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Crescimento e

Desenvolvimento Humano
Autores: Profa. Cássia Regina Palermo Moreira
Prof. Mário Luiz Miranda
Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago
Prof. Mário André Sigoli
Professores conteudistas: Cássia Regina Palermo Moreira / Mário Luiz Miranda

Cássia Regina Palermo Moreira

Natural de São Paulo, doutora em Ciências pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP‑USP), com
mestrado e bacharelado em Educação Física pela Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFEUSP).

Professora na Universidade Paulista (UNIP) de 2004 a 2011 e de 2014 até o momento no curso de Educação
Física e em outros cursos de graduação. Professora pela Uniesp, em 2013. Leciona as disciplinas Aprendizagem e
Desenvolvimento Motor, Crescimento e Desenvolvimento Humano, Métodos de Pesquisa, Psicologia Aplicada ao
Esporte, entre outras. Membro do Grupo de Estudos da Ação e Intervenção Motora (EEFE‑USP). Bacharela em Direito,
desde 2013, pelas Faculdades Integradas de Guarulhos – SP (FIG-UNIMESP).

Mário Luiz Miranda

Natural de São Paulo, foi atleta de judô e atualmente é árbitro internacional continental dessa modalidade pela
Federação Internacional de Judô e Confederação Brasileira de Judô. É mestre em Ciências pela Escola de Educação
Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE‑USP), pós-graduado em Aprendizagem Motora também pela
EEFE-USP e graduado em Educação Física na UNIP, onde atua como coordenador pedagógico e professor, desde 2006,
nas disciplinas de Aprendizagem e Desenvolvimento Motor e Lutas: Aspectos Pedagógicos e Aprofundamento, na qual
é líder acadêmico. É professor nos cursos de pós-graduação à distância de Aprendizagem e Desenvolvimento Motor
na disciplina de Teorias de Aprendizagem Motora da Universidade Estácio de Sá e Unicsul. Seus principais trabalhos
publicados são: A iniciação no Judô: Relação com o Desenvolvimento Infantil; Efeitos do Uso da Instrução Verbal e
Demonstração por Vídeo na Aprendizagem de uma Habilidade Motora do Judô; estudos de prática formalizada de kata
(rotinas de aprendizagem de golpes da modalidade de judô) com o título Práctica y Caracterización de las Katas por
Profesores y Árbitros de Judô Experimentados e o livro Respostas Psicofisiológicas da Arbitragem de Judô: Efeitos da
Experiência dos Árbitros e do Nível das Competições.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M838c Moreira, Cássia Regina Palermo.

Crescimento e desenvolvimento humano. / Cássia Regina


Palermo Moreira, Mario Luiz Miranda. – São Paulo: Editora Sol, 2017.

168 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-016/17, ISSN 1517-9230.

1. Crescimento. 2. Desenvolvimento humano. 3. Ciclo de vida. I.


Miranda, Mario Luiz. II. Título.

CDU 159.922

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Aline Ricciardi
Giovanna Oliveira
Sumário
Crescimento e Desenvolvimento Humano

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 VIDA HUMANA: DESENVOLVIMENTO DA ESPÉCIE, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
DO INDIVÍDUO E POSSIBILIDADES DE RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO FÍSICA............................. 11
2 DESENVOLVIMENTO DA ESPÉCIE............................................................................................................... 13
2.1 A origem do homem: considerações sobre evolução............................................................. 14
2.2 A origem do homem na história do homem............................................................................. 16
2.3 Características morfofuncionais do homem moderno (Homo sapiens sapiens)................ 20
2.4 Importância do estudo da evolução humana para a Educação Física............................ 23
3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO...................................................................... 25
3.1 Ideias equivocadas sobre crescimento e desenvolvimento humano............................... 25
3.2 Os fenômenos e os conceitos de crescimento e desenvolvimento humano................ 26
3.3 Há limites para o crescimento e para o desenvolvimento ao longo da vida?.............. 28
3.4 Fatores de influência e variações no processo de crescimento e desenvolvimento
de uma pessoa............................................................................................................................................... 30
3.5 Domínios que compõem o desenvolvimento humano.......................................................... 33
3.5.1 Domínio motor......................................................................................................................................... 35
3.5.2 Domínio cognitivo................................................................................................................................... 38
3.5.3 Domínio emocional................................................................................................................................. 40
3.5.4 Domínio moral.......................................................................................................................................... 42
3.5.5 Domínio social e cultural...................................................................................................................... 45
3.6 A integração polêmica de dois domínios do desenvolvimento: razão e emoção.................47
4 O CICLO DE VIDA E AS FAIXAS ETÁRIAS.................................................................................................. 50
4.1 Para mais reflexões sobre o ciclo de vida e a atuação profissional.................................. 51

Unidade II
5 INICIANDO A VIDA: CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NO PERÍODO PRÉ-NATAL..............57
5.1 Concepção................................................................................................................................................ 57
5.1.1 Sistemas reprodutivos............................................................................................................................ 57
5.1.2 Característica reprodutiva feminina e masculina................................................................................60
5.2 Gravidez: o difícil caminho da concepção.................................................................................. 62
5.3 A saúde da mulher e fatores que podem afetar a gravidez saudável............................. 63
5.4 O período pré-natal.............................................................................................................................. 64
5.4.1 O primeiro mês......................................................................................................................................... 64
5.4.2 O segundo mês......................................................................................................................................... 66
5.4.3 O terceiro mês........................................................................................................................................... 68
5.4.4 O quarto mês............................................................................................................................................. 69
5.4.5 O quinto mês............................................................................................................................................. 71
5.4.6 O sexto mês................................................................................................................................................ 72
5.4.7 O sétimo mês............................................................................................................................................. 74
5.4.8 O oitavo mês.............................................................................................................................................. 75
5.4.9 O nono mês................................................................................................................................................ 76
5.5 O processo de nascimento ou parturição................................................................................... 78
5.5.1 Parto vaginal.............................................................................................................................................. 78
5.5.2 Parto cesariano......................................................................................................................................... 79
6 INFÂNCIA............................................................................................................................................................. 80
6.1 Primeira infância................................................................................................................................... 80
6.1.1 Desenvolvimento físico......................................................................................................................... 80
6.1.2 Desenvolvimento sensorial e cognitivo.......................................................................................... 82
6.1.3 Desenvolvimento motor....................................................................................................................... 83
6.1.4 Desenvolvimento emocional e sociocultural................................................................................ 89
6.1.5 A grande importância do ato de amamentar – para a mãe e para o bebê..................... 92
6.2 Segunda infância................................................................................................................................... 94
6.2.1 Domínio cognitivo e moral.................................................................................................................. 94
6.2.2 Domínio motor......................................................................................................................................... 95
6.2.3 Domínio emocional e sociocultural...........................................................................................................97
6.3 Terceira infância..................................................................................................................................... 97
6.3.1 Desenvolvimento cognitivo e moral................................................................................................ 97
6.3.2 Desenvolvimento físico e motor........................................................................................................ 98
6.3.3 Desenvolvimento emocional e sociocultural..............................................................................101
6.3.4 Interação dos domínios do desenvolvimento: um exemplo de fatos..............................103
6.3.5 Para mais reflexões sobre Educação Física na terceira infância e
atuação profissional........................................................................................................................................105
6.4 Adolescência..........................................................................................................................................105
6.4.1 Domínio físico.........................................................................................................................................106
6.4.2 Desenvolvimento cognitivo e moral..............................................................................................107
6.4.3 Desenvolvimento motor.....................................................................................................................109
6.4.4 Desenvolvimento emocional e sociocultural...............................................................................111
6.4.5 Para mais reflexões sobre Educação Física na adolescência e
atuação profissional........................................................................................................................................113

Unidade III
7 MATURIDADE ETÁRIA...................................................................................................................................119
7.1 IDADE ADULTA......................................................................................................................................120
7.1.1 Adulto jovem (ou início da idade adulta) – de 20 a 40 anos de idade........................... 120
7.1.2 Adulto de meia idade (ou vida adulta intermediária) – de 40 a 65 anos de idade... 126
8 TERCEIRA IDADE.............................................................................................................................................130
8.1 Compreendendo a velhice...............................................................................................................130
8.2 Domínio sensorial e cognitivo.......................................................................................................132
8.3 Domínio físico e motor.....................................................................................................................134
8.4 Domínio emocional e sociocultural.............................................................................................137
8.5 A terceira idade é mesmo a “melhor idade”?...........................................................................142
8.6 Para mais reflexões sobre o processo de envelhecimento e atuação profissional................ 143
8.7 Aproximação do término da vida.................................................................................................146
APRESENTAÇÃO

O objetivo desta disciplina é apresentar e discutir como o processo de crescimento e desenvolvimento


humano vem sendo investigado e compreendido, bem como promover discussões a respeito das relações
entre esse processo e a orientação por parte dos professores e profissionais de Educação Física, visando
contribuir com uma intervenção profissional comprometida com o bem-estar do ser humano em todo
o ciclo de vida.

Ao final do curso, o estudante deverá estar apto a: a) compreender conceitos e reconhecer as etapas
do processo de crescimento e desenvolvimento do ser humano e as principais características inerentes
a cada etapa, estabelecendo relações entre elas; b) identificar e relacionar fatores que possam afetar
o curso do crescimento e desenvolvimento humano; c) refletir acerca dos cuidados e adequações da
prática de atividade física e da futura atuação profissional para as diferentes faixas etárias.

Inicialmente, apresentam-se conceitos e compreensões teóricas sobre a origem e evolução


da espécie humana; o processo de crescimento e desenvolvimento do indivíduo; os domínios do
desenvolvimento humano e a divisão do ciclo vital em faixas etárias (da concepção até a velhice), bem
como a importância desses conhecimentos para a atuação do professor e do profissional de Educação
Física. Depois, trataremos da concepção e do período de gestação, das principais características da
infância e da adolescência. Por último, abordaremos o longo período que compreende a idade adulta
e posteriormente a velhice (terceira idade), discutindo em especial o processo de envelhecimento.
Embora não seja o foco central desta disciplina, são apresentadas algumas considerações acerca de
adequações e cuidados com a saúde e bem-estar da gestante e do bebê na prática de atividade física;
também são elaboradas certas questões para reflexão relacionadas à prática de atividade física para
diferentes faixas etárias.

INTRODUÇÃO

O ser humano é estudado por muitas áreas de conhecimento, desde a Filosofia, as Ciências Naturais
(como Física, Química e Biologia etc.), as Humanidades (como História, Ciências Políticas, Economia
etc.) e as diversas religiões. O conhecimento cotidiano também deve ser levado em consideração, pois
muitos costumes e tradições são edificados sobre conhecimentos populares, em muitos casos, passados
de geração para geração e bastante sujeitos a regionalismos.

A rigor, ao se lançar um olhar mais atento ao ser humano, identifica-se que vários aspectos em
cada um de nós parecem ser realmente “mais naturais e inevitáveis”, como, por exemplo, pensar, sorrir,
possuir determinada configuração corporal (cabeça, tronco e membros) e a possibilidade de uma série de
ações intelectuais e motoras associadas a essa configuração, ao passo que outra parte parece depender
grandemente de influências do ambiente, seja relacionado ao local onde se nasce ou se vive, seja ao que
nos é ensinado e assim por diante.

Contudo, convém esclarecer que a presente disciplina está fundamentada em conhecimentos


produzidos e interpretados principalmente pela ciência (Ciências Naturais e Humanidades), o que não
significa desconsiderar outros “tipos” de conhecimentos, como o filosófico, o religioso e o popular, já
9
mencionados. Esses também estarão presentes ao longo desse material, ainda que nem sempre com a
mesma ênfase.

É importante observar também que no curso superior (graduação e pós-graduação) não basta
somente descrever os acontecimentos (fenômenos) ou de que modo (método) foram investigados. Em
outras palavras, não é suficiente saber o que se vai estudar e como se vai estudar. Além disso, é preciso
que uma pergunta esteja no meio acadêmico-científico: por quê?

A pergunta “Por quê?” deve estar constantemente entre nossas preocupações como estudantes
e como futuros profissionais. É uma pergunta muito presente ao longo da infância, especialmente a
partir dos cinco anos de idade, aproximadamente, e jamais perde sua importância se o objetivo for
compreender, com algum grau de profundidade, o grande desafio que é, mais tarde, estudar e agir como
profissionais competentes e éticos.

É nesse sentido que se espera contribuir para que o atual estudante, futuro profissional ou professor
de Educação Física – e sempre pesquisador – compreenda adequadamente a vida humana em seus
processos de crescimento e desenvolvimento ao longo de todo o seu ciclo (ciclo vital), tendo em vista
que todos os seres humanos e cada um dos seres humanos são importantes, desde a vida dentro do
útero (ou mesmo “fabricada” em um laboratório) até o momento de sua morte.

Para se proceder de modo coerente em uma disciplina como esta, que lida com características
generalizáveis, ora tratando de fenômenos mundiais, ora tratando de eventos nacionais, locais e até
mesmo particulares, foi necessário selecionar ou enfatizar certos aspectos ou domínios comportamentais
em detrimento de outros, porém não sem critérios de escolha justificáveis.

Basicamente, os critérios foram: características e circunscrições de temas mais importantes e


pertinentes para determinadas faixas etárias do que para outras; atualidade do tema escolhido,
especialmente quando diz respeito a tendências comportamentais em um futuro próximo; relevância
para o exercício profissional na área de Educação Física, seja no âmbito da escola ou em outros espaços
e contextos de possibilidade de intervenção.

Na medida do possível, procuramos adequar ao cotidiano brasileiro os dados de pesquisas e as


reflexões decorrentes desses dados e de outras fontes de conhecimento, ainda que ciente da imensa
diversidade sociocultural que constitui o nosso país. Nesse sentido, constatamos a importância de
abordar algum tema de destaque para o processo de desenvolvimento em determinada faixa etária,
tema cuja característica e relevância tivessem uma abrangência que se estendesse além das diferenças
socioculturais, ou seja, que, apesar das diferenças, atingem parte significativa da população daquele
período etário.

A expectativa dos autores é abranger o fenômeno do crescimento e desenvolvimento com


perspectivas e questionamentos atualizados, oferecendo segurança ao leitor no que se refere à base
de conhecimento própria da disciplina e também da Educação Física e, se possível, de áreas afins, seja
nas Ciências Naturais, seja nas Humanidades, contanto que visando à futura qualidade na prestação de
serviços e a uma atuação didático-profissional ética.
10
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Unidade I
1 VIDA HUMANA: DESENVOLVIMENTO DA ESPÉCIE, CRESCIMENTO E
DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO E POSSIBILIDADES DE RELAÇÕES COM A
EDUCAÇÃO FÍSICA

Estudar crescimento e desenvolvimento humano tem como finalidade uma compreensão das pessoas
e de si mesmo (da própria pessoa que os estuda, pois ela, obviamente, também é um ser humano).

Nesse sentido, para tentar responder questões e elaborar outras tantas sobre esse vasto, inerente e
profundo fenômeno que é a vida humana, entende-se que toda e qualquer informação deve ao menos
ser levada em consideração. Por isso, recomenda-se as seguintes fontes de informação:

• Livros acadêmico-científicos: trazem conhecimentos consolidados sobre crescimento e


desenvolvimento humano. Alguns deles versam somente sobre uma determinada faixa de idade,
o que é igualmente válido, sobretudo para quem tem o objetivo aprofundar-se no respectivo
período de vida estudado.

• Periódicos (revistas) científicos(as): têm como propósito apresentar dados de pesquisa mais
recentes, que levam à constante atualização de conhecimento, nas mais diversas áreas das Ciências
e das Humanidades (Ciências Humanas). É comum que periódicos dessa natureza contenham
também indicações e comentários de novos livros a serem lançados.

• Filmes na modalidade documentário: constituem-se em uma forma bastante dinâmica de


obter informações corretas e precisas; e, dependendo da época de produção do filme, atuais.
A vantagem desses filmes está especialmente na riqueza de imagens, tanto no que se refere à
resolução (qualidade) como no tocante à beleza e proximidade com o evento estudado tal como
realmente aconteceu.

• Filmes na modalidade ficção: apesar de os enredos nem sempre se aproximarem de uma história
que realmente ocorreu, é comum que tratem de inúmeros fenômenos presentes na vida das
mais diferentes pessoas. Ademais, não há qualquer restrição em se imaginar pessoas e situações
diversificadas, uma vez que não se pode prever, ao longo da vida, com quais problemas ou
demandas cada um de nós pode vir a deparar, seja na área profissional ou na vida em sociedade de
forma mais ampla. Temas cotidianos, recorrentes e repetidos, não raro são tratados por diferentes
filmes sob perspectivas absolutamente diversas, cujo resultado pode ser sensibilizar diferentes
espectadores para um mesmo tema ou, em contrapartida, possibilitar a um mesmo espectador
ampliar suas perspectivas, adquirir novas e repensar antigas. Outra vantagem de filmes de ficção é
que, em razão de hábitos culturais, há um número expressivo de pessoas que lhes assistem. Além
disso, em nosso país em particular, existem muito mais pessoas que apresentam hábito de assistir
11
Unidade I

a filmes do que de ler livros, e como consequência, esse é um meio de as pessoas compartilharem
experiências comuns.

• Peças teatrais, espetáculos de dança, feiras livres (de gastronomia, de livros, de artesanato): com
propósitos semelhantes ao que se pode encontrar nos filmes, essas e tantas outras formas de
expressão literária, artística ou cotidiana não são menos importantes para a compreensão de
outros seres humanos.

• Visitas a museu: museus contêm uma riqueza imensa de materiais surpreendentes, que retomam
e reinterpretam a história humana, em sentido amplo ou estrito, dependendo da temática e
propósito do museu, bem como das exposições que nele se encontram, pois vários museus, de
tempos em tempos, trocam de coleções (no todo ou em parte). Muitos museus também permitem
que se fotografe, tanto em seu interior como em áreas externas que também pertencem ao
museu; os locais em que se permite fotografar são rigorosamente determinados pelo próprio
museu, mais comumente considerando a delicadeza do material no que se refere a flashs de
luz ou outro critério. Em nosso país, a visita a museus é um hábito de parte muito reduzida da
população, mesmo em certas capitais, em que a oferta desse tipo de entretenimento é maior do
que em localidades menores. Modificar esse hábito é de bastante relevância para uma melhor
compreensão da vida humana, pois qualquer produção material do ser humano há de ter sua
relevância para percebê-lo e compreendê-lo em suas necessidades vitais.

Figura 1 – Museu de Arqueologia de Atenas, Grécia (vista frontal)

Todos esses contatos são imprescindíveis para o estudo do crescimento e desenvolvimento humano,
entretanto, para profissionais das áreas de Saúde e Educação, a observação atenta a todas as pessoas
em nossa vida diária é igualmente imprescindível. Afinal, não lidamos com as pessoas que estão nesses
materiais, mas com as pessoas com as quais deparamos em nosso cotidiano – no exercício da profissão
ou não, presencial ou virtualmente.

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CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Por isso que as instituições de Ensino Superior tendem, cada vez mais, a exigir um número variável
(embora pré-estabelecido) de horas dedicadas a atividades extracurriculares (atividades complementares).

Uma formação no curso superior pressupõe comprometimento com um conhecimento amplo (uma
vez que universidade tem sentido de universalidade) e, ao mesmo tempo, específico, no que se refere
ao aprofundamento. A Educação Física requer ambos, por isso está legitimada e consolidada no Ensino
Superior. Afinal, atividade física e motora está presente na evolução do ser humano, como espécie e
como indivíduo.

2 DESENVOLVIMENTO DA ESPÉCIE

Para tratar do desenvolvimento da espécie humana, há que se remeter à origem do ser humano,
que se constitui matéria controversa, pois que existem muitas explicações pautadas nas diferentes
culturas, as quais apresentam diversos sistemas de crenças e religiões, fundamentadas em suas próprias
cosmogonias.

Observação

Cosmogonia é o conjunto de princípios e doutrinas – religiosos, míticos


ou científicos – que se ocupam de explicar a origem do universo.

Busca-se explicar também a origem e o funcionamento de tudo o que se conhece (ou que nós, seres
humanos, acreditamos conhecer), em especial, o que chamamos de natureza, e o que chamamos de
“nós”, seres humanos.

É curioso que, muitas vezes e em diversas situações, tratamos do universo como se dele não fizéssemos
parte, e tratamento semelhante atribuímos à natureza, ou seja, como se não fôssemos formados pelos
mesmos elementos químicos que a água (hidrogênio e oxigênio), os gases (hidrogênio, oxigênio, cloro,
enxofre, nitrogênio etc.), a terra (cálcio, carbono, sódio, magnésio etc.), as plantas e os outros animais,
pois que, no âmbito da Biologia, também somos animais.

Observação

A classificação do homem, de acordo com critérios da Biologia, é:


reino: animal; filo: cordado; classe: mamífero; ordem: primata; família:
hominídeo; gênero: Homo; espécie: sapiens.

Esse ocasional distanciamento do que se denomina genericamente de natureza deve-se à nossa


capacidade, como seres humanos, de identificar, interpretar e comunicar a respeito de tudo o que está
ao nosso redor, bem como de cada um de nós de reconhecer a si mesmo como diferente do outro, ainda
que haja muitas semelhanças.

13
Unidade I

Para se compreender a origem e o desenvolvimento do ser humano, é totalmente relevante que se


levem em conta dois elementos: evolução e história.

2.1 A origem do homem: considerações sobre evolução

Falar em evolução requer compreensão de conceitos e certos cuidados, a fim de que se compreenda
que não é uma questão de mera opinião ou preferência de ideias. Discutir a respeito de evolução requer
estudo e muito bom senso. É preciso investigar, refletir a até mesmo “desconstruir” certas noções que
foram transmitidas popularmente como corretas, porque não foram estudadas tanto quanto necessário.
Para estudar evolução, é preciso conhecer um pouco de Biologia.

O pesquisador Charles Darwin (1809-1882) foi o propositor da teoria da evolução, com a ideia
de que há uma continuidade entre todos os seres vivos. Essa continuidade, no entanto, não se refere
a uma mera relação linear que se inicia pelo mais simples (um ser de uma única célula) e chega ao
mais complexo (estando o homem no topo, no ponto mais elevado), mas sim a uma relação na qual
ocorrem ramificações. Essa estrutura ramificada seria como uma “árvore da vida”, ou seja, por analogia,
haveria uma única raiz, mas com muitos ramos evolutivos, resultando em muitas espécies diferentes
(YAMAMOTO, 2009; MATURANA; VARELA, 2001). Por exemplo, o homem e outros primatas como gorila,
chimpanzé etc. possivelmente se originaram de um mesmo ancestral, o que não significa que um
chimpanzé tenha “evoluído” até se tornar homem.

Duas obras de Darwin que refletem sua elaboração teórica sobre evolução são: A Origem das Espécies
(1859) e A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (1837).

Saiba mais
O filme a seguir retrata dilemas da vida de Darwin quando estava
escrevendo sua obra A Origem das Espécies.

CRIAÇÃO. Dir. Jon Amiel. Reino Unido: Recorded Picture Company (RPC),
2009. 108 minutos.

Yamamoto (2009) explica dois conceitos fundamentais, evolução e raça:

A evolução biológica consiste na mudança de características hereditárias de


grupo de organismos ao longo das gerações, através de processos aleatórios,
o mais importante deles sendo a seleção natural (p. 2).

Observação
Processos aleatórios são eventos que ocorrem ao acaso, sem algo
predeterminado.
14
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Os organismos que essa autora menciona referem-se a qualquer ser vivo, seja uma bactéria, um
cachorro, uma estrela do mar, uma planta, o ser humano, enfim: qualquer ser vivo.

Não existe um “tipo” ou espécie de ser vivo que seja considerado superior a outro em termos absolutos;
o que existem são diferentes espécies que vivem em certos ambientes de forma melhor do que outras
espécies naquele mesmo ambiente. Essa “forma melhor” está associada a menos dificuldade de obter
alimento, mais chances de acasalamento, melhores condições de proteger a cria, comparativamente a
outras espécies, nesse mesmo ambiente. Assim, há os mais bem‑adaptados e os menos bem‑adaptados
a um determinado ambiente.

Por outro lado, pode ocorrer alguma modificação nesse ambiente que venha a favorecer uma espécie
que era menos adaptada e passar a prejudicar a que, anteriormente, vivia melhor.

Assim, o mais bem‑adaptado é o que vive melhor em um ambiente determinado.

Uma definição de adaptação é a seguinte:

[...] trata-se de um processo dinâmico de mudança, desenvolvido voluntaria


ou involuntariamente, a fim de recolocar um organismo numa posição mais
vantajosa em relação ao seu meio interno ou ao ambiente e que supõe a
capacidade de aprender” (DORON; PAROT, 1998, p. 30).

Note-se, portanto, que evolução, em Biologia, não deve ser entendida como um sinônimo de
progresso, ou seja, não existe a espécie “mais evoluída” ou “melhor” (YAMAMOTO, 2009), existem apenas
espécies “diferentes”.

Observação
“Seleção natural é um processo através no qual os indivíduos mostram
sobrevivência e/ou reprodução diferencial” (YAMAMOTO, 2009, p. 1).

Raça é um conceito bastante utilizado popularmente. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa


(RAÇA, 2001) elucida 14 significados associados entre si. A primeira definição é: “divisão tradicional e
arbitrária dos grupos humanos, determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor da
pele, formato da cabeça, tipo de cabelo etc.)”.

Contudo, o conceito não é mais aceito pela Biologia (YAMAMOTO, 2009) e nem pela Etnologia,
que, para Houaiss, é o campo de estudo das diferentes culturas (etnias) mediante fatos e documentos
(ETNOLOGIA, 2001).

A justificativa biológica para desconsiderar essa noção – noção que não encontra fundamento
científico – é que cor da pele ou qualquer outra variação na aparência não são determinadas por
diferenças genéticas significativas; aliás, pesquisas têm mostrado que existem mais variações de genes
em uma mesma população do que quando se comparam diferentes populações.
15
Unidade I

Em outras palavras: todos nós, humanos, somos da mesma espécie e, portanto, temos a mesma
origem. Isso afasta a ideia de eugenia (sinônimo de “bem‑nascido”), ou seja, a ideia de que certas
pessoas são melhores do que outras, isto é, de “qualidade superior” àquelas não fossem de mesma
origem genética, como se possuíssem em seus genes um favorecimento genético a priori.

A rejeição do conceito de raça pela Etnologia dá‑se porque, embora certos grupos de pessoas
possam vir a apresentar bastantes semelhanças entre si quanto a características físicas e biológicas,
esses mesmos grupos podem não apresentar ou pouco apresentar características culturais em comum.

Portanto, observa-se que nem no campo das Ciências Naturais nem no campo das Humanidades o
conceito de raça se legitima.

O importante é saber que determinado povo ou determinada etnia não podem ser considerados nem
superiores e nem inferiores a outro povo. Isso é muito importante, pois, do contrário, podem passar a
ideia errônea de que pessoas de pele branca são de melhor qualidade do que as de pele negra, ou de que
pessoas de uma mesma cultura são “mais evoluídas” do que de outra.

No âmbito da vida social humana, o uso desse conceito gera preconceito, e preconceito gera
sofrimento.

O estudo sobre crescimento e desenvolvimento humano tem como objetivo preparar o estudante e
futuro profissional para exercer a profissão de forma refletida e ética. Com essa fundamentação, nós,
autores deste material, corroboramos a não aceitação do conceito de raça.

Lembrete

Não existe superioridade absoluta de uma espécie sobre outra espécie.


O que existe é uma espécie mais bem‑adaptada que outra, mas somente
em relação às especificidades das condições de determinado ambiente.

2.2 A origem do homem na história do homem

Um primeiro ponto a ser lembrado é a divisão teórica da História humana em dois grandes períodos:
a Pré-História e a História.

É importante considerar que a própria divisão da História e boa parte dos materiais encontrados
tiveram como base inicial interpretativa a cultura europeia. É o chamado eurocentrismo, como se a
Europa fosse o lugar onde tudo se iniciou: todas as culturas, os meios de produção, os povos e assim por
diante. Porém, hoje, mesmo sabendo que não foi assim, a divisão dos períodos históricos permanece do
modo apresentado a seguir.

• A Pré-história é o período que abrande desde os primeiros hominídeos até a invenção da escrita,
em aproximadamente 4.000 a.C.
16
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

• A História é propriamente reconhecida a partir da invenção da escrita e apresenta a seguinte


subdivisão:

— Idade Antiga ou Antiguidade – da invenção da escrita (aproximadamente em 4.000 a.C.) até


a queda do Império Romano do Ocidente, 476 d.C.

— Idade Média ou Idade Medieval – de 476 d. C. até a tomada de Constantinopla (sede do


Império Romano do Oriente) pelos turco-otomanos, 1453.

— Idade Moderna ou Modernidade – de 1453 até a Revolução Francesa, 1789.

— Idade Contemporânea ou Contemporaneidade – de 1789 até os dias atuais.

Para as finalidades desta disciplina, essa divisão constitui apenas um referencial para a compreensão
de certos valores, organizações e manifestações socioculturais, bem como para delimitar épocas referentes
ao desenvolvimento de certas pesquisas e seus autores, assim como para auxiliar na interpretação de
determinadas questões, inclusive relacionando-se com a prática ou escassez de prática de atividade
física na Contemporaneidade, principalmente nos dias atuais.

O estudo da História está pautado em alguns materiais fundamentais. De forma simplificada, pode‑se
dizer que são: documentos (em especial, documentos escritos); fósseis e outros objetos encontrados nas
escavações. As escavações começaram a ser realizadas com mais frequência a partir do século XIX.

Figura 2 – Escavação conservada abaixo da estrutura do Museu da Akropolis (Atenas, Grécia)

De acordo com Rodrigues (2009), com base em análise de DNA (molécula que se encontra no
núcleo celular), há estimativas de que a linhagem de primatas não humanos divergiu da linhagem
humana há cerca de 6 ou 7 milhões de anos, embora a prova fóssil mais antiga dessa separação seja
datada de 4 milhões e 400 mil anos.

17
Unidade I

A partir da década de 1960, a África passou a ser considerada o local onde o ser humano atual
se originou, apesar de também haver fósseis de outros hominídeos em outros lugares, como Ásia
e Europa.

É muito importante compreender que a palavra hominídeo refere-se aos primatas dos quatro gêneros
seguintes: Ardipithecus; Australopitecos; Paranthropus; Homo.

Os três primeiros foram extintos e não necessariamente deram origem ao gênero Homo, que é o
gênero do ser humano atual.

Convém observar que ser classificado como Homo (H) não é próprio somente ao homem atual, pois
houve outros Homo, porém de espécies que não a sapiens. Foram estes: H. habilis; H. erectus; H. sapiens
neanderthalensis.

Note que o H. sapiens neanderthalensis, embora tenha a palavra sapiens, na parte que classifica
espécie, tem também a palavra neanderthalensis. Por sua vez, o homem moderno (isto é, nós, seres
humanos atualmente vivos e os povos dos quais descendemos) é classificado como Homo sapiens
sapiens, ou seja, a palavra sapiens se repete.

Observação

“Homem moderno” difere de “homem arcaico”. Não se trata do homem


que viveu na Idade Moderna e nem do homem que apresenta estilo de vida
contemporâneo.

Saiba mais

O filme a seguir é uma ficção que aborda a inter‑relação de dois grupos


de hominídeos primitivos.

A GUERRA do fogo. Dir. Jean-Jacques Annaud. Canadá: International


Cinema Corporation (ICC). 1976. 100 minutos.

Houve também o Homo sapiens arcaico ou Homo heidelbergensis, que deve ter surgido entre
500 mil e 100 mil anos, cujos fósseis foram encontrados em Zâmbia, Etiópia, França, Grécia e China
(RODRIGUES, 2009).

[...] os humanos modernos evoluíram na África há 120 mil anos e a partir de


formas arcaicas. Propagaram-se, rapidamente, para o Oriente Médio e daí
para o leste da Ásia. Grupos desses humanos do leste asiático partiram em
duas direções: sul (Austrália) e norte (América) (RODRIGUES, 2009, p. 37).

18
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Segundo essa autora (2009), a agricultura, que surgiu há aproximadamente 10 mil anos, tornou-se
um modo de vida simultâneo para diferentes grupos de pessoas na América Central, no sul da África e
no sudeste do Mediterrâneo.

Sabe-se que esse modo de produção modificou o modo de vida humano: a necessidade de caçar
animais e coletar frutos (comportamento caçador-coletor), cuja consequência era mudar de lugar com
certa frequência (modo de vida nômade) foi substituída pelo modo de vida denominado sedentário.

Observação

O modo de vida sedentário significa manter-se em determinado local


para viver; não deve ser confundido com estilo de vida sedentário, que se
opõe a estilo de vida ativo.

Na atualidade, atribui-se o conceito de estilo de vida sedentário quando se faz referência à ausência
ou baixa frequência de atividades diárias que envolvam grandes grupos musculares e um razoável
gasto energético em razão dessas atividades. Essa é uma marca da sociedade contemporânea, bastante
relacionada à utilização de veículos automotores e equipamentos eletrônicos. Em contrapartida, o estilo
de vida ativo envolve a prática de atividade física constante e organizada, como, por exemplo, realizar
caminhadas de ao menos 30 minutos, três vezes durante a semana e até mesmo optar por subir e descer
andares através de escadas em vez de tomar o elevador, realizar caminhos diários a pé ou de bicicleta em
vez de usar meios de transporte coletivo, carro ou motocicleta, entre outros hábitos.

Retomando as adaptações relativas ao modo de vida sedentário, é correto afirmar que se estabelecer
em determinado local modifica as relações dentro do grupo, como determinar outros parâmetros para
divisão territorial (por exemplo, construindo moradias e muros), noção de propriedade, desenvolvimento
diferenciado da linguagem e várias outras elaborações culturais.

Bussab e Ribeiro (1998) indicam possibilidades bastante coerentes de como características biológicas
e culturais foram se engendrando mutuamente, ao longo de milhares de anos, entre os primeiros
hominídeos, até que se constituísse o ser humano como é hoje (o qual será chamado, genericamente,
neste texto, de “homem” – incluindo homens e mulheres).

Um conceito absolutamente imprescindível para se compreender ainda melhor a evolução do ser


humano é a aprendizagem.

De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 62), aprendizagem refere-se a “uma mudança duradoura
no comportamento baseada na experiência ou adaptação ao ambiente”.

Individualmente, envolve também outros aspectos: repetição de uma informação para que seja
armazenada (memória), reprodução (produzir de novo, de modo semelhante) do que aprendeu; e
comunicação a respeito do que foi aprendido, modificando alguns aspectos, contanto que sem perder
características importantes do que foi ensinado.
19
Unidade I

O processo de aprendizado exige também foco de atenção, ou seja, sem prestar atenção é difícil
aprender. Pode-se até memorizar, porém, hoje em dia, aprender não se resume a memorizar e sim a
atribuir significado próprio à informação que está sendo ensinada. Aliás, existe a possibilidade de a
pessoa aprender sem que outra a ensine: ela observa, experimenta, tenta, testa, repete as tentativas e,
muitas vezes, consegue realmente aprender sem ajuda de outrem.

Observa-se na figura a seguir um macaco realizando uma atividade típica da cultura humana:
andar de bicicleta. Esse é apenas um indicador de que o processo de aprendizagem não é exclusivo
do ser humano.

Figura 3 – Macaco andando de bicicleta (com rodinhas laterais apoiando)

O fenômeno da aprendizagem no ser humano é muito valorizado, não apenas para a sobrevivência
como também para o bom convívio social, uma vez que pessoas com dificuldade de aprendizado tendem
a ser menosprezadas – o que, obviamente, deve ser combatido.

Por isso, nota-se que a aprendizagem tem um valor adaptativo, haja vista, contemporaneamente, o
tempo que crianças e adolescentes permanecem na escola e o quanto são cobrados para realizarem, em
casa, atividades relativas à escola.

Exemplo de aplicação

Reflita a respeito da seguinte situação: uma pessoa adulta jovem, de 20 anos, que entrou na Educação
Infantil com quatro anos de idade, e acabou o Ensino Médio com 17, sem repetir nenhum ano letivo.
Quanto do tempo dela foi dedicado à escola e sobre o que será que ela aprendeu? Quanto de todos os
conteúdos que ela aprendeu ela conseguiria explicar ou reproduzir?

2.3 Características morfofuncionais do homem moderno (Homo sapiens sapiens)

As características típicas de uma determinada espécie de ser vivo, advindas de suas origens evolutivas,
são adjetivadas por “filogenéticas”. Portanto, filogenia (filogênese) é a história evolutiva de uma espécie.
E ontogenia (ontogênese) refere-se a características próprias de um indivíduo.

20
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Isso não significa, necessariamente, que características típicas de uma espécie sejam exclusivas dessa
determinada espécie. Por exemplo, muitos animais são capazes de se manterem em postura bípede
e ereta: pinguins, cangurus, suricatos, entre outros; todavia, seus modos de locomoção apresentam
padrões de movimento muito diferentes uns dos outros, assim como os do homem.

Observação

Padrões de movimentos são configurações de movimentos específicos


inter‑relacionando cabeça, tronco, membros superiores e inferiores, em um
espaço e um tempo determinados. Exemplo: o andar da criança apresenta
diferentes padrões.

Outro exemplo: esquilos se mantêm em postura ereta e movimentam alimentos em suas patas
dianteiras, assim como guaxinins; todavia não dispõem de mãos semelhantes às dos seres humanos, as
quais permitem uma quantidade inimaginável de atividades manuais.

O homem pertence à ordem dos primatas, mas há uma divisão entre apes e monkeys, sendo os
primeiros chamados de primatas superiores e os segundos de primatas inferiores. Os superiores abarcam
o homem, os chimpanzés, os gorilas, os bonobos e os orangotangos. Ausência de cauda, locomoção
bípede e estrutura articulada do cotovelo são características morfológicas que os aproximam, além da
similaridade do DNA, em especial, com os chimpanzés. A estrutura social de cada um desses primatas
também apresenta organização própria com alguma ordem hierárquica, mas diferentes formas de
convívio intragrupo.

Na ilustração a seguir, nota-se a necessidade de o gorila apoiar-se em uma das mãos para se locomover
(além das patas dianteiras). Sua situação, portanto, diferente da que ocorre com o ser humano, em que
ambas as mãos ficam livres para carregar ou manipular objetos enquanto se locomovem.

