

Assim, verificamos que, para se pensar em construção de conhecimento, precisamos identificar um


caminho a percorrer, em que se estabeleça um ponto de partida, um como sair, como caminhar e
como retornar. Com isso, sabemos da necessidade de ter um método para se investigar as múltiplas
expressões da questão social, objeto do Serviço Social, por exemplo, a violência, a pobreza, a fome, a
miséria etc.

Mas, como fazer esse caminho? Veja, precisamos reconhecer que a investigação científica depende de
um “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos” para que seus objetivos sejam atingidos: são os
métodos científicos, “conjunto de processos ou operações mentais que se devem empregar na investigação.
É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa” (GIL, 1999, p. 26 apud SILVA; MENEZES, 2001).

Os métodos que fornecem as bases lógicas da investigação são: dedutivo, indutivo, hipotético‑dedutivo,
dialético e fenomenológico. Para facilitar o entendimento, vamos descrevê-los seguir:

Quadro 1 – Métodos de investigação

Método Propositores Compreensão


Só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio
dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por
Racionalistas: Descartes, intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise
Dedutivo Spinoza e Leibniz do geral para o particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo,
construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira
logicamente derivada das duas primeiras, a que se denomina conclusão.
Considera que o conhecimento é fundamentado na experiência, não
Empiristas Bacon, Hobbes, levando em conta princípios preestabelecidos. No raciocínio indutivo, a
Indutivo Locke e Hume generalização deriva de observações de casos da realidade concreta. As
constatações particulares levam à elaboração de generalizações.
Quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são
Hipotético- insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para
Popper
dedutivo tentar explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas
conjeturas ou hipóteses.
As contradições se transcendem, dando origem a novas contradições que
passam a requerer solução. É um método de interpretação dinâmica e
Dialético Hegel, Marx totalizante da realidade. Considera que os fatos não podem ser levados em
conta fora de um contexto social, político, econômico etc.
Não é dedutivo nem indutivo. Preocupa-se com a descrição direta da
experiência tal como é. A realidade é construída socialmente e entendida
como o compreendido, o interpretado, o comunicado. Portanto não é
Fenomenológico Husserl única: existirão tantas realidades quantas forem as suas interpretações e
comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no processo
de construção do conhecimento.
A análise deveria se dar por meio da compreensão do sentido existente na
Compreensivista Max Weber ação social dos indivíduos movida por valores, e não por determinantes
econômicos ou pela força da sociedade sobre o indivíduo.

Adaptado de: Gil (1999, p. 26 apud SILVA; MENEZES, 2001).

16
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Observação

Existem outros métodos, entretanto os apresentados oferecem a


potência para o foco da investigação, tendo como objetivo a realidade e os
fenômenos que a envolvem.

Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear
significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se
procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo procuram-se evidências
empíricas para derrubá-la (GIL, 1999, p. 11-5 apud SILVA; MENEZES, 2001).

Saiba mais

Há diversos sites com informações importantes sobre a vida dos


pensadores que propuseram os métodos de investigação. Para saber mais
sobre cada um, acesse:

www.filosofia.com.br/

Assim as hipóteses sustentam o caminho teórico e a visão de realidade do pesquisador sobre a


problematização a ser pesquisada, sendo fundamental estruturar seu pensamento e consequentemente
planejar através do projeto de pesquisa a delimitação do tema, do problema e das hipóteses, e a partir
de um referencial teórico perquirir através do método o levantamento e análise do fenômeno.

Contudo, ao planejar é necessário identificar qual será a natureza da pesquisa em tela, conforme
esclarece Gil, pode ser de natureza:

Básica/pura: objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da


ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais.

Aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à


solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais (GIL,
2008, 26-27).

Para os assistentes sociais, muitas pesquisas são de natureza aplicada, pela base profissional ser
interventiva, contudo muitas pesquisas em nossa área têm apresentado a reflexão sobre o objeto do
serviço social, que é a questão social, e sua reverberação na realidade sócio-histórica. Nesse sentido, não
tem a natureza mais ou menos apropriada, pelo contrário, ambas são presentes e de real significado
para a profissão e seu comprometimento com a justiça social.

17
Unidade I

Bem, caminhamos percorrendo os conceitos das etapas metodológicas da pesquisa científica, no


campo do serviço social, reconhecendo sua expressiva importância, nos aspectos do referencial teórico,
do método da percepção e interpretação das múltiplas expressões da questão social, seja no campo
da estrutura macroteórica, seja das microteóricas, mas para ambas é necessário se considerar a forma
como se aborda a delimitação do problema. Assim sendo, do ponto de vista da forma de abordagem do
problema, pode ser:

Quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir
em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o
uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana,
desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão etc.).

Qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo


real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo
e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no
processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o
pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a
analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos
principais de abordagem (MYNAIO, 2007, p. 26).

A autora apresenta o conceito de duas abordagens, sendo que podem ser utilizadas separadamente
ou simultaneamente, uma pesquisa pode ter abordagem apenas qualitativa, apenas quantitativa, ou
quantiqualitativa. O que define essa abordagem são os referenciais teóricos e a linha teórica que sustenta
a pesquisa, e a captura do campo de pesquisa empírica, que pode suscitar mais que uma abordagem,
quando apresenta dados tanto numéricos e objetivos como dados que descrevem as interlocuções do(s)
indivíduo(s) com a realidade sócio-histórica.

A abordagem estabelecida no planejamento aponta os objetivos desta, que para Gil (2008) podem ser:

Exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com


vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento
bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com
o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão.
Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso.

Descritiva: visa descrever as características de determinada população ou


fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso
de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação
sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento.

Explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem


para a ocorrência dos fenômenos. Aprofunda o conhecimento da realidade
18
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

porque explica a razão, o “porquê” das coisas. Quando realizada nas ciências
naturais, requer o uso do método experimental, e nas ciências sociais requer
o uso do método observacional. Assume, em geral, as formas de pesquisa
experimental e pesquisa expost-facto (GIL, 2008, p. 27-8).

De acordo com esses objetivos verifica-se que uma pesquisa pode assumir um ou mais objetivos
complementarmente, e estão intrinsecamente relacionados à natureza da pesquisa, posto que a
delimitação do tema pode caminhar para uma problematização macroestrutural, que no caso do serviço
social vem a ser a questão social, ou de em suas múltiplas expressões, e para as quais a intervenção do
fazer profissional se concretiza, mas que ainda nesse caso demandará por uma delimitação do problema,
posto que essas expressões se avolumam em múltiplas violências e violações de direitos, através de
desenhos diversos.

E em considerando o campo da coleta de dados a serem analisados, se apresentam procedimentos


técnicos descritos por (SEVERINO, 2007), como sendo na ordem de:

Bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado,


constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente
com material disponibilizado na internet.

Documental: quando elaborada a partir de materiais que não receberam


tratamento analítico.

Experimental: quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se


as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de
controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.

Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das


pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.

Estudo de caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos


objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento.

Expost-facto: quando o “experimento” se realiza depois dos fatos.

Pesquisa-ação: quando concebida e realizada em estreita associação com


uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e
participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos
de modo cooperativo ou participativo.

Pesquisa participante: quando se desenvolve a partir da interação


entre pesquisadores e membros das situações investigadas (SEVERINO,
2007, p. 120-124).

19
Unidade I

Observação

Uma pesquisa que requeira participação do pesquisador merece atenção


redobrada, para que os dados sejam fidedignos e tenham credibilidade
científica. Corre-se o risco de comprometer os resultados, portanto é
necessário ter clareza de que, mesmo com lisura e ética, o processo contará
com essa participação, que nunca será neutra. Pois a neutralidade não
existe em serviço social, considerando-se o posicionamento ético-político
e ideológico do profissional pesquisador.

Retomando não podemos acreditar que uma pesquisa seja a finalização de um saber. Pelo contrário,
no campo da pesquisa social, ela poderá indicar novos caminhos de intervenção, considerando que, em
ciências sociais, o movimento é constante, cíclico e espiral, demandando continuidade na investigação.
Contudo, somente a partir do reconhecimento das histórias de vida e, simultaneamente, das histórias
sociais é que teremos a identificação do lócus da política que agrega ou desagrega as relações sociais.

Assim, estabelecemos aqui as dimensões da profissão de serviço social para os conhecimentos fundantes
(econômico-sociais, políticos e ideoculturais) e interventivos. Em relação a esse tema, Guerra esclarece:

O que chamamos de dicotomia teoria/prática, em muitos casos, tem sido


resultado do desprezo pela teoria por parte dos praticistas, e do descaso pela
intervenção sobre variáveis empíricas que produz uma alteração no contexto
social, por parte dos teoricistas, o que conduz à ruptura da unidade (que não
significa identidade) teoria/prática que se materializa na práxis, enquanto
ação consciente, transformadora e autotransformadora. O menosprezo por
um dos polos da relação leva, de um lado, à aceitação, em última instância,
do papel determinante da teoria em detrimento das atividades prático-
materiais, ou o seu inverso: a prévia determinação de instrumentos e
técnicas a serem utilizados na intervenção e, consequentemente, a pauta do
“como fazer” (GUERRA, 1998, p. 6).

Assim, toda pesquisa, seja ela de cunho teórico ou teórico-prático, o assistente social, ao inseri-la
no fazer profissional, estabelece o compromisso com o projeto ético-político (PEP) da categoria ao que
afirma Guerra (1998), é necessário haver

reflexão sobre a existência ou não de novos processos de produção do


conhecimento. Como afirmamos, a produção do conhecimento está assentada
em pressupostos teórico-metodológicos, na base dos quais localizam-se princípios
e fundamentos filosóficos e ético-políticos. Em outras palavras, em determinadas
concepções de razão e de história. Esta relação entre teorias sociais e referências
filosóficas é uma relação necessária e se expressa em várias dimensões, sendo o
método a dimensão mais determinante desta relação (GUERRA, 1998 p. 9).

20
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Entretanto, considerando que para sistematizar conhecimento é necessário método, que estabelece
organicidade entre os fundamentos filosóficos e os pressupostos ético-políticos para a análise dos
objetos sociais, ao olharmos para métodos ou matrizes clássicas, delimitamos o processo teórico-critico,
que indica a lógica da leitura e análise do fenômeno.

Essa lógica é o diálogo crítico, que o pesquisador estabelece com as linhas teóricas do método ao
que Iolanda Guerra refere que não existe diálogo entre eles, por serem excludentes.

O método estabelece uma determinada relação, necessária e constituinte,


entre sujeito e objeto do conhecimento, podemos considerar que há entre
eles três tipos de relação: a que atribui a prioridade do objeto sobre o
sujeito (positivismo), a que prioriza o sujeito sobre o objeto (historicismo ou
método compreensivo) e a que propõe a necessária autoimplicação entre
sujeito e objeto (marxismo). Ainda que os objetos sociais, os fenômenos,
processos e práticas sociais se modifiquem, os métodos de conhecimento
sobre o social permanecem vinculados a uma das três formas de relação
sujeito-objeto mencionadas. Estas três grandes matrizes metodológicas
do nosso tempo possuem seus matizes (pense-se nas diferenças entre o
estrutural-funcionalismo de Parsons e o historicismo-relativismo de Karl
Manheimm, em que pese ambas permanecerem no nível da imediaticidade
dos fenômenos sociais) e desdobram-se em teorias setoriais (recorde-se das
teorias da ação social) (GUERRA, 2010, p. 11).

Pesquisa científica é a concretização de uma investigação planejada, desenvolvida a partir de normas


consagradas pela metodologia científica, considerando a visão de mundo do pesquisador e seu diálogo
com correntes filosóficas, econômicas e políticas, e essa não se dissocia da metodologia científica.

Assim sendo, a metodologia científica é entendida enquanto conjunto de etapas ordenadamente


dispostas que você, pesquisador, precisa vencer na investigação de um fenômeno. Compreende a
escolha do tema, o planejamento da investigação, o desenvolvimento metodológico, a coleta e
a tabulação de dados, a análise dos resultados, a elaboração das conclusões e a divulgação de
resultados, a partir de uma determinada criticidade, que para o serviço social é o método dialético
que considera a teoria social crítica.

Os tipos de pesquisa apresentados nas diversas classificações não são estanques. Uma mesma
pesquisa pode estar, ao mesmo tempo, enquadrada em várias classificações, desde que obedeça aos
requisitos inerentes a cada tipo.

Realizar uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um tema e defina um
problema para ser investigado, elabore um plano de trabalho e, após a execução operacional desse plano,
escreva um relatório final e que seja apresentado de forma planejada, ordenada, lógica e conclusiva.

Assim, a partir de agora, vamos esquematizar um tema, para juntos trabalharmos nas etapas
metodológicas da pesquisa social, concretizando-a com a elaboração do projeto de pesquisa.
21
Unidade I

Vamos contar com o seu comprometimento ético-político, teórico-metodológico e técnico‑operativo,


que vem permeando sua formação acadêmica, acrescido de muita criatividade em todas as etapas,
desde a elaboração do projeto de pesquisa, passando pela construção teórica do tema, pela pesquisa de
campo e pela análise dos dados, até chegar ao relatório final.

1.2 Levantamento dos temas e da literatura que circunscreve o assunto


da pesquisa

Precisamos deixar claro que o ato de pesquisar não se limita a esse momento da graduação em
serviço social, ou de qualquer outra graduação. Pesquisar é investigar, inquirir, buscar, reconhecer, olhar,
escutar, aprofundar a realidade social e, consequentemente, as relações entre os sujeitos, reconhecendo
a singularidade dos indivíduos no tecido social e suas relações interpessoais e sociais, no momento
atual e na sua história de vida permeada e inserida em suas referências histórica, cultural, econômica e
política, individual e coletivamente.

Com esse olhar singular, devemos estar inseridos no campo profissional. Nesse momento, você
vivencia o estágio curricular, deparando-se com a realidade social, mas, muitas vezes, sente dificuldade
de identificar em que aspectos a ética, a política, a teoria e a metodologia podem ser inseridas.

Essa dúvida não é apenas sua, mas também da maioria dos graduandos e – podemos dizer – de
alguns profissionais. A dicotomia é o princípio que mostra uma situação com dois pontos de vista
alternativos, que nem sempre são excludentes, podem ser complementares. Tal sensação é o que Guerra
(2010) conceitua como dicotomia teoria/prática e não pode ser desconsiderada; pelo contrário,
precisamos enfrentá-la para consolidarmos efetivamente nossa profissão e o compromisso com o projeto
ético‑político de serviço social.

Assim, retomamos a demanda pelo reconhecimento da realidade social, que se dá, pedagogicamente,
em quatro momentos:

• Experimentar o espaço profissional, ou seja, entrar e atuar no campo profissional com todo o
referencial técnico-operativo.

• Identificar as relações de força entre os sujeitos sociais e as instituições de poder (Estado e demais
instituições), com seu referencial ético-político, procurando ler e refletir sobre essas relações.

• Investigar as formas de exclusão geradas nos chamados processos de inclusão, escutando o que
reverbera dessa relação de forças nos sujeitos sociais e em sua relação social, política, cultural e
econômica, balizando-se por seu referencial teórico-metodológico.

• A partir da investigação e de sua análise, percorrer as novas possibilidades de conhecimento,


intervindo na realidade e oferecendo espaço de empoderamento dos sujeitos sociais para traçarem
novos caminhos, sendo esse o momento de deparar-se com sua práxis profissional, que, conforme
indica o projeto ético-político, utilizará instrumentos e técnicas para desvelar e transformar o
projeto societário vigente.
22
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Lembrete

Dicotomia mostra uma situação com dois pontos de vista alternativos,


que nem sempre são excludentes, podendo ser complementares.

