Você está na página 1de 48

Psicologia Jurídica

Autora: Profa. Najla Mahoumed Kamel


Colaboradora: Profa. Elizabeth Nantes Cavalcante
Professora conteudista: Najla Mahoumed Kamel

Doutora e mestra em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP/USP). Graduada
em Letras pela USP e em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP). Possui especialização em Avaliação do Ensino
Superior pela Universidade de Brasília (UnB) e em Ensino a Distância pela UNIP. É uma das autoras do livro Da cultura
de provas para a cultura de avaliação e conteudista de livros-textos. Atualmente, é professora titular da UNIP.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

K15p Kamel, Najla Mahoumed.

Psicologia Jurídica / Najla Mahoumed Kamel. – São Paulo:


Editora Sol, 2023.

132 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

CDU 343.95

U517.62 – 23

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Profa. Sandra Miessa
Reitora

Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez


Vice-Reitora de Graduação

Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo


Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini


Vice-Reitora de Administração e Finanças

Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia


Vice-Reitor de Extensão

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento

Profa. Melânia Dalla Torre


Vice-Reitora das Unidades Universitárias

Profa. Silvia Gomes Miessa


Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal

Profa. Laura Ancona Lee


Vice-Reitora de Relações Internacionais

Prof. Marcus Vinícius Mathias


Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária

UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes

Projeto gráfico: Revisão:


Prof. Alexandre Ponzetto Bruna Baldez
Vitor Andrade
Sumário
Psicologia Jurídica

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 TEORIAS PSICOLÓGICAS................................................................................................................................ 13
1.1 Psicanálise................................................................................................................................................ 14
1.2 Behaviorismo.......................................................................................................................................... 18
1.3 Gestalt........................................................................................................................................................ 20
1.4 Teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson................................................................ 22
2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO.................................................................................. 23
3 PSICOPATOLOGIA E PERSONALIDADE...................................................................................................... 29
3.1 Psicopatologia........................................................................................................................................ 29
3.2 Personalidade.......................................................................................................................................... 34
3.3 Transtornos de personalidade.......................................................................................................... 36
4 PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO E VITIMOLOGIA.................................................................................. 39
4.1 Psicologia do testemunho................................................................................................................. 39
4.2 Vitimologia............................................................................................................................................... 42

Unidade II
5 A FAMÍLIA E A LEI............................................................................................................................................. 49
5.1 Lei Maria da Penha............................................................................................................................... 58
5.2 Feminicídio............................................................................................................................................... 62
5.3 Violência.................................................................................................................................................... 64
5.4 Separações litigiosas e guarda dos filhos.................................................................................... 69
6 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE........................................................................................ 74
6.1 Adoção....................................................................................................................................................... 79
6.2 Pedofilia e abuso sexual...................................................................................................................... 85
6.3 O adolescente infrator........................................................................................................................ 89
Unidade III
7 CRIME E EXECUÇÃO PENAL......................................................................................................................... 96
7.1 Crime: história e conceito.................................................................................................................. 96
7.2 Execução penal.....................................................................................................................................106
8 PERÍCIA PSICOLÓGICA E MEDIAÇÃO......................................................................................................114
8.1 Perícia psicológica...............................................................................................................................114
8.2 Métodos de solução de conflitos..................................................................................................116
APRESENTAÇÃO

O objetivo geral desta disciplina é apresentar aos alunos as noções mais importantes da área
de psicologia, preparando-os para obter um conhecimento teórico que permita uma percepção
interdisciplinar entre as questões psicológicas e jurídicas.

A partir desse conhecimento, busca-se propiciar a identificação e a descrição das várias competências
e funções do psicólogo jurídico inserido nas diversas instituições jurídicas, como varas de família, varas
da infância e juventude, varas especiais, conselhos tutelares, abrigos, prisões e delegacias.

A disciplina visa ainda possibilitar o reconhecimento dos elementos presentes nas medidas jurídicas
sob o ponto de vista psicológico, com o intuito de discriminar suas causas e os possíveis efeitos na vida
dos sujeitos envolvidos.

Os objetivos específicos são:

• Compreender a importância da psicologia para o futuro advogado nas relações com o seu cliente,
com os juízes, com os promotores, com os seus interlocutores e nas relações humanas dos
profissionais do direito.

• A partir do conteúdo teórico, discutir e analisar a prática jurídica no Brasil em suas diversas
áreas: no sistema de justiça (penal, cível, família e sucessões e infância e juventude); no sistema
prisional (prisões, hospital de custódia, acompanhamento de egressos); nos serviços e programas
de atendimento à criança, ao adolescente e à família (conselhos municipais de direitos da criança
e do adolescente, conselhos tutelares, abrigos temporários e famílias de apoio).

• Ter conhecimento da legislação nacional e suas implicações para a prática do psicólogo jurídico.

• Identificar as especificidades do atendimento em psicologia jurídica e diferenciá-lo do atendimento


clínico tradicional.

• Conhecer as estratégias próprias de avaliação e intervenção com interface da psicologia e


do direito.

• Reconhecer os limites da avaliação pericial dos comportamentos humanos inseridos em


contextos jurídicos.

Primeiramente, será apresentada uma breve história do desenvolvimento da psicologia e algumas


das teorias psicológicas; a descrição das áreas de atuação do psicólogo jurídico; a área da psicopatologia
e os distúrbios de personalidade e, finalmente, os pressupostos da chamada psicologia do testemunho e
da vitimologia. Em seguida, trataremos do tema da família, da criança e do adolescente. Finalizaremos
com a história do crime e da execução penal, além da importância da perícia psicológica.

7
INTRODUÇÃO

A psicologia jurídica, enquanto área específica da psicologia como ciência, pode ser entendida como
uma aplicação do conhecimento psicológico às questões relacionadas ao direito.

Nesse sentido, Leal (2008) (apud MESSA, 2010) mostra como ocorre essa aplicação apresentando
uma tipologia de atuações:

• Psicologia criminal: inclui os aspectos psíquicos do criminoso e as ações criminosas.

• Psicologia judiciária: diz respeito à prática psicológica a serviço da justiça.

• Psicologia forense: insere-se no âmbito de um processo ou procedimento no foro.

No entanto, Sabaté (1980) (apud LAGO et al., 2009) estabelece três caminhos para a área psicojurídica:

• Psicologia do direito: explica a fundamentação psicológica do direito.

• Psicologia no direito: o foco está na estrutura das normas jurídicas, com o intuito de produzir
ou evitar determinados comportamentos. Nesse caso, a psicologia seria uma disciplina aplicada
e prática.

• Psicologia para o direito: nesse caso, a psicologia funciona como ciência auxiliar ao direito.

Cabe destacar que a primeira aproximação entre a psicologia e o direito ocorreu no final do século XIX,
quando surgiu a psicologia do testemunho. Essa área da psicologia objetivou verificar a confiança
do relato do sujeito envolvido em um processo jurídico, realizando uma análise de seus processos
psicológicos. Posteriormente, veremos mais informações a esse respeito.

A partir do momento em que ambas as áreas se encontram, elas passam a compartilhar o mesmo
objeto de estudo: o homem e seu comportamento.

Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 21) trazem um questionamento sobre a diversidade de objetos de
estudo da psicologia:

A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo


do conhecimento ter-se constituído como área do conhecimento científico
só muito recentemente (final do século XIX), a despeito de existir há muito
tempo na Filosofia enquanto preocupação humana. Esse fato é importante,
já que a ciência se caracteriza pela exatidão de sua construção teórica, e,
quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo ainda de apresentar
teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar com maior precisão
seu objeto de estudo.

8
No entanto, os autores destacam a subjetividade (constituída de ideias, significados, emoções,
afetos e comportamentos) como um estudo importante para que possamos entender o homem na
sua totalidade:

Nossa matéria-prima, portanto, é o homem em todas as suas expressões,


as visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as
singularidades (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos
todos assim) – é o homem-corpo, homem-pensamento, homem‑afeto,
homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade (BOCK,
FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 23).

Psicologia e direito, dessa forma, contribuem para o entendimento de agentes comportamentais,


sociais e individuais simultaneamente aos aspectos legais, com o intuito de classificar e julgar um
comportamento no sistema jurídico.

Para Pinheiro (2016, p. 74):

O fenômeno jurídico se define essencialmente como fenômeno de controle do


comportamento social. Para Celso A. Pinheiro de Castro (2009), o controle
atua como uma espécie de instrumento de integração. E essa integração se
dá pela consciência de cada membro do grupo ou da imposição de um ou
de vários membros desse mesmo grupo.

Sobre os tipos de controle, Pinheiro (2016, p. 75) destaca:

O controle se impõe ao comportamento humano e é aceito como instrumento


capaz de garantir aos indivíduos a sobrevivência biossocial. Há formas de
controle aceitas como naturais e certas. Há outras consideradas sagradas.
Há outras exigidas como necessárias e sentidas como eficazes. O controle
pode ser formal ou informal. A formalização do controle estampa-se na lei.
O controle informal se expressa em usos, costumes e opinião pública. São
padrões que se aplicam ao comportamento social em gradações diferentes.

O objetivo dessa cooperação é a obtenção da verdade judicial, ajudando, por exemplo, na fase
executória da pena.