Figura 4 – Gorila locomovendo-se e alimentando-se simultaneamente

21
Unidade I

Saiba mais
O filme a seguir é uma ficção científica que apresenta processo evolutivo
atípico de chimpanzés, assemelhando-os a humanos, após uma série de
experimentos realizados por cientistas, criando ameaças à sociedade
humana local.
PLANETA dos macacos: a origem. Dir. Rupert Wyatt. EUA: Twentieth
Century Fox Film Corporation, 2011. 106 minutos.

Exemplo de aplicação

Com base no filme Planeta dos Macacos e fundamentando-se no que foi estudado até este ponto,
é de se esperar que seja possível essa proporção de semelhança entre uma espécie e outra? Sugestões:
a) pensar na configuração cerebral, no DNA e na história natural (evolutiva) de ambas as espécies; b)
escrever seu posicionamento sobre essa situação.

A seguir, apresentam-se algumas características da morfologia (forma) e da fisiologia (função)


típicas do homem e suas respectivas possibilidades e/ou consequências:

Postura ereta e bípede

As consequências da postura ereta e bípede são: mãos livres para tocar em objetos e manipulá-los, assim
como a si mesmos e a outros seres, praticar, por exemplo, atividades relacionadas à higiene, prazer sexual,
preparo de alimentos, carinho físico etc.; campo visual acima da altura de alguns predadores naturais, como
felinos selvagens de grande porte; facilitação do contato entre olhares (“olhos nos olhos”) por mais tempo,
possibilitando aprimoramento das relações sociais; facilitação do desenvolvimento da fala. Outro aspecto que
contribui com a fala é o aparelho buco-nasal, que propicia a “interrupção” entre a respiração e a ingestão de
alimento, levando a uma boa coordenação entre essas duas ações.

Observação

Postura ereta refere-se ao posicionamento em que a coluna vertebral


fica estendida verticalmente; bípede é o apoio somente sobre os membros
inferiores (patas ou pés).

Morfologia da mão

Há a possibilidade de “movimento de pinça” (oposição entre os dedos polegar e indicador). A


consequência é a maior precisão na manipulação de objetos, possibilitando realizar tarefas que exijam
muita destreza aliada a certa delicadeza, ou seja, imprimindo pouca força ao objeto.
22
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

A mão é uma região que recebe muitas terminações nervosas e, consequentemente, há muitos
impulsos elétricos vindos do cérebro e retornando a ele. Isso implica que as mãos apresentam-se
bastante sensíveis a estímulos ambientais e, por meio do tato, consegue-se executar movimentos muito
precisos, traduzidos em habilidades manuais bem específicas, como costurar, bordar, escrever, realizar
cirurgias etc.

Morfologia e funções cerebrais

O tamanho do cérebro é maior, comparativamente a outros hominídeos antes do homem moderno;


além disso, há relações mais específicas entre certas regiões do cérebro e outras partes do corpo.

Há ainda o aparecimento e crescimento de determinadas áreas cerebrais, por exemplo, o córtex


pré-frontal, que permitem atividades mais especializadas (específicas), incluindo os lados direito e
esquerdo do cérebro, pois cada lado passa a ser responsável, predominantemente, por diferentes funções
(MATURANA; VARELA, 2001).

Exemplo de aplicação

Realize a seguinte experiência: em vez da postura ereta em pé, isto é, sobre dois apoios, procure ficar
sobre quatro ou seis apoios; peça para alguém íntimo fazer o mesmo. Fiquem de frente um para o outro
e procurem olhar reciprocamente um nos olhos do outro e conversar entre si. Há grandes possibilidades
de sentir um incômodo muito grande em pouco tempo, pois não há adequação anatômica para
realizar essas ações nessa posição de modo confortável para um ser humano, em especial pela pressão
intervertebral na região cervical, além da dificuldade de se sustentar por mais do que alguns minutos
em quatro ou seis apoios.

2.4 Importância do estudo da evolução humana para a Educação Física

Conhecer essas características da origem da filogênese humana pode ser importante para
compreendermos por que o homem atingiu certo nível de desenvolvimento – cognitivo (intelectual),
afetivo (emocional), social etc. – comparativamente a outros seres vivos.

Isso ocorreu tanto por meio de um sistema nervoso central bastante diferenciado (especializado) e
uma série de outras estruturas e funções como através de arranjos sociais específicos, isto é, atividades
organizadas em grupo.

Afirmar que uma característica é causa (motivo) e outra é efeito (consequência) pode ser arriscado.
É importante considerar que outros animais são muito mais fortes e ágeis que o homem e, para muitos
deles, o homem é uma presa fácil.

Ao que parece, vários eventos do desenvolvimento ocorreram em conjunto, em razão de diferentes


demandas ambientais (ambientes e contextos em que ele vivia) que constituíram barreiras para sua

23
Unidade I

sobrevivência (isto é, para a continuidade da espécie) e assim o ser humano precisou buscar soluções
para ultrapassar essas barreiras.

Não há dúvidas de que as habilidades manuais atribuem uma característica única de destreza e
precisão, que deve ter impulsionado muito a cultura de forma ampla, e talvez mais especialmente ainda
os trabalhos artesanais domésticos, sobretudo a atividade de tecer.

Nesse sentido, entendendo-se que atividades lúdicas e “esportivas”, isto é, que envolvessem
séria competição e vigor nas capacidades físicas, estavam presentes em grandes civilizações
da Antiguidade, fica o seguinte questionamento: seriam essas atividades formas de regulação
social, isto é, de criação e aplicação de regras, de estabelecimento de relações hierárquicas entre
pessoas e tarefas, ou mesmo uma forma de apaziguar conflitos, além de treinamento para fins
bélicos e de lazer?

Exemplo de aplicação

Importante para refletir sobre a evolução do ser humano: “Ao que tudo indica, assim que
nossos ancestrais desenvolveram uma dependência da cultura para sobreviver, a seleção natural
começou a favorecer genes para o comportamento cultural. [...] tomados alguns cuidados para não
simplificar indevidamente o processo, pode-se dizer que biologia e cultura caminharam juntas”
(BUSSAB; RIBEIRO, 1998).

Questão: a biologia e a cultura se influenciaram mutuamente ou a cultura só é possível por


causa de características biológicas? Justifique seu posicionamento lendo todo o texto indicado
anteriormente indicado.

Saiba mais

BUSSAB, V. S. R; RIBEIRO, F. L. Biologicamente cultural. In: SOUZA, L.;


FREITAS, F. Q.; RODRIGUES, M. M. P. Psicologia: reflexões (im)pertinentes.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. p. 175-93. Disponível em:<http://
www.ip.usp.br/portal/images/stories/Articles/2004_Bussab_Ribeiro_
Otta_biologicamente_cultural.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.

Lembrete

Filogênese – desenvolvimento da espécie; ontogênese – desenvolvimento


do indivíduo.

24
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

3 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO

3.1 Ideias equivocadas sobre crescimento e desenvolvimento humano

É muito comum pensar que muitas das características de uma pessoa são absoluta e totalmente dependentes
de sua idade (desde a primeira infância até a terceira idade), ou que estejam restritas absolutamente a fatores
genéticos, isto é, herdadas de seus pais e outros ascendentes (como avós, bisavós etc.), ou ainda, que ocorram
por causa exclusivamente do modo como foram criadas, da educação que receberam.

Outro problema é quando se associa estritamente certas atividades físico-motoras e até intelectuais
como exclusivas do sexo masculino e outras como exclusivas do sexo feminino, sem que se tenha a real
noção de que as diferenças entre pessoas de sexos diferentes não são absolutas, mas sim uma mescla,
uma interação entre características individuais próprias e possibilidades de escolhas.

A seguir são indicados alguns exemplos dessas ideias equivocadas:

• nós (humanos) descendemos dos macacos;

• a personalidade de uma pessoa nunca muda;

• quanto mais gorda for uma criança, mais forte ela será;

• invariavelmente, todas as garotas crescem até os dezoito anos de idade, e todos rapazes, até os 21;

• se uma pessoa realizar exercícios de alongamento, ela crescerá mais do que as que não os realizam;

• certas atividades físico-motoras e mesmo intelectuais são adequadas somente para homens, e
outras, somente para mulheres;

• cada pessoa nasce com determinados dons, mas desprovida de outros, e sem esse dom, não há
como ela aprender;

• uma pessoa que está em processo de envelhecimento mais avançado ou em idade mais avançada
não é capaz de aprender.

Esses pensamentos podem acarretar uma série de problemas para os mais variados aspectos da
vida das pessoas, comprometendo não apenas o entendimento acerca dos processos de crescimento e
desenvolvimento humano por pais, cuidadores, profissionais de áreas de saúde e educação, mas também
a felicidade das pessoas, por ameaçar as possibilidades de que realizem seus desejos e inspirações
pessoais.

Basta imaginar situações pelas quais passa um profissional ou professor de Educação Física ao
exercer sua profissão. Se ele não conseguir interpretar corretamente o que se passa no desenvolvimento
de uma criança, adolescente, adulto ou idoso, não apenas poderá aplicar exercícios físicos e motores
25
Unidade I

inadequados, como também dificultar o convívio de seu aluno ou cliente com outras pessoas, seja no
convívio familiar, em atividades laborais (do trabalho), em grupos sociais maiores e mesmo quando a
pessoa desejar se exercitar sozinha.

Não obstante, talvez o pensamento mais equivocado quando se observa, estuda e investiga
crescimento e desenvolvimento humano seja estar convicto de que muito já se sabe. Fica a sugestão de
que se pense o quanto ainda há por saber.

Saiba mais
O CURIOSO caso de Benjamin Button. Dir. David Fincher. EUA: Warner
Bros, 2009. 166 minutos.

Exemplo de aplicação

Algo absolutamente esperado no processo de crescimento e desenvolvimento humano é nascer


um bebê e morrer na velhice. O filme indicado no saiba mais anterior mostra esse processo no sentido
contrário. Seria possível? Ao final da leitura deste material, espera-se que o estudante esteja pronto para
respondê-la, fundamentando cientificamente sua justificativa.

3.2 Os fenômenos e os conceitos de crescimento e desenvolvimento humano

O primeiro aspecto a considerar é que a palavra fenômeno, em ciência, não se remete a algo “fora
do normal”, extraordinário ou incomum, como usamos popularmente (embora esse uso também esteja
correto). Em ciência, fenômeno refere-se a qualquer evento que pode ser estudado, seja um objeto
(uma máquina, um utensílio etc.), um comportamento (exemplos: ansiedade, agressividade; o andar,
o escrever; uma decisão tomada, a memória, entre muitos outros), uma manifestação cultural (uma
partida de basquetebol, um concerto musical, as guerras etc.), e assim por diante.

Em segundo lugar, conceituar e definir não são o mesmo. Conceito refere-se a ideias, noções. Por
exemplo, quando se ouve a palavra “esporte”, pode-se pensar em várias pessoas praticando atividade
física em equipes, competindo ou, simplesmente, correndo para melhorar as capacidades físicas ou
como forma de lazer; assim, é comum que se diga “a pessoa cuida do jardim por esporte”, no sentido de
que realiza algo que lhe dá prazer e não necessariamente em troca de remuneração.

Contudo, diferentemente de um conceito, uma definição para esporte será formal, técnica, precisa e
certamente envolverá outros elementos e conceitos, como competição e regras. Barbanti (2002, p. 228)
indica uma definição de esporte, de acordo com a área de Sociologia do Esporte:

É uma atividade competitiva, institucionalizada, que envolve esforço físico


vigoroso ou o uso de habilidades motoras complexas, por indivíduos cuja
participação é motivada pela combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos.
26
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Note-se, portanto, que: a) uma definição requer delimitações e maior precisão do que um conceito;
b) para um mesmo fenômeno, pode haver mais de um conceito e mais de uma definição.

Uma vez esclarecidos esses aspectos da linguagem acadêmico-científica, serão enfocados os


fenômenos de crescimento e desenvolvimento como investigados no âmbito da ciência.

Novamente, tomando-se a dinâmica da linguagem popular, a palavra crescimento é frequentemente


empregada em dois sentidos: aumento em quantidade e aumento em qualidade (isto é, melhora de
alguma característica). Por exemplo, quando se diz: “Você é muito imaturo; veja se cresce!”, o que a
pessoa quer é que o outro modifique suas atitudes para melhor (isto é, torne-se mais coerente ou mais
afetuoso e assim por diante). De acordo com a linguagem da ciência, contudo, o mais adequado seria
dizer “[...], veja se você se desenvolve emocionalmente” (ou moralmente). Mas essa frase certamente
causaria estranhamento às pessoas no uso corrente.

Visto isso, é fundamental compreender os seguintes conceitos: crescimento, desenvolvimento e


maturação, cujas definições são expostas a seguir.

Maturação refere-se ao “processo de tornar-se maduro ou o progresso em direção ao estado


maduro. Maturação é um processo; maturidade é um estado. Maturação ocorre em todos os tecidos,
órgãos e sistemas de órgãos, afetando enzimas, composição química e funções. Maturidade varia, assim,
de acordo com o sistema biológico estudado” (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009, p. 20), por exemplo,
maturidade sexual, maturidade esquelética etc. Maturação se refere ao timing (tempo relacionado a um
evento) e ao tempo de progressão em direção ao estado biológico maduro.

Observação

Enzimas são substâncias do nosso corpo responsáveis por acelerar


reações químicas. Exemplo: lipólise, que é a “quebra” da molécula de lipídeo
(“gordura”) tem como enzima a lipase.

Crescimento

[...] é um aumento no tamanho do corpo como um todo ou o tamanho


atingido por partes específicas do corpo. Conforme as crianças crescem, elas
de tornam mais altas e pesadas, tendo um aumento em tecidos magros
(ossos, músculos etc.) e gordos e em seus órgãos (MALINA; BOUCHARD;
BAR-OR, 2009, p. 21).

Desenvolvimento refere-se a “processos de transformação e estabilidade ao longo do ciclo de vida”


(PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 36).

Em outras palavras, fundamentando-se no conhecimento científico, o crescimento é


definido somente como o aumento em quantidade ou em tamanho, e por isso virá associado
27
Unidade I

a números e unidades de medidas (metros, centímetros, gramas, litros, centímetros cúbicos


etc.). Assim, diz-se que as estruturas corporais crescem quando aumentam em comprimento
e/ou em massa e/ou em volume, sendo todos mensuráveis por determinados equipamentos.
Por exemplo: o aumento de estatura (que vai da sola dos pés ao cimo da cabeça), que é o
aumento do comprimento total do corpo, é medido em centímetros, ao passo que o aumento
de volume de um órgão como o fígado é medido em centímetros cúbicos (cm 3). Outro exemplo
é o crescimento populacional, quando se trata de aumento da quantidade de seres (em geral,
seres humanos) de um determinado local.

O desenvolvimento, em sentido estrito, refere-se a mudanças e manutenções na qualidade. Um


exemplo de modificação e manutenção é o seguinte: uma garota que menstrua pela primeira vez
passou por uma mudança em uma característica sexual; por outro lado, por cerca de aproximadamente
trinta anos consecutivos, mês a mês, a menstruação deverá ser mantida. Essa pessoa está em um curso
natural do processo de desenvolvimento sexual, com mudanças e manutenções, sendo a menstruação
um indício de maturação sexual.

Muito importante no conceito de desenvolvimento é que as mudanças e manutenções podem


aumentar ou diminuir em qualidade, o que se costuma chamar, respectivamente, de “melhora” e “piora”.
Um exemplo é o que acontece com o funcionamento dos mais diversos órgãos: com o avançar da idade
adulta, em direção ao envelhecimento, quase todas as funções orgânicas tendem a piorar, diferentemente
do que ocorre com pessoas jovens, em que as mesmas funções tendem a melhorar. Ambas as condições,
todavia, caracterizam o processo de desenvolvimento, uma vez que não importa, na construção desse
conceito, se houve piora ou melhora, mas sim que houve mudanças e manutenções de determinada
condição ou característica ao longo do tempo.

De acordo com esse raciocínio, entende-se que o desenvolvimento humano abrange todo o
período de vida, ou seja, desde a concepção de um novo ser no útero materno (ou in vitro) até a
morte desse ser.

Algumas pessoas podem permanecer com a seguinte questão: “E após a morte?...”. Bem, após a morte
(ou a possibilidade de vida após a morte) é um fenômeno ou tema do qual a ciência não se aventura a
tratar, deixando-o para o âmbito das religiões, da Filosofia e do próprio conhecimento popular. Por outro
lado, a Psicologia e a Antropologia, por exemplo, são áreas pautadas em conhecimento científico que
estudam (entre outros muitos temas), como as pessoas lidam com a morte de outros entes (seres), em
especial de pessoas ou animais que lhes são afetivamente próximos.

3.3 Há limites para o crescimento e para o desenvolvimento ao longo da vida?

Ao se pensar no crescimento longitudinal, isto é, o aumento do comprimento de ossos e músculos


que os acompanham, pode-se afirmar que o crescimento cessa ao final da adolescência para algumas
pessoas e, para outras, no meio da adolescência. Em outras palavras, a pessoa não ficará mais alta na
idade adulta e nem na terceira idade. Como será mencionado adiante, o crescimento longitudinal inicia-
se na vida intrauterina e para na adolescência.

28
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Espera-se que ele aconteça com os demais órgãos do corpo, como fígado, baço, cérebro, coração,
pulmão etc. Contudo, por motivos aleatórios no processo de desenvolvimento humano, pode haver um
crescimento inesperado de algum órgão mesmo na idade adulta ou terceira idade, em razão de edema
(acúmulo anormal de líquido nos tecidos do organismo), proliferação de células anômalas (isto é, que
não são típicas da estrutura daquele órgão), entre outros motivos.

Quanto ao desenvolvimento, ele é entendido como um processo que se inicia com a concepção
(conforme será visto adiante) e se encerra com a morte. Em outros termos, pode-se afirmar o seguinte:
enquanto existir vida, existirá desenvolvimento.

Portanto, ambos – crescimento e desenvolvimento – são processos finitos e, por conseguinte,


limitados no tempo.

Figura 5 – Senhor idoso segurando bebê no colo: encontro de gerações

Lembrete

Crescimento está relacionado a aumento de quantidade.


Desenvolvimento está relacionado a modificações e manutenções na
qualidade, seja para melhor, seja para pior.

29
Unidade I

3.4 Fatores de influência e variações no processo de crescimento e


desenvolvimento de uma pessoa

É notório que as pessoas não se desenvolvem todas do mesmo modo ao longo do tempo. No
que se refere à produção de movimentos (ações motoras), por exemplo, é comum que os bebês,
por volta de um ano de idade, passem do engatinhar para o andar; no entanto, há bebês que não
chegam a engatinhar, passando diretamente do rastejar para o andar; assim como alguns andam com
cerca de oito meses e outros, com um ano e dois meses de idade e assim por diante. Crianças com
Síndrome de Down apresentam o andar ainda posteriormente, às vezes com cerca de dois anos de
idade. Outro exemplo: uma mesma criança pode andar quando tem nove meses e depois optar por
somente engatinhar por mais um mês, até que volte a andar e não mais queira engatinhar. O que é
possível inferir dessas situações?

• Primeiro: a velocidade com que ocorre um evento (no caso do exemplo, o andar) está relacionada
à idade, mas a idade em si não é determinante para sua ocorrência.

• Segundo: semelhantemente, a permanência de um evento, isto é, o quanto ele perdura no tempo


não é a mesma para todas as pessoas. Das situações mencionadas, é o caso da criança que anda,
volta a engatinhar somente e, por fim, torna a andar.

• Terceiro: pode haver condições e características típicas, específicas de determinados


indivíduos que não ocorrerão com outros, seja por causa de influências de sua própria
constituição, sobretudo associada a fatores genéticos (como o exemplo da Síndrome de
Down), seja por causa de influências ambientais, como incentivo dos pais, imitação de
irmãos mais velhos etc.

Refletindo sobre essas constatações, é importante compreender certos aspectos fundamentais para
estudar os fenômenos de crescimento e desenvolvimento humano.

• Idade: a idade é um parâmetro, um dos mais importantes critérios de aproximação de


algumas (ou muitas) características em comum nas mais variadas pessoas, mas os mesmos
eventos não ocorrem exatamente em determinada idade para todas as pessoas, como será
apresentado adiante.

• Variações interindividuais: cada pessoa tem o crescimento e desenvolvimento diferente das


outras, e variações intraindividuais são relativas a certos eventos – há variações que ocorrem em
uma mesma pessoa.

• Fatores internos ou intrínsecos: há fatores internos à pessoa, próprios de sua estrutura e de suas
funções orgânicas.

• Fatores externos ou extrínsecos: existem fatores externos à pessoa, próprios dos ambientes onde
ela se desenvolveu ao longo da vida.

30
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

No que se refere a fatores internos e externos que influenciam o processo de crescimento e


desenvolvimento humano, há que se destacar:

• Fatores internos: herança genética, processos maturacionais, inconsciente.

• Fatores externos: alimentação, tempo e local para dormir, uso de medicamentos, uso de drogas
ilícitas, (isto é, que a lei não permite, como maconha, cocaína etc.), pais e outros cuidadores, demais
membros da família, animais de estimação, certos objetos, meio ambiente (clima, vegetação,
relevo, poluição e outros), infraestrutura social (saneamento básico, transporte, moradia etc.),
educação formal (escola), entre muitos outros.

Observação

O inconsciente foi estudado originalmente pelo psiquiatra Sigmund


Freud (1856-1939), mediante a denominada perspectiva psicanalítica, cujo
método evocava no paciente lembranças antigas, para resolver conflitos
emocionais do presente.

Embora possa existir uma lista imensa de fatores externos, é curioso notar que não há uma
ordem de importância que seja definida a priori, uma vez que cada pessoa pode se afetar mais por
um fator do que por outro. Além disso, se tomarmos o exemplo do número de horas de sono: pode
ser que ele esteja atrelado a outros fatores, como excesso de barulhos intensos e frequentes na
vizinhança, ou a hábitos familiares, como o de dormir muito tarde, mesmo tendo de acordar muito
cedo no dia seguinte. Portanto, vários fatores externos inter‑relacionados podem influenciar o
crescimento e desenvolvimento humano.

Note-se, semelhantemente, que em muitas situações é bastante difícil separar fatores internos e
externos. Por exemplo, uma criança que apresenta intolerância à lactose, que pode ser uma característica
genética, tem de passar por adaptações em seus hábitos alimentares desde cedo, o que denota uma
interação muito forte entre um fator interno e um externo.

Desde a gestação e ao longo de cada uma das faixas etárias, serão realizados comentários e
exemplos sobre diferenças interindividuais e intraindividuais, bem como sobre a interação de fatores
internos e externos, pois todos esses elementos em conjunto e mutuamente inter‑relacionados
é que permitem que se obtenha uma ideia mais aproximada dos fenômenos de crescimento e
desenvolvimento humano, ao menos do ponto de vista teórico.

Papalia e Feldman (2013, p. 51-52) indicam trabalhos de outros pesquisadores que estabeleceram
sete princípios básicos do desenvolvimento do ciclo de vida e que abrangem e complementam o que foi
apresentado a esse respeito no presente texto. Os princípios são estes:

• O desenvolvimento é vitalício: todos os períodos da vida são importantes e cada um deles é


afetado pelo período que o antecedeu.
31
Unidade I

• O desenvolvimento é multidimensional: abarca várias dimensões, chamadas também de


domínios, ou aspectos, ou esferas, quais sejam: emocional, cognitiva, motora, social, entre
outros (como será discutido adiante), cada uma delas podendo se desenvolver em diferentes
ritmos e velocidades ao longo de todo o ciclo de vida.

• O desenvolvimento é multidirecional: em outras palavras, ocorre em várias direções. Por exemplo,


o aprendizado de línguas é mais facilitado na infância, porém mais dificultado na adolescência,
constituindo, portanto, uma característica que em determinado momento apresenta tendência
crescente em qualidade, mas, em outro, uma tendência decrescente.

• Influências relativas de mudanças biológicas e culturais sobre o ciclo de vida: as características


biológicas esperadas no processo de crescimento e desenvolvimento recebem influência da
dinâmica cultural. Como exemplo, crianças que aprendem habilidades motoras complexas
quando ainda estão na fase de aprender habilidades motoras básicas, por exemplo,
“passistas mirins” de escola de samba, que começam a dançar aproximadamente aos
quatro anos de idade: a habilidade culturalmente determinada e chamada popularmente
de “sambar no pé”, que a pessoa executa sozinha, requer uma coordenação refinada de
apoio dos dedos e da planta dos pés alternadamente sobre o solo, de modo a acompanhar
o ritmo e a melodia de uma música de expressiva velocidade. Essa aprendizagem é típica de
“subculturas” (pequenas culturas dentro de uma cultura maior), fortemente associadas ao
samba carnavalesco, próprio de certas localidades que têm essa tradição como realização
identitária (por exemplo, as comunidades do Rio de Janeiro, Brasil).

• O desenvolvimento envolve mudança na alocação de recursos: alguns desses recursos são tempo,
energia, dinheiro e apoio social. No início da vida adulta, por exemplo, é comum que se invista
mais tempo e energia em trabalho ou em trabalho e estudo; a criança, naturalmente, investe sua
energia e seu tempo no brincar e assim por diante.

• O desenvolvimento revela plasticidade: algumas capacidades como memória e força física podem
ser aumentadas e aperfeiçoadas, mesmo com o processo de degeneração natural da idade. Contudo,
há limites nessa plasticidade, ou seja, é um erro pensar que quanto mais se treina alguma dessas
capacidades, mais se consegue obter resultados satisfatórios, como se essa plasticidade fosse
infinita.

• O desenvolvimento é influenciado pelo contexto histórico e cultural: cada pessoa é


influenciada pelo contexto cultural, social e histórico no qual é criada, os quais podem
variar bastante ao longo de sua vida, sobretudo se ela se mudar para outro país ou até
mesmo para outra região no mesmo país, bem como se tiver ascendência (pais, avós etc.) de
países bastante diferentes, por exemplo, uma avó de procedência asiática e outra do sul da
Europa e conviver bastante com ambas.

32
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.5 Domínios que compõem o desenvolvimento humano

Os domínios (também chamados de dimensões, aspectos ou esferas) do desenvolvimento do ser


humano têm sido investigados por diversas áreas acadêmico-científicas como Anatomia, Fisiologia,
Biologia, Psicologia, Sociologia, Antropologia etc. Em outras palavras, foram construídos vários
sistemas de conhecimento teóricos e/ou práticos, a respeito do ser humano, conhecimentos que
foram se estabelecendo de modo a priorizar um desses domínios, bem como inter‑relacioná-los.

Observação

Nesse caso, entendem-se por conhecimentos práticos, de modo


simplificado, aqueles referentes à intervenção profissional.

São domínios do desenvolvimento humano as características relacionadas a: movimento;


cognição; emoção; moralidade; estrutura e função; cultura; socialização, entre outros. Esses e
outros domínios (como biológico, educacional etc.) servem como base de estudo para compreender
e explicar (teórica ou empiricamente) os processos de crescimento e desenvolvimento humano,
bem como sua promoção.

Movimento

Afeto
Cognição (emoções)
(razão)

Estruturas e
Socialização e funções físicas
culturalização

Figura 6 – Integração entre alguns domínios do desenvolvimento humano

Os domínios são:

• Motor: produção de movimentos, de ações motoras.

• Cognitivo (“racional”): pensamentos – raciocínio lógico, imaginação, linguagem, memória,


interpretação etc.

• Emocional (afetivo): sentimentos: alegrias, tristezas, angústias, medo, ansiedade, motivação etc.

• Físico: estruturas (como órgãos, por exemplo) e funcionamento.

33
Unidade I

• Cultural: elementos e ensinamentos criados pelo ser humano, passados de geração em


geração.

• Social: relação de cada pessoa com um grupo bastante grande no qual ela está inserida e que, em
geral, é regulado por um líder e/ou por uma organização política e territorial.

Quando se reflete sobre as funções da Educação Física e do Esporte como campos de conhecimento,
investigação e áreas de intervenção de profissionais, há necessidade de conhecer esses aspectos e suas
inter‑relações, a fim de compreender um pouco a respeito das pessoas praticantes das mais variadas
atividades físicas, nos diversos ambientes e contextos, incluindo esportes. Isso porque os profissionais
dessas áreas devem estar adequadamente qualificados para lidar com as mais diferentes pessoas em
todas as faixas etárias, isto é, ao longo de todo o ciclo de vida (da vida desde dentro do ventre materno
até a terceira idade).

Os profissionais que orientam e acompanham essas pessoas podem e devem agir como
participantes ativos de um processo de formação em que ambos – o praticante/atleta/cliente/
aluno e o profissional/professor – estejam em permanente interação, ainda que cada um tenha
suas próprias expectativas, metas, experiências e realizações.

É importante compreender por que muitas pessoas não praticam atividade física sistematica ou
mesmo aleatoriamente. Há muitos estudos sobre aderência, não aderência e desistência da prática de
atividade física.

Observação

Educador físico é um termo incorreto. O correto é profissional de


educação física, conforme a Lei no 9.696 (BRASIL, 1998), que regula a
profissão de Educação Física.

Para compreender ainda melhor os processos de crescimento e desenvolvimento, adotou-se a


divisão em faixas etárias, conforme será apresentado adiante. Todavia, tratando-se das diferentes
esferas do desenvolvimento humano já se pode ter noção dessa divisão em faixas de idade e algumas
respectivas características.

Antes, porém, é absolutamente importante destacar dois aspectos:

• As características de cada domínio do desenvolvimento humano nem sempre se aplicam a todas


as pessoas. O que se considera são ocorrências, em média, na população – ora mundial, ora de
algum ou de alguns países, ora de localidades menores.

• Pessoas que têm alguma deficiência física e/ou mental ou doença mental podem apresentar
certas características bastante diferenciadas do que as que serão descritas e discutidas ao longo
desta disciplina. Todavia, essas pessoas são igualmente importantes. Toda pessoa é importante.
34
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Contudo, ideal seria que fosse possível abarcar todas as características humanas de que se
tem conhecimento. Entretanto, além de descabida pretensão, isso seria também uma ilusão,
posto que a “surpresa evolutiva” faz parte do próprio processo de crescimento e desenvolvimento
humano, em que filogênese e ontogênese combinam-se de tal forma que não é possível uma
previsibilidade absoluta.

3.5.1 Domínio motor

Como fenômeno, o desenvolvimento do domínio motor abrange a relação entre o sistema nervoso
central (SNC) e o sistema musculoesquelético. O bebê passa por muitas e rápidas mudanças no primeiro
ano de vida, em razão da maturação do SNC, levando à internalização (“desaparecimento”) de certos
reflexos (como os reflexos de sucção, preensão palmar, “de mergulho” entre outros) e, progressivamente,
à aquisição de ações motoras, como rolar, girar, engatinhar e, mais adiante, andar, correr, saltar, além das
habilidades que envolvem explorar características de objetos e usá-los para outros fins, como brincar ou
se alimentar, por exemplo.

Observação

A respeito dos reflexos, vide também Primeira Infância, adiante no


livro-texto.

Mais especificamente a partir do segundo semestre de vida e desse período em diante,


desenvolvem-se e são aprimoradas as demais habilidades motoras básicas – como arremessar,
receber e rebater objetos.

É importante considerar que não apenas a maturação do SNC merece destaque, mas
também as experiências. Assim, deve-se falar em integração entre maturação e experiência,
pois só uma ou outra não seria suficiente para que as pessoas aprendessem habilidades
motoras, uma vez que o processo de aprendizagem (motora ou não) depende de ambos os
aspectos, conforme já discutido.

Portanto, a ampliação e melhora nas habilidades motoras ao longo da vida ocorrem pela interação
dos aspectos maturacionais e estimulações ambientais, em uma inter‑relação de três elementos:
organismo (indivíduo, pessoa), ambiente (contexto), tarefa (atividade).

O denominado modelo da ampulheta, de David Gallahue, foi proposto em 1982 com a finalidade
de explicar o desenvolvimento motor nas diferentes faixas etárias, desde a vida intrauterina até
a terceira idade. A seguir, apresentam-se dois esquemas, adaptados e simplificados referentes ao
modelo da ampulheta.

35
Unidade I

Quadro 1 – As fases do desenvolvimento motor de acordo com o modelo da ampulheta

Faixas etárias aproximadas Os estágios do


de desenvolvimento desenvolvimento motor
Estágio de utilização
14 anos em diante permanente
Fase motora de 11 a 13 anos Estágio de aplicação
especializada

de 7 a 10 anos Estágio transitório

De 6 a 7 anos Estágio maduro

Fase motora de 4 a 5 anos Estágio elementar


fundamental

de 2 a 3 anos Estágio inicial

de 1 a 2 anos Estágio de pré-controle


Fase motora
rudimentar
do nascimento até 1 ano Estágio de inibição de reflexos

Estágio de decodificação de
de 4 meses a 1 ano
Fase motora informações
reflexa Dentro do útero até 4 meses Estágio de codificação de
de idade informações

Adaptado de: Gallahue; Ozmun (2005, p. 57).

Quadro 2 – Modelo da ampulheta do adulto jovem à terceira idade

Idoso frágil Acima de 80


Estágio intermediário da velhice 70-80
Início da velhice 60-70
Adulto na meia-idade 40-60
Adulto jovem 18-40

Adaptado de: Gallahue; Ozmun (2005, p. 68).

Observe-se que no quadro anterior não foram atribuídas/denominadas outras fases ao


desenvolvimento motor em cada faixa etária, pois o autor considera que a fase motora especializada
se prolonga para o restante da vida, abrangendo a aprendizagem de qualquer habilidade motora
específica – obviamente respeitando eventuais limites físicos de força, flexibilidade e agilidade
das idades mais avançadas.

36
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Observação

Conforme será apresentado adiante, as idades estabelecidas como


início e fim de uma dada faixa etária variam de um autor (pesquisador)
para outro.

O desenvolvimento motor é retratado também por outro modelo, semelhante ao modelo


da ampulheta, chamado modelo da pirâmide, originário da obra: Educação Física Escolar:
Fundamentos de uma Abordagem Desenvolvimentista de Tani et al. Esse modelo, no entanto,
traz a novidade da combinação de habilidades motoras básicas (denominadas, nesse modelo, de
movimentos fundamentais), que são propostas para serem trabalhadas no Ensino Fundamental I,
com a finalidade de preparar as crianças para a aprendizagem de habilidades mais complexas
do período seguinte, ou seja, a adolescência. Esse modelo é apresentado, de modo adaptado e
simplificado, no quadro a seguir.

Note-se também que, diferentemente do modelo de Gallahue, o modelo da pirâmide estende-se


somente até o final da adolescência, uma vez que se restringe a uma proposta para a área escolar;
portanto, não envolve a idade adulta e nem a terceira idade.

Quadro 3 – As fases do desenvolvimento motor de acordo com o modelo da pirâmide

Idade Estágios
Movimentos determinados
Acima de 12 anos Culturalmente
Combinação de movimentos
6/7 a 11/12 anos Fundamentais
2 a 6/7 anos Movimentos fundamentais
1 a 2 anos Movimentos rudimentares
intra-útero a 4 meses Movimentos reflexos

Adaptado de: Tani et al. (1988).

É importante ponderar, ainda que brevemente, acerca da aplicabilidade de qualquer modelo em


ciência. Assim, existem muitos modelos explicativos para os vários domínios do desenvolvimento
humano, como será brevemente discutido ao longo deste livro-texto. Essa ponderação não diminui a
importância de qualquer modelo ou de qualquer explicação teórica proposta.

37
Unidade I

Saiba mais
No artigo a seguir, um dos próprios autores do Modelo da Pirâmide,
Edison de Jesus Manoel, discute e crítica sobre a obra e a abordagem em
que está presente esse modelo, vinte anos após sua proposição.
MANOEL, E. J. A abordagem desenvolvimentista da Educação Física
Escolar – 20 anos depois: uma visão pessoal. Revista da Educação Física,
Maringá, v. 19, n. 4, 4. trim., p. 473-88, 2008.

Tanto o modelo de Gallahue como o de Tani et al. podem ser considerados para orientar o
desenvolvimento motor e a aquisição de ações motoras. Ambos os modelos serão, em alguma medida,
retomados posteriormente, por estender sua proposição de desenvolvimento motor até o fim da vida,
na terceira idade.

3.5.2 Domínio cognitivo

O desenvolvimento cognitivo abrange as operações mentais, como o raciocínio lógico (“razão”), a


linguagem (identificação, produção e reprodução de símbolos que permitem comunicação), a memória,
o planejamento de ações, a realização de operações matemáticas, entre outros processos de organização
do pensamento.

O biólogo suíço Jean Piaget (1896‑1980) foi o proponente da Teoria dos Estágios Cognitivos, elaborando
uma associação entre certos comportamentos e as faixas etárias respectivas a esses comportamentos.
Ele desenvolveu um método de pesquisa com base em observações minuciosas de bebês, crianças e
adolescentes, além de entrevistar seus próprios filhos e discorrer de modo pormenorizado sobre seus
comportamentos.

Ele procurou compreender de que forma cada ser humano compreende a si mesmo como
diferente de outro ser, e como solucionar problemas (isto é, desafios intelectuais), nas mais diversas
atividades de vida diária, como em brincadeiras e no entendimento de grandezas físicas (como
noções de forma e volume).

Para esse autor, a criança e o adolescente constroem relações de acordo com quatro parâmetros que
se integram: objeto, tempo, espaço e causalidade (relação de causa e efeito).

Piaget estabeleceu que a cada estágio desenvolve-se um novo modo de pensar e de responder aos
estímulos do ambiente. Um estágio é baseado no anterior e constrói as bases para o seguinte. A ordem
dos estágios é invariável para todas as pessoas, mas os momentos de transição (“idade”) podem ter
alguma variação.

38
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Assim como os dois modelos de desenvolvimento motor apresentados, o modelo de Piaget para o
desenvolvimento cognitivo está fundamentado no princípio de que o desenvolvimento é vitalício.

Observe o quadro a seguir, que será descrito adiante nas respectivas faixas de idade.

Quadro 4 – Estágios do desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget

Idade Estágio
Intra-útero a 4 meses Sensório-motor (subestágios 1 e 2)
1 a 2 anos Sensório-motor (subestágios 3 a 6)
2 a 6/7 anos Pré-operatório
6/7 a 11/12 anos Operatório concreto
Acima de 12 anos Operatório formal

É importante salientar que, além de Piaget, há outros autores bastante importantes no que se refere
ao tema sobre a origem e o desenvolvimento do ser humano, sendo dois deles muito expressivos e
influentes nessa compreensão, com contribuições relevantes para a área da Psicologia e da Psicologia
da Educação: Lev Semenovich Vygotsky e Henry Wallon. Assim como Piaget, eles têm sido adotados
também para a Educação Física, principalmente na Educação Física escolar.

