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Supervisão da

Formação Profissional
Autora: Profa. Renata Christina Leandro
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Profa. Karina Dala Pola
Professora conteudista: Renata Christina Leandro

Residente do município de Campinas/SP e graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de
Campinas – PUCCAMP, em 2002, possui especialização em Violência Doméstica Contra Criança e Adolescente, pelo
Laboratório da Criança (Lacri) do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) – 2005. Especializou‑se
também em Sexualidade Humana, pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em
2009, e é pós‑graduanda em Formação em EaD, pela UNIP. Atualmente, é docente na UNIP, Campi de Sorocaba e
de Campinas, e atua com Consultoria em Gestão Pública, Captação de Recursos e Responsabilidade Social. Possui
experiência em Gestão Social, como gestora municipal de São Thomé das Letras/MG e na Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, no Estado do Rio de Janeiro. Atuou, também, em Centros de Referência
de Assistência Social – Cras – em atendimento matricial com famílias e, na área de criança e adolescente e suas
respectivas famílias, no município de Campinas, no Programa Municipal de Enfrentamento à Exploração Sexual
Infantojuvenil de 2003 a 2007.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

L437s Leandro, Renata Cristina.

Supervisão de estágio em serviço social / Renata Cristina


Leandro. - São Paulo: Editora Sol, 2015.

184 p. il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-014/15, ISSN 1517-9230.

1. Ética do cuidado. 2. Competência. 3. Habilidade. I. Título.

CDU 364

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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Rose Castilho
Cristina Zordan Fraracio
Valéria Nagy
Sumário
Supervisão da Formação Profissional

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 A ÉTICA DO CUIDADO..................................................................................................................................... 13
1.1 Carta da Terra – Código de ética planetário.............................................................................. 14
1.2 O ethos profissional do serviço social........................................................................................... 15
1.2.1 O que é ética profissional?................................................................................................................... 15
1.2.2 A construção do ethos profissional.................................................................................................. 16
1.2.3 Trajetória do ethos profissional em serviço social...................................................................... 19
1.2.4 O ethos conservador do serviço social............................................................................................ 19
1.2.5 O ethos de ruptura.................................................................................................................................. 22
1.2.6 Serviço Social: uma profissão liberal............................................................................................... 23
1.2.7 Regulamentação do serviço social: contextualização histórica........................................... 24
2 COMPETÊNCIA E HABILIDADE DO ASSISTENTE SOCIAL.................................................................... 28
2.1 Código de Ética de 1993: algumas considerações................................................................... 28
2.2 Princípios fundamentais do Código de Ética de 1993........................................................... 29
2.2.1 1º Princípio................................................................................................................................................. 29
2.2.2 2º Princípio................................................................................................................................................. 30
2.2.3 3º Princípio................................................................................................................................................. 30
2.2.4 4º Princípio................................................................................................................................................. 31
2.2.5 5º Princípio................................................................................................................................................. 31
2.2.6 6º Princípio................................................................................................................................................. 32
2.2.7 7º Princípio................................................................................................................................................. 32
2.2.8 8º Princípio................................................................................................................................................. 33
2.2.9 9º Princípio................................................................................................................................................. 33
2.2.10 10º Princípio............................................................................................................................................ 33
2.2.11 11º Princípio............................................................................................................................................. 34
2.3 Direitos e responsabilidades gerais do assistente social....................................................... 34
3 COTIDIANO: ESPAÇO DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL.......................................................... 36
3.1 Práxis: categoria essencial no fazer profissional...................................................................... 37
3.2 O que vem a ser o Projeto Ético‑Político?................................................................................... 39
3.3 Então, qual seria o caminho?........................................................................................................... 42
3.4 O serviço social e a relação teoria/prática.................................................................................. 42
3.5 Atitude investigativa e o serviço social........................................................................................ 44
3.6 Atitude de mediação: desmistificando o significado............................................................. 46
4 PRECEDENTES DA GESTÃO SOCIAL........................................................................................................... 49
4.1 Em que consiste a gestão social...................................................................................................... 51
4.2 Atribuições de um gestor social...................................................................................................... 56
4.2.1 O que é ser um gestor e um gestor social?................................................................................... 56
4.3 Eminência de novos princípios à gestão social......................................................................... 59
4.4 Ferramentas de gestão social........................................................................................................... 60
4.4.1 Descentralização na gestão social.................................................................................................... 61
4.4.2 A pertinência da intersetorialidade e das redes na gestão social........................................ 62
4.4.3 A participação cidadã como aliada da gestão social................................................................ 65
4.5 Metodologia ZOPP (planejamento de projetos orientado por objetivos)...................... 67
4.6 Planejamento: por que planejar?.................................................................................................... 69
4.6.1 Programas e projetos: do planejamento à avaliação................................................................ 70
4.7 Financiamento........................................................................................................................................ 73
4.7.1 Fatores que impulsionam a doação................................................................................................. 73
4.7.2 Quesitos para captação de recursos................................................................................................. 74
4.7.3 As formas mais frequentes de concessão de financiamento................................................ 80
4.8 Monitoramento e avaliação.............................................................................................................. 81
4.8.1 O Monitoramento.................................................................................................................................... 81
4.8.2 A Avaliação................................................................................................................................................. 83
4.8.3 Monitoramento e avaliação................................................................................................................ 84

Unidade II
5 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS: DIFERENTES CONCEPÇÕES.............................................................. 91
5.1 Avaliação de programas: diferentes abordagens..................................................................... 92
5.2 Avaliações em função do momento de realização.................................................................. 94
5.3 Avaliações em função de quem a realiza.................................................................................... 95
5.4 Avaliações em função da escala ou dimensão dos projetos............................................... 97
5.5 Avaliações em função dos destinatários da avaliação........................................................... 98
5.6 Outros enfoques.................................................................................................................................... 99
5.6.1 Critério do conteúdo ou objeto da avaliação.............................................................................. 99
5.6.2 Critério do mérito, razões ou justificativas.................................................................................100
6 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E PROJETOS..........................................................................................100
6.1 Metodologia de avaliação de programa e projetos...............................................................100
6.1.1 A definição de limites e análise do contexto da avaliação...................................................100
6.1.2 A identificação de perguntas e critérios de avaliação............................................................101
6.1.3 O planejamento e a condução de uma avaliação....................................................................102
6.1.4 Aspectos políticos, éticos e interpessoais da avaliação..........................................................103
6.1.5 Coleta, análise e interpretação de informações quantitativas e qualitativas...............105
6.1.6 A apresentação do relatório da avaliação...................................................................................106
6.1.7 Aspectos metodológicos da avaliação..........................................................................................106
6.1.8 Sobre métodos e técnicas..................................................................................................................108
6.2 Avaliação de programas e projetos: alguns elementos fundamentais.........................110
6.2.1 Os objetivos.............................................................................................................................................. 110
6.2.2 As metas.....................................................................................................................................................111
6.2.3 As atividades............................................................................................................................................112
6.2.4 Os indicadores......................................................................................................................................... 112
6.2.5 Elementos em ação...............................................................................................................................113
6.2.6 Análise de custo‑eficácia (ACE).......................................................................................................114
6.2.7 Análise de custo‑utilidade (ACU)....................................................................................................117
6.3 Avaliação econômica de programas e projetos......................................................................118
6.3.1 Análise de custo‑benefício (ACB)....................................................................................................118
6.3.2 Premissas importantes........................................................................................................................ 122
6.3.3 O marco lógico....................................................................................................................................... 122
6.3.4 Avaliação e monitoramento de programas e projetos sociais: um encontro
com o serviço social........................................................................................................................................ 124

Unidade III
7 TRABALHO E INFORMALIDADE: A DESESTABILIZAÇÃO DOS ESTÁVEIS.....................................132
7.1 O mundo do trabalho mudou........................................................................................................132
7.2 Flexibilização e trabalho...................................................................................................................133
7.3 O perfil demandado ao assistente social diante das múltiplas expressões
da questão social........................................................................................................................................137
7.3.1 Novas demandas profissionais........................................................................................................ 138
7.3.2 As principais demandas do serviço social................................................................................... 140
7.3.3 Demanda profissional: aumento da seletividade no âmbito das políticas sociais..... 142
7.3.4 Os desafios para a atuação profissional...................................................................................... 143
7.3.5 Reordenamento dos serviços sociais............................................................................................ 147
7.3.6 Terceirização da gestão da questão social................................................................................. 148
7.3.7 Novas formas de enfrentamento da questão social para o assistente social.............. 149
7.4 Matrizes do processo de trabalho do assistente social........................................................149
7.4.1 Formação profissional: exigências e perspectivas....................................................................151
7.4.2 Resgate da assistência social como espaço do exercício profissional............................ 152
7.4.3 Demandas profissionais e os espaços sócio‑ocupacionais.................................................. 154
8 INTERDISCIPLINARIDADE............................................................................................................................156
8.1 Interdisciplinaridade e a prática profissional do serviço social........................................158
8.2 Dialogando sobre a interdisciplinaridade entre o psicólogo social e o
assistente social...........................................................................................................................................161
APRESENTAÇÃO

Caro aluno,

Você está recebendo o material referente à disciplina de Supervisão da Formação Profissional.

Gostaríamos de convidá‑lo a uma reflexão acerca da importância do estágio supervisionado


para a formação profissional do assistente social. O estágio permite ao aluno apreender o cotidiano
do profissional inserido no espaço sócio‑ocupacional de trabalho, conhecendo e compreendendo as
estratégias e técnicas da ação profissional, os instrumentais técnicos operativos, como também as
técnicas imprescindíveis pertinentes ao exercício profissional.

Analisaremos como a reflexão faz parte do campo de estágio e subsidia a ruptura com o estigma de
que teoria e prática são elementos divergentes.

Nessa perspectiva, apresentaremos os diversos campos de estágio, algumas características das


políticas implementadas nas diversas áreas em que o assistente social se insere e as legislações pertinentes
aos direitos sociais que se materializam por meio dessas políticas.

Você conhecerá as mudanças ocorridas no mundo do trabalho em virtude da reestruturação


produtiva e como essas alterações nas relações de trabalho afetam os trabalhadores e os profissionais
do serviço social. Terá ainda a oportunidade de conhecer os precedentes da gestão social, as diferentes
concepções de avaliação e monitoramentos de programas e projetos, que são programas e projetos
de intervenção do estágio supervisionado voltados para diversas políticas públicas e sociais em que se
inserem os profissionais assistentes sociais. Discutiremos também as mudanças no mundo do trabalho,
as novas e principais demandas profissionais e os desafios para a atuação profissional e, por fim, a
interdisciplinaridade e a prática profissional do serviço social, objetivando a busca de soluções para as
demandas coletivas apresentadas aos assistentes sociais.

Esperamos que você tenha um bom aproveitamento dos assuntos distribuídos para formação
profissional, assim como uma ótima apreensão do exercício profissional no campo de estágio.

INTRODUÇÃO

Ao longo deste livro‑texto, trataremos do tema da biodiversidade, sustentabilidade do planeta,


ecologia e ética, que fazem parte da maioria de seus livros. Em seu pensamento aparece de modo
significativo o conceito de cuidado. O cuidado, segundo Boff (2003b), pertence à essência do ser
humano e é, inclusive, anterior à racionalidade e à liberdade humanas. Atualmente, a humanidade,
dado o processo de degradação generalizado, só sobreviverá se a categoria do cuidado for introduzida
em todas as atividades humanas.

Para se inserir na divisão social e técnica do mercado de trabalho, toda profissão precisa ser
regulamentada por lei específica. O serviço social como profissão institucionalizada surge no Brasil na
década de 1930, com a criação das primeiras escolas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Abordaremos o
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serviço social como profissão liberal, apontando algumas fragilidades e possibilidades para o exercício
autônomo do assistente social. Apresentaremos as leis que regulamentaram a profissão no Brasil e, por
fim, faremos uma introdução da Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social vigente no
país (Lei n° 8.662/93).

Os princípios fundamentais do Código de Ética do Assistente Social com seus valores ético‑políticos
direcionam a identidade profissional do assistente social na luta pela defesa dos direitos humanos, os
direitos e as responsabilidades desse profissional, presentes no Código de Ética. Pensar a ética profissional
consiste em fazer uma retomada da discussão sobre Ética Geral. Dessa forma, o assistente social precisa
conhecer a realidade social e, por meio de uma práxis transformadora, contribuir para a emancipação
dos usuários do serviço social. Conhecer a realidade quer dizer conhecer também o espaço de atuação
profissional, isto é, o cotidiano das instituições. A vida cotidiana se constitui como espaço de trabalho do
assistente social, por isso é alvo de estudos na categoria profissional. Vamos discutir o cotidiano como
espaço de atuação do assistente social e a práxis como categoria do fazer profissional.

O desempenho do exercício profissional pede a utilização de estratégias e técnicas que estejam


subsidiadas pela bagagem teórico‑metodológica acumulada pelo acadêmico durante sua formação
na universidade. É importante que essa formação inicial seja realimentada continuamente pela busca
incessante de novos conhecimentos que venham a subsidiar a prática profissional. Para tanto, o
profissional de serviço social deve ser capaz de estabelecer objetivos e finalidades profissionais e, para
tal exercício, é fundamental a relação teoria/prática. Esses dois elementos, conectados, permitem uma
mediação que resulta na construção de atividades que venham a criar respostas para as demandas
impostas aos assistentes sociais.

Nesse sentido, o amadurecimento teórico‑metodológico do serviço social tem em seu bojo a


contribuição hegemônica do materialismo dialético. Essa contribuição é percebida no esforço de vários
autores que se arvoram a trazer, para o debate do serviço social, diversas categorias da dialética. A
mediação, como categoria teórica que tem um papel teórico‑metodológico imprescindível para a
intervenção profissional do assistente social, é uma das categorias que passa a fazer parte do instrumental
de trabalho dessa profissão.

Veremos como o profissional de serviço social deve distinguir as perspectivas profissionais, o que é
mais do que um desafio, visto que a realidade é dinâmica e, consequentemente, o exercício profissional
também é. Além de destacar alguns desafios profissionais frente à questão social, a fim de despertar
em você a reflexão sobre sua atuação futura. Ela deve ser baseada na construção de investigações
acerca das complexas realidades apresentadas. Após compreendê‑la, é necessário que você escolha
e utilize corretamente os instrumentais na proposição de ações de enfrentamento das expressões da
questão social. É fundamental saber posicionar‑se eticamente no exercício profissional, pois a realidade
atual está permeada de transformações que lesam as classes subalternas, imputam os direitos sociais e
reestruturam as condições de trabalho de todos, inclusive dos assistentes sociais.

Com esses conteúdos que vamos estudar, você, aluno, conhecerá em quais espaços sócio‑ocupacionais
atuam o profissional de serviço social e compreenderá a atuação profissional da categoria exercida nos
espaços em que os assistentes sociais se inserem e como contribuem para a formação profissional
10
do acadêmico. E, ainda, realizará uma leitura sobre a supervisão profissionalizante, conhecendo como
deve ser o perfil do profissional de serviço social diante do processo de reprodução das relações sociais,
das novas necessidades do mercado de trabalho. Esses fatos demandam uma formação profissional
que propicie aos assistentes sociais subsídios teóricos, éticos, políticos e técnicos que auxiliem no
desenvolvimento de suas competências e habilidades, o que possibilitará uma ação crítica, criativa e
comprometida.

Para tanto, faz‑se necessário estar familiarizado com as demandas para a atuação profissional, que
pressupõem conhecer a realidade, fazendo uso de uma visão de mundo crítica e, ao mesmo tempo,
compreensiva. Para analisar as demandas profissionais, é preciso considerar as mudanças que ocorrem
em velocidade acelerada na nossa sociedade e algumas situações com que se depara o assistente social
na sua atividade profissional, pois há de se levar em conta o contexto em que ele está inserido. Tais
situações não representam o todo profissional, são tendências no cenário da categoria, vinculadas ora
pela burocracia, ora pelo próprio profissional, ora pela realidade.

E, por fim, a interdisciplinaridade no serviço social e sua importância para a articulação das ações
profissionais necessárias para que o profissional do serviço social atue em diferentes áreas e espaços
sócio‑ocupacionais; como exerce suas atividades em conjunto com diversos profissionais e desenvolve
a reciprocidade e a interação com variadas áreas, além de estudar a articulação entre os saberes da
profissão para conseguir estabelecer um planejamento na atuação dos profissionais. Essa ação tem
como meta buscar efetividade nas propostas de trabalho pretendidas por profissões que atuam juntas.
Segundo Severino (2000), interdisciplinaridade é uma tentativa de unidade do saber, seja no ensino, na
pesquisa ou na prática social.

11
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Unidade I
1 A ÉTICA DO CUIDADO

O que é o cuidado? Como surge? Como se estrutura uma ética fundada no cuidado? Essas são
algumas das indagações que vamos investigar a partir de agora.

Boff (2003b) introduz a sua reflexão sobre o cuidado fazendo referência à fábula‑mito número 22
de Higino (43 a.C. – 17 d.C.), escravo liberto de César Augusto.

Certo dia, Cuidado, passeando nas margens do rio, tomou um pedaço de


barro e moldou‑o na forma do ser humano. Nisso apareceu Júpiter e, a
pedido de Cuidado, insuflou‑lhe espírito. Cuidado quis dar‑lhe um nome,
mas Júpiter lho proibiu, querendo ele impor o nome. Começou uma discussão
entre ambos. Nisso apareceu a Terra, alegando que o barro é parte de seu
corpo e que, por isso, tinha o direito de escolher um nome. Gerou‑se uma
discussão generalizada e sem solução.

Então todos aceitaram chamar Saturno, o velho deus ancestral e senhor


do tempo, para ser o árbitro. Este tomou a seguinte sentença, considerada
justa: – Você, Júpiter, que lhe deu espírito, receberá o espírito de volta
quando essa criatura morrer. Você, Terra, que lhe forneceu o corpo,
receberá o corpo de volta, quando essa criatura morrer. E você, Cuidado,
que foi o primeiro a moldar a criatura, acompanhá‑la‑á por todo o tempo
em que ela viver. E, como vocês não chegaram a nenhum consenso sobre
o nome, decido eu: chamar‑se‑á homem, que vem de húmus, que significa
“terra fértil” (BOFF, 2003b, p. 28‑29).

Portanto, antes do espírito e do corpo, é o cuidado que é a característica originária e essencial do


ser humano. Cuidado conferiu dedicação, ternura, devoção, sentimento e coração à criatura humana.
E com isso criou responsabilidades e fez surgir a preocupação no ser que ele plasmou. Essas dimensões
são princípios e fazem parte da constituição do ser humano.

No ventre materno e após nascermos, nossos pais ou outras pessoas dispensaram‑nos todo cuidado.
Sem ele, não existiríamos. O cuidado é, segundo Boff (2003b, p. 30), aquela condição prévia que permite
o eclodir da inteligência e da amorosidade, é o orientador antecipado de todo comportamento para que
seja livre e responsável, enfim, tipicamente humano. Sem cuidado, nada que é vivo sobrevive. O cuidado
é a força maior que se opõe à lei da entropia, o desgaste natural de todas as coisas, pois tudo de que
cuidamos dura muito mais.

13
Unidade I

A dimensão do cuidado deve ser resgatada, hoje, como ética mínima e universal se quisermos
preservar a herança que recebemos do universo e da cultura e garantir nosso futuro comum.

1.1 Carta da Terra – Código de ética planetário

Em 2000, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lança a
Carta da Terra, com base em princípios e valores fundamentais que deverão nortear pessoas e Estados no
que se refere ao desenvolvimento sustentável. A Carta da Terra trata da nova consciência ecológica e ética
da humanidade. Nela, a categoria do cuidado é central. A seguir seguem os princípios da Carta da Terra.

I. Respeito e cuidado com a comunidade de vida

• Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

• Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

• Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e


pacíficas.

• Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

II. Integridade ecológica

• Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial


preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

• Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e


quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.

• Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades


regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem‑estar comunitário.

• Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma


ampla aplicação do conhecimento adquirido.

III. Justiça social e econômica

• Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam


o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável.

• Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré‑requisitos para o


desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado
da saúde e às oportunidades econômicas.

14
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

• Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural


e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem‑estar
espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

• Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural


e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem‑estar
espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

IV. Democracia, não violência e paz

• Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar‑lhes


transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva
na tomada de decisões e no acesso à justiça.

• Integrar na educação formal e aprendizagem, ao longo da vida, os conhecimentos,


valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

• Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

• Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

Adaptado de: A Carta (2000).

Saiba mais

Você pode ter mais informações sobre a Carta da Terra na internet no site:

<http://www.cartadaterrabrasil.org/>.

Para Boff (2003b, p. 75), a Carta da Terra expressa a confiança na capacidade regenerativa da Terra
e na responsabilidade dos seres humanos de aprender a amar e a cuidar do lar comum. A Carta da Terra
é, segundo Boff, uma proposta de ética mundial, e, se ela for assumida e efetivada universalmente,
mudará o estado de consciência da humanidade.

1.2 O ethos profissional do serviço social

1.2.1 O que é ética profissional?

Quando se faz uma discussão sobre ética profissional, por mais que não se tenha uma noção
sistematizada do seu significado, todos têm algo a dizer: via de regra, as respostas estariam voltadas
para a discussão acerca da forma como determinado profissional deve comportar‑se em seu exercício

15
Unidade I

profissional. Logo vem à tona a noção do que é certo ou errado, do conjunto de normas, princípios,
direitos e deveres que orientam uma determinada profissão.

A ética profissional implica, a priori, no direcionamento filosófico e ético‑valorativo que uma


determinada profissão escolhe para nortear sua conduta profissional. Esclarecemos de antemão
que são vários os elementos constitutivos de um ethos profissional. O debate da ética profissional
faz uma reflexão em dois níveis: numa dimensão técnico‑normativa, voltada para os aportes
teórico‑filosófico‑ideológicos, e numa dimensão prático‑operativa, que implica no direcionamento
ético‑político das respostas profissionais.

Tais dimensões estão interligadas e o elo que as sustenta é tanto de natureza teórica (fundamentos
que orientam a profissão), quanto ideocultural (visão de mundo dos profissionais). Essa abordagem é
melhor esclarecida por Motta:

Assim, enquanto a dimensão política da prática encontra‑se imbricada


nos objetivos e finalidades das ações, principalmente nas possibilidades
de interferir nas relações e situações geradoras das desigualdades e nos
mecanismos institucionais para elas voltadas, a dimensão ética reclama
por princípios e valores humanos, políticos e civilizatórios; e a dimensão
prático‑operativa consiste na capacidade de articular objetivamente os
meios disponíveis e os instrumentos de trabalho para materializar os
objetivos com base nos valores (MOTTA, 2003, p. 11).

Essa abordagem nos instiga a refletir que a ética profissional, apesar de se pautar num conjunto de
princípios éticos e políticos presentes no ideário da profissão, vai muito além disso. No item posterior,
essa discussão será melhor aprofundada.

1.2.2 A construção do ethos profissional

A ética das profissões faz parte de um contexto sociocultural e remete sempre a um debate filosófico.
Não existe separação entre a ética profissional e a ética social, tendo em vista que o homem, como ser
que vive a sociabilidade, constrói valores que passam a nortear as relações consigo mesmo e com os
outros, sendo sujeito ético, cuja consciência foi construída coletivamente.

Sobre isso, Brites e Sales enfatizam:

Não há, portanto, um hiato entre a ética profissional e a ética social, pois
seria cindir a própria vida do homem na sua totalidade, isto é, em seus
diversos pertencimentos: trabalho, gênero, família, ideologia, cultura,
desejos etc. (2000, p. 8).

Isso implica dizer que o homem, como ser social, ser de consciência, que fornece valor, que projeta
sua ação, constrói‑se como ser na relação que estabelece com seus pares. Essa noção de indivíduo social
só pode ser produzida na relação com o coletivo. Caso contrário, ele não passaria de um ser meramente
16
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

biológico. Nessa perspectiva, “é a existência ética que qualifica, enriquece e torna complexo o processo
de (re)produção da coletividade humana” (BRITES; SALES, 2000, p. 8).