Usando técnicas de articulação e mediação, nasce o projeto de intervenção profissional,


não voltado para um fazer por si só, como profissionais fazedores e cumpridores de demandas
burocráticas e mantenedoras do projeto societário de poder, mas para a busca incessante de
desafios, na lógica da hegemonia de um projeto profissional que possibilite a libertação dos
indivíduos e da coletividade.

Escrever ou ler isso parece muito fácil, mas sabemos que não é, pois nessa perspectiva encaramos
os conflitos e as contradições de nossa atuação. Contudo, temos de ser honestos e reconhecer que
a simples e complexa ação de viver nos remete ao contraditório, e a vivência profissional nos
instiga a romper com a hegemonia do poder institucional, articulando e potencializando novas
formas de relação.

Para tal, não podemos nos tornar simples executores de projetos político-partidários, apresentados
como políticas públicas, mas, ao contrário, a partir de nossa inserção no cotidiano das políticas públicas,
nos tornarmos questionadores e investigadores sobre a ação do Estado.

Assim, diante dos instrumentos, das técnicas e das estratégias do serviço social, precisamos manter
uma postura crítica, ética e política, não aceitando a manipulação que nos é imposta a todo tempo,
conforme reflete Guerra:

Implica na aceitação passiva de informações que nos chegam pelo cotidiano,


pela necessidade de sobrevivência, de reprodução da existência. A este
nível do conhecimento chamaremos de entendimento. O entendimento
se localiza ao nível dos fenômenos, da epiderme do real. É um processo de
reconhecimento que se traduz em imagens que são representações mais
ou menos vividas da aparência do real, que nos permite identificarmos as
coisas pela sua aparência, de modo imediato. Ele possibilita distinguir as coisas,
determiná-las, compará-las, classificá-las a partir da sua imagem, da
aparência, da forma. Para tanto, os sujeitos acionam o nível do intelecto.
Assim, “o entendimento é posto como um modo operativo da razão, que
não critica os conteúdos dos materiais sobre que incide” (NETTO, 1994, p. 29).
Nesse nível predomina a racionalidade formal-abstrata. Esta, porque
realiza suas operações de análise e síntese sobre as bases da positividade
do mundo, “esgota-se e reduz a racionalidade aos comportamentos
manipuladores do sujeito em face do mundo objetivo” (NETTO, idem,
ibidem) (GUERRA, 2010, p. 2).

23
Unidade I

Diante das demandas impostas pelo social, na qualidade de profissionais, urge avançarmos em
nossos conhecimentos, encarando as contradições e buscando soluções, como nos inspira Guerra:

O conhecimento resultante dos procedimentos da razão dialética vai além


da apreensão da imediaticidade da vida cotidiana. Ele busca captar a
processualidade contraditória de seus objetos e visa à refiguração, ao nível
do pensamento, do seu movimento. O conhecimento se organiza mediante
conceitos. Estes são sínteses mentais dos nossos esforços em compreender
o real e de nos comportarmos adequadamente frente a ele. Os conceitos
nos permitem compreender a lógica de constituição dos processos sociais.
Daí que o conhecimento não é apenas um dado imediato da sociedade, já
que nela imperam modos de pensar próprios à manutenção e reprodução
ideológica dessa ordem social (GUERRA, 2010, p. 3).

Observação

Imediaticidade na prática profissional do assistente social é buscar


a resolução de uma situação-problema sem uma prévia análise crítica,
identificando que o fazer profissional só é competente quando busca a
resolutividade prontamente.

Cabe, portanto, ao profissional estar atento ao movimento societário imposto e desvelá-lo, fazendo
o mesmo com seu papel como profissional e enquanto sujeito desse tecido social, pois exercemos dupla
função: somos trabalhadores e profissionais, inseridos na mesma textura manipulada historicamente
pela classe dominante, conforme nos apontam Marx e Engels (1989 apud GUERRA, 2010, p. 4):

Diferentemente do conhecimento sobre a natureza, o conhecimento do


social encontra-se intrinsecamente relacionado com o para que, com as
finalidades, com a postura teleológica do sujeito, com valores e pressupostos
ético-políticos e ideoculturais, donde a verdade é auferida não em termos
de experimentação e controle, ou mesmo de adequação do objeto ao
pensamento e vice-versa, mas pela prática sócio-histórica de homens reais
e concretos.

Diante disso, como agir?

Verifica-se que a atuação profissional demanda não só reconhecimento do compromisso ético-


político e ideocultural, mas também a imersão de cada pessoa e, consequentemente, de cada profissional
nesse compromisso, o que fará toda a diferença no enfrentamento ou na manutenção do projeto
societário vigente.

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PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Saiba mais

Para uma maior compreensão do termo ideocultural, leia:

ALECRIM, L. Expressão ideocultural de uma independência manipulada:


Abraham Lincoln, o caçador de vampiros. Correio da Cidadania, São Paulo,
set. 2012. Disponível em: http://www.correiocidadania.com.br/index.
php?option=com_content&view=article&id=7650:cultura210912&
catid=29:cultura&Itemid=61. Acesso em: 3 mar. 2020.

Antes de iniciar sua pesquisa, sugerimos também assistir ao filme que


segue, com esse mesmo olhar crítico do assistente social autor da matéria
indicada:

ABRAHAM Lincoln: caçador de vampiros. Direção: Timur Bekmambetov.


EUA: Fox Film, 2012. 105 min.

Caso seja necessário, quando em campo profissional, recomenda-se ter na pesquisa social um
instrumento permanente, que inclua em seu rol de instrumentos técnicas e estratégias, a serem inseridas
no cotidiano, não como manutenção da hegemonia do poder, mas como instrumento de libertação do
ranço da culpabilização do sujeito pela sua realidade social.

Trata-se de um novo caminho, que desmistifica a culpabilização, aberto pelo da responsabilização, não
do sujeito, mas do Estado, enquanto instituição de poder e mediador da corrupção e da desvalorização
do povo. Encontramos, historicamente, um Estado que valoriza a economia e o capital, fortalecendo a
hegemonia dominante, em detrimento da equidade dos cidadãos.

Nessa perspectiva teórica utilizamos, assim, a pesquisa social enquanto:

Investigação e interpretação da realidade, é um trabalho de desvendamento


do real que exige, fundamentalmente, a intervenção da razão na organização
dos princípios explicativos, na articulação dos conceitos.

Daí que, à existência de diversos princípios teóricos explicativos, nem todos


operam com uma razão inclusiva, crítica e dialética capaz de captar a
estrutura, a forma de ser da realidade social. Aqueles que não apreendem a
realidade social como uma totalidade social em movimento não dão conta
da articulação e complementaridade entre subjetividade e objetividade,
entre ser e consciência, entre teoria e prática.

Mas a necessidade de os homens deterem o conhecimento, o mais correto


possível, sobre a realidade na qual irão atuar, coexiste com a necessidade do

25
Unidade I

mundo burguês de revestir os processos sociais de uma falsa objetividade,


coisificar as relações sociais, regular juridicamente os conflitos sociais,
justificar a práxis, tornando-a natural, aceitável, desejável.

A prática profissional do assistente social, respeitadas as devidas


singularidades, também exige o conhecimento da situação, do cotidiano
da sua prática, dos meios e condições de realização, das possibilidades que
a realidade contém e das tendências e contratendências que suas ações
poderão desencadear (GUERRA 2010, p. 4).

Temos o compromisso pessoal e profissional de levar, para a nossa prática diária, esse conceito, não
limitando a pesquisa social somente à utilização na academia, ou a uma exigência da graduação. Se
assim a entendermos, estaremos restringindo nosso olhar e nosso saber fazer. Em vez disso, precisamos
ter a pesquisa social como um instrumento cotidiano que nos impulsiona a desmistificar e desvendar a
manipulação do projeto societário hegemônico.

Nesse sentido, ainda temos de avançar nesses nossos questionamentos, pois quando nos deparamos
com o ritual da prática, muitas vezes, tendemos a valorizar a rotina e até a acreditar que estamos
cumprindo com os compromissos, contudo precisamos identificar se essa rotina não nos impele à
manutenção da hipocrisia de um fazer aparente, em detrimento de um fazer que liberta sujeitos e
transforma a realidade social.

Leia a seguir o que GUERRA (2010) diz sobre esse assunto.

O serviço social, configurado na sociedade burguesa como um trabalho, como um


ramo específico da divisão social e técnica do trabalho, como um tipo de especialização
do trabalho coletivo (cf. IAMAMOTO, 1992), como uma atividade profissional, não
se constitui – sequer pode ter esta pretensão – numa ciência ou num ramo de saber
científico. Se isso é verdade, a profissão tem que se reconhecer numa determinada
realidade sócio-histórica, construída pela práxis das classes sociais, as quais reformulam
as necessidades sociais e as transformam em demandas para a profissão. Se a sua
legitimidade é produto das formas de objetivação das classes sociais, se a sua lógica de
constituição e seus objetos de intervenção vinculam-se a uma determinada realidade
histórico-social, seu substrato material é a realidade social, é a cotidianeidade de
determinados segmentos da população; seus objetos são definidos pelas condições de
vida desses mesmos segmentos, sua instrumentalidade encontra-se na manipulação
de variáveis que possibilitem a alteração – ainda que temporária – do contexto social
(NETTO, 1989), e por tudo isso tem de se referenciar pela e na realidade social. Partindo
desta configuração sobre a natureza do serviço social é que podemos considerar sua
vinculação orgânica com a realidade social, esta composta por elementos materiais
e espirituais. A realidade social, constituída num campo de forças contraditórias que
contempla um conjunto de determinações objetivas, moventes e movidas, só pode ser
26
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

apreendida a partir das formas mais complexas e gerais postas no modo de aparecer
dos fatos, fenômenos, processos e práticas sociais, estes, como formas necessárias de
determinados conteúdos. Mas a compreensão da realidade supõe partir da superação
da imediaticidade, da mera aparência, por meio de procedimentos que neguem a mera
objetividade, o dado imediato, a aparência, e resgatem os conteúdos concretos que os
fenômenos, processos e práticas sociais portam. Há que se enfatizar que numa sociedade
de classes há o predomínio da racionalidade formal-abstrata sobre a razão, da imagem
sobre o conceito, do abstrato sobre o concreto, de procedimentos quantificáveis, do
cálculo racional, de ações manipulatórias, da sociabilidade reificada e generalizada,
pela extensão da racionalidade instrumental da relação homem-natureza para todas
as dimensões da vida social, o que condiciona, em ampla medida, a elaboração
teórico‑filosófica. Com isso pretende-se afirmar que os procedimentos da intelecção, a
racionalidade formal‑abstrata, que exerce hegemonia na ordem burguesa, opera de maneira
a obstaculizar a reflexão da razão.

Fonte: GUERRA (2010, p. 5-6).

O texto de Iolanda Guerra nos alimenta e incita a retomar o que foi apresentado anteriormente, no
que concerne às metodologias para a pesquisa científica, e esclarece que na intervenção do profissional
de serviço social nada pode estar restrito a um único olhar ou conceito, limitando a leitura crítica.
Devemos abrir a metodologia para as “múltiplas determinações” (MARX, 1989 apud GUERRA, 2010), a
fim de entendermos as singularidades num universo totalitário.

No entanto, de qual método estamos falando?

Esse método deve ter subjacente uma racionalidade que permita alcançar
o concreto como síntese de múltiplas determinações (cf. MARX, [1989]),
captar as relações sociais de maneira articulada, seus nexos e mediações,
numa perspectiva de totalidade, para o que tem que ser histórico,
dialético, inclusivo e crítico.

A racionalidade crítico-dialética recolhe suas categorias analíticas na própria


realidade, percorre-as, estabelece seus vínculos, sai em busca das mediações,
satura seus objetos de determinações e reproduz, ao nível do pensamento,
as múltiplas e complexas relações que se estabelecem na realidade. Nessa
busca da totalidade, a inter-relação entre as categorias da realidade
dão lugar a complexos cada vez mais abrangentes. É neste sentido que a
perspectiva da totalidade deve ser compreendida, não como um fato formal
do pensamento, mas como modo de ser do existente (GUERRA, 2010, p. 9).

Estamos caminhando para reconhecer a pesquisa social, não apenas como um instrumento da
pesquisa científica acadêmica, desvinculada da prática, mas como instrumento permanente, que sustenta
uma nova práxis profissional, construída a partir da reflexão sobre as competências ético‑políticas,
teórico‑metodológicas e técnico-instrumentais ou operativas.
27
Unidade I

Temos de avaliar como estamos utilizando essa última competência, para que seja efetivado o
compromisso com as classes subalternas e expropriadas de seus direitos humanos, sociais, culturais,
econômicos e políticos.

Se muitas das requisições da profissão são de ordem instrumental (em


nível de responder às demandas – contraditórias – do capital e do trabalho
e em nível de operar modificações imediatas no contexto empírico),
exigindo respostas instrumentais, o exercício profissional não se restringe
a elas. Com isso queremos afirmar que reconhecer e atender as requisições
técnico‑instrumentais da profissão não significa ser funcional à manutenção
da ordem ou ao projeto burguês. Isto pode vir a ocorrer quando se reduz a
intervenção profissional à sua dimensão instrumental. Esta é necessária para
garantir a eficácia e eficiência operatória da profissão. Porém, reduzir o fazer
profissional à sua dimensão técnico-instrumental significa tornar o Serviço
Social meio para o alcance de qualquer finalidade. Significa também limitar
as demandas profissionais às exigências do mercado de trabalho. É também
equivocado pensar que para realizá-las o profissional possa prescindir de
referências teóricas e ético-políticas.

Se as demandas com as quais trabalhamos são totalidades saturadas de


determinações (econômicas, políticas, culturais, ideológicas), então elas
exigem mais do que ações imediatas, instrumentais, manipulatórias.
Elas implicam intervenções que emanem de escolhas, que passem pelos
condutos da razão crítica e da vontade dos sujeitos, que se inscrevam no
campo dos valores universais (éticos, morais e políticos). Mais ainda, ações que
estejam conectadas a projetos profissionais aos quais subjazem referenciais
teórico‑metodológicos e princípios ético-políticos (GUERRA, 2010, p. 35).

Existe uma demanda por “novos instrumentos operativos, [cuja] profissão carece de uma
racionalidade, como fundamento e expressão das teorias e práticas, capaz de iluminar as finalidades”
(GUERRA, 2010, p. 14). Ou seja, a autora nos diz que o que chamamos de instrumentos, técnicas e
estratégias não podem ser considerados ações-fim da profissão, mas que é necessário compreendê-los
como uma instrumentalidade com a qual os assistentes sociais, por meio da articulação e da mediação
teórica voltada a fins específicos, atuam e transformam a realidade.

Segundo Iamamoto e Carvalho (2009),

as bases teórico-metodológicas são recursos essenciais que o assistente


social aciona para exercer o seu trabalho: contribuem para iluminar a leitura
da realidade e imprimir rumos à ação, ao mesmo tempo que a moldam.
Assim, o conhecimento não é só um verniz que sobrepõe superficialmente
a prática profissional, podendo ser dispensado; mas é um meio pelo qual
é possível decifrar a realidade e clarear a condução do trabalho realizado
(p. 62-63).
28
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Iamamoto e Carvalho (2009) nos convidam a considerar uma razão: o referencial teórico permeia
nossa prática com intensidade e intencionalidade para que não nos tornemos mecânicos e superficiais,
mas estejamos abertos para identificar nosso objeto de trabalho. “O assistente social lida, no seu trabalho
cotidiano, com situações [...] vividas por indivíduos e suas famílias, grupos e segmentos populacionais,
que são atravessadas por determinações de classe” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 33).