Se Piaget, por um lado, atribui à gênese do conhecimento a fase pré-verbal do desenvolvimento da


linguagem (no estágio sensório-motor), Vygotsky e Wallon atribuem essa importância à fase verbal da
linguagem, uma vez que essa segunda fase propicia à criança relações mais complexas com as pessoas
e com demais elementos do ambiente. Vygotsky também considera que a linguagem escrita demanda
um refinamento intelectual, isto é, pensamentos mais bem-elaborados.

Vygotsky realça a importância do contexto social e histórico, desenvolvendo a Teoria Sociocultural,


ao passo que Wallon reforça a importância do gesto (domínio motor) e da representação (domínio
mental), além de atribuir fundamental importância ao desenvolvimento afetivo. Aliás, a rigor, Wallon
não destaca o desenvolvimento cognitivo e sim a interação entre cognição, movimento e afeto.

Saiba mais

A obra a seguir (também usada neste tópico) apresenta bibliografia e


principais ideias desses três pesquisadores, com a finalidade de discutir
aspectos importantes relacionados à gênese (origem) do funcionamento
da inteligência e da afetividade no ser humano.

LA TAILLE, Y. de; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon:


teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

39
Unidade I

Mais atualmente, o pesquisador estadunidense Howard Gardner apresentou sua teoria das
inteligências múltiplas (GARDNER, 1993), a qual tem sido também bastante aceita. Essa teoria considera
que a inteligência não pode ser avaliada por meio de testes de QI (quociente de inteligência), como se
certa pontuação determinasse se uma pessoa é mais ou menos inteligente do que outra. Isso porque
esse teste e vários outros não envolvem todas as atividades humanas valorizadas em praticamente
todas as culturas – como música e esportes, por exemplo.

Assim, essa teoria procura mostrar que as avaliações da inteligência precisam abranger mais do
que testes com medidas quantitativas, assim como atividades outras que não somente a linguagem
gramatical, a aritmética e os problemas de lógica, pois eles não revelam todas as capacidades humanas
que estão relacionadas à inteligência.

No âmbito da Educação, isso tem sido bastante aplicado (talvez nem tanto no Brasil, ainda). Por
exemplo, pode-se incentivar o desenvolvimento da linguagem mediante mímica, em vez da linguagem
falada. Nesse sentido, as atividades físicas e expressivas têm sido bastante valorizadas, sendo um exemplo
o ensino de conceitos de Física por intermédio da dança.

De acordo com Gardner:

Usamos uma inteligência quando nos esforçamos e solucionamos um problema


ou produzimos alguma coisa valorizada pela sociedade. [...] instituir uma prática
nova em qualquer área é difícil, e o processo de provocar mudanças fundamentais
na prática educacional leva anos (GARDNER, 2001, p. 175).

Deve-se destacar a importância de prestar atenção a algo muito comum em Ciência e Filosofia:
assim como outros pesquisadores e pensadores como Edison de Jesus Manoel (2008), Gardner critica a
própria teoria, admitindo a necessidade de diálogo com outros autores, a fim de promover uma correta
interpretação de sua teoria e a renovação de seus pressupostos teóricos, conforme explicita em uma
obra posterior, de 2001, intitulada Inteligência: um Conceito Reformulado.

Entenda-se que as ideias de Gardner não substituem as de Piaget e nem têm essa pretensão.
Uma das grandes preocupações de Gardner é tratar o conceito de inteligência de forma diferente
do que vinha sendo considerado, e por isso enfatiza a necessidade de uma abordagem qualitativa
para esse conceito e não puramente quantitativa, como dos testes de QI. Aliás, entender que o
desenvolvimento cognitivo deva ser compreendido de modo qualitativo é justamente uma das
bases da abordagem de Piaget.

3.5.3 Domínio emocional

Emoções, muito comumente, regulam e afetam nossas atitudes e, desse modo, constituem aspectos
fundamentais da nossa formação, pois, ao se expressar, o ser humano provoca reações comportamentais
e isso invoca significados que se solidificam em nossa cognição e, além do mais, estimulam afinidades
atitudinais isto é, relativas a atitudes relevantes, frente às demandas situacionais e à própria existência,
sobretudo quando se exercita a autorreflexão.
40
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Observação

Atitudes podem ser entendidas como ações imbuídas de valores morais


e éticos.

Um conceito fundamental para compreender o domínio emocional é personalidade.


Personalidade refere-se a um conjunto de características psicológicas que tendem a ser estáveis
em uma pessoa, por exemplo, ser tímida ou extrovertida, agressiva ou pacífica, e assim por diante.
É importante notar que não se trata de algo imutável ao longo da vida e sim, como foi mencionado,
tende a ser estável.

A temática das emoções tem sido tratada por diversas correntes e autores da Psicologia. Contudo,
pode-se destacar que o desenvolvimento emocional teve como precursor o médico Sigmund Freud, com
a perspectiva psicanalítica, segundo a qual o desenvolvimento (não apenas o emocional) é moldado por
forças inconscientes que motivam o comportamento humano.

A personalidade estaria dividida em id, ego e superego. O id está presente no recém-nascido e


representa os impulsos de prazer; o ego seria a razão, que se desenvolve gradualmente a partir do
primeiro ano de vida; o superego se desenvolve aproximadamente aos cinco/seis anos de idade, inclui a
consciência e a criança passa a incorporar sistemas de valores, em que há deveres e proibições impostos
socialmente. O ego seria um intermediário e um mediador entre os desejos do id e as demandas exigentes
do superego, podendo levar a sentimentos de culpa e frustração quando os pensamentos, sentimentos
e ações da criança não correspondem ao que o superego espera. Fundamentando-se nas relações
conflituosas entre id, ego e superego, Freud atribui cinco estágios ao desenvolvimento psicossexual, nos
quais as crianças tentam resolver esses conflitos (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

A teoria de Freud é demasiado complexa para que seus outros elementos sejam elencados e
discutidos no presente livro-texto. Todavia, é importante saber que esse autor teve fundamental
importância não apenas para elaborar outra “visão” sobre o desenvolvimento humano (baseado
na tensão entre necessidades e desejos íntimos versus padrões sociais pré-determinados), como
também incitou uma profunda reflexão filosófica acerca da realização da felicidade individual,
do preconceito étnico (posto que ele era de origem judaica e, como tal, sofreu perseguições) e
do preconceito de gênero (boa parte de seus pacientes eram mulheres), e ainda revolucionou o
tratamento psiquiátrico, dando oportunidade para que o paciente fosse escutado, mediante o
método terapêutico que ele desenvolveu: a psicanálise, que se constitui também num diferenciado
referencial teórico-metodológico de pesquisa.

As pesquisas e intervenções profissionais de Freud encorajaram o trabalho e o desenvolvimento de


estudos de outros pesquisadores, como Erik Ericsson, que conheceu Freud, modificou e ampliou sua
teoria, enfatizando a importância da sociedade no desenvolvimento da personalidade e de que o ego
se desenvolve por toda a vida e não somente na infância. Sua teoria é denominada desenvolvimento
psicossocial.

41
Unidade I

Convém notar que embora esses dois autores tenham sido mencionados nesse tópico sobre
desenvolvimento emocional, suas teorias se estendem além desse domínio do desenvolvimento. Por
exemplo, em Freud há um “apelo” para a importância de aspectos orgânicos (“biológicos”), ao passo que
Ericsson destaca a influência social. Mesmo assim, as construções teóricas de ambos os autores estão
presentes neste livro-texto, ainda que de modo bastante superficial.

Saiba mais

O seguinte filme (em preto e branco) retrata a vida de Freud quando


inicia sua abordagem psicanalítica, bem como seus próprios conflitos
íntimos, que a impulsionaram.

FREUD – além da alma. Dir. John Huston. EUA: Universal International


Pictures, 1962. 139 minutos.

3.5.4 Domínio moral

Em princípio, o domínio moral é considerado um item do desenvolvimento cognitivo, em que


é apresentada a integração entre alguns domínios do desenvolvimento humano; todavia, não
necessariamente ele precisa ser assim interpretado.

O desenvolvimento moral refere-se à identificação, imitação, compreensão e elaboração de regras


sociais. Está em estreita relação não apenas com o desenvolvimento cognitivo, mas também com o
desenvolvimento emocional.

A moral pode ser heterônoma ou autônoma. A moral heterônoma está associada à necessidade
de algo ou alguém para determinar uma conduta adequada ou inadequada; a moral autônoma está
associada à ausência dessa regulação por outrem, ou seja, a própria pessoa tem condição de decidir por
si mesma a forma correta de agir, sem a necessidade de intervenção de outra pessoa ou determinada
religião, instituição política, conjunto de leis etc.

No processo de desenvolvimento humano, as pessoas partem da anomia (ausência de moral) e passam


a uma moral heterônoma, porém nem sempre atingem autonomia moral, mesmo na idade adulta. Como
exemplo, podemos citar uma pessoa que sempre necessita da opinião de um padre para saber como agir
“corretamente”, isto é, seguindo padrões considerados morais, ao menos para o contexto em que ela vive.

Os diversos conceitos de justiça e seus diferentes modos de aplicação são estudados no


desenvolvimento moral ao longo das faixas etárias. É importante considerar que há grandes divergências
entre as mais diferentes culturas em questões bastante polêmicas envolvendo direitos e deveres humanos.

O desenvolvimento moral foi bastante investigado por Piaget. Fundamentando-se em seus estágios
de desenvolvimento cognitivo, Lawrence Kohlberg aperfeiçoou os estudos de Piaget e propôs seis
42
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

estágios de desenvolvimento moral; contudo, esse autor chegou a pensar na possibilidade de um sétimo
estágio, em que as pessoas têm uma preocupação com os efeitos de suas ações não apenas sobre outras
pessoas, mas sobre todo o universo (por exemplo, pessoas fortemente envolvidas em preservação do
meio ambiente).

De acordo com Papalia e Feldman (2013), outra pesquisadora importante nesse tema é Carol Gilligan,
que investigou mais especificamente o desenvolvimento moral em mulheres de diferentes idades. Há
algumas evidências de que as mulheres tendem a se preocupar mais com o cuidado (responsabilidades)
pelos outros, ao passo que os homens preocupam-se mais com o que é justo ou injusto. Entretanto,
esses resultados também não são conclusivos.

O que se tem aceitado atualmente a respeito do desenvolvimento moral é que:

• ambas as teorias (de Kohlberg e de Gilligan) corroboram que o nível mais elevado do desenvolvimento
moral é o que envolve a responsabilidade sobre outra pessoa;

• em ambos os sexos manifestam-se a compaixão, o cuidado e os vínculos com outras pessoas;

• o desenvolvimento moral envolve também e fortemente o aspecto emocional e de relações sociais


e não apenas o aspecto cognitivo;

• diferentes culturas apresentam sistemas de valores morais diversos, e que mudam ao longo do
tempo.

Saiba mais

A obra a seguir fundamenta parte significativa de todos os temas deste


material de estudo:

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto


Alegre: AMGH, 2013.

Mais especificações a respeito das teorias de Freud e Erickson encontram-se


nas páginas 59 a 62 dessa obra indicada, e os seis estágios do raciocínio
moral de Kohlberg, na tabela 11.3 (p. 409 – 410).

Há edições anteriores dessa mesma obra, sendo uma delas a seguinte:

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano.


8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Essa obra é encontrada nas bibliotecas de vários campus da UNIP.


43
Unidade I

A ética, tão associada à moral, pode ser definida como:

[...] uma parte da filosofia que se ocupa com os critérios de correção ou


incorreção de ações humanas no que se refere especialmente a suas relações
com outros humanos, entendendo-se correção não apenas num sentido
técnico ou instrumental, mas como consideração pelos interesses de outros
e disposição de agir em consequência, mesmo acarretando dificuldades
(CABRERA, 2014, p. 91).

Há inúmeros estudos clássicos e contemporâneos discutindo relações de similaridade ou de


divergência entre os conceitos de moral e ética. A palavra Ética grafada com letra inicial maiúscula,
na definição, refere-se a um campo de conhecimento, porém, quando se pensa em atitudes éticas
está-se referindo a ações em que uma pessoa (ou grupo de pessoas) leva em consideração os valores
relacionados à dignidade humana, muitas vezes, suplantando regras sociais, a fim de realizar um bem
maior para alguém, como direito à vida, à liberdade, ao respeito.

Talvez estudar Ética não seja tarefa tão difícil quanto desenvolver um “fazer ético”, ou seja, realizar
intervenções a favor de interesses de outras pessoas e não apenas em benefício próprio.

Um filósofo contemporâneo que desenvolve reflexões sobre ética e alteridade (isto é, a relação do
“eu” com “outro”) é Emmanuel Lévinas. Outro pesquisador que se dedica a estudos sobre ética e moral
é Yves de La Taille.

Saiba mais

A seguir, fazemos indicações das obras desses autores:

LÉVINAS, E. Entre nós: ensaios sobre alteridade. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

LA TAILLE, Y. de. Vergonha: a ferida moral. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

LA TAILLE, Y de. Formação ética: do tédio ao respeito de si. Porto Alegre:


Artmed, 2009.

Em certo sentido, pode-se dizer que a pessoa com preocupações éticas procura se colocar
na situação do outro, na tentativa de compreender um pouco de seus sentimentos, ideias e
posicionamentos. Além disso, um fazer ético pressupõe que o outro (seja uma pessoa, outro ser
vivo e até mesmo um objeto ou o meio ambiente) jamais deverá ser um meio para que outra
pessoa atinja a felicidade, ainda que essa satisfação seja fugaz (isto é, passageira). Um exemplo:
uma pessoa convida um amigo para uma festa porque ele tem carro para lhe dar carona e não
porque ela gostaria que ele fosse por gostar de sua companhia. Nesse caso, o amigo seria um
meio para sua comodidade; e mesmo que ele espontaneamente quisesse ir à festa, chamá-lo só
44
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

por causa da carona não seria ético, pois para a pessoa, ele continuaria sendo apenas um meio
para ela obter vantagem.

No Brasil, por fortes aspectos culturais de subordinação e opressão, é comum as pessoas agirem de
forma moral, ou seja, seguindo regras, porém nem sempre de forma ética. Há também muitas pessoas
que denotam atitudes imorais.

De modo simplificado, é possível afirmar que o ensinamento atribuído a Jesus Cristo: “Amai
ao próximo como a ti mesmo”, é uma noção ética de relação interpessoal (intersubjetiva). Para
não causar distorções (outros sentidos) que o verbo amar pode suscitar, um raciocínio semelhante
seria substituí-lo pelo verbo “respeitar”. “Respeite o outro como a você mesmo”, já seria bastante
satisfatório e conferiria a preservação do sentimento de dignidade para ambas (ou mais) pessoas,
por exemplo.

No âmbito da Educação Física e do Esporte, seria adequado atribuir esse pensamento ao fair play,
popularmente traduzido como “jogo limpo”, em que não se usa prejudicar o adversário além do que
as regras do jogo (ou esporte) permitam. Aliás, tanto os jogos envolvendo ao menos dois opositores
como as várias modalidades esportivas podem e devem ser trabalhados para que as pessoas envolvidas
(estudantes, participantes, jogadores, atletas, técnicos, entre outros) entendam que o respeito às regras,
além de importante para o equilíbrio da própria diversão, é também uma forma de respeitar o oponente,
o parceiro de equipe, o árbitro e assim por diante.

Aspectos do esporte e do jogo serão retomados adiante, na fase da adolescência.

3.5.5 Domínio social e cultural

O psicólogo cultural Ernst Boesch (que estudou com Piaget), definiu o conceito de cultura como segue:

Cultura é um campo de ação, cujos conteúdos variam de objetos feitos


e usados pelos seres humanos a instituições, idéias e mitos. Sendo um
campo de ação, a cultura oferece possibilidades, mas na mesma medida,
estipula condições para a ação; ela circunscreve metas que podem ser
atingidas por certos meios, mas também estabelece limites para ações
corretas, possíveis e ainda, desviantes. [...] Como campo de ação, a
cultura não só induz e controla ação, mas é também continuamente
transformada por ela; portanto, cultura é tanto processo quanto
estrutura (BOESCH, 1991, p. 29 tradução nossa).

Sociedades mais complexas, isto é, com mais de um modo de produção (agricultura, indústria), bem
como aquelas que apresentam amplas relações comerciais e diferentes tipos de organização, não raro
apresentam mais de uma cultura ou diferentes subculturas que perfazem uma “cultura maior”, por
exemplo, a cultura urbana, que contém hábitos próprios relativos a transporte, alimentação, lendas
típicas etc.

45
Unidade I

A influência entre cultura e sociedade é recíproca e muito difícil de ser estudada, em razão justamente
da complexidade e diversidade de relações. A Sociologia e a Antropologia se ocupam diretamente da
compreensão desses dois fenômenos.

Na proposta desta disciplina, é importante ressaltar que tanto cultura como sociedade não são
partes acessórias do desenvolvimento humano. Pelo contrário, estudar qualquer outro domínio do
desenvolvimento humano sem estabelecer relações de igual importância com os domínios social
e cultural não abarca o ser humano com a devida importância de ser, para além de um indivíduo,
uma pessoa.

Figura 7 – Pirâmides do Egito

Figura 8 – Livros

46
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Essas duas figuras representam meios diferentes de preservar a história de culturas e sociedades
diversas – da mais suntuosa, a pirâmide egípcia, até a mais simples, porém não menos valiosa: o livro.

Saiba mais

O JULGAMENTO de Nuremberg. Dir. Stanley Kramer. EUA: Roxlom Films


Inc. 1961. 186 minutos.

Exemplo de aplicação

O filme anterior expõe todo o dilema ético e moral de um alto membro do exército nazista: um
juiz que causou a execução inúmeras pessoas durante a II Guerra Mundial, com mais alguns colegas
também juízes, serão agora julgados pro um tribunal estadunidense. O principal julgador desses juízes
também vive um conflito ético e moral. Sugere-se assistir ao filme e refletir a respeito da eugenia e do
preconceito étnico contra judeus e outros povos perseguidos pelos alemães e outros simpatizantes do
nazismo, causando um fenômeno inédito na história: a tortura e o massacre, em massa, oriundos da
ignorância científica sobre a origem do homem e da perseguição insana pelo poder.

3.6 A integração polêmica de dois domínios do desenvolvimento: razão e


emoção

É imperioso esclarecer que a complexidade e profundidade dos estudos desses autores apresentados
e de muitos outros pesquisadores que buscam a compreensão do desenvolvimento humano, nos seus
variados aspectos (domínios), não supõe que um aspecto comportamental se sobreponha a outro
em importância: todos são importantes e estão interrelacionados. A Educação Física, em maior ou
menor grau, tangencia todos eles e se aprofunda em alguns, a depender do interesse de pesquisa e do
encaminhamento da atuação profissional.

Saiba mais

A seguinte coleção de vídeos, em DVD, composta por quatro volumes,


aborda fundamentos e proposições práticas a respeito dos conceitos de
movimento, ação motora, zona de desenvolvimento proximal (da teoria de
Vygotsky) e aspectos da teoria piagetiana, tendo em vista as possibilidades
e questões a respeito da aplicabilidade desses conhecimentos na Educação
Física escolar e até mesmo em outros contextos escolares e sociais.

MANOEL, E. J.; PROENÇA, J. E. de; FERRAZ, O. L. Educação física na escola.


São Paulo: Atta, 2009. 4 CD-ROM.

47
Unidade I

Razão e emoção, embora sendo objetos de investigação em Psicologia, constituem construtos que
são estudados por essa área, ora em separadamente, ora relações de causalidade, ora em integração,
e de acordo com diversos pressupostos filosóficos, epistemológicos e de procedimentos de pesquisa
(SOUZA, 2006).

Observação

Epistemologia refere-se ao estudo de teorias, postulados e métodos de


conhecimento de qualquer área de estudos. Por exemplo, epistemologia da
Educação Física, da Matemática etc.

Essas diferenças de posicionamentos nas pesquisas em Psicologia podem trazer implicações


importantes para a área de Educação Física que, conforme exposto anteriormente neste trabalho,
têm apresentado uma tendência a tratá-los como instâncias separadas nos estudos sobre prática de
atividade física e sobre aprendizagem de movimentos, isto é, ou se investiga a influência de aspectos
cognitivos na Educação Física e Esporte, ou de aspectos afetivos; assim, o caráter de complementaridade
e dualidade entre cognição e emoção acaba por se fazer pouco presente nas investigações acadêmicas
e na atuação pedagógica.

Essa separação não é somente uma escolha metodológica, mas um posicionamento epistemológico,
que passa a ser disseminado tanto no meio acadêmico de pesquisa como nos cursos de formação em
Educação Física.

E por que conceber afetividade (emoção) e cognição como instâncias comportamentais separadas
torna-se uma preocupação?

O motivo que justifica tomar certo cuidado com essa concepção refere-se à própria compreensão
acerca do desenvolvimento humano (tanto do ponto de vista ontogenético, como filogenético) e,
consequentemente, na forma de se lidar com os seres humanos – que, assim como em qualquer outra
área de fronteira entre saúde e educação, é o caso da Educação Física.

A formação em Educação Física envolve disciplinas abordando temas como psicologia da


aprendizagem e do desenvolvimento, crescimento e desenvolvimento humano, educação física adaptada
a pessoas com deficiências e outras necessidades especiais etc., cuja aplicabilidade de trabalho depende
de embasamentos teóricos sobre o desenvolvimento do ser humano, que serão retomados em disciplinas
de cunho pedagógico no decorrer da graduação e pós-graduação.

Obviamente, contudo, a preocupação estende-se além da formação acadêmico-pedagógica, ou seja,


abarca a atuação profissional.

Um indicativo do problema de isolar ora cognição, ora afetividade, pode ser identificado quando se
ministram aulas sobre o desenvolvimento cognitivo, por exemplo. É de se esperar que Jean Piaget seja um
dos autores abordados para essa finalidade, por ser conhecido como estudioso e proponente de uma teoria
48
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

sobre o desenvolvimento cognitivo, conforme visto há pouco. Entretanto, não é comum associar Piaget à
compreensão da afetividade, e essa falta de associação constitui um equívoco.

Segundo Souza (2002; 2006), Piaget considerava a afetividade absolutamente importante para a construção
do conhecimento, bem como para o desenvolvimento mental. A autora afirma que, ao estudar relações
entre afetividade e cognição, Piaget tinha também o intuito de desfazer a dicotomia razão – emoção, pois,
embora concebesse afetividade e cognição como de naturezas diferentes, entendia que elas não apenas são
imprescindíveis no desenvolvimento psicológico humano, mas que existe certa correspondência temporal entre
as sequências de estágios em que ambas se desenvolvem. Portanto, para Piaget, as relações entre afetividade e
cognição não são de causa e efeito, mas de complementaridade (SOUZA, 2006).

Quanto à diferença de naturezas entre afetividade e cognição, essa autora aponta que, na
perspectiva piagetiana, “a afetividade é responsável pelos conteúdos da conduta (prazeres e
desprazeres; sentimentos de fracasso e sucesso), enquanto a inteligência organiza estruturalmente
a mesma conduta [...]” (SOUZA, 2006, p. 58).

De acordo com a autora, a importância conjunta de afetividade e inteligência na construção do


conhecimento é notadamente representativa na teoria de Piaget sobre o desenvolvimento moral na criança.

É certo que o presente trabalho não tem como foco contemplar a grandiosidade da teoria de Jean
Piaget, mas sim de apontar para a necessidade de estudar cuidadosamente as ideias de autores da
Psicologia, notadamente os que estão sempre em pauta na formação em Educação Física, como é o caso
de Piaget. Esse cuidado pode auxiliar a dimensionar melhor o alcance do aproveitamento das teorias em
Psicologia para a área da Educação Física.

Por exemplo, convém lembrar que Piaget procurou elaborar uma teoria sobre a gênese da construção
do conhecimento no sujeito, o qual ele denominou sujeito epistêmico, que é o próprio ser (em sentido
amplo, não em cada indivíduo) (SOUZA, 2006). Sob essa perspectiva, desdobra-se um aspecto muito
importante: a questão da generalização, pois, ao entender que essa teoria explica funções psicológicas
gerais, pode-se correr o risco de julgá-la suficiente para explicar toda e qualquer manifestação ou
nuança das funções cognitivas – como, por exemplo, dificuldade na compreensão de conteúdos teóricos,
problemas de encadeamento lógico – seja na verbalização, seja na elaboração de textos escritos, etc.

Talvez pela estreita relação com as funções cognitivas, ou pela própria valorização sócio-histórico-cultural
do intelecto – como já mencionado – a discussão acerca do processo de ensino e aprendizagem em vários
níveis de ensino na escola tem atribuído pouca importância à afetividade como objeto de estudo.

É curioso saber que, mesmo na Psicologia, a afetividade custou a ser reconhecida como inerente
à natureza humana (VALSINER, 2006; SIMÃO, 2010). Simão (2010, p. 61) chama a atenção para a o
entendimento de Valsiner (2001 apud SIMÃO, 2010) sobre a importância da afetividade no processo de
desenvolvimento humano, explicitada a seguir:

A vida humana afetiva é a base para todas as condutas. O desenvolvimento


da relação afetiva com o mundo é provavelmente a questão mais básica da
49
Unidade I

psicologia do desenvolvimento. Não é uma questão de “tempero afetivo”


adicionado a processos cognitivos. É a relação afetiva com o mundo que é a
base de todos os processos mentais (VALSINER, 2006, p. 159, grifo do autor).

De acordo com esse pensamento, o autor alerta não apenas para a complementaridade entre
cognição e afetividade, mas também para mais dois pontos de grande importância: a afetividade como
essencial para os processos cognitivos; a relação afetiva da pessoa com o mundo, como indispensável
para sua atuação no mundo. É imprescindível destacar que Valsiner não está atribuindo uma supremacia
da afetividade sobre a cognição (ou vice-versa). Assim como qualquer domínio do desenvolvimento
humano, a relevância de ambos é recíproca e inegável.

Figura 9 – Objeto (do tipo jarro) retratando uma luta esportiva; à esquerda, o árbitro
da luta. (Museu de Arqueologia de Atenas, Grécia)

A luta ilustrada nessa foto retrata uma atividade comum na Grécia Antiga e está sendo usada aqui
para representar a integração de alguns domínios do desenvolvimento humano: cognitivo, em razão do
raciocínio envolvido na tomada de decisão na escolha da melhor estratégia para vencer o oponente;
cultural, pois que era uma atividade típica de homens mais jovens; social, porque além do divertimento,
era uma necessidade saber lutar para defender o território; físico, pois a força muscular é bastante
importante para a vitória; motor, pela necessidade de equilíbrio e, possivelmente, algumas técnicas de
movimento; moral, pois as regras deveriam ser cumpridas e sua efetivação era acompanhada por um
árbitro. O domínio emocional, segundo explicitado anteriormente, é indissociável dos demais, ainda que
possa não ser prioritário nessa situação.

4 O CICLO DE VIDA E AS FAIXAS ETÁRIAS

Em primeiro lugar, convém ressaltar que essa divisão tem o intuito de situar, isto é, de aproximar
a ocorrência de um evento ao longo dos processos de crescimento e desenvolvimento humano e
não associar esse evento de forma absoluta à determinada idade. Isso não seria realmente possível
em razão das variações que já foram mencionadas. Por isso, determinada idade ou faixa de idade
deve ser um critério e não o único critério para a ocorrência de determinado evento, estado ou
característica nesses processos.

50
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

O que será apresentado a seguir é uma aproximação de um “modelo” de divisão por faixas etárias e
os respectivos nomes desses períodos, mas esse não é o único (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

• Período pré-natal: da concepção ao nascimento.

• Primeira infância– do nascimento aos 3 anos de idade.

• Segunda infância: dos 3 aos 6 anos de idade.

• Terceira infância: dos 6 aos 11 anos de idade.

• Adolescência: dos 11 aos 20 anos de idade.

• Adulto jovem (ou início da idade adulta): de 20 a 45 anos de idade.

• Adulto de meia-idade (ou vida adulta intermediária): de 40 a 65 anos de idade.

• Terceira idade (ou vida adulta tardia ou velhice): de 65 anos de idade em diante.

É importante saber que:

• Há outras divisões etárias, a depender dos diferentes estudiosos. Por exemplo, Malina, Bouchard
e Bar-Or (2009), dividem a primeira infância do nascimento aos dois anos de idade e dos dois aos
seis anos.

• A puberdade corresponde à entrada na adolescência, fazendo parte desse período etário


(adolescência) e, em média, corresponde ao período entre 11 e 13 anos de idade.

• A infância é também dividida de outro modo, bastante usado no Brasil, qual seja: primeira infância:
de zero a dois anos de idade (“bebê”) e de dois a seis anos de idade; segunda infância: de seis a 11
anos de idade.

• Observa-se, então, que de acordo com essa outra classificação, a primeira infância englobaria a primeira
e a segunda infância do modelo anterior, ao passo que a segunda infância deste modelo corresponderia
à terceira infância do modelo anterior. A escolha por uma ou outra divisão vai depender do autor ou da
finalidade ou do enfoque de quem estuda cada uma das faixas etárias.

4.1 Para mais reflexões sobre o ciclo de vida e a atuação profissional

Seja durante caminhadas e corridas por parques, ruas, seja praticando esportes ou ginástica, na
educação física na escola, clubes e academias, o que salta aos olhos de quem observa alguém em
movimento é o corpo – tanto em sua forma como em sua função: do belo desenho das definições
musculares ao considerado “inadequado” rascunho do excesso de gordura e celulites; do corpo rápido,
novo, compacto, leve e dinâmico (isso é, que tem movimento), ao corpo lento, envelhecido, excedente,
51
Unidade I

pesado e estático. Sim, no campo da Educação Física, o movimento é primordial e intimamente


relacionado com manifestações culturais como danças, artes marciais, esportes, jogos, brincadeiras.
Essas manifestações são ou deveriam ser trabalhadas na educação física escolar – durante não menos
do que 11 anos de nossas vidas – bem como valores e atitudes a elas agregados.

E, embora não seja nosso foco discutir a educação física escolar, vale lançar uma questão: o que
temos feito “dos corpos” de crianças e adolescentes ao longo desses, no mínimo, 11 anos que eles
passam na escola? Estamos atentos às subjetividades dos corpos infantis e adolescentes? Quais os
desdobramentos desses corpos na posteridade?

Por que as questões de sexo e gênero continuam tão recorrentes na atuação profissional, bem como
o embate competição versus cooperação?

Para os corpos adultos, resta o treinamento individualizado (personal training) – e basta? E para os
idosos, fica a promessa da longevidade? Qual é nossa relação com esses corpos, com suas potencialidades,
seus alcances e limites? É certo que neste momento ninguém tem competência para responder essas
questões, porém está lançada uma “semente de inspiração” para que nos debrucemos sobre elas.

Ainda assim, fica uma sugestão: pensar a atuação profissional, a relação com nossos alunos-clientes.
A reflexão já começou. Ela não se encerra com o processo de desenvolvimento. Ela deve ser constante,
diária e perpétua.

Resumo

O estudo do ser humano constitui um grande desafio, pois compreendê-


lo, ao menos parcialmente, requer um exercício de aproximação e
afastamento, tanto da pessoa que imaginamos estar estudando, como por
causa de nossa tão peculiar característica reflexiva que a todos nós toma:
estudar o processo de crescimento e desenvolvimento humano é, antes de
tudo e permanentemente, estudar a si mesmo.

Compreender o ser humano em sua totalidade talvez seja impossível,


em razão de que dada a complexidade e as surpresas que o constituem,
ou seja, do que nem sempre pode ser previsto não necessariamente ele
é controlável.

Como primeiro passo para o estudo dessa disciplina, sugeriu-se uma


série de fontes de pesquisa, como livros, periódicos acadêmico-científicos,
visitas a museus, assistir a filmes, peças de teatro, apresentações de
dança, frequentar feiras-livres e quaisquer outros entretenimentos que
envolvam pessoas e, tanto quanto possível, pessoas um tanto diferentes,
uma vez que a Educação Física se propõe a lidar com toda e qualquer
pessoa – e efetivamente é assim que se realiza a atuação profissional. É
52
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

típico do cotidiano o “encontro” com muitas pessoas. É necessário que o


estudante/futuro profissional as identifique, observe e estude.

Após essas sugestões de instrumentalização para o estudo do


crescimento e desenvolvimento humano, procurou-se abordar conceitos
como evolução e história, assim como a controvérsia sobre a noção de
raça, cuja validade não mais é aceita nem pela Biologia, nem pela Etnologia
(ramo da Antropologia).

Em seguida, foram apresentados de modo muito simplificado alguns


“caminhos” possíveis sobre a evolução do homem, levando em conta a
fragilidade dos materiais encontrados, mas que ainda assim fornecem
indícios consistentes de que a origem do homem moderno (como é chamado
o Homo sapiens sapiens) – ou seja, nós – é resultado de uma interação
complexa entre predisposições biológicas ao raciocínio antecipatório, à
linguagem e a uma imaturidade ao nascer, “justificando” o longo processo
de crescimento e desenvolvimento no exterior do ventre materno. Quanto
dessas predisposições favoreceu o lado cultural do ser humano ainda leva
a muitas indagações, pois parece que ambas as características – biológica e
cultural – teceram-se simultânea e vagarosamente, ou seja, em interrelação.

Muito importante também é compreender as mudanças estruturais


pelas quais passaram os hominídeos, como a locomoção em postura
bípede, que conferiu liberdade às mãos, permitindo deslocamento seguro
enquanto carrega ou manipula um objeto, o crescimento e desenvolvimento
cerebral, com áreas bastante especializadas e conectadas entre si, a
destreza manual, cujo desempenho preciso em tarefas das mais variadas
se deve à possibilidade do “movimento de pinça”, isto é, à oposição entre
os dedos polegar e indicador. Essas são apenas algumas das características
filogenéticas, isto é, típicas da espécie humana.

Quanto ao desenvolvimento individual, isto é, de cada pessoa, é


denominado ontogenético. Em virtude do entendimento cotidiano, porém
pouco fundamentado cientificamente, uma série de equívocos está presente
no imaginário popular quando se trata dos fenômenos e dos conceitos de
crescimento e desenvolvimento humano. Por isso, procurou-se esclarecê-los,
atribuindo ao crescimento a noção de um processo de aumento quantitativo
de uma ou mais estruturas corporais, e ao desenvolvimento, a noção de
mudanças e manutenções em vários aspectos ao longo de um processo que
abrange todo o ciclo de vida, ou seja, da concepção à terceira idade.

Há vários “setores” do desenvolvimento humano, chamados de


domínios, dimensões, aspectos ou esferas, que são estes: motor, cognitivo,
físico, emocional, cultural, social, moral, entre outros.
53
Unidade I

A identificação de cada um desses domínios, ou seja, a distinção


entre um e outro nem sempre é nítida quando se trata desse fenômeno
tão complexo que é o ser humano, motivo pelo qual se discute um
pouco da dicotomia razão-emoção, com certos desdobramentos para
a Educação Física.

A divisão do ciclo vital em faixas etárias varia de pesquisador para


pesquisador, a depender de qual critério eles considerem mais adequado
para a divisão que pretendem elaborar. Em qualquer dos casos, não se
deve supor uma “quebra” na continuidade dos processos de crescimento
e desenvolvimento humano, mas uma facilitação para a compreensão
gradativa desses fenômenos e dos conceitos a eles associados.

Diante de tantos temas importantes próprios dos processos vitais,


buscaram-se algumas especificações e destaques para cada faixa etária.

Exercícios

Questão 1. O processo de evolução humana pode ser explicado pela teoria da seleção natural, a qual
prevê que as características que surgiram nos indivíduos através de mutações gênicas e provocaram
neles uma adaptação melhor ao meio facilitaram o processo de sobrevivência e transmissão hereditária
de genes com características vantajosas.

Quais características biológicas a seguir estão relacionadas ao exercício e à sobrevivência da


humanidade:

I – A adoção da postura bípede, que facilitou a liberação das mãos para a manipulação de objetos
e armas, aumentou o campo de visão e melhorou o nível de comunicação, gerando novas formas de
relacionamento social cooperativo.

II – O desenvolvimento de um sistema nervoso complexo, que permitiu um grande avanço cognitivo


e um nível maior de controle das habilidades motoras, tais como a agilidade, a coordenação e a precisão.

III – O grande desenvolvimento das capacidades físicas condicionantes relacionadas a força,


velocidade e resistência, pois estes fatores representaram um diferencial perante aos outros animais
para a sobrevivência.

IV – O desenvolvimento de sistemas sociais organizados pautados na divisão das tarefas e cooperação,


em que as ações conjuntas geravam vantagens de sobrevivência.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.
54
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

b) I e III.

c) II e IV.

d) I, II e V.

e) I, III e IV.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a postura bípede de fato auxiliou a percepção da chegada de predadores e a desocupação


das mãos para o manuseio de utensílios.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: o desenvolvimento intelectual favoreceu o raciocínio para a decisão dos conflitos e


carências da vida antiga.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: as capacidades de força, resistência e potencias não são diferenciais. Muitos predadores
dos homens antigos eram mais rápidos, mais fortes ou mais resistentes.

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: apesar de ser uma característica importante à sobrevivência, a organização social não
tem fundamentação biológica ou genética, não é transmissível de forma hereditária. É um traço cultural
transmitido pelo aprendizado.

Questão 2. O desenvolvimento humano compreende diversos domínios relacionados à constituição


de uma pessoa com capacidades plenas de interação com o meio e a vida contemporânea. São áreas
ou domínios do desenvolvimento humano: o domínio motor, o domínio emocional, o domínio físico,
o domínio moral, o domínio cognitivo, o domínio cultural e o domínio social. Todas essas áreas devem
ser trabalhadas de forma harmoniosa para garantir o desenvolvimento pleno da pessoa. No âmbito da
Educação Física, as relações com os domínios de desenvolvimento podem ser descritas de acordo com
as alternativas a seguir, assinale a alternativa incorreta:

a) O desenvolvimento motor é trabalhado nos processos de aprendizagem, que respeitam estágios


de prontidão neuromusculares e hormonais.

55
Unidade I

b) O desenvolvimento motor depende do desenvolvimento físico, pois em fases mais precoces da


vida, os sistemas ainda não estão maduros para a ação plena de todas as capacidades físicas.

c) O desenvolvimento cultural está associado aos costumes, regras e hábitos sociais e se relaciona
com o exercício físico de acordo com o contexto social.

d) A prática esportiva está associada ao desenvolvimento cognitivo diante das necessidades de


racionalização da tática de jogos e também está relacionada ao domínio emocional, quando é
necessário ter tolerância às rotinas de treinamento.

e) O desenvolvimento moral não tem relação com a área de atuação do profissional de Educação
Física, pois esta trata de forma concentrada de processos motores, físicos e cognitivos, envolvendo
o exercício, o jogo e o lazer.

