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dos Sistemas
Autor: Prof. Cassio Marcos Vilicev
Colaboradores: Prof. Thiago Macrini
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professor conteudista: Cassio Marcos Vilicev
Cassio Marcos Vilicev é graduado em Educação Física pela Universidade de Mogi das Cruzes e em Fisioterapia pela
Universidade Bandeirante de São Paulo. É doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
da Universidade de São Paulo e mestre em Ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de
São Paulo. Possui especialização em Educação a Distância pela UNIP e em Didática do Ensino Superior pela Universidade
Sant’Anna (1999). Atualmente, cursa Formação Pedagógica em História pela UNIP (EaD).
Foi professor de Educação Física em escolas e clubes desportivos de São Paulo e no curso de graduação em
Educação Física e Enfermagem do Centro Universitário Santa Rita e das disciplinas Anatomia Humana, Cinesiologia
e Semiologia na UNIP. Atualmente, é professor titular da UNIP nos cursos presenciais de Fisioterapia, Enfermagem,
Nutrição, Farmácia, Biomedicina, Estética e Cosmética e Educação Física na modalidade presencial, de Educação Física,
Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição, Farmácia e Biomedicina na modalidade EaD e de pós‑graduação.
Foi consultor na elaboração de questões para o Serviço Nacional do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de
Aprendizagem do Transporte (Senat), de Educação Física, junto à Empresa EGaion.
Tem publicado vários trabalhos em diversas áreas das ciências biomédicas, como Anatomia dos Sistemas: Educação
Física e Anatomia dos Sistemas: Enfermagem, entre outros.
CDU 611
U503.03 – 19
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Juliana Muscovick
Lucas Ricardi
Vitor Andrade
Sumário
Anatomia Básica dos Sistemas
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA.................................................................................................................... 13
1.1 Período pré‑científico.......................................................................................................................... 14
1.2 Período científico.................................................................................................................................. 15
1.2.1 Mesopotâmia e Egito............................................................................................................................. 15
1.2.2 Grécia Antiga............................................................................................................................................. 16
1.2.3 Roma............................................................................................................................................................. 21
1.2.4 A contribuição do povo islame.......................................................................................................... 25
1.2.5 O Renascimento....................................................................................................................................... 26
1.2.6 As ciências contemporâneas............................................................................................................... 32
1.3 Bases gerais da anatomia.................................................................................................................. 34
1.3.1 Divisão da anatomia: estudos............................................................................................................ 35
1.4 Anatomia sistêmica e topográfica................................................................................................. 41
1.4.1 Anatomia sistêmica................................................................................................................................ 41
1.4.2 Anatomia topográfica............................................................................................................................ 44
1.5 Terminologia anatômica..................................................................................................................... 44
1.6 Conceito de normal e variações anatômicas............................................................................. 45
1.6.1 Fatores gerais de variação anatômica............................................................................................. 46
1.7 Anomalias................................................................................................................................................. 53
1.8 Monstruosidade..................................................................................................................................... 58
1.9 Divisão do organismo humano........................................................................................................ 60
1.10 Posição anatômica............................................................................................................................. 61
1.11 Planos de delimitação do organismo humano....................................................................... 61
1.12 Planos de secção do organismo humano................................................................................. 62
1.13 Termos de posição e direção.......................................................................................................... 65
1.14 Eixos de movimento.......................................................................................................................... 67
1.15 Cavidades corporais........................................................................................................................... 68
1.16 Princípios gerais de construção do organismo humano.................................................... 70
1.16.1 Antimeria.................................................................................................................................................. 70
1.16.2 Metameria................................................................................................................................................ 71
1.16.3 Paquimeria............................................................................................................................................... 71
1.16.4 Segmentação.......................................................................................................................................... 71
1.16.5 Estratimeria ou estratificação.......................................................................................................... 72
2 OSTEOLOGIA....................................................................................................................................................... 73
2.1 Os principais papéis do esqueleto e dos ossos.......................................................................... 76
2.2 Arquitetura óssea.................................................................................................................................. 79
2.3 Periósteo e endósteo............................................................................................................................ 81
2.4 Vascularização óssea............................................................................................................................ 82
2.5 Inervação óssea...................................................................................................................................... 83
2.6 Morfologia óssea................................................................................................................................... 83
2.7 Características anatômicas de superfície dos ossos................................................................ 88
2.8 Fatores de variação anatômica no número de ossos............................................................. 92
2.9 Divisão do esqueleto............................................................................................................................ 93
2.9.1 Esqueleto da cabeça............................................................................................................................... 94
2.9.2 Ossos do neurocrânio............................................................................................................................. 97
2.9.3 Ossos da face............................................................................................................................................. 97
2.9.4 Ossos do esqueleto da cabeça em conjunto................................................................................. 98
2.9.5 Esqueleto do pescoço............................................................................................................................. 98
2.9.6 Esqueleto do tronco................................................................................................................................ 99
2.9.7 Esterno.......................................................................................................................................................100
2.9.8 Costelas......................................................................................................................................................100
2.9.9 Coluna vertebral.....................................................................................................................................102
2.9.10 Cintura escapular................................................................................................................................103
2.9.11 Membro superior.................................................................................................................................104
2.9.12 Cintura pélvica.....................................................................................................................................106
2.9.13 Membro inferior..................................................................................................................................109
Unidade II
3 ARTROLOGIA....................................................................................................................................................115
3.1 Articulações fibrosas..........................................................................................................................116
3.1.1 Suturas....................................................................................................................................................... 116
3.1.2 Sindesmoses.............................................................................................................................................118
3.1.3 Gonfoses....................................................................................................................................................118
3.1.4 Esquindilese..............................................................................................................................................119
3.2 Articulações cartilagíneas................................................................................................................120
3.3 Articulações sinoviais........................................................................................................................121
4 MIOLOGIA..........................................................................................................................................................126
4.1 Tipos de músculos...............................................................................................................................127
4.2 Papéis dos músculos..........................................................................................................................129
4.3 Componentes macroscópicos dos músculos estriados esqueléticos.............................129
4.4 Nomenclatura dos músculos estriados esqueléticos............................................................132
4.4.1 Localização.............................................................................................................................................. 132
4.4.2 Tamanho relativo.................................................................................................................................. 132
4.4.3 Forma......................................................................................................................................................... 132
4.4.4 Disposição das fibras musculares................................................................................................... 133
4.4.5 Número de origens............................................................................................................................... 136
4.4.6 Número de inserções........................................................................................................................... 137
4.4.7 Localização de suas fixações............................................................................................................ 137
4.4.8 Número de ventres............................................................................................................................... 138
4.4.9 Embriologia............................................................................................................................................. 140
4.4.10 Ação......................................................................................................................................................... 140
Unidade III
5 CORAÇÃO..........................................................................................................................................................145
5.1 Volumes e pesos do coração...........................................................................................................148
5.2 Localização do coração.....................................................................................................................148
5.3 Limites do coração..............................................................................................................................149
5.4 Configuração externa do coração................................................................................................150
5.5 Configuração interna do coração.................................................................................................153
5.6 Características morfofuncionais do átrio direito...................................................................154
5.7 Características morfofuncionais do átrio esquerdo..............................................................156
5.8 Características morfofuncionais do ventrículo direito........................................................156
5.9 Características morfofuncionais do ventrículo esquerdo...................................................157
5.10 Tipos de circulação do sangue.....................................................................................................159
5.10.1 Circulação sistêmica e pulmonar................................................................................................. 159
5.10.2 Circulação portal.................................................................................................................................161
5.10.3 Circulação cardíaca.............................................................................................................................161
5.10.4 Circulação fetal................................................................................................................................... 163
5.10.5 Circulação colateral........................................................................................................................... 164
5.11 Aparelho valvar do coração..........................................................................................................164
5.12 Microanatomia..................................................................................................................................168
5.13 Pericárdio.............................................................................................................................................169
5.14 Complexo estimulador do coração............................................................................................170
6 VASOS DE SANGUE E LINFÁTICOS...........................................................................................................171
6.1 Circuito sistêmico................................................................................................................................176
6.2 Aorta e seus ramos.............................................................................................................................177
6.3 Tronco pulmonar.................................................................................................................................183
6.3.1 Artérias pulmonares............................................................................................................................ 183
6.4 Irrigação da cabeça e do pescoço................................................................................................183
6.5 Irrigação dos membros superiores...............................................................................................185
6.6 Irrigação da região pélvica..............................................................................................................188
6.7 Irrigação dos membros inferiores.................................................................................................189
6.8 Sistema linfático..................................................................................................................................191
6.8.1 Anatomia ................................................................................................................................................ 192
Unidade IV
7 SISTEMA RESPIRATÓRIO: NARIZ, FARINGE E LARINGE...................................................................205
7.1 Nariz.........................................................................................................................................................206
7.2 Cavidade nasal......................................................................................................................................207
7.3 Seios paranasais...................................................................................................................................210
7.3.1 Seios frontais...........................................................................................................................................210
7.3.2 Seios maxilares........................................................................................................................................210
7.3.3 Seios esfenoidais.................................................................................................................................... 211
7.3.4 Células etmoidais................................................................................................................................... 211
7.4 Faringe.....................................................................................................................................................212
7.4.1 Dimensões.................................................................................................................................................212
7.4.2 Cavidades da faringe............................................................................................................................212
7.4.3 Parte nasal da faringe..........................................................................................................................212
7.4.4 Parte oral da faringe.............................................................................................................................213
7.4.5 Parte laríngea da faringe....................................................................................................................214
7.4.6 Músculos da faringe.............................................................................................................................214
7.5 Laringe.....................................................................................................................................................215
7.5.1 Papéis da laringe....................................................................................................................................215
7.5.2 Esqueleto da laringe.............................................................................................................................216
8 SISTEMA RESPIRATÓRIO: TRAQUEIA, BRÔNQUIOS E PULMÕES..................................................221
8.1 Brônquios...............................................................................................................................................222
8.2 Pulmões...................................................................................................................................................223
8.3 Segmentação broncopulmonar.....................................................................................................225
8.4 Pleura.......................................................................................................................................................225
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
Esta disciplina tem como objetivo servir de alicerce e recurso aos alunos que buscam profissões
relacionadas à área da saúde, entre elas a Estética e Cosmética. Preparado para enriquecer os cursos
que abordam anatomia humana, este livro‑texto traz uma introdução indispensável a esse assunto.
O objetivo é beneficiar as informações aplicadas das estruturas anatômicas do organismo humano
e as noções sobre as bases para o aproveitamento de outras disciplinas básicas. Aqui são retratadas
experiências práticas que permitem aos universitários da área da saúde a utilização de episódios
referentes às situações fidedignas nas quais eles poderão se deparar na profissão que optaram.
Inicialmente, é contada a história da anatomia e suas bases gerais e, em seguida, são abordadas
generalidades do esqueleto e dos ossos. Posteriormente, são estudadas as articulações, como as sinartoses,
anfiatroses e diartorses, os músculos e os principais grupos musculares. Por fim, são explorados os
aspectos anatômicos, funcionais e clínicos do sistema cardiovascular, linfático e do sistema respiratório.
Todas as unidades são acompanhadas de exemplos de aplicação, saiba mais, lembretes e observações,
destaques que facilitam a memorização dos assuntos centrais deste livro. As figuras apresentadas
também auxiliam no esclarecimento das características de cada tema, complementando o aprendizado.
Além disso, está presente uma revisão terminológica, relevante em um livro dessa natureza, que
compreende a versão dos epônimos mais utilizados na clínica médica, protegida tecnicamente pela
terminologia anatômica. Há, ainda, notas explicativas com termos e expressões definidas, o que facilita a
compreensão do texto, mesmo para os principiantes ainda não familiarizados com a terminologia da área.
Escrever um livro demanda não só concentração, mas também uma análise crítica permanente sobre
a filosofia e o conteúdo de anatomia. Portanto, ele foi destinado a facilitar o estudo da anatomia para
alunos da área de saúde.
A ciência moderna traz consigo um conjunto de particularidades que pode ser muito bem figurado
no conhecimento metodológico abordado pelas ciências da natureza, tais como a ideia de neutralidade
científica, o afastamento radical entre sujeito e objeto, a ideia de objetividade e a fragmentação do
saber. Alguns campos de saber concentram como alicerce para seus estudos e influências as teorias
e metodologias tanto das ciências naturais como das ciências humanas. Essa é a conjuntura atual de
cursos da área da saúde, campo multi ou interdisciplinar do saber, que se distingue pelo estudo e pesquisa
com fins de intercessão pedagógica. Portanto, tal área une as teorias e metodologias de diversas outras
ciências que podem ser denominadas disciplinas‑mãe.
INTRODUÇÃO
Os conhecimentos anatômicos são indispensáveis para o profissional da área de saúde, que lida
durante toda sua carreira com o corpo humano. A anatomia humana é o alicerce para a compreensão
de outras disciplinas essenciais, como, por exemplo, a fisiologia, a patologia e a clínica.
9
O aprendizado da anatomia envolve, na maioria das vezes, trabalho árduo, pois os alunos devem
se habituar à terminologia anatômica, bem como às peças anatômicas, que diversas vezes não se
assemelham aos impressos nos atlas de anatomia.
A anatomia humana desde sempre foi influenciada por fatores sociais, políticos, econômicos, religiosos
e por tendências e modismos educacionais. Sua incorporação no estudo da medicina significou a cisão
de uma medicina mística, pouco precisa, para uma medicina objetiva.
A etimologia da palavra “dissecar” origina‑se do verbo latino disseco, are, que também se redige
deseco, are, cujo significado é o de cortar dividindo e separando as partes. No grego é escrito aναλúστε
e quer dizer corte, fatia, secção. O substantivo correspondente, desectio, onis traduz‑se por corte, talho.
Dissecare, como termo médico, já foi utilizado por Plínio, no século I d.C. Desectio, onis foi adaptado
para dissección, em espanhol; dissezione, em italiano; e dissecção, em português. Os léxicos da língua
portuguesa têm manifestado dúvida entre dissecção e dissecação. Em Gardner, Gray e Rahilly (1988, p. 3)
lê‑se: “Do ponto de vista etimológico, o termo dissecação: dis – significa separadamente e secare, cortar
é o equivalente latino do grego anatomé”.
