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Serviço Social

Interdisciplinar
Autora: Profa. Daniela Emilena Santiago
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Glaucia Aquino
Professora conteudista: Daniela Emilena Santiago

Daniela Emilena Santiago é assistente social graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), possui
pós‑graduação em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP) e é
mestre em Psicologia pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis-SP. Atualmente, é
funcionária pública municipal, atuando como assistente social junto à Secretaria Municipal de Promoção Social do
município de Quatá – SP. Também exerce a função de docente no curso de Serviço Social da Universidade Paulista
(UNIP), campus de Assis-SP.

Além das experiências acima relatadas, a docente exerce a função de líder na Universidade Paulista, e tal função
pressupõe muita leitura dos conteúdos destinados à formação do Serviço Social para posteriormente colaborar
na elaboração dos planos de ensino e demais intervenções que se façam necessárias para a formação dos futuros
assistentes sociais. Essas intervenções são empreendidas tanto junto aos cursos de graduação na modalidade presencial
quanto nos cursos de graduação na modalidade a distância.

Partindo disso, e tendo em vista sempre a qualidade prestada para essa formação, elaborou o presente livro-texto
que irá trabalhar os conceitos relacionados à disciplina Serviço Social Interdisciplinar, sendo essa mais uma disciplina
fundamental para a formação profissional.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S235s Santiago, Daniela Emilena

Serviço social interdisciplinar / Daniela Emilena Santiago. - São


Paulo: Editora Sol, 2014.
88 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-033/14, ISSN 1517-9230.

1. Serviço social. 2. Interdisciplinaridade 3. Práticas


Interdisciplinares I.Título.

CDU 364

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Sueli Brianezi Carvalho
Amanda Casale
Sumário
Serviço Social Interdisciplinar
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 INTERDISCIPLINARIDADE: HISTÓRIA, CONCEITUAÇÃO E PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES
SOBRE O TEMA..................................................................................................................................................... 11
1.1 História e interdisciplinaridade........................................................................................................ 11
2 A CONCEITUAÇÃO ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE.............................................................. 20
3 AS DIFERENCIAÇÕES ENTRE OS CONCEITOS: MULTIDISCIPLINARIDADE, A
PLURIDISCIPLINARIDADE E A TRANSDISCIPLINARIDADE.................................................................... 34
4 OS PROCESSOS DE TRABALHO, O TRABALHO COLETIVO E A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA
INTERDISCIPLINAR............................................................................................................................................... 42
Unidade II
5 A INTERDISCIPLINARIDADE E O SERVIÇO SOCIAL.............................................................................. 55
5.1 História da interdisciplinaridade junto ao Serviço Social..................................................... 55
6 CONCEITOS SOBRE INTERDISCIPLINARIDADE QUE NORTEIAM A PRÁTICA
CONTEMPORÂNEA............................................................................................................................................... 60
7 A LEGISLAÇÃO QUE DEVE ORIENTAR A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL............................... 66
8 EXEMPLOS DE PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES POSTAS PELO SERVIÇO SOCIAL................... 74
APRESENTAÇÃO

A disciplina Serviço Social Interdisciplinar tem como objetivo geral propor um espaço de reflexão
crítica sobre a questão da interdisciplinaridade, produzindo novos saberes identificados com o exercício
profissional compromissado com as classes as quais atende.

Ou seja, esses novos conhecimentos devem ser orientados para a atuação, para a prática profissional.
Tal prática, por sua vez, deve ser guiada no sentido de defender o compromisso ético-político assumido
por toda nossa categoria profissional e que, como sabemos, trata da defesa das classes e segmentos
menos favorecidos economicamente em nossa sociedade.

A interdisciplinaridade se manifesta no serviço social em toda sua fundamentação teórica, que


provém em grande medida da interlocução com outras áreas de conhecimento, tais como a sociologia,
a psicologia e outras afins. Essa interlocução resulta em uma sistematização teórica que influencia toda
a profissão, tanto em sua teorização quanto, sobretudo, em sua prática.

Na verdade, como poderemos observar no decurso deste livro-texto, a prática interdisciplinar é


uma tendência contemporânea e que tem trazido influência para todas as profissões. Essa influência
também vem sendo experimentada pelo serviço social em suas mais diversas áreas de atuação e práticas
profissionais, como também poderemos observar no decorrer desse trabalho. É importante ressaltar que
a prática interdisciplinar pressupõe alguns preceitos básicos que, dentre os quais, podemos destacar:

• o que podemos compreender por tal conceito; e


• quais são os dispositivos legais que devem orientar o desenvolvimento dessas práticas.

Por isso, com esse material, propomos que você seja instruído sobre a prática interdisciplinar e
esperamos que você, aluno, possa compreender os conceitos que seguirão e realizar uma reflexão crítica
sobre os temas aqui tratados, entendendo a importância que o compromisso ético-político da profissão
assume frente a muitas questões.

INTRODUÇÃO

O momento que vivemos é um momento pleno de desafios. Mais do que


nunca, é preciso ter coragem, é preciso ter esperanças para enfrentar o
presente. É preciso resistir e sonhar. É necessário alimentar os sonhos e
concretizá-los dia a dia no horizonte de novos tempos mais humanos, mais
justos, mais solidários (IAMAMOTO, 2001, p. 17).

Parafraseando de Iamamoto (2001), é o tempo do desafio, das mudanças a serem processadas no


âmbito da atuação profissional, na qual devemos abandonar os velhos hábitos antes adotados e devemos
nos dirigir para outra direção, outro caminho profissional. Nesse caminho, faz-se necessário ter coragem
para se dirigir a outras formas de saber e assim enfrentar a realidade presente que tem nos trazido
nossa profissão em virtude das mudanças empreendidas no âmbito do trabalho. Essas ações buscam

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colaborar para a construção de tempos mais humanos, e tal humanização irá resultar em melhoria para a
qualidade do serviço prestado e também para o amadurecimento profissional. Como já sinalizamos, este
material abordará o trabalho interdisciplinar e seu desenvolvimento no serviço social, e isso representa
uma possibilidade de conhecer outros saberes provenientes de outras profissões. Significa, assim, mais
uma vez, uma tentativa de travessia em direção a uma melhor qualidade do serviço prestado e uma
qualificação da profissão, abandonando hábitos já cristalizados na prática e na intervenção profissional.

Para tanto, iniciaremos nosso trabalho com uma discussão sobre desenvolvimento histórico. Para
isso, será fundamental também compreender como a produção do conhecimento foi se desenvolvendo
no decurso da história.

Na sequência, discorreremos sobre a compreensão da interdisciplinaridade na atualidade, ou seja,


o que podemos entender como uma prática interdisciplinar, realizando, assim, uma diferenciação com
outros conceitos que também influenciam a constituição das profissões hoje em dia, tais como a questão
da multidisciplinaridade, a pluridisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Essa compreensão também
será balizada por inferências que demonstram que a prática interdisciplinar se manifesta também na
área da pesquisa científica e da produção de conhecimento.

Decorrente dessa conceituação inicial, também discutiremos prováveis dificuldades que são
observadas para que a elaboração de conceitos interdisciplinares aconteça, e mais, para que a prática
de tal natureza também se efetive. Essa compreensão virá delimitada pela percepção sobre a atual
configuração das profissões e das novas exigências decorrentes dos processos sociais, econômicos
e culturais que se apresentam em nossa sociedade. Tais conceitos serão inicialmente tratados na
Unidade I.

Na sequência, partindo para a Unidade II, realizaremos uma discussão sobre a prática interdisciplinar
junto ao serviço social. Iniciaremos, assim, uma reflexão sobre a interdisciplinaridade e os conceitos
apresentados dentro da profissão, realizando, inclusive, uma breve retrospectiva histórica sobre o tema
trabalhado. É importante saber que o serviço social possui uma natureza interdisciplinar que vem
fundamentada em sua própria teorização.

Em seguida, enfatizaremos a importância de tal prática estar vinculada aos ideais afirmados pelo
compromisso ético-político do serviço social, assumido, como sabemos, por toda categoria profissional.
Destacaremos, ainda, a importância que fenômenos econômicos e sociais assumem ao influenciar a
constituição das profissões na atualidade, ascendendo num perfil profissional esperado dos assistentes
sociais. Elencaremos ainda as principais legislações que devem orientar a ação interdisciplinar do serviço
social e, finalmente, mostraremos exemplos de práticas profissionais desenvolvidas sob o enfoque da
interdisciplinaridade.

É importante reforçar que, nesse trabalho, haverá uma série de exercícios que versarão sobre o
conteúdo tratado em cada unidade. Recomendo que realize esses exercícios a fim de checar a
apreensão dos conteúdos apresentados. Sobre essas atividades, é importante observar que algumas
foram elaboradas para este livro-texto e outras foram extraídas de concursos públicos. Essa forma de
organização foi adotada para que você possa observar que o conteúdo que está estudando, além de
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possuir relação estreita com sua prática profissional futura, também tem sido objeto de avaliação de
concursos e seleções para assistente social em órgãos competentes de todo território nacional.

Metodologicamente, o trabalho foi composto por meio da leitura de livros e artigos sobre os assuntos
abordados. Partindo da conceituação inicial, foram elaborados exercícios e inseridos imagens e links de
sites que possuem relação com o conteúdo tratado nesse livro-texto. Esperamos, assim, contribuir com
a compreensão do tema desta matéria.

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Unidade I
1 INTERDISCIPLINARIDADE: HISTÓRIA, CONCEITUAÇÃO E PRINCIPAIS
CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA

Nesta primeira parte, iniciaremos as discussões sobre nosso tema de estudo. Assim, vamos expor
informações sobre o desenvolvimento da interdisciplinaridade, destacando aspectos sobre a prática
interdisciplinar. Na sequência, conceituaremos “interdisciplinaridade” e destacaremos suas distinções
daquilo que pode ser entendido como “multidisciplinar”.

Concluiremos com a definição acerca das atuais configurações do trabalho na sociedade moderna,
destacando a relevância que assume nesta sociedade o trabalho em equipe. Também serão tecidas
algumas considerações sobre a noção de processo de trabalho e sobre o conceito de trabalho coletivo,
que nos permitirão compreender que mesmo as práticas que desenvolvemos individualmente possuem
uma direção para o processo produtivo global.

Assim sendo, iniciaremos com o aspecto histórico. Gostaríamos de convidar você, aluno, para que
leia com atenção a essas exposições, tendo em vista a importância delas em seu processo formativo.

1.1 História e interdisciplinaridade

Como já dito, realizaremos uma reflexão teórica sobre o desenvolvimento histórico da


interdisciplinaridade, de suas sucessivas construções até se aproximar do conceito que estamos
pretendendo conhecer por meio desses estudos.

Mas antes de iniciarmos nossos estudos sobre a história da interdisciplinaridade, observe a imagem
abaixo e reflita:

Matemática
Português

Ciências
Física

ariedade
e rd is ciplin
Int
História
Inglês

Geografia
Química

Figura 1

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Unidade I

Esta imagem retrata um processo de educação desenvolvido de forma interdisciplinar, por meio
do qual são congregados conhecimentos de diversas áreas, ou disciplinas. Essa representação torna-
se cada vez mais uma constante no processo educativo, porém, nem sempre o processo educativo foi
organizado de tal forma, conforme detalharemos.

Assim, prezado aluno, convido você a conhecer o desenvolvimento histórico de tal conceito e
esperamos que seja possível compreender que o ensino interdisciplinar e a prática de tal natureza
apresenta um caráter cronológico.

Para que possamos compreender esse desenvolvimento histórico, precisamos entender como
o conceito se desenvolveu no âmbito da produção de conhecimento, ou seja, observar como a
interdisciplinaridade passou a ser compreendida dentro da produção do conhecimento. Assim, será
possível realizar uma análise do desenvolvimento do conceito interdisciplinar na prática profissional.

Tomando como respaldo a realidade brasileira, é importante apontar para o fato de que, segundo Alves
et al. (2004), há atualmente dois paradigmas que são vinculados e que explicam o desenvolvimento da
interdisciplinaridade como uma forma de produção do conhecimento. Tais paradigmas são denominados
“filosofia do sujeito” e “marxismo”.

Para aqueles paradigmas que estão vinculados à filosofia do sujeito, o conhecimento é compreendido
de forma idealista, sendo que tal forma de compreensão pressupõe a autonomia do sujeito e das ideias
no processo de construção do conhecimento em relação ao objeto de estudo. Tal forma de compreensão
envolve o sujeito como absoluto na construção de conhecimento, e possui como representantes Hilton
Japiassu1 e Ivani Fazenda2. Para esses autores, a interdisciplinaridade demanda a constituição de equipes
de pesquisa, e essas equipes deveriam ser compostas por profissionais de diversas áreas do saber (ALVES
et al., 2004).

Já a compreensão marxista sobre a interdisciplinaridade diz que ela deve ser entendida, segundo
Alves et al. (2004), dentro dos modos de produção que a sociedade encontra para ter suas necessidades
contempladas. Essa corrente propõe ainda que o conhecimento interdisciplinar deve ser também
pensado com base no desenvolvimento histórico da humanidade, e tem como principais representantes
Ari Jantsch e Lucídio Bianchetti.

Nesta apostila, vamos expor a questão da interdisciplinaridade das duas correntes, especificamente
quando conceituarmos tal fenômeno. No entanto, para realizarmos a retomada do desenvolvimento
histórico do conceito estudado, recorreremos principalmente às informações trazidas por Ivani Fazenda,
além de outros autores, como poderemos observar.

Em seu livro, Fazenda (1994) apontou as principais informações sobre obras e trabalhos que foram
sendo escritos por diversos autores provenientes da Itália, restante da Europa e da Organização para a

1
Hilton Japiassu é um importante filósofo maranhense que tem diversos escritos sobre interdisciplinaridade, conforme veremos.
2
Ivani Fazenda é uma teórica brasileira vinculada a Pontifícia Universidade Católica (PUC) – São Paulo e que tem uma série de publicações
sobre interdisciplinaridade direcionada à educação.

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Cooperação e Desenvolvimento Econômico3 (OCDE) além de realizar apontamentos sobre a evolução do


conceito também no Brasil.

Esses trabalhos demonstram como o conhecimento junto às ciências humanas passa a ser
compreendido como de natureza interdisciplinar. A autora nos fala que é impossível estabelecer uma
linha rígida de desenvolvimento da interdisciplinaridade, mas com recorrência aos textos produzidos
por diversos autores torna-se possível uma compreensão sobre tal fenômeno.

Acerca desse trabalho, cabe ainda destacar, prezado aluno, que se trata de um trabalho que foi escrito
tendo como foco a pesquisa e a prática interdisciplinar desenvolvida na área educacional. Apesar disso,
as contribuições destacadas por Fazenda (1994) são extremamente valiosas e precisam ser observadas,
aliás, é notório destacar que vivenciamos no serviço social uma baixa produção de livros e mesmo de
artigos que tratam desse tema, o que torna fundamental recorrer a outros autores, tais como os que já
destacamos e os que destacaremos no decorrer desse livro-texto.

Jantsch & Bianchetti (1995b) dizem que a compreensão da produção do conhecimento e da ciência,
em protoformas iniciais, remete-nos à cultura grega, pioneira nesse sentido. Esses autores apontam que
o conhecimento, em tal sociedade, era orientado de forma a desconsiderar as especificidades, ou em
suas palavras

[...] O objeto epistemológico simplesmente era o conhecimento, que podia


se desdobrar em subdivisões, sem que isso evocasse a fragmentação ou a
necessidade de totalização ou retotalização desse conhecimento (op. cit.,
p. 184).

Ou seja, o que importava nessas sociedades era o conhecimento em si.