Resolução desta questão na plataforma.

56
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Unidade II
5 INICIANDO A VIDA: CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NO PERÍODO
PRÉ-NATAL

5.1 Concepção

A concepção corresponde à união bem-sucedida entre o material genético do pai e da mãe, no


sentido de formar uma nova vida, que se inicia com a estrutura que se denomina feto, a qual deverá
crescer e se desenvolver, tornando-se o que todos os seres humanos foram um dia: um bebê. É importante
compreender os sistemas do corpo humano responsáveis pela reprodução (sistemas reprodutivos) do
homem e da mulher e as respectivas características reprodutivas de ambos os sexos.

5.1.1 Sistemas reprodutivos

Homens e mulheres, após adquirirem a maturação completa de seus órgãos sexuais, possuem
capacidade de conceberem uma nova vida, também chamada de reprodução sexuada.

O sistema reprodutivo feminino é composto por: ovários, trompas de Falópio, útero, vagina. A região
denominada cérvix é a porção inferior e estreita do útero, quando ele se une com a porção final superior
da vagina. Esse local é importante para a passagem do bebê no momento do nascimento, como será
comentado logo adiante.

O sistema reprodutor masculino é formado por: a) testículos; b) vias espermáticas, isto é, pelas quais
os espermas são conduzidos – epidídimo, canal deferente e uretra; c) pênis; d) escroto; glândulas anexas
– próstata, vesículas seminais, glândulas bulbouretrais.

A concepção pode acontecer por meio da ação de introdução da célula reprodutiva do homem, o
gameta masculino – espermatozoide – na célula reprodutiva da mulher, o gameta feminino – óvulo.
Esse processo é chamado de fecundação.

Pode-se afirmar que, por meio da relação sexual heterossexual ou outros meios científicos, a
concepção seja um processo em que se consolida a fusão dos gametas sexuais masculinos e femininos,
os quais formam uma única célula: o zigoto.

Na fecundação natural, o óvulo atrai os espermatozoides por meio de sinais químicos específicos e
um deles conseguirá penetrar em seu interior, iniciando o processo de formação do zigoto.

O zigoto é constituído por informação genética agregada: metade dos genes recebida da mãe e a
outra metade auferida do pai. Essa nova célula constituída possui a particularidade de se reproduzir
rapidamente, por meio do fenômeno da divisão celular, chamada mitose.
57
Unidade II

A ciência indica que 75% dos genes constituídos no zigoto são monomórficos, isto é, definem as
características como ser humano (espécie) e 25% dos genes são polimórficos, os quais determinam as
características como indivíduo. A partir de então, ocorre repetitivamente a divisão celular em pares, de
maneira a manter a mesma composição genética, isto é, manter a mesma quantidade e configuração de
cromossomos – pares de bastonetes que aparentam determinar o posicionamento de funcionalidade do
gene. A mitose é extremamente importante para o ser humano, pois permite a manutenção do arranjo
e o código do DNA, que diferencia a constituição e manutenção da espécie humana. O óvulo fecundado
irá se diferenciar em 800 bilhões de células ou ainda mais, para cumprir diversas funções especializadas
para formação do ser.

Observação
Os genes contêm material hereditário dos pais biológicos. Eles são
compostos por DNA, substâncias bioquímicas que informam as células
como produzir proteínas, que formarão células, tecidos e órgãos.

Uma vez obtido o zigoto, tem-se a combinação dos genes dos pais e, dessa maneira, sobrevém a
aquisição das respectivas participações cromossômicas dominantes ou recessivas – essas combinações
provêm dos genes chamados de alelos – das quais são transmitidas as características alternativas
hereditárias ou suas capacidades potenciais, por exemplo: a cor dos olhos, dos cabelos, o sexo, distúrbios
genéticos, constituição dos órgãos etc.

Lembrete
Cromossomos: são estruturas em forma de bastonetes que parecem
definir a posição de função de cada gene.

Determinação do sexo

O 23º par de cromossomos humanos, tanto no óvulo da mulher quanto no espermatozoide do homem,
possui o arranjo de cromossomos que determina o sexo do bebê. O pai contém, nesse par, cromossomos
heterogaméticos, são os designados X e Y. A mãe contém o par homogamético, os denominados X e X,
assim o espermatozoide masculino é o responsável pela origem do sexo. A combinação XX determinará
a formação do sexo feminino e a composição XY formará o sexo masculino.

Heranças dominantes e recessivas

As heranças recebidas dos pais partem da combinação de características determinadas pela


constituição de alelos, isto é, genes que podem produzir expressões alternativas de uma característica
nas pessoas.

Existem alelos dominantes e recessivos. Os dominantes, quando combinados ou presentes no par


cromossômico, determinam o traço principal daquele indivíduo. Alelos recessivos aparecem como traço
58
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

genético, determinando uma característica recessiva, somente se ambos os genes estiverem presentes
na combinação final.

Veja a seguir uma simulação da cor dos olhos e as probabilidades de ocorrência:

• O alelo do pai para a cor dos olhos é castanho, cor dominante. Mas o pai contém um alelo
dominante e um recessivo em sua formação, ou seja, ele tem genes dominantes do castanho (C)
e um gene recessivo da cor azul (a), de tal modo que o pai tem em sua formação da cor dos olhos
o cromossomo Ca.

• O alelo da mãe para a cor dos olhos é igualmente castanho, mas a mãe também tem genes
combinados dominante (C) e recessivo (a), com par cromossômico Ca, assim como o pai.

• As probabilidades de nascer um bebê de olhos castanhos e azuis são, grosso modo, as seguintes:

Pai = Ca + Mãe = Ca

Cominações possíveis:

• Alelo C do pai e alelo C da mãe, o par formado é CC, dominante ⇒ bebê com olhos castanhos.

• Alelo C do pai e alelo a da mãe, par formado é Ca, dominante ⇒ bebê com olhos castanhos.

• Alelo a do pai e C da mãe, par formado é Ca, dominante ⇒ bebê com olhos castanhos.

• Alelo a do pai e a da mãe, par formado é aa, recessivo ⇒ bebê com olhos azuis.

Portanto, no exemplo apresentado, ambos os pais tinham olhos castanhos, mas ambos possuíam
alelos recessivos em sua formação cromossômica, dessa maneira, existe uma probabilidade de 75% de
um bebê desse casal nascer com olhos castanhos e 25% de chance de nascer com olhos azuis.

Algumas outras características também definidas na concepção podem sofrer alterações positivas ou
negativas por efeitos ambientais, por exemplo: a obesidade pode ser hereditária, como também derivar
de quantidade de alimento dada, tipo de alimento oferecido, falta de atividade física etc.; o tempo
de vida, que pode sofrer mudanças de acordo com a conscientização para a prevenção de doenças e
dietas apropriadas; psicopatologias e traços de personalidade, os quais podem ser controlados com
medicamentos, terapias e atividades físicas.

Quando existem alelos faltantes ou com deficiência, poderá haver o desencadeamento de defeitos
inatos, a partir da aproximação com um teratógeno, sua intensidade ou em interação com o embrião
ou feto. Fatores teratógenos mais preocupantes e que comprovadamente afetam o desenvolvimento na
gravidez são: radioatividade, metais pesados, pesticidas, drogas em geral, medicamentos não prescritos
pelo médico e outras substâncias químicas, ingeridas, inaladas ou absorvidas pela pele.

59
Unidade II

Observação

Teratogênico: fator que produz defeitos nos genes e pode provocar


anomalias, e deformidades.

5.1.2 Característica reprodutiva feminina e masculina

Uma menina já nasce com cerca de 400 mil óvulos. Esses óvulos foram formados desde que estava
em seu desenvolvimento embrionário de aproximadamente oito semanas; eles ficam estocados nos
folículos dos seus ovários.

Quando atinge a adolescência e devido às informações promovidas pela glândula pituitária, localizada
no interior do cérebro, advém a liberação de um óvulo de um dos ovários, em média a cada 28/32 dias.
Nesse período, chamado de ciclo ovariano, a mulher liberta um óvulo maduro entre o 11º e 21º dia. O
óvulo se desprende do folículo e segue, pela trompa de Falópio, onde recebe nutrientes e proteção,
esperando para ser fertilizado pelo espermatozoide. Em seguida, fecundado ou não, se dirigirá ao útero,
o qual é um conjunto de músculos preparados para receber o zigoto e desenvolver a gravidez. Caso não
tenha acontecido a fertilização no óvulo, a mulher volta a menstruar regularmente. A menstruação
nada mais é que a desintegração e descamação da parede funcional do útero, que estava preparada
para receber o zigoto.

Lembrete

Ciclo ovariano: período de liberação de hormônios femininos por volta


do 11º até o 21º dia, que provocam a liberação do óvulo de um dos folículos
ovarianos.

Os meninos adolescentes começarão a produzir seus espermatozoides quando atingirem a maturação


de seus órgãos sexuais durante o processo da puberdade e essa produção gira em torno de centenas de
milhões de espermatozoides por dia.

Observação

Menarca – é a primeira menstruação: primeiro sinal da maturação


sexual da mulher.

Espermarca – é a primeira ejaculação: é o sinal primário de maturação


masculina.

A liberação dos espermatozoides ocorre por meio de excitação sexual e o respectivo alcance do
orgasmo ou clímax sexual. Ao receber determinados estímulos sexuais, os corpos cavernosos do pênis
60
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

são preenchidos por sangue sucedendo a ereção peniana. Em seguida, pouco antes de se atingir o clímax
sexual, os espermatozoides são lançados através dos canais deferentes, associando-se com os fluidos
viscosos produzidos e lançados pela vesícula seminal (Glândulas de Cowper e Littre), e ainda se juntam
à solução que provém da glândula prostática, sendo ejetados pela uretra. Esses líquidos dão proteção e
sustentam os espermatozoides. Esse conjunto fluido é chamado de sêmen ou esperma, e o processo de
sua potente ejeção pelo canal da uretra é chamado de ejaculação.

Os primeiros sinais dessa maturação masculina aparecem nas poluções noturnas, ejaculação
involuntária de esperma, que geralmente acontece para a maioria dos meninos adolescentes quando
relacionada com sonhos eróticos. Ao sonhar, tanto o homem como a mulher intensificam o afluxo
sanguíneo para os órgãos sexuais e apresentam ereção e intumescimento do clitóris, respectivamente,
podendo chegar ao orgasmo onírico.

Lembrete

Ejaculação: processo de emissão vigorosa de esperma – fluído orgânico


masculino composto pelos espermatozoides e pelos líquidos seminal e prostático.

Figura 10 – Escultura de um casal adulto jovem em relações corporais íntimas

Observação

Heteronormativos: regime que organiza o sexo, gênero e sexualidade


para corresponder a atos heterossexuais.

61
Unidade II

5.2 Gravidez: o difícil caminho da concepção

Conseguir engravidar é um procedimento complexo, o qual demanda uma verdadeira luta para que
se realize. Inicialmente deve-se alertar que a mulher tem a chance de ficar grávida em média apenas
30 dias de um ano. Depois, ao ovular, a mulher disponibiliza um período bastante limitado para haver
a fecundação, cujo limite possivelmente varia entre 12 e 24 horas e, além disso, os espermatozoides
enfrentam várias adversidades, em uma longa jornada, cheia de acontecimentos conflitantes, os quais
colocarão obstáculos para que os espermatozoides possam chegar ao seu destino final: o óvulo.

Ao haver a ejaculação, os espermatozoides já percorreram quase um metro de distância, até


chegarem à saída do canal da uretra no pênis. Na maioria das vezes, um homem libera entre 1,5
a 5,0 ml de sêmen, sendo que para ser produtivo, o esperma deve ter uma quantidade mínima
de 20 milhões de espermatozoides por ml, contudo uma ejaculação pode atingir até 300 milhões
de espermatozoides por ml. Todavia, ao atingirem o canal vaginal, os espermatozoides começam
a enfrentar diversas batalhas para sua sobrevivência: a vagina contém líquidos peculiares,
cuja acidez natural serve para a sua proteção contra bactérias, e essa característica coloca os
espermatozoides em perigo. A razão dessa ameaça é que os ácidos agem com grande hostilidade
e extinguem os espermatozoides com grande eficácia. Logo na primeira hora de contato com as
paredes da vagina, já são exterminados cerda de 500 milhões de espermatozoides.

Outra consideração a se fazer é a motilidade, isto é, como se movimenta e com qual rapidez o
espermatozoide se move. No mínimo, 35% deles devem ter rapidez e possuírem a capacidade de avanço
constante e gradual em direção às trompas de Falópio, passando antes pelo cérvix (colo) do útero. Ao mesmo
tempo, sua constituição morfológica necessita estar adequada para superar as dificuldades do caminho até
a trompa de falópio: a cabeça do espermatozoide deve ser oval e conter o perfurador que vai favorecer a
penetração do óvulo, além da cauda, cujos movimentos necessitam ser vigorosos e bem-direcionados.

Depois de todas essas agruras e firme em sua caminhada, apenas um espermatozoide adentrará
no óvulo (com exceção de fecundação de gêmeos idênticos, quando um óvulo é penetrado por dois
espermatozoides ou gêmeos fraternos, quando dois óvulos estão presentes na trompa de Falópio e são
ambos são fecundados por dois espermatozoides distintos, praticamente ao mesmo tempo).

Saiba mais
No documentário O Corpo Humano 2 – um Milagre Diário faz-se a
menção de que, diariamente, são realizados cerca de 100 milhões de atos
sexuais heteronormativos no mundo, decorrendo em aproximadamente
910 mil concepções, porém apenas 400 mil resultarão em nascimentos:
O CORPO humano – um milagre diário. Dirs. Emma De’Ath; Liesel Evans.
Reino Unido: BBC, 2009. 49 minutos. Disponível em: <https://archive.org/
details/Pfilosofia-the_human_body_2923>. Acesso em: 23 jan. 2017.

62
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

5.3 A saúde da mulher e fatores que podem afetar a gravidez saudável

A prevenção para não engravidar precisaria ser tratada com seriedade. Vários são os métodos
anticoncepcionais, porém o menos dispendioso (mais barato) é a camisa de Vênus, popularmente
conhecida como “camisinha”. Mais que um método contraceptivo, deve ser usada para prevenir doenças
sexualmente transmissíveis.

Figura 11 – Um método contraceptivo e também para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis: a “camisinha”

Não obstante, uma vez ocorrida a gravidez e, na medida das possiblidades de o pai assumir essa nova
condição – o que, aliás, é sua obrigação legal em nosso país – a mulher, bem como seu parceiro, devem
se conscientizar de que sua saúde é primordial para o desenvolvimento profícuo da gravidez.

Doenças como a diabetes, que é provocada pelo aumento do nível de açúcar no sangue, devem
ser verificadas antes e durante a gravidez, porque podem causar falhas no desenvolvimento
neurocomportamental do bebê. A rubéola pode motivar surdez e defeitos cardíacos. A tuberculose
ocasiona defeitos na formação fetal. Problemas de deficiência na tireoide podem afetar o desenvolvimento
cognitivo posterior na criança. O herpes genital e outras doenças sexualmente transmissíveis podem
infectar o feto durante a gestação ou então na passagem do canal do parto durante o nascimento e
podem originar a morte, cegueira e anomalias diversas.

O vírus da síndrome da imunodeficiência humana adquirida, mais comumente chamado de HIV,


pode ser transmitido via placenta, canal de parto e aleitamento materno. Mulheres que possuem esse
vírus e desejarem engravidar devem ter tratamento médico especializado para minimizar os riscos de
transmissão ao bebê.

Estudos sobre idade materna têm demonstrado que cada vez mais a idade da mulher ao engravidar
está se tornando mais tardia, mesmo para a primeira gravidez. Porém as incidências de partos
prematuros, ocorrências de natimortos e algumas doenças relacionadas com anomalias cromossômicas,
63
Unidade II

como a Síndrome de Down, são maiores em mulheres que engravidam com idades acima de 35 anos e
aumentam ainda mais quando o parceiro tem idade avançada também.

Não havendo interferência patológica ou hormonal e a partir do momento em que houve intercurso
sexual, ou inseminação artificial e, em seguida, não ocorrendo a menstruação esperada, a mulher
desconfia que esteja grávida, isto é, que houve a fertilização do óvulo.

Vários métodos são usados para assegurar que exista a gravidez:

• Teste de gonadotrofina coriônica humana — Beta HCG, hormônio glicoproteico produzido


pela placenta (logo após a fertilização), portanto de ocorrência exclusiva na gravidez, é um
dos exames mais empregados para confirmar a gravidez. Pode determinar a mudança de cor da
paleta, detectando se a mulher está grávida ou não.

• Exame de sangue – também detecta o Beta HCG, porém por meio de coleta sanguínea e análise
laboratorial específica. É o mais recomendado pelos médicos e o mais preciso cientificamente.

• Teste caseiro: é de pouca confiabilidade e carecem de precisão, podendo apresentar dúvidas e


trazer situações incômodas e avaliações precipitadas. Em geral coleta-se a urina e coloca-se em
confronto com testes físicos como sua fervura e a reação correspondente, ou adiciona-se água
sanitária em um recipiente com a urina da mulher e verifica-se a mudança de cor.

• Teste de ultrassom transvaginal e também ultrassom abdominal: em geral, recomendado pelo


médico a partir da quinta semana de ausência da menstruação e para acompanhamento da
formação estrutural embrionária e fetal.

5.4 O período pré-natal

5.4.1 O primeiro mês

A primeira fase da gestação é chamada de germinal e dura aproximadamente duas semanas. O


zigoto unicelular já começou a se desenvolver pela mitose, anteriormente mencionada, de modo a
multiplicar continuamente as células com certa rapidez, e se dirige ao útero. As novas células vão se
formando e esse aglomerado celular, o blastocisto, é alojado no útero, cuja parede estará alterada, isto é,
inchada e espessa para acolher adequadamente todo esse novo agrupamento celular. A partir de então,
já implantado no útero, ao se iniciar a terceira semana após a fecundação, forma-se o embrião, que vai
se desenvolvendo muito rapidamente, envolto pela bolsa amniótica, cuja função é fornecer condições
de nutrir e permitir o crescimento acelerado. O embrião vai minuciosamente buscando o sangue da mãe
no útero e logo depois já se alimenta pelo cordão umbilical conectado à placenta. O desenvolvimento é
extraordinário e a multiplicação celular é de grande magnitude.

Nessa primeira fase pré-natal, o crescimento é o mais intenso de toda a gestação. Obtém-se aumento de
tamanho em torno de 10 mil vezes a dimensão do zigoto e sua medida é de aproximadamente 12,5 mm. O
coração pequenino apresenta frequência média de 65 batimentos por minuto, irregular ao princípio e depois
64
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

vai se estabilizando, igualmente já possui artérias e veias minúsculas por onde o sangue circula. O cordão
umbilical funciona ativamente e nutri o embrião, sendo essencial para sua sobrevivência.

A construção do embrião é formidável, vão se originando milhares de células novas a cada segundo.
Passo a passo vai se formando a cabeça, a coluna vertebral e a iniciação dos membros. Ainda deve-se
alertar que a cada seis embriões gerados, apenas um continuará sua jornada de desenvolvimento após
oito semanas de gravidez.

A geração do tubo neural é crítica e a sua formação demanda nutrição bastante cuidadosa. Obviamente,
a ingestão de álcool e o fumo prejudicam deveras o desenvolvimento embrionário, podendo causar a
espinha bífida, isto é, a não junção do tubo neural, provocando possivelmente o óbito embrionário,
fetal, neonatal ou deficiências físicas e neuronais importantes pós-nascimento. Deformações faciais e
retardamento mental comumente acontecem após a ingestão de álcool ao longo da gestação. Assim,
ingerir bebidas alcoólicas e fumar devem ser atos a serem abolidos, para evitar complicações para a mãe,
o feto e o bebê (MACHADO; LOPES, 2009).

Quaisquer outras drogas, medicamentos ou suplementos devem ser estritamente observados e


somente ingeridos com autorização médica. Não existe qualquer quantidade segura para consumo de
drogas sintéticas ou naturais que não tragam prejuízos ao desenvolvimento em qualquer das fases da
gravidez e pós-nascimento, em especial na amamentação.

Maconha, cocaína e opiáceos causam defeitos congênitos, transtornos neurológicos, baixo peso
neonatal, letargia, indolência, dificuldades respiratórias e podem trazer transtornos por desequilíbrios
psíquicos na adolescência. Mortes neonatais estão presentes frequentemente em mulheres que
consomem drogas.

Medicamentos devem ser adquiridos e tomados somente com orientação médica, mesmo sendo
aspirinas, anti-inflamatórios, antibióticos, antivirais e remédios para acne ou para tratamento da pele,
porque causam ou podem causar danos ao desenvolvimento desde o início da gravidez.

Figura 12 – Alerta para o uso de medicamentos em excesso e/ou sem orientação médica

Nessa fase, as alterações do corpo feminino são pouco observadas externamente. A mulher
não menstrua e tem condições de certificar totalmente sua gravidez, pelos métodos médicos
citados anteriormente.
65
Unidade II

Podem ocorrer cólicas parecidas com as menstruais e lombalgias. Mudanças hormonais importantes,
em especial pelo aparecimento do hormônio Beta HCG produzido pela placenta, cuja liberação pode
causar enjoos para muitas mulheres, no entanto essas náuseas tendem a desaparecer após o fim do
primeiro trimestre de gravidez. A nutrição adequada auxilia na boa formação do embrião, especialmente
para constituir seu tubo neural. Os nutricionistas sugerem a suplementação apropriada de ácido fólico
– vitamina B9 –, vitaminas B12, C, D e E com ajuste adicional no consumo de cálcio e ferro.

Observação

Hormônios: substâncias peptídicas ou glidopeptídicas produzidas pelo


sistema endócrino que servem para inibir ou estimular funções orgânicas
específicas, por meio de reações bioquímicas.

Atividades físicas nessa primeira fase da gestação, até o terceiro mês, preconizam atenção exclusiva.
Atividades físicas podem ser realizadas somente com autorização médica, devido à fragilidade na
constituição embrionária e da placenta.

O histórico de atividade física da gestante anterior ao início da gravidez é muito significante, isto é,
mulheres sedentárias têm maior probabilidade de piorarem seu condicionamento físico inicial e sentirem
muita dificuldade para executar ações motoras específicas. Na gravidez, demanda-se maior suprimento
sanguíneo inicial para o desenvolvimento do embrião e efetuar atividades físicas muito intensas pode
acarretar o desvio de nutrientes necessários ao embrião.

Mulheres que antes da gravidez praticavam atividades físicas intensas ou moderadas, na maioria das
vezes, poderão continuar a praticar atividades físicas, sempre com autorização médica e, em geral, de
maneira mais atenuada e com contínuo acompanhamento de um profissional da Educação Física. Nessa
primeira etapa e também posteriormente, é extremamente recomendável evitar atividades físicas que
elevem a temperatura corporal acima de 39 ºC, subam demasiadamente a frequência cardíaca, em geral,
acima de 140 batimentos por minuto e que exijam esforços posturais (PIVARNIK et al, 2006).

5.4.2 O segundo mês

Continuando nossa jornada no interior do útero, durante a gravidez, chega-se ao final do


segundo mês. Ao final das primeiras oito semanas de gestação, o embrião completa sua tarefa e já
se considera sua gênese como fetal. Milhões de células vão se diferenciando, constituindo ossos,
cérebro, pulmões etc.

O peso médio é de apenas 9,4 g e o tamanho atinge menos que 2,5 cm. A cabeça tem comprimento
igual à metade do seu corpo. Os braços têm mãos e dedos, as pernas possuem joelhos, tornozelos
e pés, que já deixam impressões digitais. Impulsos nervosos começam a comandar o funcionamento
do organismo. O estômago já produz suco gástrico e o fígado células sanguíneas. Os rins começam a
eliminar ácido úrico do sangue. A pele já possui elasticidade e sensibilidade tátil.

66
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Os princípios básicos do crescimento humano seguem um padrão específico: os princípios de


crescimento cefalocaudal e o proximodistal. A categoria de crescimento proximodistal refere-se ao fato
de o aumento físico acontecer a partir do centro do corpo para as extremidades. A condição cefalocaudal
condiz com a ampliação corporal, iniciando-se na região da cabeça em direção aos pés.

Lembrete

Fases do desenvolvimento pré-natal: germinal – fecundação até a


segunda semana; embrionária – da terceira até final da oitava semana e
fetal – a partir da nona semana.

A mulher observa mudanças no volume dos seios, continua com enjoos se já tiver essa
predisposição, o útero já aumentou e começa a pressionar a bexiga, obrigando a mulher a mais
visitas para urinar. Começa a se perceber, na maioria das mulheres, um aumento uterino exterior
da barriga. Os incômodos pélvicos são mais acentuados. Também existe maior concentração no
sentido do olfato.

Pode haver estados instáveis de reação emocional, às vezes, a mulher pode estar muito feliz pela
gravidez e, outras vezes, insegura, nervosa e com medo da situação.

Nessa etapa da gravidez, caso haja liberação do médico para fazer atividades físicas, haverá grande
favorecimento do bem-estar da mamãe com exercícios de fortalecimento lombar, além de aumento da
disposição física por meio de caminhadas e exercícios de alongamento. Os exercícios físicos vão também
favorecer o funcionamento intestinal e o sono. Recomenda-se evitar realizar exercícios que pressionem
demasiadamente o abdômen, fazer musculação intensa, subir escadas e rampas íngremes e executar
saltos potentes.

Recomenda-se que a mulher grávida evite alimentos gordurosos e verifique a ingestão de vitaminas
prescritas pelo médico e aconselhadas pelo nutricionista responsável. A ingestão calórica aumenta por
volta de 300 a 500 kcal a mais por dia. O ganho de peso entre 10 e 21 kg são números mediais que
condizem com menos problemas possíveis para abortos espontâneos, parir bebês natimortos ou com
baixo peso neonatal.

Deve-se ter o cuidado de prover refeições com quantidade de proteínas suficientes para nutrir
a mãe e o futuro bebê. Deve-se alertar que a falta de ácido fólico, zinco e iodo fornecem maior
probabilidade para a má constituição do tubo neural e desencadeamento de anencefalia (a não
formação do cérebro).

Já o excesso de peso da mãe pode provocar a diabetes da gravidez, que é a alta glicêmica da mulher,
e também a eclampsia. A obesidade na gravidez e a hipertensão arterial contribuem ativamente para
a maior propensão de morte pós-natal, defeitos congênitos e defeitos na formação do tubo neural,
independente da administração de ácido fólico.

67
Unidade II

Observação

Eclampsia: afecção grave originada pela hipertensão arterial, na mulher


grávida, que pode causar convulsões.

5.4.3 O terceiro mês

Alcançando a 12ª semana, o feto prossegue em seu crescimento com grande disposição e apresenta
peso em torno de 20 g e atinge 7,5 cm de comprimento. O feto já dobrou de tamanho!

A cabeça ainda representa enorme proporção em relação ao corpo, mais ou menos 30% do total.
Observa-se que os sistemas orgânicos já se manifestam de modo a efetuarem o movimento respiratório,
fazendo com que o líquido amniótico entre e saia dos pequeninos pulmões. Com cuidados especiais e
tecnologia adequada, via ultrassom, o sexo do bebê já pode ser verificado.

O feto já demonstra movimentos reflexos distintos para mexer a cabeça, as pernas, braços e o
dedo polegar, engolir, abrir e fechar a boca. Ainda mostra reflexos reativos, como o das pálpebras,
que podem se contrair quando roçadas, da palma da mão, que se fecha parcialmente quando
tocada, do movimento de sugar dos lábios quando estimulados pelo contato e do toque nos
artelhos do pé, que, assim, se abrem em forma de leque. As unhas estão em formação, e nascerão
bem compridas!

A futura mamãe deve continuar com os cuidados apresentados anteriormente em relação à sua saúde.
Deve, além disso, evitar o consumo exagerado de calorias, pois os enjoos já terão acabado e o apetite, voltado.

Sensibilidades na gengiva são comuns e pode haver algum sangramento ao usar a escova de dente
ou fio dental, devido ao aumento do volume sanguíneo da gestante para a nutrição do feto.

O útero está mais saliente e os seios mais volumosos, as glândulas mamárias já iniciaram sua
modificação para depois produzirem o leite materno, que será essencial para a alimentação do bebê
pós-nascimento.

Caminhar, correr de maneira moderada, andar de bicicleta e nadar: todas essas atividades não
ultrapassando a frequência cardíaca dos 140 batimentos por minuto, conforme recomendado
pela American College of Obstetricians and Gynecologists em 1985, e reforçado pela American
College of Sports Medicine, podem trazer bastantes benefícios, como melhorar a elasticidade da
pele, promover a circulação sanguínea, melhorar a respiração e a favorecer o trânsito intestinal,
restringir o aparecimento de diabetes da gravidez e reduzir a probabilidade de eclampsia (PIVARNIK
et al., 2006).

Portanto, não se recomenda que a mulher treine para participar de competições atléticas que
exijam intensidade muito elevada, pois elas podem causar desconfortos, sangramentos ou outras
ocorrências mais graves. Existem casos excepcionais de atletas muito bem-preparadas que estavam
68
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

em regime de treinamento bastante intenso e após ficarem grávidas continuaram e participaram


de competições esportivas durante a gravidez, mas são casos isolados e com bastante controle de
uma grande equipe multidisciplinar.

Um desses casos foi da jogadora Isabel Salgado, da seleção brasileira de voleibol, na década de 1980.
Isabel jogou até o sexto mês de gravidez!

Kardel (2005) apresenta resultados positivos e encorajadores para a prática de atividades mais
vigorosas em sua pesquisa realizada com mulheres escandinavas, que já eram atletas, antes de iniciarem
a gravidez e, a partir do momento que ficaram grávidas e não apresentaram complicações gestacionais,
efetuaram atividades físicas com certa energia, mantendo volume e intensidade de treinamento. Os
efeitos benéficos obtidos nessa pesquisa foram que as atletas tiveram boa resposta gestacional e rápido
retorno às competições. Adicionalmente, os pesquisadores Melzer et al. (2010) também obtiveram
resultados favoráveis nas adaptações cardiovasculares, durante a gravidez e após o parto em mulheres
que realizaram atividades físicas com frequência e acompanhamento apropriado, bem como com certa
intensidade aeróbia.

O mais significante é que a maioria das pesquisas tem demonstrado efeitos benéficos para a gestante,
na recuperação pós-parto e que se estendem ao desenvolvimento fetal (PAVEL, 2016).

5.4.4 O quarto mês

O feto está desenvolvendo com grande intensidade seu sistema nervoso central e a multiplicação
do crescimento de células nervosas é formidável. Estima-se que sua reprodução seja em torno
de 250 mil neurônios por minuto. Salienta-se que a sua formação não é completa, sendo que
o neurônio deverá desenvolver suas características integrais somente com mais tempo e dos
estímulos que provierem das relações ambientais dentro do útero, em especial da movimentação
do líquido amniótico. Após o desenvolvimento integral do cérebro ao final da adolescência, um
adulto deve conter perto de 100 bilhões de células nervosas cerebrais e, o peso do encéfalo,
atingir em média 1,3 kg (PIMENTEL-SOUZA, 1981).

O corpo tem então a mesma proporção que o tamanho da cabeça. O feto alcança uma média de
23 cm de comprimento e um peso entre 170 e 210 g é habitual. As atividades fetais já compreendem
movimentos intensos como chutes e alongamentos dos braços, com muita inquietação, a movimentação
é agitada dentro do útero materno, podendo haver até cambalhotas!

Essas turbulências são sentidas pela mãe com grande intensidade e são apreciadas como excitações
diversas, involuntárias, consideradas como reflexos; os empurrões e pontapés são fortes e isso se deve
ao compreensivo desenvolvimento muscular.

O nariz está quase totalmente formado e os ossos da orelha interna estão completos, mas quase
nada conseguem identificar em relação aos seus significados, os quais são pouco diferenciados entre si,
pois dependem do desenvolvimento do cérebro para sua interpretação. A cabeça já possui cabelo, e não
mais o lanugo que recobria inicialmente o feto, mas essa penugem vai cair rapidamente, em duas a três
69
Unidade II

semanas, as sobrancelhas começam a aparecer, mas a seguir também serão substituídas. O feto pode
soluçar, por causa de espasmos rítmicos causados pela pouca maturação do diafragma.

Observação

Lanugo: lanugem ou penugem – pelos muito finos e macios que nascem


no feto.

A futura mamãe teve seu ventre aumentado em três vezes e, a partir de então, o útero deverá crescer
em torno de um centímetro por semana.

Recomenda-se manter a alimentação indicada pelo nutricionista, com indicação no aumento da


ingestão de líquidos para se evitar as incômodas hemorroidas, que algumas mulheres relatam; não
se deve usar quaisquer pomadas ou cremes sem a devida prescrição médica, pois eles podem conter
substâncias perigosas que são capazes de afetar o desenvolvimento fetal.

Observação

Os padrões de crescimento: cefalocaudal e proximodistal são constantes


desde os primórdios da vida humana.

As atividades físicas moderadas, se autorizadas pelo médico, principalmente as aeróbias, devem ser
continuadas. A mulher deve estar atenta a sangramentos e desconfortos, como tonturas e náuseas, e
reportar esses fatos ao profissional de Educação Física e ao médico.

Nessa etapa gestacional, pelo exame de ultrassom, os médicos acompanham o desenvolvimento


fetal, em especial o desenvolvimento pleno da placenta, e se há defeitos congênitos detectados por
essas imagens. Deve-se atentar para a importância de a placenta ser o meio físico de comunicação entre
a mulher e o feto, porque ela faz diálises renais, a respiração e oxigenação sanguínea e funciona como
se fosse o fígado adjunto do feto.

Além disso, pelo exame de ultrassom no quarto mês, a certeza do sexo pode ser verificada com
precisão e tornar mais visível o bebê. Atualmente esse exame causa certa ansiedade para a futura
mamãe, que geralmente tem expectativas e preferências em relação ao sexo do bebê.

O ultrassom é um recurso importante para o estudo fetal, e tem sido usado com muita frequência
e certa sistematização na obstetrícia médica, desde a década de 1960, com bastante segurança e sem
colocar em risco a gravidez ou a gestante. O ultrassom parece trazer informações relevantes acerca do
crescimento, da estruturação corpórea, formação orgânica externa e aparência. Seu emprego como
ferramenta tecnológica nos exames pré-natais tem trazido vários avanços médicos. Além disso, essa
tecnologia possibilita à futura mamãe um acompanhamento da constituição formal do futuro bebê, por
meio da visualização do corpo fetal (CHAZAN, 2007).
70
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 13 – Gestante possivelmente no segundo trimestre de gestação

Observação

Ultrassom: ondas sônicas que detectam ecos ou reflexos ondulatórios,


fornecendo imagens por meio de estruturas profundas dos tecidos humanos.

5.4.5 O quinto mês

Mais da metade da gravidez já foi vivenciada. O crescimento prossegue robusto e o feto pesa 400 g,
em média, podendo apresentar comprimento de até 30 cm. Sua personalidade individual já começa
a se manifestar. O feto se alonga, continua a chutar o ventre e persiste em seus movimentos mais
violentos, com muita agitação, e não demonstra preferência por uma posição única, movimentando-se
constantemente, parecendo buscar mais estímulos dentro do útero materno. O feto procura realizar
movimentos tônico cervicais. Constata-se que já ajusta seu padrão de sono e de vigília.

Várias glândulas começam a funcionar, dentre elas, as sudoríparas e sebáceas. Os pulmões, embora
em boa formação, não possuem capacidade de funcionar e por isso, bebês nascidos prematuramente
nessa etapa raramente conseguem sobreviver. Aparecem pelos mais abundantes nas sobrancelhas; cílios
e cabelos são mais consistentes e uma pelugem ou lanugem recobre a pele.

Ao aproximar o ouvido sobre a barriga da gestante, podem-se ouvir os batimentos cardíacos do feto.

A mulher sofre várias adaptações físicas devido a esse crescimento especial do feto: os órgãos
respiratórios, diafragma e pulmões são comprimidos e são mais fáceis as perdas de fôlego. Dormir de
71
Unidade II

barriga para baixo já estava difícil no quarto mês e agora está impraticável, recomendando-se que a
mulher durma deitada sobre o seu lado esquerdo, isto é, assentar-se em decúbito lateral esquerdo para
facilitar a circulação sanguínea. Essa posição impede a pressão sobre a veia cava, a qual faz o retorno
venoso ao coração – desse modo, procura-se evitar edemas e varizes. O emprego de travesseiros e
almofadas embaixo dos joelhos também facilita a retirada de pressões corporais e favorece o descanso
da mulher grávida.

Figura 14 – Grávida quase totalmente deitada em decúbito lateral

Atividades físicas, caminhadas e alongamentos são essenciais para o bem-estar da gestante e a


mulher parece ganhar mais energia e disposição ao poder realizar essas atividades físicas. Atividades
aquáticas como a natação e hidroginástica moderadas, realizadas em piscinas, por aliviarem o peso
corporal da mulher, são muito agradáveis, causam bem-estar e ajudam a suavizar as solicitações
músculo-esqueléticas proporcionadas pelo aumento do peso corporal satisfatoriamente adquirido pela
mulher até essa etapa (entre cinco e dez kg).

5.4.6 O sexto mês

O feto apresenta taxa mais lenta de crescimento ao final do sexto mês. O peso chegou a 550 até
600 g e o comprimento até 35 cm. Os olhos estão completos, movimentam-se em várias direções,
abrem-se e fecham-se naturalmente, no entanto, os pigmentos da íris não estão definidos e
a cor dos olhos será definida somente algum tempo após o nascimento. O rosto está muito
bem-definido e o ultrassom pode dar uma boa impressão de como será sua aparência. O feto já
é capaz de ouvir e faz preensão palmar, isto é, fecha as mãos com certa força. Os movimentos
são bastante ativos e as cambalhotas continuam; o pequeno “ginasta” vai aproveitar por mais
algum tempo o espaço uterino, depois vai ficar mais difícil sua agitação e mergulhos que tanto
parece apreciar. Apesar de os pulmões estarem mais desenvolvidos, ainda não estão preparados
para seu funcionamento adequado, e assim partos prematuros nessa etapa são problemáticos
para a sobrevivência do bebê.

