Você está na página 1de 130

Perspectivas Profissionais

em Serviço Social
Autoras: Profa. Daniela Emilena Santiago
Profa. Renata Leandro
Colaboradores: Profa. Amarilis Tudela Nanias
Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Professoras conteudistas: Daniela Emilena Santiago / Renata Leandro

Daniela Emilena Santiago

Assistente social graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Violência Doméstica
contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Psicologia pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis/SP. Atualmente é funcionária pública do município de Quatá/
SP, atuando como Assistente Social junto à Secretaria Municipal de Promoção Social. Exerce também a função de
docente no curso de Serviço Social da Universidade Paulista (Unip), campus de Assis/SP.

Partindo de sua vinculação à Unip, enquanto docente do curso de Serviço Social no campus de Assis-SP, emergiu a
oportunidade de seu atrelamento também ao curso de graduação em Serviço Social na modalidade SEI, oferecida pela
Unip Interativa, o que lhe proporcionou a oportunidade de ministrar aulas da disciplina de Política Social de Habitação
nessa modalidade. Além disso, também ministrou, na modalidade SEPI, aulas da disciplina Política Social de Saúde no
curso de pós-graduação de Gestão em Políticas Sociais, oferecido pela Unip. O vínculo com essa universidade também
lhe possibilitou elaborar o presente material.

Renata Leandro

Reside no município de Campinas (SP). Em 2002, graduou-se em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica
de Campinas (PUC-Campinas); tem especialização na área de Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pelo
Laboratório da Criança (Lacri) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP – 2005), em Sexualidade
Humana pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP – 2009) e é pós-graduanda
em Formação em EaD pela UNIP.

Atualmente é docente na UNIP, campus de Sorocaba, consultora em Gestão Pública e captadora de recursos e
responsabilidade social no primeiro e no segundo setor. Possui experiência em gestão social, tendo atuado como gestora no
município de São Thomé das Letras (MG) e na Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de
Janeiro. Atuou também em Centros de Referência de Assistência Social (Cras) no município de Campinas, no atendimento
matricial de famílias e na área de crianças e adolescentes com suas respectivas famílias, bem como no Projeto Rotas Recriadas
(atualmente denominado Programa Municipal de Enfrentamento à Exploração Sexual Infantojuvenil), de 2003 a 2007.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

L437p Leandro, Renata

Perspectivas profissionais em serviço social / Renata Leandro,


Daniela Emilena Santiago. – São Paulo: Editora Sol, 2012.

128 p., il.

Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVIII, n. 2-031/12, ISSN 1517-9230.

1. Serviço Social - Assistentes. 2. Trabalho. 3. Projeto Social. I.Título.

681.3

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla Torre


Vice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo Okida


Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez


Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Juliana Maria Mendes
Michel Kahan
Amanda Casale
Sumário
Perspectivas Profissionais em Serviço Social

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 O TRABALHO NO CAPITALISMO.................................................................................................................. 11
1.1 Marx e o trabalho no capitalismo.................................................................................................. 12
1.2 A mais-valia............................................................................................................................................. 13
1.3 Como o trabalho se transforma em mercadoria...................................................................... 14
2 AS CONTRADIÇÕES DO TRABALHO NO CAPITALISMO...................................................................... 16
2.1 O capitalismo e a exploração da força de trabalho................................................................. 17
2.2 Estratégias do capitalismo para alcançar seus interesses.................................................... 18
2.3 A Revolução Industrial e a maior precarização da relação entre capital e
trabalho............................................................................................................................................................. 19
2.4 A relação entre capital e trabalho.................................................................................................. 21
2.4.1 Capital e trabalho: uma relação de conflitos sociais................................................................ 22
2.5 A organização da assistência social e o importante estudo de Mary Richmond....... 25
3 O NEOLIBERALISMO E A PRECARIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO................................ 28
3.1 O significado contemporâneo da Questão Social no Brasil................................................. 31
3.2 O neoliberalismo e a “nova Questão Social”.............................................................................. 31
3.3 A Questão Social em uma sociedade em transformação..................................................... 32
3.4 Decifrando a nova Questão Social... Não tão nova assim!................................................... 34
3.5 Formas de enfrentamento da Questão Social no Brasil........................................................ 36
3.6 Reflexão acerca da exclusão social................................................................................................ 38
4 TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: A PROFISSÃO ANTE AS TRANSFORMAÇÕES
SOCIETÁRIAS RECENTES.................................................................................................................................... 43
4.1 Trabalho e Serviço Social.................................................................................................................... 44
4.2 O cenário atual, suas incidências na Questão Social e a consolidação do
projeto ético-político do Serviço Social.............................................................................................. 51
4.3 O redimensionamento da profissão: o mercado e as condições de trabalho............... 58
Unidade II
5 AS DEMANDAS E AS RESPOSTAS DA CATEGORIA PROFISSIONAL AOS PROJETOS
SOCIETÁRIOS.......................................................................................................................................................... 68
5.1 As demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade ... 69
6 CONDIÇÕES DE TRABALHO E RESPOSTAS PROFISSIONAIS............................................................. 74
Unidade III
7 A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL................................................ 80
7.1 A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e
intervenção profissional............................................................................................................................. 80
7.1.1 A pré-história dos instrumentais no Serviço Social e as práticas
desenvolvidas pelos primeiros profissionais............................................................................................ 81
7.1.2 Instrumentalidade e fazer profissional na contemporaneidade.......................................... 87
8 AS DIMENSÕES ÉTICO-POLÍTICA, TÉCNICO-OPERATIVA E TEÓRICO-METODOLÓGICA
NO SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO E OS RUMOS ÉTICO-POLÍTICOS DO
TRABALHO PROFISSIONAL................................................................................................................................ 93
8.1 As competências do Serviço Social na contemporaneidade: política, ética,
investigação e intervenção....................................................................................................................... 96
APRESENTAÇÃO

A disciplina Perspectivas Profissionais em Serviço Social baseia-se na compreensão do processo


intrínseco às estratégias criadas pelo Estado e pelo capital para instituir os mecanismos de controle da
classe trabalhista e o refreamento dos conflitos entre trabalhadores e empresariado, o que faz surgir a
Questão Social, que é a matéria-prima do Serviço Social, bem como seus reflexos.

Estudaremos como esse processo se constitui em instrumento de preservação e controle da força de


trabalho, por meio de políticas públicas sociais, analisando como o Estado deve intervir na administração
das expressões da Questão Social para minimizar as mazelas provocadas/geradas pelo modo de produção
capitalista, concentrador da riqueza socialmente produzida.

Tal concepção torna-se fundamental, posto que é a partir da administração dos conflitos entre
as classes e ainda junto às expressões da Questão Social por parte do Estado que são constituídos
os espaços de atuação profissional do assistente social, ou, dito de outra forma, constituem-se suas
possibilidades de instituição em um espaço sócio-ocupacional. Esses espaços de trabalho podem ser
por nós compreendidos como as perspectivas profissionais do Serviço Social, que englobam tanto os
conceitos relacionados à prática da profissão quanto os afetos ao mercado de trabalho do profissional
da área.

Para isso, é importante ainda lembrar que a Questão Social está relacionada às estruturas sociais,
históricas e políticas de um país e apresenta-se de forma diferente nas diversas sociedades; no interior
delas, configura-se e reconfigura-se de acordo com as mudanças estabelecidas pelas estruturas
capitalistas. Nesse sentido, a compreensão do mercado de trabalho e das perspectivas profissionais
demanda também a compreensão do que se convencionou denominar Questão Social e dos processos
que viemos vivenciando e que têm provocado alterações nesse fenômeno.

Diante de toda essa conjuntura, é necessário entender os meios de que a profissão dispõe para atuar
junto à Questão Social. Atualmente, toda a nossa categoria profissional tem refletido sobre o conceito de
instrumentalidade, e, a fim de melhor compreendê-lo, também refletiremos sobre a instrumentalidade
do Serviço Social. A instrumentalidade de que se vale o profissional refere-se à capacidade adquirida por
meio da profissão, que possibilita responder às demandas apresentadas ao Serviço Social com o exercício
de sua práxis, não representando somente um conjunto de instrumentos com o qual os assistentes
sociais realizam seu trabalho.

Assim, a disciplina Perspectivas Profissionais em Serviço Social tem como objetivo possibilitar ao
educando a compreensão crítica do profissional em suas diferentes realidades de trabalho, visando a
ações baseadas em teorias e legislações, para distanciar-se de ações imediatistas, com o entendimento
dos instrumentos técnico-operativos utilizados, para potencializar sua atuação diante dos desafios das
expressões da Questão Social.

Para tanto, também busca a compreensão da institucionalização do Serviço Social; da relação deste
com o capitalismo; do surgimento da Questão Social a partir dos fatores históricos, políticos, sociais
e econômicos; e da atuação do Estado no modo econômico capitalista. Além disso, busca entender o
7
enfrentamento dos reflexos da Questão Social, as relações de trabalho e sua construção, sua precarização
e o desemprego como a própria “nova questão”, bem como suas manifestações na sociedade brasileira.

Pretendemos, dessa maneira, tornar o estudante apto a identificar as singularidades existentes


nas diversas formas de agir, já que é preciso analisar a realidade apresentada pelo público-alvo e a
organização em que o assistente social trabalha, para não fazer das situações-problema um fim em si e
utilizar corretamente os instrumentais técnicos do Serviço Social.

INTRODUÇÃO

Ao abordarmos as perspectivas profissionais em Serviço Social, retrataremos a atuação profissional


e os procedimentos técnico-operativos mediante reflexões acerca das fontes que estão direta ou
indiretamente relacionadas à profissão e ao cotidiano da prática profissional.

Podemos entender que a prática do assistente social é desenvolvida pela combinação de


diversos fatores, entre eles: o relacionamento com os que necessitam de seus serviços e os buscam;
os instrumentais utilizados para o desenvolvimento satisfatório das funções desse profissional,
conforme as prerrogativas de suas atividades; os possíveis conflitos; a qualificação técnica e a
metodologia empregada.

É vasto e diversificado o campo de inserção do assistente social no mercado de trabalho, que é


bastante dinâmico, como a própria realidade social em que o profissional atua. A sociedade sofre
modificações constantes, o que ocorre também com nossa atuação profissional, seja no aspecto teórico,
seja do ponto de vista prático. Assim, surgem sempre novos campos de atuação, o que aumenta as
possibilidades profissionais.

Portanto, esta disciplina não pretende elaborar um manual de atuação profissional com modelos
inquestionáveis a serem seguidos. Considerando a diversidade de campos de atuação existente, não
pretendemos aqui esgotar uma discussão sobre o estudo, mas sim definir algumas das atribuições e
práticas do profissional e proporcionar análises de situações e conceitos utilizados pelo Serviço Social.

Os instrumentais técnico-operativos estão em constante desenvolvimento: são modificados


diariamente pela atuação dos assistentes sociais, tanto no campo teórico quanto no prático, o qual
denominamos práxis profissional. Sua atuação em diversas áreas é resultado de muitos elementos
relacionados, que podem ser de ordem profissional, social e institucional.

Com tal intento, organizaremos o presente material da seguinte maneira: iniciaremos com uma
discussão sobre a categoria trabalho para, em seguida, discutirmos o conceito da instrumentalidade,
concluindo com as respostas da categoria profissional às demandas emergentes.

A argumentação sobre o trabalho pretende discutir as mudanças contemporâneas nessa categoria.


Na sequência, debateremos o conceito de trabalho na área de Serviço Social, introduzindo a noção de
processo de trabalho. Em virtude dessa introdução, será necessário refletir sobre a Questão Social, objeto
de trabalho do assistente social. Derivando ainda dessa compreensão, observaremos como as mudanças
8
processadas na Questão Social provocam também alterações na prática do assistente social, e de que
forma essas situações influenciam o mercado de trabalho desse profissional.

Na Unidade I, refletiremos sobre a importância do projeto ético-político do Serviço Social assumido


por toda a nossa categoria profissional diante das mudanças acontecidas, que alteram significativamente
o nosso mercado de trabalho.

Dando sequência a tais conteúdos, pensaremos sobre as demandas que são impostas a nossa
categoria profissional e as possibilidades de resposta a elas. Assim, na Unidade II, destacaremos as
respostas conferidas pela categoria profissional às demandas apresentadas pelo Estado e pela sociedade
civil, lembrando que tais respostas são condicionadas pelas relações de classe da sociedade capitalista e
mediadas pelo Estado.

Considerando tal concepção, introduziremos ainda o debate sobre a instrumentalidade, com algumas
considerações acerca dos instrumentais técnico-operativos que possibilitam o fazer profissional, além
de enfatizarmos alguns outros conceitos relacionados à questão em debate. Tal conteúdo será tratado
na Unidade III deste livro-texto.

Após a exposição dos conteúdos, ao final de cada unidade, serão propostos exercícios para que
você possa fortalecer seu processo de aprendizagem. Recorra a esses instrumentais para melhorar a
apreensão dos conteúdos tratados.

9
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Unidade I
1 O TRABALHO NO CAPITALISMO

Nesta Unidade, conforme sinalizado na introdução, estudaremos com maior profundidade o trabalho,
considerando a realidade capitalista. Para compreendê-la, recorreremos à tradição marxista, que, embora
tenha em Marx seu principal expoente, na contemporaneidade, é defendida também por outros autores,
que destacaremos neste item. Dessa forma, estaremos atentos aos seguintes conceitos:

• o trabalho na visão de Marx;

• a produção da mais-valia;

• a transformação da mercadoria em valor por meio do trabalho.

Iniciamos assim pela compreensão do modo de produção capitalista para, na sequência, tratarmos
dos demais conceitos.

O modo de produção capitalista marcou o fim do modelo de sociedade baseado no feudalismo. Como
sabemos, o regime feudal possuía uma forma de organização econômica, política e social totalmente
diferenciada da organização capitalista, tendo começado a ruir em fins do século XVI. O capitalismo
nasceu com a característica central de compra e venda da mão de obra humana, baseado num sistema
de assalariamento: o trabalhador que antes realizava o seu trabalho de maneira artesanal e participava
de todo o processo de produção passou a vender a sua mão de obra.

É certo que as condições de vida e de trabalho no feudalismo não eram nada boas; todavia, no
capitalismo, a situação não melhorou: o trabalhador passou a valer pelo que produzia e pelas condições
estabelecidas no mercado. Nesse caso, o trabalho caracteriza-se pela separação do homem de seus
meios de produção, como terras, máquinas e ferramentas.

Conforme Meksenas (1994) nos explica, a

[...] sociedade capitalista é uma organização de trabalho que se caracteriza


pela existência de, basicamente, duas classes sociais: os proprietários dos
meios de produção e os proprietários apenas de sua capacidade de trabalho.
Assim sendo, os trabalhadores trocam com os empresários (os donos dos
meios de produção) a sua capacidade de trabalhar por um salário. Nessa
sociedade, o trabalho industrial aparece como uma forma básica de produção
de bens de consumo (MEKSENAS, 1994, p. 26).

11
Unidade I

Com a Revolução Industrial (século XVIII), muitos tinham a esperança de que a vida seria melhor,
uma vez que, com o dinheiro fruto da atividade laborativa, poderiam realizar seus desejos, adquirir
produtos e serviços. Na verdade, a vida não seria tão simples assim, uma vez que a exploração era uma
das principais características desse sistema.

Vamos, no entanto, entender um pouco mais o sistema capitalista, recorrendo ao entendimento


marxista. Vejamos os itens a seguir, em que tais conhecimentos encontram-se destacados.

1.1 Marx e o trabalho no capitalismo

Quem estudou a sociedade capitalista de maneira crítica foi o pensador alemão Karl Marx (1818-
1883), conforme pontuamos. Para esse teórico, o trabalhador é bastante explorado no capitalismo.

Essa exploração se dá quando o trabalhador começa a vender sua força de trabalho, visto
que, para Marx, no sistema capitalista, há apenas duas classes sociais: a classe trabalhadora ou
operária, que detém a força de trabalho, e a classe burguesa, que detém os meios de produção.
Quando esse processo de compra e venda da força de trabalho se inicia, o capitalista, ou burguês,
compra a força de trabalho pelo “preço” que desejar. O trabalhador, por sua vez, como não possui
alternativa para ter suas necessidades atendidas, vende sua força de trabalho ao burguês pelo
preço ofertado. Nesse processo de compra e venda da força de trabalho, os preços pagos pelo
burguês ou capitalista são sempre baixos em relação ao lucro que ele obtém com a venda da
mercadoria.

Essa relação de compra e venda da força de trabalho reforça a desigualdade entre as classes
sociais. Mandel (1982) coloca que é por meio da compra da força de trabalho que a desigualdade
inerente a esse sistema se mantém. Seguindo tal raciocínio, se não houver venda da força de
trabalho, o sistema não se sustentará. Porém, não há como contarmos com isso, visto que a única
forma de termos nossas necessidades atendidas, nessa sociedade, é por meio do trabalho.

É também por meio do trabalho que acontece a alienação do trabalhador, conforme Marx (1988)
destaca e Mandel (1982) também sinaliza. A primeira forma de alienação do trabalhador é quando
ele é separado do seu meio de produção. Em um segundo momento, vem a alienação pela falta de
conhecimento da realidade de exploração que está vivendo. Isso faz o sistema continuar se perpetuando
ao longo dos anos.

Em síntese, é por meio do trabalho que o homem tem suas necessidades atendidas. Na sociedade
capitalista, essa atividade é marcada pela exploração. Esta acontece para que o capitalista possa alcançar
o lucro, ou mais-valia, conforme poderemos ver melhor no decurso desta Unidade.

12
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Saiba mais

Para o capitalismo, é importante que o trabalhador não pense e apenas


realize o trabalho para o qual foi designado. Se nos reportamos ao cinema,
veremos, em uma cena do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin
(1936), o ator apertando parafusos exaustivamente na linha de montagem
e, posteriormente, sendo engolido pelas engrenagens, o que revela uma das
faces do capitalismo, que o filme mostra criticamente. Vale a pena assistir:

TEMPOS modernos. Direção e produção: Charles Chaplin. Nova Iorque:


Charles Chaplin Productions, 1936. (89 min).

1.2 A mais-valia

Assim, a partir de seus estudos sobre o trabalho no capitalismo, Marx chegou à conclusão de que o
trabalhador não recebe justamente o seu salário, o qual deveria suprir suas necessidades de alimentação,
vestuário, lazer e garantir o bem-estar de sua família, tal como apontamos anteriormente.

Esse teórico crítico do capitalismo apontou que o salário pago ao trabalhador não corresponde ao
tempo gasto no processo de produção, de modo que a maior parte do lucro resultante fica em poder
do dono dos meios de produção, isto é, do capitalista. Marx (1988) chamou essa diferença entre o valor
pago pela mercadoria e o preço pelo qual ela é vendida de mais-valia. Vejamos uma explicação desse
termo, feita por Tomazi (2000):

[...] o trabalhador, ao assinar um contrato para trabalhar numa determinada


empresa, está dizendo ao seu proprietário que se dispõe a trabalhar; por
exemplo, oito horas diárias, ou quarenta horas semanais, por determinado
salário. O capitalista passa, a partir daí, a ter o direito de utilizar essa
força de trabalho no interior da fábrica. O que ocorre, na realidade, é que
o trabalhador, em cinco ou seis horas de trabalho diárias, por exemplo,
produz um valor que corresponde ao seu salário total, sendo o valor
produzido nas horas restantes apropriado pelo capitalista; quer dizer,
diariamente o empregado trabalha duas horas de graça para o dono da
empresa, o que se produz nessas duas horas a mais se chama mais-valia.
São as horas trabalhadas e não pagas que, acumuladas e reaplicadas no
processo produtivo, vão fazer com que o capitalista enriqueça rapidamente
(TOMAZI, 2000, p. 50).

As ideias apresentadas por Marx (1988) chamaram a atenção de muitas pessoas, trabalhadores e
capitalistas; estes, por sua vez, ficaram preocupados e até irritados com tudo o que foi demonstrado
claramente sobre mais-valia, o que dividiu nitidamente os que defendiam o capitalismo e os que se
colocavam contrários a esse modelo.
13
Unidade I

Entretanto, nem todos percebem a exploração em que vivem os trabalhadores, de modo que criticam
greves e movimentos sociais em geral que se colocam em defesa de melhores salários e condições de
trabalho e de vida.

1.3 Como o trabalho se transforma em mercadoria

Pode parecer complicado imaginar que o trabalho se transforma em mercadoria, mas utilizaremos
este tópico para refletir mais profundamente sobre o ponto proposto. No capitalismo, o trabalhador
precisa trabalhar para atender às suas necessidades básicas (como alimentação, vestuário e lazer) e, em
troca, recebe um salário que possa atender aos seus objetivos.

À medida que o trabalhador se coloca à disposição do mercado para trabalhar em troca de um


salário, seu trabalho passa a ser uma mercadoria, pois ele o vende: lembre-se de que o trabalho é um
produto de compra e venda no capitalismo. Isso vale para qualquer tipo de trabalho, seja no campo, na
cidade, na indústria, no comércio ou no setor de serviços em geral.

Podemos imaginar a situação de um professor que ministra as suas aulas numa determinada escola:
na realidade, toda relação de trabalho se dá a partir de um contrato, estabelecido pelas leis do mercado,
entre o trabalhador (no caso, o professor) e o empregador; o produto esperado são as aulas, cujo
beneficiário é o aluno. Este material que você tem em mãos só se tornou possível devido à relação de
compra e venda da força de trabalho.

Pensar nessa situação parece algo fora do comum, fora de lógica ou que não se encaixa na realidade
educacional, mas esse é o modelo de produção e de funcionamento do capitalismo que muitas vezes
poderá tornar-se uma relação conflituosa e também desrespeitosa, se, em nosso exemplo, o professor
for visto como um mero vendedor de sua força de trabalho, e não como um intelectual a favor do
conhecimento, do aprendizado e da cidadania.

Em contrapartida, quando o aluno se coloca como simples cliente receptor dos serviços, afasta toda
a possibilidade de uma educação primorosa e de qualidade.

Por diversas situações, como as mostradas anteriormente, no tocante às relações de trabalho, podemos
afirmar que, principalmente nas sociedades em que a exploração se mostra de maneira patente, essas
relações são constituídas por conflitos.

No caso do capitalismo, a situação é claramente conflituosa: de um lado está o capitalista


querendo atingir o maior lucro possível, às vezes até pela exploração, pelo desrespeito aos direitos
do trabalhador; por sua vez, este último tenta, a todo custo, sair de uma situação de exploração,
o que nem sempre consegue; dessa maneira, há mais pessoas querendo uma oportunidade de
trabalho do que vagas disponíveis, o que acarreta a busca de trabalhos informais, desde que
estes garantam o mínimo para o sustento. Assim, encontramos trabalhadores submetendo-se a
situações de subemprego. como as encontradas em trabalhos precários oferecidos em fazendas e
contratações terceirizadas.

14
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Quando os trabalhadores tomam conhecimento de sua situação, encontram meios e se


organizam, passam a lutar por seus direitos. No campo, temos as organizações dos trabalhadores,
como já houve no Brasil, no século XX, as chamadas Ligas Camponesas, cuja bandeira era a reforma
agrária.

Tais movimentos se estenderam por vários estados do Brasil, tendo seus pontos mais fortes na
Paraíba e em Pernambuco. A partir da década de 1980, passamos a ter o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), que se assemelha às Ligas Camponesas, por agir em defesa da reforma agrária
e de melhores condições de vida e de trabalho para o homem do campo.

Nas cidades, temos vários movimentos formados por inúmeras categorias de trabalhadores, como
os da construção civil, dos metalúrgicos, dos professores, dos comerciários, entre outros, os quais se
organizam e reivindicam melhorias para os seus pares.

A partir de 1980, os metalúrgicos do ABC paulista passaram a fazer manifestações e greves


por melhores condições de trabalho e de salário; nas bases desse movimento, formaram-se novas
centrais sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que fez frente à Central Geral
dos Trabalhadores (CGT), assim como houve o fortalecimento de partidos políticos (como o PTB,
o PC do B, o PCB, o PSB) e a criação de novas correntes partidárias, entre elas o Partido dos
Trabalhadores.

Em síntese, o conceito de trabalho, de forma geral, refere-se à maneira como os seres humanos
realizam atividades, transformando a natureza e desenvolvendo a cultura da coletividade. As diferentes
sociedades constituídas ao longo do tempo nos mostram como o trabalho assume características
distintas.

Por isso, é muito importante saber que o desenvolvimento dos grupos humanos depende da forma
como os indivíduos realizam o trabalho, inclusive para que não adotemos uma postura preconceituosa
quando nos depararmos com culturas diferentes da nossa.

As concepções dos teóricos da Sociologia, como Durkheim e Karl Marx, demonstram como o
tema requer conhecimento amplo; afinal, cada teoria é fruto de uma visão de mundo, de uma
ideologia. Se você se remeter apenas a uma concepção, como se fosse a única, ficará limitado;
entretanto, com base nas diferentes teorias, terá condições de perceber como se organiza o
trabalho na sociedade atual, quais as transformações ocorridas e qual a perspectiva da sociedade
futura.

Enquanto teóricos como Durkheim fazem uma abordagem da sociedade e do trabalho fundamentando
o capitalismo, Karl Marx apresenta-se como um crítico desse sistema.

Diante de tais conceitos, podemos orientar nosso debate, especificamente, para a compreensão
das contradições inerentes à sociedade capitalista que se tornam mais perceptíveis analisando-se a
categoria trabalho.

15
Unidade I

2 AS CONTRADIÇÕES DO TRABALHO NO CAPITALISMO

Você já deve ter observado e analisado que, na visão dialética marxista, a contradição do capitalismo
está em manter a sociedade em condições de desenvolvimento e perpetuar esse tipo de economia.

Nessa perspectiva, a sociedade capitalista é estruturada em classes sociais, que, por sua vez,
são antagônicas. Enquanto os capitalistas, proprietários dos meios de produção, buscam a todo
custo manter-se na riqueza e na opulência à custa da exploração dos trabalhadores, estes tentam,
de todas as formas possíveis, primeiramente, sobreviver, tornando-se alienados no processo de
relações de produção.

Não somente no Brasil, mas também na maioria dos países, as contradições do capitalismo fazem-
se evidentes quando observamos a própria configuração das cidades, nas quais podemos perceber
claramente a geografia formada por setores diferenciados: de um lado, áreas nobres, com casas luxuosas;
de outro, núcleos residenciais (anteriormente denominados favelas), cortiços e um emaranhado de
pessoas vivendo em condições subumanas.

A forma pela qual os indivíduos podem realizar seus objetivos e atender às suas necessidades básicas
é o trabalho. Em razão disso, muito fazem para obtê-lo. A História tem demonstrado que a realidade do
trabalho tem sido marcada por profundas situações de conflito e sofrimento, enquanto o Estado fica
com a melhor parte: o lucro.

Para a realização do trabalho, existe o que chamamos de relações de produção, o que se dá, muitas
vezes, de forma conturbada ou conflituosa. Para uma maior compreensão do que isso significa, vejamos
um exemplo: quando a pessoa necessita atender às suas necessidades básicas de alimento, vestimenta
e lazer, precisa fazer alguma coisa, o que resulta num trabalho; para tanto, se não há como conseguir
tudo na natureza, da maneira mais simples possível, o indivíduo passa a buscar outra forma de atender
às suas necessidades. Assim, nasceram o escravismo, o feudalismo e o capitalismo.

No capitalismo, as pessoas vendem a sua força de trabalho, conforme determina o mercado capitalista.
Desta feita, o trabalhador passa a ser uma mercadoria e, em muitas situações, trabalha demasiadamente
e não recebe o salário justo, o que, consequentemente, não lhe permite comprar alimento suficiente,
vestir-se, pagar moradia, luz, água etc.

A realidade brasileira apresenta uma desigualdade considerável, uma vez que os capitalistas exploram
o máximo possível e não oferecem condições de vida digna aos trabalhadores.

Tomazi (2000) ensina que:

[...] a situação dos trabalhadores no Brasil tem sido uma das mais terríveis e
trágicas de toda a sua história. Existem estudos comparativos que buscam
analisar a situação dos trabalhadores brasileiros nos últimos tempos, em
comparação com sua situação em épocas anteriores. A triste conclusão a
que chegaram é que a maioria deles, hoje em dia, encontra-se em condições
16
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

piores que as dos escravos no período colonial, pois, apesar da exploração


intensa, eles tinham abrigo, roupa, alimentação (TOMAZI, 2000, p. 73).

Esse fenômeno condiciona grande parte da população brasileira que depende da venda de sua força
de trabalho para sobreviver. Tal relação constitui-se de tal forma pelo fato de a classe trabalhadora ser
explorada pela classe que compra sua força de trabalho. No item a seguir, discutiremos um pouco mais
sobre essa exploração.

2.1 O capitalismo e a exploração da força de trabalho

O Serviço Social, antes de ocupar espaço no campo universitário, já existia como prática social que
respondia às demandas do sistema capitalista, no atendimento da Questão Social aberta pela exploração
da força de trabalho.

Martinelli (2006, p. 53) afirma que o sistema capitalista é um “[...] modo de produção profundamente
antagônico e pleno de contradições que desde o início de sua fase industrial instituiu-se como um
divisor de águas na história da sociedade e das relações ente os homens”.

O homem capitalista sempre utilizou estratégias para alcançar o seu maior interesse: acumular
lucros. Sobre a exploração da força de trabalho, Martinelli (2006, p. 55) diz que: “[...] visualizando a classe
trabalhadora como um mero atributo do capital, como um modo de existência deste, os capitalistas não
hesitavam em criar formas coercitivas de recrutamento do operariado e de sua abusiva exploração”.

A exploração da força de trabalho ganhou maior dimensão a partir da Revolução Industrial, que
abriu caminho para que o processo de industrialização se tornasse permanente, demandando uma
intensiva mão de obra até a contemporaneidade. Martinelli (2006) afirma também que:

[...] durante praticamente toda a primeira metade do século XIX, a burguesia


utilizou seu poder de classe para manipular livremente salários e condições
de trabalho. Apoiando-se em um antigo dispositivo legal, cujas origens
remontavam a longínquas épocas da história da humanidade – Estatuto dos
Trabalhadores, de 1349, que proibia reclamações de salário e de organização
do processo de trabalho –, excluía o trabalhador das decisões sobre sua
própria vida trabalhista (MARTINELLI, 2006, p. 57).

Os trabalhadores que se recusavam a vender sua força de trabalho para os capitalistas podiam
ser recolhidos em casas de correção, que ofereciam como penalidade restrição alimentar e trabalhos
forçados, entre outras. O Estatuto dos Trabalhadores, de 1349, assegurava às autoridades locais o
direito de determinar o valor do salário a ser pago ao trabalhador, bem como formas de coerção para
recrutamento de mão de obra. Sobre isso, Martinelli (2006) diz que:

[...] as alternativas do trabalhador empobrecido, em face das condições


de trabalho que os donos do capital estabeleciam, eram sombrias: ou
se rendia à lei geral da acumulação capitalista, vendendo sua força de
17
Unidade I

trabalho a preços de concorrências cada vez mais vis, ou capitulava diante


da draconiana legislação urbana, tornando-se dependente do Estado, e no
mesmo instante, declarado não cidadão, ou seja, indivíduo destituído de
cidadania econômica, da liberdade civil (MARTINELLI, 2006, p. 57).

Notamos que a força de trabalho, no modo de produção capitalista, foi mercantilizada, isto é,
o trabalhador foi obrigado a vender sua mão de obra para os donos do capital e a submeter-se a
todo o processo de exploração do trabalho. Esse processo fez que a classe trabalhadora se organizasse
contra as formas de exploração impostas pelo capitalismo. Os trabalhadores uniam-se por meio de
movimentos sindicais reivindicatórios, que tinham como bandeira de luta questões trabalhistas – como
a regulamentação da jornada de trabalho, que, na época, chegava a 14 horas diárias. Assim, Martinelli
(2006) assevera que:

[...] as questões sindicais e trabalhistas continuavam, porém, a animar o


movimento operário que prosseguia em sua marcha, predominantemente
sob o signo da prática sindical. Assim, nenhuma das medidas propostas pela
legislação trabalhista, ao longo desse período, significou uma concessão
do poder público ou dos donos do capital. Todas decorreram de árduas e
complexas lutas e negociações dos trabalhadores (MARTINELLI, 2006, p. 59).

Concomitantemente à exploração da força de trabalho, o sistema capitalista provocou inúmeros


problemas sociais, decorrentes do crescimento exorbitante da população urbana, visto que as cidades
não tinham infraestrutura adequada para comportar tantas pessoas. Assim, alastrou-se pela sociedade
uma crescente pobreza, acompanhada de fome, doenças, moradias precárias, entre outros problemas.
Todos eles são denominados de expressões da Questão Social.

Com o afloramento da Questão Social e, consequentemente, a mobilização da classe trabalhadora


por melhores condições de trabalho e sobrevivência, a burguesia passou a utilizar-se de estratégias para
conter as reivindicações dos trabalhadores, pois,

[...] obcecada por um pensamento fixo – o de expandir e consolidar o modo


burguês de produção, tornando-o irreversível –, a burguesia se mantinha
sempre em busca de estratégias e táticas que pudessem viabilizar a
consecução de seus objetivos. A estrutura petrificada de sua consciência
erguia-se como uma verdadeira muralha, através da qual tentava isolar-se
e proteger-se dos inúmeros problemas sociais produzidos pela expansão do
capitalismo, injusto regime que se nutre do que suga do trabalhador, da
crescente exploração de sua força de trabalho (MARTINELLI, 2006, p. 60).

2.2 Estratégias do capitalismo para alcançar seus interesses

Para conter as reivindicações dos trabalhadores, “as classes dominantes procuram direcionar as lutas
populares, enquadrando-as no âmbito da legislação burguesa, cuja tramitação e controle cabem ao
Estado” (CASTRO, 2003, p. 45).
18
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Vê-se que a intenção era resolver ou apaziguar os problemas e continuar alcançando seu objetivo:
aumentar suas riquezas. No entanto, conforme aponta Castro (2003),

[...] aquela legislação se foi definindo sob a aparência de concessões


burguesas – e, mesmo constituindo conquista popular, permite à burguesia
canalizar o protesto do povo e perceber que, se adquirirem maior dimensão,
aqueles germes de organização e combatividade tornar-se-ão de difícil
controle (CASTRO, 2003, p. 46).

A classe operária teve de se organizar de acordo com sua condição de assalariada e vendedora de sua
única mercadoria (força de trabalho), passando a vida do operário a ser dirigida conforme sua situação
de proletário.

O processo de adaptação a essa nova vida exigia profissionais para exercerem a função de adaptar
os operários à sua nova condição de assalariados. Assim emergiu, no final do século XIX – com a
ascensão da sociedade burguesa e com o aparecimento de classes sociais (com a burguesia como classe
social dominante) –, o Serviço Social, para assumir uma prática que controlasse a força de trabalho e
minimizasse os problemas sociais.

Ao perceber que a luta de classes não poderia ganhar maior dimensão, pois isso prejudicaria a
legitimação do capital, o grupo hegemônico levou a luta para o campo ideológico, visando instaurar, na
sociedade, mecanismos de intervenção para dar continuidade ao desenvolvimento do capital. É dessa
lógica que derivam critérios para o desenvolvimento do Serviço Social. Para Martinelli (2006),

[...] O Serviço Social era, pois, na verdade, um importante instrumento da


burguesia, que tratou de imediato de consolidar sua identidade atribuída,
afastando-o da trama das relações sociais, do espaço social mais amplo
da luta de classes e das contradições que as engendram e são por ela
engendradas (MARTINELLI, 2006, p. 67).