Nesse contexto, a ética profissional tende a receber determinações que antecedem a escolha
pela profissão, pois, como parte de uma socialização primária, produz valores dominantes que são
reproduzidos cotidianamente mediante relações sociais mais amplas.

Essas determinações que interferem na construção do ethos profissional são permeadas pelo
conhecimento e, mais precisamente, pela base filosófica que orienta a profissão. Ao adquirir um
conhecimento filosófico capaz de orientar suas escolhas éticas, a profissão assume posicionamento
e compromisso políticos fundamentados em determinados valores e princípios que se referenciam
num posicionamento teórico, “que expressam uma dada concepção de homem e de sociedade, que
se traduzem em normas e diretrizes para a atuação profissional presentes no código de ética” (BRITES;
SALES, 2000, p. 9).

Seguindo essa linha de raciocínio, compreende‑se que a ética profissional é resultado histórico
do “rumo” que uma determinada categoria profissional segue na construção de seus fundamentos
valorativos, que vão repercutir na qualidade do exercício profissional.

A ética profissional configura‑se num cenário social a partir do direcionamento que lhe é dado pelos
profissionais que dela fazem parte. O que, nos termos de Brites e Sales (2000, p. 9), seria:

A profissão constrói, historicamente, uma identidade e adquire uma


legitimidade social tanto a partir da explicação da função social da profissão
quanto dos contornos éticos que assume o trabalho profissional. Esse
processo é atravessado por contradições e tensões que envolvem disputas
políticas e ideológicas na sociedade. Não esqueçamos que o nosso exercício
profissional realiza‑se numa sociedade capitalista, logo há demandas
diferenciadas ou entendimentos diversos do que seja função social da
profissão, no que concerne aos interesses das classes em relação. Desse
modo, há vários projetos societários em confronto e o posicionamento
da categoria, ao qual nos referimos, expressa exatamente a opção por um
determinado projeto social.

Nessa perspectiva, Barroco (2005) vem corroborar com essa reflexão, ao afirmar que a ética
profissional é permeada por conflitos e contradições e suas determinações fundadoras extrapolam a
profissão, remetendo às condições mais gerais da vida social. E prossegue:

A natureza da ética profissional não é algo estático; suas transformações,


porém, só podem ser avaliadas nessa dinâmica, ou seja, em sua relativa
autonomia em face das condições objetivas que constituem as referências
ético‑morais da sociedade e rebatem na profissão de modo específicos
(BARROCO, 2005, p. 69).

17
Unidade I

Nesse sentido, o ethos profissional se configura como modo de ser construído na relação que ocorre
entre as necessidades ideoculturais e socioeconômicas e as possibilidades de escolhas que permeiam
as ações ético‑morais nos aspectos diversos, mutáveis e contraditórios das relações sociais que são
estabelecidas na sociedade em que se insere.

Para corroborar essa discussão, citamos mais uma vez a Barroco, que brilhantemente compreende o
ethos profissional.

Como um modo de ser construído a partir das necessidades sociais


inscritas nas demandas postas historicamente à profissão e nas respostas
ético‑morais dadas por ela nas várias dimensões que compõem a ética
profissional (BARROCO, 2005, p. 69).

Isso implica dizer que a construção de um ethos profissional extrapola o caráter normativo da profissão
e sua composição se dá no campo de diversas esferas, ora assinaladas por Barroco (1999, p. 129):

Esfera teórica: trata‑se das orientações filosóficas e teórico‑metodológicas


que servem de base às concepções éticas e profissionais, com valores,
princípios, visão de homem e de sociedade.

Esfera moral prática: diz respeito: a) ao comportamento prático individual


dos profissionais relativo às ações orientadas pelo que se considera bom/
mau, aos juízos de valor, à responsabilidade e compromisso social, à
autonomia e consciência em face das escolhas e das situações de conflito;
b) ao conjunto das ações profissionais em sua organização coletiva,
direcionada para a realização de determinados projetos com seus valores
e princípios éticos.

Esfera normativa: expressa‑se no Código de Ética Profissional, exigido, por


determinação estatutária, de todas as profissões liberais. Trata‑se de um
código moral que prescreve normas, direitos, deveres e sansões determinadas
pela profissão, orientando o comportamento individual dos profissionais e
buscando consolidar um determinado projeto profissional com uma direção
social explícita.

Diante do exposto, reitera‑se a discussão de que um ethos profissional não se restringe meramente
ao conjunto de normas e princípios que orientam determinada profissão. Essa visão que relaciona a
ética profissional exclusivamente ao código de ética e ao conjunto de obrigações formais é equivocada
e possui caráter ético meramente legalista.

A dimensão da ética profissional extrapola o caráter endógeno da profissão: ela é o retrato daquilo
que uma profissão escolheu para adquirir uma certa legitimidade social, que implica também em
direcionamento teórico‑filosófico, posicionamento ético‑político e o modo de ser e viver dos profissionais,
sujeitos individuais e coletivos que participam ativamente na construção desse ethos.

18
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O conteúdo da ética profissional é construído na prática cotidiana da categoria profissional perante as


necessidades sociais que perpassam a sua trajetória sócio‑histórica, dando‑lhe legitimidade exatamente
pelo posicionamento ético‑político que esta assume diante da sociedade e, mais precisamente, no
compromisso assumido com o projeto profissional que orienta seu agir profissional.

1.2.3 Trajetória do ethos profissional em serviço social

Abordar a trajetória histórica da ética profissional em serviço social implica em fazer uma breve
abordagem do processo de construção da profissão. O serviço social é construído no seio de relações
sociais e, mais especificamente, no bojo do processo de consolidação do capitalismo monopolista,
em que o caráter contraditório da divisão capital‑trabalho gera uma série de “mazelas sociais”. Igreja,
burguesia e Estado vão aliar‑se para tentar apaziguar as situações de “caos social” e paralelamente
conter os avanços da classe operária que reivindicava seus direitos.

O serviço social configura‑se como fruto de múltiplas determinações que lhe conferem significado
histórico e social. A construção de seu ethos não poderia estar descolada da forma como essa profissão
vem se configurando no cenário capitalista.

Seguindo essa linha de raciocínio, a Ética do serviço social pode ser dividida em duas etapas: um
ethos conservador ou tradicional, que vai até meados dos anos 1970, e um ethos de ruptura, que tem
seu marco inicial nessa mesma década.

1.2.4 O ethos conservador do serviço social

O ethos conservador do serviço social expressa a moral burguesa articulada com a cristã e a
positivista. Dessa forma, podemos afirmar que a ética tradicional em serviço social preconiza a defesa
da autoridade, da ordem e da tradição.

Essa abordagem traz uma visão de homem e de sociedade expressa na tríade: neotomismo, pensamento
conservador e positivismo. Não compete aqui fazer uma explanação dessas três teorias, visto que isso
implicaria em uma acirrada discussão, no entanto, é necessário retomar, brevemente, cada uma delas.

O neotomismo significou uma retomada da filosofia de Santo Tomás de Aquino (teólogo/filósofo


do século XIII) a partir das primeiras décadas do século XX. Essa filosofia restauradora teve repercussão
(aliás, ainda tem) nas doutrinas da Igreja. Seus pressupostos se referenciam no princípio de que Deus é a
fonte de todos os seres e que a pessoa humana, sendo à imagem e semelhança de Deus, é caracterizada
como um ser de dignidade, perfectibilidade e sociabilidade humana. O foco central dessa corrente teve
forte repercussão na formação moral dos primeiros assistentes sociais, com a ideia primordial de bem
comum e harmonia da sociedade.

No tocante ao pensamento conservador, pode‑se afirmar que este constitui um conjunto de ideias
que traz a herança do pensamento intelectual europeu do século XIX, que, reinterpretado, transforma‑se
em uma ética de explicação e em projetos de ação favoráveis à manutenção da ordem capitalista. Suas
principais características implicam a defesa da tradição social, com origem medieval.

19
Unidade I

Vejamos o que diz em Brites e Sales (2000, p. 25), acerca desse pensamento:

Daí a valorização dos seguintes elementos: status, hierarquia, tradição,


autoridade, corporativismo, ritualismo, simbologismo religioso e de
pequenos grupos, como família, vizinhança, comunidade, entre outros.

O conservadorismo no serviço social significou o período que vai desde a gênese profissional, na década
de 1930, até meados da década de 1960, e foi contestado a partir do Movimento de Reconceituação.
Essa fase já foi discutida na disciplina de Fundamentos do Serviço Social.

O positivismo se configura como corrente filosófica de pensamento, sistematizada por Auguste


Comte (século XIX), que parte do princípio de que a vida social é regida por leis que são similares às leis
da natureza. A filosofia positivista inspira‑se no método de investigação das ciências da natureza para
explicar a vida social. Na concepção positivista, a sociedade é um todo orgânico, constituído por partes
integradas e coesas que funcionam harmonicamente, seguindo um modelo físico ou mecânico. Durante
anos, a prática do serviço social ficou sob esse entendimento, seja na visão de homem e de sociedade,
seja nas práticas cotidianas dos primeiros assistentes sociais.

O caráter ajustador e a visão clientelista da profissão são duas dessas características que durante
muito tempo vão orientar os assistentes sociais. Entre os objetivos da profissão, estaria presente o
papel de eliminar as disfuncionalidades do indivíduo. Os problemas sociais eram considerados como
anormalidades e competia ao profissional tratar as condutas desviadas.

Nessa perspectiva, a tríade pensamento conservador/neotomismo/positivismo vai eliminar do âmbito


da formação e do exercício profissional a compreensão sobre:

• a substância profundamente desigual da sociedade capitalista, considerada como natural,


harmônica e capaz de realizar as necessidades individuais e sociais;

• as condições da exploração capitalista e as relações sociais que sustentam o trabalho alienado,


inerentes ao processo de dominação e manutenção da ordem burguesa;

• o caráter contraditório da prática profissional e sua participação no processo de reprodução social dos
interesses de classes contrapostas que convivem em tensão (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 167);

• a dimensão ético‑política da prática profissional, em nome de uma neutralidade axiológica,


afinada com a necessidade de legitimar a suposta “face humanitária do Estado e do empresariado”
(BRITES; SALES, 2000, p. 27).

Diante dessa breve contextualização faz‑se a seguinte indagação: como tudo isso vem repercutir na
ética profissional dos assistentes sociais? E qual a relação dessa tríade com os códigos de ética?

Pois bem. A história da ética em serviço social traz em seu bojo cinco códigos de ética: a primeira
formulação em 1947; uma reformulação em 1965; uma reelaboração em 1975 (esses três primeiros
20
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

códigos são o que denominamos de ethos tradicional); uma reformulação de 1986; e o código de 1993
(ethos de ruptura).

Os três primeiros códigos – compreendendo código de ética como “uma dimensão da ética
profissional que remete para o caráter normativo e jurídico que regulamenta a profissão no que concerne
as implicações éticas de sua ação” (BONETTI, 1996, p. 171) – ao longo de seus artigos e alíneas, vêm
corroborar essa proposta de uma ética valorativa voltada para as ideias de bem comum, pessoa humana,
integração social etc.

Para uma abordagem ilustrativa, vejamos alguns artigos do código de 1965:

Artigo 7º – Ao assistente social cumpre contribuir para o bem comum


esforçando‑se para que o maior número de criaturas humanas dele se
beneficiem, capacitando indivíduos, grupos e comunidades para sua melhor
integração social.

Artigo 8º – O assistente social deve colaborar com os poderes públicos na


preservação do bem comum e dos direitos individuais, dentro dos princípios
democráticos, lutando inclusive para o estabelecimento de uma ordem
social justa (CFESS, 1965, p. 02).

O Código de 1975 também não foge a essa fundamentação, vejamos: Artigo 5º, inciso II, alínea b,
dos deveres do assistente social:

Esclarecer o usuário quanto a diagnóstico, prognóstico, plano e objetivos do


tratamento, prestando à família ou aos responsáveis os esclarecimentos que
se fizerem necessários (CFESS, 1975, p. 04).

Ainda no artigo 5º, inciso VI, alíneas a e b:

a) zelar pela família, defendendo a prioridade dos seus direitos


e encorajando as medidas que favoreçam sua estabilidade e
integridade;

b) participar de programas nacionais e internacionais destinados à


elevação das condições de vida e correção dos desníveis sociais
(CFESS, 1975, p. 04‑05).

Em suma, o ethos conservador do serviço social, observado nos códigos de ética, anteriormente
apresentados, vai perpassar toda a constituição histórica da profissão que, até meados dos anos 1970,
trazia um perfil legitimador da ordem capitalista. O processo de ruptura vai ocorrer pouco depois do
Movimento de Reconceituação.

21
Unidade I

1.2.5 O ethos de ruptura

Já dissemos anteriormente que a ética de uma profissão não se restringe a um código de ética,
que sua construção se configura na própria construção da profissão inserida em uma determinada
sociedade. Pois bem, a construção de uma nova moralidade profissional do serviço social está
voltada para o “novo” direcionamento interventivo que essa profissão assume no cenário brasileiro
nos anos 1980 e 1990.

O novo ethos profissional do serviço social é mediado por um comprometimento político com a
classe trabalhadora e com as lutas populares. Busca garantir uma ética profissional voltada para uma
nova moralidade profissional, que implica valores emancipatórios, como a defesa da democracia, da
liberdade e dos direitos.

Com respaldo teórico na vertente marxiana de pensamento, o serviço social vai adentrar os anos
1980 com certa maturidade teórico‑metodológica e ideológico‑política, que tende a se consolidar
nos anos 1990 com o novo Projeto Ético‑Político Profissional. Sobre esse projeto, aprofundaremos a
discussão em módulos posteriores.

O Código de Ética de 1986 implica em uma ruptura com os códigos anteriores e vai trazer uma nova
abordagem dos fundamentos ético‑filosóficos da profissão ao negar definitivamente as ideias abstratas,
metafísicas e idealistas do real (da sociedade e do homem), dos códigos anteriores.

A nova ética é resultado da luta da classe trabalhadora e, consequentemente, de uma nova visão da
sociedade brasileira. Nesse sentido, a categoria, por meio de suas organizações, faz uma opção clara por
uma prática profissional vinculada aos interesses desta classe (CFESS, 1986, p. 7).

O Código de 1986 trouxe avanços significativos para a história de um novo ethos da profissão,
principalmente no que diz respeito aos aspectos políticos e educativos. Todavia, apresentou fragilidade
quanto à sua operacionalização no cotidiano profissional, ou seja, era preciso valorizar os aspectos
educativos e políticos, sem deixar de dar a mesma importância aos aspectos normativos e jurídicos, que
praticamente não foram enfatizados no novo código, sendo necessária uma nova revisão, que culminou
com o novo Código de 1993.

Paiva e Sales (2000, p. 176) vêm embasar essa discussão:

O código precisa tematizar, na verdade, o dever ser: como a prática pode


ser realizada de acordo com os princípios éticos definidos pelo projeto
político‑profissional, recusar o que não é aceitável dentro do exercício do
serviço social, ou seja, o que é proibido e vedado ao assistente social fazer. Tais
parâmetros não ficavam, porém, suficientemente claros no texto anterior,
em termos de possibilidades de respostas e situações e dilemas profissionais,
demonstrando a presença mais de uma entonação teórico‑metodológica do
que de uma configuração normativa.

22
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Apesar das críticas levantadas em torno do Código de 1986 no tocante a essa limitação normativa,
houve reconhecimento de que ele representou um extraordinário avanço ao expressar, no plano
da reflexão ética, boa parte do conjunto de conquistas que a categoria vinha acumulando desde o
Movimento de Reconceituação.

A nova reformulação com o Código de 1993 vai se apropriar desse conjunto de conquistas já
assinaladas com o Código de 1986, como a luta pela democracia e pela cidadania, o que culminou com o
reconhecimento pelo serviço social dos usuários e dos seus direitos. Sobre isso, remete‑se à Terra (2000,
p. 2) que afirma: “O novo Código de Ética desponta como instrumento de defesa não só para a categoria
como, também, para o usuário”.

O novo Código Profissional vai configurar uma acirrada postura profissional respaldada por princípios
e valores que preconizam uma defesa intransigente “da democracia, da equidade, da liberdade, da defesa
do trabalho, dos direitos sociais e humanos, contestando discriminações de todas as ordens” (NETTO,
1999, p. 12), numa perspectiva de fortalecer cada vez mais a identidade profissional articulada com um
projeto de sociedade mais justa e democrática, em que a emancipação humana esteja acima de tudo.

1.2.6 Serviço Social: uma profissão liberal

Podemos começar com a seguinte pergunta: o que é uma profissão liberal?

Conforme preconiza o Estatuto da Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL) no seu
artigo 1º, “profissional liberal é aquele legalmente habilitado à prestação de serviços de natureza
técnico‑científica de cunho profissional com a liberdade de execução que lhe é assegurada pelos
princípios normativos de sua profissão, independente de vínculo da prestação”.

De acordo com a CNPL, profissão liberal é aquela que se constitui como uma profissão legalmente
reconhecida e regulamentada por lei específica. O profissional deve ter uma formação técnica ou
superior. A formação deve propiciar a aquisição de conhecimentos teóricos, técnicos e metodológicos,
todos de cunho científico.

Quando o Estatuto da Confederação Nacional das Profissões Liberais se refere à liberdade do


profissional na execução de suas atribuições, está garantindo a autonomia profissional. No entanto, é
cada vez menor o número de profissionais que exercem suas atividades de forma autônoma. No caso
do serviço social, a maioria dos assistentes sociais atua no âmbito do serviço público (União, Estado e
Município), na condição de assalariado‑vendedor de sua força de trabalho.

Ao referir‑se aos princípios normativos, a CNPL preconiza que o exercício profissional deve ser
orientado pelas normativas estabelecidas em lei que regulamentam a profissão. O serviço social é
regulamentado pela Lei n° 8.662, de 07 de junho de 1993 (BRASIL, 1993) e o fazer profissional do
assistente social é norteado pelo Código de Ética do Assistente Social. O exercício profissional é ainda
fiscalizado pelas entidades representativas da categoria: Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e
Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).

23
Unidade I

O serviço social foi enquadrado como profissão liberal pela Portaria n° 35, de 19 de abril de
1949, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, no 14º grupo de profissões liberais (BRASIL,
1949). Apesar de o serviço social ser considerado como uma profissão liberal, autores dessa área
discutem sobre a fragilidade da autonomia do assistente social no exercício profissional. Vamos
pontuar as observações feitas por Marilda Vilella Iamamoto, no livro Relações Sociais e Serviço
Social no Brasil.

Para Iamamoto e Carvalho (2000), o serviço social não tem uma prática peculiar às profissões liberais.
O assistente social não tem exercido a profissão de forma independente, não dispondo de condições
materiais e técnicas para exercer o seu trabalho de forma autônoma. Ele se constituiu como vendedor
de sua força de trabalho, em uma relação de assalariamento.

Esse profissional não tem o completo controle sobre o seu trabalho, especialmente no que se refere
às questões de caráter administrativo, como a jornada de trabalho a ser cumprida, o valor da sua
remuneração e, ainda, o público a ser atendido. Na maioria das vezes, quando o assistente social se
insere na instituição empregadora, essas questões já estão predefinidas.

A fragilidade da autonomia profissional do assistente social não implica na eliminação do caráter


liberal do serviço social, visto que a profissão é regulamentada por lei.

Outra característica a ser ressaltada é a existência de uma relação singular


no contato direto com os usuários, o que reforça um certo espaço para
a atuação técnica, abrindo a possibilidade de se reorientar a forma de
intervenção conforme a maneira de se interpretar o papel profissional
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 80).

Portanto é preciso ter claro que há uma definição jurídico‑legal que assegura o caráter de profissão
liberal ao serviço social e que possibilita e garante ao assistente social o exercício independente da sua
profissão. A profissão tem uma Lei de Regulamentação que estabelece atribuições que são privativas do
assistente social. A seguir, faremos uma contextualização histórica do processo de regulamentação do
serviço social.

1.2.7 Regulamentação do serviço social: contextualização histórica

Na década de 1930, surgem no Brasil as primeiras escolas de serviço social, fundamentadas


na doutrina cristã da Igreja Católica e na filantropia e caridade, praticadas pelos agentes leigos
da Igreja. Nessa época, o serviço social tinha um caráter conservador e atuava para legitimar a
ordem estabelecida pelas classes dominantes em detrimento da defesa dos direitos das classes
trabalhadoras.

Somente na década de 1950, especificamente em 13 de junho de 1953, foi criada a Lei n° 1.889,
regulamentada pelo Decreto n° 35.311 de 1954. A referida lei dispunha sobre os objetivos do ensino
do serviço social, sobre sua estruturação e ainda sobre as prerrogativas dos portadores de diploma de
assistente social e agente social.
24
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Ainda na década de 1950, foi instituída a Lei n° 3.252, de 27 de agosto de 1957, regulamentada
pelo Decreto n° 994, de 15 de maio de 1962. Essa lei regulamentou o exercício da profissão de
assistente social e criou o Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais
(CRAS).

De acordo com o art. 3° da Lei n° 3.252, são atribuições do assistente social:

• direção de escolas de serviço social;

• ensino das cadeiras ou disciplinas de serviço social;

• direção e execução do serviço social em estabelecimentos públicos e particulares;

• aplicação dos métodos e técnicas específicos do serviço social na solução de problemas sociais.

Na década de 1990, especificamente em 07 de junho de 1993, foi sancionada a Lei n° 8.662/93 de


Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Esta regulamenta a profissão e representa um avanço
no serviço social, pois contempla as conquistas da categoria no que diz respeito à ampliação da atuação
profissional. Além disso, a nova legislação revoga a Lei n° 3.252/57.

A Lei 8.662/93 estabelece atribuições que são privativas do assistente social. Altera as
denominações de Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) para Conselho Regional de
Serviço Social (CRESS) e de Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) para Conselho Federal
de Serviço Social (CFESS).

A seguir, vamos conhecer aspectos introdutórios da lei atual de regulamentação da profissão e as


atribuições privativas do assistente social.

1.2.7.1 Conhecendo a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social

A Lei n° 8.662, de 07 de junho de 1993, dispõe sobre a profissão de assistente social e assegura que “é
livre o exercício da profissão de Assistente Social em todo o território nacional, observadas as condições
estabelecidas nesta lei” (Art. 1º).

No artigo 2º, a Lei n° 8.662/93 preconiza que somente poderão exercer a profissão de assistente
social os possuidores de diploma em curso de graduação em serviço social, oficialmente reconhecido e
expedido por estabelecimento de ensino superior existente no país, devidamente registrado no órgão
competente. O parágrafo único do referido artigo dispõe que “o exercício da profissão de assistente
social requer prévio registro nos Conselhos Regionais que tenham jurisdição sobre a área de atuação do
interessado nos termos desta lei”.

O art. 3º deixa explícito que a designação profissional de assistente social é privativa dos habilitados
na forma da legislação vigente, não devendo ser usado para indicar práticas assistenciais.

25
Unidade I

No artigo 5º da Lei n° 8.662/93, estão estabelecidas as atribuições privativas do assistente social:

• coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e


projetos na área de serviço social;

• planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de serviço social;

• prestar assessoria e consultoria em órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas


privadas e outras entidades, em matéria de serviço social;

• realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de
serviço social;

• assumir, no magistério de serviço social, tanto em nível de graduação como de pós‑graduação,


disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação
regular;

• fazer treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de serviço social;

• dirigir e coordenar unidades de ensino e cursos de serviço social, de graduação e pós‑graduação;

• dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em serviço social;

• elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou


outras formas de seleção para assistentes sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes
ao serviço social;

• coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de serviço


social;

• fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal e Regionais;

• dirigir serviços técnicos de serviço social em entidades públicas ou privadas;

• ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades


representativas da categoria profissional.

Somente o assistente social pode exercer essas funções sob pena de medidas judiciais cabíveis ao
exercício ilegal da profissão. O artigo 15º da Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social
determina que “é vedado o uso da expressão serviço social por quaisquer pessoas de direito público ou
privado que não desenvolvam atividades previstas nos art. 4º e 5º da Lei n° 8.662/93”. O parágrafo único
do mesmo artigo atesta que:

26
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

As pessoas de direito público ou privado que se encontrem na situação


mencionada neste artigo terão o prazo de noventa dias, a contar da data
de vigência desta lei, para processarem as modificações que se fizerem
necessárias a seu integral cumprimento, sob pena das medidas judiciais
cabíveis (BRASIL, 1993).