A história da anatomia humana, todavia, foi marcada também por estorvos, quando, após a queda do
Império Romano, houve um avanço mínimo em seu desenvolvimento, devido à sobrepujança da
doutrina, filosofia e prática da era autoritária que teve início com a Idade Média. Na primeira metade do
século XVI, surgiram questões religiosas acerca da atividade de dissecar corpos para o aprendizado e
o Papa Bonifácio VII tentou excomungar os anatomistas. Muitos deles chegaram a ser agredidos pela
própria população, exilados ou acusados de forma injusta por práticas desumanas, como a de dissecar
corpos ainda com vida. A dissecação humana foi proibida em diversos locais e quase nenhum estudo de
caráter inovador ou extraordinário foi efetuado na área durante esse período.
Contudo, as dissecações para fins de estudo sempre geraram contestações e pode‑se afirmar que
foi só a partir do século XIV que, na Europa, mais especificamente na Universidade de Bolonha, elas se
tornaram parte do ensino médico sob os auspícios de Mondino de Luzzi. Nessa época, por influência
do movimento escolástico, os estudos e as investigações em anatomia humana fundamentavam‑se,
especialmente, na tradução de obras e tratados anatômicos, sendo a dissecação um método de
averiguação de dados preexistentes.
Apenas no século XVI e em pleno movimento renascentista que Andreas Vesalius publicou a obra
De Humanism Corporis Fabrica. As contribuições de Vesalius ao desenvolvimento da anatomia humana
como ciência são inúmeras. No campo do ensino, destacou‑se sua ardorosa defesa da prática sistemática
da dissecação de animais e de seres humanos; no campo da pesquisa, a inovação de sua sugestão foi
projetar paralelos entre as estruturas corporais humanas e animais, demonstrando as dessemelhanças
entre elas e, por conseguinte, assinalando os deslizes da anatomia galênica que imperava nos principais
livros‑texto usados até então, como, por exemplo, o Anothomia, de Mondino de Luzzi.
10
Outro aspecto considerável da obra de Vesalius foi o uso de figuras que buscavam inserir os
conhecimentos científicos e anatômicos em um contexto natural e social mais extenso, dando de
certa maneira vida aos cadáveres representados, alçando, assim, a figura do anatomista carrasco, até
então considerado um personagem sombrio ligado à morte, ao patamar de profissional socialmente
aceito, especialmente com o começo das dissecações públicas anuais, que se tornavam cada vez mais
frequentes no âmbito europeu. O desenvolvimento da anatomia descritiva teve na figura e na obra de
Vesalius uma época de renovação a partir do qual, paulatinamente, novas estruturas do corpo humano
foram sendo identificadas e/ou nomeadas. Dentre seus alunos destacaram‑se Gabriel Falloppio e Fabricio
d’Acquapendente.
A anatomia descritiva, ao final do século XVIII, já tinha buscado, identificado e descrito grande parte
das estruturas do corpo humano, concedendo lugar, gradualmente, a outras disciplinas que viriam a
constituir as relações entre essas estruturas, como, por exemplo, a fisiologia. A anatomia descritiva
fracassou ao mostrar‑se estática, uma vez que não desvendava as relações entre as estruturas do corpo
humano identificadas, e, seguramente, isso pode ser uma das razões pela qual, no século XIX, com o
surgimento da medicina experimental, a anatomia deixa parte de seu campo de ação para disciplinas
como, por exemplo, a fisiologia e a anatomia patológica. Isso ratificava um novo posicionamento
epistemológico, funcionalista e experimental para os estudos modernos acerca dos condicionantes
do estado normal e patológico do corpo humano. Exemplo disso é o fato de que dentre os nomes
proeminentes da anatomia do século XIX sobressaíram‑se William Sharpey e Henry Gray, ambos célebres
por suas colaborações tanto na organização de algumas das edições do Quain’s Anatomy, quanto na
publicação do Gray’s Anatomy, obras dedicadas ao avanço do conhecimento da anatomia humana por
parte de médicos cirurgiões, cujas atividades foram estimuladas pelo aparecimento da anestesia.
Porém, a história da anatomia não está interligada só à história do ensino e do aprendizado, contudo,
também à história da arte. As dissecações habituavam ser eventos mais de cunho teatral do que letivo,
podendo acontecer dentro ou fora dos terrenos das universidades, nos chamados teatros anatômicos,
visto que a população também admirava acompanhar tais práticas. As personalidades locais eram até
mesmo seduzidas a seguir as dissecações de cadáveres. Em geral, os cirurgiões e os estudantes de medicina
eram obrigados a ver essas demonstrações. A apreensão era em demonstrar onde se encontravam os
órgãos, quais suas interconexões, cores, formas e texturas, ou seja, a anatomia popular.
Lembrete
11
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA
O trecho a seguir foi retirado da Oração ao Cadáver Desconhecido, de Carl Rokitansky, e é direcionado
aos estudantes de anatomia humana.
Durante séculos, o interesse inato dos indivíduos em seus próprios corpos e capacidades físicas
se deparou com diversas maneiras de demonstração. Os gregos, por exemplo, estimulavam as provas
atléticas e apregoavam a perfeição do corpo em suas esculturas, conforme ilustra a figura a seguir.
13
Unidade I
Do escultor grego Mirón, produzida em torno de 455 a.C., a obra da figura anterior representa
um atleta momentos antes de lançar um disco. Os gregos antigos já tinham o conhecimento do nu
artístico e apreciavam a boa forma física, logo davam destaque ao retratar a musculatura dos corpos,
principalmente o corpo masculino
É possível que um tipo de anatomia comparada prática seja a ciência mais antiga. Os primórdios
do conhecimento anatômico mediante elementos e inscrições datam da pré‑história, então, é possível
deduzir que já nesse período haviam algumas informações anatômicas circulando. Essas informações
foram eternizadas ao longo da história como, por exemplo, por meio de desenhos que representam
partes da anatomia humana encontrados nas montanhas de Tassili n’Ajjer, no Saara argelino, datadas
de aproximadamente 3000 a.C., conforme ilustra a figura a seguir.
14
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Na Mesopotâmia, o olho era a parte constituinte do corpo humano que se expressava para o mundo,
sendo tal fato destacado nas pinturas. Em contrapartida, o tronco permanecia na posição frontal,
enquanto a cabeça, as pernas e os pés encontravam‑se de perfil. As esculturas produzidas não incluíam
muitos detalhes anatômicos, entretanto, demonstravam um corpo sólido.
15
Unidade I
Os grandes discípulos dos egípcios seriam os gregos, que se saciaram nos conhecimentos daqueles
que habitavam as regiões do Nilo desde Hipócrates até Galeno.
Para os gregos o conhecer – o espetáculo, a inteligência – tem prioridade sobre o operar – a ação,
o prático. A propriedade básica do pensamento grego está no dualismo das relações entre a realidade
empírica e um absoluto que a esclareça, na separação entre Deus e o mundo. O resultado desse dualismo
é o irracionalismo, que produz sustentação à serena compreensão grega do mundo e da vida. O mundo
real dos indivíduos depende de Deus, porém, nunca se pode chegar até Ele, porque dele não deriva. Deus
é o absoluto racional, todavia, ele não cuida do mundo e da humanidade, a qual não criou, não distingue
e nem governa. Para os gregos, ela era governada pelo acaso, isto é, pela necessidade irracional. Essa
concepção de mundo era, assim, marcada pelo pessimismo desesperado, razão pela qual foi considerado
como período trágico.
Aristóteles, conforme ilustra a figura a seguir, ao longo da vida escreveu mais de mil obras. Alguns
de seus trabalhos mais relevantes são: História dos Animais, Das Partes dos Animais e A Geração dos
Animais. Nesses trabalhos desenvolveu teorias coesas sobre a geração e a hereditariedade e sugeriu a
anatomia comparada, embora nunca tivesse dissecado um corpo humano.
16
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Figura 5 – Escola de Atenas, de Rafael. O ponto central de fuga fica entre Platão e Aristóteles
Conforme mencionados anteriormente, Aristóteles dá belas descrições de alguns órgãos sob o ponto
de vista da anatomia comparada. Tais descrições foram fortuitamente ilustradas com desenhos, que são as
primeiras figuras anatômicas de que se tem conhecimento. Dentre seus erros anatômicos merece destaque
a sua rejeição em dar grande relevância ao cérebro. A superioridade, segundo ele, reside no coração, sede
também da inteligência, conceito contrário ao da maioria dos médicos escritores de seu período.
Não é de todo incerto que Aristóteles tenha efetuado experimentos sobre o cérebro e observado tal falta de
sensibilidade. Assim, considerou‑o simplesmente um meio para resfriar o coração e impedir seu superaquecimento.
Segundo ele, esse processo de resfriamento era motivado pela secreção da fleuma. Aristóteles era, via de regra,
muito mais fraco em fisiologia do que em anatomia. Portanto, não sabia as diferenças entre artérias e veias, e
cria que as artérias contivessem ar, além de sangue. Por mais de 2 mil anos, a filosofia aristotélica, de forma mais
ou menos modificada, estabeleceu a principal referência intelectual da humanidade.
Segundo Galeno, foi Alcmeão de Crotona, conforme ilustra a figura a seguir, quem escreveu a
primeira obra de anatomia. Ele dissecou a trompas auditivas, os nervos ópticos e o olho, o qual propunha
ser feito de água (oriunda do cérebro e encontrada facilmente ao dissecá‑lo) e fogo (notado quando
o olho é ferido). Assim, sugeriu uma teoria da visão, segundo a qual existiria no olho um fogo interno.
17
Unidade I
Saiba mais
Alcmaéon considerava o cérebro a sede das sensações e o centro da vida intelectual, informações
essas que mais tarde foram resgatadas na medicina. Todos os órgãos dos sentidos estariam ligados
ao cérebro – o centro da memória e centro do saber. Acreditava‑se também que era no cérebro que o
espermatozoide se originava, a partir dos 14 anos de idade.
Hipócrates, conforme ilustra a figura a seguir, é considerado o pai da medicina ocidental, entretanto,
na área da anatomia nada alcançou de importante, mas foi provavelmente o precursor do estudo da
anatomia constitucional. O médico acreditava que o encéfalo não só estava compreendido nas sensações,
mas seria a sede da inteligência. Ele foi o primeiro a estabelecer uma relação entre o cérebro e a doença
sagrada, a epilepsia.
18
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Vale notar que os quatro humores ainda hoje fazem parte da linguagem e da clínica médica. Melancolia
é um termo utilizado para descrever depressão ou desânimo de um indivíduo, enquanto “melano”, que
significa preto, alude a um semblante obscuro ou pálido. Cólera é uma patologia intestinal que causa
diarreia e vômito. Fleuma, no interior do sistema respiratório, é sinal de diversas doenças pulmonares.
Cabeça
Pulmão
Alma
SIV
Sangue VE
VD
Fígado Bíle amarela Baço
Membros
inferiores
Na figura anterior há a presença de dois vasos paralelos oriundos do fígado e do baço, interligados ao
coração, no tórax, aos membros inferiores e à cabeça. No coração, há um poro no septo interventricular
conectando o VD (ventrículo esquerdo) e o VE (ventrículo direito), dois vasos conectados ao VD e um
vaso conectado ao VE vindo dos pulmões. O VD é maior do que o esquerdo, ao passo que o VE é mais
espesso do que o direito. O VD contém sangue, ao passo que o VE é preenchido com ar e bile amarela,
de acordo com o Corpus Hippocraticum.
19
Unidade I
Quando Atenas perdeu sua liberdade, o centro científico passou para Alexandria, no Egito, onde pela
primeira vez a anatomia tornou‑se uma disciplina. Os dois primeiros e maiores professores dela foram
Herófilo e Erasístrato, que iniciaram o chamado período alexandrino da anatomia.
Herófilo, conforme ilustra a figura a seguir, é visto como o “açougueiro de homens”, pois realizava
vivissecção em criminosos da prisão real. Acredita‑se que ele tenha dissecado vários seres humanos,
muitas vezes em demonstrações públicas – “sem dúvida, o melhor método para aprender”, escreveu
Celsius, aprovando (TERÇARIOL, 2018, p.18). Foi ele também que fez a primeira distinção clara entre
as artérias e as veias e ampliou os estudos sobre a pulsação, que considerava um processo ativo das
próprias artérias.
Foi Herófilo definitivamente que reconheceu o cérebro como o órgão central do sistema nervoso e
a sede da inteligência. O médico dividiu os nervos em motores e sensitivos e descreveu as meninges.
Ampliou, ainda, o conhecimento sobre outras partes do cérebro, distinguindo o cérebro, o cerebelo e
o quarto ventrículo. Os termos próstata e duodeno são derivados dos que foram usos por ele. Ele fez
também a primeira descrição dos vasos quilíferos do intestino.
Lembrete
Figura 9 – Herófilo, em A Primeira Dissecação, na entrada principal da Nouvelle Faculté de Médecine de Paris
Erasístrato, conforme ilustra a figura a seguir, atentava‑se mais pelas funções do corpo humano do
que pela estrutura, e comumente é chamado de pai da fisiologia. O anatomista aperfeiçoou os dados
sobre o cérebro e o cerebelo, considerando tais órgãos como a sede da alma. Dentre suas diversas
descrições determinou a substância cerebral, e não a dura‑máter, como sendo a origem dos nervos
cranianos. Além disso, estabeleceu o cérebro e o cerebelo como órgãos parenquimatosos e descreveu os
ventrículos encefálicos. Juntamente com Herófilo, determinou que o número de giros está relacionado
20
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
com a inteligência humana. Era um racionalista e se declarava inimigo de todo misticismo. Teve, ainda,
que usar a ideia de natureza como força externa, que molda os objetivos para os quais o corpo age.
Erasístrato compreendeu a ação dos músculos na produção do movimento e atribuiu o encurtamento
dos músculos à sua distensão pelo espírito animal.
Figura 10 – Erasístrato
Conta‑se que Herófilo e outros anatomistas pretenderam saber se “nervo do furto” residia na palma das
mãos das pessoas. Pelo que se diz, Herófilo dissecou primeiro Stroibus e a seguir Pítias durante oito dias.
1.2.3 Roma
O interesse do Estado em Roma fundamentava‑se em sua arte, que era caracterizada como sendo
objetiva, e para a representação do poder de forma realista esculpiam‑se rostos de autoridades, conforme
ilustra a figura a seguir. Para que os corpos fossem mitificados e divinizados em paredes de casas era
utilizada a pintura mural.
21
Unidade I
Em muitos aspectos, Roma incluiu os progressos científicos e as bases para a Idade Média.
O questionamento científico perfaz a teoria pela prática durante esse período. Foram realizadas algumas
dissecações de cadáveres humanos, tendendo mais determinar a razão da morte em casos criminais.