Portanto, o Serviço Social, em sua prática, teve a missão de difundir, no seio das famílias proletárias,
a ideia de que o trabalhador era o vendedor de sua força de trabalho e, ainda, de levá-lo a aceitar as
condições de exploração impostas pelos donos do capital. A competência do Serviço Social era difundir
a ideologia da classe dominante para, assim, contribuir para a consolidação e legitimação do sistema
capitalista.

2.3 A Revolução Industrial e a maior precarização da relação entre capital e


trabalho

No século XVIII ocorreram extremas mudanças: sociais, culturais, políticas, científicas, mas, sobretudo,
econômicas. Foi como se expressou, sobre esse período, uma testemunha ocular, o pensador político
Alexis de Tocqueville: “Estamos dormindo sobre um vulcão [...]. Os senhores não percebem que a terra
treme mais uma vez? Sopra o vento das revoluções, a tempestade está no horizonte” (HOBSBAWM,
2002, p. 27).
19
Unidade I

Iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, a Revolução Industrial imprimiu profundas
e duradouras marcas na sociedade, fato que pode ser compreendido a partir de determinados elementos,
tais como:

• substituição de ferramentas por máquinas;


• substituição do sistema de trabalho artesanal e doméstico pelo sistema fabril (fábricas);
• novas alternativas energéticas, como o uso do vapor para movimentar as máquinas, bem como
para a produção de bens e transporte (trens, navios).

A passagem da manufatura artesanal para a industrial multiplicou o resultado produtivo do trabalho.


Essa evolução marcou o pioneirismo industrial inglês em relação ao restante da Europa.

O destaque da Inglaterra deveu-se aos seguintes aspectos:

• acúmulo de capitais (exploração de recursos minerais e matérias-primas das regiões colonizadas


e ocupadas);
• reserva de carvão;
• avanço tecnológico;
• existência de mercados consumidores;
• farta mão de obra existente nas colônias e evasão do camponês inglês para a cidade.

A Revolução Industrial consolidou duas classes antagônicas: o empresariado (donos do capital, das
fábricas, das máquinas, das matérias-primas e dos bens produzidos); e os operários, que vendiam sua
força de trabalho aos empresários sem a justa remuneração.

Esse período provocou o aumento da população nas cidades, concentrando os trabalhadores nas
fábricas. Com o objetivo de aumentar a produção, as linhas de montagem, no início do século XX,
tornaram a divisão técnica do trabalho cada vez mais específica.

A cidade se apresentava como o símbolo exterior desse mundo industrial que surgia. Foi na cidade
que o progresso se manifestou e, nela, consolidaram-se os problemas básicos que até hoje padecemos,
tais como: miséria, fome, desemprego e falta de habitação. Em relação a isso, Hobsbawm (2002) afirma
que:

[...] para os planejadores de cidades, os pobres eram uma ameaça pública,


suas concentrações potencialmente capazes de se desenvolver em distúrbios
deveriam ser cortadas por avenidas e bulevares, que levariam os pobres dos
bairros populosos a procurar habitações em lugares não especificados, mas
presumidamente mais sanitarizados e certamente menos perigosos. [...]
Para os construtores e empreendedores, os pobres eram um mercado que
20
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

não dava lucro, comparado ao dos ricos com seus negócios especializados
(HOBSBAWM, 2002, p. 295).

A oferta de mão de obra e o desemprego iniciado pelo uso de máquinas obrigaram o trabalhador a
submeter-se ao controle do empregador com péssimas condições de trabalho e de salário. Democracia
e direitos humanos e trabalhistas eram apenas reflexos de um discurso vazio que, ainda no século XVIII,
não ganhou espaço.

Os empresários impunham duras condições aos operários para que aumentassem a produção e
garantissem maior margem de lucro ao capital. A falta de cuidados especiais com a mulher, o trabalho
infantil, a precariedade das instalações fabris (má iluminação e má circulação de ar) e jornadas de
trabalho que ultrapassavam 15 horas diárias provocavam inúmeros acidentes, doenças, redução do
tempo de vida etc. O desemprego, a pobreza e a falta de moradia também são problemas sociais
provocados pela Revolução Industrial.

Todos os problemas sociais anteriormente mencionados exigiram uma resposta por parte do Estado,
que passou a intervir junto à classe operária visando minimizar os problemas sociais provocados pela
Revolução Industrial. O Estado contou com o apoio da Igreja Católica e de seus membros para intervir
nos problemas sociais, com a finalidade de prover condições mínimas de sobrevivência para a classe
operária. A intervenção da Igreja Católica foi realizada por meio de um trabalho que teve como base a
filantropia e a caridade. Realizava arrecadação na forma de doações, bem como campanhas e ações nas
áreas da educação, saúde e assistência social.

Porém, é importante diferenciar caridade de ação social, que visa à emancipação. Por exemplo, no
Período Colonial da História brasileira, a Igreja Católica era encarregada de zelar pelo bem-estar da
população local, como estratégia para tirar de foco o desinteresse da nação colonizadora pelas questões
sociais da Colônia. Enquanto o Estado se utilizava do Exército para efetivar seu controle social, a Igreja,
alinhada à política colonizadora de Portugal, proclamava a opção pelo Evangelho, o que, na prática,
significava optar pelos pobres, ajudando quem necessitasse.

2.4 A relação entre capital e trabalho

Reiterando, para Karl Marx, o modo de produção capitalista, baseado na relação entre capital e
trabalho, é definido como aquele cujos meios estão nas mãos de uma minoria, que constitui uma classe
distinta da sociedade. O trabalhador vende a sua força de trabalho e, pela falta de poder de negociação,
submete-se a trocar seu esforço físico, na produção, pela remuneração necessária ao atendimento de
suas necessidades mais elementares.

Os trabalhadores explorados organizam-se coletivamente, por meio dos sindicatos, para reivindicar
seus direitos.

Nessa relação de trabalho, surgem inúmeras demandas sociais não atendidas ou atendidas de
maneira precária pelo capitalismo, como a atenção à saúde do trabalhador, sua alimentação, assistência
social extensiva à família, seguridade social, acesso aos serviços públicos de educação etc.
21
Unidade I

Observação

Demanda social é a denominação técnica dada à necessidade social,


que, nessa situação, representa as necessidades dos trabalhadores não
atendidas por meio da remuneração de seu trabalho (a qual, na maioria
das vezes, tem seu valor estabelecido para o atendimento das necessidades
básicas, a fim de manter a sobrevivência).

2.4.1 Capital e trabalho: uma relação de conflitos sociais

A relação entre capital e trabalho expressa conteúdo significativo no que tange à prática do
assistente social, a qual se configura como atividade inserida em um processo de trabalho historicamente
construído e socialmente determinado pela correlação de forças articuladoras de uma dada totalidade
social. Iamamoto (2004) ressalta, portanto, ser essencial que compreendamos a categoria trabalho na
sociedade contemporânea. Diante disso, vamos relembrar o conceito de trabalho, considerando que essa
categoria reúne diversas definições.

Nesse processo, Guerra (2000) afirma que o homem, após a satisfação de suas necessidades imediatas,
cria outras e percorre sua trajetória na busca constante de saciá-las. Para isso, elabora novas formas
e meios (instrumentos e técnicas) para realizar o trabalho e aperfeiçoa-se, nesse ínterim, adquirindo
novos conhecimentos.

Lembrete

O que é trabalho?

Iamamoto, citada por Nicolau (2004, p. 87), afirma que “trabalho em


Marx é transformação da natureza, mas o homem é também natureza
e se transforma nesse processo”. Segundo ela, o trabalho e seu produto
são propriedades capitalistas. Assim, gera-se a alienação do produto do
trabalho pelo trabalhador. Este se encontra alijado desse resultado na
medida em que aquilo que o capitalista devolve, em forma de salário,
é apenas suficiente para a aquisição dos meios de vida do trabalhador
e de sua família, reproduzindo-o assim enquanto assalariado.

Note que, na relação de produção de bens materiais, o homem produz não somente objetos, mas
também atividades críticas.

22
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Observação

As transformações ocorridas na relação homem-meio teriam sido


sempre assim na história da humanidade? Temos, de fato, nos empenhado
no uso dos objetos existentes, transformando-os em meios para a concreção
de nossos projetos? Para atender a que interesses? Qual a intensidade e a
profundidade das transformações gestadas no homem nesse processo, no
âmbito cultural, no da ética etc.? Diante das atuais discussões na área de
proteção e preservação ecológica, trabalhamos bem a natureza?

Fazer uma “visita” à nossa formação e à evolução histórico-social e


econômica pode ajudar a elucidar essas questões, além de nos mostrar
como vêm ocorrendo a construção social, a geopolítica etc.

Guerra (1997) assevera que:

No processo de trabalho a passagem do momento da pré-ideação (projeto)


para a ação propriamente dita requer instrumentalidade. Requer a conversão
das coisas em meios para o alcance dos resultados. [...] É essa capacidade que,
como instância de passagem, possibilita passar das abstrações da vontade
para a concreção das finalidades (GUERRA, 1997, p. 9).

A autora em foco afirma ainda que, no processo de produção material das nossas necessidades,
inventamos e reinventamos instrumentos, ou seja, realizamos a conversão daquilo de que dispomos
na natureza em meios para a obtenção dos resultados pleiteados. Para a materialização das ideias,
imprimimos esforços para atingirmos metas e objetivos e, nesse processo, criamos e recriamos a natureza
e nos modificamos por meio dela.

Iamamoto (2004, p. 26-7), ao citar Marx, afirma que “a produção/reprodução das relações sociais
abrange [...] ‘formas de pensar‘, isto é, formas de consciência, através das quais se apreende a vida
social”. Diante do exposto, você pode compreender que, ao longo do desenvolvimento das sociedades, o
homem foi aperfeiçoando o trabalho para satisfazer às suas necessidades, as quais ampliaram o leque
da produção material das satisfações imediatas.

No processo de produção/reprodução dos meios de vida, os homens se relacionam, criam formas


de estabelecer relações sociais e, pelo estabelecimento desses vínculos, constroem os meios necessários
para difundir ideias e, consequentemente, os meios da produção e do lucro.

Iamamoto e Carvalho (2005) asseveram que a força de trabalho em ação

[...] é uma função pessoal do trabalhador, enquanto gasto de sua força


vital, realização de suas capacidades produtivas. Porém, enquanto criador

23
Unidade I

de valores, pertence ao capitalista que comprou a força de trabalho para


empregá-la, produtivamente, durante um certo período de tempo. A força
de trabalho é uma potência que só se exterioriza em contato com os meios
de produção; só sendo consumida, ela cria valor. O consumo da força de
trabalho pertence ao capitalista, do mesmo modo que lhe pertencem os
meios de produção (IAMAMOTO; CARVALHO, 2005, p. 40).

A citação anterior evidencia o processo de exploração e alijamento, alienação da classe dominada,


a qual sobrevive da venda de sua força de trabalho ao capital. Iamamoto (2004) ressalta também que
a produção social não se limita somente à fabricação de objetos materiais, mas trata de relação social
entre as pessoas, entre classes sociais que personificam determinadas categorias econômicas.

As relações sociais engendradas pelo capital são responsáveis por essa exploração de trabalho, a
qual não se revela na imediaticidade/superficialidade do olhar, uma vez que se apresenta de forma
camuflada, mascarada, o que dificulta uma leitura crítica da realidade pela classe que vive do trabalho.
Esta vende sua mão de obra, porém o lucro pertence ao capitalista, detentor dos meios de produção.
A diferença entre o valor da venda da mercadoria e o salário pago ao trabalhador é chamada de mais-
valia, conforme vimos anteriormente.

Nessa dimensão do mundo do trabalho, o modo de produção capitalista revela com tenacidade sua
característica central: a acumulação. Logo, torna-se imprescindível aos capitalistas a produção de bens
e serviços em grande escala, conquista adquirida mediante a compra da força de trabalho humano e a
exploração.

Em decorrência disso, surgem a Questão Social e suas expressões: a divisão entre classes, os
antagonismos e os conflitos na sociedade.

Observação

Questões sociais ou expressões da Questão Social?

Alguns estudiosos fazem uso de ambas as expressões, porém adotamos


a segunda forma, pois entendemos que esta, por uma questão de semântica,
melhor exprime a intensidade do real.

Saiba mais

Leia o livro de Marilda Iamamoto, O Serviço Social na contemporaneidade:


trabalho e formação profissional, para melhor assimilar as transformações
societárias contemporâneas e aprofundar-se no conceito de Questão Social.

24
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Iamamoto (2004) explicita, com muita significação, que:

Questão Social [é] apreendida como o conjunto das expressões das


desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum:
a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais
amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se
privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2004, p.
27).

Tal afirmação mostra como a dinâmica social do sistema capitalista, fundado em um regime de
acumulação, traz em seu bojo intensas e profundas contradições, as quais demandam o surgimento do
Serviço Social enquanto profissão que desempenhará o papel de mediadora dos conflitos sociais advindos
da exploração capitalista. A trajetória histórica do Serviço Social é reveladora dos avanços ocorridos no
seio dessa profissão, a qual, com o intuito de intervir nos problemas sociais, paulatinamente abandona
ações de cunho caritativo e bondosas, optando por realizar atividades organizadas e sistematizadas, fato
que imprime base científica e técnica às ações. Vejamos, na sequência, uma intervenção relevante nesse
sentido. Quanto à Questão Social, retomaremos tal assunto quando estudarmos a noção de processo de
trabalho.

2.5 A organização da assistência social e o importante estudo de Mary


Richmond

A Revolução Industrial provocou a reordenação da sociedade com a formação de classes sociais


antagônicas: detentores do capital versus trabalhadores.

Nessa época, negócios eram para homens. As mulheres pertencentes ao segmento de renda alta
limitavam-se, via de regra, a cuidar da casa, dos filhos e a participar dos grupos e trabalhos da Igreja.
As damas de caridade, fortes aliadas dos movimentos filantrópicos eclesiais, tornaram-se comuns na
sociedade através dos séculos. Eram voluntárias, utilizavam sua sensibilidade para chegar até os mais
pobres e “supriam”, por meio de doações, as necessidades mais elementares destes, como alimentos,
roupas e medicamentos. Elas desempenharam um papel importante na diminuição do sofrimento,
um papel de remediação da situação social, não de emancipação. Na assistência social prestada pelas
damas de caridade, não havia organização ou sistematização. As justificativas eram ideológicas ou
religiosas.

Em meados do século XIX, algumas experiências (na Inglaterra, na França e na Alemanha)


foram realizadas nas paróquias, a fim de melhor organizar as ações caritativas. Constituíram o
primeiro esboço técnico da assistência social. Partiam da ideia de divisão da paróquia em grupos
de vizinhos (setores), para facilitar a distribuição da ajuda material e os aconselhamentos às
pessoas e às famílias.

Em 1833, as conferências São Vicente de Paulo organizaram seus trabalhos a partir da divisão
territorial para visitas, ajudas em domicílio e apoio estruturado em programas para crianças, jovens e
idosos.
25
Unidade I

As damas de caridade ou outras pessoas que tinham tempo disponível para a ajuda aos necessitados
realizavam:

a) identificação das necessidades de cada pessoa e de sua família;

b) análise dos pedidos de ajuda das pessoas e famílias;

c) estudo da melhor aplicação dos recursos disponíveis (racionalização


dos gastos, priorizando as necessidades principais);

d) visitas aos pobres para levar ajuda material e realizar aconselhamentos;

e) busca de vagas de trabalho para os desempregados (ESTEVÃO, 2005,


p. 54).

A partir desse trabalho sem sistematização, mas que tinha claro enfoque de atendimento às
demandas sociais, em 1869 foi criada a Sociedade de Organização da Caridade, em Londres, que tinha
como princípio a prática da assistência social contemporânea, ou seja:

a) cada caso a ser atendido se iniciaria com uma pesquisa;

b) o resultado dessa pesquisa seria encaminhado a uma comissão que


decidiria sobre a ajuda;

c) as ajudas aconteceriam para reconduzir a pessoa ao trabalho e à


autossustentação;

d) seriam realizados contatos com outras instituições (inclusive empresas)


para promover a reintegração da pessoa ao mercado;

e) as instituições de caridade passariam a enviar os dados das pessoas e


famílias atendidas para a composição de um cadastro central;

f) seria constituído um banco de dados sobre os projetos para que as


ações pudessem ser repetidas quando necessário (ESTEVÃO, 2005, p.
54).

Esse tipo de organização proliferou pelos países capitalistas, tendo como enfoque a organização
da assistência social (especialmente estampada pelas ações de filantropia das igrejas e das damas de
caridade) e a oferta de uma formação às pessoas interessadas em atuar nessa área. Temos o “berço” das
escolas de Serviço Social.

Antes da criação da primeira escola de Serviço Social no mundo, havia a Escola de Filantropia Aplicada.
Ela foi proposta por Mary Richmond, da Sociedade de Organização da Caridade de Baltimore, durante
a realização da Conferência Nacional de Caridade e Correção, em Toronto (1897). Essa escola realizava
cursos de aprendizagem da aplicação científica da filantropia, visando, conforme afirma Martinelli
(2006, p. 106), desenvolver “a tarefa assistencial como eminentemente reintegradora e reformadora do
26
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

caráter [...]”. Richmond contribuiu para desenvolver a concepção, dominante na sociedade capitalista, de
que os problemas sociais estavam diretamente associados aos problemas de caráter.

Mary Richmond foi uma assistente social norte-americana do início do século XX, autora do livro
Caso social individual, publicado em 1917, que trata da prática profissional do assistente social. Iniciou o
estudo e a elaboração de documentos sobre o Serviço Social e apontou que praticar a “assistência social”
como filantropia ou caridade era diferente de desenvolver o Serviço Social.

Observação

Na época da publicação da obra de Richmond e do desenvolvimento dos


métodos do Serviço Social (investigação individual, grupo e comunidade),
o mundo passava por sua mais severa crise econômica: a quebra da Bolsa
de Nova Iorque. Esse seria o marco do fim do liberalismo econômico do
capitalismo. No início do século XX, os EUA somaram quase 10 mil bancos
e 85 mil empresas falidos, deixando um exército de mais de 13 milhões
de desempregados. A sistematização do Serviço Social era necessidade
precípua das sociedades.

Para Richmond, Serviço Social não era prover os necessitados de ajuda material; o correto exercício
da profissão seria iniciar minuciosa investigação sobre a pessoa em seu meio social (escola, família,
trabalho, comunidade).

Esse procedimento recebeu as designações de “compreensão do meio social” e “ação sobre a


personalidade da pessoa e sobre o seu meio social”.

Portanto, os estudos de Mary Richmond atribuíram um caráter científico à ação social filantrópica,
que marchou decisivamente para a institucionalização da filantropia. O processo de organização da
assistência social contribuiu para o surgimento do Serviço Social como profissão, e, antes de terminar
o século XIX (ainda no ano de 1899), foi fundada a primeira escola de Serviço Social do mundo, em
Amsterdã, na Holanda.

A tese de Mary Richmond convenceu os donos do capital de que os problemas apresentados pela
classe trabalhadora estavam associados aos desvios de caráter. Assim, trabalhar e reformar o caráter do
indivíduo contribuiria para que este retornasse ao mercado de trabalho. Essa proposta resultou em um
curso que ocorreu em 1898, em Nova Iorque.

Observação

A palavra caráter foi utilizada por Mary Richmond para responder


às inquietações do Serviço Social da época. Na atualidade, tal termo é
impensável nessa área de atuação.
27
Unidade I

Após o referido curso, a ação social realizada com base na filantropia caminhou rumo ao processo
de institucionalização do Serviço Social. Em 1899, foi fundada a primeira escola de Serviço Social no
mundo, em Amsterdã, capital da Holanda, conforme vimos anteriormente.

A primeira escola da América Latina foi criada em Santiago, no Chile, pelo médico Alejandro Del
Rio. O Serviço Social era considerado como uma subprofissão da Medicina, pois auxiliava os médicos
no atendimento aos pacientes. Resumia-se em fazer o bem ao próximo por amor a Deus, a partir de
práticas imediatistas e assistencialistas.

No Brasil, o Serviço Social foi primeiramente implantado em São Paulo, em 1936; depois, no Rio de
Janeiro, em 1938.

Segundo Lima (2001), as escolas de Serviço Social visavam formar profissionais a partir de uma
personalidade cristã. Não bastava ter técnica profissional: necessitava-se de profissionais com uma
mentalidade cristã diante do homem e da sociedade, na perspectiva da justiça social e da caridade, por
amor a Deus e ao próximo.

O objetivo último das escolas era formar a personalidade dos profissionais. Tudo em prol de uma
prática conservadora, fundamentada na caridade cristã, por meio de uma prática assistencialista.

Lembrete

A prática assistencialista no Serviço Social está relacionada à questão


da ajuda e, desde o Movimento de Reconceituação (que estudaremos no
item a seguir), pautada pela teoria de Karl Marx, vem sendo superada pelos
profissionais, ao longo dos anos, com uma prática baseada na perspectiva
da garantia dos direitos de cidadão.

O assistente social da atualidade deve desenvolver, na sociedade, funções intelectuais ou ideológicas,


em organizações públicas ou privadas, por meio da prestação de serviços sociais para a classe trabalhadora.
“Seu objetivo é transformar a maneira de ver, de agir, de se comportar e de sentir dos indivíduos em sua
inserção na sociedade” (IAMAMOTO, 1992, p. 40).

Esse profissional atua na administração de recursos institucionais. Sua função intelectual resulta
na distribuição e no controle desses recursos junto à população que se encontra em situação de
vulnerabilidade socioeconômica e cultural, intervindo em suas necessidades básicas de sobrevivência.

3 O NEOLIBERALISMO E A PRECARIZAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Ao final da década de 1970, o Brasil iniciou uma nova fase econômica que, consequentemente,
influenciou diretamente a vida social contemporânea. Essa vivência junto à realidade brasileira provém
da influência de todo o globo e não se mostra apenas na realidade brasileira. Assim, nesse período,
houve a transição do modelo keynesiano para o neoliberal.
28
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

O keynesianismo, nos termos de Behring e Boschetti (2010), surgiu após a Segunda Guerra Mundial e
propunha alternativas ao papel do Estado, dentre as quais a intervenção desse órgão junto aos problemas
sociais. Nesse sentido, o Estado realizava intervenções nos problemas sociais, junto às expressões da
Questão Social, por meio da constituição dos serviços públicos, as políticas sociais. Colaborava ainda
para criar mecanismos a fim de incentivar o consumo, por exemplo, estimulando o pleno emprego. No
entanto, essa forma de governança começou a entrar em declínio, visto que argumentava de forma
contrária aos gastos sociais empreendidos com tal “objetivo”.

Já o neoliberalismo é uma política econômica que envolve vários aspectos, como: privatizações de
empresas estatais, desresponsabilização da área social com redução de gastos e cortes nas políticas
públicas e flexibilização das relações trabalhistas, ocasionando a precarização do trabalho, denominada
de reestruturação produtiva. A política neoliberal é um retrocesso, no campo social, para os diversos
segmentos minoritários da sociedade, pois fortalece a exploração e a acumulação capitalista, bem como
acirra as expressões da Questão Social com uma expansão constante da desigualdade e do desemprego
estrutural.

O neoliberalismo reforça a competitividade entre as pessoas e as empresas, na busca de maior espaço


para seus produtos no mercado, com o menor custo possível, o que expõe os trabalhadores a condições
de maior exploração de sua mão de obra, a uma maior produção de mais-valia e à precarização das
relações de trabalho.

Exemplo disso são empresas de grande porte que ameaçam manter os empregos dos seus
trabalhadores somente se houver a redução dos encargos trabalhistas – como o INSS, o décimo terceiro
salário e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) –, sob a alegação de cortar gastos e custos
em função de dificuldades financeiras.

As organizações empresariais modernas são competitivas por excelência e, para garantirem o


aumento do mercado consumidor ou a fidelização daqueles que consomem seus produtos ou serviços,
introduzem no mercado produtos de alta qualidade, com custos baixos, visando ao maior consumo por
parte da sociedade. Nesse sentido, as inovações tecnológicas são instrumentos muito utilizados, que
impõem um novo campo de pré-requisitos aos trabalhadores.

Essa inovação tecnológica é representativa de todo um processo de reestruturação produtiva


iniciado na década de 1970 e altera os modos de produção e de trabalho. Calcada nos ideais neoliberais,
é resultado da queda do taylorismo e do fordismo como modelos de produção e de sua substituição pela
produção toyotista. No caso, a produção fordista e a taylorista pressupunham a produção em massa,
em grande escala, e não se respaldavam tanto em desenvolvimento tecnológico. A produção toyotista,
por sua vez, proveio da fábrica Toyota e pressupunha a produção apenas para atender à demanda, que
pode ser variada, ou seja, de produtos diferenciados. Assenta-se ainda sobre a importância da adesão
dos trabalhadores ao processo produtivo e principalmente sobre o enfoque no trabalho em equipe
(ANTUNES, 1999).

Essa mudança no âmbito da produção ainda pressupõe como regra o just-in-time, ou seja,
o melhor aproveitamento possível do tempo durante o processo produtivo, e a recorrência ao
29
Unidade I

sistema Kanban, que disciplina inclusive a utilização de senhas, com o objetivo de repor peças
no processo produtivo. Esse sistema de produção também tem como enfoque atingir níveis mais
elevados de qualidade, sendo esses processos construídos para se alcançar a esperada qualidade
total (ANTUNES, 1999).

Nessa abordagem, segundo Antunes (1999), há uma precarização das relações trabalhistas. Assim, o
autor coloca que há uma redução considerável do proletariado fabril, em decorrência dos processos de
inovação tecnológica, nos quais há uma economia do trabalho vivo pelo trabalho morto, ou tecnológico.
O trabalho formal declina, e aumenta substancialmente o setor da prestação de serviços. O trabalho
feminino, nesse momento, também aumenta, apesar dos baixos salários em relação ao trabalho
masculino, e há exclusão de jovens e idosos do mercado de trabalho.

Além disso, para aumentar suas possibilidades de conseguir um emprego, os trabalhadores


são obrigados a desenvolver novos conhecimentos e habilidades incessantemente, a fim de melhor
responderem às expectativas de um mercado sempre mais competitivo e dinâmico. Exigem-se melhor
comunicação, domínio de computação e, muitas vezes, fluência em línguas estrangeiras (destacadamente
o inglês).

Enfim, exige-se que o trabalhador esteja bem-preparado para atuar em empresas e/ou instituições
com vocação para a polivalência. Isso quer dizer que deverá ser conhecedor de diversas áreas, “um
faz-de-tudo-um-pouco”, o que é muito negativo, porque descaracteriza a mão de obra especializada e
torna o fazer mais superficial. Além disso, sobrecarrega funcionários que se desdobram para desenvolver
atividades que comportariam mais pessoas. Consequentemente, isso gera mais riqueza às empresas/
instituições e inúmeras doenças aos trabalhadores.

Em suma, diríamos que vivemos a reinvenção do trabalho e das interações sociais norteada pela
sociedade de consumo, e essas relações tornam-se cada vez mais precárias, sobretudo no que diz
respeito ao trabalhador.

As mudanças e os avanços tecnológicos no setor produtivo diminuíram a necessidade de mão de obra


manual; nas fábricas, as grandes máquinas ainda compõem o cenário fabril, entretanto não são mais
meras máquinas analógicas que necessitam exclusivamente da intervenção humana para funcionar. A
automatização provocou uma revolução, surgiram as máquinas digitais e, em todo o processo fabril, hoje
existem computadores controlando o processo de qualidade. É inevitável que essa modalidade de mão
de obra qualificada ocasione o desemprego em massa; funções e espaços passam a ser automatizados,
computadorizados.

O trabalho não deixará de existir, mas está sofrendo transformações profundas. Antunes (1999)
assim resume esse período:

Essas consequências no interior do mundo do trabalho evidenciam que, sob


o capitalismo, não se constata o fim do trabalho como medida de valor, mas
uma mudança qualitativa, dada, por um lado, pelo peso crescente da sua
dimensão mais qualificada, do trabalho multifuncional, do operário apto a
30
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

operar máquinas informatizadas, da objetivação de atividades cerebrais [...]


(ANTUNES, 1999, p. 233).

No entanto, como pontua Antunes (1999), apesar de o trabalho não “acabar”, as condições de sua
efetivação tornam-se cada vez mais diferenciadas para atender às demandas do sistema capitalista.
Vivenciamos más condições de trabalho e ainda a expulsão de grande parte dos trabalhadores do
mercado. Esses fenômenos só tornam piores as expressões da Questão Social, ou, melhor dizendo, só
tornam os problemas sociais mais latentes, e será sobre esses problemas sociais que nós, assistentes
sociais, atuaremos.

No item seguinte, faremos algumas reflexões a respeito desse fenômeno que convencionamos
denominar Questão Social e sobre o qual iremos atuar.

3.1 O significado contemporâneo da Questão Social no Brasil

Para melhor compreender o fenômeno da Questão Social, é necessário compreender a História, não
apenas a do Brasil, mas a Geral, que trouxe condicionantes da realidade brasileira. Assim, retomamos o
período denominado Idade Média, no qual os centros comerciais eram o local em que se realizavam as
trocas de produtos; posteriormente, esses centros tornaram-se cidades, e, com a Revolução Industrial
(séculos XVIII e XIX), a humanidade passou por um forte processo de urbanização, no qual as famílias
saíam do campo para buscar oportunidade nas fábricas localizadas nas cidades.

Essas mudanças históricas e a urbanização das sociedades transformaram as relações sociais e


as trabalhistas, contribuindo para a formação dos problemas sociais em todo o mundo. A Questão
Social no Brasil tem seu fundamento nas contradições de classes e na exploração das minorias. No
contexto histórico brasileiro, podemos constatar o crescimento da Questão Social, que se traduz
em problemas sociais desde o período da escravização do indígena, passando por escravização do
negro, discriminação da mulher, exploração da criança e do adolescente, até o trabalho escravo
que ainda permeia as comunidades rurais, a discriminação das pessoas idosas e os processos de
exclusão. São expressões que marcam a composição de questões profundas e que se perpetuam
sob outras nuances até hoje.

É importante compreender que a exploração capitalista gera inúmeras demandas sociais, que
preocupam diversos segmentos da sociedade, inclusive o Serviço Social. Os assistentes sociais, em
especial, atuarão diretamente nas diversas expressões da Questão Social e, por isso, precisam aprofundar
seu conhecimento acerca de como estas se originam e se apresentam. Apontaremos a seguir, de forma
sucinta, algumas formas de violação, discriminação e exclusão que atingem as minorias sociais, indicando
ainda como essas situações se dão a partir do neoliberalismo.

3.2 O neoliberalismo e a “nova Questão Social”

O advento do neoliberalismo no Brasil, a partir da década de 1990, é o ponto crucial para


entendermos as transformações que ocorreram e, principalmente, como foram abaladas as
relações de trabalho.
31
Unidade I

O mundo passou a ser muito mais competitivo após a Segunda Guerra Mundial, com um novo tipo
de sociedade e com novas relações entre o capital e o trabalho. Passaram a ser usadas novas e modernas
tecnologias, o que ocasionou profundas transformações no mundo do trabalho e fez acreditar que
o trabalhador deixaria de existir para dar lugar às máquinas altamente evoluídas, com recursos de
Microeletrônica, Robótica etc. No entanto, houve e continuará havendo inúmeras transformações no
mundo do trabalho que causarão o desaparecimento de certas profissões, dando lugar a outras que
atendam às necessidades contemporâneas.

Há maior flexibilização das relações de trabalho e maiores exigências quanto às habilidades


dos trabalhadores; vivenciam-se a precarização das relações de trabalho e novas modalidades de
desemprego, como a do “analfabeto digital”, que muitas vezes não consegue se inserir no mercado
de trabalho formal em razão da completa ausência de conhecimentos acerca do manuseio de
computadores simples, ou mesmo a do profissional capacitado que não consegue colocação em
virtude do desemprego estrutural.

Portanto, falar em nova Questão Social, atualmente, é somar todos os problemas históricos que
tínhamos ao desemprego e à precarização do trabalho, o que agrava a realidade contemporânea. Diante
dessa nova realidade complexa, pensar formas de enfrentamento torna-se imprescindível.

3.3 A Questão Social em uma sociedade em transformação

Sabemos que o tema Questão Social nada mais é do que a contradição existente entre o trabalho e
o capital, relacionando-se diretamente ao âmbito da produção capitalista.

Saiba mais

Para saber mais sobre Questão Social, leia o artigo científico Questão
Social: objeto do Serviço Social?, escrito por Ednéia Maria Machado, que se
encontra no site <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/n1v2.pdf>.

Segundo Iamamoto e Carvalho (2005):

[...] a Questão Social não é senão as expressões do processo de formação e


desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político
da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social,
da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir
outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2005, p. 77).

Portanto, tivemos mudanças, na sociedade mundial no século XX, principalmente com a flexibilização
da economia, que redesenharam a linha de produção e, consequentemente, o papel do Estado e dos
32
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

instrumentos legais que foram conquistados pelos trabalhadores e difundidos pelas diversas sociedades
regidas pela produção industrial.

Podemos afirmar que a temática Questão Social não é consenso entre os estudiosos. Nesse sentido,
Machado (1999) realiza a seguinte análise:

[...] ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria Questão Social,


estamos realizando uma análise na perspectiva da situação em que se
encontra a maioria da população – aquela que só tem na venda de sua força
de trabalho os meios para garantir sua sobrevivência. É ressaltar as diferenças
entre trabalhadores e capitalistas, no acesso a direitos, nas condições de vida;
é analisar as desigualdades e buscar forma de superá-las. É entender as causas
das desigualdades, e o que essas desigualdades produzem, na sociedade e na
subjetividade dos homens (MACHADO, 1999, p. 42-3).

O século XXI assiste ao fechamento de um ciclo no processo produtivo da sociedade. Isso pôde ser
observado ao longo do século XX, em que se construíram novos modelos produtivos e se desenvolveram
tecnologias que, aos poucos, foram redesenhando o perfil da mão de obra empregada na linha de
produção e tornando o papel do Estado cada vez mais secundário na garantia dos direitos trabalhistas.

Vivemos hoje um dimensionamento do tamanho do Estado e de sua relação com as formas de


produção empregadas, em uma sociedade cada vez mais interligada pela tecnologia e pelas novas
formas de conhecimento geradas pela globalização que tornam a sociedade mais complexa.

Nesse sentido, Mingione (1998) esclarece que

[...] as sociedades contemporâneas encontram-se no final de um ciclo


histórico que testemunhou a prevalência dos fatores organizacionais
associativos. Os principais ingredientes desse capital de regulação foram:
a predominância das economias de escala e o desenvolvimento de grandes
complexos industriais; os programas de assistência social estatal (no âmbito
do welfare state); o consumo padronizado de massas; a institucionalização
dos grupos de interesse; a família nuclear fundada no sistema do provedor
único (emprego masculino em tempo integral e discriminação sistemática
das mulheres, juntamente com profundas alterações nos padrões de
reprodução e nas responsabilidades assumidas principalmente pelas
mulheres); e o individualismo familístico (investimento na mobilidade
ascendente intergeracional dos filhos do sexo masculino). Tais elementos
desenvolveram-se de diversas maneiras nos diferentes modelos do welfare
capitalism (MINGIONE, 1998).

