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Análise de Discurso Crítica:

Repercussão no Ensino

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Análise de Discurso Crítica:
Repercussão no Ensino
Autora: Profa. Joana da Silva Ormundo
Professora conteudista: Joana da Silva Ormundo

Doutora em Linguística pela Universidade de Brasília e mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Licenciada na área de Letras: Língua Portuguesa e Língua Inglesa pela Universidade
de Mogi das Cruzes. Iniciou licenciatura em Língua Portuguesa e Latim pela Universidade de São Paulo (interrompida
pela entrada no mestrado).

Atualmente, vinculada aos grupos de pesquisa do CNPq por meio da Universidade Paulista e da Universidade
de Brasília, com interesse nas questões sobre representação social, narrativas de vida e mídias sociais. Membro do
Grupo Brasileiro de Estudos de Discurso, Pobreza e Identidade – Rede Latinoamericana (Redlad), da Asociación
Latinoamericana de Estudios del Discurso (Aled) e do Centro de Pesquisa em Análise de Discurso Crítica (Cepadic‑UnB).

Lecionou por 14 anos na Educação Básica em São Paulo e no Distrito Federal. Foi coordenadora‑geral de Língua
Portuguesa no Distrito Federal, especificamente, trabalhando com formação continuada de professores de Língua
Portuguesa para o Ensino Médio e repensando o currículo para a área de Linguagem e suas Tecnologias.

Professora‑titular da Universidade Paulista desde 2000. Em 2001, começou a coordenar o curso de Letras no
campus Brasília. Em 2011, foi transferida para São Paulo e, desde então, está na coordenação do curso de Letras
no campus Vergueiro. Como professora, atua na área de Linguística e Ensino. Responde pela liderança de algumas
disciplinas e pelo Laboratório de Linguagem e Tecnologia dos cursos de graduação da UNIP. Coordena o projeto de
pesquisa Multimodalidade, Redes Sociais e Práticas de Letramento: Aprender e Ensinar com Gêneros na Sala de Aula
e no Campo Linguístico On‑line. Compartilha a coordenação do curso de pós‑graduação em Língua Portuguesa e
Literatura em Contextos Escolares com as professoras Lígia Menna e Maria Otília. Realizou projetos de metodologia
de ensino da língua em contextos on‑line no Programa de Pesquisa docente da UNIP e orienta trabalhos de pesquisa
nessa área. Também é professora‑titular concursada da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo, na área de
Língua Portuguesa, Comunicação e Humanidades.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Z13 Zacariotto, William Antonio

?
Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William
Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol.

il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230.

1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título

681.3

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Juliana Mendes
Lucas Ricardi
Sumário
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Introdução............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 Linguagem e Contexto Escolar: da Pós‑Modernidade à Globalização............... 11
1.1 Pós‑modernidade e estrutura política: temas relevantes para abordar no
contexto escolar............................................................................................................................................ 14
1.2 Compreender a cibercultura para repensar o contexto escolar......................................... 15
1.2.1 Informatização e mudanças no contexto escolar: novas formas de saber..................... 18
1.2.2 Mudança nos meios de comunicação e implicações para o ensino: do modo
de produção ao modo de informação........................................................................................................ 18
1.2.3 Narrativas no contexto da pós‑modernidade: contribuições para repensar a
prática escolar...................................................................................................................................................... 21
1.2.4 Por uma Teoria Social do Discurso: linguagem e prática social........................................... 22
1.2.5 Vozes da globalização como mediação e construção de sentido........................................ 24
1.2.6 Linguagem e ensino: discurso da mídia......................................................................................... 25
1.3 Análise de Discurso Crítica e Teoria Semiótica.......................................................................... 26
1.3.1 Conceitos relevantes no percurso da abordagem crítica do discurso................................ 27
1.3.2 O percurso teórico da Análise de Discurso Crítica: do quadro tridimensional à
transdisciplinaridade......................................................................................................................................... 34
1.3.3 A proposta bidimensional: análise textual externa e interna................................................ 36
1.3.4 A proposta transdisciplinar da Análise de Discurso Crítica.................................................... 37
1.4 Da prática social à globalização...................................................................................................... 41
Introdução

Iniciaremos nosso contato no curso de pós‑graduação em Língua Portuguesa e Literatura em


Contexto Escolar por meio da disciplina Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino. É um prazer
conhecê‑lo e compartilhar o conhecimento da perspectiva discursiva crítica e alguns aspectos da
semiótica social, por meio das discussões sobre o texto multimodal, com o objetivo de contribuir para
repensarmos as práticas escolares em uma sociedade globalizada e tecnológica. Para estreitarmos nosso
diálogo, segue uma breve apresentação.

Os conteúdos propostos nesta disciplina estão organizados de forma que propiciem a você
oportunidades de reflexão sobre os aspectos sociais e tecnológicos e sobre o impacto da globalização na
reconfiguração das instituições sociais. Os tópicos desenvolvidos têm por objetivo desvelar as mudanças
sociais e a implicação dessas mudanças na configuração da linguagem, bem como de que forma o
entendimento desses aspectos pode contribuir para pensarmos em novas estratégias, novas práticas
sociais e novas práticas discursivas no contexto escolar.

Pretendemos despertar, durante os apontamentos apresentados neste curso, o diálogo, a reflexão


e o repensar a prática, contribuindo para o seu crescimento profissional e ampliando seu olhar sobre a
relação entre linguagem, sociedade e ensino.

O momento do nosso encontro será nos fóruns de discussão propostos no Ambiente Virtual de Aprendizagem
(AVA). Sugerimos que as discussões apresentadas nos fóruns tenham como orientação a perspectiva crítica
sobre como podemos contribuir para a transformação social, especialmente, para transformar nossa prática
em relação ao ensino de Língua Portuguesa e Literatura em uma sociedade globalizada e tecnológica.

No decorrer do texto, será indicada a leitura complementar, principalmente do site do Cepadic e


alguns vídeos. Sugerimos que os assuntos tratados nos vídeos orientem nossas discussões nos fóruns.

As questões apresentadas neste livro‑texto têm como propósito apontar caminhos e possibilidades
de diálogo com as teorias discursivas e semióticas, visando à reflexão sobre como repensar a prática
escolar em um contexto de uma sociedade globalizada e informatizada.

Este livro‑texto tem como objetivo apresentar aos estudantes de pós‑graduação, interessados
nos estudos da linguagem e do discurso, os elementos introdutórios relativos ao universo teórico e às
categorias analíticas da teoria linguística denominada Análise de Discurso Crítica e Semiótica Social.

Esperamos contribuir para a reflexão por meio da qual os alunos do curso de pós‑graduação em
Língua Portuguesa e Literatura em Contexto Escolar da Universidade Paulista vislumbrarão possibilidades
de pensar nas práticas escolares, mediante teorias que analisem os estudos da linguagem e do discurso
relacionados às práticas sociais instauradas na pós‑modernidade e na globalização.

O interesse em organizar os temas discursivos, no contexto da sociedade pós‑moderna e global,


originou‑se da experiência acadêmica da autora na área de Estudos do Texto, do Discurso e da
Semiótica. Compreendemos que as mudanças sociais que caracterizam a sociedade atual, por meio da
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reestruturação e da reorganização do período moderno em direção a uma sociedade pós‑moderna e
globalizada, ocasionam a reconfiguração nas formas pelas quais as pessoas atuam socialmente diante de
práticas já conhecidas. Tais práticas se tornam, no momento atual, estranhas, devido à nova organização
social decorrente dos efeitos da globalização e do avanço tecnológico no contexto da conexão de uma
sociedade em rede.

Para situarmos o leitor em relação à nossa compreensão de como a Linguagem se configura na


sociedade atual, recorremos à perspectiva da Análise de Discurso Crítica (ADC), pois essa abordagem
teórica nos fornece os elementos de que necessitamos para investigar as práticas de linguagem e a
produção de sentido nos diversos campos sociais.

Para a realização desse nosso projeto, consideramos os trabalhos de Norman Fairclough sobre os
estudos da linguagem, uma vez que esse autor conceitua a linguagem sempre vinculada às mudanças
sociais contemporâneas, ao impacto desta na vida social e à forma dos sujeitos de utilizá‑la, bem como
os sentidos produzidos.

A ADC considera a linguagem como uma forma de prática social. A análise da linguagem nessa
perspectiva visa desvelar os fundamentos ideológicos próprios da linguagem como prática social.

O leitor deve considerar que a linguagem está vinculada ao social. Conforme aponta Fairclough
(2006), o caminho para investigá‑la é por meio da transdisciplinaridade ao dialogar com outras teorias
sociais, com os aspectos relacionados a economia, política e cultura, à semiótica social e à perspectiva
multimodal. Dessa forma, a perspectiva teórica da ADC diferencia‑se de outras teorias do discurso,
pois tem como prioridade estudar as práticas sociais e discursivas que ocorrem em uma sociedade
pós‑moderna, globalizada e tecnológica.

A perspectiva da Análise de Discurso Crítica por meio dessa abordagem nos fornece condições teóricas
e metodológicas para a investigação das práticas sociais e dos discursos que nelas se instauram, em
consonância com as mudanças que ocorrem no contexto escolar devido aos aspectos da globalização
e das novas tecnologias que nos apresentam um perfil de aluno interconectado com as descobertas,
que a Internet tem nos oferecido, de uma interação mediada na relação entre professor, aluno, Internet
e construção do conhecimento.

Sustentamos a organização deste material com base nos trabalhos dos autores da perspectiva de ADC,
Teoria Social e Multimodalidade. As pesquisas de Ormundo (2007), Wetter (2009) e Ormundo e Wetter
(2013) orientam o percurso escolhido para a apresentação das questões do discurso, da linguagem, da
produção de sentido e dos elementos teóricos, metodológicos e analíticos propostos pela perspectiva
discursiva crítica por meio de uma abordagem transdisciplinar.

Na primeira unidade, será apresentado o momento social atual, considerando alguns aspectos da
pós‑modernidade e da globalização, bem como aspectos sociais que contribuem para a constituição de
uma sociedade no ambiente da cibercultura, da constituição de uma sociedade em rede e midiática. Em
seguida, discorreremos a respeito da linguagem e de sua configuração no momento da globalização.
Depois, será exposta a perspectiva da Teoria Social do Discurso sobre o percurso em que a ADC se
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constitui como uma perspectiva teórica e metodológica para a análise das práticas de linguagem, por
meio dos discursos que circulam socialmente. Para isso, recorremos aos trabalhos de Norman Fairclough
e fazemos a leitura do movimento dessa teoria, partindo do quadro tridimensional e chegando à
análise social. Nessa última proposta, é considerada a materialização do projeto transdisciplinar como
abordagem das práticas de linguagem em uma sociedade globalizada e essencialmente tecnológica,
conforme apontado em Ormundo (2007) e Ormundo e Wetter (2013).

Na segunda unidade, serão apresentadas a perspectiva da semiótica social e as categorias de análise


com base na gramática da sintaxe visual e da modalização. Discorreremos também sobre o papel da
mídia em uma perspectiva crítica, com base nos estudos de Gunther Kress e van Leeuwen, apresentando
modelos de análise e proposta de atividade para o ensino na área de Linguagem e Tecnologia na Educação
Básica e no Ensino Superior.

Desejamos a você um ótimo curso!

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Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Unidade I
1 Linguagem e Contexto Escolar: da Pós‑Modernidade à
Globalização

A pós‑modernidade, a globalização e os avanços tecnológicos trazem mudanças profundas na forma


pela qual a linguagem é configurada nas práticas sociais das instituições globalizadas. As consequências
dessas mudanças devem ser apresentadas para você a fim de que possa compreender como os discursos
institucionais têm se transformado, especificamente, no contexto escolar. Antes de aprofundarmos o
assunto, sugerimos uma reflexão inicial para ativar seu conhecimento prévio e depois aprofundá‑lo com
base nas indicações tratadas neste tópico.

Exemplo de aplicação

Com base no seu conhecimento prévio, já acumulado, sobre a organização da sociedade, discorra sobre
as características da sociedade moderna e, depois, sobre as características da sociedade pós‑moderna,
contemplando a organização do ensino e o papel da tecnologia nessas sociedades. Se preferir, responda
sobre esse assunto por meio das seguintes questões:

1) O que você entende por sociedade moderna e sociedade pós‑moderna?

2) Quais os efeitos da pós‑modernidade e da globalização no ensino?

3) Como as novas tecnologias interferem no ensino?