Diante desse importante instrumento que é a pesquisa social, vamos a partir daqui sugerir uma
metodologia para a elaboração do pré-projeto de pesquisa, nesse momento, vinculada à sua prática no
estágio e ao referencial teórico estudado durante a graduação. Teremos como base a crítica na atuação
profissional, na lógica do respeito ao sujeito social, inserido numa realidade histórica e atual.

Reconhecendo que a produção do conhecimento retroalimenta a atuação prática e também insere


novas perspectivas nos referenciais teóricos, temos duas possibilidades eminentes no resultado do
relatório da pesquisa:

• Uma nova concepção de atuação profissional, a partir de um posicionamento que vence


a hegemonia do poder e fortalece a credibilidade no potencial humano de transformar a
realidade social.

• Acrescenta um novo capítulo à relação entre teoria e prática, por meio da práxis profissional,
numa inserção dialética da leitura de realidade que redimensiona e amplia a teoria.

Assim, acreditamos que estejamos prontos para entrar no universo da pesquisa, pois revisitamos
conceitos importantes no âmbito da metodologia científica e transcendemos a práxis profissional do
serviço social. É chegado o momento de decolarmos nessa viagem… mãos na massa… afinal, temos uma
descoberta a ser realizada, então precisamos fazer algumas perguntas e buscar as respostas, segundo
Gomes (2011, p. 38-39):

• o que é pesquisa? (definição do problema, hipóteses, base teórica e


conceitual);

• para que pesquisar? (propósitos do estudo, seus objetivos);

• por que pesquisar? (justificativa da escolha do problema);

• como pesquisar? (metodologia);

• por quanto tempo pesquisar? (cronograma de execução);

• com que recursos? (orçamento);

• a partir de quais fontes? (referências).

29
Unidade I

O quê?

Quais? Como?

Quantos? Pesquisar Por quê?

Quando? Para quê?

Onde?

Figura 1 – Pesquisa: questões essenciais

1.3 Levantamento dos temas de interesse dos alunos

Você já teve contato com fundamentos históricos, técnicos e metodológicos, políticas públicas, Ética,
Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito etc. Já tem uma base sólida de conhecimento generalista e
iniciou seu contato com a prática profissional no estágio. Isso lhe garante uma vivência em relação ao
objeto do Serviço Social, que o embasa e habilita para fazer a escolha de um tema.

Retomemos alguns dos assuntos que permeiam essa jornada.

A ciência do Serviço Social pesquisa e atua em áreas que perpassam pelas questões sociais, que
são consequência das desigualdades provocadas pela hegemonia do sistema capitalista, excluindo do
mercado profissional os sujeitos que não tiveram acesso às condições de qualificação, muitas vezes, pela
ausência de políticas públicas sociais. São temas de pesquisa relacionados a essa área, entre outros:

• inclusão e exclusão social;

• trabalho;

• geração de renda;

• direitos sociais;

• direitos humanos;

• trabalho coletivo;

• políticas públicas sociais;

• expropriação do trabalho profissional;


30
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

• competências do profissional de Serviço Social;

• ética profissional.

São temas fundantes que compõem o universo teórico/prático do serviço social. Cada um destes
pode constituir ou gerar o tema do pré‑projeto de pesquisa social.

Podemos ainda pensar nos segmentos sociais, tais como os apontados a seguir.

1.3.1 Crianças

Segundo a Convenção dos direitos humanos (ONU, 1989, p. 6), “a criança é definida como todo
ser humano com menos de dezoito anos”. Nesse sentido não apenas a imagem a seguir nos remete a
singeleza da criança, mas todo o seu contexto, e sem dúvida nos convida à pesquisa para entender seu
universo de direitos e as violações a ele.

Figura 2 – Criança

1.3.2 Adolescentes

Eisenstein (2005) propõe a seguinte definição de adolescência:

É o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado


pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e
social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados
às expectativas culturais da sociedade em que vive. A adolescência se
inicia com as mudanças corporais da puberdade e termina quando o
indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo
progressivamente sua independência econômica, além da integração em
seu grupo social (p. 6).

31
Unidade I

Mas para além de conceito da adolescência enquanto corpo físico e emoções, devemos considerar
sua dinâmica quando inserida em certos contextos territoriais, econômicos, políticos, culturais.

A imagem a seguir nos indica a grupalidade que a adolescência sugere, mas que muitas vezes está
permeada por afetos e desafetos, inclusão e exclusão, contudo a imagem adolescente nos permite
sempre acreditar na possibilidade da transformação. Tendo como delimitação da pesquisa adolescente
a partir de um determinado recorte bem específico.

Figura 3 – Adolescentes

1.3.2.1 Pessoas idosas

Segundo o artigo 1º do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), são “pessoas com idade igual ou superior a
60 (sessenta) anos”. Que para além da angelitude nos remete aos direitos que lhe devem ser assegurados
como indivíduos que tem uma história configurada na realidade sócio-histórica, na qual de alguma
forma estamos submergidos.

Figura 4 – Idosos

32
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

1.3.2.2 Pessoas com necessidades especiais

Conforme o decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009:

São aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física,


mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2009).

Pessoas com deficiência são um universo de possibilidades para aprofundar conhecimento a partir
da pesquisa. São inúmeras singularidades, sendo que em grande maioria refletem violação de direitos,
especialmente quando observamos as fundamentações sobre direitos fundamentais apresentadas pela
LBI – Lei Brasileira de Inclusão, lei n. 13.146 de 6 de julho de 2015.

1.3.2.3 Família

Consideramos família como um grupo de pessoas que se encontram unidas, por um determinado
período de tempo, com laços consanguíneos ou não, de afeto e cuidado de proteção.

Sendo a família, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, merecedora de proteção


social e garantia de direitos, na lógica da seguridade social, portanto, deve receber atenção das políticas
públicas sociais e do profissional de serviço social, ente outros, evidenciando que a pesquisa social com o
tema família é atual e necessário para o desenvolvimento e aprimoramento da ciência que busca atingir
conhecimento para a equidade social. Especialmente quando as políticas públicas têm em sua lógica a
atenção com matricialidade sociofamiliar.

1.3.2.4 Políticas públicas sociais

As políticas públicas sociais são ações da gestão pública, desenvolvidas pelo Estado ou em parceria
com a sociedade civil, por meio de serviços, programas, projetos, transferência de renda que visam
proporcionar aos sujeitos sociais (cidadãos) a proteção social e a garantia de direitos, para uma vida com
dignidade, com equidade e justiça.

São consideradas políticas públicas sociais aquelas que asseguram à população o exercício de seus
direitos individuais e sociais: educação, saúde, trabalho, assistência social, previdência social, justiça,
agricultura, saneamento, habitação popular e meio ambiente.

Perceba como o campo das políticas públicas sociais é amplo e suscita várias delimitações do tema
a ser pesquisado.

1.3.2.5 Programas de governo

Em relação às políticas públicas sociais temos serviços, programas, projetos e benefícios desenvolvidos,
cada um suscita uma investigação desde sua formulação, desenvolvimento de critérios de inclusão e de
desligamento e avaliação.

33
Unidade I

Um exemplo é o Programa Bolsa Família (PBF), por meio do qual se realiza

transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza


e de extrema pobreza em todo o País. O Bolsa Família integra o Plano
Brasil Sem Miséria (BSM), que tem como foco de atuação os 16 milhões de
brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70,00 mensais, e está
baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços
públicos (BRASIL, 2013).

Figura 5 – O Programa Bolsa Família faz parte do Plano Brasil sem Miséria

1.3.3 Políticas públicas de educação

Segundo a Constituição Federal de 1988 a política pública de educação é um direito universal, ou


seja, de todos e para todos, sem critérios de inclusão, sendo o Estado o responsável por sua implantação
e implementação.

Entendendo ainda que é através da educação que os sujeitos sociais garantem sua autonomia e
independência, pois ela os qualifica para assumirem seu papel social com dignidade, considerando que
a leitura, a escrita e a interpretação dos fatos são ferramentas fundamentais para a verdadeira inclusão,
essa política se torna essencial à proteção social e à garantia de direitos, e, portanto, suscita vários
olhares para a pesquisa.

34
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Figura 6 – A educação é fundamental para a garantia de direitos

1.3.3.1 Políticas públicas de saúde

Segundo o Ministério da Saúde, políticas públicas de saúde promovem a saúde dos diversos
segmentos da população brasileira. São baseadas no princípio do SUS de oferecer acesso integral,
universal e gratuito ao sistema de saúde pública a todos os brasileiros, seja uma criança, uma pessoa
com deficiência ou um trabalhador.

Vem sendo foco de muitos avançados, mas também de inúmeros retrocessos, e caba investigar as
ações que possibilitaram a saúde, e as ações que adoeceram a população.

Figura 7 – Anúncio da campanha de vacinação contra a gripe (2013)

1.3.3.2 Políticas públicas de assistência social

A política em tela apresenta duas proteções sociais, sendo a básica e a especial, essa última de
média e de alta complexidade, com seus respectivos serviços, programas, projetos e benefícios, estando
cada um desses disponíveis para serem pesquisados seja na esfera federal, na estadual ou municipal,
conforme o projeto de pesquisa delimita.

35
Unidade I

Constitui o público usuário da Política de Assistência Social cidadãos


e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos,
tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de
afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades
estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal
resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou no acesso às demais
políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de
violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária
ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e
alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco
pessoal e social (BRASIL, 2009, p. 33).

A de se considerar ainda, como potenciais de pesquisa, a organização do conselho de assistência


social, na lógica de organização, de articulação, de controle e de participação social.

Tendo como outra possibilidade de pesquisa, a territorialidade, o diagnóstico socioterritorial, as


seguranças afiançadas, a matricialidade sociofamiliar, entre outros princípios e diretrizes dessa política.

E não menos importante, pelo contrário, as questões que envolvem o trabalhador da área, a gestão
dessa política e o financiamento na perspectiva da gestão do fundo público.

Percebe-se que há muito a pesquisar nessa política, a partir de delimitações de temas que suscitam
incursões teóricas permeadas pela intervenção dos trabalhadores do Suas.

1.3.4 Políticas públicas de habitação

Em relação à situação da urbanização nas cidades brasileiras, encontramos um grande déficit tanto
de infraestrutura como de moradias, isso se deve ao fato de que o processo de urbanização ocorre
em um ritmo acelerado e desorganizado, e existe concentração de pessoas em regiões periféricas dos
municípios, especialmente nos de médio e grande porte, ocasionando bolsões de miséria, fruto do êxodo
rural, que se iniciou com a industrialização e a não reforma agrária efetiva. Além disso temos a questão
do sistema econômico que impulsiona o trabalhador a assumir subempregos, que nem sempre lhe
garantem continuidade e estabilidade, gerando a descontinuidade de salário, além de leis trabalhistas
que não são cumpridas.

A situação do trabalhador assalariado, com instabilidade esbarra nas condições de moradias


e habitação, pois não consegue se inserir na política habitacional vigente, servindo-se dos espaços
comunitários, que são aglomerados de pessoas em situações desumanas, sem o devido investimento
estatal na lógica da proteção social.

A ausência ou ineficiência da política pública de habitação se torna um importante campo de


pesquisa social para o serviço social.

36
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Figura 8 – O Programa Minha Casa, Minha Vida é um exemplo de política pública de habitação

1.3.5 Temas estruturantes

Existem vários temas estruturantes e outros subjacentes a serem pesquisados, entre eles destacamos:

Violência

Para discutirmos a violência, recorremos a Chauí (1984, p. 35), que define esse conceito, de forma ampliada:

Uma realização determinada das relações de força tanto em termos de


classes sociais quanto em termos interpessoais. Consideramos haver
diferença entre a relação de força e a de violência (ainda que esta seja
uma realização particular daquela). A pura relação de força visa, em
última instância, a aniquilar‑se como relação pela destruição de uma
das partes. A violência, pelo contrário, visa manter a relação mantendo
as partes presentes uma para a outra, porém uma delas anulada em sua
diferença e submetida à vontade e à ação da outra. A força deseja a morte
ou supressão imediata do outro. A violência deseja a sujeição consentida
ou a supressão mediatizada pela vontade do outro que consente em ser
suprimido pela desigualdade. Assim, a violência perfeita é aquela que
obtém a interiorização da vontade e da ação alheias pela vontade e pela
ação dominada, de modo a fazer com que a perda da autonomia não seja
percebida nem reconhecida, mas submersa numa heteronímia que não
se percebe como tal. Em outros termos, a violência perfeita é aquela que
resulta em alienação, identificação da vontade e da ação de alguém com
a vontade e a ação contrária que a dominam.

37
Unidade I

Temos assim vários tipos de violências, que são demandas do serviço social, considerando a violação
de direitos que tanto a vítima como o violentador se expõem.

Apresentamos alguns dos tipos de violência que emergem das ações profissionais do assistente
social, sejam de articulação, mediação ou intervenção:

Violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes

Considerando que todo e qualquer ato que leve à omissão ou à prática por pais e ou responsáveis
por criança e adolescente, que cause danos físico, sexual e/ou psicológico, reverbera na transgressão
do dever de afeto cuidado e proteção que o adulto tem para com o outro. Muitas vezes essa prática
submete o outro em situação de fragilidade ao poder do adulto, que coisifica a infância e a juventude
negando o direito se ser tratado como sujeito social em condição peculiar de desenvolvimento.

Violência de gênero

É aquela ação que provoca um comportamento deliberado e consciente que submete o outro a
situação de domínio físico e/ou psicológico e/ou sexual, exercida de um para outro sexo, em que um se
torna ativo e o outro passivo.

Exploração sexual

Entendendo que a exploração e o abuso sexual contra crianças e adolescentes vêm sendo estudado
no Brasil desde 1990, e ainda com ações incipientes, mas que anualmente em 18 de maio militantes e
protetores dos direitos se mobilizam para sensibilizar a população sobre essa situação que perdura em
nossa sociedade, conceituamos o abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes como uma
forma hedionda de influência do poder de um dominador que os submete à exploração sexual para
aferir recursos financeiros.

Trabalho infantojuvenil

Conforme estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é vedado o trabalho para crianças
e adolescentes com até 14 anos. A partir dessa idade, somente é permitido que ocorra o trabalho na
condição de aprendiz.

Parte das pessoas imagina que essa legislação seja a causadora de situações de violência, em razão
do tempo que as crianças e, especialmente, os adolescentes passam sem ter afazeres. Contudo, isso
esbarra na contradição de que esse tempo deve ser empregado para frequentar a escola e desenvolver
aspectos emocionais e relacionais, favorecidos pelo brincar. Entretanto, ocorre que, mesmo existindo a
legislação, e com toda a luta travada pelo direito ao desenvolvimento pleno da criança e do adolescente,
estes ainda são expostos à situação de trabalho infantojuvenil.

Esses trabalhos, muitas vezes, são insalubres e comprometem a qualidade de vida, especialmente
pelo esforço físico. Além do trabalho externo, temos ainda as atividades domésticas, de que crianças e

38
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

adolescentes são incumbidos, sem que os responsáveis por eles percebam a violação de direitos que ocorre
nesses casos, existindo sempre uma explicação, como de que os mais velhos podem cuidar dos irmãos mais
novos, bem como de que limpar, lavar e cozinhar não é trabalho, e sim dever, entre outras justificativas.