Percebemos que, na virada do século XX, a mulher ainda era discriminada no mercado de trabalho,
mesmo depois da força que teve o movimento feminista na segunda metade do século, com lutas pela
igualdade do gênero: temos essa discriminação estampada no mercado de trabalho.
33
Unidade I

Nesse quadro, percebemos que a Questão Social serve como argamassa para o profissional
de Serviço Social entender a lógica do capital e a lógica do trabalho, assim como o processo de
desigualdade existente na contradição dessas duas expressões da sociedade contemporânea. Ou,
como afirma Machado (1999):

[...] neste terreno contraditório entre a lógica do capital e a lógica do


trabalho, a questão social representa não só as desigualdades, mas,
também, o processo de resistência e luta dos trabalhadores. Por isto ela é
uma categoria que reflete a luta dos trabalhadores, da população excluída
e subalternizada, na luta pelos seus direitos econômicos, sociais, políticos,
culturais. E é aí, também, que residem as transformações históricas da
concepção de questão social. O avanço das organizações dos trabalhadores e
das populações subalternizadas coloca em novos patamares a concepção de
questão social. Se, no período ditatorial brasileiro pós-64, a luta prioritária
era romper com a dominação política, hoje a luta é pela consolidação da
democracia e pelos direitos de cidadania. As transformações no mundo do
trabalho, seja com a substituição do homem pela máquina, seja pela erosão
dos direitos trabalhistas e previdenciários, exigem, também, que se reatualize
a concepção de questão social (MACHADO, 1999, p. 43).

Esse é o contexto que foi gerado pela sociedade contemporânea e que tem como meta a flexibilização
tanto da mão de obra quanto da linha de produção; isso se expressa também nas outras esferas da vida
social e passa a impregnar a atitude do Estado e das instituições sociais.

3.4 Decifrando a nova Questão Social... Não tão nova assim!

Nas leituras sobre Questão Social, a todo momento nos deparamos com a dicotomia velha/nova
Questão Social. Historicamente, a Questão Social começou quando da ordem capitalista, em dois
momentos:

• com a consolidação da economia e da política do Estado burguês, ou seja, quando o capital se


tornou força e modelo de produção, mudando definitivamente as relações de trabalho; é nessa
perspectiva que está a velha Questão Social.

• a nova Questão Social iniciou-se quando, já nos anos 1970, no Brasil, o capital passou por um
novo estado de metamorfose, reorganizando suas formas e forças produtivas.

Na segunda metade do século XX, houve a precarização da sociedade salarial, com o agravamento
das tensões sociais. Autores como Castel, Wanderley e Belfiore (2000, p. 240-1) afirmam: “Verifica-se
então um processo de precarização como o grande fenômeno que atingiu as situações de trabalho, no
sentido de sua mercantilização e de soluções na ordem do mercado, como a globalização”.

Poderíamos ser levados à falsa compreensão de que a existência de uma nova Questão Social
conduziria ao esquecimento das antigas formas de enfrentamento da velha Questão Social. No entanto,
34
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

ambas (antiga e nova) continuam a manter os traços essenciais e constitutivos da sua origem. Os antigos
problemas encontram-se agora potencializados pela globalização.

Sobre os efeitos da globalização da economia, Rosanvallon apud Pastorini (2004) afirma:

Existem três etapas na crise do Estado-providência: a) a financeira, que


dataria dos anos 1970, b) a ideológica, presente nos anos 1980, c) a filosófica,
que ter-se-ia iniciado na década de 1990. [...] não tomamos consciência
dessa nova crise que acompanha o surgimento de uma nova “questão
social”, que traz como principais problemas: a desintegração dos princípios
de solidariedade e o fracasso da concepção tradicional de direitos sociais [...].
(ROSANVALLON apud PASTORINI, 2004, p. 51).

Portanto, a precarização do trabalho é fruto de suas transformações e da reestruturação internacional


do capitalismo nas últimas décadas, denominada por Castel (1998) de metamorfose da Questão Social.
É quando surgem o desemprego de longa duração, a flexibilização dos empregos, a crescente pobreza e
a desproteção social. Essas questões têm suas discussões centradas na coesão social e fundamentam a
existência de uma nova Questão Social.

Dessa forma, a nova Questão Social parte da seguinte problemática: como as sociedades atuais
interrogam-se sobre sua coesão social? O autor propõe um modelo para medir o grau de coesão
e tem como partida a existência de uma forte relação entre a integração pelo trabalho (emprego
estável, emprego precário, expulsão do emprego) e a participação nas redes de sociabilidade
(inserção relacional forte, frágil ou isolamento). Dos dois eixos partem quatro zonas diferentes
das formas de coesão social: integração, vulnerabilidade, desfiliação e assistência. Assim afirma
Castel (apud PASTORINI, 2004):

Estar dentro da zona de integração significa dispor de garantia de trabalho


permanente e capacidade de mobilizar suportes relacionais sólidos; a zona de
vulnerabilidade associa precariedade do trabalho e fragilidade relacional; a
zona de desfiliação conjuga ausência de trabalho e isolamento social; a zona
da assistência, associada ao não trabalho (por incapacidade de trabalho), ou
seja, da dependência segurada e integrada (CASTEL apud PASTORINI, 2004,
p. 65-6).

O equilíbrio entre as diferentes zonas servirá como indicador para a avaliação do nível de coesão
social. A zona de vulnerabilidade ocupa uma posição singular e estratégica e é vista como o termômetro
da coesão social, pois, controlada e reduzida, permite a estabilidade, mas, quando em expansão, alimenta
as contradições, colocando em risco a estabilidade e a própria coesão social.

Portanto, desvelar a nova Questão Social significa entender a relação capital versus trabalho no início
da industrialização e avançar no deciframento da realidade para compreender, criticamente, o quanto
o neoliberalismo transformou e agravou as manifestações da Questão Social, por meio do desemprego
e da precarização do trabalho.
35
Unidade I

3.5 Formas de enfrentamento da Questão Social no Brasil

Não há uma receita para enfrentar as questões sociais, mas há de se discutir no Brasil a necessidade
de se ter instrumentos eficientes que estabeleçam políticas públicas capazes de atender às demandas
sociais de um país que tem crescimento econômico pífio, concentração de renda absurda e que, por isso,
não consegue gerar uma riqueza mais homogênea e equitativa.

A pobreza faz parte de uma conjuntura estrutural e social e tem suas bases históricas, mas não pode
ser aceita como um fenômeno natural, e seus graus referem-se a contextos específicos. Essa discussão
nos remete a duas formas de enfrentamento dessa Questão Social. A primeira, restrita ao campo das
ideias e fomentadora de referenciais teóricos, pode servir de suporte para a tomada de decisões. A
segunda é que a Questão Social deve ser vista pelo prisma político, tornando-se indispensável, nesse
espaço, a luta para erradicar as causas mais conhecidas e minorar os efeitos mais perversos de sua
existência. Daí também a necessidade de políticas públicas realmente efetivas, que endossem as formas
de enfrentamento da Questão Social.

As políticas sociais são, segundo Demo (1998), formas organizadas de enfrentamento da Questão
Social, conduzindo os estudos à compreensão de que o planejamento das ações deve sempre existir e
considerar as variáveis regionais, os recursos disponíveis e os parceiros institucionais como aspectos que
podem conduzir o processo a um maior ou menor grau de eficiência.

Segundo Demo (1998):

A política social pode ser contextualizada, de partida, do ponto de vista


do Estado, como proposta planejada de enfrentamento das desigualdades
sociais. Por trás da política social existe a questão social, definida desde
sempre como a busca de composição pelo tolerável entre alguns privilegiados
que controlam a ordem vigente e a maioria marginalizada que os sustenta
(DEMO, 1998, p. 14).

Os países de maiores dimensões, como o Brasil, necessitam de sistemas de participação e cooperação


interinstitucionais mais efetivos e dinâmicos, pois uma política social pública concebida pelo governo
federal deverá, via de regra, contar com a participação dos governos estaduais e, por fim, dos municípios
em que efetivamente as ações serão desenvolvidas.

A rede de atendimento e de enfrentamento da Questão Social no Brasil somente consegue


alcançar, com êxito, todo o território nacional graças à participação dos três níveis do governo (União,
Estados e Municípios). Além dessas três esferas (governos federal, estadual e municipal), há outros
agentes de políticas sociais, oriundos dos movimentos sociais – centenas de milhares de Organizações
da Sociedade Civil (OSCs) e de Organizações não Governamentais (ONGs) – e da participação de
empresas que atuam no atendimento às demandas sociais. As políticas desenvolvidas pelo segundo
e pelo terceiro setor devem ser compreendidas e efetivadas com seriedade, uma vez que servem
como complemento da ação estatal, e nunca como substitutas dos serviços públicos. Para o Estado,
inclusive, é muito conveniente que essas instituições atuem na área social, pois é uma forma de este
36
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

se desresponsabilizar e ser menos pressionado por intervenções nesse âmbito, o que se combina
muito bem com a ideologia neoliberal.

Apesar de atualmente as empresas difundirem e adotarem a responsabilidade social, e atuarem


nas áreas social, ambiental, educacional e assim por diante, deixam muito a desejar, porque, acima
de tudo, o lucro e a competitividade são os maiores valores contemporâneos neoliberais. Como
percebemos, é uma contradição que devemos analisar criticamente, para não atribuir demasiado
valor a ações focais, insuficientes e não sistematizadas na área social, nem acreditar que empresas
capitalistas, que primam pelo lucro em detrimento do trabalho, estão voltadas para o humano
ou o meio ambiente. São válidas as ações que executam, mas não podem dissimular um fato:
são formas de ressarcimento da agressão e da exploração que essas empresas exercem sobre a
sociedade e o meio ambiente.

É inegável que as políticas públicas, por meio dos programas sociais, também deixam muito
a desejar, devido à limitação de recursos (por fatores diversos, como o alto custo político das
estruturas governamentais e as metas de redução de gastos públicos definidas pelos credores
internacionais). Assim, os programas acabam se tornando, mais uma vez, compensatórios e não
universalistas.

No Brasil, o Estado atua em diversas frentes, como no Programa Nacional de Reforma Agrária, no
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), no Programa Fome Zero e no Programa de Controle
do Diabetes.

A educação é um dos instrumentos importantes de socialização, via inserção escolar. As unidades


escolares são espaços de destruição de estereótipos e lugares de valorização das pessoas. A sociedade,
em suas mais variadas manifestações, procura articular um discurso que pressione o Estado a ofertar
uma educação pública de qualidade, do nível básico ao superior. No entanto, ainda lutamos pela
universalização da educação no país: o maior avanço quanto ao acesso das pessoas à educação ocorreu
no Ensino Fundamental. Lamentavelmente, os indicadores de acesso à Educação Infantil, ao Ensino
Médio e ao Superior deixam a desejar.

A educação tem sido um dos principais instrumentos de combate à exclusão social. Em nossa
sociedade, há uma demanda social por educação de qualidade e pela sua universalização, tanto no nível
básico quanto no superior.

Portanto, as formas de enfrentamento da Questão Social nos remetem necessariamente a políticas


sociais e públicas efetivas e ampliadas que visem, principalmente, à universalização dos direitos e ao
acesso a bens e serviços públicos.

Para tal, exige-se o empoderamento das pessoas, para que conheçam seus direitos e se mobilizem
em prol deles. O grande desafio é justamente atuar nessa contramão, na qual os serviços estão sendo
reduzidos, os direitos, negligenciados, e a maioria da população está inerte, sem reação, despolitizada e
manipulada por uma mídia neocapitalista, alienante e atrelada ao capital.

37
Unidade I

3.6 Reflexão acerca da exclusão social

Todas as pessoas pauperizadas, sem acesso aos direitos e serviços sociais, em núcleos residenciais
com vulnerabilidade social, econômica, cultural, familiar e assim por diante podem ser denominadas
excluídas?

Vejamos onde se insere a exclusão e as formas errôneas de uso desse termo.

A desigualdade tem caracterizado as fases históricas em que a economia dita o ritmo do


desenvolvimento e em que é o crescimento econômico que define o grau de satisfação das necessidades
sociais, por meio dos modelos econômicos adotados pelos Estados. Esse cenário apresenta desde a
substituição do modelo de economia feudal pelo capitalista até a existência de forças antagônicas
envolvidas no seu processo produtivo: o capital e o trabalho.

De maneira geral, à primeira vista e em resposta rápida, pode-se definir (de maneira errada) que
somente as pessoas desprovidas de condições financeiras caracterizam-se como excluídas ou vítimas da
exclusão social.

Assim, a maneira mais comumente utilizada na definição da exclusão social ainda está estritamente
ligada a expressões sociais como indigência, pobreza, desnutrição, analfabetismo, desemprego duradouro
etc.

No entanto, faz-se necessário o aprofundamento dos estudos, para não incorrer na superficialidade
de uma definição que pode, incorretamente, generalizar situações de exclusão de diferentes tipos ou
mesmo subalternizar à condição de camadas sociais economicamente vulneráveis comunidades e
nações devido às suas características culturais.

O conceito e o emprego da expressão exclusão social são recentes, e esta passou a ser usada na
França, por volta de 1992, compreendida como a própria Questão Social.

Castel, Wanderley e Belfiore (2000) elencam alguns motivos pelos quais devemos tomar cuidado
com esse termo:

• Heterogeneidade – por englobar muitos fatores, o termo exclusão acaba por esconder as
especificidades de cada um deles. Com isso, perde-se enormemente em compreensão dos fatos.

• Atomiza situações que só têm sentido quando colocadas no processo – excluído seria um termo
para ser usado somente nos casos em que os sujeitos nunca tivessem estado nas relações habituais
de trabalho e de socialização. Porém, o termo exclusão está sendo utilizado para nomear situações
de degradação em relação à posição anterior, o que é dinâmico e oscila muito. O termo mais
adequado para se utilizar, nesses casos, seria desfiliado, que significa dissociado, apartado.

• Exclusão pode ser uma armadilha de reflexão e ação, por tentar combater somente as expressões
da Questão Social, sem ir à sua essência, que é a contradição capital versus trabalho. O grande
38
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

desafio é tentar conciliar, controlar essa relação entre a lógica econômica e a coesão social, antes
que chegue à ruptura social.

• Reconhece-se a necessidade de políticas de inserção para amenizar os impactos da desigualdade


e não abandonar a classe pauperizada definitivamente. Contudo, trata-se de estratégias limitadas
no tempo, que deveriam ser provisórias e acabam por se tornar permanentes. É o caso dos
programas de renda mínima (como o Programa Bolsa Família), que se tornam um pronto-socorro
social paliativo, agindo somente nas sequelas, e não nas causas.

• Os excluídos compõem categorias cada vez mais numerosas: pessoas com deficiência, pessoas
idosas etc. Os excluídos até que poderiam representar uma “nova” categoria, mais ampla e
indeterminada, que, no entanto, exigiria uma intervenção especializada. Além disso, a maioria dos
que são chamados de excluídos foi “invalidada” pela conjuntura, e não por deficiência pessoal: são
os sobrantes.

• As políticas sociais mais gerais, que possuem caráter preventivo, acabam por se tornar medidas
contra a exclusão, transformando-se meramente em reparadoras dos efeitos, e não das causas.
Pode-se dizer que é dado um tratamento técnico, em vez de político. Um tratamento político
exigiria uma transformação completa das relações de trabalho. É o mesmo deslocamento do
centro à periferia que se opera quando hoje se reduz a Questão Social à questão da exclusão.

• Enfim, os autores defendem que há subconjuntos de excluídos realmente da sociedade em


situações bem específicas:

— supressão completa da sociedade (por exemplo, a expulsão dos judeus da Alemanha durante a
Segunda Guerra Mundial, quando foram banidos, torturados e mortos);

— existência de grupos fechados e isolados da comunidade (guetos, asilos, presídios etc.);

— aquisição de um status social que permite ao subconjunto coexistir na comunidade, mas com
privações de certos direitos de participação em atividades sociais (os índios, sob o código
especial, e as mulheres sem o direito de votar).

Comumente, a exclusão, quando de fato acontece – conforme as definições de Castel –, repousa


sobre regras, mobiliza aparelhos especializados e completa-se por meio de rituais. Exemplo disso foram
os leprosos na Europa: primeiro eram submetidos a um exame; depois, a uma cerimônia religiosa para
declarar a “separação” efetiva da sociedade. Raramente podiam sair do leprosário – lugar para onde
eram enviados. Caso fosse permitida sua saída, deveriam usar um triângulo sonoro, para lembrar seu
status de excluídos.

Portanto, a exclusão não é arbitrária nem acidental. Ela emana de uma ordem de razões proclamadas,
e sua legitimidade é dada pela sociedade. Exemplo disso, na atualidade, é quando legitimamos a reclusão
de adolescentes em conflito com a lei. Mesmo sabendo que sua recuperação é pouco provável, devido a
uma série de falhas no sistema carcerário, ainda assim defendemos e propagamos que sejam retirados
39
Unidade I

de nosso meio, por pensarmos ser o correto. Isso é legitimar e aceitar uma realidade sem compreender
todo o contexto em que está inserida.

O termo exclusão pode ser utilizado desde que compreendamos a sua abrangência. Comumente,
usávamos denominar de excluídas as pessoas com déficit de integração quanto à falta de trabalho,
moradia, educação etc. No entanto, esses são processos de marginalização que podem resultar em
exclusão propriamente dita, num tratamento explicitamente discriminatório dessas populações.

Observação

Falar em termos de exclusão é “rotular com uma qualificação puramente


negativa, que designa a falta, sem dizer no que ela consiste nem de onde
provém. [...] Isto por uma razão de fundo: os traços constitutivos essenciais
das situações de ‘exclusão’ não se encontram nas situações em si mesmas”
(CASTEL; WANDERLEY; BELFIORE, 2000, p. 47).

Há autores que pensam de forma diferente de Castel, Wanderley e Belfiore (2000). No entanto, pela
coerência e riqueza de análise que esses autores trazem, convencem-nos a refletir sobre a utilização do
termo exclusão.

Considerando os aspectos sobre a definição de exclusão social, anteriormente tratados, torna-se


mais fácil o reconhecimento de que não se deve associar a exclusão social somente à falta de acesso à
renda e aos serviços sociais, ou mesmo a aspectos de “simplicidade” cultural.

Para contextualizar histórica e conceitualmente a exclusão social, apoiamo-nos em Foucault apud


Bortoli, Campaner e Chaves (2002), o qual afirma que a exclusão, na Idade Média, estava relacionada
ao poder que a Igreja detinha sobre a sociedade e que era manifestado nas relações cotidianas. Pessoas
com doenças consideradas como epidemias e com necessidades especiais de natureza incompreensível
eram afastadas do convívio social. As doenças eram fruto de castigos divinos, e os doentes, portanto,
mereciam ser castigados com torturas, condenação à morte, assim como pobres, presidiários, entre
outros.

Utilizando como exemplo essa época, os excluídos eram aqueles que, de alguma forma, ameaçavam
os valores e dogmas da igreja (FOUCAULT, 1997). Com o surgimento de hospitais, já no final do século
XVIII, alternativas às torturas ou execuções surgiram. A partir daí, a ciência passou a condenar os
excluídos, ocupando o lugar da Igreja.

Condenavam aqueles que fugiam dos padrões adotados pelo conhecimento científico e pela
burguesia. As pessoas anormais ou patológicas deviam ser submetidas a intervenções curativas, a fim de
recuperar a normalidade, por meio de ações coercitivas realizadas por médicos psiquiatras, psicólogos
e educadores da época. Aqueles que apresentassem divergência na forma de pensar, de ser e de agir
deviam ser excluídos, ou seja, privados de convivência social (BORTOLI; CAMPANER; CHAVES, 2002).

40
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Ao longo da história da humanidade, o conceito de exclusão faz parte da sociedade, mesmo que
por diferentes razões (raça, etnia, gênero, cultura, religião etc.). No decorrer da História, os excluídos
assumem significados diferentes, mas em todos eles há uma relação entre poder e exclusão (FOUCAULT,
1997).

Atualmente esse conceito ainda está associado às questões do poder, porém aparece no contexto
social de forma diferente. A globalização e a competitividade mantêm, infelizmente, as relações
excludentes, sinônimo de funcionamento do sistema (SAWAIA, 2006).

Tal situação provoca no indivíduo vítima de exclusão um sentimento de rejeição diante da


discriminação que este sofre na sociedade, gerando culpa, vergonha e estagnação quanto aos seus
direitos. Nesse sentido, Bortoli, Campaner e Chaves (2002, p. 120) asseveram que “discutir sobre a
exclusão significa problematizar as diferentes facetas que constroem o processo social”.

Mas, então, como podemos definir o termo exclusão?

A definição desse termo está ligada aos aspectos econômicos (desemprego etc.), sociais (pobreza,
perda de status etc.), psicológicos (autoestima etc.), físicos (doenças) e culturais (valores). O fenômeno
da exclusão, considerando sua dimensão no cotidiano e nas questões sociais, torna-se, para muitos, uma
fatalidade diante do conformismo da sociedade perante a problemática. Torna-se natural e inevitável,
conforme destacado anteriormente. Mas não podemos aceitar essa condição: precisamos ver a exclusão
sob uma nova ótica, acreditar que é possível sua abolição ou, pelo menos, a diminuição de situações
que a geram.

Por isso, convidamos você a discutir a questão da exclusão, numa perspectiva mais social, que é o
interesse e o foco da disciplina, direcionada ao curso de Serviço Social.

Sawaia (2006) conceitua exclusão como:

Processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões


materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É um processo sutil e dialético,
pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma
coisa ou um estado, é um processo que envolve o homem por inteiro e suas
relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do
sistema, devendo ser combatido como algo que perturba a ordem social, ao
contrário, ele é produto do funcionamento do sistema (SAWAIA, 2006, p. 9).

Isso significa que é preciso considerar a dicotomia entre exclusão e inclusão, para entender o processo
a partir de uma análise dialética, levando em consideração as relações sociais que se constroem nas
práticas cotidianas pelos indivíduos.

Wanderley apud Sawaia (2006) reflete a exclusão como algo social, ligado a princípios de
funcionamento das sociedades modernas que atingem todas as classes socioeconômicas da sociedade.
Por isso, a exclusão, na contemporaneidade, é vista além da ótica discriminativa ou de segregação.
41
Unidade I

Um dos fatores que contribuem para a exclusão nas relações sociais e a alimentam é o preconceito.
Tudo isso tem como consequência a vulnerabilidade e a “desorganização” familiar e comunitária, a
socialização defeituosa, a alienação e a desmoralização dos indivíduos. Isso se instaura e se mantém
baseado nas representações sociais que os meios de comunicação, tanto sociais quanto de mídia,
colaboram imensamente para disseminar.

Nesse sentido, Jodelet apud Sawaia (2006, p. 64) afirma que “a exclusão que é hoje objeto de políticos e
de debates sociais é um fenômeno social, econômico e institucional cuja análise ressalta das ciências sociais”.

Guareschi citado por Sawaia (2006) aponta que, considerando o estudo da exclusão sob uma ótica
psicossocial, é importante discutirmos dois aspectos que são decisivos para a criação e a perpetuação
desse fenômeno: a competitividade e a culpabilização.

Para ele, no mundo atual, competitividade é palavra sagrada e provoca diferenças e exclusões, pois
o progresso e o desenvolvimento só são possíveis por meio dela. As exigências do mercado capitalista
fazem que as pessoas lutem para não ser rejeitadas e excluídas, o que gera, consequentemente,
privilégios para alguns e exclusão para outros. Por exemplo: o trabalhador rural que vai para a capital
em busca de qualidade de vida geralmente é excluído por não apresentar qualificação suficiente para
atender às exigências do mercado de trabalho. Segundo Guareschi apud Sawaia (2006, p. 147), “o ser
humano, como ser isolado e egoísta (preceito do liberalismo), tem de competir para sobreviver, de um
lado, e de outro lado, para trazer progresso”. Ele ainda acrescenta que “a consequência palpável do
estabelecimento e funcionamento dessa relação de competitividade é a exclusão não apenas de alguns,
mas de milhões, ou bilhões, de seres humanos”. Isso se torna uma problemática social diante do grande
número de indivíduos empobrecidos e descartáveis.

Já a culpabilização está relacionada ao fato de atribuir o sucesso ou o fracasso especificadamente


a pessoas particulares, deixando de lado as possíveis causas históricas e sociais, como o desemprego
planejado, que provoca a exclusão de muitas pessoas do mercado de trabalho. Guareschi citado por
Sawaia (2006, p. 150) afirma que “há uma ‘individualização’ do social, e um endeusamento do individual
[...]. As pessoas são, individualmente, responsabilizadas por uma situação econômica adversa e injusta”.
Isso significa desconsiderar o social diante das problemáticas que são sociais. Mas essa individualização
não dá conta de entender e elucidar as irracionalidades globais, como a exclusão tão presente ainda nos
dias de hoje, mesmo com a propagação de projetos de inclusão social que visam à inclusão amparada
por uma responsabilidade social ética.

Agora que já sabemos o que vem a ser a exclusão social, como podemos definir inclusão?

A inclusão social pode ser pensada como um processo de disciplinarização dos excluídos. Trata-se de
incluir socialmente aqueles que estão privados de qualquer tipo de convivência social.

Sawaia (2006, p. 108), ao basear-se nos pensamentos de Foucault, descreve a inclusão social como
um “processo de controle social e manutenção da ordem na desigualdade social”, desde que partamos
do raciocínio dos indivíduos que são excluídos da sociedade capitalista. A partir disso, por meio de
projetos de inclusão, a sociedade procura incluir as vítimas da exclusão social. Esses projetos devem
42
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

ir além de uma ação assistencialista, mas promover a inserção laboral, objetivando a supremacia da
cidadania (DEMO, 1998).

Para Sassaki (2002, p. 42), a inclusão social

[...] é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de


sociedade através de transformações pequenas e grandes, nos ambientes
físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios,
mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas [...]
(SASSAKI, 2002, p. 42).

Ou seja, incluir socialmente, conscientizar os membros da sociedade de que devem empoderar-se,


por meio dos direitos garantidos por lei, tendo consciência de que são capazes de adaptar-se e incluir-se
nos sistemas sociais, de forma que estejam preparados para assumir seus papéis, apropriando-se de seus
direitos de cidadãos. Para isso, contudo, é preciso aceitar as diferenças, valorizar cada indivíduo, para
que este possa conviver em uma diversidade humana.

Saiba mais

Para aprofundar o estudo sobre a temática da inclusão, que faz parte


de uma discussão atual da sociedade, sugerimos a leitura do livro Inclusão:
construindo uma sociedade para todos, de Romeu Kazumi Sassaki, assistente
social. O autor discute conceitos inclusivistas nos mais diversos ambientes
em que acontece a exclusão: escola, instituições de saúde, empresas e locais
de lazer, arte e cultura. Fique atento às informações que o livro traz, pois
poderão contribuir para sua formação e atuação profissional. Boa leitura!

Podemos dizer que a exclusão é um processo complexo e multifacetado. É também dialética, por
existir somente em relação à inclusão, como parte constitutiva desta.

Arroladas tais colocações, passaremos a discutir sobre a questão do trabalho e sua relação com o
Serviço Social. Nos termos apresentados, compreenderemos que este também está inscrito nas relações
de trabalho e está sujeito à ocorrência destas de forma precária. Essa discussão nos levará a compreender
o processo de trabalho, conforme sumariamos na sequência.

4 TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: A PROFISSÃO ANTE AS TRANSFORMAÇÕES


SOCIETÁRIAS RECENTES

Para compreendermos a relação estabelecida entre o Serviço Social e a categoria trabalho,


precisamos considerar as peculiaridades em que essa relação se constitui e se consolida. Para isso,
precisamos atentar ainda para o fato de que a Questão Social é um fator condicionante dessa
relação, bem como o projeto político assumido por toda a nossa categoria profissional e as condições
43
Unidade I

apresentadas pelo mercado de trabalho. Para que você possa apreender todas as vicissitudes que essa
relação engloba, didaticamente dividiremos o presente material de acordo com os seguintes tópicos:
trabalho e Serviço Social; o cenário atual e suas incidências na Questão Social; a consolidação do
projeto ético-político do Serviço Social na contemporaneidade e o redimensionamento da profissão,
considerando o mercado de trabalho e as condições laborais que acometem os assistentes sociais. No
entanto, você deve considerar essa divisão apenas com uma finalidade didática, posto que todos os
fenômenos aqui descritos estão inter-relacionados em uma realidade que é, por excelência, dialética.
Começaremos então pela relação entre trabalho e Serviço Social.

4.1 Trabalho e Serviço Social

O processo de trabalho do Serviço Social constitui-se no espaço em que os conhecimentos são


processados e reconstrói-se a partir da análise da Questão Social e do conhecimento produzido pela
área. Antes de discutirmos o conceito de processo de trabalho, passemos a algumas considerações sobre
a relação entre trabalho e Serviço Social.

A prática profissional do assistente social é considerada trabalho, pois, nessa área, este é
orientado para uma finalidade, possuidor de uma teleologia. Esse profissional é um trabalhador
assalariado. Em tal condição, “também sofre todas as injunções decorrentes da divisão social do
trabalho, da reestruturação produtiva e das reformas por que vem passando o Estado” (ABESS/
CEDEPESS, 1996, p. 163-4).

Embora o assistente social esteja sujeito às alterações do mercado de trabalho, deve estabelecer um
distanciamento crítico desse mercado, a fim de apreender a dinâmica da sociedade. Essa mediação é
determinante para a sobrevivência do Serviço Social.

O processo de trabalho do Serviço Social, como qualquer trabalho no setor


de serviços, gera “valores de uso”, apesar de não “produzir diretamente
mais-valia”. Seu produto não é necessariamente de base corpórea, material,
mas expressa um resultado, um valor de uso. Participa do processo ampliado
de produção e reprodução social, exercendo funções mais ou menos
estratégicas, à medida que se articula a setores produtivos, mais ou menos
importantes (GENTILLI, 1997, p. 132).

O processo de exercício do Serviço Social vê-se sufocado tanto pelas transformações societárias
como pela globalização, cujas repercussões sociais destacamos em outras disciplinas, quanto pelo
retraimento do Estado em relação às políticas sociais e aos cortes nos gastos sociais.

A globalização e o desenvolvimento tecnológico, a transferência de serviços do Estado para


organizações não governamentais (ONGs) e instituições privadas, entre outras mudanças em curso, são
movimentos contraditórios que geram conflitos, desigualdades, exclusões, lutas e resistências. Essas
mudanças incidem nas instituições prestadoras de serviços sociais e na própria dinâmica da profissão.
Tal dinâmica configura-se a partir de enfrentamentos de questões, das contradições da realidade e da
conjuntura social, política, ideológica, econômica e cultural.
44
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

O trabalho do assistente social aporta perspectivas diferentes na empresa e no Estado. Na empresa,


o profissional é partícipe na reprodução da força de trabalho. No Estado, pode participar da prestação
de serviços sociais, da redistribuição de riquezas, via políticas públicas, da defesa de direitos sociais,
da gestão de serviços públicos, em especial políticas públicas – programas, projetos –, pode reforçar
estruturas e relações de poder ou, ainda, contribuir para o partilhamento do poder e sua democratização.

O produto desses dois últimos itens tem apontado as mais diversas práticas sociais, pois o assistente
social é um profissional que dialoga com as mais diversas teorias sociais, que subsidiam-no para conhecer
a fim de propor e intervir.

Insistimos no conhecimento porque é a partir dele que construímos o objeto de intervenção. A


construção desse objeto realiza-se por meio do conhecimento e da utilização de estratégias metodológicas,
que se desdobram nos vários instrumentos técnico-operativos, tais como: análise institucional, plano/
projeto de intervenção, documentação (pareceres sociais, laudos, perícias), abordagens individuais,
abordagens grupais, entre tantas outras.

O conhecimento, instigado por reflexões, debates, pesquisas, estudos, como o que estamos fazendo
agora, não pode ser pensado isoladamente da prática profissional. Deve ser um meio pelo qual seja
possível decifrar a realidade e iluminar o processo de trabalho a ser realizado.

Segundo assevera Iamamoto (2004, p. 63), “as bases teórico-metodológicas são recursos [...] que o
assistente social aciona para exercer seu trabalho: contribuem para iluminar a leitura da realidade e
imprimir rumos à ação, ao mesmo tempo que a moldam”.

Assim, o conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos no seu processo formativo é parte de


um acervo intelectual, pessoal e profissional que o acompanhará pela vida toda.

Nessa perspectiva, o assistente social detém as condições intelectuais, de conhecimento formativo,


mas depende, na organização do seu trabalho, do Estado, da empresa, das entidades não governamentais
que viabilizam aos usuários o acesso aos seus serviços. Esses fornecem os meios e recursos necessários
para a realização da atividade em si, estabelecem prioridades, rotinas a serem cumpridas, interferem na
definição de papéis e atribuições que compõem o cotidiano do trabalho institucional.

Como nos assevera Iamamoto (2004, p. 63):

Embora regulamentado como uma profissão liberal na sociedade, o Serviço


Social não se realiza como tal. Isso significa que o assistente social não detém
todos os meios necessários para a efetivação de seu trabalho: financeiros,
técnicos e humanos, necessários ao exercício profissional autônomo.

Entendemos a profissão como dependente das instituições para disponibilizar os recursos necessários
à realização de projetos, programas e atividades desenvolvidos por esse profissional. Dessa forma, o
assistente social tem seu trabalho ligado às entidades empregadoras de seus serviços, onde realiza sua
intervenção.
45
Unidade I

Por que a palavra intervenção? Podemos também dizer ações, proposições, mas intervenção é mais
corrente na prática e na teoria do Serviço Social. Até porque a palavra intervir tem um sentido mais
direto e claro do que agir ou propor. O uso do termo fica a critério do profissional.

[...] particulariza-se o serviço social no conjunto das relações de produção


e reprodução da vida social, como uma profissão de caráter interventivo,
cujo sujeito – o assistente social – intervém no âmbito da questão social.
Considera-se a questão social como fundamento básico da existência do
serviço social, reconhecendo, a partir daí, que o agravamento dessa questão,
em face das particularidades do processo de reestruturação produtiva no
Brasil, determina uma inflexão no campo profissional, provocada por novas
demandas postas pelo reordenamento do capital e do trabalho (CARDOSO;
MACIEL, 2000, p. 9).

A intervenção profissional se constrói, nesse processo de produção e reprodução da vida social, na


articulação do poder dos usuários e protagonistas da ação profissional, no enfrentamento de questões
cotidianas. Nesse processo, são construídas estratégias para dispor de recursos, poder, agilidade,
criatividade, acesso, organização, informação, mobilização, sensibilização, entre outras.

O assistente social é um profissional de formação genérica crítica, visto que se apropria de matrizes
teórico-explicativas de outras áreas do saber, buscando uma visão de homem e de mundo na perspectiva
da totalidade.

A crítica de que aqui falamos é o diálogo com as teorias sociais, que estão permeando sua formação
profissional. Ser crítico não é criticar tudo e todos. É ser leitor da realidade, com ética, respeito à
diversidade e conhecimento teórico-metodológico (teoria, habilidades, valores); analisar as expressões
da Questão Social com os devidos aportes que citamos, para que se possa intervir de forma crítica e
propositiva, perguntando-se: “Que parâmetros utilizarei para minha prática profissional?”.

Notamos que o processo de trabalho do assistente social é pautado pelo instrumental técnico-
operativo utilizado por ele.

Esse instrumental não é somente um conjunto de ferramentas e estratégias utilizadas para a


efetivação das atividades profissionais, mas também um conjunto teórico-metodológico. Tais recursos é
que vão fundamentar a leitura da realidade, incidindo na formulação, no desenvolvimento e na avaliação
das ações profissionais.

A ausência de criticidade no fazer profissional leva à aceitação passiva de tarefas e atividades


atribuídas por outros profissionais e também por não profissionais. Muitas vezes, as atividades são
atribuídas por outros ou por outras instâncias, implicando um caráter de urgência, de imediatismo.