Para que você tenha um referencial do que se tem produzido sobre as mudanças da sociedade atual,
apontaremos alguns aspectos da globalização com o objetivo de contribuir para uma reflexão sobre o
impacto dessas mudanças sociais e o avanço tecnológico na forma pela qual novas práticas escolares
têm sido exigidas. Há uma reorganização das instituições globais que tem afetado profundamente a
linguagem, tornando‑a cada vez mais multimodal.

Para ajudá‑lo a pensar no assunto, sugerimos que reflita sobre quais os acontecimentos relevantes
que afetaram nossa vida neste início do século XXI. Há vários autores sociais dedicados a tratar sobre o
assunto. Em Giddens (2000a), temos os seguintes elementos:

• o fato de que vivemos em uma sociedade pós‑industrial;

• a ideia de que atingimos um período pós‑moderno;

• a teoria a respeito do fim da história.


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Unidade I

Giddens (2000a) entende que o início do século XXI é marcado como um momento de transição para
uma nova sociedade que já não se assenta essencialmente na industrialização; estaríamos entrando em
uma fase de desenvolvimento para muito além dessa era. Para o autor, a chegada de uma sociedade
pós‑industrial coloca a antiga ordem industrial como ultrapassada pelo desenvolvimento de uma nova
ordem baseada no conhecimento e na informação.

Temos, também, essa discussão nas obras de Zygmunt Bauman sobre modernidade líquida. Bauman
(2001) afirma que a fluidez ou a liquidez são as metáforas mais adequadas para caracterizar o atual
estágio da modernidade. Referindo‑se ao que chama de modernidade líquida e aludindo à célebre frase
sobre derreter os sólidos do Manifesto Comunista de Marx e Engels, o autor afirma que:

[...] os poderes de derretimento da modernidade afetaram primeiro as


instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das
ações‑escolhas possíveis, como estamentos hereditários com sua alocação
por atribuição, sem chance de apelação [...].

Essas são razões pra considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas


adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de
muitas maneiras, na história da modernidade (BAUMAN, 2001, p. 3; 9‑10).

Trata‑se de uma chamada inicial da obra de Bauman ao discutir os aspectos da modernidade


líquida com base na distinção entre sólido e líquido, bem como os sistemas de produção e organização
econômica, política e cultural. Bauman apresenta uma série de publicações em torno do assunto.
Sugerimos uma visita a uma livraria para ver os vários textos publicados pelo autor sobre a configuração
de uma sociedade líquida. Para introduzi‑lo nas ideias de Bauman, convidamos você a assistir os vídeos
elaborados pelo portal Fronteiras do Pensamento, pelo programa Milênio e pelo site Educação 360.

Saiba mais

Para saber mais sobre sociedade moderna (sólida) e sociedade pós‑moderna


(líquida) com base nos estudos do Zygmunt Bauman, assista ao vídeo:

DIÁLOGOS com Zygmunt Bauman. Fronteiras do Pensamento,


29 minutos, 2011. Disponível em: <https://archive.org/details/
DilogosComZygmuntBauman>. Acesso em: 30 out. 2015.

Exemplo de aplicação

Após assistir ao filme, vá ao fórum e discorra sobre as questões a seguir:

1) Consideramos que o mundo pós‑moderno apresenta‑se fragmentado e multifacetado. Como isso


se reflete na e pela linguagem?

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Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

2) Por que o entendimento desse modelo de sociedade é importante para pensarmos na forma pela
qual você deve pensar sua prática no contexto escolar?

Outro aspecto relevante da pós‑modernidade está relacionado às formas de representação,


identidade e consumo, bem como aos efeitos colaterais da sociedade líquida e globalizada. Giddens
(2000a) refere‑se ao mundo da alta modernidade como o da sociedade que extrapola as fronteiras
das atividades individuais, apresentando riscos e perigos com base na reconfiguração das relações
interpessoais, no acesso à informação e na construção do conhecimento.

As questões de insegurança, de incerteza e de periculosidade vivenciadas pela humanidade, além da


instabilidade em relação ao emprego, da grande difusão da criminalidade, dos ataques terroristas, da
crise econômica mundial e do desenvolvimento da Internet como uma rede de conexão planetária que,
ao mesmo tempo que disponibiliza conhecimento, veicula em tempo real os acontecimentos mundiais
e as transações comerciais, instaura um novo paradigma em relação às identidades por intermédio de
uma cultura da simulação, na qual se valoriza, sobremaneira, a representação do real (e não a realidade),
como podemos constatar nas formas pelas quais os sujeitos são representados e se representam nas
mídias sociais, por exemplo, a transformação dos eventos sociais em um espetáculo, caracterizado como
uma sociedade do espetáculo.

Saiba mais

Para saber sobre as consequências de uma sociedade de consumo, a


espetacularização do discurso e os efeitos colaterais da globalização,
sugerimos que veja o vídeo a seguir:

NÓS HIPOTECAMOS o futuro, de Zygmunt Bauman. Milênio, 23


minutos, 2011.

Vamos ao fórum discutir sobre os efeitos colaterais da globalização com


base no vídeo de Bauman?

Você também pode assistir ao vídeo:

OLHO na escola: especial Zygmunt Bauman. Futura, 25 minutos, 2015.

E ao filme:

BLING ring: a gangue de Hollywood. Dir. Sofia Coppola, 95 minutos, 2013.

Você pode passá‑lo em sala de aula para refletir com os alunos.

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Unidade I

Exemplo de aplicação

Após verem o filme Bling Ring: A Gangue de Hollywood, vamos discutir no fórum sobre as questões
apontadas a seguir e a relação delas com o filme.

1) Entendemos que a linguagem se materializa em imagem e que esta é um signo poderoso,


circulando pelo planeta em inúmeros filmes, vídeos, programas de TV e pela Internet. Essa rapidez
da circulação das imagens possibilita também a circulação de valores, de crenças, de modos de ser,
tornando‑os universais, constituídos por outros valores, crenças e modos de ser de outras culturas
espalhadas pelo globo. Uma das ferramentas que aceleram esse processo consiste no computador.
Ele passa a ser o nosso objeto de desejo, pois possibilita o acesso à Internet, e, por seu intermédio,
recebemos o mundo em nossa casa e saímos também para o mundo, de certo modo, libertos de
nosso invólucro material e de nossa identidade real.

2) Circulamos hoje totalmente desvinculados dos grilhões das eras passadas, somos mentes
flutuantes, identidades simuladas, vidas imaginariamente germinadas on‑line, transitando em
um mundo de superfícies mutáveis.

1.1 Pós‑modernidade e estrutura política: temas relevantes para abordar


no contexto escolar

Ao pensar na pós‑modernidade e no momento atual em que as estruturas políticas estão sendo


questionadas pelos movimentos sociais que eclodem no contexto das mídias sociais, apresenta‑se outra
forma de reorganização das questões de gênero, políticas, culturais e econômicas, desvelando‑nos
uma reorganização das práticas sociais, conforme podemos constatar nas palavras de Lima (1988, p.
57‑58) ao tratar sobre a política no mundo pós‑moderno, como apresentada no pensamento Rouanet.
O autor afirma que ela está voltada para a sociedade civil e busca a conquista de objetivos de grupos ou
segmentos da sociedade, colocando‑se, assim, em oposição à política moderna que atuava no Estado e
buscava a conquista ou a manutenção do poder estatal.

Na política pós‑moderna, o indivíduo cede seu lugar aos grupos, e suas finalidades não são mais
universais, tornando‑se micrológicas. A política especifica‑se, passando a ser atributo de quem faz parte
de campos setoriais de dominação: a dialética homem/mulher, antissemita/judeu, etnia dominante/
etnias minoritárias.

Assim, extinguiram‑se os grandes atores políticos universais. Não existe mais um “poder” central
localizado no Estado, mas um poder difuso, estendendo sua rede por toda a sociedade civil. Tem‑se,
desse modo, uma pós‑modernidade social que se dá a conhecer no plano da vida cotidiana por uma
onipresença do signo, do simulacro, do vídeo e da hipercomunicação.

Ainda se referindo ao pensamento de Rouanet, Lima (1998, p. 75) observa que não há uma superação
da política moderna pelo surgimento dos movimentos segmentares (feministas, homossexuais, ecologistas,
negros, índios etc.). Ocorre apenas um enriquecimento do campo político; portanto, o nascimento de outros
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Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

atores políticos não representa uma ruptura com a modernidade em favor de uma política pós‑moderna.
Ao contrário, demonstra a concretização de uma tendência imanente do liberalismo moderno, que, por
meio de sua doutrina dos direitos humanos, tornou possível a existência de um espaço fértil para a criação
de novos direitos defendidos por novos atores sociais, de acordo com novas estratégias.

É necessário também salientar que o período da pós‑modernidade apresenta as ameaças ecológicas


que a humanidade tem de enfrentar – ameaças essas globais, que são um perigo para o planeta. Os três
tipos principais de ameaças ao ambiente são a produção de desperdícios, a poluição e o esgotamento de
reservas minerais. Elas são desencadeadas pelo desenvolvimento e pela expansão global das instituições
sociais ocidentais associadas à importância dada ao crescimento econômico. Os aspectos apresentados pelo
autor consistem em temáticas relevantes para discutir no contexto escolar no ensino de Língua Portuguesa
e Literatura, e, como especificado no Ensino Médio, na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.

Exemplo de aplicação

Pesquise sobre o discurso da sustentabilidade e os acordos das organizações globais que tratam sobre
o tema e reflita sobre como esses assuntos refletem nas práticas sociais da sociedade atual, por meio
da organização dos movimentos sociais e políticos, bem como da reorganização das práticas a partir do
avanço tecnológico, dos novos paradigmas para a educação e da conexão de uma sociedade em rede.

1.2 Compreender a cibercultura para repensar o contexto escolar

Ao pensarmos no fenômeno dos movimentos sociais que eclodiram no Brasil em junho de 2013 e
no início de 2015, temos uma nova configuração no processo de organização dos movimentos sociais.
Inicialmente, materializada pelo discurso dos 0,20 centavos e, mais recentemente, nos discursos em
torno das questões políticas e econômicas, bem como dos efeitos dos protestos, nas ruas, contra as
práticas de corrupção no sistema político brasileiro. Um elemento novo é apresentado. Qual é esse
elemento? Trata‑se da “convocação” das pessoas comuns a ir para a rua. Vozes como “Vem pra rua!”
ecoam nas redes sociais, decorrentes da conexão da sociedade em rede, das mídias sociais, da diversidade
de vozes que circulam nessa conexão.

Esses movimentos não são isolados do que ocorreu em outras partes do mundo. Trata‑se de um dos
efeitos do processo de globalização e da configuração da sociedade em rede.

Saiba mais

Para saber mais sobre essa tendência global dos novos movimentos
sociais, você pode ver este vídeo de Manuel Castells:

REDES de indignação e esperança. Fronteiras do Pensamento, 19


minutos, 2014.

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Unidade I

Por que iniciamos a discussão sobre o ciberespaço por meio da contextualização desses movimentos
sociais? Porque eles materializam os efeitos do que Manuel Castells apresenta em suas obras sobre
A Sociedade em Rede (1999), A Galáxia da Internet (2003) e, a mais recente, Redes de Indignação e
Esperança (2013), esta com o propósito de analisar os movimentos que se configuraram a partir das
redes sociais, incluindo o fenômeno Brasil.

O avanço das novas tecnologias desencadeou uma discussão no meio acadêmico e na mídia sobre
a forma pela qual a sociedade e as práticas de linguagens se consolidaram e ainda se consolidam no
contexto do ciberespaço.

As linguagens na contemporaneidade mudaram radicalmente em decorrência dos efeitos da


globalização e da revolução tecnológica com a emergência das novas tecnologias da informação e
comunicação (NTIC). Elas, da noite para o dia, possibilitaram a sujeitos e instituições o acesso, em
tempo real, a bancos de dados on‑line, aos softwares e a outras tecnologias cognitivas e provocaram
mudanças profundas na forma pela qual a sociedade se reorganizou tanto institucionalmente quanto
no uso da linguagem.

Castells (2003) define a Internet como um meio que permite a comunicação de muitos com muitos,
num momento escolhido, em escala global. Como definir a rede? A rede pode ser definida como um
conjunto de agentes que compartilham normas, valores e objetivos, podendo estabelecer‑se no âmbito
do Estado, no mercado e na sociedade civil. Fukuyama (2000, p. 210‑11) aponta duas características
importantes da rede:

• ela é diferente de um mercado na medida em que é definida por suas normas e seus valores
comuns. Isso significa que as trocas econômicas dentro de uma rede serão realizadas em bases
diferentes daquelas das transações em um mercado;

• ela é diferente de uma hierarquia porque se baseia em normas comuns informais, não em uma
relação formal de autoridade.