As concepções do povo grego sinalizam para a compreensão disseminada na Antiguidade sobre a


produção do conhecimento, período que, como sabemos, tem seu início estimado em meados do século
VIII a.C. e seu final estimado em meados do século V d.C. Distanciando um pouco das ideias do povo
grego, Aristóteles, apesar de também ser grego e de vivenciar o mesmo período, começa a enfatizar a
importância da preocupação, da atenção especial para com as especificidades no sentido da produção
do conhecimento (JANTSCH & BIANCHETTI, 1995b).

Os avanços acerca da importância de se considerar as especificidades postas por Aristóteles foram


suprimidas durante Idade Média. Nesse período, que tem seu início em meados do século V e entra
em declínio no século XV, a Igreja se tornou hegemônica no sentido de decidir o que poderia ser
definido como conhecimento. Nesse período, era a Igreja que definia basicamente todas as normas e
regras da vida em sociedade. Para a Igreja, o conhecimento era organizado em favor da unidade, por
meio de paradigmas universais, sendo que tais paradigmas não poderiam, em hipótese alguma, ser
contrariados.

3
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou OCDE é uma organização composta por 34 países ricos que foi criada
na década de 1960 e que busca auxiliar países emergentes.

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Unidade I

No século XVI, com início da Idade Moderna, é inaugurado também o início do sistema capitalista e, a
partir de então, a Igreja perde sua hegemonia no que diz respeito à produção do conhecimento. Partindo
desse período, o próprio conhecimento em si passa a ser revisto, reconsiderado, e a possibilidade de sua
fragmentação, com base nas especializações, faz com que os paradigmas universais comecem a assumir
uma nova configuração, diferente da até então conhecida e que se respaldava apenas no conhecimento
com base nas metanarrativas (JANTSCH & BIANCHETTI, 1995b).

Lembrete

É possível compreender como se deu o desenvolvimento humano


recorrendo aos períodos Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e
Pós‑Moderna. Cada período corresponde a uma forma de organização
social, econômica e política.

Apesar disso, a forma de produzir conhecimento destacada por grande parte do povo grego e pela
Igreja demorou muito a ruir, tendo a perspectiva da totalidade ainda priorizada, além de outros aspectos
como os que sintetizaremos a seguir.

Precisamos nos lembrar de que ainda no século XVIII, já na Idade Moderna, a razão era tida como
o único critério para a produção de conhecimento, ou seja, conhecimento era algo que podia ser
mensurado. A lógica formal para a produção de conhecimento nesse sentido era a objetividade, sendo
que o aspecto subjetivo era totalmente desconsiderado nesse momento. Era como se a ciência fosse
restrita àquilo que fosse produzido e que pudesse ser comprovado, tal como os experimentos produzidos
em laboratórios (FAZENDA, 1994).

Somente no século XX que essa forma de compreender a produção do conhecimento foi se alterando,
passando a priorizar outras formas de tal criação. Nesse cenário, e partindo do surgimento da psicologia
e outras ciências afins que se dedicam a estudar esses processos, a subjetividade também passa a ser
considerada como relevante. A partir de então, a razão e a objetividade passam a ser suprimidas e outras
formas de conhecimento são constituídas, crescendo também a possibilidade de o conhecimento ser
composto com base em diversas teorias (FAZENDA, 1994).

Observe a representação abaixo onde são destacadas as formas de compreender a produção de


conhecimento nos diversos momentos de desenvolvimento da humanidade.

Quadro 1

Antiguidade Idade Média Idade Moderna


• Foco no conhecimento de forma • Controle da igreja na produção de • Crise da ciência moderna;
ampla; conhecimento;
• Possibilidade de fragmentação na
• Contraponto: Aristóteles enfatiza a • Produção pela igreja de grandes produção de conhecimento.
especifidade nesse processo. paradigmas.

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Especialmente a partir da segunda guerra mundial acontece um rompimento com a crença de que
o conhecimento só poderia ser tido como tal se pudesse ser posteriormente comprovado, e com base
em um conhecimento com recorrência a grandes paradigmas. É a chamada crise da ciência moderna,
na qual teorias, modelos e paradigmas já cristalizados sobre como produzir conhecimentos passam a ser
questionados. É nesse momento que a interdisciplinaridade começa a surgir como uma modalidade de
conhecimento.

Observe a imagem a seguir. Ela retrata uma atividade científica, e foi aqui destacada porque reproduz,
em grande parte, o estereótipo do cientista, do profissional que deveria se ocupar da produção de
conhecimento. E traz também imbuída a concepção de que para a produção de conhecimento também
seria necessário o laboratório. O laboratório era (e é) compreendido como uma forma de comprovar, de
reforçar se o conhecimento produzido corresponde com a verdade dos fatos. Essa imagem ainda perpassa
a compreensão que possuímos sobre a produção do conhecimento, sobre quem produz conhecimento e
sobre as formas de comprovação do conhecimento produzido.

Figura 2

As mudanças produzidas no âmbito da produção de conhecimento, de compreensão da ciência


são aqui destacadas porque trazem condicionantes ao conceito de produção de conhecimento
interdisciplinar. Apesar dessas mudanças na ciência e dos primeiros estudos sobre interdisciplinaridade,
ou melhor dizendo, sobre a produção do conhecimento, Fazenda (1994) nos diz que ainda demorou um
certo tempo até que tal forma de produzir conhecimento fosse totalmente aceita no meio acadêmico.
No entanto, alguns movimentos, como os estudantis na década de 1960, auxiliaram para que isso
acontecesse. Assim, nessa década, na Europa, sobretudo na França e na Itália, surgiram os movimentos
estudantis que destacam a relevância de uma formação que acontecesse de forma interdisciplinar.

Alguns professores vinculados a esses movimentos começam a reivindicar propostas educacionais


diferenciadas, nas quais as questões do cotidiano dos alunos fossem inseridas no processo educativo.
Ainda se buscavam contrapor a excessiva especialização das disciplinas e a limitação do conhecimento

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Unidade I

do aluno em uma única direção. Apesar de não estarem relacionados especificamente com a produção
de conhecimento, esses movimentos influenciaram ainda mais a produção de conhecimento de maneira
interdisciplinar.

Então, em 1961, segundo Fazenda (1994) como um representante dessa nova tendência de pensar a
produção de conhecimento e também a formação educacional, surge o projeto de pesquisa empreendida
por Gusdorf4 e financiada pela Unesco. Nessa pesquisa, Gusdorf, associado a outros cientistas famosos,
buscou realizar uma pesquisa interdisciplinar junto às ciências humanas e que previa a diminuição da
distância teórica entre as diversas formas de conhecimento que elas congregam, orientando assim para
a convergência de saberes.

Partindo dessa compreensão, em 1968, um grupo de estudiosos que pertenciam a universidades


europeias e americanas, também com auxílio da Unesco, realizaram uma pesquisa sobre a
interdisciplinaridade.

Dentre as diversas constatações observadas com essa pesquisa, concluíram que os estudos
antropológicos que envolviam arte e matemática, por exemplo, proporcionaram o embate entre a
objetividade e a subjetividade, além disso, destacaram que a superação da dicotomia entre percepção
e sensação, por meio de estudos antropológicos de natureza diversa, resultou em uma ampliação
do conhecimento sobre esses fenômenos, ou seja, demonstraram que os estudos empreendidos por
disciplinas diferenciadas, com orientação antropológica, ou seja, interdisciplinares, colaboraram para a
ampliação do conhecimento e a superação das dicotomias entre as formas de saber (FAZENDA, 1994).

Em 1967, destaca-se o trabalho da Universidade de Louvain, onde foi organizado um colóquio


sobre o estatuto epistemológico da teologia e das dificuldades e caminhos a serem trilhados pelo saber
interdisciplinar. Participaram desse trabalho diversos teóricos da época, dentre os quais Guy de Palmade,
e chegaram até a refletir se a interdisciplinaridade não resultaria apenas da ligação afetiva já estabelecida
entre os membros participantes da pesquisa. Enfatizaram também a importância que adquirem nesse
processo de produção do conhecimento o tempo disponível, o espaço, valor e campo da ciência onde as
inserções de tal natureza são empreendidas.

Fazenda (1994) destaca ainda que, no Brasil, as discussões sobre interdisciplinaridade também se
fizeram presentes nesse período. A autora mostra que em nosso país, no entanto, essas discussões surgem
mais como um “modismo”, pois foi um conceito que foi muito aceito, muito difundido, porém, com
muitas dificuldades para sua realização. Mesmo assim, segundo a autora, partindo dessas aproximações
iniciais e ainda com certa “incoerência” é que se tornou possível que o conceito começasse a ser discutido
no cenário brasileiro.

No ano de 1969, na França, aconteceu o Congresso de Nice, sendo esse um dos eventos precursores
na discussão sobre a interdisciplinaridade. Na década de 1970, segundo Fazenda (1994), o conceito
ganhou nova força na Itália e no restante da Europa, e nesse momento a construção epistemológica
do que poderia ser compreendido como interdisciplinaridade era vivenciado, ou seja, por tratar-se de

Georges Gusdorf, nascido em 1912 perto de Bordeaux, foi um filósofo e epistemólogo francês.
4

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

um conceito ainda novo, nesse momento buscou-se uma explicação filosófica sobre o que poderia ser
compreendido como tal. Foi o tempo de definição, de delimitação, de estruturação conceitual básica, de
explicitação e delimitação terminológica. “A necessidade de conceituar e de explicitar fazia-se presente
por vários motivos: interdisciplinaridade era uma palavra difícil de ser pronunciada e mais ainda de ser
decifrada” (op. cit., p. 18).

Também nesse período, vários autores se destacaram ao desenvolver produções e estudos teóricos
que focavam a questão da interdisciplinaridade. Essas produções são interessantes de serem observadas
porque expressam a compreensão de alguns teóricos desse período sobre a interdisciplinaridade e são,
portanto, representativas de uma forma de pensar tal conceito.

Assim sendo, em 1971, a OCDE reuniu um comitê de expertos com a finalidade de discutir os
problemas do ensino e da pesquisa nas universidades. Participaram dessa pesquisa Guy Berger e Leo
Apostel, dentre outros teóricos. Essa pesquisa concluiu que as barreiras estabelecidas entre as disciplinas
deveriam ser suprimidas e que atividades de pesquisa e estudo coletivos deveriam ser estimuladas.

Esses teóricos ainda propuseram a realização de uma distinção conceitual entre os níveis de relação
entre as disciplinas, dentre os quais o multidisciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. De
acordo com esse comitê, a formação nas universidades deveria estar orientada por esses parâmetros, pois,
segundo argumentavam, a prática profissional futura iria demandar conhecimento em diversas áreas, além
de múltiplas exigências da vida laboral, as quais os futuros profissionais precisam estar preparados. Esse
preparo provém da formação que deveria ser oferecida nas universidades (FAZENDA, 1994).

Ainda derivando dessa forma de compreender a interdisciplinaridade, ou seja, entendendo como


algo importante para a produção de conhecimento e para a formação em universidades e na educação
regular, Fazenda (1994) salienta que em 1977, Guy Palmade escreveu um texto em que destacou os
prováveis perigos que poderiam fazer com que a interdisciplinaridade se transformasse em uma ciência
aplicada. Segundo ele, fazia-se necessária e urgente uma melhor definição sobre a interdisciplinaridade,
o que ele denominou “clarificação conceitual”.

Fazenda (1994) nos diz ainda que, na década de 1970, outros teóricos no Brasil discutiram sobre o
conceito da interdisciplinaridade, e isso representou um enorme avanço em relação à sistematização
do conceito que era, como dissemos, tão necessária naquele momento. A autora destaca o trabalho de
Japiassu e também enfatiza a relevância de um trabalho de sua autoria, desenvolvido no período em
questão, e que versa sobre essa temática.

Japiassu inicialmente nos mostra que é impossível uma forma de conhecimento única, uma linguagem
única do saber, e inclusive chegou a sugerir que fosse elaborada uma metodologia interdisciplinar para
as ciências humanas na qual era proposta uma linguagem plural do saber.

Japiassu destacou a importância de cuidados que precisam ser adotados a partir do momento que se
pensa em realizar uma atuação interdisciplinar. Uma equipe de tal natureza precisaria fundamentalmente
de um cuidado especial, sobretudo no que concerne a delimitação de conceitos-chave para orientar
as ações, dentre as quais: delimitação do problema a ser resolvido, definição das tarefas a serem
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Unidade I

desempenhadas e comunicação dos resultados obtidos por meio de tal intervenção. Japiassu fala da
necessidade de se elucidar todas as etapas da ação a ser desenvolvida, e todo o processo, para o autor,
deveria ser registrado (FAZENDA, 1994).

Registrar a memória dos fatos é a hipótese de revisitá-los. Interdisciplinaridade


nos parece hoje mais processo que produto. Nesse sentido é fundamental
o acompanhamento criterioso de todos os seus momentos. Somente esse
acompanhamento possibilitará chegarmos ao esboço de um movimento
(op.cit., p. 25).

Essa compreensão se mostra avançada para a época, até porque trata da interdisciplinaridade como
ação e não apenas como produção de um conhecimento. No entanto, não nos deteremos a tratar tais
conceitos, pois eles serão retomados a partir do momento em que conceituamos a interdisciplinaridade
nos próximos tópicos.

Passaremos assim a destacar o trabalho organizado, também na década de 1970, por Fazenda,
autora do livro a que estamos recorrendo. Fazenda empreendeu uma análise das proposições sobre
interdisciplinaridade que foram propostas para a educação durante um período de reformas nesse setor
no Brasil. Em sua pesquisa, a autora constatou que apesar de haver muitas propostas em relação ao
ensino interdisciplinar, havia uma “pobreza” em relação às questões teóricas, dificultando assim sua
operacionalização de forma correta na prática, durante a intervenção.

Sendo esses os principais trabalhos na década de 1970, passaremos para a década de 1980 e suas
produções teóricas mais relevantes sobre o tema. É preciso pontuar que na década de 1980 vivenciamos,
na ciência moderna, uma busca por epistemologias, por conhecimentos que realizassem uma explicitação
do teórico, do abstrato, porém, com base na realidade, no real experimentado pelos homens. Em relação
à interdisciplinaridade, vivenciamos um tempo de expressões das contradições epistemológicas, e, com
recorrência a diretrizes sociológicas, buscou-se uma melhor definição dos conceitos.

Observação

Epistemologia significa teoria do conhecimento. Nesse item,


destacaremos as principais contribuições no estudo do conhecimento da
interdisciplinaridade.

Nesse período, vários trabalhos se destacaram, dentre os quais o trabalho de Gusdorf e outros teóricos
intitulado Interdisciplinaridade e ciências humanas, no qual são assinalados os pontos identificados de
convergência junto às disciplinas das ciências humanas e, partindo de tal constatação, os autores ainda
destacam a influência que tais disciplinas exercem umas sobre as outras.

Nesse trabalho, os autores ainda falam das relações que podem ser estabelecidas entre as ciências
da natureza e as ciências humanas, tratando ainda da impossibilidade de: “[...] não haver uma corrente
filosófica capaz de proporcionar uma forma unificada de conhecimento, que seja conveniente e aceitável
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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

para muitos; [...] a própria filosofia da ciência moderna nos redireciona para a interdisciplinaridade”
(FAZENDA, 1994, p. 28).

O trabalho de Gusdorf e seus colaboradores demonstrou algumas conclusões possíveis, dentre as


quais: a interdisciplinaridade não se trata de uma síntese simples de diversas áreas de saber, mas sim
sínteses audazes, bem-elaboradas; não se trata também de uma categoria de conhecimento apenas,
mas demanda ação; tal ação nos impele a ampliar nossa compreensão, nosso conhecimento, e,
portanto, como síntese, não pressupõe a separação entre os elementos e está totalmente relacionada ao
desenvolvimento das próprias disciplinas que proporcionam o conhecimento (FAZENDA, 1994).