O profissional acrítico (não crítico), de certa forma, acaba reforçando o poder dominante, a realidade,
o sistema em que está inserido. Esse profissional que não tem ou não consegue fazer uma leitura da
realidade de modo que possa contribuir para a mudança está fadado à acomodação e não contribui para
46
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

o processo de transformação da realidade, para que as pessoas se emancipem, tenham plena cidadania
e acesso de fato a serviços sociais. Resumindo, não sabe o que é e o que faz o Serviço Social.

Ainda sobre a relação entre trabalho e Serviço Social, Iamamoto (2004) chama a nossa atenção
para o fato de que a relação trabalhista deve ser compreendida como impregnada pelas relações de
gênero. Nesses termos, segundo coloca a autora, é uma profissão essencialmente feminina, ou “de
predominância feminina”. Isso, em grande parte, pode explicar também a baixa remuneração em alguns
setores.

A autora ainda coloca que também são perceptíveis nas relações de trabalho do assistente social
posturas messiânicas e voluntárias. A postura messiânica estaria relacionada a comportamentos
profissionais com a pretensa intenção de alterar as estruturas sociais, ao passo que a voluntária estaria
relacionada a profissionais que não assumem o necessário compromisso com seu público-alvo.

Contudo, recorrendo mais uma vez a Iamamoto (2004), precisamos compreender que nossa prática
profissional só se efetiva por tratar-se de um processo de trabalho. Tratadas tais colocações, vamos
realizar uma sistematização para que você compreenda como a autora em questão e toda a categoria
compreendem a noção de processo de trabalho.

Iamamoto (2004), extraindo as compreensões de Marx acerca do processo de trabalho, aponta que
todo processo de trabalho incorpora as seguintes dimensões: o trabalho, seu objeto e seus instrumentos
ou meios; essas dimensões combinadas resultarão em um produto.

Partindo de tal assertiva, a autora nos diz que essa definição de processo de trabalho se aplica a
qualquer tipo de intervenção, seja o trabalho manual, intelectual ou artístico. Assim, seja um trabalho de
natureza artística, intelectual ou um trabalho que demande uma intervenção material, essa ação estará
conformada por um processo.

Nesse sentido, o trabalho é compreendido como qualquer ação desenvolvida com uma finalidade
a ser alcançada, independentemente de sua natureza. Apesar disso, demanda meios e instrumentos
para ser colocado em prática: para que a ação, a atividade possa ser alcançada, é necessário que sejam
utilizados instrumentos ou meios de trabalho.

“Para ser consumida e transformada em atividade, a força de trabalho exige meios ou instrumentos
de trabalho e uma matéria-prima ou objeto de trabalho que sofrerá alterações mediante a ação
transformadora do trabalho” (IAMAMOTO, 2004, p. 99).

Isso de forma que a ação, o trabalho em si, seja executada apenas em decorrência dos meios ou
instrumentos de trabalho. No caso do Serviço Social, esses meios ou instrumentos fazem referência
a recursos “materiais, humanos e financeiros” que são necessários para a realização da intervenção
profissional. Apesar de o profissional possuir, nos termos da autora, autonomia para desenvolver
suas ações, não detém todos os meios para isso e depende de que uma instituição empregadora
disponha dos recursos materiais, humanos e financeiros que viabilizem a operacionalização de sua
prática profissional.
47
Unidade I

Assim, a autora destaca que a instituição empregadora, seja pública ou privada, condiciona a prática
do assistente social. “Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do
assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele participa” (IAMAMOTO, 2004, p. 63).

No caso, salienta a autora que não podemos compreender a questão dos meios ou instrumentos
considerando apenas a importância do chamado “arsenal de técnicas”, ou então os recursos da instituição,
mas precisamos compreender a relevância do “conhecimento como um meio de trabalho”, destacando
ainda que, sem o conhecimento, o profissional não consegue desempenhar seu trabalho.

Sinaliza assim que os instrumentos ou meios comportam a bagagem teórica, o conhecimento de que
cada profissional, cada assistente social dispõe. A autora descreve esses conhecimentos com a expressão
“bases teórico-metodológicas”, o que corresponde a conteúdos teóricos, mas também à compreensão
de mundo. Para ela, a questão teórico-metodológica é dada aos profissionais essencialmente pela
graduação e pode ser complementada por estudos posteriores.

A autora coloca ainda que essa dimensão teórica é expressão de toda a evolução histórica e teórica
alcançada pela profissão em seu processo de amadurecimento intelectual. Ela nos diz que:

Sendo o trabalho uma atividade do sujeito, ao realizar-se, aciona não só o


acervo de conhecimentos, mas a herança social cultural acumulada, com suas
marcas de classe, de gênero, etnia, assim como do processo de socialização
vivido ao longo da história de vida, atualizando valores, preconceitos e
sentimentos que aí foram sendo moldados (IAMAMOTO, 2004, p. 104).

Os valores e conhecimentos que vamos adquirindo em nossa vivência profissional irão conformar
nossa postura, que estará expressa em nossas relações trabalhistas, estabelecidas pelo Serviço Social
durante o processo de trabalho.

Em síntese, o que Iamamoto (2004) coloca a respeito disso é que não devemos compreender
instrumentos ou meios do trabalho apenas com uma visão das técnicas, embora estas sejam importantes
mecanismos de intervenção profissional. Precisamos compreender as técnicas associadas a um referencial
teórico-metodológico. A respeito desses componentes do processo de trabalho, a autora nos diz que
são aspectos que contribuem para “moldar” o exercício profissional. Este, segundo Iamamoto (2004),
é organizado, é desenvolvido com base em um objeto, sobre o qual será realizada a ação. Tal objeto,
segundo a definição da autora, seria a Questão Social, fenômeno compreendido como suas múltiplas
formas de expressão. Vejamos o que nos diz a autora:

A matéria-prima do trabalho do assistente social (ou da equipe


interprofissional em que se insere) encontra-se no âmbito da questão
social em suas múltiplas manifestações – saúde da mulher, relações de
gênero, pobreza, habitação popular, urbanização de favelas etc. – tal como
vivenciadas pelos indivíduos sociais em suas relações sociais quotidianas,
às quais respondem com ações, pensamentos e sentimentos (IAMAMOTO,
2004, p. 100).
48
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Assim, a Questão Social é tratada pela autora como as diversas situações que afetam de forma
negativa a vida dos segmentos subalternizados. Acerca da Questão Social, já estudamos itens anteriores
neste livro-texto. Porém, Iamamoto (2004) chama a atenção para o fato de que a Questão Social possui
múltiplas formas de expressão, as quais são vivenciadas pelos seres humanos em sua realidade cotidiana,
no seu dia a dia. Não se trata de uma categoria que se manifesta apenas no pensamento, mas na
realidade concreta.

A autora ainda chama a nossa atenção para o fato de que a Questão Social, ou seja, a matéria-prima
de nossa profissão não possui as mesmas peculiaridades em todas as regiões. As expressões da Questão
Social assumem os “[...] níveis regional, estadual e municipal e as alterações sócio-históricas que nelas
vêm se processando, também em função das formas coletivas com que possam estar sendo enfrentadas
pelos sujeitos envolvidos” (IAMAMOTO, 2004, p. 100). Essas expressões são condicionadas pela realidade
na qual estão se manifestando e também pelas formas de enfrentamento encontradas pelos sujeitos
que as experienciam.

Para apreender a Questão Social em suas múltiplas formas de expressão, a autora destaca
que precisamos conhecer profundamente a realidade sobre a qual iremos atuar. Isso nos remete à
possibilidade de conhecer profundamente essa realidade, recorrendo aos dados obtidos por meio de
pesquisas, sobretudo, dados e indicadores que devam ser sistematizados e transformados em referências
para o fazer profissional.

Até agora nos aproximamos da compreensão sobre o trabalho, a matéria-prima ou objeto e os


instrumentos. No decurso deste tópico, para concluir a noção de processo de trabalho de acordo com
Iamamoto (2004), precisaremos discutir ainda a noção de produto.

Essa autora inicia suas discussões apresentando o seguinte questionamento: “O que o assistente
social produz?”. Como resposta, a autora coloca que a intervenção do profissional produz alterações nas
condições materiais e sociais daqueles com os quais trabalha e ainda produz a elaboração de conceitos
junto aos segmentos nos quais está atuando.

Nesses termos, Iamamoto (2004) vem nos dizer que as intervenções voltadas à atenção a condições
materiais e sociais estarão relacionadas a ações que possuem o potencial de garantir a reprodução dos
segmentos atendidos por meio dos serviços sociais mediados. A nosso ver, nesse rol de “ações” estão
incluídas aquelas caracterizadas pela concessão de benefícios ou serviços a determinados segmentos que
não poderiam ser usufruídos por esses grupos em decorrência da situação de vulnerabilidade vivenciada.
Podemos assim exemplificar com a concessão de benefícios como a cesta básica, a transferência de
renda ou outros mais, que garantam o acesso aos serviços básicos e necessários à sobrevivência.

Já a produção de conceitos está relacionada a uma dimensão subjetiva que a profissão alcança.
Iamamoto (2004) coloca que nossas ações possuem a conotação de formar conceitos nas pessoas com
as quais atuamos. Esses conceitos formados pelas pessoas por nós atendidas, segundo a autora, podem
situar-se no âmbito da subordinação ou da insubordinação. Para ela, nossa prática, nossa intervenção
possui o potencial de fazer nossos atendidos se colocarem contrários à ordem estabelecida, ou então
pode reforçar sua alienação.
49
Unidade I

Por meio desse entendimento é que Iamamoto (2004) compreende a noção de processo de
trabalho. Para melhor apreendermos esses conceitos, observemos a figura a seguir, na qual é feita
uma representação desse entendimento do processo de trabalho. Na imagem estão relacionados
a terminologia marxista e os itens correspondentes à interpretação da autora aplicada ao Serviço
Social. Serve como uma espécie de sistematização do que discutimos até o presente momento
e pretende auxiliar você na compreensão dos conteúdos apreendidos até agora. Oferece ainda
uma noção dialética de processo de trabalho, indicando que esta é representada por conceitos
totalmente inter-relacionados e interdependentes que estão em constante construção e
reconstrução.

• Meios e instrumentos • Trabalho


• Matéria-prima
• Bagagem teórica e • Ação que possui uma
• Questão social instrumental finalidade
Produto - atenção a
questões materiais
e elaboração de
conceitos

Figura 1 – Processo de trabalho.

De tal forma, podemos compreender ainda que o processo de trabalho no Serviço Social é uma
constante, uma intervenção que está em contínuo movimento. No entanto, é fundamental que você
consiga se apropriar dos conceitos tratados até o presente momento, sobretudo com relação à ideia de
processo de trabalho.

Nos próximos itens, discutiremos o cenário atual, suas incidências na Questão Social e seu vínculo
com a consolidação do projeto ético-político do Serviço Social, bem como as condições do mercado de
trabalho do assistente social.

Vamos a esses tópicos, relembrando a você a importância de tais conteúdos e destacando que é
fundamental uma leitura atenta dos temas tratados.

Saiba mais

Para uma melhor compreensão do tema, recomendamos a leitura


do texto Os processos de trabalho do Serviço Social em um desenho
contemporâneo, de Karen Ramos Camargo. Acesse o link a seguir: <http://
www2.portoalegre.rs.gov.br/sma/revista_EGP/processos_trabalho_servico_
social_Karen.pdf>.

50
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

4.2 O cenário atual, suas incidências na Questão Social e a consolidação


do projeto ético-político do Serviço Social

Lembrete

Questão social: múltiplas expressões das desigualdades sociais geradas


pelo sistema capitalista.

Ainda no que diz respeito aos conteúdos, recorreremos mais uma vez a Iamamoto (2004).

Nos termos apresentados, a autora inicia suas argumentações referindo que o processo de
acumulação flexível iniciado na década de 1970 provocou profundas alterações no processo de produção.
Os argumentos de Iamamoto (2004) estão relacionados às mudanças ocorridas tanto nesse processo
quanto nas relações trabalhistas. Acerca dessas modificações, é necessário pontuar que já estudamos,
no início deste livro-texto, parte das informações desse processo, bem como dos resultados nocivos que
afetaram e afetam grande parcela de nossa população, sobretudo a “classe que vive do trabalho”, como
sabiamente afirma a autora.

Além dos processos que já estudamos, a autora destaca a globalização. Para ela, a globalização
econômica, respaldada na introdução de novas tecnologias, faz os processos de compra, venda e
produção perderem os limites, ou seja, já não há fronteiras que impeçam o comércio. No entanto,
ressalta que esse fenômeno não traz benefícios para grande parte da nossa população, ao passo
que a inovação tecnológica acarreta, no reverso da medalha, a expulsão de muitos trabalhadores
do mercado de trabalho. De tal sorte que a globalização é um fenômeno excludente e desigual,
segundo a autora.

De qualquer forma, o que ela pretende é afirmar que cada vez mais as condições de trabalho
tornam-se precárias; nesse caso, os salários sempre são mais baixos e ainda há grande perda dos direitos
trabalhistas. Em contrapartida, o contingente de desempregados também cresce, fazendo o exército
industrial de reserva ampliar-se consideravelmente. Em síntese, as condições de sobrevivência tornam-
se cada vez mais complexas e resultam em uma grande expansão das expressões da Questão Social, as
quais são, segundo Iamamoto (2004, p. 115), “o desemprego e a ampliação da precarização das relações
de trabalho”, apesar de não serem as únicas.

Diante dessa agudização da Questão Social, novos modos de enfrentamento também são colocados
pelo Estado, sendo este, até o presente momento, o grande interventor nesse fenômeno. “Tais processos
introduzem novas mediações históricas na gênese e expressões da Questão Social, assim como nas
formas, até então vigentes, de seu enfrentamento, seja por parte da sociedade civil organizada ou do
Estado [...]” (IAMAMOTO, 2004, p. 112-3). A autora aponta que as intervenções empreendidas pelo Estado
tendem a retrair-se, ao passo que a sociedade civil acaba se organizando e atendendo uma parcela da
população que não possui assistência estatal.

51
Unidade I

Observação

Agudização faz referência a um agravamento das expressões da Questão


Social que acontece na sociedade capitalista na idade do monopólio.

Nesse sentido, o Estado acaba retraindo suas ações na área social. Ganham grande embalo
os ideais neoliberais, conforme também já sumariamos no início deste livro-texto. Isso resulta
na adoção de um modelo gerencial, em decorrência da chamada crise fiscal do Estado. Segundo
essa orientação, busca-se reduzir os custos com os gastos sociais, o que é apresentado como
uma “melhora” do papel assumido pelo Estado e como uma alternativa à “crise fiscal” até então
vivenciada (IAMAMOTO, 2004).

O que Iamamoto (2004) nos apresenta diante dessas alterações é que as expressões da Questão
Social tornam-se cada vez mais latentes e afetam grande parte da população. Essas expressões tornam-
se mais agudas, considerando que há ausência da ação estatal. Entretanto, nessas condições, como
efetivar o projeto ético-político do Serviço Social?

Antes de respondermos a essa pergunta, cabe um recorte sobre como a autora em questão compreende
o projeto ético-político dos assistentes sociais. Esse projeto está previsto na lei que regulamenta a
profissão, no Código de Ética do Assistente Social e em uma série de documentos normativos que
orientam as ações.

No que concerne ao Código de Ética, nele são trazidas a democracia como valor ético-político e
a igualdade e a justiça social como valores éticos centrais que devem ser seguidos pelos assistentes
sociais. Tais valores, segundo Iamamoto (2009), precisam ser colocados em prática durante o
exercício profissional cotidiano, mesmo em tempos de reestruturação produtiva, de acumulação
flexível e de globalização excludente. A autora chama a atenção para a importância que assume
a democracia nesse processo, mas destaca que todos esses princípios estão inter-relacionados
e imbricados, assim como todos os princípios fundamentais tratados no referido documento.
Vejamos os princípios fundamentais:

I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas


políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais;

II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do


autoritarismo;

III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial


de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e
políticos das classes trabalhadoras;

52
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida;

V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas
e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito,


incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças;

VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais


democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso
com o constante aprimoramento intelectual;

VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de


construção de uma nova ordem societária, sem dominação/exploração
de classe, etnia e gênero;

IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais


que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos(as)
trabalhadores(as);

X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população


e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência
profissional;

XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado(a), nem discriminar,


por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, opção sexual, idade e condição física (CFESS, 1993, p.
23-4).

A ênfase na análise da autora recai sobre o princípio da democracia, demonstrando que todos
os demais princípios estão relacionados a ele e poderão ser alcançados a partir a efetivação
deste.

Assim, a autora destaca que, para que possamos alcançar a democracia, é necessário que
o assistente social adote uma prática que possibilite a ampliação dos espaços de efetivação
da cidadania. Além disso, tais espaços devem servir para consolidar, fazer valer os direitos já
constituídos e ainda para conquistar novos direitos. Isso só se efetivará se houver possibilidade de
democratização dos espaços públicos.

Iamamoto (2004) coloca que é urgente e necessária a constituição de espaços que possibilitem
a ampliação da esfera pública, dos espaços públicos. Assevera que espaços como conselhos e outros
53
Unidade I

semelhantes devem tornar-se, de fato, públicos. Para isso, entretanto, é preciso que seja constituída uma
cultura pública e democrática, ou seja, uma cultura junto à população que ressalte a relevância desses
espaços.

Partindo da consolidação desses espaços, a nosso ver, será possível trazer a pessoa atendida pelos
serviços sociais para o debate público, para a deliberação pública, tornando possível a efetivação dos
direitos sociais.

Trata-se, porém, do primeiro ato apresentado pela autora. Por meio dessas “ações”, torna-
se possível ainda “[...] reconhecer a autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos
sociais, reforçando princípios e práticas democráticas” (IAMAMOTO, 2004, p. 141). Segundo ela,
seria possível, derivando dessas ações, realizar a defesa intransigente dos direitos humanos, a
recusa ao arbítrio e ao autoritarismo, bem como a busca da eliminação de todas as formas de
preconceito.

É ainda por meio da democratização que é possível obter, segundo Iamamoto (2004), a divisão
da riqueza socialmente produzida, alcançando assim a justiça social, apresentada como principio
fundamental. Entretanto, as colocações da autora sinalizam que nossa profissão deve estar
orientada para a defesa de todos os direitos sociais, conforme podemos compreender por meio da
análise da legislação destacada, disponível nos sites do CRESS em todos os estados do território
nacional.

Iamamoto (2004) introduz uma discussão provocativa ao referendar a importância de o projeto


ético-político ser alcançado. Isso porque a autora aponta que, para podermos “fazer valer” o nosso
Código de Ética, é preciso adequá-lo aos novos tempos, às atuais situações conjunturais que se colocam
à nossa frente.

Para isso, Iamamoto (2004) faz uma série de orientações, dentre as quais a de decifrar os
determinantes e as múltiplas formas de expressão que assume a Questão Social. Para isso, é
fundamental compreender a realidade de forma integral, evitando-se assim qualquer “reducionismo
econômico, político ou ideológico”, ou seja, precisamos compreender os fenômenos sociais
amplamente, considerando, para tanto, as questões econômicas, políticas, sociais e ideológicas
com as quais nos relacionamos.

A autora chega a exemplificar com dados coletados em uma série de locais, espaços, para que estes
possam desnudar a realidade em que se estabelece a intervenção. Sem essas informações, que são
fundamentais, torna-se impossível conhecer a realidade e as expressões da Questão Social, tampouco
é possível efetivar o compromisso ético-político assumido pela categoria profissional e os valores a ele
inerentes.

Observe a tabela que segue. Trata-se de uma representação de dados obtidos pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A tabela foi construída para demonstrar o rendimento
médio dos brasileiros em cada região. Com base nessa análise, podemos constatar que a maioria
da população que possui renda de até dois salários-mínimos reside na região Nordeste e ainda
54
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

concluir, com base nesses mesmos dados, que a maioria da população brasileira com baixa renda
reside nessa região. Vejamos:

Tabela 1 – Famílias por classes de rendimento médio mensal familiar (1999)

Mais de Mais de Mais de Mais de


Brasil e grandes regiões Até 2 Sem** rendimento
2a5 5 a 10 10 a 20 20

Brasil (1) 27,6 32,2 18,6 9,9 5,9 3,5

Norte (2) 29,2 34,9 17 8,6 4,3 5,4

Nordeste 47,5 29,7 9,2 4,4 2,7 4,2

Sudeste 17,7 32,2 23,5 13 7,8 3,1

Sul 22,2 34,5 21,7 11,3 6,4 2,6

Centro-Oeste 26,7 35 17,9 9,2 6,5 3,4

* Em classes de salário-mínimo. Valor do salário-mínimo em setembro de 1999: R$ 136,00.

** Exclusive os sem declaração de renda.

Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999 [CD-ROM]. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Disso podemos concluir ainda que as famílias com renda acima de vinte salários-mínimos, ou seja,
com maior poder aquisitivo, residem na região Sudeste, como elencado anteriormente.

Os dados obtidos também nos permitem compreender as expressões da Questão Social. Por meio
dos dados expostos na tabela em questão, conseguimos ter uma ideia das informações sobre a renda
das pessoas, sobre a região em que estão concentradas as famílias de menor poder aquisitivo e assim
sucessivamente; mediante tais informações, podemos deliberar sobre as ações que nos dispomos a
realizar.

Em nosso caso, se atuarmos junto a um município, ou então a uma região, direcionaremos nossa
atenção para os dados obtidos nesse espaço de atuação, obviamente; porém, conhecer a realidade de
nosso país é imprescindível em nossa prática profissional.

Outro exemplo que desejamos destacar poderá ser expresso se analisarmos a representação a
seguir:

55
Unidade I

Figura 2 – Proporção de famílias pobres atendidas pelo Programa Bolsa Família por município – 2008.

Esse mapa foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Nele observamos
a localização, em todo o território nacional, das famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família.
Observamos assim que há um grande percentual de famílias atendidas pelo programa que está
localizado na região do Pará. Em contrapartida, vemos que há muitos estados com percentual “baixo”
de atendimentos, como algumas regiões do Mato Grosso.

A análise dos dados não pressupõe apenas “olhar” indicadores expostos. Mais que isso, demanda
essencialmente um profissional culto e atento, capaz de apreender as informações obtidas. Precisa
ser um profissional “informado, crítico e propositivo”, além de ser “versado no instrumental técnico-
operativo”.

Vamos explicar um pouco melhor esse perfil.

Para Iamamoto (2004), o profissional precisa manter-se informado e atualizado. Essa


informação precisa ser analisada de forma crítica, e não vista como algo natural. Ele precisa
ainda compreender com total clareza o instrumental técnico-operativo, que, como vimos, não
comporta apenas a dimensão técnica, ou seja, não significa que precisamos conhecer apenas o
“arsenal de técnicas”, mas sim dominar também os aspectos teórico-metodológicos que devem
orientar nossa ação.
56
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

O profissional propositivo, por seu lado, é descrito pela autora como aquele que é comprometido
com a atualização permanente e, além disso, deve ser envolvido com a pesquisa, ou, como coloca
Iamamoto (2004), profissional pesquisador. A nosso ver, esse profissional propositivo não é algo
hipotético, mas sim uma necessidade, afinal, a atualização constante é uma demanda para qualquer
profissão, inclusive a nossa. É fundamental estar ambientado com a pesquisa, pois, se não for
“acostumado” a isso, o assistente social não conseguirá fazer as leituras da realidade, e não será
possível compreender a Questão Social e suas múltiplas formas de expressão.

Observação

Profissional propositivo é aquele comprometido com a atualização


permanente e com a pesquisa.

Iamamoto (2004) diz que a pesquisa está inteiramente relacionada à nossa capacidade de decifrar
a realidade, de nos apropriarmos dessa realidade sobre a qual iremos intervir. Por meio dessa pesquisa,
será possível aos profissionais a construção de respostas criativas, de alternativas diferenciadas para a
efetivação dos direitos sociais da população com a qual atuamos. Comenta que, por meio dessa postura,
será possível alcançar os princípios apresentados pelo compromisso ético-político de nossa profissão,
bem como ampliar as bases que legitimam a necessidade dos assistentes sociais nos mais diversos
espaços sócio-ocupacionais. Assim, o profissional alcançará o reconhecimento da população com a qual
atua e também das instituições a que está vinculado.

Concluindo suas argumentações, a autora coloca que é fundamental a qualidade da formação,


sobretudo se pensarmos na graduação. Aponta ainda que precisamos desenvolver uma série de
habilidades, além das já obtidas no curso de graduação: domínio da linguagem culta, dos instrumentos
informatizados, além de outras necessidades que são apresentadas à nossa profissão em decorrência das
mudanças processadas no âmbito da organização do trabalho.

Entretanto, prezado aluno, diante de uma série de considerações aqui tratadas, cabe uma síntese.
Nos termos em questão, o que Iamamoto (2004) quer nos dizer é que as mudanças econômicas, políticas
e sociais que observamos no Brasil, partindo da década de 1970, têm colaborado para uma ampliação
das expressões da Questão Social. Para que possamos intervir nessas expressões, é fundamental que
conheçamos a Questão Social, que sejamos engajados na pesquisa e na atualização permanente. Isso
nos levará, consequentemente, a alcançar o projeto ético-político que é assumido por toda a nossa
categoria profissional e que sempre denotará a defesa dos segmentos menos favorecidos de nossa
sociedade.

Na sequência, discutiremos algumas informações sobre o mercado de trabalho do assistente


social. Apesar de a obra de referência ter sido escrita há certo tempo, suas colocações ainda se
mostram atualizadas e totalmente relacionadas às condições laborais dos assistentes sociais na
contemporaneidade.

57
Unidade I

Saiba mais

Como vimos, reflexões sobre a Questão Social em suas múltiplas formas


de expressão são fundamentais ao assistente social. No texto sugerido a
seguir, parte dessas expressões é discutida; recorra a ele para ampliar seus
conhecimentos sobre a temática de estudo: Desigualdade e pobreza no
Brasil, de Ricardo Paes de Barros, Ricardo Henriques e Rosane Mendonça.
Acesse: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n42/1741.pdf>.

Sugerimos ainda que assista ao documentário Ilha das flores, produzido


no Brasil, em 1989, com direção de Jorge Furtado.

4.3 O redimensionamento da profissão: o mercado e as condições de trabalho

Para discutir o redimensionamento da profissão, Iamamoto (2004) recorre a uma pesquisa que
fora realizada no período pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e, por meio de análise, consegue
apreender o perfil do profissional daquele período, além de tecer uma série de recomendações que
deveriam ser seguidas pelos profissionais que desejassem desenvolver uma prática coerente com a
realidade de nossa profissão.

Lembrete

Para essa compreensão, é necessário retomar o que significa a Questão


Social, ou seja, múltiplas expressões da sociedade capitalista madura e
consolidada.

Com relação às recomendações, Iamamoto (2004) volta a chamar a atenção para a necessidade
imperiosa de conhecimento da realidade. Nesses termos, destaca que precisamos atentar para a questão
regional e para o poder local. Isso significa conhecer toda a realidade econômica, social e política de
dada região na qual atuaremos. Já a questão do poder local incorpora a noção de conhecimento das
instâncias de participação e poder que são constituídas e que tendem a fortalecer a democratização nas
esferas locais.

A autora aponta que devemos ter sempre em mente que nossa profissão está sujeita a todas as
situações laborais que afetam as outras profissões. Por isso, também precisamos considerar que todas as
situações, boas e más, que afetam as demais atividades profissionais condicionarão a nossa.

Já com relação ao mercado de trabalho, a autora constatou, partindo da pesquisa da PUC citada
anteriormente, que grande parte dos profissionais atuava no setor público. Neste, quando da realização
da pesquisa, encontramos boa parte deles nas áreas da saúde e da assistência social, sendo, no período,
hegemônica a atuação junto à saúde.
58
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Entretanto, ainda são apontadas outras possibilidades de atuação: junto aos conselhos de direitos,
na gestão de políticas públicas e ainda junto às empresas privadas.

Na atuação junto aos conselhos, é comum que o assistente social desempenhe uma prática mais
voltada à assessoria a esses organismos, visto que se trata de espaços de debate, de partilha, mas
compostos por voluntários, o que, em tese, dificultaria o desenvolvimento, por parte dos membros, das
atividades rotineiras ou burocráticas.

Já a atuação junto à gestão das políticas públicas é apontada por Iamamoto (2004) como uma
tendência em nossa profissão. Corresponde à gestão, à organização dos serviços de natureza pública.
Essa intervenção pode ser compreendida como a desempenhada nos serviços de secretaria e de “gestão”
propriamente ditos, bem como de outras atividades que têm a natureza de disciplinar os serviços públicos.

A atuação em empresas privadas, segundo a autora, precisa ser compreendida como a prática
desenvolvida em organizações de natureza privada ou não governamental. As empresas privadas têm
organizado fundações e outras instituições do gênero, que não possuem finalidade lucrativa, mas atuam
nas expressões da Questão Social. Por sua vez, as organizações não governamentais são instituições
criadas pela sociedade civil para atuar junto às expressões da Questão Social, mas também não podem
visar ao lucro.

Iamamoto (2004) assevera que essas instituições privadas só se constituem porque o Estado se
retrai no que concerne a atender às demandas da Questão Social, ou seja, a sociedade se organiza para
atender às demandas sociais não contempladas pela ação estatal. No entanto, esse processo, que a
autora chama de “refilantropização”, ou nova forma de filantropia, é por ela compreendido como outro
espaço de atuação profissional, um espaço do mercado de trabalho dos assistentes sociais.

Diante dessa questão, Iamamoto (2004) destaca que cresce a possibilidade de atuação nas empresas
privadas, por exemplo, destacando desde a atuação na própria empresa até o trabalho nas organizações
privadas geridas por particulares e relacionadas à empresa. Nesses termos, a autora aponta que a prática
do assistente social nas empresas privadas se altera: antigamente, estava mais voltada para eliminar
tensões, estimular um comportamento produtivo, reduzir o absenteísmo e proporcionar uma série de
benefícios, mas agora, diante de uma série de mudanças, espera-se que o profissional, além de atender
às demandas tradicionais, ainda realize atividades para proporcionar a valorização do trabalhador e,
assim, alcance sua colaboração para produzir, e com qualidade. Já a atuação em fundações começa a se
desenvolver e se ampliar, dada a constituição desses espaços.

Vejamos a seguir um exemplo de prática profissional desenvolvida em uma fundação por um


assistente social.

Casamento comunitário realizará sonho de 50 casais em São Gabriel

Cinquenta casais de São Gabriel do Oeste oficializarão sua união durante cerimônia do
Casamento Comunitário, que acontecerá neste sábado (24) no CTG Chama Crioula, às 17
horas. O evento será promovido pela Fundação Aury Luiz Bodanese e a Coopercentral Aurora
59
Unidade I

(Aurora Alimentos), em parceria com a Cooperativa de São Gabriel do Oeste (Cooasgo).

O evento reunirá aproximadamente oitocentas pessoas para os casamentos no civil e


religioso. Após a cerimônia haverá coquetel, brinde dos noivos e valsa. A celebração será
conduzida pelo pastor Almir Ademar Seifert.

Os noivos receberão de presente a festa com decoração, coquetel, bebida, brinde, valsa,
entre outros. Além disso, terão descontos em empresas parceiras para aquisição de vestido
de noiva, vestido social, cabelo, maquiagem e na compra das alianças.

Para a assistente social da Fundação, Sonara Bergamo Ramos, o casamento remete a


cumplicidade, carinho, amor, respeito, sinceridade em todos os momentos da vida. “Muitos
casais desejam a cerimônia civil e religiosa, moram juntos há muito tempo e não têm
condições financeiras para oficializar a união. Para valorizar o ser humano e contribuir com
o exercício da cidadania é realizado o casamento comunitário”, complementa Sonara.

Disponível em: <http://www.idest.com.br/noticia.asp?id=34735>. Acesso em: 28 mar. 2012.

Nessa prática, a assistente social atuava junto a uma fundação, a Fundação Aury Luiz Bodanese,
vinculada à empresa Associação Empresarial São Gabriel, porém sem o objetivo de lucro. Como
demonstra a matéria elencada, a intervenção é desenvolvida para efetivar direitos sociais, mas essa ação
só é empreendida porque não há esse tipo de intervenção partindo do ente estatal.

Ainda com relação a práticas dessa natureza, Iamamoto (2004) coloca que, no espaço das ações
da nova filantropia, também é comum a grande adesão de voluntários. Nesse caso, como grande parte
das ações é realizada por pessoas físicas que doam seu tempo em prol de uma causa social, é comum
identificarmos indivíduos que atuam voluntariamente nos serviços em questão. A autora salienta que
nós, como profissionais, também conviveremos com essa realidade, tanto atuando junto a voluntários
quanto perdendo espaços de trabalho para esse tipo de serviço.

Assim, a autora destaca que para a atuação em campos já constituídos, como a assistência social e a
saúde, assim como para a atuação junto aos conselhos, à gestão e ainda junto às instituições de natureza
privada, são fundamentais capacidade e competência técnica. É necessário um perfil de profissional
propositivo e que possa apropriar-se dos espaços sócio-ocupacionais disponíveis. Concluindo, ela aponta
que, se nós não o fizermos, se não nos mostrarmos com condições para essas ações, outras categorias
profissionais o farão e se apropriarão do espaço deixado em aberto.

Para que você possa ter uma noção um pouco mais ampla do mercado de trabalho na atualidade,
recomendamos que recorra aos sites do Conselho Regional de Serviço Social, de acordo com o Estado
em que reside. Nos sites dos conselhos é comum observamos pesquisas sobre o mercado de trabalho
atual, assim como informações para acompanhar oportunidades de concursos e empregos.

Figura como exemplo a pesquisa de Trindade, Silva e Bispo (2007), que realizaram uma análise do
mercado de trabalho dos assistentes sociais considerando o governo Lula e a realidade de São Luís (MA).
60
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Essa pesquisa constatou que no período em questão houve alta taxa de desemprego, mas também
grande investimento em políticas sociais.

Decorrente desse investimento, houve uma ampliação do mercado de trabalho: segundo a pesquisa,
observou-se grande concentração de profissionais junto à gestão do Sistema Único da Assistência
Social, ao Programa Pró-Jovem, à Previdência Social e ainda junto às intervenções desenvolvidas pela
Política de Saúde, sobretudo as desenvolvidas junto ao SAMU e às UTIs, espaços em que não era comum
a intervenção do assistente social.

Trindade, Silva e Bispo (2007), ainda partindo da análise do mercado de trabalho dos assistentes
sociais, destacam que, em São Luís, houve grande alocação desses profissionais para atuação no
Programa Bolsa Família. Para as autoras, isso demonstra que o maior programa de transferência de
renda do governo Lula permaneceu sem a orientação e a prática dos assistentes sociais, sendo esse
espaço cooptado por outros profissionais.

Em relação ao espaço privado, conforme a pesquisa, observou-se grande quantidade de profissionais


atuando no terceiro setor, constituindo-se este num espaço de absorção de grande parte da mão de
obra dos assistentes sociais no Estado do Maranhão.

Esperamos que você tenha aprofundado seus conhecimentos sobre os assuntos aqui discutidos e
que essas informações possam colaborar de maneira positiva durante todo o seu processo formativo.

Resumo

Nesta Unidade, estudamos como o modo de produção capitalista


baseia-se na relação entre capital e trabalho. Os meios de produção
estão nas mãos de uma minoria – proprietários –, que constitui
uma classe distinta da sociedade. As pessoas que não têm os meios
de produção só detêm a sua força de trabalho e, para garantir a
sobrevivência, precisam vendê-la aos empregadores. A relação entre
capital e trabalho gera inúmeras demandas sociais, que podem ser
entendidas como as necessidades dos trabalhadores não atendidas por
meio da remuneração de seu trabalho.