Castells (2003, 2014) define as redes como multimodais e como um conjunto de nós interconectados.
Para o autor, a formação de redes é uma prática humana antiga. Durante a história do homem, as redes
foram suplantadas como ferramentas de organizações capazes de congregar recursos em torno de
metas centralmente definidas.

Ele acrescenta ainda que as redes eram o domínio da vida privada, em uma sociedade que
apresentava hierarquias centradas no feudo do poder e da produção, mas que nos dias atuais
elas foram ganhando vida nova por meio da introdução da informação e das tecnologias de
comunicação. Segundo o autor, a Internet possibilita às redes dos dias de hoje uma vantagem
enorme se comparada à maneira pela qual eram organizadas no passado: elas saem de um
ambiente centralizado e se constituem em um ambiente com vantagens extraordinárias como
ferramentas de organização, em virtude de sua flexibilidade e adaptabilidade inerentes, o que
para o sociólogo é uma característica essencial de sobrevivência e prosperidade num ambiente
que está em rápida transformação.
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Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Nesse âmbito mutante, os sujeitos participantes do processo e vinculados ao ambiente das redes
sociais, principalmente aos usuários das linguagens no campo linguístico on‑line, organizam‑se em rede
com o propósito de acúmulo de capital social – de informação, econômico, político – do qual dependem,
com um ingrediente diferenciado: estão mais flexíveis para atender às mudanças sociais e adaptados
às transformações constantes do que aqueles que se encontram desconectados do que acontece na
dinâmica do mundo on‑line.

O que motiva a reunião de pessoas no ambiente da rede é o interesse comum entre esses agentes,
visando atingir um fim específico. A flexibilidade marcada pelo ambiente da rede on‑line também é
marcada pelo fluxo das pessoas que migram de um gênero a outro com muita liberdade. Esse movimento
marca a democratização e a transparência das decisões e funções sociais que motivam os sujeitos
a estarem organizados neste ou naquele grupo.

A nova estrutura social é baseada em redes e motivada pelos três processos que Castells apontou
como independentes, mas que no final do século XX se uniram. Os processos citados pelo autor são:

• a exigência, apresentada pela economia, de flexibilidade administrativa e globalização do capital,


da produção e do comércio;

• a demanda da sociedade por valores da liberdade individual e da comunicação aberta;

• a base da revolução microeletrônica, que possibilitou os avanços extraordinários na computação


e nas telecomunicações.

Castells (2003) aponta que esses fatores alteraram a forma pela qual a Internet era utilizada. Partiu
daquilo definido por ele como uma tecnologia obscura, centrada no mundo isolado dos cientistas
computacionais, dos hackers e das comunidades contraculturais, e transformou‑se em um instrumento
importante para o estabelecimento de uma nova forma de sociedade – a sociedade em rede.

A configuração de uma sociedade em rede no ambiente da globalização desestrutura toda a forma


mecanicista de organização da sociedade, surgindo, assim, uma nova economia e também novas
configurações das práticas sociais com as linguagens no ambiente da rede.

Saiba mais

Sugerimos que você pesquise os vídeos do sociólogo Manuel Castells


sobre ciberespaço e educação. Veja, por exemplo:

A OBSOLESCÊNCIA da educação. Fronteiras do Pensamento, 4 minutos, 2014.

Agora, vamos discutir sobre a proposta de uma nova prática escolar


para a construção do conhecimento apresentada por Castells no fórum?

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Unidade I

1.2.1 Informatização e mudanças no contexto escolar: novas formas de saber

As mudanças relativas à informatização na era pós‑moderna são discutidas também por Lyotard
(2004), no momento em que o filósofo analisa o estatuto do saber na sociedade pós‑industrial. A
premissa fundamental de Lyotard consiste em dizer que o saber mudou a partir dos anos 1960‑1970.
Anteriormente, ele fazia parte da formação de todo indivíduo para que se tornasse um cidadão
participante. Assim, o indivíduo entregava‑se ao processo de interiorização do saber.

A escola e os professores eram os donos do saber universal e os principais responsáveis pela


transmissão do conhecimento aos alunos, os quais, por definição, tinham um saber incompleto. O
desnível justificava a autoridade do professor e a obediência do aluno.

A partir da informatização, o saber passa a viver uma explosiva exteriorização: torna‑se


abundante e acessível. Já não há o desnível, de um modo geral, em relação ao professor e ao aluno,
quanto à informação. O desnível ocorre no modo de utilização do conhecimento.

O saber perde sua condição de uso, passa a ter um valor de venda e vincula‑se às questões do
poder econômico e político, ou seja, ele é a moeda que define, na cena internacional, os jogos
hegemônicos (entre as nações, entre as empresas multinacionais). Acrescentamos que, no nosso
entender, o conhecimento hoje está intimamente vinculado às questões econômicas e de poder, e esse
poder se refere tanto a quem o detém quanto àquele que, via Internet, o difunde, atribuindo‑lhe, assim,
o que Lyotard chama de valor de troca.

Saiba mais

Sugerimos que você pesquise os vídeos de Pierre Lévy sobre o conceito


de cibercultura. Há vários vídeos. Selecionamos o vídeo a seguir para iniciar
o debate sobre cibercultura, informatização da sociedade e educação.

ENTREVISTA com Pierre Lévy. Formas do Saber. Sesc TV, 21 minutos,


2012. Documentário.

1.2.2 Mudança nos meios de comunicação e implicações para o ensino: do modo de


produção ao modo de informação

Ainda na direção das mudanças advindas da sociedade da informação e conectada em rede, temos
em Ormundo (2007) a discussão sobre como as transformações apontadas por Mark Poster ocorrem
nos meios de comunicação de massa. O autor diferencia o conceito de modos de produção e modos
de informação. Para Poster (2000), a pós‑modernidade baseia‑se em uma sociedade orientada pela
disponibilidade de informações, e a circulação dessas informações, na conexão de uma sociedade em
rede. O autor discute essas questões por meio de uma Teoria Social Crítica com base no surgimento e na
expansão dos meios de comunicação na vida cotidiana das pessoas e na sociedade em geral.
18
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Para o autor, o século XX instaurou novos tipos de ação e de discurso com o telefone, o rádio, a
televisão e a Internet. Segundo ele, a vida cotidiana transformou‑se radicalmente no último século
devido aos avanços tecnológicos, e são essas transformações que distinguem, especificamente, a
globalização.

Tais transformações trazem algo que nos interessa particularmente ao tratarmos sobre o ensino
das linguagens no contexto escolar. Para a compreensão dessa relação, deve‑se estudar o papel da
linguagem que se reconfigura na nova mídia. Será por meio do entendimento dos novos discursos que
se instauram nesse meio que se poderá entender a constituição da linguagem.

Poster (2000) encara os sistemas de comunicação eletrônica como linguagens determinantes da


vida dos indivíduos e dos grupos em todos os seus aspectos (social, econômico, cultural e político),
muito mais do que ocorreu na perspectiva do marxismo tradicional, em que funcionaram como simples
dispositivos instrumentais e nada ou muito pouco alteraram as relações de poder.

Os meios e as formas de comunicação constituem, segundo o autor, tipos de discurso determinantes


das relações de poder e de dominação nas sociedades contemporâneas. Assim, Poster (2000 apud
ORMUNDO, 2007, p. 71) defende como tese geral que “o modo de informação decreta uma reconfiguração
radical da linguagem, que constitui sujeitos fora do padrão do indivíduo racional e autônomo”.

É interessante em Poster que o modo de informação mostrará como o “sujeito familiar moderno é
deslocado pelo ‘modo de informação’ em favor de um que seja múltiplo, disseminado e descentrado”.
Esse movimento da visão do sujeito consiste na marca da globalização e da sociedade contemporânea,
que é caracterizada por instabilidade, flexibilidade e descentralização.

Essa discussão apontada em Ormundo (2007, 2013) é relevante para a perspectiva discursiva crítica
nas pesquisas que analisam a forma pela qual o sujeito e a estrutura social são transformados por meio
da reconfiguração da linguagem, especificamente no trabalho sobre a linguagem no campo linguístico
on‑line. Eles são marcados pela influência da globalização e pela instabilidade das coisas, uma vez
que a rapidez com que as mudanças ocorrem devido ao conhecimento e à circulação da informação
transforma a relação do sujeito com o conhecimento.

Um dos exemplos de Poster (1996, 2000) sobre como o modo de informação dissolve o que se
encontrava estável na modernidade consiste na transformação que aconteceu na passagem da
informação impressa à informação eletrônica em tempo real.

O autor cita o exemplo do livro impresso: na interação de produtor e receptor há um isolamento


espaçotemporal entre eles, devido à materialidade espacial da imprensa, à linearidade das frases, à
estabilidade da palavra impressa na página e ao espaço ordenado de forma sistemática, por meio
das letras pretas em fundo branco. Isso tudo promove, segundo Poster (1996, 2000), o afastamento,
já que o produto é consumido no isolamento. Esse exemplo serve para demonstrar como a relação
de autoridade é criada na modernidade, por meio do distanciamento entre quem produz e quem
consome o produto.

19
Unidade I

Exemplo de aplicação

Com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação, houve uma reconfiguração no
sistema de produção baseado pelos modos de informação. Uma dessas reconfigurações consistiu na
disponibilização do sistema de livros digitais. Reflita a respeito disso, correlacionando a superestrutura
e as características de acesso dos livros digitais e dos livros impressos no processo de construção de
conhecimento no contexto escolar.

A proposta teórica de Poster sobre como o modo de informação entende as linguagens no ambiente
tecnológico é contrária à teoria tradicional de como a informação circulava antes da conexão da
sociedade em rede. A lacuna existente na imprensa entre produtor e receptor também aparece no
ambiente tecnológico, mas há alteração no processo relacional devido à possibilidade de comunicação
em tempo real e de interação entre os agentes envolvidos nessa relação, possibilitada pelas ferramentas
próprias dos gêneros de comunicação dos websites.

A comunicação mediada pelo computador possibilita tanto a aproximação quanto o distanciamento


entre os agentes envolvidos na situação comunicativa. Poster (2000, p. 73) diz que nas comunicações
eletrônicas “a linguagem é entendida como performativa, retórica, como um veículo ativo na construção
e [no] posicionamento do sujeito”. O papel do agente no processo de comunicação mediada pelo
computador aparece em Poster (2000, p. 73) como alguém que se constitui como um “outro”, pois está
em um ambiente dinâmico e sujeito a ser reconfigurado em “diferentes pontos do tempo e do espaço”,
conforme consta em Ormundo (2007).

Por meio das questões apontadas em Poster, pode‑se verificar em Ormundo (2007) como
esse movimento possibilita entender que a linguagem já não representa a realidade e não é uma
ferramenta instrumental que enfatiza a racionalidade mecânica das estruturas sociais. A linguagem
reconfigura a realidade.

Dessa forma, as estruturas sociais são afetadas por meio da linguagem. Não é possível manter‑se
imune diante dessa reconfiguração; ao reconhecê‑la, as formas de organização das estruturas sociais
são transformadas e a perspectiva da ADC fornece os elementos teóricos para tratar dessa mudança
social no que se refere às mudanças na linguagem no momento da globalização.

Para compreender essa questão, a autora recorre aos estudos de Norman Fairclough (2006), no que
se refere ao fato de que os meios de comunicação de massa foram apresentados como desempenhando
um papel importante na constituição de novas escalas, na transformação das relações entre as escalas,
na reescala das entidades espaciais e na construção e consolidação da nova “dificuldade” entre um
regime de acumulação e um modo de regulamentação social.

Para o autor, todos esses processos dependem da disseminação social dos discursos, narrativas, ideias,
práticas, valores etc., sobre a sua legitimação, a posição e mobilização dos públicos em relação a eles
e a geração do consentimento para, no mínimo, aceitarem a mudança. Elementos interessantes para
discutirmos no contexto escolar. Por meio das narrativas, desvelar crenças, valores, ideias, configurações

20
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

das opiniões tanto no campo linguístico on‑line (mídias sociais – Facebook) e como se interconectam
para a vida “fora” do ambiente da rede.

1.2.3 Narrativas no contexto da pós‑modernidade: contribuições para repensar a


prática escolar

Vivemos hoje em um mundo no qual toda história que é relatada a alguém passa por inúmeros
veículos: TV, cinema, celular, Internet, video games, segundo Jenkins (2009), em uma entrevista à
Revista Superinteressante. O fluxo dessa história, portanto, é moldado tanto por decisões tomadas pelas
companhias que produziram o conteúdo quanto pelos sujeitos que a recebem. O referido autor chama
esse estado da produção e difusão da informação de cultura da convergência.