De acordo com Serafim e Saffi (2014, p. 10):

Ressalta-se que o estudo da psicologia no contexto do direito não se


restringe exclusivamente ao comportamento decorrente de uma doença
mental e com as causas da criminalidade, mas sim com o estudo das relações
psicossociais enquanto fatores existentes na e da realidade social inerente a
qualquer processo e espaço jurídico.

9
Ainda, segundo os autores:

Deve-se ressaltar que o operador do direito analisa o fato (a ação, a conduta,


o comportamento) pautado no domínio da razão e do autocontrole. Para a
psicologia, o comportamento e resposta, não necessariamente, é a causa, mas
sim a consequência. Se o comportamento é resposta, algum fenômeno ou
situação o provocou. Esse comportamento pode ser adequado, socialmente
inadequado ou ilícito. Há de se investigar se há alguma interação no
psiquismo do indivíduo que alterou a expressão do comportamento
(SERAFIM; SAFFI, 2014, p. 11).

Dessa forma:

[...] depreende-se que o papel da psicologia em sua interface com o


direito percorre a análise e interpretação da complexidade emocional
e da estrutura da personalidade, as relações familiares e a repercussão
desses aspectos na interação do indivíduo com o ambiente (SERAFIM;
SAFFI, 2014, p. 12).

No Brasil, a primeira contratação e criação do cargo de psicólogo jurídico ocorreram em 1985.


No entanto, antes desse reconhecimento, um grupo de psicólogos voluntários orientava pessoas
encaminhadas do serviço social, principalmente para reestruturar questões familiares. Esse primeiro
trabalho ocorreu no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Observação

A criação da Lei de Execução Penal (LEP), em 1984, permitiu que o cargo


de psicólogo jurídico se tornasse oficial.

A partir da promulgação dessa lei (Lei Federal n. 7210/84), o psicólogo


passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária
(FERNANDES apud LAGO et al., 2009).

De acordo com Messa (2010, p. 3):

O que se busca com a atuação e procedimentos do psicólogo, basicamente, é


uma forma de auxiliar o juiz em seu poder decisório, protegendo os direitos
das pessoas envolvidas (SILVA, 2003) e auxiliando na promoção do exercício
da justiça nos seus pilares de igualdade, liberdade e fraternidade.

10
Segundo a mesma autora:

A Psicologia tenta abordar o percurso de vida de um indivíduo acusado


como criminoso, e de todos os processos psicológicos que possam tê-lo
motivado ao crime. Com a contribuição desses dados, descobre-se a causa
dos distúrbios, sejam mentais, sociais ou comportamentais, o que permite
atribuir uma pena justa, levando em conta que esses dados são específicos
e assim devem ser tratados. Ainda na relação com a justiça, profissionais
têm enfatizado a importância de demandas psicológicas encontradas
em situações como de litígio, adoção, violência e disputa de guarda
(MESSA, 2010, p. 4).

Observação

Na atualidade, a psicologia tem sido aplicada em outras áreas


profissionais, além do direito. Sua aplicação é prestigiada na área esportiva,
na nutrição, na fisioterapia, na enfermagem, na estética e na publicidade.

11
PSICOLOGIA JURÍDICA

Unidade I
1 TEORIAS PSICOLÓGICAS

Figura 1 – Psicologia

Disponível em: https://bit.ly/3vhlDOQ. Acesso em: 24 fev. 2023.

A psicologia como área de conhecimento científico se desenvolveu por volta do século XIX. As suas
primeiras descobertas ocorreram com a observação dos comportamentos observáveis e suas primeiras
pesquisas foram feitas em laboratório. Inúmeras teorias foram surgindo com o objetivo de entender o
comportamento humano.

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos, leia:

MORRIS, C. G.; MAISTO, A. A. Introdução à psicologia. 6. ed. São Paulo:


Prentice Hall, 2004.

Para Serafim e Saffi (2014, p. 5):

A psicologia contemporânea está interessada em uma enorme gama de


tópicos, tais como o comportamento humano, o processo mental, o nível
neural, e o nível cultural. Psicólogos estudam questões humanas que
começam desde o nascimento e continuam até a morte.

13
Unidade I

Nos tópicos a seguir, vamos destacar quatro dessas teorias com o intuito de demonstrar como os
seus conceitos podem ser aplicados na área do direito.

1.1 Psicanálise

Figura 2 – Freud

Disponível em: https://bit.ly/3YX3yW6. Acesso em: 24 fev. 2023.

“Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente
inconsciente” (BOCK, FURTADO; TEIXEIRA, 2002, p. 70).

Freud era médico neurologista e, no final do século XIX, ao iniciar seus atendimentos com os primeiros
pacientes percebeu que alguns deles apresentavam sintomas para os quais a medicina não tinha
explicação. Eram pacientes, por exemplo, que tinham dores no corpo ou comportamentos estranhos
que o procuravam muitas vezes porque não tinham encontrado a cura pelos métodos convencionais
da medicina.

Depois da Primeira Guerra Mundial, Freud passou a atender pessoas traumatizadas pelas cenas
violentas da guerra e se questionava porque os seres humanos, que aparentemente deveriam buscar
prazer, se envolviam em guerras. Ele, a partir disso, chegou à conclusão de que o ser humano obedecia
inconscientemente a duas pulsões (energias psíquicas que direcionam as ações para um fim, são
impulsos): a pulsão de vida e de morte. A pulsão de vida está ligada à sexualidade e à reprodução,
enquanto a de morte está ligada à agressividade e à destruição. Portanto, para a psicanálise, o ser
humano busca repetir experiências prazerosas e também experiências desprazerosas numa tentativa de
resolver um conflito inconsciente.

A partir disso, ele começou a ser defensor do conceito da existência de processos mentais
inconscientes, que passaram a ser o alicerce da psicanálise, teoria fundada por ele.
14
PSICOLOGIA JURÍDICA

O inconsciente é uma instância psíquica de emoções e sentimentos reprimidos da consciência por


apresentarem um conteúdo insuportável e que, por isso, eram reprimidos.

O inconsciente, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 74):

[...] exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da


consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos
sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes
conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e terem sido
reprimidos, isto é, “foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente
inconscientes. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por
leis próprias de funcionamento. Por exemplo, é atemporal, não existem as
noções de passado e presente.

Para Freud, existem basicamente quatro maneiras como o inconsciente se manifesta, ou seja, quatro
formações do inconsciente: os atos falhos (erros na fala, na memória, na escrita ou uma ação física), os
sonhos, os chistes (piadas) e os sintomas. Essas maneiras são mecanismos do psiquismo responsáveis
pela passagem de conteúdos inconscientes à consciência. Essa passagem é favorecida pelo estado
emocional de forma disfarçada.

Mais tarde, no século XX, Freud apresenta a composição do aparelho psíquico, constituído por
três instâncias:

• Id: é o núcleo primitivo da personalidade em que há o domínio dos instintos e impulsos primitivos.
É uma parte menos acessível à personalidade, caracterizada por apresentar conteúdos sem lógica
de organização ou juízo de valor. Constituído de conteúdos inconscientes, inatos ou adquiridos que
buscam contínua gratificação, sob predominância do que Freud denominou princípio do prazer,
ou seja, nessa instância tudo é permitido, não há censura, algo sobre o qual não temos controle.

• Ego: responsável pelo contato do psiquismo com a realidade externa contendo elementos
conscientes e inconscientes. Atua guiado pelo princípio da realidade. Essa instância faz a conciliação
das reinvindicações do id (sem controle) e do superego (controlador) com o mundo externo,
harmonizando tais exigências. Diferentemente do id, é uma instância controlada, realista e lógica.

• Superego: responsável pela formação dos ideais, é a força moral, a lei no inconsciente. Ele
se forma pela internalização de regras sociais, valores, crenças e mecanismos de contenção.
As contribuições mais importantes para o seu desenvolvimento são incialmente os pais e
posteriormente a sociedade. Falhas nesta estrutura podem gerar problemas de conduta. A partir
dessa estruturação podemos dizer que quando o senso de realidade encontra-se prejudicado o
indivíduo pode ser dominado pelo id e pelo superego, resultando em comportamentos criminosos
e delitosos. Ao fazermos uma aplicação com a área do direito, podemos afirmar que a justiça atua
como um superego externo exigindo o cumprimento de normas éticas e morais dos indivíduos.

15
Unidade I

Observação

Para Freud, o ser humano, vivendo em sociedade, vive com sentimentos


confusos, pois lida com as pulsões, a realidade, a consciência e o superego.
Devido a essas pressões sociais, ele afirma que o ser humano “é um animal
doente”. Essa confusão se expressa nas nossas doenças psíquicas.

Observamos, a partir do exposto, o quanto a sociedade é um fator determinante de problemas


psíquicos. Diante desse fato, Freud nos traz um outro conceito importante: os mecanismos de defesa.

Os mecanismos de defesa são responsáveis por diminuir a angústia provocada pelos conflitos
internos. A diminuição ocorre a partir de uma distorção da realidade para que o indivíduo se adapte
e enfrente situações estressantes pois, do contrário, ele enlouqueceria, ficaria doente. Sua utilização
é normal (se forem utilizados em grau moderado, em que a pessoa oscila momentos de contato com a
realidade), e não patológica. A seguir, destacamos alguns deles:

• Deslocamento: os sentimentos relacionados a uma memória são deslocados a um conteúdo


psíquico substituto. Exemplo: diante de um evento estressante, a pessoa se embriaga ou se envolve
em outra situação que alivie a tensão.