72
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

A mulher no sexto mês começa a sentir algumas contrações uterinas, bem-espaçadas e não
necessariamente todos os dias. Deve-se atentar para que dores nas costas, na região sacroilíaca (final
da coluna vertebral), associadas a corrimentos com mudança de cor ou outros tipos de fluídos vazando
pela vagina, pressão sobre a pélvis (como se fosse o bebê empurrando para baixo) ou cólicas semelhantes
às menstruais podem ser sinais de ativação do trabalho de parto. Nessas condições, imediatamente, a
mulher deve receber atenção do seu médico, para evitar partos prematuros.

A gestante percebe nitidamente que seus órgãos internos estão bastante pressionados pela ocupação
de espaço pelo crescimento do feto. A bexiga cada vez mais comprimida manda a mulher ao banheiro
para urinar várias vezes, o diafragma e os pulmões estão espremidos e as faltas de ar são comuns.
No entanto, a existência de cansaço excessivo e desmaio, poderá ser sintoma de anemia, por isso o
nutrimento adequado deve incluir uma dieta à base de alimentos ricos em ferro: lentilhas, folhas verdes,
como espinafre e couve e mesmo suplementos vitamínicos contendo esse elemento essencial devem
estar presentes diariamente na alimentação. Lembre que tomar qualquer suplemento deve ter o aval
profissional de seu nutricionista.

Fischer (2003) indica que todas as alterações corporais e fisiológicas que a mulher sente ao longo da
gestação são resultado da liberação de hormônios que servem para efetuar adaptações necessárias para
adaptações regulares no processo de gravidez. Os hormônios progesterona e estrogênio são secretados
em grande quantidade desde o início da gravidez e permitem prover mudanças importantes para que
o corpo da mulher se adapte às constantes solicitações impetradas pelo feto, além da gonadotrofina
coriônica e a somatomamotropina coriônica humana. Os dois primeiros hormônios provocam o
aumento do volume sanguíneo, ampliação da frequência e amplitude respiratória, aumento do coração,
do plasma do sangue, mudança da atividade renal, incrementando a filtração glomerular e crescimento
das mamas. Já a gonadotrofina coriônica e a somatomamotropina coriônica humana são essenciais para
o desenvolvimento da placenta, nutrição do bebê, respiração fetal e integralização do novo organismo
vivo ao da mulher.

Figura 15 – Gestante praticando yoga: fortalecimento da região pélvica e trabalho respiratório

73
Unidade II

Como o peso corporal aumentou, atividades dentro de piscinas são bastante agradáveis e favorecem
o trabalho cardiovascular. Nessa etapa, exercícios específicos de flexibilidade devem ser bem controlados,
pois a mulher libera maior quantidade de hormônio relaxina, um hormônio peptídico produzido pelo
corpo lúteo inicialmente e depois pela placenta, que provoca maior distensão da musculatura uterina
e expansibilidade da musculatura pélvica (POLDEN; MANTLE, 2000). Essa atuação visa à preparação da
vagina como canal de parto para a passagem do bebê. Outros exercícios específicos que fortaleçam a
região muscular pélvica são apropriados para favorecer a parturiente para as exigências físicas durante
o ato de parir.

5.4.7 O sétimo mês

Mais uma conquista no crescimento do futuro bebê. O aumento de peso do feto é considerável.
Agora o feto pode atingir aproximadamente 40 cm de comprimento e pesar em torno de 2 kg.

Ao ser estimulado com luz brilhante e intensa sobre o abdômen da futura mamãe, o feto reage
e abre os olhos e ao mesmo tempo chuta as paredes uterinas, além disso, chorar, respirar, soluçar
ou engolir e sugar o polegar são mais alguns dos vários padrões reflexos que estão aparecendo
plenamente desenvolvidos. Pode ser detectado por meio de ondas cerebrais que o feto reage aos
ruídos ambientais externos.

Os brônquios estão em pleno amadurecimento, tornando-se cada vez menores, e os pulmões já


estão recebendo a substância chamada surfactante, que permitirá a inspiração do oxigênio ao nascer
e, destarte, permitir que seja levado aos vasos sanguíneos para serem distribuídos para todo o corpo.

Bebês que nascem com peso por volta de 1,5 kg têm grande chance de sobrevivência, entretanto
com necessidade de cuidados médicos e intensivos.

Um fator proeminente a ser destacado é o exame de sangue do fator Rh, antígeno presente nos
humanos, caso você tenha esse antígeno, você é classificado como Rh+ (positivo), caso contrário será
negativo ou Rh-. Caso a mulher seja fator Rh-, detectado no início da gravidez, deverá tomar uma
injeção de RhoGAM ou Rho imunoglobulina D. Essa solução estéril é feita de plasma humano e previne
os eritrócitos fetais de fator Rh+ que porventura adentrem no sistema da gestante, sejam combatidos
pelo sistema imunológico da mulher, podendo causar doenças sanguíneas letais, insuficiência cardíaca,
anemia e icterícia em especial no bebê que está chegando ou em futuras gestações.

A futura mamãe começa a apresentar mais estrias na barriga, quadris e seios e o uso de óleos
e cremes pode auxiliar a minimizar o problema, mas atenção: quaisquer desses produtos devem ser
usados somente se rigorosamente prescritos pelo médico, pois alguns podem ainda afetar bastante o
desenvolvimento fetal.

A alimentação da gestante deve ter os mesmos cuidados e seguir uma dieta bem-balanceada com
os nutrientes adequados. Recomenda-se a ingestão frequente de água e o consumo de fibras. O que a
mãe ingere, o feto está consumindo!

74
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Nessa etapa, a mulher tem seu centro de gravidade ainda mais deslocado pelo grande crescimento
fetal, e as articulações ficam mais suscetíveis à ação do hormônio relaxina, deixando-as mais distendidas.
Dessa maneira, deve-se ter maior cuidado com o uso de calçados com saltos e preferir sapatilhas baixas
para evitar torções e quedas. A mulher grávida de sete meses também deve se concentrar em passadas
bem-planejadas e com o máximo de concentração, pois os sistemas sensoriais, apesar de tentarem se
adaptar a essa nova condição, são lentos em responder às demandas impostas pelo ambiente.

As atividades físicas aeróbias como caminhar e nadar são agradáveis e a gestante deve centralizar a
respiração de maneira regular, cadenciada e tranquila. Sabe-se que atividades físicas moderadas e com
atenção nos sistemas aeróbios exercidas pela mãe durante a gravidez auxiliam no desenvolvimento do
sistema nervoso do bebê (MELZER et al., 2010).

5.4.8 O oitavo mês

Pesando entre 1,8 e 2,6 Kg, o feto está bem crescido, ocupando um volume considerável do útero
materno. Seu comprimento pode ser em média de 48 cm, e as agitações começam a ficar mais restritas.
O útero não oferece mais espaço para tantos deslocamentos, e o feto tem os movimentos mais limitados,
e, além disso, existe uma quantia considerável de líquido amniótico, de quase dois litros, envolvendo-o.
Essa quantidade vai diminuir rapidamente para possibilitar ao feto os ajustes dimensionais para que se
coloque na posição correta. Nesse mês, e no próximo, uma camada de gordura é desenvolvida no corpo
fetal e isso, após o nascimento, ajudará o neonatal a controlar sua temperatura corporal, enfrentando
o novo ambiente de vida, fora do aconchego e condições quase inalteráveis do útero materno. Essa
gordura também dá um novo aspecto ao feto, de cor mais rosada e já aparentando o bebê a nascer. Veja
a figura a seguir:

Figura 16 – Representação escultural de um feto ao final da gestação

75
Unidade II

Ao final desse oitavo mês, geralmente, o bebê começa a instalar-se na posição invertida, isto é, com
a cabeça em direção ao cérvix uterino, mas mesmo assim ainda alterna as posições algumas vezes. Essas
alternâncias, às vezes, colocam um pezinho estendido na região das costelas da futura mamãe e causam
alguns desconfortos, pois pressionam o diafragma e os pulmões; nesse caso, deitar-se de lado para
sugerir ao bebê que mude de posição e alivie sua respiração. O encaixe pélvico ainda não se consolidou.

O médico em geral marca mais consultas para acompanhamento e verificação das condições
de saúde da mulher e do bebê. Cuidados com a eclampsia, diabetes da gravidez, quaisquer sinais
de infecções ou sangramento que indiquem a possibilidade de parto pré-maturo são então mais
atentamente controlados.

A mulher fica mais ansiosa e já parece sentir a nova condição de que os cuidados em breve serão
externamente palpáveis. Comumente, incentivam-se e recomendam-se atividades físicas de treinamento
para o parto, com direcionamento à respiração controlada e profunda. A natação também é uma
atividade agradável para a mulher nessa etapa, pois permite tirar o peso corporal durante a realização
da atividade física e favorece a ação cardiorrespiratória.

5.4.9 O nono mês

O apoio de amigos e familiares próximos é absolutamente importante durante toda a gravidez.


E, sem dúvida, ao final dessa fase, em que há grande expectativa por parte de todos, os cuidados e
incentivo à gestante são imprescindíveis.

Figura 17 – Gestante com pessoa íntima (talvez o pai da criança) próximo a sua barriga

76
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

O momento do nascimento está chegando e o bebê, bem próximo da última semana antes do
nascimento, cessa seu crescimento. O peso, na 40ª semana, atinge 3,4 kg e o comprimento, bem próximo
dos 50 cm ou até um pouco mais. Meninos apresentam, na maioria das vezes, maior peso e comprimento
do que as meninas.

O corpinho está em plena atividade e os sistemas orgânicos trabalham com maior eficiência. Verifica-se
que a frequência cardíaca é elevada. O cordão umbilical acelera a eliminação de resíduos e a pele
avermelhada vai desaparecendo.

Antes de nascer, estima-se que se tenham passado 266 dias de gestação (os médicos estimam 280,
pois calculam os dias de gestação desde o último ciclo menstrual).

A natureza de formação da espécie humana provê a extraordinária não consolidação óssea da cabeça
do feto. Seus 22 ossinhos assim não se compactaram, tornando a região flexível e possibilitando o
encaixe da cabeça na pelve e a sua passagem pelo cérvix uterino. Para encaixar na pélvis, o bebê gira em
direção à coluna da mãe e, juntamente com o pescoço, formam um ângulo de 90º. A passagem para o
nascimento pelo canal do parto poderá provocar ligeiras deformações e enrugamentos na cabecinha do
novo ser, mas logo depois desaparecerão. Esses ossos serão fundidos ao longo do tempo pós-nascimento.

Mesmo que não tenha sofrido inchaço até o momento, pode haver edemas nas pernas e recomenda-se
à mãe elevá-las ligeiramente, caso sinta desconforto, e ainda deitar-se do lado esquerdo do corpo.
Ingerir bastante água é uma regra a ser seguida desde o início da gravidez e nessa fase não deve ser
alterada. O útero aumentou muito de tamanho e começa a descer, pois o bebê vai se ajeitando e se
posicionando em direção à saída do útero. Veja o posicionamento do bebê nessa condição, observando
a ilustração a seguir, que indica a anatomia pélvica da mulher e o encaixe do bebê.

Figura 18 – Protótipo de bebê encaixado no canal de parto, prestes a sair

A mamãe vai contando as horas para a chegada do bebê. Nessa fase, a mulher sente algumas
contrações eventuais, nas quais se observa um leve arredondamento do útero. Essas compressões
77
Unidade II

chamam-se contrações de Braxton Hicks e são experimentos para a ocorrência que está por vir: o parto!
Em geral, elas cessam com a ingestão de líquidos, mudança de posição ou banho com água mais quente.

Atividades físicas nessa fase continuam a preconizar ações aeróbias leves, sobretudo aquáticas.
Treinos respiratórios e de concentração ajudam a minimizar a ansiedade.

5.5 O processo de nascimento ou parturição

Depois de aproximadamente 40 semanas, a maturação ocorrida no útero materno já está completa


e preparou o bebê para vir ao ambiente exterior. A preparação pré-natal bem-consolidada permite ao
médico determinar as condições de parto.

A mulher inicia um processo intenso e regular de contrações uterinas, diferentes das anteriores,
pois agora são mais fortes, com sequências ritmadas e redução no tempo de intervalo de aparecimento
entre elas.

Uma mudança hormonal importante se manifesta duas semanas antes do parto. Se, durante
a gravidez, a progesterona se manteve bastante ativa, ela controlará o relaxamento da musculatura
uterina e ao mesmo tempo a firmeza da musculatura do cérvix. Agora o estrogênio invade a fisiologia
materna e inverte as ações, proporcionando maior poder de contração do útero e promovendo maior
flexibilidade do cérvix.

Alguns sinais importantes aparecem e indicam que o momento da parturição está chegando: o
corrimento vaginal de muco viscoso, por meio do rompimento do tampão mucoso e o rompimento da
bolsa amniótica, a qual envolveu o feto durante toda a gestação.

5.5.1 Parto vaginal

A parturição natural apresenta quatro fases bem determinadas, apresentadas no quadro a seguir:

Quadro 5 – Fases da parturição natural ou vaginal

Tempo aproximado de
Fases Eventos Monitoramento
duração
1ª – Aumento das contrações Dilatação ou alargamento Frequência cardíaca do bebê e
12 horas ou mais.
uterinas. do cérvix. da mãe.
A cabeça do bebê passa Facilidade do bebê em passar
através do canal vaginal.
2ª – A cabeça do bebê se ou não pelo canal de parto.
Uma hora e meia. A placenta ainda está no
desloca em direção ao cérvix. Corte e remato do cordão
corpo materno e o cordão umbilical.
umbilical continua ligado.
Cinco minutos até meia Retirada da placenta e
3ª – Expulsão da placenta. Controle neonatal no bebê.
hora. resto do cordão umbilical.
4ª – Repouso da mulher. Duas horas. Descanso. Assistência à mamãe.

78
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

5.5.2 Parto cesariano

Em condições específicas de parturição anormal como sangramento vaginal ou trabalho de parto


sem evolução, ao ser observado que o bebê está em perigo e sofrendo risco de morte ou que há ameaça
à vida da mãe, o médico indica o parto cesariano: um método cirúrgico para remover o bebê do útero
da mulher, por meio de incisão no abdome materno. Em outras circunstâncias especiais, as quais exijam
atenção e cuidados médicos, o parto cesariano também é recomendado, por exemplo, em condições
incompatíveis nas estruturas anatômicas e formativas do bebê em relação às da mãe ou inversamente
às da mãe, por exemplo a malformação uterina.

Houve aumentos consideráveis de procura por partos cesarianos ao fim do século XX em vários países,
mas campanhas frequentes e informação apropriada nos postos de saúde estão resgatando a importância
do parto vaginal. Os médicos estão mais concisos nas aplicações de partos medicados, com uso de analgesia
apropriada que não coloque em risco o bebê, pois se adverte que quaisquer medicamentos, substâncias
relaxantes ou anestesias atravessam a placenta e chegam até o bebê, oferencendo riscos desnecessários.

A B

Figura 19 – Ilustração do século XVIII mostrando um modo antigo de parto a fórceps


(não recomendado e, portanto, em desuso)

Observação
Analgesia: estado de sedação por meio de substâncias apropriadas para
se retirar a sensação de dor, mas sem a perda consciente da percepção dos
estímulos que a provocam.

79
Unidade II

6 INFÂNCIA

6.1 Primeira infância

A primeira infância, de acordo com Papalia e Feldman (2013), abrange do nascimento aos três
anos de idade. Agora, o que se procura é partir do recém-nascido sem nenhum comprometimento
físico aparente ou detectado por algum teste laboratorial e, na medida do possível, discorrer sobre as
principais modificações e manutenções ao longo desses três anos. Será possível identificar o rápido
avanço no crescimento do bebê ao longo do primeiro ano de vida, bem como expressivas mudanças
no domínio cognitivo e motor, especialmente por causa da maturação do sistema nervoso central
(SNC). Por volta de um ano de idade e até os três, o desenvolvimento e aprimoramento da linguagem
se complexifica bastante e em grande velocidade, associado à noção de “eu” como diferente do
“outro” – a autoconsciência.

Observação

Crianças que nascem com determinadas síndromes congênitas


requerem toda uma apreciação teórica e uma reflexão apropriada, as quais
deverão ser contempladas em disciplinas como Educação Física Adaptada
e outras afins.

6.1.1 Desenvolvimento físico

Conforme já discutido, os hábitos de vida cotidianos da mãe influenciam o desenvolvimento do bebê


durante todo o período gestacional (pré-natal). O consumo de álcool e de drogas ilícitas, o tabagismo
(hábito de fumar), a nutrição inadequada, bem como a transmissão de doenças e infecções maternas,
estresse, ansiedade, depressão, entre outros fatores, podem causar sérios problemas ao bebê nesse
período. A assistência pré-natal é absolutamente importante para o desenvolvimento do bebê mesmo
após o nascimento.

Um minuto após nascer e cinco minutos depois, são realizadas avaliações médicas neonatais,
chamadas escalas Apgar, que medem os seguintes comportamentos: aparência – cor (quanto mais rosada
melhor); frequência cardíaca (a mais indicada é aquela acima de 100 batimentos por minuto); expressão
facial, (sendo o choro a mais esperada, assim como se espera tosse e/ou espirro); tônus muscular, que
deve ser forte e ativo, e, por fim, a respiração, a qual deve apresentar boa regularidade e choro.

O tamanho para bebês que nascem no termo completo, isto é, em um total de 266 dias de gestação,
varia entre 45 e 55 cm de comprimento e peso entre 2,5 e 4,5 kg. Nos primeiros dez dias, acontece uma
perda de aproximadamente 10% do peso corporal, mas em seguida o peso neonatal é recuperado.

O peso de uma criança de cinco meses é o dobro de seu peso neonatal e após um ano do nascimento,
pode atingir em média três vezes seu peso de recém-nascido.

80
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

A cabeça representa em torno de 1/4 do comprimento total e está ligeiramente amoldada, caso
tenha nascido de parto vaginal, pois os ossinhos da cabeça, ainda não consolidados (fontanelas, ou
cartilagens maleáveis revestidas por membranas mais rígidas), se ajeitaram para facilitar sua passagem
pelo canal vaginal. A solidificação óssea dessas fontanelas demorará cerca de 18 meses para se efetivar.

Bebês que nascem prematuramente ou com baixo peso neonatal necessitam de cuidados médicos
intensivos e especiais. Aqueles que após três até cinco dias apresentarem icterícia, ou seja, pigmentação
amarelada nos globos oculares e na pele, cuja manifestação é a indicação de imaturidade do fígado,
devem realizar banhos de luz fluorescente e receber medicamentos adequados para evitar prejuízos ao
sistema nervoso central.

Outra preocupação é o teste do distúrbio enzimático fenilalanina hidroxilase, que provoca a doença
fenilcetonúria. O bebê ou o indivíduo acometido dessa deficiência enzimática não consegue catalisar
a conversão da fenilalanina (um aminoácido exógeno, não sintetizado pelo organismo), em tirosina
(aminoácido essencial às proteínas do organismo), e dessa maneira provocará diversos problemas na
formação do sistema nervoso e consequentemente transtornos e deficiências mentais.

O Sistema Único de Saúde do Brasil criou o Programa Nacional de Triagem Neonatal – PNTN –
(BRASIL, 2017) e patrocina o “teste do pezinho” para, por meio de uma pequena agulhada no pé do bebê,
colher algumas gotas de sangue do recém-nascido. Assim, se efetua a verificação e identificação de
diversas insuficiências e doenças enzimáticas, tais como: a fenilcetonúria, o hipotireoidismo congênito,
a anemia falciforme, a fibrose cística, a hiperplasia adrenal congênita e a deficiência da biotinidase,
que podem causar distúrbios graves na formação do bebê e que podem ser evitadas com dietas e
medicamentos adequados.

Os sistemas orgânicos estão funcionando sozinhos e o neonato realiza a circulação sanguínea,


respiração, controle de temperatura, alimentação e eliminação de resíduos, adicionalmente se verifica
que a pressão arterial é bastante irregular até o décimo dia pós-nascimento.

O crescimento é mais rápido no primeiro ano de vida. Essa velocidade vai decrescendo até o terceiro
ano e acompanhando o que ocorria no ventre materno, se dá nos seguintes sentidos:

• cefalocaudal – avança da cabeça para as partes inferiores;

• proximodistal – avança do centro do corpo (tronco) para as extremidades (membros superiores e


inferiores).

Os primeiros seis meses são a fase da vida em que o bebê crescerá mais rápido e atingirá o dobro do
seu tamanho inicial.

Papalia e Feldman (2013, p. 147), apresentam as mudanças de proporção no corpo humano durante
o crescimento, na relação entre o quanto a cabeça, comparativamente ao tronco, representa do total
do corpo.

81
Unidade II

• Bebê de 2 meses – idade fetal – proporção 1/2.

• Bebê de 5 meses – idade fetal – proporção 1/3.

• No recém-nascido, proporção de 1/4.

• 2 anos – proporção 1/5.

• 6 anos – proporção 1/6.

• 12 anos – proporção 1/7.

• 25 anos – proporção 1/8.

Portanto, a cabeça torna-se menor relativamente ao resto do corpo. A estabilidade da proporção


do tronco (do pescoço até o ponto de junção com as pernas) é mais branda. A proporção crescente das
pernas é quase exatamente o inverso da proporção decrescente da cabeça.

6.1.2 Desenvolvimento sensorial e cognitivo

No período neonatal, que corresponde às quatro primeiras semanas de vida, ocorre crescimento
e desenvolvimento rápido e significativo do sistema nervoso central. O crescimento do encéfalo é
extraordinário: depois do nascimento, o seu peso é de aproximadamente 25% ao ser comparado com o
de um adulto; ao fim do primeiro ano já atinge 70% do peso cerebral adulto; ao fim do segundo ano de
vida alcança 80% e com doze anos de idade terá praticamente a sua maturação completa.

O cerebelo – parte do encéfalo responsável pelo equilíbrio e pela coordenação motora – cresce
rapidamente no primeiro ano, e as células nervosas vão de desenvolvendo e se comunicando por meio
de sinapses.

O córtex cerebral, isto é, a região mais externa do encéfalo, responsável pelo pensamento e resolução
de problemas, vai se desenvolvendo e continua a se aperfeiçoar durante a infância e vida adulta,
oferecendo funcionamento cognitivo e motor mais flexível e avançado.

Os cinco sentidos (olfato, tato, visão, audição e paladar) não se desenvolvem com a mesma velocidade
e acuidade “precisão” no bebê.

Os sistemas: gastrintestinal, respiratório e circulatório vão se modificando e melhorando aos poucos


em suas funções.

82
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 20 – Recém-nascido dormindo

6.1.3 Desenvolvimento motor

Outros reflexos comuns e importantes do neonatal são a preensão palmar e o reflexo de marcha, que
desaparecem com o tempo, mas são importantes para se determinar o desenvolvimento e funcionamento
adequado do sistema nervoso central.

Figura 21 – Membro superior esquerdo de um bebê. A mão fechada denota o reflexo palmar

Reflexos de função protetora, como bocejar, espirrar, piscar, reflexo pupilar, tossir e ter ânsia de
vômito são defesas que permanecem por toda a vida.

Os sentidos vão se aprimorando. A audição já era bem apurada desde o sétimo mês da gravidez e o
bebê tem facilidade em reconhecer precocemente a voz da mãe e do pai. Assusta-se com ruídos altos
elevados e reage com reflexos musculares característicos. O olfato amadurece rapidamente, pois treinou
83
Unidade II

bastante por meio do contato com o líquido amniótico. Por meio da amamentação, o bebê aprofunda
as reações e sentidos de odores e recebe grandes estímulos ao paladar, vai, assim, comparando a doçura
do leite materno com outros líquidos ingeridos. O tato está bem amadurecido, pois desde os contatos
com a musculatura uterina da mãe já descobria sensações tateáveis. Possui sensibilidade à dor, chora
bastante ao ter a pele perfurada para fazer o teste de coleta de sangue do pezinho.

Pautando-se em uma descrição muito simplificada dos estágios do desenvolvimento cognitivo


elaborado por Piaget1, a criança nessa fase está no estágio sensório-motor2: gradualmente, o bebê torna-se
capaz de organizar atividades em relação ao ambiente. A aprendizagem ocorre por meio de atividades
sensório-motoras, isto é, em que os reflexos, os cinco sentidos e as ações motoras são fundamentais na
exploração do ambiente pelo bebê/criança. Nesse estágio, ocorre construção de categorias práticas, os
chamados esquemas de ação.

O crescimento do encéfalo associado aos estímulos ambientais provoca grande diferenciação nos
movimentos da criança. Após os primeiros quatro meses, os reflexos vão desaparecendo e o bebê começa
a adquirir maior controle do corpo e busca cada vez mais precisão.

Piaget menciona que o desenvolvimento sensório-motor é característico da criança na primeira


infância, pois o bebê vai encontrando respostas motrizes às sensações provocadas pelos contatos
corpóreos. É uma via de informação contínua entre o sentir e reagir por meio de regularidades
cognitivas e físicas e vice-versa. Nesse aspecto, o ambiente e os estímulos dos pais são essenciais
para promover, junto com maturação cerebral, o desenvolvimento mais pleno do indivíduo nessa
etapa da vida.

Conforme citado anteriormente, alguns reflexos do bebê recém-nascido deverão “desaparecer”


(como os de preensão de força, sucção, entre outros), são internalizados, ou seja, por exemplo, se houver
determinada lesão cerebral, eles podem voltar a aparecer. São estes os reflexos que se internalizarão:

• de apreender (segurar) objetos – tanto ao tocar suas mãos como seus pés. O difícil para o bebê
é soltar o objeto da mão, o que só se consegue “abrindo” seus dedos à força. Somente por volta
do 6o mês, o bebê segurará e soltará objetos quando quiser, sendo também a fase em que começa
a se sentar;

• de sucção: sempre que algo roça seus lábios, o bebê balança a cabeça de um lado para o outro,
abre a boca e suga;

• de mergulho (primeiros seis meses de vida) – impede que o bebê respire dentro da água; os
membros superiores e inferiores se movem de modo coordenado dentro d’água, bem como o

1
É importante destacar que as obras de Piaget requerem uma leitura bastante cuidadosa em razão da amplitude e
profundidade de conhecimentos, além da elaboração de conceitos específicos, como acomodação e assimilação, os quais
não serão discutidos neste texto.
2
Não será especificado cada um dos subestágios com suas respectivas características, pois não é o foco deste
material discorrer pormenorizadamente acerca do desenvolvimento cognitivo e sim fornecer algumas noções sobre o
modelo proposto por Piaget.
84
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

tronco, impulsionando-o por mais de um metro. Mecanismo da respiração do reflexo de mergulho:


o topo do pulmão fica lacrado, mesmo que o bebê esteja com a boca aberta, e a água que entra é
desviada pelo esôfago até o estômago. Após alguns segundos, o bebê necessita da ajuda de outra
pessoa para retornar à superfície e voltar a respirar. Não se sabe se esse reflexo se origina de um
longínquo ancestral que vivia na água ou de nossa vida dentro do útero.

Lembrete

Comportamento reflexo: são respostas automáticas a estímulos;


os reflexos não são aprendidos. São atos involuntários em razão da
prematuridade do sistema nervoso central do bebê.

A gradativa substituição dos reflexos por ações motoras pode se identificada, pouco a pouco, nos seis
primeiros meses de vida. As três classes de ações motoras – estabilização, locomoção e manipulação de
objetos – modificam-se rapidamente, sendo possível observar significativas mudanças nas configurações
das dinâmicas posturais e nas habilidades de locomoção, sobretudo o arrastar-se, o engatinhar e,
finalmente, o tão esperado andar.

O engatinhar: é um modo eficiente de se locomover; com uma velocidade máxima de 2 km/h,


cerca de 200 metros por dia e com diferentes padrões de movimento. Antes disso, estando deitado em
decúbito ventral (“de barriga para baixo”), aos poucos o bebê se torna capaz de elevar parcialmente
o tronco e rastejar; todavia, vai algum tempo para que tenha força e coordenação necessárias para
engatinhar. Conforme o bebê engatinha e vai se tornando habilidoso no engatinhar, também passa a
estimar melhor declives, ajustando os movimentos com um engatinhar lateral e até de marcha à ré; se
julgar o declive muito grande, ele não prosseguirá, com medo de cair.

Figura 22 – Bebê deitado em decúbito ventral, com elevação parcial do tronco


e da cabeça, em razão do apoio dos membros superiores

85
Unidade II

Figura 23 – Bebê de costas engatinhando

O andar: necessita da força dos membros inferiores e do labirinto, que é um sistema formado por
três tubos circulares cheios de líquido no interior do ouvido, atrás dos ossos que auxiliam a audição.
À medida que o bebê se movimenta, cada tubo detecta um movimento básico no espaço: rolagem,
arfagem (subir e baixar ritmadamente) e guinada (mudar de direção subitamente) – permitindo que ele,
sozinho, dê seus passos.

Figura 24 – Criança de 11 meses caminhando em terreno levemente irregular

86
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 25 – Criança de um ano e quatro meses subindo superfície levemente inclinada com o apoio das mãos no corrimão

Semelhantemente, as habilidades manuais de apreender (segurar), transportar e manipular o objeto,


em razão dos muitos arranjos espaço-temporais que a configuração dos dedos das mãos nos permite,
suscitam uma série de modos de explorar as características dos objetos (forma, textura, volume, peso)
bem como de explorar o próprio corpo, algo bastante notório no cotidiano do bebê, por exemplo, quando
segura um dos pezinhos com uma das mãos.

Figura 26 – Bebê de aproximadamente seis meses manipulando manualmente brinquedo de encaixe de formas

De forma concisa, os eventos mais relevantes que marcam o desenvolvimento motor dessa fase do
ciclo vital são:

87
Unidade II

Controle da cabeça:

• Deitados de costas, viram a cabeça de um lado para outro.

• Deitados de bruços, levantam e giram a cabeça.

• Aos quatro meses de idade: quando sentados, conseguem manter a cabeça levantada.

Controle das mãos:

• Até 3,5 meses, conseguem agarrar objetos com preensão palmar.

• Depois começam a passar objetos de uma mão para a outra.

• Entre o 7º e o 11º mês, conseguem pegar objetos pequenos com a preensão de pinça.

• Com cerca de um ano e três meses constrói uma torre utilizando dois cubos.

Locomoção – diferentes ações motoras:

• Rolar: após três meses, para ficar de bruços ou de costas. Cuidado com os acidentes!

• Sentar: quando estão de pé, caem sentados; quando estão deitados de bruços, levantam-se e sentam.

• Aos seis meses: sem apoio, locomovem-se aos arrancos.

• Rastejar: por volta dos seis meses – puxam o restante do corpo com os braços, apoiados na
barriga e arrastando os pés.

• Engatinhar: por volta dos seis meses, sobre as mãos e os joelhos, mantendo o peito paralelo ao solo.

• Manter-se de pé: dos sete aos 11 meses de idade.

• Andar: por volta de 11 meses, com passos incertos e um padrão rudimentar de braços e pernas.

• Subir e descer: no decorrer do segundo ano; ocorre nesta ordem: um pé de cada vez e com ambos
os pés no mesmo degrau. Cuidado com as quedas!

• Correr e saltar: no segundo ano.

• Pular com um só pé: após os três anos e meio.

88
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 27 – Criança na primeira infância brincando com objeto infantil (brinquedo)

Observe-se, na imagem anterior, que a criança possivelmente apresenta um padrão de andar maduro
(parecido com o padrão adulto), o que propicia que caminhe com habilidade e segurança, permitindo
que suas mãos estejam liberadas para lidar com objetos, como é o caso, ou para se apoiar em situações
de brincadeiras (como rolamento para frente, por exemplo, conhecido popularmente por “cambalhota”)
ou que a leve a quedas. Empurrar um brinquedo segurando em uma haste a ele acoplada enquanto
caminha indica a combinação de duas habilidades: andar e empurrar objeto, denotando uma interação
entre as classes de ações motoras de estabilização, locomoção e manipulação de objetos.

6.1.4 Desenvolvimento emocional e sociocultural

A gravidez, como mencionado anteriormente, é um processo difícil de acontecer. Entretanto, ao


se consolidar, a gênese de uma nova vida é um evento muito importante na existência das pessoas;
transforma lares, induz novas sensações e produz efeitos diversos, tais como: alegria, euforia, medo,
insegurança, ansiedade, novas perspectivas etc.

Atualmente, várias famílias são constituídas de modos distintos, porém é extremamente importante
que haja aceitação desde os primeiros momentos na proximidade de uma nova vida, para que se
promova o bem-estar de todos os envolvidos nesse caminho de recepcionar, cuidar e preservar a vida
humana. A afetividade é um dos marcos da relação humana, sendo essencial para o desenvolvimento
integral do bebê.

O choro é talvez a primeira e uma das manifestações emocionais mais intensas que o bebê tem para
manifestar desejos e necessidades. Papalia, Olds e Feldman (2006) mencionam quatro padrões de choro
de bebês que se afinam com estados emocionais bem característicos: fome, frustração, raiva e dor. A
atuação dos pais para acalmar a criança quando ela chora indica que, a demora em atender choradeiras
manhosas faz com que a criança paulatinamente diminua esse comportamento após determinado
tempo, por outro lado, prantos de aflição devem ser rapidamente atendidos e o bebê vai se acalmar
mais facilmente e se sentir mais seguro.

89
Unidade II

A afetividade dos pais produz um universo pleno de condições favoráveis ao desenvolvimento. O trato
acolhedor proporciona à criança um relacionamento mais afinado com a natureza humana, educa, estimula e
proporciona um leque imenso de possibilidades para a ampliação de seu mundo sensorial e cognitivo.

Bebês de três meses são curiosos e deveras receptivos às estimulações táteis, visuais e auditivas. Em
relação ao paladar, o leite materno é o mestre em direcionar as percepções de gostos.

Com pouco tempo de vida, o bebê reconhece a voz e o semblante dos pais ou de seus cuidadores
e se sente confiante, pois vai relacionando-os à sua própria segurança, ao carinho, ao bem-estar e à
própria garantia de sobrevivência. Mesmo antes de um ano de idade, bebês se surpreendem facilmente
com fisionomias estranhas e demonstram seu descontentamento nessas situações. Os bebês também
realizam vai-e-vem interativo, fazendo caretas, tocando, emitindo sons e sorrindo, dessa maneira,
testando reações e realizando ensaios sociais.

O sorrir, de modo reflexo, se manifesta desde os primeiros momentos neonatais e se estabelece como
uma das ferramentas de intercâmbio emocional mais eficaz entre pais e bebês. Após os primeiros três
meses, os estímulos visuais são essencialmente dirigentes para que os bebês se articulem pelo sorriso,
em geral, evidenciando agrado, segurança e aceitação. No transcorrer tão rápido do amadurecimento
do córtex cerebral, as crianças vão reconhecendo situações tanto inesperadas como engraçadas, ou seja,
surpresas que são consideradas emocionalmente positivas. Também vão reagindo conforme provam
sensações vindas das pessoas que lhes são próximas, dessa maneira, criando fortes ligações emocionais
e estabelecendo identidades.

As autonomias motora, cognitiva e emocional vão se estabelecendo gradativamente durante


a infância e, assim como em fases posteriores do desenvolvimento, apresentam-se intimamente
relacionadas entre si, bem como aos aspectos culturais e sociais (desde o ambiente doméstico até
outras esferas sociais).

Figura 28 – Criança de primeira infância bebendo líquido de forma autônoma em garrafa plástica

90
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Ambientes favoráveis, nos quais pais e conhecidos tragam amabilidade para o bebê, são fundamentais
para a formação sensível da criança e incentivam seu desenvolvimento cognitivo, possivelmente
esquematizando memórias importantes para que se torne um indivíduo mais próximo da compreensão,
da empatia, da solidariedade e da afirmação da natureza humana.

Convém mencionar que muitas crianças não têm oportunidade, mesmo nos primeiros dias de
vida, de ficar com os pais. Assim, acabam se apegando a seus cuidadores mais imediatos, muitas
vezes, os avós, tios etc. e ainda há crianças que passam por situações de maior vulnerabilidade,
como as abandonadas ao nascer. Além disso, certas culturas vivem em grandes grupos e têm
menos privacidade nas relações pai–mãe–filho e, assim, as pessoas acabam por tomar conta de
todas as crianças da comunidade, ou seja, pode ser menos íntima a interação direta entre pai, mãe
e filho já nos primeiros dias e meses de vida.

Nos últimos trinta anos, no Brasil, a necessidade e a iniciativa da mulher adulta de fazer parte do
mercado de trabalho, seja por razões de melhorar a condição financeira da família, seja pelo senso de
autorrealização ou por ambos os motivos, levou-a a passar menos tempo com os filhos. Por outro lado,
nem sempre os avós (sobretudo as avós) dispunham de tempo ou condição de ficar com os netos para
se encaixar na rotina atribulada da mãe. Assim, em especial nos grandes centros urbanos, aumentou
o número de creches e escolas de Educação Infantil, ou estendeu-se o nível da Educação Infantil, em
instituições de ensino que já o tinham, chegando a abranger o nível de berçário, ou seja, para bebês, em
geral a partir dos quatro meses de vida.

Por conseguinte, crianças saem de suas casas e passam a frequentar esses locais de educação
formal e convívio com outras tantas crianças de idade próxima, assim como outras cuidadoras
(além de mãe, avó, vizinha, babá ou afins) e a figura e intervenção da professora (“tia”, como
muitas vezes é chamada popularmente).

Não é incomum que a criança passe a chamar de “mãe” a professora ou a cuidadora mais próxima.
Isso às vezes é motivo de angústia e gera uma expectativa negativa da mãe em relação ao vínculo que
acredita que a criança tem com ela, pensando que a está substituindo pela professora.

A criança pode até confundir-se no emprego das palavras, trocando uma pessoa pela outra;
contudo, ela tem a noção exata de quem é sua mãe e de quem não é, uma vez que o vínculo entre
mãe e filhos é emocionalmente forte, em especial nessa fase e, de acordo com a teoria do apego,
é enfatizado por volta dos oito meses de idade. Por esse motivo, às vezes, é mais difícil para a
criança ir para a escola com essa idade do que por volta dos seis meses, aproximadamente, ou
depois de um ano de idade.

Por outro lado, essa nova dinâmica social parece contribuir para uma maior autonomia
da criança no que se refere ao aprendizado de outras formas simbólicas que, possivelmente,
demorariam mais tempo para aparecer em casa, como o contato com a grafia, tanto na leitura
como na escrita.