Nesse contexto cultural, o conteúdo idealizado pelo produtor é apenas uma parte do processo
e, muitas vezes, não a principal. Um programa de TV, exemplifica o autor, depois de criado, será
reeditado e redistribuído pela Internet, e, com certeza, o público irá falar sobre ele em novas redes
sociais, e serão escritas novas histórias a partir dele. O conteúdo original torna‑se apenas um
pontapé inicial, a partir do qual o consumidor criará novas experiências. O foco agora, portanto,
está em histórias contadas por várias modalidades de veículos, conhecidas como transmidiáticas:
em cada mídia diferente, a história ganha uma nova camada, que nos conta algo que não
saberíamos assistindo ao programa de TV. O autor exemplifica com a série Lost, considerada a
mais famosa da última década. Nos EUA, Lost é veiculada por meio de livro, game e em episódios
para celular.

Estamos, ainda na visão do autor, na época da cultura participativa, de grandes culturas de


mídia, e, em uma década, não teremos mais uma empresa que produza conteúdo apenas para a
TV, outra para rádio, outra para jornal, veremos grandes indústrias de mídia, que englobarão tudo
isso. Essa vontade de participação das pessoas foi impulsionada pelo avanço da tecnologia e resulta
em uma mudança de comportamento: antes apenas recebíamos a informação; hoje produzimos
e participamos, e isso muda radicalmente nossas vidas porque a comunicação está em tudo que
realizamos. Podemos, ainda segundo o autor (op. cit.), acompanhar a rotina de nossos filhos, enquanto
trabalhamos, por meio de um vídeo deles veiculado no celular. Essa nova abordagem da comunicação
mudou, inclusive, o modo pelo qual escolhemos os políticos. O autor cita a eleição de Barack Obama,
que veiculou sua campanha em todas as mídias sociais possíveis, de YouTube a video games, e isso
será significativo se notarmos que ele ganhou as eleições, enquanto seu opositor, John McCain, que
nunca usou a Internet, não foi eleito. O autor conclui que “uma sociedade que possibilita a exposição
de seus pensamentos na rede e o acesso a ideias de outras pessoas cria um enorme potencial para o
avanço da democracia”.

Assim, ao conhecermos esses elementos históricos constitutivos da era da globalização, podemos


investigar com maior propriedade e acuidade os processos discursivos que aí se instauram e, com essa
contextualização a respeito do período histórico atual, vamos a outro tópico do nosso livro‑texto
que consiste em apresentar, no viés da perspectiva crítica, a importância da linguagem na sociedade
globalizada e repensarmos as práticas escolares.

21
Unidade I

Saiba mais

Para tratarmos do momento atual, sugerimos o vídeo e os textos que


seguem:

MORIN, E. É preciso educar os educadores. O Globo, Rio de Janeiro,


20 ago. 2014. Entrevista. Disponível em: <http://www.fronteiras.com/
entrevistas/entrevista‑edgar‑morin‑e‑preciso‑educar‑os‑educadores>.
Acesso em: 29 out. 2015.

OS LIMITES do conhecimento na globalização. Fronteiras do Pensamento,


3 minutos, 2014.

RANGEL, A. A educação não pode ignorar a curiosidade das crianças, diz


Edgar Morin. O Globo, Rio de Janeiro, 17 ago. 2014. Disponível em: <http://
oglobo.globo.com/sociedade/educacao/educacao‑360/a‑educacao‑nao
‑pode‑ignorar‑curiosidade‑das‑criancas‑diz‑edgar‑morin‑13631748>.
Acesso em: 30 out. 2015.

Após ver os vídeos de Edgar Morin, vamos discuti‑los no fórum.

1.2.4 Por uma Teoria Social do Discurso: linguagem e prática social

A relação entre linguagem e prática social é construída nos trabalhos de Fairclough até se
concretizar na proposta atual de relacionar a linguagem e a globalização como um tópico da pesquisa
social (FAIRCLOUGH, 2003a, 2003b, 2006).

A abordagem sobre linguagem e suas relações de poder foi apresentada, respectivamente, por
Fairclough (1989, 1995) em Language and Power e em Critical Discourse Analysis. O foco dessa
investigação é centrado na ligação que há entre linguagem em uso e relações desiguais de poder,
com o propósito de desvelar como o exercício de poder na sociedade é instaurado na análise da
linguagem e no diálogo com teóricos sociais que privilegiaram a questão da linguagem nas suas
teorias, especialmente Pierre Bourdieu e Jürgen Habermas, além da proposta de abordar a linguagem
em uma perspectiva interdisciplinar e da articulação do quadro tridimensional (veremos adiante) para
o estudo do discurso.

Em Fairclough (1996), a relação da linguagem com questões ligadas à economia foi apresentada
na Primeira Conferência Internacional sobre Análise de Discurso Crítica, realizada na Universidade de
Lisboa. O linguista considera que as mudanças dos processos sociais são mediadas linguisticamente,
portanto ele aproxima a pesquisa em ADC das transformações econômicas, sociais, políticas e culturais
da vida contemporânea.

22
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Outro ponto relevante desse encontro foi a ideia defendida por Fairclough de que, na Teoria Social,
a forma linguística tem de ser compreendida pela mudança na linguagem, uma vez que os aspectos da
vida social estão centrados na linguagem.

Fairclough (1996) estabeleceu o conceito de marketização do discurso, aliando‑o às


transformações econômicas que se instauraram nos processos de mudança do novo capitalismo e
da constante influência das novas tecnologias. Esse modelo de sociedade transforma as relações
entre linguagem e economia, além de possibilitar o surgimento de novos domínios das práticas
discursivas do mercado. Dessa forma, a linguagem passa por céleres mudanças ao ser econômica
e linguisticamente interpenetrada e pelo fato de as mercadorias apresentarem cada vez mais
aspectos culturais e semióticos. A mercadoria linguística inclui os produtos da cultura industrial
que passam a representar um instrumento importante nas relações sociais, econômicas e culturais
que se estabeleceram na era da globalização.

Um exemplo de como esse processo ocorre é demonstrado por Fairclough (1996) mediante as
funções e os aspectos estéticos próprios do design, tais como a produção de programas de entrevistas, de
propagandas, de notícias de TV, que têm como meta persuadir e atrair o consumidor. O autor estabelece
que o design estético da linguagem como mercadoria tem uma característica multissemiótica,
principalmente em textos contemporâneos que permitem atribuir o conceito de linguagem mercadológica
e que, na obra de 2006, vinculam‑se a uma abordagem transdisciplinar ao contemplar os aspectos de
uma economia política cultural.

O linguista entende que o discurso é o novo caminho para perceber e pesquisar a linguagem como
uma forma de prática social, e essa relação se constitui no decorrer de seus trabalhos.

Em Fairclough (1992), o termo discurso está associado ao uso da linguagem falada ou escrita e
com indícios de inclusão dos elementos semióticos. Ao referir‑se ao uso da linguagem como discurso, o
autor sinaliza o seu desejo de investigá‑lo por um método informado social e teoricamente como forma
de prática social. Percebe‑se, com isso, que a linguagem está vinculada à prática social e, por isso, deve
ser investigada como modo de ação e de representação. Assim, a pesquisa crítica sobre o discurso é o
caminho de ação para realizar tal investigação.

Fairclough (2000) discute o poder da linguagem no jogo de interesses que envolve as relações
entre os agentes nas práticas sociais por meio da Análise de Discurso Crítica do Novo Trabalhismo
Britânico. O autor refere‑se ao fato de que eventos e personalidades políticas passam à condição
de produtos e a linguagem utilizada nessa prática social molda‑se para satisfazer à necessidade
discursiva de uma economia neoliberal, bem caracterizada pelo contexto do novo trabalhismo
retratado nessa obra.

Nesse contexto, Fairclough (2000) mostra ser fundamental o papel da linguagem como parte da prática
social. Para exemplificar a importância da linguagem, o autor utiliza o cenário político‑governamental
do novo trabalhismo em que a linguagem é incrementada por aspectos multimodais por meio da
imagem e da postura de Tony Blair, então primeiro‑ministro britânico. Vale a pena analisar as formas de
representação de Tony Blair no cenário político aqui referido.
23
Unidade I

Exemplo de aplicação

Sugerimos discutir o assunto tratado aqui com base nos filmes:

1984. Dir. Michael Radford. 113 minutos, 1984.

V de vingança. Dir. James McTeigue, 132 minutos, 2006.

Estabelecendo um diálogo entre o filme baseado na obra 1984, de George Orwell, e V de Vingança,
podemos ter um debate interessante sobre o conceito de sociedade moderna e sociedade pós‑moderna.

1.2.5 Vozes da globalização como mediação e construção de sentido

Em Language and Globalization (2006), Fairclough classifica algumas vozes da globalização (análise
acadêmica, agências governamentais, organizações não governamentais, mídia e pessoas comuns).
Ressaltaremos aqui a importância que o autor dá à voz da mídia e à mediação, com o propósito de
entender a mediação como parte de um modo de superar a distância na comunicação. As pessoas, ao
se comunicarem com outras distantes, usam mídias particulares, tais como a televisão (TV), a Internet,
o telefone, o rádio. Essas mídias têm seus próprios códigos, convenções, formatos, gêneros e assim por
diante, os quais afetam o caráter da comunicação de maneira particular (SILVERSTONE, 1999).

Fairclough (2006) afirma que as pessoas têm suas próprias experiências da globalização na sua vida
comum e nas várias comunidades das quais fazem parte, mediante o que elas recebem dos meios de
comunicação (TV, Internet, rádio e outros). As pessoas reagem a isso de modo muito particular e diverso
e agem em resposta ao que recebem da produção de representações que se constituem como parte
significante da fala e da escrita a respeito da globalização.

Como a voz da mídia transita por todas as outras vozes, ela tem uma força maior no processo de
construção dos significados e, dessa forma, produz representações, as quais são também uma parte
significante de toda fala e escrita a respeito da globalização. As outras vozes circulam na voz da mídia e
esta também transita nas outras vozes. Esse processo dialético se dá do seguinte modo:

Organizações
não
governamentais

Agências Mídia
governamentais

Análise Voz da Pessoas


acadêmica mídia comuns

Figura 1 – Vozes da globalização

24
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

A contribuição desse esquema para nossa discussão sobre o contexto escolar será apresentada na
Unidade II, por meio das atividades sugeridas para aplicação em contexto escolar.

Quanto às vozes da globalização, temos:

• análise acadêmica: voz que apresenta características teóricas e analíticas cujo propósito é produzir
descrições, interpretações e teorias;

• agências governamentais: voz que se constitui nos discursos de governos nacionais, líderes
políticos e organizações que são partes do Governo, tais como ministérios e comissões, governo
local e agências de governo internacionais;

• organizações não governamentais: voz que se constitui nos discursos de corporações empresariais,
partidos políticos, instituições de caridade e corporações, tais como o Greenpeace;

• mídia: voz que veicula os discursos da imprensa, do rádio, da TV, da Internet e, em termos gerais,
de todas as entidades que contribuem para o papel social da mediação;

• pessoas comuns: vozes que reproduzem experiências particulares em relação à globalização, tais
como na interação face a face e na interação mediada.

Compreendemos que o conjunto das vozes da globalização é o lugar em que se processam a


globalização e a reconfiguração da linguagem. Consideramos, também, que a voz da mídia é muito
relevante para essa perspectiva discursiva, pois todas as outras vozes circulam por ela.

Como o discurso da mídia é fundamental na relação que exerce entre as outras vozes da globalização,
passamos para o próximo tópico, em que podemos refletir sobre o discurso da mídia e a relação entre
linguagem e ensino.

1.2.6 Linguagem e ensino: discurso da mídia

As questões apresentadas até o momento expuseram os aspectos que giram em torno das
práticas de linguagem na globalização. Espera‑se que essas discussões contribuam para que
o professor e o pesquisador reflitam e encontrem novos caminhos na organização do seu
trabalho em contexto escolar. Olhar para as práticas de linguagem por meio da abordagem
transdisciplinar proposta pela Análise de Discurso Crítica consiste na mobilização de novas
práticas sociais, nas quais se apresentam aspectos de uso da linguagem como forma de poder
e capital simbólico – a linguagem podendo representar jogos de cultura promocional quando
determinados usuários se apropriam dos elementos multissemióticos para se representarem
em determinadas práticas sociais.

As práticas de linguagem na globalização configuram‑se como forma de representação que


materializa a relação de poder no qual sujeitos a utilizam para realizar uma performance a fim de
demonstrar o seu grau de conhecimento e experiência sobre determinado assunto próprio do campo
25
Unidade I

em que atuam. A linguagem transforma a ação dos sujeitos sociais nos diversos campos e se reconfigura
como capital simbólico no processo de atuação desses sujeitos.