A medicina não era preventiva, contudo, confinava‑se, quase sem exceção, ao tratamento de soldados
lesados em combates. Nos últimos tempos da história romana, as leis eram postas evidenciando a
autoridade da Igreja na prática médica. De acordo com as leis romanas, por exemplo, nenhuma gestante
morta poderia ser sepultada sem a retirada do feto do útero de maneira que ele pudesse ser batizado.
Esse é o caso da morte de Aggrippina, mãe de Nero, cuja história gerou um contrassenso na época
pelo viés anti‑Nero que ela apresentava. Nero arquitetou um navio, cujo fundo se abriria quando estivesse
no mar, e Aggripina foi colocada a bordo. Quando o fundo se abriu, ela caiu no mar, contudo, conseguiu
nadar até a margem e, por isso, Nero enviou um assassino para matá‑la. O imperador afirmou que ela
havia tentado assassiná‑lo e depois cometeu suicídio. Suas hipotéticas palavras finais ao assassino quando
estava prestes a matá‑la foram “Ataque meu útero!”, insinuando que ela almejava ver destruída a primeira
parte de seu corpo que tinha gerado um “filho tão abominável”, conforme ilustra a figura a seguir, em uma
associação de ideias entre as palavras de Aggrippina e a xilogravura de Guilherme de Lorris.
22
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Considerado o príncipe dos médicos, Galeno, conforme ilustra a figura a seguir, foi uma personagem
fundamental na história da medicina. Como a dissecação humana era abolida na época, ele não dissecava
cadáveres humanos, porém, os humanizava por aproximação, sendo essa talvez a causa de seus erros anatômicos.
Galeno utilizava seres humanos para fazer pesquisas, observando feridas profundas ou estudando
cadáveres de indigentes encontrados eventualmente. As principais descrições dele encontram‑se no
campo do sistema nervoso, sistema muscular, sistema cardiovascular, além de ter estudado o esqueleto
humano, conforme ilustra a figura a seguir.
23
Unidade I
Galeno descreveu o esterno com sete peças, tanto como as costelas com as quais se articula. Detalha
também a cartilagem tireoidea com o nome de O Chondros Thyreoides, semelhante ao escudo cretense.
Observação
Saiba mais
24
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
O período entre a morte de Galeno e a primeira tradução de uma obra de material médico no
século XI, ocorrida no Mosteiro de Monte Cassino, no sul da Itália, é o chamado de idade das trevas da
anatomia. Crê‑se que tanto o estilo de vida quanto os sentimentos nutridos pela sociedade medieval em
relação ao corpo humano teriam reduzido a edificação de saberes que abrangeu a anatomia, a medicina
e outras áreas do saber.
25
Unidade I
1.2.5 O Renascimento
A fase conhecida como Renascimento foi determinada pela vida nova das ciências e teve forte
influência nas grandes universidades europeias localizadas em Bolonha, Salerno, Pádua, Montpellier e
Paris. Apenas no Renascimento seriam aceitos, ainda que com certa cautela e dignidade, os procedimentos
de violação do corpo por meio de estudos de cadáveres.
26
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
O teatro anatômico deveria ser vasto e arejado, com bancos organizados em círculos, como os do
Coliseu romano, possibilitando a acomodação de muitos alunos sem importunar os movimentos do
maestro, o cirurgião. O cadáver era colocado em uma mesa no centro do teatro e os instrumentos em
outra, próxima à primeira. Os professores de anatomia pronunciavam suas aulas de cátedras um pouco
distante de onde estava o cadáver. A frase “Eu não devo tocá‑lo com uma vara de 10 pés” possivelmente
originou‑se durante esse período em menção ao odor de um cadáver em deterioração.
Saiba mais
Do século XIII ao início do século XVI, os progressos no conhecimento anatômico foram morosos,
fundamentados na contínua revisão e extensão de tratados preexistentes. A anatomia macroscópica
foi privilegiada nessa época, contudo, para seu desenvolvimento foi imprescindível o aperfeiçoamento
das técnicas de observação, dissecação, descrição, ilustração e o gradual refinamento terminológico,
processo para o qual Mondino de Luzzi, conforme ilustra a figura a seguir, é considerado o precursor.
27
Unidade I
Assim, artistas como Leonardo da Vinci e Michelangelo estavam entre os primeiros a efetuar o
estudo científico da anatomia humana, devido ao interesse na forma humana. Além disso, a invenção
da impressão tornou os livros facilmente acessíveis e as ilustrações necessárias para anatomia poderiam
naquele momento ser mais facilmente reproduzidas e distribuídas.
A escrita invertida é uma característica das observações de Leonardo da Vinci em seus desenhos.
Canhoto, da Vinci produziu centenas de desenhos anatômicos feitos a partir de dissecações. Suas
contribuições, do ponto de vista anatômico, só podem ser elencadas retrospectivamente, mas a precisão
e a objetividade de suas ilustrações inspiram, ainda hoje, a construção de novos esquemas anatômicos.
Ele ponderou o homem como sendo o centro do universo, distendendo a figura humana em duas
formas geométricas, uma em relação ao quadrado e a outra em relação ao círculo, sendo que a unidade
melodiosa seria dada pelo conjunto. Seu ponto de partida foram os escritos do arquiteto e do engenheiro
militar Marco Vitrúvio, o qual constituíra no século I a.C. a doutrina que relacionava a proporcionalidade
da soberba arquitetura com as do homem de boa adequação, conforme ilustra a figura a seguir.
Uma das mais apreciadas imagens plásticas do Renascimento, pintada na Capela Sistina por
Michelangelo entre 1508 e 1512, se apresenta em A Criação de Adão, conforme ilustra a figura a seguir.
Nesse afresco observamos que os membros superiores são simétricos e têm uma composição muito
semelhante, fazendo referência à passagem bíblica “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”
(Gênesis, 1.27). De tal modo, por meio dessa simetria, Michelangelo insere um equilíbrio entre os dois
lados do afresco, entre a figura divina e a figura humana.
28
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Saiba mais
Na história da anatomia, o século XVI mostra‑se relevante por conta da obra do anatomista
Andreas Vesalius, considerado o pai da anatomia. No cenário italiano, Vesalius revelou‑se um ferrenho
defensor da técnica da dissecação, que considerava como a única forma de conhecer realmente o corpo
humano. O intuito de sua obra era, a partir da dissecação sistemática de cadáveres, abandonar o caráter
revisionista que prevalecia nas investigações anatômicas. Seu estudo intitulado De Humani Corporis
Fabrica foi concluído em 1543, conforme ilustram as figuras a seguir. O impacto que isso causou se
deveu tanto ao nível de apuração dos detalhes anatômicos compreendidos por suas ilustrações quanto
pela veia artística de sua obra, de caráter tipicamente renascentista, acrescida de influências galênicas,
naturalistas e escolásticas.
29
Unidade I
O grande valor das práticas e das informações preconizadas por Vesalius prosseguiram no século
seguinte, sendo que seus estudos ganharam evidência em telas, como, por exemplo, em Lição de
Anatomia do Dr. Tulp, pintada por Rembrandt em 1632, conforme ilustra a figura a seguir.
30
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Nessa obra, o cadáver é o de Adriaen Adriaansz, conhecido como o Garoto, um deficiente mental, com
grave dismorfismo corporal, com medidas de quase um anão, que após roubar várias vezes foi enforcado.
Personagens ilustres assistiram à dissecação do cadáver de Adriaen, como o anatomista amador e filósofo
René Descartes e o médico inglês Thomas Brown. Reconhecendo que os artistas pós‑renascentistas já não
recorriam às dissecações, embora reconhecessem a importância de tais conhecimentos, é valido enfatizar que
essa aula com sete alunos anatomistas trata‑se apenas de uma demonstração. Portanto, não ocorreu de fato
uma dissecação anatômica e, ainda, a tela contém alguns erros anatômicos, como os descritos a seguir.
• No raio X da pintura, inicialmente a mão direita do cadáver não tinha dedos. Rembrandt pintou‑a
posteriormente com base na mão de outra pessoa. Entretanto, consiste em uma mão delicada,
com unhas bem cortadas, nada lembrando a de um ladrão.
Figura 23 – Detalhe dos tendões bifurcados dos músculos flexores superficial e profundo dos dedos
31
Unidade I
Saiba mais
As contribuições para a ciência anatômica durante o século XX não foram tão magníficas quanto
eram no período em que pouco se sabia sobre a estrutura do corpo humano. O estudo da anatomia foi
se aperfeiçoando cada vez mais por meio das especializações e as pesquisas foram se tornando cada vez
mais detalhadas e complexas.
Podemos afirmar que, infelizmente, um ponto negativo do estudo da anatomia ocorreu durante
o período da Segunda Guerra Mundial, quando as polêmicas bioéticas abrangendo as experiências
com seres humanos tomavam corpo com o processo de Nuremberg. Durante o julgamento muitos
anatomistas alemães foram denunciados por utilizarem corpos de vítimas do holocausto para as
pesquisas anatômicas, assim como foram realizadas diversas acusações da presença da suástica nazista
nas páginas de alguns atlas anatômicos do período.
Joseph Mengele talvez tenha sido o cientista mais carniceiro de Hitler, seus experimentos custaram
a vida de cerca de 400 mil pessoas em Auschwitz. Mengele injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu
as veias de gêmeos, amputou membros de prisioneiros e dissecou anões vivos em seu laboratório.
“Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo a fisiologia humana, porque faço experiências
em homens e não em ratos” (MORAIS, 2011, p. 6). Isso era o que proferia com ar de orgulho Sigmund
Rascher, responsável pelo campo de concentração de Dachau. Lá, ele se utilizava de cobaias humanas
vivas para seus experimentos.
Já o médico da renomada Universidade de Estrasburgo, August Hirt, utilizou cerca de oitenta corpos
em estudos anatômicos para determinação da superioridade do povo ariano.
Para muitos especialistas em anatomia o Atlas Pernkopf, conforme ilustra a figura a seguir, produzido
com base na dissecação de corpos de aproximadamente 1.500 prisioneiros, é o melhor trabalho ilustrado
sobre anatomia humana já efetuado na história. Para outros, trata‑se de um livro questionável e póstumo
que, ao lado de suásticas, traz a seguinte frase: “feliz conjunção de ilustradores brilhantes e corpos de
criminosos executados” (REZENDE, 2019).
32
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
A partir de 1977, uma nova técnica de preparação de peças anatômicas foi elaborada. Essa
descoberta foi realizada pelo médico e professor da Universidade de Heidelberg na Alemanha, Gunther
von Hagens, o qual se intitula “Vesalius do século XXI”, que inventou e desenvolveu o processo de
plastinação, conforme ilustra a figura a seguir, uma maneira moderna de mumificação, fazendo com
que os cadáveres tenham uma elevada resistência.
A plastinação é outro aspecto que envolve polêmicas bioéticas, em que espécimes inodoros, secos e
quase eternos estão sendo vastamente utilizados como modelos de anatomia em exposições e faculdades
de medicina. Milhares de pessoas já testemunharam corpos dissecados em uma das exposições de
anatomia pelo mundo e o novo mercado on‑line de espécimes humanos plastinados está aumentando.
33
Unidade I
A anatomia humana sempre será uma ciência relevante, não só porque aperfeiçoa o
entendimento do funcionamento do corpo humano, mas também por ser fundamental no
diagnóstico clínico e no tratamento das doenças. A anatomia humana já não é mais restrita
à observação e à descrição das estruturas isoladas, ela se ampliou para compreender as
complexidades de como o corpo humano age como um todo integrado. A ciência da anatomia
é dinâmica e permanecerá ativa porque os dois aspectos do corpo humano – estrutura e função
– são inseparáveis.
Saiba mais
A anatomia humana é considerada a disciplina mais antiga da medicina, tanto que no começo
ambas se confundiam. Pelo menos no princípio era possível saber anatomia, ou pelo menos ter alguns
conhecimentos anatômicos, para poder praticar a medicina. Desde aquela época começou a ser oportuno
o pensamento nulla medicina sine anatomia, ou seja, não há medicina sem anatomia.
34
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Ramo seco da biologia, ciência dos mortos ou ciência dos fósseis, a anatomia morreu: esses são os
versos cantados por aqueles que julgam desnecessário o estudo da anatomia. Para demonstrar esse
mal, um caso pitoresco ocorreu no Brasil, quando um laureado com prêmio Nobel foi convidado a
fazer conferências científicas e educacionais sobre atualização do currículo médico. O famoso professor,
com toda a autoridade que um ganhador de prêmio Nobel pode ter, brindou a plateia com a seguinte
mimosidade: “uma grande redução no currículo poderia ser feita às custas da anatomia, pois para
conhecer a anatomia dos homens bastaria conhecer a anatomia do rato”.
A grande vantagem que ele antevia era que a dissecação de um mamífero pequeno poderia ser feita
em três dias e não nos três anos necessários para dissecar o homem. Na discussão que se seguiu, um
dos participantes da plateia perguntou: “Se o orador fosse acometido por uma apendicite aguda, ele
escolheria o cirurgião que tivesse dissecado um rato, ou um que tivesse dissecado um cadáver humano?”
O orador fez uma longa pausa e confessou honestamente que ele escolheria o cirurgião que tivesse
estudado anatomia no homem. O professor que fizera a pergunta retomou a palavra e parabenizou o
orador pela sua excelente escolha, acrescentando: “principalmente porque o rato não tem apêndice
vermiforme” (DI DIO, 1998, p. 28).
A anatomia divulga as bases da forma e da estrutura do corpo humano e de seus órgãos. A forma
descreve a morfologia externa do indivíduo, de seus membros e órgãos. A estrutura respeita a organização
interna dos órgãos e de seus componentes nos níveis macroscópico, microscópico, submicroscópico
e molecular; o termo “estrutura” inclui a função. A anatomia determina, ao lado da fisiologia e da
bioquímica, a base para a profilaxia, o diagnóstico, a terapia e a reabilitação de patologias.
Observação
Além dos aproveitamentos na medicina e das diversas formas de estudo da anatomia, há uma leitura
anatômica nas várias áreas da atividade humana.
35
Unidade I
Anatomia macroscópica
Refere‑se às estruturas com dimensões maiores do que 1 milímetro, isto é, as estruturas que podem
ser identificadas a olho nu ou com auxílio de uma lupa. A figura a seguir mostra a anatomia macroscópica
de um cadáver conservado com técnica MAR V.
Anatomia microscópica
Parte além das estruturas analisadas a olho nu, que permite uma subdivisão mais detalhada do corpo
humano. Visualiza estruturas com dimensões menores do que 1 milímetro. A anatomia microscópica
divide‑se em citologia, estudo da estrutura e função da célula, e histologia, estudo dos tecidos e
anatomia microscópica dos órgãos.