• Distração: a atenção é desfocada. Exemplo: assistir a uma aula focando a atenção em outros
pensamentos.

• Fantasia: criação de um mundo próprio, imaginário. Exemplo: uma mulher fantasia o casamento
perfeito.

• Identificação: mecanismo essencial no processo de desenvolvimento psicossexual, garantindo


a internalização de comportamentos e estabelecimento do juízo crítico. Exemplo: o adolescente
que se comporta de acordo com o grupo.

• Negação da realidade: por exemplo, a pessoa que se recusa a acreditar na morte de um amigo.

• Racionalização: a pessoa busca apresentar uma explicação coerente, lógica e moralmente aceita
para um comportamento, uma ideia ou um sentimento. Exemplo: a pessoa que explica não
conseguir se estabilizar no trabalho por culpa dos chefes.

• Regressão: comum em pessoas que não assumem a responsabilidade ou consequência por seus
atos. Exemplo: o adolescente que se comporta como uma criança quando deseja algo.

• Projeção: qualidades, sentimentos e desejos que são expulsos de si e localizados em outra


coisa ou pessoa. Exemplo: quando a pessoa se queixa a respeito do comportamento de alguém.
No entanto, ela própria gostaria de ter tal comportamento.

16
PSICOLOGIA JURÍDICA

• Idealização: o objeto é engrandecido e exaltado psiquicamente. Exemplo: a pessoa idealiza o


trabalho perfeito ou vê a residência e o parceiro como perfeitos (eu ideal, eu real).

• Sublimação: é o mecanismo mais evoluído, de acordo com a psicanálise. Implica o desempenho de


uma atividade humana que requer sua energia de pulsão sexual (sem relação com a sexualidade)
para realização. Pode ocorrer em criações literárias, artísticas ou intelectuais.

Outra contribuição importante trazida por Freud diz respeito ao desenvolvimento da personalidade,
que se dá através de estágios (determinados por estímulos internos e externos) psicossexuais. Os respectivos
estágios são:

• Fase oral (até 1 ano de idade): o prazer deriva essencialmente da região da boca. Se houver
fixação, podem ocorrer comportamentos de dependência, passividade e gula, vícios de fumar ou
comer em excesso.

• Fase anal (de 1 a 3 anos): prazer oriundo da região anal. Se houver fixação, adultos demonstrarão
comportamentos hostis, obstinação, mesquinhez e desafio.

• Fase fálica (de 3 a 6 anos): é a descoberta infantil de que os órgãos genitais proporcionam
prazer e também a descoberta das diferenças sexuais. Nessa fase, ocorre o que Freud denominou
complexo de Édipo: a criança sente atração pelo progenitor do sexo oposto e se rivaliza com
o progenitor do mesmo sexo. A superação ocorre a partir da identificação da criança com o
progenitor de mesmo sexo, que resulta na identidade sexual. Nas meninas, é conhecido como
complexo de Eletra.

• Fase de latência (de 6 a 12 anos): as necessidades sexuais saem de foco e a criança passa a se
interessar por questões sociais: grupos de pessoas do mesmo sexo. Ocorre o fortalecimento do
ego e do superego.

• Fase genital: da puberdade à maturidade. Os interesses sexuais estão centrados no próprio corpo
e depois direcionados para outras pessoas.

De acordo com Cunha (apud LAGO et al., 2009), com o surgimento da psicanálise, o entendimento
de doença mental passa a considerar o sujeito de forma mais compreensiva. Assim, o enfoque médico
incluiu o psicodiagnóstico, trazendo aspectos psicológicos para a análise.

Observação

Inicialmente, a partir do surgimento da psicanálise, os pacientes


passaram a ser classificados em duas categorias: de maior severidade, que
eram internados e tratados por psiquiatras; e de menor severidade, tratados
por psicólogos (ROVINSKI apud LAGO et al., 2009).

17
Unidade I

Saiba mais

Para saber mais sobre o tema, sugerimos a leitura a seguir:

FREUD, S. Fundamentos da clínica psicanalítica. Obras incompletas de


Sigmund Freud. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

1.2 Behaviorismo

Figura 3 – Skinner

Disponível em: https://bit.ly/41k7Ng2. Acesso em: 24 fev. 2023.

Teoria psicológica conhecida como teoria de comportamento ou teoria comportamental. Seu principal
representante é Skinner.

O behaviorismo é uma perspectiva comportamental do século XIX, influenciada pelas ciências


biológicas e que estuda as interações entre o indivíduo e o ambiente. As respostas comportamentais
estão ligadas a situações-estímulo.

Skinner traz o conceito de condicionamento operante, entendido como o princípio de aprendizagem


do estímulo e da resposta e determina duas classes de comportamento:

• Condicionamento respondente incondicionado: é o comportamento denominado reflexo,


involuntário e envolve a ação de componentes físicos do corpo, independe de uma aprendizagem
anterior, é automático, é incondicionado devido ao estímulo. Exemplo: uma pessoa que fecha os
olhos diante de uma luz forte dirigida a seus olhos.

• Condicionamento clássico: ocorre quando um estímulo neutro passa a ser um estímulo


condicionado, ou seja, anteriormente não tem capacidade de produzir respostas específicas.
Essa classe de comportamento surgiu a partir de experiências realizadas com ratos em laboratório
(caixa de Skinner). Com as experiências, Skinner observou que, se animais aprendem comportamentos
que não fazem parte de sua natureza, o mesmo poderia ocorrer com os seres humanos.
18
PSICOLOGIA JURÍDICA

Segundo Messa (2010, p. 19):

O comportamento operante implica o aprendizado de uma resposta


condicionada, controlada por suas consequências. Esse comportamento
foi o foco do experimento denominado Caixa de Skinner. Nele, o rato em
estado de privação é posto em uma caixa com uma alavanca acionadora
de água. Com sede, o rato aprende a resposta de clicar na alavanca,
baseado na resposta, que é liberação de água. Esse é o funcionamento do
Condicionamento Operante.

O aprendizado de uma resposta condicionada passa a ser controlado por suas consequências, devido
ao que o autor denominou reforços ou estímulos. Para o behaviorismo, há dois tipos de reforço:

• Reforço positivo: é definido pelo resultado que produz no comportamento, ou seja, qualquer
evento que promova o aumento da frequência de um comportamento. Ele é entendido como uma
“recompensa” que aumenta a probabilidade de ocorrência de um comportamento. Exemplo: a
delação premiada é um reforço positivo na legislação brasileira, pois é um benefício legal (reforço
positivo) concedido a um réu em uma ação penal que aceite colaborar em uma investigação
criminal ou entregar outras pessoas.

• Reforço negativo: é usado para aumentar a probabilidade de ocorrência de uma resposta que
promova a extinção ou o afastamento de um evento aversivo. O negativo é usado para caracterizar
o tipo de estímulo, e não o efeito no comportamento. Exemplo: um juiz, em vez de fazer uso da
delação premiada (reforço positivo), pode garantir a colaboração do réu apresentando um reforço
negativo (aumentar a pena do réu se ele não colaborar). Vale deixar claro que esse exemplo é
apenas hipotético. O reforço negativo pode acontecer por duas vias:

— Fuga: a pessoa emite um comportamento que permite terminar com o evento aversivo.

— Evitação: o sujeito emite um comportamento para evitar a ocorrência de um evento aversivo.

A punição é usada para diminuir a frequência de um comportamento através da apresentação de um


evento aversivo ou retirada de um evento positivo.

Observação

Nem sempre a punição atinge seu objetivo de mudar um comportamento.


Exemplo: punições de multas de trânsito.

A propensão maior do ser humano é apresentar comportamentos que


tenham consequências positivas e evitar as negativas.

19
Unidade I

1.3 Gestalt

Figura 4 – Figura e fundo

De acordo com Frazão e Fukumitsu (2013, p. 10):

A gestalt-terapia surge em meio à psicologia humanista, que traz para


a psicologia uma nova visão de homem, significativamente diferente
das disseminadas pela psicanálise e pelo behaviorismo – abordagens,
na época, bastante deterministas. A psicologia humanista enfatiza
a autorrealização por meio do desenvolvimento das potencialidades
humanas de crescimento e criatividade. O homem se autodetermina,
interage ativamente com seu ambiente, é livre e pode fazer escolhas,
sendo responsável por elas no universo inter-relacional no qual vive, o
que constitui um novo paradigma.

Saiba mais

Indicamos a leitura do livro a seguir:

FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Gestalt-terapia: fundamentos


epistemológicos e influências epistemológicas. Coleção Gestalt-terapia:
fundamentos e práticas. São Paulo: Summus editorial, 2013.

Ainda de acordo com as autoras:

As abordagens humanistas, de forma geral e a gestalt-terapia, em particular,


enfatizam o crescimento e o desenvolvimento humanos, os quais são
concebidos como processos que ocorrem ao longo da vida do indivíduo.
A noção de fronteira de contato é uma das pedras angulares da gestalt‑terapia,

20
PSICOLOGIA JURÍDICA

razão pela qual Perls, Hefferline e Goodman, os criadores da abordagem,


iniciam sua explanação teórica por esse conceito. […] Em gestalt-terapia, a
noção de campo inclui tanto organismo quanto meio (ou ambiente, como
preferem alguns autores), sendo a fronteira de contato justamente o que
une e separa o organismo e o meio nesse campo (FRAZÃO; FUKUMITSU,
2014, p. 35).