91
Unidade II

Figura 29 – Crianças saindo para estudar na mesma escola: é o primeiro dia da mais nova (de um ano e dois meses); o irmão (seis
anos e 10 meses) a acompanha

Até a década de 1980, em nosso país, era raro encontrar escolas de Educação Infantil, mesmo que da
rede privada de ensino, que aceitassem crianças menores de quatro anos de idade. Ressalte-se que em
regiões mais interioranas ou em comunidades espacialmente mais bem-delimitadas, onde o senso de
privacidade é menos valorizado que o senso de comunidade, as crianças, de certa forma, “pertencem”
também à comunidade – e não somente aos pais – de forma que seja frequente que mais pessoas
estejam atentas e cuidadosas com as crianças que são parte dessa micro-organização social.

6.1.5 A grande importância do ato de amamentar – para a mãe e para o bebê

Um dos principais comportamentos reflexos motrizes do neonato é o de sucção temporomandibular,


característica essencial para a sobrevivência, pois é o movimento que permite a ingestão do leite materno
(MOSELE et al., 2014).

Figura 30 – Amamentação natural

92
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

O aleitamento materno é o principal alimento a ser oferecido ao neonato como única alimentação
até os seis primeiros meses de idade, A partir de então, deve-se introduzir alimentação complementar,
contudo a amamentação pode ser estendida até os 24 meses de idade.

A maioria das mulheres amamenta somente até o sexto mês pós-nascimento, devido a vários fatores
relacionados à vida profissional, familiar etc. A recomendação dos serviços de saúde é de que as mulheres
amamentem até, no mínimo, o sexto mês de vida do bebê. No caso do Brasil, as mães trabalhadoras
podem, segundo a Constituição Federal de 1988, obterem a licença-maternidade de 120 dias, o que
tem favorecido o desmame logo após esse período de afastamento e o pronto retorno profissional.
Entretanto, ainda que com menor frequência do que no período em que permanecia sob licença, a
mulher não deve parar de amamentar.

A amamentação exerce papel primordial no crescimento e desenvolvimento humano, pois fornece


adequadamente todos os nutrientes necessários ao bebê e facilita a recuperação corporal da mulher após
o período de gravidez. A sucção do bebê nos mamilos provoca a contração uterina e parece beneficiar a
recuperação do tamanho do útero em menos tempo e também aproxima afetivamente a mãe ao bebê.

O leite materno possui equilíbrio nutricional, fornece vitaminas para o crescimento, desenvolvimento
e fortalece o sistema imunológico do bebê. Igualmente evita o aparecimento de alergias. Auxilia a evitar
infecções estafilocócias e bacterianas no trato urinário (por onde passa a urina) e ajuda a impedir a
aparição de bronquites e pneumonias.

Além disso, o processo de sucção estimula as ações sensório-motoras do bebê, as quais excitam o
sistema nervoso, estimulando também a acuidade (precisão) visual do bebê. Vale lembrar que o reflexo
de sucção, aos poucos, será substituído pela sucção voluntária, ou seja, o bebê passará a mamar quando
tiver vontade e não pelo simples toque de algo (no caso, a mama) em seus lábios.

A amamentação contribui para outras melhoras sensoriais do bebê, no odor e no paladar, como será
mencionado adiante.

A urina e as primeiras excreções de mecônio (fezes pegajosas que se formam no trato gastrointestinal
dos neonatos) são já eliminadas pela abertura automática dos esfíncteres da uretra e do ânus,
respectivamente. Demorará alguns anos (cerca de dois a três) até que o bebê consiga controlar os
movimentos desses músculos.

O bebê necessita de muitas horas de sono, mas possui um padrão intermitente de início, acordando
a cada três ou quatro horas para se alimentar. A partir do quarto mês, começa a dormir a noite inteira.
Estabelecer horários e rotinas de amamentação, banho e estímulos parece favorecer e manter um padrão
de sono que privilegie o descanso noturno.

O ganho de peso deve ser constante e o aumento da gordura corporal se faz evidente. A partir dos
sexto mês, inserem-se alimentos sólidos adicionais ao leite materno, além de água e sucos.

93
Unidade II

Saiba mais

O filme a seguir constitui-se num documentário que apresenta o


desenvolvimento de bebês de culturas bastante diferentes e, por conseguinte,
os diferentes desdobramentos no curso de seu desenvolvimento.

BEBÊS. Dir. Thomas Balmès. França: Canal+, 2010. 79 minutos.

6.2 Segunda infância

6.2.1 Domínio cognitivo e moral

Uma das características mais marcantes nesse período etário é o aumento da complexidade no
desenvolvimento da linguagem, em especial a linguagem verbal. Se uma criança nessa idade ou em
idade anterior tiver de aprender dois idiomas ao mesmo tempo, utilizará uma parte do cérebro diferente
de um adulto quando aprende um segundo idioma e, por isso, terá mais facilidade. Crianças com
aproximadamente 2,5 anos de idade aprendem cerca de dez novas palavras por dia e são capazes da de
formar frases com sentido.

Quanto à autoconsciência, convém relembrar que a criança encontra-se no estágio pré-operatório


do desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget, em que a diferença entre realidade e fantasia ainda
não está clara; além disso, ela está construindo as noções de características do objeto, como tamanho,
cores, volume e assim por diante.

A linguagem é um sistema complexo e flexível de sinais (símbolos) e suas representações. O mais


difícil na linguagem não é dizer o que é concreto, mas sim o que é abstrato, ou seja, obter e transmitir
as noções de passado, emoção, esperança etc. Ela é uma forma de se proteger do mundo e de agir sobre
ele. Por meio da linguagem, elaboramos relações sociais complexas.

A autoconsciência é a noção de “eu” como diferente do “outro” – ou seja, a ideia de si mesmo


(comportamento reflexivo) – é absolutamente importante na relação com objetos e pessoas à sua
volta. Por isso a ênfase na posse (por exemplo, dos brinquedos, dos lugares, dos familiares, da escola
que frequenta etc.). Essa é uma característica presente somente em alguns primatas (como homem e
chimpanzé, por exemplo) e tem de ser aprendida.

Tanto a linguagem como a consciência de si mesmo desenvolvem-se em áreas específicas do cérebro,


assim como a convivência pacífica com outras pessoas, que só ocorrerá por volta dos cinco anos de
idade, quando a criança começa a aprender a dominar as regras sociais.

A respeito do modelo de desenvolvimento cognitivo de Piaget, crianças nessa faixa etária estão
no estágio pré-operatório: a criança desenvolve um sistema de representações e usa símbolos (por
exemplo, palavras e figuras) para representar pessoas, lugares e eventos.
94
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

No início dessa fase, a criança segue regras impostas e não as contesta, porém não demora a
perguntar “por quê?” para quase tudo o que lhe é solicitado para fazer; também faz essa pergunta a
partir de conversas que escuta ou sobre programas de televisão etc.

Ela fantasia bastante e começa a seguir modelos adultos de comportamento, por exemplo, se vestir
como o pai ou a mãe. É uma fase em que as histórias e fábulas infantis vão ganhando significado para
a criança, a qual sente prazer em ouvi-las. É a fase do “faz de conta”.

Brincadeiras como esconder o rosto como se ninguém a estivesse vendo porque ela mesma não está
enxergando denotam que nela ainda há dificuldades para se colocar na perspectiva do outro, o que é
natural nessa fase.

6.2.2 Domínio motor

No aspecto motor, espera-se que se desenvolvam as habilidades motoras básicas, como andar, correr,
saltar, girar, rolar, arremessar, receber, rebater, entre outras. Contudo, cabe salientar que o aumento de
qualidade em cada uma delas depende não apenas de um desenvolvimento de características de maturação
cerebral em interação com o sistema musculoesquelético (ossos, músculos, articulações), mas também
das influências ambientais, como: organização do processo de aprendizagem, atividades culturais que
promovam prioritariamente uma habilidade em detrimento (“prejuízo”) de outra, além de incentivo (ou
não) de pessoas próximas, como os pais, irmãos, professores e/ou cuidadores e assim por diante.

Figura 31 – Criança na primeira infância brincando na areia

Na figura anterior, notam-se a estabilização (sentar com as costas eretas), manipulação de objeto
(incluindo a própria areia) e expressividade consciente, por meio de um sorriso, ao notar que está sendo
fotografada pela mãe. Os comportamentos denotados pela garota tendem a se repetir ao longo de toda
a infância.

95
Unidade II

A exploração do ambiente mediante um brincar sem orientação de um adulto ou pessoa mais velha
é comum dessa fase em diante, pois a criança apresenta certa autonomia motora, além de reconhecer
os lugares e se expressar por meio de uma fala bem-articulada e com sentido suficiente para alguém de
mais idade compreender. Essa liberdade motora, se bem orientada, permite à criança experimentar um
universo de possibilidades de variações nas habilidades motoras básicas, por exemplo, correndo o mais
rápido que consegue, desenvolvendo agilidade em brincadeiras que envolvem “pega-pega” (uma pessoa
corre em direção a outra a fim de tocá-la, e então inverte que vai ser a caça e que será o caçador).

Quando as brincadeiras são orientadas, ela tem prazer em combiná-las com personagens em histórias
de aventuras. Por exemplo, duelar (brincar de “lutinha”) e, em seguida, sair correndo para defender o castelo.

Não é possível saber se uma criança de aproximadamente quatro anos de idade, por exemplo,
ao deparar com um piano, está explorando a ação motora de tocá-lo, está brincando de tocar, se faz
qualquer dessas ações por iniciativa própria ou se alguém a está orientando. Entretanto, pode haver
contato atento com o objeto, provavelmente sabendo que ele emite diferentes sonoridades. A habilidade
manual de coordenação interdígitos (movimentação coordenada dos dedos), bem como a coordenação
bimanual combinada, constituem capacidades motoras que servirão de base para o aprendizado de,
eventualmente, aprender a tocar piano ou qualquer outro instrumento musical.

Semelhantemente, crianças em idade cada vez mais precoces têm entrado em contato com
computadores e objetos eletrônicos afins, o que cria demandas imediatas tanto no aspecto motor (para
operá-los manualmente), como no cognitivo (em razão da solução de problemas, criação de imagens
e de linguagem escrita, reprodução de sons etc.). Ademais, como será discutido a seguir, o próprio
domínio sociocultural a aproxima de objetos desse tipo, assim, mediante a esfera emocional, se tornarão
manifestas suas preferências e motivações para atividades com eletrônicos.

Figura 32 – Criança operando um computador. Não se sabe se ela está


no final da primeira infância ou início da segunda infância

96
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

6.2.3 Domínio emocional e sociocultural

Nessa fase, a criança reconhece todas as pessoas de seu convívio, seus nomes e graus de parentesco
ou proveniência (amigos da família e coleguinhas de escola, vizinhos etc.). Ela tem certa noção do
perigo, mas está começando a compreender ironias, especialmente por volta dos cinco anos de idade.

Se ela tiver irmãos mais velhos, de certo os seguirá, independente de eles serem do mesmo sexo
que a criança ou não; se houver irmãos mais novos, talvez ajude a cuidar deles. A tendência é que ela
permaneça próxima de quem lhe é próximo afetiva e emocionalmente.

Ao final dessa fase, a criança está mais disponível para andar com crianças mais velhas ou da mesma
idade e deverá estar se preparando para, inevitavelmente (ao menos em nosso país), frequentar o Ensino
Fundamental.

A figura dos pais, cuidadores e professores ainda é bastante importante para a criança, pois lhe
confere segurança e – se não houver problemas domésticos de outra natureza, bem-estar e prazer. A
maior parte das crianças não aprecia ficar sozinha nessa fase.

Atualmente, os meios eletrônicos transportáveis manualmente já tomaram parte no cotidiano


de muitas dessas crianças. Ainda estão sendo feitas pesquisas acerca de seus efeitos – se benéficos
ou não e por quê.

6.3 Terceira infância

Por muito tempo, esse período foi chamado de fase de latência, por se acreditar que as mudanças
eram muito pequenas, especialmente do ponto de vista do desenvolvimento físico e do crescimento,
pois comparativamente a outras fases (por exemplo, do nascimento aos seis anos e adolescência), o
crescimento é bem mais vagaroso. Mas em relação a características emocionais, motoras e principalmente
cognitivas, existem modificações bastante importantes.

Um marco importante nessa fase é o ingresso na escola (“Ensino Fundamental”, no Brasil), a qual tem
papeis fundamentais em todos os aspectos do desenvolvimento.

6.3.1 Desenvolvimento cognitivo e moral

Há melhoras significativas na capacidade de prestar atenção; na seleção da informação mais


relevante e na memória:

• desenvolvimento de estratégias de memorização;

• melhora da memória a curto prazo por causa da rapidez no processamento de informação.

A linguagem – a sintaxe (organização de frases) e a semântica (significado das frases) – são


aprimoradas.
97
Unidade II

De acordo com Piaget, a fase do pensamento operatório concreto é subdividido em:

• operatório concreto – a criança consegue resolver problemas de maneira lógica se eles estiverem
voltados para o “aqui” e “agora”.

• operatório formal – a pessoa consegue pensar de maneira abstrata, lidar com situações hipotéticas
e pensar em muitas possibilidades para a solução de um mesmo problema.

Pesquisas atuais têm demonstrado que alguns estágios do desenvolvimento cognitivo proposto por
Piaget podem acontecer em períodos anteriores aos que ele previu.

Apesar de Piaget não ter enfocado aspectos relacionados à área de Educação (educação formal,
isto é, no âmbito escolar), sua teoria de estágios traz importantes implicações para a área educacional
como, por exemplo: que a criança consegue construir suas próprias representações do mundo; que seu
raciocínio se desenvolve em estágios, os quais devem ser “respeitados”.

Note-se que, por consequência, quando se trata das mais diferentes disciplinas (áreas de
conhecimento), como a Matemática, o Português, entre outras, os conteúdos devem ser adequados a
determinados anos no ensino escolar, por exemplo, equações de 2º grau devem ser ensinadas ao final
do Ensino Fundamental II e não em séries anteriores e assim por diante. Esse cuidado com a elaboração
do currículo escolar reflete a compreensão da progressão dos estágios.

Fazem parte dessa faixa etária: pensamento lógico; distinção entre fantasia e realidade; operações
matemáticas básicas; classificação (categorização, com compreensão de subcategorias).

O julgamento moral ocorre em dois estágios:

• 1º moralidade de restrição – rigidez moral – a conduta ou é certa ou é errada.

• 2º moralidade da cooperação – flexibilidade moral – possibilidade de um haver um “meio termo”


nas condutas.

Aos poucos, as regras não são construídas e nem seguidas com tanta rigidez. Entretanto, especialmente
no primeiro estágio, há ainda certa dificuldade em categorizar comportamentos ou regras em classes e
subclasses. Por exemplo, para manter as regras em sala de aula, pode-se considerar que manter a sala
limpa e jogar no cesto de lixo o papel usado para limpeza são, para crianças do início dessa fase, regras
hierarquicamente equivalentes; contudo, a segunda regra está implícita na primeira, mas muitas delas
não conseguem fazer essa interpretação.

6.3.2 Desenvolvimento físico e motor

Notoriamente, a alfabetização e o contato com outras disciplinas da educação formal (Matemática,


Ciências, História, Educação Física, Educação Artística etc.) contribuem para uma ampliação do
conhecimento de mundo e da forma de raciocinar a respeito dele.
98
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Crescimento

• Aumento de estatura/ano – 2,5 a 7,6 cm.

• Aumento de peso/ano – 2,2 a 3,6 Kg; as meninas têm um pouco mais de tecido gorduroso do que
os meninos.

O crescimento, nessa fase, se dá de modo linear e gradativo, ou seja, a cada ano que passa a criança
cresce de forma constante.

Nutrição

A necessidade média diária da criança é de 2.400 calorias (mais para crianças mais velhas e menos
para crianças mais jovens).

É importante evitar carboidratos simples (açúcar, chocolate) e alimentos muito gordurosos, pois o
índice de obesidade infantil tem aumentado significativamente.

Espera-se que as habilidades motoras básicas (andar, correr, saltar, rolar, girar, arremessar, receber,
rebater etc.) já estejam bem desenvolvidas. Assim, é possível combinar essas habilidades (por exemplo,
correr e saltar; saltar e arremessar, girar e saltar etc.).

O Modelo da Pirâmide sugere que nessa fase a Educação Física escolar priorize atividades que
demandem essa combinação de habilidades motoras básicas, com o intuito de ampliar ainda mais
o acervo motor da criança e prepará-la para futuras escolhas a respeito da prática de habilidades
motoras determinadas culturalmente, ou seja, que envolva vários tipos de dança, atividades circenses,
modalidades esportivas, entre outras.

Figura 33 – Criança na terceira infância em apresentação de ginástica rítmica, esporte praticado em colégios

99
Unidade II

É importante ouvir a criança a respeito de sua vontade em participar do aprendizado de


determinada atividade motora ou não. Por exemplo, em depoimento pessoal, a garota da foto,
hoje adolescente, já há aproximadamente três anos parou de praticar ginástica rítmica porque
percebeu que não dispunha da mesma flexibilidade que muitas de suas colegas e declarou que
não queria treinar tanto quanto seria necessário para atingir um nível de flexibilidade semelhante
ao de suas colegas.

Das habilidades manuais não presentes nas brincadeiras, jogos e esportes, a escrita, especificamente,
é bastante exercida em razão das próprias atividades escolares.

Figura 34 – Garota pintando: oposição entre polegar e indicador

A digitação, que até há pouco tempo era própria dos adolescentes e adultos jovens, também passa a
fazer parte da infância (inclusive já na primeira infância, conforme comentado anteriormente).

Há cerca de quarenta anos, ainda era bastante comum que meninas – e somente meninas – nessa
faixa etária frequentassem escolas de bordado e/ou pintura.

Já nessa fase, muitos garotos tomam gosto por participar de esportes vigorosos, não apenas
pela satisfação na melhora do desempenho como também pela admiração por determinados ídolos
esportivos e para melhorar a socialização, tornando-se mais populares. Atualmente, no entanto,
vem se acentuando certa tendência de diminuição das diferenças de gênero no que se refere a
atividades esportivas; nesse sentido, esportes que eram considerados tipicamente de garotos e
outros, de garotas, vêm sendo praticados pelo sexo oposto e vice-versa. Isso porque tem havido
uma compreensão de que a aprendizagem de habilidades motoras – desde as mais simples às mais
complexas – não apresenta relação direta com o sexo. Isso é diferente para capacidades físicas,
como, por exemplo, a força, que é comumente bastante maior no homem do que na mulher,
sobretudo desde a adolescência.

100
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 35 – Crianças jogando futebol americano

Figura 36 – Garotas jogando futebol

6.3.3 Desenvolvimento emocional e sociocultural

No âmbito social, são cobrados certos posicionamentos e atitudes das crianças, sobretudo por
causa das regras de convívio e conservação do ambiente escolar. Como consequência, há um grande
desenvolvimento do julgamento moral.

A criança, nessa fase, não mais apresenta referencial somente em si mesma, mas a comparação
social torna-se muito importante.

Nesse sentido, é fundamental que a criança desenvolva competência em determinadas tarefas e


possa ser valorizada em relação a seu bom desempenho, sua aparência, enfim, seja bem aceita pelo
grupo social que a rodeia (família, colegas, amigos e professores), pois tudo isso trará influências para a
autoestima. A autoestima é a autovalorização da pessoa e está relacionada tanto aos aspectos afetivos

101
Unidade II

como aos cognitivos. Diz-se que pessoa apresenta autoestima baixa ou elevada. Esse aspecto pode
variar muito ao longo de toda a vida, mas nessa fase já é bastante significativo.

O gênero refere-se a características determinadas por construções culturais, e essas


características são atribuídas a pessoas de diferentes sexos; em outras palavras, é como se o
sexo (ser homem/menino ou mulher/menina) fosse determinante de certos comportamentos, por
exemplo, homem não pode usar brinco e mulher não pode jogar futebol. Apesar de serem mais
destacadas nessa fase, os adultos são os grandes responsáveis por determinar essas diferenças de
gênero desde que os filhos são bebês, a começar pela diferença de cores nos mais variados objetos,
em especial, nas roupas e acessórios.

As diferenças de gênero são maiores nessa fase do que em fases anteriores. “Por iniciativa própria”
ocorre uma nítida separação entre meninas e meninos, que formam grupos distintos e têm vergonha
de interagir.

Quadro 6 – Comparação de características de gênero

Meninas Meninos
Formam pequenos grupos ou duplas. Formam grandes grupos – “clubinhos”.
São menos tolerantes com os outros e
São mais permissivas e tendem ao tendem à competição e a resolver conflitos
apaziguamento. por meio de força física.
Relacionamentos de amizade mais íntimos Praticamente todos se consideram amigos
(por exemplo, frequentar e dormir na casa da entre si.
amiga).
Escolhem um líder, com base em parâmetros
Existe a melhor amiga. como força, velocidade, habilidade esportiva
etc.

Figura 37 – 1º objeto: garoto puxando carrinho com uma criança (na terceira infância), século V a.C.
2º objeto: garotos brincando de bola com uma vara (bastão) 420-410 a.C. Ambos de proveniência
desconhecida – Museu de Arqueologia de Atenas, Grécia

102
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Saiba mais

MARY e Max: uma amizade diferente. Dir. Adam Eliiot. Austrália:


Melodrama Pictures, 2010. 94 minutos.

Esse filme é uma animação que parte do universo infantil de uma


garota australiana no início da terceira infância, a qual cresce e se
desenvolve de modo solitário, sentindo-se feia e rejeitada, devido a
bullying na escola e a uma dinâmica familiar fragilizada pela culpa, o
individualismo e a falta de propósitos de seus pais. Casualmente, acaba
desenvolvendo uma amizade atípica com um adulto também solitário,
dos Estados Unidos, que tem um “pequeno” problema mental, além de
obesidade e depressão. Ambos descobrem um ao outro e a si mesmos
no decorrer dessa longa relação de vida.

Exemplo de aplicação

Questionamento: como lidar, no âmbito da Educação Física, com pessoas cuja estrutura física,
emocional e intelectual é fragilizada e que não contam com meios de se apoiarem em suas famílias?

6.3.4 Interação dos domínios do desenvolvimento: um exemplo de fatos

Figura 38 – Crianças na primeira infância e segunda infância: garoto com 6 anos


e 10 meses sustentando a irmã de 1 ano e dois meses

103
Unidade II

Figura 39 – Criança na terceira infância e adolescente (os mesmos da figura anterior):


ele com 14 anos e 4 meses; ela com 8 anos e 7 meses

Note-se que a ação motora dele é a mesma de quando era criança: sustentar a irmã na água de
modo que ele não afunde. A menina, por sua vez, tem um comportamento mais ativo na segunda etapa,
pois ela não apenas se deixa sustentar por ele como estende os braços de forma simétrica. Contudo, na
primeira foto, ele está preocupado em sustentá-la, por isso dirige a ela o olhar, ao passo que na segunda,
a garota já sabe nadar, então ele pôde dirigir seu olhar à câmera. O que de fato aconteceu na segunda
foto é que a autora solicitou que posassem de forma semelhante à primeira, quando eram crianças, de
forma que eles ficaram à vontade para tentar reproduzi-la.

Pode-se dizer que ele está realizando uma habilidade de manipulação com a meta de estabilização
do “objeto” – no caso, a irmã; ela está apenas mantendo-se estabilizada.

É importante observar que, além do domínio motor, estão presentes os domínios: cognitivo, emocional,
moral e cultural em ambos os casos – ainda que não da mesma forma e na mesma magnitude por cada
um dos irmãos. Acompanhe a análise a seguir.

A demanda de atenção na primeira situação é muito grande para o garoto, pois ele entende a
relação entre deixar a irmã afundar e um dano que pode vir a ser letal ou ao menos bastante traumático;
em outras palavras, ele compreende a relação de causa e consequência, o que obviamente se refere ao
domínio cognitivo; na segunda situação, essa demanda diminui, uma vez que a segurança da irmã, por
estar maior e já saber nadar, está garantida.

Não há como desvincular essa alta demanda de atenção do domínio emocional, uma vez que mesmo
quando crianças (primeira situação), ele não apenas está responsável pelo bem-estar momentâneo de
outra criança bem mais nova, como também essa criança é sua irmã, ou seja, alguém por quem ele tem
um afeto especial e positivo. Esse afeto é recíproco, pois com cerca de 1 ano e 2 meses ela já o reconhece
como irmão e sente um forte laço de afetividade e confiança.

104
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

A confiança exige, por parte da garota, esse reconhecimento de fisionomia, voz e gestos, reforçando a
lembrança de que ele lhe é familiar, lhe é próximo, pois que houve outras várias situações em que ele lhe
conferiu segurança no ambiente, por exemplo, segurando-a no colo e carregando-a – seja para brincar,
seja para evitar que ela se machucasse. É notório, portanto, que há uma interação entre domínios motor,
cognitivo e emocional.

O domínio moral está presente para o garoto em ambas as situações, e para ela somente na segunda,
pois anteriormente ela ainda não segue ou compreende regras, assim como não entende o que seria se
comportar de forma ética, ou seja, preocupando-se com ele de forma semelhante à preocupação que
ele tem por ela.

Quanto ao domínio cultural, trata-se de uma atividade de brincar, em que uma pessoa carrega a
outra (podendo ser essa condução de diversas maneiras, por exemplo, alterando-se direção, velocidade
etc.), bem como com alteração de papeis quando ambas estão em idade mais avançada, ou seja, na
segunda situação.

6.3.5 Para mais reflexões sobre Educação Física na terceira infância e atuação profissional

Para a criança na escola, a aula de Educação Física é o momento da diversão, da brincadeira, dos
movimentos amplos e rápidos, da exaltação do corpo mediante as habilidades motoras, das possibilidades
corporais, da liberdade corporal; contudo, pode ser também o momento da vergonha pela lentidão,
ineficiência e ineficácia das ações motoras, da tentativa de cumprir regras que ela não compreende, do
lugar da comparação e da exclusão, do corpo aprisionado à forma e ao desempenho.

Não é possível apagar discretamente com a borracha o erro da ação corporal, tal qual se faz com
a atividade errada do caderno para que o colega ao lado não perceba. Na Educação Física, você é o
corpo todo, o corpo todo em movimento visto pelos colegas de classe, os de outras séries, professores,
funcionários e o diretor – a criança é visível a todos e a si mesma (até onde a percepção alcança); mas
não é só isso: ela está sob julgamento de outrem e sob autojulgamento, o que implica uma tensão
constante porque ela é a pessoa que errou ou acertou, que bateu ou apanhou, que se chocou ou
desviou, que ficou parada ou se movimentou, que correu, mas não chegou, que invadiu a quadra, que
tocou na rede, que perdeu o gol e assim por diante. Ela pode ir da qualidade e desempenho mínimos aos
máximos, vai ser xingado ou positivamente aclamado – por todos.

Será que o professor de Educação Física na escola e o profissional de Educação Física da iniciação
esportiva estão realmente atentos às consequências emocionais e morais que o desempenho melhor ou
pior pode causar nessas crianças? Aliás, muitas dessas crianças já podem ser pré-adolescentes.

6.4 Adolescência

A adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta, e que envolve grandes
mudanças físicas, cognitivas emocionais socioculturais, ela tem início entre 10 e 12 anos de idade e
término entre 18 e 20 anos de idade.

105
Unidade II

Observação

Historicamente, a adolescência começa a receber atenção como um


período diferenciado no ciclo de vida após a Revolução Industrial (final do
século XIX). A obra considerada pioneira no assunto foi Adolescence (HALL
apud PAPALIA; FELDMAN, 2013).

O início da adolescência é marcado por um evento de natureza biológica: a puberdade. A puberdade


é o processo que leva à maturidade sexual, isto é, o indivíduo é capaz de se reproduzir.

Em outras palavras, puberdade é o período de mudanças morfofisiológicas que transforma


a criança num adulto capaz de se reproduzir. Ela pode variar em relação a início, duração e
sequência dos eventos.

6.4.1 Domínio físico

Em relação ao domínio físico, ocorrem as seguintes alterações:

• Regulação neuroendócrina – nessa fase, ocorre produção diferenciada de hormônios para


meninos (andrógenos) e meninas (estrógeno). Além da possibilidade de reprodução, outras
consequências dessa diferenciação hormonal são: a) aumento muito expressivo de força
no sexo masculino, comparativamente ao que ocorre nas garotas, embora elas também
aumentem a força em relação à terceira infância; b) o aumento de gordura no sexo feminino,
além de uma distribuição diferenciada dessa gordura (nas coxas, nos quadris e nas mamas),
relacionada à possibilidade de fertilização.

• Desenvolvimento gonadal, isto é, dos testículos (nos meninos) e dos ovários (nas meninas).

• Aparecimento e grande proliferação de pelos nas regiões genitais, nas axilas e proliferação nos
membros inferiores; no menino, aumento de quantidade de pelos também no rosto.

• Estirão de crescimento: é o crescimento acelerado dos membros e da altura. Os membros crescem


antes do tronco, no sentido dístero-proximal, ou seja, nos membros inferiores, nesta sequência:
pés, pernas, coxas, e nos membros superiores, mãos, antebraços, braços.

O estirão de crescimento dura de 1 a 2 anos, com um crescimento de mais ou menos 5 cm/ano.

Durante o estirão, ocorre desenvolvimento do sistema circulatório e respiratório.

O estirão de crescimento, bem como as outras características da maturação sexual, ocorrem, em


média, dois anos antes na garota do que no garoto.

106
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

É importante saber que o término do estirão e o fechamento das cartilagens ósseas marcam o final
da puberdade.

No que se refere à prática de atividade física e aumento da estatura, não se pode afirmar que
esta acelera ou retarda o crescimento da estatura da criança, mas pode-se dizer que há um aumento
da densidade óssea. Contudo, supõe-se que atividade física em excesso (especialmente o excesso de
sobrecarga), pode prejudicar o crescimento da estatura e mesmo da cartilagem óssea. Alguns aspectos
sobre treinamento esportivo e sistema musculoesquelético encontram-se logo adiante.

6.4.2 Desenvolvimento cognitivo e moral

De acordo com Piaget, o adolescente encontra-se no estágio das operações formais (aproximadamente,
dos 12 anos de idade em diante), cujas características, entre outras, são a capacidade de pensamento
abstrato, distinguindo o que poderia ser “real” e o que seria apenas imaginário, de acordo com várias
possibilidades. Assim, entende-se que o seu raciocínio seja hipotético-dedutivo, que se apresenta do
seguinte modo:

• Pensam em possibilidades e testam hipóteses (“Se..., então...”).

Há maior flexibilidade para lidar com problemas, pois ao analisar várias possibilidades, teriam
mais condições de tomar decisões. Contudo o “pensamento maduro” envolveria também a solução de
problemas do cotidiano, o que é mais difícil para o adolescente. Nesse sentido, a tomada de decisões, por
exemplo, embora seja um aspecto cognitivo, tem estreita relação com o domínio emocional.

Figura 40 – Cérebro humano maduro. Um dos símbolos do desenvolvimento cognitivo

107
Unidade II

Quanto ao julgamento moral, as meninas são mais maduras do que os meninos no final da
infância e na adolescência por causa das brincadeiras em pequenos grupos, típicas do comportamento
feminino, que envolvem conversação e imitação do padrão adulto, bem como o não encorajamento à
competitividade nas meninas. Da fase universitária em diante, essa diferença entre os gêneros tende a
diminuir e desaparecer (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

O desenvolvimento cognitivo está bastante associado ao grupo social do qual o adolescente


participa, sobretudo no desenvolvimento do raciocínio lógico, mediante o confronto de ideias. A
própria necessidade de ser aceito pelo grupo – mesmo porque o interesse por sexo e por ser amado
estão exacerbados – contribui para que o adolescente aumente as estratégias de convívio. Por isso,
há que se estar atento a adolescentes que buscam o isolamento, ou involuntariamente são impelidos
por outros a se isolar.

Figura 41 – Adolescente diante do computador

Saiba mais

O filme a seguir lida com valores morais com base em comportamentos


desviantes no ambiente escolar de cinco adolescentes, os quais vão
mostrando uns aos outros como realmente são.

O CLUBE dos cinco. Dir. John Hughes. EUA: A&M Films. 1985. 97 minutos.

108
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 42 – Adolescentes em fliperamas

Figura 43 – Adolescentes comendo lanches

6.4.3 Desenvolvimento motor

Espera-se um aumento na complexidade das ações motoras nas diferentes classes de movimentos
(estabilização, locomoção, manipulação de objetos).

Ocorre aquisição (aprendizado) de novas habilidades e inovação de ações motoras especializadas –


seja no âmbito recreativo, esportivo, artístico, ocupacional ou funcional.

Em outras palavras, espera-se que nas outras fases do desenvolvimento motor, as crianças tenham
aprendido habilidades motoras básicas e sua combinação. Assim, a adolescência seria correspondente a
109
Unidade II

uma fase em que se aprendem habilidades mais complexas, envolvendo, por exemplo, menor tempo de
resposta a eventos externos, melhor timing coincidente, maior tomada de decisão para realizar as ações
motoras de jogos, esportes, atividades de trabalho etc.

Figura 44 – Adolescentes praticando esporte (rugby)

O esporte torna-se uma forma de socialização, demonstração de rigor físico, tomada de decisão,
habilidade motora, espírito de equipe e respeito às diferenças.

Como se verifica na figura a seguir, a prática de atividades físicas vigorosas era comum na Antiguidade
também entre os adolescentes.

Figura 45 – Adolescentes em treinamento de luta na Grécia Antiga. (Museu de Arqueologia, Atenas, Grécia, 2011)

110
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

6.4.4 Desenvolvimento emocional e sociocultural

Segundo Elkind (apud PAPALIA; FELDMAN, 2013), a pouca experiência leva a atitudes e comportamentos
imaturos em comparação com o que se espera de um indivíduo adulto, como, por exemplo:

• encontrar defeitos nas figuras de autoridade;


• tendência a discutir, o que consiste em exercício de argumentação;
• indecisão em situações consideradas simples, já que o número de possibilidades aumentou;
• acreditar que as pessoas estão sempre pensando nele ou em si mesmas;
• suposição de invulnerabilidade, isto é, de que as consequências drásticas de atos perigosos não
acontecerão com ele e sim somente com outras pessoas.

Outras características importantes:

Nessa fase, ao contrário da fase anterior, há grande interação e necessidade de aceitação tanto pelo
sexo oposto como pelo mesmo sexo (conforme já exposto).

Os pares (grupos de amigos) tendem a ser formados por pessoas que têm características semelhantes
já desde o final da infância. As amizades tornam-se mais íntimas e a maior parte do tempo, o adolescente
está com os amigos.

Figura 46 – Amigas adolescentes

Há certo afastamento em relação aos irmãos.

Ocorrem crises de identidade. (Perguntas frequentes: “Quem sou eu? Que profissão eu quero exercer?
O que faço no mundo?” etc.).

A delinquência crônica (comportamento antissocial) está associada a múltiplos fatores de risco,


como: criação inadequada, fracasso escolar e baixo nível socioeconômico. Os adolescentes que, quando
111
Unidade II

mais jovens, eram agressivos ou frequentemente se envolviam em problemas de comportamento (por


exemplo, mentir, cabular aula, roubar, ter mal resultado nos estudos) têm maior probabilidade de se
tornarem delinquentes crônicos (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Os pais têm influência direta nesse comportamento porque: a) na segunda infância (dos três aos
seis anos de idade), deixaram de reforçar o bom comportamento ou foram severos e/ou inconsistentes
demais; b) ao longo dos anos, não tiveram envolvimento íntimo positivo com a vida das crianças;
c) durante a adolescência dos filhos, continuam com educação inadequada e, quando aplicam punição,
elas são apenas sermões e ameaças, mas não tomam atitudes concretas, efetivas e nem explicativas, ou
seja, ele não é levado a refletir a respeito de sua conduta inadequada.

Portanto, prevenir a delinquência parece ser a melhor forma de combatê-la, mas é necessária
a participação positiva e contínua dos pais na vida da criança e do adolescente, com certo grau de
autoridade e atitudes que sirvam de exemplo de comportamento ético.

Outros problemas na adolescência e que apresentam relação direta com uma educação familiar
inadequada são:

• o consumo de bebidas alcoólicas, o tabagismo e o consumo de outras drogas ilícitas;


• a anorexia (diminuir drasticamente a ingestão de alimentos, até finalmente parar de comer) e a
bulimia (ingestão compulsiva e excessiva de alimentos que propiciam prazer, seguida de vômito;
é comum também o uso de laxantes).

Cada um desses hábitos ocorre mediante uma interação complexa de fatores, em especial os fatores
de desequilíbrio emocional e reforço sociocultural equivocado (“errado”), como, por exemplo, fumar ser
considerado indicativo de masculinidade ou deixar de comer para ser magra e, portanto, fisicamente
mais desejável. Esses comportamentos podem se estender à vida adulta. Todavia, com orientação
adequada e intervenção de profissionais das áreas de saúde, podem ser evitados e combatidos já desde
a própria adolescência.

Figura 47 – Crianças e adolescentes orando em ambiente escolar (possivelmente de origem asiática)

112
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Saiba mais

O filme a seguir tem como pano de fundo os dilemas de uma jovem


adolescente, relacionados à descoberta do amor e do sexo com parceiros
sexuais de diferentes sexos, conduzindo-a a se questionar sobre sua
identidade, autoaceitação e aceitação pelos outros, em especial seus pais.

AZUL é a cor mais quente. Dir. Abdellatif Kechiche. França: Quat’sous


Films. 2013. 187 minutos.

Este outro filme, nacional, aborda as descobertas sexuais de um garoto


adolescente, enquanto vive o conflito de saber que seu pai, separado de sua
mãe, tem um relacionamento estável com outro homem. Trata também do
tema do suicídio.

AS MELHORES coisas do mundo. Dir. Lais Bodanzky. Brasil: Buriti Filmes.


2010. 106 minutos.

6.4.5 Para mais reflexões sobre Educação Física na adolescência e atuação profissional

6.4.5.1 Afetividade e aspectos corporais

Pode-se pensar em uma situação professor-aluno ou profissional-cliente em Educação Física, em que


se ensine uma habilidade motora na qual seja-se bastante habilidoso, por exemplo, o fundamento do
voleibol “saque por cima”. Aula após aula, cada uma com muitas tentativas, exigem grande esforço: arranjos
e rearranjos do aparelho locomotor (que envolve ossos, músculos, ligamentos tendões e as articulações),
estimativas de posicionamento dos membros superiores e inferiores e do tronco para atingir equilíbrio e
alcançar a bola, timing coincidente entre a palma da mão e a bola – numa trajetória que requer força e
direcionamento adequados, a fim de que a bola ultrapasse a rede, caindo na quadra do adversário.