Percebe‑se um avanço no serviço social desde a promulgação da Lei n° 3.252 de regulamentação da


profissão em 1957, que só se referia a atribuições do assistente social em termos de prática da docência,
direção, secretaria e supervisão nas escolas de serviço social, bem como somente à função de direção e
execução de serviços sociais.

A Lei n° 8.662/93 trouxe avanços, na medida em que trata também de coordenação, elaboração,
execução e avaliação de programas e projetos sociais e, na área do ensino, acrescenta o magistério de
serviço social tanto em nível de graduação como de pós‑graduação e a supervisão direta de estagiários
de serviço social.

1.2.7.2 Contextualização do serviço social

O serviço social surge durante a implantação do sistema capitalista, quando da instauração da


Revolução Industrial, no século XIX. Nesse contexto histórico, emerge na sociedade a luta de classes
entre burguesia e proletariado.

Com a consolidação do sistema capitalista surge a chamada questão social, que exige a intervenção
do Estado nas relações entre empresariado e operários, para minimizar os problemas sociais advindos da
exploração da força de trabalho para acumulação de lucros.

O lucro é a mola propulsora do modelo capitalista. Para alcançá‑lo, os donos do capital exploram
a força de trabalho da classe operária, que produz riquezas para as classes dominantes. Nesse
cenário, em que uma classe que detém todos os meios de produção e todo o poder econômico,
para se legitimar como classe hegemônica, explora uma classe subalterna que só detém sua força
de trabalho na luta pela sobrevivência, gestam‑se as condições para o surgimento do serviço social
como profissão.

O serviço social teve, no início da sua profissionalização, a missão de contribuir para a legitimação
do capitalismo. Para isso, desenvolveu uma prática profissional pautada pelos ditames da burguesia
industrial, com vistas a atender aos interesses das classes dominantes. Com essa missão, o serviço social
se inseriu na divisão social e técnica do mercado de trabalho, na organização e prestação de serviços
sociais, por meio de políticas públicas e sociais para o enfrentamento da questão social como resposta
do Estado às condições de miséria por que passava a classe operária.

Na atualidade, o serviço social atua sob novas perspectivas, na defesa intransigente dos direitos
humanos e na recusa do autoritarismo. Assume o compromisso profissional em favor da ampliação e
consolidação da cidadania, da democracia, da equidade e da justiça social, com vistas à construção de
uma nova ordem societária, sem dominação‑exploração de classe, etnia e gênero.
27
Unidade I

Na contemporaneidade, o serviço social vem traçando um fazer profissional na formulação


de propostas criativas frente às expressões da questão social. Sobre o serviço social na
contemporaneidade, Iamamoto (2001, p. 75) afirma que o desafio é redescobrir alternativas e
possibilidades para o trabalho profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de
propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles
que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquistas
da sua vida, da sua humanidade. Essa discussão é parte dos rumos perseguidos pelo trabalho
profissional contemporâneo.

Na sociedade vigente, o assistente social necessita estar revestido do conhecimento teórico e


metodológico para conseguir decifrar a realidade na qual está inserido para, assim, intervir de forma
propositiva e criativa, em uma perspectiva emancipatória dos usuários da profissão, com vistas à
transformação social.

Para contribuir na construção de uma nova ordem societária, mais justa e equânime, a atuação do
assistente social é norteada pelo Código de Ética do Assistente Social. O desafio para o profissional é
materializar os princípios fundamentais do Código de Ética no cotidiano da prática laboral.

2 COMPETÊNCIA E HABILIDADE DO ASSISTENTE SOCIAL

Pensar a ética profissional consiste em fazer uma retomada da discussão sobre ética geral.
A ética “como filosofia crítica interfere diretamente na realidade, contribui para a ampliação
das capacidades ético‑morais” (BARROCO, 2005, p. 55). Sob esta ótica, a ética perpassa todas as
dimensões da vida social, daí a “fragmentação” em diversas éticas: ética social, ética religiosa, ética
familiar, ética profissional.

Você, naturalmente, pode pensar que a ética é uma coisa bem presente na sua vida cotidiana. E o é, já
que os nossos comportamentos são recheados de valores morais que foram construídos historicamente
e que por sua vez são alvo de reflexão ética. Pois bem, nesse momento vamos abordar o tema da ética,
e mais precisamente a sua relação com a ética profissional, levando‑o a compreender que não há um
hiato entre elas. Por isso, queremos convidá‑lo a refletir sobre essa relação.

2.1 Código de Ética de 1993: algumas considerações

O Código de Ética do Assistente Social de 1993, com seus valores ético‑políticos, direciona a
identidade profissional do assistente social na luta pela defesa dos direitos humanos. Essa luta
se dá na relação entre o público e o privado, isto é, entre as instituições públicas e privadas e o
“desafio é transformar espaços de trabalho, especialmente estatais, em espaços de fato públicos,
alargando as possibilidades de apropriação da coisa pública por parte da coletividade” (IAMAMOTO,
2001, p. 79).

O Código de Ética fornece respaldo jurídico à profissão e se constitui como referência ético‑política
para o assistente social. Estabelece um conjunto de regras jurídico‑legais para a atuação profissional,
traduzidos em forma de artigos.
28
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Os artigos são, portanto, dotados da capacidade seja de orientar as melhores


escolhas, seja de detectar e combater as infrações à ética profissional. A partir
daí, tais infrações tornam‑se passíveis de denúncia por qualquer pessoa
que se sinta lesada em seus direitos, decorrente da atuação profissional do
assistente social e, portanto, de ser alvo da apreciação e ação dos órgãos
fiscalizadores da categoria, os Conselhos Regionais de Serviço Social –
CRESS (PAIVA; SALES, 2000, p. 180).

O Código de Ética cita onze princípios fundamentais que materializam o Projeto Ético‑Político do
serviço social e os compromissos ético‑profissionais do assistente social com os usuários da profissão.
Os princípios perpassam os artigos e as alíneas do código e se configuram ao longo dos títulos e
capítulos.

Sua estrutura é composta de quatro títulos. O primeiro trata das disposições gerais sobre a competência
do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). O título II se reporta aos direitos e às responsabilidades
gerais do assistente social. No título III, abordam‑se as relações profissionais do assistente social com
os usuários, com as instituições empregadoras, com outros profissionais, com entidades da categoria
e demais organizações da sociedade civil. Além disso, refere‑se ao sigilo profissional e às relações do
assistente social com a justiça. O título IV trata da observância, das penalidades, da aplicação e do
cumprimento do Código de Ética.

O Código de Ética do Assistente Social de 1993, nos seus quatro títulos, é composto por seis capítulos
e trinta e seis artigos que asseguram os direitos do assistente social, bem como estabelecem os seus
deveres profissionais. Defende muito mais os interesses dos usuários do serviço social do que os interesses
do assistente social, por isso se constitui como um código peculiar na história das profissões liberais.

2.2 Princípios fundamentais do Código de Ética de 1993

Os princípios fundamentais do Código de Ética de 1993 articulam‑se e complementam‑se entre si


para nortear os caminhos a serem percorridos pelo assistente social na sua atuação profissional, a partir
dos compromissos assumidos pela categoria com os usuários do serviço social. Apresentaremos agora os
princípios do Código de Ética, trazendo algumas considerações sobre cada um deles.

2.2.1 1º Princípio

O 1º Princípio traz o “reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas
a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais” (CFESS, 1993, p. 23).

Segundo Paiva e Sales (2000), o conceito de liberdade defendido pelo Código de Ética refere‑se
ao indivíduo como sujeito com direito à liberdade, contrário à liberdade defendida pelo sistema
capitalista, a qual diz respeito ao livre arbítrio ou individualismo. No modo de produção capitalista,
o indivíduo é livre para usufruir de todas as oportunidades e possibilidades oferecidas pelo Estado.
O sucesso e o fracasso no trabalho são atribuídos ao indivíduo. O sistema abstém‑se de qualquer
responsabilidade.
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Unidade I

A liberdade referenciada pelo Código de Ética faz menção ao “indivíduo como fonte de valor, mas
dentro da perspectiva de que a plena realização da liberdade de cada um requer a plena realização de
todos” (PAIVA; SALES, 2000, p. 182). A liberdade deve ser regida pela autonomia dos indivíduos sociais,
conforme estabelece o Código de Ética.

2.2.2 2º Princípio

O 2º Princípio faz menção à “defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo” (CFESS, 1993, p. 23).

Esse princípio deixa explícito o posicionamento da categoria profissional na luta em prol da defesa
dos direitos humanos e da recusa de toda forma de dominação, autoritarismo, violência, exploração,
opressão e crueldade contra a pessoa humana.

Trata‑se de empreendermos uma recusa e um combate nos espaços institucionais e nas relações
cotidianas, diante de toda as situações que ferem a integridade dos indivíduos e que os submetem
ao sofrimento, à dor física e à humilhação. Como contraponto a essa lógica da perversidade e da
omissão, os assistentes sociais devem imbuir‑se pelo Código de Ética, que sinaliza um espírito e
uma postura assentados numa cultura humanística e essencialmente democrática (PAIVA; SALES,
2000, p. 185).

O assistente social deve orientar os usuários do serviço social sobre os seus direitos e buscar
alternativas e possibilidades de atendimento para que esses direitos sejam garantidos e efetivados de
fato, pois sabemos que eles estão assegurados em leis, no entanto, precisam alcançar os cidadãos, como
forma de proteção e promoção social.

2.2.3 3º Princípio

O 3º Princípio discorre sobre a “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial


de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras”
(CFESS, 1993, p. 23).

O assistente social é um profissional que atua no espaço de viabilização de direitos, intervindo


nas políticas públicas sociais, em programas institucionais e na prestação de benefícios aos
usuários da profissão. Sua atuação deve primar pela ampliação e consolidação da cidadania.
Comprometermo‑nos

[...] com a cidadania implica apreendê‑la na sua real significação, o que


seguramente exige a ultrapassagem da orientação civil e política imposta
pelo pensamento liberal e, como tal, a superação dos limites engendrados
pela reprodução das relações sociais no capitalismo. A cidadania, de acordo
com a nova acepção ético‑política proposta, consiste na universalização
dos direitos sociais, políticos e civis, pré‑requisito este fundamental à sua
realização (PAIVA; SALES, 2000, p. 187).
30
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O assistente social como profissional criativo e propositivo deve constantemente buscar estratégias
teórico‑metodológicas e políticas para viabilizar o acesso do cidadão aos bens e serviços oferecidos
pelas instituições públicas.

Para contribuir na universalização dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras,
o assistente social tem de ultrapassar os entraves e limites impostos pela burocracia existente nas
instituições públicas, a partir da prestação de serviços que possibilitem aos usuários a garantia de seus
direitos que são assegurados em leis vigentes no país. Acredita‑se que, só por meio da efetivação dos
direitos, os indivíduos poderão usufruir da plena cidadania.

2.2.4 4º Princípio

O 4º Princípio menciona a “defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida” (CFESS, 1993, p. 23).

Esse princípio diz respeito à necessidade de socialização da riqueza socialmente produzida no país
e da participação política dos trabalhadores nas decisões institucionais. Diante desse princípio, importa
relembrar que vivemos em uma sociedade regida por um modo de produção que tem como interesse
maior a acumulação de lucro e riquezas em benefício de uma classe que, apesar de ser minoria, detém
todos os meios de produção e explora uma classe que, apesar de ser maioria, só detém a sua força de
trabalho para sobreviver.

A categoria profissional dos assistentes sociais, por meio do Código de Ética de 1993, posiciona‑se
radicalmente em favor dos interesses da classe trabalhadora, contra os ditames do capitalismo,
repudiando toda forma de exploração e exclusão social.

O assistente social assume, junto à classe trabalhadora, o compromisso de defender o aprofundamento


da democracia a partir da viabilização da participação política dos usuários, nos espaços de debate e
decisões institucionais. Dessa forma:

[...] no âmbito da relação que se estabelece entre o assistente social e o


usuário, ser democrático significa romper com práticas tradicionais de
controle, tutela e subalternização. E, mais, contribuir para o alargamento
dos canais de participação dos usuários nas decisões institucionais, entre
outras coisas, por meio da ampla socialização de informações sobre os
direitos sociais e serviços (PAIVA; SALES, 2000, p. 190).

2.2.5 5º Princípio

O 5º Princípio faz menção sobre o “posicionamento em favor da equidade e justiça social, que
assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem
como sua gestão democrática” (CFESS, 1993, p. 23).

31
Unidade I

Com este princípio, o assistente social assume o compromisso de lutar por uma sociedade na qual
prevaleça a equidade e a justiça social. Por meio das políticas sociais, o profissional contribui para a
distribuição das riquezas socialmente produzidas na sociedade capitalista. O papel do assistente social é
democratizar o acesso dos usuários aos serviços sociais oferecidos, e, assim, “a ação profissional se põe
por inteiro a serviço do compromisso com a universalidade de direitos e de alcance das conquistas e
riquezas sociais” (PAIVA; SALES, 2000, p. 191).

2.2.6 6º Princípio

O 6º Princípio faz menção ao “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito,


incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão
das diferenças” (CFESS, 1993, p. 23).

O assistente social assume uma postura crítica de repúdio contra toda forma de preconceito na
construção de uma cultura social, na qual ele prima pelo respeito às diversidades e diferenças na defesa
e valorização das preferências individuais dos sujeitos sociais. Isso significa, asseveram Paiva e Sales
(2000, p. 196) que:

[...] não se deve, portanto, no fazer profissional, atuar com parâmetros e


crivos meramente pessoais, muitas vezes balizados por valores religiosos,
morais e pré‑noções conflitantes com o universo ético‑profissional.

O assistente social deve atuar com vistas à construção de uma sociedade mais humana e democrática,
na qual o respeito às diferenças seja uma realidade de fato e em que ainda seja garantida a participação
dos grupos nos espaços de discussão e debate acerca das diferenças sociais.

2.2.7 7º Princípio

O 7º Princípio reza sobre a “garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento
intelectual” (CFESS, 1993, p. 24).

Esse princípio refere‑se ao respeito às correntes teóricas e às diferentes linhas de pensamento que
circulam no serviço social. A categoria profissional opta pela corrente teórica que, a seu ver, consegue
explicar a realidade social com suas demandas e desafios. Paiva e Sales (2000, p. 197) sublinham que:

[...] todos têm direito a uma expressão teórica e política, onde se lhes deve
garantir o máximo de condições de liberdade de crítica e de discussão. No
entanto, essas concepções terão repercussão e influência diferenciadas na
própria categoria.

O assistente social assume ainda o compromisso de se revestir constantemente de aprimoramento


teórico, técnico e metodológico para intervir de forma propositiva e contribuir para a transformação
social e emancipação dos usuários do serviço social.
32
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

2.2.8 8º Princípio

O 8º Princípio discorre sobre a “opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção
de uma nova ordem societária, sem dominação‑exploração de classe, etnia e gênero” (CFESS, 1993, p. 24).

Por meio desse princípio, a categoria profissional dos assistentes sociais se posiciona contundentemente
a favor da construção de uma nova ordem societária a partir do enfrentamento da desigualdade social,
que marca a vida em sociedade na contemporaneidade.

Os assistentes sociais assumem uma postura de luta por igualdade e justiça social, por uma sociedade
pautada em princípios democráticos sem dominação e exploração de uma classe sobre a outra. Assim, a
categoria profissional assume o compromisso “por uma concepção de sociedade que preconiza o fim da
dominação ou exploração de classe, etnia e gênero” (PAIVA; SALES, 2000, p. 201).

2.2.9 9º Princípio

O 9º Princípio faz “articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem
dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores” (CFESS, 1993, p. 24).

Esse princípio afirma o posicionamento da categoria profissional em favor da luta geral dos
trabalhadores assumida na década de 80, quando no 8º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS)
os profissionais presentes no evento posicionam‑se contra todas as formas de exploração impostas aos
trabalhadores. Para isso, defende‑se a articulação dos assistentes sociais com os movimentos sociais e
outras categorias profissionais que defendem a causa dos trabalhadores.

2.2.10 10º Princípio

O 10º Princípio faz menção ao “compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população
e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional” (CFESS, 1993, p. 24).

O referido princípio trata do compromisso assumido com a população usuária da profissão


pela qualidade dos serviços prestados, o que requer uma atuação revestida de competência
teórico‑metodológica, técnico‑operativa e ético‑política. O assistente social assume a postura de
constantemente buscar o aprimoramento intelectual e, assim, contribuir para a proposição de alternativas
criativas que possibilitem uma intervenção profissional competente.

A competência no fazer profissional do assistente social depende também das condições de trabalho
que lhes são oferecidas e que limitam ou favorecem seu bom desempenho profissional. No entanto, é
preciso ter consciência de que “a competência não é algo pronto e acabado, nem se adquire de forma
mágica e instantânea. Também não é produto do espontaneísmo ou de modelos fixos e redefinidos
nem da empreitada solitária do indivíduo” (PAIVA; SALES, 2000, p. 204). Ela precisa ser construída
gradualmente nas relações do assistente social com o cotidiano do seu fazer profissional e nas relações
com outros profissionais.

33
Unidade I

2.2.11 11º Princípio

O 11º Princípio faz menção ao “exercício do serviço social sem ser discriminado, nem discriminar,
por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e
condição física” (CFESS, 1993, p. 24).

O princípio ora apresentado refere‑se aos direitos assegurados aos assistentes sociais e ao respeito
às causas sociais que envolvem questões de cunho social e individual. A categoria profissional defende
e respeita as diferenças individuais e repudia toda forma de discriminação contra a pessoa humana.

Paiva e Sales (2000, p. 206) acreditam que seja necessário

[...] aceitar os indivíduos com suas manias, atributos, características que os


particularizam exclusivamente, mas que em nada justificam qualquer tipo
de exclusão ou privilégio, que extrapolem o âmbito estrito da competência
profissional.

Todo ser humano é singular e tem suas particularidades e preferências que devem, acima de tudo,
ser respeitadas. Os assistentes sociais posicionam‑se a favor dessa causa quando inserem o décimo
primeiro artigo do Código de Ética.

2.3 Direitos e responsabilidades gerais do assistente social

O título II do Código de Ética do Assistente Social de 1993 trata dos direitos e deveres do assistente
social no exercício profissional. Nesse momento, você somente conhecerá os direitos e as responsabilidades
do assistente social preconizados pelo Código. Mais adiante, você compreenderá como se dá o processo
punitivo a um assistente social que viola o Código de Ética Profissional.

O artigo 2º do Código de Ética do Assistente Social estabelece os direitos do assistente social no


exercício da profissão:

a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na


Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste
Código;

b) livre exercício das atividades inerentes à profissão;

c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na


formulação e implementação de programas sociais;

d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e


documentação, garantindo o sigilo profissional;

e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;


34
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando‑o a serviço


dos princípios deste Código;

g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando


se tratar de assuntos de interesse da população;

h) ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a


prestar serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições,
cargos ou funções;

i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os


direitos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus
trabalhos (CFESS, 1993, p. 26‑27).

O artigo 3º do Código de Ética determina os deveres do assistente social no exercício profissional:

a)
desempenhar suas atividades profissionais com eficiência e
responsabilidade, observando a legislação em vigor;

b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da


profissão;

c) abster‑se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem


a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos
comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos
competentes;

d) participar de programas de socorro à população em situação de


calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e
necessidades (CFESS, 1993, p. 27).

O artigo 4º do Código de Ética institui o que é vedado ao assistente social no exercício da profissão:

a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de


Regulamentação da Profissão;

b) praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou


contravenções penais na prestação de serviços profissionais, com base
nos princípios deste Código, mesmo que estes sejam praticados por
outros profissionais;

c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes


deste Código;

35
Unidade I

d) compactuar com o exercício ilegal da profissão, inclusive nos casos de


estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos
profissionais;

e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de serviço social em


instituições públicas ou privadas que não tenham em seu quadro
assistente social que realize acompanhamento direto ao aluno
estagiário;

f) assumir responsabilidade por atividades para as quais não esteja


capacitado pessoal e tecnicamente;

g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os


princípios da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da
exoneração, demissão ou transferência;

h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam


sendo exercidos por colega;

i) adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou


estudos de que tome conhecimento;

j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros,


mesmo que executados sob sua orientação (CFESS, 1993, p. 27‑28).

3 COTIDIANO: ESPAÇO DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

A vida cotidiana é um campo de estudo de diversos autores na área do serviço social. Traremos
algumas contribuições para entendermos o cotidiano enquanto espaço do fazer profissional do
assistente social.

Para Carvalho e Netto (2000), a vida cotidiana é feita dos mesmos gestos, repetidos todos os dias,
como levantar nas horas certas para ir ao trabalho, ir à escola, realizar os afazeres domésticos etc. É a
vida de todos os dias que está presente em todas as áreas da vida do indivíduo. Para a autora, a vida
cotidiana introduz atividades repetitivas no dia a dia, as quais são percebidas no nível da singularidade,
de forma mecânica e automatizada, despidas de qualquer consciência.

A vida cotidiana, portanto, se insere na história, se modifica e modifica as


relações sociais. Mas a direção destas modificações depende estritamente da
consciência que os homens portam de sua “essência” e dos valores presentes
ou não ao seu desenvolvimento (CARVALHO; NETTO, 2000, p. 29).

É na vida cotidiana que se concretiza a práxis profissional do assistente social. O assistente social
intervém na realidade social e é um mediador entre população usuária e Estado. O serviço social tem
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SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

sua peculiaridade e especificidade, e atua na prestação de serviços sociais para suprir as necessidades
humanas da classe excluída de bens, serviços e riquezas socialmente produzidas.

Pois bem, dissemos que o assistente social é um mediador, então vamos entender o que é mediação.
A mediação é uma categoria da práxis do assistente social e, de acordo com Netto (2001), é a terceira
categoria central citada por Marx e permite viabilizar a dinâmica da totalidade concreta. “Na reconstrução
do movimento da totalidade concreta, é a categoria mediação que assegura a alternativa da síntese das
muitas determinações, ou seja, a elevação do abstrato ao concreto” (CARVALHO; NETTO, 2000, p. 83).

A mediação é a categoria utilizada pelo assistente social para decifrar as demandas institucionais
que lhes são impostas no cotidiano da sua atuação profissional. As demandas sociais aparecem de
forma singular, despidas de qualquer mediação, são o fato em si, tal qual se apresenta. “Somente pela
reconstrução teórico‑reflexiva das situações particulares e objetivas, podem‑se avaliar as possibilidade
contidas na dinâmica institucional e no exercício profissional” (BRITES; SALES, 2000, p. 75).

O assistente social, a partir de uma reflexão teórica, por meio da mediação, ultrapassa a singularidade
dos fatos levando‑os para a dinâmica da totalidade, isto é, relacionando‑os com os aspectos políticos,
econômicos, sociais e culturais da sociedade, para alcançar a particularidade do problema, entender
os fatores que contribuem para a ocorrência daquele fenômeno social, para depois intervir de forma
propositiva e contribuir para a transformação da realidade.

Segundo Carvalho e Netto (2000, p. 51), o assistente social busca o seu “referencial de ação nas
complexas relações sociais de reprodução e dominação, ignorando o cotidiano como palco onde estas
mesmas relações se concretizam e se afirmam”.

É preciso entender que a práxis do assistente social se dá no cotidiano da instituição, na qual ele
está inserido, e que, para decifrar a realidade institucional, precisa estar revestido de conhecimentos
teórico‑metodológicos, técnico‑operativos e ético‑políticos, pois é por meio da práxis, no cotidiano do
fazer profissional, que o assistente social deve construir uma atuação competente, com todo respaldo
teórico‑metodológico adquirido em sua formação acadêmica, voltada para o Projeto Ético‑Político da
profissão.