Lembrete
Anatomia artística
A anatomia artística, que se presta ao estudo das proporções dos segmentos naturais do corpo
humano, a configuração exterior, relacionando‑a, principalmente, com ossos e músculos, estática e
dinamicamente para finalidades de escultura e pintura. Como exemplo de anatomia artística temos a
pintura Mona Lisa, conforme ilustra a figura a seguir, também conhecida como Gioconda, a mais notável
e conhecida obra de Leonardo da Vinci.
36
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Anatomia comparativa
37
Unidade I
Orelha
Olho
Nariz
Embrião de 52 dias Membro superior
Cordão umbilical
Membro inferior
Orelha
Olho
Nariz
Boca
Feto de 26 semanas Membro superior
Membro inferior
O período fetal inicia‑se a partir da décima semana pós‑fertilização e vai até o nascimento. Nessa
fase o bebê é chamado de feto e os órgãos já constituídos sofrem um processo de crescimento e
amadurecimento até que apresentem‑se em totais condições de funcionamento no final da gravidez.
Saiba mais
38
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
A palavra nepio ou nípio, do grego, e infans, do latim, significa “o que não fala”. Portanto, trata‑se do
estudo da anatomia da primeira infância e constitui‑se de uma ligação entre o estudo da embriologia e
o da anatomia de crianças, adolescentes e adultos jovens.
Anatomia do adulto
Anatomia gerontológica
É o estudo da morfofisiologia do indivíduo idoso (acima de 60 anos de idade). Não deve ser
confundida a anatomia gerontológica, que corresponde ao estudo do idoso normal, com a geriátrica,
pois essa estuda o idoso doente e faz parte, portanto, da anatomia patológica.
Anatomia radiológica
Existem diversas técnicas e procedimentos para obter imagens do corpo humano. Vários tipos de
imagem permitem a observação de estruturas anatômicas no interior do corpo, e são cada vez mais
benéficas para o diagnóstico exato de um amplo espectro de distúrbios anatômicos e fisiológicos. A avó
de todas as técnicas de imagem é a radiografia convencional (com raios X), em utilização desde o final
da década de 1940. As tecnologias de imagem mais modernas, conforme ilustram as figuras a seguir,
não só aperfeiçoaram a capacidade diagnóstica, mas também elevaram o conhecimento da anatomia e
da fisiologia normais.
39
Unidade I
Saiba mais
Anatomia de superfície
• Inspeção: eficaz para a percepção de mudanças patológicas externas que insinuem a patologia
do paciente ou até aceitem um diagnóstico visual.
• Percussão: golpes leves e desferidos pelos dedos sobre a superfície do corpo provocam uma
sonoridade na projeção dos órgãos internos. O som gerado difere, dependendo da consistência
40
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
(conteúdo aéreo ou líquido) dos tecidos postos abaixo da pele e provê dados para a avaliação da
posição e da projeção dos órgãos.
Para os estudantes iniciantes no estudo da anatomia humana é justificável dar ideia da construção
do corpo dos animais, adicionando a espécie humana, comparando‑a a construção de um edifício.
Em linhas gerais, seria a simples relação entre a anatomia e a arquitetura, saindo das unidades como as
menores partes e chegando, por sua agregação progressiva ao todo, corpo e edifício concomitantemente.
Tijolos semelhantes são arranjados de maneira a formar uma parede e células semelhantes de
maneira a formar um tecido. Cada tecido pode ser interpretado como um conjunto de células idênticas
para exercer a mesma função geral.
As paredes são arranjadas de maneira a compor uma sala ou um quarto e os tecidos são agrupados de
maneira a compor um órgão. Cada órgão é interpretado como um instrumento de função, sendo diferenciado
pela origem, sede (situação), forma, estrutura e por suas relações. Além disso, o corpo pode ser chamado
de organismo e sua fábrica, constituída de órgãos, chamada de organização. Os quartos são compostos de
maneira a formar um apartamento e os órgãos estão agrupados para estabelecer um sistema.
Cada sistema é interpretado como um conjunto de órgãos que têm as mesmas origens e estrutura,
cujas funções especiais são unidas para a atuação de funções complexas. Os apartamentos são adjacentes
ou verticalmente superpostos para constituir um edifício e os sistemas estão agrupados de maneira a
formar o organismo.
Lembrete
O organismo é, assim, interpretado como uma união de sistemas (orgânicos), podendo‑se concluir,
com as devidas notas, que a vida básica é a somatória das funções dos sistemas integrados, conforme
41
Unidade I
ilustra a figura a seguir. Por conseguinte, a anatomia sistêmica envolve o estudo indutivo macroscópico
dos sistemas orgânicos analisados separadamente.
Dessa forma, podemos enumerar os seguintes sistemas, do ponto de vista da anatomia sistêmica:
o sistema esquelético, que compreende o estudo dos ossos, das cartilagens, das uniões entre os ossos
e das articulações; o sistema muscular, composto pelos músculos esqueléticos e cutâneos, tendões,
aponeuroses, retináculo e fáscias musculares; o sistema cardiovascular, que abrange o coração,
vasos sanguíneos, vasos linfáticos, baço, timo e linfonodos; o sistema respiratório, constituído pelos
pulmões e as vias aéreas (faringe, laringe, traqueia e brônquios); o sistema digestório, representado
pelo canal alimentar (boca, faringe, esôfago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus) e órgãos
anexos (glândulas da boca, dentes, língua, fígado, vesícula biliar e pâncreas); o sistema urinário, cujos
constituintes são os rins, os ureteres, a bexiga urinária e a uretra; o sistema genital masculino, composto
pela genitália externa (pênis e escroto) e a genitália interna (testículos, epidídimo, ducto deferente,
ducto ejaculatório, glândula seminal, glândulas bulbouretrais e próstata); o sistema genital feminino,
composto pela genitália externa (vulva ou pudendo) e a genitália interna (ovários, tubas uterinas, útero
e vagina); o sistema nervoso, cujos componentes são o encéfalo, a medula espinal, os nervos, os gânglios
e os órgãos dos sentidos; o sistema tegumentar, representado pelo tegumento (pele), os seus anexos
(unhas, pelos e glândulas) e a tela subcutânea; os órgãos endócrinos, representados pelo conjunto de
órgãos sem ductos, isto é, órgãos de secreção interna.
Átomos
Mitocôndrias
Núcleo
Molécula (DNA)
42
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Saiba mais
Os aparelhos são formados por grupos de dois ou mais sistemas com funções semelhantes. Assim, temos:
Observação
43
Unidade I
A anatomia topográfica ou regional é o estudo das características anatômicas e das relações entre
os diversos órgãos em cada região do organismo, como, por exemplo, as regiões do crânio e da pelve.
Saiba mais
VIAGEM fantástica. Dir. Richard Fleischer. EUA: 20th Century Fox, 1966.
111 minutos.
Ao estudar a anatomia, o aluno vai se defrontar com uma variedade de palavras novas, terminologias
usadas para chamar as partes do organismo e dos órgãos. A terminologia anatômica, conforme ilustra a
figura a seguir, é um documento oficial que deve ser cumprido precisamente pelos professores e alunos.
Para facilitar a descrição anatômica, podemos usar abreviaturas. As seguintes estão entre as mais utilizadas
em anatomia : a. – artéria; fasc. – fascículo; lig. – ligamento; m. – músculo; n. – nervo; r. – ramo; v. – veia;
gl. – glândula; aa. – artérias; ligg. – ligamentos; mm. – músculos; nn. – nervos; rr. – ramos; e vv. – veias.
A terminologia anatômica é essencial para a saúde. Os termos são oriundos do latim ou do grego e
são utilizados no mundo todo.
44
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Como exemplo, podemos citar a posição do coração, sendo que ele se encontra em sua maior parte
à esquerda do plano mediano. Nesse caso, não há dano para a função.
As variações anatômicas podem ser internas ou externas. As internas evidentemente são aquelas que
acontecem em órgãos internos, como, por exemplo, as variações na posição e no contorno do estômago
em relação ao tipo constitucional, conforme ilustra a figura a seguir. Já as variações anatômicas externas
são observadas externamente, como, por exemplo, ao considerarmos dois indivíduos, um alto e outro
baixo. Percebemos que funcionalmente um indivíduo de 1,60 metros de altura tem equilíbrio para andar
da mesma maneira que um de 1,70 metros de altura.
A) B) C) D)
A forma da tonicidade do estômago, por exemplo, se altera conforme a estrutura muscular de suas
paredes. Os tipos são:
• Estômago atônico: tonicidade das paredes quase nula, sendo que o estômago pode atingir até ao
nível da pelve.
45
Unidade I
Observação
Sexo
O dimorfismo sexual é prontamente reconhecível, conforme ilustram as figuras a seguir. Além das
características sexuais secundárias que se desenvolvem na puberdade, como, por exemplo, nas mulheres
a presença de mamas desenvolvidas e pelo corporal escasso. Em contrapartida, nos homens existe o
crescimento do pelo facial e os ombros sendo mais largos do que a pelve. Assim, sabemos que existem
também as diferenças relacionadas ao fator sexo em órgãos não genitais.
46
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Observação
Recorrendo à mitologia grega, Hermes era considerado o deus do atletismo e Afrodite a deusa do
amor, do sexo e da beleza. De acordo com o mito, na Grécia teria nascido um menino extremamente
bonito, Hermafrodito, cujo nome deriva da união de Hermes e Afrodite. O menino se transformou
posteriormente em um ser andrógino por haver se unido à ninfa chamada de Salmácia, conforme ilustra
a figura a seguir, representando a fusão dos dois sexos e aquele que não tem gênero definido.
Exames feitos na corredora sul‑africana Caster Semenya durante o Mundial de Berlim em 2009
confirmaram que a atleta é hermafrodita. A fundista não tem ovários e apresenta órgãos sexuais
masculinos internos, que estariam produzindo uma grande quantidade de testosterona.
47
Unidade I
Saiba mais
Idade
Observam‑se alterações anatômicas com o avançar da idade, nos vários períodos ou fases da vida
intrauterina e extrauterina. As fases de vida intrauterina são: ovo, embrião e feto; na extrauterina
os períodos principais são os seguintes: recém‑nascido e período neonatal, infância, meninice,
pré‑puberdade, puberdade, pós‑puberdade, virilidade, velhice e senilidade.
Em cada uma destas fases, o organismo possui aspectos próprios, como, por exemplo, a pele das
crianças é mais fina do que a dos adultos. Portanto, sabemos que os idosos têm como características
rugas faciais decorrentes do ressecamento geral da pele, conforme ilustra a figura a seguir.
48
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Raça
A raça (grupo étnico), em um sentido amplo, refere‑se a um grupo de indivíduos que obedecem a uma
divisão da espécie humana. Em sentido restrito, raça é um grupo de indivíduos que apresentam características
particulares em comum devido a uma descendência. Portanto, abrangem os grandes grupos raciais (branco,
negro e amarelo) e os seus graus de mestiçagem, responsáveis por diferenças morfológicas externas e internas.
Os humanos são os únicos membros vivos da família dos hominídeos. O homo sapiens está incluído dentro
desta família, à qual pertencem todas as variedades ou grupos étnicos de humanos, conforme ilustra a seguir.
Assim, há diferenças raciais em órgãos em todos os sistemas, além das bem conhecidas características
morfológicas externas que diferenciam cada grupo racial. Possuem algumas características anatômicas
diferentes entre si e próprias de cada grupo racial, como, por exemplo, as cores da pele, dos cabelos e
dos olhos, os tipos de cabelo e nariz.
A) B) C) D)
E) F)
Figura 39 – Principais raças humanas: A) mongoloide (Tailândia), B) caucasoide (norte da Europa), C) negroide (África), D) povo do
subcontinente indiano (Nepal), E) capoide (boximane do Kalahari) e F) australoide (homem de Ngatatjara, oeste da Austrália)
49
Unidade I
Saiba mais
Biótipo
Essa característica refere‑se ao tipo constitucional, que são subdivididos em dois tipos extremos
constitucionais em que as diferenças anatômicas são mais óbvias: os longilíneos e brevilíneos.
Os indivíduos longilíneos são altos, magros com pescoço longo e membros compridos em relação ao
tronco. Os indivíduos brevilíneos são baixos, gordos com pescoço curto e membros curtos em relação
ao tronco. Entre esses estão os indivíduos mediolíneos, que não devem ser chamados de normolíneos,
porque são tão normais quanto os dois outros tipos.
Evolução
O ancestral da linhagem humana era seu primata das savanas que não andava bem ereto. Portanto,
a posição bípede se tornou típica de nossos ancestrais e acabou sendo a responsável por uma série de
características nossas mais essenciais. Além disso, entre os últimos 500 mil e 200 mil anos, nosso cérebro
sofreu um crescimento considerável em volume. A estrutura do cérebro também vinha mudando e
caracterizava‑se por ter uma área motora e uma área da fala. Um cérebro maior parecia estar associado
a uma crescente habilidade em utilizar as mãos e os braços e ao aparecimento de uma linguagem falada.
Tais fatos conduziram esses indivíduos ao consumo cada vez maior de carne na alimentação. Então, é
possível que com o decorrer do tempo os ácidos graxos encontrados na carne tenham requintado o
cérebro e provavelmente seu funcionamento.
É por isso que os humanos são englobados junto com os macacos em um mesmo grupo zoológico, que
é a ordem dos primatas. Porém, é evidente que nem em tudo sejam semelhantes. Assim, a comparação
dos humanos com os chimpanzés revela que aqueles:
50
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
• O encéfalo é três vezes maior do que um chimpanzé. Certas regiões extremamente especializadas e
certas estruturas no interior do encéfalo são responsáveis pelas emoções, pensamentos, raciocínio,
memória e até mesmo precisa coordenação de movimentos.
• A região lombar da coluna ostenta uma curvatura que desloca o centro de equilíbrio para trás,
dessa maneira a massa corporal é posta diretamente sobre a pelve e os membros inferiores.
A coluna dos chimpanzés, ao contrário, é reta ou curvada uniformemente.
• O ílio é largo, proporcionando uma grande área para a fixação dos músculos glúteos e dos demais
músculos que os mantêm eretos.
• Os fêmures acompanham a linha média do corpo, de maneira que os pés ficam diretamente sob
o centro de gravidade, melhorando o equilíbrio na vertical.
• Os olhos são dirigidos para adiante, de forma que quando focaliza um objeto ele é visto sob dois
ângulos. A visão estereoscópica dá a percepção de profundidade ou imagem tridimensional.
• O dedo polegar é estruturalmente adaptado para agarrar objetos com bastante versatilidade.