Quando essa pessoa atingir esta finalidade: passar a bola para o outro lado mediante o padrão de
movimento denominado saque por cima, será imensa sua alegria e não menos alegre fica quem ensina.

Contudo, quando esse executante superar seu próprio desempenho e o de seu instrutor (professor,
técnico), ocorrerá uma relação intersubjetiva das mais prazerosas e apaixonantes porque o instrutor é
a um só tempo mediador, espectador e vencedor: o mediador de uma melhora qualitativa – não de um
gesto ou um desempenho, mas de “um corpo vencedor”, uma pessoa – o espectador, que aguarda e
admira o resultado, e o vencedor, pois também assim se sente, como um corpo que vivenciou sensações
parecidas com as do executante, não por simples analogia, mas por ser já ter sido atleta na mesma
modalidade esportiva.

113
Unidade II

Nesse momento, tudo o que pode representar uma novidade para ambos (o instrutor e o executante),
convertem-se também por re-sensações: de já ter executado algo semelhante, mas não totalmente
igual, dos erros e acertos por que se passa durante o processo de aprendizagem motora, da tensão a
cada nova tentativa, de como a persistência foi recompensada pelas sensações corporais. Pode-se dizer
que para o profissional/professor, é difícil decidir o que é melhor: ser executante ou ser instrutor...

Sabemos que no Ensino Médio (quando não, antes), tanto quanto possível, o estudante – e com maior
frequência, a estudante – tenta se esquivar das aulas de Educação Física, não apenas porque as julgam
desinteressantes, mas por (e talvez principalmente) não querer exibir “seu corpo” em transformação e nem
uma falta de competência motora (que não deixa de estar atrelada ao corpo em transformação). Na mesma
linha do que mencionamos sobre a relação profissional-cliente, questionamos: seria a vivência escolar um
dos fatores que impulsiona a pessoa a fugir de seu corpo, a buscar um corpo diferente para si – como o
corpo de outros (esportistas, modelos profissionais, atores)? Será que, de certa forma, o que se inicia na escola
acaba por se perpetuar por toda a vida? Em contrapartida, há pessoas que realmente não se preocupam com
a forma e nem com o funcionamento do corpo? Se sim, por quê? A preocupação com a forma do corpo se
daria do mesmo modo se não deparássemos com o corpo do outro? Afinal, o que há nas subjetividades e na
intersubjetividade que faz desejar um ou outro corpo e necessitar de um ou de outro?

Figura 48 – Adolescente triste e/ou preocupado

6.4.5.2 Cuidados com lesões e alterações no aparelho locomotor na criança e no


adolescente atleta

Matsudo (2009) alerta a respeito de alterações osteomusculares na prática esportiva de crianças e


adolescentes. A seguir, de forma sucinta, apresentam-se microtraumas e macrotraumas.

Um microtrauma é um trauma oriundo de repetição excessiva, que produzirá lesão no tecido,


surgindo, assim, as lesões por overuse (“excesso de uso”). Todavia, ele por si só não causa dor, edema
114
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

(inchaço por acúmulo de líquido) ou impotência funcional, mas por isso mesmo é perigoso, pois nem
sempre é fácil de ser detectado. Os tipos de demicrotraumas podem ser divididos em: articulares, ósseos,
musculares e tendinosos.

Macrotraumas, portanto, visualmente perceptíveis, são divididos em: contusões; roturas musculares;
ferimentos; lesões articulares: entorses, subluxações, luxações; lesões ósseas (as fraturas), lesões
nervosas; lesões articulares.

As alterações posturais podem envolver: coluna vertebral, quadril, joelhos e pés. As dores na criança
devem ser sempre valorizadas, especialmente nas articulações. No caso de fraturas, não se deve tentar
recolocar o osso no lugar natural, pois as consequências podem ser maiores do que a lesão original
(MATSUDO, 2009).

Segundo o autor (MATSUDO, 2009), as recomendações de prática de exercícios físicos para crianças
e adolescentes preconizam que a duração deveria ser de pelo menos 60 minutos de atividade física
moderada, sendo recomendável também que se envolvam em atividades vigorosas, durante 20 minutos,
duas ou três vezes por semana.

Resumo

Uma vez reconhecida a divisão por faixas etárias, inicia-se o estudo


das diversas fases que se estendem desde a vida intrauterina até a terceira
idade, porém com ênfase em todo esse primeiro período de vida, de
aproximadamente 20 anos: da concepção ao final da adolescência.

A concepção e algumas noções sobre genética são importantes para


a compreensão do crescimento e desenvolvimento pós-parto, assim
como os tipos de parto mais comumente realizados. Os nove meses de
gestação foram apresentados passo a passo, denotando o crescimento e
desenvolvimento do bebê, também em relação com a gestante e alguns
cuidados a se tomar, incluindo-se a prática de exercícios físicos nessa fase.

O período dos 20 anos iniciais de vida é marcado por um crescimento


quase ininterrupto em estatura. Contudo, há duas etapas, em especial, em
que esse crescimento é intensamente acelerado: os primeiros seis meses de
nascido e o chamado estirão de crescimento, na puberdade. No primeiro,
o crescimento se dá no sentido proximodistal e, no segundo período, no
sentido disteroproximal. Na terceira infância (antes denominada fase de
latência), esse crescimento ocorre linearmente e há pouca variação ao se
comparar meninos e meninas.

O aleitamento materno foi enfatizado com vistas a se refletir sobre


a sua real necessidade, pois parece haver certa resistência de várias
115
Unidade II

mulheres em se conscientizarem da importância de mais esse vínculo


entre mãe e bebê.

O desenvolvimento cognitivo é muito expressivo em todas essas


idades. Na primeira infância, destaca-se a forte relação entre maturação
cerebral, domínio motor (equilíbrio, locomoção e manipulação de objetos)
e aprendizado da linguagem verbal; na segunda infância, ocorre notório
aprimoramento dessas e de outras habilidades, em especial a manipulação
de objetos, que tem um forte apelo sócio-cultural, principalmente pelo
manuseio de instrumentos para a escrita. O uso correto da linguagem se
intensifica, corroborando o início da leitura e produção de textos, assim
como o reconhecimento de numerais e cálculo de operações aritméticas
simples, como somar, subtrair, multiplicar e dividir.

A escola passa definitivamente a fazer parte da vida das crianças cada


vez mais cedo, especialmente nas regiões mais urbanizadas. Ela será um
grande (senão o maior) meio de socialização e “culturalização” da criança,
muitas vezes, desde a primeira infância, em razão da dificuldade de os pais
cuidarem dos filhos em suas próprias residências, por causa da demanda de
trabalho fora do lar. Isso gera expectativa nem sempre positiva por parte da
mãe, que pensa ter “perdido” o afeto de seus filhos.

A esportivização de crianças e adolescentes merece ser comentada, pois


é necessário tomar certos cuidados com lesões que afligem principalmente
o sistema músculo-esquelético, com possibilidade de limitar o bem-estar
dessas pessoas.

A adolescência é um período intermediário entre a fase infantil e a


fase adulta, correspondendo a um período de intensas mudanças físicas,
notadamente pelo crescimento e amadurecimento dos órgãos genitais,
com modificações em sua estrutura e função: garoto e garota são capazes
de gerar uma nova vida. Há que se ter cuidado para, uma vez iniciada a vida
sexual, não correr risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis.

Há muitos tabus a respeito do corpo, de suas medidas (falta ou excesso


de gordura, por exemplo) e da sensualidade, a qual está diretamente
atrelada a essa nova configuração corporal e arranjo hormonal.

Essas drásticas mudanças físicas geram estranhamento e expectativas no


adolescente em relação a si mesmo e a tudo o que o cerca. O desenvolvimento
cognitivo apresenta memória e raciocínio lógico com razoável maturidade,
potencializando os questionamentos e a angústias a respeito da identidade do
adolescente e de seu grupo, bem como contestando as figuras de autoridade
como pais, professores e outros (“teoricamente”) superiores hierárquicos.
116
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

O contato precoce com bebidas alcoólicas e tabagismo é mais


um motivo de preocupação, assim como atitudes delinquentes, cuja
origem parece residir no distanciamento e certa negligência por parte
dos pais e cuidadores.

O professor e o profissional de Educação Física precisam


estar sensibilizados e atentos a comportamentos muito evasivos
ou extremamente chamativos e ter a iniciativa de auxiliar no
desenvolvimento positivo dessas faixas etárias.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2004)

Níveis elevados de força e de potência são impossíveis se a criança não tiver alcançado a
maturidade neurológica

porque

a mielinização de uma grande parte dos nervos motores é incompleta até a maturidade sexual e,
deste modo, o controle neurológico fica limitado até esse momento.

A esse respeito, pode-se concluir que

a) As duas afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.

b) As duas afirmativas são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.

c) As duas afirmativas são falsas.

d) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa.

e) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: o controle neuromuscular necessário para a realização de elevados níveis de


força somente acontece com a maturidade neurológica, quando os neurônios motores terminam
de ser mielinizados.
117
Unidade II

II – Afirmativa correta.

Justificativa: a maturidade neurológica coincide com a maturidade sexual, quando o jovem passa a
ter maior capacidade de realização de força. Essa afirmativa justifica a primeira.

Questão 2. (Enade 2004) O professor Henrique vai dar uma aula de voleibol para uma turma
de crianças com 8 a 10 anos, de ambos os sexos e ainda não iniciadas na prática deste esporte. O
material que o professor tem à sua disposição é satisfatório e o número de alunos é em torno de 20.
Considerando tais condições, o procedimento metodológico mais adequado para a concepção aberta
(ou global) de aula é:

a) Separar as crianças por sexo.

b) Separar as crianças por altura e idade.

c) Fundamentar as atividades em jogos de estafetas.

d) Apresentar as regras do desporto para que as crianças as memorizem.

e) Adaptar as regras do desporto à faixa etária das crianças promovendo o desenvolvimento da aula
através do jogo.

Resposta desta questão na plataforma.

118
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Unidade III
7 MATURIDADE ETÁRIA

Em primeiro lugar, é importante relembrar que o processo de desenvolvimento é um continuum,


ou seja, não é algo que seja interrompido, uma vez que modificações (mudanças) e manutenções
(estabilidades) são próprias desse processo ao longo de toda a vida. Com base nesse entendimento,
não é correto afirmar, por exemplo, que um adulto (ou uma pessoa em qualquer idade) que sofre
um acidente e vem a ficar tetraplégico, isto é, sem conseguir movimentar os membros superiores e
inferiores, teve uma interrupção no desenvolvimento motor; o que ocorre são modificações drásticas,
incluindo-se a adaptação a outros tipos de movimentos, por exemplo, manipulação de objetos com a
boca e assim por diante.

Considerando-se, portanto, essa condição de continuidade no processo de desenvolvimento,


apresentam-se certas características próprias das faixas etárias na qual se divide a idade adulta:

• Adulto jovem (ou início da idade adulta) – de 20 a 40 anos de idade.

• Adulto de meia-idade (ou vida adulta intermediária) – de 40 a 65 anos de idade.

• Terceira idade (ou vida adulta tardia ou velhice) – de 65 anos de idade em diante.

Convém destacar também que, embora o processo de envelhecimento esteja acelerado na terceira
idade, o adulto jovem já está envelhecendo, a partir dos 30-35 anos de idade, sobretudo por causa de
alterações nos hormônios, acarretando modificações que serão descritas adiante.

Outro aspecto importante a ser observado é o grande período de vida que abrange essas faixas
etárias: perfazendo, na soma, mais de 40 anos de vida, ou seja, um tempo bastante considerável quando
se pensa em processo de desenvolvimento humano.

Ao pensar no ciclo de vida abrangendo todas as faixas etárias – da gestação até a terceira
idade – nota-se que embora o período que se estende da concepção até a adolescência seja de
aproximadamente 21 anos, no total, nele acontecem mudanças drásticas, como, por exemplo, o
crescimento em estatura (em especial, no primeiro ano da infância e na puberdade/adolescência);
entretanto, na idade adulta e terceira idade, a pessoa não mais crescerá no sentido longitudinal.
Por outro lado, o processo de envelhecimento é bastante longo, pois se inicia na terceira década
de vida – uma vida que, supostamente, tenderá a atingir ao menos 70 anos de idade; ou seja,
uma pessoa demora cerca de 20 anos para atingir a maturidade física e cerebral, porém passa
aproximadamente 40 anos – ou mais – envelhecendo...

119
Unidade III

7.1 IDADE ADULTA

7.1.1 Adulto jovem (ou início da idade adulta) – de 20 a 40 anos de idade

Domínio sensorial e cognitivo

As modificações sensoriais e cognitivas, conforme já indicado, são tendências, uma vez que há
muitas variações entre diferentes indivíduos.

• Acuidade visual (“precisão” visual): mais acentuada dos 20 aos 40 anos de idade.

• Paladar, olfato, sensibilidade à dor e à temperatura: inalterado até 45 anos de idade.

• Audição: declínio a partir da adolescência e mais evidente a partir dos 25 anos (especialmente no
que se refere a sons agudos).

A teoria dos estágios de Piaget, já estudada, não contempla explicações para o desenvolvimento
cognitivo na idade adulta e terceira idade.

Figura 49 – Adulta jovem jogando xadrez

Domínio físico e motor

No desenvolvimento físico, em geral, é quando o ser humano atinge o auge da força, energia e
resistência, em especial até os 30 anos de idade.

Há uma grande diversidade de habilidades motoras complexas, ou seja, que envolvem muitos
estímulos – respostas e tomada de decisão diminuem mais.

Os comportamentos diretamente relacionados à saúde e muito importantes nessa fase são: dieta,
tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas (além das drogas ilícitas), prática de exercícios físicos.

120
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Há que se tomar cuidado com a ingestão de gorduras, especialmente os homens, pois elas se
acumulam na região abdominal e são lançadas facilmente na corrente sanguínea. Nas mulheres, o
estrogênio protege contra a LDL (colesterol “ruim”) diminuindo-a, e aumentam a HDL (colesterol
“bom”).

Recomendações alimentares para adultos:

• realizar exame de colesterol a cada cinco anos. Se os resultados forem desfavoráveis: repetir os
exames a cada dois anos. Também é importante considerar histórico familiar de doença cardíaca,
idade avançada (45 para homens e 55 para mulheres), tabagismo e hipertensão arterial.
• ingerir menos gema de ovo e substituir gorduras saturadas (carne, queijo e leite) e gorduras
transformadas (margarina, bolos, tortas) por poli-insaturados (óleo de girassol, de açafrão) ou
mono-insaturados (azeite de oliva);
• ingerir mais fibras (aveia, feijão, frutas e legumes).

Note-se que essas recomendações não são absolutas, variando de acordo com recomendações
médicas específicas a cada pessoa.

Figura 50 – Silhueta de homem obeso caminhando

Fumo (tabaco): é a causa de morte que mais pode ser prevenida, ou seja, depende quase que
exclusivamente da própria pessoa.

• Fumantes ativos: cerca de 400.000 americanos por ano morrem.


• Fumantes passivos (que inalam fumaça dos fumantes): mais de 50.000 americanos por ano morrem.

Outros efeitos do fumo são: cânceres (pulmonar, de laringe, bucal, de esôfago, de vesícula, de
rins, pancreático e de pele); problemas gastrintestinais – úlceras; doenças respiratórias (bronquite
121
Unidade III

e enfisema); doenças cardíacas; maior declínio (5% a 10%) da densidade óssea em mulheres
pós-menopausa e em homens.

Alguns dados importantes são os seguintes:

• Adultos entre 30 e 40 anos de idade: fumantes têm cinco vezes mais chances de sofrer ataques
do coração.

• Mulheres: o uso de anticoncepcionais orais em doses altas, associado ao fumo, aumenta o risco
de sofrer ataques do coração.

• Fumantes de cachimbo e de charuto: menor chance de sofrer ataque cardíaco do que os de


cigarro, mas correm mais riscos de adquirir câncer de lábio, língua e outras regiões da boca.

A saúde dos fumantes tende a melhorar imediatamente após largarem o hábito de fumar (o risco do
câncer é o que demora mais para diminuir – cerca de dez anos).

Álcool: dependência química maior do que a causada pelo fumo, e que não necessita só de força de
vontade para ser abandonada, pois o alcoolismo é uma doença crônica, que envolve períodos de recaída.

Constituem fatores que influenciam o alcoolismo:

• herança genética (quatro vezes mais chances, principalmente nos homens);

• parentes alcoólatras (ou alcoolistas)(três a quatro vezes mais chances);

• preço e disponibilidade da bebida;

• atitudes culturais que reforçam seu consumo e abuso;

• a sensação da pessoa quando bebe.

Os tratamentos – não representam cura, mas podem diminuir a dependência e ensinar a pessoa a
levar uma vida produtiva. São eles:

• desintoxicação – retirar o álcool de todo o corpo;

• hospitalização;

• remédios e vitaminas;

• psicoterapia individual ou em grupo;

• afastamento de todas as drogas que causam alteração de humor;

• envolvimento positivo da família e encaminhamento a uma organização de apoio.


122
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Prática de atividade física

A recomendação é ao menos meia hora por dia de exercícios moderados, especialmente para evitar
problemas do sistema cardiovascular.

O esforço excessivo na prática de exercícios físicos, além de não trazer benefícios, pode ser prejudicial,
especialmente quando a pessoa tem doença respiratória. Como consequência, prejudica o sistema
imunológico, aumentando a suscetibilidade a infecções.

Figura 51 – Adulto muito jovem com grande preocupação com a estética corporal, na tentativa
de seguir um padrão magro, forte e com “definição” muscular

Figura 52 – Davi de Michelangelo. (Statue of David, Nova Iorque)

123
Unidade III

Observação
“Definição” muscular – desenho que o músculo forma quando
está fortalecido pela prática constante de exercícios resistidos
(popularmente chamada de musculação) e as quantidades de gordura
ao seu redor são mínimas.

Desenvolvimento emocional e sociocultural

O domínio emocional no jovem adulto ainda é um tanto frágil. Aliás, não há garantias de melhoras
qualitativas ao longo da idade adulta e terceira idade.

O jovem adulto muitas vezes ainda tem de fazer ou efetivar muitas escolhas: escolher um parceiro
permanente (ou não), uma profissão, o curso superior e qual carreira seguir etc. A relação com outras
pessoas de mesma idade continua muito importante, bem como o ímpeto de seduzir social e sexualmente.

Figura 53 – Casal de jovens

Figura 54 – Aconselhamento sobre divórcio

É comum que se desfaçam relacionamentos amorosos iniciados na adolescência.

124
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Socialmente, a saída da casa dos pais tem sido prorrogada, bem como a união conjugal. Isso parece
ser uma tendência para o futuro.

A ansiedade e a depressão parecem se constituir em um binômio, com “uma linha tênue” entre uma
e outra, pois o excesso de ansiedade pode gerar um senso de falta de autorrealização, sobretudo quando
a pessoa começa a se comparar com outras que ela julga mais bem-sucedida do que ela, em vez de
refletir a respeito de sua própria trajetória. Então, de repente ou aos poucos, ela se vê sem vontade de
continuar, como se fosse incapaz de cumprir suas metas e expectativas.

A depressão tem tratamento psiquiátrico e/ou psicológico e é reversível na maioria dos casos.

Não apenas as diferenças interindividuais já podem ser bastante grandes nessa fase como
tendem a aumentar, uma vez que as pessoas vão tecendo sua história de vida das mais diferentes
formas e pelos mais diversos caminhos.

Figura 55 – Jovens em roda. Uma disposição espacial comum para diálogos em grandes grupos

Figura 56 – Expressão de preocupação ou depressão

125
Unidade III

Saiba mais
O filme nacional a seguir explicita um dilema familiar complicado – o
incesto – bem como a rigidez é o contraponto entre criação materna e
paterna em uma família de tradições fortes do Sul do Brasil.
LAVOURA arcaica. Dir. Luiz Fernando Carvalho. Brasil: VideoFilmes. 2001.
172 minutos.
O filme a seguir apresenta relações de questionamento sobre ética no
âmbito do trabalho de uma jovem adulta.
DOIS dias, uma noite. Dirs. Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne. Bélgica:
Les Films du Fleuve. 2014. 95 minutos.

7.1.2 Adulto de meia idade (ou vida adulta intermediária) – de 40 a 65 anos de idade

Domínio físico e motor

Perda de 10 a 30% da função dos principais sistemas biológicos, em comparação com os valores
máximos, quando a pessoa era um adulto jovem.

• O declínio nas funções biológicas é, muitas vezes, compensado pela mudança do estilo de vida –
lazer, alimentação, prática sistemática de atividade física.
• Grandes diferenças individuais, mesmo no aspecto físico e para pessoas de mesmo sexo e mesma idade.
• Principais causas de morte: câncer, doenças cardíacas e derrame. Mulheres são mais suscetíveis a
doenças cardíacas e a osteoporose.
• Taxas de mortalidade: mais altas para os homens do que para mulheres.

Quadro 7 – Mudanças nos aparelhos reprodutivos e em outras características


sexuais de homens e mulheres na meia-idade

Mulheres Homens
Mudanças hormonais Queda de estrogênio. Queda de testosterona.
Calores fortes; secura vaginal;
Sintomas Não há uma descrição típica.
disfunção urinária.
Excitação menos intensa ou inexistente;
ereções menos frequentes e orgasmos
Excitação menos intensa; orgasmos
Mudança no comportamento sexual mais lentos; recuperação mais
menos frequentes e mais rápidos. demorada entre ejaculações; maior
risco de disfunção erétil.
Continua.
Capacidade reprodutiva Término. Eventual diminuição na fertilidade.

Adaptado de: Papalia; Feldman, (2013).

126
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

O domínio motor passa por alterações próprias do processo de envelhecimento, associadas a declínios
nas capacidades físicas de força e flexibilidade, por exemplo, o que pode influenciar o desempenho
motor em tarefas esportivas ou outras que demandem essas capacidades. Por outro lado, habilidades
motoras aprendidas anteriormente não se modificam no que se refere ao padrão de movimento, embora
possam vir a ser executadas mais lentamente.

Figura 57 – Adulto de meia-idade manipulando habilmente uma bola de futebol com os pés (Atenas, Grécia)

Domínio sensorial e cognitivo

Na idade adulta intermediária, é comum que a pessoa opte por uma nova profissão ou volte a
estudar, faça outra graduação ou adquira novos hábitos de saúde, lazer e alimentação. A demanda de
solução de problemas do cotidiano permanece, mas ela está a caminho de mais sabedoria, ou seja, sabe
como lidar com adversidades com certo controle emocional. Há grandes demandas de organização da
vida, em especial nas grandes cidades.

Há uma gradativa perda sensorial, principalmente relacionada à visão e audição, o que tende
a continuar na terceira idade. Por outro lado, parece haver uma compensação dessas perdas em
virtude de ampla experiência. Por exemplo, operários de meia-idade são menos propensos a sofrer
acidentes de trabalho.

É possível observar, portanto, que muitas características que declinam na terceira idade têm seu início
em outras fases da idade adulta. Ocorre que, na maior parte dos casos, algumas dessas características
serão percebidas pelas pessoas somente na terceira idade, chegando a comprometer suas mais variadas
atividades de vida diária, conforme comentado anteriormente.

Mesmo o mal de Alzheimer, considerado uma doença típica da velhice, pode acometer pessoas já
nessa fase da idade adulta intermediária.

127
Unidade III

Saiba mais

O filme a seguir retrata uma mulher na idade adulta intermediária,


professora universitária bem-sucedida e mãe de família, que passa a sofrer
de uma doença degenerativa associada à perda de memória.

PARA SEMPRE Alice. Dirs. Richard Glatzer, Wash Westmoreland. EUA:


Lutzus-Brown. 2015. 101 minutos.

Domínio emocional e sociocultural

Nessa fase da vida, não é raro, em nosso país, a pessoa já gozar de aposentadoria, ter criado os filhos,
ter mudado de estado civil e, muitas vezes, estar em um segundo matrimônio ou união estável e assim
por diante. Há certa independência financeira e busca por outras profissões e ocupações.

Diferentemente do que acontecia cerca de meio século atrás, as mulheres brasileiras em sua maioria
trabalham fora do ambiente doméstico, têm seu próprio negócio (atividades empresariais e afins) e
muitas vezes sustentam o lar sem o auxílio de um cônjuge ou outro parente. Essa é uma modificação
social bastante importante nessa faixa etária, chegando a ocorrer até mesmo famílias em que o homem
(pai de família) cuida do lar, ao passo que a mulher é quem sai para trabalhar.

Figura 58 – Crianças e adulto atravessando o rio. Encontro de diferentes gerações

Com o aumento da quantidade de divórcios e formação de uma segunda família com cônjuges e
filhos de uma segunda união, a configuração das famílias brasileiras está se modificando. Cresce também
o número de casamentos e uniões estáveis entre pessoas de mesmo sexo. Esse fenômeno, aliás, não se
restringe a essa faixa etária de meia-idade, mas inclui pessoas mais jovens, que tendem a apresentar
128
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

menos vergonha desse tipo de relacionamento perante o restante da sociedade. Convém destacar que a
união homoafetiva (entre pessoas de mesmo sexo) é amparada pela lei.

Tem-se tornado ainda mais frequente a busca por novas carreiras e profissões, bem como mudança
de escolha por uma crença ou religião.

Figura 59 – Adultas jovens, de meia-idade e idosas trabalhando juntas e em atividade semelhante

Em suma, pode-se afirmar que uma vez alcançada certa estabilidade financeira, profissional
e afetivo-emocional, as pessoas de meia-idade têm modificado suas escolhas e estilos de vida, em
especial nos grandes centros urbanos (cidades grandes e com uma população expressiva e culturalmente
diversificada, no caso de nosso país).

É também nessa fase que muitas pessoas retomam ou iniciam a prática sistemática (isto é, organizada
e constante) de atividade física.

Saiba mais

O filme a seguir apresenta um pequeno grupo de pessoas na passagem


da idade adulta madura para a terceira idade, suas descobertas conjugais,
ajustes e rupturas quando deparam em condições adversas e divertidas de
uma cultura estranha à deles.

O EXÓTICO hotel Marygold. Dir. John Madden. Reino Unido: Blueprint.


2012. 124 minutos.

129
Unidade III

Para mais reflexões sobre Educação Física na idade adulta e atuação profissional

A esta altura, deve estar claro que a Educação Física não é simplesmente o corpo em sua forma,
mas o corpo em sua forma resultante da prática de atividade física. A Educação Física não pressupõe
lipoaspirações, próteses ou retaliações corpóreas. O corpo belo da Educação Física é também o corpo
forte, o corpo que se equilibra, o corpo da autossuperação e do esforço, o corpo do gasto e do ganho
energético, o corpo “em forma” (no aspecto funcional), o corpo em ação. Não basta o corpo ser magro,
pois ele pode ser fruto de alimentação energeticamente deficitária, de muito fumo ou bebida, de noites
maldormidas, de extremo estresse, do consumo de drogas ilícitas etc. Disso decorre que o corpo da
Educação Física é também o corpo regrado, o corpo pensado, o corpo confrontado – antes de tudo,
consigo, mas também com a própria atividade que se pratica e com outros corpos. O corpo do esporte,
em tese, é o corpo-meio e não o corpo-fim, ainda que, em competições de alto nível, não seja difícil
notar o corpo esculpido em função das demandas da própria modalidade esportiva praticada ou que
já “se encaixava” nessas demandas; o mesmo já não se aplica por completo às práticas de academia,
em geral, e talvez por isso seja comum o público que quem pratica esporte, especialmente modalidades
coletivas, não gostar de academia e vice-versa. O que, de fato, está na gênese desses gostos, dessas
práticas? Por quais orientações, intervenções, vivências, as pessoas passaram que as fizeram assim? Que
corpos são e que corpos querem ser?

8 TERCEIRA IDADE

8.1 Compreendendo a velhice

A terceira idade (ou vida adulta tardia ou velhice) é o período que se inicia aos 65 anos de idade e
se estende até o final da vida. Ela pode ser dividida, de acordo com Shepard (2003) nas seguintes fases
e respectivas características (ainda que não de forma absoluta):

• Velhice (ou início da velhice): 65 a 75 anos, perda um pouco maior de algumas funções, porém
sem grandes danos à homeostasia (estado de equilíbrio das diversas funções e composições
químicas do corpo).

• Velhice avançada (ou velhice mediana): 75 a 85 anos, o próprio indivíduo percebe o declínio de
suas funções quando assume muitas atividades diárias, contudo, ainda consegue manter uma
vida relativamente independente.

• Velhice muito avançada: acima dos 85 anos. Há necessidade de cuidados institucionais e/ou de
enfermagem.

É relevante destacar quatro conceitos quando se trata do processo de envelhecimento. São eles:

• Expectativa de vida – idade estatisticamente provável que uma pessoa irá viver, considerando-se
a época e o lugar onde nasceu, sua idade e seu estado de saúde atual. A educação formal parece
influenciar positivamente a expectativa de vida.

130
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

• Longevidade – quanto tempo uma pessoa realmente vive. O máximo estimado para o ciclo de vida
humana é entre 110 e 120 anos.

• Independência funcional – capacidade que a pessoa tem de realizar tarefas diárias sem a ajuda de
outras pessoas.

• Qualidade de Vida (QV) – é um conceito multidimensional, ou seja, envolve aspectos cognitivos,


emocionais, psíquicos, de socialização e de percepção de saúde.

Observação

Percepção de saúde refere-se à percepção do indivíduo sobre sua


posição na vida, em relação a sua cultura, seus valores, objetivos pessoais,
expectativas e preocupações.

Portanto, a relação ótima com a experiência vivida, na opinião do próprio indivíduo, é mais importante
do que as condições reais de vida na determinação da QV.

Mencionados esses conceitos, é importante ressaltar que, em nosso país, a terceira idade vem
passando por muitas modificações ao longo dos anos, sobretudo nas últimas duas décadas.

Uma modificação importante é que a expectativa de vida tem aumentado, sendo


comparativamente maior entre as mulheres do que entre os homens; ou seja, tanto a população
feminina quanto a população masculina têm alcançado idades mais avançadas e, em geral, com
melhor qualidade de vida do que anteriormente. Em outras palavras, não apenas se vive mais,
como também se vive melhor, e as mulheres vivem ainda por mais tempo do que os homens.

Fatores como melhorias no saneamento básico, avanços em pesquisas e aplicações de


conhecimento técnico e de intervenção, oriundos das áreas médica, terapêutica e social –
com políticas públicas voltadas especificamente aos interesses dessa população, assim como
aprimoramento de profissionais em todas as áreas que lidem diretamente com idosos, têm
beneficiado a longevidade dessas pessoas.

E ainda, é importante destacar que no âmbito da legislação, no Brasil, a terceira idade tem
seus direitos assegurados, e a pessoa é considerada idosa a partir dos 60 anos de idade e não
dos 65. Assim, é entendida como uma faixa etária da população com necessidades específicas
diferenciadas, notadamente no acesso a transporte, saúde e outros serviços de natureza pública.
Ademais, assim como a criança e adolescente (conforme Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 –
Estatuto da Criança e do Adolescente), o idoso possui estatuto próprio (Lei n. 10.741, de 1º de
outubro de 2003 – Estatuto do Idoso).

131
Unidade III

Saiba mais

SHEPHARD, R. J. Envelhecimento, atividade física e saúde. São Paulo:


Phorte, 2003.

Essa obra serviu de base para muitas das informações deste último
tema e recomenda-se fortemente que seja consultada, principalmente para
quem pretende investigar mais a respeito de relações entre atividade física
e terceira idade, assim como para quem pretende exercer a profissão, tendo
em vista o bem-estar dessa faixa etária.

8.2 Domínio sensorial e cognitivo

Sabe-se que o sistema sensorial refere-se, de modo simplificado, aos cinco sentidos e à propriocepção.
Ao longo do processo de envelhecimento, ocorrem declínios qualitativos em todo o sistema sensorial,
como descrito a seguir:

• Visão – perdas de acuidade visual (nitidez), dificuldade de enxergar de perto; perdas na visão
dinâmica (ler palavras ao movimentar-se); maior sensibilidade à luz.

• Audição – perda acelerada após os 55 anos de idade, duas vezes mais rápido nos homens do que
nas mulheres.

• Olfato e paladar – declínios: mais nos homens; também por causa de medicamentos.

• Tato – declínios: sensibilidade ao toque (após 45 anos de idade) e à dor (após 40 anos de idade).

• Tempo de reação simples (isto é, uma única resposta a um único estímulo): diminui em cerca de
20%, em média, entre os 20 e 60 anos de idade.

• Gradativa substituição de massa muscular por gordura – Dos 30 aos 80 anos de idade: para
ambos os sexos, aos 65 anos, 30% do corpo é gordura, o que corresponde a cerca de quatro
vezes mais do que se tinha aos 20 anos. Para modificar esse percentual recomenda-se atividade
física associada à dieta.

Modificações cerebrais com o envelhecimento

Algumas das modificações cerebrais com o envelhecimento são:

• diminuição do peso do cérebro;

• diminuição da quantidade total de neurônios, embora a extensão das conexões entre os neurônios
restantes aumente com a idade;

132
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

• perda de 25% das células do cerebelo, que é responsável pelo equilíbrio e pela coordenação mais
refinada; e de 20% das células do hipocampo – região da parte central do cérebro, vulnerável a
danos advindos do aumento da pressão sanguínea;

• processamento de informações mais lento – declínio da rapidez perceptiva (também associado a


perdas nas funções visuais e auditivas).

Algumas informações a serem destacadas:

• Apesar das perdas, o cérebro tem grande capacidade de regeneração na maior parte da vida.

• As diferenças cognitivas individuais em idosos de idades distintas pode ser grande, especialmente
porque podem estar associadas a doenças como o mal de Alzheimer e o mal de Parkinson.

• Se uma pessoa tem boa saúde, vai demonstrar alguma perda de função cognitiva somente após
os 80 anos de idade.

A demência senil é um termo genérico que indica deterioração cognitiva e comportamental com base
fisiológica, decorrente do processo natural de envelhecimento. A maioria é irreversível, especialmente
quando manifestada em pacientes com problemas cardiovasculares, hipertensão, outros pequenos
derrames, mal de Parkinson e mal de Alzheimer.

Observação

Mal de Parkinson é um transtorno neurológico progressivo cujas


características são tremores, rigidez e lentidão dos movimentos, postura
instável; mal de Alzheimer é um transtorno cerebral degenerativo
progressivo que, aos poucos, vai destituindo a inteligência, consciência e
capacidade de controlar as funções corporais da pessoa, levando à morte.

Inteligência

A inteligência, conforme explicitado anteriormente, refere-se a diversas áreas em que há demanda por
solução de problemas da vida diária. Podem ser consideradas duas dimensões de inteligência (BALLES; DIXON
apud SHEPARD, 2003): uma de base fisiológica que diminui com o aumento da idade, por exemplo, queda
do desempenho cognitivo por declínios visuais e auditivos; a outra refere-se a aspectos como pensamento
prático, aplicação de conhecimento e de habilidades especializadas; produtividade profissional e sabedoria.

No que se refere ao conceito de sabedoria, deve-se compreender que se trata de um conhecimento


que permite julgamento e conselhos excelentes a respeito de assuntos importantes e incertos; está
relacionada a certas condutas, interpretação e significado da vida ou, em outras palavras, ao “bem
viver”. Contudo, não é uma característica necessariamente típica dos idosos e sim a uma “riqueza” de
experiências de vida.
133
Unidade III

Memória

Com a idade, existe em declínio na memória de curta duração (armazenamento de alguns itens em
ordem, por exemplo) e na memória de longa duração, especialmente a que está relacionada a eventos
específicos (chamada de memória episódica).

Muitas vezes, a deterioração cognitiva está relacionada ao desuso. Portanto, é muito importante
exercitar o domínio cognitivo com diferentes tipos de atividade, envolvendo memorização, solução de
problemas da vida diária, educação formal continuada, entre outras.

O aprendizado da pessoa idosa pode ser mais lento, mas ela não perde essa capacidade. Às vezes
a lentidão é compensada pela atenção e pela precisão na execução das tarefas. Portanto, é um erro
afirmar que pessoas em idades avançadas não são capazes de aprender.

Figura 60 – Idosos jogando xadrez

8.3 Domínio físico e motor

Na terceira idade, há modificações na capacidade física.

Equilíbrio

As mudanças relacionadas à idade podem estar associadas a uma série de modificações nos sistemas
corporais, sobretudo no SNC (sistema nervoso central).

Declínio na capacidade de equilibrar-se: acima dos 60 anos de idade – em pé, balançam mais do que
adultos jovens.

Em testes com plataformas de movimento, há maior tempo de resposta dos músculos da perna;
músculos da coxa respondem antes dos músculos da perna, ao contrário do que acontece nos adultos
jovens; a resposta dos músculos é mais variável entre repetições.

134
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

As quedas são uma das principais causas de morte acidental em pessoas acima de 75 anos
de idade. As consequências das quedas são: fraturas da coluna, do quadril (pelve ou fêmur);
período de inatividade, dependência dos outros; medo de cair novamente ocasionando mudanças
no estilo de vida.

As quedas podem trazer como consequência a permanência de um grande período na cama, o que
faz com que a pessoa se movimente pouco, além de poder resultar em dificuldade respiratória, aumento
do risco de aparecimento de doenças infecciosas, falta de ânimo e muitos outros problemas.

Esses longos períodos, associados a doenças infecciosas, sobretudo no ambiente hospitalar, acabam
por levar a óbito muitos idosos.

As quedas constituem-se em problemas ainda mais complicados para quem tem osteoporose, ou
seja, pessoas que já possuem ossos mais frágeis (menos densos), pois o risco de fraturas ao cair e o risco
de cair novamente são ainda maiores.

Força (F)

O aumento de força é atribuído à hipertrofia muscular. A perda de massa magra está associada à
lentidão na síntese proteica, que aumenta após os 70 anos de idade.

As consequências de exercícios de força nas pessoas muito idosas são ganhos importantes de
força, em razão do aumento de massa magra e melhorias no equilíbrio, no padrão da caminhada, nas
habilidades funcionais do dia a dia.

Deve-se destacar que o treinamento de força bem-orientado além de resultar em aumento de


massa magra e consequente melhoria da força, auxilia no controle motor (produção de movimentos
mais precisos e coordenados), o que contribui com a melhora do desempenho das atividades e
tarefas diárias.

Flexibilidade

Flexibilidade é a capacidade de mover as articulações em total amplitude de movimento.

A amplitude de movimentos de uma articulação depende de sua estrutura óssea e da resistência dos
tecidos moles (músculos, tendões, cápsulas articulares, ligamentos e pele) aos movimentos.