O tema trabalho infantojuvenil apresenta-se como um grande desafio para o serviço social, pois
há poucas pesquisas. Existe uma possibilidade de enfrentamento da situação quando esta é revelada,
deixando de ser considerada natural.

Drogas

Quando falamos em drogas, devemos entender que esse conceito engloba toda e qualquer substância
psicoativa que, quimicamente, tenha influência sobre o ser humano. Outro aspecto é a questão do que
é lícito/legal e do que é ilícito/ilegal. Independentemente dessa diferenciação, contudo, ambos os tipos
causam dependência orgânica e psíquica.

Existem dois nichos para a pesquisa:



• o uso e a dependência;

• o tráfico.

Ambos implicam violação de direitos e suscitam esforços para a prevenção e o tratamento,


constituindo um tema bastante atual, que mobiliza as massas. Por esse motivo, a mídia passa a exercer
influência sobre os pareceres a respeito da situação.

Todas as políticas públicas sociais trabalham de modo intersetorial, e as equipes agem de forma
interdisciplinar, na busca pela proteção social dos sujeitos sociais afetos a essa questão. Contudo, os
esforços ainda são insuficientes para atender à demanda que se apresenta.

As respostas não são fechadas: pelo contrário, há muito a ser pesquisado e analisado, portanto esse
é um tema importantíssimo para o serviço social.

Medidas socioeducativas

Previsto pelo ECA, art. 112 da Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990, para dar suporte a essa legislação,
temos o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), instituído e regularizado pela
Lei n. 12.594. Entre as medidas socioeducativas previstas há duas grandes modalidades:

• Meio fechado: privação de liberdade, quando em regime fechado.

• Meio aberto: sendo liberdade assistida (LA) e prestação de serviços à comunidade (PSC).

Com o rigor necessário para os fenômenos que envolvem segredo de justiça. São campos a serem
pesquisados com infinitas possibilidades.
39
Unidade I

1.3.6 Sistema de garantia de direitos

Veja, a seguir, duas vertentes deste tópico que podem ser trabalhadas em sua pesquisa.

Intersetorialidade das políticas públicas

Na lógica da proteção social proposta pela Constituição Federal de 1988, e pela participação popular
garantida pela efetivação dos Conselhos de Direitos:

• Conselho da Pessoa com Deficiência;

• Conselho da Mulher;

• Conselho da Criança e do Adolescente;

• Conselho do Idoso;

• Conselho da Saúde;

• Conselho da Assistência Social;

• Conselho da Educação.

Esses são espaços legítimos de participação e controle social, em que os recursos, especialmente
nos conselhos deliberativos, são acompanhados pelos conselheiros. Constituem importantes espaços de
defesa de direitos, na luta pela qualidade das políticas públicas sociais, em que o assistente social tem
duplo compromisso: fazer parte como conselheiro e oferecer subsídios para a participação dos usuários
das políticas públicas.

Cada um desses espaços de participação e controle social, em cada esfera de governo, seja municipal,
estadual ou federal, apresenta significativo potencial para pesquisa, com ganhos imensos tendo em
vista que a gestão dos conselhos tem pouca pesquisa realizada.

Legislação

Compõe a base dos Direitos Humanos e Sociais. Eis alguns assuntos que apresentamos. Claro que
existem muitos outros. Você pode escolher aquele que, enquanto vive, tem um grande desejo de
desvendar. O que lhe chamar mais a atenção deverá ser o seu tema de pesquisa.

Ao longo de seus dias, você com certeza viveu possibilidades e desafios no que tange aos direitos,
sejam os seus, os de pessoas próximas ou de sua convivência, ou ainda os daqueles com quem você
pode ter uma relação profissional. Não importa a distância entre você e a situação que o estimula
a investigar, o importante mesmo é que exista um interesse vibrante e intenso, conforme registram
Barreto e Honorato (1998):
40
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

A escolha de um tema representa uma delimitação de um campo de estudo


no interior de uma grande área de conhecimento, sobre o qual se pretende
debruçar. É necessário construir um objeto de pesquisa, ou seja, selecionar
uma fração da realidade a partir do referencial teórico‑metodológico
escolhido. É fundamental que o tema esteja vinculado a uma área de
conhecimento com a qual a pessoa já tenha alguma intimidade intelectual,
sobre a qual já tenha alguma leitura específica e que, de alguma forma,
esteja vinculada à carreira profissional que esteja planejando para um futuro
próximo (p. 62).

Esse interesse pode perpassar pelo desafio de questionar na lógica da crítica, pela suscetibilidade
que provoca a outrem, ou pode ser desvelador de uma intervenção técnica: o importante é sentir
desejo de investigar.

Estamos aqui contrapondo Durkheim, o qual afirma que a primeira e mais fundamental regra para
o cientista social é tratar os fatos sociais como coisa, e valorizando Gil, quando afirma que “os fatos sociais
dificilmente podem ser tratados como coisas, pois são produzidos por seres que sentem, pensam, agem
e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes maneiras” (GIL, 2008, p. 5), e avança
dizendo que “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o
emprego de procedimentos científicos” (GIL, 2008, p. 26).

Adolescentes que cumprem medida socioeducativa produzem cartilha sobre


direitos humanos para escolas

Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, o Dia Internacional dos Direitos Humanos,
celebrado no dia 10 de dezembro, ganhou um sentido prático para sessenta adolescentes que
cumprem medidas socioeducativas no município. Mais do que ouvir adultos falarem sobre
seus direitos, eles colocaram a mão na massa e produziram uma revista em quadrinhos para
dialogar diretamente com crianças e adolescentes sobre o tema. O resultado do trabalho foi
lançado hoje pela Fundação Criança, órgão municipal responsável pela política da infância,
e será distribuída em todas as escolas públicas do município.

Pedro Silva*, de 16 anos, participou, junto com os colegas, de oficinas sobre desenho e
direitos humanos durante seis meses. “Já sabia desenhar e agora aprendi mais ainda”, disse.
Ele está feliz pela publicação e espera que a cartilha possa ajudar outros adolescentes a
conhecerem seus direitos. “Muita coisa eu só fiquei sabendo na fundação. A gente passa
por tanta coisa na rua, porque não sabe o direito que tem”, declarou. Dentre os assuntos
que mais interessaram Pedro na construção da cartilha, ele cita o direito de ir e vir e o de
não ser agredido.

O promotor de Justiça da Infância, Wilson Tafner, aponta, ao analisar o perfil dos


adolescentes em conflito com a lei, que a ausência de políticas públicas para a infância tem
relação direta com a incidência das infrações. “Cerca de 15 bairros de São Paulo, dos mais
de cem que o município tem, concentram a maior parte desses adolescentes. No geral, são
41
Unidade I

regiões bem afastadas do centro e com baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano].
Extremo sul, leste e parte da zona norte”, disse.

Tafner destaca que muitas vezes o Estado só chega a essas famílias quando as infrações
são cometidas pelos jovens. O promotor atuou no início dos anos 2000 no enfrentamento
a violações sofridas na antiga Fundação do Bem‑Estar do Menor (Febem). Na época, até
mesmo casos de tortura foram identificados.

Para o presidente da Fundação Criança, Ariel de Castro Alves, o trabalho por meio da
arte ajuda a envolver os adolescentes em atividades positivas. “O nosso trabalho é criar um
novo projeto de vida para esses jovens, no qual eles possam estar engajados na cidadania”,
explicou. Ele acredita que a produção da cartilha, por exemplo, potencializa talentos e torna
os adolescentes protagonistas de um trabalho do qual eles se orgulham. “Se o Estado excluir,
o crime vai incluir”, declarou.

A coordenadora do Centro de Atendimento de Medidas Socioeducativas da fundação,


Maria Lúcia de Lucena, acredita que essas ações ajudam a diminuir o estigma ao qual os
adolescentes estão submetidos, tendo em vista que colocam em diálogo jovens de universos
diferentes. “Quem receber o material vai saber que ele teve a participação de jovens que
cumprem medida de liberdade assistida e de prestação de serviços comunitários. Isso faz
com que eles estejam no mesmo patamar”, avaliou.

O estigma é uma das principais preocupações do adolescente de 14 anos Rodrigo


Santos. Ele construía a passos largos o sonho de ser jogador de futebol, quando o desejo de
consumo o levou ao tráfico de drogas. “Jogava na seleção de base. Fui vender drogas para
comprar uma corrente de prata que minha mãe não podia dar”, relembra. Ele tem receio de
não poder voltar ao time. Após cumprir a medida, além de jogar futebol, ele quer voltar a
dar orgulho a sua mãe. “Ela ainda vai se orgulhar muito de mim. Se não for como jogador
de futebol, vai ser como engenheiro”, disse.

A revista em quadrinhos, que também ganhou uma versão em audiobook para pessoas
com deficiência visual, aborda temas como o contexto histórico do surgimento da Declaração
Universal dos Direitos Fundamentais do Homem, lançada no Pós‑Guerra em 1948, e a
formulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, após a promulgação
da Constituição.

Os nomes verdadeiros dos adolescentes foram preservados em atendimento ao Estatuto


da Criança e do Adolescente.

Por Agência Brasil.

Fonte: Maciel (2012).

42
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Exemplo de aplicação

O artigo exposto suscita alguns temas, por exemplo, adolescência e políticas públicas para o adolescente;
o sistema nacional de medidas socioeducativas e sua execução - meio aberto e meio fechado; violência na
adolescência; adolescentes em conflito com a lei; adolescentes em medidas socioeducativas.

Saiba mais

Pesquise a referência a seguir para conhecer a Lei n. 12.594/2012, que


institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e
regulamenta a execução das medidas:

BRASIL. Lei n. 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Brasília, 2012. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12594.htm.
Acesso em: 6 mar. 2020.

O assunto é bem mais abrangente, permite diversas possibilidades de recortes. Nesse sentido, o
recorte abrangerá aquilo que o pesquisador anseia abordar com parâmetros concisos em sua pesquisa.

Muitos alunos ou pesquisadores podem abordar um mesmo assunto, mas isso não significa que
todos tratarão do mesmo tema. Vejamos o exemplo que estamos utilizando:

• Assunto: Adolescente.

• Tema: Medidas Socioeducativas.

Podemos dizer que o tema é o assunto delimitado.

Primeiro deve ser escolhido o assunto de pesquisa, e em seguida é preciso ainda afunilá‑lo,
restringi‑lo, circunscrevê‑lo. Para ajudar nessa etapa da elaboração do projeto de pesquisa, podemos
pensar em alguns critérios, que, segundo Gil (2008), podem ser:

Espacial: por ser a pesquisa social eminentemente empírica, é preciso


delimitar o locus da observação, ou seja, o local onde o fenômeno em
estudo ocorre. Um estudo que trate da violência urbana, por exemplo,
pode comportar diversos recortes espaciais (um município, uma área
metropolitana, uma região etc.). Certo é que o parâmetro espacial escolhido
implicará no resultado dos dados obtidos e nas conclusões do estudo.

Temporal: isto é, o período em que o fenômeno a ser estudado será


circunscrito. Podemos definir a realização da pesquisa situando nosso
objeto no tempo presente, ou recuar no tempo, procurando evidenciar
43
Unidade I

a série histórica de um determinado fenômeno. Uma investigação sobre


microempresas, por exemplo, pode situar‑se no momento corrente,
durante um período abrangido por um determinado plano econômico
(Real ou Cruzado, por exemplo), ou ainda nos últimos 10 ou 15 anos
(GIL, 2008, p. 162).

Sempre depende do objetivo do pesquisador elaborar o dado recorte, pois devemos considerar a
delimitação usando a terminologia da Victor Franz Rudio, quando utiliza a definição do “campo de
observação” (RUDIO, 1985, p. 72‑75). Esse campo comporta, além do lugar (recorte espacial) e das
circunstâncias (recorte temporal), a população a ser estudada.

Essa população consiste em quem será o objeto da pesquisa, considerando que pode referir‑se a um
conjunto de políticas públicas, aos usuários de algum serviço de uma determinada política pública, ou
ainda a sujeitos que serão questionados acerca de seus comportamentos ou sua visão de mundo (por
exemplo, adolescentes em medida socioeducativa de meio aberto atendidos num determinado Creas).
Em outras palavras, nesse ponto, já estamos nos aproximando do objeto de pesquisa e da problemática
que buscamos pesquisar.

1.3.7 Levantamento de literatura que circunscreve o assunto de cada pesquisa

Nessa etapa do processo de elaboração do projeto de pesquisa, você precisa se perguntar:

• Quem já escreveu sobre o assunto que você está escolhendo?

• Quais as publicações disponíveis sobre o assunto? Realizar busca em sites de faculdades e da


Capes para verificar se há publicação de trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses e
artigos, em bibliotecas etc.

• Caso haja publicações sobre o tema a ser abordado, existem lacunas na literatura? Quais?

Em pesquisa, chamamos de estado da arte o que já existe em pesquisas sobre o assunto, conceitos,
achados, análises de dados que estão na literatura para serem pesquisados.

Trata‑se de uma revisão histórica de tudo o que já foi escrito, obviamente, com um recorte de autores
escolhidos (que será abordado logo a seguir), pois algumas pesquisas de literatura são infindáveis,
considerando o enorme número de publicações existentes.

É por meio da revisão de literatura que você descobre se a sua pesquisa será inovadora ou não. Todo
esse investimento requer cuidado para garantir inovação, até porque será necessário evitar duplicação
de informações e – sabemos – seu tempo é precioso, e o dos demais pesquisadores também.

Assim, rememorando o exemplo Política Pública para Adolescentes, temos de fazer o contorno em
Adolescentes em Medida Socioeducativa e definir se será em meio aberto ou fechado, para concretizar
e sistematizar a pesquisa bibliográfica.
44
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Essa sistematização de estudo para a revisão de literatura ou pesquisa bibliográfica contribuirá para:

• encontrar informações acerca da situação atual do tema escolhido para pesquisar;

• reconhecer as publicações disponíveis sobre o tema e as abordagens realizadas por outros pesquisadores;

• conhecer opiniões divergentes e convergentes sobre o tema e mais aspectos pesquisados que
podem não ter sido identificados por você.

Todas as etapas da pesquisa são importantes, entretanto a revisão de literatura/bibliográfica refere‑se


à fundamentação teórica sobre o tema e norteará você quanto aos problemas que envolvem esse tema.
É nessa fase que você elaborará um traçado teórico, inclusive, para orientar a análise dos dados de sua
pesquisa. Aqui, você terá de buscar a base para o desenvolvimento da pesquisa.

Considerando que nessa fase sua pesquisa é de graduação, você não terá descobertas autônomas,
pois deve sempre se apoiar no que já foi registrado na bibliografia sobre o tema.

Num trabalho de conclusão de curso de graduação, sua pesquisa parte daquilo que já foi descoberto
e registrado.

Numa iniciação científica, você fará experimentos, a partir do estudo iniciado por um orientador,
sobre o tema abordado.

Na dissertação de mestrado, você segue uma linha de pesquisa dentro da proposta curricular do
curso e também realiza a revisão bibliográfica do tema.

Nesses casos, seus achados de pesquisa apresentam as considerações finais sobre o tema, diante dos
novos resultados.

Diferentemente, na tese de doutorado, há um referencial teórico, mas o propósito é ter achados que
ampliem consideravelmente os registros anteriores.

A revisão da literatura vai subsidiar o processo de levantamento das informações já publicadas sobre o
tema, e isso norteará o mapeamento do que já foi pesquisado e analisado e daquilo que oferece possibilidade
de resultar em novos achados de pesquisa. Estes surgem quando você problematiza o assunto.