Vimos que, no período da Revolução Industrial, ocorreu uma maior


precarização da relação entre capital e trabalho devido à ocorrência de
profundas mudanças na sociedade, nas áreas social, cultural, política,
científica e, sobretudo, econômica. Trabalhamos a organização da
assistência social e o estudo de Mary Richmond. Conhecemos a atuação
das damas de caridade, fortes aliadas dos movimentos filantrópicos da
igreja, que eram voluntárias e utilizavam sua sensibilidade para chegar
até os mais pobres por meio de doações. Vimos que nesse trabalho
não havia organização ou sistematização da assistência social.
61
Unidade I

As justificativas utilizadas eram de cunho ideológico ou religioso.


Estudamos que Mary Richmond apontou, por meio de seu estudo,
que praticar a “assistência social” como filantropia ou caridade era
diferente de desenvolver o Serviço Social; aprendemos que seu estudo
recebeu os nomes de “compreensão do meio social” e “ação sobre a
personalidade da pessoa e sobre o seu meio social”. Mary Richmond
defendia que problemas sociais estavam diretamente associados aos
problemas de caráter.

Vimos, também, a influência neoliberal nos aspectos de mudanças


sociais, principalmente no mundo do trabalho, que é a gênese da
nova Questão Social e que se manifesta sob a forma de desemprego e
precarização das relações de trabalho. Foi apresentado um panorama
das principais demandas e dos desafios sociais do mundo global. No
que se refere ao Brasil, procuramos dar enfoque à saúde, à habitação,
à violência, ao desemprego e à educação como as maiores demandas
que nos desafiam e nos instigam a dar respostas efetivas no cotidiano.
Além disso, aprendemos a identificar a Questão Social como objeto do
Serviço Social. Esta e suas configurações são o nosso objeto, e não as
políticas sociais. Aprendemos também como identificar a construção e
a desconstrução do objeto profissional a partir das múltiplas expressões
cotidianas e das formas de enfrentamento acionadas.

Apontamos, ainda, os aspectos que constituem o processo de trabalho


do assistente social, considerando que nossa profissão também vivencia
uma relação de trabalho, apesar de ser considerada liberal. Vimos ser
necessário compreender que também vivenciamos esse tipo de relação e,
assim, também participamos de um processo de trabalho.

Estudamos ainda as incidências que as mudanças econômicas e


políticas vivenciadas na contemporaneidade vêm tendo junto às expressões
da Questão Social. Parafraseando essa contextualização, discutimos as
dificuldades de efetivar nosso compromisso ético-político, assumido por
toda a categoria profissional. Tal compromisso nos remete ainda a pensar
as atuais condições apresentadas ao mercado de trabalho do assistente
social, aspecto que também estudamos e sobre o qual realizamos reflexões
nesta primeira Unidade.

Esperamos que tenha sido possível a você apropriar-se desses conceitos,


para que possamos dar sequência aos conteúdos propostos nas próximas
unidades.

62
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Exercícios

Questão 1. Observe a imagem a seguir:

Figura 3

Essa imagem pode ser compreendida como um protótipo do profissional conhecido como polivalente.
Esse perfil profissional foi gestado a partir da década de 1970, em todo o mundo e também no Brasil,
e é representativo das profundas mudanças vivenciadas no processo de produção. Essas mudanças,
no entanto, não foram restritas ao âmbito da produção e trouxeram impactos também à forma de
organização do Estado e à organização social como um todo. Acerca desses processos vivenciados a
partir da década de 1970, julgue as assertivas a seguir:

I – A partir da década de 1970, observamos a ascensão de um novo ideal de compreensão dos


fenômenos sociais, denominado keynesianismo.

II – As mudanças processadas no âmbito do papel do Estado, após a década de 1970, recomendavam


o fim dos gastos desse ente com as políticas sociais.

III – Foram gestadas novas exigências ao trabalhador, sendo requisitadas novas habilidades, além das
já possuídas.

IV – As mudanças processadas no âmbito do trabalho também trouxeram resultados às expressões


da Questão Social, e essas “expressões” tornaram-se mais latentes.

V – Observamos que houve introdução de novas tecnologias no processo produtivo, dinamizando-o,


mas também podendo resultar em desemprego de grande parte da população.

63
Unidade I

Após a análise das assertivas, podemos concluir que:

A) As afirmativas II, III, IV e V estão corretas.

B) As afirmativas II e III estão corretas.

C) As afirmativas I, III e IV estão corretas.

D) Apenas a afirmativa I está correta.

E) As afirmativas III e V estão corretas.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas:

I) Afirmativa incorreta.

Justificativa: a partir da década de 1970 emergiu a compreensão neoliberal, que influencia o


entendimento de todos os fenômenos que regem a vida em sociedade e orientam uma posição a ser
adotada pelo Estado na regulação de questões econômicas e sociais. A emersão do neoliberalismo
substituiu outro ideal de regulação da vida social e econômica, o keynesianismo, compreensão esta que
teria surgido depois da Segunda Guerra Mundial. A assertiva está incorreta porque define a década de
1970 como o período de surgimento do keynesianismo, mas nesse período observamos, na verdade, o
fim de tal concepção.

II) Afirmativa correta.

Justificativa: com a emersão dos ideais neoliberais, passaram a ser destacadas propostas em relação
ao papel do Estado. Dentre tais propostas, observamos a recomendação de que os gastos com políticas
sociais fossem reduzidos, argumentando-se que o investimento demasiado na área social poderia resultar
em uma diminuição da atitude individual para superar deficiências, além de comprometer grande parte
do orçamento do ente federado. Segundo essa concepção, o Estado não deveria intervir em questões de
natureza social e, portanto, deveria diminuir os gastos em políticas sociais.

III) Afirmativa correta.

Justificativa: a partir da década de 1970, foram processadas mudanças no âmbito da produção e do


trabalho, processo denominado de acumulação flexível. Dentre as inúmeras mudanças no âmbito do
trabalho a partir de então, podemos citar que este se tornou flexível e foram impostas novas exigências
ao profissional, com destaque para a necessidade da polivalência e ainda do desenvolvimento de novas
habilidades além das que já possuía, sendo usuais a habilidade em tecnologias de base microeletrônica
e o domínio de várias línguas.

64
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

IV) Afirmativa correta.

Justificativa: as mudanças no âmbito da produção trouxeram, como indicamos, flexibilização das


relações de trabalho. Nesse sentido, observamos que houve grande perda de postos de trabalho estáveis
e aumento do número de postos de trabalho flexíveis. Quando o trabalho se torna flexível, observamos
a perda dos direitos trabalhistas comuns ao trabalho estável. Essa situação tornou-se ainda mais
complexa com a introdução de novas tecnologias no processo produtivo, o que garantia a rapidez desse
processo, mas causava a extinção de muitos postos de trabalho. Com essas mudanças, observamos assim
o crescimento do desemprego e do trabalho instável e de baixa remuneração. Isso trouxe condicionantes
à Questão Social, sendo o desemprego e o subemprego exemplos de suas expressões. De tal forma, a
partir da década de 1970, as expressões da Questão Social tornaram-se mais agudas, abrangeram um
grande número de pessoas e passaram a estar totalmente relacionadas à forma de produção adotada
desde então.

V) Afirmativa correta.

Justificativa: a partir da década de 1970 foi intensificada a introdução de novas tecnologias no


processo produtivo, sobretudo aquelas pautadas pela Informática e pela Robótica. Isso aconteceu com
o objetivo de fazer a produção acontecer de forma cada vez mais rápida, com maior qualidade; dessa
forma, seria alcançado o lucro ou a mais-valia, sendo esse lucro sempre algo a ser buscado. No entanto,
a introdução de novas tecnologias tende a resultar em uma economia do trabalho vivo, ou seja, há
muito desemprego, pois a inovação tecnológica proporciona a economia de muitos postos de trabalho,
ou, como descrito, resulta em “desemprego de grande parte da população”.

Questão 2. Analise a matéria que segue:

ONU apela para que países se esforcem para reduzir a pobreza extrema

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, elogiou as


parcerias públicas e privadas desenvolvidas no mundo na tentativa de reduzir a pobreza
extrema. A união de esforços, ressaltou ele, tem demonstrado sua eficiência. Ban Ki-moon
lembrou ainda que o fim da pobreza proporciona também mais oportunidades de educação,
trabalho e o controle de doenças.

No entanto, ele destacou que é preciso avançar e a meta é reduzir ainda mais os números
até 2015.

“Quando trabalhamos juntos, podemos conseguir grandes coisas”, disse o secretário-


geral, lembrando que, pelo texto do projeto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM), os líderes se comprometeram a reduzir a pobreza extrema até 2015. Segundo ele, um
dos melhores exemplos de parceiros é o Banco Mundial.

Nas reuniões com líderes estrangeiros, a presidenta Dilma Rousseff costuma destacar a
necessidade de associar o desenvolvimento econômico ao social. Segundo ela, é impossível
65
Unidade I

avançar economicamente sem executar programas sociais eficientes. Os programas sociais,


implementados pelo governo do Brasil, são tomados como exemplos em vários países da
América Latina e África.

Nos próximos meses, deverá chegar ao Brasil a primeira-dama do Peru, Nadine Heredia,
para conhecer de forma mais detalhada os programas de transferência de renda executados
pelo governo brasileiro. Depois de ser eleito presidente peruano no ano passado, Ollanta
Humala veio a Brasília e disse que sua prioridade era adotar no Peru os programas sociais
brasileiros.

No começo desta semana, um relatório conjunto do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que o mundo atingiu
a meta dos ODM de reduzir para metade o número de pessoas sem acesso à água potável.

Também há números positivos sobre o combate à tuberculose. De acordo com dados


recentes, há 40% menos mortes do que ocorria em 1990. As mortes causadas pela malária
também foram reduzidas. Ban Ki-moon lembrou ainda que há mais equilíbrio entre os dados
que apontam a escolarização primária entre meninos e meninas.

Porém, o secretário-geral ressaltou que os desafios permanecem, pois há disparidades


acentuadas de desenvolvimento social entre as regiões e países. Ki-moon lembrou que
apenas 61% das pessoas na África Subsaariana têm acesso a fontes melhoradas de água,
enquanto na maioria das outras regiões o acesso chega a 90%. Segundo ele, no mundo,
ainda há 2,5 bilhões de pessoas sem saneamento básico.

Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-03-09/onu-apela-para-que-paises-se-esforcem-


para-reduzir-pobreza-extrema>. Acesso em: 18 mar. 2012.

A matéria aborda a questão da pobreza, indicando recomendações da ONU em relação a possíveis


formas para seu enfrentamento. A pobreza, como é possível concluir e como observamos em nossos
estudos, é uma das múltiplas expressões da Questão Social. Acerca de tal fenômeno, julgue os itens a
seguir e os valores a eles correspondentes.

I – A pobreza é uma das expressões da Questão Social e, como sugere a matéria, sua superação
depende da intervenção da ONU, que tende a regulamentar o processo de enfrentamento de tal
fenômeno (15).
II – A Questão Social possui múltiplas formas de expressão, dentre elas a pobreza, e esta é manifestada
no cotidiano dos seres humanos (10).
III – Para o enfrentamento da Questão Social, basta que cada país desenvolva seus esforços, pois esse
fenômeno é gerado apenas em países pontuais (17).
IV – A Questão Social incorpora também as possibilidades de resistência e luta da classe trabalhadora
(12).
66
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

V – A partir das mudanças geradas pelo processo produtivo, os antigos problemas sociais são
potencializados (7).

Se realizarmos uma soma dos valores correspondentes às assertivas corretas, obteremos o valor
equivalente a:

A) 32.

B) 7.

C) 22.

D) 29.

E) 17.

Resolução desta questão na plataforma.

67
Unidade II

Unidade II
5 AS DEMANDAS E AS RESPOSTAS DA CATEGORIA PROFISSIONAL AOS
PROJETOS SOCIETÁRIOS

Para dar continuidade aos conteúdos tratados até agora, sobre a nossa prática e as perspectivas
de intervenção profissional, realizaremos reflexões sobre as demandas profissionais apresentadas aos
assistentes sociais no âmbito das relações firmadas entre o Estado e a sociedade civil. Esses conteúdos
serão tratados no subtópico 5.1.

Também refletiremos sobre as condições de trabalho e as respostas profissionais que são conferidas
pelos assistentes sociais às questões laborais. Esse conteúdo será apresentado no subtópico 5.2.

Vale observar que serão feitas algumas considerações com recorrência a Iamamoto (2004) e a outros
teóricos contemporâneos que têm discutido o assunto no âmbito da profissão.

Contudo, antes de iniciarmos essas colocações, cabe apenas uma pergunta: o que podemos entender
como projetos societários?

Aqui cabe a resposta: são projetos de determinada classe social. Assim, recorrendo mais uma vez à
teoria marxista, constatamos que na atualidade identificamos duas classes sociais: a classe burguesa e a
classe operária, tal como elencamos na Unidade I, logo no início de nossas considerações.

Cada classe social possui um projeto societário (de sociedade) que se espera construir. Assim, o
que a autora pretende colocar é que nós, como assistentes sociais, estaremos sempre na mediação
dessas relações entre as classes sociais. Ela ainda destaca o fato de que, em nosso fazer profissional,
estaremos em contato com os diferentes projetos societários que são defendidos por cada uma
delas.

Diante dessa constatação, Iamamoto (2004) dá seguimento a suas considerações, destacando as


demandas profissionais dos assistentes sociais. Na sequência, daremos continuidade aos conteúdos
tratados. Mantenha-se atento aos debates aqui introduzidos, pois são fundamentais ao seu processo
formativo.

Lembrete

Projetos societários: projetos de cada classe social.

68
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

5.1 As demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a


sociedade

Vamos então entender melhor os conceitos das demandas profissionais.

Quanto a essa questão, Iamamoto (2000) assevera que, para compreendê-la, precisamos entender
três premissas básicas: desvelar a prática profissional, considerar o primado da produção social e levar
em conta o privilégio da História.

A autora segue argumentando que, para desvelar a prática profissional, é necessário que a analisemos
com recorrência às relações sociais estabelecidas na sociedade capitalista madura e consolidada. Assim,
Iamamoto (2004) chama a nossa atenção para essa questão e nos remete essencialmente a compreender
a relação existente entre as classes sociais.

Quando a autora começa a refletir sobre esse conceito, pontua que a mediação que nós, assistentes
sociais, realizamos não é algo “tranquilo”, e sim um processo complexo em que a desigualdade existente
entre as classes torna-se facilmente perceptível. Além disso, torna-se um fator de difícil administração,
tanto que ela denomina esse processo de “jogo tenso das relações entre as classes sociais”.

Essa compreensão é tão importante para Iamamoto (2004) que a autora chega até a apontar que, se
o profissional não realizar essa leitura das relações sociais e da prática profissional atrelada a elas, estará
fadado a não entender a prática do assistente social em sua totalidade.

No tocante a essas relações, Iamamoto (2004) destaca que, além de compreender as classes sociais, é
fundamental entender o papel do Estado, que figura, do ponto de vista da autora, como um representante
da classe burguesa, mas que é um ator fundamental na compreensão de nossa prática profissional, das
demandas de nossa profissão, assim como sumariaremos.

Assim, desvendar a prática profissional cotidiana supõe inseri-la no quadro


das relações sociais fundamentais da sociedade, ou seja, entendê-la no jogo
tenso das relações entre as classes sociais, suas frações e das relações destas
com o Estado brasileiro (IAMAMOTO, 2004, p. 150-1).

Isso posto, precisamos considerar que essas relações entre as classes e destas com o aparato estatal
oferecerá influências às demandas apresentadas ao Serviço Social, mas, como dissemos, não é a única
premissa a ser considerada para uma compreensão dessas demandas e das respostas da categoria
profissional.

Dando seguimento ao assunto, passamos ao estudo do primado da produção social. Quanto a esse
assunto, Iamamoto (2004) coloca que precisamos compreender a relevância que possui o trabalho nessa
sociedade. Na verdade, é a única forma de ter acesso à satisfação das necessidades. Quando o trabalho
se torna precário, informal ou, sobretudo, quando assistimos à grande perda dos postos de trabalho,
precisamos saber que essas mudanças irão provocar alterações nas expressões da Questão Social, que,
conforme pudemos observar, é o nosso objeto de trabalho, a matéria-prima de nossa intervenção.
69
Unidade II

Observação

Quando não nos apropriamos dessas informações sobre a situação em


que se encontra o trabalho na realidade em que atuamos, não conseguimos
entender a Questão Social em sua totalidade e, dessa forma, não temos
condições de entender nossa demanda em sua amplitude.

Assim, cabe considerar “o papel fundamental da produção da vida real, da produção dos indivíduos
sociais, que têm, no trabalho, a atividade fundante” (IAMAMOTO, 2004, p. 151), levando em conta que
o trabalho não determina “apenas” as condições de sobrevivência de uma determinada classe social,
mas funda também sua subjetividade, seu psiquismo, construindo assim os sujeitos sociais com os quais
iremos atuar.

Por fim, conforme exposto pela autora, ainda precisamos entender a importância do caráter
histórico, também outro condicionante das demandas apresentadas aos assistentes sociais. Para a
autora é extremamente importante, como a própria expressão sugere, a “compreensão da história”, e tal
história está relacionada ao desenvolvimento da história da sociedade brasileira e dos contornos que as
mudanças de natureza econômica, política e social conferem às expressões da Questão Social.

Também é importante considerar a história por nela estar contida a explicação para o surgimento e a
constituição dos problemas sociais de origem estrutural, e ainda pelo fato de esta portar as possibilidades
para a superação das deficiências vivenciadas em nosso país. Dessa maneira, na opinião da autora, é
necessário atentar para: “[...] o privilégio da história, por ser ela a fonte de nossos problemas e a chave de
nossas soluções. Destarte, para efetuar uma análise crítica das demandas profissionais, há que atribuir
densidade histórica à nossa problemática” (IAMAMOTO, 2006, p. 151).

Assim, podemos sistematizar os conhecimentos até então tratados da seguinte forma: para
compreender as demandas que são a nós apresentadas, precisamos entender as relações sociais
estabelecidas nessa sociedade capitalista, em que se afigura relevante compreender as classes sociais e o
Estado, o que também demanda, essencialmente, entender a importância do trabalho e da história nesse
processo. Tais aspectos, tratados por Iamamoto (2004) como “premissas”, precisam ser apreendidos por
nós como imprescindíveis para a compreensão de novas demandas, novas expressões da Questão Social
com as quais precisaremos atuar.

Buscando ainda identificar as pistas que nos são deixadas pela autora para que conheçamos com
profundidade a nossa demanda, é preciso que estejamos atentos aos “temas ocultos” em nosso fazer
profissional. A nosso ver, estes são tratados por Iamamoto (2004) como posturas assumidas por nossa
profissão e que dificultam entender nossa demanda em sua totalidade. Partindo de tal análise, a autora
tanto critica determinadas posturas profissionais como oferece pontos de reflexão para que possamos
repensar a prática profissional de uma forma diferenciada, bem como respaldá-la por ações que
permitam a apreensão de nossa demanda, de tal forma que possibilitem também colocar em prática os
princípios de nosso compromisso ético-político.
70
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Iamamoto (2004) destaca que, “para que possamos compreender as relações sociais, precisamos
‘olhar’ também para a sociedade civil”. Nesse caso, a autora coloca que os estudos, as análises e as
reflexões dos assistentes sociais têm se orientado mais para uma compreensão do papel do Estado
e menos para o entendimento da função da sociedade civil. Assim, segundo essa concepção, pela
característica assumida pela profissão no que concerne a realizar análises das políticas sociais, é usual
que o olhar seja voltado para a máquina estatal.

No entanto, esse privilégio do Estado, em análises de nossa categoria, é algo que precisa ser
mudado; não suprimido, mas alterado. Não precisamos abandonar essa forma de analisar e introduzir as
compreensões sobre a sociedade civil em nossos estudos. Precisamos “olhar” para a sociedade civil, para
que possamos melhor entendê-la. “No entanto, penso ser imprescindível que olhemos para a sociedade,
para o movimento das classes sociais, que têm sido relegados a uma posição de relativa secundariedade
no debate do Serviço Social” (IAMAMOTO, 2004, p. 152).

Ela ainda comenta que, nesse processo de olhar para a sociedade, é também importante compreender
os processos de trabalho, as mudanças no mercado nacional e as consequências de tais alterações junto
à força de trabalho brasileira. Como já salientado, essas configurações da força de trabalho, do mercado
nacional e dos processos de trabalho constituídos na realidade brasileira oferecem condicionantes às
nossas demandas.

Como vimos, essas alterações no âmbito da produção e do trabalho colaboram, muitas vezes, para
a precarização da vida da classe operária, e essa precarização se expressa de diversas formas, podendo
ser necessária a intervenção dos assistentes sociais. Por isso, esse tema não pode mais estar oculto em
nossa profissão e precisa ser por nós apropriado e debatido amplamente.

Assim, por exemplo, como explicar o processo crescente de pauperização das


classes subalternizadas, se não passarmos por uma análise das alterações que
vêm ocorrendo nos processos de trabalho e das particularidades do mercado de
trabalho urbano e rural, nos quais se inserem (ou deles se veem excluídos) os
segmentos populacionais junto aos quais atuamos? (IAMAMOTO, 2004, p. 152).

Isso pressupõe que o profissional realize uma análise baseada em informações com recorrência a
aspectos econômicos e políticos, visto que os fenômenos relacionados à organização da produção e do
trabalho também precisam ser considerados como resultados da organização política vigente no país.
Como nos diz a autora: “Na análise das demandas profissionais parece-me indispensável, pois, resguardar
uma profunda aliança entre a economia e a política” (IAMAMOTO, 2004, p. 152). Mais uma vez, a nosso ver,
é importante que o profissional possua uma formação condizente com esse perfil, pois se esta não oferecer
os subsídios necessários, poderá comprometer a realização de uma análise desse porte.

Lembrete

É necessária a compreensão da realidade, tal como já vimos no decurso


deste material.
71
Unidade II

Por fim, Iamamoto (2004) destaca que, para compreender de fato nossa demanda profissional,
precisamos conhecer melhor a realidade rural. Segundo a concepção da autora, atualmente
vivenciamos uma predominância de estudos, pesquisas e intervenções junto às populações
residentes na zona urbana, ao passo que a zona rural acaba ficando depreciada nesse processo.

Ao discutir a questão da zona rural, ela elenca que o Estado brasileiro tem desenvolvido uma
série de ações nesse “espaço”, mas estas, via de regra, buscam privilegiar o grande produtor
rural. A autora chama nossa atenção para o fato de que o Estado brasileiro, desde a década
de 1970, tem empreendido uma série de projetos para o desenvolvimento agropecuário, e tais
projetos traduzem-se em investimentos, fornecimento de empréstimos e outras iniciativas para
desenvolver a produção.

No entanto, com a inovação tecnológica sendo apropriada por esses produtores, também no
âmbito rural, observamos grande expulsão dos trabalhadores da zona rural para o espaço urbano,
onde ficam subempregados ou mesmo desempregados. Já os que permanecem no espaço rural
nem sempre possuem boas condições de vida. A nosso ver, o que Iamamoto (2004) almeja é que
nossa categoria profissional passe a olhar para esse segmento, que está excluído do acesso aos
serviços públicos e que não vem recebendo, em nossa atuação, a devida assistência.

A apreensão dessa realidade, ou seja, dos aspectos da sociedade civil sobre as configurações
assumidas pela produção e pelo trabalho, das peculiaridades dos moradores da zona rural, não
é, a nosso ver, uma tarefa fácil, mas algo que precisa ser introduzido no cotidiano de nossas
ações profissionais e deve figurar como referência ao considerarmos as “perspectivas de trabalho
profissional”.

Para isso, Iamamoto (2004) indica a necessidade de dados e informações que devem ser
sistematizados por nós. Segundo ela, informações sobre trabalho, renda, organizações políticas e
todas mais que possamos coletar servirão para nos mostrar a “ponta do iceberg”, ou seja, servirão
de referência inicial para compreendermos a fundo nossa demanda de trabalho, bem como os
aspectos da Questão Social sobre os quais iremos atuar. Isso nos remeterá a pensar ainda em
novas demandas que serão geradas, partindo das situações constatadas, ou seja, a partir dos dados
colhidos, poderemos identificar demandas com as quais a profissão já atua ou então aquelas que
ainda não são de total conhecimento do Serviço Social, mas que serão apropriadas por nossa
categoria profissional.

Por fim, retomando a importância da história, a autora observa que precisamos considerar que
vivenciamos no passado e ainda hoje, na realidade brasileira, o que ela chama de “modernidade tupiniquim”.

Esse processo, segundo a autora, poderá ser entendido se estudarmos a História de nosso país, na qual
observamos a convivência de formas arcaicas e modernas de trabalho fundando o sistema capitalista
desde suas protoformas iniciais. Destaca que essa realidade ainda é observada contemporaneamente,
visto que temos a combinação de trabalhos formais, regulamentados e não regulamentados, nas áreas
industrial e agrícola, embalando a produção econômica de nosso país.

72
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Isso resulta, como sabemos, em um desenvolvimento do sistema capitalista totalmente diferenciado


dos sistemas da Europa e dos Estados Unidos, por exemplo. O desenvolvimento capitalista brasileiro não
apresenta o elevado padrão de outros países, e isso resulta em alterações na organização econômica,
social e política da sociedade brasileira. Exerce também influências sobre a demanda dos assistentes
sociais com a qual iremos atuar.

Nesse processo de “modernização tupiniquim”, a autora ainda destaca a necessidade de


compreender o papel do Estado brasileiro no que concerne a proporcionar o desenvolvimento
econômico do país. Na verdade, um Estado que se propõe mínimo é apenas mínimo para o social,
mas máximo para implementar ações visando ao desenvolvimento do grande capital. O capital,
no Brasil: “[...] vem contando com o decisivo apoio do Estado via subsídios fiscais, creditícios, e
outras formas protecionistas estimuladas com a expansão monopolista, sob a égide do capital
financeiro” (IAMAMOTO, 2004, p. 154).

Trata-se de uma modernização capitalista que traz no seu bojo a história de um país colonizado sob
a ótica da exploração, em que o sistema capitalista trouxe índices precários de desenvolvimento em
relação aos dos demais países. Tal sistema contou – e conta ainda hoje – com o Estado como o principal
agente executor de medidas para a efetivação das pretensões capitalistas. Entender a realidade brasileira
pressupõe, essencialmente, conhecer esses e outros processos de nossa realidade e, a partir disso, rever,
revisitar a nossa demanda profissional. Demanda que, não é difícil supor, vive e sobrevive com condições
precárias e é representada pela:

[...] barbárie na reprodução das condições da vida da população


trabalhadora, com a qual nos defrontamos cotidianamente em nosso
exercício profissional. É a radicalização da miséria, a impossibilidade de
obtenção dos meios de vida por parte dos trabalhadores inteiramente
despossuídos das condições necessárias para satisfazer suas necessidades
vitais, à medida que se verifica, inclusive, um incremento expressivo do
setor informal de trabalho e do desemprego (IAMAMOTO, 2004, p. 154).

É a precarização da vida, da sobrevivência ampliando substancialmente nossa demanda


profissional.

Assim, prezado aluno, essa não é uma tarefa inata. Não nascemos sabendo como olhar para
todos esses fatores sociais, mas tal habilidade é passível de aprendizagem. Todos nós precisamos
exercitar essa leitura de realidade, incorporando tal prática em nosso cotidiano. Partindo disso,
poderemos entender nossa demanda, o projeto societário apresentado por ela e, sobretudo, como
mediar esses direitos.

Na sequência, concluiremos nossos estudos nesta Unidade para que possamos discutir as condições
de trabalho e de exercício profissional, bem como as respostas da categoria às demandas.

73
Unidade II

Saiba mais

Para um aprofundamento de estudos sobre as demandas do Serviço


Social, propomos recorrer a este texto, em que há um enfoque na prática
empresarial: Demandas do Serviço Social na área empresarial, de Ana
Carolina S. B. de Abreo e Cláudia Renata Fávaro, disponível em: <http://
www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v4n1_demandas.htm>.

6 CONDIÇÕES DE TRABALHO E RESPOSTAS PROFISSIONAIS

Chegamos ao fim dos conteúdos desta Unidade. Para concluir nossos estudos, discutiremos agora
as condições de trabalho dos assistentes sociais e as respostas profissionais que a categoria confere às
demandas apresentadas. Para isso, recorreremos aos conceitos já tratados, ou seja, de que precisamos
compreender a realidade de modo integral para que possamos conhecer, de fato, aquela na qual estamos
atuando.

Saiba mais

Recorra ao texto apresentado no 10º. Congresso Brasileiro de Assistentes


Sociais (Rio de Janeiro, 2001), que discute a importância das transformações
societárias para a nossa prática profissional: Os impactos das transformações
societárias para o Serviço Social: um breve balanço da relação de mercado
de trabalho, condições de trabalho dos assistentes sociais e projeto ético-
político profissional, de Larissa Dahmer Pereira. Disponível em: <http://
www.ts.ucr.ac.cr/eventos/br-cbass-con-10-po.htm>.

Para essa questão, Iamamoto (2004) relembra os processos já estudados nesta Unidade e na
anterior, especificamente destacando que observamos um fenômeno de relevância caracterizado pela
alteração dos processos de produção e pelo papel assumido pelo Estado na contemporaneidade.

Nesse caso, observamos que a precarização das relações trabalhistas tem acarretado más relações
laborais para grande parte da população brasileira e tem resultado em um crescente desemprego de
parcela significativa da população. Diante disso, observamos a ampliação significativa das expressões da
Questão Social, que será, como vimos no objeto de trabalho, nossa demanda profissional.

Em contrapartida, o Estado, principal responsável por atuar para minimizar essas expressões da
Questão Social, vem se retraindo desde a década de 1990, ou seja, vem restringindo suas intervenções
nas expressões da Questão Social.

74
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Diante dessas mudanças, segundo Iamamoto (2004), notamos alterações na atuação dos assistentes
sociais. A primeira observação da autora é que quando são reduzidas as intervenções em política
social, junto às expressões da Questão Social, espera-se que o mercado de trabalho dos assistentes
sociais também diminua. Como a grande quantidade de postos de trabalho está vinculada às ações
empreendidas pelo Estado, quando este reduz suas intervenções, consequentemente o mercado de
trabalho também tende a reduzir-se.

No entanto, esse não é o único condicionante do trabalho do assistente social, diante de todas
essas mudanças evidenciadas. A autora apresenta uma série de fatores que passam a ser observados na
prática profissional. Vamos a eles.

Ela coloca que, diante da redução de gastos na área das políticas sociais, os assistentes sociais que
estão atuando nesses espaços precisam ampliar a seletividade dos atendimentos, sendo nessas ocasiões
os responsáveis pelas triagens para avaliar a condição daqueles que poderão ser beneficiados ou não
pelos serviços sob sua responsabilidade.

A autora chega a comentar em seu livro o caso de um profissional que atuava na prefeitura de
uma grande cidade e que, para critério de concessão de cesta básica, observava se o requerente estava
desempregado. Nesse caso, com a retração dos recursos e a ampliação da demanda pelo benefício,
o assistente social passou a selecionar os mais pobres entre os desempregados, ou, como Iamamoto
(2004) coloca, os mais “pauperizados”.

Ela nos diz que dessa forma se torna cada vez mais difícil darmos respostas à nossa demanda de
acordo com o compromisso ético-político que fora assumido por toda a categoria profissional. Isso
pode resultar em uma prática essencialmente burocratizada e ainda em um “vazio profissional”. No caso,
o assistente social permanece longos períodos preso à burocracia da instituição, em decorrência das
triagens que precisa realizar. O fato de estabelecer uma prática de tal forma resulta no chamado “vazio
profissional”, ou seja, aquela sensação de não ter conseguido atingir as finalidades profissionais a que
se propôs.

Assim, observamos uma grande dificuldade de conferir respostas profissionais à nossa demanda,
de cumprir os princípios assumidos por nossa categoria profissional, e uma dificuldade ainda maior de
conviver com essa realidade. “Este quadro tem sido fonte de angústias e questionamentos sobre o nosso
papel profissional, diante da dificuldade de criar, recriar e implementar respostas de trabalho, podendo
estimular a burocratização e o vazio profissional” (IAMAMOTO, 2004, p. 161).

No entanto, assim, estaríamos fadados ao fracasso profissional?

Não. Iamamoto (2004) nos apresenta algumas alternativas para a superação dessa realidade que
tanto asfixia os profissionais. Uma delas seria superar a perspectiva fatalista de que tudo está perdido
e nada mais pode ser feito, bem como evitar posturas idealizadas e que percebem a profissão de uma
forma romântica, como se não vivenciássemos esses e outros problemas observados em nossa categoria
profissional.

75
Unidade II

Partindo disso, a autora coloca ainda que a mudança na relação do Estado com a Questão Social
não é um objetivo apenas do Serviço Social, apenas de nossa categoria. Ela recomenda que realizemos
uniões a outros segmentos, categorias que partilhem dos princípios ético-políticos defendidos por nossa
categoria profissional como um todo.

Assim, a construção de respostas às demandas que nos têm sido apresentadas passa pela compreensão
da realidade como um condicionante, e não como um impeditivo de nossas ações. Pressupõe ainda o
estabelecimento de outras parcerias com categorias, segmentos e usuários que partilham dos mesmos
princípios que são defendidos pelos assistentes sociais.

Esperamos que você tenha conseguido ampliar seus conhecimentos sobre os assuntos tratados, mas
queremos – mais do que isso, esperamos – a reflexão crítica sobre a importância que essa profissão
assume na contemporaneidade e sobre como uma prática competente é sinônimo de posicionamento,
de atitude.

No final desta Unidade, você encontrará os exercícios para avaliar a aprendizagem até agora
proporcionada.

Despedimo-nos, no entanto, com um trecho para sua reflexão:

O momento que vivemos é um momento pleno de desafios. Mais do que


nunca é preciso ter coragem, é preciso ter esperanças para enfrentar o
presente. É preciso resistir e sonhar. É necessário alimentar os sonhos e
concretizá-los dia a dia nos horizontes de novos tempos mais humanos,
mais justos, mais solidários (IAMAMOTO, 2004, p. 17).

Bons estudos!

Resumo

Nesta unidade, demos prosseguimento aos estudos empreendidos,


orientando a análise para você compreender as demandas de nossa
categoria, bem como as respostas conferidas por nossa profissão a elas.

Nos termos propostos, estudamos as premissas necessárias para


compreendermos, de fato, nossas demandas, dentre as quais observamos
a importância da produção social, da história e das relações sociais nesse
processo. Segundo nosso estudo, essas seriam as premissas que deveriam
ser consideradas para realizar uma análise tanto da demanda como das
formas de enfrentamento por nós identificadas.

Também estudamos a importância dos “temas que estão ocultos” em


nossa profissão, sendo destacados como tais: a ausência de reflexão sobre
76
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

a sociedade civil; a escassez de análises sobre a realidade da zona rural; a


ausência de análises que privilegiem aspectos da economia e da política,
dentre outros. Observamos, derivando dessas colocações, que esses são
temas que precisam ser mais apropriados por nossa profissão.

A partir dessas colocações, conseguimos ainda discutir a importância


do projeto ético-político de nossa profissão para dar respostas a nossas
demandas de maneira competente e de forma que efetive os direitos sociais
da população usuária.

Discutimos ainda as mudanças que são processadas em nosso espaço de


trabalho, visto que observamos uma ampliação das expressões da Questão
Social e um retraimento do Estado no trato conferido a elas. Verificamos que,
com isso, há uma ampliação dos espaços de trabalho na iniciativa privada
e uma mudança na prática do assistente social nos serviços mantidos pela
esfera estatal. Nesses termos, os assistentes precisam, constantemente,
rever sua prática profissional, de modo que deem respostas positivas para
sua população.