3.1 Práxis: categoria essencial no fazer profissional

A prática e a práxis são categorias que se relacionam e interagem na atuação do assistente social,
profissional este que tem como objeto de atuação as múltiplas expressões da questão social. Para atuar
sobre a questão social na sociedade capitalista, o assistente social precisa conhecer a realidade na
qual está inserido, para, assim, intervir sobre a mesma de forma propositiva, apresentando respostas
criativas e inventivas, que sejam capazes de transformar essa realidade. Para apresentar tais respostas, o
assistente social necessita estar revestido de conhecimentos teórico‑metodológicos.

Todos os aspectos anteriormente mencionados, exigidos na atuação do assistente social, compõem


sua prática e contribuem para a constituição da sua práxis profissional. Nessa perspectiva, faz‑se
necessário entender que prática e práxis precisam estar intrinsecamente relacionadas e integradas para
37
Unidade I

que de fato a intervenção do assistente social não seja mera execução de tarefas pré‑estabelecidas.
Ao contrário, que venha a transformar a realidade e contribuir para a construção de uma nova ordem
societária, mais justa, equânime e fraterna. Segundo Iamamoto (2001), é preciso compreender os
fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social.

Essa compreensão requer entender como a profissão foi socialmente


determinada na sociedade e refletir como ela se desenvolve nas relações
entre as classes sociais – burguesia e trabalhadores, por meio de uma
intervenção especializada. Pensar a profissão é também pensá‑la como fruto
dos sujeitos que a constroem e a vivenciam (IAMAMOTO, 2001, p. 56‑57).

A práxis do assistente social ocorre por meio do acúmulo de conhecimentos teóricos que contribuem
para que esse profissional atue de forma sistematizada.

Os saberes teóricos são adquiridos, construídos e incorporados pelo assistente social ao longo do
processo histórico de constituição da profissão e das demandas sociais que exigem a intervenção deste
profissional. Assim,

[...] a práxis aqui reivindicada decorre de uma construção coletiva expressa na


direção social do Projeto Ético‑Político do serviço social que ganha [...] substância
por meio da adesão consciente e crítica aos princípios e valores presentes no
Código de Ética dos Assistentes Sociais (BRITES; SALES, 2000, p. 70).

A práxis profissional é uma categoria que está relacionada a toda atividade laboral. No entanto, nem
toda atividade exercida é práxis, pois a práxis se define pelo conjunto de atividades que objetivam a
modificação de uma determinada realidade e que se traduz numa transformação social. A práxis não
está dissociada da ação prática, porém, para constituí‑la, é preciso que as ações estejam articuladas e
estruturadas como um todo, isto é, num processo total que culmine na transformação da realidade. Para
Marx, segundo afirma Vázquez (1997), a finalidade da práxis é a transformação real e objetiva do mundo
natural e social, visando à satisfação das necessidades humanas. É o resultado de uma nova realidade que
só é realizada por meio do homem, para o homem como ser social. Vázquez (1997) ainda salienta que, se
o homem aceitar a realidade social como lhe é imposta, e se, por outro lado, aceitar a si mesmo no estado
natural, não teria a vontade e necessidade de transformar essa realidade nem de se transformar.

Existem outros fatores que determinam a práxis do assistente social, como a investigação, um
instrumento indispensável na atuação profissional para a compreensão da realidade. Ela possibilita ao
assistente social exercer uma práxis com capacidade teórica, o que fortalece e impulsiona a intervenção
profissional.

Vivemos numa sociedade dividida em classes antagônicas, na qual a práxis do assistente social
depende do conhecimento que ele tem da realidade que o cerca, da capacidade de entender a correlação
de forças existentes para não incorrer no risco de propor ações que possam culminar em resultados
neutralizados ou que venham a beneficiar os interesses das classes dominantes em detrimento dos
interesses da população usuária do serviço social.
38
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O assistente social precisa organizar e sistematizar suas ações a partir de fundamentação teórica, para
provocar possibilidades de transformar o ideal de mudanças em real e exercer uma práxis revolucionária,
capaz de contribuir para mudar as bases econômicas, sociais e políticas em que se constitui o poder
material e ideológico da classe dominante.

A práxis profissional do assistente social deve primar pela construção de uma nova sociedade, sem
as marcas da exploração e da desigualdade social. Essa construção não é algo impossível, basta que ela
seja incorporada pelo assistente social por meio de uma práxis de luta dirigida ao principal agente dessa
mudança – o usuário do serviço social – e que nessa luta a atuação profissional seja norteada pelos
valores e princípios do Código de Ética do Assistente Social e esteja voltada para a concretização do
Projeto Ético‑Político do serviço social.

3.2 O que vem a ser o Projeto Ético‑Político?

Para essa definição, nada mais lúcido do que trazer o conceito dado por Reis (2003, p. 405 e 406):

Trata‑se de uma projeção coletiva que envolve sujeitos individuais e coletivos


em torno de uma determinada valoração ética que está intimamente
vinculada a determinados projetos societários presentes na sociedade que
se relacionam com os diversos projetos coletivos (profissionais ou não) em
disputa na mesma sociedade.

Essa concepção, a priori, torna‑se complexa, se não tivermos a clareza do que vêm a ser projetos e
suas ramificações em: projetos individuais, coletivos e societários.

De acordo com Netto (1999), projeto é uma ação teleológica (ação orientada para objetivos, metas
e fins), e cada indivíduo social tem o seu. Já os projetos societários são mais abrangentes e apresentam
a imagem da sociedade a ser construída (proposta para o conjunto da sociedade). No capitalismo, os
projetos societários são projetos de classe, têm uma dimensão política por envolver relações de poder
e possuem propostas para o conjunto da sociedade. Tais projetos são simultaneamente projetos de
classe e, via de regra, os projetos da classe dominante possuem mecanismos e dispositivos coercitivos
e repressivos, quase sempre se sobrepondo aos da classe dominada, visto que os projetos das classes
trabalhadoras e subalternas sempre dispõem de condições menos favoráveis nesse jogo de poder.

Os projetos profissionais são projetos coletivos e apresentam a autoimagem de uma profissão. São
projetos construídos pela categoria profissional organizada. Possuem uma dimensão ético‑política que
extrapola as particularidades da categoria, tendo em vista que estão inseridos em uma dada sociedade
e se atrelam a determinados projetos nessa sociedade.

Nesse contexto, o serviço social constrói seu projeto profissional em consonância com o ideário
político da categoria profissional (que consiste num posicionamento claro e definido a favor das
classes subalternizadas) ao mesmo tempo em que traz particularidades ético‑valorativas (conjunto de
princípios e fundamentos filosóficos) que foram sendo construídas pelos sujeitos individuais e coletivos
que compõem o universo profissional.
39
Unidade I

Barroco (2005, p. 66) vem corroborar essa afirmação:

A coesão dos agentes profissionais, em torno de valores e finalidades comuns,


dá organicidade e direção social a um projeto profissional. Esse aspecto, no
entanto, diz respeito ao movimento interno da profissão, o que não existe
sem mediações externas. A cultura, em geral, e a moral, em especial, são
determinantes na configuração da moralidade dos agentes, influenciando
sua ética profissional.

Nessa perspectiva, cabe aqui perguntar: mas, afinal, o que vem a ser esse Projeto Ético‑Político do
serviço social? Como ele se configura?

O Projeto Ético‑Político do serviço social poderia ser resumido da seguinte forma: é um projeto que
reflete o ideário da categoria profissional, que consiste num posicionamento político claro e definido
por um determinado projeto de transformação social. É a opção preferencial pela classe trabalhadora no
jogo de poder da sociedade capitalista. Esse projeto define aquilo que almeja a categoria como profissão
comprometida com as classes subalternizadas da sociedade, tendo como objetivo final uma nova ordem
societária. O que, nos termos de Netto (1999, p. 104‑105), se traduziria da seguinte forma:

Tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central


– a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher
entre alternativas, daí um compromisso com a autonomia, a emancipação
e plena expansão dos indivíduos sociais. Esses valores foram construídos
historicamente.

E ainda:

O projeto profissional vincula‑se a um projeto societário que propõe a


construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de
classe, etnia e gênero. A partir dessas escolhas que o fundam, tal projeto
afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio
e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo – tanto na
sociedade como no exercício profissional (NETTO, 1999, p. 104‑105).

Pois então: esse projeto não nasceu da “noite para o dia”, ele é um resultado sócio‑histórico do
processo de ruptura com o conservadorismo profissional e tem como marco inicial o famoso Congresso
da Virada (III CBASS – Terceiro Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais), realizado no ano de 1979,
quando a mesa do Congresso, que seria composta por membros da ditadura, passa a ser ocupada por
representantes da classe trabalhadora.

A partir daí, o Projeto Ético‑Político vai sendo construído e, pode‑se dizer que ele nasce nos anos
1970, é desenvolvido nos anos 1980 e consolidado nos anos 1990. Essa legitimidade que o Projeto
Ético‑Político adquire é resultado de diversos fatores internos e externos à profissão. Dentre eles,
elencamos alguns com base em Netto (1999).
40
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1) Crítica ao conservadorismo profissional.

2) Crise da ditadura brasileira, abertura política, conquista democrática.

3) Consolidação da produção de conhecimento do serviço social brasileiro:

• surgimento de massa crítica e acumulação teórica. Começam a surgir os primeiros autores


dentro do serviço social;

• quebra do conservadorismo teórico e metodológico; encontro com o legado marxista; autores


do serviço social fundamentam‑se teoricamente na obra marxiana e em autores fidedignos da
teoria de Marx;

• o serviço social constitui‑se como uma área de produção do conhecimento (1981 – 1ª Turma
de Doutorado A L./São Paulo). Esse momento vai propiciar a produção do conhecimento dentro
e para o serviço social.

4) Debate sobre a formação curricular – Reforma curricular de 1982:

• apelo à construção de um novo perfil profissional.

5) Dimensão político‑organizativa da profissão:

• fórum de deliberação (o conjunto CFESS/CRESS, a ABEPSS, a ENESSO).

6) Dimensão jurídico‑política da profissão: o conjunto de leis e resoluções, documentos e textos


políticos consagrados no seio profissional: Código de Ética; Lei de regulamentação da Profissão
(Lei n° 8.662/93); Diretrizes Curriculares – MEC; o conjunto das leis advindas do capítulo da ordem
social da Constituição Federal – LOAS.

Posto isso, corrobora‑se a discussão de que o Projeto Ético‑Político está inacabado e uma das formas
de materializá‑lo seria via Código de Ética Profissional, ferramenta primordial que orienta o exercício
profissional do assistente social.

O debate contemporâneo em torno da ética em serviço social percorre a discussão de como


operacionalizar na prática esse projeto: quais os desafios que se apresentam para o assistente social, hoje, em
operacionalizá‑lo, tendo em vista que as demandas que aparecem cotidianamente tendem a vir cada vez mais
multifacetadas? Demanda multifacetada é a totalidade complexa que invade as expressões da questão social,
objeto de intervenção do assistente social. Ou seja: vivemos em uma realidade social em que as mudanças
socioeconômicas, ideológico‑políticas, ético‑valorativas são tão aceleradas a ponto de “embaraçar a cabeça”
das pessoas, fazendo com que todo mundo perca a direção de aonde estamos indo e onde chegaremos.

São questões como essas que nos fazem refletir sobre qual é o papel do assistente social na sociedade
e como agir em consonância com um projeto que, para muitos, ainda é utópico demais.
41
Unidade I

Para essa discussão temos que partir do princípio de que o assistente social não é um messias (o
messianismo no serviço social significou uma corrente de pensamento defendida por profissionais que
achavam que competia ao serviço social “mudar o mundo”). Mas também não se pode “cruzar os braços”
e dizer que não há nada a se fazer, como ocorreu com o posicionamento fatalista de outro grupo de
assistentes sociais que acreditavam não haver mais nada a se fazer. Ambas correntes estão ultrapassadas
e devem ser combatidas no seio da categoria.

3.3 Então, qual seria o caminho?

Pode ser complicado dar uma resposta com precisão, diante de tamanha complexidade. Todavia
só há um caminho para os profissionais de serviço social atuarem em consonância com seu Projeto
Profissional. Assumir o compromisso que foi firmado – via Projeto Ético‑Político e via Código de Ética
– com os movimentos sociais das classes subalternizadas da sociedade brasileira. Utilizar os espaços
sócio‑ocupacionais em que se atua, para, no exercício profissional, priorizar a qualidade dos serviços
prestados à população, o que inclui a luta intransigente para que as decisões institucionais sejam abertas
à participação dos usuários.

Esse desafio traz à baila mais uma vez os termos de Netto (1999, p. 105):

O projeto sinaliza claramente que o empenho ético‑político dos assistentes


sociais só se potencializará se a categoria se articular com os segmentos
de outras categorias profissionais que partilhem de propostas similares e,
notadamente, com os movimentos que se solidarizam com a luta geral dos
trabalhadores.

Ante o exposto, é necessário reiterar a importância do protagonismo do serviço social perante as


discussões éticas contemporâneas e as suas formas de enfrentamento.

O verdadeiro compromisso ético da profissão consiste em contribuir para a dimensão ético‑política


para um processo social que elimine a exploração do homem pelo homem e resgate os princípios da
igualdade, da liberdade e da justiça social (MUSTAFÁ, 2003, p. 370).

A partir da abordagem do autor, percebe‑se que a ética não se configura como algo abstrato e longe
da realidade. Ela, como componente crítico‑reflexivo das posições valorativas que perpassam a sociedade,
torna‑se um elemento da luta social pela emancipação dos indivíduos sociais. E é justamente aí que se
insere o profissional de serviço social numa profissão que busca legitimar seu projeto profissional.

3.4 O serviço social e a relação teoria/prática

As dimensões do serviço social imprescindíveis para a junção da teoria com a prática são:

a) referencial teórico: construído na formação acadêmica, esse referencial é pautado no saber


teórico‑científico adquirido pelo acadêmico durante a formação e se estendendo permanentemente
durante a vida profissional;
42
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

b) dimensões técnico‑operativas: compreendem o conjunto de instrumentos de trabalho utilizados


pelo assistente social para a execução do exercício profissional. Esses instrumentos são: reuniões,
entrevistas, entrevistas domiciliares, laudos, pareceres, relatórios etc;

c) dimensão ético‑política: é ela que determina a escolha do assistente social, por se pautar em uma
postura ética que ele adota em sua prática profissional;

d) dimensão investigativa: ela resulta da investigação da realidade, objetiva a compreensão


da totalidade dos fatos, prima por romper com a imediaticidade dos fenômenos e analisar as
demandas impostas, buscando soluções para os problemas dos usuários do serviço social.

Todas essas dimensões engendradas viabilizam a prática profissional exercida de forma totalitária,
caminhando para uma transformação que impacte em melhoria na qualidade dos serviços prestados
pelo assistente social.

Ressalta‑se que a teoria não é uma atitude contemplativa, ao contrário, ela dirige o pensamento
e o intelecto do assistente social no sentido de derrubar o interior do fenômeno, em uma perspectiva
superadora e de transformação. O referencial teórico é o elemento que irá iluminar e subsidiar a
ação desse profissional. A prática deve ser entendida e exercida como ação efetiva de transformação,
superando o existente, buscando resultados concretos e materiais, como criação do profissional inscrito
na divisão sociotécnica do trabalho contemporâneo.

A teoria também ilumina uma prática ainda não existente, permite elaborar essa prática, possibilita o
planejamento e atribui ao profissional conhecimentos e subsídios para desenvolver ações embrionárias.

A prática remete à práxis, que compreende as atividades práticas humanas; a teoria está ligada
ao conjunto do saber humano, apreendido pelos homens. Essas dimensões estão relacionadas e são
desenvolvidas nas relações sociais, retiradas e abstraídas da história humana. A relação teoria/prática
constitui um processo de reflexão complexo e contínuo, podendo passar da teoria para a prática e da
prática para a teoria. No entanto, não se constitui de forma direta e imediata, pois é possível haver
teoria sem prática e, normalmente, toda teoria tem base na prática, o que coaduna com o ensinamento
de Vázquez (1990, p. 233‑234), que afirma que:

[...] ao falar‑se da prática como fundamento e finalidade da teoria, deve‑se


entender: a) que não se trata de uma relação direta e imediata, já que uma
teoria pode surgir – e isso é bastante frequente na história da ciência – para
satisfazer direta e imediatamente exigências teóricas, isto é, para resolver
dificuldades ou contradições de outra teoria; b) que, portanto, só em última
instância e como parte de um processo histórico‑social – não por meio de
segmentos isolados e rigidamente paralelos a outros segmentos da prática
– a, teoria corresponde a necessidades práticas e tem sua fonte na prática.

A prática e a teoria implicam trabalhar o exercício profissional, permitem a viabilidade de apontar,


resgatar, trabalhar e corrigir as deficiências, entendem os limites, recursos e possibilidades do assistente
43
Unidade I

social. Com esse embasamento, esse profissional poderá socializar conteúdos, construir análises e
estudos das situações, voltando seu objetivo para o preparo do seu papel, produzindo respostas às
demandas que a realidade lhe apresenta.

Atitude Prática
Investigativa Profissional

Atitude
Interventiva

Figura 1 – Práxis Profissional

Portanto, a prática profissional do assistente social nunca pode estar desvinculada da teoria, pois é
a teoria que sustenta a prática. Esta, quando embasada, poderá dar origem a novas teorias, desde que
se cultive a atitude investigativa no cotidiano profissional.

3.5 Atitude investigativa e o serviço social

A investigação para o serviço social toma um caráter instrumental na medida em que foi incorporada
à profissão após a reformulação e o posicionamento dos assistentes sociais frente ao Movimento de
Reconceituação. Dessa forma, a investigação passa a fazer parte da formação acadêmica, durante o processo
de aprendizagem teórico‑metodológica e do exercício profissional na divisão sociotécnica do trabalho.

Segundo Battini (1994), a investigação tem caráter dual, pois está voltada ao exercício profissional e
à produção de conhecimento, determinando uma distinção na relação sujeito/objeto. Cumpre a função
de sujeito quando a investigação é um instrumento para a execução da prática do assistente social, e
objeto, quando utilizada pelo serviço social como produção de conhecimento.

Ainda segundo essa mesma autora, a prática possui duas vertentes de exercício: a da ação interventiva
e a da ação investigativa.

Para utilizar o instrumental da investigação, é necessário que ele tenha o suporte da unidade
teoria‑prática. O referencial teórico vai garantir que a investigação seja utilizada para uma pesquisa cujo
objetivo é conhecer a realidade social em sua totalidade e possibilitar o movimento pensamento/realidade.
Essa mediação só é possível pela junção desses dois elementos, os quais iluminam a investigação.

Segundo Kameyama (1995), a teoria e a prática constituem, portanto, aspectos inseparáveis do


conhecimento e devem ser consideradas na sua unidade, levando‑se em conta que a teoria não só se
nutre da prática social e histórica, como também representa uma força transformadora que indica à
pratica os caminhos da transformação.
44
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A investigação, como instrumento para o exercício profissional, busca compreender a sociedade,


apreender as relações sociais, a fim de identificar os problemas impostos nas demandas apresentadas
aos assistentes sociais.

Para isso, exige‑se um novo perfil profissional, que esteja atento à dinamicidade da sociedade, que
seja capaz de criar, propor e construir novos caminhos.

Iamamoto (2001, p. 49) afirma que:

[...] novo perfil que se busca construir é um profissional afinado com a análise
dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em
suas manifestações quotidianas; um profissional criativo inventivo, capaz de
entender o “tempo presente, os homens presentes, a vida presente” e nela
atuar, contribuindo, também, para moldar os rumos de sua história.

Por meio da investigação, é possível construir um diagnóstico, avaliar as situações e planejar as


estratégias para a intervenção do assistente social. Dessa forma, podemos dizer que a atitude investigativa
(investigação) está intrinsecamente ligada à atitude interventiva (intervenção).

Analisar a realidade por meio da investigação faz com que se quebrem os estereótipos de que a ação
profissional do serviço social é pautada e centrada na imediaticidade, superficialidade e assistencialismo.

Para colocar em prática a atitude investigativa e mantê‑la constantemente integrada ao exercício


profissional, exige‑se a unidade teoria‑prática, elemento que permite ao profissional questionar
e criticar a realidade, construir e reconstruir o real. Utilizar essa leitura contribui para intervir na
realidade social construindo caminhos que levem a soluções para os problemas e demandas impostos
ao assistente social.

Segundo Battini (1994), para compreender uma situação e intervir nela com competência, os
assistentes sociais precisam:

• ter claro o referencial teórico que ilumina a leitura que fazem da realidade (competência teórica
para a reconstrução de conceitos). Essas referências são escolhidas pelo assistente social segundo
sua visão de mundo e como se posiciona no jogo de forças da sociedade, junto com aqueles
grupos que mais se aproximam da sua ideologia;

• ter habilidades para atuar na sociedade usando instrumental técnico e estratégias adequadas ao
enfrentamento da questão social, objeto da sua intervenção (competência técnica);

• inscrever‑se de modo crítico nas demandas sociais e ter consciência da repercussão da sua
intervenção na defesa de um projeto de sociedade (dimensão política). A pesquisa é a base para
essa competência no sentido da consolidação da mudança com a adoção da atitude investigativa
na intervenção profissional cotidiana e cria maiores possibilidades de novas explicações.

45
Unidade I

Concluindo, reafirmamos que a atitude investigativa é um instrumental ou categoria que permite


desvelar a realidade, fazer um aprofundamento nas análises das situações reais, desnudá‑las, saindo do
imediato para visualizar e apreender a totalidade dos fatos e construir estratégias para serem utilizadas
no desempenho do trabalho. Para tal atitude, relacionar a teoria com a prática faz‑se imprescindível no
cotidiano profissional do assistente social.

3.6 Atitude de mediação: desmistificando o significado

A mediação está na base do método dialético, porém alguns autores a tratam como sendo
intermediária, meio‑termo ou algo relacionado. Sobre isso, Pontes (1997, p. 38) nos ensina que:

[...] é uso correto compreender o termo mediação como ação de atuar como
mediador de conflitos de natureza política, jurídica, familiar etc., visando à
conciliação de interesses entre partes. No campo particular do serviço social,
a prática da mediação, tomada nesta visão, encontra‑se atualmente em
expansão nas instituições de serviços sociais de várias naturezas, já sendo
possível encontrar, inclusive, cursos interdisciplinares para mediadores.

A proposta aqui é apresentar e discutir a mediação em uma perspectiva mais ampla, como “categoria
objetiva, ontológica, que tem de estar presente em qualquer realidade, independente do sujeito” (LUKACS
apud PONTES, 1997, p. 38).

Para o materialismo histórico dialético, mediação é o processo de superação do senso comum, é o


que permite a criticidade. Fazer mediação significa passar pelas fases: singularidade, universalidade e
particularidade.

A singularidade é o nível do imediato, do fato tal qual ele aparece no cotidiano, é a aparência, o
fenômeno visto a olho nu. É o plano da imediaticidade.

Sobre isso, Pontes (1997, p. 85) esclarece que:

[...] o plano da singularidade é a expressão dos objetos “em si”, ou seja,


é o nível de sua existência imediata em que se vão apresentar os traços
irrepetíveis das situações singulares da vida em sociedade, que se mostram
como coisas fortuitas, rotineiras, casuais.

A partir daí, você tenta articular esse fato com a universalidade, que são as leis gerais. É o plano em
que se colocam grandes determinações gerais de uma dada formação histórica. Feito esse processo de
relação/conexão singularidade/universalidade, você particulariza o objeto, ou seja, passa a compreender
o objeto a partir da relação singularidade/universalidade.

A particularidade é o campo das mediações. É o objeto rico de reflexões, questionamentos,


interpretações. É sair do imediatismo e compreender o objeto como parte de uma dinâmica social
mais ampla.
46
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A noção de particularidade, aqui, é reforçada por Agnes Heller, citada por Pontes (1997, p. 87), que
expõe que:

[...] a relação indivíduo‑sociedade pode vir a ser analisada sem esquematismos


empobrecedores; quer seja do papel do indivíduo – que na realidade exprime
na sua particularidade o modo genérico da vida humana –, quer seja do
papel da sociedade, que na sua dinâmica exprime em essência o modo geral
da vida individual.

Nessa perspectiva, a tríade particularidade/singularidade/universalidade compõe o caminho


metodológico das aproximações sucessivas, como parte de uma totalidade.