Saiba mais

Para saber mais, leia também:

FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Gestalt-terapia: conceitos fundamentais.


Coleção Gestalt-terapia: fundamentos e práticas. v. 2. São Paulo: Summus
editorial, 2014.

A gestalt é entendida como a teoria da forma, que tem como objetivo explicar como percebemos a
nós mesmos, as outras pessoas e o ambiente em que vivemos. O todo de uma percepção é diferente da
soma de suas partes, ou seja, a totalidade da percepção de um objeto ou de uma situação não se reduz
à soma de suas partes.

Conforme salientam Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 61): “A gestalt encontra nesses fenômenos da
percepção as condições para a compreensão do comportamento humano. A maneira como percebemos
um determinado estímulo irá desencadear nosso comportamento”.

A teoria estudou, dessa forma, o fenômeno denominado ilusão de óptica. São imagens que enganam
a nossa visão, fazendo-nos ver coisas que não estão presentes ou nos fazendo ver coisas de forma
inadequada. Por exemplo: um filme é uma ilusão de óptica, pois é composto de imagens estáticas que
parecem ter movimento quando são apresentadas rapidamente.

A gestalt estudou a relação entre figura e fundo. A figura é constituída pelos aspectos da experiência
eleitos como dominantes, sobressaindo ao fundo. O fundo é o panorama composto de experiências anteriores.
Dessa forma, o ambiente é fator importante para uma percepção.

Observação

Figura e fundo podem oscilar, de acordo com o que é salientado como


relevante pelo psiquismo na situação.

21
Unidade I

De acordo com Messa (2010, p. 14):

Um comportamento não deve ser somente analisado, e sim entendido


de uma forma mais ampla, no contexto global de seu acontecimento.
Nessa perspectiva, o indivíduo passa a ter consciência global da forma
como funciona psiquicamente, exercendo influência sobre os próprios
comportamentos. As situações são vivenciadas com a eleição de figura e
fundo, que são respectivamente os aspectos mais significativos e os aspectos
de menor relevância para o sujeito.

Veremos, posteriormente, o quanto essa teoria propiciou um entendimento de alguns distúrbios de


percepção, muitas vezes relacionados ao uso de drogas ou a doenças mentais.

1.4 Teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson

Figura 5 – Erik Erikson

Disponível em: https://bit.ly/2PsXZeE. Acesso em: 24 fev. 2023.

Erikson era um psiquiatra alemão e construiu a teoria do desenvolvimento psicossocial pontuando


o quanto o nosso desenvolvimento físico e psicológico é resultado da relação do indivíduo com o seu

22
PSICOLOGIA JURÍDICA

ambiente físico e social. A partir dessa relação, o ser humano necessita fazer diversas adaptações. Para
explicar esse desenvolvimento, ele apresenta o que chamou de oito fases ou conflitos. As oito fases são:

• Confiança versus desconfiança: ocorre na fase inicial da infância, em que o bebê necessita do
carinho e do cuidado da mãe. Dependendo dessa relação, a criança pode desenvolver confiança
ou não. Se a confiança prevalecer, essa criança confiará nas pessoas e em si mesma.

• Autonomia versus vergonha e culpa: para essa fase ser eficaz, a criança deverá ter condições de
explorar seu ambiente, e o papel dos pais é de impor certos limites. Essa imposição deve ser bem
equilibrada para que a criança desenvolva sua autonomia.

• Iniciativa versus culpa: espera-se nessa fase que a criança, ao desempenhar papéis e querer
desenvolver tarefas, desenvolva a iniciativa de agir.

• Diligência versus inferioridade: deve haver um equilíbrio de exigências dos pais para com a
criança, para que ela não tenha sentimentos de inferioridade.

• Identidade versus confusão de identidade: esse conflito ocorre na fase da adolescência,


e, se bem resolvido, o adolescente será capaz de obter respostas para os questionamentos
de si mesmo.

• Intimidade versus isolamento: se a identidade se estabiliza, o indivíduo é capaz de ter experiências


sexuais e afetivas com outras pessoas.

• Generatividade versus estagnação: corresponde à necessidade de o indivíduo transmitir


experiências e valores, principalmente nos papéis de maternidade ou paternidade.

• Integridade versus desespero: fase que corresponde à terceira idade, caracterizada pela
avaliação da própria vida. Algumas vezes, se essa avaliação for negativa, ela pode levar ao
desespero. Para Erikson, é a fase final de desenvolvimento.

2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JURÍDICO

São muitas as áreas em que o psicólogo jurídico pode atuar.

Observação

O psicólogo pode recomendar soluções para os conflitos, porém não


pode determinar os procedimentos jurídicos que deverão ser colocados em
prática, pois essa definição cabe ao juiz.

23
Unidade I

Optamos por apresentar a classificação de dois autores, Messa (2010) e Lago et al. (2009), que
resumimos a seguir:

• Direito de família

— Separação (litigiosa, quando não há consenso para a separação, o psicólogo atua como
mediador ou pode ser solicitada pelo juiz uma avaliação das partes do casal; disputa de guarda
e regulamentação de visitas) e divórcio (engloba a partilha de bens; guarda de filhos; pensão
alimentícia e direito à visitação).

Lembrete
O psicólogo jurídico buscará os motivos que levaram o casal ao litígio e
os conflitos subjacentes que impedem um acordo.

Observação
O psicólogo jurídico poderá sugerir encaminhamento para o tratamento
psicológico ou psiquiátrico.

— Regulamentação de visitas: o psicólogo contribui por meio de avaliações com a família,


objetivando esclarecer os conflitos e informar ao juiz a dinâmica familiar, com sugestões
de medidas que poderiam ser tomadas. Pode ainda atuar como mediador com o objetivo de
produzir um acordo pautado na colaboração, de forma que a autonomia da vontade das partes
seja preservada.

— Disputa de guarda: quem deterá a guarda. Em casos mais graves, podem ocorrer disputas
judiciais pela guarda.

Observação
Em caso de disputas graves, o juiz pode solicitar uma perícia psicológica.
Para que a perícia psicológica seja eficiente nos casos de disputas judiciais
de guarda, é necessário que o psicólogo jurídico tenha conhecimento sobre
avaliação, psicopatologia, psicologia do desenvolvimento e psicodinâmica
do casal. É igualmente importante entender sobre guarda compartilhada,
falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação parental.

24
PSICOLOGIA JURÍDICA

De acordo com Castro (apud LAGO et al., 2009), os pais que de alguma forma estabelecem os seus
interesses e a vaidade pessoal acima do sofrimento dos filhos em uma disputa judicial de guarda, com
o intuito de atingir ou magoar o ex-companheiro, mostram problemas para exercer a parentalidade de
forma madura e responsável.

— Paternidade.

• Direito da criança e do adolescente

— Adoção: por meio de assessoria constante para as famílias adotivas tanto antes quanto depois
da colocação da criança. A equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude deve saber
recrutar candidatos para as crianças Eles têm duas tarefas: garantir que os candidatos estejam
dentro dos limites das disposições legais e iniciar um programa de trabalho com os postulantes
aceitos (assessorar, informar e avaliar os interessados).

Observação

Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial


torna‑se primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim
a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução.

De acordo com Albornoz (apud LAGO et al., 2009), além do trabalho junto aos juizados, existe o
trabalho junto às fundações de proteção especial, com o objetivo de oferecer um cuidado especial
capaz de minorar os efeitos da institucionalização, proporcionando uma vivência que se aproxima da
realidade familiar. Os vínculos estabelecidos com os monitores que cuidam delas são facilitadores do
vínculo posterior na adoção.

— Destituição do poder familiar: o poder familiar é um direito concedido a ambos os pais,


sem nenhuma distinção ou preferência; ainda que separados. Contudo, a legislação
brasileira prevê casos em que esse direito pode ser suspenso. O papel do psicólogo é
fundamental. Separar uma criança de sua família é muito sério, pois pode afetar a vida
futura. Para Cesca (apud LAGO et al., 2009), independentemente da causa da remoção
(doença, negligência, abandono, maus‑tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos
pais), a transferência da responsabilidade para estranhos jamais deve ser feita sem
muita reflexão.

— Adolescentes autores de atos infracionais: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê


medidas socioeducativas.

25
Unidade I

Observação

As medidas socioeducativas, diferentemente do que muitas pessoas


entendem, são medidas punitivas porque responsabilizam socialmente os
infratores e possuem aspectos educativos no sentido da proteção integral,
dando oportunidade de acesso à formação e à informação.

O papel do psicólogo deve propiciar a superação da condição de exclusão do adolescente infrator,


contribuindo com a formação de valores positivos de participação na vida social. Essa possibilidade se
concretiza com o envolvimento da família e da comunidade com, por exemplo, atividades calcadas na
não discriminação e não estigmatização, evitando o estabelecimento de rótulos. Dessa forma, o que se
espera é o incentivo à inclusão social desse adolescente.

Observação

Após a extinção da Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor


(Febem), foram criadas duas instituições: a Fundação de Atendimento
Socioeducativo (Fase) e a Fundação de Proteção Especial (FPE).

— Conselho tutelar.

— Criança e adolescente em situação de risco.

— Intervenção junto a crianças abrigadas.