A perda de flexibilidade está associada à pouca demanda de grandes amplitudes articulares nas
tarefas da vida diária.

Num mesmo indivíduo, a flexibilidade pode variar bastante de uma articulação para outra.

O declínio da flexibilidade é mais significativo após os 49 anos de idade. Todavia, no idoso, um


forte motivo de declínio é a osteoartrite (também denominada osteoartrose ou doença articular
135
Unidade III

degenerativa, e refere-se a alterações químicas na cartilagem articular afetada, causando dor e


rigidez; não inflamatória).

A flexibilidade depende de treinamento em qualquer etapa da vida de uma pessoa.

Portanto, pessoas mesmo muito idosas podem reverter a perda de flexibilidade com treinamentos
específicos e aumentarem consideravelmente a amplitude (o ângulo de “abertura” da articulação).

É importante notar que força, flexibilidade e equilíbrio estão associados entre si. A melhora em cada
um deles e em todos leva a um desempenho muito mais satisfatório nas várias habilidades motoras.

Figura 61 – Idosas jogando cricket

Figura 62 – Idosos nadando

136
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

8.4 Domínio emocional e sociocultural

Muitos idosos controlam suas emoções negativas melhor do que pessoas mais jovens, ao passo que
outros têm mais dificuldade, apresentando episódios de muita tristeza, bem como vivenciando a solidão,
quer em razão da perda do cônjuge ou companheiro, quer pelo desenvolvimento dos filhos que deixaram
o lar – seja por motivos positivos, como constituir uma nova família, seja por motivos negativos, como
envolvimento com drogas, morte por acidente e tantos outros possíveis motivos.

Saiba mais

O filme a seguir apresenta um pequeno grupo de pessoas na passagem


da idade adulta madura para a terceira idade, suas descobertas conjugais,
ajustes e rupturas quando deparam em condições adversas e divertidas de
uma cultura estranha à deles.

O EXÓTICO hotel Marygold. Dir. John Madden. Reino Unido: Babieka,


2015. 122 minutos.

A expectativa do idoso em relação à sua própria vida também tem um papel importante em suas
emoções. Essa mesma modificação na dinâmica de seu lar modifica seus afazeres, especialmente para
a mulher. Por exemplo, se ela tinha o hábito de cozinhar para os outros membros da família e eles não
mais habitam esse lar, ela passará a cozinhar apenas para si mesma. Convém refletir que para uma
pessoa cuja preocupação era manter a casa em ordem, limpa e que o resultado dessa atividade tinha
como meta atingir pessoas que não mais lá estão para usufruir ou admirar esse resultado, não faz
sentido continuar a realizá-lo, ou ao menos não com o mesmo zelo. Diante desse quadro, sem perceber,
essa senhora se torna menos ativa no que se refere às atividades de vida diária. Se ela dedicou sua vida
a esse tipo de serviço e, como consequência, renunciou a um círculo de amizades ou, se suas amizades
mais íntimas já vieram a falecer ou encontram-se em situações de saúde fragilizada ou habitam longe
da sua e o local é de difícil acesso, não é de se estranhar que essa idosa perca parte do entusiasmo
pela própria vida – isso quando não o perde completamente. Por esse motivo, ainda não é tão difícil
se ter notícias de que ao falecer um cônjuge de muitas décadas de vida compartilhada em comum, o
que restou vivo logo venha a falecer também, ainda que aparentemente (e até mesmo, de fato) ele não
apresentasse qualquer problema de saúde.

Faz sentido, portanto, encontrar pessoas com quadro depressivo na terceira idade.

Se a mulher em idade avançada encontra sentido identitário no lar e nas tarefas que nele desempenha
a serviço dos outros familiares habitantes da mesma residência, o mesmo fenômeno é bem menos
frequente no sexo masculino. Os homens idosos encontram sentido no trabalho. Se não mais têm
condições de exercer uma atividade remunerada, ou seja, se não mais podem contribuir com a renda
familiar mediante uma atividade que lhe confira dinheiro, fica difícil se sentirem e se autoperceberem
como alguém vigoroso e verdadeiramente útil.

137
Unidade III

Figura 63 – Idosos pintando

Ainda que ajude sua companheira com os trabalhos domésticos, há que se convir que essa atividade
não lhe atribui identidade como produtor de algum benefício material, seja para si mesmo, seja para
outrem, pois soma-se a essa condição o fato de que tradicionalmente, em nosso país (e na tradição
latina, em sentido amplo), tarefas domésticas “não são coisa de homem”, ou em outras palavras, não
combinam com o gênero masculino, principalmente para a população que está idosa.

Saiba mais

O filme a seguir trata da dinâmica de um casal de idosos que compartilha


a vida a dois há anos e procura lidar com os desafios do advento da doença
de um dos cônjuges.

AMOR. Dir. Michael Haneke. Austria: Les Films du Losange, 2013, 127
minutos.

O direcionamento do universo idoso, em enorme maioria, é o universo do passado, do presente e,


talvez, do futuro; o universo do jovem é do presente, do futuro e, talvez, do passado.

Sem aprofundamento filosófico algum, é válido pensar apenas na seguinte condição: um idoso
de 70 anos de idade e um jovem de 25. O primeiro tem, se tanto, 20 anos de expectativa de vida, mas
cerca de 65 anos de recordações; o segundo tem expectativa de vida de 65 anos, porém 20 anos de
recordações. Como poderia haver semelhança valorativa semelhante entre eles se um dispõe de muito
mais história, de muito mais experiências de passado, enquanto o outro possui história curta, pouco o
que rememorar, entretanto, muito mais expectativa de futuro. O tempo passado de um é o tempo do
“vir a ser”, da expectativa de futuro, do outro.

Como poderia o idoso se encontrar consigo mesmo sem se chocar com a impactante vida
extremamente privada e tão enfaticamente afastada da sua que é a vida do jovem?

138
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

No entanto, não é só a tecnologia a responsável por essa discrepante experiência de vida entre um
e outro.

Figura 64 – Possível interação entre crianças na terceira infância e idosa (talvez avó e netos), em atividade de lazer

É bom e útil, mais uma vez, lançar mão da literatura, desta vez para refletir acerca da disparidade
íntima entre idosos e os ainda mais jovens, isto é, as crianças. Leia o poema a seguir, de da autoria de
Fernando Pessoa (poeta português), intitulado “O Avô e o neto”, do ano de 1926:

Ao ver o neto a brincar,


Diz o avô, entristecido:
“Ah! Quem me dera voltar
A estar assim entretido!”

“Quem me dera o tempo quando


Castelos assim fazia,
E que os deixava ficando
Às vezes p’ra outro dia;

“E toda a a tristeza minha


Era, ao acordar p’ra vê-lo,
Ver que a criada já tinha
Arrumado o meu castelo”.

Mas o neto não o ouve


Porque está preocupado
Com um engano que houve
No portão para o soldado.

E, enquanto o avô cisma, e triste


Lembra a infância que lá vai,
Já mais uma casa existe
Ou mais um castelo cai;

139
Unidade III

E o neto, olhando afinal


E vendo o avô a chorar
Diz, “Caiu, mas não faz mal:
Torna-se já a arranjar” (PESSOA, 1998, p. 81).

Note-se que, apesar da semelhança entre o tipo de brincadeira, isto é, o brincar de montar, o avô
alimenta as saudades de uma experiência do passado e reflete tristemente sobre a irreversibilidade do
tempo vivido, ao passo que o neto vive o presente de sua brincadeira, procurando solução para um
“problema”, ou seja, um demanda cognitiva para solucionar o problema de seu imaginário infantil e,
com esse foco de atenção, não se dá conta do saudosismo do avô como motivo de tristeza.

É importante observar a dificuldade de a criança se colocar imaginariamente no lugar do avô. Ao


contrário, ela consegue pensar que o motivo da tristeza do avô é parecido com o da preocupação dela,
ou seja, o problema com o soldado. Esse raciocínio egocêntrico é típico de uma criança (possivelmente
de segunda infância), que percebe o tipo de sentimento do outro, mas tem dificuldade de imaginar um
motivo que não seja semelhante ao seu próprio.

Por outro lado, o avô corrobora a imersão da criança no “faz de conta”, pois assim como o menino
se sente importante ao resolver o problema com o soldado, o avô, quando menino, gostava de ele
mesmo arrumar seu castelo, aborrecendo-se quando a empregada doméstica o arrumava. Isso indica,
além da empatia e identificação do idoso para com o neto quanto tinha a mesma idade, a relevância
que a solução de problemas tem para a criança, aproximando-a (ao menos de seu ponto de vista) do
comportamento adulto. É sabido que a criança imita o comportamento de adultos, em especial os de
seu convívio ou que elas admiram (por exemplo, um ator, um atleta etc.).

Figura 65 – Menino asiático e seu avô

140
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Novamente há que se considerar as dificuldades do cotidiano urbano brasileiro quando se reflete


sobre a terceira idade. A sensação de solidão e a não realização pessoal em atividades da vida diária (AVD)
é reforçada pelos problemas de mobilidade das grandes cidades, notadamente pela grande lotação no
transporte público, a grande velocidade e alta intensidade de estímulos visuais e sonoros, a precariedade
da pavimentação de muitas calçadas, ruas, avenidas, da sinalização de trânsito, da escassez de faixas
de pedestres ou de sua nitidez, o acesso a cadeiras de rodas e tantos outros sinais de fragilidade no
planejamento arquitetônico do espaço das grandes cidades.

Há também um problema de conflito de gerações no que se refere à linguagem verbal, visual,


padrões de vestuário, de polidez, de expressão cultural em sentido mais amplo (gostos musicais muito
divergentes, por exemplo, assim como arte gráfica, a exemplo do grafite, entre outros).

Todavia, não há dúvidas sobre o poder da tecnologia de informação e da mobilidade dos aparelhos
eletrônicos como celulares, tablets e notebooks, que direcionam a concentração dos jovens quase que
de modo exclusivo. Esses instrumentos ocupam um lugar mínimo na configuração espacial de uma casa
e, visto de outra forma, abrem possibilidades de muitos universos: de imagens, sons e até mesmo sabores
e odores (ainda que no campo o imaginário), estendendo-se para apelos de comunicação com outras
pessoas e em outros lugares que, via de regra, conduzem os mais jovens para lugares e diálogos sequer
suspeitados pelos mais velhos, sobretudo pelos idosos.

Diante desse panorama, o jovem, ao mesmo tempo em que habita ou está presente em um espaço
em comum com o idoso, não necessariamente convive, compartilha ou se interessa minimamente pela
vida desse idoso que posa próximo ao jovem, mas que não dispõe de conhecimento de mundo suficiente
para adentrar e usufruir do mesmo universo que ele: o universo virtual.

Figura 66 – Ambiente doméstico que contrasta o antigo (mobília) e o atual (computador)

141
Unidade III

8.5 A terceira idade é mesmo a “melhor idade”?

O termo “melhor idade” vem sendo frequentemente atribuído à população idosa, especialmente de
acordo com informações divulgadas na mídia televisiva.

Embora possa ser comprovado que essa população viva mais e melhor do que anteriormente, não é
porque a pessoa passa dos 65 anos que sua vida tende a melhorar.

Basta conversar com pessoas (até mesmo antes de completarem essa idade), para se identificar que
seus depoimentos vão ao encontro do que relata o personagem: não sentem a mesma disposição de
antes, de fases anteriores da vida.

No que se refere a aspectos físicos, são comuns as queixas a respeito de problemas relacionados
a dores articulares, cansaço, alterações hormonais (que influenciam a força muscular e a densidade
óssea), diminuição de velocidade nas atividades de vida diárias (AVD) e tantas outras limitações e
até impedimentos.

Portanto, se pesquisas indicam que o idoso vive mais do que antes e que há uma tendência de que
as pessoas realmente passem a viver mais, isso não necessariamente significa que a qualidade de vida
do idoso tenha melhorado.

Não diferentemente do que ocorre em outras fases da vida, para quem estuda crescimento e
desenvolvimento humano, é necessário conhecer “o que”, “quando” e “como” as características se
modificam, além, é claro, de “por que” essas modificações ocorrem.

Como profissionais da área de Educação Física, há necessidade tanto de estudar essas modificações
do processo de envelhecimento avançado, como também de prestar a máxima atenção aos depoimentos,
às histórias de vida das pessoas da terceira idade.

Conforme será observado, sobretudo os aspectos relacionados à estrutura e funcionamento dos órgãos
tendem a passar por declínios – que desfavorecerão a pessoa na realização das tarefas de seu cotidiano.

Esses problemas podem resultar (e comumente resultam) em outros: dificuldade de se manter


empregado e de procurar novos empregos e ocupações; abandono e desprezo por parte da família e
outros conviventes; desrespeito da população com os chamados “velhos”, no sentido de pessoas que
“não servem mais para nada”. Essas e outras situações levam ao questionamento de se a terceira idade,
de fato, deveria ser denominada “melhor idade”.

O que talvez venha a justificar o emprego dessa expressão é que há várias pessoas nessa faixa etária
que passam a ter menos responsabilidades e demandas de afazeres do que antes, e assim procuram
novas atividades e grupos de convívio, como grupos de artesanato, programas de atividade física, locais
de baile (dança de salão) e uma série de outras ocupações que não lhes eram impossíveis em fases
anteriores da vida, quando cuidavam dos filhos, cônjuges e/ou, antes de se aposentarem. Entendendo-se
desse modo, seria possível atribuir o termo “melhor idade”?
142
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Figura 67 – Casal de idosos dançando tango em praça pública (Buenos Aires, Argentina)

Por conseguinte, é imprescindível conhecer mais a respeito dessa faixa etária, bem como se familiarizar
com histórias individuais, notadamente no Brasil, a fim de que se possa refletir adequadamente sobre o
uso de “melhor idade” para se referir a essa faixa etária.

8.6 Para mais reflexões sobre o processo de envelhecimento e atuação


profissional

Ainda que uma pessoa permaneça parada, o corpo se modifica por ações e reações químicas agindo
no corpo físico – no espaço, com o passar do tempo. O corpo tem um tempo, o qual chamamos de
idade. Contudo, as pessoas parecem lutar muito contra a idade e seus efeitos no corpo, como se o corpo
não fosse elas mesmas. Elas buscam o corpo belo e o corpo que funciona bem, qual seja: o corpo para
sempre jovem. Há uma insistência de cada ser humano (quase todos na cultura ocidental) de perpetuar
a si mesmo ou, no mínimo, retardar o envelhecimento e, quando não mais é possível obter formas e
desempenhos corporais autossatisfatórios ou que satisfaçam outrem, apela-se para frases como “sou
velho, mas tenho espírito jovem”. Autoengano? “Propaganda enganosa”? Talvez uma maneira de se
consolar de tempos idos no corpo prazerosamente vivido.

Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa), todavia, não se autoengana na ode a seguir, mas
antes cede à fragilidade do corpo pela ação do tempo, bem como às suas impressões e às possíveis
impressões do ser amado, numa relação ao mesmo tempo intrasubjetiva (da pessoa consigo mesma) e
intersubjetiva (entre duas ou mais pessoas):
143
Unidade III

Já sobre a fronte vã se me acinzenta


O cabelo do jovem que perdi.
Meus olhos brilham menos.
Já não tem jus a beijos minha boca.
Se me ainda amas, por amor não ames:
Traíras-me comigo (PESSOA, 1998, p. 209).

Embora o destaque esteja aludido a características do rosto, considere-se como parte do corpo, o
rosto, sua configuração e expressões, que são de fundamental importância evolutiva e ontogenética, com
desdobramentos importantes para as relações sociais. Nota-se, do poema, a autopercepção da pessoa
num processo de transformar-se em direção à sua inevitável condição que impõe finitude ao processo
de envelhecimento, estabelecendo assim uma modificação na relação intersubjetiva e intercorpórea dos
corpos (pessoas) amantes.

No início velhice, há muitos que anseiam pelo retorno ao corpo jovem. Movimentar-se como jovem
requer intensa e contínua reposição energética, numa busca, nem sempre deliberada, pela manutenção
do corpo em ação, do corpo voluntário, espontâneo. O fato é que tal busca clama por intervenções do
outro em mim e um dos profissionais a ser procurado é o da Educação Física. É como se, de uma forma
que não se sabe qual – porém esse profissional deve saber... – houvesse uma esperança de encontrar o
elixir da juventude e o corpo voltar ao antigo vigor. Será possível ocorrer um retorno ao corpo de outrora
por meio da prática sistemática de atividade física? Quais as marcas da vida no corpo do idoso? Será
que os mecanismos fisiológicos capazes de promoverem melhoras significativas na força, flexibilidade,
condição cardiorrespiratória são suficientes para o retrocesso a um corpo jovem – nas sensações, nas
representações? Que interesse e de que conhecimentos sobre a subjetividade alheia o profissional de
Educação Física dispõe para intervir nesses corpos? E mais, considerando-se o tempo finito do ser no
mundo e que estamos a perpetuar em nosso cliente, afinal: o não perpétuo?

Figura 68 – Idosos praticando Tai Chi Chuan

144
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

De fato, ao longo dos anos, por toda a vida (mais longa, menos longa), os corpos se configuram,
reconfiguram e, por vezes, até se desconfiguram3, mesmo antes da pós-morte. Somos corpo no tempo
somente até a finitude da morte: é quando o “ser no mundo” acaba para si; depois, por decomposição,
ele acaba para os outros; os eventuais registros (documentais ou não) da existência daquele
“ex-ser-no mundo”, estes ainda ficam; assim acaba o “eu” que, dessa hora em diante, será “o outro”, na
lembrança de “corpos-outros”, isto é, nas sensações corporais que emergem das pessoas em relação
ao ente que faleceu.

Observação

Ode – entre os antigos gregos, poema lírico destinado ao canto.

Talvez você, caro estudante, esteja se perguntando: por que os autores desta disciplina apresentam
mais textos de obras literárias neste período da vida, isto é, na terceira idade?

A resposta é bastante simples e direta: nem o autor e nem a autora estão na terceira idade; estamos
ambos na idade adulta intermediária. Isso é de total importância, porque só conhecemos a terceira
idade pelo que lemos, observamos, pelo contato que temos com nossos pais e outros familiares, pelo
que estudamos e pelas obras que tratam de várias temáticas dessa fase da vida. Cada um de nós, autor
e autora, não viveu a terceira idade porque ainda não chegou nessa fase, portanto, além dos estudos, só
nos é possível sabê-la, por experiência, “pela voz dos idosos”.

Saiba mais

O livro a seguir apresenta uma seleção de relatos bastante significativos


de pessoas idosas e tornou-se leitura acadêmica indispensável para que se
compreenda melhor a terceira idade, tanto seus dilemas como perspectivas
positivas.

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 17. ed. São Paulo:


Companhia das Letras, 2012.

É necessário ouvir os idosos: suas queixas, histórias e realizações de quando crianças, adolescentes
ou jovens adultos, bem como suas expectativas atuais e até mesmo sua perda de esperança.

3
Os verbos reconfigurar e desconfigurar, a rigor não existem em português (conforme busca realizada no Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa, 2001). Configurar está sendo usado aqui em dois sentidos: a) tomar forma; b) revestir-se
das características de, afigurar-se. Decorre que os prefixos latinos re e des permitem, respectivamente, as derivações
reconfigurar, à qual atribui-se o significado de configurar “de novo” e, desconfigurar, com o significado de “uma ação
contrária” a configurar (SAVIOLI, 1985, p. 215-222).
145
Unidade III

Talvez a maior dificuldade para o exercício da Educação Física ao se lidar com a terceira idade seja
exatamente esta: não haver graduandos em Educação Física na terceira idade – com honrosas exceções.

Semelhantemente, é escasso o número de professores e profissionais de Educação Física na


terceira idade que ainda atuam nessa área. Cursos de bacharelado como Administração de Empresas,
Direito e Economia apresentam pessoas de terceira idade com frequência razoável, ainda que não
em grande número.

Exemplo de aplicação

Conforme já mencionado, o mercado de trabalho para o idoso no Brasil é bastante dificultoso. Para
refletir: que restrições estão presentes na Educação Física, comparativamente ao Direito, por exemplo,
que limitam ou impedem o idoso (ao menos de sua perspectiva) a cursá-la? Estaria o idoso equivocado
em sua percepção? Procure escrever sobre isso, com fundamentação nos conhecimentos deste tema.

8.7 Aproximação do término da vida

O término da vida marca o final do processo de desenvolvimento humano. As crenças


ou não na vida após a morte variam de pessoa para pessoa e sofrem interferência das mais
diversas tradições culturais sobre esse assunto. Algo que frequentemente acorre é que, com
a aproximação da morte por decorrência natural do processo de envelhecimento, as pessoas
passem por profundas reflexões acerca de suas decisões e atitudes ao longo da própria vida, nas
relações com outros e em relação a si mesmas.

Observe-se o seguinte trecho:

Um problema com o ser-se velho é o de julgarem que ainda devemos aprender


coisas, quando na verdade, estamos a desaprendê-las, e faz todo sentido
que assim seja para que nos afundemos inconscientemente na iminência do
desaparecimento. A inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as alegrias,
mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é bem-visto que a
cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de frente à morte, não
entremos em pânico. A repreensão contínua passa por essa esperança imbecil
de que amanhã estejamos mais espertos quando, pelas leis definidoras da
vida, devemos só perder capacidade. A esperança que se deposita na criança
tem de ser inversa a que se nos dirige. E quando eu fico bloqueado, tão
irritado com isso, sem dúvida, não é por estar imaturo e esperar vir a ser
melhor, é por estar maduro demais e ir como que apodrecendo, igual aos
frutos. Nós sabemos que erramos e sabemos que, na distração cada vez
maior, na perda de reflexos e de agilidade mental, fazemos coisas sem saber
e não as fazemos por estupidez. Fazemos por descoordenação entre o que

146
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

está certo e o que nos parece certo e até sabemos que isso de certo ou
errado é muito relativo, é tudo mais forte do que nós (MÃE, 2013, p. 33).

Nesse excerto do livro A Fábrica de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe (escritor português
contemporâneo), o personagem principal, que é também narrador do livro, faz uma descrição bastante
realista do que consegue perceber, refletir e sentir numa pessoa idosa, não apenas a respeito de si
mesma, como também quando se compara, em certas características, a uma criança. Além disso, o
personagem se coloca no lugar de quem cria expectativas a respeito do idoso, que, segundo ele, não
se concretizarão.

Saiba mais

O livro a seguir, mencionado há pouco, apresenta sua maior parte


ambientada em um abrigo para idosos em Portugal e descreve de modo
ficcional, porém muito realista a diferentes personalidades dos moradores
e de seus cuidadores e as interrelações entre todos e “o mundo para além
do abrigo”.

MÃE, V. H. A máquina de fazer espanhóis. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

Diante da perspectiva desse personagem, a expressão “melhor idade” não corresponde ao que
acontece no processo de envelhecimento. Todavia, de acordo com o que foi discutido anteriormente,
essa condição pode se verificar em casos particulares e de acordo com o que cada pessoa idosa entende
como ser esta sua “melhor idade”.

Figura 69 – Grupo de adultos jovens, adultos de meia-idade e idosos em cerimônia, por


terem se alfabetizado em suas respectivas idades atuais

Por mais que sejam verdadeiras as dificuldades entre diferentes gerações etárias, há que se estar
atento à progressiva possibilidade e efetivação de aproximações entre essas pessoas. A reflexão e a
147
Unidade III

realização de atitudes no sentido de amenizar a discrepância entre as características divergentes de


idades tão longínquas podem não apenas promover um desenvolvimento mais saudável e prazeroso a
todos, como também aumentar a esperança por um viver mais respeitoso e harmonioso entre todas as
pessoas – sem exceção. Somos responsáveis uns pelos outros.

Figura 70 – Placa de alerta à circulação de idosos. Implicitamente está a mensagem de que as demais
pessoas devem diminuir a velocidade com que estão transitando

Figura 71 – Foto de família: avós e netos (avós maternos à esquerda e avós


paternos à direita; as três crianças são irmãs)

148
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Resumo

A transição da adolescência para a idade adulta não significa que


o jovem adulto tenha atingido o ápice de sua maturidade. Tanto o
domínio físico como o emocional ainda passarão por muitas mudanças.
O desenvolvimento cognitivo mescla a rápida obtenção de informações
com a necessidade de tomada de decisões, pois são muitas as demandas
da vida do jovem adulto: ir em busca de trabalho, cursar o Ensino Superior,
constituir nova família etc.

Entretanto, a variação interindividual é muito grande, pois as pessoas


já apresentam um tempo de história de vida considerável, porém suas
decisões muitas vezes dependem ainda de um suporte ou auxílio parental,
tanto em relação ao sustento como no apoio emocional.

Por outro lado, mantém-se o interesse pela busca de parceiros sexuais,


assim como a necessidade de aceitação pelos outros, apesar de menos do
que na adolescência.

Há que se considerar que com o avançar da idade, cada pessoa


busca seus próprios rumos e a tendência é de que muitos amigos de
longa data acabem por se afastar em virtude de demandas de tarefas
da vida diária relacionadas a trabalho, estudo e responsabilidades no
lar, seja no cuidado com filhos menores de idade, seja com pais e outros
parentes mais velhos.

A idade adulta intermediária é uma fase em que as pessoas, em


geral, sentem-se mais seguras e buscam oportunidade de mudar um
pouco seus hábitos de vida: alimentares, de prática de atividade física,
buscar outro emprego, outro cônjuge ou parceiro, outra graduação ou
cursos de menor duração que contribuam para sua autorrealização.
Os declínios físicos já se tornam perceptíveis, tanto no domínio
sensorial como no físico, motor e sexual, porém nem sempre no
aspecto cognitivo, no sentido de operações mentais que exijam, além
de avaliação objetiva e tomada de decisão, alguma subjetividade e
amenização em relações interpessoais que antes eram concebidas com
maior rigidez. A qualidade, mais do que a quantidade, em vários setores
da vida parece fazer mais sentido às pessoas nessa faixa de idade que
abrange aproximadamente dos 40 aos 65 anos de idade.

A terceira idade envolve a consciência de que o fim da vida está bem


mais próximo do que seu início, pois “muitos anos já se passaram”.

149
Unidade III

Podem ser muitos os problemas físicos associados ao processo de


envelhecimento, cujos efeitos são bem mais perceptíveis: não há um único
sistema físico ou órgão que naturalmente se modifique para melhor na
terceira idade. Partindo-se desse fenômeno, questiona-se se essa faixa
etária, de fato, corresponde à “melhor idade”.

Essa questão suscita respostas muito variáveis, porque depende das


possibilidades ou impossibilidades de escolhas, relacionadas à expectativa
de vida e qualidade de vida.

Outro problema com o qual o idoso depara é o impacto das mídias


eletrônicas, principalmente sob comando dos jovens, indo de encontro
às percepções e anseios dessa população, representando um impacto de
conflito intergerações, em que não há uma empatia identitária.

Pode haver sensação de vazio no próprio lar, notoriamente para


aqueles que perderam cônjuges recentemente, após muitos anos de
vida em comum.

No que cabe aos profissionais de Educação Física, é premente procurar


compreender a velhice, pois do ponto de vista da experiência, não há
proximidade existencial entre esse profissional e seu cliente, o que não
implica que a relação possa ser adequada e produtiva. O fato é que o
processo de envelhecimento é um limitador de atividades da vida diária
(AVD), quando não a impede em grande proporção.

Essa perda de autonomia do idoso, como consequência da diminuição


de seu rigor físico e, muitas vezes mental, acaba por dificultar seu
encorajamento para se engajar na prática regular de atividade física.

Manter algum contato ou frequentar grupos de terceira idade pode


auxiliar o idoso a recuperar sua identidade e aumentar a autoestima.

Ressalte-se que a depressão é um estado de tristeza e falta de ânimo


que pode vir a se tornar uma doença, chegando a causar uma sensação de
que “nada na vida vale a pena” e, por vezes, nem a própria vida.

Qualquer pessoa pode vir a ter episódios de depressão, mas, na idade


adulta e terceira idade, esse quadro não é incomum. A ansiedade tornou-se
um fenômeno contemporâneo bastante comum e uma pessoa pode oscilar
entre sintomas de ansiedade e sintomas depressivos.

Doenças degenerativas como o mal e Parkinson e o mal de Alzheimer


podem acometer adultos também e não apenas idosos. Em geral, exercícios
150
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

de fortalecimento (exercícios resistidos) auxiliam no controle neural, ainda


que o ganho de força não seja tão expressivo (embora também possa ser).

A prática de atividade física pode ser um importante meio de combate


a esses problemas, mas uma intervenção multidisciplinar também é
recomendável. O importante é a pessoa encontrar ou retomar um significado
para a vida.

A proximidade com a morte, em razão do avanço do processo de


envelhecimento no desenvolvimento humano, incita a pessoa idosa a
novas reflexões sobre sua conduta e fé.

Espera-se que a ética do cuidar do outro e de si mesmo atinja e motive


todo estudante e profissional ou professor de Educação Física.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2007) Estudos recentes mostraram que o declínio do desempenho humano
durante o envelhecimento é determinado, de forma seletiva, pelo desuso das funções sensório-
motoras e que esse desempenho mantém-se relativamente estável quando essas funções são
estimuladas, com o avançar da idade, por meio da continuidade da prática de determinadas
tarefas. Outros estudos demonstraram que, após um programa orientado de atividades corporais,
indivíduos idosos apresentaram melhora no desempenho de tarefas praticadas com regularidade.
Considerando esses estudos, o que um profissional de Educação Física deveria propor no
atendimento a uma clientela de idosos?

a) Atividades físicas de baixa intensidade, pois o processo de envelhecimento afeta todas as funções
corporais e diminui o desempenho dos indivíduos idosos.

b) Atividades corporais diferentes a cada semana, pois a mudança de rotina contribui para a melhora
do desempenho dos indivíduos idosos.

c) Atividades físicas sistemáticas, uma vez que a diminuição do desempenho relaciona-se mais com
o desuso das funções corporais.

d) Atividades de treinamento somente para indivíduos idosos que apresentaram grande melhora
no desempenho.

e) Atividades corporais que exercitem funções sensório-motoras já dominadas, pois a inclusão de


novas aprendizagens é desaconselhável no trabalho corporal com idosos.

Resposta correta: alternativa C.

151
Unidade III

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o idoso deve passar por um processo de treinamento lento e gradual, pois as velocidades
de regeneração muscular e metabólicas são mais lentas. Entretanto, pode chegar a atingir níveis intensos
de atividade física. O desempenho individual absoluto do idoso diminui, mas o desempenho relativo
pode ser melhorado.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a manutenção de rotinas com acréscimos lentos e graduais favorece o aprendizado do


exercício e a prevenção de lesões.

C) Alternativa correta.

Justificativa: o oferecimento de exercícios físicos sistematizados e orientados pode manter as


capacidades funcionais do idoso. Exercícios de resistência e de força podem restabelecer as capacidades
físicas do idoso em níveis que ofereçam mobilidade e autonomia para a realização das atividades da vida
diária, preservando a qualidade de vida dessa população.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: todos os idosos podem ser beneficiados com o treinamento físico, desde que a prescrição
dos exercícios seja individualizada e adequada à sua condição física atual. Para isso, faz-se necessária
uma cuidadosa avaliação física pré-participação. O desenvolvimento das rotinas de treino deve ser lento
e gradual.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o idoso tem capacidade de aprendizado de novas habilidades motoras. No entanto,


em função de estados avançados de degeneração neuromuscular, o controle de novas habilidades se
apresenta inicialmente falho. Com a inserção gradual de exercícios coordenativos e exercícios de força,
é possível desenvolver novas funções sensório-motoras.

Questão 2. (Enade 2007) Analise as asserções a seguir, relativas a atividades físicas executadas por idosos.

O uso de uma tabela de percepção subjetiva de esforço por idosos ativos com uma experiência
esportiva anterior é essencial para diminuir o risco de fadiga precoce

porque

o idoso, com o auxílio de recursos que ampliem a percepção do próprio corpo, desenvolve estratégias
de autocontrole da intensidade de uma atividade física aeróbica.
152
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Assinale a opção correta acerca dessas afirmativas:

a) As duas asserções são falsas.

b) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição é falsa.

c) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira.

d) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta
da primeira.

e) As duas asserções são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.

Resposta desta questão na plataforma.

153
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 3

000019.JPG. Disponível em: <http://images2.pics4learning.com/catalog/0/000019.jpg>. Acesso em:


20 jan. 2017.

Figura 4

MORGUEFILE 1-IMG_0601.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/877358>. Acesso em: 20


jan. 2017.

Figura 5

MORGUEFILE IMG_6610.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/1009657>. Acesso em: 20


jan. 2017.

Figura 7

MORGUEFILE 111689291624.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/64872>. Acesso em: 20


jan. 2017.

Figura 8

STACKOFCLASSICS.JPG. Disponível em: <http://images2.pics4learning.com/catalog/s/stackofclassics.


jpg>. Acesso em: 20 jan. 2017.

Figura 10

MORGUEFILE CANOVACN_0254.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/203044>. Acesso em:


20 jan. 2017

Figura 11

MORGUEFILE SW_CONDOM_1.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/19107>. Acesso em:


20 jan. 2017.

Figura 12

MORGUEFILE 042.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/820386>. Acesso em: 20 jan. 2017.

Figura 13

MORGUEFILE BABY BUMP.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/838544>. Acesso em: 20 jan. 2017.
154
Figura 14

MORGUEFILE 114472260912.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/114616>. Acesso em: 20


jan. 2017.

Figura 15

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Figura 18

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Figura 47

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Figura 49

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Figura 50

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Figura 52

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Figura 53

MORGUEFILE NICE_COUPLEEF.JPG. Disponível em: <http://mrg.bz/4aedeb>. Acesso em: 18 jan. 2017.

Figura 54

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Figura 56

MORGUEFILE IMG00127-20100624-1117.JPG. Disponível em: <http://mrg.bz/56eaa2>. Acesso em:


18 jan. 2017.

Figura 57

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em: 20 jan. 2017.

Figura 58

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Figura 59

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Figura 60

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Figura 61

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em: 18 jan. 2017.

Figura 62

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Figura 63

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Figura 64

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Acesso em: 20 jan. 2017.

Figura 65

MORGUEFILE _DSC0274-2 - COPY.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/912695>. Acesso


em: 18 jan. 2017.

Figura 66

openphotonet_mirror%20images3.JPG. Disponível em: <http://openphoto.net/volumes/


TALUDA/20080522/openphotonet_mirror%20images3.JPG>. Acesso em: 20 jan. 2017.

Figura 67

BA-TANGO.JPG. Disponível em: <http://images2.pics4learning.com/catalog/b/ba-tango.jpg>. Acesso


em: 20 jan. 2017.

Figura 68

MORGUEFILE FAIRLADIES.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/969016>. Acesso em: 20


jan. 2017.
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Figura 69

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agenciabrasil/files/gallery_assist/26/gallery_assist727744/ABr10082013WDO_9329.jpg>. Acesso
em: 20 jan. 2017.

Figura 70

MORGUEFILE ELDERLY_PEOPLE.JPG. Disponível em: <https://morguefile.com/p/75972>. Acesso em:


20 jan. 2017.

Audiovisuais

AMOR. Dir. Michael Haneke. Austria: Les Films du Losange, 2013. 127 minutos.

AZUL é a cor mais quente. Dir. Abdellatif Kechiche. França: Quat’sous Films, 2013. 187 minutos.

BEBÊS. Dir. Thomas Balmès. França: Canal+, 2010. 79 minutos.

O CLUBE dos cinco. Dir. John Hughes. EUA: A&M Films, 1985. 97 minutos.

O CORPO humano – um milagre diário. Dirs. Emma De’Ath; Liesel Evans. Reino Unido: BBC, 2009. 49
minutos. Disponível em: <https://archive.org/details/Pfilosofia-the_human_body_2923>. Acesso
em: 23 jan. 2017.

CRIAÇÃO. Dir. Jon Amiel. Reino Unido: Recorded Picture Company (RPC), 2009. 108 minutos.

O CURIOSO caso de Benjamin Button. Dir. David Fincher. EUA: Warner Bros, 2009. 166 minutos.

DOIS dias, uma noite. Dir. Jean-Pierre Dardenne; Luc Dardenne. Bélgica: Les Films du Fleuve, 2014. 95 minutos.

O EXÓTICO hotel Marygold. Dir. John Madden. Reino Unido: Blueprint, 2012. 124 minutos.

O EXÓTICO hotel Marygold 2. Dir. John Madden. Reino Unido: Babieka, 2015. 122 minutos.

FREUD – além da alma. Dir. John Huston. EUA: Universal International Pictures, 1962. 139 minutos.

A GUERRA do fogo. Dir. Jean-Jacques Annaud. Canadá: International Cinema Corporation (ICC), 1976.
100 minutos.

O JULGAMENTO de Nuremberg. Dir. Stanley Kramer. EUA: Roxlom Films Inc, 1961. 186 minutos.

LAVOURA arcaica. Dir. Luiz Fernando Carvalho. Brasil: VideoFilmes, 2001. 172 minutos.
160
MARY e Max: uma amizade diferente. Dir. Adam Eliiot. Austrália: Melodrama Pictures, 2010. 94 minutos.

AS MELHORES coisas do mundo. Dir. Lais Bodanzky. Brasil: Buriti Filmes, 2010. 106 minutos.

PARA SEMPRE Alice. Dirs. Richard Glatzer, Wash Westmoreland. EUA: Lutzus-Brown, 2015. 101 minutos.

PLANETA dos macacos: a origem. Dir. Rupert Wyatt. EUA: Twentieth Century Fox Film Corporation,
2011. 106 minutos.

Textuais

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VALSINER, J. O espírito do afeto no corpo da racionalidade psicológica. In: SOUZA, M. T. C. C. de;


BUSSAB, V. S. R. (Org.). Razão e emoção: diálogos em construção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

YAMAMOTO, M. E. Introdução: aspectos históricos: evolução Humana. In: OTTA, E.; YAMAMOTO, M. E.
(Coord.). Psicologia evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p. 1-9. (Série Fundamentos
de Psicologia).

Exercícios

Unidade II – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2004: Educação Física.
Questão 14. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/2004/enade/provas/
EDUCACAO%20FISICA.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017.

164
Unidade II – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO
TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2004: Educação Física.
Questão 29. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/2004/enade/provas/
EDUCACAO%20FISICA.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017.

Unidade III – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2007: Educação Física.
Questão 28. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2007/provas_gabaritos/
prova.EF.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017.

Unidade III – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2007: Educação Física.
Questão 36. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2007/provas_gabaritos/
prova.EF.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017.

165
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168
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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