No Brasil, nesse período, a interdisciplinaridade também conseguiu avançar em sua elaboração


conceitual, embora seja necessário considerar que o próprio pensamento e sua exposição ganhou grande
expressão, pois vivenciamos o declínio do regime ditatorial. Fazenda (1994) nos diz que, partindo desse
processo de ampliação da democracia, os educadores também puderam fazer seus apontamentos, e
muitos deles versaram sobre a interdisciplinaridade.

Dentre os diversos trabalhos produzidos nesse período, podemos destacar os trabalhos de Fazenda,
ambos publicados nos anos de 1987-1989 e 1989-1991. A pesquisa organizada no período de 1987-
1989 buscou traçar um perfil do professor que apresentava uma atitude interdisciplinar no processo
educativo, e ela constatou que o professor que adota uma atitude assim é aquele que gosta de pesquisa,
que é comprometido com seus alunos e que sempre recorre a novas técnicas de ensino após já ter
refletido anteriormente sobre elas.

Já na pesquisa de 1989-1991, a autora realizou um estudo sobre aperfeiçoamento de professores por


meio de uma abordagem interdisciplinar, e propôs a elaboração de uma proposta curricular da mesma
natureza para a rede de ensino. Segundo destaca, essa experiência, por resultar em uma proposta de
ação, proporcionou o enfrentamento da dicotomia entre teoria e prática posto que demonstrou uma
possibilidade de algo teórico ser, de fato, realizado na prática, sendo assim uma pesquisa operacionalizada
em uma realidade concreta (FAZENDA, 1994).

No entanto, Fazenda (1994) nos mostra que somente na década de 1990 é que vivenciamos um ápice
das pesquisas na área da interdisciplinaridade. Vivenciamos no mesmo período uma nova concepção
sobre a ciência moderna e isso faz com que os caminhos para a reflexão interdisciplinar ganhem um
maior reforço, resultando em uma ampliação dos trabalhos acerca dos conceitos elaborados.

Partindo de tal princípio, a autora destaca uma série de publicações de sua autoria e que corroboram
para demonstrar tal fato, destacando inclusive uma pesquisa realizada junto à área educacional e que
demonstrou que muitas práticas se propõem interdisciplinares, mas não passam de ações intuitivas e
sem preparo prévio, ao que a autora destaca ser fundamental a realização de uma sistematização, uma
normatização a fim de melhor defini-las.

Partindo disso, antes de concluirmos nossa retrospectiva histórica, observe a representação abaixo
exposta, onde grande parte das informações aqui destacadas se encontra de forma sistematizada.

19
Unidade I

Quadro 2 - Representação sobre o desenvolvimento histórico da interdisciplinaridade

Década de 1970 Década de 1980 Década de 1990


• Formulações que buscam conceituar • Formulações mais sistematizadas • Aplicação da fundamentação teórica
a interdisciplinaridade; sobre a interdisciplinariadade; sobre a interdisciplinaridade;
• Interdisciplinariadade ainda como • Período de abertura política. • Mudanças na ciência moderna.
um modismo.

Como você pode observar, foram apontadas algumas informações de forma bem resumida. Assim,
recomendo que você refaça a leitura do texto, busque realizar os exercícios e avalie sua aprendizagem.
Essas informações são fundamentais para que depois você compreenda como esse conceito também foi
apropriado na prática de algumas profissões, dentre as quais o serviço social.

Na sequência, discutiremos as principais conceituações que são faladas na atualidade acerca da


interdisciplinaridade.

Saiba mais

Você poderá recorrer aos sites abaixo a fim de obter maiores informações
sobre a interdisciplinaridade e sobre os autores aqui destacados:

<http://www.educacional.com.br/reportagens/educar2001/texto04.
asp>. Acesso em 16 jan. 2012.

<http://editoraideiaseletras.wordpress.com/2011/03/24/entrevista-
com-hilton-japiassu-autor-do-livro-ciencias-questoes-impertinentes/>.
Acesso em 16 jan. 2012.

2 A CONCEITUAÇÃO ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE

Neste item, realizaremos algumas considerações que tem como objetivo melhor conceituar o nosso
objeto de estudo, a interdisciplinaridade. Para tanto, recorreremos a duas correntes teóricas existentes na
produção científica brasileira e que estão expressas nos trabalhos de Hilton Japiassu, que representa uma
corrente teórica, e também as produções de Ari Jantsch e Lucídio Bianchetti - e demais colaboradores
a eles vinculados - e que se coloca como uma corrente teórica diferente e contraposta às ideias de
Japiassu e seus colaboradores.

Observação

Atenção para esses autores e suas contribuições. Há diferenciações


entre os autores da filosofia do sujeito e a perspectiva marxista.

20
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Iniciamos assim com as teorias empreendidas por Ari Jantsch e Lucídio Bianchetti e seus colaboradores.
É importante observar que muitos pontos fazem menção a atividades interdisciplinares de produção
de conhecimento, porém tais ideias são perfeitamente aplicáveis para uma intervenção, uma prática
interdisciplinar.

Jantsch & Bianchetti (1995a) compreendem que suas propostas de compreensão da


interdisciplinaridade são derivadas do marxismo, além de tecerem críticas às concepções postas por
Japiassu e Fazenda, descrevendo tais autores e todos os demais que partilham de seus ideais como
seguidores de uma perspectiva na qual prevalece a “filosofia do sujeito”.

Jantsch & Bianchetti (1995a) acreditam que essa concepção compreendida como filosofia
do sujeito não prioriza um entendimento da interdisciplinaridade calcada no desenvolvimento
histórico. Para os autores, compreender a interdisciplinaridade pressupõe, fundamentalmente,
compreender que essa forma de produção de conhecimento vem delimitada pelo desenvolvimento
histórico humano.

Chamamos a atenção para o fato de que a construção histórica de um objeto


implica a constituição do objeto e sua compreensão, acertando-se, com isso,
a tensão entre o sujeito pensante e as condições objetivas (materialidade)
para o pensamento (JANTSCH & BIANCHETTI, 1995a, p. 12).

E a apreensão da questão histórica remete também a compreender que o conceito da


interdisciplinaridade precisa, essencialmente, estar relacionado com a realidade concreta. É necessário
compreender que a produção de conhecimento por meio da interdisciplinaridade, assim como todos os
fenômenos sociais, é influenciada pela história e pela realidade concreta. A produção de ideias, ideais e
conhecimento está ligada diretamente à produção material dos homens.

Para Jantsch & Bianchetti (1995a) o fato de a concepção da filosofia do sujeito não priorizar
a história os conduz também a não compreender a realidade concreta e a influência que esses
fenômenos trazem para a produção de conhecimento. Assim sendo, os autores dizem que para a
filosofia do sujeito, a produção do conhecimento por meio da interdisciplinaridade só seria possível
se os sujeitos envolvidos no processo apresentassem “vontade” para tais ações. Segundo a perspectiva
da filosofia do sujeito, a pesquisa por meio das equipes compostas por diversas áreas do saber, para
se tornar interdisciplinar, precisa exclusivamente que os sujeitos envolvidos desempenhem suas ações
por vontade própria.

A crítica proposta ainda em relação à filosofia do sujeito a compreende como uma forma de
perceber a interdisciplinaridade como um método que foi criado para orientar a ciência moderna no
que diz respeito ao tratamento conferido às especializações. Segundo a compreensão de Jantsch &
Bianchetti (1995a), as especializações não podem assumir essa “responsabilidade” e os autores ainda
afirmam que as parcerias estabelecidas entre as diversas áreas do conhecimento não podem ser tidas
como alternativas para solucionar os problemas da ciência moderna em se relacionar com o saber
especializado.

21
Unidade I

O saber, para Jantsch & Bianchetti (1995a) não pode ser fragmentado, individualizado, mas também
não pode ser reduzido a um denominador comum, pois, segundo eles, há uma tendência em realizar
essas inferências incorretas por parte dos teóricos atrelados com a compreensão da filosofia do sujeito.
Para os autores, a criatividade e a diversidade devem ser estimuladas, e o conhecimento obtido nessa
“diferença” resultará em interdisciplinaridade. Assim, não é uma síntese em uma direção única. “Na
concepção histórica, acreditamos, não há espaço para a univocidade, para o padrão, para a ordem etc.”
(op. cit., p. 14).

Porém, as colaborações de Jantsch & Bianchetti (1995a) não se restringem a realizar críticas à
chamada filosofia do sujeito. Passaremos a descrever parte dessas contribuições com recorrência
a outros colaboradores, de forma que será possível conhecer as informações que nos permitirão
conceituar a interdisciplinaridade para eles, além de apontar uma série de outras informações, dentre
as quais as necessidades na constituição da interdisciplinaridade, as consequências, problemas
de tais inserções, e os princípios que podem ser observados para orientar intervenções de caráter
interdisciplinar.

Assim sendo, a interdisciplinaridade é compreendida como ações que devem ser pautadas no
trabalho de cientistas e pesquisadores, provenientes de áreas de saber diferenciadas, e que demanda
essencialmente uma ação e não apenas um pensamento sobre determinado objeto de estudo. Essa
ação viabiliza a produção de conhecimento, pois esse conhecimento precisa, essencialmente, estar
relacionado ao sujeito, além de demandar sua exteriorização para diversas áreas do saber e da vida em
sociedade (ETGES, 1995).

O conhecimento produzido de forma interdisciplinar busca fazer com que o saber seja transmutado em
conhecimento. Etges (1995) diz que saber faz referência a informações obtidas, porém, o conhecimento
consiste em uma ação de transposição do saber para as estruturas internas do indivíduo.

Por meio do conhecimento interdisciplinar deve ser possível que se estabeleça uma comunicação
entre os profissionais envolvidos, além de viabilizar também a comunicação entre as disciplinas.

Cria-se uma linguagem comum entre os cientistas de diferentes campos


ou disciplinas ou especialidades, mediante a qual eles compreendem o
construto do outro e o seu próprio. Não se cria uma nova teoria, mas a
compreensão do que cada um está fazendo, bem como a descoberta de
estratégias de ação que lhes eram desconhecidas a ambos, tanto no interior
de sua própria ciência, como com relação às outras e ao mundo exterior do
cidadão comum (ETGES, 1995, p. 73).

Ou seja, o conhecimento interdisciplinar demanda uma ação, demanda a transposição do saber em


sua direção e viabiliza a comunicação entre os produtores do conhecimento, às disciplinas envolvidas
e com o mundo circundante. Etges (1995) ainda nos diz que apesar desse discurso entre as disciplinas
ser uma necessidade, os princípios de cada disciplina não podem ser alterados, e sim conhecidos e
respeitados.

22
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Não se trata de uma simples incorporação de elementos diversos, sem qualquer significação,
mas representa as potencialidades de cada disciplina e o respeito com que cada saber precisa ser
compreendido. Mas, para isso, Etges (1995) destaca que é fundamental que as ações em questão sejam,
necessariamente, sistematizadas previamente e efetivas, ou seja, não podem permanecer no âmbito do
pensamento apenas.

Para Etges (1995), parte dessa sistematização, dessa orientação para que o trabalho interdisciplinar
se efetive de fato, desenvolve-se por meio de um estranhamento e de uma explicação. O estranhamento
corresponde a observar outro saber como novo, e isso possibilita que se caminhe em direção ao outro
saber, ao desconhecido. A explicação, por sua vez, visa ao esclarecimento dos conceitos por meio do
método do outro cientista, do outro profissional.

O conhecimento sobre a perspectiva do outro, de forma interdisciplinar conforme salienta Etges


(1995), constitui, nos termos de Frigotto (1995), uma necessidade. Essa necessidade, segundo Frigotto
(1995) está relacionada à forma que o homem, na sociedade atual, reproduz-se e atende suas necessidades
como ser social, dentre as quais a necessidade pelo conhecimento. Essa necessidade, assim como as
demais apresentadas pelo ser humano, conduz o homem ao estabelecimento de relações sociais, que
por sua vez estão diretamente imbricadas com o tempo e espaço em que vivem os homens, conferindo,
assim, materialidade histórica às ações de produção do conhecimento.

Dito isto, Frigotto (1995) nos mostra que a realidade na qual o homem atende às suas necessidades,
inclusive a necessidade por conhecimento, é essencialmente dialética, composta por aspectos unos
e diversos. Assim como o conhecimento é fundado na realidade, para apreendê-la é necessária uma
compreensão que permite captar tanto o uno quanto a diversidade nela presente.

Essa apreensão, do uno e do diverso, segundo Frigotto (1995) motiva a compreensão interdisciplinar
da realidade, na qual ela é captada em sua totalidade. A apreensão total da realidade, para o autor,
significa compreender um objeto de pesquisa previamente delimitado, em suas múltiplas determinações
e mediações históricas que o constituem. Assim, não há como apreender essas múltiplas determinações
e mediações se não for por meio de uma compreensão interdisciplinar.

As múltiplas determinações nesse caso não fazem referência à fragmentação, no sentido de


observarmos apenas alguns extratos do conhecimento, sem considerar a perspectiva da totalidade
conforme elencado antes. Isso conduz às análises reducionistas que não permitirão a compreensão de
forma interdisciplinar, de forma a apreender sua totalidade (FRIGOTTO, 1995).

Frigotto (1995) ainda chama a atenção para o fato de que é nas ciências sociais que esse conhecimento
interdisciplinar mais se manifesta. Isso porque, segundo esse autor, é nas ciências sociais que é realizado
um estudo sobre as formas de produção dos homens, dentre as quais, a produção do conhecimento
e, portanto, sobre a produção de conhecimento de forma interdisciplinar. Frigotto (1995) salienta, no
entanto, que algumas análises empreendidas no âmbito das ciências sociais ainda podem representar
os ideais de uma classe social, pois, segundo o autor, via de regra, é a classe burguesa que acessa essas
formas de produção do conhecimento.

23
Unidade I

De tal forma, a interdisciplinaridade não se efetiva se não considerarmos a realidade investigada


como parte da realidade concreta, e não como expressão apenas da razão, do pensamento. Caso
não observemos a realidade social, corremos o risco de não tratar a produção de conhecimento
interdisciplinar de forma correta. O conhecimento precisa ter correspondência com a realidade.
(FRIGOTTO, 1995).

No entanto, navegar no mar da produção de conhecimento interdisciplinar não tem se


mostrado tarefa fácil ou desempenhada por qualquer pessoa, por qualquer cientista. Nesse
caminho, deparamo-nos com problemas que sãos evidenciados na produção de conhecimento
interdisciplinar, dentre os quais podemos elencar os limites individuais que são apresentados por
cada sujeito que estará envolvido nesse processo; a complexidade posta pela realidade pesquisada,
composta por múltiplas formas de expressão e que são difíceis de serem apreendidas; limitações
de tempo e espaço; formação teórica, ideológica e traços culturais dos sujeitos que empreendem a
pesquisa, sendo que esses fatores, conforme nos diz Frigotto (1995), podem trazer prejuízos para a
constituição do saber interdisciplinar.

Dentre os possíveis prejuízos a serem causados por essas situações, Etges (1995) aponta também
que podem ser desenvolvidas formas equivocadas de interdisciplinaridade. Para o autor, essas possíveis
formas seriam a interdisciplinaridade generalizadora e a interdisciplinaridade instrumental.

A interdisciplinaridade generalizadora compreende que existe uma possibilidade de se chegar a


um saber absoluto, e segundo essa compreensão “saberes pequenos” devem ser convertidos em um
único saber, no saber absoluto. Para a interdisciplinaridade generalizadora, o saber pequeno, por ser
um fragmento do todo, não possui valor como conhecimento. Já a perspectiva instrumental confere à
instrumentalidade um mero papel de uma possibilidade de resolver todas as questões afetas à produção
do conhecimento da ciência moderna, algo como uma opção por uma técnica (ETGES, 1995).