A articulação selar da base do dedo polegar possibilita uma grande amplitude de movimentos,
conforme ilustra a figura a seguir. Todos os primatas apresentam dedos polegares em oposição.
Creek
Figura 40 – O dedo polegar em oposição possibilita uma pega em pressão, característica dos primatas
Meio ambiente
O meio ambiente em que se vive pode ser responsável, direta ou indiretamente, por diferenças
morfológicas e, portanto, variações anatômicas, por meio do controle que pode gerar nos indivíduos.
51
Unidade I
Essas alterações são claras quando se confrontam indivíduos que residem nas regiões equatorial,
tropical e polar.
Biorritmos
Observação
Gravidade
Gravitação é o fenômeno de atração entre corpos de grande massa. Os seres humanos estão
subordinados a ela, ainda que seu controle passe, em geral, despercebido. A força da gravidade se
cumpre pelo peso que o corpo deve suportar, como, por exemplo, quando o corpo está na posição
vertical, ortostática ou ereta sobre as plantas dos pés; ou quando está deitado, em decúbito dorsal, sobre
as regiões occipital, posterior do tórax, as nádegas, as regiões posteriores da coxa e poplítea, a parte
posterior da perna e do calcanhar.
A ausência de gravidade (weightlessness) que existe nos veículos espaciais produz em astronautas,
como já foi comprovado após viagens espaciais, alterações na arquitetura óssea, que estão sujeitas da
falta de estímulos.
52
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Esportes
A prática de exercícios físicos gera variações anatômicas que são com facilidade observadas. Elas
podem ser elucidadas nos tenistas e nos esgrimistas, que se valem de um só membro superior, nos quais
é possível notar sua preferência pela hipertrofia dos músculos dessa extremidade superior, gerando uma
maior e mais clara assimetria bilateral.
Trabalho
1.7 Anomalias
Anomalia pode ser definida como qualquer modificação morfológica que causa dano funcional
ao indivíduo, mas compatível com a vida. A maioria das anomalias é congênita. Contudo, algumas
são adquiridas por causa de patologias graves contraídas durante o desenvolvimento do indivíduo,
ou devido ao tipo ou à natureza do trabalho desenvolvido. Como exemplo de anomalias, temos as do
crânio, as craniossinostoses, que consistem no fechamento prematuro das suturas cranianas, entre
elas a escafocefalia, caracterizada pelo fechamento prematuro da sutura sagital, conforme ilustra a
figura a seguir.
Dentre as anomalias da face está a fissura labiopalatal ou lábio leporino, conforme ilustra a figura a
seguir, que consiste na fissura do lábio superior semelhante ao de um coelho ou lebre. Já nas anomalias
da coluna vertebral, se encontram a hipercifose, hiperlordose e a escoliose.
53
Unidade I
54
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
• sindactilia, condição na qual dois ou mais dedos estão fusionados conforme ilustra a figura a seguir.
Figura 45 – Sindactilia
55
Unidade I
Figura 46 – Polidactilia
Figura 47 – Talipe
56
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Observação
Por fim, as anomalias do aparelho reprodutor estão relacionadas aos indivíduos hermafroditas, é a
polimastia, ou seja, mamas extranumerárias e a presença de pênis duplo, conforme ilustra a figura a seguir.
Saiba mais
57
Unidade I
1.8 Monstruosidade
Além de doenças e hábitos deletérios, como o tabagismo e o alcoolismo, que atingem a gestação e
os fetos, a própria medicina pode originar anomalias e monstruosidades. Exemplo típico de iatrogênese,
ou seja, monstruosidade gerada por agentes terapêuticos, é o da talidomida. No final da década de
1950 e no início da de 1960, na Europa ela era receitada para aliviar as náuseas matutinas de mulheres
gestantes, especialmente as primigestas, a talidomida.
Hoje a talidomida é utilizada com sucesso para aliviar fortes dores agregadas a reações de lepra aguda.
No entanto, a talidomida não deve ser utilizada quando a gestação estiver em curso ou for planejada.
Com o progresso atual da medicina, em especial das técnicas cirúrgicas, alguns tipos de deformações
graves podem ser corrigidos cirurgicamente, com sobrevida do indivíduo, como, no caso dos xifópagos
(gêmeos conectados pelo abdome, os irmãos siameses), conforme ilustra a figura a seguir.
58
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Figura 49 – Xifópagos
Figura 50 – Anencefalia
Saiba mais
59
Unidade I
O organismo humano divide‑se em cabeça, pescoço, tronco e membros, conforme ilustra a figura a
seguir. A cabeça corresponde à extremidade superior do corpo e encontra‑se unida ao tronco por uma
parte estreitada, o pescoço. No pescoço encontram‑se órgãos como a laringe, a glândula tireoide, as
glândulas paratireoides, parte da traqueia e o esôfago.
O tronco abrange o tórax e o abdome com as referentes cavidades torácica e abdominal separadas
entre si pelo diafragma. A região do corpo entre o pescoço e o abdome é habitualmente reconhecida
como tórax. O abdome se encontra abaixo do tórax. Centralizado na frente do abdome, o umbigo é um
evidente ponto de reparo. A cavidade abdominal estende‑se inferiormente na cavidade pélvica.
Dos membros, dois são superiores e dois inferiores. Cada um tem uma raiz, pela qual está unida ao
tronco e uma parte livre. Na transição entre o braço e o antebraço há o cotovelo; entre o antebraço e a
mão, o punho; entre a coxa e a perna, o joelho; entre a perna e o pé, o tornozelo.
Cabeça
Pescoço
Tórax Braço
Membros
Tronco superiores
Antebraço
Abdome
Mão
Coxa
Membros
Perna inferiores
Pé
60
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Nessa posição, o indivíduo é observado de pé e ereto, com os membros superiores caídos naturalmente,
próximos ao corpo, de cada lado do tronco. O olhar fixo é voltado horizontalmente para frente, assim
como as palmas das mãos com os dedos justapostos. Os membros inferiores igualmente aos superiores
permanecem unidos, com os pés paralelos, e as pontas dos dedos do pé também voltados para frente,
conforme ilustra a figura a seguir.
Na posição anatômica o organismo humano pode ser delimitado por planos tangentes à sua
superfície, os quais, com suas intersecções, geram a constituição de um sólido geométrico, um
paralelepípedo, conforme ilustra a figura a seguir. Apresenta‑se, assim, para as faces desse sólido,
os que se seguem planos correspondentes, sendo eles dois planos verticais, um tangente ao ventre,
plano ventral ou anterior; e outro ao dorso, plano dorsal ou posterior. Esses e outros paralelos a eles
também são denominados como planos frontais, por serem paralelos à fronte. A denominação ventral
61
Unidade I
e a denominação dorsal são destinadas ao tronco, enquanto a anterior e a posterior aos membros.
Os dois planos verticais tangentes aos lados do corpo são chamados de planos laterais direito e esquerdo.
Os dois planos horizontais, um tangente à cabeça, é chamado de plano cranial ou superior; e o outro à
planta dos pés é chamado plano podálico (podos, pé) ou, ainda, inferior. O tronco separado é limitado
inferiormente pelo plano que incide pelo vértice do cóccix, ou seja, o osso que no homem é o vestígio
da cauda de outros animais. Por essa razão, é chamado caudal.
O plano que separa o organismo humano em metades direita e esquerda é chamado de plano
mediano, conforme ilustra a figura a seguir. Todo corte do corpo produzido por planos paralelos
ao plano mediano é uma secção sagital, ou seja, corte sagital, e os planos de secção são também
chamados de sagitais. O nome resulta do fato de que o plano mediano incide pela sagitta (do latim
seta) do crânio fetal.
62
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Os planos de cortes que são paralelos aos planos ventral e dorsal são chamados frontais. Os frontais,
conforme ilustra a figura a seguir, são planos verticais que incidem também da cabeça aos pés, porém,
que estão em ângulos retos com o plano sagital. Mesmo que somente um deles incida perto pela
sutura coronal do crânio, eles admitem também a designação de planos coronais. Todo corte é também
chamado frontal ou secção frontal.
Os planos transversais ou horizontais, conforme ilustra a figura a seguir, também são planos de
cortes que incidem transversalmente no organismo humano em ângulos retos, com ambos os planos
sagital e frontal. O corte é chamado de transversal ou secção transversal.
63
Unidade I
Lembrete
Para se sustentar equilibrado, o organismo humano também assume determinadas posições com
relação aos planos anatômicos, são elas:
• Supino: posição em decúbito dorsal, ou seja, a região das costas para baixo e face para cima.
• Decúbito ventral: posição contrária ao supino, ou seja, a região do abdome e face para baixo.
Saiba mais
64
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Os termos de posição e direção são utilizados para encontrar as estruturas e as regiões do organismo
humano, concernentes à posição anatômica.
O termo proximal é região dos membros mais próxima à raiz do membro, como, por exemplo, o
joelho é proximal ao pé, enquanto o termo distal é a região dos membros mais distante da origem,
como, por exemplo, a mão é distal ao cotovelo.
O termo anterior é aquele que está à frente de uma região ou estrutura do organismo humano,
como, por exemplo, o umbigo está no lado anterior do corpo. Já o termo posterior refere‑se ao dorso de
uma região ou estrutura do organismo humano, como, por exemplo, os rins são órgãos posteriores em
relação aos intestinos.
O termo superior é a região ou estrutura próxima, ou em direção à cabeça, como, por exemplo, o
tórax é superior ao abdome. Já o termo inferior é a região ou estrutura do organismo humano localizado
próximo ou em direção aos pés, como, por exemplo, as pernas são inferiores ao tronco.
O termo medial é a região do organismo humano ou estrutura mais próxima ao plano mediano,
como, por exemplo, o coração é medial em relação aos pulmões. O termo lateral é a região ou estrutura
do organismo humano mais afastado do plano mediano, como, por exemplo, as orelhas são laterais
ao nariz.
Os termos interno e externo são utilizados para descrever a distância relativa de uma estrutura do
centro de um órgão ou de uma cavidade, como, por exemplo, a artéria carótida interna é situada dentro
da cavidade do crânio e a artéria carótida externa é situada fora da cavidade do crânio.
O termo ipsilateral refere‑se ao mesmo lado do corpo, como, por exemplo, a mão e o pé esquerdos
são ipsilaterais. O termo contralateral refere‑se aos lados opostos do corpo, como, por exemplo, os
músculos bíceps do braço esquerdo e reto femoral da coxa direita são contralaterais.
O termo superficial é usado para a estrutura localizada mais próxima à superfície corpórea, como, por
exemplo, a pele é superficial em relação aos ossos. O termo profundo é usado para a estrutura localizada
internamente ao corpo, longe da superfície, como, por exemplo, o músculo masseter é profundo em
relação à pele.
O termo mediano refere‑se à estrutura que coincide com o plano mediano, como, por exemplo,
o nariz.
A seguir estão alguns exemplos de utilização dos termos de posição e direção, conforme ilustram
as figuras.
65
Unidade I
C
B
• A estrutura representada pela letra A na primeira figura é considerada anterior, pois está mais
próxima ao ventre.
• A estrutura representada pela letra C na primeira figura é considerada posterior, pois está mais
próxima ao dorso.
• A estrutura representada pela letra B na primeira figura é considerada intermédia, pois está situada
entre as duas anteriores.
66
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
• A estrutura representada em amarelo na segunda figura é considerada medial, pois está mais
próxima ao plano mediano.
• A estrutura representada em vermelho na segunda figura é considerada lateral, pois está mais
distante ao plano mediano.
• A estrutura representada em rosa na segunda figura é considerada intermédia, pois está situada
entre as duas anteriores.
O corpo humano e seus segmentos se movem nos planos de movimento em torno dos eixos de
movimento. Ele se movimenta em três planos, os quais são chamados de planos anatômicos do movimento,
conforme ilustra a figura a seguir. Os três eixos em torno dos quais esses planos fazem rotação são, em
expressões físicas, x, y e z. São eles: eixo x, ou medial‑lateral, que corre de uma lateral à outra e se encontra
no plano frontal; o eixo y, ou vertical, que corre de cima para baixo ou superior inferiormente e está no
plano transverso; e o eixo z, ou anteroposterior, que corre da frente para trás e está no plano sagital.
Todos os movimentos podem ser descritos pela situação ao longo do plano de movimento e em
torno do eixo de movimento desse plano. Esses eixos de movimento também são descritos em termos
funcionais em referência à posição anatômica, conforme descrita anteriormente. A partir desse ponto
de referência, os movimentos e planos são determinados.
Eixo y
Plano sagital
Centro de
gravidade
Eixo x
Plano frontal
67
Unidade I
Lembrete
A articulação do joelho é um exemplo de eixo frontal. A parte inferior da perna é o objeto que se
movimenta no plano sagital quando se flexiona o joelho e o plano horizontal gira em torno de um eixo
vertical (longitudinal).
De forma similar, conforme gira‑se a cabeça para a esquerda e para a direita, como no movimento
do não, a cabeça gira em um plano horizontal em torno do eixo vertical criado por sua coluna vertebral.
O plano frontal gira em torno do eixo sagital (anteroposterior).
Quando se eleva o braço para o lado, a articulação do ombro é o exemplo de eixo horizontal sagital
e o braço é o objeto em movimento no plano frontal.
Quadro 1
As cavidades corporais são espaços internos do corpo que alojam os órgãos ou as vísceras.
No organismo humano há cinco cavidades, conforme ilustra a figura a seguir:
• A cavidade abdominal começa logo após a cavidade torácica, na parte superior do abdome. Na
cavidade abdominal encontram‑se o estômago, a maior parte do intestino, o fígado, a vesícula
biliar, o baço, o pâncreas e os rins.
68
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
• A cavidade pélvica envolve o interior da pelve. Está situada na parte inferior do abdome e aloja
parte do intestino, da bexiga urinária, da uretra e dos órgãos genitais internos.
• Além das grandes cavidades corporais fechadas do organismo, temos outras cavidades corporais
menores. A maioria está na localizada cabeça e se abre para o exterior do organismo. São elas:
— Cavidade nasal: situada dentro e posteriormente ao nariz. A cavidade nasal forma parte das
vias áreas superiores do sistema respiratório.
— Cavidades sinoviais: cavidades articulares que apresentam um líquido lubrificante que diminui
o atrito quando os ossos se movimentam uns sobre os outros.
Cavidade do
crânio
Canal
vertebral
Cavidade ventral
Cavidade
abdominopélvica
69
Unidade I
1.16.1 Antimeria
O plano mediano divide o organismo humano em duas partes semelhantes, direita e esquerda.