Outro ponto a considerar é que as práticas de linguagem na globalização apresentam uma


reconfiguração da linguagem ao exercer determinadas funções que citaremos a seguir:

• A linguagem funciona como forma simbólica, por meio da sua constituição discursiva multimodal
e do processo de apropriação de acúmulo de capital econômico, político e cultural de seu usuário
refletido na linguagem como capital simbólico.

• A linguagem é instrumento com propósito claro de argumentação para a reivindicação de um espaço.

• A linguagem é modalizadora, pois produz a modalidade visual ao utilizar os diversos elementos


semióticos para representar uma ideia. Esses fatores mostram que a linguagem, ao reconfigurar a
realidade, funciona como um instrumento relevante de poder em defesa de interesses particulares.

• A linguagem se reconfigura, como um jogo de encenações em torno de interesses particulares,


por meio de processos linguísticos, interativos, multimodais, hipertextuais e da prática social,
bem como da representação (confiabilidade, experiência, poder, produto) dos que a usam com
propósitos específicos.

Consideramos que as questões aqui discutidas abrem caminho para investigar as práticas de
linguagem com um olhar mais adequado ao momento atual. Para isso, apontaremos na Unidade II alguns
passos de uma proposta discursiva transdisciplinar em construção conforme os estudos discursivos
críticos que visam olhar a linguagem em uma perspectiva de transformação social no contexto escolar.

1.3 Análise de Discurso Crítica e Teoria Semiótica

A perspectiva de Fairclough (2006) apresenta uma discussão sobre a reestrutura e a reescala do


capitalismo que trarão um ingrediente semiótico que instaura uma nova ordem do discurso e novas
relações entre gêneros, discurso e estilo para a análise da linguagem. O referido autor considera que a
transformação do capitalismo teve um sentido semiótico baseado na economia do conhecimento e na
sociedade do conhecimento e da informação. O autor acrescenta que essa transformação envolveu o
movimento dos discursos e a questão da reescala, e cita, como exemplo, os discursos da nova gerência
pública e da gerência de qualidade que apresentam novas maneiras de agir e de interagir e novos
gêneros. Isso é tratado em Fairclough (2006) na relação que a linguagem da globalização estabelece
com os movimentos políticos, organizações não governamentais (ONGs) e outras vozes da globalização.

Observação

O conceito de reescala consiste em um dos aspectos da globalização


discutidos por Fairclough (2006). O autor indica cinco vozes da globalização,
que apresentamos no tópico anterior.
26
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Fairclough (2003b, 2006) afirma que as transformações no capitalismo têm ramificações em toda a
vida social e que, ao se utilizar a globalização como tema de pesquisa, deve‑se voltar para os interesses
de como as transformações sociais no capitalismo impactam a política, a instrução, a produção artística
e outras áreas da vida social. Para o autor, a atual transformação envolve uma reestruturação das
relações entre os domínios econômicos, políticos e sociais, incluindo a marketização dos campos – a
lógica econômica do mercado. Trata‑se de um projeto político para facilitar a reestrutura e a reescala
das relações sociais de acordo com as demandas do capitalismo global (Fairclough, 2003b, 2006;
Bourdieu, 1990).

Fairclough (2003b, 2006) declara, ainda, que a pesquisa social contemporânea tem de
contemplar as mudanças da globalização. O autor entende que o estudo de aspectos da
linguagem na globalização tornou‑se uma área de pesquisa significativa para os analistas
de discurso crítico e sugere que a linguagem pode ter um papel significativo nas mudanças
socioeconômicas contemporâneas.

Segundo Fairclough (2003b, 2006), a Análise de Discurso Crítica tem contribuições importantes para
pesquisar as transformações do capitalismo e acrescenta que pesquisadores sociais deram relevância
a isso, conforme ocorreu no trabalho de Bourdieu e Wacquant (2005), os quais buscaram caracterizar
determinados termos linguísticos usados no contexto da globalização, exatamente na relação de poder
e de reivindicação com base em uma orientação discursiva.

Para o linguista, a análise de Bourdieu e Wacquant (2005) dá a indicação de que a pesquisa social
necessita da contribuição do analista do discurso, não no processo de criação de uma terminologia
apropriada, mas no que concerne a analisar textos e interações para mostrar como alguns dos efeitos
que esses autores identificaram são desvelados nas transformações socioeconômicas do capitalismo
novo e nas políticas dos governos.

Após essa pequena introdução de como a linguagem foi sendo apresentada na obra de Fairclough,
faremos uma síntese dos momentos da ADC. Partimos do modelo proposto como quadro tridimensional
(FAIRCLOUGH, 1989, 1992) até chegar à nova versão da ADC como análise transdisciplinar, conforme
apresentado na obra Language and Globalization (2006).

1.3.1 Conceitos relevantes no percurso da abordagem crítica do discurso

Há conceitos essenciais da abordagem discursiva que devem ser desvendados para a compreensão
da teoria. Encontramos esses conceitos na obra Práticas de Linguagem na Globalização: Introdução à
Análise de Discurso Crítica em uma Perspectiva Transdisciplinar, de Ormundo e Wetter (2013), conforme
exposto a seguir: texto, discurso, prática discursiva, prática social, ideologia e hegemonia,
intertextualidade, interdiscursividade, transdisciplinaridade.

O conceito texto é usado por Fairclough no mesmo sentido empregado por Michael Halliday: para
textos escritos e textos falados. Fairclough (1989, p. 24) enfatiza que o texto é um produto, em vez de ser
um processo; na verdade, um produto do processo de produção textual. O autor emprega esse conceito
tanto para os textos escritos quanto para transcrições de fala. O texto compreende um processo de
27
Unidade I

produção, do qual o texto é um produto; e um processo de interpretação, para o qual o texto é um


recurso. Fairclough (2006, p. 30) complementa a explicitação anterior por intermédio de especificações
mais detalhadas: esse termo não diz respeito apenas aos textos escritos, mas também à fala, como um
elemento ou momento dos eventos, e aos complexos textos multimodais da televisão e da Internet,
nos quais a língua é usada em combinação com outras formas semióticas (imagens, incluindo filmes e
fotografias, efeitos sonoros, linguagem corporal).

O discurso é considerado por Fairclough, em sua obra, o uso da linguagem como prática
social, constituindo um modo de ação e de representação. Existe uma relação dialética entre
o discurso e a estrutura social: ele contribui para a constituição de todas as dimensões das
estruturas sociais ao mesmo tempo que é moldado e restringido por elas. Assim, constitui e
ajuda a construir identidades, relações sociais e os sistemas de conhecimento e de crenças.
Esses aspectos constitutivos relacionam‑se a três funções da linguagem: à função identitária,
que diz respeito às maneiras pelas quais as identidades sociais são construídas nos discursos; à
função relacional, que se refere ao modo pelo qual as relações sociais entre os participantes do
discurso são representadas e negociadas; e à função ideacional, maneiras pelas quais os textos
significam o mundo e seus processos, identidades e relações. Embora discurso aqui englobe o
uso da linguagem escrita e da falada, é preciso estender esse conceito a outras modalidades
semióticas, tais como as referentes a elementos não verbais (gestos, imagens etc.), pois nossa
investigação transita também nesse contexto.

A prática discursiva, na abordagem de Fairclough (1992), realiza‑se como forma linguística, ou


seja, como texto. A análise de um discurso particular, como exemplo de prática discursiva, envolve os
processos de produção, de distribuição e de consumo textual, e a natureza desses processos se modifica
nas diversas modalidades de discurso de acordo com fatores sociais. Os textos são produzidos de modos
distintos em contextos sociais específicos. No universo midiático, um artigo jornalístico, por exemplo,
é produzido por meio de rotinas complexas engendradas por um grupo específico de profissionais,
que são responsáveis por seus vários estágios de produção: o acesso às fontes, a transformação dessas
fontes em textos jornalísticos, a primeira versão da reportagem, o seu lugar de publicação no jornal e a
edição da reportagem.

Observação

O conceito de ordens do discurso, emprestado de Foucault, refere‑se à


totalidade de práticas discursivas e à relação entre elas no interior de uma
instituição ou sociedade.

A prática social significa para Fairclough (2003a) uma forma relativamente estabilizada de atividade
social (ensino na sala de aula, notícias televisivas, refeições familiares, consultas médicas) que articula
vários elementos sociais no interior de uma configuração de certo modo estável e sempre inclui o
discurso. Toda prática inclui os seguintes elementos:

28
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Quadro 1 – Elementos constitutivos da prática social

Atividades Tempo e espaço


Sujeitos e suas relações sociais Formas de conscientização
Instrumentos Valores
Objetos Discurso

Fonte: Fairclough (2003a).

Esses elementos são em parte discursivos, mas isso não significa dizer que investigamos relações
sociais do mesmo modo que fazemos com a linguagem. Eles têm propriedades distintas.

Na verdade, a prática social aborda o conceito de discurso em relação à ideologia e ao poder. Situa
o discurso em uma perspectiva de poder como hegemonia e considera a evolução das relações de poder
como luta hegemônica (FAIRCLOUGH, 1992).

A noção de ideologia ancora‑se em Althusser. Há três asserções a respeito dessa noção que
estabelecem suas bases teóricas: ela tem existência material nas práticas das instituições, o que
possibilita a investigação das práticas discursivas como formas materiais de ideologia; ela interpela os
sujeitos; e os aparelhos ideológicos do Estado (a educação, a mídia) são marcos delimitadores das lutas
de classe, apontando para uma análise de discurso orientada ideologicamente. O conceito althusseriano
de ideologia é tomado por base, mas, ao mesmo tempo, é questionado por Fairclough, pelo fato de
apresentar uma noção de dominação como imposição unilateral e reprodução da ideologia dominante,
marginalizando a luta, a contradição e a transformação. Ideologias são apresentadas como significações
ou construções da realidade, que são constituídas nas várias dimensões dos sentidos ou formas das
práticas discursivas e que “contribuem para a produção, a reprodução ou a transformação das relações
de dominação” (FAIRCLOUGH, 1992). Os aspectos textuais ou discursivos que podem ser investidos
ideologicamente são ainda, segundo Fairclough (op. cit.), os sentidos das palavras, as pressuposições, as
metáforas, a coerência e o estilo de alguns textos.

A interpelação dos sujeitos pela ideologia é questão bastante complexa na perspectiva discursiva
crítica. Primeiro porque não se deve acreditar que as pessoas sejam conscientes da abrangência ideológica
de sua própria prática, pois as ideologias que afloram nas convenções podem, muitas vezes, cristalizar‑se,
tornando‑se conscientemente imperceptíveis. Além disso, mesmo quando os sujeitos realizam práticas de
resistência, que possivelmente contribuam para mudanças no âmbito da ideologia, a abrangência de sua
realização, geralmente, não é percebida. Assim, a importância dos estudos linguísticos que investigam
os processos ideológicos que afloram no discurso está na possibilidade de os sujeitos desenvolverem
uma consciência crítica maior a respeito de suas próprias práticas e daquelas às quais são submetidos.

A Análise de Discurso Crítica defende a postura dialética a respeito desses processos: o equilíbrio
entre sujeito efeito ideológico e sujeito agente. Ainda nessa perspectiva crítica da linguagem, as práticas
discursivas são investidas ideologicamente no momento em que contribuem para manter ou reestruturar
as relações de poder. Em princípio, as relações de poder podem ser afetadas por práticas discursivas
de todos os tipos, inclusive as teóricas e as científicas. As ideologias aparecem nas sociedades que se
29
Unidade I

caracterizam por relações de dominação com base na classe, no gênero social, no grupo cultural etc. À
medida que os sujeitos conseguem transcender tais sociedades, eles conseguem também transcender as
questões ideológicas, o que significa, portanto, que “nem todo discurso é irremediavelmente ideológico”
(FAIRCLOUGH, 1992, p. 121).

Os conceitos de hegemonia e poder, na perspectiva de Fairclough (1992, p. 122), estão amparados


no universo teórico de Gramsci. A luta hegemônica apresenta‑se em ampla perspectiva e considera as
instituições sociais (a família, os sindicatos, a educação), bem como considera as possíveis desigualdades
entre os diversos níveis e domínios. Hegemonia implica liderança e dominação nos segmentos econômico,
político, cultural e ideológico. Diz respeito à construção de alianças e vai muito além da simples
dominação de classes subalternas, pois se vale de concessões ou de componentes ideológicos para
obter o consentimento para a ação. Embora represente o poder de uma das classes economicamente
privilegiadas sobre as outras, essa dominação é parcial e temporária, como se espelhasse um equilíbrio
instável. Trata‑se de um elemento representativo de luta constante sobre pontos inconstantes entre
classes e segmentos sociais para reproduzir, reestruturar ou desafiar hegemonias existentes relacionadas
a formas econômicas, políticas e ideológicas.