Como objetivo de evitar tais posturas e ainda com a finalidade de melhor normatizar o conhecimento
interdisciplinar, Wallner (1995) elenca sete princípios que devem ser observados. Segundo o autor,
esses princípios precisam ser seguidos para que o conhecimento interdisciplinar se efetive, sendo
eles: auto-organização; solução do problema da interdisciplinaridade por meio da aprendizagem
social; estranhamento mediante a modificação das condições de argumentação; ciência como meio
de comunicação em oposição à sua suposta função solucionadora de problemas ou descobridora da
verdade; abertura; contradição e formação de redes em vez de unificação. Faremos descrições sucintas
a seguir sobre cada um desses princípios.

Sobre a auto-organização, Wallner (1995) faz acepção a possibilidades que devem ser encontradas
para sistematizar o processo de produção do conhecimento. Nesse sentido, o autor destaca que se faz
necessária uma fundamentação da ciência, da ética científica e da relação a ser estabelecida entre
ciência e sociedade. Por fundamentação da ciência, o autor salienta a necessidade de sistematizar os
métodos a serem utilizados e como acontecerá o trabalho cooperativo. A ética científica faz acepção
a regras de condutas que precisam ser observadas pelos sujeitos envolvidos, e a relação da ciência em
como a sociedade está relacionada com as possibilidades que devem ser estabelecidas por meio da união
entre a teoria e a prática.
24
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

A solução do problema da interdisciplinaridade por meio da aprendizagem social estará relacionada


com as possibilidades de que o conhecimento produzido possa alcançar uma função social, ou seja, o
conhecimento produzido deve trazer impactos à realidade vivenciada pelos seres humanos e não pode
estar aprisionado nos muros onde foi produzido, segundo Wallner (1995). Então, podemos concluir mais
uma vez sobre a importância do conhecimento estar vinculado à realidade e não apenas a uma esfera
abstrata.

O estranhamento mediante a modificação das condições de argumentação, para Wallner (1995), é


a possibilidade de os envolvidos com a interdisciplinaridade conhecer novas formas de argumentação
sobre um objeto de estudo, sobre um assunto em debate. Assim, nesse contexto, o sujeito pesquisador
ou cientista coloca em suspensão por um momento as formas que convencionalmente conhece para
discutir, ele modifica suas possibilidades de argumentação para identificar outra forma, diferente da já
usualmente conhecida.

A ciência como meio de comunicação em oposição à sua suposta função solucionadora de problemas
ou descobridora da verdade é entendida por Wallner (1995) como uma compreensão que precisa ser
suprimida se quisermos, de fato, alcançar o conhecimento interdisciplinar. O autor nos diz que no
conhecimento interdisciplinar precisamos considerar a multiplicidade de formas de manifestação social
do saber num contexto mútuo de relacionamento e, de tal forma, a ciência não pode ser compreendida
como suprema a outras formas de conhecimento. Além disso, essa compreensão atenta para o fato de
que a ciência não pode ter esse papel de “solucionadora” de problemas, algo como se fosse salvar a
humanidade.

A abertura, segundo Wallner (1995) por sua vez, faz acepção à necessidade de estarmos abertos
a outras formas de conhecimento, visto que se não estivermos disponíveis para o diálogo com outras
disciplinas, o trabalho ou a produção de conhecimento será totalmente impossível.

O princípio da contradição para Wallner (1995) é uma possibilidade de criação, partindo do embate,
da contradição entre os conhecimentos. Essa contradição tem um aspecto positivo, ao passo que
possibilita a condução a novos conhecimentos pelos sujeitos envolvidos. Apesar de ser necessária uma
autonomia dos envolvidos e das áreas do saber correlatas, essa autonomia favorece o embate, o diálogo
e a troca de conhecimentos que muitas vezes apresentam divergências.

Por fim, a formação de redes em vez de unificação é para Wallner (1995) a necessidade de serem
constituídas redes de aprendizagem social que possam garantir à cientificidade do conhecimento
produzido, de tal forma que seja evitada a ocorrência de arbitrariedades. Para o autor, as redes
permitem ainda a síntese consciente dos conhecimentos, de forma que esse conhecimento seja
transmitido entre os envolvidos, proporcionando a legitimação e a crítica do conhecimento
produzido.

Essas eram as contribuições que pretendíamos destacar sobre o conhecimento interdisciplinar de


acordo com a perspectiva marxista. Observe o quadro a seguir onde as principais informações aqui
estudadas são descritas de forma resumida.

25
Unidade I

Quadro 3 - Síntese sobre a interdisciplinaridade partindo da compreensão marxista

Necessidade do conhecimento Considerações sobre o novo


Problemas possíveis
interdisciplinar conceito da interdisciplinariadade
A realidade é múltipla e o Limitações do sujeito e limitações de Demanda a transposição do saber ao
conhecimento também precisa ser de tempo e espaço. conhecimento.
tal forma.
Possibilidade de aprender a realidade Influência de concepções teóricas, Viabiliza a comunicação entre saberes
em sua totalidade. ideológicas e culturais. e cientistas;
Deve estar relacionada à realidade.

A partir de agora, serão destacadas as contribuições de Japiassu sobre a interdisciplinaridade. Para


apreender as manifestações desse autor sobre esse tema, destacaremos dados gerais que ele trata em
sua obra sobre o conceito da interdisciplinaridade, falando, na sequência, as motivações, objetivos e
justificações ao conhecimento e ações interdisciplinares, modalidades de interdisciplinaridade, os
obstáculos para que a interdisciplinaridade se efetive e as exigências para aqueles que pretendem uma
intervenção interdisciplinar.

Observação

Esteja atento ao fato de que a partir de então estaremos recorrendo à


filosofia do sujeito na conceituação da interdisciplinaridade.

Japiassu (1976), em relação ao conceito “interdisciplinaridade”, fala que a expressão em si é vista


por muitos como se fosse apenas um modismo, especialmente se considerarmos o âmbito da pesquisa
científica, ou seja, como se fosse algo que está na moda em um momento e em outro já entra em desuso.
Para o autor, a interdisciplinaridade, no âmbito da pesquisa científica, representa uma possibilidade
diferenciada de produzir conhecimento, distante das possibilidades já construídas até então pela ciência
moderna.

Japiassu (1976) nos diz que mesmo após as mudanças operadas na produção de conhecimento na
contemporaneidade, o saber fragmentado ainda impera na condução dessa produção. Assim, o autor
compreende o saber fragmentado como um saber dosado e concedido em migalhas para aqueles que a
ele recorrem. O autor entende que as especializações das áreas do saber são fundamentais para a ciência
moderna, porém, o que ele critica é o fato de esse saber ser compreendido como o único e possível, o
que representaria, nos termos do autor, a “patologia”, a doença que afeta e abala a ciência moderna na
contemporaneidade em virtude da especialização exagerada.

Essa especialização exagerada teria se originado decorrente de uma reorganização da ciência. Tal
reorganização derivou de mudanças que foram sendo processadas no âmbito do conhecimento e também
foi influenciada pelas novas necessidades que vão sendo impostas ao ser humano em suas relações com
o mundo, ou seja, cada vez mais novas formas de saberes vão sendo requisitados para a intervenção
junto à sociedade. Japiassu (1976) compreende que esses movimentos, assim como a especialização são

26
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

importantes, porém o que o autor critica é a segmentação excessiva em diversas áreas de saber e o fato
de considerarmos essa fragmentação como se ela fosse uma verdade única e indiscutível.

O autor ainda salienta que o saber deve ser compreendido como expressão do real, como relacionado
diretamente à realidade. Como a realidade não pode ser fragmentada, o saber também não deve seguir
esse modelo de compreensão dos fenômenos e de produção do conhecimento. Nesse caso, o autor,
referindo-se às modalidades de pesquisa como produção do conhecimento, mostra que:

[...] nada mais há que nos obrigue a fragmentar o real em compartimentos


estanques ou em estágio superpostos, correspondendo às velhas fronteiras
de nossas disciplinas. Pelo contrário, tudo nos leva a engajar-nos cada vez
mais na pesquisa das aproximações, das interações e dos métodos comuns
às diversas especialidades (JAPIASSU, 1976, p. 40).

Em tese, para ele, precisamos nos esforçar para aproximar, comparar, relacionar e integrar nossos
conhecimentos, o que favoreceria tanto a produção de pesquisa interdisciplinar quanto as práticas de
tal natureza.

Para que possamos nos aprofundar em tal conceito, Japiassu (1976) chama a nossa atenção para
que compreendamos antes de qualquer assunto o próprio conceito de “disciplina”. Ele nos diz que uma
disciplina incorpora determinados aspectos, dentre os quais o domínio material, o domínio de estudo,
o nível de integração, os métodos, a aplicação da disciplina e as contingências históricas, os quais
explicaremos a seguir.

Em relação ao domínio material, Japiassu (1976) faz referência ao conjunto de objetos que
demandam o interesse da disciplina; já o domínio de estudo estaria relacionado ao ângulo específico sob
o qual a disciplina considera o seu objeto; o nível de integração estaria relacionado aos conhecimentos
necessários para a composição da disciplina e que permitirão uma apreensão de seu objeto de estudo; os
métodos seriam relacionados com as possibilidades próprias utilizadas pelas disciplinas para apreender
os fenômenos de estudo e para que fosse possível também transferir esses fenômenos para que se
tornassem, de fato, conhecimento; a aplicação da disciplina faz acepção à forma como ela será colocada
em prática e as contingências históricas estariam relacionadas ao momento histórico no qual a disciplina
está sendo desenvolvida.

Para ele, partindo dessa compreensão e tendo os aspectos antes elencados de forma sistematizada,
será possível que caminhemos em relação a outro saber, ao saber interdisciplinar. Passaremos na
sequência a tratar sobre as motivações, os objetivos e as justificativas que são propostas por Japiassu
(1976), bem como os obstáculos, as exigências e as modalidades que nos permitem uma compreensão
ampliada sobre o conceito da interdisciplinaridade proposto por esse teórico.

Quando inicia suas ideias sobre as motivações, objetivos e justificações, ele tenta explicar os possíveis
motivos do porquê as pesquisas interdisciplinares foram constituídas e como resultaram na produção
do conhecimento interdisciplinar e de que maneira essa produção consegue se manter necessária ainda
na atualidade.
27
Unidade I

Japiassu (1976) diz que a motivação precisa ser compreendida como uma necessidade intelectual
e afetiva por parte dos pesquisadores, no sentido de partilhar a produção de conhecimento. Essa
necessidade surge de interesses comuns que orientam os pesquisadores, portanto, os sujeitos envolvidos
com a produção de conhecimento em si.

O autor dá grande realce a esse aspecto não apenas quando detalha a necessidade posta pelo
conhecimento interdisciplinar, mas porque destaca várias vezes no decurso de seu trabalho que para
que o conhecimento interdisciplinar se efetive de fato, é fundamental o engajamento dos sujeitos que
estariam envolvidos com o processo de produção do conhecimento, pois, caso contrário, essa produção
se tornaria insustentável.

O autor ainda reforça, em vários trechos de seu trabalho, o fato de que não vivenciamos mais o
mito da neutralidade científica que corresponde a uma crença de que a pesquisa científica não sofre a
interferência dos sujeitos. Antes, Japiassu (1976) destaca que precisamos ter consciência plena dos nossos
desejos intelectuais, nossas necessidades, inclusive as emocionais, que influenciam substantivamente o
processo de produção do conhecimento.

Já os objetivos são descritos pelo autor como sendo os resultados pretendidos. Japiassu (1976) nos
diz que o conhecimento interdisciplinar possui um objetivo, algo que se deseja alcançar por meio de
suas intervenções. O autor destaca que a interdisciplinaridade não deve possuir “apenas” como objetivo
a produção de conhecimento, mas também deve possuir como meta a ser alcançada a intervenção
prática, junto com a realidade, tomando como base esse saber que foi então produzido.

É importante também sinalizar para o fato de que para esse autor, assim como os teóricos que
já estudamos e destacamos antes, a interdisciplinaridade não pode ser constituída como algo que se
manifeste apenas na esfera do pensamento ou da produção de conhecimento, mas deve se constituir
como uma possibilidade de ação.

Japiassu (1976) vem nos dizer que interdisciplinaridade como forma de produção de conhecimento
teria se originado partindo de uma nova crise evidenciada pela ciência moderna no início do século XX.
Nesse sentido, o conhecimento interdisciplinar se mostrou como uma oposição sistemática a um tipo
de organização do saber e contra as linguagens particulares dentro desse saber, a chamada linguagem
fragmentada, conforme já dissemos. Assim, a interdisciplinaridade não se constitui apenas com base
nas necessidades dos sujeitos que estão envolvidos com o processo da pesquisa, mas também incorpora
uma necessidade da própria ciência.

O autor nos fala que as disciplinas, as áreas do saber, precisam delimitar as suas fronteiras no
conhecimento interdisciplinar, porém essa delimitação levada a níveis mais estremados poderia resultar
em fragmentação do conhecimento. Aliás, Japiassu (1976) nos fala que essa tendência que hoje tentamos
evitar nas ciências, sobretudo nas ciências humanas, é uma herança do pensamento positivista que
propunha, dentre outros aspectos, o segmento do saber com base em diversas áreas do conhecimento.

Para ele, o conhecimento interdisciplinar teria ainda a potencialidade de reorganizar a ciência por
meio da constituição de novas bases para a produção do conhecimento científico. Para tal reorganização,
28
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

seria fundamental que o sujeito da pesquisa pudesse orientar esse processo por meio dos princípios da
economia e da eficácia, e que dessa forma fosse também possível produzir o conhecimento, mostrando
que tal produção atenderia as necessidades sociais de uma dada sociedade em um tempo específico.

O autor chama nossa atenção ao fato de que as ciências humanas parecem estar desvinculadas do
ser humano. Para ele, as ciências humanas, em sua produção de conhecimento, desenvolvem-se como
se não tivessem qualquer relação com a sociedade e com o tempo em que estão sendo produzidas, o que
para ele poderia também ser suprimido por meio do conhecimento interdisciplinar (JAPIASSU, 1976).

Porém, o conhecimento interdisciplinar incorpora ainda outras necessidades, dentre as quais Japiassu
(1972) destaca as pressões crescentes empreendidas por estudantes contrários ao saber fragmentado
frente à realidade global, o que demandaria, assim, uma formação profissional diferenciada da até então
prestada.

O autor chega a apontar que a interdisciplinaridade pode ser considerada uma alternativa para a
formação que qualifique de fato o profissional para sua atuação e ainda assevera que, nesse sentido, a
pesquisa científica realizada com tal finalidade deve ser guiada pelos mesmos princípios. A esse respeito,
cabe ainda destacar que o autor vê na interdisciplinaridade a única alternativa capaz de solucionar a
distância existente hoje na atualidade entre a produção científica, a formação acadêmica e a realidade
social.

Japiassu (1976) compreende que é a interdisciplinaridade a alternativa encontrada para fazer com
que a produção de conhecimento na área das ciências humanas possa atingir um novo estatuto, uma
nova configuração, posto que, para o autor, a interdisciplinaridade vai muito além da simples reunião
de saberes antagônicos, ela demanda relações de interdependências e conexões entre as disciplinas
que compõe uma determinada área do saber. A interdisciplinaridade seria a alternativa para sanar as
patologias do saber produzido nas ciências humanas.

Portanto, numa primeira aproximação, a interdisciplinaridade se define e se


elabora por uma crítica das fronteiras das disciplinas, de sua comportamentação,
proporcionando uma grande esperança de renovação e de mudança no
domínio da metodologia das ciências humanas (op.cit., p. 54).

Caso o conhecimento interdisciplinar não se constitua na verdade e não faça parte da rotina do
conhecimento moderno, as disciplinas e as diversas formas de conhecimento poderão vir a se constituir
nos termos do autor em “feudos intelectuais” e isso influenciaria até mesmo os próprios pesquisadores
ou cientistas. Por isso, o autor nos fala que se faz necessária uma concepção interdisciplinar, uma
subjetividade de pesquisa e atuação junto aos futuros sujeitos de pesquisas e ações interdisciplinares
para que essas barreiras possam ser suprimidas.