Essas partes são chamadas antímeros, que são semelhantes morfológica e funcionalmente, por isso o
organismo humano é arquitetado conforme o princípio de simetria bilateral. Dessa forma, por exemplo,
as hemifaces de um mesmo indivíduo não são iguais, conforme ilustra a figura a seguir. As linhas
que incidem pelas fendas palpebrais, bem como pelas comissuras labiais, não são horizontais, mas sim
oblíquas. Além disso, a linha mediana da face não é retilínea, mas convexa para um lado ou para outro.
Associando‑se esses três elementos, observa‑se que comumente a linha mediana da face é convexa para
a direita e coincide com um eixo ocular oblíquo para cima e para a direita, e com um eixo bucal oblíquo
para baixo e também para a direita. Tudo isso sugere um maior desenvolvimento da metade direita da
face. O pavilhão da orelha é, comumente, maior e mais alto à esquerda.
Além disso, existem diversas diferenças morfológicas externas nos indivíduos, como, por exemplo,
no tamanho das mamas e na altura dos testículos. Internamente, as diferenças são mais claras,
como é o caso do coração, que se apresenta mais reposicionado para a esquerda, o que se chama de
situação levocárdica. Por outro lado, pode‑se citar a posição, como se observa nos rins, sendo o direito
rotineiramente mais baixo do que o esquerdo, devido ao fígado que preenche quase completamente do
lado direito, enquanto o baço está posto à esquerda da linha mediana. Porém, os pulmões apresentam
só assimetria quanto à forma e não em relação à posição.
70
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
1.16.2 Metameria
Cervival
Torácica
Lombar
Sacral
Coccígea
É o princípio pelo qual o segmento do organismo do indivíduo representado pela cabeça, pescoço
e tronco são compostos esquematicamente por dois tubos, chamados de paquímeros. Existem os
paquímeros anterior ou ventral e o posterior ou dorsal.
1.16.4 Segmentação
71
Unidade I
É o princípio segundo o qual o organismo humano é construído por camadas ou estratos que se
superpõem. Por exemplo, a pele, na qual se caracteriza a camada superficial, a epiderme, e a camada
profunda, a derme. Ou também a tela subcutânea, com suas três camadas fundamentais, procedendo a
seguir a fáscia muscular, músculos e ossos. A estratificação acontece também em órgãos ocos, como, por
exemplo, no intestino. As paredes desses órgãos são formadas por camadas superpostas. No coração, o
pericárdio é a camada externa, o miocárdio a média e o endocárdio a camada que forra internamente
o coração. Por fim, no sistema nervoso central podemos citar a disposição das meninges e os seus
respectivos espaços. Assim, teremos na sequência, a partir do tecido ósseo até o tecido nervoso: ossos,
espaço epidural, dura‑máter, espaço subdural, aracnoide‑máter, espaço sub‑aracnoideo, pia‑máter e
tecido nervoso, conforme ilustra a figura a seguir.
Lembrete
72
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Saiba mais
2 OSTEOLOGIA
Durante o Renascimento, Leonardo da Vinci despontou como um dos maiores artistas de todos
os tempos, muito conhecido ainda hoje por suas descrições artísticas do corpo humano. Ele dissecou
centenas de corpos para que pudesse adquirir uma compreensão da musculatura e da forma do
corpo humano. Podem‑se notar o conhecimento e a valorização expressos em seu trabalho artístico.
A figura a seguir mostra que desde os tempos antigos até os dias hoje a apreciação da beleza da
forma humana em movimento sempre seduziu a atenção de artistas, cientistas, profissionais da
saúde e atletas.
Essa investigação sobre o movimento humano evoluiu de pura arte para um conjunto de arte e
ciência que combinava teorias e princípios procedentes da anatomia, fisiologia, antropologia, física,
mecânica e biomecânica.
No estudo da anatomia do aparelho locomotor o foco central está nos músculos e nos ossos aos
quais eles se prendem. Os ossos também se conectam uns aos outros, formando as articulações. Assim,
as três principais estruturas nas quais devemos nos ater à anatomia do aparelho locomotor são os
ossos, as articulações e os músculos.
73
Unidade I
O esqueleto é o arcabouço resistente no qual o organismo humano está construído, conforme ilustram
as figuras a seguir, respectivamente. Muito similar à armação de um edifício, o esqueleto deve ser forte
o suficiente para sustentar e proteger todas as estruturas anatômicas do corpo humano. A estrutura
esquelética ordena a forma e tamanho do corpo e também pode ser influenciada pela nutrição, nível de
exercícios físicos e hábitos posturais.
74
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Observação
Os ossos são formados por diversos tecidos que agem em conjunto, como, por exemplo, o tecido
ósseo, a cartilagem, o tecido conjuntivo denso, o epitélio, o tecido adiposo e o tecido nervoso.
Por essa razão, cada osso do corpo é considerado um órgão. Portanto, o tecido ósseo é um tecido vivo,
75
Unidade I
Observação
Como visto anteriormente, o esqueleto fornece as alavancas e os eixos de rotação sobre os quais o sistema
muscular realiza os movimentos. Assim, uma alavanca consiste em uma máquina simples que eleva a força
ou a velocidade de movimento. Pode‑se dizer que as alavancas são inicialmente os ossos longos do corpo
humano e os eixos são as articulações nas quais os ossos se deparam, conforme ilustra a figura a seguir.
Um segundo papel relevante do esqueleto é servir de arcabouço e suporte para as partes moles
do corpo humano. Os ossos dos membros inferiores, da pelve e da coluna vertebral suportam o corpo
humano, utilizados para a manutenção da postura ereta. Quase todos os ossos provêm suporte para os
músculos e apoio para os dentes.
Existem ainda outros papéis adicionais não associados exclusivamente com o movimento humano.
Tecidos e órgãos vulneráveis são comumente protegidos por elementos do esqueleto. As costelas, por
exemplo, protegem o coração e os pulmões, conforme ilustram as figuras a seguir; o crânio aloja o encéfalo,
as vértebras fornecem abrigo para a medula espinal e a pelve óssea acomoda órgãos digestórios e genitais.
76
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
O osso é um depósito para minerais, especialmente, de cálcio e fósforo. O cálcio é o mineral mais
farto no corpo humano. Um indivíduo apresenta aproximadamente de 1 a 2 quilos de cálcio, dos quais
mais de 98% estão armazenados nos ossos e nos dentes. Os minerais armazenados são liberados na
circulação sanguínea quando há necessidade de distribuição a todas as partes do corpo humano. Ele é
essencial para a contração muscular, para a coagulação do sangue e para a movimentação de íons por
meio da membrana celular.
Já o fósforo é essencial para as funções dos ácidos nucleicos DNA e RNA. Na hipótese dos minerais
não se encontrarem na alimentação em quantidades satisfatórias, eles podem ser retirados dos ossos
até serem compensados pela própria alimentação. Na realidade, depósitos e retiradas de minerais para
os ossos e a partir deles acontecem quase incessantemente.
Lembrete
Se todo o mineral fosse extraído de um osso longo, o colágeno se tornaria o principal constituinte
e o osso ficaria excessivamente flexível. Contudo, se o colágeno é retirado do osso, os componentes
minerais se tornariam o constituinte principal e o osso ficaria muito quebradiço, conforme ilustra a
figura a seguir. O colágeno é uma proteína de relevância essencial na composição da matriz extracelular
do tecido conjuntivo, sendo responsável por grande parte de suas propriedades físicas.
77
Unidade I
(a)
Figura 70 – (a) Osso normal. (b) Osso desmineralizado, no qual o colágeno é o principal componente,
pode ser dobrado sem quebrar. (c) Quando o colágeno é extraído, os minerais são o principal
componente restante, tornando o osso tão quebradiço que é facilmente destruído
Podemos descrever os ossos como órgãos hematocitopoietico, ou seja, eles realizam a produção
de células sanguíneas por meio da medula óssea vermelha, conforme ilustram as figuras a seguir,
respectivamente.
Estima‑se que uma média de 2 milhões e meio de células sanguíneas vermelhas é produzida a cada
segundo pela medula óssea vermelha para suprir aquelas que são excluídas e degradadas pelo fígado.
Em uma criança, o baço e o fígado também produzem células sanguíneas. Com o passar do tempo, a
maior parte da medula óssea vermelha transforma‑se em medula óssea amarela, de maneira que no
adulto encontra‑se medula óssea vermelha apenas em alguns ossos, como, por exemplo, no esterno.
Já a medula óssea amarela é formada basicamente de células adiposas, que armazenam triglicerídeos.
Os triglicerídeos armazenados são reservas potenciais de energia química.
78
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Por fim, existem os osteoblastos, as células responsáveis pela síntese dos componentes orgânicos
da matriz óssea, como, por exemplo, o colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas. Essas células ósseas
também estão envolvidas no metabolismo, pois secretam osteocalcina, um hormônio que influencia na
regulação de glicemia.
Como descrito anteriormente, os ossos são peças duras e calcificadas, em número, coloração e
formas variáveis. Apresentam matéria orgânica (um terço) e matéria inorgânica (dois terços). A matéria
orgânica atribui elasticidade aos ossos, enquanto a matéria inorgânica atribui rigidez e força.
Observação
79
Unidade I
Substância
esponjosa
Substância
compacta
Cavidade
medular
Como visto na figura anterior, a substância óssea esponjosa é mais leve, o que diminui a massa total
de um osso, de modo que o osso se mova com maior simplicidade quando tracionado pelo músculo
esquelético. Ela é porosa e se situa na parte interna dos ossos, constituindo as trabéculas ósseas
(do latim, “pequenos feixes”). As trabéculas ósseas suportam e protegem a medula óssea vermelha.
Além disso, a presença da substância óssea esponjosa diminui a massa do esqueleto e colabora com
a mobilidade dos ossos pelos músculos esqueléticos. A substância óssea esponjosa é encontrada em
grandes quantidades nas epífises dos ossos longos e nos ossos curtos, sendo recobertas por uma fina
camada de substância óssea compacta.
A substância óssea compacta se caracteriza por ter um revestimento externo denso e rígido.
Ela sempre reveste completamente todo osso e tende a variar de espessura. Assim, a substância óssea
compacta predomina na diáfise dos ossos longos. Além disso, ela envolve uma cavidade chamada de
cavidade medular, que contém a medula óssea, vermelha ou rubra e amarela ou flava, conforme ilustra
a figura a seguir.
80
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
O osso esponjoso localiza‑se profundamente no periósteo, compondo uma fina substância compacta,
o córtex, que continua para o interior do osso como substância esponjosa, composta de trabéculas ósseas.
Saiba mais
A superfície externa de um osso é comumente revestida pelo periósteo, conforme ilustra a figura
a seguir, exceto as superfícies articulares que são recobertas por cartilagem do tipo hialina. Ele isola e
protege o osso dos tecidos vizinhos; provê uma via e um local de união para o suprimento cardiovascular
e nervoso; e participa ativamente no crescimento ósseo em diâmetro e na reparação de fraturas.
No entanto, o periósteo não reveste os ossos sesamoides.
81
Unidade I
No interior do osso, o endósteo celular reveste a cavidade medular, conforme ilustra a figura a seguir.
O endósteo está em atividade durante o crescimento e sempre que a reparação e o remodelamento da
arquitetura óssea estiverem acontecendo.
Epífise proximal
Osso esponjoso
Osso compacto
Forame nutrício
Vasos nutrientes
Cavidade medular
Endósteo
Linha epifisial
Epífise distal
Cartilagem articular
Junto com o periósteo e a medula óssea, o endósteo é uma estrutura anatômica muito importante
para os ossos.
Os ossos são muito vascularizados, pois que recebem amplo suprimento de sangue. Os vasos metafisários
e os vasos epifisários são também muito importantes. As artérias adentram os ossos a partir do periósteo.
As artérias periosteais acompanhadas por nervos adentram a diáfise e irrigam o periósteo e a parte externa
da substância compacta. Próximo ao centro da diáfise, uma grande artéria nutrícia adentra o osso compacto
por meio do forame nutrício, conforme ilustra a figura anterior. Ao adentrar a cavidade medular, a artéria
nutrícia se ramifica em ramos proximal e distal, que irrigam a parte interna da substância óssea compacta
da diáfise, substância óssea esponjosa, e a medula óssea. Na tíbia há uma artéria nutrícia, enquanto no
fêmur existem diversas artérias nutrícias. As extremidades dos ossos são irrigadas pelas artérias metafisárias
e epifisárias. Tanto as metafisárias como as nutrícias irrigam a medula óssea vermelha e as substâncias
ósseas da metáfise. As artérias epifisárias irrigam a medula óssea e as substâncias ósseas das epífises.
Há uma ou duas veias nutrícias que seguem a artéria nutrícia na diáfise. Há também abundantes
veias epifisárias e metafisárias que saem das epífises com suas relativas artérias. As veias periosteais
saem do periósteo com suas relativas artérias. Os vasos linfáticos dos ossos estão no periósteo, porém,
alguns podem adentrar o tecido ósseo.
82
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Os nervos seguem as artérias que irrigam os ossos. O periósteo, conforme ilustra a figura anterior,
é rico em nervos sensitivos, responsáveis pela sensação de dor. Portanto, as dores são consequentes de
uma fratura, tumores ósseos ou de uma biópsia da medula óssea vermelha por meio de uma agulha.
Microscopicamente a medula óssea vermelha é avaliada em situações como leucemias, linfomas e
anemias aplásicas. As dores apresentam‑se à medida que a agulha adentra o periósteo. No entanto,
conforme ela ultrapassa o periósteo as dores vão diminuindo.
Saiba mais
Para saber mais sobre o assunto, leia as notas clínicas que aparecem
neste capítulo do livro e o conteúdo que versa sobre os fatores de regulação
do crescimento ósseo:
Lembrete
Os ossos podem apresentar diversos tamanhos e formatos. Por exemplo, o osso pisiforme da
mão possui o tamanho e a forma de uma ervilha, enquanto o fêmur pode ter até 60 centímetros de
comprimento em alguns indivíduos e com uma cabeça arredondada em formato de bola. Desse modo, o
fêmur suporta grande massa corporal e pressão, sendo que sua arquitetura de cilindro oco provê força
máxima com peso mínimo.
Na maioria dos casos, os ossos são classificados conforme sua forma geométrica aproximada em:
longos, alongados, curtos, planos e irregulares. Existem, ainda, os ossos pneumáticos, sesamoides
e acessórios.