Para Luna (1997 apud SILVA e MENEZES, 2001), a revisão da literatura em um trabalho de pesquisa
passa pelas seguintes etapas:

Determinação do “estado da arte”: o pesquisador procura mostrar através


da literatura já publicada o que já sabe sobre o tema, quais as lacunas existentes
e onde se encontram os principais entraves teóricos ou metodológicos;

45
Unidade I

Revisão teórica: você insere o problema de pesquisa dentro de um quadro


de referência teórica para explicá‑lo. Geralmente acontece quando o
problema em estudo é gerado por uma teoria, ou quando não é gerado ou
explicado por uma teoria particular, mas por várias;

Revisão empírica: você procura explicar como o problema vem sendo


pesquisado do ponto de vista metodológico, procurando responder: quais
os procedimentos normalmente empregados no estudo desse problema?
Que fatores vêm afetando os resultados? Que propostas têm sido feitas para
explicá‑los ou controlá‑los? Que procedimentos vêm sendo empregados
para analisar os resultados? Há relatos de manutenção e generalização dos
resultados obtidos? Do que elas dependem?

Revisão histórica: você busca recuperar a evolução de um conceito, tema,


abordagem ou outros aspectos, fazendo a inserção dessa evolução dentro de
um quadro teórico de referência que explique os fatores determinantes e as
implicações das mudanças (LUNA, 1997 apud SILVA; MENEZES, 2001, p. 28).

Para realizar a revisão bibliográfica, você terá de desenvolver um planejamento, definir como será
feita, ou seja, precisará ter uma metodologia.

São muitos textos, TCCs, dissertações, teses, artigos científicos, livros, páginas na internet etc. Como
vai sistematizar o registro e a organização das informações com as quais está tomando contato? Por isso
existe a metodologia para a revisão bibliográfica.

Assim, para tornar o processo de revisão de literatura mais produtivo, você poderá seguir alguns
passos básicos para sistematizar seu trabalho e canalizar seus esforços. Os passos sugeridos por Lakatos
e Marconi (2010, p. 23) são:

• Escolha do tema.

• Elaboração do plano de Trabalho.

• Tema.

• Estrutura do trabalho.

• Identificação.

• Localização e compilação.

• Fichamento.

• Análise e interpretação.
46
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

• Redação.

• Fontes de informações.

A partir daqui, vamos tentar construir juntos, à luz de Lakatos e Marconi (2010), a metodologia da
revisão bibliográfica.

1.3.8 Escolha do tema

Já temos nosso tema, que é o exemplo: Adolescentes em medida socioeducativa. Vamos fazer a
revisão da literatura no que tange a políticas públicas de atenção ao adolescente incluído em medida
socioeducativa, analisando aspectos legislativos e operacionais, bem como identificando que se trata de
uma ação interdisciplinar.

Assim, vamos buscar o que já foi publicado sobre o tema. Como há temas sobre os quais há muita
publicação (caso desse nosso exemplo), é necessário organizar o tempo, para não o desperdiçar.

Você deve se lembrar de que falamos sobre a importância de o tema ser conhecido por nós; assim, já
estão estabelecidas nossa relação com o que vamos pesquisar, as linhas filosóficas que desejamos revisar
e as opiniões que queremos agregar ao trabalho.

2 ELABORAÇÃO DO PLANO DE TRABALHO

Não podemos perder tempo. Precisamos organizar nossa rotina de trabalho, afinal, estamos numa fase
em que, além de termos nossas responsabilidades no nosso dia a dia, como trabalho, família e nós mesmos,
ainda precisamos ter tempo para as disciplinas regulares, o estágio, os relatórios de estágio e o TCC.

Portanto, identifique quais aspectos quer abordar em seu tema. Vamos seguir o exemplo, para
facilitar – Adolescente em medida socioeducativa:

• Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990).

• Lei n. 12.594, que trata da organização das execuções das medidas socioeducativas e legitima o
Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (Sinase) (BRASIL, 2012).

• Adolescência – obras dos autores Maria de Lourdes Trassi Teixeira e Paulo Artur Malvasi.

• Medidas socioeducativas – Livro As histórias de Ana e Ivan: boas experiências em liberdade


assistida, de Maria de Lourdes Trassi Teixeira (2003).

Assim, você já terá um caminho estabelecido. Isso quer dizer que terá um plano de trabalho de
pesquisa bibliográfica. Observe que, inclusive, identificamos materiais legislativos e outros, alguns
disponíveis on‑line gratuitamente. Isso economizará muito tempo e facilitará a própria orientação
quanto a novos materiais, já com um foco.
47
Unidade I

2.1 Estrutura

Bem, já estamos construindo uma estrutura para o trabalho de revisão bibliográfica.

• Adolescência.

• Política pública para o adolescente na lógica da proteção integral e na garantia de direitos.

• A legislação sobre as medidas socioeducativas: pertinências positivas e pertinências negativas.

• As medidas socioeducativas em meio aberto e sua execução, modelos e práticas.

Você já estará em busca de conceitos sobre esses subtemas e encaminhará sua leitura para possíveis
proposições, de acordo com sua experiência, seja das aulas, seja do estágio. O exemplo que estamos
utilizando é o de medidas socioeducativas. Caso você realize estágio no Creas, está bastante familiarizado.

Obviamente existem vários recortes a serem feitos, mas vamos tratar desse assunto no item que
discute a problematização.

2.1.1 Identificação

Nesse ponto, você já deverá ter um esquema, que não é concluso, nem fechado, mas aberto para os
desafios da pesquisa.

Essa é uma fase da revisão bibliográfica que dará acesso às informações e ampliará o universo da
pesquisa, pois você poderá encontrar aspectos a serem abordados. Para isso, precisa estar disposto até
mesmo a mudar de rumo.

Implica abrir o leque da pesquisa, para ampliar seu levantamento bibliográfico, mas de forma
organizada, por meio de índices, sumários, resumos.

É o momento de voltar a fazer buscas ativas em bibliotecas presenciais e virtuais, pois pode haver
caminhos novos a serem percorridos.

Saiba mais

Para saber mais sobre levantamento bibliográfico, leia:

SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de


dissertação. 3. ed. rev. e atual. Florianópolis: UFSC, 2001. p. 30.

48
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

2.1.2 Localização e compilação

Agora que você já identificou, a princípio, o material bibliográfico que pretende usar, ou seja, fez o
levantamento bibliográfico, nessa etapa deverá entrar em contato com o material efetivamente, ou seja,
deverá ler.

Esse material deverá ser localizado fisicamente. É interessante ir até as bibliotecas de faculdades, do
polo, e/ou da sua cidade, pois você deverá ter o livro em mãos para começar a ler.

Os materiais que estão on‑line precisam ser organizados numa pasta em um pen drive. Cada assunto
poderá ter uma pasta com título de fácil identificação. Sempre que salvar um documento, deverá ter
registrado o endereço eletrônico no material, para reconhecer com facilidade a localização.

Estabeleça dia e horário para suas leituras. Se estiverem organizados em um grupo de alunos, definam
se estudarão juntos ou se farão leituras em separado. Organizem de modo equilibrado o material de
cada um. Isso gerará transparência, compromisso e responsabilidade individual e coletiva. É importante
todos terem uma mesma rotina, salvaguardando as individualidades, mas tendo o compromisso de
localizar as obras e estudar, com o objetivo de compilar o material a ser trabalhado diretamente no
referencial teórico da pesquisa.

Lembrete

Se o trabalho for em grupo, organizem de modo equilibrado o material


de cada um. Isso gerará transparência, compromisso e responsabilidade
individual e coletiva.

A partir do momento em que estivermos em contato com o material, teremos de compilá‑lo,


organizando‑o numa linha lógica de pensamento e conforme delimitamos nos estudos. O conjunto de
obras e o encontro das subjetividades e objetividades de cada assunto lhe propiciará problematizar o tema,
e isso vai ajudar a ter foco; mas como compilar todo o material de forma sistemática, e de fácil manuseio?

2.1.3 Fichamento

Os materiais selecionados para leitura serão analisados e fichados.

O fichamento permite que você reúna as informações necessárias e úteis à elaboração do texto da
revisão. Podem ser elaborados diversos tipos de fichas, como:

• bibliográfica: com dados gerais sobre a obra lida;

• citações: com a reprodução literal entre aspas e a indicação da página da parte dos textos lidos de
interesse específico para a redação dos tópicos e itens da revisão (IAMAMOTO; CARVALHO 2010);

49
Unidade I

• resumo: com um resumo indicativo do conteúdo do texto; com suas palavras, conforme seu
entendimento, mas, ainda assim, se for usar alguma palavra, indique ((IAMAMOTO; CARVALHO 2010));

• esboço: apresentando as principais ideias do autor lido de forma esquematizada, com a indicação da
página do documento lido; pode ser um esquema, sem uma linguagem corrida, apenas por tópicos.

• comentário ou analítico: é o entendimento do pesquisador; elaborado a partir do texto lido.

Nessa etapa do fichamento, você deverá identificar todas as obras lidas e respectivas citações,
sistematizar as análises e os comentários de cada obra ou artigo e tecer críticas ao material lido.

Sugerimos que tenha um texto para cada autor, fichando de acordo com a sequência das páginas,
separando as citações e registrando‑as. Em seguida, faça um resumo das principais informações; isso
o ajudará quando tiver lido mais de um artigo e/ou livro, além de fazê‑lo ganhar tempo e qualidade
na produção.

2.1.4 Análise e interpretação

Quando terminar o fichamento do primeiro grupo de materiais elencados para pesquisar, faça uma
nova leitura e identifique aquilo que for adequado para usar, especialmente considerando o tema do
seu trabalho.

Muitas coisas que fichamos nem sempre vamos utilizar, mas não dispense nada, pois poderá usar
posteriormente, ou mesmo em outras oportunidades de pesquisa.

Essa leitura deve ser crítica e apurada, para fazer um recorte do que for mais próximo do tema, e será
também um encaminhamento para a problematização e o foco do trabalho.

2.1.5 Redação

Agora que você já tem todo o material, deve preparar a primeira redação, observando alguns critérios:

• objetividade;

• clareza;

• precisão;

• consistência;

• linguagem impessoal;

• uso do vocabulário técnico.

50
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Cuide para que:

• O texto tenha começo, meio e fim; opte por parágrafos curtos de, no máximo, cinco linhas, pois
isso facilita a leitura e a escrita.

• O texto introdutório explicando o objetivo da revisão de literatura; capriche, pois isso poderá ser
utilizado na íntegra quando da finalização do trabalho;

• A revisão de literatura não seja restrita à colagem de citações; sempre que for utilizar a citação de
um autor, deverá escrever uma introdução e, posteriormente, um fechamento.

Observação

Citação, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2001, p. 1),


é a “Menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte”. Os tipos
de citações que podem ser utilizadas no texto, segundo a NBR 10520:2001,
são: citação direta – transcrição textual dos conceitos do autor consultado;
citação indireta – transcrição livre do texto do autor consultado; citação
de citação – transcrição direta ou indireta de um texto em que não se teve
acesso ao original (SILVA; MENEZES, 2001, p. 43).

Saiba mais

Endereços das principais fontes de informação para pesquisa on‑line:

Ferramentas nacionais:

http://www.cade.com.br

http://www.radaruol.com.br

Ferramentas internacionais:

http://www.excite.com

http://www.webcrawler.com

http://www.yahoo.com

51
Unidade I

3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E DO OBJETO DA PESQUISA

3.1 Delimitação do problema da pesquisa

Agora você já sabe o que quer pesquisar, já tem um tema e levantou várias referências sobre ele, que,
no nosso exemplo, é “Adolescente em situação de medida socioeducativa”. Pois bem, esse é um tema
que abrange inúmeras possibilidades, que com certeza não precisam nem devem ser apresentadas num
único trabalho.

Aqui estamos tratando de um projeto de pesquisa, ou seja, você terá de realizar um recorte, encontrar
um assunto específico diante de tudo o que encontrou para, de fato, pesquisar.

Um equívoco que muitos alunos cometem em suas pesquisas é revisitar uma vasta bibliografia
e apresentar uma pequeníssima síntese, muitas vezes, deslocada do foco da pesquisa. Por vezes,
quando vamos ler um trabalho de conclusão de curso ou mesmo uma monografia, nós nos
deparamos com um resumo da bibliografia sobre o tema, completamente desvinculado da
pesquisa de campo.

Considerando o universo do campo prático com o qual o aluno se depara quando em campo de
estágio, poderá realizar uma pesquisa científica significativa que subsidiará novos conhecimentos
teóricos e metodológicos, vislumbrando novas formas de intervenção profissional.

Obviamente, muitas vezes, a pesquisa usa o método bibliográfico, mas, ainda assim, deverá ter um
recorte do tema, pois o trabalho de conclusão de curso não deve ser apresentado como um resumo do
tema, absolutamente.

Pelo contrário, mesmo que a pesquisa caminhe no método bibliográfico, será necessário apontar
autores que convergem para o mesmo conteúdo e autores que divergem deste, para que tenhamos uma
pesquisa bibliográfica. Apontar apenas o que se fala sem fazer essa análise não é pesquisar.

Retomando nossas considerações sobre a importância da pesquisa para o serviço social, ressaltamos
que esta possibilita novas descobertas ou consolida o conhecimento desenvolvido, numa proposta
sempre dialética, em que, a partir do apreendido, na relação com a prática, surgem novos achados
teóricos, metodológicos e técnicos, possibilitando o reescrever de nossa atuação.

Com isso, não podemos desconsiderar nem menosprezar a pesquisa no campo da atuação prática,
para que essa retroalimente a nossa intervenção profissional.

Portanto, se temos um tema e um universo prático, pensando na elaboração do projeto de pesquisa,


teremos de delimitar o tema, fazendo um recorte no foco do assunto a ser pesquisado.

Para entender melhor o que é delimitar, citamos Minayo (2000):

52
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Quando alguém diz que deseja estudar a questão da violência conjugal ou


a prostituição masculina, está se referindo ao assunto de seu interesse.
Contudo, é necessário, para a realização de uma pesquisa um recorte mais
concreto, mais preciso do assunto (p. 37).

A delimitação do problema é também conhecida como problematização: esta é a etapa do


planejamento da pesquisa científica que, muitas vezes, exige‑lhe um tempo especial, como pesquisador,
pois é o momento de refletir, a partir de sua vivência em campo profissional e de estudo, bem como de
seu conhecimento teórico, pois você deverá se questionar sobre o que pretende resolver com a pesquisa.

Muitas vezes, a dificuldade de se escolher um tema também gera a dificuldade de delimitar o


problema da pesquisa, pois se objetivar apenas preencher uma demanda de curso, sem o verdadeiro
compromisso com a investigação, passará por uma fase de constantes buscas, sem ter, de fato, um
interesse, com foco num assunto e num tema.

Contudo, se o assunto e o tema já fizerem parte de sua vivência, já terá questionamentos, pois
tem olhado para a questão‑problema, bem como apresenta dúvidas sobre o que vem presenciando e
estudando, e isso o instigará à investigação. Para que esta se efetive, deverá ter pontos de partida, que
são as perguntas que você pretende realizar para a busca das respostas científicas.

A sensação ou mesmo a concretização da dificuldade de problematizar pode ter como causa a


ausência de maturidade sobre o tema, portanto a revisão da bibliografia sobre o assunto favorece o
olhar com foco, que possibilita a definição do tema.

Dessa construção que cuida de cada etapa, sem negligenciar sua sequência, estabelece‑se a
sustentação da pesquisa, que se concretiza com o amadurecimento, para o êxito da formulação de um
problema de pesquisa.