• Direito civil: atua nos processos em que são requeridas indenizações em virtude de:

— Danos psíquicos: sequela na esfera emocional ou psicológica por causa de um fato particular
traumatizante na vítima. Aqui, cabe ao psicólogo de posse de seu referencial teórico e
instrumental técnico avaliar a real presença desse dano. Entretanto, o psicólogo deve estar
atento a possíveis manipulações dos sintomas, já que está em suas mãos a recomendação ou
não de um ressarcimento financeiro.

— Interdição: incapacidade de exercício por si mesmo dos atos da vida civil.

— Código civil: casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os sujeitos de direito não
tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. Cabe ao psicólogo
nomeado perito pelo juiz realizar avaliação que comprove ou não tal enfermidade mental.
À justiça interessa saber se a doença mental de que o paciente é portador o torna incapaz de
reger sua pessoa e seus bens. As questões levantadas em um processo de interdição incluem:

26
PSICOLOGIA JURÍDICA

a validade, nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos e casamentos. Além


dessas, ficam prejudicadas a contratação de deveres e aquisição de direitos, a aptidão para
o trabalho, a capacidade de testemunhar e a possibilidade de ele próprio assumir tutela ou
curatela (administrar bens) de incapaz e exercer o poder familiar.

— Indenizações.

• Direito penal

— Perícia das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou


em julgamento.

— Insanidade mental e crime.

— Delinquência.

Observação

As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis


nos presídios brasileiros em razão das superlotações, como proporcionar
um tratamento penal (KOLKER apud LAGO et al., 2009).

Existe também o trabalho dos psicólogos junto aos doentes mentais


que cometeram algum delito. Esses doentes receberam medidas de
segurança, decretadas pelo juiz, que são encaminhadas para os Institutos
Psiquiátricos Forenses (IPF), responsáveis por abrigar, realizar perícias
oficiais e atendimento psiquiátrico à rede penitenciária.

• Direito do trabalho: perito em processos trabalhistas:

— Condições de trabalho.

— Repercussão na saúde mental do indivíduo.

— Indenizações.

• Psicologia do testemunho

— Estudo do testemunho.

— Falsas memórias.

• Psicologia penitenciária

— Penas alternativas.

27
Unidade I

— Intervenção junto ao preso.

— Assistência junto aos egresso.

— Trabalho com agentes de segurança.

• Psicologia policial e das forças armadas

— Seleção de profissionais da área.

— Formação da polícia civil e militar.

— Atendimento psicológico.

• Mediação

— Mediador nos contextos relacionados ao direito de família e penal.

• Direitos humanos

— Defendendo e promovendo os direitos humanos.

• Proteção a testemunhas

• Formação e atendimento aos juízes e promotores

— Avaliação psicológica na seleção dos profissionais.

— Consultoria.

— Atendimento psicológico.

• Vitimologia

— Violência doméstica.

— Atendimento a vítimas de violência.

— Atendimento a familiares da vítima.

• Autópsia psicológica

— Análise de características psicológicas mediante informações de terceiros.

28
PSICOLOGIA JURÍDICA

3 PSICOPATOLOGIA E PERSONALIDADE

3.1 Psicopatologia

Figura 6 – Psicose, neurose e perversão

Disponivel em: https://bit.ly/2Txzkfi. Acesso em: 24 fev. 2023.

Nossa legislação brasileira utiliza o termo “doença mental” no art. 26 do Código Penal, com o objetivo
de estabelecer a inimputabilidade (não responsabilidade por um ilícito penal). Podemos observar que
esse uso do termo da legislação acompanha a visão da medicina que elabora a distinção, tal como o
direito o faz, entre saúde e doença mental e de algumas teorias da psicologia que diferenciam a doença
mental da normalidade.

Nesse sentido, a psicopatologia trata da ciência que estuda o ser humano em seus estados
mentais patológicos. Esses estados patológicos apresentam quadros emocionais disfuncionais
que geram sofrimento psíquico. Dessa forma, podem surgir os transtornos de personalidade, que
frequentemente caracterizam-se pelo comprometimento de componentes psicológicos como
desvios das percepções, dos pensamentos, das sensações e das relações interpessoais de um
indivíduo e os transtornos psíquicos. Ambos os transtornos serão retomados, mais adiante, com as
devidas características.

Um questionamento que merece ser destacado, quando mencionamos estados mentais ou


comportamentos patológicos, é a dúvida entre o que é normal e o que é patológico no contexto
da psicologia.

Bock, Furtado e Teixeira (2011, p. 32) nos trazem uma definição pertinente a esse respeito:

O tema da normalidade é algo que ocupa desde sempre o ser humano. [...].
Para isso, uma das referências é a Psicanálise, para qual a diferença entre o

29
Unidade I

normal e o patológico é uma questão de grau. Ou seja, a estrutura psíquica


do indivíduo formada desde antes do nascimento é a mesma, qualquer
que seja o diagnóstico de seu estado (“normal” ou “patológico”), e o que
diferencia esses estados é a intensidade, a frequência do comportamento/
sentimento/ideias e o grau de sofrimento que implica para o indivíduo ou
de desconforto e preocupação que suscita em seus graus de convivência.
Dois exemplos recorrentes para esclarecer isso: é comum, nos tempos
atuais, a preocupação com a segurança pessoal e do patrimônio, portanto,
espera‑se que as pessoas, ao saírem de casa, verifiquem se trancaram a porta.
Contudo, se alguém retorna três ou quatro vezes para verificar se a casa está
fechada, já nos chama a atenção [...]. Outro exemplo frequente é a “mania
de limpeza”, algo valorizado pela importância atribuída à higiene que está
relacionada à saúde no mundo moderno; contudo, se a pessoa desenvolve
um comportamento extremamente rígido e, por exemplo, lava as mãos toda
vez que toca um objeto [...].

Ainda, de acordo com os autores

A abordagem psicológica encara os sintomas e, portanto, a doença mental


como desorganização da vida subjetiva da pessoa. Essa desorganização
pode ocorrer a partir da interdependência entre acontecimentos crônicos
ou excepcionais (traumáticos) no mundo físico e social – precariedade
de condições de vida, riscos iminentes de catástrofes, perda de um ente
muito querido – e as condições de constituição de sua subjetividade. Nesse
sentido, é importante considerar que a subjetividade refere-se ao sujeito em
sua totalidade: seu corpo físico, seu funcionamento orgânico, psicológico e
seu lugar social (BOCK, FURTADO; TEIXEIRA, 2011, p. 36).

Com relação a essa diferenciação, Messa (2010) afirma:

As perturbações do processo psíquico ou as falhas que acometem as


funções mentais podem comprometer o processo de memória, registro,
reconhecimento e testemunho. Por isso, torna-se essencial a compreensão
de tais aspectos. As funções mais afetadas nos transtornos psico-orgânicos
são a consciência, atenção (também nos quadros afetivos), orientação,
memória, inteligência e linguagem. Nos transtornos afetivos, neuróticos
e de personalidade, as funções mais afetadas são afetividade, vontade,
psicomotricidade e personalidade; e nos transtornos psicóticos são a
sensopercepção, pensamento, vivência do tempo e do espaço, juízo da
realidade, vivências do eu (MESSA, 2010, p. 25).

No entanto, a diferenciação entre doença e saúde mental encontra seus críticos.

30
PSICOLOGIA JURÍDICA

Observação

Dois grandes críticos da psiquiatria merecem ser citados nesse contexto:


Michel Foucault e Franco Basaglia, que criou a antipsiquiatria, um movimento
que no Brasil está sendo essencial na transformação dos “manicômios” em
clínicas especializadas, nas quais se procura respeitar o doente.

Do ponto de vista da psicanálise, Freud contribuiu para o estudo das doenças mentais, classificando‑as
em três estruturas: neurose, psicose e perversão. Para ele, esses tipos de estruturas aparecem em
decorrência das diferentes maneiras que o indivíduo se posiciona diante da lei e do desejo.

Saiba mais

Leia mais a respeito do assunto em:

FREUD, S. Neurose, psicose, perversão. Obras incompletas de Sigmund


Freud. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

Apenas para ilustrarmos as características dessas estruturas trazidas pela psicanálise, vamos
apresentá-las a seguir.

Neurose

O indivíduo tem plena consciência de suas ações, mas não consegue controlá-las. São distúrbios mais
leves, com poucas distorções da realidade, porém geram angústia e inibições. É tratada principalmente
por psicólogos, com a aplicação de diferentes métodos. Existe a psicoterapia e vários remédios para
aliviar os sintomas. Medicamentos contra a depressão e a ansiedade ajudam a pessoa, e alguns remédios
podem elevar a sensação de autoestima. Seus principais sintomas são:

• Insatisfação geral.

• Excesso de mentiras (mitomania).

• Manias.

• Problemas com o sexo.

• Depressão.

• Síndrome do pânico.

31
Unidade I

Observação

Segundo a psicanálise, a maioria das pessoas é afetada pela neurose


de alguma forma.

Sua classificação engloba:

• Neurose obsessiva: são as denominadas pessoas “certinhas”. Por exemplo, no contexto jurídico,
seriam as pessoas que tendem a obedecer cegamente à lei, permanecendo nos limites das normas
sociais. Nesse sentido, a repetição de certos comportamentos seria explicada pelo conflito entre a
obediência à lei e o desejo de não obedecer.