Japiassu (1976) ainda destaca que a interdisciplinaridade também se mostra necessária para que seja
possível compreender o homem atual, conforme já pontuamos antes. O autor, em diversos trechos de seu
trabalho, reforça a ideia de que o conhecimento produzido, sobretudo o conhecimento interdisciplinar,
precisa essencialmente estar conectado à realidade social.
29
Unidade I

Para o autor, o homem atual é composto por múltiplas determinações, por uma série de condicionantes
com a realidade concreta com a qual convive. Portanto, ele nos diz que é impossível conhecer o homem
em sua totalidade se olharmos para ele por meio de uma visão fragmentada, parcial. Sabemos ainda
que durante muito tempo a ciência moderna apenas observou o homem de tal forma e isso não trouxe
benefícios ao ser humano. Assim, a título de exemplo, podemos dizer que a medicina o percebia apenas
sob o ângulo biológico, a psicologia apenas do âmbito da subjetividade, ao passo que partindo da
concepção de Japiassu (1976), todos os saberes associados devem ser orientados na percepção acerca
do ser humano, rompendo com a antiga visão fragmentada.

Isso também foi observado pelos estudantes, futuros profissionais, que passaram a compreender que
sua atuação no futuro não poderia ser bem desenvolvida se não ampliassem seus horizontes sobre o ser
humano e sobre a realidade concreta na qual irão atuar futuramente, sendo a interdisciplinaridade um
caminho para tal finalidade a ser alcançada. Por isso, a interdisciplinaridade é também uma possibilidade
de adequar as atividades do ensino às necessidades socioprofissionais.

Em outros termos, o que se tem em vista é a descoberta de melhores métodos


para planejar e guiar a ação, isto é, para fornecer informações novas, indicar
diversos modos de atingir um objetivo, esclarecer os resultados de uma
política, em suma, ampliar as perspectivas daquelas que pretendem agir ou
resolver problemas sociais concretos ou tomar decisões racionais (JAPIASSU,
1976, p. 55).

Ou seja, Japiassu (1976) avança sobremaneira em seus ideais quando compreende a importância
da interdisciplinaridade tanto para a produção do conhecimento quanto para a atuação profissional e
avança ainda mais ao entender que esse conhecimento precisa ser utilizado em prol de um bem maior,
como a resolução de problemas sociais concretos. Em nosso caso, a análise de Japiassu (1976), oferece as
bases iniciais para pensarmos a importância de desenvolvermos ações com base na interdisciplinaridade.

Tendo tais pontos arrolados, passaremos agora a descrever as modalidades possíveis de


interdisciplinaridade. Japiassu (1976), ao discorrer sobre as modalidades possíveis de interdisciplinaridade,
mostra-nos que há formas diferentes que a interdisciplinaridade pode assumir em seu decurso como
produtora do conhecimento. O autor reconhece, assim, cinco tipos, sendo eles: interdisciplinaridade
heterogênea, pseudointerdisciplinaridade, interdisciplinaridade auxiliar, interdisciplinaridade composta
e interdisciplinaridade unificadora.

A interdisciplinaridade heterogênea é aquela que possui enfoque no caráter enciclopédico das ações,
que pode ser percebida combinando programas diferentemente dosados, com recorrência a disciplinas
diversas. Japiassu (1976) diz tratar-se de uma aproximação inicial, mas que possui intervenção restrita e,
devido a isso, não pode ser compreendida como a interdisciplinaridade em todas as suas possibilidades.

A pseudointerdisciplinaridade é uma modalidade em que há recorrência a instrumentos de


análise e conceitos considerados como neutros e, como tais, acredita-se que possam ser aplicados a
mais de uma disciplina. A relação de empréstimo dos instrumentos de análise e dos conceitos é tida
por muitos pesquisadores e profissionais como uma modalidade de interdisciplinaridade, o que para
30
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Japiassu (1976) não corresponde à verdade dos fatos, visto que tal modalidade é uma pseudo, ou falsa
interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade auxiliar faz referência à possibilidade de que uma dada disciplina empreste
métodos ou procedimentos de outra, que nesse caso não toma os métodos ou procedimentos como
neutros. Essa interdisciplinaridade acontece, via de regra, em situações pontuais, e esse acordo pode
se mostrar lento ou rápido, porém momentâneo, o que para Japiassu (1976) também não qualifica tais
ações como exemplos positivos de interdisciplinaridade.

Já a interdisciplinaridade composta se refere a práticas que são desenvolvidas em um dado momento


apenas para resolver problemas momentaneamente enfrentados pela sociedade, sendo que apenas do
caráter momentâneo é realçada por Japiassu (1976) como uma modalidade que é importante e usual no
ramo da constituição de ações junto à realidade concreta, de onde destaca a sua relevância.

E, por fim, a interdisciplinaridade unificadora, é o “tipo” mais indicado pelo autor, ao passo que
viabiliza a unificação entre as teorias e as metodologias de disciplinas diversas, quer seja no sentido da
produção de conhecimento, quer seja no sentido da intervenção, mesmo que os limites de cada área do
saber precisem ser respeitados (JAPIASSU, 1976).

Japiassu (1976) ainda nos diz que esses cinco tipos de interdisciplinaridade podem seguir ou adotar
as seguintes constituições: linear, cruzada ou estrutural. Segundo seus pressupostos, a linear seria aquela
que se observa a permuta de informações entre as disciplinas, e seria a menos recomendada pelo autor
se pensamos em um conhecimento interdisciplinar de relevância. Já a estrutural seria aquela em que a
interação e o diálogo entre as disciplinas se efetiva e possibilita ainda que exista uma combinação entre
as disciplinas e suas formas de saber e agir, sendo essa a constituição que precisa ser buscada nas ações
de pesquisa e ação interdisciplinares.

As contribuições do filósofo maranhense são relevantes no sentido de apontar possíveis obstáculos que
podemos observar no sentido de estimular ou desenvolver a interdisciplinaridade. Dentre esses possíveis
obstáculos, Japiassu (1976) delimita os seguintes: epistemológico, institucional, psicossociológico e
cultural. No entanto, as explicações tecidas pelo autor não demonstram apenas querer descrever cada
um desses aspectos, mas evidenciam a posição do autor no sentido de evitar e, sobretudo, de superar
esses obstáculos.

No que diz respeito ao epistemológico, o autor nos fala que isso significa que muitos pesquisadores
recorrem apenas ao seu conhecimento, à sua área de saber, à sua epistemologia e, diante disso,
compreende sua forma de conhecer, de saber como a única e possível na compreensão dos fenômenos
sobre os quais está orientando o seu olhar ou mesmo a sua intervenção. A nosso ver, eventualmente,
incorremos nesse “erro” quando supervalorizamos o conhecimento de nossa área de atuação e não o
compreendemos sob a ótica da complementaridade, do contínuo movimento dialético de constituição
das epistemologias.

O institucional, por sua vez, faz referência a práticas institucionais que tendem a impedir o trânsito
de outras formas de saber. Japiassu (1976) destaca como exemplo as universidades, enfatizando
31
Unidade I

que muitas delas constituem normativas, regras e uma organização que impede totalmente que os
conhecimentos entre as disciplinas diversas sejam efetivados. Essas modalidades, no entanto, a nosso
ver, não estão situadas “apenas” junto às universidades, mas se fazem presentes em outras instituições
que impedem ou então dificultam o diálogo entre as disciplinas ou mesmo entre os profissionais que
atuam sob enfoques diferentes.

O psicossociológico é compreendido por Japiassu (1976) como uma situação em que o especialista
defende sua disciplina, sua forma de conhecimento e não se abre a outras experiências, possivelmente
pelo temor de ser questionado ou de ter suas intervenções expostas para a análise de outras pessoas.
Parte desses obstáculos situa-se apenas na subjetividade do sujeito, mas traz impedimentos para que a
prática interdisciplinar aconteça.

E, finalmente, o obstáculo cultural é algo como uma cultura, um conhecimento que é apreendido
pelos profissionais e é introjetado por eles. Essa separação cultural acaba também se expressando
junto às disciplinas, como se a cultura, a peculiaridade una, individual de cada ser humano e de cada
pesquisador viesse a interferir no processo de interdisciplinaridade entre as matérias.

Japiassu (1976) também destaca as exigências que precisam ser observadas na produção da
interdisciplinaridade e, nesse sentido, se observarmos tais exigências, a nosso ver, será possível
superar os obstáculos apontados e alcançar as ambições que são postas para serem superadas pela
interdisciplinaridade.

O autor vem nos dizer que para o conhecimento interdisciplinar é fundamental que tenhamos
competência, ou seja, cada especialista envolvido na produção de conhecimento, ou na ação proposta,
precisa conhecer profundamente os métodos, os resultados, a teoria da disciplina a que estiver vinculado.
Nos termos de Japiassu (1976) domínio dos conhecimentos sobre as disciplinas é algo fundamental para
o autor.

Essa compreensão profunda da disciplina nos levaria à outra exigência dita pelo autor e que faz
referência a reconhecer o caráter parcial e relativo de cada disciplina ou, melhor dizendo, significa
compreender que cada disciplina possui um saber importante, específico, porém, esse saber é parcial, e
como tal precisa ser complementado por outros saberes (JAPIASSU, 1976).

Essa compreensão demanda a necessidade de ultrapassagem ou superação das disciplinas, outra


exigência que é dita por Japiassu (1976) ao comportamento interdisciplinar. O autor nos fala que o
fato de compreendermos as disciplinas como parciais e relativas não nos obriga necessariamente a nos
abrirmos a todos os tipos de conhecimento, ou seja, diante da enorme quantidade de especializações,
precisamos nos ater às essenciais no sentido de complementar nosso saber em nossa pesquisa ou nossa
intervenção. Trata-se de uma priorização necessária.

Essas ações demandam organização e sistematização, o que por sua vez nos leva a pensar sobre
outro princípio da interdisciplinaridade, a previsão. Nesse caso, o autor se refere a uma série de
atitudes que permitam uma antecipação aos fatos, evitando, assim, ações improvisadas, sem uma

32
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

reflexão prévia ou usadas apenas como modismo e não com a profundidade que evoca o conhecimento
interdisciplinar.

E, por fim, Japiassu (1976) ainda reforça, mais uma vez, agora como uma exigência ao conhecimento
interdisciplinar, que ele seja empreendido para uma “ação concertada” relacionada à realidade
vivenciada pelos seres humanos. A essa “ação concertada” o autor quer se referir à possibilidade de o
conhecimento produzido resultar em soluções para problemas sociais ou institucionais, portanto, para
atender necessidades concretas apresentadas pelo homem em sociedade.

Diante disso, Japiassu (1976) diz que se ocupam dessas possibilidades do conhecimento as ações
compreendidas como “pesquisa aplicada” e “pesquisa orientada”. A pesquisa aplicada é uma intervenção
que busca alternativas para resolver problemas particulares, específicos com base em um saber já
existente. Já a pesquisa orientada é a intervenção que também busca resolver um problema concreto,
porém ela é desenvolvida já com base em uma área, em um terreno em que se situa a ação.

Japiassu (1976) realiza uma proposta ousada para delimitar o desenvolvimento de pesquisas
interdisciplinares, chegando a propor uma metodologia que oriente os projetos de tal natureza. Apesar
da riqueza desse material, não será possível reproduzir esses pressupostos nesse livro-texto. Caso você
se interesse em aprofundar seus estudos, sugiro que recorra à obra por nós estudada, que em muito
auxiliará na compreensão dos aspectos necessários à produção de conhecimento científico por meio das
pesquisas interdisciplinares.

Na sequência, realizaremos algumas diferenciações terminológicas com relação aos conceitos que
fazem referência a práticas que buscam a interlocução entre as disciplinas ou diversas áreas do saber.
Antes de prosseguir, sugiro a você, aluno, que retome a leitura desse tópico e que busque observar com
maior atenção as informações aqui apresentadas.

Nesse sentido, também foram inseridos exercícios que irão versar sobre o conteúdo aqui tratado,
os quais recomendamos que você busque resolver como alternativa para aprimorar sua aprendizagem.
Preste atenção aos enunciados das questões, considerando que nesse tópico falamos de autores que
possuem compreensões diversas sobre a interdisciplinaridade.

Como alternativas de sistematização do que fora até então discutido, veja o quadro a seguir, no qual
as ideias de Japiassu (1976) encontram-se destacadas.

Quadro 4 - Exposição das informações mais relevantes com base em Japiassu

Necessidade da interdisciplinaridade Obstáculos Exigências


Explicar a realidade concreta; Epistemológico; Competência;
Estimular a formação que prepare Institucional. Caráter parcial;
profissionais para a intervenção. Ação concertadora.
Conciliar os problemas da ciência e da Psicossociológico; Ultrapassagem;
produção do conhecimento. Cultural. Previsão, plantificação e controle.

Bons estudos.
33
Unidade I

Saiba mais

Você poderá recorrer ao site abaixo a fim de obter maiores informações


sobre a interdisciplinaridade e sobre os autores aqui destacados, bem como
poderá observar que se trata de um assunto atual que resultou até na
constituição e manutenção de grupos de pesquisa com tal finalidade.

<http://www.pucsp.br/gepi/>. Acesso em: 16 jan. 2012.

3 AS DIFERENCIAÇÕES ENTRE OS CONCEITOS: MULTIDISCIPLINARIDADE, A


PLURIDISCIPLINARIDADE E A TRANSDISCIPLINARIDADE

Antes de iniciarmos nossa conceituação conforme sugere o subtítulo supracitado, observe a imagem
a seguir:

Figura 3

Ela se chama O Clube de Darwin e “brinca” com a ênfase que fora dada pelo cientista em questão
com relação à evolução do macaco em homem. Na verdade representa uma sátira, bem-humorada,
da teoria da evolução das espécies de Darwin, a qual, como sabemos, trouxe muitas contribuições ao
conhecimento científico, mas que, por outro lado, reforçou a importância da comprovação de dados
obtidos durante um processo de produção de conhecimento. Além disso, a teoria darwinista destacava
a importância do aspecto biológico no sentido de definir a vida em sociedade.

Esses dados foram aceitos pela humanidade durante muito tempo e somente com a mudança de
conceitos, esses também passaram a ruir.

34
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Assim, essa imagem pode nos levar a refletir sobre a necessidade que possuímos de conhecimento, de
aproximação a novos conceitos, novos paradigmas sobre as questões com as quais nos defrontamos em
nosso cotidiano, assim como os conceitos que estamos discutindo até o presente e sobre os quais ainda
iremos discutir no decurso desse livro-texto. É importante estarmos sempre abertos, preparados para o
novo e para o embate, que não significa prejuízo, e que pode resultar em um crescimento intelectual. Na
verdade, essa é uma necessidade, de todo gênero humano, e não apenas de um ser humano específico.

No ramo dos conceitos, prezado aluno, certamente você já se deparou com os termos que estamos
destacando: a multidisciplinaridade, a pluridisciplinaridade e a transdisciplinaridade. E, com toda certeza,
você já deve ter se perguntado o que significam e se há diferenças entre termos tão semelhantes.
Na verdade, essas dúvidas são comuns e apresentadas não apenas por estudantes de graduação, mas
também por profissionais atuantes em equipes que recorrem à parceria com outras profissões e, ainda,
por estudiosos da área.

Lembrete

Precisamos enfocar os conceitos tratados no item anterior sobre a


interdisciplinaridade e devemos considerar a importância dessa contribuição
durante toda a leitura desse material.

Essa dúvida existente no cotidiano dos assistentes sociais está relacionada ao fato de que grande parte
desses profissionais não teve em seu curso formação matéria ligada ao tema que estamos estudando.
Portanto, essa oportunidade que você, aluno da UNIP, está tendo hoje, não é extensiva a todos os
graduados em serviço social. E grande parte dessa ausência de formação está relacionada ao fato de que
se trata de um assunto novo, na ciência moderna, junto às ciências humanas e também junto ao serviço
social. E, assim sendo, vamos buscar conceituar essas definições da melhor maneira possível.