Ao se considerar a abordagem discursiva em termos analíticos, pode‑se dizer que a análise textual
é organizada em quatro direções: investigação do vocabulário, da gramática, dos elementos de coesão
e da estrutura textual. O vocabulário é investigado por meio das palavras individualmente; a gramática,
por intermédio da combinação das palavras em frases ou orações; os elementos coesivos são analisados
em relação ao modo pelo qual organizam as junções dessas frases e orações; e a estrutura textual
é abordada em relação a suas propriedades de organização textual. Em relação à prática discursiva,
podem ser examinados elementos tais como a força dos enunciados, ou seja, os atos de fala (promessas,
pedidos, ameaças etc.) constituídos por eles, a coerência e a intertextualidade dos textos. A prática social
é investigada por intermédio do conceito de hegemonia, o qual fornece uma matriz para a análise das
relações de poder. Desse modo, a análise textual abrange aspectos de sua produção e interpretação, bem
como das propriedades formais de sua constituição.

O conceito de intertextualidade é primordial para a análise de textos no âmbito do quadro


investigativo ora proposto. Os textos são constitutivamente intertextuais, compostos por elementos de
outros textos. Existe uma inserção histórica do texto, pois ele responde, reacentua e reorganiza textos
passados e contribui para processos de mudança social ao influenciar textos subsequentes. Segundo
Fairclough (2001, p.135), “a rápida transformação e reestruturação de tradições textuais e ordens de
discurso é um extraordinário fenômeno contemporâneo, o qual sugere que a intertextualidade deve ser
o foco principal na análise de discurso”.

Observação

O termo intertextualidade foi cunhado por Kristeva, nos anos 1960,


com base no trabalho de Bakhtin a respeito do desenvolvimento de uma
abordagem intertextual.

30
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Assim, veremos que um texto se constrói em relação aos outros textos, ou seja, na perspectiva da
abordagem do outro relacionado ao já‑dito (antes, em outro lugar), se buscarmos fundamentação no
dialogismo de Bakhtin, o qual privilegia a dimensão de outro, de não um na sua abordagem do sentido,
princípio esse colocado como constitutivo do sujeito e da linguagem.

Observação

O princípio do dialogismo manifesta‑se na obra de Bakhtin por


intermédio de investigações feitas em relação ao plurilinguismo
(variedade de língua, estratificação em dialetos sociais, em falares de um
grupo, uma geração etc.), ao riso da cultura carnavalesca (a palavra popular
alegre, livre, lúcida), ao romance polifônico (a personagem como uma outra
consciência, estrangeira, mas não reificada, sua voz ressoando, ao lado
daquela do autor), às formas do discurso bivocal (a estilização, a paródia em
todas as gradações, o diálogo, o skaz estilizado – narração de uma pessoa
distanciada do autor e portadora de uma forma própria de discurso). Todas
essas abordagens são relevantes para o estudo da multiplicidade de vozes
que permeiam a comunicação humana (BAKHTIN, 1981).

A relação existente entre intertextualidade e hegemonia situa o espaço textual entre fronteiras que
estabelecem certas limitações relativas à apropriação de outros textos e a como estes podem transformar
e reestruturar as convenções existentes para gerar novos ambientes textuais. Também é preciso salientar
que a intertextualidade é socialmente limitada e condicionada às relações de poder circundantes, ao
mesmo tempo que pode apresentar‑se por meio de ordens de discurso influenciando a luta hegemônica
no momento em que são afetados por ela.

Em Problemas da Poética em Dostoiévski (1981), Bakhtin deixa clara essa perspectiva social da
linguagem citada no parágrafo anterior, quando afirma que a palavra nunca se apresenta neutra, como
se fosse tirada do dicionário. As palavras, ao passarem de boca em boca, ao mudarem de um contexto
ou de um meio social para outro, não perdem seu caminho, mas tampouco se libertam completamente,
pois, na verdade, elas não estão isentas das aspirações e das avaliações dos outros. A palavra, ao
mesmo tempo que vem pontilhada por outras palavras, já ditas em outro lugar, não se subjuga ao meio
constituído pela palavra do outro, pois na realidade não existe uma fusão completa; há sempre uma
ressalva, um distanciamento, uma refração.

Em Marxismo e Filosofia da Linguagem (1999), Bakhtin enfatiza a construção do discurso em relação


aos outros discursos e investiga as formas que, nos níveis sintático, discursivo e literário, ilustram
representações do discurso no discurso, da enunciação na enunciação e, ao mesmo tempo, de um
discurso sobre o discurso, de uma enunciação sobre a enunciação (BAKHTIN, 1999, p. 144).

Uma questão importante a considerar é a distinção entre intertextualidade manifesta e


intertextualidade constitutiva (ou interdiscursividade). A intertextualidade manifesta acontece
quando se recorre explicitamente a outros textos específicos em um texto; a interdiscursividade diz
31
Unidade I

respeito a como um tipo de discurso é constituído por intermédio de uma combinação de elementos de
ordens de discurso.

As questões relativas à intertextualidade, em uma perspectiva das teorias da enunciação, foram


estudadas em um artigo de 1982, escrito por Authier‑Revuz, no qual ela descreve as formas de
heterogeneidade mostrada presentes no discurso, vistas como manifestações dos diversos tipos de
negociação do sujeito falante com aquilo que a autora chama de heterogeneidade constitutiva.
Inicialmente apresenta as formas explícitas da heterogeneidade, ao afirmar que “No fio do discurso
que, de fato, um locutor único produz materialmente, um certo número de formas, linguisticamente
apreensíveis ao nível da frase ou do discurso, inscrevem, na linearidade, o outro”. Essas formas explícitas
da heterogeneidade são representadas de vários modos; alguns deles são os seguintes: o discurso
relatado (discurso direto, discurso indireto), as várias formas marcadas da conotação autonímica (aspas,
palavras em itálico, uma entonação, formas de comentário – glosa, retoque, ajustamento –, palavras
que nomeiam o outro, ou o traduzem, ou o explicam).

Observação

A conotação autonímica inscreve‑se na linearidade linguística no


momento em que o locutor faz uso de palavras inscritas no fio do seu
discurso e, ao mesmo tempo, mostra‑as. O locutor, nesse caso, é, ao mesmo
tempo, usuário e observador das palavras utilizadas.

Já a heterogeneidade constitutiva é, para a descrição linguística da heterogeneidade mostrada,


uma ancoragem necessária, na visão de Authier‑Revuz (1982), exterior à linguística, mesmo nas
formas mais explícitas, intencionais e delimitadas da presença do outro no discurso. A autora
busca fundamentação teórica para a heterogeneidade constitutiva em duas abordagens exteriores
à linguística: o dialogismo do círculo de Bakhtin e a psicanálise (por meio de uma releitura de
Freud feita por Lacan). Enfim, a heterogeneidade constitutiva refere‑se aos processos reais de
constituição de um discurso, e a heterogeneidade mostrada relaciona‑se aos mecanismos de
representação, no discurso, de sua constituição. Assim, no universo teórico da referida autora, esses
dois níveis distintos convivem lado a lado, solidariamente, e são as condições reais de existência de
um discurso e de sua representação.

Na perspectiva de Fairclough (2003b), é importante trabalhar de um modo transdisciplinar na


análise de discurso e de textos. A interdisciplinaridade engloba um grande número de práticas e inclui
o encontro de pesquisadores com conhecimentos e experiências consolidadas em diversas teorias
para atuarem com um propósito de pesquisa particular sem implicação de que as teorias disciplinares
e os métodos sejam afetados ou modificados por essa experiência. Já o trabalho transdisciplinar é
também um modo de trabalho interdisciplinar ou pós‑disciplinar. Sua principal perspectiva é a de
que o encontro e o diálogo entre disciplinas diversas durante a pesquisa de determinados assuntos
sejam abordados com o intuito de desenvolver categorias teóricas, métodos de análise, programas de
pesquisa etc. de uma área por meio da “lógica” da outra. Essa busca da transdisciplinaridade fica bem
clara em Fairclough (2003a).
32
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Há a necessidade de desenvolver abordagens de análise de texto por meio de um diálogo


transdisciplinar com perspectivas sobre linguagem e discurso imersos na teoria e na pesquisa social
para desenvolvermos nossa capacidade de analisar textos como elementos do processo social. Uma
abordagem transdisciplinar à teoria ou ao método analítico é uma questão de trabalhar com categorias
e lógica, ou, por exemplo, com teorias sociológicas para desenvolver uma teoria do discurso e métodos
para analisar textos. Inevitavelmente, esse é um projeto de longo prazo, iniciado de um modo modesto
nas discussões.

Naturalmente esse processo não se resume simplesmente no acréscimo de categorias


e conceitos oriundos de outras disciplinas e teorias (FAIRCLOUGH, 2003b), mas significa
trabalhar e elaborar os recursos teóricos e metodológicos próprios para ter condições de
abordar descobertas e problemas capturados em outras teorias e disciplinas do ponto de vista
do seu interesse particular (por exemplo, operacionalizar, nas análises textuais, perspectivas
sobre espaço e tempo que já foram investigadas na teoria social). A transdisciplinaridade é,
nesse ponto, uma perspectiva de análise bastante importante para o referencial da Análise
de Discurso Crítica atual. Ela é vista por Fairclough (2006, p. 12) como uma continuidade da
abordagem interdisciplinar.

Uma abordagem transdisciplinar, segundo Fairclough (2005, p. 16), pergunta “como um diálogo entre
duas disciplinas ou sistemas pode conduzir a um desenvolvimento de ambos por meio de um processo de
apropriação de cada um deles da lógica do outro como um recurso para seu próprio desenvolvimento”.
Desse modo, ainda na visão de Fairclough (2005), a abordagem transdisciplinar encontra‑se em oposição
às formas de interdisciplinaridade, as quais reúnem diferentes disciplinas em torno de temas e projetos
sem compromisso com a mudança de fronteiras e de relações entre elas.

Sintetizamos essas considerações junto com Chouliaraki e Fairclough (1999), ao afirmarem que as
construções teóricas do discurso, as quais a ADC tenta operacionalizar, podem vir de várias disciplinas,
e o conceito de operacionalização exige que se realize um trabalho de um modo transdisciplinar, no
qual a lógica de uma disciplina (por exemplo, a Sociologia) possa ser colocada em funcionamento para
desenvolver outra (por exemplo, a Linguística).

Assim, a busca atual de uma abordagem transdisciplinar, realizada no universo da abordagem


crítica do discurso, insere, nesses parâmetros investigativos, além das marcas da pesquisa inicial (que
assimilou ideias e categorias de outras disciplinas e teorias), uma forma outra de investigação que
trabalha também com os elementos constitutivos de outras áreas, o que permite a investigação do
discurso com parâmetros mais amplos, ancorados em uma perspectiva social, multissemiótica, situada
no contexto da globalização por intermédio da economia política e cultural.

Todos os conceitos apresentados anteriormente são fundamentais para a compreensão do aparato


metodológico‑investigativo que fundamenta a perspectiva crítica do discurso. Esse percurso anterior
desvenda e clarifica esses elementos, os quais situam a abordagem discursiva em um quadro referencial
específico. Acreditamos que as especificações referentes aos termos teóricos da ADC sejam sobremaneira
importantes para a real apreensão dessa teoria discursiva, bem como para procedimentos analíticos
nessa área.
33
Unidade I

1.3.2 O percurso teórico da Análise de Discurso Crítica: do quadro tridimensional à


transdisciplinaridade

Como nossa proposta consiste em apresentar a Teoria da Análise de Discurso Crítica, considerando
que essa proposta discursiva tem como contribuição a perspectiva da transformação, da mudança
social, apresentaremos uma síntese do desenvolvimento teórico da ADC com base na publicação do livro
Práticas de Linguagem na Globalização: Introdução à Análise de Discurso Crítica em uma Perspectiva
Transdisciplinar, de Ormundo e Wetter (2013).