• Neurose histérica: diz respeito às pessoas que são extremamente emotivas. Essas pessoas,
inconscientemente, têm a necessidade de serem chamadas à ordem. O indivíduo apresenta
insatisfação generalizada, atos de rebeldia e falta de concentração.

• Neurose de angústia: sua principal característica é a fobia causada por objetos. Levando em
consideração a psicanálise, o que causa a neurose de angústia é o medo de castração e o medo da
sexualidade, que pode manifestar-se na adolescência.

• Neurose fóbica: relacionada ao medo de determinados lugares, objetos ou situações, tornando o


indivíduo inseguro e com sensação de evitamento.

De acordo com Pinheiro (2016), há de se considerar a diferença entre uma pessoa neurótica e um
delinquente neurótico:

Na delinquência neurótica, a conduta criminosa é tida como manifestação


dos conflitos internos do sujeito. Ele atualiza em sua ação antissocial os
seus conflitos psíquicos. É o que se chama de delinquência sintomática.
Nesse sentido, é importante diferenciar os padrões desenvolvidos por uma
pessoa de personalidade neurótica daquele portador de personalidade
dita delinquente. Na neurose, o conflito é interno, já na personalidade
delinquente, pelo menos aparentemente, não existe nenhum conflito
interno. Na neurose, a agressividade é voltada para o próprio indivíduo,
enquanto na personalidade delinquente a agressividade é voltada
para o social. Na neurose, o sujeito tem gratificação por meio de suas
próprias fantasias e sublimações, já a personalidade delinquente
necessita aliviar suas tensões internas por meio de ações criminosas
(PINHEIRO, 2016, p. 127).

32
PSICOLOGIA JURÍDICA

Psicose

Aqui, o indivíduo não apresenta consciência dos seus atos, perdendo a noção da realidade.
Nesse caso não há uma cura definitiva. A psicose é marcada por fase de delírios (realidade percebida
como falsa, crença de conspiração contra a pessoa, algumas delas se julgam Deus) e alucinações
(ouve vozes, tem visões, acredita que fontes externas controlam seus pensamentos). Exemplos
desse distúrbio englobam a esquizofrenia, o transtorno bipolar, a paranoia e o autismo. Vejamos
algumas características:

• Esquizofrenia: a pessoa apresenta uma fala confusa e distorcida, dificuldade de se relacionar


com o mundo e outras pessoas.

• Transtorno bipolar: a pessoa vive fases alternadas de euforia e de melancolia.

• Paranoia: a pessoa apresenta um quadro delirante, pode ter a ilusão de ser perseguido ou
apresentar algum delírio de grandeza.

• Autismo: é um distúrbio grave que prejudica a capacidade do indivíduo de se comunicar, de


interagir. A pessoa pode apresentar interesse obsessivos e comportamentos repetitivos.

Observação

No autismo, a gravidade dos sintomas pode variar.

Aqui, cabe novamente a diferenciação de Pinheiro (2016, p. 126) com relação à delinquência:

A delinquência psicótica consiste na prática delitiva em função de um


tratamento mental. Nesse sentido, temos que diversas psicopatologias
– esquizofrenia, psicose, depressão, etc. – podem levar o indivíduo a
um comportamento delitivo. [...] O que torna a delinquência psicótica
um problema para a sociedade é a possibilidade de que o ato delituoso
se repita [...].

Perversão

Na psicanálise, o termo diz respeito a quem busca satisfação sexual além dos limites “normais”. São
pessoas que têm dificuldade de seguir as leis.

33
Unidade I

3.2 Personalidade

Figura 7 – Distúrbios de personalidade

Disponível em: https://bit.ly/3SsvqyJ. Acesso em: 24 fev. 2023.

Há várias teorias explicando de que forma se desenvolve a personalidade. No entanto, privilegiamos


o enfoque de alguns conceitos em detrimento de outros. Porém, há de se destacar que a escolha foi
puramente intuitiva e que existem outros conceitos importantes.

De acordo com Fonseca (2018, p. 31):

A criança recebe um nome social ao nascer. Ela passa do campo do inominado


para o terreno do nominado. O inominado corresponde à essência, enquanto
o nominado corresponde ao corpo (biológico) e ao psíquico (matriz de
identidade/personalidade).

Ainda segundo o autor:

[...] levei em conta, além da essência, os componentes genético-hereditários


e psicossociológicos na constituição da personalidade. Esses elementos estão
contemplados na teoria de papéis de Moreno. Para ele, os papéis dão origem
à personalidade, e não ao contrário, como se poderia pensar. Ele elenca
três tipos de papéis nesse processo constitutivo: os papéis psicossomáticos
(como os de respirador, ingeridor, defecador, urinador, dormidor etc.),
os papéis psicológicos, que correspondem ao mundo imaginário ou da
fantasia, e os papéis sociais, que promovem a ponte psicológica da criança

34
PSICOLOGIA JURÍDICA

entre a fantasia e a realidade social. No exercício desses papéis ela realiza o


“aprendizado” do dentro-fora, da fantasia-realidade, da relação-separação
(FONSECA, 2018, p. 23).

Saiba mais

Para aprofundar o assunto, leia:

FONSECA, J. Essência e personalidade: elementos de psicologia


relacional. São Paulo: Ágora, 2018.

Segundo Friedman e Schustack (2004):

A psicologia da personalidade pode ser definida como o estudo científico


das forças psicológicas que tornam as pessoas únicas. Para sermos mais
abrangentes, poderíamos dizer que a personalidade tem oito aspectos
principais, que, reunidos, ajudam-nos a compreender a natureza complexa
do indivíduo. Primeiramente, esse indivíduo é influenciado por aspectos
inconscientes, forças que não estão na consciência imediata. Por exemplo,
poderíamos dizer ou fazer coisas para outras pessoas que nossos pais
costumavam dizer ou fazer para nós, sem dar conta de estarmos sendo
motivados pelo desejo de ser semelhantes a eles. Em segundo lugar, o
indivíduo é influenciado pelas chamadas forças do ego, que oferecem um
sentimento de identidade ou self. Por exemplo, na maioria das vezes, nos
esforçamos por manter um senso de domínio e consistência em nosso
comportamento. Em terceiro lugar, uma pessoa é um ser biológico, com uma
única natureza genética, física, fisiológica e temperamental. [...] Em quarto
lugar as pessoas são condicionadas e modeladas pelas experiências e pelo
ambiente à sua volta, às vezes, nos ensinam a responder de determinada
forma, possibilitando nosso crescimento em diversas culturas. A cultura
é um aspecto fundamental na determinação de quem somos. Em quinto
lugar, as pessoas têm uma dimensão cognitiva. Elas pensam e interpretam
ativamente o mundo a seu redor. Diferentes pessoas interpretam os
acontecimentos à sua volta de maneira também única. Em sexto lugar, um
indivíduo é um conjunto de traços, habilidades e predisposições específicas.
Não há como negar que cada um de nós tem determinadas capacidades e
inclinações. Em sétimo lugar, os seres humanos têm uma dimensão espiritual
em relação à própria vida, que os enobrece e os induz a ponderar sobre o
significado de sua existência. As pessoas não são meros robôs programados
por computador. Elas buscam a felicidade e a autossatisfação. Em oitavo
lugar, e finalmente, a natureza do indivíduo é uma interação contínua entre
a pessoa e determinado ambiente (FRIEDMAN; SCHUSTACK, 2004, p. 2).

35
Unidade I

Se observarmos o conceito de personalidade trazido por Friedman e Schustack, ele descreve o


desenvolvimento da personalidade de um indivíduo entendido como um ser biopsicossocial.

Saiba mais

Leia mais a respeito do assunto em:

FRIEDMAN, H. S.; SCHUSTACK, M. W. Teorias da personalidade: da teoria


clássica à pesquisa moderna. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

3.3 Transtornos de personalidade

Figura 8 – Transtornos da mente

Disponivel em: https://bit.ly/2RThYJD. Acesso em: 24 fev. 2023.

Para um breve conhecimento dos tipos de transtorno, faremos um relato com as principais
características de cada um deles:

A classificação apresentada leva em consideração a tipologia utilizada por Messa (2010).

• Personalidade paranoica: sentimento de desconfiança e perseguição, apresentando um


comportamento de ataque como forma de defesa.

• Personalidade esquizoide: incapacidade de expressar sentimentos, perceber e considerar os


sentimentos de outras pessoas, apresentando um comportamento reservado e introspectivo.

• Personalidade psicopata: são indivíduos que apresentam uma moral egoísta e baixa tolerância
à frustração. Destacam-se comportamentos que transgridem as leis e as regras sociais sem
arrependimento.

36
PSICOLOGIA JURÍDICA

• Personalidade histriônica: apresenta comportamentos afetivos superficiais, teatralidade e


dramatização, com estado emocional oscilante.

• Personalidade obsessiva: são pessoas perfeccionistas e repetitivas, não apreciam inovações, pois
possuem uma conduta rígida.

• Personalidade borderline: denota relações precárias e conflituosas, instabilidade emocional e


comportamento impulsivo e imprevisível, sem considerar as consequências.

• Personalidade ansiosa: apresenta baixa autoestima e não aceita críticas, com grande necessidade
de ser aceito. Tem comportamento hesitante e dificuldade de estabelecer relações.

• Personalidade dependente: expressa comportamento dependente e passivo, sentimento de


desamparo e dificuldade de tomar decisões.