Pontes (1997, p. 39) vem a corroborar com essa afirmativa quando diz que:

[...] a totalidade não é a soma das partes, mas um grande complexo constituído
de complexos menores. Quer dizer: não existe no ser social o elemento
simples, tudo é complexidade [...]. Cada complexo social ou totalidade
parcial se articula em múltiplos níveis e por meio de múltiplos sistemas de
mediações a outros, levando‑nos a uma sequência real e também lógica,
para entender a totalidade concreta.

A totalidade configura‑se, então, como categoria concreta, em que se dá a construção do real, ou


seja, “é a essência constitutiva do real” (PONTES, 1997, p. 70).

Para melhor compreensão podemos entender a mediação da seguinte forma:

Totalidade

Universalidade

Singularidade

Figura 2 – Esquema da tríade totalidade, universalidade e singularidade, elementos que compõem a mediação em serviço social

Desta forma, a categoria de mediação é imprescindível para a construção teórico‑metodológica do


serviço social. É a partir do processo de mediação que vem a intervenção profissional e a elaboração do
instrumental metodológico. A mediação dá ao serviço social o caráter da competência teórico‑crítica

47
Unidade I

e técnico‑operativa, pois ela constitui o diferencial da intervenção. Posteriormente, abordaremos de


forma mais explícita a sua importância para a prática do assistente social.

Cabe ressaltar que o assistente social lida cotidianamente com um leque de situações que se apresentam
para ele dentro do espaço sócio‑ocupacional sob forma de fatos, problemas de cunho individual, familiar,
grupal e comunitário. Essas situações imediatas não são revestidas de criticidade. Apresentam‑se para
ele de forma singular, sem uma reflexão que o faça ultrapassar a experiência factual, como foi dito
anteriormente: tais fatos são vistos a olho nu, sem implicações analíticas. Eis ai a singularidade: esses
acontecimentos e situações precisam sair da facticidade, é necessário compreendê‑los e entendê‑los
como parte de uma totalidade social que sofre a interferência de leis e relações sociais mais dinâmicas.
Esse é um dos problemas com as quais lida o assistente social em seu cotidiano.

Fazer essa interlocução implica que o profissional capture, no próprio cotidiano do seu fazer
profissional, a interferência de forças, das leis sociais, e perceba essa relação concreta entre singular
e universal. É a partir dessa relação que ocorre a mediação. Ou seja, o campo da particularidade
manifesta‑se no momento em que a singularidade da situação é analisada, refletida e investigada para
uma intervenção concreta do profissional de serviço social.

Particularizar o objeto significa fazer a mediação, ou seja, o profissional vê o problema, faz a sua
relação com as leis gerais da sociedade, seja nos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais e daí
se apropria do objeto de intervenção, para agir com competência.

Vamos exemplificar aqui uma situação em que ocorre a mediação.

No caso da adoção, por exemplo, fazer mediação significa analisar o processo (denominado de
auto) a partir das interlocuções necessárias (aqui está inserida toda a dinâmica do processo: adotantes,
adotado, pais biológicos, circunstâncias, enfim, toda a sistemática que envolve um processo de adoção)
e não apenas pelo fato imediato. Significa a percepção do fato como parte de um processo com
implicações econômicas e socioculturais. O assistente social, em um processo de adoção, via de regra,
faz um estudo social de toda a situação da criança a ser adotada: visitas domiciliares, entrevistas, estudo
dos autos etc., para posteriormente emitir um laudo com parecer social. Esse procedimento envolve
toda uma sistemática que vai do conhecimento teórico‑metodológico que ele adquiriu ao longo de
sua formação, passando pelos fundamentos ético‑políticos que norteiam a sua ação, até a apropriação
das leis e referenciais que vão respaldar sua decisão no processo de adoção. Tudo isso implica em fazer
mediação!

A mediação nada mais é do que o melhor conhecimento da realidade que orienta a intervenção do
assistente social, o que, nos termos de Pontes (1997, p. 49), seria “uma efetiva forma de resistência e de
luta contra a barbárie, que também fortalece o projeto de emancipação humana”.

Portanto, a mediação é um caminho metodológico dinâmico a ser percorrido para viabilizar a


aproximação com o que há de mais real na totalidade. É uma categoria presente no cotidiano profissional
do assistente social, que necessita desenvolver uma percepção do todo social. Seu fazer, mesmo o mais
particularizado, precisa buscar elementos na prática em totalidade. Dentro do todo social, há o que é
48
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

universal, como os valores e as crenças que predominam na sociedade como verdades. A mediação se
dá justamente na relação concreta do que é singular com o que é universal, para daí compreender o
fenômeno que lhe é apresentado e intervir na particularidade de cada situação.

4 PRECEDENTES DA GESTÃO SOCIAL

Para que você compreenda a gestão social na atualidade, é necessário que voltemos um pouco na
história e entendamos como o social esteve – e ainda está – interligado ao econômico.

Vamos começar desde os séculos XVI‑XVII para cá, quando o comércio se intensificou e passou a
buscar formas de troca, moedas e acumulação de capital.

Assim, o modelo societário adotou a corrente liberal, que é o fundamento de todo o sistema
capitalista. Essa corrente é pautada na defesa e na proteção da liberdade individual e da livre ação
do mercado.

O contexto mencionando perdurou até início do século XX. O Estado não intervinha diretamente no
social. Resultado disso é o fato de não haver nenhum tipo de política social estatal. Os mais necessitados
ficavam à mercê da caridade da Igreja e aos desmandos dos patrões por meio de troca de favores, o que
subjugava ainda mais os trabalhadores.

Você já ouviu falar da “Grande Depressão”? Essa grande crise, que aconteceu em 1929, ocasionou
a quebra da bolsa de Nova Iorque. Com isso, disseminou desemprego e pobreza por todo o mundo e
impactou direta e profundamente a economia.

Essa crise fez com que o Estado – não interventor até então – passasse para Estado interventor
(Estado‑mínimo para Estado‑nação).

Somente a partir do chamado Estado‑nação é que o Estado passa a interferir tanto na economia
como no social e, felizmente, foram instituídas as primeiras políticas sociais. O modelo econômico
adotado que influenciou tudo isso foi o keynesianismo, ou Estado do bem‑estar social. Defendia a
economia nacionalista, a estrutura para o desenvolvimento das indústrias e o escoamento da produção
e das políticas universalistas.

Esse modelo keynesiano, propagado principalmente por toda a Europa, influenciou muito timidamente
o Brasil. Aqui, tínhamos, nessa época, o governo de Vargas, quando houve a aprovação das primeiras leis
sociais, mas ainda muito aquém de um Estado interventor, de fato, na área social e econômica.

Contudo, da década de 1920 até a de 1970, foi a influência keynesiana que prevaleceu em alguns
lugares com maior ou menor ênfase. No entanto, na década de 1970, houve outra crise mundial, a
chamada Crise do Petróleo e, mais uma vez, houve redirecionamento na economia. Passa‑se, então, a
defender, em termos de mercado, o neoliberalismo, que consiste na retirada do Estado da área social
– completamente o oposto da corrente anterior. Tal modelo assolou o mundo, trouxe privatizações,
flexibilização das relações de trabalho, desemprego e muitas outras consequências.
49
Unidade I

Com o neoliberalismo, principalmente na área social, o impacto foi imenso, pois passou a defender‑se
um Estado‑mínimo, seletivo e com políticas sociais racionalizadas. Esse modelo está em vigência até o
momento, no entanto, já abalado com a crise recente pela qual estamos passando, iniciada em 2008.

Esse momento sinaliza uma nova transição do Estado‑mínimo para interventor, mais uma vez.
Isso demonstra que, a cada crise, o Estado e a classe detentora do capital buscam novas formas de
acumulação e, para tanto, o Estado muda as estratégias de ação diante da economia e do social para
conter os impactos das crises e continuar a perpetuar o sistema capitalista.

Convido você para que retomemos o período do final da década de 1970, quando se iniciou o
neoliberalismo, pois, nessa época, entraram em cena outros atores sociais. Surgem, com um crescimento
desmedido, instituições privadas e não governamentais (comumente chamadas de ONGs) para, também,
intervirem de alguma forma no social. Assim, muitas empresas privadas e ONGs passaram a desenvolver
políticas sociais nas mais diversificadas expressões da questão social.

No Brasil, no final da década de 1980, acabávamos de sair de uma ditadura militar e a população,
representada por diferentes movimentos sociais, tinha ânsia de direitos e exerceu papel decisivo,
inclusive na garantia legal de direitos, representada pela Constituição Federal de 1988. Como vimos
anteriormente, nesse período, antagonicamente, estávamos no auge do neoliberalismo aqui no Brasil e
o Estado não atendia às demandas sociais de forma universalista.

Veja só que contradição! Em meio a essa tensão de forças que marcaram o final da década de
1980 (de um lado, o Estado tenta retirar‑se da área social e, de outro, é pressionado a ampliar
sua intervenção), saem do meio da sociedade civil os ideais de cooperação e associativismo como
formas alternativas de responder às demandas sociais, sob a alegação de que o Estado não abarcava
a totalidade das exigências.

O Estado, estrategicamente, passou a defender e mesmo a incentivar a entrada do segundo e


terceiro setor como forma de “dividir” a responsabilidade pelo social, mesmo que para tal financie
as intervenções, fazendo com que interpretemos como uma espécie de “terceirização dos serviços
públicos”. Nessa “onda”, as grandes empresas passaram a intervir na área social para buscar um perfil
mais comunitário, o que lhes rende melhor visibilidade e credibilidade, além de outros benefícios que
veremos mais adiante.

É importante que você perceba que, a partir do final de 1980, não mais somente o Estado é responsável
por atender diretamente às demandas sociais, mas é de sua responsabilidade dar condições para que o
segundo e o terceiro setor atuem de maneira complementar às suas ações.

Vale destacar que a população, ou melhor, nós, devemos cobrar os serviços de caráter público do
Estado e isso não quer dizer negar as outras iniciativas complementares, mas compreendê‑las como
mais focais e limitadas. Caso contrário, corremos o risco de subestimar o poder estatal e deixar de exigir
seu caráter interventor, o que seria conveniente na perspectiva neoliberal. Assim, colaboraríamos para
a perda gradativa dos direitos que temos garantidos na Constituição Federal de 1988. Isso seria um
imenso retrocesso para a construção da cidadania!
50
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Contudo, você precisa entender que passam a existir três esferas de intervenção social: Estado,
iniciativa privada e terceiro setor. Tal corresponsabilidade é denominada welfare mix ou Estado‑misto.

Veja o quadro a seguir e analise as distinções e as semelhanças que há entre o primeiro, o segundo
e o terceiro setor. Preste atenção como se compõem os recursos que sustentam cada setor e como esses
recursos são destinados.

Quadro 1 – Composição dos setores de atuação na área social

Origem Destinação Denominação Setor


dos recursos dos recursos

Recursos públicos (originados Bem‑estar coletivo


de impostos, multas e tarifas (gestão e atendimento Estado 1º setor
públicas) público gratuito)

Recursos particulares Negócios particulares que Mercado/Empresas 2º setor


(fontes privadas) visam ao lucro

Recursos particulares
(fontes privadas, assim como Bem‑estar coletivo Terceiro Setor
repasses públicos para execução (gestão e atendimento 3º setor
(ONGs)
de serviço de atendimento às público gratuito)
demandas)

Fonte: Santana (2008, p. 28).

Com a entrada do segundo e do terceiro setor na intervenção social, naturalmente abre‑se um


leque imenso de debates ideológicos, metodológicos e assim por diante. O que nos interessa aqui é
perceber o quanto as intervenções na área social se diversificaram e, ao mesmo tempo, tornaram‑se
tão complexas.

Por esse motivo, gerir o social é o “assunto da vez”, pois tanto o aparelho estatal como as empresas
privadas e o terceiro setor buscam formas de intervir nessa área, mas esbarram em falta de domínio de
conhecimentos teóricos, técnicos e políticos para tal, além, é claro, de divergentes motivações.

Assim fica fácil para você entender o porquê de tanta ênfase na área social, pois é somente a partir
da década de 1990 que o tema gestão social passa a ser tão discutido nos três setores, principalmente na
tentativa de encontrar metodologias e ferramentas adequadas para gerir o social. Para isso, recorre‑se
a elementos da administração, o que gera uma série de dissensos e consensos entre a área empresarial
e a social, como veremos mais adiante.

4.1 Em que consiste a gestão social

Você já parou para pensar em que consiste a relação que a gestão social estabelece conosco em
nossa vida privada, social e mesmo profissional? Para buscar essas respostas, é necessário compreender
o cenário econômico e social da contemporaneidade e passar a relacioná‑lo com as esferas de nossa
vida em sociedade, já que somos seres/sujeitos inseridos direta e indiretamente em todo esse contexto.
51
Unidade I

Para darmos sequência, é bom você ter claro que da década de 1970 para cá, passou‑se a buscar e
a ser exigida uma nova postura ética e social, tanto das organizações privadas como da sociedade civil
organizada e do próprio Estado. Moraes, citado por Santana (2008, p. 22) expõe que:

[...] a preocupação transversal torna‑se bastante clara – a sobrevivência da


humanidade e a manutenção do seu sistema econômico e social. [...] torna‑se
evidente que produzir riquezas e alimentos é prioritário [...]. O contexto de
contradições e de busca por alternativas de equilíbrio entre o ambiental, o
social e o econômico, fortalece a sociedade civil, que lentamente acorda de
uma longa noite de sonhos com o fascinante mundo do consumo e se vê
empoderada de um novo status, cabendo‑lhe agora a responsabilidade por
renunciar a produtos oriundos de processos produtivos hostis ao homem,
a sua sociedade e ao meio ambiente do qual é responsável e plenamente
dependente. [...] preestabelecendo agora a necessidade de competências de
gestão social a todos que pretendem ingressar ou permanecer em situação
produtiva e porque não dizer, economicamente ativa. [...] Dessa forma,
abre‑se um novo mercado de trabalho, no qual se concebe a figura do gestor
social como aquele indivíduo que, independentemente do nível hierárquico
ou da área de formação, é mediador multiqualificado, situando‑se em um
contínuo que vai da capacidade de dar respostas eficazes e eficientes às
situações cotidianas a de enfrentar problemas de alta complexidade [...],
tornando‑se indispensável às organizações competitivas. [...] Por fim, neste
cenário, conclui‑se que a gestão social é indiscutivelmente necessária às
organizações [...].

Realmente, para a manutenção da sociedade, é necessário haver, urgentemente, um equilíbrio entre


a economia, o meio ambiente e a vida social, pois país nenhum conseguirá progredir economicamente
se persistir em manter a degradação do meio em que vive e a crescente pauperização da maioria da
sua população. Você acha que é possível haver um país rico, com uma população pobre e ainda em um
local inabitável devido à degradação ambiental? Muitos já chegaram à conclusão de que é impossível!
Precisa‑se investir e gerir com o mesmo grau de atenção tanto na economia como na área social e
ambiental.

Por esse motivo, a gestão social faz‑se tão necessária em todos os tipos de organização e é
determinante na tentativa de buscar esse equilíbrio entre exploração da riqueza e bem‑estar social.

Depois disso tudo, talvez você esteja se perguntando: o que é gestão?

Gestão é um termo oriundo da administração, cuja finalidade é governar as organizações ou parte


delas. A gestão envolve o planejamento, a direção e o controle de recursos organizacionais e prioriza
o alcance da eficácia e eficiência de determinados objetivos. Segundo Maximiano (2000), a gestão é
considerada a função mais importante de uma organização e tem cinco componentes indispensáveis,
que apresentamos a seguir.

52
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

• Planejamento: examina‑se o futuro e traça‑se um plano de ação em médio e longo prazos.

• Organização: consiste em montar uma estrutura humana e material para realizar o empreendimento.

• Comando: caracteriza‑se por manter o pessoal em atividade em toda a empresa.

• Coordenação: consiste em reunir, unificar e harmonizar toda a atividade e esforço.

• Controle: cuida‑se para que tudo se realize de acordo com os planos e as ordens.

Portanto a gestão seria o processo de planejar, organizar, liderar e controlar o trabalho dos membros
da organização (do primeiro, segundo ou terceiro setor) e de usar os recursos disponíveis para alcançar
os objetivos estabelecidos. Assim, gestão pode ser compreendida como uma atividade dinâmica que
consiste em tomar decisões sobre objetivos e recursos.

No entanto, a gestão, na perspectiva da administração, assume um caráter de racionalização,


o que não coaduna com a perspectiva social, que vai muito além de técnicas de gerenciamento de
pessoal e de recursos, pois envolve a participação e o empoderamento dos sujeitos sociais, que é o
nosso foco.

Precisamos nos apropriar de alguns conhecimentos da administração e do planejamento para então


compreender e aplicar a gestão na perspectiva social.

Observação

Empoderamento é um termo usado por Paulo Freire no final do século


XX. Esse grande educador e escritor teve como obra de maior destaque o
livro Pedagogia do oprimido (1970). Defende uma educação de interação
professor‑aluno, pois ambos aprendem. Em suas obras, ele criticou
a passividade dos sujeitos e passou a utilizar outros conceitos como
conscientização e cultura do silêncio. Por valorizar a cultura popular e por
defender a emancipação humana da opressão dominante, passou a utilizar
sabiamente o termo empoderamento dos sujeitos, no sentido de conquista,
avanço, superação por parte daquele que se empodera (sujeito ativo do
processo).

Alguns autores chegam a dizer que o empoderamento seria o mesmo


que empowerment, que é um termo em inglês. Contudo, o segundo
é utilizado na língua inglesa com outra conotação, pois propõe que tal
transformação ocorreria de fora para dentro, o que é o oposto do que é
defendido por Freire, que seria de dentro para fora, fruto da conquista, da
tomada de consciência social e política por parte da população.

53
Unidade I

Para o serviço social, é importante você saber profundamente o que


significa o termo empoderamento. Faleiros e outros autores renomados em
nossa área já defendem que empoderar os sujeitos seria, de fato, nosso
objeto de intervenção como assistentes sociais.

Saiba mais

Leia o artigo “Questão social: objeto do serviço social?”, que está


disponível no sítio: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_quest.htm>, de
autoria de Edineia Maria Machado. Esse texto é fantástico, pois questiona
o objeto de trabalho do serviço social, que é, até então, tido como a questão
social. Ele traz uma nova discussão que ainda não foi aderida pela hegemonia
da profissão, mas ganha força e se propaga no meio profissional, que é o
empoderamento dos sujeitos ou empowerment.

Há duas perspectivas de gestão: da administração e do social, as quais você poderá identificar melhor
por meio das definições a seguir:

• gestão empresarial competitiva: é pautada na competitividade e na pressão por resultados (de


produção, de lucros) e, para tal, utiliza‑se de empreendedorismo empresarial, daí seu caráter de
racionalização.

• gestão social: é pautada na eficácia, na eficiência e na efetividade das ações. Para tal, volta‑se ao
empoderamento dos sujeitos, aos direitos sociais, à democracia e conta com poder de negociação
e articulação (redes) e está voltada para o empreendedorismo social.

Agora ficou mais claro, não é mesmo? Pois você já pode concluir que o serviço social segue a linha
da gestão social e não da administração empresarial competitiva.

Por isso o gestor social, como defendido aqui, precisa estar atento às dimensões diversas da gestão,
que deve abarcar o caráter político‑institucional, técnico‑operativo, psicossocial, educacional e agente
de mudanças. Sendo assim, o gestor não pode incorrer no erro de tratar a dimensão administrativa de
forma semelhante ao setor privado ou mesmo ao setor estatal.

Observação

O que é empreendedorismo social?

É uma ação inovadora para o campo social que acontece à medida que
fazemos leitura dos problemas locais e, a partir daí, elaboramos alternativas
de enfrentamento. Trata‑se do “negócio do social” que tem, na sociedade
54
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

civil e na parceria, envolvimento da comunidade, do governo e do setor


privado como o seu principal foco de atuação. Para você ser considerado
um empreendedor social, precisa analisar como está seu poder de iniciativa
em criar e inovar em sua comunidade. Para tal, precisa estar sensibilizado
com a causa, pois só assim é que há envolvimento efetivo e afetivo com o
que se faz. Além disso, um empreendedor consegue mobilizar os recursos
humanos e materiais existentes na localidade a fim de transformar e
contribuir para uma sociedade melhor. Todo empreendimento pode
fracassar, mas um bom empreendedor assume esses riscos e ousa, tenta
contribuir de alguma forma, criando e recriando alternativas de resolução
de impacto aos problemas sociais. Um bom empreendedor social busca agir
com a coletividade e, para tal, age com transparência com seus parceiros
e usuários.

Nesse sentido, a gestão social, na esfera estatal ou no terceiro setor, deve pautar‑se na busca da
emancipação e da autorrealização na vida social e também na concretização das potencialidades
individuais e/ou coletivas. De acordo com Tenório (1998, p. 7), gestão social é:

[...] um conjunto de processos sociais no qual a ação gerencial se desenvolve


por meio de uma ação negociada entre seus atores, perdendo seu caráter
burocrático em função da relação direta entre processo administrativo e a
múltipla participação social e política.

Além disso, Tenório (1998) diz que a gestão social deve contrapor‑se à gestão estratégica, devido ao
fato de esta última ser um tipo de ação utilitarista, embasada no

[...] cálculo de meios e fins e implementada através da interação de duas ou


mais pessoas na qual uma delas tem autoridade formal sobre a (as) outra (as).
É uma combinação de competência técnica com atribuição hierárquica, o que
produz a substância do comportamento tecnocrático (TENÓRIO, 1998, p. 10).

Complementando o conceito de gestão social, Maia (2005, p. 2) expõe que:

[...] gestão social é construção social e histórica, constitutiva da tensão


entre os projetos societários de desenvolvimento em disputa no contexto
atual. Assim a gestão social é concebida e viabilizada na totalidade do
movimento contraditório dos projetos societários – por nós concebidos
como desenvolvimento do capital e desenvolvimento da cidadania. Essas
duas referências de desenvolvimento apontam para distintas perspectivas
de gestão social, que se constroem também neste movimento contraditório.

Portanto, interligando os conceitos dos autores citados, quando falamos em gestão social, estamos
nos referindo à gestão das ações sociais de caráter público, que visam à amplitude da cidadania dos
sujeitos sociais. Tais ações, sejam em forma de programas ou projetos, são respostas às demandas e às
55
Unidade I

necessidades dos cidadãos. Por meio da gestão social é que se pode efetivar o acesso aos bens e aos
serviços sociais. Daí a necessidade de seriedade, compromisso ético‑político e clareza sobre o papel de
um gestor social nessa perspectiva. Além disso, são necessárias ferramentas adequadas para se efetivar
a gestão social.

Só há gestão social, se houver os gestores sociais. Assim, convido você para que conheçamos as
atribuições, as características e o papel de um gestor social.

4.2 Atribuições de um gestor social

Possivelmente, você, como futuro assistente social, poderá ter a oportunidade de ser um gestor de
políticas sociais e daí a importância de se apropriar das ferramentas para efetivar seu fazer profissional.
Você poderá contribuir com os gestores locais ou, ainda, poderá utilizar os conhecimentos para orientar
os usuários sobre a importância de seu papel na gestão social, o que veremos mais adiante.

Exemplo de aplicação

Você já parou para pensar se há diferenças entre gestor e gestor social? Não?! Pois isso merece
uma reflexão. Você está estudando as diferenças de lógicas da gestão. Gestão é gerir, administrar, é o
conjunto de atuações constituídas de previsões, planejamentos, organizações, comandos, coordenações
e controle, enquanto que gestão social é gestão das ações sociais públicas. A partir disso, analise adiante
o que é ser gestor, que difere de ser um gestor social, e relacione com a profissão de serviço social. Se
fizer isso, logo você projetará a que tipo de gestor aderirá na sua vida profissional.

Vejamos agora como o perfil de um gestor se difere do gestor social.

4.2.1 O que é ser um gestor e um gestor social?

Quando falamos em gestor e gestor social pode parecer que estamos nos referindo à mesma
coisa, mas não estamos! Basta que você tenha entendido as duas perspectivas de gestão trabalhadas
anteriormente para que agora aprenda sobre os tipos de gestor que as concretizam.