Para Gil (2008), o problema de pesquisa deve satisfazer alguns requisitos metodológicos, tais como ser:

a) claro e preciso;

b) empírico;

c) delimitado;

d) passível de solução (GIL, 2008, p. 162).

Ao problematizar o tema, os conceitos e os termos usados na enunciação não devem dar margem a
dúvidas e ambiguidades, o que resultará em uma apresentação clara e precisa.

O questionamento da situação‑problema precisa ser passível de observação na realidade, que pode


ser captada por meio de técnicas, métodos, estratégias e instrumentos próprios.

53
Unidade I

Cuide para que o problema, por meio do questionamento, esteja delimitado, isto é, tenha um foco,
com objetividade, assertividade e diretividade.

Por fim, será necessário buscar resolver os questionamentos a partir de critérios metodológicos e
científicos, de forma que seja passível de solução.

Essas quatro dimensões devem ser utilizadas por você, para que examine se há ou não consistência
no problema delimitado. Para isso, deve olhar, escrever, reescrever e perguntar‑se: os termos utilizados
estão corretos e claros? Os questionamentos levantados são passíveis de solução com os instrumentos,
as estratégias e as técnicas adotadas? A situação‑problema está delimitada num determinado foco? A
demanda levantada para a pesquisa é empírica?

Você deve estar se perguntando como fazer isso. Para formular um problema, você terá de
transformar o tema em uma pergunta. Com esse objetivo, vamos buscar nosso assunto (adolescente em
conflito com a lei), o tema (adolescente em medida socioeducativa), a delimitação do tema (adolescente
em cumprimento de medida em meio aberto) e elaborar uma frase interrogativa: “Quanto tempo os
adolescentes atendidos pelo Creas de Pirapuã levam para cumprir a medida socioeducativa em meio
aberto de liberdade assistida?”

Observe que não perguntamos o tempo estabelecido por lei para a medida socioeducativa de
liberdade assistida, que é de 6 a 36 meses; nem estamos pesquisando mais de uma medida, pois isso
seria mais um fator significativo que poderia influenciar os resultados. Perguntamos, a partir da análise
de dados reais, em um determinado serviço, de um município específico, tomando por base o prazo
estabelecido para a medida, quanto tempo o adolescente leva para cumpri‑la efetivamente.

Essa problematização deve vir ao encontro da sua observação, a qual leva você a analisar os fatores que
envolvem a situação. Isso porque, como pesquisador da área de ciências sociais, suas perguntas acabam
por ser direcionadas para uma relação causal, ou que busca conceituar ou descrever a ocorrência de um
determinado fenômeno social, fazendo surgir novas perguntas para esse momento de aprendizagem.
Assim, torna-se fator primordial que haja possibilidade de responder as perguntas ao longo da pesquisa.
Da mesma forma, aconselha-se a não fazer muitas, para não incorrer no erro de não serem apresentadas
as devidas respostas.

Retomando nosso exemplo, as questões serão:

• Por que os adolescentes em medida socioeducativa de liberdade assistida no Creas não a


cumprem no tempo deliberado em audiência? (Considere que o fenômeno é o descumprimento
da medida socioeducativa.)

• Quais as razões que levam o adolescente em medida socioeducativa a não respeitar o prazo estabelecido?

• O que acontece com o adolescente em medida socioeducativa de liberdade assistida, atendido


pelo Creas de Pirapuã, quando não cumpre o prazo estabelecido na medida de execução?

54
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Assim, você precisa saber se investiga a causa do fenômeno, originando uma pesquisa explicativa, ou
se pretende estudar a ocorrência do fenômeno, gerando uma pesquisa descritiva.

Muitos pesquisadores em fase de elaboração de projeto de pesquisa acadêmica de graduação se


descuidam da delimitação do problema, não elaboram os questionamentos com precisão, não fazem o devido
recorte e acabam realizando uma leitura superficial das referências teóricas e apresentando o projeto
em forma de síntese sobre o tema.

Esperamos ter conseguido transmitir a beleza de uma delimitação do problema, em que o foco de
seu trabalho se estabelece, explicando o que vai buscar em sua pesquisa.

Retornemos ao exemplo. Caso você esteja realizado estágio num Creas, no Serviço de Medidas
Socioeducativas e perceba que muitos adolescentes demoram para cumprir a medida socioeducativa,
questione‑se:

• Por que eles não cumprem?

• Qual a postura do orientador de medida, dos executores do Sistema de Justiça e dos representantes
do Sistema de Garantia de Direitos diante desse fenômeno?

Perceba que esses questionamentos direcionam sua pesquisa, dando centralidade ao fenômeno
cumprimento versus descumprimento da medida socioeducativa, possibilitando abertura para a análise
dos resultados, tendo em vista a legislação que sustenta a proteção social e a corresponsabilidade dos
atores da sociedade civil e da gestão pública diante desse fenômeno.

Em metodologia, damos o nome de problema ao conjunto de perguntas que o pesquisador se


propõe a responder a partir de sua observação, que, pela experimentação ou pelo empirismo, pode
tornar‑se ciência.

Lembrete

O problema, geralmente, é feito sob a forma de pergunta(s). Assim,


torna‑se fator primordial que haja possibilidade de respondê-las ao longo
da pesquisa. Da mesma forma, aconselha‑se a não fazer muitas perguntas,
para não incorrer no erro de não serem apresentadas as devidas respostas.

3.2 Delimitação do objeto de pesquisa

Quando você consegue delimitar o problema a ser pesquisado, já está caminhando para a delimitação
do objeto de pesquisa. Essas etapas são integradas e dialogam entre si, não sendo estanques ou separadas.
Aqui estamos construindo um passo a passo didático, na lógica de uma compreensão maior do porquê
do projeto de pesquisa, a partir de um fenômeno de interesse pessoal, podendo estar ou não inserido
em sua realidade prática.
55
Unidade I

Nessa etapa, vamos construir mais um recorte, que é o campo de observação, a partir de uma
determinada área do conhecimento e de critérios consistentes.

A delimitação do objeto de pesquisa é muitíssimo importante na elaboração do pré‑projeto de


pesquisa. Trata do eixo central do foco direcionado. Podemos compará‑la a um funil.

Figura 9 – A delimitação do tema é o primeiro passo para uma boa pesquisa

Temos o assunto e todo o referencial que podemos pesquisar – Adolescente.

Em seguida nos deparamos com um tema – Adolescentes em conflito com a lei.

Isso nos faz chegar ao problema – Adolescente em medida socioeducativa.

Finalmente, temos o objetivo – Identificar o índice de descumprimento da medida socioeducativa no


Creas Felicidade, no município de Piedade.

4 RELEVÂNCIA DA PESQUISA: SOCIAL, TÉCNICA E CIENTÍFICA

Reconhecemos que vivemos em “tempos de crise”, diante da expansão desenfreada do capital,


em que a humanidade busca alcançar uma fase ou um estágio de sociabilidade ainda impossível de
presenciar ao longo da história.

Esse é o momento de estabelecer contato com a realidade concreta, com reflexão, despido de
preconceitos, prejulgamentos e pré‑saberes, desvelando o cotidiano e as relações sociais a ele pertencentes.

Contudo, existe a capacidade de ver e entender a dinâmica de sociabilidade humana, em sua


organização social. Essa compreensão se dá a partir de um movimento dialético do ser, enriquecido
de saber, que o impulsiona para a transformação do mundo. Sendo assim, o campo do desconhecido

56
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

vai ficando para trás, deixando a obscuridade, e é a partir disso que a sociedade de classes se organiza,
muitas vezes condicionada pela lógica da propriedade privada.

Esse caminho ora trilhado serve para identificar a demanda pela produção de conhecimento e pela
reafirmação da interiorização de um projeto ético‑político, instituído a partir da década de 1980, comprometido
com o projeto societário. É a busca do conhecimento, concretizada pela investigação a partir de um vínculo
teórico, em que o serviço social reflete teórica e criticamente sobre as necessidades humanas, fundamentado
na lógica da intervenção profissional, que permite o empoderamento da realidade pelos sujeitos sociais.

É por meio da investigação com embasamento teórico e com análise social crítica que os assistentes
sociais desenvolvem sua ação, imanados nos movimentos da categoria profissional e do contexto histórico.

Essa leitura sociocrítica se estabelece a priori e, em muitas situações, mistificada com a realidade,
conduzindo práticas de controle social que provocam uma imersão nas demandas institucionais, que
muitas vezes se desvinculam das demandas dos sujeitos sociais.

Isso provoca uma desvalorização da profissão, mas temos de refletir que somente com a imersão nas
realidades sociais e profissionais teremos condições de aprimorar o conhecimento, por meio da análise
crítica da prática profissional, sustentando‑se teórica e metodologicamente em bases para uma nova
ação. Esta se fortalece a partir de uma postura ideopolítica e ética diante dos sujeitos sociais.

Estamos aqui falando do reconhecimento do profissional também como sujeito social imerso nas
questões sociais, que se pretende realizando um contínuo esforço investigativo de sua prática profissional,
para estabelecer, por meio da pesquisa social, numa perspectiva dialética, a efetiva ampliação do
conhecimento, expandindo a teoria e a metodologia da ação profissional.

A partir desse refletir contínuo e de sua concretização por meio da pesquisa social, que estabelece
indicadores de avaliação para as ações e articulações do profissional, diminuímos os riscos de
institucionalizar a prática profissional conservadora e expandimos as possibilidades de avanço, na
lógica da garantia de direitos dos sujeitos sociais, inclusive do profissional de serviço social. O contexto
histórico permeia a emersão da área e sua institucionalização, mas, processualmente, a apreensão das
suas formas de ser e existir no mundo social permite seu autorreconhecimento como profissão inserida
em um movimento maior.

Isso é o que conhecemos por adotar uma postura, escolher um caminho ético e político, em que
a teoria se renova diante de cada análise crítica das relações societárias, na busca da sociabilidade
humana, em que a opressão do homem pelo próprio homem seja criticamente avaliada e deixe de
ser reproduzida, fazendo‑se cumprir a premissa de liberdade estabelecida na Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1949). Para ser alcançada, essa liberdade precisa de pressupostos anteriores.

Realmente isso nos parece, a priori, utópico. Sem dúvida, concordamos, mas, se nos permitirmos
optar pela naturalização e pela banalização, desconstruiremos nossa humanidade e sociabilidade. Esses
conceitos são fundamentais para o profissional de nossa área, que prima pela pesquisa social, para
construir um novo projeto societário, em que o sujeito social seja, de fato, sujeito de sua história.
57
Unidade I

Quando pretendemos realizar ações resolutivas, muitas delas podem ser pontuais e imediatistas; ao
contrário de negar a demanda, necessitamos enfrentar de forma política esse “jeitinho brasileiro”, ou “é
urgente”, ou “só para não morrer”, ou “enquanto não tem coisa melhor” e assim por diante.

Realmente temos de ser propositivos, utilizar criatividade e espontaneidade profissionais e até


mesmo pessoais para enfrentar esses desafios, e não permitir a “morte” de ideias, pensamentos e
pessoas, contudo esse não pode ser o nosso foco; pelo contrário, devemos ter nessas ações pontuais
e imediatistas a nossa chama condutora para efetivamente criarmos estratégias de enfrentamento das
violações de direitos, bem como de repugnância a elas.

Isso se estabelece por meio de uma prática inovadora e desafiadora, em que a análise crítica deixa de
culpabilizar os sujeitos sociais pelas suas desventuras, iniquidades, desigualdades e estabelece padrões
de conduta diante dessas violações de direitos que serão devidamente controladas.

Observação

Aqui, o termo controle é correto: revisita causas das violações de


direitos, não apenas consequências (como julgar que os violados têm culpa,
pessoal e socialmente, da ausência do Estado e das políticas públicas).

Estamos falando de uma ação transformadora que não se submete e não permite que o outro
se submeta aos desmandos dos que detêm o poder, mas que sustenta a democratização do poder
de escolha, a partir do suporte para se estabelecer, efetivamente, autonomia e independência de
pensar e agir.

Para se sustentar o projeto ético‑político (PEP), os assistentes sociais não podem e não devem
limitar‑se às ações individuais e locais, mas precisam pensar no coletivo, donde se concretiza a efetividade
da pesquisa social científica, que avalia as ações e propõe – ética, política, teórica e metodologicamente
– novas intervenções técnico‑operativas. Saem, assim, das ações individuais para as ações coletivas
de uma categoria profissional, que se fundamenta e se expande com os demais saberes em ações
interdisciplinares e transdisciplinares, não permitindo a ausência, mas, sim, a capacidade investigativa e
interventiva transformadora.

Essa ação é madura e comprometida com o humano, suas relações sociais e, a partir daí, com
uma nova lógica societária, em que o profissional não se limita às ações imediatistas e às práticas
burocráticas, mas, verdadeiramente, torna‑se responsável, com base em sua ética profissional e humana.

Guerra (1993) reflete:

Marx (2006, p. 31) já afirmara que “não há estrada real para a ciência, e
só têm probabilidade de chegar a seus cimos luminosos aqueles que
enfrentarem a canseira para galgá‑los por veredas abruptas”. Portanto, a
pesquisa imanente faz‑se necessária para aqueles que estão determinados
58
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

a destruir a perfídia construída pelo capital, que aumenta e complexifica


cotidianamente o estranhamento humano sobre sua humanidade.

Portanto, a partir do momento em que temos como direcionamento um


Projeto Ético‑Político que deixa clara uma opção tanto teórico‑metodológica
quanto política, diretrizes curriculares que preveem uma formação
profissional atrelada a escolhas políticas específicas e um Código de
Ética que fundamenta uma ação que tencione, ainda que minimamente,
transformações sociais, somos, e não podemos fugir da objetivação deste
compromisso, partes especializadas da grande mola propulsora movida e
movente das mudanças societárias em construção permanente (MARX,
2006 apud GUERRA, 1993, p. 87).

Somos chamados à responsabilidade profissional. Não é apenas uma questão de legado: no momento
em que nos apropriamos do conhecimento, estamos instrumentalizados para desenvolver a crítica, com
capacidade de questionamento e de investigação. A partir desse contato com a realidade, elaboramos um novo
saber, que não mais se esconde na “mundaneidade fetichizada” (GUERRA, 1993), mas que nos conclama
a aprofundarmos a pesquisa científica, a mudarmos o rumo da história e a redescobrirmos novas formas
de intervenção.

Daí a importância, para o assistente social, de pesquisar a partir de sua prática profissional, com
rigor científico, para estabelecer novas teorias que subsidiem uma prática inovadora e transformadora.

4.1 Definição dos objetivos da pesquisa

Relaciona‑se com a visão global do tema e com os procedimentos práticos.

Objetivos indicam o que se pretende conhecer, medir ou provar no decorrer da pesquisa, ou seja, as
metas que desejamos alcançar. Podem ser gerais ou específicos. No primeiro caso, indicam uma ação
muito ampla; no segundo, procuram descrever ações pormenorizadas ou aspectos detalhados.

Uma ação individual ou coletiva materializa‑se por meio de um verbo. “Por isso é importante uma
grande precisão na escolha do verbo, escolhendo aquele que rigorosamente exprime a ação que o
pesquisador pretende executar” (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 75).

Outro critério fundamental na delimitação dos objetivos da pesquisa é a disponibilidade de recursos


financeiros, humanos e de tempo para a execução da pesquisa, de tal modo que não se corra o risco de
torná‑la inviável. É preferível diminuir o recorte da realidade a perder‑se em um mundo de informações
impossíveis de serem tratadas (BARRETO; HONORATO, 1998).