• Personalidade depressiva: é uma pessoa retraída e insegura, apresentando sentimento de


tristeza e desânimo.

Observação

Geralmente, as personalidades patológicas podem apresentar


comportamentos depressivos.

• Personalidade narcísica: a pessoa necessita ser admirada e tem necessidade de que suas
características sejam ressaltadas. Tem dificuldade de aceitar críticas.

Observação

Existem os chamados transtornos mistos de personalidade, que


apresentam sintomas e características de vários transtornos.

Entre os transtornos psíquicos, destacam-se:

• Transtorno de ansiedade: é uma ansiedade crônica e desproporcional, apresentando medos


excessivos de doenças e acidentes.

• Agorafobia: medo de sair de casa, de multidões e locais públicos.

• Fobia social: medo de contextos sociais.

• Síndrome do pânico: apresenta momentos de intensa ansiedade, medo e desconforto.

37
Unidade I

• Transtorno obsessivo-compulsivo: conhecido como TOC, apresentando comportamentos


ritualísticos, objetivando reduzir a ansiedade.

• Transtorno de estresse pós-traumático: são sintomas que surgem após a exposição a


eventos estressores.

• Transtorno dissociativo: a pessoa apresenta comportamentos e atitudes contraditórias.

• Histeria de conversão: aparecem sintomas corporais como paralisias, anestesias, analgesias,


cegueira, perda de fala, dificuldades motoras.

• Histeria dissociativa: ocorrem alterações de consciência, memória, ilusões e alucinações.

• Transtorno depressivo: apresenta sintomas relacionados a experiências de perda, com influências


de componentes biológicos e neuroquímicos.

Observação

O transtorno obsessivo pode ser induzido por substância ou


condição médica.

• Ciclotimia: observa-se instabilidade do humor, com períodos de depressão com leves melhoras.

• Distimia: caracterizado por rebaixamento contínuo de humor, que pode durar por um longo tempo.

• Transtorno bipolar: a pessoa apresenta alteração de humor e comportamento com momentos


de mania, hipomania e depressão.

• Transtorno factício: conhecido como síndrome de Munchausen, a pessoa provoca ou simula


sintomas de doenças de forma compulsiva através de mentiras (patológicas) e conscientes.

• Síndrome de Estocolmo: aparece em vítimas de situações traumáticas que acreditam ter


desenvolvido um vínculo afetivo com o criminoso. Apresentam dificuldades em denunciá-lo,
chegando a negar a agressão.

• Parafilia: a pessoa é definida dessa forma por apresentar comportamentos sexuais com práticas
e padrões sexuais particulares e lesivos ao indivíduo e aos parceiros.

• Exibicionismo: a pessoa expõe os órgãos genitais ou realiza masturbação a estranhos com o


objetivo de chocar o observador.

• Voyeurismo: compulsão em observar pessoas nuas.

38
PSICOLOGIA JURÍDICA

• Pedofilia: desejo sexual por crianças.

• Drogadição e abuso: dependência de álcool e outras drogas.

• Transtornos psicóticos e delirantes: a pessoa perde o contato com a realidade e apresenta


sintomas psicóticos.

• Esquizofrenia: trata-se de uma psicose com problemas relacionados a cognição, emoção, percepção,
pensamento, comunicação etc. Apresenta delírios, alucinações, afastamento da realidade.

• Transtornos delirantes: delírios não bizarros, com alguma preservação da personalidade.

• Paranoias e parafrenias: delírios que aparecem por volta dos 40 anos.

• Psicose puerperal: pode ser desencadeada após o parto, provocando alterações sociais,
psicológicas e físicas da mulher.

• Transtornos psicorgânicos: a causa é orgânica e pode ser identificada.

• Delirium: é uma síndrome cerebral orgânica, apresentando diversas perturbações.

• Demência: o comportamento sofre alterações decorrentes de doenças cerebrais. No entanto, o


nível de consciência apresenta-se normal.

Saiba mais

Para conhecer melhor os transtornos mentais, leia:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico


de transtornos mentais – DSM – 5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

4 PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO E VITIMOLOGIA

4.1 Psicologia do testemunho

A psicologia do testemunho, citada anteriormente, foi uma das primeiras conexões entre a psicologia
e o direito. Seu estudo é de extrema importância para a área de psicologia jurídica, pois visa investigar
os processos internos de testemunhas que podem ou não dificultar o relato delas. Dessa forma, ela
possibilita investigar a veracidade das informações trazidas pelas testemunhas.

39
Unidade I

De acordo com Messa (2010):

O juiz não presenciou o fato em relação ao qual irá sentenciar, portanto


se faz necessário o testemunho, em que as pessoas relatam os detalhes
do ocorrido (SOUZA, 1988). As entrevistas forenses, portanto, são aquelas
projetadas para facilitar o recolhimento de evidências pelas declarações
da vítima ou testemunhas (PISA, 2006). Os depoimentos, englobando
todas as formas, estão sujeitos a imperfeições, como erros, falhas,
excessos e outros riscos, decorrentes de defeitos de fixação, conservação
e evocação da percepção, e também fatores específicos ligados a
idade, sexo, nível mental, condições sociais e familiares (SOUZA, 1988)
(MESSA, 2010, p. 95).

Na avaliação da veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, devemos levar


em consideração o chamado fenômeno das falsas memórias, que tem um papel importante
nessa área. Nas falsas memórias, o indivíduo é capaz de armazenar e recordar informações que
não ocorreram.

De acordo com Cezar (apud LAGO et al., 2009), outra área relacionada à psicologia do testemunho
é o depoimento sem dano, que objetiva proteger psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de
abusos sexuais e outras infrações penais que deixam graves sequelas na personalidade.

Observação

Cabe ao técnico entrevistador a habilidade em ouvir, ter paciência,


empatia, disposição para o acolhimento, a capacidade de deixar o depoente
à vontade durante a audiência, além de conhecer a dinâmica do abuso
(CEZAR apud LAGO et al., 2009).

Para Mira e Lopez (apud MESSA, 2010), o testemunho depende de cinco fatores:

• do modo como percebeu o acontecimento;

• do modo como a sua memória o conservou;

• do modo como é capaz de evocá-lo;

• do modo como quer expressá-lo;

• do modo como pode expressá-lo.

40
PSICOLOGIA JURÍDICA

Os mesmos autores descrevem três formas de relato:

• Relato espontâneo: caracteriza-se por ser menos deformado.

• Por interrogatório: as respostas podem não ser verdadeiras, pois, nesse contexto, há um conflito
entre o que o indivíduo sabe de um lado e o que as perguntas tendem a fazê-lo saber.

• Por meio da confissão: quando a pessoa se expõe voluntariamente à punição, ou ainda pode
derivar da evidência dos fatos.

Observação

Devemos levar em consideração o testemunho de crianças, idosos


e pessoas com deficiência, aplicando formas de obter informações
diferenciadas para cada um deles.

Com relação à conduta criminosa, ela pode ser entendida de três formas, de acordo com Fiorelli e
Mangini (apud MESSA, 2010):

• Anormal: entendida como criminologia tradicional.

• Derivada de conflitos interpessoais e processos sociais: a responsabilidade é do indivíduo,


considerada criminologia moderna.

• Derivada da sociedade: a responsabilidade é da sociedade, considerada criminologia crítica.

Para finalizarmos algumas das considerações na psicologia do testemunho, destacamos Souza (apud
MESSA, 2010), que apresenta alguns sintomas que podem evidenciar uma possível mentira encontrada
em um interrogatório:

• A precisão excessiva nas recordações.

• A prontidão ou hesitação nas respostas.

• O silêncio.

41
Unidade I

4.2 Vitimologia

A vitimologia é outra área que demanda conhecimento, pois estuda a influência da vítima na
ocorrência de um delito.

De acordo com Brega Filho (apud LAGO et al., 2009), cabe ao psicólogo traçar o perfil e compreender
as relações das vítimas perante a infração penal. A intenção é averiguar se a prática do crime foi
estimulada pela atitude da vítima. Essa atitude pode apontar uma colaboração com o criminoso.
Além disso, espera‑se a partir do trabalho do psicólogo jurídico que este coloque em prática medidas
preventivas e prestação de assistência às vítimas, visando, dessa forma, à reparação dos danos causados
pelo delito.

Segundo Fiorelli e Mangini (apud MESSA, 2010), os interesses da área seriam:

• Prevenção do delito.

• Desenvolvimento metodológico-instrumental.

• Formulação de propostas de criação e reformulação de políticas sociais.

• Desenvolvimento continuado do modelo de justiça penal.

De acordo com os autores:

[...] diversos podem ser os motivos que levam uma pessoa a se expor
como vítima. Os ganhos secundários podem estar presentes, gerando
consequências e recompensas que mantêm o comportamento. Outra razão
pode ser a exaltação do sofrimento, com forte influência cultural, além de
expiação de culpas. No sofrimento, a pessoa se iguala a um mártir devotado,
conquistando o direito a recompensas em outras dimensões. A vítima pode
também ter a crença de que não há expectativa de ações favoráveis para
inibir, prevenir ou punir o delinquente, de que não há nada que possa ser
feito (apud MESSA, 2010, p. 70).