Os ossos longos são formados por uma diáfise e duas epífises. Apresentam o comprimento maior
em relação à largura e à espessura, que são equivalentes. Os ossos longos são encontrados apenas no
esqueleto apendicular, como, por exemplo, o osso úmero, conforme ilustram as figuras a seguir, em vista
anterior e posterior, respectivamente. Eles proporcionam suporte ao organismo e oferecem uma série de
alavancas e elos que nos possibilitam criar movimentos.
83
Unidade I
Os ossos alongados são achatados, sendo eles um subgrupo dos ossos longos. Eles não apresentam
epífises bem definidas e não têm cavidade medular. A clavícula e as costelas são exemplos típicos de
ossos alongados.
84
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Nos ossos planos a largura e o comprimento predominam sobre a espessura. Alguns exemplos de
ossos planos são os que formam a calvária. Eles possuem duas lâminas compactas, onde localiza‑se um
tecido ósseo mais denso e, entre essas camadas, uma camada esponjosa composta de osso menos denso,
chamada díploe, conforme ilustram as figuras a seguir. Os ossos planos proporcionam proteção para o
conteúdo interno e ampla superfície para a fixação muscular.
Parietal
Frontal
Lâmina externa
Díploe
Lâmina interna
Os ossos irregulares não possuem formas geométricas bem definidas. As vértebras, os ossos da base
do crânio, conforme ilustram as figuras a seguir, e os ossos da face são exemplos deste grupo. Eles
oferecem suporte de massa corporal, dissipação de cargas, proteção da medula espinal e contribuem
com os movimentos e locais de inserção muscular.
85
Unidade I
Os tipos morfológicos podem ainda apresentar características adicionais que nos possibilitam
classificá‑los. Os ossos pneumáticos apresentam uma ou mais cavidades de volumes variáveis, chamadas
seios, que se apresentam revestidas de mucosa e preenchidas por ar. Os ossos pneumáticos estão
localizados no crânio, sendo eles: o frontal, a maxila, o etmoide e o esfenoide.
Células
etmoidais
Seio Seio
maxilar frontal
Observação
Os ossos sesamoides se assemelham a sementes de gergelim e são localizados em regiões que alguns
tendões cruzam epífises de ossos longos. Eles se desenvolvem dentro dos tendões e os protegem de
desgaste exorbitante junto ao osso. Também alteram o ângulo de inserção de um tendão. Os ossos
sesamoides estão presentes no desenvolvimento fetal, mas não são considerados partes do esqueleto
axial ou apendicular, exceto pelas patelas, que são os maiores ossos sesamoides.
86
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Os outros ossos sesamoides mais frequentes estão situados nas plantas dos pés e na base do
primeiro metatarso. Nos membros superiores os ossos sesamoides são frequentemente encontrados
nos tendões próximos à superfície palmar e na base dos metacarpos. Outro exemplo clássico de osso
sesamoide é o hioide.
Observação
Os ossos acessórios são raros e sua sede, dimensões e número podem ser muito variáveis. Ocorrem
mais comumente na superfície externa do que na interna. Do ponto de vista da anatomia comparativa,
alguns desses ossos correspondem aos que se encontram normalmente em outros vertebrados, ao
passo que em outros não apresenta essa correspondência. A esses ossos acidentais dá‑se o nome
de ossos suturais ou wormianos, os quais acontecem muitas vezes na sutura lambdoide, em crânios
hidrocefálicos. Como exemplos de ossos acessórios podemos mencionar os ossos bregmático, o osso
ptérico e o osso astérico.
87
Unidade I
Observação
• Forame: do latim, foramine, orifício, é uma abertura por meio da qual passam artérias ou nervos,
como o forame magno do osso occipital.
Forame
magno
• Fossa: do latim, fossa, fenda, trincheira, é uma depressão rasa sobre um osso, como a fossa
cerebelar do osso occipital.
88
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Fossa
cerebelar
Côndilo
• Cabeça: projeção arredondada que compõe uma união e é sustentada na constrição (colo) do
osso, como a cabeça do úmero.
89
Unidade I
Cabeça
• Tuberosidade: projeção grande e arredondada, frequentemente com uma superfície áspera, como
a tuberosidade da tíbia.
Tuberosidade
• Espinha: projeção aguda e delgada, oriunda da face de um osso, como a espinha da escápula.
Espinha
90
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
• Crista: margem ou borda proeminente, comumente rugosa, como a crista ilíaca do quadril.
Crista
Figura 91 – Crista
Saiba mais
Para saber mais sobre detalhes ósseos, como os que formam as cinturas
escapular e pélvica e os ossos dos esqueletos apendicular e axial, além de
poder elaborar pranchas de anatomia utilizando‑se de papel vegetal, lápis
HB2, lápis para colorir e caneta Stabilo.
Observação
Em cerca de 400 a.C. a filosofia confucionista dizia que: “O que ouvi foi
o que esqueci, o que vejo, lembro, o que faço, compreendo”. Durante esse
período, a maior parte dos processos de ensino e aprendizagem dependiam
91
Unidade I
Existem 206 ossos no indivíduo adulto médio e normal, excluindo‑se os ossos sesamoides e os
ossículos da audição, na orelha média. Funcionalmente, os ossículos da audição que vibram em resposta
às ondas sonoras, atingindo o tímpano, não integram o esqueleto axial nem o apendicular, porém são
agrupados com o esqueleto axial por conveniência.
O número de peças ósseas varia com a idade, havendo maior número no recém‑nascido do que
um uma pessoa com idade avançada. Por exemplo, no crânio de uma criança permanecem duas peças
ósseas para medianas ou hemifrontais que, com a sinostose da sutura metópica, comporão o osso
frontal. Já a idade avançada, com as sinostose de todas as suturas, torna o crânio uma esfera óssea.
Figura 94 – Norma anterior do osso frontal: sutura metópica e parte anterior da fontanela anterior
92
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Saiba mais
Como visto anteriormente, o esqueleto humano adulto consiste em 206 ossos, a maioria deles pares,
com um membro de cada par nos lados direito e esquerdo do corpo. Vimos que há fatores de variação
no número de ossos. Assim, os esqueletos de recém‑nascidos, lactentes e crianças apresentam mais de
206 ossos porque alguns deles se unem mais tarde. Como exemplos, podemos citar os ossos do quadril
e alguns ossos da parte final da coluna vertebral, o sacro e o cóccix.
Os ossos do esqueleto adulto estão agrupados em três divisões principais: o esqueleto axial,
o esqueleto apendicular e as cinturas escapular e pélvica. O esqueleto axial apresenta 80 ossos
e o esqueleto apendicular é composto por 126 ossos. A figura a seguir mostra como as duas
divisões se unem para compor o esqueleto completo. O esqueleto axial consiste em ossos em
torno do eixo longitudinal do corpo humano, descrevendo uma linha vertical imaginária que
atravessa o centro de gravidade do corpo, indo da cabeça até o espaço entre os pés.
Portanto, o esqueleto axial é composto pelos ossos do crânio, o hioide, as costelas, o esterno e os
ossos da coluna vertebral. Já o esqueleto apendicular é formado pelos ossos dos membros superiores e
inferiores. Os ossos que compõem as cinturas unem os membros ao esqueleto axial. Portanto, a cintura
escapular une os membros superiores ao esqueleto axial, enquanto a cintura pélvica liga os membros
inferiores ao esqueleto axial.
93
Unidade I
O neurocrânio envolve os ossos relacionados à proteção dos órgãos do sistema nervoso central.
Ele é formado pelos seguintes ossos: frontal, temporal, etmoide, esfenoide, parietal e occipital.
Os ossos da face estão relacionados aos órgãos dos sentidos: o paladar, a visão e o olfato. Além disso,
ancoram os músculos da expressão facial. Eles são formados pelos seguintes ossos: maxilas, mandíbula,
palatinos, vômer, nasais, zigomáticos, lacrimais e conchas nasais inferiores. Exceto a mandíbula, os
demais ossos da face se articulam com as maxilas, que servem de implantação dos dentes superiores.
É importante examinar a geografia básica do esqueleto da cabeça antes de descrever seus ossos
individualmente. Com a mandíbula retirada, o esqueleto da cabeça equipara‑se a uma esfera óssea
desigual e vazia. Portanto, os ossos da face compõem sua norma anterior e o neurocrânio constitui o
resto do esqueleto da cabeça.
94
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
O neurocrânio pode ser dividido em calota craniana e base do crânio. A calota craniana, também
chamada de calvária, compõe as normas superior, lateral e posterior do esqueleto da cabeça, do mesmo
modo a região da fronte. A base do crânio, ou assoalho, constitui a norma inferior do esqueleto da
cabeça. Internamente, detalhes ósseos proeminentes dividem a base do crânio em 3 “andares” ou fossas,
as fossas: anterior, média e posterior do esqueleto da cabeça. O encéfalo aloja‑se plenamente nessas
fossas, sendo envolvido pela calota craniana. Desta maneira, o encéfalo preenche a cavidade craniana.
Além da grande cavidade craniana, o esqueleto da cabeça apresenta diversas pequenas cavidades.
Entre elas estão as da orelha média e da orelha interna, entalhadas na norma lateral da base do crânio
e, anteriormente, a cavidade nasal e as órbitas. As órbitas abrigam os globos oculares.
95
Unidade I
96
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Observação
O osso frontal do neurocrânio é um osso plano, anterior, ímpar e mediano da calvária. O osso
occipital é um osso plano, inferior, posterior, mediano, pertencente à base do crânio, perfurado por uma
abertura ampla e oval – o forame magno – por meio do qual a cavidade craniana comunica‑se com o
canal vertebral.
O osso esfenoide é um osso irregular, ímpar, mediano e situa‑se na base do crânio, anteriormente
aos temporais e à parte basilar do osso occipital. O osso etmoide é um osso leve, esponjoso, irregular,
ímpar, inferior e situa‑se na base do crânio. O osso parietal é um osso plano, par e compõe o teto do
crânio. O osso temporal é um osso irregular, par e muito complexo. Ele possui três partes: escamosa,
petrosa e timpânica. A parte petrosa abrange o órgão vestibulococlear e a cavidade timpânica que
contém os três ossículos da audição.
O osso zigomático frequentemente referido como “maçãs do rosto” forma parte da parede lateral
e assoalho da órbita, é par e irregular. O osso nasal é um pequeno osso retangular, que forma, com o
nasal do lado oposto, o dorso do nariz. A maxila é um osso plano, anterior e irregular e forma quatro
cavidades: o teto da cavidade oral, o assoalho e a parede lateral do nariz, o assoalho da órbita e o seio
maxilar. Ela possui os alvéolos dentários para abrigar os dentes superiores.
97
Unidade I
O osso lacrimal é um pequeno osso retangular situado na parte medial da órbita, sendo o menor e
mais frágil osso da face. O osso palatino é um osso irregular, localizado posteriormente à maxila. Forma
a parte posterior do palato duro, parte do assoalho e parede lateral da cavidade nasal e o assoalho da
órbita. O vômer é um osso ímpar, plano, de formato trapezoidal. Forma as partes posteriores e inferiores
do septo nasal.
A concha nasal inferior é um pequeno osso com o formato de uma placa delgada e alongada e com
margens curvas. Situa‑se ao longo da parede lateral da cavidade nasal, separando os meatos nasais
médio e inferior. É a única concha nasal independente, pois as outras, superior e média, pertencem ao
etmoide. A mandíbula, conforme ilustra a figura a seguir, é um osso ímpar, móvel da cabeça, o maior e
mais forte da face, onde tem situação anteroinferior. Apresenta o formato de uma ferradura e contêm
os alvéolos dentários para abrigar os dentes inferiores.
Lembrete
Os ossos do esqueleto do pescoço são as vértebras cervicais e, do ponto de vista topográfico, o hioide.
O hioide é um osso ímpar, mediano, sesamoide e faz parte de um conjunto de estruturas anatômicas
que une a base do crânio ao esqueleto do pescoço. Está localizado na parte anterossuperior do pescoço,
superior à laringe e posterior à mandíbula. Apresenta como papel oferecer suporte à língua, fornecendo
98
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
locais de fixação para os músculos dela, do pescoço e da faringe, fazendo dele um elemento relevante
nas ações de mastigação e no ato de engolir. O hioide é móvel e não se articula com mais nenhum osso.
• Protege os órgãos internos torácicos e abdominais, sendo que a maioria deles está cheia de ar ou
líquido contra as forças externas.
• Resiste às pressões internas negativas produzidas pela retração elástica dos pulmões e pelos
movimentos inspiratórios.
• Proporciona a fixação de diversos músculos que movem e sustentam a posição dos membros
superiores em relação ao tronco, além de possibilitar fixação para os músculos do abdome, do
pescoço, do dorso e da respiração.
Crânio
Esterno
Costelas
Vértebras
lombares
Sacro
Cóccix
O formato do tórax depende da idade, do sexo e do biótipo da pessoa. O tórax do feto é mais
desenvolvido sagitalmente do que transversalmente, em virtude do maior desenvolvimento do coração,
99
Unidade I
do timo e dos órgãos abdominais do que dos pulmões. Aos 18 anos de idade, o tórax assume seu formato
definitivo e continua crescendo até os 35 anos nos homens e 25 anos nas mulheres. No indivíduo senil,
as costelas e as cartilagens costais perdem a flexibilidade e as articulações sofrem anquilose, conduzindo
o tórax à perda da elasticidade e da mobilidade. Com a ampliação da coluna vertebral, as costelas ficam
mais próximas umas das outras. O tórax masculino é mais largo do que o feminino, com a máxima largura
ao nível da VIII costela, com pequeno aperto inferior. O tórax feminino é mais curto e arredondado, com
maior aperto inferior do que o masculino. No indivíduo longilíneo, cujo crescimento é mais dinâmico
e o que leva a um maior desenvolvimento em altura, o tórax é longo e estreito, enquanto no indivíduo
brevilíneo, cujo desenvolvimento transversal prevalece sobre o vertical, o tórax é mais curto e largo.
2.9.7 Esterno
2.9.8 Costelas
Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu;
e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela
que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe‑a a
Adão (Gn 2: 21‑22).
[...]
A mulher foi tirada do lado de Adão, isto é, da sua costela, ela não foi tirada
da cabeça, pois não é sua função dominá‑la; nem de seus pés, pois não foi
criada para ser pisada por ele (Gn 2: 21‑22).
100
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
[...]
Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada
mulher, porquanto do homem foi tomada (Gn 2: 23).
A Bíblia relata o momento em que Deus criou a primeira mulher: Eva. No entanto, essa passagem
bíblica é apenas uma metáfora, pois tanto os homens como as mulheres possuem 12 pares de costelas
que protegem o coração, os pulmões, o fígado e o baço.