Gestor é comumente conhecido como:

• responsável (em algum grau) pela gestão;

• gerente;

• dirigente;

• aquele que tem funções gerenciais, ou seja, funções de gestão.

56
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

No entanto veremos que as atribuições e papéis de um gestor, ainda mais se for de um gestor social,
são bem mais amplos do que isso.

Comecemos compreendendo que, para ser um gestor, é preciso desenvolver algumas habilidades
fundamentais. Vejamos:

a) habilidade técnica: são conhecimentos necessários para executar as tarefas específicas no campo
de sua especialidade;

b) habilidade humana: é a capacidade de entender e liderar pessoas e cooperar e trabalhar com


elas. Não pressupõe a harmonia, mesmo porque, quando trabalhamos com pessoas diferentes, é
normal e até produtivo que tenhamos opiniões variadas. E é aí que está a habilidade: atuar entre
os dissensos e buscar os consensos com os membros do grupo.

Segundo Santana (2008), para se obter a magia do consenso, precisamos considerar cinco elementos
importantes:

• ter uma intenção em comum;

• estar disposto a compartilhar o poder;

• ter compromisso consciente e informado com o processo de consenso;

• possuir agendas sólidas;

• ter facilitação efetiva, ou melhor, ser um facilitador no processo.

Observação

Facilitador é o guardião do processo do consenso, é um dirigente‑servidor


cuja intenção é de que o grupo tome as melhores decisões possíveis.
Ele guia as discussões sem interferir diretamente nelas. Esforça‑se em
permanecer neutro e ser imparcial entre os membros do grupo, não age
com favoritismos. O facilitador não dá respostas, mas pode fazer perguntas
com a intenção de igualar a participação do grupo e para que o grupo
aclare ideias (SANTANA, 2008).

c) habilidade conceitual: é a capacidade de compreender e lidar com a complexidade de toda a


organização e de usar o intelecto para formular estratégias. É ter visão holística e lidar com
conceitos e raciocínios abstratos;

d) competência implementadora/executora: é a capacidade de ser criativo com ideias inovadoras.


Materializar essas ideias é outra habilidade que poucos conseguem, pois envolve todas as
57
Unidade I

competências citadas anteriormente mais o poder de efetivar, captar recursos, mobilizar recursos
humanos, materiais e assim por diante. É a capacidade de sair do idealizado para o concreto, para
a ação em si.

Para se caracterizar como um gestor social, você precisa, além das habilidades mencionadas, agregar
outras funções, responsabilidades e, principalmente, compromisso ético.

O papel do gestor social é bem diferente do gestor tradicional de empresas privadas. O primeiro prima
pela participação popular, cidadania, ampliação e acesso aos bens e serviços sociais, em uma sociedade
multifacetada e desigual. O que exige que tenha, sobretudo, poder de articulação e negociação.

Já o segundo prima pelo caráter competitivo, que busca metas de empreendimentos e lucratividade
nas organizações, o que está dentro de sua lógica organizacional.

É bom você compreender que, mesmo quando empresas privadas promovem políticas sociais, estão
carregadas de ações tuteladas, focais e que servem para a boa imagem empresarial. Em tempos de
desigualdade, pobreza e tantas mazelas sociais, as empresas que abraçam a cooperação, a solidariedade,
enfim, o social, sem dúvida têm maior mérito e, assim, conquistam mais consumidores e ainda alguns
incentivos fiscais por parte do governo.

Por isso, vale apontar que a gestão social não é a mesma coisa que o negócio do social, como
é propagado na lógica mercantilista. O que pretendemos destacar com isso é que mesmo políticas
sociais oriundas do segundo setor (empresas) merecem ser geridas sob a razão substantiva, pois são, de
alguma forma, respostas à sociedade e não podem ficar entregues à tutela e ao assistencialismo, nem à
tecnoburocracia de metodologias estratégicas.

Além das habilidades discutidas anteriormente, para uma efetiva gestão social, o gestor precisa
compreender o contexto social, econômico e político.

O poder de visão do todo é importante para gerir no sentido da transformação social. É preciso ser
criativo, articulador, observador, mobilizador, enfim, ser um sujeito social atuante, que exerça liderança
de forma descentralizada, pois tem o desafio e a incumbência de levar a entidade/organização a produzir
resultados para a sociedade. No entanto, não basta nomear‑se gestor social, é preciso efetivar‑se gestor
social por meio de metodologias de gestão social.

Portanto a característica fundamental que distingue as atividades do primeiro, do segundo e do


terceiro setor na gestão social é a lógica organizacional. Essa lógica fundamenta suas ações, tendo em
vista os objetivos a serem alcançados e a garantia de melhores resultados, assim como a visão de mundo
das pessoas em que se baseiam seus dirigentes.

Aderir ou não ao modelo estratégico de gestão não é o centro das discussões aqui. No entanto,
evidencia‑se como insuficiente para lidar com a subjetividade do ser humano e com temas como
cidadania, empoderamento, autonomia e assim por diante. O planejamento estratégico está na lógica
organizacional do segundo setor e, por isso, não foi pensado e construído para atender a tais demandas
58
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

e, muito menos, para estabelecer compromisso com tais dimensões das relações humanas. Portanto, o
grande desafio é nos apropriarmos de algumas metodologias administrativas e conseguirmos aplicá‑las
direcionadas para os princípios da gestão social defendidos aqui.

4.3 Eminência de novos princípios à gestão social

Compreender e intervir no social na perspectiva crítica e comprometida nos obriga a ir em busca de


novos princípios e metodologias que venham embasar uma prática social e ética.

Talvez você esteja se perguntando: como fazer isso na gestão social? De acordo com Dowbor (1999),
as tendências recentes de gestão social nos obrigam a repensar formas de organização social e a redefinir
a relação existente entre o político, o econômico e o social. Esse processo exige transdisciplinaridade nos
estudos devido à sua complexidade, fruto de vários pontos de divergência e convergência. Isso exige,
entre tantas coisas, a escuta dos diferentes envolvidos: os atores estatais, empresariais e comunitários.
Esse é, realmente, um universo em construção! Não temos modelos prontos, mas temos indicativos para
serem aplicados e desenvolvidos na prática de gestão social.

Pelo fato de ser um campo novo e desafiador, você precisa se situar no cenário da gestão social. Ela
ainda esbarra em muitos entraves que afetam diretamente sua efetivação com caráter mais técnico
e político. As políticas sociais, principalmente os programas sociais, raramente ficam a cargo de uma
única instituição, geralmente há uma pluralidade de organismos e atores envolvidos (instituições
públicas, privadas, funcionários, ONGs, usuários e tantos outros). A pluralidade deixa o cenário complexo
e dependente de uma hábil rede de negociação permanente entre os diferentes atores, o que pode
influenciar nos prazos e nos conteúdos dos programas.

Outro ponto de estrangulamento é a fragmentação da burocracia pública, seja por luta pelo poder
institucional, seja pelo poder pessoal, o que afeta diretamente o primeiro item que abordamos aqui.

Além disso, devemos considerar a baixa capacidade institucional e gerencial das instâncias
responsáveis pelas políticas sociais, o que atinge diretamente sua implementação, por falta de domínio
técnico, e também seu devido acompanhamento, monitoramento e avaliação, por falta de um sistema
de informação funcional.

Com base nesse contexto repleto de entraves para a efetivação da gestão social, diversos autores
defendem que é necessário haver mudanças no desenho da gestão de políticas sociais, as quais devem
ter como princípios inter‑relacionados:

• descentralização/municipalização das políticas;

• participação comunitária e popular na formulação, na decisão, no acompanhamento e na


fiscalização das políticas e dos programas;

• parceria entre o poder público e as entidades comunitárias e filantrópicas na execução de


programas.
59
Unidade I

Fique atento! Esses princípios mencionados permitiriam à gestão a adesão e a incorporação dos
diferentes atores de forma mais transparente. Assim os processos decisórios se tornariam mais públicos
e portadores de maior informação. Os recursos e as capacidades autônomas da comunidade e da
sociedade civil seriam potencializados. E, por fim, a probabilidade de acerto das intervenções sociais
(programas e projetos) seria aumentada.

Para que você trilhe esse longo e necessário caminho da gestão social, precisa fazer uso de algumas
ferramentas que viabilizem a efetivação desses novos princípios à gestão. Vamos ver quais são essas ferramentas?

4.4 Ferramentas de gestão social

Para você efetivar a gestão social com base nos princípios estudados anteriormente, é necessário
saber utilizar alguns instrumentos (ferramentas) que auxiliam nessa função. É importante você saber
que existem inúmeras ferramentas e diversas formas de utilizá‑las. Não há uma receita pronta de como
exercer a gestão social, pois a sociedade é dinâmica e as realidades locais são as mais diversas. Assim,
cabe ao gestor (possivelmente você) reinventar formas de fazer uso desses instrumentais técnicos.

O gestor é o principal responsável pelos resultados alcançados e pela execução das políticas. Para
tal, além de desenvolver a capacidade gerencial e política, deve utilizar adequadamente as ferramentas
gerenciais, eis a seguir algumas delas.

De acordo com Reis (1999), existem as ferramentas operacionais da gestão, ou melhor, o “como
fazer” ou “por onde começar” na prática da gestão social.

Você verá a seguir que é algo com uma lógica processual, que é preciso ser desencadeada no fazer
da gestão social, seguindo essas etapas em um processo contínuo e permanente.

• 1° – Conhecimento da realidade: consiste na análise situacional do ambiente, dos atores envolvidos,


do diagnóstico e prognóstico dos indicadores da situação e variáveis de influência.

• 2° – Decisão sobre a realidade diagnosticada: é o momento de procurar diferentes alternativas


para enfrentar a situação; buscar estratégia política para sua realização; decidir sobre os recursos
disponíveis/necessários para a realização da estratégia escolhida. Nessa etapa, é importante
você se atentar para estabelecer objetivos, metas, prazos, estimativa de custos, distribuição
de responsabilidades (equipe e outras instituições envolvidas), indicadores de resultados e de
avaliação e assim por diante. É a parte operativa do planejamento.

• 3° – Ação: é a implementação do que foi planejado. Devemos sempre exercer o controle,


questionando se o que foi planejado está acontecendo, de que forma, se está dentro do prazo e
assim por diante.

• 4° – Crítica: é o resultado final da avaliação, a qual deve estar presente durante todo o processo. É
quando se analisam os resultados alcançados, as lições que podem servir para novas ações e assim
por diante.
60
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Tendo como norte essas ferramentas operacionais da gestão, não parece ser tão difícil ser um gestor,
não é mesmo? E realmente não o é. Basta que persista, planeje e que se instrumentalize técnica e
politicamente para exercer a gestão social.

Contudo, você precisa ter claro que tais ferramentas servem para compreender e gerenciar
a complexidade ambiental e para solucionar conflitos que, possivelmente, aconteçam durante a
implementação de uma política, um programa ou um projeto. Elas devem permitir flexibilidade ao
gestor, pois sua atuação precisa adaptar‑se aos imprevistos.

A melhor forma para lidar com os imprevistos durante a implementação de programas, projetos
ou mesmo políticas sociais é fazer uso do devido monitoramento para intervir a tempo nos problemas
que venham a ocorrer ao longo do processo, com grandes chances de corrigir os rumos daquilo que foi
inicialmente planejado.

Além dessas ferramentas discutidas, há outras imprescindíveis para a gestão social, pois envolvem a
participação de atores internos e externos à organização (intraorganizacional e interorganizacional), que são:

• desenho e gestão da descentralização;

• desenho e organização de redes interorganizacionais;

• metodologias de participação (CKAGNAZAROFF, 2004).

Veremos a seguir mais detalhes sobre cada uma delas.

4.4.1 Descentralização na gestão social

O conceito de descentralização que enfatizaremos aqui é o que se refere à transferência de poder


decisório e de recursos do centro da unidade central de uma organização para suas unidades subalternas.

Para avaliarmos o grau de descentralização, é necessário que consideremos três dimensões: processo
decisório, política e serviços.

A descentralização no processo decisório é fundamental para dar autonomia ao gestor na tomada


de decisões, no entanto ainda é uma utopia na maioria das organizações.

Na prática, para avaliar o grau da descentralização no processo decisório, busque responder às


perguntas que expomos a seguir:

• sobre o que o gestor pode decidir?

• com que recursos políticos e administrativos o gestor pode contar para exercer suas funções?

• que influências ele tem nos processos decisórios dos níveis superiores? (CKAGNAZAROFF, 2004).
61
Unidade I

A descentralização política, sucintamente, pode ser entendida como de que forma o poder
político está influenciando as pessoas. É o momento de analisar o grau de envolvimento cidadão dos
sujeitos sociais com a comunidade, com a instituição regional, com a política social e mesmo com os
representantes políticos.

Portanto, para você avaliar a descentralização política, busque analisar as seguintes perguntas:

• existe algum envolvimento dos cidadãos na gestão da regional? Se positivo, como ele se dá?

• como se dá a relação entre a unidade descentralizada com a comunidade e políticos?

Já a descentralização de serviços refere‑se, resumidamente, à prestação de serviços compartilhada


entre os diferentes departamentos/setores que compõem a unidade descentralizada. Evite que os
usuários fiquem transitando de um setor ao outro sem ter sua demanda atendida. Para ficar mais fácil
perceber o nível de descentralização de serviços, busque respostas às seguintes perguntas:

• que serviços a administração regional pode prestar?

• como se dá a relação entre os diferentes departamentos da regional?

Na descentralização, é preciso haver o cuidado para não virem, concomitantemente, a fragmentação


dos serviços, a má gestão dos recursos, a má delegação de responsabilidades, entre outras consequências.
Nesse sentido, para evitar tais danos e prevalecerem os benefícios da descentralização, a gestão precisa
articular‑se com esquemas de intersetorialidade e participação, temas que estudaremos nos tópicos
subsequentes.

4.4.2 A pertinência da intersetorialidade e das redes na gestão social

Veja só, ainda estamos falando de ferramentas de gestão, por isso, é necessário que tenha
compreendido como a descentralização é importante em seus diferentes desdobramentos para uma
melhor gestão social. Agora, dando sequência, você aprenderá sobre a intersetorialidade na gestão
social, que também é uma ferramenta importante! Veja a seguir por quê.

Tanto a descentralização como a intersetorialidade têm como foco a territorialização.

Buscar implementar políticas, programas e projetos na perspectiva da intersetorialidade


significa que buscamos uma articulação de saberes e experiências nos diferentes setores em prol
de atender os cidadãos de forma mais abrangente, totalitária, tanto nas necessidades individuais
como nas coletivas.

62
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Saiba mais

Territoralização é compreendido aqui como reconhecimento da


particularidade do território e, por consequência, a identificação de
heterogeneidades regionais. Passou a ser enfocada a partir das décadas de
1980 e 1990 devido à sua possibilidade democratizadora. Leia mais sobre
esse assunto na Revista Serviço Social e Sociedade, n° 85, de março de 2006,
da editora Cortez. Lá, há um texto intitulado “Gestão pública intersetorial:
sim ou não? Comentários de experiência”, de Aldaíza Sposati.

Seria muito interessante que você fizesse a assinatura da Revista Serviço


Social e Sociedade, pois será de grande valia para seus estudos pelo fato
de nela serem publicados artigos diversificados! Para isso, acesse o sítio:
<http://www.cortezeditora.com.br>. Boas leituras.

Sposati (2006, p. 25), sobre a gestão intersetorial, afirma que:

A gestão intersetorial da ação pública não é algo absoluto ou por si só positivo.


[...] tem limites e possibilidades em sua aplicação. [...] A intersetorialidade
não pode ser considerada antagônica ou substitutiva da setorialidade. A
sabedoria reside em combinar setorialidade com intersetorialidade [...].

Assim, é preciso haver uma combinação e uma complementaridade entre setorialidade,


intersetorialiadade, territorialização, democratização e participação.

Se esses elementos forem utilizados separadamente, não produzirão um círculo virtuoso. Isso porque
cada um desses componentes, se utilizados separadamente e de forma fragmentada, não contribuirão
para a prática efetiva da gestão social. Só haverá êxito na gestão social, se esses elementos forem
buscados conjuntamente e inter‑relacionados.

Observação

Aqui, setor é compreendido como organização pública de um campo de


intervenção: saúde, educação, habitação etc. Tais campos têm profissionais
que utilizam seus conhecimentos para atender a um problema.

Ckagnazaroff (2004, p. 51) ainda vai mais além ao afirmar que:

63
Unidade I

O esforço de intersetorialidade leva a uma articulação tanto interna à


organização, entre diferentes departamentos ou setores, quanto externa,
com outras organizações, sejam do mesmo nível ou de níveis governamentais
diferentes, ou organizações privadas ou da sociedade civil. Este aspecto leva
à noção de rede.

Dessa forma, fica evidente que a intersetorialidade não pode ser considerada como contrária à
setorialidade, pois ambas são necessárias e se complementam na gestão social. Essa intersetorialidade
pode ser compreendida entre um setor e outro (saúde, assistência, justiça etc.) como também de uma
organização à outra. Analise comigo um exemplo prático disso: para trabalhar na área da criança e
adolescente, você precisa estar interligado à área da justiça (fóruns, delegacias especializadas e outros),
da assistência (programas, creches, serviços emergenciais) e tantos outros, já que as demandas que
possivelmente aparecem exigem essa intersetorialidade e comunicação permanente. Isso pode significar
parcerias com outras organizações que também atendem à criança e ao adolescente, que podem ser do
primeiro, segundo ou terceiro setor. Por isso, intersetorialidade nos remete às redes.

Exemplo de aplicação

Você se lembra do que estudou sobre as redes? Caso sim, parabéns! É sinal de que consegue fazer
a conexão dos conhecimentos, pois foi um assunto bem explorado no material didático do 5º período,
especificamente na disciplina Políticas Públicas e Redes Sociais.

Caso você não se recorde de muita coisa, retome seu material e reveja! Depois disso, reflita sobre as
possíveis redes que podem ser firmadas em sua cidade, de acordo com cada segmento social. Exemplo:
atendimento à mulher. Quais os serviços existentes? Quais são as organizações que atendem a esse
público? E assim por diante.

A concepção de rede com a qual estamos trabalhando aqui é a da perspectiva de intersetorialidade,


a qual abarca a inter‑relação entre as diferentes instituições por meio de parcerias em que se articulam
pessoas físicas e/ou jurídicas e organizações públicas e/ou privadas; em que ocorre a promoção
de relações interpessoais, intra ou interorganizacionais, intra ou intergovernamentais e intra e
intersetoriais com a finalidade de canalizar interesses para resolver questões em comum (BOGASON
apud CKAGNAZAROFF, 2004).

Mesmo idealizando as redes como forma de efetivar e otimizar a gestão social, temos muito a
avançar. Devemos reconhecer que ainda não perpassamos pela cultura da coletividade, pois estamos
presos nos interesses individuais e/ou isolados tão impregnados em nós e reforçados pelo liberalismo.
Contudo, é um desafio necessário para que os serviços sociais sejam mais bem geridos e complementares
entre um setor e outro da área social.

Falando em redes como alternativa para alcançar a defesa de interesses coletivos e superar o
individualismo, não poderíamos deixar de abordar outra ferramenta da gestão social, que coaduna com as
redes e que merece atenção especial – estamos falando da participação cidadã, que você estudará a seguir.

64
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

4.4.3 A participação cidadã como aliada da gestão social

Uma das habilidades exigidas para um bom gestor é a humana. Desenvolver e cultivar uma boa relação
interpessoal com usuários, equipe técnica e superiores na hierarquia institucional e interorganizacional
é de fundamental importância para o bom andamento das ações.

Cultivar uma boa relação interpessoal, em nenhum momento, quer dizer que você não irá se
contrapor ou não se posicionar diante dos demais sobre o que pensa de determinado assunto polêmico
pertinente ao desenvolvimento do trabalho, por exemplo. Ouvir as pessoas e ser ouvido com respeito é
o primeiro passo.

Em toda relação interpessoal existem divergências que podem ser canalizadas para o bem e não
para minar as relações. Quanto mais pensamentos diferente na hora de analisar uma questão para se
tomar uma decisão importante, menor a chance de errar, pois a visão da totalidade se amplia, mesmo
que imbuída de ambiguidades.

O bom relacionamento vai muito além da relação pessoal do gestor, já que envolve os principais
interessados no produto da ação, que são os usuários ou beneficiários, enfim, os cidadãos.

Portanto a gestão social precisa ser participativa! Precisa dividir o poder entre todos os grupos
envolvidos e proporcionar a possibilidade concreta de todos influenciarem na decisão, que deve ser
coletiva. A descentralização é uma forma de aproximar o governo e a instituição/organização dos
cidadãos, isto é, deixar com que o Estado e a sociedade civil atuem juntamente para definir prioridades
nas políticas públicas, visando ao direito do cidadão.

A incorporação dos diferentes atores e dos usuários nas diversas etapas dos projetos requer
metodologia e técnicas de trabalho, além de organização e apresentação de informações adequadas às
atividades participativas em comunidades e grupos populares.

Segundo Gandin (1994), cada vez mais se aproxima o tempo em que governar é coordenar o processo
de definição conjunta de rumos sociais e, conjuntamente, administrar os meios para seguir a caminhada
nos rumos estabelecidos. No entanto, a participação ainda oscila entre “manipulação das pessoas pelas
‘autoridades’, por meio de um simulacro de participação; a utilização de metodologias inadequadas,
com o consequente desgaste da ideia, e a falta de compreensão do que seja realmente a participação”
(GANDIN, 1994, p. 56).

Portanto não basta o discurso ou o “faz de conta” da participação, ela precisa ser efetiva e funcional.
O seu uso inadequado e manipulador já fez cair em descrédito esse termo, no entanto precisamos
buscar seu resgate por meio de metodologias de participação.

Para você conhecer e diagnosticar os níveis de participação que há de fato em determinado ambiente,
analise‑os com base nas definições de Gandin (1994). Veja como, a seguir.

65
Unidade I

• Nível da colaboração: é a metodologia mais usual, em que as pessoas são convocadas para
contribuir, trabalhar, dar seu apoio ou mesmo seu silêncio para que as decisões tenham bons
resultados. Pior é quando esse tipo de ação colhe sugestões e ideias que são acatadas ou
desprezadas de acordo com os chefes, o que ocasiona, naturalmente, a descrença das pessoas em
tal participação. Tal prática tem sua utilidade, contudo, não deve ser compreendida como única
forma participativa, pois, dessa forma, nem sequer poderia ser chamada de participação.

• Nível de decisão: quando o chefe leva a proposta à plenária para que todos decidam. Até aí, tudo
certo. No entanto, normalmente, levam‑se para decisão as coisas menores e desconectadas da
proposta mais ampla, o que é um engodo, pois já se vai para a decisão com respostas traçadas.

• Nível de construção em conjunto: é o momento mais avançado da participação efetiva, em


que todos opinam e decidem conjuntamente, sem sobreposição de ideias. Busca‑se o consenso
da maioria, de forma democrática. É o nível ainda mais difícil de ser atingido, mesmo quando
as pessoas o desejam, devido às imposições estruturais. Em geral, as pessoas não acreditam na
igualdade fundamental que existe em si, com a tendência de delegar ao mais sábio, ao mais forte
e assim por diante.

Todos os níveis de participação expostos são iniciativas democráticas e, por isso, já têm seu valor.
Mesmo as que se apresentem inicialmente precárias, já podem ser consideradas passos valiosos em
rumo da participação no nível de construção e decisão em conjunto, que é o ideal almejado. Para tal, os
passos precisam ser dados gradativamente.

Talvez você esteja se perguntando: como utilizar a participação como ferramenta de gestão social?
Para iniciar uma metodologia de participação efetiva, o primeiro passo é acreditar nas pessoas. Esse
crédito deve manifestar‑se em plano construído coletivamente sobre os anseios de todos. O plano, que
é a parte inicial do processo de planejamento, deve ter base na missão da organização.