Encontramos em Messa (2010, p. 69) uma classificação de “vítimas”:

Em 1956, Benjamin Mendelsohn, advogado israelita, um dos precursores


dos estudos da vitimologia, estabeleceu uma classificação dos tipos de
vítimas, com base na sua culpabilidade. O vitimólogo fundamenta sua
classificação na correlação da culpabilidade entre a vítima e o infrator.
Chega também a relacionar a pena com a atitude vitimal, sustentando
que há uma relação inversa entre a culpabilidade do agressor
e a do ofendido.

42
PSICOLOGIA JURÍDICA

A seguir, apresentamos suscintamente a referida classificação:

• Vítima completamente inocente ou vítima ideal: a vítima é estranha ao agressor.

• Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância: o indivíduo se expõe inconscientemente


para fazer o papel de vítima.

• Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator: ambos podem ser o criminoso ou a vítima.

• Vítima mais culpada que o infrator: envolve as vítimas provocadoras, que incitam o crime.

• Vítima unicamente culpada.

Lembrete

Cabe ao psicólogo traçar o perfil e compreender as relações das vítimas


perante a infração penal.

43
Unidade I

Resumo

Vimos que a psicologia jurídica, enquanto área específica da psicologia


como ciência, pode ser entendida como uma aplicação do conhecimento
psicológico às questões relacionadas ao direito.

Cabe destacar que a primeira aproximação entre a psicologia e o direito


ocorreu no final do século XIX, quando surgiu a psicologia do testemunho.
A partir do momento em que ambas as áreas se encontram, elas passam a
compartilhar o mesmo objeto de estudo: o homem e seu comportamento.

No entanto, devemos destacar o conceito de subjetividade (constituída


de ideias, significados, emoções, afetos e comportamentos) como um estudo
importante para que possamos entender o homem em sua totalidade.

Ambas as áreas, psicologia e direito, contribuem no entendimento


de agentes comportamentais, sociais e individuais simultaneamente aos
aspectos legais, com o intuito de classificar e julgar um comportamento no
sistema jurídico.

A psicologia como área de conhecimento científico se desenvolveu por


volta do século XIX. As primeiras descobertas ocorreram com a observação
dos comportamentos observáveis, e suas primeiras pesquisas foram feitas
em laboratório. Inúmeras teorias foram surgindo com o objetivo de entender
o comportamento humano.

Freud, fundador da psicanálise, foi defensor do conceito da existência


de processos mentais inconscientes, que passaram a ser o alicerce da
psicanálise, teoria fundada por ele.

O inconsciente é uma instância psíquica de emoções e sentimentos


reprimidos da consciência por apresentarem um conteúdo insuportável e
que, por isso, eram reprimidos.

Para Freud, existem basicamente quatro maneiras de o inconsciente se


manifestar, ou seja, quatro formações do inconsciente: os atos falhos (erros
na fala, na memória, na escrita ou uma ação física), os sonhos, os chistes
(piadas) e os sintomas.

Mais tarde, no século XX, Freud apresenta a composição do aparelho


psíquico, constituído por três instâncias: id, ego e superego.

44
PSICOLOGIA JURÍDICA

Os mecanismos de defesa, segundo Freud, são responsáveis por diminuir a


angústia provocada pelos conflitos internos. A diminuição ocorre a partir de
uma distorção da realidade para que o indivíduo se adapte e enfrente situações
estressantes, pois, do contrário, ele enlouqueceria, ficaria doente. Sua utilização é
normal (se forem usados em grau moderado, em que a pessoa oscila momentos
de contato com a realidade), e não patológica.

Outra contribuição importante trazida por Freud diz respeito ao


desenvolvimento da personalidade, que se dá através de estágios
(determinados por estímulos internos e externos) psicossexuais.

Ainda estudamos nesta unidade o behaviorismo, uma teoria psicológica


conhecida como teoria de comportamento ou teoria comportamental.
Seu principal representante é Skinner. O behaviorismo é uma perspectiva
comportamental do século XIX, influenciada pelas ciências biológicas
e que estuda as interações entre o indivíduo e o ambiente. As respostas
comportamentais estão ligadas a situações-estímulo.

O aprendizado de uma resposta condicionada passa a ser controlado


por suas consequências devido ao que Skinner chamou de reforços
ou estímulos. Para o behaviorismo, há dois tipos de reforço: o positivo
e o negativo.

A gestalt, outra teoria importante, é entendida como a teoria da forma,


que tem como objetivo explicar como percebemos a nós mesmos, as outras
pessoas e o ambiente em que vivemos. O todo de uma percepção é diferente
da soma de suas partes, ou seja, a totalidade da percepção de um objeto ou de
uma situação não se reduz à soma de suas partes.

A teoria estudou, dessa forma, o fenômeno denominado ilusão de


óptica. São imagens que enganam a nossa visão, fazendo-nos ver coisas
que não estão presentes ou nos fazendo ver coisas de forma inadequada.

A gestalt estudou a relação entre figura e fundo. A figura é constituída


pelos aspectos da experiência eleitos como dominantes, sobressaindo
ao fundo. O fundo é o panorama composto de experiências anteriores.
Dessa forma, o ambiente é fator importante para uma percepção.

Ainda destacamos Erikson, um psiquiatra alemão que construiu


a teoria do desenvolvimento psicossocial, pontuando o quanto nosso
desenvolvimento físico e psicológico é resultado da relação do indivíduo
com o seu ambiente físico e social. A partir dessa relação, o ser humano
necessita fazer diversas adaptações. Para explicar esse desenvolvimento,
ele apresenta o que chamou de oito fases ou conflitos.
45
Unidade I

São muitas as áreas em que o psicólogo jurídico pode atuar, como


direito da família, direito penal, direito civil.

Nossa legislação brasileira utiliza o termo “doença mental” no art. 26


do Código Penal com o objetivo de estabelecer a inimputabilidade (não
responsabilidade por um ilícito penal).

Nesse sentido, a psicopatologia trata da ciência que estuda o ser humano


em seus estados mentais patológicos. Esses estados patológicos apresentam
quadros emocionais disfuncionais que geram sofrimento psíquico. Dessa
forma, podem surgir os transtornos de personalidade, que frequentemente
caracterizam-se pelo comprometimento de componentes psicológicos,
como o desvio das percepções, dos pensamentos, das sensações e das
relações interpessoais de um indivíduo e os transtornos psíquicos.

Há várias teorias explicando de que forma se desenvolve a personalidade –


por exemplo, o conceito de personalidade trazido por Friedman, em que ele
descreve o desenvolvimento da personalidade de um indivíduo entendido
como um ser biopsicossocial.

A psicologia do testemunho foi uma das primeiras conexões entre a


psicologia e o direito. Seu estudo é vital para a área de psicologia jurídica,
pois visa investigar os processos internos de testemunhas que podem ou não
dificultar o relato. Dessa forma, ela possibilita investigar a veracidade das
informações trazidas pelas testemunhas.

Na avaliação da veracidade dos depoimentos de testemunhas e


suspeitos, devemos levar em consideração o chamado fenômeno das falsas
memórias, que tem um papel importante nessa área. Nas falsas memórias, o
indivíduo é capaz de armazenar e recordar informações que não ocorreram.

A vitimologia é outra área que demanda conhecimento, pois estuda a


influência da vítima na ocorrência de um delito.

46
PSICOLOGIA JURÍDICA

Exercícios

Questão 1. De acordo com Freud, os mecanismos de defesa são responsáveis por diminuir a angústia
provocada pelos conflitos internos. Entre eles, apresentamos três exemplos: comum em pessoas que não
assumem a responsabilidade ou consequência de seus atos; são essenciais no processo de desenvolvimento
psicossexual; a pessoa busca apresentar uma explicação coerente e lógica e moralmente aceita. Assinale
a alternativa que apresenta os referidos mecanismos, respectivamente:

A) Identificação; racionalização; regressão.

B) Racionalização; identificação; regressão.

C) Identificação; regressão; racionalização.

D) Regressão; identificação; racionalização.

E) Regressão; racionalização; identificação.

Resposta correta: alternativa D.

Análise da questão

A questão pede para que seja assinalada a alternativa com os respectivos (na ordem) conceitos
acentuados no texto, ou seja: regressão, identificação e racionalização.

Questão 2. Quando comparamos o direito e a psicologia, é possível observarmos diversas


características. Assinale a alternativa correta a esse respeito:

A) A psicologia jurídica busca entender o homem e seu comportamento concomitantemente aos


aspectos legais para que uma conduta seja classificada e julgada no sistema jurídico.

B) Cada uma das ciências compartilham um objeto de estudo diferenciado.

C) Diferentemente do direito, a psicologia jurídica não se ocupa do comportamento de todas as


pessoas que participam da questão processual.

D) A primeira aproximação entre o direito e a psicologia ocorreu no século XIX, com a psicologia do
delinquente juvenil.

E) Não é possível perceber correspondências entre as duas ciências.

Resposta correta: alternativa A.

47
Unidade I

Análise da questão

A alternativa B está incorreta, pois ambas as ciências compartilham o mesmo objeto de estudo: o
comportamento humano. A alternativa C está incorreta, pois a psicologia se ocupa do comportamento
de um processo. A alternativa D está incorreta, pois a primeira aproximação da psicologia com o
direito ocorreu com a psicologia do testemunho. Por fim, a alternativa E está incorreta, pois ela nega a
correspondência entre as duas ciências.

48

Você também pode gostar