As autoras ilustram o desenvolvimento da teoria por meio do esquema a seguir:

Texto, interação, contexto


Modelo tridimensional (1989)

Texto, prática discursiva, prática social


Modelo tridimensional (1992)

Análise textual: interna e externa


Modelo bidimensional (2003)

Análise social
Transdisciplinaridade (2006)

Figura 2 – Do quadro tridimensional à transdisciplinaridade

As autoras entendem o trabalho de Fairclough a partir da obra Language and Power (1989),
investigação triádica: texto, interação e contexto. Nesse livro, o autor enfatiza a abordagem da
linguagem em uso e o princípio de que ela seja um processo social que se constitui como parte da
sociedade. Nessa abordagem, o texto é visto como produto, em vez de ser o processo; trata‑se de
produto do processo de produção social (FAIRCLOUGH, 1989, p. 24). O discurso envolve todas as
condições sociais, que podem ser traduzidas como condição social de produção e como condição
social de interpretação. O autor acrescenta que essas condições sociais apresentam três níveis de
organização social que foram traduzidos como segue: a situação social, a instituição social e a
sociedade. Isso traduz a primeira dimensão tríade do trabalho de Fairclough (1989), conforme o
diagrama a seguir:

34
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Condição social de produção

Processo de produção

Texto

Condições sociais de interpretação


Interação
Processo de interpretação
Contexto

Figura 3 – Discurso como texto, interação e contexto

Fairclough (1989, p. 26) enfatiza que a linguagem como discurso e como prática social deve ser
analisada na relação entre textos, processos e suas condições sociais, conforme apresentado na Figura 3.

Essa tríade é reapresentada na obra Discourse and Social Change (Fairclough, 1992), por meio
do estabelecimento de três dimensões, concomitantemente, para a análise do discurso – texto,
prática discursiva e prática social –, discutidas em uma abordagem denominada Análise de Discurso
Textualmente Orientada. Essas três etapas são apresentadas pelo autor conforme o diagrama que segue.

Texto

Prática discursiva
(produção, distribuição e consumo)

Prática social

Figura 4 – Concepção tridimensional do discurso

As três dimensões apontadas na Figura 4 ocorrem, simultaneamente, em todo evento discursivo. No


nível textual, conteúdo e forma são analisados. A análise textual permite perceber como as estruturas
sociais se apresentam em uma relação dialética com atividades sociais e com textos. Ambos são formas
significativas de atividade social. Não podemos esquecer o crescente uso dos textos como fonte de
informações e de dados, e como bons indicadores de mudança social, pois evidenciam processos de
acordo com os fatores sociais envolvidos.

No nível da prática discursiva, que é a ligação entre texto e prática social, temos os processos de
produção, de distribuição e de consumo do texto. Esses processos são sociais e estão relacionados
a contextos sociais: ambientes econômicos, políticos, culturais e institucionais específicos. O autor
acrescenta que há dimensões sociocognitivas de produção e de interpretação de texto. A análise da
prática discursiva foi apresentada no modelo de 1992 como mediadora entre o texto e a prática social
e inclui não só uma precisa explanação de como os participantes em uma interação interpretam
35
Unidade I

e produzem textos, mas também como as relações dos eventos discursivos são representadas em
ordens do discurso.

A análise da terceira dimensão do evento discursivo, a prática social, relaciona‑se a diferentes


níveis da organização social: a situação, o contexto institucional, o contexto social. O autor discute
o discurso em relação ao poder e à ideologia. Nesse nível é que as questões de poder são reveladas,
pois poder e ideologia podem gerar determinados efeitos em cada um dos níveis contextuais, já
que o controle social e o poder são exercidos com frequência crescente pelos significados que os
textos produzem.

Entre o que foi proposto sobre o quadro tridimensional e a relação bidimensional em Analysing
Discourse: Textual Analysis for Social Research (FAIRCLOUGH, 2003a), faremos uma pausa para uma
breve explanação sobre os estudos de Chouliaraki e Fairclough (1999). Os autores apresentaram uma
discussão que ligou os estudos da ADC à Teoria Social, enfocando as mudanças globais em rede de
escalas, por meio de uma abordagem vinculada à Teoria Social e à multissemiótica. Para Chouliaraki
e Fairclough (1999), a pesquisa linguística orientada por uma abordagem multissemiótica necessita
vincular a ADC à análise das práticas sociais.

A pesquisa social apresentada pelos autores situa‑se no contexto da modernidade tardia.


Nesse sentido é que a linguagem constitui elemento central da análise de aspectos da vida
social, por estar associada, dialeticamente, às transformações do novo capitalismo. O conceito de
modernidade tardia foi definido por Giddens (1991) como o atual momento de desenvolvimento
das organizações institucionais modernas, marcadas pelo mecanismo de desencaixe, pela relação de
espaço‑tempo e pela reflexividade institucional. Trata‑se de um modelo de sociedade caracterizado
pela descontinuidade, pela fragmentação da vida social decorrente do dinamismo oriundo do
impacto global.

Em Chouliaraki e Fairclough (1999), os autores fazem uma explanação sobre a importância dos
conceitos de habitus e de campo de Pierre Bourdieu para a pesquisa em ADC e apontam que há a
necessidade de essa abordagem não se restringir ao aspecto sociológico, mas ser ampliada para a análise
da linguagem. O desenvolvimento do que foi proposto em 1999 sobre a abordagem do campo e do
habitus se dá na ADC por meio desse mesmo conceito, mas na perspectiva do que Bourdieu e Wacquant
desenvolveram sobre a importância da linguagem na análise social.

Passamos agora a verificar como o modelo apresentado por Fairclough (1989, 1992), que estamos
denominando como proposta bidimensional, foi reconstruído na obra Analysing Discourse: Textual
Analysis for Social Research (2003a).

1.3.3 A proposta bidimensional: análise textual externa e interna

A contribuição das leituras de Ormundo e Wetter (2013) sobre o desenvolvimento da ADC está no
entendimento de que os trabalhos de Fairclough apontam para um estreito diálogo com as Teorias Sociais.
Esse diálogo se delineou na obra Analysing Discourse: Textual Analysis for Social Research (2003a),
quando o autor, ao propor a metodologia de análise, agrupou a prática discursiva com a prática social.
36
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Dessa forma, Fairclough (2003a) apresenta outra proposta de reformulação do quadro tridimensional,
que temos lido como uma nova abordagem, definida aqui como uma abordagem bidimensional, porque
o autor propõe que se investigue o texto naquilo que ele tem de interior e de exterior.

Em Fairclough (2003a) há um novo enquadramento metodológico para a pesquisa social, em que


os elementos, antes constitutivos da prática discursiva e das formas de texto, são agora embutidos
na Prática Social, sendo esta constituída por vários elementos, entre eles: discurso, atividade social,
relações sociais e fenômenos mentais; cada momento internaliza o outro e não se apresenta de forma
fragmentada.

Outro ponto importante nessa relação bidimensional está ligado ao modelo metodológico
apresentado pelo autor. Esse modelo é constituído por categorias analíticas que foram sendo
desenhadas na obra por meio de duas orientações fundamentais: análise externa e análise interna dos
textos. Logo, o modelo de investigação apresentado nessa obra tem como proposta uma investigação
que parta do evento social, centrada na análise textual, por meio da distinção feita entre análise
externa e análise interna. Para o autor, a análise das relações externas dos textos é a análise de suas
relações com outros elementos:

• eventos sociais;

• práticas sociais;

• estruturas sociais;

• agentes sociais, por meio de suas ações, identificações e representações.

Fazemos um adendo aqui para explicar que, em Language and Globalization (FAIRCLOUGH, 2006), os
eventos sociais, as práticas sociais e as estruturas sociais são apresentados como níveis de abstração da
análise social e devem ser contemplados por quem pretende investigar o tópico linguagem e globalização.

Para a análise interna, Fairclough (2003a) aponta alguns caminhos para realizar a investigação,
caminhos esses que se vinculam diretamente aos métodos de outras teorias, como a nova versão da ADC
para construção da abordagem transdisciplinar. Entre os caminhos vislumbrados, o que nos despertou
a atenção para o propósito de compreender a linguagem na globalização é tratado por Fairclough
(2003a), no capítulo 6, “Sentenças simples: tipos de troca, funções dos atos de fala e disposição da
gramática”1, no qual o autor apresenta as categorias para a análise de sentenças simples, relações de
trocas, disposição gramatical, argumentação e modalização.

1.3.4 A proposta transdisciplinar da Análise de Discurso Crítica

No processo de finalização do doutorado em Linguística pela Universidade de Brasília no ano de 2007, a


autora deste livro‑texto teve contato com a obra recente de Fairclough, Language and Globalization (2006).

1
CF. no original: “Clauses: types of exchange, speech functions and grammatical mood”.

37
Unidade I

Observação

Na obra Language and Globalization (2006), a relação não é mais


bidimensional. O autor fala sobre a construção da nova proposta da
ADC (transdisciplinar) e deixa claro que a pesquisa sobre linguagem
e globalização deve partir da Análise Social (é nela que todos os outros
elementos, do quadro tridimensional à relação bidimensional de 2003,
estão interconectados).

O estudo dessa obra foi fundamental para a pesquisa da autora deste livro‑texto, tendo em vista que
as questões sobre um diálogo estreito da reconfiguração da linguagem e os aspectos da globalização
eram os pontos centrais para o trabalho, que resultou na tese de doutorado intitulada Reconfiguração
da Linguagem na Globalização: Investigação da linguagem On‑line (2007).

Saiba mais

Uma das possiblidades de aplicação da teoria pode ser vista na análise


do corpus da pesquisa disponível na tese:

ORMUNDO, J. S. Reconfiguração da linguagem na globalização:


investigação da linguagem on‑line. 2007. 136 f. Tese (Doutorado em
Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Disponível em: <http://
repositorio.unb.br/bitstream/10482/3311/1/2007_JoanadaSilvaOrmundo.
pdf>. Acesso em: 30 out. 2015.

Em Fairclough (2006) o autor estabelece uma nova versão da ADC, em construção, que contemplará
uma abordagem transdisciplinar ao tratar das questões da linguagem associada à economia política
cultural, à multissemiótica e à Teoria Social de Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant.

A relevância da obra Language and Globalization (FAIRCLOUGH, 2006) reside na construção


dessa nova versão da ADC, por meio de investigação que deve contemplar a prática social e o texto
em uma perspectiva transdisciplinar, diferentemente da abordagem intertextual, uma vez que a
transdisciplinaridade consiste em buscar os métodos de análise de outra área para serem usados em
outra, conforme mencionado anteriormente.

Na nova versão da ADC, Fairclough (2006) oferece o caminho a ser percorrido pelo pesquisador
que contempla a relação de linguagem e globalização. Segundo o autor, o estudo deve iniciar‑se pela
análise social e investigar os elementos da análise textual por meio dos três níveis de abstração que o
autor apresentou para a análise social, quais sejam: eventos sociais, práticas sociais e estruturas sociais.
Fairclough (2006) acrescenta, ainda, que cada um desses níveis apresenta um momento semiótico que

38
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

está dialeticamente relacionado a outros momentos. Com o base na ideia proposta por Fairclough,
Ormundo (2007) formulou o esquema a seguir, para orientar a organização e o tratamento dos dados:

Análise social
(transdisciplinar)

Nível de abstração

Evento social Prática social Estrutura social

Momento Momento Momento


semiótico semiótico semiótico
(texto) (ordem do discurso) (linguagem)

Figura 5 – Os caminhos para a análise social

Ao explicar os níveis e os momentos semióticos, conforme Fairclough (2006), temos o que segue.

• No nível do evento social: os textos são o elemento concreto que constitui o momento
semiótico desse nível. Segundo o autor, o texto resulta da relação dialética entre poder
causal de mais ou menos ordens do discurso estabilizadas, e o seu maior nível de abstração
é a linguagem. Consiste também no poder causal dos agentes sociais para agir e produzir
um “objeto” inovado potencialmente (no caso, textos) com determinados recursos e com
propósitos particulares.

• No nível da prática social: as ordens do discurso são o momento semiótico desse nível. As ordens
do discurso são constituídas como diferentes discursos, gêneros e estilos. Os agentes sociais
atraem (em lugar de simplesmente instanciar) ordens do discurso na produção de textos, mas
em caminhos potencialmente inovadores, com resultados também potencialmente inovadores.
Os textos são interdiscursivamente híbridos na medida em que eles combinam modos inovadores,
sendo a produção inovadora de textos a fonte da variação nos discursos, nos gêneros e nos estilos,
produzindo novos discursos híbridos, gêneros e estilos, os quais podem, sob certas condições, ser
selecionados, retidos e incorporados a ordens do discurso. Dessa forma, mudanças na ordem do
discurso são mudanças do momento semiótico nas relações entre prática social, instituição social
e organização social.

• No nível das estruturas sociais: a linguagem constitui o momento semiótico desse nível. A
forma pela qual as instituições e as organizações estabelecem códigos para a orientação dos
agentes no campo dá‑se por meio da linguagem, e é aqui que se aplicam os conceitos sobre
campo, habitus e ordem, os quais serão discutidos adiante, no diálogo com a teoria de Bourdieu
e Wacquant (2005).