Segundo Gandin (1994), reuniões são instrumentos indispensáveis para esse fim. Nelas, colhem‑se
e compilam‑se as ideias em conjunto. Claro que pode ser eleita uma comissão para esse fim. Na
organização das informações para a construção do plano coletivo, podem‑se utilizar apenas três critérios
para possível exclusão de algo:

• falta de clareza: só se deve incluir no plano o que se entende efetivamente;

• que não pertença à parte do plano que se está redigindo: aquilo que não caiba para o momento
é conveniente que seja retirado ou guardado para outro momento mais adequado;

• repetição: aquilo que já foi dito, mesmo que em outras palavras, não precisa ser repetido, daí é
aceitável e justificável sua supressão.

Assim, para o plano ser construído coletivamente entre os interessados, o respeito ao outro e às
diferenças de opiniões é fundamental. Portanto, é importante respeitar, não somente entender, ceder e
compreender, mas também aderir à decisão coletiva, mesmo que não seja aquela que você julga a melhor.
66
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

No entanto, no processo de planejamento participativo, convém distinguir os momentos de utilizar


a participação, já que há etapas bem técnicas que podem dispensar a participação direta, como aquelas
em que as decisões já foram tomadas em conjunto no plano, por exemplo. Veja, a seguir, o que compete
a todos, obrigatoriamente, no processo de participação e o que pode ser conduzido somente pela equipe
técnica.

• Todos: na participação, o que realmente importa, são as ideias e as opções que se constroem em
conjunto. O acompanhamento dos resultados disso tudo também precisa ser por parte de todos,
já que é o retorno das ações para a retomada de decisões, de forma cíclica.

• Equipe técnica: a definição de técnicas, instrumentos, modelos a serem utilizados pode ser feita
pela equipe coordenadora ou um coordenador, no caso de instituições pequenas.

Ressaltamos a você que, depois de obter o plano pronto, é necessário haver o feedback sistemático
dos encaminhamentos e dos resultados a todos os envolvidos. Dessa forma, o grupo pode acompanhar
e decidir os rumos, ou novos rumos, de acordo com as necessidades. Assim, o sucesso das intervenções,
a divisão de responsabilidades e o envolvimento de todos somam forças e legitimam as ações, pois
reduzem em muito a possibilidade de erros e, mesmo que haja, se forem monitorados e avaliados em
conjunto, poderão ser redirecionados, engrandecendo o processo e os resultados.

Todos esses elementos são determinantes para a efetiva participação e, se utilizarmos a metodologia
ZOPP, estaremos imbuídos de mais uma ferramenta importante para a gestão participativa. Vejamos a
seguir em que consiste essa metodologia.

4.5 Metodologia ZOPP (planejamento de projetos orientado por objetivos)

A metodologia de ZOPP foi criada na década de 1980 e veio para atender à necessidade de
encontrarmos formas de se efetivar a participação social nos processos de planejamento e gestão de
projetos. ZOPP é considerado um método contínuo, enquanto perdurarem as ações de determinado
programa ou projeto. Sua metodologia divide‑se em três grandes etapas, que apresentamos a seguir.

a) Etapa de análises: você já viu parte da análise no começo desta unidade, no item “Conhecimento
da realidade”. Agora aprimorará esse tema, conhecendo os detalhes e enfoques que devem ser
considerados para análise da realidade. Veja a seguir:

• análise dos envolvidos: identificação de todos os envolvidos, grupos, pessoas, instituições e


demais, que podem influenciar de alguma forma o programa ou projeto. Os instrumentos mais
utilizados para tal são a matriz de envolvimento, os mapas de relação, a matriz de forças e
poder, a análise organizacional etc;

• análise dos problemas: nesta etapa, o instrumento mais utilizado é a árvore dos problemas,
que contém as razões que determinam o desejo de mudança da situação presente para uma
nova situação futura. Com essa árvore, é possível ordenar, hierarquizar as causas e os efeitos
de um problema e representar o foco das preocupações de um grupo ou uma instituição. Nela,
67
Unidade I

em forma de diagrama, elege‑se o problema central, que fica no centro, suas causas, na parte
inferior, e os efeitos, na parte superior;

• análise dos objetivos: análise de aonde se quer chegar, qual é o futuro desejado em relação
à situação atual. Você pode utilizar o esquema da árvore em forma de diagrama aqui também,
denominada de árvore dos objetivos;

• análise de alternativas: gama grande de possíveis soluções. Aí elegemos a que consideramos


com maior chance de sucesso, em relação ao tempo e recursos de que dispomos, da sua
abrangência, entre outros fatores.

b) Etapa da concepção do plano: consiste na parte de sistematização do programa ou projeto. Para


iniciar, você precisa construir uma matriz do plano do projeto (MPP). Veja a seguir os elementos
que compõem essa etapa.

• Elaboração do plano do projeto: deve conter o objetivo global, o objetivo do projeto, os insumos,
os custos e os resultados esperados e as atividades ou as ações que serão utilizadas. Para medir os
resultados, é necessário já explicitar quais serão os indicadores de impacto, as fontes de verificação
(documento no qual são encontrados os dados da avaliação) e os pressupostos ou as suposições
que, normalmente, estão fora da governabilidade do projeto, porém são essenciais para seu êxito.

• Implementação do projeto: fase de execução do planejamento e operacionalização das


ações previstas. Aqui, são detalhadas as subatividades, tarefas, rotinas, metas, responsáveis
e executores de cada meta e pressupostos. Todas essas informações compõem o plano de
trabalho do projeto, na parte operacional do planejamento, além dos planos dos recursos
humanos, materiais e financeiros necessários para desenvolver o que se propõe.

c) Etapa dos resultados: é importante para essa fase que se dê atenção à monitoria e à avaliação,
etapas que podem compor um plano à parte, com metodologia adequada. Os resultados e demais
objetivos do projeto, assim como os pressupostos, precisam ser monitorados durante todo o
desenvolvimento do projeto, desde a fase de seu planejamento inicial.

A avaliação e o monitoramento permitem corrigir os rumos para que as ações tenham melhores
resultados. Estudaremos adiante detalhadamente sobre avaliação e monitoramento.

Saiba mais

Para você conhecer mais detalhadamente sobre a metodologia ZOPP,


leia o artigo:

MEDEIROS, N. N. Método ZOPP‑PCM: planejamento participativo.


Tubarão: Unisul, 2005. Disponível em: <http://amigonerd.net/exatas/
informatica/metodo‑zopp>. Acesso em: 15 out. 2013.

68
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

É importante, segundo a metodologia ZOPP, que se forme um comitê gestor participativo para que
se discuta sistematicamente e se tomem as decisões. Tal comitê deve ser composto por representantes
de todos os interessados/envolvidos no processo. O ideal é que façam parte desse comitê o coordenador
do programa ou projeto, a equipe técnica, o gestor local, representantes das instituições parceiras (se
for o caso) e, fundamentalmente, pessoas da comunidade, os usuários e/ou beneficiários dos serviços
sociais em questão.

Portanto, como você pôde perceber nesta unidade, a participação deve fazer parte da gestão social.
Há várias metodologias, ferramentas e instrumentos que viabilizam isso, como é o caso da ZOPP. Todas
são flexíveis e comportam a criatividade e a adaptabilidade.

Depois de aprender sobre algumas ferramentas da gestão, você passará, no próximo capítulo, a
outra ferramenta valiosa para o gestor social: aprenderá sobre técnicas para a elaboração de projetos
destinados à captação de recursos.

Para um gestor, além de saber elaborar um bom projeto, há alguns pré‑requisitos que fazem a
diferença na hora de buscar recursos para executá‑lo. Dominar tais elementos é fundamental na gestão
social. Há muitas dicas e técnicas para você, aproveite‑as bem!

Lembrete

O método ZOPP traz três grandes etapas: de análises, de concepção do


plano do projeto e de resultados, e deve ser estudado mais profundamente.

4.6 Planejamento: por que planejar?

Ao discutir os porquês do planejamento, Menegolla e Sant’Anna (1993, p. 18) afirmam que “a história
do homem é um reflexo do seu pensar sobre o presente, passado e futuro. O homem pensa sobre o que
fez; o que deixou de fazer; sobre o que está fazendo e o que pretende fazer”. Isso significa dizer que, no
uso de sua inteligência, ele sempre pensa e imagina o seu o que fazer.

Dessa forma, é fácil entender que o ato de pensar não deixa de ser um verdadeiro ato de planejar.
Todos, desde o momento em que acordam até o momento em que vão dormir, estão pensando e/ou
planejando o seu cotidiano.

Alguns planejam de forma sofisticada e/ou científica, outros, de forma simples, sem muitos esquemas
e elaborações técnicas. Com isso, justificar a importância e a necessidade do planejar não é tarefa difícil,
pois “o homem hoje e sempre fez e faz planejamento de suas ações”, afirmam Menegolla e Sant’Anna
(1993, p. 18).

Nessa perspectiva, Martinez e Oliveira Lahone, citados por Menegolla e Sant’Anna (1993, p. 18),
definem planejamento:

69
Unidade I

[...] como um processo de previsão de necessidades e racionalização de


emprego dos meios e dos recursos humanos disponíveis, a fim de alcançar
objetivos concretos, em prazos determinados e em etapas definidas, a partir
do conhecimento e avaliação científica da situação original.

Ao analisar essa definição, Menegolla e Sant’Anna (1993) destacam quatro elementos inerentes
a essa ideia. O primeiro é o do planejamento como um processo de prever necessidades. O segundo
elemento é o do planejamento como um processo de racionalização dos meios e dos recursos humanos
e materiais.

O processo de planejamento com vistas ao alcance de objetivos em prazos e etapas definidas é o


terceiro elemento. E, por fim, o quarto elemento, é o processo de planejamento que requer conhecimento
e avaliação científica da situação.

Sob a ótica de Baptista (2000, p. 13), o termo planejamento, na perspectiva lógico‑racional, é


entendido como um “processo permanente e metódico da abordagem racional e científica de questões
que se colocam no mundo social”. Ainda para essa autora, o planejamento, como processo permanente,
supõe ação contínua sobre um conjunto dinâmico de situações em um determinado momento histórico.
E, como processo metódico, supõe uma sequência de atos decisórios, ordenados em momentos definidos
e baseados em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos.

Assim, o planejamento refere‑se, ao mesmo tempo, à seleção das atividades necessárias para
entender questões determinadas e à otimização de seu inter‑relacionamento, levando em conta os
condicionamentos impostos a cada caso.

A dimensão de racionalidade do planejamento está fincada em uma lógica que norteia naturalmente
as ações das pessoas, levando‑as a planejar, mesmo sem perceber. Esse exercício, na concepção de
Baptista (2000), decorre do uso da inteligência em um processo de racionalização dialética da ação.

Nessa mesma perspectiva, Matus, citado por Baptista (2000), reforça que o planejamento é a tentativa
de viabilizar a intenção que o homem tem de governar a si próprio e ao futuro, ou seja, é um mecanismo
de impor às circunstâncias a força da razão humana. Nesse enfoque, conclui‑se, conforme Baptista
(2000), que o planejamento é a ferramenta para pensar e agir dentro de uma sistemática analítica
própria, estudando as situações, prevendo seus limites e suas possibilidades, propondo‑se objetivos e
definindo estratégias.

4.6.1 Programas e projetos: do planejamento à avaliação

A política, os programas e os projetos sociais, segundo Brant de Carvalho (2001, p. 16), são canais e
respostas às necessidades dos cidadãos. No entanto, antes de qualquer indagação, é preciso conhecer e/
ou diferenciar programas e projetos.

De acordo com as observações de Cury (2001), a política, o plano, o programa e o projeto têm uma
relação muito estreita.
70
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A política, definida como um processo de tomada de decisões, que se inicia com a adoção de
postulados gerais que depois são desagregados e especificados, dá origem ao plano, na medida em que
o primeiro relaciona meios e fins, concatenando‑os temporalmente. Por conseguinte, o plano

[...] fornece um referencial teórico e político, as grandes estratégias e diretrizes


que permitirão a elaboração de programas e projetos específicos, dentro de
um todo sistêmico articulado e externamente coerente ao contexto no qual
se insere (CURY, 2001, p. 41).

Ainda segundo Cury (2001), na sequência, o programa é um conjunto de projetos que buscam os
mesmos objetivos, ou melhor, é o aprofundamento do plano, é o detalhamento por setor das políticas
e diretrizes do plano. “Ele estabelece as prioridades nas intervenções, ordena os projetos e aloca os
recursos setorialmente”. Já o projeto

é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades


inter‑relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro
dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados (ONU, 1984
apud CURY, 2001, p. 41).

Concluindo, Cury (2001, p. 41) afirma que o projeto “é a unidade mais específica e delimitada dentro
da lógica do planejamento”.

Plano

Programas

Projetos

Figura 3

Desta forma, ao observar esta inter‑relação, percebemos que o planejamento perpassa e fundamenta
todo o processo.

Tendo o planejamento como foco, inevitavelmente algumas questões surgem, tais como:

• por que é tão importante planejar nossa ação?

71
Unidade I

• que relação é possível estabelecer entre o planejamento e a elaboração de programas e projetos?

• o mérito de um programa ou projeto depende do planejamento?

Essas questões podem ser desmistificadas se compreendermos que todo projeto deve passar,
necessariamente, por três momentos: o planejamento, a implementação e a avaliação. Cury (2001, p. 40)
afirma que “essas etapas estão intimamente relacionadas, possuindo o mesmo grau de importância. São
momentos que se imbricam, se inter‑relacionam, vão e voltam em um momento dinâmico, não linear”.

Nota‑se, a partir do que observa essa autora, que para a compreensão do processo de planejamento
de programas ou projetos sociais, é fundamental que este seja entendido como:

• um processo lógico: caracterizado por conteúdos e passos precisos, sistematizados, em um


encadeamento racional de seus elementos e ações;

• um processo comunicativo: pois o documento do projeto expressa o resultado de uma construção


coletiva, criando um consenso quanto a objetivos, estratégias e resultados;

• um processo de cooperação e articulação: na busca de novas parcerias e nas articulações com as


redes sociais.

Cury (2001) salienta, ainda, que essas três dimensões são perpassadas por uma dimensão pedagógica,
caracterizada pela possibilidade de descrever, analisar e sintetizar fatos e informações, reconhecer e
aceitar diferenças, saber trabalhar em grupo de maneira participativa etc.

Ainda sobre os três momentos vitais na elaboração e no desenvolvimento de projetos sociais, Cury
(2001) é categórica ao relatar que o reconhecimento dessa interdependência é absolutamente necessário
à eficiência, eficácia e efetividade da ação.

Observação

Segundo Cury (2001) o planejamento, no âmbito dos projetos sociais,


pode seguir uma sequência lógica:

• análise de contexto;

• elaboração de objetivos;

• estabelecimento de atividades;

• explicitação dos recursos físicos, financeiros e humanos;

• análise de possibilidade.
72
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Mas, afinal, esse movimento dinâmico não linear que representa os três momentos vitais na
elaboração de programas e projetos nos permitiria a identificação de cada um?

Podemos afirmar que sim. Cury (2001) descreve em sua obra que a avaliação tem início logo que
uma proposta de projeto é esboçada – avaliação ex‑ante.

No momento da implementação do projeto, o monitoramento sistemático das atividades e custos


fornece as informações necessárias não só para a avaliação final, mas também para todos os níveis
gerenciais. Isso possibilita, além do controle efetivo das ações em sua relação com os objetivos, prazos e
resultados, também a correção dos rumos, exigindo de quem planeja, um replanejamento que, não raro,
afetará custos, prazos e o desenvolvimento do projeto.

A verificação da viabilidade do projeto que se desenhou, também se define como o momento da


avaliação ex‑ante, que, antecipando a própria ação, verifica diante dos objetivos propostos os impactos
projetados sobre cada uma das alternativas de ação, quanto às estratégias, aos recursos, aos processos
e aos resultados pretendidos.

Para concluir, podemos afirmar que, na prática, não é correto separar o planejamento da
implementação e da avaliação de um programa ou projeto.

Isso equivale a destacar que esses três elementos estão inseridos em um processo altamente dinâmico
e coletivo.

Lembrete

Política: compromisso público de atuação em longo prazo, em


uma determinada área social, com objetivos gerais bem enunciados e
acompanhado de instrumentos de implantação.

Programa: conjunto harmônico de ações e projetos de intervenção em


uma determinada área ou setor social. É o instrumento de implantação de
uma política pública.

Projetos: intervenção ou conjunto de intervenções, em uma


determinada área ou setor social, com finalidades, objetivos, prazos, meios,
forma e área de atuação bem determinados e especificados.

4.7 Financiamento

4.7.1 Fatores que impulsionam a doação

“Quem doa, espera algo em troca” – essa afirmação é constante no meio de captação de recursos
e em outras instâncias que atuam na área social. Por isso o termo “doação” é visto com resistência
73
Unidade I

por muitos segmentos, principalmente os que buscam a emancipação política e econômica dos
sujeitos sociais.

Segundo Falconer e Vilela (2001), no uso corrente no Brasil, o termo “doação” está associado à ideia
de caridade, que não se distancia da esmola, ou da doação feita para o pedinte, que perpetua uma
relação de dependência.

O “algo em troca” pode ter quesitos mais variados, que perpassam desde a realização pessoal, busca
de aproximação e remissão com o divino, alívio de consciência, luta por uma causa social, ambiental e
assim por diante. Esses elementos impulsionam principalmente o voluntariado, no âmbito mais reduzido.

Na esfera do segundo setor, o “algo em troca” pode significar melhoria ou construção da imagem
“social” da empresa, aumento de produtividade ou de mercado etc.

Portanto, na captação de recursos, não podemos agir com ingenuidade em acreditar no “amor
altruísta” da maioria das organizações provedoras, já que elas defendem, primeiro, interesses individuais
para financiar ações para terceiros.

Vejamos a seguir alguns quesitos que merecem atenção especial para a captação de recursos das
fontes financiadoras.

4.7.2 Quesitos para captação de recursos

Para você conseguir captar recursos para intervir na área social, não basta apenas um bom projeto,
mesmo que esteja com sistema de avaliação e monitoramento adequado e sistematizado. É preciso
mais, é preciso conquistar parceiros que queiram financiar sua ideia.

Assim, segundo Falcão (2012), captar recursos não é vender um projeto, mas conquistar um parceiro.
Se tivermos um projeto consistente e bem elaborado e apresentarmos para a pessoa certa, na hora certa,
a chance de sucesso é bem maior. Falcão (2006, p. 3) ainda nos aconselha a

[...] buscar recursos através de todas as fontes disponíveis. As agências


internacionais governamentais ou não, disponibilizam para o Brasil milhões de
dólares; as fontes de recursos governamentais nacionais são as mais conhecidas
de todos, mas são muito mais burocráticas nos seus trâmites. Por isso, [...] a
iniciativa privada que disponibiliza mais de um bilhão de dólares e é mais simples
e objetiva tanto na solicitação de recursos, como na prestação de contas.

Como você pôde deduzir, há recursos para financiar projetos, seja do primeiro, do segundo ou do
terceiro setor, por isso você precisa conhecer essas fontes e buscá‑las no Brasil ou no exterior.

Entre as instituições que fazem doações para a área social, há as denominadas Grantmakers brasileiras,
que são organizações que pertencem ao terceiro setor. Segundo Falconer e Vilela (2001), as Grantmakers
no Brasil têm quatro características centrais:
74
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

• são privadas e sem fins lucrativos, ou seja, fazem parte do terceiro setor;

• oferecem doações para outras organizações sem fins lucrativos ou mesmo para pessoa física;

• são autônomas, formalmente independente na tomada de decisões, mesmo que sejam financiadas
por outros setores; têm conselho ou diretoria constituída legalmente;

• são controladas e operadas no país, mesmo que captem recursos no exterior.

Portanto, as Grantmarkers brasileiras fazem parte do próprio terceiro setor e têm uma sustentação
financeira que permite financiar outras ações, sejam de organizações/instituições, sejam iniciativas particulares.

Conheceremos a seguir algumas dessas Grantmarkers brasileiras as quais você poderá recorrer para
obter recursos a fim de desenvolver projetos na área social.

Lembrete

Identifique um especialista em captação de recursos, que deve ser


uma pessoa qualificada, que trará poucos resultados se não dispuser do
tempo e compromisso necessários ao trabalho.

Atualize a missão da organização e sua respectiva declaração.


Assegure‑se de que a sua missão corresponde realmente ao que sua
organização se propõe.

Avalie o que o mundo exterior pensa de sua organização. Quais


aspectos positivos e negativos eles veem? Essas informações serão
extremamente valiosas para o seu esforço de captação de recursos.

Avalie o que a família organizacional pensa da sua organização. Os


doadores sempre querem saber os pontos fortes e fracos, e toda organização
tem ambos.

Avalie os programas e serviços da organização. Mantenha uma lista


atualizada de todos os seus programas, projetos e serviços.

Torne a organização mais visível. As pessoas e organizações gostam


de apoiar iniciativas das quais já ouviram falar.

Reúna materiais descritivos. Essa técnica é fortalecida quando


se coloca algo nas mãos do patrocinador em perspectiva – uma bonita
brochura, cópias de artigos de jornal, um relatório anual, um vídeo etc. da
sua organização.
75
Unidade I

Comece a arrecadar fundos para a captação de recursos. Liste


cada fonte de recursos da organização e reveja esforços anteriores, como,
por exemplo, o último evento especial ou esforço de captação atingiu seu
objetivo? Exigiu tanto da equipe e voluntários que realmente não valeu a
pena?

Lembre‑se de que tentativa e erro são parte de qualquer esforço de


captação de recursos, mas não devem ser a estratégia de longo prazo para
o sucesso.

4.7.2.1 Fontes financiadoras

São muitas as fontes financiadoras a que você poderá recorrer para submeter seus projetos de
atuação na área social. Começaremos com Grantmakers brasileiras, muitas delas, talvez, você já tenha
ouvido falar.

Das Grantmakers brasileiras, expomos aqui as que se caracterizam como doadoras‑financiadoras na


área social.

• Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária;

• Cáritas Brasileira;

• Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris);

• Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese);

• Fase – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional;

• Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança;

• Fundação BankBoston;

• Fundação Belgo‑Mineira;

• Fundação Beneficente Heydenreich;

• Fundação Brasil Cidadão para a Educação, Cultura e Tecnologia;

• Fundação Clemente Mariani;

• Fundação CSN para o Desenvolvimento Social e a Construção da Cidadania;

• Fundação Educar Dpaschoal de Benemerência e Preservação da Cultura e Meio Ambiente;


76
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

• Fundação Feac – Federação das Entidades Assistenciais de Campinas;

• Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho;

• Fundação O Boticário de Proteção à Natureza;

• Fundação Odebrecht;

• Fundação Orsa;

• Fundação Otacílio Coser;

• Fundação Telefônica;

• Fundação Vale do Rio Doce de Habitação e Desenvolvimento Social;

• Fundo Cristão para Crianças;

• Instituto Ayrton Senna;

• Instituto C&A de Desenvolvimento Social;

• Instituto Credicard;

• Instituto General Motors;

• Instituto Itaú Cultural;

• Instituto Ronald McDonald de Apoio à Criança;

• Instituto WCF‑Brasil;

• Instituto Xerox;

• Vitae, Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social.

Fonte: Falconer; Vilela (2001, p. 43).

77
Unidade I

Saiba mais

Para compreender como as organizações citadas devem atuar uma


vez que recebem financiamento público, leia Caminhos da transparência,
disponível pelo link: <https://bvc.cgu.gov.br/bitstream/123456789/2567/1/
caminhos_da_transparencia.pdf>.

É importante você saber que as Grantmakers frequentemente têm relação


estreita com a elite econômica nacional e internacional, como empresas,
governos, religiões organizadas e outros atores sociais. Para que elas sejam
realmente autônomas, precisam desenvolver a capacidade própria de geração
de recursos, independentes dos outros dois setores: Estado e mercado. As
Grantmakers seriam a organização e a profissionalização da filantropia na
tentativa de substituir o assistencialismo das doações focais por práticas
voltadas para a realidade social mediante o financiamento de projetos sociais.

Falconer e Vilela (2001, p. 17) acrescentam que, “até hoje, as instituições financiadoras foram
estudadas apenas como fontes de recursos para o terceiro setor e não como componentes em si desse
setor”. Assim, há muitas organizações que se situam em uma linha muito tênue entre financiadora e
captadora de recursos, já que têm perfis mistos.