Pudemos concluir que Iamamoto (2004) nos apresenta a realidade de


nossa atuação profissional, indicando todos os aspectos nocivos do nosso
cotidiano. Porém, também observamos que a autora indica todas as pistas
e orientações que são necessárias para a superação das deficiências com as
quais iremos conviver.

Exercícios

Questão 1 (FADESP – 2011). Os debates em torno das demandas contemporâneas apresentadas


ao assistente social nos colocam a reflexão de que, sob a perspectiva crítica, há o rompimento com
atividades burocráticas que reduzem sua intervenção a mero emprego. Hoje, a exigência impõe ao
profissional ser propositivo, e não só executivo. Isso quer dizer que o assistente social:

A) Deve ser um profissional que proponha ações eficientes e eficazes diante das situações que
impõem riscos sociais aos usuários.

B) É um profissional que tem como base o conhecimento técnico-operativo, a fim de intervir de


forma inteligente na realidade dos indivíduos.

C) Deve desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade, a fim de construir propostas criativas de
efetivação de direitos sociais a partir de demandas do cotidiano.

D) Assegura, por meio de seu contato com a população, propostas individuais que sirvam de base para
as transformações societárias e sirvam de motivação para o rompimento de práticas tradicionais.
77
Unidade II

E) Como não possui condições dignas de desenvolver sua ação institucional para a efetivação de seu
trabalho, torna-se um profissional criativo e inovador.

Reposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas:

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: ao discutir sobre o perfil do profissional propositivo diante das situações precárias
de vida que afetam grande parte de nossa população, bem como sobre as condições de trabalho dos
assistentes sociais, Iamamoto (2004) não faz menção à importância de ações eficientes e eficazes. Nesse
texto, apesar de não ser feita referência direta a essa autora, é possível perceber que tal concepção foi
extraída do texto de sua autoria e, por isso, podemos dizer que o profissional propositivo não é aquele
que foca sua intervenção nos aspectos da eficiência e da eficácia.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: apesar de Iamamoto (2004) destacar a importância de um profissional versado no


instrumental técnico-operativo, não apresenta esse conhecimento técnico como uma alternativa à
burocratização do trabalho.

C) Alternativa correta.

Justificativa: de acordo com Iamamoto (2004), o profissional propositivo é aquele que, por
meio de sua leitura e compreensão da realidade, consegue construir respostas ou propostas
criativas, de modo que possa efetivar os direitos sociais de uma determinada população, ou,
conforme ela sempre coloca, os direitos da população mais pauperizada de nossa sociedade e com
a qual atuamos.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o profissional propositivo busca construir propostas que atendam uma coletividade, e
não a questões individuais.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: Iamamoto (2004) aponta que muitos profissionais, diante das condições apresentadas,
não conseguem desenvolver ações criativas, tampouco conferir respostas à população atendida; para
ela, muitos profissionais vivenciam cotidianamente o vazio profissional e o burocratismo. De tal forma,
nem todos os que vivenciam situações ruins de trabalho conseguem alterar sua postura profissional.
A assertiva também está incorreta porque, ao discorrer sobre as atitudes do profissional propositivo,
Iamamoto (2000) elenca outros aspectos, conforme sinalizamos.

78
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Questão 2 (UFRB Assistente Social – 2011). Sobre os conteúdos até então tratados, julgue os
itens a seguir, atribuindo a eles os valores Verdadeiro ou Falso.

I – Segundo Iamamoto, os assistentes sociais atuam, nos vários espaços de trabalho, no planejamento
e na execução de políticas públicas, nas áreas de educação, saúde, previdência, assistência social,
habitação, meio ambiente, entre outras, movidos pela perspectiva de defesa e ampliação dos direitos da
população, sem a necessidade de considerar o Projeto Ético-Político do Serviço Social ( ).

II – A produção e a reprodução das relações sociais não constituem preocupações para os profissionais
de Serviço Social, no que se refere à construção de relações mais igualitárias ( ).

III – A profissão tem olhado menos para a sociedade e mais para o Estado, levando a crer na hipótese
de que as reflexões sobre o fazer profissional têm priorizado a análise da intervenção do Estado, via
políticas sociais públicas, enquanto o olhar para a sociedade, para o movimento das classes sociais, tem
sido relegado a uma posição relativamente secundária no debate do Serviço Social ( ).

IV – No processo de reestruturação produtiva e com o Estado mínimo, a Questão Social toma novos
contornos, e o Estado lança mão da filantropização, do compartilhamento com a sociedade civil por
meio de parcerias mantidas com as organizações não governamentais ( ).

V – A competência profissional deve proporcionar que o assistente social, em sua atuação, apresente
soluções para as demandas profissionais que lhe são apresentadas ( ).

A sequência correta com relação aos valores atribuídos está expressa em:

A) V, V, V, V, V.

B) V, F, V, V, V.

C) F, F, V, F, V.

D) F, F, V, V, V.

E) F, F, V, V, F.

Resolução desta questão na plataforma.

79
Unidade III

Unidade III
7 A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

Prezado aluno, chegamos à última parte de nossos estudos, em que faremos nossas reflexões finais.
Nesta Unidade, discutiremos o conceito de instrumentalidade.

Esse conceito será discutido porque pretendemos refletir sobre aspectos ligados à operacionalização
do fazer profissional do assistente social, pensando em suas atividades desenvolvidas cotidianamente.
Isso porque já realizamos as discussões sobre as mudanças ocorridas no trabalho e já refletimos como
tais mudanças afetam o mercado de trabalho do profissional e sua prática diária. A propósito, realizamos
uma série de apontamentos com relação à prática, ao perfil que é esperado do assistente social, sempre
com o objetivo de buscar uma atuação que enfoque a competência, a defesa das atribuições privativas
e, sobretudo, a efetivação dos direitos sociais dos segmentos mais empobrecidos de nossa sociedade.

No entanto, nesta Unidade direcionaremos nossa atenção para a questão instrumental presente
em nossa profissão e para a necessidade imediata de pensarmos as perspectivas profissionais e
o Serviço Social. Para tal, dividiremos didaticamente o texto em dois tópicos: o tópico 7 tratará da
prática do assistente social (conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional), bem como
das competências do Serviço Social na contemporaneidade (política, ética investigativa e intervenção).
Já o tópico 8 discorrerá sobre as dimensões ético-política, técnico-operativa e teórico-metodológica no
Serviço Social, além de abordar os rumos ético-políticos do trabalho profissional.

Vamos então iniciar nossos estudos tratando da prática do assistente social: conhecimento,
instrumentalidade e intervenção profissional.

Observação

Instrumentalidade: capacidade, propriedade de algo.

7.1 A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e


intervenção profissional

Para que possamos melhor compreender nosso exercício profissional, precisamos conhecer melhor
nosso instrumental. Como vimos, para Iamamoto (2004), o profissional competente é aquele que, além
de uma série de habilidades, possui conhecimento e domínio do instrumental técnico. Para que possamos
ser versados nesse instrumental, é necessário conhecê-lo e entendê-lo de uma forma diferenciada.
Começaremos pelas informações que possuímos sobre a história de nossos instrumentais, dos “objetos”
que permitem e viabilizam nossa intervenção profissional.
80
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Cabe destacar, antes de tais considerações, que o conceito de instrumentalidade ainda é novo no
Serviço Social. Anteriormente, na década de 1990, os profissionais graduados (como uma das autoras
deste livro-texto) não conheciam esse conceito. O que era ensinado era como atuar, o que se denomina
de instrumentais e técnicas. Hoje ainda recorremos a estes, porém com uma visão diferenciada.
Contudo, para entender como a nossa profissão chegou a esse conceito, estudaremos os instrumentais
e as técnicas que foram sendo usados pelos profissionais durante o desenvolvimento histórico-social da
área no Brasil.

Iniciemos nossos estudos.

Saiba mais

Sobre os fundamentos de nossa prática profissional, recomendamos a


leitura do texto: Os fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade:
conhecimento e crítica, de Guerra et al., apresentado no 10º Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais (Rio de Janeiro, 2001). Disponível em:
<http://www.ts.ucr.ac.cr/eventos/br-cbass-con-10-po-08.htm>.

7.1.1 A pré-história dos instrumentais no Serviço Social e as práticas desenvolvidas pelos


primeiros profissionais

Lembrete

Precisamos retomar a história de nossa profissão para compreender


aspectos da instrumentalidade.

Entender os instrumentais do Serviço Social remete à compreensão da pré-história de nossa profissão,


ou seja, das primeiras intervenções voltadas para o atendimento das expressões da pobreza no Brasil.

Assim, para retomar a história e conhecer as origens de nossa profissão, precisamos entender a
história brasileira da década de 1920. Nesse período, o Brasil vivenciava economicamente a expansão
do sistema capitalista, mas também possuía uma economia voltada para as atividades de natureza
agropecuária. Vivenciávamos o período em que os proprietários de grandes porções de terra detinham
o poder político, época descrita por alguns historiadores como do governo “oligárquico”, em que as
oligarquias econômicas detinham o poder (IAMAMOTO; CARVALHO, 2005).

Nesse período, segundo Iamamoto e Carvalho (2005), a população da República era composta por
muitos segmentos empobrecidos; formava esses segmentos um grande número de desempregados,
escravos libertos e até trabalhadores. Sim, prezado aluno, também trabalhadores. Ocorre que nesse
período estes possuíam péssimas condições de vida e de trabalho, chegando a trabalhar, em média, 14
horas por dia, e essas condições laborais afetavam inclusive mulheres e crianças.
81
Unidade III

Dessa forma, na República Velha, nos idos da década de 1920, as condições de grande parte
da população brasileira eram muito ruins. Isso significa dificuldade de alimentação, de moradia, de
sobrevivência digna. Segundo apontam Iamamoto e Carvalho (2005), para essas pessoas, que não
conseguiam garantir meios suficientes à sobrevivência ou que tinham dificuldade para tal, havia a
caridade da Igreja Católica.

Essa caridade empreendida pela Igreja contava com o serviço do laicato, ou do segmento leigo da
referida instituição. Este era composto por moças vinculadas à Igreja, pertencentes a famílias burguesas
e que exerciam a caridade para atender aos segmentos empobrecidos que se ampliavam na realidade
brasileira. Essas moças prestavam ajuda material e também buscavam transmitir os valores da Igreja
Católica a essas pessoas em suas intervenções. Ficaram popularmente conhecidas como “agentes sociais”.

Outra grande referência ao trabalho desenvolvido no período era a contenção das expressões
vinculadas ao Movimento Operário que se organizava no país – as quais representavam grande ameaça
à igreja e também ao poder político estabelecido até então.

A Igreja Católica desenvolvia essas intervenções porque pretendia recuperar os privilégios perdidos e
conter o avanço da religião evangélica. Por isso, recorria à caridade como uma alternativa para recuperar
os fiéis perdidos e o prestígio entre os segmentos da realidade brasileira (IAMAMOTO; CARVALHO, 2005).

No entanto, essas iniciativas mostravam-se ineficazes para conter a pobreza do país que, aliás,
crescia a passos largos. Isso instigava ainda mais as pressões e manifestações populares. Diante dessa
situação, a Igreja começou a repensar sua atuação e considerou que a ampliação da pobreza, mesmo
com as intervenções realizadas, acontecia porque as agentes sociais não possuíam formação específica
na área de atuação.

Para sanar essas demandas, foram constituídas as semanas sociais, que eram organizadas para a
formação dessas moças (agentes) e eram ofertadas pela Igreja Católica. Em 1932, segundo Iamamoto e
Carvalho (2005), foi constituído o Centro de Estudos e Ação Social, ou Ceas, sendo esse o “equipamento”
criado pela Igreja Católica para oferecer essa formação suplementar.

No entanto, a constituição do Ceas serviu apenas para a Igreja Católica, mais uma vez, repensar sua
prática de formação. Em decorrência dessas reflexões, considerou-se que era necessária uma formação
por meio de um curso de graduação. Assim, em 1936 foi criada a primeira escola de Serviço Social,
localizada em São Paulo. Na sequência, foi constituída a escola do Rio de Janeiro, em 1937.

Partindo dessa profissionalização inicial, é possível entendermos as informações sobre instrumentais


e técnicas usados em nossa área.

Se considerarmos o surgimento da profissão, veremos que o Serviço Social não possuía instrumentais
e técnicas próprios, e sim elaborações obtidas por adoção, ou seja, eram tomados de outras intervenções
e correntes de pensamento os instrumentais e as técnicas com os quais realizou parte de seu trabalho.
Essa adoção se deu de duas maneiras: recorrência aos métodos já utilizados pela caridade, por meio dos
quais as visitadoras sociais vinculadas às igrejas realizavam visitas, entrevistas, ajuda material direta e
82
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

indireta e aconselhamento; e adoção de técnicas das disciplinas atreladas às Ciências Sociais, tais como
a Sociologia, a Medicina e o Direito, das quais, por sua vez, foram transplantadas as técnicas de pesquisa,
bem como a prestação de informações e mesmo os métodos de vacinação e puericultura (PIRES, 2007).

No que diz respeito ao instrumental do Serviço Social, partindo da constituição das primeiras escolas
no Brasil e na América Latina como um todo, Pires (2007) coloca que se percebeu nítida influência dos
métodos de intervenção transplantados da Europa e dos Estados Unidos, e a recorrência aos métodos
norte-americanos teria se evidenciado somente a partir da década de 1940.

Nas protoformas de nossa profissão, observamos a influência até então hegemônica das escolas
europeias, sobretudo a recorrência a experiências das escolas franco-belgas. Foi dessas escolas que
surgiu a abordagem individual, que se consolidou até a década de 1950 como a principal metodologia
aplicada pelo Serviço Social.

Essa abordagem consistia em realizar um atendimento individual, caso a caso. Nesse atendimento,
os assistentes sociais podiam recorrer a entrevistas, visitas e outras abordagens, porém com o objetivo
de descobrir todas as informações possíveis sobre a vida e a personalidade da pessoa que atendiam. Essa
prática foi descrita por Iamamoto e Carvalho (2005) com a terminologia “inquéritos sociais”, tal era a
natureza da intervenção realizada.

As assistentes sociais desse período acreditavam que, se conseguissem descobrir todas as informações
de seus clientes, poderiam descobrir onde estava o problema e assim realizar o tratamento. Por essa ótica,
todos os problemas de cunho social eram compreendidos como de natureza “pessoal”, “individual”, e
jamais com raízes estruturais (IAMAMOTO; CARVALHO, 2005).

Iamamoto e Carvalho (2005) destacam que o grande enfoque era na família operária. As profissionais
acreditavam que as reivindicações dessas famílias e sua vinculação ao marxismo eram representações de
seus problemas individuais. Acreditavam também que os problemas sociais resultavam da desestrutura
familiar que acometia grande parte desses segmentos e chegavam a destacar que parte dos problemas
estaria ligada à figura da mulher, que agora não mais se preocupava com sua família, com o ambiente
doméstico. Porém, para apreender toda essa dinâmica, era necessária a abordagem caso a caso.

Essa abordagem individual também ficou conhecida como “Serviço Social de Caso”. Destacam-se
como grande expressão dessa modalidade de intervenção os trabalhos de Mary Richmond, em que a
abordagem individual era sistematicamente ensinada aos assistentes sociais. O Serviço Social de Caso
recorria à Psicologia enquanto orientação teórica e desenvolvia técnicas de apoio, de influência direta,
de catarse e de discussão reflexiva sobre a pessoa-situação, mas todas com influência também da
doutrina social cristã (PIRES, 2007).

Nos centros de formação, as primeiras assistentes sociais eram doutrinadas para desempenhar
a intervenção de caso, mas essas orientações, apesar de recorrerem à Psicologia, eram fortemente
influenciadas pela doutrina social da Igreja Católica, como sumariamos anteriormente. Note que a Igreja
Católica foi a grande responsável pela constituição das primeiras escolas, e tal influência na formação
dos assistentes sociais tornou-se algo inevitável, segundo o que nos diz Aguiar (1995).
83
Unidade III

A influência da igreja era sentida, portanto, quando os profissionais iam atuar, prática que, como
vimos, também era adotada pelos agentes sociais. Nesse sentido, a fundamentação de recorrência, ou,
melhor dizendo, a teoria que orientava a ação era a Filosofia tomista, ou de São Tomás de Aquino. Tal
compreensão auxiliava os assistentes sociais a realizarem uma prática focada no individuo e a encontrar
alternativas para diagnosticar os problemas trazidos por esse atendido e para realizar o tratamento das
anomalias apresentadas (AGUIAR, 1995).

Por essa ótica, o indivíduo com o qual atuavam era compreendido como possuidor de corpo e alma.
Aguiar (1995) destaca, assim, que os assistentes sociais eram orientados para atender às necessidades
materiais e também espirituais do ser humano, ou seja, precisavam entender que sua intervenção
provocaria alterações na espiritualidade do ser humano com o qual estavam trabalhando.

Esse período da nossa profissão foi marcado pela convivência pacífica entre as correntes teóricas e
a doutrina social cristã, disseminada no Brasil de forma hegemônica pela Igreja Católica. Um exemplo
dessa “convivência” se expressa na formação oferecida aos primeiros profissionais.

Assim, Aguiar (1995) aponta que os profissionais eram orientados a desenvolver uma prática
com base em um método composto por quatro princípios: científico, técnico, de formação prática
e de formação pessoal, ou seja, eram instruídos para considerar em sua prática os princípios
elencados. Nos termos do referido autor, esses princípios deveriam ser observados desde a
formação do assistente social. O princípio científico fazia referência à formação que precisava
ser buscada em áreas como a Sociologia, a Psicologia, a Biologia e a Moral. Já a técnica fazia
referência à abordagem individual, que devia ter como enfoque a contenção dos desajustamentos.
A formação prática era a aprendizagem proporcionada pelo estágio, e a formação pessoal
congregava a realização de círculos de estudos e abordagens individuais para moldar o caráter do
futuro profissional.

Aguiar (1995) diz, no entanto, que as próprias alunas também eram submetidas à aceitação dessa
doutrina. O autor destaca que os professores deveriam orientá-las quanto à doutrina social da Igreja
e tinham até autonomia para corrigir possíveis desvios de caráter. Lembrando mais uma vez que, de
acordo com Iamamoto e Carvalho (2005), as assistentes sociais deveriam ser moças preferencialmente
pertencentes a boas famílias burguesas da época e católicas. Isso era tão importante que, segundo os
autores, para realizarem as matrículas nos centros de formação, as interessadas deveriam apresentar,
dentre vários documentos pessoais, a carta de recomendação de uma família. Entretanto, caso houvesse
“desvios” no padrão de comportamento esperado, após o ingresso no centro de formação, Aguiar (1995)
afirma que deveriam ser corrigidos por meio de orientações individuais ou grupais, dependendo do caso,
mas sempre com foco na doutrina social da Igreja.

Santos (2004), analisando o currículo dos principais centros de formação desse período,
destaca que as matérias oferecidas eram organizadas de forma fragmentada, sempre orientando
uma percepção setorizada das questões sociais, indicando assim uma fuga da visão da totalidade.
Partilhando das posturas dos autores citados anteriormente, destaca que os currículos eram
perpassados pelos valores cristãos, como teoria a que recorriam para orientar os futuros
profissionais.
84
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Assim, as protoformas de nossa profissão caracterizaram-se por intervenções de caso, influência


de correntes, como a Psicologia e a Sociologia, e ainda recorrência aos princípios do tomismo. Nesse
cenário foi fundada a metodologia de intervenção do profissional daquele período e também a formação,
conforme observamos. Os instrumentais de entrevista e visita eram usados pelos profissionais, mas o
que chama a nossa atenção não é a utilização destes, mas sim a forma de compreender o homem e o
mundo que permaneceu hegemônica na profissão até meados da década de 1960.

O Serviço Social de Grupos, por sua vez, também recorreu à Psicologia enquanto matriz teórica,
incorporando ainda influências da Pedagogia e da Educação. As técnicas usadas pelo Serviço Social
oriundas desses ramos do saber, segundo Pires (2007), são as seguintes: psicodrama, técnicas de grupo,
técnicas de apoio, técnicas de motivação e incentivo, técnicas de condução do grupo, dinâmica de
grupo, dramatizações e debates. Aguiar (1995) nos coloca que o trabalho em grupo foi introduzido por
se considerar que os seres humanos possuíam dificuldades semelhantes e, por isso, seria possível realizar
um trabalho conjunto, de forma articulada entre os pares.

Algumas alterações foram processadas a partir da introdução do método de Desenvolvimento de


Comunidade, iniciando-se uma interlocução com a Sociologia. Quanto a procedimentos técnicos, Pires
(2007) destaca a utilização de métodos como observação e enquetes, atividades para o desenvolvimento
de liderança e técnicas de motivação, conscientização, participação e mobilização. Aguiar (1995) destaca
que a conscientização, a participação e a mobilização deveriam ser controladas pelo assistente social,
ou seja, vivenciamos um período em que o profissional deveria controlar a população e orientar a sua
prática, sendo a participação desta algo extremamente restrito.

O Desenvolvimento de Comunidade fora trazido para o Brasil na década de 1940, transplantado dos
Estados Unidos, partindo da constituição da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. Note-se
que a ONU foi inicialmente organizada para atender aos países acometidos pela guerra; com o tempo,
começou a realizar intervenções para promover o desenvolvimento de alguns deles, oferecendo ajuda
financeira e outros subsídios.

Devido a isso, o método de Desenvolvimento de Comunidade foi largamente utilizado pelos assistentes
sociais, pois, segundo Aguiar (1995), os profissionais passaram a ser requisitados para organizar os
processos de desenvolvimento no âmbito urbano e no rural, fato que causou um expressivo aumento do
número de profissionais da área.

Esse período pós-guerra foi marcado por orientações com relação à necessidade de adaptação dos
seres humanos, evitando assim o confronto e manifestações contrárias da população. A ameaça que
deveria ser contida pelos profissionais era o avanço dos ideais comunistas no interior do movimento
operário, que começava a ganhar força no Brasil (AGUIAR, 1995). Por isso, o currículo dessas unidades de
ensino estava totalmente orientado ao ensino de processo, com foco na adaptação dos seres humanos.
Para tal, os profissionais deveriam aprender com acuidade a desenvolver os métodos de Caso, Grupo
e Desenvolvimento de Comunidade, tendência observada na profissão até a década de 1950 (SANTOS,
2004). A partir dessa década, percebemos que a formação dos assistentes sociais não sofreu profundas
alterações, mas o currículo a ser ensinado pelos profissionais nas faculdades passou a enfatizar a
importância do planejamento social, do Desenvolvimento de Comunidade. Nesse período ainda eram
85
Unidade III

utilizados os métodos de Caso, Grupo e Comunidade, porém com ênfase no Desenvolvimento de


Comunidade, ou desenvolvimentismo, como nos diz Santos (2004).

Devemos ainda considerar o momento político em nosso país, que, conforme sabemos, já vivenciava
um processo de governos militares sucessivos e de busca constante da minimização da participação
popular. Sabemos também que, de certa forma, essa metodologia usada pelo Serviço Social (métodos de
Caso, Grupo e Comunidade) acabava por ser funcional no controle necessário do sistema capitalista da
época e também na organização política adotada no Brasil e em alguns países da América Latina. Apenas
com a constituição dos movimentos sociais de luta pela abertura política e de requisição de melhores
condições de vida tornou-se possível um redimensionamento da questão operacional do Serviço Social,
reordenamento pensado inicialmente a partir do Movimento de Reconceituação. Apesar de haver no
currículo das universidades uma grande tendência ao tecnocratismo, ao burocratismo da prática na
busca de procedimentos técnicos que dessem “respostas” às questões sociais que se agudizavam cada
vez mais, nesse período começaram as orientações para uma postura crítica por parte da profissão
(SANTOS, 2004).

Partindo do Movimento de Reconceituação da profissão, a questão instrumental assumiu um


determinado tratamento junto às produções teóricas. Pires (2007) identifica três momentos, os quais
passaremos a descrever.

O primeiro momento teve seu início na década de 1960. Nesse período, algumas produções teóricas
analisadas por Pires (2007) teceram considerações sobre a questão instrumental. Assim, as técnicas
eram consideradas como definidoras da profissão enquanto uma modalidade de intervenção social.
Eram ainda tidas como um meio que o assistente social deveria utilizar para atingir um fim específico e
previamente determinado. Por isso, Pires (2007) considera que a técnica, no estágio em questão, era de
suma importância ao fazer profissional.

Possivelmente em razão disso surgiram colocações sobre a necessidade de que o instrumental técnico
do Serviço Social fosse mais bem-estudado, mais bem-elaborado e assim fosse possível oferecer uma
orientação mais sistemática e una aos profissionais. Derivando em parte dessa necessária orientação
a ser conferida aos assistentes sociais, começaram a se esboçar algumas propostas pela unificação
dos métodos, mas que nesse momento ainda não se tornaram concretas, havendo o predomínio de
orientações para cada tipo de abordagem. Estas consistem ainda nos métodos tradicionais de Caso,
Grupo e Comunidade, que se consolidaram, embora houvesse a minimização das propostas de orientação
do Serviço Social de Caso (PIRES, 2007).

O segundo momento evidenciado por Pires (2007) teve início na década de 1970 e caracterizou-
se por uma severa crítica ao instrumental até então utilizado pelo Serviço Social. Para a autora, essa
crítica decorreu da aproximação entre o Serviço Social e a tradição marxista por meio da qual alguns
profissionais passaram a compreender o instrumental como uma forma de controlar a população e,
assim, servir aos ideais burgueses. A autora ainda nos diz que, apesar de realizar essa crítica, autores que
representam essa forma de compreensão do instrumental não apresentam propostas alternativas para a
intervenção profissional, e o assistente social acaba ficando sem possibilidades para a sua prática.

86
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

O terceiro momento, por sua vez, teria se iniciado, nos termos de Pires (2007), em meados da década
de 1980. A autora aponta que houve uma nova aproximação com a questão instrumental, agora
considerada relevante para a formação profissional, sem, para tanto, deixar de reforçar a importância de
combater o tecnicismo, compreendido como a prática pautada apenas pela execução de técnicas, sem
reflexão. Começaram também as propostas de utilização do método único de intervenção.

Nesse momento surgiu uma tendência profissional que hoje se constitui em uma necessidade
profissional, a saber: compreender a importância da técnica de forma estritamente relacionada
à teoria, propondo de tal forma a prática reflexiva desenvolvida cotidianamente. No entanto,
essa posição ainda não é hegemônica na categoria: há ainda o predomínio da tecnificação entre
muitos profissionais.

Essa tendência veio, no entanto, ancorada na primeira reforma curricular de monta processada
pelo Serviço Social, na qual tornou-se latente a compreensão da necessidade de crítica ao sistema
capitalista, proporcionando também uma maior aproximação da categoria com a teoria marxista, na
década de 1980, já no momento de abertura política e de democratização do país. Essa revisão curricular
foi retomada na década de 1990, quando a categoria repensou mais uma vez sua teoria e sua prática,
definindo que a profissão deve ser orientada pelo entendimento marxista da realidade, tendo como foco
a compreensão da Questão Social, de seus principais eixos fundantes e das formas de intervenção junto
a essas expressões (SANTOS, 2004).

Atualmente, enquanto método, não há mais essa distinção entre Caso, Grupo e Comunidade, e a
intervenção é desenvolvida com base no chamado método único. Além da importância da questão
instrumental, nota-se também a importância da teoria de orientação, dentre outros e diversos aspectos
que perpassam por essa questão do Serviço Social.

Na sequência, discorreremos sobre alguns aspectos acerca do instrumental do Serviço Social,


realizando uma reflexão sobre conceitos relevantes e que necessitam ser debatidos pela nossa profissão,
considerando a sociedade contemporânea.

7.1.2 Instrumentalidade e fazer profissional na contemporaneidade

Pudemos observar que, anteriormente, os instrumentos e as técnicas eram considerados como o


aspecto mais importante pelos assistentes sociais. Vimos ainda que, nos diversos estágios, a profissão
entendeu e defendeu os instrumentais de uma forma diferenciada. Agora estudaremos essa questão,
porém considerando a realidade atual de nossa área, ou seja, veremos como a questão instrumental é
compreendida e como essa compreensão orienta a ação profissional.

Antes de iniciarmos nossas colocações, é preciso pontuar que esse conceito de instrumentalidade
foi trazido à nossa profissão pela professora Iolanda Guerra, principal teórica na difusão desses
conhecimentos.

Guerra (2007) explica que o sufixo “idade” que compõe a palavra em questão refere-se a uma
capacidade, qualidade ou propriedade de algo. Assim, diz que a instrumentalidade refere-se a uma
87
Unidade III

determinada capacidade ou propriedade de nossa profissão, por meio da qual são realizados um aporte
aos conhecimentos teóricos e uma recorrência a estes no momento da intervenção prática.

É uma condição para o reconhecimento social da profissão, segundo Guerra (2007), que os profissionais
estejam habilitados para a instrumentalidade, e é uma possibilidade de que esse profissional dispõe para
objetivar sua intencionalidade de ação, portanto é exercida no cotidiano profissional. Apesar disso, a
noção de instrumentalidade demanda uma vinculação ao projeto ético-político de nossa profissão, não
pressupondo apenas uma vinculação teórica, mas também operativa, no que concerne a colocar em
prática os postulados desse compromisso.

A autora, antes de tecer qualquer colocação sobre a instrumentalidade em si, destaca que esse
conceito é entendido de forma restrita por alguns profissionais, apenas como a utilização de instrumentais
e técnicas.

Assim, segundo Guerra (2010), as técnicas e os instrumentos são de suma importância para os
assistentes sociais, desde que sejam aplicados com recorrência a uma base teórica. Sem esse referencial,
a profissão acaba por ser exercida de forma “utilitarista”, “tecnocrática” e “instrumental”, apenas como
um solucionador de problemas de forma imediata e pontual, sem que haja reflexão sobre estes, ocorrendo
assim uma aplicação indiscriminada de técnicas.

Guerra (2010) salienta ainda que muitas produções teóricas no Serviço Social acabam reforçando
essa postura essencialmente tecnocrática e instrumental, portanto colaborando com a manutenção
dessa prática. Além de adotar uma abordagem essencialmente tecnicista, os profissionais acabam
“desconsiderando” o significado social e político da profissão. Em outras palavras, a postura adotada por
determinados profissionais encontra apoio na produção teórica.

Essas correntes se preocupam, conforme a autora aponta, em oferecer modelos de reunião, de


entrevista e de outras técnicas prontas, algo como uma “receita” para ser colocada em prática. Esses
modelos, no entanto, não privilegiam a intervenção reflexiva e sustentam apenas a prática repetitiva e
acrítica dos profissionais.

Ora, há que se questionar a filiação teórico-metodológica, epistemológica


e ideológica das teorias de médio alcance das quais os assistentes sociais
tentam extrair modelos de intervenção profissional; os pressupostos
contidos na noção de modelo ou paradigma explicativo da sociedade
e, ainda, o substrato do pensamento que apreende a realidade sob uma
forma fixa, cristalizada, e se reproduz pela repetição e pelo costume,
podendo, por isso, reivindicar modelos de intervenção (GUERRA, 2010,
p. 150).

Essa tendência profissional se apoia na forma fragmentada que o Estado usa para enfrentar os
problemas sociais. Assim, segundo Guerra (2010), o próprio Estado, por meio das políticas sociais e
dos programas e projetos a elas atrelados, realiza uma intervenção segmentada nas questões sociais,
fortalecendo a concepção de que o enfrentamento setorizado e de acordo com intervenções específicas
88
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

será capaz de resolver todos os problemas sociais; como se cada um deles, para ser resolvido, precisasse
apenas de uma técnica, e não de uma reflexão teórica.

A autora também comenta que o Serviço Social encontra lugar no mercado de trabalho
contemporâneo pelo fato de que, ao passo que estabelece uma relação de compra e venda de sua
força de trabalho, está vendendo um conjunto de procedimentos e habilidades que são reconhecidos
histórica e socialmente como capazes de produzir determinados resultados. Iamamoto (2004) introduz
essa discussão no mesmo sentido que Guerra (2010), porém destaca que o Serviço Social só é contratado
porque pode também “produzir algo” por meio de sua intervenção. Ambas, partindo do entendimento
da profissão como processo de trabalho, defendem que o Serviço Social tem condições de resultar em
um produto, por meio de uma metodologia específica.

Em razão disso, há uma ênfase exagerada nas técnicas e nos instrumentais, como se a profissão
pudesse ser reduzida à aplicação de procedimentos sistematizados.

No entanto, para Guerra (2010), a metodologia, a instrumentalidade do Serviço Social pode


assumir dois caminhos: o conservadorismo ou a emancipação. O conservadorismo faz referência
à manutenção de práticas já desenvolvidas, sem que sobre elas seja realizada uma reflexão. Já a
emancipação consiste em buscar, por meio da práxis, a superação da ação pautada exclusivamente
pelo tecnicismo. Deriva disso a requisição de um profissional que seja “culturalmente versado e atento
ao tempo histórico”, conforme descreve Iamamoto (2004), mas que tenha também pleno domínio da
metodologia de sua intervenção.

Somente a partir da relação equilibrada entre a utilização dos instrumentos e a aplicação das
técnicas é que será possível ao assistente social desenvolver uma prática condizente com o projeto
ético-político de sua categoria e assim colaborar para fortalecer os segmentos menos favorecidos
de nossa sociedade. Isso seria a instrumentalidade, ou seja, a capacidade que o profissional adquire
durante a sua formação e que lhe permite congregar os instrumentais técnico-operativos a um
referencial teórico, que, no caso dos assistentes sociais, é o marxismo. Essa união deve resultar
em melhoria significativa da vida dos segmentos mais empobrecidos e pauperizados de nossa
sociedade.

Merece destaque o que Guerra (2010) coloca sobre a importância da teoria, a qual, para a autora,
é o que nos permite realizar essa reflexão sobre a intervenção empreendida; portanto, pensar a
instrumentalidade remete-nos a pensar essencialmente na junção necessária entre teoria e prática. Esse
processo se dá pela mediação. É possível fazer uma transposição do conhecimento teórico apreendido
em espaços destinados à formação mediante a prática profissional, a intervenção.

Guerra (2010) comenta que a instrumentalidade precisa estar ancorada nos aspectos teórico-
metodológicos, que irão, portanto, fazer referência à formação teórica por nós recebida, mas
ainda destaca que a instrumentalidade precisa também estar vinculada à dimensão ético-política,
ou seja, ao compromisso ético e político que é assumido por toda a nossa categoria profissional.

89
Unidade III

Lembrete

Um instrumental estará relacionado à teoria recebida, aos conhecimentos


dos quais o profissional se apropriou, bem como aos princípios éticos e
políticos que devem orientar a sua ação.

Nesse sentido, Guerra (2010) ainda aponta que a instrumentalidade pressupõe que o assistente social
se aproprie da realidade sobre a qual irá intervir. Esse conhecimento da realidade fora destacado por
Iamamoto (2004), como vimos na Unidade II, sendo considerado pela autora, no período em questão,
como algo fundamental ao exercício profissional competente. Também é destacado por Guerra (2010)
como algo importante no que concerne a contemplar a instrumentalidade na atuação profissional dos
assistentes sociais.

Observação

O conhecimento da realidade torna-se fundamental ao pensarmos


que temos objetivos, finalidades a alcançar. Isso é necessário para que
possamos atingir nossos propósitos profissionais, delimitando a técnica ou
o instrumento a ser utilizado. Essa leitura de realidade nos permite uma
orientação mais acertada sobre os procedimentos a serem adotados.