Observação

Muita atenção a essas explicações que seguem. Tente entender os


conceitos e busque uma diferenciação entre eles.

O que é multidisciplinaridade? O termo multidisciplinar representa o primeiro nível de


interdisciplinaridade, e é seguido pelos níveis da pluridisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Como
veremos, cada nível possui uma peculiaridade e representa um grau mais elevado de interdisciplinaridade,
assim, o multidisciplinar representa, nos termos de Pires (1998) um nível inicial.

Segundo Japiassu (1976) a multidisciplinaridade é uma simples justaposição em um trabalho


determinado dos recursos de várias disciplinas, sem resultar essencialmente em um trabalho de equipe.
Isso faz referência a práticas que apenas recorrem a conhecimentos diferenciados, sem, entretanto,
apresentar como resultado uma interação maior entre os sujeitos envolvidos com o processo ou entre
as disciplinas envolvidas.
35
Unidade I

O autor nos diz que, dada a sua natureza, a intervenção multidisciplinar não possui uma coordenação,
uma orientação, sendo desenvolvida segundo os interesses de cada área específica, ou seja, o trabalho
entre os pares não se desenvolve. Além disso, não há necessidade de delimitações, de regras entre as
áreas do saber, visto que não foi realizada, como já destacamos, uma discussão anterior, uma organização
ou acordo prévio. De acordo com o autor

[...] consiste em estudar um objeto sob diferentes ângulos, mas sem que
tenha necessariamente havido um acordo prévio sobre os métodos a seguir
ou sobre os conceitos a serem utilizados (JAPIASSU, 1976, p. 73).

Essas atividades de intervenção multidisciplinar são desenvolvidas apenas para que seja possível
a solução de um determinado problema específico e que demanda apenas informações tomadas de
empréstimo a duas ou mais disciplinas, ou seja, a situação sobre a qual a intervenção será desenvolvida
não demanda uma aproximação maior entre elas, necessitando apenas de um empréstimo entre as
disciplinas envolvidas na questão (JAPIASSU, 1976).

Como o trabalho multidisciplinar não possui o aspecto de uma maior aproximação entre os sujeitos
que desenvolvem a ação e tampouco entre as disciplinas, essa modalidade de intervenção também não
provoca alterações junto às disciplinas. Japiassu (1976) nos diz que as disciplinas não são modificadas,
não transformam as demais e também não permitem que aconteça o processo de enriquecimento que
está relacionado com a troca de experiências e saberes entre os pares.

Como tal, a multidisciplinaridade deve ser compreendida como um sistema de um só nível, ou seja,
onde as áreas do saber encontram-se dispostas em um único nível de saber e de relacionamento. Nesse
nível, os objetivos a serem alcançados são múltiplos, portanto, de acordo com a área de saber, pode
haver um objetivo e esse pode ser semelhante a outra área ou não. No entanto, mesmo que existam
objetivos semelhantes, não há qualquer forma de cooperação entre os sujeitos envolvidos (JAPIASSU,
1976).

A multidisciplinaridade é uma forma inicial de interdisciplinaridade, porém, apesar de suas


limitações, ainda é uma prática corrente tanto no âmbito da produção científica do conhecimento
quanto nas áreas da intervenção profissional. No entanto, não podemos esperar resultados amplos
se desenvolvermos práticas de pesquisa ou de intervenção profissional recorrendo a essa forma de
organização.

Observe a matéria a seguir, que retrata um exemplo de intervenção de prática interdisciplinar. Essa
experiência mostra uma intervenção na área educacional, mas que serve de exemplo de como estimular
a interdisciplinaridade durante o processo formativo e educativo:

Novas tecnologias aproximam alunos e professores

As novas tecnologias têm contribuído para que as pessoas possam se conectar ao


mundo em segundos. No ensino educacional, essa evolução tem propiciado um maior
contato entre alunos e professores. Uma escola localizada no setor sudoeste, bairro
36
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

nobre do Distrito Federal, adota um sistema educacional que une conectividade e


interdisciplinaridade.

No método interativo, é usada uma lousa na qual a matéria é exposta por meio de um
retroprojetor multimídia. O professor dá aula por meio do equipamento informatizado e
pode fazer observações no material digital durante a exposição a partir de uma caneta
adaptada ao aplicativo. Se houver interesse do aluno, ele pode salvar o arquivo com as
observações num CD ou pen drive.

A interdisciplinaridade é outra forma de conseguir despertar o aprendizado das crianças.


Os professores organizam os conteúdos afins e programam aulas em que é possível falar de
história e geografia, por exemplo, a partir da contextualização.

Na visita à escola, os alunos do 6º ano assistiam a uma aula no laboratório de ciências,


com o tema células vegetais e animais. A partir do sistema interativo, o retroprojetor
fica ligado ao microscópio que transmite a imagem na lousa, facilitando a explicação e a
compreensão dos estudantes. Nesse processo, os alunos são escolhidos aleatoriamente pelo
professor para ajudar nos experimentos.

Há 26 anos no magistério, o professor de biologia Elder Batista Souza explica que a


nova forma de ensino consegue atender bem aos estudantes, pois ativa todos os sentidos
da criança, o que estimula a memorização da matéria.

“No sistema interativo não trabalhamos apenas com os sentidos visual e auditivo, mas
também o tátil, o olfativo e, nas aulas de nutrição, o gustativo. Assim, atingimos vários
bancos de memórias diferentes. Eles interiorizam e aprendem mais fácil ao recorrer a um ou
mais desses recursos.”

A estudante Thaísa Weisheimer Elias, do 6º ano, afirma que ao colaborar nas aulas, a
partir da interação entre professor e aluno, o aprendizado é mais proveitoso comparado ao
ensino em que há apenas a exposição do conteúdo pelo professor.

“Quando só ouvimos ou vemos o professor fazer os experimentos [no laboratório] a


aula fica cansativa, chata. Agora, ao praticarmos, além de aprender mais, a aula fica mais
interessante, usando materiais próprios, adquirindo experiências necessárias.”

As turmas são compostas por números reduzidos de alunos para que o professor
consiga atender aos alunos e dar ritmo ao conteúdo abordado. A interação também se
estende aos pais. Dependendo do conteúdo abordado em sala de aula, eles participam
dos encontros e ajudam o corpo docente a tratar de um tema a partir das experiências
profissionais.

Distantes dessa realidade, as escolas públicas ainda começam a dar os primeiros


passos rumo à era da internet. A partir da fase de experimentação, o projeto Um
37
Unidade I

Computador por Aluno (UCA) atendeu escolas de cinco Estados, no ano de 2009, com
doações de laptops.

Eles foram usados pelos estudantes em sala de aula, como material de apoio. Este
ano, o projeto atenderá a 300 escolas do país, sendo dez em cada Estado. Os professores
serão capacitados para manusear os equipamentos e utilizar no ensino diário programas
educacionais.

De acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), especialista em Informática


na Educação, Lúcio Teles, o projeto UCA tem um longo desafio no ensino, pois será preciso
avaliar a metodologia aplicada a partir do uso do computador em sala de aula e pensar em
políticas de extensão ao uso dessas novas tecnologias.

“Com a interatividade, esperamos que o aluno tenha um aprendizado mais amplo e que
tenhamos perspectivas para converter o ensino à forma dinâmica. Vale lembrar que a extensão
da conectividade em casa será fundamental para continuar com essa proposta pedagógica.”

Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2010-04-01/novas-tecnologias-


aproximam-alunos-e-professores>. Acesso em: 25 jan. 2012.

A notícia destaca um exemplo do que poderia ser compreendido como uma abordagem interdisciplinar,
porém, considerando os conceitos tratados por Japiassu (1976), entendemos que se trata de uma
ação pluridisciplinar. Como vimos, as intervenções feitas para formar os alunos são empreendidas
por professores de diferentes áreas do conhecimento sobre um mesmo assunto. A tecnologia, por
meio de uma lousa digital e de outros mecanismos, auxiliam no desenvolvimento de uma formação
interdisciplinar.

Como podemos observar, com base na notícia acima, o objeto é comum entre os diversos
sujeitos envolvidos, porém cada um o percebe de acordo com sua forma de compreensão, com seus
conhecimentos, com sua formação. Derivando dessa forma de organização da produção de conhecimento
ou da intervenção profissional, erige-se um segundo nível, denominado por Japiassu (1976) como
pluridisciplinar.

As intervenções desenvolvidas no âmbito da pluridisciplinaridade, por sua vez, são compreendidas


pelo autor como o agrupamento, intencional ou não intencional, de certos módulos disciplinares, ou
seja, é o agrupamento apenas de determinados conhecimentos, específicos para a área em que se
pretende desenvolver a atuação ou a pesquisa. Nesse caso, podem ser estabelecidas algumas relações
entre as disciplinas de onde provém os tais conhecimentos, mas esse relacionamento, quando acontece,
é extremamente pontual.

A pluridisciplinaridade pode assim resultar na construção de um sistema de disciplinas dentro


de um mesmo nível, assim como acontece na multidisciplinaridade. As disciplinas também podem
possuir objetivos semelhantes, ou diferenciados. No entanto, a pluridisciplinaridade irá se caracterizar
pela existência de uma cooperação, mesmo que mínima entre as disciplinas. Isso não irá resultar em
38
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

uma organização, uma coordenação do processo, apesar de nesse nível observarmos uma tentativa de
aproximação entre as disciplinas (JAPIASSU, 1976).

Na pluridisciplinaridade, para Japiassu (1976), os conhecimentos provenientes de cada área ou ramo


de atuação também acabam se situando em um mesmo nível hierárquico, ou seja, nenhum conhecimento
se mostra como mais relevante ou mais importante do que o outro, todos acabam sendo compreendidos
como em um único patamar.

A principal diferença entre os níveis multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade refere-se ao


fato de que nesse último observamos o surgimento de aproximações que tendem para tentativas,
ainda pequenas, de relações mais estreitas entre os pesquisadores e entre as disciplinas. Por fim, a
transdisciplinaridade seria, segundo Japiassu (1976) o nível mais elaborado de interdisciplinaridade,
superando assim a multidisciplinaridade e a pluridisciplinaridade.

Conforme podemos concluir com base em nossos conhecimentos, cada saber encontra-se em seu
espaço, sua área de compreensão e apreensão do objeto. Porém são estabelecidas algumas aproximações,
algumas cooperações, representadas pelo alinhamento entre os sujeitos. Nessa prática, a intervenção
de um profissional irá influenciar na intervenção de outros profissionais, e, por sua vez, produzirá um
resultado junto ao objeto sobre o qual a intervenção vem sendo desenvolvida.

Isso nos leva a discutir a transdisciplinaridade, que é compreendida por Japiassu (1976) como
uma possibilidade de coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas no sistema de ensino. Essa
intervenção deveria resultar, nos termos do autor, em um sistema de ensino inovado e que iria alterar a
produção de conhecimento que se daria, tomando por base uma axiomática geral.

Nesse nível, as disciplinas e áreas do saber encontram-se em um sistema de níveis igualitários e


que, como tais, apresentam também objetivos múltiplos e comuns. Nesse caso, a coordenação entre as
áreas do saber se consolida e busca de tal forma garantir que uma finalidade comum entre as diversas
disciplinas seja estabelecida (JAPIASSU, 1976).

Pires (1998) nos adverte para o fato de que a transdisciplinaridade demonstra parecer uma forma
perfeita de relacionamento entre as disciplinas, dada a sua amplitude, o que, segundo a autora, pode
resultar em um jogo de “vale-tudo” que poderá resultar no fim dos limites extremamente necessários
às áreas do conhecimento.

No entanto, a autora compreende, assim como Japiassu (1976), que a transdisciplinaridade pode
resultar em uma busca atual por uma nova forma, um novo paradigma que será ainda alcançado no
sentido da produção de conhecimento. A ideia de Pires (1998) é que a transdisciplinaridade consiga se
constituir como uma rede entre as disciplinas em busca da apreensão do conhecimento em sua totalidade
e que essa forma de produção do conhecimento se converta na nova produção das ciências humanas,
portanto, uma nova forma, um novo meio, um novo “paradigma”, de produção do conhecimento. Para a
autora, a transdisciplinaridade consistiria na união das duas fases anteriores e do que foi compreendido
como interdisciplinaridade.

39
Unidade I

Para Pires (1998) a transdisciplinaridade está relacionada à realidade, posto que a totalidade buscada
tem como enfoque a compreensão do indivíduo, o ser humano em sua vida diária, em sua cotidianidade,
e compreendido como o eixo que proporciona as interações entre as disciplinas e a constituição de um
método que permita a apreensão do “objeto” em questão.

Os saberes nesse tipo de intervenção estariam orientados de forma horizontal, ambos com os
poderes e capacidades de serem criados novos campos de conhecimento, provocando, assim, mudanças
e também crescimento junto às disciplinas.

Dando seguimento as discussões aqui empreendidas, observe a matéria abaixo:

MEC e FAO desenvolvem projeto de horta escolar

O Ministério da Educação começa a elaborar, em parceria com a Organização das Nações


Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), um projeto para implantação de hortas nas
escolas. A decisão foi tomada ontem [20 mai. 2003] à noite pelo ministro da Educação,
Cristovam Buarque, durante reunião com o representante da FAO no Brasil, José Tubino.

Buarque indicou o diretor de Ações e Assistência Educacional do FNDE, José Humberto


Matias, para integrar o grupo de elaboração da proposta. A sugestão de criar hortas escolares
foi apresentada por Tubino ao ministro em fevereiro. Desde a época, Cristovam mostrou
interesse em implantar o programa.

Parceira do Governo Lula, especialmente no Fome Zero, a FAO propõe as hortas escolares
como uma alternativa de educação transdisciplinar. “Além de produzir alimento orgânico
para complementar a merenda, o estudante estará aprendendo, na prática, questões de
educação ambiental, matemática e biologia”, destaca Tubino.

A ideia do representante da Organização é criar um fundo com a renda de um concerto


internacional - previsto para 18 de outubro – e com doações de parceiros, voluntários e da
própria FAO. Ele disse acreditar que o programa deve ser desenvolvido com a participação
do Ministério da Cultura.

Tubino apresentou ao ministro experiências de sucesso que acontecem em países


da Europa, China e África. Algumas escolas brasileiras dispõem de hortas por iniciativas
próprias. O objetivo da FAO é desenvolver o programa com maior intensidade no Nordeste,
onde o projeto será vinculado ao uso racional da água.

Disponível em: <http://www.http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2003-05-21/mec-


e-fao-desenvolvem-projeto-de-horta-escolar>. Acesso em 25 jan. 2012.

A matéria relata uma proposta de prática transdisciplinar a ser constituída nas escolas, por meio
da constituição de hortas escolares. Ela é interessante pelo fato de que, por meio dessa intervenção
que atenderá as necessidades da merenda escolar, também irá proporcionar a produção de um novo
40
SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

conhecimento com recorrência ao saber das diversas disciplinas envolvidas no processo. Trata-se
de uma intervenção educativa e que pode desenvolver o hábito de formação dos alunos por meio
de prática transdisciplinar, e mais, demonstra ainda um finalidade social a ser alcançada por meio
dessa intervenção, posto que atenderá as necessidades apresentadas pela comunidade escolar como
sinalizamos anteriormente.

Sistematizando os tópicos aqui destacados e estudados até o presente momento, apresentamos a


síntese, por meio da figura abaixo, que é trazida no trabalho de Japiassu (1976).

Multi

Pluri

Inter

Trans

Figura 4

Observe nessa figura as possibilidades de hierarquia e de relacionamento que são estabelecidas entre as
disciplinas nos diferentes níveis de interdisciplinaridade que são firmadas. Note que a interdisciplinaridade
é compreendida como uma fase transitória em que se busca alcançar a transdisciplinaridade.