39
Unidade I

Ao tratar do discurso e dos momentos da globalização, Fairclough (2006) discute várias posições da
literatura acadêmica sobre globalização e discurso como um elemento ou momento da globalização e
distingue quatro posições principais:

• objetivista;

• retórica;

• ideológica;

• construção social.

Para Fairclough (2006), o termo objetivista vem daquilo que Bourdieu e Wacquant (2005) utilizaram
ao adotar a globalização como processo objetivo simplificado no mundo real e que a ciência social tem
descrito em suas pesquisas; a retórica é vista como a representação da globalização e é usada para
legitimar as ações e as políticas com argumentos específicos; a ideologia implica níveis sistêmicos de
como os discursos contribuem para sustentar a dominância e a hegemonia de estratégias específicas,
de práticas e da luta social de quem as evoca e a quem as interessa servir; e a construção social está
associada ao posicionamento, ou seja, aos lugares que enfatizam as características da construção social
e da realidade social, bem como o significado do discurso na construção social.

O autor considera que essas posições podem distinguir‑se por meio de cinco modos principais sobre
a relação de discurso e de outros elementos ou “momentos” da globalização, em que o discurso pode:

• representar a globalização ao dar informação de pessoas sobre determinado assunto e contribuir


para a sua compreensão;

• falsear e mistificar a globalização ao confundir e passar uma impressão enganosa sobre esse
conceito;

• ser usado retoricamente para projetar uma visão particular da globalização que pode justificar ou
legitimar as ações, políticas ou estratégias particulares de agências sociais e agentes;

• contribuir para a constituição, para a propagação e para a reprodução de ideologias que também
podem ser vistas como formas de mistificação, mas têm uma função sistêmica crucial ao sustentar
uma forma particular de globalização e de manter as desigualdades e injustiças nas relações de
poder nas quais são construídas;

• gerar representações imaginárias de como o mundo será ou deveria ser por meio de estratégias
de mudança que, se alcançarem a hegemonia, poderão ser operacionalizadas para transformar o
imaginário em realidade.

Esses efeitos do discurso podem, segundo o autor, vir separadamente ou combinados em textos
particulares.
40
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

1.4 Da prática social à globalização

A dimensão do discurso como prática social recebe um enfoque diferente em Chouliaraki e Fairclough
(1999) e em Fairclough (2003a), não se tratando mais da exata correspondência entre prática social e
discurso. Este passa a ser considerado um dos momentos da prática social, ao lado de outros momentos
igualmente constitutivos. Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 6, tradução nossa)2 propõem

um viés dialético do processo social do qual o discurso é um “momento”


entre seis: discurso/linguagem; poder; relações sociais; práticas materiais;
instituições/rituais; e convicções/valores/desejos. Cada momento interioriza
o outro – de maneira que o discurso é uma forma de poder, um modo de
formação de convicções/valores/desejos, uma instituição, um modo de
relação social, uma prática material. Reciprocamente, poder, relações sociais,
práticas materiais, instituições, convicções etc. são, em parte, discurso. A
heterogeneidade em cada momento – incluindo o discurso – reflete sua
determinação simultânea para todos os outros momentos (CHOULIARAKI;
FAIRCLOUGH, 1999, p. 6, tradução nossa).

Para os autores, as práticas sociais são compostas por momentos de poder, por relações sociais, por
práticas materiais, por crenças, valores e desejos, por instituições sociais e pelo discurso. Chouliaraki e
Fairclough (1999, p. 21)3 definem que toda prática está vinculada à vida social e entendem as práticas
como “as maneiras habituais, em tempos e espaços particulares, pelas quais pessoas aplicam recursos –
materiais ou simbólicos – para agirem, conjuntamente, no mundo”.

Os autores, ao admitirem o discurso como um dos momentos da prática social, assumem,


definitivamente, o caráter transdisciplinar da Análise de Discurso Crítica, dada a evidente necessidade
de se levar em consideração a complexa rede teórica de elementos políticos, sociológicos, filosóficos,
religiosos, ideológicos etc. que constituem as práticas sociais dos agentes de um determinado campo.

Além de definirem as práticas sociais, Chouliaraki e Fairclough (1999), com base nos pressupostos do
realismo crítico, propõem os momentos constituintes de uma prática social:

• o discurso (semiose);

• a atividade material;

2
Cf. no original: “a dialectical view of the social process in which discourse is one ‘moment’ among six: discourse/
language; power; social relations; material practices; institutions/rituals; and beliefs/values/desires. Each moment
internalises all of the others – so that discourse is a form of power, a mode of formation of beliefs/values/desires, an
institution, a mode of social relating, a material practice. Conversely, power, social relations, material practices, institutions,
beliefs, etc. are in part discourse. The heterogeneity within each moment – including discourse – reflects its simultaneous
determination (‘overdetermination’) by all of the other moments” (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999, p. 6).
3
Cf. no original: “habitualised ways, tied to particular times and places, in which people apply resources (material
or symbolic) to act together in the world” (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999, p. 21).
41
Unidade I

• as relações sociais e os processos (instituições, relações de poder);

• o fenômeno mental (sistemas de crenças, desejos, valores, ideologia).

Observação

O realismo crítico concebe a vida, tanto em sociedade quanto no estado


natural, como um todo analisável, formado por dimensões biológicas,
psicológicas, econômicas, semióticas, sociais etc. Cada dimensão possui,
por sua vez, uma estrutura particular.

Para os autores, as práticas sociais constituem‑se por meio de uma relação dialética em seus diversos
momentos, que deverão ser considerados nas análises feitas no âmbito da ADC. O discurso, nessa
orientação, influencia as demais práticas e é influenciado por elas, que se relacionam de forma articulada
e são internalizadas de maneira dialética. Será discursivo um momento de determinada prática social,
configurado por gêneros (modos de agir), discursos (modos de representar) e estilos (modos de ser),
conforme Fairclough (2003a).

Em Fairclough (1992, p. 94), a prática social é caracterizada como tendo “várias orientações –
econômica, política, cultural, ideológica – e o discurso está implicado em todas elas, sem que possam ser
reduzidas a qualquer uma dessas orientações do discurso”. O autor (1992, p. 117) acrescenta que a noção
de discurso como um dos momentos que formam as práticas sociais está voltada para os conceitos de
ideologia e de hegemonia, ambos tratados pela abordagem da Análise de Discurso Crítica sob a ótica
das relações de poder.

Quanto à ideologia, o autor explica‑a em três asserções, a saber:

• materializa‑se nas práticas institucionais, em que se obtêm os materiais para pesquisar a ideologia;

• está ligada à constituição dos sujeitos;

• faz parte dos “aparelhos ideológicos de estado”, como locais e marcas delimitadoras da luta de
classes, referindo‑se à teoria de Althusser.

A noção de ideologia ocupa, assim, lugar privilegiado nos estudos da linguagem em ADC, que tem
interesse particular pela relação entre linguagem e poder, como já apontado por Wodak (2004, p. 236)
ao dizer que “a linguagem não é poderosa em si mesma – ela adquire poder pelo uso que os agentes
que detêm poder fazem dela”. Esse ponto é importante para a compreensão da reconfiguração da
linguagem em uma perspectiva transdisciplinar. A autora acrescenta ainda que o poder envolve relações
de diferença, particularmente, os efeitos dessas diferenças nas estruturas sociais.

A unidade permanente entre a linguagem e outras questões sociais garante que a linguagem esteja
entrelaçada com o poder social de várias maneiras: classifica o poder, expressa‑o e está presente onde há
42
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

disputa e desafio ao poder. Este não surge da linguagem, mas ela pode ser usada para desafiar o poder,
subvertê‑lo e alterar sua distribuição a curto e a longo prazo. A linguagem constitui um meio articulado
com precisão para construir diferenças de poder nas estruturas sociais hierárquicas (WODAK, 2004).

A relação entre linguagem e poder que Wodak (2004) reitera aqui consiste em um dos elementos
fundamentais para compreender a reconfiguração da linguagem na sociedade globalizada e como a
linguagem se configura por meio dos avanços tecnológicos, tais como no ambiente on‑line, uma vez
que a Análise de Discurso Crítica se interessa em verificar como as formas linguísticas são usadas “em
várias expressões e manipulações de poder”. A autora acrescenta ainda que o poder “é sinalizado não
somente pelas formas gramaticais presentes em um texto, mas também pelo controle que uma pessoa
exerce sobre uma ocasião social através do gênero textual”. O gênero constitui‑se como o espaço em
que, associado a “certas ocasiões sociais”, o poder é exercido ou desafiado (WODAK, 2004, p. 237).

Para Fairclough (1992), não se deve privilegiar o caráter estável das inserções ideológicas. Antes,
deve‑se pautar o olhar crítico pelo projeto maior, o de transformação, uma vez que sua grande
contribuição está justamente no entendimento de que a mudança social também é possível por meio
da mudança discursiva.

O estudo da ideologia nos textos, embora, às vezes, não seja possível estabelecer localizações tão
pontuais (espaciais) da materialidade, pode ser feito por meio da análise das pressuposições, das
metáforas, da coerência, do estabelecimento das tomadas de turno, da polidez, enfim, da constituição
final dos sentidos do texto. Essas pressuposições foram sistematizadas na obra Analysing Discourse:
Textual Analysis for Social Research (FAIRCLOUGH, 2003a), com base em categorias analíticas.

Segundo Fairclough (1992, 1995), uma ordem de discurso, termo usado conforme o arcabouço
teórico de Foucault, pode ser o aspecto discursivo do equilíbrio contraditório e instável que constitui
uma hegemonia. O linguista acrescenta ainda que a articulação e a rearticulação de ordens de discurso
são, consequentemente, um marco delimitador da luta hegemônica. Fairclough (1992, 2003a) considera
que as diversas articulações e rearticulações das ordens do discurso podem ser consideradas aspectos
discursivos da luta hegemônica.

Nesse sentido, os processos de produção, distribuição e consumo textuais são elementos dessa mesma
luta, já que podem auxiliar nas transformações das ordens de discurso e, consequentemente, nas relações
sociais baseadas nas distribuições díspares de poder. A compreensão desse fato possibilita visualizar o
movimento da prática discursiva imbricando‑se na prática social, conforme apontado anteriormente.

Resumo

Na primeira unidade apresentamos os conceitos teóricos relevantes


para compreender o momento social em que vivemos. Discutimos sobre
os aspectos da pós‑modernidade bem como sobre a conexão de uma
sociedade em rede mediante os aspectos dos meios de comunicação, da
cibercultura e da reconfiguração da linguagem.
43
Unidade I

Após essa contextualização, apresentamos a perspectiva teórica da


Análise de Discurso Crítica e o seu desenvolvimento como teoria e método
de análise. O propósito disso foi oferecer ao leitor fundamentação teórica
para sustentá‑lo na análise das práticas de linguagem na sociedade
contemporânea e de como essa compreensão contribuirá para repensar sua
prática e organizar o trabalho pedagógico com a linguagem, no contexto
da contemporaneidade.

44
Análise de Discurso Crítica: Repercussão no Ensino

Figuras e ilustrações

Figura 1

ORMUNDO, J. S. Reconfiguração da linguagem na globalização: investigação da linguagem on‑line.


2007. 136 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. p. 137.
Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3311/1/2007_JoanadaSilvaOrmundo.pdf>.
Acesso em: 30 out. 2015. Adaptado de Fairclough (2006).

Figura 2

ORMUNDO, J. S. Reconfiguração da linguagem na globalização: investigação da linguagem on‑line.


2007. 136 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. p. 28. Disponível
em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3311/1/2007_JoanadaSilvaOrmundo.pdf>. Acesso em:
30 out. 2015.

Figura 3

ORMUNDO, J. S. Reconfiguração da linguagem na globalização: investigação da linguagem on‑line.


2007. 136 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. p. 29. Disponível
em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3311/1/2007_JoanadaSilvaOrmundo.pdf>. Acesso em:
30 out. 2015. Adaptado de Fairclough (1989).

Figura 4

ORMUNDO, J. S. Reconfiguração da linguagem na globalização: investigação da linguagem on‑line.


2007. 136 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. p. 30. Disponível
em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3311/1/2007_JoanadaSilvaOrmundo.pdf>. Acesso em:
30 out. 2015. Adaptado de Fairclough (1992).

Figura 5

ORMUNDO, J. S. Reconfiguração da linguagem na globalização: investigação da linguagem on‑line.


2007. 136 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. p. 36. Disponível
em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3311/1/2007_JoanadaSilvaOrmundo.pdf>. Acesso em:
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