Na medicina são diversas as indicações cirúrgicas que retiram costelas com objetivos terapêuticos
e reparadores. Em cirurgia torácica, deformidades relevantes do tórax, como, por exemplo, o pectus
excavatum e o pectus carinatum, são reparados com a retirada parcial das cartilagens costais e o
reposicionamento do esterno. Também não é incomum a necessidade de retirada de costelas após
traumatismos torácicos ou em toracotomias muito extensas.
De natureza igual, a retirada de costelas tem sido uma indicação frequente em cirurgia plástica para
usá‑las como enxerto em processos reparadores de orelhas, nariz e outras cirurgias craniomaxilofaciais.
Parece existir uma bruma em torno desse processo, pois diversas celebridades sujeitam‑se a essa cirurgia,
sem, no entanto, assumirem tal fato. Isso já é considerável para que exista uma agitação nos meios de
difusão de informação e a existência de diversas candidatas à sua realização, procurando conquistar um
corpo visto como perfeito pela sociedade, colocando em risco sua plenitude física e emocional.
As costelas têm formato de semiarcos, unindo as vértebras torácicas ao esterno. As costelas são
classificadas em: costelas verdadeiras, I‑VII (articulam‑se diretamente ao esterno por intermédio das
cartilagens costais); costelas falsas, VIII‑X (articulam‑se indiretamente com o esterno, unindo‑se suas
cartilagens costais umas às outras); e costelas flutuantes, XI e XII (curtas e livres, que protegem o fígado
e o estômago).
Logo abaixo do arco costal direito é possível apalpar o fígado durante a inspiração. Abaixo do arco
costal esquerdo situa‑se o estômago, não palpável; e o baço que pode ser palpado no lado esquerdo,
especialmente quando possui um aumento patológico.
101
Unidade I
Uma costela típica apresenta a cabeça, o colo e o corpo. Com exceção das costelas I, XI e XII, as
outras podem ser consideradas costelas típicas, embora a VIII, IX e X sejam mais curtas e cooperem para
constituir a margem costal. A primeira é a costela mais curta entre as costelas verdadeiras. Além disso,
ela é mais larga e plana do que as outras, localizando‑se sob a clavícula anteriormente, o que dificulta
sua palpação. A artéria subclávia e a veia subclávia sulcam na face posterior.
Observação
A coluna vertebral oferece um suporte axial para o tronco e estende‑se desde o crânio até a pelve,
onde o peso do tronco é transmitido aos membros inferiores. Outra função dela consiste em proteger
a medula espinal, provendo ainda pontos de fixação para as costelas e para os músculos do dorso
e do pescoço. No feto e na criança, a coluna vertebral consiste de 33 ossos separados ou vértebras.
Inferiormente, 9 vértebras se fundem para compor 2 ossos, o sacro e o cóccix. Os 24 ossos restantes
permanecem como vértebras individuais separadas por discos intervertebrais.
Figura 106 – Arranjo anatômico geral da coluna vertebral (vistas anterior, lateral e posterior)
102
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Observação
Conforme ilustra a figura a seguir, Atlas, gigante mitológico de força cavalar, filho de Iápeto e
Clímene, após a derrota dos Titãs para os deuses foi condenado por Júpiter a amparar o mundo nos
ombros. Essa é a imagem do Titã reproduzida por vários escultores, chama‑se C1 que, por analogia,
sustenta a cabeça.
A cintura escapular é composta pela escápula e clavícula, conforme ilustram as figuras. A clavícula
é um osso par que compõe parte da cintura escapular e é alongado, ou seja, embora comprido nem
sempre apresenta cavidade medular, conforme visto na classificação morfologia óssea. Portanto, não
é um osso longo típico por não possuir todos os atributos indispensáveis para assim ser comtemplada.
A clavícula tem o formato curvado como um S (em itálico), localizada quase que horizontalmente logo
acima da I costela. A escápula é um osso par, plano e triangular. A escápula articula‑se com dois ossos:
o úmero e a clavícula.
103
Unidade I
Observação
Os membros superiores dos seres humanos, ao passarem da posição quadrúpede para a bípede,
tiveram a função de locomoção reduzida, porém, ganharam mobilidade e preensão. Os ossos dos
membros superiores podem ser divididos em três segmentos: o braço, o antebraço e as mãos.
O úmero é o maior e mais longo osso do membro superior, localizado no braço. Os dois ossos longos
paralelos, o rádio e a ulna compõem o esqueleto do antebraço. Na posição anatômica, o rádio situa‑se
lateralmente e a ulna medialmente.
104
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Observação
As funções preênsil e tátil da mão são fundamentais e carecem das articulações dos dedos, com
o polegar exibindo uma movimentação extraordinária e podendo ostentar uma posição de oposição
em relação aos quatro outros dedos. Os papéis das articulações das mãos são inerentes no uso e no
posicionamento adequado das mãos em relação ao antebraço. Para que os dedos façam ações mais
concisas, manuseando artefatos pequenos, na escala de milímetros, os dedos têm que ser finos. Eles
não apresentam músculos e são movidos por longos tendões dos músculos do antebraço e, ainda, dos
músculos intrínsecos da mão.
Coligado à visão, os humanos podem utilizar o sentido tátil da mão para o reconhecimento de um
espaço tridimensional e de seus artefatos. A relevância da mão procedeu no uso da expressão “palpar”
também para o entendimento de processos abstratos.
A mão se divide em: carpo, metacarpo e os ossos dos dedos. O carpo é formado por oito ossos
dispostos em duas fileiras: proximal e distal. A fileira proximal de lateral para medial inclui: o escafoide,
semilunar, piramidal e pisiforme. A fileira distal de lateral para medial inclui: o trapézio, trapezoide,
capitato e hamato.
105
Unidade I
O metacarpo é composto por cinco ossos que são numerados de lateral para medial em I, II, III, IV e
V metacarpos e obedecem aos dedos da mão. Eles são classificados como ossos longos. Entre os ossos
do metacarpo existem os espaços interósseos.
Os cinco dedos da mão de lateral para medial são: o polegar (I), o dedo indicador (II), o dedo médio
(III), o dedo anular (IV) e o dedo mínimo (V). Eles apresentam 14 falanges, cada uma na qual há uma
base, um corpo e uma cabeça. São classificadas como ossos longos. Do II ao V dedos apresentam
3 falanges: a falange proximal, a falange média e a falange distal. O dedo I possui 2 falanges: a falange
proximal e a falange distal.
Rádio Ulna
Processo estiloide do rádio Processo estiloide da ulna
Escafoide Semilunar
Tubérculo do escafoide Piramidal
Trapézio Pisiforme
Tubérculo do trapezoide Hamato
Trapezoide Hâmulo do osso hamato
Capitato
Ossos do metacarpo
Lembrete
Para fixar os nomes dos ossos do carpo (de proximal para distal; de
lateral para medial): “Um barco (escafoide) viajou à luz do luar (semilunar)
em torno da pirâmide (piramidal) e pela plantação de ervilhas (pisiforme).
O grande trapézio (trapézio), o trapézio pequeno (trapezoide) e a grande
cabeça (capitato) devem permanecer juntos ao gancho (hamato)”.
Ao assumir a marcha ereta, e em similaridade à coluna vertebral, a pelve humana possui grandes
desigualdades funcionais em comparação à dos quadrúpedes. Ela é extraordinariamente maciça se
comparada à pelve de quadrúpedes, uma vez que ampara grande parte da massa corporal, exceto dos
membros inferiores. Na posição ereta, o peso das vísceras abdominais e das vísceras pélvicas é empregado
especialmente sobre a pelve.
A cintura pélvica, do latim, pélvis, bacia, é formada pelos ossos do quadril, que se articulam entre si,
pelas vértebras coccígeas e pelo sacro. O osso do quadril é classificado morfologicamente em plano ou
106
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
irregular. A sua constituição inclui três ossos isolados: o ílio, o ísquio e o púbis. Nos seres humanos, até a
puberdade, as três peças ósseas que compõem o osso do quadril continuam conectadas umas às outras
por cartilagem. A partir deste período acontece a ossificação da cartilagem e o osso do quadril passa a
ser único, embora permaneçam as nomeações das peças ósseas que o formam originalmente.
O estreito superior da pelve, ao nível das linhas arqueadas, divide a pelve em uma parte superior, a
pelve maior, ou falsa, e outra parte inferior, a pelve menor, ou verdadeira. A pelve maior aloja os órgãos
abdominais, enquanto a pelve menor aloja os órgãos do sistema genital e o final do sistema digestório.
A sínfise púbica é uma articulação semimóvel que une os ossos do quadril.
Observação
A pelve representa um conjunto ósseo, em formato de anel, que transmite o peso da cabeça, do
pescoço, dos membros superiores e do tronco por meio de suas articulações até os membros inferiores.
• Forame obturado mais oval com predomínio transverso nos homens; e mais circular nas mulheres.
Diâmetro transverso
~ 13 cm da abertura
superior da pelve
Diâmetro oblíquo
~ 12,5 cm da abertura
superior da pelve
Eminência iliopúbica
Espinha isquiática
Sínfise púbica
Túber isquiático
Arco púbico
Diâmetro transverso
da pelve
Diâmetro
Diâmetro anatômico oblíquo da pelve
da pelve
108
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
A marcha ereta dos humanos solicita adaptações morfológicas, não apenas na pelve, mas também
na parte livre do membro inferior, responsável por muitas diferenças entre os membros inferiores e os
superiores. Em virtude da sustentação da massa corporal, o fêmur é um osso muito mais vigoroso do
que o úmero. O acetábulo da articulação do quadril é expressivamente mais profundo do que a cavidade
glenoide da articulação do ombro, ocasionando em uma resistência maior contra luxações, contudo,
possuindo uma movimentação mais restringida.
Os ligamentos possuem os mesmos objetivos e são muito fortes, cujo arranjo possibilita a postura ereta,
com um mínimo de empenho, em uma articulação do quadril em extensão. Os prestigiosos ligamentos
do joelho não apenas resistem a luxações, porém, também se exibem estendidos, transformando os
membros inferiores em colunas estáveis, adequados em sustentar a massa corporal, sem grande vigor
muscular. A disposição assimétrica dos ligamentos da articulação do quadril e da articulação do joelho,
por exemplo, possibilita uma flexão máxima sincrônica durante a corrida.
O fêmur é o mais longo e pesado osso do organismo humano. Ele influencia significativamente a
estatura de um indivíduo, que pode ser medida a partir do comprimento do fêmur, como, por exemplo,
na arqueologia. O fêmur transmite o peso do tronco e da pelve para a tíbia.
Caso o fêmur seja fraturado, acontece a perda de aproximadamente de 1 a 2 litros de sangue, e isso
pode causar choque por hipovolemia, estado de diminuição do volume de sangue.
Afora pelo fêmur, a tíbia é o maior osso no corpo humano que aguenta a massa corporal. Está
situada medialmente na perna e tem o papel de transferir o peso do fêmur para o tálus.
109
Unidade I
Lembrete
O termo “tíbia” quer dizer flauta, pois os ossos tibiais de pássaros eram
utilizados antigamente para fazer instrumentos musicais.
A fíbula localiza‑se lateralmente e um pouco posterior à tíbia e não possui a função de manutenção
da massa corporal. Ela não contribui com a articulação do joelho e auxilia a estabilização da articulação
do tornozelo. Também não transfere o peso do fêmur para o pé significativamente.
Lembrete
O último segmento dos membros inferiores é o pé, que se divide em: tarso, metatarso e falanges,
que compõem o esqueleto dos dedos. Os pés são responsáveis pela sustentação e pela locomoção.
O pequeno desenvolvimento dos ossos dos dedos dos pés se dá pelo fato de que, com a aquisição da
postura ereta, os dedos dos pés humanos abandonaram o papel de órgãos de preensão, diferentemente
de outros primatas.
O tarso possui sete ossos, divididos em duas fileiras: a proximal e a distal. Os dois ossos da fileira
proximal são: o calcâneo e o tálus. A fileira distal abrange: o osso navicular, o osso cuboide, o osso
cuneiforme medial, o osso cuneiforme intermédio e o osso cuneiforme lateral. Ele transmite a massa
corpórea em dois sentidos: inferior e posterior, para o calcâneo; e inferior e anterior para o calcâneo e
o osso navicular, os quais, por sua vez, o transmitem para os ossos da fileira distal e para os metatarsos.
110
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
O metatarso é composto por cinco ossos, que são numerados de medial para lateral em I, II, III, IV e
V. Esses ossos são longos e determinam a ligação entre o tarso e as falanges. Diferentemente das mãos,
em que o polegar possui enorme independência de movimentação, no metatarso todos os ossos são
paralelos e no mesmo plano. Os dedos dos pés de medial para lateral são: o hálux, ou dedo I, dedo II,
dedo III, dedo IV e o dedo mínimo ou V dedo.
As falanges são ossos longos e somam‑se em três: falange proximal, falange média e falange distal,
em cada dedo (exceto o hálux) e, às vezes, o dedo mínimo possui apenas dois falanges.
Tíbia * Navicular
Fíbula
Tálus
* Tarso
Calcâneo
Cuboide
Cuneiformes
Metatarsos
Articulações interfalangeanas
Falange proximal Falange distal do hálux
Falange média
Falange distal
Figura 120 – Pé
Observação
111
Unidade I
Resumo
112
ANATOMIA BÁSICA DOS SISTEMAS
Os ossos podem ser classificados de acordo com a sua forma em: longos,
curtos, planos e irregulares. As superfícies externas dos ossos apresentam
detalhes anatômicos, por exemplo, tuberosidades, fossas, forames e incisuras.
Um típico osso longo possui diáfise, com um canal medular preenchido
por medula óssea, epífises, periósteo e endósteo. O osso compacto é a parte
densa externa; o osso esponjoso é a parte interna porosa e vascular.
Exercícios
C) Entre os movimentos que acontecem no plano sagital, podemos destacar a flexão e a extensão
do joelho.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: o plano horizontal ou transversal não divide o corpo em superior e inferior. Essa divisão
ocorre em membros superiores e inferiores, e isso independe de onde se localiza o plano horizontal.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: tomando sempre a posição ortostática como parâmetro, o polegar fica para fora (mais
lateral) e o dedo mínimo, ou quinto quirodáctilo, fica para dentro (mais medial).
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. A figura a seguir representa um esquema da coluna vertebral, estrutura importante que
atua protegendo a medula espinhal e sustentando o corpo. Observe atentamente e marque a alternativa
que indica o nome correto das vértebras indicadas pelos números 1, 2 e 3.
Sacro e cóccix
Figura
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