Na sequência, discorreremos sobre o trabalho coletivo. Pretendemos levar você a refletir que não
existe trabalho isolado, pois o trabalho é essência comum. Antes, no entanto, de passarmos para tal
compreensão, recomendo que releia este tópico, reflita sobre ele e busque também resolver os exercícios
sobre esse tema.

Saiba mais

Uma certa confusão de conceitos inicialmente é comum dada a relação


de proximidade que há entre eles. Para dirimir possíveis dúvidas e ainda

41
Unidade I

para ampliar sua compreensão, além do material presente, recorra às


indicações abaixo. São referências a informações gerais, debates e artigos.

<http://www.pucrs.br/mj/artigo-interdisciplinaridade-ou-
multidisciplinaridade.php>. Acesso em: 17 jan. 2012.

<http://www.scielo.br/pdf/icse/v2n2/10.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2012.

<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001275/127511por.pdf>.
Acesso em: 17 jan. 2012.

4 OS PROCESSOS DE TRABALHO, O TRABALHO COLETIVO E A INFLUÊNCIA DA


PRÁTICA INTERDISCIPLINAR

Antes de iniciarmos as discussões sobre os processos de trabalho e a prática interdisciplinar,


precisamos essencialmente realizar uma discussão sobre o trabalho. Após tal discussão, falaremos sobre
o conceito de trabalho coletivo, e, na sequência, realizaremos algumas considerações sobre as alterações
no processo de produção e de trabalho que são vivenciadas na atualidade e que trazem reflexões à
prática interdisciplinar.

Essa argumentação está sendo empreendida pelo fato de considerarmos que apesar da prática
interdisciplinar se manifestar na elaboração de conhecimentos, como vimos, orientaremos nossa
atenção, em especial, para a prática interdisciplinar, pelo trabalho realizado de tal forma. Buscaremos
assim, colaborar com a ampliação dos conhecimentos sobre o tema de estudo.

Lembrete

Marilda Iamamoto é uma das autoras que mais se apropriou da tradição


marxista aplicado ao serviço social. Merece atenção especial sua noção de
processo de trabalho aplicada à nossa profissão.

Iamamoto (2001), recorrendo à tradição marxista, informa que o trabalho é a forma que os seres
humanos possuem, em nossa sociedade, de ter suas necessidades atendidas. Assim sendo, é por meio
do trabalho e da remuneração respectiva que conseguimos satisfazer as necessidades que possuímos.
No entanto, tal necessidade não se mostra como algo que foi inventado no sistema capitalista, por uma
sociedade moderna.

Apelando para a tradição marxista, podemos concluir que o trabalho é algo tão antigo quanto o
próprio desenvolvimento do gênero humano, aliás, foi o trabalho que impulsionou o desenvolvimento
da humanidade e estimulou a própria ampliação dos sentidos humanos.

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

De acordo com essa teoria social de compreensão do conhecimento humano, o homem passou
a trabalhar conjuntamente, pois percebeu durante um lento estágio de desenvolvimento que as
ações de caça, por exemplo, tornavam-se mais fáceis se realizadas por todo um grupo. Isso
correspondeu a uma especialização das funções, como a fala, a audição e, consequentemente,
uma apuração das funções mentais. Dessa forma, o ser humano foi atingindo níveis cada vez
mais ampliados de desenvolvimento. O trabalho foi, é e será essencial à nossa sociedade e
fundamental ao homem.

Portanto, o trabalho não foi em seus primórdios e não é, atualmente, apenas uma forma de atender
às necessidades materiais, mas é também um momento de reprodução psicológica do ser humano, de
subjetivação do homem enquanto exerce tais atividades. É também um espaço em que o ser humano
estabelece relações sociais, ou seja, estabelece contato com outras pessoas, insere-se em processos de
relacionamento, dentre outras situações afins. Assim como no passado, atualmente o trabalho também
condiciona os órgãos do sentido do ser humano e traz influências significativas em seu relacionamento
interpessoal (IAMAMOTO, 2001).

Além dessas questões, temos ainda que nos atentar ao fato de que o trabalho, apesar de ser
desempenhado em algumas situações de forma individual, é uma ação coletiva. Iamamoto (2001)
diz que precisamos compreender o conceito de trabalho coletivo, extraído pela autora da tradição
marxista. Como ela não possuía como objetivo em sua análise realizar uma reflexão sobre tal assunto,
recorreremos a outros trabalhos que, de forma resumida, porém com explicações bem-fundamentadas,
proporcionam-nos uma compreensão relevante sobre esse conceito.

Sanches (2008), diz que, para que possamos compreender o trabalho coletivo, precisamos retomar
alguns aspectos relacionados ao trabalho como um todo. Para a autora em questão, o trabalho coletivo
tem suas raízes com o advento da manufatura no sistema capitalista.

Ela afirma que a manufatura, em si, reorganiza todo o processo de produção visto que é por meio
dela que são fundadas as bases iniciais para o processo de acumulação capitalista.

No Antigo Egito, observamos algumas divisões do trabalho artesanal. Nesse contexto, vários
trabalhadores atuavam na produção, porém cada qual desempenhando uma função específica. Já no
processo de manufatura, os camponeses, expulsos do campo e despossuídos de meios de produção,
passaram a vender o único bem que tinham, a sua força de trabalho. Nesse processo de produção, via
manufatura, também foram introduzidos meios ou instrumentos de trabalho. Esses instrumentos foram
constituídos para que pudessem dinamizar o processo produtivo durante o estágio inicial do sistema
capitalista (SANCHES, 2008).

Partindo dessa fase inicial, os artesãos passaram trabalhar em um mesmo espaço ou


local, causando o que Sanches (2008) muito sabiamente denominou de grande “revolução do
capital”. Essa organização tinha como finalidade realizar uma “economia de tempo” e “gastos
com instalações”, de forma que, para esse fenômeno de monta, a teoria marxista chamou de
trabalhador coletivo.

43
Unidade I

Tal fenômeno ainda se caracterizou por realizar ações de “juntar” e “dividir” os trabalhadores. Ações
de “juntar” referem-se a intervenções que buscavam associar em um mesmo espaço vários trabalhadores.
As ações de “dividir”, por seu lado, possuíam como finalidade a divisão técnica dos trabalhadores, sendo
que essa divisão está relacionada à parcealização das tarefas para a confecção das mercadorias. Nesse
processo, há a combinação de muitas jornadas de trabalho, ou seja, muitas ações, individuais e coletivas,
mas que colaboram para o mesmo processo de produção. Tais atividades seriam controladas por um
mesmo capitalista, ou burguês (SANCHES, 2008).

Com o tempo, os artesãos precisaram ser assalariados e passaram a receber diversas denominações,
dentre as quais podemos indicar trabalhadores, operários e “proletariado”, a mais usada dentro da
tradição marxista. Suas ações, no entanto, continuaram sendo coordenadas por um mesmo capitalista,
ou burguês, e cada vez mais o trabalho coletivo se ampliou dentro desse modo de produção (SANCHES,
2008).

O trabalho coletivo é uma forma em que as potencialidades dos seres humanos são extraídas, sendo
que, nesse sentido, precisamos considerar que há individualidades que precisam ser consideradas.
Assim sendo, cada ser humano possui suas peculiaridades, suas características físicas, e essas tendem a
influenciar o processo de produção.

Sanches (2008) nos diz que há trabalhadores que possuem mais disposição, mais habilidades
e força do que outros. Com o trabalho coletivo, segundo a autora, essas diferenças acabam
sendo suprimidas e, na jornada global, ao fim do processo, as demandas impostas à produção
seriam contempladas. Há assim uma superação, digamos assim, dos limites individuais de cada
trabalhador, e concomitantemente há uma potencialização do resultado global do processo de
produção.

A autora ainda reflete que essas ações foram organizadas de tal forma que foi possível conseguir
o fornecimento de produtos numa escala quantitativa maior do que a alcançada quando cada qual
produzia isoladamente. Esse fenômeno traçou uma grande revolução dentro do novo meio de produção.
Citemos o próprio Marx (1985) a esse respeito:

A atividade de um número maior de trabalhadores, ao mesmo tempo, no


mesmo lugar (ou, se se quiser, no mesmo campo de trabalho), para produzir
a mesma espécie de mercadoria, sob o comando do mesmo capitalista,
constitui histórica e conceitualmente o ponto de partida da produção
capitalista (op.cit., p. 257).

E tal organização é tida dentro da teoria marxista, como vimos, com muita importância, posto que
tais ações foram sendo organizadas para que fosse alcançado um ganho na produção por meio da
cooperação. Cabe reforçar que a cooperação é uma forma de trabalho em que muitos atuam de forma
planejada, lado a lado, ou então separadamente, porém, unidos pelo mesmo processo de produção, ou
seja, trata-se de uma forma de compreender o trabalho coletivo. Esse ganho na produção, entretanto, é
adotado para que seja assim alcançada a mais-valia (SANCHES, 2008).

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Lembrete

Devemos reforçar a importância dos domínios dos conceitos da


tradição marxista para explicarem a sociedade atual, sendo essa assentada
na desigualdade social entre as classes sociais.

Sanches (2008) descreve que no caso do trabalho coletivo, ou das ações de cooperação que assim
preferirmos denominar, é possível que se alcance a mais-valia relativa. Vale lembrar que a mais-valia, de
acordo com a teoria marxista, é a diferença entre o valor da mercadoria produzida e a soma do valor dos
meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista.

A mais-valia relativa, por sua vez, deriva desse conceito, porém, faz acepção aos lucros gerados
partindo da realização de uma mudança organizacional e tecnólogica que é posta em ação com a
redução dos custos dos bens que definem o padrão de vida do trabalho, ou seja, o processo produtivo
é constantemente reorganizado para que seja possível alcançar a mais-valia, e o trabalho coletivo
destaca-se como uma dessas possibilidades (SANCHES, 2008).

Valente (2011), por sua vez, destaca que o trabalho só se constitui como necessário, na sociedade
capitalista, se for capaz de produzir valor e se de tal forma tornar possível a extração de mais-valia. O
autor destaca que o trabalho, quando consegue alcançar esse objetivo, é tido como “trabalho produtivo”,
ou seja, um trabalho só pode ser compreendido como “produtivo” se proporcionar a criação da mais-
valia, sendo necessária, para isso, a confecção de um produto.

Observe a imagem abaixo, que recebe o título Abutres capitalistas, e tece uma ironia ao capitalista,
que é compreendido como aquele que busca extrair todas as oportunidades em prol do enriquecimento.
A imagem demonstra que o capitalismo busca se “alimentar” de tudo o que seja possível, em prol de seu
benefício e de atender suas necessidades.

Figura 5

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Unidade I

Na contemporaneidade, podemos dizer que o trabalho coletivo ainda existe e, aliás, torna-se latente.
Isso pode causar certa confusão visto que vivenciamos uma onda de terceirização do trabalho, ou seja,
vivenciamos um momento econômico em que cada vez mais cresce o trabalho doméstico ou a prestação
de serviços, resultando, cada vez mais, na substituição das antigas formas de trabalho por outras formas
de organização, ou como podemos inferir, vivenciamos um momento em que o trabalho se torna cada
vez mais flexível (SANCHES, 2008).

No entanto, o trabalho ainda possui como foco um determinado processo de produção, um produto
a ser alcançado. O trabalho que é realizado de forma individualizada e, eventualmente, terceirizado,
também é absorvido no processo global.

Essas ações já não precisam ser desenvolvidas lado a lado, individualmente, uma vez que, nessa nova
fase do capitalismo, são influenciadas pelo desenvolvimento tecnológico que cada vez mais condiciona
o processo produtivo, fazendo com que o trabalho coletivo não seja mais restrito ao âmbito da fábrica.
Essa inovação tecnológica, no entanto, não elimina o caráter complementar, cooperativo e coletivo do
trabalho (SANCHES, 2008).

De acordo com a autora, mesmo o trabalho terceirizado representa uma fração do trabalho coletivo
e, da mesma forma, o trabalhador terceirizado também representa um extrato, uma expressão do
trabalhador coletivo, visto que também colabora com o processo produtivo.

Tal organização incorpora diversas fases do processo de trabalho, sendo que tais ações possuem
como organizador um capitalista. Nesse sentido, é exercido um controle sobre o tempo, sobre as questões
relacionadas à ética e aos direitos trabalhistas, além de serem desenvolvidas ações que reforçam a
subordinação. Mesmo o serviço terceirizado e realizado a distância é controlado, ainda que seja por
meio de relatórios que comprovem a produtividade solicitada (SANCHES, 2008).

São as novas bases do trabalho coletivo, condicionadas à nova ordem societária capitalista, conforme
nos diz Sanches (2008). O trabalho, o processo produtivo, passa por uma nova forma de organização,
na qual existe “[...] a qualificação de um trabalho particular na totalidade dos trabalhos combinados”
(IAMAMOTO, 2001, p. 108). Ou seja, ações individuais que colaboram com o trabalho e com a produção
de forma coletiva, ou como nos diz ainda Iamamoto (2001)

As operações individuais tornam-se partes contínuas de uma operação


total. Os inúmeros processos de trabalho particulares, separados no tempo
e no espaço, mas articulados em vista à produção de determinado produto
ou serviço, realizam-se sob o mando de um mesmo empregador (op.cit.,
p. 109).

Dessa maneira, o trabalho coletivo apenas foi condicionado pela atual situação de desenvolvimento
tecnológico e pelas atuais configurações do trabalho na contemporaneidade. Essa compreensão nos
leva a apreender que as ações de qualquer trabalhador estão inter-relacionadas. Por isso, a atuação
interdisciplinar apenas possibilita que essas ações sejam feitas de uma forma coordenada e com uma
relação mais próxima entre os profissionais. Porém, devemos compreender que nossas ações, como
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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

trabalhadores, estão relacionadas e são interdependentes. Essa relação vem balizada por um processo
de trabalho.

Observação

Considere relevante esses dados buscando uma relação entre as


mudanças no mercado de trabalho e a constituição do trabalho em equipe,
e sua relação com a ação interdisciplinar.

É importante reforçar que para Iamamoto (2001) nós, assistentes sociais, também estamos inscritos
em um processo de trabalho, ou seja, nossas ações estão interligadas posto que também somos
trabalhadores coletivos, quer seja por meio da prática interdisciplinar, quer seja por meio de ações
individuais.

No caso dos assistentes sociais, nosso processo de trabalho também irá comportar uma
matéria‑prima ou um objeto de trabalho, irá possuir meios ou instrumentos de trabalho, irá resultar
em um produto e será empreendido por meio de uma ação ou do próprio trabalho.

Como já sabemos, nossa matéria-prima ou objeto de trabalho é a questão social e suas múltiplas
formas de expressão, sendo que nossos meios ou instrumentos de trabalho fazem referência à
instrumentos e técnicas que usamos para empreender nossas ações, e nossa bagagem teórica é nosso
conhecimento proporcionado por nossa formação. Nosso produto será o consenso, por tal conceito
compreendida a subordinação ou a insubordinação que nossas ações conseguem produzir, e nossa
própria ação (IAMAMOTO, 2001).

Observe a figura abaixo, na qual essas informações encontram-se representadas.

Objeto:
Matéria-prima Produto:
Ação: Insubordinação ou
Meios: Trabalho subordinação
Instrumentos e
conhecimento

Figura 6 – Processo de Trabalho – Noção aplicada ao serviço social

Também nesse caso, nossa intervenção irá resultar em um produto. E esse produto irá também
colaborar com o processo de produção, mesmo que nossas ações não estejam inteiramente
relacionadas à produção de uma mercadoria em questão. E, assim sendo, nossas ações empreendidas
por um trabalho coletivo colaboram para o processo laboral. Se essas ações são realizadas de uma
forma interdisciplinar, torna-se mais facilmente possível visualizar o caráter coletivo, como também
poderemos observar.