Ir no sentido da instrumentalidade não é tarefa fácil, é algo que precisa ser constantemente
construído e reconstruído em nosso cotidiano profissional, ou seja, nossa metodologia está em
constante movimento dialético, em constante construção. Entretanto, precisamos saber, conhecer
alguns procedimentos técnico-operativos, isto é, precisamos nos apropriar da questão instrumental. Há
alguns aspectos que devem ser observados no que concerne à forma e ao método a ser utilizado. Para
que você, aluno, possa ter uma formação nesse sentido, veremos as orientações de Santos (2004) em
relação a esse assunto e, na sequência, destacaremos também a importância do método de intervenção.

Santos (2004) expõe, assim, que os centros de formação devem orientar os alunos, buscando responder
às questões: “O que fazer?”, “Por que fazer?”, “Como fazer?” e “Para que fazer?”. As respostas conferidas
a essas questões poderão proporcionar a formação dos alunos com relação à questão operacional, mas
também irão incorporar essa perspectiva da reflexão sobre a ação a ser desenvolvida.

Para o autor, por meio da constituição de disciplinas, bem como da realização de seminários temáticos,
oficinas, laboratórios e atividades complementares, os centros de formação poderão colaborar para
que o aluno entenda a questão instrumental. O autor destaca ainda como relevante a introdução de
modalidades de estágio para os alunos.

Especificamente com relação ao método, é hoje consensual na profissão, conforme já referimos,


a recorrência ao chamado método único de intervenção. Contudo, há um número de instrumentais

90
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

que pode ser utilizado pelo assistente social em seu cotidiano. Santos (2004) realiza uma distinção,
agrupando-os em instrumentais de trabalhos diretos ou face a face e instrumentais de trabalho
indiretos ou “por escrito”. Para ele, esses instrumentais funcionam como mediadores da intervenção
do assistente social, mas todos são orientados pelo principal instrumento, que é a linguagem, a
possibilidade de comunicação de nossa profissão, e esse pensamento fora extraído de Iamamoto (2004),
autora que defende como principal instrumento de ação do Serviço Social a linguagem, recurso básico
de intervenção. A modalidade que é destacada por ambos os autores é a linguagem culta.

Partindo assim do que é ressaltado por Santos (2004), os instrumentos de trabalho face a face ou
diretos são aqueles em que há interação do profissional com o meio no momento de sua utilização.
O autor destaca que parte desses instrumentos vem sendo usada ao longo do desenvolvimento do
Serviço Social enquanto profissão, mas que, na atualidade, não são empreendidos com o mesmo
objetivo pelo qual foram “utilizados” anteriormente. São exemplos desses instrumentos: observação
participante, entrevista individual e grupal, dinâmica de grupo, reunião, mobilização de comunidade e
visita institucional.

Já os instrumentos de trabalho indiretos ou por escrito são aqueles constituídos após a realização
da abordagem direta ou face a face. Santos (2008) cita como exemplos desses instrumentos as atas de
reunião, os livros de registro, o diário de campo, o relatório social e o parecer social, destacando que, no
caso desses instrumentais, faz-se necessário o domínio da escrita pelo profissional.

Não cabe aqui realizarmos uma descrição de cada um desses métodos, visto que isso não se constitui
no objetivo da disciplina. O que você precisa saber é que a técnica ou o instrumental que irá utilizar é
importante, mas só alcançará a instrumentalidade se for seguido de uma reflexão sobre as abordagens a
serem adotadas. Não podemos permanecer presos às amarras da técnica e, caso isso se efetive, estaremos
fadados ao burocratismo e ao vazio profissional tão criticados por Iamamoto (2004) e apontados no
início desta Unidade.

Na sequência, discutiremos a importância da competência profissional e veremos como alcançá-


la em nossas ações, para que o exercício da profissão seja reconhecido socialmente e seja de fato
representativo para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, antes de iniciarmos nossas discussões,
observaremos quais são as dimensões necessárias para a formação do profissional e que permitirão
constituir um dado perfil.

A título de exemplo do que viemos discutindo, prezado aluno, observe a matéria a seguir:

Adolescente de 15 anos passou um mês presa em cela com 20 homens

Depois de receber uma denúncia anônima, o Conselho Tutelar de Abaetetuba, no interior


do Pará, constatou que uma adolescente de 15 anos estava presa havia cerca de um mês
em uma cela da carceragem da Polícia Civil com 20 homens. O caso foi denunciado ao
Ministério Público do Estado e ao Juizado da Infância e da Adolescência. A adolescente foi
libertada ontem (19).

91
Unidade III

De acordo com o conselheiro José Maria Ribeiro, a adolescente relatou a uma assistente
social que durante o período em que esteve presa, foi vítima de violência física e sexual. “Ela
confirmou que sofreu não só violência sexual, mas também maus-tratos. Foi espancada e
queimada pelos presos. Quando estava dormindo, colocavam papel entre os dedos dos pés
dela e acendiam fogo”, contou.

As informações foram confirmadas pela assessoria da Polícia Civil do Estado, que


informou que o município de Abaetetuba não possui carceragem feminina. Quando
uma mulher é presa na cidade, fica sob a custódia da Polícia até a Justiça autorizar a
transferência para a penitenciária feminina da capital, Belém. No caso da adolescente, a
Polícia alega que enviou o pedido de transferência à Justiça há cerca de 20 dias, mas não
obteve resposta.

Sobre a violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que não permite que menores
de idade sejam presos como adultos, a Polícia Civil informou que ainda investigará se a
adolescente é menor de idade. De acordo com a assessoria da corporação, em outras duas
ocasiões em que foi presa, ela teria apresentado certidões de nascimento diferentes, por isso
não há garantias de que tenha menos de 18 anos.

O representante do conselho rebateu a informação da Polícia Civil e afirmou que, em


outros depoimentos e ocasiões, a adolescente já teria dito a assistentes sociais e à Polícia
que era menor de idade e que a informação poderia ser comprovada por familiares.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado afirmou que “não compactua


com práticas ilegais” e que afastou os responsáveis pela prisão das funções que
ocupavam enquanto durar a apuração do caso. A Polícia Civil informou que as
corregedorias da corporação e do sistema penitenciário estadual estão investigando o
caso e que a conclusão, com a apresentação de culpados e de possíveis punições, deve
levar pelos menos 15 dias.

A Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República classificou o


episódio como um “caso grave de violação dos direitos humanos” e informou que está
acompanhado o caso, mas ainda não definiu as medidas que serão tomadas. Provisoriamente,
a adolescente está em Belém, sob a custódia do Conselho Tutelar.

Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2007-11-20/adolescente-de-15-anos-passou-um-mes-


presa-em-cela-com-20-homens>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Essa matéria destaca que o assistente social ouviu a adolescente e, por meio dessa escuta,
outros direitos foram efetivados. No caso, as argumentações de Guerra (2010) e de outros autores
contemporâneos não se colocam contrárias às técnicas, pois, como vimos, muitas vezes, é por meio
da utilização destas que são efetivados os direitos sociais. O que é necessário compreender é que tais
técnicas demandam reflexão e uma ação competente.

92
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Saiba mais

Vimos que o conceito de instrumentalidade ainda é novo em nossa


profissão e, por isso, precisa ser por nós mais bem-apropriado. Uma sugestão
para atingir esse objetivo é a recorrência ao texto A prática do assistente
social: conhecimentos, instrumentalidade e intervenção profissional, de
Charles Toniolo de Sousa. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/
index.php/emancipacao/article/view/119/117>.

8 AS DIMENSÕES ÉTICO-POLÍTICA, TÉCNICO-OPERATIVA E TEÓRICO-


METODOLÓGICA NO SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO E OS RUMOS
ÉTICO-POLÍTICOS DO TRABALHO PROFISSIONAL

As dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa são aspectos que devem ser


observados na formação dos assistentes sociais e também pelos profissionais atuantes. A formação nas
escolas de Serviço Social deve estar orientada por essas dimensões, ao passo que os profissionais que já
estão graduados devem também ter suas ações respaldadas pela junção dos aspectos que congregam
as dimensões elencadas.

Por isso, a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), órgão
responsável por delimitar aspectos mínimos que precisam ser trabalhados pelos centros de
formação de assistentes sociais, reforça a necessidade da compreensão dessas dimensões. Assim,
segundo as Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, publicadas em 1997 pela ABEPSS, que
devem ser utilizadas como referência na formação dos futuros profissionais por todas as unidades
de ensino, em todo o território nacional, essas dimensões precisam ser trabalhadas nos centros
de estudos por meio de disciplinas, atividades complementares, estágios e outros mecanismos de
formação profissional (SANTOS, 2004).

A dimensão teórico-metodológica faz referência à compreensão da importância do desenvolvimento


sócio-histórico da profissão, tendo em vista a necessidade de esta ser baseada na totalidade desse
processo. Também faz menção, nos termos de Sousa (2008), ao rigor metodológico, partindo da
interlocução com a teoria. Esse processo deve ocorrer, nos termos de Iamamoto (2004), acompanhado
por uma compreensão ampla tanto da história da profissão quanto da história da sociedade brasileira e,
por conseguinte, deve ser relacionado à realidade concreta.

O núcleo de fundamentos teórico-metodológicos propõe a realização de atividades e a


constituição de conteúdos que proporcionem ao aluno o entendimento das particularidades
histórico-sociais da realidade brasileira e da profissão nesse decurso, ao passo que o núcleo de
fundamentos teórico-metodológicos da vida social deve possibilitar a compreensão da realidade
social contemporânea sobre a qual o profissional deverá atuar. Para a apreensão da realidade,
Iamamoto (2004) relembra a importância de o profissional adotar um perfil investigativo e,
portanto, voltado para a pesquisa.
93
Unidade III

Segundo Iamamoto (2004), por meio da recorrência à fundamentação teórica será possível realizar
uma reflexão sobre as práticas a serem desenvolvidas no futuro, ou seja, pensar o futuro e agir sobre
ele demanda reflexão teórica, com foco nos aspectos relacionados à história da nossa profissão e
da nossa sociedade, além de um conhecimento que explique a atual dinâmica social. Assim, vê-se a
“[...] fundamentação teórico-metodológica como o caminho necessário para a construção de novas
alternativas no exercício profissional” (IAMAMOTO, 2004, p. 53).

A dimensão ético-política, por sua vez, faz referência à necessária consolidação dos valores
apresentados pelo Código de Ética da categoria e pelo projeto ético-político assumido pela nossa
profissão. Significa que o profissional precisa ter um posicionamento político, não de cunho partidário,
mas tendo como foco a defesa dos direitos, conforme também sinalizado por Santos (2004).

Iamamoto (2004), ao tratar do aspecto ético-político, tece uma sutil crítica à postura de alguns
profissionais que apenas exercem o papel “político”, destacando que essa dimensão “sozinha” nunca
resultará em um profissional competente e que, de fato, exerça a defesa dos direitos sociais dos
segmentos marginalizados de nossa população.

A autora aponta que a dimensão política é muito presente em nossa profissão, mas que, em
virtude de alguns exageros, a prática acabou reduzida apenas a essa dimensão por alguns profissionais.
Prossegue em suas colocações apontando que essa prática foi muito importante para a profissão, pois
garantiu à categoria grande potencial para o questionamento, mas seria um reducionismo profissional
compreender essa dimensão como única ou mais relevante à formação e ao exercício profissional.
“Conquanto a militância tenha impulsionado o potencial questionador da categoria profissional, dela
não se pode derivar diretamente uma consciência teórica e uma competência profissional” (IAMAMOTO,
2004, p. 54).

Essa prática, que se respalda apenas na dimensão política, é descrita por Iamamoto (2004) como
uma “prática inócua”, ou seja, como uma intervenção inocente e que não consegue alcançar os objetivos
propostos, ou seja, algo que não possui sustentação. Em tese, segundo a autora, o que sustenta a nossa
intervenção é a relação entre os conhecimentos provenientes de todas as dimensões.

A dimensão técnico-operativa faz alusão à necessidade de instrumentalização da questão operacional


para o desempenho das funções da profissão, considerada também por Santos (2008) como necessária
habilidade técnica. Já realizamos uma série de considerações sobre esses aspectos, mas cabe lembrar
que, quando nos referimos à dimensão técnico-operativa, estamos tratando de instrumentos e técnicas
usados em nosso fazer profissional e ainda do conhecimento teórico, ou seja, devemos avançar na
compreensão da instrumentalidade.

Para isso, é preciso que seja desenvolvida uma orientação quanto aos aspectos técnico-operativos
da profissão – considerados por Santos (2004) como centrais na formação, desde que devidamente
amparados pelos demais.

Para que essas dimensões sejam contempladas pelos centros de formação, a ABEPSS observa ainda
que é preciso eleger como metas a capacitação constante dos docentes e a interlocução junto ao
94
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

mercado de trabalho com profissionais atuantes, pela constituição de diversas modalidades de estágio
(SANTOS, 2004). A nosso ver, para que as dimensões citadas sejam alcançadas, faz-se necessário que os
docentes dos centros de formação estejam em um processo constante de formação continuada e que
possibilitem, além da base teórica, a introdução dos alunos nos campos de trabalho já estabelecidos,
favorecendo assim a constituição de diversas modalidades de estágio.

Essas dimensões são complementares, tal como é apontado pela ABEPSS e pelos diversos autores
aqui elencados. No entanto, há algumas colocações que precisam ser feitas para orientar a nossa
intervenção profissional. Iamamoto (2004) denominou essas orientações de “rumos ético-políticos”. São
atitudes, comportamentos e posturas que devem ser adotados pelos profissionais e buscam alcançar
as dimensões que foram destacadas. Segundo a autora, os rumos a serem seguidos pela profissão
estarão relacionados às três dimensões apresentadas, mas possuem também como enfoque o alcance
da competência profissional.

Assim, prezado aluno, vamos discorrer sobre os rumos ético-políticos que devem ser observados em
nossa prática profissional, para que seja possível “sintonizar o Serviço Social” com os novos tempos.

Iamamoto (2004) destaca que precisamos decifrar o movimento societário, ou seja, devemos nos
apropriar da realidade, com especial atenção para o Serviço Social imbuído em tais relações. Nesse
aspecto, a autora aponta que é necessário considerar a interlocução do Serviço Social em suas relações
estabelecidas entre o Estado e a sociedade civil.

Partindo dessa apropriação do movimento societário e de todos os seus aspectos integrantes,


conforme o parágrafo anterior, precisamos redescobrir alternativas de intervenção profissional,
sobretudo, considerando as mudanças processadas na contemporaneidade e que, como vimos, têm
colaborado para ampliar a Questão Social, já que tal fenômeno não vem sendo atendido pelo Estado.
Iamamoto (2004) destaca que, diante dessas situações, devemos conhecer a realidade para propor novas
alternativas às demandas apresentadas.

A autora argumenta que essa aproximação da realidade nos permite ainda identificar as formas de
resistência e contraposição presentes, e essas possibilidades devem ser apropriadas pelos profissionais
que desejem romper com uma prática tutelar em detrimento do estímulo a formas de participação e
autonomia por parte de nossos usuários. Assim, o conhecimento da realidade:

É condição ainda para se perceber as aspirações, os núcleos de contestação,


a capacidade de imaginação e invenção da sociedade aí presentes, que
contém misturados elementos de recusa e afirmação do ordenamento social
vigente (IAMAMOTO, 2004, p. 76).

Além disso, Iamamoto (2004) chama a atenção para o fato de que o profissional que não conhece
a realidade sobre a qual atua pode ser visto pelos atendidos como se fosse um estranho em seu
universo. Nesse sentido, destaca ainda que essa aproximação também passa pela necessidade de
uma devolução, por parte do técnico, aos segmentos com os quais atua, de todas as informações
que conseguiu obter a partir de suas aproximações da realidade, ou seja, todas as informações
95
Unidade III

e as práticas que pretende desenvolver devem ser divulgadas aos segmentos com os quais o
assistente social se relaciona.

Em relação à prática profissional a ser desenvolvida, a autora afirma que nosso papel de assistente
social deve trazer implícita a necessidade de uma prática educativa. Nesses termos, tal educação deve
ser desenvolvida para constituir espaços de fato públicos, ou seja, para democratizar os espaços possíveis
e que viabilizem a participação dos segmentos da sociedade civil.

Iamamoto (2004) destaca ainda que, além desses aspectos, precisamos observar todo o disposto
em nosso Código de Ética profissional, apontando que precisamos fazer o referido documento vigorar
na realidade, pois de nada adianta uma legislação que não é colocada em prática. “O desafio é a
materialização dos princípios éticos na cotidianidade do trabalho, evitando que se transformem em
indicativos abstratos, descolados do processo social” (IAMAMOTO, 2004, p. 77).

Concluindo suas colocações, destaca que esse profissional que congrega as dimensões em sua prática
e que está atento aos rumos ético-políticos deve ser informado, culto, crítico e competente. A respeito
da competência, discorreremos no próximo item.

Saiba mais

Sobre a questão dos instrumentais técnico-operativos, indicamos a


leitura do texto: Instrumental técnico-operativo do Serviço Social e sua
articulação com o espaço sócio-ocupacional e com os projetos profissionais,
de Rosa Trindade, apresentado no 10º Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais (Rio de Janeiro, 2001). Disponível em: <http://www.ts.ucr.ac.cr/
eventos/br-cbass-con-10-po-08.htm>.

8.1 As competências do Serviço Social na contemporaneidade: política,


ética, investigação e intervenção

Pensar a prática profissional sob a ótica da competência remete à compreensão dos aspectos legais
que orientam a nossa ação. Isso posto, precisamos recorrer à Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, que
regulamenta a profissão de assistente social, visto que é nesse documento que consta uma série de
colocações sobre as competências dos profissionais, bem como suas atribuições privativas.

Comecemos com as colocações sobre as competências, recorrendo ao artigo 4º da referida legislação,


no qual lemos:

I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a


órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e
organizações populares;

96
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos


que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da
sociedade civil;

III – encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos,


grupos e à população;

IV – (Vetado);

V – orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido


de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na
defesa de seus direitos;

VI – planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;

VII – planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a


análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;

VIII – prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública


direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às
matérias relacionadas no inciso II deste artigo;

IX – prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria


relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis,
políticos e sociais da coletividade;

X – planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de


Unidade de Serviço Social;

XI – realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios


e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta,
empresas privadas e outras entidades (BRASIL, 1993).

O que é apresentado como competência profissional, segundo a normativa em questão, diz respeito
a uma série de atividades que o assistente social pode vir a desempenhar, ou seja, são práticas para as
quais ele possui formação. No entanto, essas atividades podem ser realizadas pelo assistente social ou
por outro profissional, desde que possua habilidade para isso.

Já as atribuições privativas trazidas na norma em questão referem-se a uma série de intervenções


que só podem ser desenvolvidas pelo assistente social, ou seja, são “exclusivas” desse profissional e,
nesse caso, não podem ser realizadas por outro. Vejamos o que está elencado no artigo 5º da referida
legislação:

I – coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas,


planos, programas e projetos na área de Serviço Social;

97
Unidade III

II – planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de


Serviço Social;

III – assessoria e consultoria e órgãos da administração pública direta e


indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;

IV – realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e


pareceres sobre a matéria de Serviço Social;

V – assumir, no magistério de Serviço Social tanto em nível de graduação


como de pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos
próprios e adquiridos em curso de formação regular;

VI – treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço


Social;

VII – dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de


graduação e pós-graduação;

VIII – dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de


pesquisa em Serviço Social;

IX – elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões


julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para assistentes sociais,
ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;

X – coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados


sobre assuntos de Serviço Social;

XI – fiscalizar o exercício profissional através dos conselhos federal e


regionais;

XII – dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou


privadas;

XIII – ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira


em órgãos e entidades representativas da categoria profissional (BRASIL,
1993).

Entretanto, para que possamos desempenhar de forma correta nossas competências profissionais
e também defender nossas atribuições privativas, precisamos ser capacitados, desenvolver uma prática
competente.

Vejamos os aspectos que precisamos discutir com o objetivo de melhor compreender a noção de
competência profissional, com ênfase em sua aplicação ao Serviço Social.
98
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

No sentido exposto, precisamos também recorrer às Diretrizes Curriculares que foram estabelecidas
pela ABEPSS. Nessas diretrizes, como vimos, estão descritas as necessidades para uma formação mínima
de todos os assistentes sociais do Brasil.

Nesse documento são apontados os conteúdos mínimos para que os assistentes sociais graduados
sejam competentes em sua atuação na realidade concreta. Para que tal competência seja possibilitada
no âmbito da formação e transferida para a prática profissional, as Diretrizes Curriculares destacam que
é preciso orientar essa formação segundo os núcleos: fundamentação teórico-metodológica, formação
sócio-histórica da sociedade brasileira e fundamentos do trabalho social, que possibilitam ainda o
alcance das dimensões que foram tratadas no item anterior.

Vamos a algumas considerações.

O núcleo de fundamentação teórico-metodológica da vida social é aquele responsável pela


compreensão do ser social, em sua totalidade, diante das mudanças processadas durante o
desenvolvimento histórico-social da realidade brasileira. Esse núcleo demanda o conhecimento do
desenvolvimento da profissão e também do desenvolvimento histórico da sociedade brasileira, porém
com ênfase na compreensão do trabalho como relevante nessa constituição social.

O núcleo de formação sócio-histórica da realidade brasileira, por sua vez, destina-se a uma
compreensão profunda dessa realidade, bem como dos processos econômicos, políticos e sociais que
conferiram peculiaridade ao surgimento e à constituição da Questão Social. Tal núcleo também demanda
o entendimento das formas de constituição dessa sociedade na realidade contemporânea.

Por fim, o núcleo de fundamentos do trabalho profissional pressupõe a compreensão do


desenvolvimento sócio-histórico de nossa profissão, bem como dos aspectos necessários para a
atuação na contemporaneidade. Esse núcleo pressupõe a noção de processo de trabalho, bem como o
entendimento das particularidades da profissão que se constitui como trabalho coletivo e do caráter
interventivo de nossa atividade.

Esses núcleos possuem, como vimos, especificidades, mas, de forma combinada, visam a
alcançar as chamadas competências profissionais, que estão expressas, no referido documento,
como as competências teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. As disciplinas
constituídas pelos núcleos elencados precisam ser organizadas de forma que as competências
possam ser alcançadas no processo formativo e transferidas, pelo profissional, para a sua prática.
Vejamos o que consta nas Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (1996) sobre essa
questão:

A[s] competência[s] teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-


política são requisitos fundamentais que permite[m] ao profissional colocar-
se diante das situações com as quais se defronta, vislumbrando com clareza
os projetos societários, seus vínculos de classe, e seu próprio processo de
trabalho (ABPESS, 1996, p. 13).

99
Unidade III

Essas competências, tal como vimos, aparecem no referido documento como uma necessidade para
a prática da profissão e para que o assistente social possa aprender como se posicionar, como se colocar
diante das situações que lhe vão sendo apresentadas.

Tal documento ainda afirma que essas competências precisam ser estimuladas para criar nos futuros
profissionais e nos já graduados o hábito da pesquisa, descrita no documento com a expressão “postura
investigativa”.

O documento menciona também que a postura investigativa é importante para estimular a junção
entre o conhecimento teórico e a prática profissional, e esse processo de sistematização precisa ser
ensinado já na prática, para que, depois de apropriado durante o processo formativo, seja também
aplicado na realidade profissional cotidiana.

Dessa maneira, tais núcleos precisam ser constituídos segundo um padrão mínimo, para que todos
os profissionais e graduandos em diversos centros de formação possuam uma capacitação mínima para
a intervenção profissional. Assim, é por meio das disciplinas e das demais possibilidades de formação que
são oferecidas as competências teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, com ênfase na
intervenção profissional e na pesquisa.

As Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (1996) ainda destacam que, para proporcionar a
competência, os centros de formação devem observar os seguintes princípios:

1. Flexibilidade de organização dos currículos plenos, expressa na possibilidade


de definição de disciplinas e/ou outros componentes curriculares – tais como
oficinas, seminários temáticos, atividades complementares – como forma de
favorecer a dinamicidade do currículo.

2. Rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do


Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com
os quais o profissional se defronta no universo da produção e reprodução
da vida social.

3. Adoção de uma teoria social crítica que possibilite a apreensão da


totalidade social em suas dimensões de universalidade, particularidade e
singularidade.

4. Superação da fragmentação de conteúdos na organização curricular,


evitando-se a dispersão e a pulverização de disciplinas e outros componentes
curriculares.

5. Estabelecimento das dimensões investigativa e interventiva como


princípios formativos e condição central da formação profissional, e da
relação teoria e realidade.

100
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

6. Padrões de desempenho e qualidade idênticos para cursos diurnos e


noturnos, com máximo de quatro horas/aulas diárias de atividades nestes
últimos.

7. Caráter interdisciplinar nas várias dimensões do projeto de formação


profissional.

8. Indissociabilidade nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão.

9. Exercício do pluralismo como elemento próprio da natureza da vida


acadêmica e profissional, impondo-se o necessário debate sobre as várias
tendências teóricas, em luta pela direção social da formação profissional,
que compõem a produção das ciências humanas e sociais.

11. Ética como princípio formativo perpassando a formação curricular.

12. Indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e profissional


(ABPESS, 1996, p. 6-7).

Esses princípios, como podemos ver, destacam muitos aspectos interessantes e que deveriam ser
observados pelos cursos de graduação em sua organização curricular, obviamente, para que o profissional
graduado possa desenvolver habilidades. Observamos nos princípios a importância do rigor teórico, da
necessidade de serem trabalhadas as dimensões investigativas e interventivas, além de asseverarem a
importância da interdisciplinaridade, do respeito ao pluralismo e da ética profissional.

O documento estabelece que a competência profissional só será atingida se esses princípios forem
observados em todos os centros de formação profissional. Aponta ainda que essa competência profissional
deve incidir sobre a formação no que concerne a realizar uma capacitação teórico-metodológica, ético-
política e técnico-operativa.

As Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (1996) ainda propõem que somente por meio
da capacitação nos termos apresentados, observando-se os princípios expostos e constituindo-se os
núcleos descritos, os profissionais alcançarão a competência esperada. Assim, o documento expõe que
o profissional será competente para realizar:

1. Apreensão crítica do processo histórico como totalidade.

2. Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais


contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de
apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do
capitalismo e do Serviço Social no país.

3. Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibilidades


de ação contidas na realidade.
101
Unidade III

4. Apreensão das demandas – consolidadas e emergentes – postas ao Serviço


Social via mercado de trabalho, visando formular respostas profissionais
que potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas
articulações entre público e privado.

5. Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas


na Legislação Profissional em vigor (ABPESS, 1996, p. 7).

Isso que dizer que todos os profissionais graduados precisam ser competentes no que concerne
a apreender o processo histórico e a situação atual da realidade brasileira, bem como no tocante a
apreender o significado social da profissão e das demandas a ela inerentes. Devem compreender,
inclusive, as configurações do mercado de trabalho, para que seja possível conferir respostas às demandas
apresentadas. Também é necessário que o profissional defenda tanto as competências profissionais
quanto as atribuições privativas de nossa atividade.

Veremos agora considerações de determinados autores sobre a questão da competência profissional,


dentre as quais destacaremos as colocações trazidas ao debate profissional por Souza (2004) e por
Iamamoto (2004). Vamos a elas.

Souza (2004), afirma que o tema competência surgiu no debate nacional brasileiro a partir da
década de 1980. Nesse período, segundo o que o autor destaca, a competência profissional passou a ser
exigida de todos, em decorrência dos processos de reestruturação produtiva. Nesse cenário, começou
a ser “exigido” que o trabalhador fosse competente em sua área de formação e também tivesse outras
habilidades profissionais, ou seja, deveria ir além da sua formação inicial.

Esse autor ressalta ainda que, a partir de então, passou a ser requisitado aos profissionais um
determinado “pacote de competências”, fazendo menção a uma série de condições necessárias ao
profissional que quisesse ser compreendido como competente. Destaca, assim, como integrantes do
chamado pacote de competências: a flexibilidade do trabalhador, sua transferibilidade, sua polivalência
e sua condição para a empregabilidade. Segundo ele, há uma grande ênfase na questão da polivalência
profissional. O profissional polivalente é aquele que desempenha uma série de funções além das que já
foi habilitado para desempenhar.

Souza (2004), no entanto, ao discutir a questão da competência aplicando-a ao Serviço Social, vem
nos dizer que o profissional competente é aquele culturalmente versado e politicamente atento ao
tempo histórico que está vivendo. Assim, é necessária competência técnica e estratégica para decifrar
a realidade presente.

O autor enfatiza que é essencial aos profissionais entenderem que sua ação tem uma dimensão
política, e essa compreensão também é indicativa da competência. Assim, “imprimir às ações uma
postura política e ética pode ser um dos caminhos a serem trilhados pelos profissionais” (SOUZA,
2004, p. 53), visto que o profissional competente condiciona sua prática a uma postura ética e
também política.

102
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

O autor ainda observa que a dimensão política deve ser expressa por meio de uma prática profissional
em que os princípios contidos no Código de Ética de nossa profissão sejam colocados em prática. Nesses
termos, destaca que é necessária e fundamental a defesa dos segmentos pauperizados da sociedade
brasileira.

Assim, o autor destaca que é no cotidiano que devemos expressar nossa ação competente; para
isso, precisamos considerar que nossa competência profissional precisa ser expressa em um espaço
heterogêneo por natureza e, por conseguinte, composto por uma série de dimensões que expressam o
viver e o agir dos seres humanos.

Para uma intervenção competente, é necessário que o profissional assuma duas posturas ou
comportamentos profissionais. A primeira, indicada por Souza (2004), refere-se ao fato de que os
assistentes sociais devem ser contrários a compreensões fundadas apenas no senso comum. Já a segunda
faz referência a uma capacidade que precisa ser por nós apropriada: a de nos interrogarmos sobre os
fenômenos presentes na realidade.

O autor ainda destaca que esses comportamentos permitem que nos distanciemos do mundo sobre
o qual estamos atuando, para que possamos a ele voltar com um entendimento diferenciado. Somente
por meio de uma prática de distanciamento, de investigação de nossa realidade se torna possível uma
ação, de fato, competente.

Estamos diante de um fato concreto, que precisa ser compreendido para


efetivarmos a criação de ações competentes, pois se ele é, em essência, o
espaço da alienação, em virtude de uma atitude investigativa por parte do
profissional, pode se tornar um espaço de transformação e de objetivação
de ações que sejam consonantes com os objetivos maiores colocados pela
categoria (SOUZA, 2004, p. 55).

Assim, Souza (2004) postula que a competência demanda a formação por meio da qualificação
formal e das competências teórica, técnica e política, sendo estas vitais ao exercício profissional e
oferecidas no processo formativo.

Agora passaremos a tratar da competência de acordo com Iamamoto (2004). Algumas considerações
feitas pela autora já foram aqui mencionadas, com o objetivo de destacar a prática competente. Cabe
lembrar que é necessário, segundo ela, um profissional culturalmente versado e com compreensão
política. Também é preciso ser propositivo, ou seja, relacionado com a pesquisa e com a atualização
permanente.

Iamamoto (2004) observa que esse profissional precisa dominar o aspecto operacional, com destaque
para a extrema importância do domínio da linguagem, que é, como vimos, tratada como um dos recursos
fundamentais do exercício da profissão. Retomamos, aqui, que a modalidade de linguagem referida é a
forma culta.

A autora também enfatiza que o profissional competente é aquele que consegue apreender a história,
a realidade atual e os processos constituídos de organização econômica, política e social. Segundo essa
103
Unidade III

compreensão, o profissional competente é aquele que, diante dessas constatações, consegue elaborar e
propor respostas criativas de intervenção.

Para isso, é necessário romper com uma visão endógena da profissão e entender, assim, a importância
que a prática profissional precisa assumir para se constituir como uma profissão que seja, de fato,
socioeducativa. Compreender esses aspectos sob a ótica da competência significa entender a nossa
profissão como uma prática de intervenção e que precisa congregar os princípios éticos assumidos por
toda a nossa categoria profissional.

Concluindo, a competência ética refere-se, a nosso ver, às possibilidades encontradas pelo


profissional para fazer valer os princípios éticos que são apresentados como necessários por toda
a nossa categoria profissional e elencados no Código de Ética de nossa profissão. A competência
política refere-se a uma compreensão dual que nos leva a perceber que nossa profissão possui
uma conotação política implícita em suas ações. Também remete à compreensão necessária de que
precisamos identificar os espaços políticos de nossa realidade que proporcionam a construção de uma
contra-hegemonia.

A competência investigativa refere-se à possibilidade de o profissional inserir a investigação em


todos os momentos de sua prática cotidiana, sendo fundamental essa competência para a apropriação
da realidade de onde obtemos informações sobre a Questão Social e suas múltiplas formas de expressão,
bem como dos fenômenos sociais, políticos e econômicos que a condicionam e interferem em nossa
prática profissional. Por fim, a competência interventiva nos remete a uma intervenção, uma prática que
seja desenvolvida com a capacidade de resolver os problemas sociais a nós apresentados.

Lembrete

Essas competências não se expressam no fazer do assistente social de


forma dissociada, ou seja, são uma série de habilidades que o profissional
precisa desenvolver para que seja de fato realizada uma ação eficiente, pela
qual seja possível efetivar os direitos sociais.

Esperamos que esses conteúdos tenham colaborado com o seu processo formativo e que você tenha
conseguido apreender todas as colocações aqui destacadas. Recomendamos reler o conteúdo exposto e
realizar os exercícios no final desta Unidade, a fim de avaliar sua aprendizagem, dada a quantidade de
detalhes do tema.

Resumo

Nesta Unidade, iniciamos nossos estudos sobre a instrumentalidade.


Para isso, recorremos às primeiras intervenções de nossa profissão, pelas
quais pudemos conhecer um pouco sobre o método de intervenção.
Observamos que as primeiras técnicas e os primeiros instrumentais eram
104
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

utilizados com o objetivo de moldar o caráter das pessoas, de adequar o ser


humano à nova ordem vigente. Para isso, era realizado um estudo sobre o ser
humano e, assim, buscava-se identificar o problema apresentado por este
e, de tal forma, realizar intervenções para solucioná-lo. Nessa metodologia,
como vimos, eram usados conhecimentos da Psicologia, da Biologia, da
Sociologia e da Moral, além de haver forte recorrência à doutrina social da
Igreja Católica.

Vimos que essa metodologia utilizada ofereceu a base para o


desenvolvimento da profissão e dos instrumentais e técnicas a ela
inerentes. No entanto, essa noção já fora superada, e discutimos o conceito
de instrumentalidade. Este nos remete a pensar a questão das técnicas,
mas também a da teoria, ou seja, a instrumentalidade pressupõe uma
junção desses aspectos para que seja possível realizar uma prática reflexiva.
Aprendemos que esses conceitos são extremamente importantes para o
processo formativo.

Estudamos ainda as dimensões teórico-metodológica, ético-política e


técnico-operativa, aspectos que precisam ser observados durante o processo
formativo dos assistentes sociais e sua prática profissional. Recorremos a
essas colocações para enfatizar a importância dos rumos ético-políticos a
serem adotados diante das demandas de nossa profissão, enfocando ainda
a relevância da competência profissional nesse processo.

Vimos como essas dimensões influenciam a constituição dos núcleos


de formação profissional, fundamentais para proporcionar uma ação
competente, que permita a efetivação dos direitos sociais dos segmentos
empobrecidos de nossa sociedade. Estudamos ainda a importância da noção
de competência profissional, que se expressa na habilidade em diversos
aspectos, destacando ainda como a competência profissional é entendida
por alguns teóricos de nossa área.