Seguem algumas das agências internacionais multilaterais que também financiam diversas áreas,
como saúde, educação etc.:

• OEA – Organização dos Estados Americanos;

• BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento;

• EU – União Europeia (ou Comunidade Europeia);

• PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento;

• FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação;

• OIT – Organização Internacional do Trabalho;

• UNAIDS – Programa das Nações Unidas para a AIDS;

• UNDCP – Programa das Nações Unidas para o Controle de Drogas;

• UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura;

78
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

• UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância;

• UNIFEM – Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher.

Além dessas instituições que financiam intervenções na área social, há muitas outras. Vale a pena
você se debruçar e estudá‑las exaustivamente. Estude missão, perfis de projetos aprovados, histórico
institucional, público‑alvo e assim por diante. Desse modo, você poderá escolher qual se adapta melhor
com a demanda que procura.

Saiba mais

Para obter mais informações sobre instituições que financiam projetos,


sugiro que consulte os seguintes sites:

• <http://www.abong.org.br> – Associação Brasileira de Organizações


não Governamentais (ABONG);

• <http://www.gife.org.br> – Grupo de Institutos Fundações e Empresas


(GIFE);

• <http://www.sebrae.com.br> – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas


Empresas (SEBRAE);

• <http://www.rits.org.br> – Rede de Informações para o Terceiro Setor


(RITS);

• <http://www.ethos.org.br> – Instituto Ethos;

• <http://www.ibts.org.br> – Instituto Brasileiro do Terceiro Setor (IBTS).

Também, poderá consultar livros específicos, como, por exemplo:

FALCONER, A. P.; VILELA, R. Recursos privados para fins públicos: as


grantmakers brasileiras. São Paulo: Petrópolis, 2001.

Esse livro traz o detalhamento de cada uma das organizações expostas


anteriormente que compõem as Grantmakers brasileiras, um verdadeiro
“resumão” das organizações com as quais são possíveis parceiras
financiadoras de seu projeto social. Mãos à obra!

79
Unidade I

Para a captação de recursos, segundo Falcão (2006), na hora de apresentar um projeto, é necessário
ter atitude profissional. Por esse motivo, pesquisas são fundamentais na captação de recursos para
determinar o que apresentar, para quem e quando e, ainda, ser apresentado pela pessoa certa. Para tal,
há três atitudes fundamentais que precisam ser consideradas na hora de buscar parceiros:

• não mendigar um “dinheirinho” na hora de procurar recursos, pois quem o faz, recebe trocados.
Quem procura recursos, deve propor um investimento para o investidor e, para tal, você precisa saber
que tipo de retorno ele está buscando (financeiro, imagem, satisfação pessoal, reconhecimento,
resultados, entre outros);

• procure não utilizar argumentos que interessam somente a você, pois a outra pessoa pode ter
interesses e motivações diferentes das suas;

• não tente vender miséria sob a argumentação de que a instituição está quebrada ou mesmo que
as crianças de determinada região estão passando necessidade, mesmo que isso seja verdade, não
precisa ser explicitado e superdimensionado. A lógica de quem investe, principalmente quando é
do segundo setor, é investir no sucesso e não no fracasso.

Além de você seguir todas as dicas anteriores, lembre‑se de buscar informações fidedignas sobre
o possível financiador, pois não há técnica ou dica que substitua o conhecimento de causa, tanto da
proposta que defende no projeto, quanto do perfil da fonte. Busque saber quais os critérios de seleção,
quais normalmente já são pré‑estabelecidos e de fácil acesso nos sites. Caso não esteja disponível, contate
a organização e informe‑se, pois, assim, poderá elaborar ou adaptar sua proposta/projeto para melhor
atender aos critérios da fonte financiadora e, consequentemente, ter maiores chances para obtenção dos
recursos. Normalmente, também são exigidos alguns documentos da instituição proponente para que o
convênio ou contrato seja celebrado, daí, a eminência em buscar essas informações logo no início, para ver
se a proponente se enquadra nos pré‑requisitos exigidos, os quais variam de uma fonte para outra.

Veja a seguir as especificidades dos recursos que são disponibilizados para financiamento de projetos.

4.7.3 As formas mais frequentes de concessão de financiamento

Quando você estiver pleiteando um financiamento, é importante atentar‑se para a forma de


concessão que será. Conforme especificado no Projeto Cerrado (2003), há três formas mais comuns de
concessão de financiamento, que expomos a seguir.

• fundo perdido: significa que não é reembolsável, ou seja, que o valor disponibilizado não precisará
ser devolvido total ou parcialmente;

• crédito ou empréstimo: significa que o valor deve ser devolvido à fonte financiadora, de acordo
com o contrato pré‑estabelecido. Frequentemente incidem juros;

• microcrédito: prevê também a devolução à fonte financiadora e difere‑se do crédito por financiar
pequenas quantidades, com foco em iniciativas e empreendimentos de pequeno porte e, em geral,
de base comunitária.
80
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Saiba mais

Em 1992, na Rio 92, por ocasião da assinatura do Tratado dos Cerrados,


nasceu a Rede Cerrado. Esse documento definiu compromissos entre seus
signatários para enfrentar as ameaças ao bioma, constituindo‑se como o
marco histórico e legal da Rede Cerrado.

A Rede Cerrado congrega organizações da sociedade civil que atuam na


promoção do desenvolvimento sustentável e na conservação do Cerrado. São
mais de 300 organizações identificadas com a causa socioambiental no bioma,
que representam trabalhadores e trabalhadoras rurais, extrativistas, indígenas,
quilombolas, geraizeiros, quebradeiras de coco, pescadores artesanais, entre
outros. A diversidade de atores comprometidos e atuantes no campo político
da Rede Cerrado é grande e, sem dúvida, seu maior patrimônio.

O objetivo principal da Rede Cerrado é a luta pela conservação do bioma


e a defesa de seus povos e comunidades tradicionais, promovendo justiça
social e sustentabilidade ambiental.

Para saber mais sobre o projeto do cerrado, acesse o site:

<http://www.redecerrado.org.br/>.

Mesmo com recurso do fundo perdido, normalmente é exigida prestação de contas de todo o
valor disponibilizado. Portanto, é importante que tenha organização e responsabilidade no uso desses
recursos. Peça nota fiscal de tudo que adquirir e mantenha a fonte financiadora informada da gestão
(aplicação dos recursos, resultados etc.) de acordo com os critérios pré‑estabelecidos por ela, sempre
com transparência e idoneidade. Por exemplo, quando a organização é uma fundação, o Ministério
Público exige prestação de contas severa, já as associações têm relativa autonomia. Enfatizamos, com
isso, que a prestação de contas faz parte do processo, que precisa estar organizado, sistematizado e
transparente, passível de ser apresentado a quem possa interessar ou a quem de direito for.

Portanto você pôde perceber que há uma diversidade de fontes financiadoras e formas de financiamento
para a área social. Explorar detalhadamente cada uma delas aqui ficaria inviável, mas é importante que
você busque mais informações sobre cada fonte. Ressaltamos que, além das citadas, há muitas outras que
você poderá mapear e buscá‑las como parceiras para o desenvolvimento de projetos sociais.

4.8 Monitoramento e avaliação

4.8.1 O Monitoramento

O Monitoramento é, segundo Brant de Carvalho (2001, p. 76), uma “fase de avaliação que se faz
durante a execução do projeto, buscando apresentar seus processos de implementação e execução”.
81
Unidade I

Assim, este deve acompanhar os processos e as atividades, com o objetivo de identificar problemas e
realizar ajustes, aprimoramento e/ou correções no seu desempenho.

A palavra monitoramento vem da palavra latina monere, que significa


alerta. [...] Em português tem se traduzido como monitoria e utilizado
como sinônimo de vigilância, acompanhamento, seguimento ou supervisão
(BUVINICH, 1999, p. 20).

Albuquerque, citado por Brant de Carvalho (2001, p. 77) observa que:

[...] sem dúvida as tarefas do acompanhamento não devem conceber‑se


como um objetivo em si mesmo, senão como uma ferramenta útil para
descrever o que se está fazendo e como. A importância do monitoramento
está em:

• obter toda aquela informação que, ao início, a meio caminho e uma


vez finalizado o programa, será necessária para avaliar seu impacto,
sua eficácia e eficiência;

• descrever a evolução das atividades do programa e desenvolvimento


da intervenção estabelecendo critérios sobre índices e relações de
acordo com um esquema e sequência pré‑determinados;

• identificar os pontos críticos na gestão e execução, permitindo


detectar problemas;

• alertar, aos responsáveis, sobre os riscos de implantar um programa


distinto do desenhado;

Por fim:

• facilitar a tomada de decisões sobre as ações corretivas a empreender;

• facilitar para a organização o cumprimento de seus objetivos e a


medição dos programas realizados para sua consecução.

A avaliação do sistema de acompanhamento deve examinar seu conteúdo, viabilidade e oportunidade,


determinando o grau em que ele contribui para a gestão diária do programa e a sua ótima execução.

Nesse sentido, é importante considerar que não é possível realizar o monitoramento de um projeto
ou programa sem que ele ofereça de forma clara alguns elementos: objetivos, metas e ações/atividades
propostas, haja vista que “o projeto é o instrumento que fornece as condições necessárias para o
acompanhamento”, afirma Brant de Carvalho (2000, p. 76).

82
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Sob determinado ponto de vista, o monitoramento é entendido como uma ação que envolve a
coleta de informações sobre insumos, produtos, atividades e circunstâncias que são relevantes para a
efetiva implementação do programa ou projeto.

Em outras palavras, para Buvinich (1999, p. 20), o monitoramento “fornece a informação e as


sugestões necessárias para que a gerência do programa verifique o progresso da implementação a fim
de tomar as decisões cabíveis”.

Nesse sentido, para a efetivação do monitoramento faz‑se necessário estabelecer, desde o início do
projeto, um sistema de informação operativo e gerencial que permita um acompanhamento processual.
Para tal efetivação, Brant de Carvalho (2001) salienta que algumas condições são necessárias, tais como:

• a especialização de objetivos e resultados, bem como a sequência de passos/ações indicando os


processos por meio dos quais o resultado é obtido;

• a definição de um sistema de informação que permita captar o seguimento do projeto;

• a utilização de indicadores que sejam estratégicos.

Por fim, nesta perspectiva, a autora supracitada (p. 78) ressalta que:

[...] a observação, o registro de fatos significativos, as reuniões com a equipe de


gestores e operadores do projeto, as reuniões com usuários ou beneficiários
do projeto, as reuniões com os parceiros (organizações complementares,
agentes comunitários e organizações que produzem projetos similares) são
meios usuais de pesquisa avaliativa nessa fase. Roteiro de entrevistas e de
reuniões, guia para monitoramento e acompanhamento, diário de campo,
fichas, quadros, mapas são instrumentos básicos para a coleta e o registro
das informações.

4.8.2 A Avaliação

A avaliação é muitas vezes percebida como uma etapa do processo de planejamento que se
expressa por um simples procedimento burocrático de prestação de contas, de fiscalização ou
pesquisa acadêmica.

No campo social, essa concepção precisa ser superada, pois a avaliação deve ser reconhecida como um
“dos processos indispensáveis na melhoria das decisões e ações”, afirma Brant de Carvalho (2001, p. 63).

Definir avaliação parece não ser difícil. Uma definição típica de dicionário diria que “avaliar é
determinar ou estabelecer o valor de algo” (WORTHEN et al., 2004, p. 77). Worthen et al. (2004) ainda
afirmam que, entre os avaliadores profissionais, não há uma definição de concordância unânime de um
sentido exato para o termo.

83
Unidade I

Entre as inúmeras definições mencionadas nesse material, adotaremos um conceito proposto por
Scriven citado por Worthen et al. (2004, p. 35), em que avaliação é entendida como “julgar o valor ou
mérito de alguma coisa”.

Porém, para se atribuir esses juízos de valor ou mérito, é importante o estabelecimento de critérios
ou padrões, por parte dos atores envolvidos na efetivação do processo.

O autor Bunivich (1999), observa a existência de um consenso quanto à avaliação de programas e


projetos sociais e destaca que os critérios devem orientar‑se pela verificação e análise da pertinência ou
relevância da intervenção; eficácia do alcance dos objetivos e metas; eficiência econômica e financeira;
pelo impacto gerado; e pela sustentabilidade.

O autor ressalta, ainda, que para cada um dos focos apresentados existe uma metodologia e forma
de coleta das informações.

Com isso, verifica‑se que a avaliação é um processo conduzido antes (fala‑se de avaliação ex‑ante),
durante e/ou depois da implementação do projeto ou programa, onde se efetua um juízo sobre seu valor
ou mérito considerando a relevância dos objetivos e estratégias, a eficácia (ou efetividade) no alcance
dos objetivos e metas esperados, a eficiência no uso de recursos e o impacto e a sustentabilidade da
intervenção. Dessa forma, a avaliação trata de:

I – examinar novamente, com juízo crítico, face às mudanças subsequentes.

a) Justificação lógica do programa em termos da adequação dos seus objetivos e estratégias.

II – comparar a consecução das metas reais com as estabelecidas.

III – verificar a eficiência dos procedimentos utilizados na execução do programa e da qualidade do


desempenho gerencial.

IV – determinar a eficiência econômica do programa.

V – determinar e traçar a causalidade dos efeitos e impacto do programa.

VI – identificar as lições apreendidas e propor recomendações de modo a reforçar os acertos e/ou,


se necessário, ajustar, reorientar e modificar objetivos, metas, arranjos organizacionais e recursos.

4.8.3 Monitoramento e avaliação

Respeitadas as suas especificidades, não poderíamos deixar de abordar e refletir sobre a ação
inter‑relacionada do monitoramento e da avaliação.

Em linhas gerais, tanto o monitoramento como a avaliação, com relação ao programa ou projeto
social, devem, segundo Brant de Carvalho (2001, p. 77) abarcar:
84
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

• os objetivos e o público‑alvo a que se destina a ação;

• o processo decisório sobre o projeto;

• a densidade do projeto, isto é, sua capacidade de inovação e adequação


às demandas;

• sua flexibilidade e sagacidade para introduzir alternativas de maior


eficácia no alcance dos resultados e impactos;

• a coerência entre os objetivos, as estratégias e os resultados propostos


pelo projeto;

• sua competência para garantir o avanço dos padrões de qualidade


almejados pelos usuários das ações das organizações;

• os sistemas gerenciais adotados e a capacidade de otimizar recursos e


competências organizacionais;

• sensibilidade para perceber disfunções geradas pela presença de


fatores novos ou imprevistos e a consequente capacidade de reação
ou adequação às novas situações impostas pela dinâmica da realidade;

• os produtos ofertados.

Assim, nota‑se que a principal articulação da avaliação com o monitoramento é que a primeira
(avaliação) utiliza os dados gerados pelo sistema da segunda (monitoramento). Com isso, podemos
concluir que sem um bom monitoramento é muito difícil efetuar uma boa avaliação.

Finalizando essa unidade, apresentamos um quadro que destaca a complementaridade entre o


monitoramento e a avaliação, reforçando a tese da interdependência entre as suas ações.

Quadro 2 – Comparativo entre as principais características do


monitoramento e da avaliação.

CATEGORIA MONITORAMENTO AVALIAÇÃO


Frequência Regular Episódico
Propósito principal Melhoria da eficiência do projeto Melhoria da efetividade do projeto
Insumos, produtos, processos, efeitos, planos Efetividade, relevância, impacto,
Foco de trabalho custo‑efetividade

Adaptado de: Bunivich (1999, p. 26).

85
Unidade I

Lembrete

Monitorar e avaliar são ações que visam ao acompanhamento do


impacto de ações que foram devidamente planejadas. Logo, são ações
dinâmicas e de fundamental importância para medir a evolução dessas
ações e para ajudá‑lo a perceber qual foi o seu aprendizado nesse
processo.

Resumo

Nesta unidade apresentamos a você princípios fundamentais, direitos e


responsabilidades preconizados pelo Código de Ética do Assistente Social.
Fizemos uma breve retomada sobre a origem do serviço social e o seu
posicionamento na defesa dos direitos humanos e na luta pela construção
de uma nova ordem societária, na qual prevaleçam a igualdade, a justiça
e a equidade social. Essa luta é assumida pela categoria profissional e está
explícita nos onze princípios elencados no Código de Ética de 1993.

Também trabalhamos o cotidiano como espaço de atuação do assistente


social e apresentamos considerações de alguns autores sobre a vida cotidiana.
Vimos que é no cotidiano institucional que se concretiza a práxis profissional
do assistente social. A práxis é uma categoria do fazer profissional que,
por meio do acúmulo de conhecimentos teórico‑metodológicos, contribui
para que esse profissional atue de forma sistematizada tendo como foco a
transformação social.

Abordamos algumas das questões éticas contemporâneas e, mais


precisamente, o posicionamento do serviço social frente a essa discussão.
A questão da ética no interior da profissão está em sintonia com os
diversos movimentos sociais em prol da vida e da emancipação humana.
Isso se configura mediante a proposta de efetivar o projeto profissional
dos assistentes sociais: o Projeto Ético‑Político. Compreende‑se que, sem
entendermos o significado desse projeto no seio da categoria, fica difícil
perceber o protagonismo da profissão no cenário contemporâneo.

Tratamos também da mediação como instrumento profissional e


suas implicações no serviço social, compreendendo‑a como categoria
da dialética que passa por três fases: singularidade, particularidade e
universalidade. A mediação é uma temática de cunho imprescindível para
a prática interventiva do assistente social que, ao se apropriar da realidade
dos usuários de seus serviços, atuará de forma compromissada. É essa a

86
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

grande contribuição da mediação para o serviço social: dar elementos


para que a profissão faça o diferencial na qualidade dos serviços que são
prestados à população.

Estudamos as concepções contraditórias sobre a gestão, que vai da lógica


econômica administrativa à social. A gestão, na perspectiva organizacional,
é voltada para a racionalidade, a competitividade e a pressão por resultados
(de produção, de lucros). Já a gestão social é pautada na eficácia, na
eficiência e na efetividade das ações. Para tal, utiliza da gestão para
fortalecer a cidadania dos sujeitos sociais, bem como seu empoderamento.
Há diferenças entre os tipos de gestores de acordo com as diferentes lógicas.
Para os gestores sociais, há muitas habilidades e competências para serem
desenvolvidas e efetivadas no fazer profissional, que incluem o domínio
técnico, teórico, político, administrativo e, principalmente, ético.

Os novos princípios da gestão social são: descentralização/


municipalização das políticas; participação comunitária e popular na
formulação, decisão, acompanhamento e fiscalização das políticas e
programas, e parceria entre poder público, entidades comunitárias e
filantrópicas na execução de programas. Todos esses princípios precisam
estar inter‑relacionados, pois se somente um ou outro for implementado,
a gestão social não terá êxito. As ferramentas utilizadas para a gestão
social variam de acordo com o contexto e a metodologia. Todas têm em
comum algumas fases importantes, como: conhecimento da realidade,
planejamento das ações com base na realidade intra e interorganizacional,
operacionalização das ações planejadas e monitoramento e avaliação. Todo
esse processo precisa ser participativo. Desde a fase que antecede as ações,
durante e após, deve‑se fornecer feedback aos atores envolvidos.

Conhecemos o método ZOPP, que traz grandes etapas de análises (de


concepção do plano do projeto e de resultados) e deve ser estudado mais
profundamente.

Entendemos o planejamento como sendo um processo dinâmico,


permanente e presente em nossas ações e rotinas. Aprendemos também
que o planejamento é uma ferramenta para pensar e agir dentro de uma
sistemática analítica própria. No campo de programas e projetos sociais, o
planejamento é de fundamental importância na garantia do sucesso das
ações. Enfim, você viu que, ao lado do planejamento, o monitoramento e a
avaliação são etapas de um mesmo processo.

Os fatores que motivam a doação no âmbito social variam de interesses


individuais até interesses organizacionais, portanto não podemos nos iludir
com a “bondade” dos agentes financiadores.
87
Unidade I

Você pôde ver que há muitas fontes financiadoras. Tanto no Brasil


como no exterior, no entanto, ninguém dá algo sem esperar um retorno.
Esse retorno pode ser realização pessoal, aproximação e remissão com o
espiritual. Essas motivações são as que impulsionam, além das doações/
financiamentos da área social, também o voluntariado. Já para as
organizações, o retorno pode vir por meio de melhoria da imagem no
mercado, marketing e assim por diante. Entre as fontes financiadoras, há as
nacionais e as internacionais como possíveis parceiras em projetos sociais
que buscam a captação de recursos. Há que se considerar algumas dicas,
como, por exemplo, devem ser consideradas para a captação de recursos:
não mendigar “um dinheiro”, não utilizar argumentos que interessam
somente a você, não tentar vender miséria, pois a lógica de quem investe,
principalmente quando é do segundo setor, é investir no sucesso e não
no fracasso, expor as motivações do projeto de acordo com os objetivos
do financiador, para tal, precisa‑se conhecê‑lo com profundidade (missão,
áreas de atuação, público‑alvo e assim por diante).

Por fim, vimos as diferenças entre monitoramento e avaliação.


O monitoramento pode ser compreendido como um fornecedor de
informações sistematizadas durante a implementação dos projetos para
o sistema de avaliação. A avaliação é mais ampla, pois inicia juntamente
com o planejamento das ações, permanece durante a implementação e
se mantém até o final da execução e, ainda, pode persistir após o final
das atividades previstas. M&A estão inter‑relacionados, porque um
interdepende do outro.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2010) O Serviço Social é uma das poucas profissões que possui um projeto
profissional coletivo e hegemônico, denominado Projeto Ético‑Político Profissional, que foi gestado
no interior da categoria profissional e que expressa seu compromisso com a construção de uma nova
ordem societária, mais justa, democrática e garantidora de direitos universais.

Fonte: CFESS. Código de Ética profissional do assistente social (Resolução 273/93).

O projeto mencionado no texto tem seus contornos claramente mencionados na Lei nº 8.662/1993,
que assegura ao assistente social o direito de:

A) Desempenhar suas atividades profissionais com eficiência e responsabilidade, observando a


legislação em vigor.

B) Utilizar, no exercício da profissão, seu número de registro no Conselho Regional.

88
SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

C) Abster‑se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da


liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência a órgãos competentes.

D) Aprimorar seu conhecimento profissional de forma contínua, colocando‑o a serviço dos princípios
estabelecidos no próprio Código.

E) Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública no atendimento


e na defesa de seus interesses e necessidades.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com o Código de Ética, desempenhar suas atividades profissionais com
eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor, é um dever do profissional de Serviço
Social.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com o Código de Ética, utilizar, no exercício da profissão, seu número de
registro no Conselho Regional é um dever do profissional de Serviço Social.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com o Código de Ética, a abstenção, no exercício da profissão, de práticas que
caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade e o policiamento dos comportamentos, denunciando
sua ocorrência a órgãos competentes, é um dever do profissional de Serviço Social.

D) Alternativa correta.

Justificativa: de acordo com o Código de Ética, aprimorar seu conhecimento profissional de forma
contínua, colocando‑o a serviço dos princípios estabelecidos no próprio código, é um direito do
profissional de Serviço Social.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com o Código de Ética, participar de programas de socorro à população em


situação de calamidade pública no atendimento e na defesa de seus interesses e necessidades é um
dever do profissional de Serviço Social.

Questão 2. (Enade 2010) De acordo com o Código de Ética Profissional (Resolução CRESS 273, de
13/03/93), que prevê, em seu capítulo V, artigo 18, o sigilo profissional como direito do assistente social
89
Unidade I

e a proteção ao usuário quanto ao teor revelado em decorrência do exercício das funções profissionais,
permite‑se a quebra do sigilo apenas:

A) Diante de solicitação expressa dos familiares do usuário.

B) Diante de solicitação dos responsáveis pela preservação dos interesses institucionais.

C) Mediante autorização expressa da organização prestadora de serviços sociais.

D) Perante situações cuja gravidade possa prejudicar interesses da coletividade.

E) Em situações em que a revelação de detalhes se faça necessária para dirimir conflitos.

Resolução desta questão na plataforma.

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