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Unidade I

No entanto, atualmente, a intervenção interdisciplinar tem se mostrado uma grande tendência


profissional, que afeta várias profissões e não apenas o serviço social. Antunes (2003) nos diz que
vivenciamos, partindo do fim do século XX, especificamente, a partir de 1970, um processo de profundas
mudanças na produção e no trabalho. Essas mudanças, nos termos do autor, resultam em uma relevância
a ações desenvolvidas por meio do trabalho em equipe, além de uma série de outros fenômenos, como
os que descreveremos na sequência.

Antunes (2003) diz ainda que, partindo das mudanças em questão, foram processadas alterações na
forma de produzir (que se torna mais flexível), mas também são realizadas alterações junto ao trabalho,
visto que essas ações também se tornam flexíveis. Cresce também o trabalho terceirizado e se amplia a
perda dos direitos trabalhistas, com a crescente elevação de trabalhos temporários. O trabalho acaba se
tornando cada vez menos “estável”.

No caso da produção, por outro lado, o autor vem nos dizer que o modelo fordista e o modelo
taylorista que pressupunham a produção em grande escala para um consumo massivo também entra em
declínio. Surge, então, o toyotismo, uma forma de produzir que teria surgido no Japão e que pressupõem
a produção de acordo com a demanda (e não mais em massa) e a produção variada. Busca-se um melhor
aproveitamento do tempo (just in time) e a produção agora passa a ser coordenada de forma a atingir
a qualidade total.

Nesse novo processo, destaca-se a importância também do avanço tecnológico que permite que cada
vez mais a produção, o trabalho e o consumo não encontrem mais barreiras para a sua plena expansão.
Cabe lembrar que o mercado se torna cada vez mais globalizado. Porém, é preciso reforçar que essas
alterações, inclusive com o incremento da tecnologia, buscam a produção da mais-valia, e ela garante que
o sistema capitalista continue tendo “fôlego” para superar as crises que vivencia (ANTUNES, 2003).

Mas, e para o trabalhador, o que muda partindo da constituição dessas mudanças na produção e
no trabalho? Antunes (2003) afirma que, decorrente do processo de terceirização do trabalho, há uma
redução do proletariado fabril, ou seja, daquele trabalhador que atua especificamente junto à empresa
ou organização em que atua. Surge, assim, um novo proletariado, um novo trabalhador, que por sua
vez permanece subcontratado, ou no âmbito da prestação de serviços eventuais. O trabalho feminino,
para o autor, também aumenta, apesar de continuar sendo mal remunerado e com jornadas extensas
de trabalho se comparado ao trabalho masculino. Jovens e idosos são excluídos das possibilidades de
trabalhar e crianças são incluídas em possibilidades irregulares de trabalho.

Nesse processo de terceirização, como sinalizamos, crescem as possibilidades em relação ao trabalho


em equipe. Os proletários são chamados a participar dos processos de trabalho, oferecendo uma ilusão
de que participam desse processo produtivo. Também surge o trabalhador polivalente, ou seja, aquele
que precisa desempenhar múltiplas funções, entrando em declínio o trabalho especializado, com um
saber específico (ANTUNES, 2003).

Mangini & Mioto (2009), por outro lado, destacam que as empresas, onde grande parte dessas
inserções se inicia, percebem que a intervenção interdisciplinar é uma possibilidade de acabar com a
excessiva especialização do trabalho, mas possibilita ainda um maior aproveitamento do saber. A ideia
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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

que se transmite, no entanto, não é essa, e sim que o profissional que atua de forma interdisciplinar é
aquele mais cooperativo, é o profissional pró-ativo.

Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade é tomada como uma atitude de


abertura do sujeito individual ou coletivo (equipe), disposto à integração,
interação, coordenação, colaboração e à cooperação. Além de disposição
e abertura, é fundamental desenvolver uma postura flexível em face das
mudanças, das novidades e das diferenças. O sujeito interdisciplinar é um
aventureiro que busca ultrapassar as barreiras do conhecimento e inovar, ou
seja, ser transdisciplinar (MANGINI & MIOTO, 2009, p. 212).

Diante dessas situações, o assistente social também é condicionado a essas mudanças e alterações
processadas no modo de produção e no mercado de trabalho, como nos diz Iamamoto (2001). Também
estaremos condicionados ao trabalho precário, terceirizado, polivalente, à perda dos direitos, à ampliação
das jornadas de trabalho e, sobretudo, ao trabalho instável.

Somos solicitados cada vez mais a desenvolver trabalhos em equipes, atuações que, com o tempo,
vão sendo empreendidas de forma interdisciplinar ou multidisciplinar. Por isso, precisamos compreender
sobre esses processos, sobre essas práticas e nos preparando para intervenções dessa natureza. Além
disso, precisamos compreender ainda que nosso trabalho é coletivo, assim como os demais, e podemos
desenvolvê-lo também de forma interdisciplinar.

Na sequência, realizaremos um estudo sobre como a questão da interdisciplinaridade se manifesta


junto ao serviço social. Destacaremos informações específicas e mais relacionadas à nossa área de
atuação, à nossa prática e à formação de conceitos de tal natureza. No entanto, esperamos que você
recorra aos exercícios dispostos ao final desta unidade e que versam sobre o conteúdo tratado até então,
a fim de avaliar a aprendizagem obtida sobre conceitos tão relevantes para nossa formação profissional.

Concluindo esse tópico e, também esta unidade, deixamos, para sua reflexão, a matéria que
segue e que retrata a pobreza vivenciada por grande parte de nossa população brasileira e que está
diretamente relacionada com o meio de organização do sistema de produção capitalista, ao qual nos
referimos anteriormente. Esperamos que essa reflexão motive você a pensar acerca das possibilidades de
intervenção que nós, assistentes sociais, podemos desenvolver, e de como essas ações podem colaborar
para a minimização dos sofrimentos de população empobrecida, também resultado da diferença entre
as classes sociais constituídas partindo desse sistema.

Em 2010, percentual de pessoas pobres em municípios de médio porte era maior


que média nacional

O percentual de pessoas consideradas pobres – com rendimento domiciliar per capita de


até R$ 70 – era maior, em 2010, nos municípios de médio porte, que têm entre 10 mil e 50
mil habitantes. Enquanto a média em todo o país de brasileiros nessa condição era de 6,3%,
nessa parcela de municípios ela atingiu o dobro, 13,7%. Além disso, metade dos moradores
das cidades de médio porte vivia com até meio salário mínimo per capita (R$ 205).
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Unidade I

A informação está nos Indicadores Sociais Municipais do Censo Demográfico 2010, divulgado
hoje [16 nov. 2011] pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento
faz uma análise do Censo, focando em temas como aspectos demográficos, educacionais, de
saneamento e do perfil de distribuição dos rendimentos para os municípios brasileiros.

O estudo aponta também que nos municípios maiores, com população superior a 500
mil habitantes, a incidência da pobreza é menor. Neles, menos de 2% dos habitantes tinha
até R$ 70 de rendimento per capita e cerca de um quarto vivia com até meio salário mínimo.

Entre as capitais, Macapá tinha a maior proporção de pessoas vivendo nessa situação
de pobreza, 5,5% do total. Com até um quarto do salário mínimo (R$ 127,50), viviam na
capital do Amapá 16,7% dos habitantes. Os melhores indicadores foram observados em
Florianópolis. Na capital catarinense, apenas 0,3% da população vivia com rendimento
domiciliar per capita de até R$ 70 e 1,3% com até ¼ do salário mínimo.

Considerando apenas as capitais das regiões Sul e Sudeste, o Rio de Janeiro registrou os maiores
percentuais de pessoas nessas condições. Na capital fluminense, 1,1% apresentava rendimento
domiciliar per capita de até R$ 70 e 4,5% viviam com até um quarto do salário mínimo.

Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-11-16/em-2010-percentual-


de-pessoas-pobres-em-municipios-de-medio-porte-era-maior-que-media-nacional>.
Acesso em: 25 jan. 2012.

Bons estudos.

Saiba mais

Assista aos filmes abaixo como uma forma de complemento dos


estudos aqui empreendidos. Eles indicam a vivência dos trabalhadores e
dos segmentos empobrecidos em diversas épocas da história.

VINHAS da ira. Dir. John Ford. Estados Unidos, 129 minutos, 1940.
LADRÕES de bicicleta. Dir. Vitorio De Sica. Itália, 90 minutos, 1948.
TERRA treme, A. Dir. Luchino Visconti. Itália, 136 minutos, 1947.

E leia o texto:

ANTUNES, R. O novo mundo do trabalho. O trabalho no novo mundo.


Jornal da UNICAMP. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/
unicamp_hoje/ju/abril2007/ju354pag06.html>. Acesso em: 30 dez. 2011.

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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

Resumo

Iniciamos essa unidade de estudo realizando nossas reflexões sobre


o desenvolvimento do conhecimento, considerando desde a Antiguidade
até a Idade Moderna. Por meio desse percurso, conseguimos observar
inicialmente como a produção do conhecimento era pautada em
grandes paradigmas, porém, com o tempo, com as mudanças ocorridas,
a produção do conhecimento passou a ser considerada como fruto das
especializações, abrindo, assim, caminho para o conhecimento composto
de forma interdisciplinar. Também nessa abordagem inicial, observamos o
desenvolvimento do conceito de interdisciplinaridade na Europa, Estados
Unidos e Brasil, demonstrando que as dificuldades iniciais de conceituação,
vivenciadas na década de 1970, resultaram em um aprofundamento acerca
de tal conceito estudado na década de 1990 e que repercute na atualidade.

Demos seguimento ao trabalho discutindo a conceituação sobre


interdisciplinaridade que é posta pela teoria marxista. Com isso, foi possível
destacar os principais problemas que podem resultar em conhecimento,
além de conhecer sua necessidade na contemporaneidade e os princípios
que devem ser observados no desenvolvimento de uma prática de
conhecimento interdisciplinar.

Observamos que a prática interdisciplinar deve se pautar por meio de


uma constituição do saber, em que as diversas formas de conhecimento
possam convergir para um mesmo objeto. Não significa a sobreposição
de saber, nem a unificação deles em um único sentido, mas sim uma
síntese inteligente e que evite os problemas decorrentes de apropriações
indevidas. Pode, no entanto, causar efeitos positivos na produção de
conhecimento como também pode resultar em situações que conduzam a
interdisciplinaridade para uma generalização ou a um reducionismo com
caráter instrumental.

Discutimos ainda que a interdisciplinaridade não deve ser compreendida


como a salvação da ciência moderna, mas como uma necessidade que é
imposta pela realidade, composta por múltiplas determinações e que, como
tal, demanda essencialmente um conhecimento que ofereça suporte à sua
apreensão, por exemplo, o conhecimento interdisciplinar organizado de
forma dialógica entre as diversas áreas do saber.

Ainda dentro dessa conceituação, por meio da obra de Hilton Japiassu,


foi possível compreender inúmeros aspectos sobre a interdisciplinaridade.
Foi possível observar que a interdisciplinaridade é percebida pelo autor

51
Unidade I

como uma possibilidade de construção de um saber diferenciado com


base nas diversas especializações. Para ele, a interdisciplinaridade se aplica
tanto para a produção do conhecimento quanto para orientar a prática
profissional. Por meio dessa análise, ainda conseguimos compreender as
necessidades do conhecimento interdisciplinar, e também aprendemos
sobre seus aspectos, como os obstáculos, a intervenção interdisciplinar,
as modalidades da intervenção interdisciplinar e as exigências que são
impostas para que esse conhecimento e essa intervenção aconteçam e
sejam da forma mais correta possível e próxima do que foi idealizado.

No entanto, pudemos observar que para Japiassu é fundamental


que a realidade concreta seja considerada no processo de produção de
conhecimento interdisciplinar, e que esse conhecimento interdisciplinar
deve ser orientado no sentido de oferecer soluções para os problemas
concretos e que são experimentados pela sociedade atual.

Japiassu também nos mostrou as diferenciações entre os termos


multidisciplinar, pluridisciplinar e transdisciplinar, e conseguimos observar
que se referem a níveis diferenciados de produção do conhecimento e de
ações.

Também realizamos um estudo sobre o conceito de trabalhador


coletivo, compreendido como o trabalho que é empreendido por meio de
ações individuais e de ações coletivas, mas que tem como foco o processo
de trabalho global. Partindo dessas definições, realizamos uma discussão
sobre os processos de trabalho na atualidade e das alterações processadas
em nossa sociedade, bem como do desenvolvimento do trabalho em
equipe, que cada vez mais se intensifica, e “abre” a possibilidade para o
trabalho interdisciplinar. Realizamos também uma breve descrição acerca
da aplicabilidade do conceito de processo de trabalho ao serviço social.

Exercícios

Questão 1. A respeito da interdisciplinaridade no Serviço Social, avalie as afirmativas a seguir:

I. Não há relação entre o desenvolvimento da interdisciplinaridade e a evolução das formas de


produção de conhecimento.

II. Na década de 1960, Gusdorf realizou uma pesquisa sobre o conceito de interdisciplinaridade em
Ciências Humanas.

III. No ano de 1969, ocorreu em Nice, na França, um congresso importante para a discussão sobre a
interdisciplinaridade.
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SERVIÇO SOCIAL INTERDISCIPLINAR

IV. Em 1971, um grupo de experts, analisando o ensino e a pesquisa nas universidades, concluiu que
as barreiras entre as disciplinas deveriam ser suprimidas já no processo formativo.

V. Em 1977, Guy de Palmade publicou um verdadeiro tratado sobre a interdisciplinaridade,


contrapondo-se a essa forma de produção de conhecimento.

Está correto o que se afirma em:

A) I, II e III.

B) II, III e V.

C) I, III e IV.

D) II, III e IV.

E) III, IV e V.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o desenvolvimento da interdisciplinaridade acompanhou toda a evolução da produção


de conhecimento no Serviço Social.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: em 1961, Gusdorf realizou um amplo estudo buscando compreender melhor o conceito
de interdisciplinaridade em Ciências Humanas. Esse estudo foi financiado pela Unesco e concluiu pela
necessidade de se diminuir a distância teórica entre as diversas formas de conhecimento por meio da
convergência entre distintas formas de saber.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: há uma série de obras, pesquisas e eventos que nos permitem conhecer um pouco da
evolução da interdisciplinaridade no mundo. Um desses eventos foi o Congresso de Nice, que ocorreu
na França em 1969 e foi considerado um dos precursores das discussões a seu respeito.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: em 1971, a OCDE promoveu uma pesquisa com vários intelectuais que buscavam
uma solução para os problemas relacionados ao ensino e à pesquisa nas universidades. Esses teóricos
53
Unidade I

concluíram que as barreiras entre as disciplinas deveriam ser eliminadas, e uma das propostas foi a
organização de espaços de estudo e de pesquisa envolvendo várias áreas do saber.

V – Afirmativa incorreta.

Justificativa: em 1977, Guy de Palmade publicou um livro no qual chamou a atenção para os perigos
de se transformar a interdisciplinaridade em uma Ciência Social Aplicada. Nessa obra, o autor evocava
a necessidade de conceituá-la, em um momento em que seu significado ainda não estava muito claro.

Questão 2 (Cespe/UnB 2012, adaptada). A respeito da atuação em equipe multiprofissional e


interdisciplinar, assinale a opção correta.

A) Uma equipe de trabalho multiprofissional é sempre interdisciplinar.

B) A equipe multidisciplinar compõe-se de profissionais de diversas áreas envolvidas no trabalho a


ser realizado, sem necessidade de articulação entre os pares.

C) A equipe interdisciplinar reúne disciplinas com objetivos diferenciados e profissionais mediados


pelo diálogo entre si.

D) Na equipe transdisciplinar, as relações internas são hierarquizadas.

E) Os trabalhos em parceria são intrinsecamente interdisciplinares.

Resolução desta questão na plataforma.

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