Esperamos assim que você tenha compreendido todos os temas aqui


tratados, assim como seu encadeamento. Para isso, cabe uma sistematização
geral: na Unidade I, estudamos o trabalho e sua aplicabilidade ao Serviço
Social, de que extraímos nossa compreensão de processo de trabalho.
Na Unidade II, vimos as demandas apresentadas à categoria profissional
e as respostas a elas conferidas, bem como destacamos a importância
do projeto ético-político profissional, visto que já havíamos colocado as
orientações relacionadas ao trabalho na Unidade I. Por fim, discutimos
a noção de instrumentalidade na Unidade III, destacando também as
dimensões, os núcleos e demais aspectos necessários para que alcancemos
a instrumentalidade, um conceito que deve ser perpassado pela ação
competente.
105
Unidade III

Agora, recorra ao texto, releia, estude novamente, busque mais


uma vez resolver os exercícios, observando os comentários de
orientação colocados em cada questão. Mais que isso, compreenda a
relevância que esses tópicos estudados assumem para toda a categoria
profissional.

Exercícios

Questão 1 (UFAC Assistente Social – 2010). Acerca da instrumentalidade do Serviço Social,


analise as afirmativas a seguir:

I – Os objetivos da profissão são construídos a partir de uma reflexão teórica, ética e política que
define os instrumentos e as técnicas de intervenção. Conclui-se que essas metodologias de ação não
estão prontas e acabadas.

II – Os instrumentos e as técnicas de intervenção são mais importantes que os objetivos da ação


profissional.

III – Cabe ao assistente social ter habilidade técnica para manusear determinado instrumento de
trabalho na sua prática e adaptá-lo às necessidades a que precisa atender no seu cotidiano.

IV – É necessário compreender a dinâmica da realidade e quais mudanças são essas, para que o
instrumental utilizado seja o mais eficaz possível e, de fato, possa produzir as mudanças desejadas pelo
assistente social – ou chegar o mais próximo possível disso.

V – A instrumentalidade está restrita à compreensão de técnicas, destacando-se, nesse sentido, a


utilização de entrevistas e visitas.

Assinale a alternativa correta:

A) Estão corretas as afirmativas I e II.

B) Estão corretas as afirmativas I, III e IV.

C) Estão corretas as afirmativas I e IV.

D) Todas as afirmativas estão corretas.

E) Todas as afirmativas estão incorretas.

Resposta correta: alternativa B.

106
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

Análise das alternativas:

I) Afirmativa correta.

Justificativa: a instrumentalidade demanda, essencialmente, a reflexão teórica, ética e política;


portanto, essas reflexões precisam estar imbricadas e, assim, condicionar a instrumentalidade em nossa
profissão. Por meio dessa reflexão, é possível orientar a escolha de determinadas metodologias e técnicas
de intervenção a serem adotadas diante das demandas apresentadas ao Serviço Social.

II) Afirmativa incorreta.

Justificativa: a compreensão da instrumentalidade não define que os instrumentos e as técnicas


de intervenção são mais importantes que os objetivos da ação profissional. Ambos os aspectos são
relevantes, e cada qual tem seu “peso” no que concerne a orientar a ação profissional e condicionar,
assim, a instrumentalidade do assistente social. Note que, quando pensamos em instrumentalidade,
devemos evitar compreender as técnicas e os instrumentos como mais importantes que a atuação
profissional.

III) Alternativa correta.

Justificativa: o assistente social precisa ter domínio das técnicas que irá utilizar em sua prática
profissional, e estas precisam estar relacionadas a reflexões teóricas, ético-políticas e metodológicas,
ou seja, ele precisa dominar as técnicas, mas também ter consciência de seu referencial teórico e
metodológico e dos princípios ético-políticos que regem a sua atuação.

IV) Alternativa correta.

Justificativa: o conhecimento da realidade é uma necessidade inerente ao nosso fazer profissional,


independentemente da área em que estivermos atuando. Por meio desse conhecimento da realidade,
podemos orientar toda a nossa prática profissional e definir a metodologia a ser utilizada. Devemos
sempre optar pela metodologia que esteja mais relacionada à realidade sobre a qual iremos atuar.

V) Alternativa incorreta.

Justificativa: a instrumentalidade não pode estar restrita à simples utilização de técnicas, conforme
já salientado neste livro-texto. As técnicas são importantes e condicionam em grande parte o fazer
profissional, porém não podem ser compreendidas como supremas, e sim consideradas importantes na
prática do assistente social.

Questão 2 (CESPE/UNB – ECT – 2011 – Adaptada). O instrumental técnico do Serviço Social


contempla um conjunto articulado de instrumentos e técnicas que permitem a operacionalização da
ação do profissional de Serviço Social. Com relação a esse assunto, julgue as afirmativas que seguem.

I – Na realização de entrevista, no exercício profissional, o assistente social deve estimular as reflexões


em torno da problemática apresentada pelo usuário e influenciar as escolhas dos atendidos.
107
Unidade III

II – A reunião de equipe, um instrumental técnico que fora aplicado no cotidiano profissional,


atualmente não está mais sendo recomendada.

III – A visita domiciliar, quando solicitada ao assistente social pela equipe de Recursos Humanos de uma
organização, deve objetivar sua inserção na esfera da vida privada do trabalhador e, consequentemente,
submetê-lo à disciplina, moldando o seu caráter.

IV – A instrumentalidade pode ser compreendida como uma mediação que permite utilizar
as referências teóricas, explicativas da lógica e da dinâmica da sociedade, para a compreensão das
particularidades do exercício profissional e das singularidades do cotidiano.

V – O uso de instrumental técnico requer interações de comunicação oral e escrita, o que pressupõe
a utilização de linguagens por parte do assistente social. Caso seja necessário utilizar a modalidade
escrita, deve-se empregar o padrão culto e técnico de língua.

Estão corretas as seguintes afirmativas:

A) I, II, IV.

B) III, V.

C) IV, V.

D) II, IV.

E) II, III, IV.

Resolução desta questão na plataforma.

108
PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL

FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 2

MAPA2.BMP. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/presenca/index.php?option=com_content&view


=article&id=12&Itemid=11>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Figura 3

CONSTRUCTION-WORKER-WITH-SIX-HANDS-THUMB23332672 .JPG. Disponível em: <http://www.


dreamstime.com/stock-photography-construction-worker-six-hands-image23332672>. Acesso em:
18 mar. 2012.

REFERÊNCIAS

Audiovisuais

TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. EUA: Charles Chaplin
Productions, 1936. 1 DVD (89 min).

ILHA das flores. Direção: Jorge Furtado. Produção: Monica Schmiedt, Giba Assis Brasil e Nora Goulart.
Porto Alegre: Casa de Cinema de Porto Alegre, 1989. 1 bobina cinematográfica (12 min).

Textuais

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL – ABEPSS. Diretrizes gerais para
o curso de Serviço Social (Texto na íntegra aprovado em assembleia em novembro de 1996). Rio de
Janeiro: ABEPSS, 1996.

ABESS/CEDEPESS. Proposta básica para o projeto de formação profissional. Revista Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, ano XVII, n. 50, 1996.

ABREO, A. C. S. B.; FÁVARO, C. R. Demandas do Serviço Social no setor empresarial. Serviço Social em
Revista, Londrina, v. 4, n. 1, jul/dez 2001. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v4n1_
demandas.htm>. Acesso em: 16 nov. 2012.

ADAS, M. A fome: crise ou escândalo? São Paulo: Moderna, 1988.

ADOLESCENTE de 15 anos passou um mês presa em cela com 20 homens. EBC, Brasília, 20 nov. 2007.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2007-11-20/adolescente-de-15-anos-passou-
um-mes-presa-em-cela-com-20-homens>. Acesso em: 19 nov. 2012.

AGUIAR, A. G. Serviço Social e Filosofia: das origens a Araxá. São Paulo: Cortez, 1995.

109
ALENCAR, F.; RAMALHO, L. C.; TOLEDO, M. V. História da sociedade brasileira. 13. ed. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 1996.

ALVES, R. Gestão do futuro. São Paulo: Papirus, 1986.

AMARO, S. Visita domiciliar: guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre: AGE, 2003.

ANDERY, M. A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 14. ed. Rio de Janeiro:
Gramond; São Paulo: Educ, 2004.

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho: ensaio sobre a metamorfose do mundo do trabalho. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 1999.

ARMANI, D. Como elaborar projetos? Porto Alegre: Tomo Editorial/Amencar, 2003.

AUMOND, C. Gestão de serviços e relacionamentos. São Paulo: Campus, 2004.

ÁVILA, E. M. Mediação familiar. Florianópolis: Gráfica do TJSC, 2002.

BAPTISTA, M. V. A investigação em Serviço Social. Lisboa: CPIHT; São Paulo: Veras, 2001.

______. Planejamento social. São Paulo: Veras, 2002.

BARBOSA, M. C. O Serviço Social como práxis. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 3, 1987.

BARROCO, M. L S. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

BARROS, M. N. F.; SUGUIHIRO, V. L. T. A interdisciplinaridade como instrumento de inclusão social:


desvelando realidades violentas. Revista Virtual Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 2, n. 1, dez. 2003.

BARROS, R. P.; HENRIQUES, R.; MENDONÇA, R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, n. 42, fev. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/
v15n42/1741.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

BATTINI, O. Atitude investigativa e formação profissional: a falsa dicotomia. Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, ano 15, n. 45, p. 142-6, 1994.

BAUMAN, Z. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BEHRING, E.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
(Biblioteca Básica de Serviço Social, v. 2).

BENJAMIN, A. A entrevista de ajuda. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

BIASOTO, L. G. A. P. De que vítima estamos falando? Situações de violência em relacionamentos


110
conjugais. In: MUSZKAT, M. E. (Org.). Mediação de conflitos: pacificando e prevenindo a violência. São
Paulo: Summus, 2003.

BORIS, F. História do Brasil. 13. ed. São Paulo: Edusp, 2003.

BORTOLI, A. F.; CAMPANER, R. M.; CHAVES, S. M. F. L. Considerações sobre a exclusão no contexto


psicossocial. Iniciação Cientifica Cesumar, Maringá, v. 4, n. 2, p. 117-23, ago./dez. 2002.

BOURGUIGNON, J. A. A particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social. Katálysis, Florianópolis,


v. 10, p. 46-57, 2007. Número especial. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rk/v10nspe/a0510spe.
pdf>. Acesso em: 16 jan. 2012.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 13 abr. 2012.

______. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.
htm>. Acesso em: 13 abr. 2012.

______. Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá
outras providências. 3. ed. Brasília: CFESS, 2003. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/
legislacao_lei_8662.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Senado Federal, 2002.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 16 nov. 2012.

______. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras
providências. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.
htm>. Acesso em: 13 abr. 2012.

______. Lei Nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da assistência social e dá
outras providências. Brasília, 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742.
htm>. Acesso em: 16 nov. 2012.

BRITES, C. M.; SALES, M. A. Ética e práxis profissional. Brasília: CFESS, 2000.

BRUN, G. Pais, filhos & Cia. ilimitada. Rio de Janeiro: Record, 1999.

BRUNO, D. D. Serviço Social judiciário: existimos, a que será que se destina? Cadernos de Serviço
Social, Campinas, ano VII, n. 10, 1997.

BUSH, B.; FOLGER, J. P. La promessa de mediación. Buenos Aires: Granica, 1996.

111
CAMARGO, K. R. Os processos de trabalho do Serviço Social em um desenho contemporâneo. Revista
EGP, Porto Alegre, v. 1, 2010. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/sma/revista_EGP/
processos_trabalho_servico_social_Karen.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton
Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.

CARDOSO, F. G.; ABREU, M. M. Mobilização social e práticas educativas. In: Capacitação em Serviço
Social e política social. Brasília: UnB, 2000. Módulo 4.

CARDOSO, F. G.; ABREU, M. M.; LOPES, J. B. Avaliação institucional na universidade brasileira e os


cursos de graduação em Serviço Social. Temporalis, Brasília, v. 1, n. 1, p. 109-34, 2000.

CARTENSEN, L. L. Motivação para contato social ao longo do curso de vida: uma teoria de seletividade
socioemocional. In: NERI, A. L. (Org.). Psicologia do envelhecimento: temas selecionados na perspectiva
de curso de vida. Campinas: Papirus, 1995.

CARVALHO, A. de S. Metodologia da entrevista: uma abordagem fenomenológica. Rio de Janeiro: Agir, 1987.

CARVALHO, M. C. B.; NETTO, J. P. Cotidiano: conhecimento e crítica. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

CASAMENTO comunitário realizará sonho de 50 casais em São Gabriel. Idest, Campo Grande, 21 mar.
2012. Disponível em: <http://www.idest.com.br/noticia.asp?id=34735>. Acesso em: 19 nov. 2012.

CASTEL, R. As metamorfoses da Questão Social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998.

CASTEL, R.; WANDERLEY, L. E.; BELFIORE, M. Desigualdade e a Questão Social. São Paulo: EDUC, 2000.

CASTILHO, T. Família e relacionamento de gerações. In: CONGRESSO INTERNACIONAL COEDUCAÇÃO DE


GERAÇÕES, 1., 2003, São Paulo. Anais... São Paulo: Sesc, 2003. Disponível em: <http://www.sescsp.org.
br/sesc/images/upload/conferencias/94.rtf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

CASTRO, M. M. História do Serviço Social na América Latina. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

CERQUEIRA FILHO, G. A Questão Social no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

CFESS. Código de ética do/a assistente social. Brasília: CFESS, 1993.

CHAUÍ, M. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2006.

CIVITA, V. Karl Marx: para a crítica da economia política do capital. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os
pensadores).

COLLE, F. X. Toxicomanias, sistemas e famílias. Lisboa: Climepsi, 2001.


112
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (Org.). O estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos:
contribuição ao debate no judiciário, penitenciário e na previdência social. São Paulo: Cortez, 2003.

COSTA, A. C. Nova Questão Social ou nova dimensão de um mesmo problema? Disponível em: <http://
www.ced.ufsc.br/gtteanped/24ra/trabalhos/t0911134951314.PDF>. Acesso em: 13 abr. 2012.

COSTA, M. A.; ABREU, S. R. P. O mercado de trabalho do assistente social na região metropolitana de


Londrina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DAS DSTs E AIDS, 6., 2006, Belo Horizonte.
Anais... Belo Horizonte: MS, 2006.

CRUZ, S. P. Estratégias de controle social. São Paulo: Arte & Ciência, 2004.

CURY, J. M. Educação e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno
educativo. 5. ed. São Paulo: Cortez; Campinas: Autores Associados, 1985.

DAL PIZZOL, A. Estudo social ou perícia social? Um estudo teórico-prático na justiça catarinense.
Florianópolis: Insular, 2005.

DAL PRÁ, K. R. Transpondo fronteiras: os desafios do assistente social na garantia do acesso à saúde
no Mercosul. 2006. 99 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.

DE PAULO, A. Pequeno dicionário jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

DEBERT, G. G. A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento.


São Paulo: USP/Fapesp, 1999.

DEMO, P. O charme da exclusão social. Campinas: Autores Associados, 1998.

DOWBOR, L. O que é capital. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.

ESTEVÃO, A. M. R. O que é Serviço Social. São Paulo: Brasiliense, 2005.

FACHIN, L. E. Estabelecimento da filiação e paternidade presumida. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1992.

FALEIROS, V. P. Saber profissional e poder institucional. São Paulo: Cortez, 1997.

FAUSTINI, M. S. A. Prática do Serviço Social: o desafio da construção. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.

FÁVERO, E. T. et al. O estudo social: fundamentos e particularidades de sua construção na área


judiciária. In: CFESS (Org.). O estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição
ao debate no judiciário, penitenciário e na previdência social. São Paulo: Cortez, 2003.

FERNANDES, R. C. Privado, porém público. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.


113
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

FERRIGNO, J. C. Coeducação entre gerações. Petrópolis: Vozes, 2003.

FILIZOLA C. L. A.; RIBEIRO M. C.; PAVARINI, S. C. I. A história da família de Rubi e seu filho Leão:
trabalhando com famílias de usuários com transtorno mental grave através do Modelo Calgary
de avaliação e de intervenção na família. Texto & Contexto Enfermagem, v. 2, n. 12, p. 182-90,
2003.

FOLGER J. P.; BUSH, R. A. B. Mediação transformativa e intervenção de terceiros: as marcas registradas


de um profissional transformador. In: SCHNITMAN, D. F.; LITTLEJONH, S. (Org.). Novos paradigmas em
mediação. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 1987.

______. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1997.

FRAIMAN, A. P. Sexo e afeto na terceira idade: aquilo que você quer saber e não teve com quem
conversar. São Paulo: Gente, 1994.

FRANCO, T. B. et al. O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: Betim, Minas Gerais, Brasil.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 2, n. 15, abr./jun., 1999.

FREIRE, P. Educação e mudança. 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

GARRET, A. A entrevista, seus princípios e métodos. 10. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1991.

GENTILLI, R. de M. L. A prática como definidora da identidade profissional do Serviço Social. Revista


Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 53, 1997.

GINZBURG, N. Léxico familiar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

GIONGO, C. D. Processo de trabalho do Serviço Social. Canoas: Ulbra, 2003. v. 3.

GUERRA, Y. A. D. et al. Os fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade: conhecimento


e crítica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS, 10., 2001, Rio de Janeiro. Anais...
Disponível em: <http://www.ts.ucr.ac.cr/eventos/br-cbass-con-10-po.htm>. Acesso em: 13 abr.
2012.

GUERRA, Y. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2010.

______. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE ASSISTENTES


SOCIAIS, 2007. Belo Horizonte. Anais... Disponível em: <www.danielafonso.com.br/files/Yolanda%20
Guerra.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.
114
______. Instrumentalidade do processo de trabalho e Serviço Social. Revista Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, n. 62, 2000.

______. Ontologia do ser social: bases para a formação profissional. Revista Serviço Social &
Sociedade, São Paulo, n. 54, 1997.

HAYNES, J. M.; MARODIN, M. Fundamentos da mediação familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

HIGHTON, E. I.; ÁLVAREZ, G. S. A mediação no cenário jurídico: seus limites – a tentação de exercer o
poder e o poder do mediador segundo sua profissão de origem. In: SCHNITMAN, D. F.; LITTLEJONH, S.
(Org.). Novos paradigmas em mediação. Porto Alegre: Artmed, 1999.

HOBSBAWM, E. A era do capital. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss de sinônimos e antônimos da língua portuguesa. Rio de Janeiro:


Objetiva, 2003.

IAMAMOTO, M. V. Renovação e conservadorismo no Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1992.

______. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e Questão Social. São
Paulo: Cortez, 2000.

______. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2004.

______. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2006.

______. O Serviço Social na cena contemporânea. In: CFESS (Org.). Serviço Social: direitos sociais e
competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009.

IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma
interpretação histórico-metodológica. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

IANNI, O. (Org.). Karl Marx. 4. ed. São Paulo: Ática, 1984.

JACCOUD, L. (Org.). Questão Social e políticas sociais no Brasil contemporâneo. Brasília: Ipea, 2005.

JESUS, A. T. Educação e hegemonia no pensamento de Antonio Gramsci. São Paulo: Cortez; Campinas:
Unicamp, 1989.

JOSÉ FILHO, M. A família como espaço privilegiado para a construção da cidadania. Franca: Unesp,
2002.
115
KAHN, A. J. (Org.). Reformulação do Serviço Social. Tradução de Marília Diniz. Rio de Janeiro: Agir,
1984.

KALOUSTIAN, S. M. (Org.). Família brasileira, a base de tudo. Brasília: Cortez/Unicef, 2004.

KAMAYANA, N. A prática profissional do Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo,
n. 6, 1987.

KAUFFMANN, D. A família reconstituída paulistana e seu ciclo vital: uma análise na perspectiva das
mudanças no ciclo de vida familiar. São Paulo: Fapesp, 2000. Relatório final de iniciação científica.

KENDALL, D. et al. Sociology our Times: The Essential. Toronto: ITP Nelson, 1998.

KERN, F. A visita domiciliar: a linguagem de relações. Disponível em: <http://www.uel.br/esquina>.


Acesso em: 16 jan. 2012.

______. A rede como estratégia metodológica de operacionalização do Suas. In: MENDES, J. M. R.;
PRATES, J. C.; AGUINSKY, B. (Org.). Capacitação sobre PNAS e Suas: no caminho da implantação. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2006.

KIST, R. B. B. O processo de trabalho do assistente social e a garantia de direitos do idoso a partir da


abordagem grupal. 2008. 81 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Programa de Pós-Graduação
em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

KRUSE, H. Para a práxis libertadora do Serviço Social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 20,
1986.

LAURELL, A. C. (Org.). Estado e políticas sociais no neoliberalismo. Revisão de Amélia Cohn. Tradução de
Rodrigo Leòn Contrera. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

LEFEBVRE, H. O marxismo. 4. ed. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1963.

LESSA, S. O processo de produção e reprodução: trabalho e sociabilidade. In: Cadernos do Curso de


Capacitação em Serviço Social: crise contemporânea, Questão Social e Serviço Social. Brasília: CEAD,
1999. Módulo 2.

LEWIN, K. Problemas da dinâmica de grupo. São Paulo: Cultrix, 1978.

LIMA, A. A. Serviço Social no Brasil: a ideologia de uma década. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

LIMA, T. C. S.; MIOTO R. C. T.; DAL PRÁ, K. R. A documentação no cotidiano da intervenção dos
assistentes sociais: algumas considerações acerca do diário de campo. Textos & Contextos, Porto
Alegre, v. 6, n. 1, jul. 2007.

116
LO VUOLO, R. Agenda social: las familias en América Latina – diagnóstico y políticas públicas. Chile:
Clacso, 2001.

MACHADO, E. M. Questão social: objeto do Serviço Social? Serviço Social em Revista, Londrina, v. 2, n. 1,
jul./dez. 1999. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/n1v2.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

MAGALHÃES, S. M. Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo: Veras, 2003.
MANDEL, E. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2003.

MARSIGLIA, R. M. G. et al. Intervenção e pesquisa em Serviço Social. In: Capacitação em Serviço Social
e política social. Brasília: UNB/CEAD, 2001. Módulo 5.

MARTINELLI, M. L. Notas sobre mediações: alguns elementos para sistematização da reflexão sobre o
tema. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 43, 2000.

______. Serviço Social: identidade e alienação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

MARX, K. O capital. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Os Economistas).

MCGOLDRICK, M.; GERSON, R. Genetograma e o ciclo de vida familiar. In: CARTER, B.; MCGOLDRICK,
M. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1995.

MCGOLDRICK, M.; GERSON, R.; SHELLENBERGER, S. Genograms: Assessment and Intervention. 2. ed.
Nova Iorque: W. W. Norton, 1999.

MEDINA, C. A. Entrevista: diálogo possível. São Paulo: Ática, 2002.

MEKSENAS, P. Aprendendo Sociologia: a paixão de conhecer a vida. São Paulo: Loyola, 1994.

MILEWESKI-HERTLEIN, K. A. The Use of a Socially Constructed Genogram in Clinical Practice, Am. J.


Fam. Thern., n. 29, p. 23-8, 2001.

MINGIONE, E. Fragmentação e exclusão: a Questão Social na fase atual de transição das cidades nas
sociedades industriais avançadas. Dados, Rio de Janeiro, v. 41, n. 4, 1998. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581998000400001>. Acesso em: 13 abr. 2012.

MIOTO, R. C. T. Família e Serviço Social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 1, 1997.

______. Perícia social: proposta de um percurso operativo. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n.
67, p. 145-57, 2001. Número especial.
117
______. Trabalho com famílias: um desafio para os assistentes sociais. Textos & Contextos, ano 3, n. 3,
dez. 2004.

MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.

MOORE, C. W. O processo de mediação. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

MOTA, A. E. As dimensões da prática profissional. Revista Anual do Grupo de Estudo sobre Ética –
GEPE/Pós-graduação em Serviço Social da UFPE, Recife, ano 3, n. 3, 2003.

MUSTAFÁ, A. M. Reflexões sobre o projeto ético, político e profissional do Serviço Social. Revista Anual
do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Ética – GEPE/Pós-Graduação em Serviço Social da UFPE, Recife,
ano 3, n. 3, 2003.

NASCIMENTO, L. C. Crianças com câncer: a vida das famílias em constante reconstrução. 2003. 233 p.
Tese (Doutorado em Enfermagem) – Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem/EE/
EERP/USP, Ribeirão Preto, 2003.

NETTO, J. P. Para a crítica da vida cotidiana. In: NETTO, J. P.; CARVALHO, M. C. B. Cotidiano:
conhecimento e crítica. São Paulo: Cortez, 1999.

______. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

______. Introdução ao método da teoria social. In: CFESS/ABEPSS. Serviço Social: direitos sociais e
competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

NICHOLS, M. P.; SCHWARTZ, R. C. Terapia familiar: conceitos e métodos. Porto Alegre: Artmed, 1998.

NICOLAU, M. C. C. Formação e fazer profissional do assistente social: trabalho e representações sociais.


Serviço Social & Sociedade, n. 79, 2004.

NOGUEIRA, V. M. R.; MIOTO, R. C. T. Sistematização, planejamento e avaliação das ações dos assistentes
sociais no campo da saúde. In: MOTA, A. E. et al. Serviço Social e saúde: formação e trabalho
profissional. São Paulo: Cortez, 2006. Disponível em: <http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_
saude/texto2-6.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

PIRES,S. R. A. O instrumental técnico na trajetória histórica do Serviço Social pós-movimento de


reconceituação. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 9, n. 2, jan./jun. 2007. Disponível em: <http://
www.uel.br/revistas/ssrevista/c-v9n2.htm>. Acesso em: 20 abr. 2012.

OLIVEIRA, J. Constituição federal de 1988: atualizada até EC n. 39/02. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2002.
118
OLIVEIRA, M. T. (Re)pensando a instrumentalidade do Serviço Social: o significado dos registros
profissionais. Curitiba, ago. 2000. Apostila mimeo.

OLIVEIRA, R. N. C. A mediação na prática profissional do assistente social. Serviço Social & Sociedade,
São Paulo, n. 26, 1988.

PASTORINI, A. A categoria “Questão Social” em debate. São Paulo: Cortez, 2004. (Questões da Nossa
Época, 109).

PAVARINI, S. C. I. et al. Genograma: avaliando a estrutura familiar de idosos de uma unidade de saúde
da família. Rev. Eletr. Enf., Goiânia, v. 10, n. 1, p. 39-50, mar. 2008.

PAVEZ, G. A.; OLIVEIRA, I. M. C. Vidas nuas, mortes banais: nova pauta de trabalho para os assistentes
sociais. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 70, 2002.

PEREIRA, P. A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2002.

PEREIRA, L. D. Os impactos das transformações societárias para o Serviço Social: um breve balanço da
relação de mercado de trabalho, condições de trabalho dos assistentes sociais e projeto ético-político
profissional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS, 10., 2001, Rio de Janeiro. Anais...
Disponível em: <http://www.ts.ucr.ac.cr/eventos/br-cbass-con-10-po.htm>. Acesso em: 13 abr. 2012.

PILLITTERI, A. Child Health Nursing: Care of the Child and Family. Filadélfia: Lippincott Williams e
Wilkins, 1999.

PLACIER, F. C.; VELASCO, C. L. M. Familia simultánea: una perspectiva diferente de família mixta o
reconstituída. Revista Chilena de Psicología, Santiago, n. 1, v. 10, 1989.

POCHMANN, M.; AMORIN, R. (Org.). Atlas da exclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.

PONTES, R. N. Mediação e Serviço Social: um estudo preliminar sobre a categoria teórica e sua
apropriação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

PRADO, D. O que é família? São Paulo: Brasiliense, 1981. (Primeiros Passos, 50).

QUIROGA, C. Invasão positivista no marxismo: manifestações no ensino da Metodologia no Serviço


Social. São Paulo: Cortez, 1991.

RAICHELIS, R. Esfera pública e conselhos de assistência social: caminhos da construção democrática.


São Paulo: Cortez, 1998.

RAUBER, M. Grupo social na 3ª idade: perfil e motivos que levam idosos a participar do Grupo Reviver
de Barros Cassal – RS. Santa Cruz do Sul: Unisc, 2003.
119
REIS, M. B. M. Notas sobre o projeto ético-político do Serviço Social. CRESS 7. Região – RJ. In:
Assistente Social: ética e direitos – Coletâneas de Leis e Resoluções. 4. ed. Rio de Janeiro, 2003.

REIS, J. R. T. Família, emoção e ideologia. In: ANDERY, A. et al. Psicologia social: o homem em
movimento. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004.

RIBEIRO, M. S. A questão da família na atualidade. Florianópolis: Ioesc, 1999.

ROSAVALLON, P. La nueva cuestión social: repensar el Estado providencia. Buenos Aires: Manantial, 1995.

SAMARA, E. M. As mulheres, o poder e a família. São Paulo: Marco Zero e Secretaria de Estado da
Cultura de São Paulo, 1989.

SANTOS, C. M. Dos instrumentos e técnicas: intenções e tensões na formação profissional do assistente


social. Juiz de Fora: Libertas, 2004.

SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 4. ed. Rio de Janeiro: WVA, 2002.

SAWAIA, B. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 6. ed.
Petrópolis: Vozes, 2006.

SCHIMIDT, M. F. Nova história crítica. São Paulo: Nova Geração, 2008.

SCHONS, S. M. Assistência social entre a ordem e a des-ordem: mistificação dos direitos sociais e da
cidadania. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

SERRA, R. M. S. A prática institucionalizada do Serviço Social: determinações e possibilidades. 2. ed.


São Paulo: Cortez, 1983.

SILVA, A. A. (Coord.). O Serviço Social e o popular: resgate teórico-metodológico do projeto profissional


de ruptura. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

______. A profissão de assistente social. São Paulo: PUC, 2005.

SILVA, M. O. Formação profissional do assistente social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

SOUSA, A. M. C. A ética e o cotidiano do assistente social. Revista Anual do Grupo de Estudo sobre
Ética – GEPE/Pós-graduação em Serviço Social da UFPE, v. 3, n. 2, 2002.

SOUSA, C. T. A prática do assistente social: conhecimentos, instrumentalidade e intervenção


profissional. Emancipação, Ponta Grossa, v. 8, n. 1, 2008. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.
br/index.php/emancipacao/article/view/119/117>. Acesso em: 13 abr. 2012.

120
SOUZA, A. D. O capitalismo e a destruição da identidade cultural. Serviço Social & Realidade, Franca,
UNESP, v. 13, n. 2, jul. 2004.

SOUZA, M. L. Serviço Social e instituição: a questão da participação. São Paulo: Cortez, 1995.

SOUZA, R.; AZEREDO, V. G. O assistente social e ação competente: a dinâmica cotidiana. Serviço Social
& Sociedade, São Paulo, n. 80, 2004.

SPOSATI. A. et al. A assistência social na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em
análise. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

SZYMANSKI, H. Viver em família como experiência de cuidado mútuo: desafios de um mundo em


mudança. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 71, 2002.

TARKO, M. A.; REED, K. Family Assessment and Intervention. In: BOMAR, P. J. (Ed.). Promoting Health in
Families: Applying Family Research and Theory to Nursing Practice. 3. ed. Filadélfia: Saunders, 2004. p.
274-303.

THOUVENIN, C. A palavra da criança: do íntimo ao social. In: GABEL, M. Crianças vítimas de abuso
sexual. São Paulo: Summus, 1997.

TOMAZI, N. D. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Moderna, 2000.

TRINDADE, R. L. P. Desvendando o significado do instrumental técnico-operativo na prática


profissional do Serviço Social. 1999. 338 p. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Escola de Serviço
Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.

______. Instrumental técnico-operativo do Serviço Social e sua articulação com o espaço sócio-
ocupacional e com os projetos profissionais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS,
10., 2001, Rio de Janeiro. Anais... Disponível em: <http://www.ts.ucr.ac.cr/eventos/br-cbass-con-10-po.
htm>. Acesso em: 13 abr. 2012.

TRINDADE, R. R.; SILVA, J. L.; BISPO, P. K. G. O mercado de trabalho do assistente social e o governo
Lula. In: JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS, 3., 2007, São Luís. Anais... 2007 São Luís:
UFMA, 2007.

VALLA, V. V. A revalorização da educação popular numa conjuntura de crise. In: Congresso Anped GT
de Educação Popular 22., Caxambu. Anais... Caxambu: Anped, 1998.

VALENTE, M. L. C. S. O estudo social nas varas de família e a população infantojuvenil como sujeito de
direitos. Cidadania e Justiça, Brasília, ano 5, n. 11, 2001, p. 187-92.

VASCONCELLOS, A. M. A prática do Serviço Social: cotidiano, formação e alternativas na área da saúde.


São Paulo: Cortez, 2002.
121
VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.


São Paulo: Martins Fontes, 1988.

VINOGRADOV, S.; YALOM, I. D. Manual de psicoterapia de grupo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

VOLNOVICH, J. R. (Org.). Abuso sexual na infância. Rio de Janeiro: Lacerda, 2005.

WAGNER, A. (Org.). Família em cena: tramas, dramas e transformações. Petrópolis: Vozes, 2002.

WANDERLEY, M. B.; BOGUS, L.; YASBEK, M. C. (Org.). Desigualdade e a Questão Social. São Paulo: Educ,
2000.

WELTER, B. P. Igualdade entre as filiações biológica e socioafetiva. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003.

WRIGHT, L. M.; LEAHEY, M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção na família. 3.
ed. São Paulo: Roca, 2002.

YAMAMOTO, O. H. É o cotidiano uma questão para o marxismo? Serviço Social & Sociedade, São Paulo,
n. 54, 1997.

YASBEK, M. C. Pobreza e exclusão social: expressões da Questão Social no Brasil. Temporalis, n. 3,


2001.

______. Trabalho individual social. São Paulo: Cortez, 2003.

ZANETTI, I. Serviço Social judiciário: perícia social e os rumos da profissão. Disponível em: <www.
abepss.ufcs.br/CO_sociojur.htm> Acesso em: 13 abr. 2012.

Sites

<http://www.ibge.gov.br>

Exercícios

Unidade II – Questão 1: FUNDAÇÃO DE AMPARO E DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA (FADESP).


Concurso Público Prefeitura Municipal de Breves 2011. Cargo: Assistente Social Educacional. Questão
40. Disponível em: <http://concursos.fadesp.org.br/breves2011/BrevesResultado/ASSISTENTE%20
SOCIAL%20EDUCACIONAL.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

Unidade II – Questão 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA (UFRB). Concurso


Público para Servidor Técnico-Administrativo 2011 – Serviço Social. Questões 34, 39, 42, 43, 49.
122
Disponível em: <http://www.concursos.ufba.br/tecnicos_adm/2010/provasconcurso/ufrb/
ASSISTENTE%20SOCIAL.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

Unidade III – Questão 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE (UFAC). Concurso Público para Provimento
de Cargos de Técnico-administrativo em Educação de Níveis Superior e Médio 2010 – Assistente Social.
Questão 56. Disponível em: <http://www.questoesdeconcursos.com.br/prova/arquivo_prova/8689/
ufac-2010-ufac-assistente-social-prova.pdf>. Acesso em 13 abr. 2012.

Unidade III – Questão 2: CESPE/UNB – ECT. Concurso Público Nacional para Provimento de Vagas e
Formação de Cadastro Reserva em Cargos de Nível Superior e de Nível Médio 2011 – Assistente Social.
Questões 66-70. Disponível em: <http://www.questoesdeconcursos.com.br>. Acesso em: 13 abr. 2012.

123
124
125
126
127
128
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

Você também pode gostar