• Objetivo(s) geral(is): indicação do resultado pretendido. Por exemplo: identificar, levantar,


descobrir, caracterizar, descrever, traçar, analisar, explicar etc.

59
Unidade I

• Objetivo(s) específico(s): indicação das metas das etapas que levarão à realização dos objetivos
gerais. Por exemplo: classificar, aplicar, distinguir, enumerar, exemplificar, selecionar etc.

Nessa etapa, você pensará a respeito de sua intenção ao propor a pesquisa. Deverá sintetizar o que
pretende alcançar com ela. Os objetivos devem ser coerentes com a justificativa e o problema proposto.
O objetivo geral será a síntese do que você pretende alcançar, e os objetivos específicos explicitarão os
detalhes e serão desdobramentos do objetivo geral.

Os objetivos informarão para que você está propondo a pesquisa, isto é, quais os resultados que
pretende alcançar ou qual a contribuição que sua pesquisa efetivamente proporcionará.

Os enunciados dos objetivos devem começar com um verbo no infinitivo, e este deve indicar uma
ação passível de mensuração.

4.2 O marco teórico conceitual da pesquisa

É de suma importância que o autor de um trabalho acadêmico científico seja honesto consigo mesmo
e com os autores pesquisados. Dizemos isso porque é muito comum fazermos recortes, especialmente
da internet, e colocarmos no trabalho como se a autoria fosse nossa.

Em primeiro lugar, precisamos entender que copiar um texto de outro autor sem sua autorização e
sem indicar as referências bibliográficas é considerado plágio. Vejamos claramente o que isso significa:

No Código Penal Brasileiro, em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a
Propriedade Intelectual, nós nos deparamos com a previsão de crime de violação de
direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: “Violar direito autoral: Pena –
detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa”[BRASIL, 1940]. E os seus parágrafos
1º e 2º, consignam, respectivamente:

§ 1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, com


intuito de lucro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem
autorização expressa do autor ou de quem o represente, [...]: Pena –
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa [...].

§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe


à venda, aluga, introduz no país, adquire, oculta, empresta, troca ou
tem em depósito, com intuito de lucro, original ou cópia de obra
intelectual [...], produzidos ou reproduzidos com violação de direito
autoral [BRASIL, 1940].

60
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Discorrendo sobre essa espécie de crime, afirma Mirabete [2001]:

A conduta típica do crime de violação de direito autoral é ofender,


infringir, transgredir o direito do autor. O artigo 184 é norma penal
em branco, devendo verificar‑se em que se constituem os direitos
autorais que, para a lei, são bens móveis (art. 3º da Lei n. 9.610/98)
[MIRABETE, 2001, p. 371].

Aquele que se propõe a produzir conhecimento sério, renovador do Direito, quer seja ele
professor, pesquisador ou aluno, se obriga a respeitar os direitos autorais alheios. Vejamos
o que diz a Constituição Federal vigente [BRASIL, 1988], em seu artigo 5º, XVII: “aos autores
pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras [...]”. E a
devida proteção legal em legislação ordinária nós a encontramos na Lei n. 9.610/98, mais
precisamente nos seus artigos 7º, 22, 24, I, II e III, e 29, I.

Mas, se a própria Lei [...] citada nos informa, no seu artigo 46, [inciso] III, que não se
constitui ofensa aos mencionados direitos a citação, em livros, jornais, revistas ou em
qualquer outro meio de comunicação, de trechos de qualquer obra, desde que sejam
indicados o nome do autor e a proveniência da obra, onde constataremos a incidência
dessa contrafação (reprodução não autorizada) tão grave, especificamente entendida na
sua forma conhecida como plágio? Exatamente no modo como o plagiário se apossa do
trabalho intelectual produzido por outrem.

O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos
recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos
pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das
frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho
original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.

Agindo desse modo, o plagiário tenta iludir a um só tempo tanto ao verdadeiro autor
da obra fraudada, como também a quem é dirigido o seu “trabalho”, inclusive a coletividade
como um todo, que irá absorvê‑lo. Ensina‑nos Costa Netto [1998], discorrendo sobre o
delito de plágio:

Assim, certamente, o crime de plágio representa o tipo de usurpação


intelectual mais repudiado por todos: por sua malícia, sua dissimulação,
por sua consciente e intencional má‑fé em se apropriar – como se de
sua autoria fosse – de obra intelectual (normalmente já consagrada)
que sabe não ser sua (do plagiário) [COSTA NETTO, 1998, p. 189].

Concluindo, asseveramos que [...] um trabalho de pesquisa levado a efeito nos ditames
das normas metodológicas cabíveis, fincado num rigor científico necessário e inafastável,
deve ainda ser [...] revestido de uma indefectível postura ética por parte do seu autor, quer
seja ele mero estudioso, professor ou aluno de graduação ou pós‑graduação.
61
Unidade I

Agir com respeito perante não somente aquilo que se propõe a produzir com seriedade,
mas igualmente em relação às fontes pesquisadas, às ideias consultadas, aos pensamentos,
reflexões, pontos de vista, propostos em estudos e pesquisas já feitas, [...] para melhor ilustrar,
fundamentar ou enriquecer o seu trabalho científico, é o mínimo que podemos esperar de
alguém voltado para o conhecimento.

A atitude ética, acompanhada da boa‑fé que tanto esperamos de qualquer estudioso,


aluno, professor, pesquisador, passa, necessariamente, pelo respeito ao trabalho alheio.
Produzir conhecimento, sim, mas calcado na lisura e na decência, sem usurpação ou violação
do produto intelectual de quem quer que seja, eis uma obrigação, um dever imposto a
todo aquele que se propõe criar ou trilhar novos caminhos no mundo jurídico, através da
investigação e da pesquisa científicas.

A consciência a perdurar no pesquisador sério deve advir da certeza de que o verdadeiro


conhecimento precisa firmar‑se – sempre – em bases éticas. E essa consciência ética lhe
impõe que seja buscada e desenvolvida já nos primeiros passos da vida acadêmica. Que o
aluno se habitue com a pesquisa, aprendendo a desenvolvê‑la, mas sempre consciente de
que não poderá se descuidar da ética. E que os professores, como estudiosos por excelência,
como orientadores de pesquisas e responsáveis, direta ou indiretamente, pela iniciação
científica de seus alunos, deem o exemplo e venham a lembrá‑los, a todo instante, do valor
da ética para a produção do conhecimento.

Com os inúmeros benefícios tecnológicos do mundo moderno, sobretudo com a


inserção do computador e da internet em nossas vidas, surgiram facilidades até há pouco
tempo impensáveis. O pesquisador sério – aluno, estudioso ou professor – pela facilidade
que tem de obter e trabalhar uma infinidade de informações disponíveis, sem sequer
precisar sair de seu local de estudo, vem se beneficiado com esses avanços tecnológicos.
Infelizmente, precisamos fazer uma constatação lamentável: se nos vemos beneficiados
por essas comodidades, passamos, em contrapartida, a viver sob a banalização do plágio.
Lamentavelmente, observamos o quanto é costumeiro se “produzir conhecimento” violando
os direitos autorais de alguém. Vemos, pois, verdadeiros furtos intelectuais serem praticados,
quase sempre de modo que gera impunidade, haja vista as dificuldades que surgem em bem
caracterizarmos esses delitos.

Muitos são aqueles que não têm qualquer escrúpulo em selecionar e copiar trabalhos
inteiros, trechos ou pequenos textos que pertencem a outrem, diretamente em proveito
próprio, ou mesmo para comercializá‑los junto a terceiros, auferindo lucros à custa
alheia. Assinam‑nos como se fossem os verdadeiros autores e pouco se importam com as
consequências de seus atos criminosos.

Com o advento da internet, como já dissemos antes, e as extraordinárias facilidades que


ela nos legou hodiernamente, essa situação se agravou, disseminando a ocorrência desses
furtos virtuais. Deparamo‑nos, então, com aquele plagiador que pratica a violação em
proveito de si mesmo ou de outrem, sob encomenda, comercializando trabalhos acadêmicos
62
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

prontos, maquiados pela leviandade de quem assim age. Mais do que um ilícito civil, uma vez
que afronta direito de personalidade do autor, constitucionalmente garantido, atingindo a
sua criação intelectual, nos deparamos também com um ilícito criminal gravíssimo, coberto
ainda pela inteira reprovação moral a que se sujeita aquele que pratica o plágio.

Fonte: Instituto Brasileiro de Hipnologia (2010).

Estamos plenamente esclarecidos sobre essa situação de plágio. Portanto, certamente, não vamos
incorrer nesse ato, especialmente porque dedicamos três longos anos de nossas vidas para nos
qualificarmos e nos tornarmos profissionais que trabalham com as desigualdades sociais, sendo uma
destas a própria desigualdade intelectual e educacional.

Nessa reta final, todo o esforço dedicado é para que a conduta ética e política seja concretizada
tanto na nossa atuação profissional quanto na elaboração de planos, programas, projetos e relatórios de
prática profissional e de pesquisa social, com segurança na qualidade da apresentação, da justificativa
e do referencial teórico.

Esse é o marco: sempre que identificamos um assunto, colocamos foco num tema, e pesquisamos
criticamente os fatores que o envolvem, delimitamos problemas e hipóteses em torno do tema ou até
mesmo de uma situação‑problema, que suscite nossa análise aprofundada. Surge daí o interesse pela
pesquisa científica.

Contudo, é vital que, ao olharmos para nossas hipóteses diante do problema, não nos limitemos ao
nosso “achismo” – “teorização fundada no subjetivismo do ‘eu acho que’ (aplicável a qualquer campo
teórico)” (HOUAISS, 2009), mas que nossa consciência esteja desperta para investigarmos o que já foi
escrito e pensado sobre o mesmo tema ou problema.

Assim, diante de uma teoria já elaborada, vamos encontrar a sustentação daquilo que buscamos
compreender cientificamente, mas com honestidade intelectual e com a devida abrangência, pois um
mesmo tema possui teorias convergentes e divergentes, que devem ser mencionadas antes de se partir
para a busca de afirmações e confirmações desta ou daquela linha teórica.

No momento da revisão teórica, temos de considerar as diferentes preferências políticas e filosóficas,


para sustentar a análise dos dados que serão coletados em nossa pesquisa, posto que, em ciências
humanas ou sociais, existe um movimento contínuo e inacabado que merece sempre ser inovado e
acrescido de novos olhares e saberes interdisciplinares.

Caso tenhamos clareza da postura ética diante dos autores e em respeito às diversidades e pluralidades
das teorias na área das Ciências Humanas ou Sociais, cabe‑nos entender o que é marco teórico, pressuposto
teórico e qual a diferença entre esses conceitos. É o que vamos buscar esclarecer aqui.

Definimos como marco teórico a afirmação específica de um autor elaborada para definir uma
situação‑problema. Vejamos, por exemplo, como Adailza Sposati define proteção social:

63
Unidade I

Proteção social: o sentido de proteção (protectione, do latim) supõe, antes


de tudo, tomar a defesa de algo, impedir sua destruição, sua alteração. A
ideia de proteção contém um caráter preservacionista – não da precariedade,
mas da vida –, supõe apoio, guarda, socorro e amparo. Esse sentido
preservacionista é que exige tanto a noção de segurança social como a de
direitos sociais (SPOSATI, 2009, p. 21).

Assim, se o TCC tiver como objetivo identificar o modelo de proteção social no Brasil, o marco teórico
poderá ser de Sposati (2009, p. 21), na lógica da proteção social como “proteção à Vida – supõe apoio,
guarda, socorro e amparo”. Assim, seu trabalho versará sobre esse referencial teórico.

Todo o contexto de proteção social estará em vinculado à sua escolha, pois você deverá
selecionar o marco referencial para seu trabalho, baseado nas investigações, reflexões,
explicações e conclusões de um determinado autor. É uma escolha de perspectiva de abordagem
que vai acompanhá‑lo nos capítulos de referencial teórico, metodologia, análise da pesquisa e
considerações finais.

Se o marco teórico for alterado, você terá de rever o problema, os objetivos e as hipóteses. Modificar
o marco teórico significa mudar o rumo da pesquisa, ou seja, recomeçar.

Sendo que pressupostos teóricos são os diferentes autores que tratam do tema proteção social,
com suas peculiaridades, bem como conceitos que deverão ser questionados pela pesquisa, podendo ou
não ser sustentados pelo marco teórico.

Por isso, anteriormente, explicamos que pesquisa bibliográfica é muito detalhista, pois requer uma
busca conceitual e esmiuçada sobre o tema e os conceitos, podendo, a partir do marco teórico, ser aceita
ou rejeitada cientificamente.

Estamos fazendo, com este livro‑texto, um caminho para sistematizar a elaboração do seu trabalho
de conclusão de curso. Por isso, acompanhamos as etapas, para que o processo de concepção, execução
e análise da pesquisa não seja traumático, mas, sim, gratificante.

4.3 Formulação de hipóteses

Se quisermos estabelecer um caminho para o trabalho de conclusão de curso, será importante


elaborarmos desde o projeto de pesquisa as hipóteses ou suposições que temos sobre o tema ou
problema a ser pesquisado.

Como em muitos casos sua pesquisa será de campo, pode ser que você tenha suposições que o
intriguem e o mobilizem a buscar esclarecimentos sobre o real funcionamento de um serviço de sujeitos
sociais. Por isso, em Ciências Humanas ou Sociais, podemos chamar de hipóteses ou suposições,
contudo o termo coloquialmente utilizado é hipóteses.

64
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Outra preocupação que não deve existir é se sua hipótese será sustentada ou não, pois a pesquisa
servirá exatamente para isso. Seu achado de pesquisa poderá mudar totalmente sua hipótese; isso é
plenamente aceitável e sustentado teoricamente.

Assim, as hipóteses marcam o caminho da pesquisa, indicam a metodologia a ser utilizada e definem
o marco e os pressupostos teóricos. Lembramos que é muito producente já ter isso claro no projeto de
pesquisa, mesmo que durante a pesquisa as hipóteses sejam verificáveis, comprováveis ou negáveis.

A redação das hipóteses, a princípio, pode causar insegurança, mas esse aprendizado, que nesse
momento pode estar no começo, quando de sua vida acadêmica e profissional, será um facilitador para
projetos de mobilização de recursos, planejamentos estratégicos, planos de trabalho (longo, médio e
curto prazo), artigos e novos trabalhos acadêmicos.

Muitas vezes, no pré‑projeto, indicamos hipóteses e, quando iniciamos a revisão de literatura


e identificamos o marco teórico, ou até mesmo quando nos deparamos com o campo de pesquisa,
precisamos fazer alterações, o que poderá causar frustração.

Não há como garantir que isso não acontecerá; contudo, se durante o estágio tivermos feito bons
relatórios, com crítica teórica sobre as violações de direitos, teremos um caminho percorrido que poderá
diminuir muito esse sentimento de frustração, pois não partiremos do nada; ao contrário, teremos uma
base prática e teórica.

Muitas vezes, o aluno busca um novo tema, desconsiderando o que presenciou e estudou no decorrer
do curso, justamente o que pode lhe dar sustentação e um marco inicial para a indicação de suas
hipóteses. Assim, que tal rever suas anotações de estágio e de aula? Pode lhe ajudar muito.

Para a monografia de graduação, não há exigência de novos achados de pesquisa; estes podem ser
de confirmação do que já existe. Isso pode facilitar, você não acha? Mas, se quiser e tiver empenho desde
sua monografia de graduação, já poderá indicar um novo aspecto, ainda pouco pesquisado e analisado.
Isso será muito estimulante, não é?

Vamos conceituar hipóteses segundo dois autores:

Hipótese é uma expectativa de resultado a ser encontrada ao longo


da pesquisa, categorias ainda não completamente comprovadas
empiricamente, ou opiniões vagas oriundas do senso comum que ainda
não passaram pelo crivo do exercício científico. Sob o ponto de vista
operacional, a hipótese deve servir como uma das bases para a definição
da metodologia de pesquisa, visto que, ao longo de toda a pesquisa, o
pesquisador deverá confirmá‑la ou rejeitá‑la no todo ou em parte
(BARRETO; HONORATO, 1998, p. 78).

Vamos buscar o exemplo de proteção social que apresentamos no marco teórico referente a esse
tema. Se nossa pesquisa tiver como objetivo geral “analisar o grau de proteção social oferecido às
65
Unidade I

famílias inseridas no programa de transferência de renda do benefício de prestação continuada – pessoa


idosa (BPC- Id), referenciadas no Cras I de Amanacá”, teremos de elaborar hipóteses que analisem esse
nível de proteção social.

Logo, podem‑se estabelecer uma hipótese de aspecto teórico e duas de aspecto prático:

• Hipótese 1 – O programa do BPC oferece o mais alto nível de proteção social aos seus beneficiários,
pois lhes garante vida digna após os 65 anos.

• Hipótese 2 – Os beneficiários do BPC do município de Amanacá são atendidos sistematicamente


com qualidade pelas políticas públicas municipais.

• Hipótese 3 – A inclusão da pessoa idosa do município de Amanacá no programa de BPC abrange


todos os que se preenchem os critérios.

Nesse caso, partimos de hipóteses com caráter de valoração do programa, sem crítica, identificando
apenas pontos positivos e tendo como marco teórico que a proteção social no Brasil realmente trabalha
com a preservação da vida.

Mas podemos, ao contrário, buscar com o mesmo objetivo e com o mesmo marco teórico hipóteses
que também analisem as vulnerabilidades do programa:

• Hipótese 1 – O programa do BPC não efetiva a proteção social aos seus beneficiários, pois não
existe suporte integral das políticas públicas que garantam vida digna após os 65 anos.

• Hipótese 2 – Os beneficiários do BPC do município de Amanacá não são atendidos sistematicamente


com qualidade pelas políticas públicas municipais, especialmente pelas de Assistência Social,
considerando que estas executam a inclusão, mas não o acompanhamento.

• Hipótese 3 – A inclusão da pessoa idosa do município de Amanacá no programa de BPC não


abrange todas as famílias que preenchem os critérios, pois não existe divulgação sobre tal programa.

Aqui temos um caminho já definido para a metodologia, que deverá buscar uma revisão bibliográfica
sobre proteção social e sobre o benefício de prestação continuada, com foco na pessoa idosa. Depois
temos uma pesquisa quantitativa, por meio de procedimentos de consulta a bancos de dados do
ministério de Assistência Social e do Cras I; e uma pesquisa qualitativa, com procedimentos de aplicação
de questionário aos beneficiários do programa ou mesmo com depoimentos ou histórias de vida. Assim,
a partir de suas hipóteses, será identificada sua metodologia, que apresentaremos mais à frente.

Estamos chegando ao final desta primeira parte, em que nos propusemos a apresentar a construção
do pré‑projeto de pesquisa em Serviço Social. Esperamos que tenha esclarecido suas dúvidas e que
este material facilite a construção de sua pesquisa e do respectivo relato.

66
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

Resumo

Neste livro‑texto, estamos considerando que seu pré‑projeto já tenha


sido elaborado; contudo, retomamos, nesta unidade, pontos pertinentes e
de sustentação de sua pesquisa e respectiva análise.

Nesta unidade, relembramos pontos fundamentais para realizar uma


pesquisa: o que pesquisar? (definição do problema, hipóteses, base teórica
e conceitual); para que pesquisar? (propósitos do estudo e seus objetivos);
por que pesquisar? (justificativa da escolha do problema); como pesquisar?
(metodologia); por quanto tempo pesquisar? (cronograma de execução);
com que recursos? (orçamento); e a partir de quais fontes? (referências).

Partimos do princípio de que você já teve contato com fundamentos


históricos, técnicos e metodológicos, políticas públicas, ética, sociologia,
antropologia, psicologia, direito etc., já tem uma base sólida de conhecimento
generalista e iniciou seu contato com a prática profissional no campo de
estágio. Isso lhe garante uma vivência diante do objeto do serviço social,
dando‑lhe embasamento e habilitando‑o para fazer a escolha de um tema.

Lembramos que deve ser escolhido o assunto de pesquisa e que, em


seguida, é preciso ainda afunilá‑lo, restringi‑lo, circunscrevê‑lo.

Aprendemos que, em pesquisa, chamamos de “estado da arte” o que já


existe pesquisado sobre o assunto, conceitos, achados de pesquisa, análises
de dados, entre outros, que estão na literatura para ser objeto de pesquisa.
Vimos também que é a partir dessas pesquisas já realizadas que construímos
o referencial teórico.

Abordamos como fazer a revisão histórica de tudo que já foi escrito


sobre o tema que escolhemos, obviamente com um recorte de autores
selecionados, já que algumas revisões de literatura são muito extensas,
considerando o enorme número de publicações existentes. Vimos essas
informações aplicadas a uma pesquisa, ou seja, aprendemos a realizar
um recorte, encontrar um assunto específico diante de tudo o que foi
encontrado para pesquisar.

Aprendemos também que o questionamento da situação‑problema


precisa ser observável na realidade, e que a observação pode ser realizada
com o uso de técnicas, métodos, estratégias e instrumentos próprios.

67
Unidade I

Destacamos que o problema, deve ser delimitado por meio do


questionamento. Deve ter um foco, com objetividade, assertividade e
diretividade. Além disso, vimos que a delimitação do objeto de pesquisa é
muitíssimo importante na elaboração do projeto.

Enfatizamos também que, para sustentar o projeto ético‑político (PEP),


os assistentes sociais não podem nem devem se limitar a ações individuais
e locais. Ao contrário, precisam pensar no coletivo, donde se concretiza a
efetividade da pesquisa social científica.

Vimos que os objetivos informarão por que você está propondo


a pesquisa, isto é, quais os resultados que pretende alcançar ou qual a
contribuição que sua pesquisa proporcionará efetivamente. Com esses
objetivos, passamos a definir qual será o marco teórico (afirmação
específica que um autor elabora para definir uma situação‑problema e que
condiz com nossos pressupostos ético, político, teórico e metodológico
desenvolvidos ao longo de nossa formação).

Aprendemos ainda que, a fim de estabelecer um caminho para o


trabalho de conclusão de curso, é importante elaborar, desde o projeto de
pesquisa, as hipóteses ou suposições que temos sobre o tema, bem como o
problema a ser pesquisado.

Assim, estamos preparados para definirmos os caminhos metodológicos


da pesquisa.

Exercícios

Questão 1. Gabriel Dias e seu grupo de estudos vivenciam um momento de definição da


relevância social, técnica e científica da pesquisa que realizam: “O assistente social e sua atuação
no centro de referência especializado da assistência social junto aos casos de violência doméstica
contra a mulher”.

Podemos apresentar como relevância da realização dessa pesquisa:

I – A relevância social da pesquisa descrita vincula-se a sua capacidade de produzir conhecimento


científico sobre a violência doméstica contra a mulher, porque a relevância social de uma pesquisa está
relacionada a sua contribuição no âmbito da produção do conhecimento científico.

II – A relevância social dessa pesquisa relaciona-se ao fato de haver um número crescente de


mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil.

68
PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

III – A relevância científica da pesquisa provém do fato de ser produzido conhecimento com bases
científicas sobre a intervenção do assistente social na situação de violência doméstica contra a mulher,
considerando uma realidade específica.

IV – O fato de produzir um conhecimento sobre o fazer do assistente social junto a uma demanda
específica (mulheres vítimas de violência doméstica) e, ainda, abordar esse exercício junto ao Creas, um
serviço público, denota a relevância técnica dessa pesquisa.

V – A relevância técnica de uma pesquisa vincula-se a sua importância para a sociedade. No


caso apresentado, a relevância técnica provém da importância social de se compreender melhor os
aspectos relacionados à violência doméstica contra a mulher, assim como as informações sobre a ação
desenvolvida pelo Creas junto a essa demanda.

Podemos concluir que estão corretas as afirmativas:

A) II, III e IV.

B) II, III e V.

C) I, II e III.

D) III, IV e V.

E) I, IV e V.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a relevância social da pesquisa provém da importância que o tema adquire para
a sociedade. A relevância social não está vinculada à importância do tema para a produção do
conhecimento científico.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: a relevância social de uma pesquisa advém da sua importância social, ou seja, do
quão relevante o tema é para a sociedade. No exemplo apresentado sabemos que é importante
conhecer a violência doméstica contra a mulher, uma vez que esse fenômeno tem sido ampliado na
sociedade brasileira.

69
Unidade I

III – Afirmativa correta.

Justificativa: a relevância científica de um tema de pesquisa está relacionada a sua contribuição no


universo da produção de conhecimento científico. Ou seja, não se trata de um conhecimento produzido
com base no senso comum, e sim sob métodos científicos.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: o aspecto técnico de uma pesquisa advém da contribuição que ela confere à uma dada
área de formação. No caso em pauta o curso é o de serviço social, portanto a pesquisa deverá abordar
algum aspecto relacionado à atuação desse profissional. No exemplo apresentado, há produção de
conhecimento sobre a ação do assistente social em um espaço de política social.

V – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a relevância técnica de uma pesquisa está relacionada à importância que o tema
da pesquisa possui para a área de formação, e não para a sociedade. A relevância social vincula-se à
importância social de um tema de pesquisa.

Questão 2. Leia a notícia a seguir.

“Núcleo estuda caminhos para criar um Brasil menos violento

Desde os anos 1980, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) desenvolve pesquisas e forma
pesquisadores que estudam assuntos relacionados a violência, democracia e direitos humanos

Quando pensamos em ciência, normalmente imaginamos um conjunto de métodos e raciocínios


aplicados para a solução de mistérios ou de problemas enfrentados pela humanidade. Aprender a tratar
doenças graves ou criar soluções tecnológicas que melhorem nossas cidades são alguns dos grandes
objetivos da ciência.

No entanto, entender a complexidade que cerca nossas relações sociais e tentar solucioná-la também
faz parte dessa nobre empreitada. Para isso, existem centros de pesquisa como o Núcleo de Estudos da
Violência da USP, que, desde 1987, desenvolve pesquisas e forma pesquisadores que estudam assuntos
relacionados a violência, democracia e direitos humanos.

De acordo com o professor Sérgio Adorno, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da USP e coordenador do NEV, o núcleo foi um dos primeiros centros com o objetivo
principal de estudar o ‘fenômeno da violência’.

Criado em parceria com o professor Paulo Sérgio Pinheiro, no final dos anos 1980, o NEV teve
início em uma pequena sala no próprio departamento de sociologia da FFLCH. Nos anos seguintes, o
núcleo cresceu, ganhou nova sede e autonomia para formar e receber pesquisadores de outras áreas do
conhecimento, como a professora Nancy Cardia, especialista em psicologia social.
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PROJETOS DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

‘Tínhamos objetivos muito claros, primeiro construir uma base de documentação e contribuir para
melhorar a qualidade dos dados primários obtidos através de pesquisas de campo’, lembra Adorno ao
explicar que a atenção do grupo se concentrou inicialmente em mapear, por exemplo, os homicídios
desde o final dos anos 1970 até décadas mais recentes, verificando os indicadores sociais dos envolvidos,
ou seja, dados como escolaridade, ocupação, profissionalização e até acesso aos direitos básicos.

Segundo o professor, desde seu desenvolvimento inicial, o grupo tinha como uma de suas principais
metas realizar pesquisas ‘cujos resultados pudessem contribuir para formular políticas públicas mais
condizentes com o controle da violência’. Para ele, era essencial promover pesquisas que pudessem
contribuir para fomentar mudanças de mentalidades em relação aos direitos humanos e que, de alguma
maneira, também contribuíssem para a formação dos recursos especializados para trabalhar nas áreas
de justiça e direitos humanos.

Ao agregar pesquisadores de diferentes níveis de formação, o NEV nasceu com foco em estudar a
violência no Brasil, mas sempre a partir de comparações, inclusive com demais países da América Latina.
A ideia era ‘comparar com outras sociedades, em diferentes estados de desenvolvimento econômico e
social, para saber como experiências bem-sucedidas poderiam iluminar não só a nossa pesquisa, mas
também os formuladores de políticas públicas de segurança’, relata.”

PACHECO D. Núcleo estuda caminhos para criar um Brasil menos violento. Jornal da USP, 2019.
Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/nucleo-estuda-caminhos-para
-criar-um-brasil-menos-violento/. Acesso em 5 mar. de 2020.

A notícia apresenta o Núcleo de Estudos sobre violência, no qual a produção de conhecimento


objetiva a construção de um Brasil menos violento.

Refletindo sobre pesquisas relacionadas à violência, como a retratadas, e pensando no tema:


“Violência contra crianças e adolescentes: a ação do assistente social no projeto Espaço Amigo de
Sucupira”, podemos definir como objetivo geral dessa de pesquisa:

A) Analisar e mapear os 120 casos atendidos pelo projeto Espaço Amigo de Sucupira, buscando
identificar os tipos de violência doméstica vivenciado pelas vítimas.

B) Interferir junto aos casos de violência doméstica que acometeram crianças e adolescentes
atendidos no projeto Espaço Amigo de Sucupira, buscando proteger as vítimas.

C) Abordar vítimas de violência doméstica atendidas pelo projeto Espaço Amigo de Sucupira e seus
familiares, visando conhecer os principais tipos de violência doméstica que as acometeram.

D) Identificar e analisar a ação do assistente social junto às crianças e aos adolescentes vítimas de
violência doméstica atendidas no projeto Espaço Amigo de Sucupira.

E) Realizar pesquisa de campo junto ao projeto Espaço Amigo de Sucupira a fim de mapear a ação
do assistente social junto a crianças com dificuldade de aprendizagem.

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Unidade I

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o objetivo específico é elaborado destacando-se metas a alcançar. Nessa afirmativa é


descrito o objetivo específico, e não o geral. Outro equívoco está na identificação dos tipos de violência,
uma vez que o tema é a ação do assistente social, e não o mapeamento.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: uma pesquisa não é elaborada para intervir junto aos problemas sociais. Os dados produzidos
podem até resultar em intervenções e em prevenções, mas o objetivo é o de produzir conhecimento.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: o objetivo geral descrito apresenta uma pesquisa orientada para vítimas e familiares
envolvidos com violência doméstica, porém o tema da pesquisa é a prática do assistente social junto a
esses casos. Assim, há um descompasso entre o tema idealizado e o objetivo apresentado na assertiva.

D) Alternativa correta.

Justificativa: o objetivo geral deve ser iniciado com o verbo no infinitivo e deve estar relacionado
ao tema geral da pesquisa. A alternativa indica que o objetivo geral se vincula ao tema proposto pela
pesquisa, posto que aborda a questão da ação do assistente social junto à violência doméstica em um
projeto específico.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: há uma incompatibilidade entre o tema e o objetivo geral, posto que o tema está
orientado a entender a ação do assistente social junto a vítimas de violência doméstica contra crianças
e adolescentes, e não a crianças com dificuldade de aprendizagem, especificamente.

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